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Teses premiadas na

Faculdade de Ciências Humanas/UFGD


2
Conrado Neves Sathler
Flaviana Gasparotti Nunes
Marisa de Fátima Lomba de Farias
(Organizadores)

Teses premiadas na
Faculdade de Ciências Humanas/UFGD

3
Copyright © Autoras e autores

Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, transmitida
ou arquivada desde que levados em conta os direitos das autoras e dos autores.

Conrado Neves Sathler; Flaviana Gasparotti Nunes; Marisa de Fátima Lomba de


Farias [Org.]

Teses premiadas na Faculdade de Ciências Humanas/UFGD. São Carlos: Pedro


& João Editores, 2023. 197p. 16 x 23 cm.

ISBN: 978-65-265-0530-4 [Impresso]


978-65-265-0531-1 [Digital]

DOI: 10.51795/9786526505311

1. Teses premiadas. 2. Faculdade de Ciências Humanas. 3. Universidade Federal da


Grande Dourados. 4. Trabalhos acadêmicos. I. Título.

CDD – 370

Capa: Petricor Design


Ficha Catalográfica: Hélio Márcio Pajeú – CRB - 8-8828
Diagramação: Diany Akiko Lee
Editores: Pedro Amaro de Moura Brito & João Rodrigo de Moura Brito

Conselho Científico da Pedro & João Editores:


Augusto Ponzio (Bari/Itália); João Wanderley Geraldi (Unicamp/Brasil); Hélio Márcio
Pajeú (UFPE/Brasil); Maria Isabel de Moura (UFSCar/Brasil); Maria da Piedade
Resende da Costa (UFSCar/Brasil); Valdemir Miotello (UFSCar/Brasil); Ana Cláudia
Bortolozzi (UNESP/Bauru/Brasil); Mariangela Lima de Almeida (UFES/Brasil); José
Kuiava (UNIOESTE/Brasil); Marisol Barenco de Mello (UFF/Brasil); Camila Caracelli
Scherma (UFFS/Brasil); Luís Fernando Soares Zuin (USP/Brasil).

Pedro & João Editores


www.pedroejoaoeditores.com.br
13568-878 – São Carlos – SP
2023

4
SUMÁRIO

PREFÁCIO 7
Edvaldo Cesar Moretti

DA ANÁLISE CONCRETA DE UMA SITUAÇÃO 11


GEOGRÁFICA ÀS PRÁTICAS TEÓRICA E ESPACIAL:
TRAJETÓRIA E REFLEXÕES DE UMA TESE SOBRE A
BAIXADA SANTISTA E O PRÉ-SAL
Luciano Duarte

USO E COBERTURA DAS TERRAS EM ÁREAS 35


PROTEGIDAS PELA LEGISLAÇÃO NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO FORMOSO, MATO
GROSSO DO SUL
Rafael Brugnolli Medeiros

MINHA TESE, MINHA VIDA: DO CAMPUS AO 55


CAMPO - PESQUISA E VIVÊNCIAS NAS
COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO PANTANAL
João Batista Alves de Souza

O BRASIL NA DIÁSPORA HAITIANA: 77


PROCESSOS DE ENTRADA, DE CIRCULAÇÃO E
DISTRIBUIÇÃO NO TERRITÓRIO
Alex Dias de Jesus

ENTRE A MEMÓRIA E A HISTÓRIA: ITINERÁRIO DE 107


PESQUISA DAS HISTÓRIAS DE MULHERES
ASSENTADAS NO MUNICÍPIO DE
SIDROLÂNDIA/MT
Cláudia Delboni

5
UM PALIMPSESTO ACADÊMICO OU REVISITANDO 129
AS REMINISCÊNCIAS DE UMA TESE
Jenniffer Simpson dos Santos

DOS ÁSPEROS TEMPOS DA PSICOLOGIA EM SUA 145


ETAPA DE FECHAMENTO DE ESPAÇOS
INSTITUCIONAIS À CONSAGRAÇÃO DE
CÚMPLICES E COLABORADORAS(ES) DA
DITADURA EMPRESARIAL-MILITAR
Juberto Antonio Massud de Souza
Maria Eduarda Fiorini

SAÚDE MENTAL DE LGBTQIA+ E PANDEMIA DA 169


COVID-19: UM PEQUENO BALANÇO (CRÍTICO)
Endy Willians de Assis Gomes
Esmael Alves de Oliveira

O QUE PRODUZIMOS E O QUE USUFRUÍMOS: 189


NOTA DA ORGANIZAÇÃO
Conrado Neves Sathler
Flaviana Gasparotti Nunes
Marisa de Fátima Lomba de Farias

SOBRE AS(OS) AUTORAS(ES) E ORGANIZADOR(AS) 193

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MINHA TESE, MINHA VIDA: DO CAMPUS AO CAMPO
- PESQUISA E VIVÊNCIAS NAS COMUNIDADES
QUILOMBOLAS DO PANTANAL

João Batista Alves de Souza1

Introdução

A temática da tese intitulada “Existir e Resistir: as geografias das


comunidades quilombolas no município de Corumbá - MS “foi definido
em minha atuação docente no Instituto Federal de Mato Grosso do
Sul (IFMS), Campus Corumbá-MS. Essa temática evidenciou-se
como perspectiva de pesquisa, em novembro de 2015, por ocasião
das comemorações da Semana da Consciência Negra.
A comissão formada por docentes do núcleo de Ciências
Humanas do IFMS do mesmo campus foi responsável pela
organização do evento intitulado “Vida, arte e cultura afro-
brasileiras”. O evento objetivou refletir a cultura africana e afro-
brasileira por meio de perspectivas interdisciplinares acerca do
Quilombo dos Palmares, por meio da Arte, Geografia e História,
além da realização da mesa redonda “As comunidades
quilombolas e a formação de territórios alternativos”).
Tenho nítido que esse fato foi o sinal inicial para que minha
leitura de mundo e meu olhar para a geografia produzida pelas
pessoas colocadas em vulnerabilidade social permitissem pensar
em um projeto voltado para a compreensão do processo de
formação dos territórios quilombolas. A partir dos
questionamentos, manifestos nesse evento, referentes à existência
ou não de comunidades quilombolas em Corumbá, fomos

1Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso


do Sul - IFMS - Campus Ponta Porã. E-mail joao.batista@ifms.edu.br Orcid: 0000-
0001-5073-3534

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provocados a investigar o processo de formação dessas
comunidades.
Desde 2010, com a conclusão do mestrado em Geografia, estive
envolvido nas atividades de ensino e extensão, seja na rede
estadual de ensino, onde atuei por mais de uma década, seja no
IFMS, onde leciono atualmente. Durante esses seis anos, estive
afastado da pesquisa acadêmica. Um elemento agregado nesse
processo foi o meu ingresso, em 2016, no Grupo de Pesquisa
Território e Ambiente (GTA), no qual foi possível aprofundar as
leituras e discussões teóricas, e amadurecer a ideia de pesquisar as
comunidades quilombolas de Corumbá. No segundo semestre de
2016, em 13 dezembro, fui aprovado na seleção do doutorado em
Geografia, área de concentração em Produção do Espaço Regional
e Fronteira, com o projeto intitulado Existir e resistir: a produção
dos territórios quilombolas no Mato Grosso do Sul.
Em abril de 2017, iniciei o processo de doutoramento com a
realização das disciplinas, participação em eventos nacionais e
internacionais, trabalho de campo nas comunidades quilombolas,
produção de material cartográfico das comunidades quilombolas,
elaboração e publicação de artigos em revistas indexadas e
capítulos de livros que abordam a temática pesquisada. Todo esse
processo contribuiu para o meu amadurecimento intelectual.

A escrita da Tese

A proposta da escrita da tese foi baseada na análise dos


processos e formas de resistência que ocorrem nos diferentes
lugares dos existires das comunidades quilombolas no município
de Corumbá-MS. Após um período de vivências e andanças pela
cidade, na condição de morador e docente do IFMS, interessei-me
por pesquisar, mapear e construir uma reflexão acerca do existires
e resistires de suas três comunidades quilombolas certificadas pela
Fundação Cultural Palmares (FCP).
Entendo que a problemática abrange a luta pelo território, o
processo de reprodução e as formas de resistência das

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comunidades quilombolas, constituindo-se como objeto de estudo
da Geografia ainda a ser explorado, principalmente no que diz
respeito às comunidades quilombolas localizadas no Pantanal sul-
mato-grossense.
O recorte geográfico da pesquisa representa a trajetória e as
resistência das três comunidades quilombolas: Comunidade
Quilombola Ribeirinha Família Ozório (AQUIRRIO), Comunidade
Quilombola Ribeirinha Família Campos Correia (AQF2C) e
Comunidade Quilombola Maria Theodora (ACTHEO), localizadas
na sub-região Paraguai do Pantanal. A título de esclarecimento,
apesar do Pantanal abranger o território paraguaio, a sub-região
Paraguai do Pantanal situa-se no oeste do Pantanal e agrega área
dos municípios de Poconé, no MT, e de Corumbá e Ladário, no MS.
A classificação leva em consideração critérios geomorfológico,
hidrológico e fluviomorfológico e a presença de um trecho de
percurso do Rio Paraguai. Para melhor compreensão do processo
de formação e resistência das comunidades quilombolas,
procuramos levantar história e trajetória de vida desses sujeitos.
Para isso, procuramos produzir uma cartografia das comunidades
quilombolas do MS e de Corumbá.
Durante uma pesquisa bibliográfica e documental,
identifiquei imprecisões no que tange a existência de comunidades
quilombolas no Pantanal sul-matogrossense, no tocante às suas
trajetórias, formação, localização, certificação e titulação de terras.
Nesse aspecto, levantei os seguintes questionamentos: quantas
comunidades quilombolas existem de fato no município de
Corumbá? Como entender a produção e as formas de resistência
das comunidades quilombolas nessa região? Essas comunidades
produzem novos territórios no Pantanal?
O objetivo central da pesquisa está pautado em analisar os
processos e as formas de resistência das comunidades quilombolas
em Corumbá buscando elucidar seus sinais de resistência a partir da
produção de uma multipolaridade territorial como forma de
sobrevivência frente à ausência de políticas públicas voltadas às suas
demandas. A capa da tese (figura 1), ilustrada por Maria Aparecida

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Frizarin Cipriano (2021), representa os “Afetos Quilombolas”,
caracterizados desta forma por Jones Dari Goettert (2022)

Em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, gentes quilombolas


foram se misturando ao rio e à terra em uma completude
sempre querida, mas também sempre como uma tênue linha
porque em ponto constante de arrebentar pelo preconceito e
violência da sociedade envolvente. Em contraponto, o
envolvimento (e não o “desenvolvimento”) foi manter-se e
reexistir junto às suas, aos seus, às suas coisas, aos seus entes.

Figura 01: Capa da tese

Fonte: SOUZA, J.B.A. 2021.

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O trabalho foi estruturado em seis seções, que constituem a
organização da tese, na qual sintetizei da seguinte forma:
A formação dos quilombos no Mato Grosso (1800-1977) e as
comunidades quilombolas no Mato Grosso do Sul. Nessa seção
foram elucidados os conceitos iniciais e ressemantizados de
quilombo, territórios e comunidades quilombolas e os primeiros
sinais de resistência quilombola. Apresentamos, ainda, o processo
de formação dos primeiros quilombos no Brasil e na província de
Mato Grosso, a escravidão no Mato Grosso e a Sociedade
Abolicionista de Corumbá.
O processo de formação e reprodução das comunidades
quilombolas em Corumbá MS, (figura 2) abordou suas
identificações nesse município caracterizando a trajetória
percorrida pelas famílias Ozório, Maria Theodora e Campos
Correia. Além disso, trataremos da formação das três comunidades
quilombolas.

Figura 02: Ilustrações da segunda e terceira seções da tese

59
Fonte: SOUZA, J.B.A. 2021.

Por sua vez, a seção as formas de produção das comunidades


quilombolas de Corumbá (figura 2) abrangeu a cartografia social,
material cartográfico procedente do mapeamento realizado no
período de vivência nas comunidades quilombolas Ribeirinha
Família Ozório; Ribeirinha Família Campos Correia e Maria
Theodora entre 2017 e 2019.
Por conseguinte, com dados obtidos do Cadastro Geral de
Informações Quilombolas (CGIQ) e do Questionário
Socioeconômico aplicado nas três comunidades quilombolas,
traçamos a produção das comunidades, a situação dos seus núcleos
familiares e as políticas públicas (in)existentes nessas
comunidades. Através da empiria, foi possível alçar as formas de
resistências: manifestações religiosas e culturais nas comunidades
quilombolas de Corumbá.
Na última seção, discuti a produção da multiterritorialidade e
multipolaridade territorial nas comunidades quilombolas
corumbaenses (figura 3). Trata-se de uma reflexão acerca da
produção da multipolaridade territorial nas Comunidades
Quilombolas Ribeirinha Família Ozório, Ribeirinha Campos

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Correia e Maria Theodora. Nessa seção, refletimos sobre o aporte
teórico que discute a multipolaridade e as multiterritorialidades
quilombolas e apresentamos os entraves presentes na realidade das
comunidades quilombolas corumbaense.

Figura 03: Ilustração da quarta seção da tese

Fonte: SOUZA, J.B.A. 2021.

Ao longo do processo de pesquisa, entrevistas, trabalho de


campo, vivência nas comunidades quilombolas, transcrição dos
depoimentos e escrita da tese, foi possível constatar que essas
experiências proporcionaram um novo olhar em relação à questão
quilombola. A partir dessas vivências, consegui trilhar minha
própria trajetória enquanto pesquisador, assim como as famílias
quilombolas levaram anos navegando pelo Rio Paraguai em busca
do seu “lugar”.

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Cartografias quilombolas no LabGeo – UFGD

Na produção da cartografia quilombola de Corumbá,


utilizamos o Sistema de Posicionamento Global (GPS) para a coleta
dos pontos com as coordenadas geográficas de cada território
tradicionalmente ocupado. Após serem extraídos do GPS, os
pontos foram espacializados no programa ArcGIS 10.6 e
produzimos os mapas.
Na tentativa de produzir a cartografia das comunidades
quilombolas de Corumbá, realizei trabalho de campo nas três
comunidades, na área periurbana da cidade, no Rio Paraguai, na
Ilha do Pescador, nos terreiros de Umbanda e na feira livre do
município. Assim, foi possível identificar os sinais de resistência e
a produção de uma multipolaridade territorial dessas
comunidades.
Por meio de um Sistema de Posicionamento Global (GPS),
foram coletados pontos com as coordenadas geográficas em visita
às Comunidades Campos Correia, Maria Theodora e Família
Ozório. Esses pontos foram extraídos do GPS e espacializados no
programa ArcGIS 10.6. Utilizamos as bases de mapeamento das
unidades territoriais do Brasil e de Mato Grosso do Sul elaboradas
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A base
hidrográfica utilizada foi da Agência Nacional de Águas (ANA)
para representação do Rio Paraguai no Bioma Pantanal.

Do campus ao campo

No primeiro semestre de 2019, dois eventos marcaram de


forma intensa a produção desta tese: o primeiro foi o exame de
qualificação de doutorado – etapa obrigatória do curso (figura 4).
Momento de reflexão, aprendizado e de alinhamento dos caminhos
da pesquisa com as contribuições da banca de qualificação, um dos
membros da banca propôs a minha mudança para o município de
Corumbá. Essa sugestão foi acatada e tornou-se imprescindível
para o alcance final dos resultados. Minhas idas e vindas entre o

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campus da UFGD e o “campo de pesquisa” foram substituídas por
uma nova fase: vivência nas três comunidades quilombolas, ou
seja, prioridade total à pesquisa. “Minha tese, minha vida” passou
a ser o termo utilizado durante esse período que retornei a
Corumbá. O segundo acontecimento consistiu no meu ingresso no
Grupo de Pesquisa Luta Pela Terra, gerando novas leituras,
publicações e discussões teóricas acerca da ressemantização do
quilombo, luta e direito pelo território quilombola.

Figura 04: Membros da Banca de Qualificação – UFGD FCH

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2019.

Ainda no mês de junho de 2019, durante o período de vivência


comunitária, participei das festas realizadas nos dias 12 e 13 de
junho, em homenagem a Santo Antonio e Exú, na Tenda Nossa
Senhora da Guia. Entre os dias 20 e 24 de junho, acompanhei a
preparação do andor2, na Comunidade Quilombola Campos
Correia. Por fim, na noite do dia 23, assisti a festividade descendo
a Ladeira Cunha e Cruz, que dá acesso ao Rio Paraguai, juntamente
com os festeiros das Comunidades Quilombolas Família Campos
Correia e Família Ozório que, pela primeira vez, participaram
juntas da cerimônia do Banho de São João, no Rio Paraguai.
No mês de agosto de 2019, realizei uma visita técnica na
Agrovila III, área reivindicada pela Comunidade Família Ozório.

2Estrutura de madeira ornamentada em que se transportam imagens de santos


nas procissões. “An·dor sm Padiola, sobre a qual se conduzem as imagens nas
procissões; charola” (FERREIRA, 1999).

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Na oportunidade estiveram presentes representantes do poder
público, Alexsandre e Rogério, além de integrantes da família
Ozório, Jorge, Cida e João.
Durante o mês de novembro de 2019 aconteceu o 15º Festival
América do Sul Pantanal, pela primeira vez com atividades nas
comunidades quilombolas. Participamos de três reuniões com a
equipe da Subsecretaria de Políticas Públicas para a Promoção da
Igualdade Racial e Cidadania3 (SUBPIRC). Durante as atividades
foi realizada escuta ativa e captação de imagens.
No decurso da pesquisa, acompanhei a luta dessas
comunidades pelo acesso à terra e a demora na regularização
fundiária. Com isso, pudemos perceber o quanto o estado brasileiro
é omisso em garantir os direitos desses povos. Outro aspecto
relevante é relacionado à análise das comunidades quilombolas
ribeirinhas, suas trajetórias e relação de sobrevivência com o Rio
Paraguai, (figura 5).

Figura 05: Trabalho de campo no Rio Paraguai

Fonte: Arquivo pessoal do autor. 2018.

3Vinculada à estrutura da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência


Social e Trabalho (Sedhast) foi criada pela Lei n.º 4640, de 24 de dezembro de 2014,
que reorganiza a estrutura básica do poder executivo do estado de MS.

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Aprendi a respeitar o tempo da(o) entrevistada(o), seu cotidiano,
seus afazeres e, acima de tudo, sua trajetória de vida. Graças às
referências já mencionadas foi possível aprender a esperar, retornar
outras vezes e conviver um pouco mais nessas comunidades.
Vivenciei esses momentos na roça da família Ozório, na Tenda do
Joãozinho na Comunidade Maria Theodora, no jogo de futebol dos
Guerreiros da Comunidade Família Campos Correia e no barco no
Rio Paraguai para conhecer parte da trajetória da família Ozório.
Aprendi também a captar imagens e gravar áudios sem invadir a
privacidade dos(as) entrevistados(as), descobri que as memórias
emergem repletas de saudade, dor e sofrimento. Em outros casos,
ocorre o próprio esquecimento de um passado de luta e resistência.
Nesse sentido, entendo que o olhar do pesquisador não deve
apresentar neutralidade e que o nosso papel diante da sociedade,
além de analisar, é sobretudo questionar a desigualdade, denunciar
a injustiças e buscar compreender os sinais de resistência existentes,
ser um pesquisador aliado dessas comunidades.

Os desafios da pesquisa durante a Pandemia de COVID-19

Na primeira fase da pesquisa entre 2017 e 219, o diálogo aberto


foi uma metodologia utilizada nas entrevistas com idosos,
pescadores, lideranças religiosas, integrantes dos times de futebol
e outros sujeitos das comunidades pesquisadas.
Foram realizadas entrevistas com lideranças das três
comunidades pesquisadas, as três quilombolas mais idosas, uma de
cada comunidade, dentre elas, a matriarca da Comunidade Campos
Correia, a Mãe de Santo e neta mais velha de Maria Theodora e a viúva
de Miguel Ozório, fundador da Comunidade Família Ozório. As
entrevistas foram fundamentais para compreender a trajetória das
comunidades quilombolas de Corumbá.

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As entrevistas foram gravadas com o aparelho celular com o
aplicativo Gravador Simple Sound Recorder4, com suporte
aprimorado para Android, o que garante a qualidade do áudio e das
fontes orais da pesquisa, além de áudios obtidos via WhatsApp5.
Com o uso recorrente da tecnologia, foi possível realizar
diálogo aberto online, por meio do aplicativo WhatsApp, pois após
a vivência de mais de dois anos nas comunidades foi adquirida a
confiança das lideranças e de moradores das comunidades e
tivemos acesso ao número de telefone e WhatsApp dos sujeitos
envolvidos na pesquisa. Esse contato via online se intensificou e se
tornou indispensável a partir de março de 2020, em decorrência da
pandemia de covid-19.
Através da oralidade e de depoimentos ricos em detalhes
expressados pelos idosos de cada comunidade, foram produzidas
as trajetórias e a formação de cada uma delas. Esses depoimentos
foram gravados no local ou enviados via celular por áudio. Em um
primeiro momento, ocorreu o envio de fotos que denunciavam o
descaso do poder público com as comunidades quilombolas. Em
seguida, foram enviados áudios e documentos (atas, certidões e
declarações) que, posteriormente, foram encaminhados ao
Ministério Público Federal (MPF), além de ser a fonte de dados
para a realização desta pesquisa.
Posto isso, podemos elencar duas situações relevantes que
merecem destaque no uso da tecnologia durante a investigação:
primeiro, foi o envio da localização pelos quilombolas, via
WhatsApp, de outros territórios vivenciados por eles, como é o caso
da Agrovila III, no Assentamento Taquaral, de campos de futebol
e de moradias localizadas em outros bairros.

4Trata-se de um software para smartphones que grava a voz e salva as gravações


como um arquivo de áudio.
5 Trata-se de um software para smartphones, multiplataforma de mensagens

instantâneas e chamadas de voz. Além de mensagens de texto, os usuários podem


enviar imagens, vídeos e documentos em PDF, realizar ligações grátis por meio de
uma conexão com a internet. Ver mais em: https://www.whatsapp.com/features/.

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A segunda situação foi o encaminhamento dos áudios que
relatavam os principais acontecimentos que impactaram as
comunidades durante esse período, convites para participar dos
festejos, relatos de vida dos idosos não alfabetizados, que mesmo
não dominando a escrita e a leitura, utilizam o aplicativo para o
envio de áudios, por meio de depoimentos relatando a trajetória
da comunidade, além de fotos e documentos antigos com auxílio
dos netos.
Mantive o contato via WhatsApp com a professora Sabrina, que
auxiliou no preenchimento do questionário socioeconômico e na
produção da árvore geológica da família Maria Theodora, com a
Mãe de Santo Cotó e com as lideranças, Beth e Joãozinho, da
Comunidade Maria Theodora.
Na Comunidade Família Campos Correia, o contato online foi
com a liderança Stefany e Mônica Correia, além do irmão mais
velho, Manuel Correia, membro da comunidade e morador do
município de Aquidauana. Após uma visita em sua residência com
a equipe do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA),
conservamos contato via telefone.
Por sua vez, na Comunidade Família Ozório conservei contato
via WhatsApp com as lideranças Luzia Ozório e Laycillia Samaniego
Ortiz, a ex-presidente da Associação Angélica, Mario Heleno e os
responsáveis pela horta no Assentamento, Jorge Ozório e Eleci.
Ademais, foram entrevistadas seis famílias em cada uma das
três comunidades. Na Comunidade Família Ozório foi realizada
escuta ativa, captação de imagens e medição das suas moradias,
trabalho executado com a equipe do INCRA. No segundo
momento, entrevistamos as jogadoras do time de futebol feminino,
“Quilombelas”, (figura 6) acompanhamos treinos na quadra de
esportes da comunidade e partidas ocorridas em Ladário.

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Figura 06: Time de futebol “Quilombelas”

Fonte: Arquivo pessoal do autor. 2019.

Também acompanhei os jogadores do time de futebol


masculino, “Os Guerreiros”, fizemos escuta ativa e captação de
imagens e assisti partidas de futebol da Copa “Rei das Copas”.
Durante o campeonato municipal, a representante do time
encaminhou os resultados, vídeos e fotografias das partidas e a
comemoração do título em 2019.
A respeito da pesquisa documental no primeiro ano de
construção da tese, obtive acesso às atas de criação das associações
de cada comunidade, certificados de autodefinição expedidos pela
Fundação Cultural Palmares (FCP) das três comunidades
pesquisadas, o Relatório de Estudos Antropológicos da
Comunidade Quilombola Família Ozório6, planta do perímetro
reivindicado das Gleba 1 e 2 da Comunidade Família Ozório, além
dos documentos históricos de 1873 da Sociedade Abolicionista
Corumbaense, (Figura 13) que se encontram arquivados na Câmara
Municipal de Corumbá. Somado a isso, tivemos acesso a ofícios
encaminhados pelo Instituto da Mulher Negra do Pantanal
(IMNEGRA) para o MPF de Corumbá, Energisa, Sanesul e

6 Produzido pelo Instituto de Pesquisa e Documentação Etnográfica – Olhar


Etnográfico, os dados desse relatório não serão publicados por se tratar da peça
do RTDI que está em fase de estudo, e ainda não foi publicado no D.O.U.

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Prefeitura Municipal em relação à vulnerabilidade socioambiental
vivenciada pelas três comunidades.
Participei de reunião realizada no dia 13 de novembro de 2018,
na sala de reuniões da unidade avançada do INCRA, em Corumbá.
Na ocasião, participaram membros da Comunidade Quilombola
Família Ozório e dois servidores do INCRA, para aprovar o
perímetro da Gleba 1 e solicitar acréscimo da área. Além disso,
fizemos parte do evento organizado pela CPPPIR em comemoração
à Semana da Consciência Negra. A cerimônia foi realizada no dia
20 de novembro de 2018, no auditório da Associação Comercial e
Empresarial de Corumbá (ACIC). A prefeitura homenageou com
certificados de reconhecimento professores, religiosos e
representantes de diferentes segmentos sociais que trabalham pela
promoção da igualdade racial no município. Entre os
homenageados estavam a presidenta do IMNEGRA e a Mãe de
Santo “Cotó”, da Comunidade Quilombola Maria Theodora.
Em junho de 2019, retornei à Procuradoria da República no
MPF de Corumbá, para aferir o andamento dos processos que
envolvem as Comunidades Campos Correia, Família Ozório e
Maria Theodora. Na ocasião, participamos de uma reunião de
trabalho do MPF com a representante do INCRA.
No dia 11 de junho de 2019, estive na Coordenadoria de
Promoção da Igualdade Racial (CPIR) da Secretaria Especial de
Cidadania e Direitos Humanos de Corumbá (SECDH) para
participar de uma reunião com o coordenador da igualdade racial
no município, Alexsandre Pereira Souza, e o assessor
governamental, Rogério Cesar Santos. Naquele momento foi
realizada uma escuta ativa, na qual os gestores apresentaram o
cronograma de atividades e ações voltadas às comunidades
quilombolas da cidade.

A produção do Geoquilombolas – Produto da tese

Foi realizado o mapeamento das comunidades quilombolas de


Corumbá por meio de visita técnica, captação de imagens, inserção

69
dos dados no Google Maps7 e na plataforma geoquilombolas8,
(figura 7) com autorização e consentimento das lideranças das
comunidades sob estudo.

Figura 07: Plataforma Geoquilombolas

Fonte: Arquivo pessoal do autor. 2021.

A proposta plataforma Geoquilombolas é realizar um


mapeamento da produção espacial das comunidades quilombolas
no estado de Mato Grosso do Sul. Será realizada a criação do site
Geoquilombolas, essa ação irá mapear as 22 comunidades
quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares (FCP).
Após a realização do mapeamento os dados foram inseridos no
mapa interativo do site e foram disponibilizadas páginas para cada
comunidade quilombola, que além da localização do território,
contará com informações, vídeos e imagens sobre a criação,
organização, manifestações culturais, religiosas e o processo de
resistência dessas comunidades.

7 Trata-se de um serviço de pesquisa e visualização de mapas e imagens de satélite da


Terra gratuito na web, fornecido e desenvolvido pela empresa estadunidense Google.
8 Ver mais em: https://www.geoquilombolas.com.br/

70
A escrita do e-book: As trajetórias e resistências das comunidades
quilombolas do Pantanal Sul-Mato-grossense

Em 2021 foi publicado o livro eletrônico, resultado da pesquisa


baseada na análise das trajetórias e formas de resistência que
ocorrem nos diferentes lugares dos existires das comunidades
quilombolas no município de Corumbá-MS, (figura 8).

Figura 08: Capa do e-book

Fonte: Arquivo pessoal do autor. 2021.

O livro apresentou problemática que abrange a luta pelo


território, o processo de reprodução e as formas de resistência das
comunidades quilombolas e se constitui como um objeto de estudo
da Geografia ainda a ser explorado, principalmente no que diz
respeito às comunidades quilombolas localizadas no Pantanal sul-
mato-grossense, na sub-região Paraguai.

71
O prêmio CAPES de Teses 2022

Em abril de 2022 recebi e-mail da coordenação de Pós-


Graduação em Geografia, comunicando que a Comissão Teses
PPGG 2022 selecionou a tese “Existir e Resistir: as geografias das
comunidades quilombolas no município de Corumbá MS” de
minha autoria e orientada pelo Prof. Dr. Edvaldo Cesar Moretti para
concorrer a melhor tese daquele ano.
A tese foi inscrita no 17º PRÊMIO CAPES DE TESE - EDIÇÃO
2022 EDITAL Nº 11/2022, iniciativa que reconhece os melhores
trabalhos de conclusão de doutorado defendidos no Brasil. Na
edição de 2022 foram inscritas 1.266 teses nas 49 áreas de Avaliação
da CAPES.

Figura 09: Certificação do Prêmio CAPES de Tese 2022.

Fonte: Arquivo pessoal do autor. 2023.

Concorrendo com trabalhos de todo país, a tese conquistou o


Prêmio CAPES de Teses - Edição 2022, na categoria Geografia, o

72
resultado do prêmio9 foi publicado no Diário Oficial da União, 11
de agosto 2022. Em janeiro de 2023 em visita a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior recebi o Certificado
do Prêmio CAPES de Tese 2022, (figura 9).
Resultado da premiação da CAPES de tese 2022, fui
contemplado com bolsa para realização de estágio pós-doutoral de
12 meses em instituição nacional. Iniciei as atividades desse estágio
na Universidade de Brasília – UnB, em janeiro de 2023.

Considerações finais.

A partir dessas vivências, consegui trilhar trajetória própria


enquanto pesquisador, assim como as famílias quilombolas
levaram anos navegando pelo Rio Paraguai em busca do seu
“lugar”. Durante quatro anos, percorri esses caminhos para
entender as formas de resistências dessas comunidades. No
decurso da pesquisa, acompanhei a luta dessas comunidades pelo
acesso à terra e a demora na regularização fundiária. Com isso,
percebi o quanto o Estado brasileiro é omisso em garantir os
direitos desses povos.
Ressalto ainda que a luta pela terra, os conflitos, a
vulnerabilidade social e a invisibilidade dessas comunidades
foram amplamente discutidas nesta investigação, o que traz à tona
a emergência dessa discussão para a Geografia.
As resistências produzidas por cada uma dessas comunidades
foram abordadas de forma temática: Religiosidade – os terreiros, o
Vale dos Orixás, a fé e a devoção no Banho de São João e Nossa
Senhora Aparecida. A Natureza – o Pantanal e o Rio Paraguai; A
Cultura – os times de futebol, festejos, desfiles cívicos e outras
comemorações; e a Economia – pesca artesanal, agricultura familiar
e o trabalho informal.

9Ver mais em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/edital-n-11/2022-resultado-


premio-capes-de-tese-edicao-2022-421902318

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Espero que este trabalho, fruto de reflexões teóricas e de
pesquisa empírica realizadas a partir de um período de vivências
nas Comunidades Quilombolas Família Ozório, Família Campos
Correia e Maria Theodora venha propiciar, além de visibilidade
para essas três comunidades quilombolas, o acesso aos seus
direitos fundamentais, entre eles, a obtenção da titulação de seus
territórios tradicionalmente ocupados e áreas de compensação
reivindicadas.

Referências:

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I. M. . Geoquilombolas: platform for mapping and visibility of
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PDVGT, 2021, Recife - PE. Anais V Cointer PDVG, 2021. Disponível
em: https://cointer.institutoidv.org/smart/2021/pdvg/uploads/228.
pdf Acesso em: 11 mar. 2023.
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imagens, intensidades / [organização Jones Dari Goettert... [et al.]].
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