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Teses premiadas na
Faculdade de Ciências Humanas/UFGD
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DOI: 10.51795/9786526505311
CDD – 370
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SUMÁRIO
PREFÁCIO 7
Edvaldo Cesar Moretti
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UM PALIMPSESTO ACADÊMICO OU REVISITANDO 129
AS REMINISCÊNCIAS DE UMA TESE
Jenniffer Simpson dos Santos
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MINHA TESE, MINHA VIDA: DO CAMPUS AO CAMPO
- PESQUISA E VIVÊNCIAS NAS COMUNIDADES
QUILOMBOLAS DO PANTANAL
Introdução
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provocados a investigar o processo de formação dessas
comunidades.
Desde 2010, com a conclusão do mestrado em Geografia, estive
envolvido nas atividades de ensino e extensão, seja na rede
estadual de ensino, onde atuei por mais de uma década, seja no
IFMS, onde leciono atualmente. Durante esses seis anos, estive
afastado da pesquisa acadêmica. Um elemento agregado nesse
processo foi o meu ingresso, em 2016, no Grupo de Pesquisa
Território e Ambiente (GTA), no qual foi possível aprofundar as
leituras e discussões teóricas, e amadurecer a ideia de pesquisar as
comunidades quilombolas de Corumbá. No segundo semestre de
2016, em 13 dezembro, fui aprovado na seleção do doutorado em
Geografia, área de concentração em Produção do Espaço Regional
e Fronteira, com o projeto intitulado Existir e resistir: a produção
dos territórios quilombolas no Mato Grosso do Sul.
Em abril de 2017, iniciei o processo de doutoramento com a
realização das disciplinas, participação em eventos nacionais e
internacionais, trabalho de campo nas comunidades quilombolas,
produção de material cartográfico das comunidades quilombolas,
elaboração e publicação de artigos em revistas indexadas e
capítulos de livros que abordam a temática pesquisada. Todo esse
processo contribuiu para o meu amadurecimento intelectual.
A escrita da Tese
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comunidades quilombolas, constituindo-se como objeto de estudo
da Geografia ainda a ser explorado, principalmente no que diz
respeito às comunidades quilombolas localizadas no Pantanal sul-
mato-grossense.
O recorte geográfico da pesquisa representa a trajetória e as
resistência das três comunidades quilombolas: Comunidade
Quilombola Ribeirinha Família Ozório (AQUIRRIO), Comunidade
Quilombola Ribeirinha Família Campos Correia (AQF2C) e
Comunidade Quilombola Maria Theodora (ACTHEO), localizadas
na sub-região Paraguai do Pantanal. A título de esclarecimento,
apesar do Pantanal abranger o território paraguaio, a sub-região
Paraguai do Pantanal situa-se no oeste do Pantanal e agrega área
dos municípios de Poconé, no MT, e de Corumbá e Ladário, no MS.
A classificação leva em consideração critérios geomorfológico,
hidrológico e fluviomorfológico e a presença de um trecho de
percurso do Rio Paraguai. Para melhor compreensão do processo
de formação e resistência das comunidades quilombolas,
procuramos levantar história e trajetória de vida desses sujeitos.
Para isso, procuramos produzir uma cartografia das comunidades
quilombolas do MS e de Corumbá.
Durante uma pesquisa bibliográfica e documental,
identifiquei imprecisões no que tange a existência de comunidades
quilombolas no Pantanal sul-matogrossense, no tocante às suas
trajetórias, formação, localização, certificação e titulação de terras.
Nesse aspecto, levantei os seguintes questionamentos: quantas
comunidades quilombolas existem de fato no município de
Corumbá? Como entender a produção e as formas de resistência
das comunidades quilombolas nessa região? Essas comunidades
produzem novos territórios no Pantanal?
O objetivo central da pesquisa está pautado em analisar os
processos e as formas de resistência das comunidades quilombolas
em Corumbá buscando elucidar seus sinais de resistência a partir da
produção de uma multipolaridade territorial como forma de
sobrevivência frente à ausência de políticas públicas voltadas às suas
demandas. A capa da tese (figura 1), ilustrada por Maria Aparecida
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Frizarin Cipriano (2021), representa os “Afetos Quilombolas”,
caracterizados desta forma por Jones Dari Goettert (2022)
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O trabalho foi estruturado em seis seções, que constituem a
organização da tese, na qual sintetizei da seguinte forma:
A formação dos quilombos no Mato Grosso (1800-1977) e as
comunidades quilombolas no Mato Grosso do Sul. Nessa seção
foram elucidados os conceitos iniciais e ressemantizados de
quilombo, territórios e comunidades quilombolas e os primeiros
sinais de resistência quilombola. Apresentamos, ainda, o processo
de formação dos primeiros quilombos no Brasil e na província de
Mato Grosso, a escravidão no Mato Grosso e a Sociedade
Abolicionista de Corumbá.
O processo de formação e reprodução das comunidades
quilombolas em Corumbá MS, (figura 2) abordou suas
identificações nesse município caracterizando a trajetória
percorrida pelas famílias Ozório, Maria Theodora e Campos
Correia. Além disso, trataremos da formação das três comunidades
quilombolas.
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Fonte: SOUZA, J.B.A. 2021.
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Correia e Maria Theodora. Nessa seção, refletimos sobre o aporte
teórico que discute a multipolaridade e as multiterritorialidades
quilombolas e apresentamos os entraves presentes na realidade das
comunidades quilombolas corumbaense.
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Cartografias quilombolas no LabGeo – UFGD
Do campus ao campo
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campus da UFGD e o “campo de pesquisa” foram substituídas por
uma nova fase: vivência nas três comunidades quilombolas, ou
seja, prioridade total à pesquisa. “Minha tese, minha vida” passou
a ser o termo utilizado durante esse período que retornei a
Corumbá. O segundo acontecimento consistiu no meu ingresso no
Grupo de Pesquisa Luta Pela Terra, gerando novas leituras,
publicações e discussões teóricas acerca da ressemantização do
quilombo, luta e direito pelo território quilombola.
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Na oportunidade estiveram presentes representantes do poder
público, Alexsandre e Rogério, além de integrantes da família
Ozório, Jorge, Cida e João.
Durante o mês de novembro de 2019 aconteceu o 15º Festival
América do Sul Pantanal, pela primeira vez com atividades nas
comunidades quilombolas. Participamos de três reuniões com a
equipe da Subsecretaria de Políticas Públicas para a Promoção da
Igualdade Racial e Cidadania3 (SUBPIRC). Durante as atividades
foi realizada escuta ativa e captação de imagens.
No decurso da pesquisa, acompanhei a luta dessas
comunidades pelo acesso à terra e a demora na regularização
fundiária. Com isso, pudemos perceber o quanto o estado brasileiro
é omisso em garantir os direitos desses povos. Outro aspecto
relevante é relacionado à análise das comunidades quilombolas
ribeirinhas, suas trajetórias e relação de sobrevivência com o Rio
Paraguai, (figura 5).
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Aprendi a respeitar o tempo da(o) entrevistada(o), seu cotidiano,
seus afazeres e, acima de tudo, sua trajetória de vida. Graças às
referências já mencionadas foi possível aprender a esperar, retornar
outras vezes e conviver um pouco mais nessas comunidades.
Vivenciei esses momentos na roça da família Ozório, na Tenda do
Joãozinho na Comunidade Maria Theodora, no jogo de futebol dos
Guerreiros da Comunidade Família Campos Correia e no barco no
Rio Paraguai para conhecer parte da trajetória da família Ozório.
Aprendi também a captar imagens e gravar áudios sem invadir a
privacidade dos(as) entrevistados(as), descobri que as memórias
emergem repletas de saudade, dor e sofrimento. Em outros casos,
ocorre o próprio esquecimento de um passado de luta e resistência.
Nesse sentido, entendo que o olhar do pesquisador não deve
apresentar neutralidade e que o nosso papel diante da sociedade,
além de analisar, é sobretudo questionar a desigualdade, denunciar
a injustiças e buscar compreender os sinais de resistência existentes,
ser um pesquisador aliado dessas comunidades.
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As entrevistas foram gravadas com o aparelho celular com o
aplicativo Gravador Simple Sound Recorder4, com suporte
aprimorado para Android, o que garante a qualidade do áudio e das
fontes orais da pesquisa, além de áudios obtidos via WhatsApp5.
Com o uso recorrente da tecnologia, foi possível realizar
diálogo aberto online, por meio do aplicativo WhatsApp, pois após
a vivência de mais de dois anos nas comunidades foi adquirida a
confiança das lideranças e de moradores das comunidades e
tivemos acesso ao número de telefone e WhatsApp dos sujeitos
envolvidos na pesquisa. Esse contato via online se intensificou e se
tornou indispensável a partir de março de 2020, em decorrência da
pandemia de covid-19.
Através da oralidade e de depoimentos ricos em detalhes
expressados pelos idosos de cada comunidade, foram produzidas
as trajetórias e a formação de cada uma delas. Esses depoimentos
foram gravados no local ou enviados via celular por áudio. Em um
primeiro momento, ocorreu o envio de fotos que denunciavam o
descaso do poder público com as comunidades quilombolas. Em
seguida, foram enviados áudios e documentos (atas, certidões e
declarações) que, posteriormente, foram encaminhados ao
Ministério Público Federal (MPF), além de ser a fonte de dados
para a realização desta pesquisa.
Posto isso, podemos elencar duas situações relevantes que
merecem destaque no uso da tecnologia durante a investigação:
primeiro, foi o envio da localização pelos quilombolas, via
WhatsApp, de outros territórios vivenciados por eles, como é o caso
da Agrovila III, no Assentamento Taquaral, de campos de futebol
e de moradias localizadas em outros bairros.
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A segunda situação foi o encaminhamento dos áudios que
relatavam os principais acontecimentos que impactaram as
comunidades durante esse período, convites para participar dos
festejos, relatos de vida dos idosos não alfabetizados, que mesmo
não dominando a escrita e a leitura, utilizam o aplicativo para o
envio de áudios, por meio de depoimentos relatando a trajetória
da comunidade, além de fotos e documentos antigos com auxílio
dos netos.
Mantive o contato via WhatsApp com a professora Sabrina, que
auxiliou no preenchimento do questionário socioeconômico e na
produção da árvore geológica da família Maria Theodora, com a
Mãe de Santo Cotó e com as lideranças, Beth e Joãozinho, da
Comunidade Maria Theodora.
Na Comunidade Família Campos Correia, o contato online foi
com a liderança Stefany e Mônica Correia, além do irmão mais
velho, Manuel Correia, membro da comunidade e morador do
município de Aquidauana. Após uma visita em sua residência com
a equipe do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA),
conservamos contato via telefone.
Por sua vez, na Comunidade Família Ozório conservei contato
via WhatsApp com as lideranças Luzia Ozório e Laycillia Samaniego
Ortiz, a ex-presidente da Associação Angélica, Mario Heleno e os
responsáveis pela horta no Assentamento, Jorge Ozório e Eleci.
Ademais, foram entrevistadas seis famílias em cada uma das
três comunidades. Na Comunidade Família Ozório foi realizada
escuta ativa, captação de imagens e medição das suas moradias,
trabalho executado com a equipe do INCRA. No segundo
momento, entrevistamos as jogadoras do time de futebol feminino,
“Quilombelas”, (figura 6) acompanhamos treinos na quadra de
esportes da comunidade e partidas ocorridas em Ladário.
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Figura 06: Time de futebol “Quilombelas”
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Prefeitura Municipal em relação à vulnerabilidade socioambiental
vivenciada pelas três comunidades.
Participei de reunião realizada no dia 13 de novembro de 2018,
na sala de reuniões da unidade avançada do INCRA, em Corumbá.
Na ocasião, participaram membros da Comunidade Quilombola
Família Ozório e dois servidores do INCRA, para aprovar o
perímetro da Gleba 1 e solicitar acréscimo da área. Além disso,
fizemos parte do evento organizado pela CPPPIR em comemoração
à Semana da Consciência Negra. A cerimônia foi realizada no dia
20 de novembro de 2018, no auditório da Associação Comercial e
Empresarial de Corumbá (ACIC). A prefeitura homenageou com
certificados de reconhecimento professores, religiosos e
representantes de diferentes segmentos sociais que trabalham pela
promoção da igualdade racial no município. Entre os
homenageados estavam a presidenta do IMNEGRA e a Mãe de
Santo “Cotó”, da Comunidade Quilombola Maria Theodora.
Em junho de 2019, retornei à Procuradoria da República no
MPF de Corumbá, para aferir o andamento dos processos que
envolvem as Comunidades Campos Correia, Família Ozório e
Maria Theodora. Na ocasião, participamos de uma reunião de
trabalho do MPF com a representante do INCRA.
No dia 11 de junho de 2019, estive na Coordenadoria de
Promoção da Igualdade Racial (CPIR) da Secretaria Especial de
Cidadania e Direitos Humanos de Corumbá (SECDH) para
participar de uma reunião com o coordenador da igualdade racial
no município, Alexsandre Pereira Souza, e o assessor
governamental, Rogério Cesar Santos. Naquele momento foi
realizada uma escuta ativa, na qual os gestores apresentaram o
cronograma de atividades e ações voltadas às comunidades
quilombolas da cidade.
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dos dados no Google Maps7 e na plataforma geoquilombolas8,
(figura 7) com autorização e consentimento das lideranças das
comunidades sob estudo.
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A escrita do e-book: As trajetórias e resistências das comunidades
quilombolas do Pantanal Sul-Mato-grossense
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O prêmio CAPES de Teses 2022
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resultado do prêmio9 foi publicado no Diário Oficial da União, 11
de agosto 2022. Em janeiro de 2023 em visita a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior recebi o Certificado
do Prêmio CAPES de Tese 2022, (figura 9).
Resultado da premiação da CAPES de tese 2022, fui
contemplado com bolsa para realização de estágio pós-doutoral de
12 meses em instituição nacional. Iniciei as atividades desse estágio
na Universidade de Brasília – UnB, em janeiro de 2023.
Considerações finais.
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Espero que este trabalho, fruto de reflexões teóricas e de
pesquisa empírica realizadas a partir de um período de vivências
nas Comunidades Quilombolas Família Ozório, Família Campos
Correia e Maria Theodora venha propiciar, além de visibilidade
para essas três comunidades quilombolas, o acesso aos seus
direitos fundamentais, entre eles, a obtenção da titulação de seus
territórios tradicionalmente ocupados e áreas de compensação
reivindicadas.
Referências:
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Humanas, Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados,
MS, 2021.
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SOUZA, J. B. A. de; MORETTI, E. C. Formação e resistência das
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