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75ª Reunião Anual da SBPC

7.03.05 - Antropologia / Antropologia das Populações Afro -brasileiras.

CENSO QUILOMBOLA: A EXPERIÊNCIA DE CAMPO NA COMUNIDADE


QUILOMBOLA DO CANTINHO-SERRA BRANCA/PB

Wallace Gomes Ferreira de Souza1, Gleicilene da Silva Siqueira2, Josiel Ventura Alves3, Valcir Neves de
Sousa4, Vinicios Matheus dos Santos Farias5, José Mayck Mendes Ramos 6, Beatriz da Silva Alves7, Maria
Hualas de Farias Silva8
1. Docente/Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Etnicidade e Cultura (NEPEC) da Unidade
Acadêmica de Ciências Sociais (UACIS), Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido (CDSA),
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
2. Estudante da Licenciatura Ciências Sociais da UFCG, membro do NEPEC/UACIS/CDSA/UFCG
3. Estudante da Licenciatura Ciências Sociais da UFCG, membro do NEPEC/UACIS/CDSA/UFCG
4. Estudante da Licenciatura Ciências Sociais da UACIS/CDSAUFCG
5. Estudante da Licenciatura Ciências Sociais da UFCG, membro do NEPEC/UACIS/CDSA/UFCG
6. Estudante da Licenciatura Ciências Sociais da UACIS/CDSAUFCG
7. Estudante da Licenciatura Ciências Sociais da UFCG, membro do NEPEC/UACIS/CDSA/UFCG
8. Estudante da Licenciatura Ciências Sociais da UACIS/CDSAUFCG

Resumo

As conquistas políticas dos grupos rotulados como minorias, vêm ganhando a cena acadêmica das Ciências
Sociais nos últimos 40 anos, evidenciando a inquietação destas ciências com o novo. Esta inquietação faz-se
presente em temas como relações étnico-raciais e nos debates acerca dos direitos fundamentais dos grupos
étnicos, a exemplo das demandas territoriais dos sujeitos quilombolas. Em concordância com a Antropologia, a
condição de remanescente de quilombo é também definida de forma dilatada, que enfatiza as identidades dos
grupos e o território, buscando evidenciar a interação do meio físico com o grupo social. A pesquisa trabalhou na
perspectiva de levantar dados censitários da comunidade remanescentes de quilombo Cantinho no Município de
Serra Branca-Paraíba. O questionário censitário foi dividido em eixos temáticos: 1) Saúde; 2) Território e meio
ambiente; 3) Parentesco: perfil unifamiliar; 4) Trabalho e renda; 5) Moradia e segurança alimentar; 6) organização
sociopolítica; 7) Educação.

Palavras-chave: etnicidade; direitos sociais; população negra.

Introdução

O movimento quilombola aparece impulsionado pela conquista constitucional em 1988, onde o Art. 68
- Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) aponta um conjunto possível de novos sujeitos sociais
os remanescentes de quilombo. A Antropologia é trazida para o debate acerca da conceituação de quilombo e
da identificação dos remanescentes de quilombos, na medida em que o aspecto presencial é evocado, entra em
cena o presente etnográfico e o princípio teórico de conceituação do passado no presente (O’DWYER, 2002). É
justamente a condição de conjunto possível de sujeitos sociais organizados, que permite à Antropologia
conceituar os remanescestes de quilombolas como um grupo étnico que existe ao longo da experiência histórica
brasileira, portanto, propondo uma nova abordagem sobre a questão.
O termo quilombo possui profundas raízes coloniais (ALMEIDA, 2008), assim, é necessário um amplo
processo de revisão e descolonização da noção de quilombo. De tal modo, o esforço de fugirmos do modelo
estereotipado de quilombo é justamente para não incorremos no campo escorregadio de pensarmos que todos
os quilombos brasileiros tiveram as mesmas configurações que o quilombo de Palmares, pois em grande medida
acabamos traduzindo estas comunidades a partir de enquadramentos que pouco ou nada correspondem às suas
realidades sociais e territoriais (ARRUTI, 2006). Desta forma, a condição de quilombolas é restabelecida
enquanto vínculo sociocultural e histórico com um tipo e qualidade de organização social, mas do que um estrito
traço datado de ligações lineares com o passado escravocrata (ALMEIDA, 2008) onde a dimensão da conquista
do território representa a possibilidade de efetivação de um projeto de liberdade, retirado desses sujeitos por um
processo de exclusão social na qual as terras brasileiras foram desigualmente ocupadas, realidade na qual a
comunidade do Cantinho está inserida. Para tanto, tomamos como objetivo central da pesquisa a compreensão
das dinâmicas sociais (BARTH, 1998) da Comunidade Quilombola do Cantinho localizada no município de Serra
Branca, Paraíba/Brasil.

Metodologia

A pesquisa trabalhou na perspectiva de levantar dados censitários da comunidade remanescente de


quilombo Cantinho, localizada no município de Serra Branca - Paraíba/Brasil. Serra Branca situa-se na
microrregião do cariri ocidental, caracterizado por um clima semiárido. A ocupação desse território remonta ao

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período colonial caracterizado por distribuição de sesmarias, exploração da mão de obra escravizada e criação
de gado. Tais aspectos influenciaram diretamente na concentração das terras, fator que impacta diretamente a
comunidade/sujeitos foco da presente pesquisa.
O quilombo Cantinho possui uma história de fundação atrelada ao processo de concentração fundiária.
Srº Severino Moreno, liderança da comunidade, nos relatou um dos mitos de fundação da comunidade, que
segundo relatos orais se originou no período escravocrata, surgindo, pelo abandono das pessoas escravizadas
que tornavam-se “inúteis” para esses senhores, uns pela idade já avançada e outros por mutilações ocasionadas
pelas violências físicas da escravidão. Os sujeitos escravizados eram mandados para o ‘cantinho’, uma das
extremidades da antiga Fazenda Serra Branca, latifúndio que liga-se a história de ocupação do território do cariri
paraibano e a família Oliveira Lêdo, famosa pela aquisição de grandes extensões territoriais na Paraíba.
O Cantinho, é constituído por 37 unidades familiares com 93 pessoas com média de 3 pessoas por
cada unidade familiar. Do total, 48 são homens e 45 são mulheres. Dos 93 moradores só foi informado a idade
de 87, sendo destes: 11 entre 0 a 10 anos; 8 entre 11 a 18 anos; 7 entre 19 a 24 anos; 11 entre 25 a 34 anos; 13
entre 35 a 44 anos; 13 entre 45 a 54 anos; 12 entre 55 a 64 anos; 7 entre 65 a 74 anos; 3 entre 75 a 84 anos; 1
entre 85 a 94 anos e 1 entre 95 a 100 anos. Em relação a caracterização étnico-racial foi informado a de 91
moradores, 9% se identificam como brancos, 70% como negros e 21% como pardos. Destes, 29% são casados,
33% são solteiros, 4% são divorciados, 30% estão em uma união estável, 3% são viúvos e 1% mora sozinho.
O instrumento de coleta de dados foi um questionário estruturado com questões de múltipla escolha
elaborado no google formulário com auxílio de diário de campo etnográfico. A equipe do censo foi composta por
7 estudantes do curso de licenciatura em Ciências Sociais e teve como equipamento censitário o celular com
acesso ao questionário. A equipe realizou uma reunião com a comunidade para apresentação da pesquisa e
aplicação do questionário teste, após este primeiro momento foram feitas 5 visitas a comunidade em dias
alternados para a aplicação do questionário censitário. O instrumento está dividido em eixos temáticos: 1) Saúde;
2) Território e meio ambiente; 3) Parentesco: perfil unifamiliar; 4) Trabalho e renda; 5) Moradia e segurança
alimentar; 6) organização sociopolítica e 7) Educação. A aplicação foi feita por unidade familiar e necessitou
apenas de um respondente por unidade.

Resultados e Discussão

Os territórios das comunidades remanescentes de quilombos são caracterizados por uma experiência
sócio-histórica definida a partir de uma ancestralidade negra, logo, o território deve ser pensado como produto
socio temporal do trabalho humano (HAESBAERT, 2005). Dentro desta mesma lógica, a identidade cultural
desses grupos não são heranças sanguíneas, mas se constrói por modos de vida que são históricos, dinâmicos
e complexos (BARTH, 1998), dentre estes, a luta por acesso a direitos sociais, a exemplo do direito ao território,
que teve seu marco no decreto 4.887 de 20 de novembro de 2003, que busca regulamentar o Art. 68 da ADCT
– Atos das Disposições Constitucionais Transitórias, bem como, na luta por segurança alimentar, educação,
lazer, acesso a água e saúde.
O Quilombo Cantinho, tem na agricultura familiar o principal meio de subsistência das famílias, 67% dos
moradores fazem uso da terra para o cultivo de milho, feijão, fava, melancia e jerimum e 11% divide as práticas
da agricultura com a extração de madeira. Observamos na pesquisa de campo e a partir dos dados do
questionários censitário que, apesar de praticamente 100% das famílias terem acesso aos alimentos que
fornecem carboidratos, proteínas, fibras e óleos, há um acesso escasso a alimentos que fornecem vitaminas e
minerais, que são as frutas e verduras, pois apenas 5% das famílias responderam que tem em seu cardápio
alimentar diário tais alimentos. Desse modo, importante destacar que a carência de vitaminas pode acarretar em
hipovitaminose que pode resultar em anemia megaloblástica, escorbuto entre outras doenças e prejudicar o
desenvolvimento intelectual e biológico a exemplo do raquitismo que é causado pela deficiência da vitamina D
ou de cálcio. Constatamos também, que 43% das famílias tiveram dificuldades na aquisição da cesta básica,
número esse que aumentou devido a pandemia da COVID-19. Porém é importante destacar que 89% das famílias
são beneficiadas com algum programa governamental, sendo 62% delas com o Programa Bolsa Família (Auxilio
Brasil).
No tocante a renda, constatamos que 54% das famílias que vivem na comunidade têm uma renda mensal
entre 780,00 até 1.300 reais. Na composição dessa renda familiar a aposentadoria rural corresponde a 21%,
seguida da junção de agricultura familiar mais aposentadoria com 14% e a Bolsa Família correspondendo 14%.
A atividade econômica e geração de renda dentro do próprio quilombo que mais se destaca é a agricultura familiar
que corresponde a 27% e a criação de animais somada com a agricultura familiar 21%, gerando relações de
comércio dentro e fora da comunidade. Em relação a natureza do vínculo trabalhista apenas 19% trabalham de
carteira assinada na comunidade. Dentro dessas famílias observamos que 54% não possui menores de idade e
que 43% têm crianças em idades não economicamente ativa. Apesar de ser reconhecida como comunidade
quilombola 69% dos entrevistados relataram que a comunidade é muito desvalorizada por parte dos poderes
públicos, as pessoas entrevistadas relataram que a comunidade sofre com falta de infraestrutura, saneamento
básico, acesso a saúde e educação de qualidade.
Dentro do eixo Saúde, 97% dos moradores relataram que a comunidade tem acesso aos serviços de
saúde pública, mas dentro dos relatos, os moradores reclamaram da periodicidade que os atendimentos
acontecem, de acordo com os dados da pesquisa, esse atendimento acontece apenas uma vez por mês. De
acordo com as informações 91% dos moradores estão com as vacinas oferecidas pelo sistema único de saúde
em dia. Em relação a pandemia e o processo de imunização, 97,5% dos moradores recebem a vacina contra a
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COVID-19, porém apenas 75,7% receberam as três doses da vacina. Percebemos assim que a comunidade foi
contemplada com o sistema de vacinação, pois a cobertura vacinal foi bem acima da média nacional, porém ouve
um problema com a continuidade do ciclo vacinal da COVID-19, aspecto preocupante, sobretudo, numa
comunidade com um percentual de idosos que corresponde a 25,5% do universo de moradores.
Em relação ao perfil educacional da comunidade Cantinho ou mais especificamente as condições de
acesso à educação formal e o grau de escolaridade da população, de um universo de 93 moradores, 04 não
informaram o grau de escolaridade, 5 são analfabetos, 48 tem o ensino fundamental incompleto, 8 tem o ensino
fundamental completo, 6 tem o ensino médio incompleto, 15 tem o ensino médio completo, 5 tem o ensino
superior incompleto, 2 concluíram o ensino superior e nenhum chegou a pós-graduação. Na comunidade não
existe escola, realidade que vai de encontro as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar
Quilombola (2012), que define que a educação quilombola se desenvolve dentro do território quilombola, com
profissionais com qualificação específica e uma concepção de educação contextualizada que valoriza a
diversidade étnico-cultural das populações negras. Pela ausência da unidade escolar as crianças e adolescentes
precisam se deslocar para a cidade, o deslocamento, que acontece por meio de transporte público, pode levar
até uma hora. Em relação ao acesso a rede mundial de computadores (internet) quase todas as residências
possuem acesso à banda larga e telefone móvel, mas somente duas residências têm computador, fator que no
período da pandemia configurou num limitador para o acesso as atividades do ensino remoto. O grau de
escolaridade da população do Cantinho é baixo, a maioria dos moradores não concluiu o ensino fundamental ou
médio, e um número extremamente baixo ingressou no ensino superior. Os jovens egressos do ensino médio,
em sua grande maioria, se submetem a trabalhos informais na cidade, migram para outros municípios ou
permanecem exercendo atividades ligadas à agricultura. Destacamos que, essa realidade do não acesso à
educação formal das populações negras foi sistematicamente negado ou dificultado desde o período colonial no
Brasil (CAMPOS e GALLINARI, 2017) e que a escravidão produziu desigualdades racial profundas em nosso
pais, temos as populações negras em situação de maior vulnerabilidade social e com baixo grau de instrução.
Os dados coletados evidenciam que o quilombo do Cantinho, experimenta uma realidade vivenciada por
outras comunidades remanescentes de quilombo no Brasil, uma vez que, as comunidades quilombolas são
atingidas por uma série de desigualdades sociais, pois há uma espécie de barreira entre o poder público e a
comunidade na promoção do acesso aos direitos sociais destas populações rurais (DIMENSTEIN et al, 2020). É
possível detectar que no Cantinho há uma precariedade de políticas públicas em funcionamento dentro da
comunidade, principalmente porque não há investimento ou incentivo para que as pessoas fiquem na
comunidade. É uma preocupação dos moradores a falta de investimentos financeiros para geração de emprego
e renda dentro da comunidade, porque resulta em um processo de esvaziamento do quilombo e migração dos
jovens. Além da discussão emprego e renda, às famílias relatam que há dificuldade para se acessar as políticas
públicas do município, citando as de transporte, saúde, educação, agricultura familiar, saneamento básico,
acesso hídrico, segurança alimentar, moradia, manutenção das estradas que dão acesso ao território, direito à
terra, programas sociais, etc. ou seja, serviços que são considerados básicos. A falta de escola na comunidade,
associada à ausência de emprego, a carência do atendimento dos serviços hospitalares, o extinto apoio social e
a falta de financiamento para a agricultura familiar, faz com que a comunidade permaneça isolada ao ser
“esquecida” pelo poder público, revelando-se traços de um racismo institucional (DIMENSTEIN et al., 2020) e
estrutural.
Os entrevistados destacam principalmente os problemas relacionados ao acesso dos atendimentos
hospitalares na comunidade, ou seja, em relação as atenções primária, secundária e terciária ofertas pelo SUS,
isso porque, eles informam que há apenas um atendimento médico mensal, mostrando-se insuficiente para
atender a todas as demandas de saúde dos moradores, citando principalmente os atendimentos odontológicos.
Essas fragilidades sociais sentidas pelos moradores da comunidade do Cantinho somadas à falta de apoio social
do poder público do município de Serra Branca fazem os moradores se sentirem desprotegidos e desamparados
pelo poder público municipal. De acordo com DIMENSTEIN et al. (2020) as múltiplas desigualdades sociais
concentradas em um único espaço que encontra-se geograficamente distante de locais que ofertam serviços
sociais básicos, como educação, saúde, assistência social, emprego, espaços de lazer, etc., faz com que as
populações rurais de comunidade quilombolas sintam-se isoladas, marginalizadas e esquecidas pelo estado que
deveria protegê-los.

Conclusões

A vida cotidiana não é uma simples repetição, mas invenção (CERTEAU, 1998), neste termos, como
nos ensinou Malinowski, precisamos restituir as cenas do cotidiano de relevo e de cor. A comunidade
remanescente de quilombo Cantinho foi o lugar a se colorir, pois é no lugar/cotidiano que incidem histórias de
vida, ou seja, relações socioculturais em movimento no transcurso do tempo, onde se desenvolve saberes
coletivos compondo o que Little (2002) chamou de uma cosmografia, processam-se experiências temporais de
intervenção e relações que, modelam o espaço dando-lhe significados particulares, preenchendo as suas
camadas de história (SOUZA, 2014). Partindo dessa experiência heterogenia de relacionar-se com o território,
promovida pela diversidade sociocultural do Brasil, temos uma extraordinária variedade fundiária, representada
em parte pelas comunidades remanescentes de quilombos, possuidoras de formas particulares de relacionar-se
com os ambientes geográficos (LITTLE, 2002; ARRUTI, 2006).
Mostrar, reparar e colorir o lugar são passos preparatórios para pensar a situação do lugar, e significa
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sobre tudo, dar destaque aos relevos/dinâmicas sociais, visibilizando as condições na quais estes novos sujeitos
de direitos, os remanescentes de quilombolas, estão inseridos na sociedade brasileira, com suas características
particulares produtoras de vínculos socioculturais e históricos onde a conquista do território é a efetivação de um
projeto de liberdade concretizado a cada geração que cultiva a terra construindo as condições de sua reprodução
material e social. Destarte, apontamos que assegurar o acesso aos direitos sociais – educação, saúde,
assistência social, lazer, dentre outros, são fundamentais para consolidação da condição de cidadãos aos
sujeitos quilombolas do Cantinho que hoje se veem fragilizados em relação a efetivação plena dos seus diretos
assegurados no texto constitucional.
Concluímos reafirmando que o território é a chave que aciona a emergência de um sentimento de
pertença, fundamental na construção da identidade étnica. Os sujeitos se pensam inicialmente como
pertencentes a um lugar, onde seus avos, pais e ele mesmo com seus filhos vivem, deste modo, um grupo étnico
é uma comunidade política-organizacional produzida a partir de certas interações sociais que possuem um
caráter dinâmico. Neste contexto de relações, onde a etnicidade corresponde à ação dos indivíduos acionada
por comportamentos de ondem racional afetiva, a vida cotidiana não é uma simples repetição mecânica, mas o
lócus de criação das condições fundamentais para nos tornarmos humanos e cidadãos integrais. Ainda nesta
relação território/identidade étnica e bem viver, opera-se a atualização das experiências do passado com os olhos
do presente, realizada por uma memória afetiva onde cada canto, curva, ladeira e grota da terra chamada
Cantinho possui uma história imbricada nas histórias de vida de cada sujeito da comunidade.

Referências bibliográficas

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