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AUTORES: ILUSTRAÇÕES:
FICHA CATALOGRÁFICA
Simão, Rosimeire Morais Cardeal
S588q Quilombola: uma história de resistência e soberania alimentar / Rosimeire
Morais Cardeal Simão; Helder Ribeiro Freitas e Xirley Pereira Nunes. – Juazeiro-
BA, 2023.
32 f.: il. ; 29 cm.
ISBN: 978-85-5322-206-3
CDD 305.896
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A terra, a alimentação e o
quilombo
A base da alimentação brasileira surge não só da
terra cativa, mas também do quilombo, representação
da luta pela liberdade. Assim, o cultivo e a culinária
desde o Brasil colônia revela a força, a luta pela
liberdade, sendo uma representação do território
mãe, a África. Para os negros fugidos o alimento lhe
trazia uma memória afetiva.
Embora, muitos de nós possamos consumir esses
alimentos, sem pensar em sua história, eles só
existem, devido a essa luta. Os territórios
quilombolas, na atualidade, são locais de reprodução
e manutenção dessa cultura alimentar.
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Diversos preparos alimentares oriundos das cozinhas
do quilombo como o frango com angu, o acarajé, a
comida mais apimentada, e tantos outros, foram em
alguns casos adaptados e incorporados à base da
alimentação brasileira.
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Alimentos da cultura alimentar cultivados
na comunidade Quilombola de Mocambo
dos Negros.
Mamão Abóbora
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Território: construção
histórica de vidas
TERRITÓRIO é aquele
espaço que uma comunidade
usa e tem nele sua história,
onde a vida é (re)produzida
socialmente, imersa em
distintas relações de poder.
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Mesmo convivendo com pressões ambientais e
econômicas, a população de Mocambo dos Negros
possui uma história de convivência com o local que
possibilitou a seus moradores desenvolver
agroecossistemas.
É preciso sistematizar os conhecimentos construídos
ao longo da história de vida e de luta dessas
populações, a fim de dar maior visibilidade a essa
comunidade, em suas necessidades, em seus direitos e
identidades.
O território e sua relação com as formas de
organizar, de trabalhar, de elaborar o espaço estão
ligados à cultura quilombola. Ser quilombola está mais
associado a uma maneira de produzir coletivamente,
de entender-se como parte de um grupo, inclusive
também, nas características biológicas.
Dessa forma, as mudanças de território evidenciaram
prejuízos relacionados à identidade dessa população.
Os novos patrimônios culturais que emergem hoje,
também revelam um novo orgulho pelo passado,
pautado por novas reivindicações por direitos e
reparações no presente.
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IDENTIDADE é a forma como um grupo ou indivíduo se vê ou
é visto por outros. É construída socialmente, no indivíduo ou
no grupo, quando da autoafirmação de suas marcas
características e também se afirma pelo reconhecimento
atribuído pelos outros que se entendem diferentes do grupo
ou do indivíduo.
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A relação da produção de alimentos e uma
alimentação adequada e saudável é um direito
humano, e deve estar baseada nas práticas produtivas
dos agroecossistemas, atendendo aos princípios da
variedade, equilíbrio, moderação, prazer e a garantia
do acesso permanente e regular, de forma social e
justa para toda população.
Uma prática alimentar adequada aos aspectos
biológicos e sociais do indivíduo e baseada em práticas
sustentáveis, devem estar em acordo com as
necessidades alimentares especiais e ser referenciada
pela cultura alimentar e pelas dimensões de gênero,
raça e etnia e acessível do ponto de vista físico e
financeiro.
Assim, a alimentação deve se dar de forma
harmônica em quantidade e qualidade, para evitar
enfrentamentos nas interações humanas. Deste modo,
é essencial proporcionar às comunidades o saber
sobre hábitos alimentares favoráveis e práticas
propostas no âmbito das agricultura de base ecológica
promovidas pela agroecologia, em detrimento das
práticas da agricultura industrial.
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Nesse contexto, a identidade é uma construção
que precisa da memória e da história de um grupo
social. É bom saber que, aquilo que nossos ancestrais
nos deixaram a memória contribui para a valorização
de uma cultura, preservação da memória e a
grandiosidade das histórias, que através do registro,
podem ser permanentes.
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A atual complexidade da cadeia produtiva de
alimentos coloca a sociedade brasileira diante de
novos riscos à saúde, como a presença de agrotóxicos,
aditivos, contaminantes, organismos geneticamente
modificados e a inadequação do perfil nutricional dos
alimentos (BRASIL, 2013).
Cultivo de alimentos
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Nesse contexto, existe uma necessidade urgente de
promover novos sistemas alimentares locais para
garantir a produção de alimentos em quantidade e
qualidade, sendo estes acessíveis a toda população,
sem comprometer o acesso a outras necessidades
essenciais na busca pela proteção da saúde humana.
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A pesquisa: Comunidade de
Mocambo dos Negros, Itapura,
Miguel Calmon - BA
Mocambo dos Negros é uma vila fundada no final do
século XIX por escravos fugidos, localizada no vale das
serras do Mocambo, no município de Miguel Calmon-BA,
com uma população de 1722 habitantes e atualmente,
segundo dados da Secretaria Municipalde Saúde do
Município, essa população atinge os 970 habitantes,
sendo 465 composta por homens e 505 mulheres,
segundo os dados do instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística- IBGE (2022).
O nome da vila inicialmente era Mocambo dos Negros,
depois passou a Itabira e, a partir do Decreto Estadual
nº 1.978 de 01/01/1944, Itabira passou a se chamar
Itapura, também de origem indígena, significa “a pedra
que emerge” (VILARONGA, et al., 2007).
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Localização do Distrito de Itapura-Mocambo dos Negros, Miguel Calmon-BA.
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Fonte: Os autores, 2021
Formalmente reconhecido como distrito de Itapura,
o quilombo de Mocambo dos Negros trava na
atualidade uma luta pelo reconhecimento do direito de
uso e posse sobre seu território. Além disso, pelos
relatos obtidos na comunidade, constam registros de
dificuldades com a alimentação ou mesmo total falta de
alimentos.
Trabalhador do campo em Mocambo dos Negros
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A receptividade do povo quilombola de Mocambo dos
Negros, facilitou compreender aspectos da agricultura
familiar quilombola e suas práticas alimentares e
agroecológicas que contribui para a Segurança Alimentar
e Nutricional.
Foi possível identificar no modo de vida camponês das
famílias quilombolas de Mocambo dos Negros, os
aspectos que garantem o manejo sustentável e a
organização familiar da comunidade.
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O levantamento existente sobre as condições de
vida dos quilombolas de Mocambo dos Negros foi
realizado a partir de diferentes estratégicas, como
visitas previamente agendadas, conversas informais,
entrevistas e observação participante, visitas ao local
para observação de campo.
As informações foram registradas em um diário
de campo, coletando durante as visitas e
observações, as falas dos moradores, informações de
documentos disponibilizados pela associação dos
moradores, fotos do acervo de Mocambo dos negros
e os resultados dos questionários aplicados pela
pesquisadora. Todos esses instrumentos de coleta de
dados colaboraram para a definição do objeto de
investigação.
Comunidade de Mocambo dos Negros
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Soberania alimentar e
resistência
A Soberania diz respeito a suprir sem dependência
as necessidades alimentares básicas. O cultivo, o
beneficiamento e o preparo das receitas fazem parte
desta soberania dos quilombos. Se em outro momento
a resistência se dava em relação a fugir do cativeiro,
hoje se faz na luta pela manutenção e reprodução
dessa cultura alimentar.
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É essa luta que se reproduz no seio da comunidade
quilombola de Mocambo dos Negros: a busca diária
pela garantia da alimentação, e luta pela sobrevivência,
ao mesmo tempo que buscam garantir a reprodução da
cultura inerente ao modo que vivem, inclusive nas
práticas de produção de alimentos.
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Pauta para a garantia da
soberania alimentar
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D Estruturação de sistemas de comercialização com
preços acessíveis aos trabalhadores e
trabalhadoras e que os protejam contra a
especulação e pressão dos preços dos grandes
mercados. Promoção de sistemas de alternativos
e institucionais de comercialização, que
possibilitem trocas, tanto de alimentos como de
outros produtos, como artesanatos, quanto
trocas de dias de trabalho ou serviços;
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G Promoção do empoderamento das mulheres e
jovens em momentos chave, por exemplo, na
tomada de decisões sobre o uso do território.
Reconhecimento social da importância das
mulheres na gestão da oferta dos alimentos;
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Palavras finais
Falar em agricultura familiar quilombola é entender
que trata-se da busca pela garantia da soberania
alimentar, pelo combate à fome que tem assolado esse
país, e principalmente falar da reprodução cultural de
um povo. É processo educativo, das técnicas, das
receitas, das cantigas de roda, do modo de vida.
Dessa maneira, estudar as questões relativas a
comunidade de Mocambo dos Negros no distrito de
Itapura, Miguel Calmon-BA, nos levou a compreender
todo o sentido político, social e cultural contido no
alimento. Nos direcionando, assim, a escolha
consciente de qual alimento consumir, por entender
que, escolher pela compra e consumo de um
determinado alimento é reafirmar qual tipo de
agricultura queremos ter.
Assim, apesar de toda a força do povo quilombola,
da sua reprodução e permanência em seus territórios
é fundamental o apoio governamental para a
produção, práticas tradicionais de manejo sustentável
dos agroecossistemas, que garantem o abastecimento
de maior parte dos alimentos consumidos pela
população brasileira.
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Desta forma, o fortalecimento das práticas agrícolas
e alimentares das comunidades quilombolas é
importante para toda sociedade. Por fim, meus
agradecimentos aos moradores de Mocambo dos
Negros que acolheu a pesquisa.
GRATIDÃO!!!
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Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
Saúde. Departamento de Atenção BRASIL. Política Nacional
de Alimentação e Nutrição / Ministério da Saúde,
Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
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Para saber mais...
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Material complementar
SANTILLI, Juliana. Agrobiodiversidade e direitos dos
agricultores. São Paulo: Peirópolis, 2009.
ARTICULAÇÃO NACIONAL DE AGROECOLOGIA (ANA).
Soberania e Segurança Alimentar. ANA. 2007 (Caderno
do II Encontro Nacional de Agroecologia).
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Sobre os autores
Rosimeire Morais Cardeal Simão
Doutora em Agroecologia e Desenvolvimento
Territorial (UNIVASF). Mestre em Educação (UPE).
Graduada em Ciências Biológicas e Nutrição (UPE)
Pós graduação em Nutrição Clínica: Ambulatorial e
Hospitalar (CEFAPP/FACESF) Pós graduação em
Oncologia (INADES). Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/0561136187080972