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Graduanda do Curso de Licenciatura em Ciências Sociais na Universidade Federal de Campina Grande –
UFCG do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido-CDSA da Unidade Acadêmica de Ciências
Sociais-UACiS. E-mail: arrudajessica.21@gmail.com
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Graduanda do Curso de Licenciatura em Ciências Sociais na Universidade Federal de Campina Grande –UFCG
do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido-CDSA da Unidade Acadêmica de Ciências Sociais-
UACiS . E- mail: medeirosrosana01@gmail.com
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Doutor em Ciências Sociais; Prof. da Unidade Acadêmica de Ciências Sociais-UACiS na Universidade Federal
de Campina Grande-UFCG do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido-CDSA. E-mail:
wallace.ferreiradesouza@gmail.com
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I – INTRODUÇÃO
e contextos e é utilizado para designar um legado, uma herança cultural, material e uma forma
de organização política que lhe confere uma referência presencial no sentimento de ser e
pertencer a um lugar específico (SCHMITT, 2002), a um grupo cujos membros se reinventam
como novos atores sociais, favorecidos pelo art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias (ADCT) que garante a titularidade das terras. Portanto, não se deve imaginar que
estes grupos camponeses negros tenham resistido em suas terras até os dias de hoje porque
ficaram isolados, à margem da sociedade. Pelo contrário, sempre se relacionaram intensa e
assimetricamente com a sociedade brasileira, resistindo a várias formas de violência para
permanecer em seus territórios ou, ao menos, em parte deles. Esta realidade também é
encontrada na Paraíba.
Império do Mali, hoje dividido em vários países do noroeste da África 4. Griot designa os
contadores de histórias, genealogistas5, mediadores políticos6·, contadores, cantores e poetas
populares que vivem em alguns países africanos, no Sudão e em parte da zona guineense. São
bibliotecas vivas da tradição oral de vários povos da África. No continente africano, um griot
nasce griot, seu ofício não é escolhido, relaciona-se a uma herança e à sua origem. Quando
assim o sujeito nasce, a ele são atribuídos direitos e deveres, sendo responsável por guardar e
transmitir a história do seu povo. Quando morre, diz-se que uma biblioteca se foi, porque ele
carrega consigo a sabedoria e as tradições desse povo.
É por meio da tradição oral que o griot transmite às novas gerações o que sabe,
especialmente às crianças. Existem mulheres e homens que são griots e griotes. Além das
tradições de seu povo, essas pessoas conhecem o som dos animais, dos grandes aos pequenos,
das cigarras aos elefantes.
O autor ainda relata que a tradição confere aos griots um status especial e diferente
dos nobres, pois eles têm o direito inclusive de ser cínicos e gozam de grande liberdade de
fala. Podem se manifestar livremente, até mesmo impunemente e, por vezes, chegam a
zombar das coisas mais sérias e sagradas, sem que isso lhes acarrete graves consequências.
Além disso, podem contar mentiras e ninguém as tomará no sentido próprio. Nesses casos, as
pessoas podem até saber que não estão falando totalmente a verdade, mas aceitam como se o
fosse e não se deixam enganar. Nesse último caso, Hampaté Bâ adverte:
4
Disponível em: <http://www.acaogrio.org.br/>
5
Um genealogista ocupa-se em estudar a origem de um indivíduo ou família, a linhagem e a estirpe de sujeitos
inseridos em determinados grupos e sociedades. Busca identificar o conjunto de antepassados de uma linhagem,
por exemplo.
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Um mediador político é aquele que atua no sentido de resolver conflitos e superar diferenças entre grupos,
comunidades e sociedades. Ele colabora na tomada de decisões que contemplem os interesses das partes
envolvidas
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como uma reconstrução daquilo que passou. As relações destes sujeitos inseridos em um
espaço político através de suas memórias narrativas e o seu pertencimento étnico, dando
visibilidade às memórias e subjetividades daquele grupo social.
A contação de histórias é uma das atividades mais antigas de que se tem notícia. Essa
arte remonta à época do surgimento do homem há milhões de anos. Na cultura de povos
antigos e contemporaneamente nos grupos denominados de ‘tradicionais’ e ‘originários’,
saber ler, escrever e interpretar sinais da natureza são de grande importância, porque mais
tarde tornam-se registros pictográficos e narrativas orais, com os quais seriam relatadas coisas
do cotidiano que são lidos e compreendidos pelos integrantes do grupo. As histórias são uma
maneira mais significativa que a humanidade encontrou para expressar experiências que nas
narrativas realistas não acontecem (MATEUS, 2016). Os moradores dos quilombos de
Livramento têm afinidade com o ato de transmitir histórias de forma oral, recentemente um
livro sobre as histórias daquele território foi lançado, documentando os relatos das relações
entre os sujeitos através de histórias contadas pelos quilombolas.
Em maio de 2016, iniciou nas comunidades uma busca pelos griots de Livramento.
No início como qualquer trabalho, chegar a um lugar onde todas as informações até então
eram vagas, um grande desafio, e logo originou – se a necessidade de fomentar espaços de
integração entre a comunidade e a universidade. Onde através da contação de histórias como
estratégia de aproximação com o campo, bem como, dar visibilidade a uma memória social do
grupo materializada nas narrativas orais.
comunidade. O ato de contar histórias deve impregnar todos os sentidos, tocando o coração e
enriquecendo a leitura de mundo na trajetória de cada um. E através delas que se pode sentir
e viver importantes emoções como: a raiva, a tristeza, alegria, tranquilidade e tantas outras, e
viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve. Abramovich
(1989, p. 17)
Os contos são temidos porque objetivam os fatos e as verdades que não podem ser
expressos pela razão, por isso nos estudos dos contos observa-se: “Em primeiro lugar, o fato
de que eles falam sempre de relacionamentos humanos e, por isso, exprimem sentimentos
muito do psiquismo humano” (VIEIRA, 2005), as narrativas míticas tem uma função
pedagógica (ELIADE, 2006).
Assim podemos salientar que a identidade enquanto conceito pode ser compreendido
em dois planos distintos: o interno, que consiste na percepção de si como membro de uma
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V – REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Os Quilombos e a Novas Etnias. pp. 43-81 IN:
O’DWYER, Eliane Cantarino (org.). Quilombos: identidade étnica e territorialidade. Rio de
Janeiro – RJ: Ed. FGV/ Associação Brasileira de Antropologia-ABA, 2002
BÂ, Amadou Hampâté. Amkoullel, o menino fula. São Paulo: Palas Athena, Casa das Áfricas,
2003. BÂ, Amadou Hampâté. A tradição viva. In: UNESCO. História geral da África:
metodologia e pré-história da África, v. 1. Brasília: UNESCO, MEC, UFSCar, 2010. p. 167-
212.
RODRIGUES, Edvânia Braz Teixeira. Cultura, arte e contação de histórias. Goiânia, 2005.
VANSINA, J. A tradição oral e sua metodologia. In: KI ZERBO, J. História geral da África,
v. 1: metodologia e pré-história da África. Brasília: UNESCO, MEC, UFSCar, 2010. p. 139-
166.
VIEIRA, Isabel Maria de Carvalho. O papel dos contos de fadas na construção do imaginário
infantil. In: Revista criança - do professor de educação infantil, v. 38, p. 10,2005.