Você está na página 1de 11

Leituras obrigatórias UFSC 2024 – Prof.

Francine Iris Tadiello


SAPIENS | GRUPOS PREPARATÓRIOS PARA VESTIBULARES E ENEM

Úrsula (1859), de Maria Firmina dos Reis (1822-1917)


Assim como Shakespeare, pouco se sabe sobre a primeira romancista
brasileira. Nascida em São Luís do Maranhã, foi filha de João Pedro Esteves (que
provavelmente era um escravo alforriado) e de Leonor Felipe dos Reis. Órfã de
mãe, por conta de intempéries pessoais à sua volta, foi possível para ela, ainda
assim, frequentar o ambiente escolar e se formar como professora. Logo
demonstrou interesse pela literatura. O meio dos livros não lhe era estranho,
afinal, era prima de um importante gramático da época, Francisco Sotero dos
Reis. Nada em sua trajetória foi comum. Ela não apenas frequentou uma escola,
como fundou um estabelecimento de ensino. Sua trajetória, portanto, foge à
regra de seu contexto, até aqui explicitado. Abolicionista convicta, ela publicou
obras que tematizam os horrores da escravidão e os riscos sociais da exploração
humana. Ao tematizar a escravidão, Maria Firmina derrotou o pacto social do
Romantismo brasileiro, um pacto que preferia representar as grandezas da nação
recém-independente a acusar desde o princípio suas barbáries estruturais – a crítica à escravidão apareceria só mais
adiante, junta aos movimentos republicano e abolicionista do fim do século XIX. Posteriormente, contudo, a autora
parece ter sido derrotada por ele, na medida em que sua obra caiu em profundo ostracismo para ser redescoberta
somente décadas depois, por esforços da pesquisa acadêmica. Isto é, as forças racistas que precisou derrotar para ver
suas obras publicadas permanecem após a abolição e parecem ser responsáveis pela demora no reconhecimento de
sua literatura. Veja a série de livros que a autora publicou:

a) Úrsula (1859)
b) Gupeva (1861)
c) Pamaso maranhense (1887)
d) A escrava (1871)
e) Hino da libertação dos escravos (1888)

É curioso que Maria Firmina teve também uma vida intensa no campo musical, tendo composto peças como
Auto de bumba-meu-boi – letra e música –; Valsa – letra de Gonçalves Dias e música de Maria Firmina –; Hino à
mocidade – letra e música –; Hino à liberdade dos escravos – letra e música –, dentre outras.

Enredo:

Romance de filiação gótica, Úrsula é um emaranhado de descrições intermináveis da


natureza sombria do mundo das grandes casas e da vida da fazenda. A história segue os moldes
do romantismo da época: Úrsula, personagem principal que dá nome ao romance, apaixona-se
por Tancredo, moço de família abastada que sofreu de uma desilusão amorosa. Adelaide, a
quem ele amava, casara-se com seu pai. Após idas e vindas, Tancredo torna a crer no valor
inestimável das relações amorosas e Úrsula e ele acabam marcando a cerimônia do casamento;
contudo, como convém a um homem romântico, a carga de dramaticidade sobe e Fernando, tio
de Úrsula, assassina Tancredo. Conforme o previsível, Úrsula enlouquece. A obra é recheada de
truísmo, redundâncias e expressões hiperbólicas. Nenhuma das personagens é tratada de forma
profunda; são todas planas, típica construção romântica. Ainda sobre os personagens da
narrativa: Luísa B. e o comendador Fernando P., mãe e tio de Úrsula, têm seus sobrenomes
abreviados. Não há inovações no campo da linguagem – escravos falam como senhores. O cenário predominante é
composto de uma apresentação exaustiva da natureza, em uma expressão bucólica digna de nota. Túlio, um indivíduo
então escravizado, abre o livro em uma pitoresca cena de resgate da personagem de Tancredo. Em troca, ganha a
própria liberdade, em uma estratégia da autora para pavimentar uma linha narradora que sugere ser a libertação dos
escravos o único caminho para o triunfo do processo civilizatório no Brasil.
Na passagem a seguir, veja como Maria Firmina procura elevar os indivíduos negros à condição mais nobre:
“O homem que assim falava era um pobre rapaz, que ao muito parecia contar 25 anos, e que na franca expressão de
sua fisionomia deixava adivinhar toda a nobreza de um coração bem formado. O sangue africano refervia-lhe nas
veias; o mísero ligava-se à odiosa carreira da escravidão; e embalde o sangue ardente que herdara de seus pais, e
que o nosso clima e a escravidão não puderam resfriar, embalde – dissemos – se revoltava; porque se lhe erguia
como barreira – o poder do forte contra o fraco.” (Cap. I “Duas almas generosas”. p. 32)

Neste fragmento, aparecem, ao mesmo tempo, uma tendência a certo ufanismo étnico em relação aos negros
e um elogio à postura do herói romântico, angustiado entre as vontades de seu próprio eu e as limitações do mundo
que o cerca. Vale frisar, contudo, que o destaque dado à personagem negra e a representação sublime de sua condição
interior é completamente inaudita na literatura brasileira da época. Se os autores evitavam até misturar suas vozes
com as das personagens negras, sendo raro o recurso do “discurso indireto livre” no período – em que, pela disposição
das vozes, não é possível decidir com certeza quem está falando -, o comum é uma representação racista ou, no melhor
dos casos, ambivalente. O romance possui estrutura linear – ou seja, sem intercalações ao desenvolvimento linear do
tempo -, com obediência aos padrões estéticos da época, e divide-se em vinte capítulos, um prólogo – já abordado pela
UFRGS -, e um epílogo. Veja:

Prólogo
I Duas almas generosas
II O delírio
III A declaração de amor
IV A primeira impressão
V A entrevista
VI A despedida
VII Adelaide
VIII Luiza B.
IX A preta Susana
X A mata
XI O derradeiro adeus!
XII Foge!
XIII O cemitério de Santa Cruz
XIV O regresso
XV O convento de ***
XVI O comendador Fernando P.
XVII Túlio
XVIII A dedicação
XIX O despertar
XX A louca
Epílogo

Chamam a atenção as partes Prólogo e Epílogo, que indicam o começo e o fim da narrativa,
metalinguisticamente, e não sintetizam a matéria que será tratada na narrativa. Maria Firmina dos Reis, de certo
modo, inaugura os elementos seminais do fluxo de consciência. Este é um romance que a todo momento aposta em
longas introspecções, discursos, turnos de fala em que as personagens parecem ser meros veículos das firmes
concepções da autora. Firmina parece que tinha a percepção de que sugerir a existência de uma vida psicológica intensa
nas abordagens negras poderia rapidamente redundar numa presunção de complexidade humana. Assim, o problema
de bestialização do indivíduo, cristalizado no terrível processo de reificação do ser humano, tenderia a sumir. Também
parece que a autora apostava na identificação do leitor, provavelmente branco, com a vida interior daquelas
personagens. O que hoje parece o esperado, o cultivo da identidade humana entre leitor e personagens, em contexto
de horror escravista, não é nada simples. Maria Firmina do Reis, com firmeza, movia sua literatura nessa direção.
Voltando à divisão da obra, para não deixar dúvidas do interesse da autora em fazer um romance-tese, obra em que
uma ideia é exaustivamente defendida, mesmo que isso signifique sacrifícios para a legibilidade do livro, Firmina
constrói um prólogo e um epílogo que possuem função de procurar exercer o controle da recepção de Úrsula. A autora
deseja cercear, sugerir, tutelar aquilo que o leitor entendeu, porque se trata de uma obra essencialmente urgente,
construída sob uma demanda pungente: a abolição da escravidão.

2
Leia com atenção esse fragmento:

“Homem generoso! Único que soubesse compreender a amargura do escravo!... Tu que não esmagaste com
desprezo a quem traz na fronte estampado o ferrete da infâmia! Porque ao africano seu semelhante disse: - és meu!
– ele curvou a fronte, e humilde, e rastejando qual erva, que se calcou aos seus pés, o vai seguindo? Porque o que é
senhor, o que é livre, tem segura em suas mãos ambas a cadeia, que lhe oprime os pulsos. Cadeia infame e rigorosa
a que chamam: - escravidão?!... E, entretanto, este também era livre, livre como o pássaro, como o ar; porque no
país não se é escravo. Ele escuta a nênia plangente de seu pai, escuta a canção sentida que cai dos lábios de sua mãe,
e sente como eles, que é livre; porque a razão lho diz, e a alma o compreende. Oh! A mente! Isso sim ninguém a
pode escravizar! Nas asas do pensamento, o homem remonta-se aos ardentes sertões da África, vê os areais sem
fim da pátria e procura abrigar-se debaixo daquelas árvores sombrias do oásis, quando o sol requeima e o vento
sopra quente e abrasador: vê a tamareira benéfica junto à fonte, que lhe amacia a garganta ressequida: vê a cabana
onde nascera e onde livre viver! Desperta, porém em breve dessa doce ilusão, ou antes, sonho em que se engolfara
e a realidade opressora lhe aparece – é escravo e escravo em terra estranha! Fogem-lhe os areais ardentes, as
sombras projetadas pelas árvores, o oásis no deserto, a fonte e a tamareira – foge a tranquilidade da choupana, foge
a doce ilusão de um momento como ilha movediça; porque a alma está encerrada nas prisões do corpo! Ela chama-
o para a realidade, chorando, e o seu choro, só Deus compreende! Ela, não se pode dobrar, nem lhe pesam as cadeias
da escravidão; porque é sempre livre, mas o corpo geme, e ali sofre, e chora; porque está ligada a ele na vida por
laços estreitos e misteriosos.” (Cap. II “O Delírio”, p. 44)

Apesar de a UFRGS já ter cobrado o foco narrativo, vale ressaltar que Úrsula possui um narrador onisciente
com foco em terceira pessoa. Acompanhe agora o resumo da obra por capítulo:

Capítulo I: “Duas almas generosas”

No primeiro capítulo, o narrador descreve e apresenta a natureza, típico recurso dos romancistas e poetas
românticos: “São vastos e belos nossos campos”. É nessa paisagem altamente adjetivada que cavalgava com
pensamento distante “um jovem cavaleiro melancólico”. Veja que surge pela autora uma figura que já nos é conhecida:
o homem melancólico, romântico. Este estava a “cismar” - aqui temos um intertexto com “Canção do Exílio”, de
Gonçalves Dias. As belezas da natureza, segundo o narrador, são obras de Deus – o movimento romântico tem como
característica determinante a espiritualidade -. Na obra há muito clara a invocação cristã, a presença de Deus. O homem
cavaleiro se faz conhecido nos primeiros capítulos como Mancebo. Apenas depois se saberá o nome dele. Se sabe pela
sua roupagem que era de família abastada, que pertencia à burguesia. A introspecção do Mancebo era tanta que,
distraído, cai:

“Abstrato, ou como que mergulhado em penosa e profunda meditação, o cavaleiro prosseguia sem notar a extrema
prostração do animal ou então fazia semblante de a não reparar, porque lhe não excitava os nobres estímulos. [...]
Curvada a fronte sobre o peito, o mancebo meditava profundamente, e grande e poderoso devia ser o objeto de seu
profundo meditar.” (Cap. I “Duas almas generosas”, p. 29)

O cavalo morre e o cavaleiro cai, mantendo-se desacordado. Ao longe, surge um homem:

“E ao aproximar-se contemplou em silêncio o rosto desfigurado do mancebo; curvou-se, e pôs-lhe a mão sobre o
peito, e sentiu lá no fundo frouxas e espaçadas pulsações [...] O mancebo respirava ainda.” (Cap. I “Duas almas
generosas”, p. 31)

Nesse encontro, o narrador elogia a piedade desse homem que socorre o mancebo. Atente: o homem de 25
anos que o socorre é negro. Está clara a exaltação da autora aos negros, à sua bondade; e mesmo que tenham sido
explorados, seus corações não endureceram. É, nesse sentido, evidente que Úrsula se trata de um romance
abolicionista, que exalta as virtudes do homem negro - nessa perspectiva, temos uma obra pioneira -. Grato, o cavaleiro,
que começava a coordenar suas ideias, beijou a mão do homem que o salvara, prometendo recompensá-lo. Isso selou
para sempre a mútua amizade. Assim, tem-se a alusão ao título: duas almas generosas. Túlio leva o cavaleiro à fazenda
de Luísa B.

3
Capítulo II: “O delírio”
Túlio passou a velar a cabeceira do enfermo, que vivera uma violenta, terrível e espantosa crise. Leia:

“ – Eu a vi - exclamou, erguendo a voz, num transporte de satisfação - via-a, era bela como a rosa a desabrochar, e
em sua pureza semelhava-se à açucena cândida e vaporosa! E eu amei-a!... Maldição!...Não… nunca a amei… E calou-
se.” (Cap. II “O Delírio”, p. 39)

A casa em que se instala o mancebo é de Luísa B., mãe de uma menina mimosa chamada Úrsula. Esta passou a
cuidar do enfermo, que estava com muita febre e passando por delírios – veja, aqui, a referência ao artigo. Úrsula era
de fato dedicada, ingênua e singela em todas as suas ações. Seu interesse era exclusivamente caridoso, que não buscava
reconhecimento. Esse interesse provinha naturalmente de seu coração. Novamente, o cavaleiro tem novo delírio, que
assusta Úrsula. Quando vê Úrsula, grita “assassina” “Anjo ou mulher!”. Todavia, depois de longa pausa, ele falou
“Adelaide!”. O enfermo cita a mãe e apresenta Adelaide dentro da visão dos poetas românticos da segunda fase sobre
a mulher, que ora é íntegra e angelical, ora é demoníaca, traidora. Essa oscilação será representada por Adelaide,
personagem que, mais adiante, será conhecida na narrativa. Úrsula divide os cuidados entre o cavaleiro e sua mãe, que
também estava doente. E, assustada diante de delírio do rapaz, diz consigo:

“- Meu Deus! Meu Deus, que é o que eu sinto no coração que me enternece? Deve ser sem dúvida esta forçada
vigília, este lidar de todos os momentos.” (Cap. II “O Delírio”, p. 43)

Nota-se que Úrsula começa a desenvolver um sentimento pelo cavaleiro, mostra curiosidade diante da figura
‘Adelaide’. O cavaleiro agradece o cuidado de Úrsula.

Capítulo III: “Declaração de amor”

O mancebo veio a melhorar e passou a falar da sua partida. Túlio o acompanharia, pois recebeu do mancebo
dinheiro para comprar sua alforria em recompensa por ter salvado a sua vida. À medida que melhorava, Úrsula diminuía
suas visitas, buscando notícias sobre ele por meio de Túlio. Úrsula se mostra triste por conta de sua partida. Durante a
madrugada, depois de cuidar de sua mãe, foi para a mata, onde o sol aparecia de maneira custosa. Lá, encontrou o
cavaleiro. Este, então, se declara - veja aqui a alusão ao título -.

“O que sinto por vós - continuou comovido - é veneração, e à mulher que se venera, rende-se um culto de respeitosa
adoração, ama-se sem desejos, e nesse amor não entra a satisfação dos sentidos.” “Úrsula eu vos amo [...]” (Cap. III,
“Declaração de amor”, p. 52)

Úrsula com os lábios responde a ele - quando questiona se ela o ama - “talvez”. Diz que não ocultará nada de
sua existência para Úrsula, que não guardará segredos, pois ela é a esposa que escolheu. Jura amor eterno, em nome
da mãe. Úrsula também lhe jura amor. Diz que amou Adelaide - com bastante adjetivação -, mas Úrsula o fez esquecê-
la. Agora diz estar recuperado e amando outra pessoa.

Capítulo IV: “A primeira impressão”

Em um flashback, o cavaleiro contará que se afastou da mãe para estudar Direito em São Paulo. Quando
formado, volta desesperado para vê-la. Quando a vê - conhece sua companhia, a menina Adelaide, bela e sedutora -.
Diz para Úrsula que amou muito Adelaide. Esta veio a ser protegida pela mãe do mancebo. Veja:

“- Meu filho – disse-me minha mãe, apresentando-me a formosa donzela – eis Adelaide, a minha querida Adelaide.
É filha de minha prima e órfã de pai e mãe. Recolhi-a e amo-a como se fora minha própria filha.” (Cap. IV “A primeira
impressão”, p. 60).

Agora, sua identidade é revelada, o cavaleiro se chama Tancredo. Pouco falava de seu pai. Este era desapiedado
com a mãe de Tancredo. Ela era duramente submissa ao pai do rapaz, que usava de tirania para com a sua mulher.
Tancredo tinha muitas saudades do carinho de sua mãe e seu pai, homem bruto, não permitia visitas do filho à casa

4
enquanto estudava. Tancredo vem a amar Adelaide, que é pobre, logo dizendo ao rapaz que esse amor não parece ser
possível. A mãe de Tancredo adverte o filho da impossibilidade amorosa: o pai não permitirá. Tancredo reluta e diz que
seu pai não iria contra o seu amor.

“Qualquer que seja a impressão que a meu pai possam causar minhas palavras - disse à minha mãe - Adelaide há de
ser minha.” (Cap. IV “A primeira impressão”, p. 63)

A mãe reitera: “- Tancredo, não chames sobre ti a cólera de teu pai. Oh! Deus não protege a quem se opõe à
vontade paterna!” Mãe de Tancredo adianta-se e conversa com seu marido. Este não consente a união. Atenção: o
título se refere à primeira impressão bonita e doce que Adelaide passou para Tancredo. Essa aparência será logo
desmascarada na narrativa.

Capítulo V: “A entrevista”

Tancredo procurou seu pai e confessou seu amor à Adelaide. Pede o seu consentimento para desposá-la. O pai
revela ao filho a família a que pertenceu Adelaide, o que impossibilita a união. Todavia, surpreendentemente, o pai
consente a união, impondo uma condição ao filho: “- [...] Adelaide, porém, é ainda uma criança, e a experiência de uma
já longa existência obriga-me a importe a condição de esperar por essa união um ano.” O pai envia seu filho a exercer
valioso ofício em outra cidade.

Capítulo VI: “A despedida”

Tancredo diz à Adelaide que seu pai o impôs dura condição: ficará um ano separado, o que lhe será “um custoso
e amargo sacrifício [...]”. Tancredo pede ao pai que vele e cuide de sua mãe e beija as faces de Adelaide, despedindo-
se. De sua mãe recebe o derradeiro adeus. Tudo isso, Tancredo conta à Úrsula. O capítulo chama-se “A despedida”,
fazendo referência ao fato de Tancredo ter se despedido de sua mãe, de Adelaide etc.

Capítulo VII: “Adelaide”

Prosseguindo, Tancredo conta à Úrsula seu tempo no seu exílio, momento em que se concentrou em seu amor
por Adelaide. Lá, recebia cartas de sua mãe e de Adelaide. Todavia, esta passou a espaçar as suas cartas, cessando por
último. Tancredo acabou adoecendo, precisando, mesmo assim, cumprir com uma missão de seu ofício. Quando volta
para a sua casa, encontra uma carta: era de sua mãe, que manifestou dolorosa angústia. Voltou para a sua casa e, após
15 dias, bateu à porta e perguntou sobre seu pai, o qual não estava. Perguntou sobre Adelaide e o criado que o recebera
disse que ela estava no salão. Quando vê Adelaide, adornada com um rico vestido de seda e joias, surpreende-se, mas
alucinado, exclamou em direção a ela: “- Minha Adelaide!” Ela antes de mais nada diz para ele respeite a esposa de seu
pai. Logo, tem-se a revelação de que Adelaide casou-se com seu pai.

“Monstro, demônio, mulher fementida, restitui-me minha pobre mãe, essa que também foi tua mãe, que agasalhou
no seio a áspide que havia mordê-la.” (Cap. VII, “Adelaide”, p. 83)

Veio o pai de Tancredo. Olharam-se. O pai apresentou uma palidez mortal em seu rosto. Adelaide pede para
que seu marido se livre de Tancredo. Tancredo diz: “Mulher odiosa, vos amaldiçoo!”
Finaliza o discurso dizendo à Úrsula que essa era a fiel narração de sua vida, seus primeiros amores. Diz, ainda,
estar na mão de Úrsula a sua sorte.

Capítulo VIII: “Luísa B...”

Depois de tudo que ouviu de Tancredo, Úrsula vai ver sua mãe, Luísa B., que fica admirada em não ter visto a
filha no início da manhã como de costume. Luísa B. recebe Tancredo em seu leito, despertando no mancebo grande
compaixão pela mãe de Úrsula, que estava paralítica e findando sua existência. Luísa B. comoveu-se com a visita de
Tancredo, uma vez que ninguém ainda tinha vindo visitá-la. Ela pede para que Tancredo cuide de Úrsula.
Luísa revela sua história com seu irmão, o Comendador F. de P***... - o seu irmão a amou muito, todavia ela se
envolveu com Paulo B. com quem se casou. Esse casamento não foi aceito pelo comendador.

5
“Mais tarde, um amor irresistível levou-me a desposar um homem que meu irmão no seu orgulho julgou inferior a
nós pelo nascimento e pela fortuna. Chamava-se Paulo B...
Ah! Senhor! – Continuou a infeliz mulher – esse desgraçado consórcio, que atraiu tão vivamente sobre os dois
esposos a cólera de um irmão ofendido, fez toda a desgraça da minha vida.” (Cap. VIII, “Luísa B...”, p. 93)

Paulo B., seu marido e pai de Úrsula, sacrificou a fortuna de Luísa em favor de suas loucuras, veja:

“Paulo B... não soube compreender a grandeza de meu amor, cumulou-me de desgostos e de aflições domésticas,
desrespeitou seus deveres conjugais, e sacrificou minha fortuna em favor de suas loucas paixões.” (Cap. VIII, “Luísa
B...”, p. 93)

No entanto, quando nasceu Úrsula, Paulo acalmou-se, mas pouco tempo depois, foi assassinado. Luísa B...
comenta que seu irmão vive na fazenda de Santa Cruz, a meia légua de sua casa. Úrsula treme de horror ao saber que
está tão perto dele – seu tio -. Tancredo se comove com essa história e promete amar e cuidar de Úrsula. Veja:

“-Sim, minha senhora, eu; porque amo-a, e como o meu amor não poderá jamais arrefecer, juro-vos em nome do
céu, que nos escuta, que Úrsula será a mais venturosa de todas as mulheres, se anuirdes aos meus desejos.” (Cap.
VIII, “Luísa B...”, p. 95)

Úrsula diz à mãe, muito doente, que o amor do rapaz é puro. Tancredo revela quem é para Luísa B...:

“- Senhora, eu sou Tancredo de ***.


- Tancredo de ***!!! – Exclamaram ao mesmo tempo mãe e filha; e depois um profundo silêncio reinou na câmara.
Então uma viva palidez tingiu as faces avermelhadas da pobre Úrsula, que na sua ingenuidade nunca tinha indagado
do nobre cavaleiro seu sobrenome. Sabia de seu nome, que era Tancredo, e esse lhe bastou; seu nascimento, sua
posição social, não lhe lembraram ao menos. Ela amou o mancebo desconhecido, seu amor era portanto
desinteressado, mas agora que um nome ilustre lhe soara aos ouvidos, agora que ela acabava de reconhecer o
mancebo convalescente seu primo, [...]” (Cap. VIII, “Luísa B...”, p. 96)

Tancredo declara-se para Úrsula na frente de sua mãe e Luísa abençoou o casal, aceitando a relação.

Capítulo IX: “A preta Suzana”

Túlio que acompanharia o mancebo na partida, exprimiu certa melancolia em deixar sua casa: “O negro sentia
saudades” – veja aqui a importância do narrador aos sentimentos do negro -. Em seguida, é apresentada a personagem
preta Suzana, leia:

“E aí havia uma mulher escrava, e negra como ele; mas boa e compassiva, que lhe serviu de mãe enquanto lhe sorriu
essa idade lisonjeira e feliz, única na vida do homem que se grava no coração com caracteres de amor [...] Susana,
chama-se ela;” (Cap. IX, “A preta Suzana”, p. 99)

Aqui, pela perspectiva do negro, Susana conta sua captura, viagem e chegada ao Brasil. Preta Susana chora e
conta o seu passado na África, dizendo que vivia liberdade antes de ser capturada. Teve uma filha e um marido, que
amou muito. Recorda seu cativeiro tristemente:

“E logo dois homens apareceram, e amarraram-me com cordas. Era uma prisioneira – era uma escrava! Foi embalde
que supliquei em nome de minha filha, que me restituíssem a liberdade: os bárbaros sorriam das minhas lágrimas, e
olhavam-se em compaixão. [...] Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no
estreito e no infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais
necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as terras brasileiras.

6
Para caber a mercadoria humana no porão fomos amarrados em pé e para que não houvesse receio de revolta,
acorrentados como os animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa.
Davam-nos água imunda, podre e dada com mesquinhez [...]” (Cap. IX, “A preta Suzana”, p. 103)

Preta Susana foi uma negra escrava que trabalhava para o comendador, com o qual sofreu muito. Porém,
quando Luísa casou, Susana veio a acompanhá-la, à qual é muito grata. Preta Susana adotou Túlio, cuidando dele como
um filho. Nesse sentido, lamenta a sua ida junto a Tancredo.

Capítulo X: “A mata”

Partem Tancredo e Túlio. Úrsula assiste à partida do amado em sofrimento:

“Chorava, pois, porque ia ver partir o objeto de suas mais caras afeições; mas no momento da partida fez um
supremo esforço sobre sua aflição e estendeu a mão ao mancebo, que a beijou com enlevo, e perguntou-lhe com
magoado acento, que bem revelava o pungir do seu coração:
- Tancredo, quando vos tornarei a ver?” (Cap. X, “A mata”, p. 105)

E ele responde:

“Lembrai-vos, Úrsula, que vos levo no coração, que seguir-me-á a vossa imagem, que hei de ver-vos em todos os
objetos que me circundarem, que deixo minha alma e meu coração – todo o meu prazer, minha felicidade presente,
o esquecimento de um passado amargo, as esperanças de um porvir deleitoso e cobiçado: lembrai-vos disso, e
acreditai que breve estarei convosco. Contarei os dias da ausência pelo pungir de minhas saudades, e por breves que
eles sejam achá-los-ei por demais longos. Longínquo é ainda o caminho que tenho a percorrer, mas a lembrança de
que um anjo me aguarda com amor, e que esse anjo sóis vós [...]”(Cap. X, “A mata”, p. 106)

Em cismamentos na mata, entalhou na árvore o nome de Tancredo. Então, é surpreendida com um som
desagradável de um tiro de arcabuz, caindo-lhe aos pés uma infeliz perdiz pedindo-lhe socorro por estar ferida. Junto
dela e mudo estava um homem. Era o comendador, irmão de sua mãe. Úrsula assustada pede para que vá embora. Já
ele lhe suplica, em nome de sua mãe, que fique. Revela saber seu nome, chama-a de Úrsula, dizendo conhecer sua
mãe, Luísa B... Conversam e Úrsula permanece muito assustada. Depois de muito, vai embora e o comendador consigo
diz:

“- Mulher! Anjo ou demônio! Tu, a filha de minha irmã! Úrsula, para que te vi eu? Mulher, para que te amei?!...Muito
ódio tive ao homem que foi teu pai: ele caiu às minhas mãos, e o meu ódio não ficou satisfeito.” (Cap. X, “A mata”,
p. 1114)

Atenção: Úrsula foi indiferente ao homem e isso o humilha grandemente.

Capítulo XI: “O derradeiro adeus”

Úrsula se põe aflita diante de tantos embates e questiona-se a respeito daquele homem que lhe apareceu na
mata:

“E quem será ele? Deus meu! Por que fatalidade me viu, e disse-me que me amava com amor ardente e intenso, que
terá a duração de sua vida!” (Cap. XI, “O derradeiro adeus”, p. 115)

Úrsula busca saber junto de sua mãe quem seria esse homem, quando esta lhe diz que está próxima da
sepultura. Luísa apresentou falsos sinais de melhora. Luísa recebe uma carta de um escravo:

“É necessário que nos vejamos ainda uma vez na vida, e conto que anuirás a este desejo, ou antes súplica de teu
irmão. Minha irmã! Minha Luísa! Muito me tens a perdoar, porque gravíssimo é o mal que te hei feito; mas é boa,
teu coração não pode alimentar ódio por aquele que foi sócio dos teus jogos infantis, e que na juventude amou essa

7
doçura fraternal, que só tu compreendias; porque eram almas gêmeas as nossas almas. [...]” Teu afetuoso
FERNANDO (Cap. XI “O Derradeiro Adeus”, p. 118-119)

Luísa não compreende essa conversão e fica assustada. O comendador entrou sem pedir licença,
surpreendendo as duas. Diz ter vivido anos na solidão e se transformado num homem temível. Úrsula o reconhece,
sente medo. Susana chama Úrsula, Luísa já estava só e estava a morrer. Seu irmão havia ido embora.

Capítulo XII: “Foge”

Luísa conta que aquele homem era seu irmão e que lhe confessou ter assassinado Paulo B., seu marido e pai
de Úrsula. Conta à filha as intenções do comendador:

“Fernando voltará aqui com um sacerdote, que há de abençoar, em presença deste leito de agonia, a união forçada
da filha de Paulo B..., com o seu assassino!” (Cap. XII “Foge!”, p. 125)

Sua mãe pede para que a filha fuja. Luísa pede que Úrsula não aceite as propostas do comendador. Luísa dá o
último adeus e diz: “- Foge!” Ao fim do capítulo, Luísa morre e será inumada no Cemitério de Santa Cruz.

Capítulo XIII: “O cemitério de Santa Cruz”

Úrsula chorava a irreparável perda de sua mãe e desmaia no cemitério - assemelhava-se à flor do pardo.
Chegam Túlio e Tancredo e veem Úrsula, quando esta diz que sua mãe não existe mais.

Capítulo XIV: “Regresso”

Sabe-se de que Úrsula é um romance romântico narrado em terceira pessoa, com narrador onisciente, contudo
veja como inicia o capítulo XIV:

“Agora é preciso sabermos como Tancredo, de volta de sua viagem, pôde saber onde estava Úrsula, e o que lhe havia
acontecido.” (p. 133)

Nesse trecho, o narrador fala em PRIMEIRA PESSOA DO PLURAL, falando com o leitor e marcando a onipresença
narrativa, o que era comum no romantismo: “sempre há um narratário (entidade fictícia a quem se dirige o narrador1),
ficando implícito um “nós” (narrador e leitor)”. Mas, ATENÇÃO, essa mudança de foco é NESSA INSTÂNCIA narrativa e,
também, no início do capítulo XVI, distoando do livro como um todo. Aqui, se saberá como Tancredo descobre que
Úrsula está no cemitério. Passam Tancredo e Túlio, durante o regresso, pela Fazenda de Santa Cruz, onde mora o
Comendador. Túlio, então, conta tudo o que fazia o comendador a todos. Num flashback, Túlio conta a Tancredo os
horrores da escravidão.
Ao chegarem à casa de Luísa B..., Susana os recebe e com lágrimas nos olhos revela que a mãe de Úrsula havia
morrido. Além disso, diz a eles que Úrsula está sendo perseguido por seu tio, o Comendador Fernando P. Túlio e
Tancredo vão à galope ao encontro da donzela.

Capítulo XV: “O convento de***”

Úrsula pede para Tancredo fuja junto com ela, com medo do ódio do comendador. Chegaram depois de longa
viagem, à cidade de *** em demanda do convento de Nossa Senhora da *** . Tancredo promete proteger Úrsula de
seu tio.

Capítulo XVI: “O comendador Fernando P.”

1
"narratário", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-
2020, https://dicionario.priberam.org/narrat%C3%A1rio [consultado em 29-07-2020].

8
Comendador procura o padre para realizar o casamento. Encontra-o na estrada e este lhe diz que sua irmã,
Luísa B... havia morrido. Fernando P. se dirige à casa de Luísa e pergunta à Susana o paradeiro de Úrsula. A escrava
responde que foi ao cemitério rezar por sua mãe. Fernando brada e o padre lhe pede prudência. Comendador vai ao
cemitério, não encontra ninguém e amaldiçoa Susana. Diz que Úrsula será sua esposa ou o inferno verá ambos. Ordena
que tragam Susana arrastada em um cavalo, poupando-lhe o resto da vida. Um dos feitores não aceita a tortura para
com Susana e tenta avisá-la. Esta nada ouve.
Susana, levada pelos negros até o comendador, diz não saber onde está Úrsula. Então Fernando ameaça
torturá-la: “Ou confessa ou morre”. Prende Susana e é avisado por um escravo sobre a viagem de Túlio, Úrsula e
Tancredo.

Capítulo XVII: “Túlio”

Túlio some, fato que preocupa Tancredo no dia de seu casamento. Vai ao convento para encontrar Úrsula e
casar-se com ela. Quando a vê, fica mais calmo, pois a encontra sorridente e belíssima. Veja:

“E ela lhe sorriu com um sorriso que o transportou-o de felicidade, e esse sorriso feiticeiro e angélico arrancou-lhe
do fundo da alma o orgulho feminil – era como a lembrança de que seu amor apagara ainda mesmo as cinzas do de
Adelaide.” (p. 161)

Casam-se e transbordam de alegria. Todavia, o desaparecimento de Túlio perturba grandemente Tancredo.


Túlio, no dia do casamento, foi aprisionado por dois homens do comendador. Veja:

“- Entra aqui: e se gritares morres.” (p. 162)

Túlio é interrogado pelo comendador sobre onde está Tancredo. Contudo, Túlio não revelou nada ao
comendador e, ainda, chamou-o de covarde. É agredido pelo comendador e entregue para a guarda de Antero, escravo
negro de Fernando.

Capítulo XVIII: “A dedicação”

Antero vigia Túlio e este lhe oferece dinheiro para que compre cachaça; conseguindo livrar-se da prisão, vai ao
encontro de Tancredo e Úrsula. Túlio avistou mais de uma carruagem na frente da igreja e percebe a armadilha ao
casal. Túlio avisa o mancebo, é ferido, e Tancredo vai em sua direção, leia:

“- Cilada, senhor... querem assassi...


Dois tiros de pistola disparados ao mesmo tempo ressoaram com pavoroso estampido, e Túlio não acabou a palavra!
A mão, que os disparou, era certeira, e ele moribundo só pôde exclamar:
- Jesus! Eu mor...ro!... (p. 170)

Úrsula e Tancredo reconhecem a voz de Túlio. Úrsula pede a Tancredo que volte ao coche. Tancredo atira
contra os ameaçadores e atinge de leve o comendador. Fernando entra no coche e Úrsula implora para que o tio não
o mate, caindo em desmaio. Tancredo despede-se dela com um beijo. Fernando atinge o peito de Tancredo
covardemente. A morte de Tancredo perturba a razão de Úrsula.

Capítulo XIX: “O despertar”

Fernando desperta e é acometido por um remorso, não conseguindo conviver com Úrsula na mesma casa.
Reconhece a loucura de Úrsula, após lhe fazer ardentes declarações.

Capítulo XX: “A louca”

O padre ao comendador faz uma retrospectiva de seus crimes, apontando para o corpo de Susana que se ia
para a sepultura. Preta Susana morre na prisão úmida em que foi presa. Veja o que o sacerdote lhe diz:

9
“Assassino de Tancredo, de Túlio, de Paulo, e de Susana! Monstro! Flagelo da humanidade, ainda não saciastes a
vossa vingança?” (p. 181)

Fernando arrepende-se e leva o Sacerdote até Úrsula:

“Úrsula sorria, afagando invisível sombra, mas esse sorriso era débil e vaporoso – era o derradeiro esforço de uma
alma, que está prestes a quebrar as prisões do corpo.” (p. 182)

Agarrada à flor seca de sua capela de noiva, Úrsula delira, chama por Tancredo e dá seu último suspiro.

Atente para a relação dos personagens principais:

Personagens Características
Úrsula Personagem branca, apaixonada por Tancredo.
Protótipo das heroínas sofridas, que, na impossibilidade
de viverem o ideal do amor romântico, perdem a razão.
Trecho ilustrativo da obra: “Dias inteiros estava à
cabaceira do leito de sua mãe, procurando com ternura
roubar à pobre senhora os momentos de angustiada
aflição; mas tudo em vão porque seu mal progredia, e a
morte se lhe aproximava a passo lento e impassível,
porém firme e invariável.” (REIS, 1988, p. 43).
Tancredo Personagem apaixonada por Úrsula. Começa o romance
em recuperação de um amor perdido para o próprio pai.
Em certo sentido, por estar apaixonado por outra mulher
quando conhece Úrsula, e por ter desfecho trágico, essa
personagem encontra ecos que reverberam no
protagonista Romeu, da célebre peça Shakespeariana
“Romeu e Julieta”. Apresenta evidentes indícios de
idealização da figura materna. Trecho da obra: “Meu pai
era o tirano de sua mulher; e ela, triste vítima, chorava
em silêncio, e resignava-se com sublima brandura. Meu
pai era para era com ela um homem desapiedado e
orgulhoso – minha mãe era uma santa e humilde
mulher.” (REIS, 1988, p. 49).
Susana Espécie de pensamento fiscalizador que surge como uma
Cassandra, uma memória de resgate e alerta, que
impossibilita o esquecimento das personagens quanto às
origens da raça negra; ela funciona também como uma
Griô, uma depositária de toda a ancestralidade africana.
É uma entidade capaz de presentificar a história do povo
negro, por meio do ato de contar. Dá conta de aspectos
metalinguísticos da obra. Para certos críticos, é o alter
ego da autora. Trecho da obra: “Meteram-me a mim e a
mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro
no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de
cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é
necessário à vida passamos nessa sepultura até que
abordamos as praias brasileiras. Para caber a mercadoria
humana no porão, fomos amarrados em pé para que não
houvesse receio de revolta, acorrentados como animais
ferozes das nossas matas que se levam para recreio dos
potentados da Europa.” (REIS, 1988, p. 117)

10
Antero Escravizado cativo. Vive na parte interna da casa-grande.
É viciado em bebidas alcóolicas. Representa a
drogadição, a fuga, a consequência social da escravidão.
Trecho da obra: “Antero era um escravo, que guardava a
casa, e cujo maior defeito era a afeição que tinha a todas
as bebidas alcoolizadas.” (REIS, 1988, p. 141)
Tulio Escravizado que se tona livre ao realizar um ato de
heroísmo (salvar Tancredo de um acidente). É morto na
tentativa de realizar mais um ato de colaboração com
Tancredo. No universo da obra, talvez seja o personagem
mais heroico.
Fernando É o grande vilão da obra, em uma estrutura de enredo na
qual a existência de papéis bem definidos é a tônica.
Personagem profundamente patológico e possessivo,
que aparentemente tem motivações amorosas em
relação à Úrsula.

11

Você também pode gostar