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Atividade sobre o livro “Torto Arado”

O livro “Torto Arado” é um romance regionalista que aborda a sociedade do


período pós-abolição, a chamada escravidão moderna, reflexo de um passado
escravagista mal resolvido no Brasil.
O enredo aborda o dia a dia de uma comunidade de pessoas pretas que
vivem no nordeste brasileiro, mais precisamente em uma fazenda na Chapada
Diamantina na Bahia. Desde as irmãs protagonistas até o primo mais distante, as
personagens são fortemente influenciadas pela cultura, religião, costumes e
tradições negras, que nos auxiliam a entender o contexto histórico, cultural e
sociológico do livro. “Era filha da gente forte que atravessou um oceano, que foi
separada de sua terra, que deixou para trás sonhos e forjou no desterro uma vida
nova e iluminada. Gente que atravessou tudo suportando a crueldade que lhes foi
imposta.” (p. 232).
Além da óbvia conexão escravagista brasileira, outras referências históricas
podem ser encontradas no livro, como, por exemplo, a época/ano em que a história
se passa. Com o trecho “O gerente da fazenda chegou numa Ford Rural branca e
verde para nos conduzir ao hospital.” (p.13), podemos interpretar que a história se
passa entre as décadas de 1950, 1960, e/ou 1970, já que a Ford Rural Willys foi um
utilitário produzido durante esses anos.
Temos também a questão fundiária, uma realidade de desigualdade social
criada a partir da seca e da escravidão, famílias vendendo sua mão de obra, sua
força de trabalho em troca de comida, morada e água. Os grandes senhores donos
de latifúndios explorando seus (“agora não mais escravos”) trabalhadores e
tomando suas terras. Veja nos trechos: “Àquela altura, a terra da Fazenda Caxangá,
que havia rendido fartura de frutos por toda a sua vida, estava retalhada. Cada
homem com desejo de poder havia avançado sobre um pedaço e os moradores
antigos foram sendo expulsos. Outros trabalhadores que não tinham tanto tempo na
terra estavam sendo dispensados. Os homens investidos de poderes, muitas vezes
acompanhados de outros homens em bandos armados, surgiam da noite para o dia
com um documento de que ninguém sabia a origem. Diziam que haviam comprado
pedaços da Caxangá.” (p. 18), “O povo vagou de terra em terra pedindo abrigo,
passando fome, se sujeitando a trabalhar por nada. Se sujeitando a trabalhar por
morada. A mesma escravidão de antes fantasiada de liberdade. Mas que
liberdade?” (p. 195).
Essa narrativa literária desvela uma história pouco referenciada nos livros
didáticos de História tradicionais, pois demonstra a realidade pouco debatida de
pós-abolição. Uma realidade que é normalmente abordada como resolvida, uma
realidade de mentira, já que a história é contada a partir do ponto de vista opressor
da situação e então, temos a certeza de que nada foi verdadeiramente resolvido ao
ouvir o oprimido.

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