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Las Casas, Bartolomeu. Paraíso Destruído. Porto Alegre. LPM POCKET, 2011.
Dionathan Tomasi(i)
FOGO E SANGUE
Nos primeiros anos, o frei cumpriu com sua função que era a de catequizar
os índios na religião cristã, recebeu terras da rainha como pagamento por seu
trabalho e também muitos escravos. Porém, chocado com toda a crueldade feita
pelos colonizadores aos índios, aproximadamente em 1514, de Las Casas abriu mão
de todas as suas terras e escravos para se tornar um procurado e protetor universal
01/10/2016 Revista Cultura Pensante 2
Las Casas narra que a primeira terra povoada pelos colonizadores foi a
chamada Ilha Espanhola. Esta, segundo ele, possuía mais de 250 léguas de
distância, e de costa marítima mais de 10 mil léguas; na época uma légua se referia a
mais ou menos de 4km a 6km. O autor relata que os índios receberam os
colonizadores como deuses, trouxeram seus líderes para vê-los, com presentes, muita
comida e frutas típicas daquela terra. Porém, os espanhóis logo entrariam em
conflito com os índios devido que estes mantinham pouca comida consigo, pois
faziam um estoque necessário apenas para suas famílias e para um período curto de
tempo. O autor chega a mencionar que o que uma família inteira de indígenas
comia em um mês, um colonizador espanhol consumia em um dia.
escolas sempre foi ensinada com o foco na Europa: as histórias dos colonizadores
ousados, que atravessam oceanos, correm perigos, se aventuram no mar, no
desconhecido, para levar adiante seus planos. A história é passada como o
colonizador enganando os nativos de um continente considerado primitivo, um ser
sem passado, nem vínculos sociais que aceita de forma omissa esse destino de
trabalhar como escravo, escravidão esta que é inserida com plena naturalidade nas
séries inicias em nossas escolas.
Ao ler a obra, nos deparamos com um sentimento de revolta perante a
tamanha desumanidade por parte dos colonizadores, e percebemos que até hoje a
cultura indígena é ignorada pelos grandes poderes e pela mídia. Os poucos que
restam perambulam pelas ruas das cidades sem rumo com as mazelas de 500 anos
atrás ainda refletindo em sua realidade.
Este livro não é para quem espera um final feliz, não é para ler em um final
de semana ou na praia, não é um livro agradável, é um livro para quem tem
estômago, é uma descrição da selvageria, desumanidade, crueldade de um povo
perante o outro. Recomenda-se este livro para quem busca conhecer uma história
vil, sem censura e sem medo, a real história da colonização, que foi fundada no fogo
e sangue, por cima de milhões de cadáveres em uma carnificina gigantesca.