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UNIVERSIDADE
FEDERAL DA PARAÍBA
EDITORA DA UFPB
PREFÁCIO DE
Editora da UFPB
João Pessoa
2014
Copyright © 2014 - Carla Mary S. Oliveira
Contato: <carla@carlamaryoliveira.pro.br>
Site Pessoal: <http://www.carlamaryoliveira.pro.br/>
ISBN 978-85-2370-8788
Efetuado o Depósito Legal na Biblioteca Nacional,
conforme a Lei nº 10.994, de 14 de dezembro de 2004.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma
ou por qualquer meio. A violação dos direitos autorais
(Lei nº 9.610/1998) é crime estabelecido no artigo 184 do Código Penal.
O conteúdo desta publicação é de inteira responsabilidade do autor.
Projeto Gráϐico,
Editoração Eletrônica
e Design de Capa CARLA MARY S. OLIVEIRA
Ilustração da Capa: AMERICA, Jan Van Der Straet (del.) & Theodore Galle (sculpt.), 1589.
Gravura em cobre, cópia aquarelada à mão; 18,2 X 27 cm.
Acervo da National Gallery of Art;
Rosenwald Collection, Washington, D.C., EUA.
Catalogação na fonte:
Biblioteca Central da Universidade Federal da Paraíba
ISBN 978-85-2370-8788
116 p.: il. - inclui notas e referências bibliográficas.
Prefácio ................................................................................................... 11
Maria Cláudia Orlando Magnani
1. Introdução ........................................................................................... 15
6. Referências ........................................................................................ 71
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PREFÁCIO
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1. INTRODUÇÃO
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da UFPB em busca daquilo que nem sabia que queria, apenas para
ter o gostinho de encontrar...
Espero que esse relato mostre aos jovens historiadores –
especialmente aos meus alunos e orientandos na graduação e na
pós-graduação em História da UFPB – que as novas tecnologias da
web, que fazem os acervos virem praticamente bater à porta de
nossas casas, podem sim ser utilizadas a favor de nossas pesquisas, e
que a internet não se resume apenas aos incontáveis minutos gastos
em redes sociais e leituras inócuas das manchetes e fofocas sobre
as efêmeras celebridades de nossos dias em sites sensacionalistas.
Há vida inteligente na rede, of course, mas é sempre bom lembrar
também que ela é, essencialmente, um repositório colossal de
informações que temos que aprender a desbravar com o feeling da
pesquisa, utilizando as ferramentas de crítica documental que nosso
ofício coloca ao nosso dispor. Creio mesmo que daqui pra frente,
inexoravelmente, nada será como dantes no mundo de Clio.
Não posso me esquecer dos agradecimentos, mon Dieu! O que
fez com que eu começasse a organizar as ideias e fontes que iam se
avolumando em certa pasta bem gordinha de megabytes, num de
meus HDs de backup? Como não poderia deixar de ser, os convites
que costumamos receber nesta nossa vida louca e muitas vezes
penosamente estressante da universidade pública brasileira. Quase
sempre, alguns deles são aquilo que faz todas as agruras por que
passamos no dia-a-dia, verdadeiramente, valerem a pena.
Pois bem. Em começos de 2012 a amiga Maria Emilia Monteiro
Porto, da UFRN, me convidou para fazer uma palestra em Natal, num
seminário interno que ela organizava como encerramento de sua
turma de História Moderna, na graduação. Entre um e-mail e outro,
fiquei decidindo do que poderia falar, e aí surgiu a ideia de começar a
organizar aquele mundo de coisas sobre as alegorias da América que
eu já vinha juntando havia já uns bons cinco anos. A semente deste
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2. EMBLEMÁTICA:
IMAGENS TRADUZINDO IDEIAS
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COLONNA, 1499.
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RIPA, 1613.
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la propia Filosofia, la fuente y el origen de todas las ciencias, muchos juicios son
todavía inciertos, e incluso hoy día todos aquellos que estudian Filosofía estarían
sumergidos en una completa oscuridad si después de un espacio de más de
cuatro mil años no se hubiera presentado Aristóteles, quien con firmes rieglas,
etc... Del mismo modo han sido refinadas las empresas porque la buena fortuna
de nuestros tiempos ha propiciado que en esta época vivieran y prosperaran
hombres cuyo genio perfecto, soberano intelecto y hondo juicio, junto con la
excelencia de su saber y la incomparable calidad de sus conocimientos, fueran
suficientes para alcanzar el supremo límite de la perfección en cuanto a hacer
empresas” (LUCARINI apud PRAZ, 2005, p. 70).
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O autor se refere a Empresas Espirituales (1613), de Francisco de Villava.
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Tradução livre, de minha autoria. O texto original: “En el ano 1623, cuando se
representó por primera vez La devoción de la Cruz de Calderón, habia en la corte
de Felipe IV un texto tan popular que se habián publicado más de quince ediciones
en solo catorce años. El Emblematum Libellus de Andrés Alciato, impreso en 1531
en Augsburgo y traducido al castellano en 1548, inició el género importante de
los libros de emblemas, género cuya manifestación española se originó con las
Empresas Morales (1581) de Juan de Borja. Entre los emblemistas de la península
se ve un claro desarrollo desde temas seglares y profanos hasta preocupaciones
morales y sacras; en el pr6logo de uno de los más interesantes, su autor plantea
claramente la nueva actitud [...]” (MARISCAL, 1981, p. 339).
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Hipotético continente, formado em parte pela Terra do Fogo, avistada em 1520
pelo navegador português Fernão de Magalhães, quando fazia a travessia entre
o Atlântico e o Pacífico, e que ficaria ao sul das Américas. Com o incremento do
número de navegações pela região foi constatado rapidamente que se tratava
apenas de uma ilha, que já aparece com o nome aludindo a seu descobridor em
mapas e globos do segundo quartel do século XVI. Posteriormente, o topônimo
alusivo a seu descobridor caiu em desuso e a denominação de Terra do Fogo
passou a ser mais utilizada (KROGT, 2006, p. 25).
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SCANLAN, 1999, p. 9.
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Com a mão direita segura um arco, que traz apoiado em seu assento;
com a esquerda, segura um pernil humano; às costas, uma aljava com
diversas flechas. De cabelos presos atrás da cabeça, ostenta um cocar
de penas e uma pedra preciosa sobre a fronte. No pescoço, um colar
de pérolas adornado com uma gema ao modo de pingente.
Não bastasse o horror do pedaço de carne humana nas mãos
da mulher que representa o Novo Mundo, ao fundo da imagem, à
direita da personagem principal, um homem e uma mulher preparam
um assado para seu deleite num ato de canibalismo, enquanto outro
indígena, ao longe, caça um cervo com arco e flecha. Um tatu e um
papagaio também aparecem na imagem, para não deixar dúvidas
quanto ao local onde se desenrolava aquele tipo de cena. Selvageria
e barbárie estão ali, sem sombra de dúvida, para destacar o quão
aterrador aquele mundo desconhecido poderia ser ao viajante
incauto. Quase que imperceptível, na direção da boca da mulher-
América e por sobre o papagaio que a observa, aparece um dístico
em latim: “Pavir qui genuit”, “Que haviam se alimentado”. Um pouco
enigmática à primeira vista, a frase me parece aludir diretamente à
cena de canibalismo representada na outra extremidade da gravura.
Já os versos que acompanham a imagem, escritos por George
Wither, trazem uma visão literária sobre o mundo selvagem do
novo continente, como que externando a esperança de civilizá-lo
plenamente algum dia:
Embora para minha irmãs por tanto tempo desconhecida
eu tenha repousado,
Sou tão rica e mais vasta do que elas,
Minha rudeza bárbara expressa plenamente
O que a Natureza é, até termos trajado Virtudes
Mas onde a assustadora Escuridão da Morte ainda está
O resplendor do amor dos Deuses eu espero encontrar 23
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Tradução livre, de minha autoria. O texto original, redigido em inglês do século
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Elemento de primeiro plano em uma pintura, desenho ou gravura, de tons
mais fortes ou personagens em destaque, que tem o objetivo de salientar
outro elemento da composição ou produzir, através do contraste, um efeito de
profundidade na imagem.
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repete ali mais uma vez, de seios desnudos e cocar colorido (Fig. 24).
No entanto, mesmo reforçando no imaginário europeu a associação
do Novo Mundo ao exotismo, aqui a personagem aparece numa
acepção de sentido mais sutil. Apoiada numa rocaille, segurando com
a mão direita uma lança e tendo às costas um felino a rugir, a América
fustiga corajosamente o que parecem ser dois anjos caídos, a fim de
que eles não atrapalhem a apoteose que ocupa o centro do teto. A
selvagem se rende à força da catequese jesuítica e, assim como a
África, a Ásia e a Europa, põe-se a serviço da obra evangelizadora da
Companhia de Jesus, defendendo seu fundador.
Essa nova apresentação da personagem alegórica não destoa
do processo de suavização do estereótipo bárbaro e canibal: o que
se pode perceber, ao longo do século XVII, é que às alegorias cheias
de simbolismos representando a América vão se agregando mais e
mais elementos representativos de suas riquezas reais, ao ponto de
chegarmos a imagens que aliviam ou mesmo abandonam o discurso
alegórico para apresentar explicitamente aquilo que se poderia
extrair de suas entranhas, quer fosse o apoio de seus nativos à ação
catequética dos jesuítas, ou mesmo o minério de prata das montanhas
de Potosí, associação que aparece num dos frontispícios de seção do
Atlas Novus de Heinrich Scherer, datado de 1703 (Fig. 25).
A ilustração de Johannes Degler apresenta detalhadamente
não somente a cidade de Potosí, mas também as diversas etapas do
processo de mineração e também, ao pé da imagem, comerciantes
que vendem aves e víveres, dois nativos que transportam produtos
empacotados no lombo de uma lhama, enquanto outro nativo conduz
uma carroça carregada de pães de açúcar. Ao longe, no litoral, diversas
benefício que a coroa castelhana teria com a descoberta do novo continente,
e também que a documentação de bordo de tais expedições se perdeu
definitivamente no incêndio de Lisboa que se seguiu ao terremoto e ao tsunami
de 1755, eventos que arrasaram boa parte da cidade, incluindo prédios públicos
onde se arquivava esse tipo de registros.
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conduzida por nativos, que luta contra as ondas que lhe fustigam o
casco, tentando atracar na praia, parece ser feita de juncos, ou seja,
trata-se de um barco encontrado somente na costa do Pacífico, entre
os nativos de descendência incaica. A vestimenta do americano em
primeiro plano da imagem, portanto, não corresponde ao contexto
da embarcação. Ao fundo da imagem aparece, na continuação da
orla, à esquerda da cena, uma fortificação de pedra onde se destaca
um poste com uma gávea no cume, funcionando como um posto de
observação privilegiado, junto a uma outra construção comprida,
coberta por um telhado de palha bem simples. O gentio local e o
conquistador europeu estavam, ali, a dividir o mesmo espaço.
O detalhe mais interessante nesta gravura, no entanto, é a
mulher que pousa sua mão direita gentilmente por detrás do pescoço
do americano viril. Seminua, seus cabelos são claros e os traços,
totalmente europeus. Ela segura, com a outra mão, uma pomba
branca, símbolo associado tradicionalmente, na cultura europeia,
ao Espírito Santo ou, na tradição judaico-cristã, ao Dilúvio e salvação
de Noé após os 40 dias de tempestade navegando com sua arca.
Somente este detalhe já fala muito, especialmente se considerarmos
os quatro versos que acompanham a imagem, escritos em seu rodapé:
Lidamos com nossos costumes com nosso capricho,
Seguimos a Natureza em total liberdade,
Ao cruzar os mares, a Avareza cruel
Veio para nos fazer sofrer um jugo pouco merecido.35
Ecos do Iluminismo de Rousseau, por acaso? O bom selvagem
aparece, ali, como alguém que é consolado pela própria personificação
da Europa, que lhe oferece a pombra branca da salvação mas, ao
35
Tradução livre, de minha autoria. O texto original da gravura: “Nous reglions
nos moeurs suivant notre caprice,/ Nous suivons la Nature en toute liberté,/
Quand traversant les Mers, la cruelle Avarice/ Vint nous faire souffrir un joug peu
mérité”.
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orixá, “rei e dono da terra”, cuja veste é de palha e lhe cobre o corpo
todo, esconde o segredo da vida e da morte, detalhe bem inusitado
para este tipo de construção imagética, especialmente por se tratar
de uma divindade de origem africana. Dentre as personificações
das quatro partes do mundo ali presentes, Mark Ashton destaca
exatamente o fato de que somente no caso da América Tiepolo foi
mais fiel às normas e padrões estabelecidos por Ripa, agregando
outros elementos presentes também em gravuras de Marten de Vos
(Fig. 10) e de Dirck Barendsz, artista que quando jovem foi aprendiz
de Ticiano38. No caso das alegorias referentes às outras três partes do
mundo, Tiepolo misturou, deslocou e fundiu elementos de diferentes
alegorias da Iconologia de Ripa, conferindo a elas novos significados.
Ora, se as gravuras e relatos impressos sobre o Novo Mundo
destinavam-se à grande circulação entre as mais diversificadas
camadas sociais, esta grande obra de Tiepolo destinava-se à elite
dentro da própria elite: a alta nobreza bávara de Würzburg. O fato
de que o artista misture e confira novo significado a elementos de
diversas fontes, mostra o alcance de uma circularidade cultural que
transitava entre os diferentes níveis de uma mesma sociedade que,
entre os séculos XVI e XVIII, reelaborou e construiu sua própria visão
sobre a alteridade com o Novo Mundo e as outras partes do Globo.
Inclusive, é possível afirmar que foi justamente ao longo do século
XVIII que as representações visuais sobre a América se distanciaram
cada vez mais dos padrões alegóricos construídos sobre a quarta
parte do mundo desde o século XVI. Tais imagens praticamente
deixaram de existir nas novas obras, fossem elas tratados, gravuras
avulsas ou relatos de viagem. Gradativamente passou-se de uma
América idealizada para uma descrição “científica” de sua geografia,
fauna, flora e riquezas minerais que poderiam ser exploradas pelo
conquistador europeu. Contudo, houve uma permanência dessa
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ASHTON, 1978, p. 111-112.
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subserviência.
O modelo utilizado por Rocha na Bahia parece ter circulado
entre os frades menores instalados no Brasil, pois salvo pequenas
diferenças de estilo e palheta, além do tema principal, ele se repete
quase que inteiramente no forro da igreja conventual dos seráficos
na Paraíba (Fig. 33), no que se refere aos coadjuvantes – ou seja, os
frades santificados – e às alegorias dos continentes. Até recentemente
atribuída ao próprio Rocha, a Glorificação dos Santos Franciscanos
ou Glorificação de São Francisco traz o mesmo esquema da pintura
feita pelo artista baiano para os frades menores de Salvador. Hoje,
contudo, toma corpo a atribuição de sua autoria a Manoel de Jesus
Pinto4, pintor mediano atuante na vila do Recife no último quartel do
século XVIII e duas primeiras décadas do XIX5. Além da discrepância
das palhetas utilizadas, há diferenças evidentes também no trato
anatômico das personagens presentes nas duas pinturas, embora
pareçam ambas ter sido inspiradas pela mesma fonte iconográfica,
possivelmente uma ilustração de missal, breviário ou compêndio
hagiográfico, ou mesmo uma gravura avulsa que tenha circulado nas
casas franciscanas instaladas nas Capitanias do Norte da América
portuguesa.
Na imagem paraibana, a América aparece semi-ajoelhada, com
a mão esquerda sobre o coração, enquanto segura com a mão direita
seu arco e algumas flechas. De torso nu, o peitoral feito de penas
coloridas esconde seus seios e deixa a cena mais pudica. No entanto,
assim como na imagem baiana, São Francisco Solano ergue a mão
direita em benção misericordiosa à selvagem, ao mesmo tempo em
que lhe controla, por meio do olhar, frente às personagens principais
da pintura, Nossa Senhora da Conceição, no caso do forro baiano,
e São Francisco de Assis e a Santíssima Trindade, no convento da
4
Para detalhes sobre esta atribuição, feita por mim mesma, ver: OLIVEIRA, 2009.
5
Para detalhes biográficos, ver: ACIOLI, 2008, p. 354-357.
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Paraíba.
Percebe-se, desse modo, que aqueles atributos repetidos à
exaustão nas alegorias europeias sobre o Novo Mundo são, nestas
três representações, diminuídos a duas essenciais características
dos nativos do continente americano: sua belicosidade intrínseca e,
também, a ideia de que se constituíam em tabula rasa para a recepção
da palavra de Deus por meio da ação dos missionários católicos.
Uma significativa exceção a este tipo de representação
alegórica, contudo, parece ser a cena alusiva ao Parnaso ou ao Éden
(Fig. 34), pintada por José Teófilo de Jesus, principal e predileto
discípulo do próprio José Joaquim da Rocha. A América da pequena
tela não remete, em momento algum, às cenas de barbárie,
belicismo ou canibalismo presentes em diversas gravuras europeias
que a precederam. O que transparece por meio dela é justamente
a concepção de um Éden bíblico à disposição de quem o queira
encontrar. Ali estão as riquezas da terra, aos pés da América: cana
de açúcar, ouro e gemas preciosas. A flora se mostra generosamente
pródiga, com diversas frutíferas oferecendo bananas, jacas, cajus,
melancias, mamões, mangas, abacaxis e cocos para qualquer um que
deseje com esses frutos se banquetear. A fauna exótica não ameaça
a personagem principal: ao contrário, ela a domina por completo, e
onças, cobra, capivara, jacaré, aves diversas e uma rês de gado bovino
partilham do cenário sem se atacar uns aos outros.
Aliás, a presença da rês, por trás da mangueira que protege
a singela e pueril América do escaldante sol tropical, constitui-se
num dos únicos três elementos da cena que denotam a presença
do europeu, já que também foi o colonizador que introduziu, nas
terras americanas, tanto o coqueiro (Cocos nucifera) – importado das
costas africanas – quanto a mangueira (Mangifera indica) – trazida
do subcontinente indiano. Esse Éden parnasiano de Teófilo de Jesus,
portanto, não traz uma natureza selvagem e primordial, mas sim um
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Tradução livre, de minha autoria. O texto original: “Lastly, to attain that branch
of Science of wich I have been treating a Particular Application that very thing is
requisite. A man may be a Good Painter, and a Good Connoisseur as to the Merit
of a Picture, or Drawining and may have seen all the Fine ones in the World, and
not know any thing of This Matter; Tis a thing intirely distinct from all These
Qualifications, and requires a Turn of Thought accordingly” (RICHARDSON, 1719,
p. 148-149).
2
PANOFSKY, 2005, p. 87.
3
PANOFSKY, 2005, p. 88.
4
CALABRESE, 1986, p. 24.
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CAUQUELIN, 2007, p. 153-154.
8
GADAMER, 2010, p. 52.
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6. REFERÊNCIAS
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HONOUR, Hugh. The new golden land: European images of America from
the discoveries to the present time. Nova York: Pantheon Books, 1975.
IVERSEN, Margaret. Alois Riegl: Art History and Theory. Cambridge: The
MIT Press, 1993.
KLUCKERT, Ehrenfried. “Emblemática”. In: TOMAN, Rolf (org.). O Barroco:
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KROGT, Peter Van Der. “El Atlas Maior de Joan Blaeu/ The Atlas Maior of Joan
Blaeu/ O Atlas Maior de Joan Blaeu”. In: BLAEU, Joan. Atlas Maior: Hispania,
Portugalia, Africa & America. Colônia: Taschen, 2006 [1665], p. 23-65.
LANGMUIR, Erika. Allegory: a closer look. Londres: The National Gallery,
2010.
LESTER, Toby. A quarta parte do mundo: a corrida aos confins da Terra e a
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da Silva. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012 [2009].
MANCINI, Matteo. “Niccolo Frangipane” [verbete]. In: Dizionario
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1998. Publicação eletrônica. Disponível em: <http://www.treccani.it/
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MARISCAL, George. “Iconografía y técnica emblemática en Calderón: La
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OLIN, Margaret. Forms of representation in Alois Riegl’s Theory of Art.
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OLIVEIRA, Carla Mary S. “Circulação de artífices no Nordeste colonial:
indícios da autoria do forro da igreja do Convento de Santo Antônio da
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Fig. 1 – Planisfério de Martin Waldseemüller, publicado como anexo a seu Cosmographiae Introductio, em
1507, com destaque para a América, representada pela primeira vez com este nome, além de ser mostrada
como uma ilha. Fonte: WALDSEEMÜLLER, 1907.
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Fig. 3 – America, Jan Sadeler (del. & sculpt.), Amsterdã, 1581. Gravura em cobre; 16,1 x 22,1 cm;
Acervo de Leen Helmink Antique Maps, Holanda.
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Fig. 6 – Alegoria da América, Niccolo Frangipane, 1590; óleo sobre tela; 194 X 112 cm.
Coleção Emanoel de Araújo, São Paulo.
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Fig. 7 – Americca, Étienne Delaune, 1575. Gravura em cobre, 6,5 X 8,2 cm.
The New York Historical Society, Nova York, EUA.
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Fig. 9 – America, Marten de Vos, s.d. Pena ao lavis sobre papel; 28,5 X 16,5 cm.
Stedelijk Prentenkabinet, Antuérpia, Bélgica.
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Fig. 10 – America, Marten de Vos (del.) & Adriaen Collaert (sculpt.), c. 1600. Gravura em cobre;
20,7 X 25,9 cm. Rijkprentenkabinet, Rijksmuseum, Amsterdã, Holanda.
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Fig. 11 – Amerika; Maerten de Vos (del.), Julius Goltzius (sculpt.), Johannes Baptista Vrints (exec.); c. 1600.
Gravura em cobre; 27,9 × 22,1 cm. Rijkprentenkabinet, Rijksmuseum, Amsterdã, Holanda.
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Fig. 12 – America, Jan Van Der Straet (del.) & Theodore Galle (sculpt.), 1589. Gravura em cobre
aquarelada à mão; 18,2 X 27 cm. National Gallery of Art; Rosenwald Collection, Washington, D.C., EUA.
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Fig. 17 – Amerika, Crispjin van de Passe, 1639; gravura em cobre; 19,8 × 22,1 cm.
Rijkprentenkabinet, Rijksmuseum, Amsterdã, Holanda.
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Fig. 18 – America, Charles Le Brun (del.) & Gilles Rousselet (sculpt.), c. 1650;
gravura em cobre; 25,5 X 31,1 cm. Bibliotheque Mazarine, Paris, França.
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Fig. 19 – America, anônimo (d’après Charles Le Brun), c. 1650; óleo sobre tela; 153,5 X 250 cm.
Pinacoteca do Estado, São Paulo.
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Fig. 21 – America, Jacob Van Meurs. Gravura em cobre; 31 X 19,8 cm. Frontispício
de Arnold Montanus, Nieuwe em Onbekende Weereld, Amsterdã, 1671.
Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, Universidade de São Paulo, São Paulo.
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Fig. 24 – Alegoria da América, Apoteose de Santo Inácio (detalhe), Andrea Pozzo, afresco, 1691-1694.
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Teto da nave, Igreja de Santo Inácio de Loyola, Roma, Itália. Foto: Carla Mary S. Oliveira, jun. 2008.
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Fig. 29 – Europa Supported by Africa & America, John Gabriel Stedman (del.) &
William Blake (sculpt.); c. 1791-1794; gravura em cobre, cópia aquarelada à mão;
c. 18 X 13 cm. Acervo da Seção de Livros Raros da Henry E. Huntington Library
and Art Gallery, San Marino, Califórnia, EUA.
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Fig. 34 – América, José Teófilo de Jesus, s.d.; óleo sobre tela, 65 X 82 cm;
Museu de Arte da Bahia, Salvador. Foto: acervo particular, Carla Mary S. Oliveira.
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SOBRE A AUTORA
Carla Mary S. Oliveira é historiadora, doutora em Sociologia
pela Universidade Federal da Paraíba e Professora Associada do
Departamento e do Programa de Pós-Graduação em História da
mesma instituição, onde atua como docente desde 2004. Realizou,
entre agosto e dezembro de 2009, Estágio Pós-Doutoral junto ao
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal
de Minas Gerais, com financiamento de uma bolsa Capes PROCAD-
NF. Lidera o Grupo de Pesquisa Arte, Cultura e Sociedade no Mundo
Ibérico (séculos XVI a XIX), e participa, como pesquisadora, do Grupo
de Pesquisa História da Educação no Nordeste Oitocentista - GHENO,
ambos vinculados ao PPGH-UFPB, e também do Grupo de Pesquisa
Perspectiva Pictorum, vinculado ao PPGHIS-UFMG. Desenvolve
investigações sobre o Barroco europeu, o Barroco religioso no litoral
do Nordeste brasileiro, a Arte do Brasil Holandês e o Patrimônio
Histórico da Paraíba. É autora de O Barroco na Paraíba: arte, religião
e conquista [João Pessoa: Ed. Universitária/ UFPB; IESP, 2003] e de
Saudades D’Além-Mar: a revista Lusitania e a imigração portuguesa no
Rio de Janeiro (1929-1934) [João Pessoa: Editora da UFPB, 2013].
E-Mail: <carla@carlamaryoliveira.pro.br>.
Sítio Eletrônico: <http://www.carlamaryoliveira.pro.br/>.
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As opiniões emitidas no texto deste livro não exprimem,
necessariamente, as da Editora da UFPB ou de qualquer
instância da Universidade Federal da Paraíba.
A AMÉRICA ALEGORIZADA
A AMÉRICA ALEGORIZADA
A América alegorizada como uma mulher que quer ser exótica e selvagem, maturação. Nasceu dos momentos em
mantendo traços caucasianos em imagens de gestual civilizado, remete, que flanar na web trazia a euforia de
encontrar um novo e desconhecido
antes de mais nada, à contradição intrínseca e inescapável de cada um de
nós. E ao mesmo tempo às angústias desde sempre postas entre identidade
Imagens e Visões do Novo Mundo tratado seiscentista em PDF facssimilar
disponível para download ou uma
e alteridade na autoimagem dolorosamente construída ao longo da História na Iconografia Europeia dos Séculos XVI a XVIII imagem com resolução e informação
suficientes para ser agregada à minha
pelos habitantes deste continente. O deleite e a angústia motivadora pequena coleção de alegorias visuais.
acompanham a transformação das mensagens e intencionalidades das É preciso dizer que quase duas dezenas
das que pude encontrar não estão aqui,
alegorias, enquanto pinturas, desenhos, mapas e esculturas estão ali
nestas páginas, simplesmente por não
Carla Mary S. Oliveira, natural de Nova sempre a lembrar que uma questão primordial não foi resolvida: de onde ter sido possível identificar sua autoria,
Friburgo - RJ, está radicada na Paraíba
desde 1987. É historiadora, doutora em
viemos e para onde vamos? dimensões ou o acervo a que pertenciam,
apesar de serem, evidentemente,
Sociologia pela Universidade Federal da Uma pesquisa séria e atenta sustenta o texto deleitoso e consistente oriundas do recorte temporal que defini
Paraíba e docente do Departamento e do que ingressa o leitor em um percurso histórico que se apresenta como para este estudo.
Programa de Pós-Graduação em História
da mesma instituição desde 2004, sendo um convite a passear pelas imagens alegóricas da América. Nascido de Finalmente, este livro nasceu também
atualmente Professora Associada. Realizou, um interesse que surgiu em um momento de férias, e, portanto, fruto do estímulo e diálogo intelectual com
entre agosto e dezembro de 2009, Estágio amigos próximos, estivessem eles no
do puro prazer e deleite estético, resultou em um livro igualmente espaço físico real da contiguidade de
Pós-Doutoral junto ao Programa de Pós-
Graduação em História da Universidade prazeroso e ao mesmo tempo preciso e instigante. A junção do “bichinho uma sala de aula ou no link de VOIP, no
Federal de Minas Gerais, com financiamento escarafunchador”, com o maravilhar-se diante das obras de arte e as chat de uma rede social ou na troca de
de uma bolsa Capes PROCAD-NF. Desde 2012 e-mails. Cláudia Engler Cury, Antonio
possibilidades de pesquisa abertas pelas novas tecnologias da rede mundial Carlos Ferreira Pinheiro, Telma Dias
lidera o Grupo de Pesquisa Arte, Cultura e
Sociedade no Mundo Ibérico (séculos XVI a de computadores permitiu a concretização deste projeto: a intelecção das Fernandes e Serioja Mariano, é sempre