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NENHUMA FIGURA VISTES Uma breve Teologia Bíblica da proibição da

feitura de imagens das Pessoas da Trinidade Christopher Vicente Copyright ©


Christopher Vicente Todos os direitos em língua portuguesa reservados pela
Editora Nadere Reformatie 59078–000, Natal, RN, Brasil.
@editoranaderereformatie 1ª edição, 2023 Editor: Christopher Vicente Capa:
Christopher Vicente Pintura da Capa: Adoração do Bezerro de Ouro (1633–
1634), por Nicolas Poussin Nenhuma parte desta publicação pode ser
reproduzida ou transmitida em qualquer formato ou por quaisquer meios
(eletrônico ou mecânico) sem a autorização e permissão por escrito do editor,
exceto para citações em trabalhos, artigos e afins com indicação de fonte.
SUMÁRIO PREFÁCIO NENHUMA FIGURA VISTES Argumentando
Biblicamente Deus é Espírito O Segundo Mandamento Deuteronômio 4 Êxodo
32 e Salmo 115 1 Reis 12.25–33 Isaías Jeremias e Ezequiel Habacuque
Evangelhos, Atos e Epístolas 1 João e Apocalipse A História da Arte e História da
Igreja Nossa Confessionalidade — a fé que professamos CONHEÇA A
EDITORA NADERE REFORMATIE PREFÁCIO O presente e-book foi,
originalmente, escrito como um apêndice à obra “Lições no Breve Catecismo de
Westminster para classes de escola dominical infantil (Volume 1)”. Esta obra
consiste em lições com inúmeros recursos e materiais de apoio para aplicação na
instrução de crianças quer em casa, quer na igreja. Confira AQUI a versão e-
book; e, AQUI, a versão impressa (ou sob demanda, através do e-mail:
naderereformatiepublicacoes@gmail.com). Julgamos necessário e oportuno tal
apêndice a fim de explicar o porquê de nossa escolha editorial e, em certa medita,
apresentarmos a fundamentação bíblica e confessional a irmãos que, talvez,
nunca tenham tido contato com essa doutrina bíblica. Agora, após expansão do
material, tornamos público de forma separada aos interessados no tema. O título
“Nenhuma figura vistes” é uma citação direta de Deuteronômio 4.12, 15 —
importante texto bíblico para compreensão dessa doutrina. Anteriormente, a
Editora Nadere Reformatie já havia publicado “Não farás imagem: por que não
devemos fazer imagens de nenhuma das Pessoas da Trindade”, um compilado de
texto de João Calvino, Thomas Boston, Wilhelmus à Brakel, Thomas Vincent,
James Fisher, John Brown de Haddington, Heinrich Bullinger, William Twisse,
James Durham e Thomas Watson (confira AQUI). Agora, publicamos mais este
material, fazendo coro ao anterior. Neste, fizemos uso da abordagem da Teologia
Bíblica e, ao final, apresentamos todos os trechos dos Padrões de Fé de
Westminster, documentos doutrinários que expressam o que os presbiterianos
(IPB) creem e são subscritos (o autor) por mim e por esta editora. Nossa oração é
em favor da utilidade desse texto para amadurecimento doutrinário da igreja. Não
visamos mera polêmica e reprovo todo uso beligerante desse material. Antes de
você desprezar ou reputar como “radicalismo”, “xiitismo” ou adjetivos afins,
considere esta argumentação bíblica. Tais adjetivos são cortina de fumaça e não
resolvem nada. Eles são perigosos, quando estamos lidando com a compreensão
do que Deus diz, pois, de forma precipitada, podemos, sem a devida
fundamentação bíblica, rejeitar aquilo que Deus estabeleceu; podemos, por
critério enviesados e não conformados à Palavra, condenar o que Deus disse. E
assumir essa posição de forma precipitada é algo grave para alguém que diz ter a
Palavra de Deus como sua única regra de fé e prática. O desejo é servir e auxiliar
outros irmãos com uma argumentação bíblica introdutória. Que Deus abençoe o
Seu povo no Brasil. Rev. Christopher Vicente, Editor. Ministro do Evangelho na
Igreja Presbiteriana Manancial do Natal, Natal-RN. 05 de junho de 2023.
NENHUMA FIGURA VISTES Uma breve Teologia Bíblica da proibição da
feitura de imagens das Pessoas da Trinidade Infelizmente, o tópico “imagens das
Pessoas da Trindade” se tornou motivo de polêmica no meio da Igreja Evangélica
— surpreendentemente, incluindo as Presbiterianas e Reformadas. Não deveria
ter se tornado. Cremos que, biblicamente, o SENHOR nos deu clara orientação
sobre isso — como suscintamente mostrarei agora. Ao final, também, transcrevo
o que professamos nos Padrões de Westminster, padrões subscritos por mim,
como ministro do Evangelho (e por todos os demais presbíteros na Igreja
Presbiteriana do Brasil) como a profissão de nossa fé. Aqui, faço uma brevíssima
defesa em favor da proibição divina de os homens fazerem imagem de Si. Quero
demonstrar, biblicamente, que aquilo que professamos como presbiterianos e
que, historicamente, inúmeros expoentes reformados sustentaram[1] é a correta e
a bíblica posição. O romanismo e o evangelicalismo moderno, por inúmeras
razões, passou a desconsiderar o zelo nesse ponto; e, hoje, com exceção da
chamada “veneração às imagens”, romanistas e evangélicos têm sustentado a
mesma visão. Para aprofundamento no estudo desse tópico, recomendo o nosso
e-book “Não farás imagem: por que não devemos fazer imagens de nenhuma das
Pessoas da Trindade”, um compilado de dez teólogos reformados e presbiterianos
sobre essa doutrina. Traduzi e organizei textos (trechos de obras e sermões) de
João Calvino, Thomas Boston, Wilhelmus à Brakel, Thomas Vincent, James
Fisher, John Brown de Haddington, Thomas Watson, Heinrich Bullinger, William
Twisse e James Durham.[2] Se esse meu limitado esforço aqui não for útil, então,
não deixe de avançar para os esforços desses gigantes da fé reformada — homens
fiéis, zelosos e capazes pelo Espírito. Argumentando Biblicamente Deus é
Espírito O fundamento da proibição de fazermos imagens de Deus, isto é, de
qualquer das Pessoas da Trindade, reside em Seu Ser: Ele é Espírito. Em João
4.24, Jesus diz: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em
espírito e em verdade”. Porém, destaco e lembro de uma verdade que vimos: o
ser de Deus implica em uma forma de adoração que condiga com o que Ele é. A
adoração deve condizer com o ser do Deus adorado. A restrição para que não
façamos imagens tem a ver com o ser de Deus e com o nosso relacionamento
com Ele, especificamente, o culto. A conclusão é óbvia: se Deus é espírito eterno,
infinito e imutável, então, Ele não pode ser representado de forma alguma. A
representação de um Deus, que é invisível (Colossenses 1.15; 1 Timóteo 1.17), é
uma violação de Seu Ser. É querer fazer visível Aquele que não é visível, a não
ser na Pessoa (não em um desenho fruto da imaginação humana) de Cristo. A
prática de fazer imagens a partir de sua própria concepção de Deus (embora, não
de forma concreta) começou com Adão, quando este, ao invés de se apegar à
Palavra de Deus e ao que Ele dizia de si mesmo, forjou para si um Deus que não
era bom. Ele fez uma imagem em seu coração; fez um ídolo; cometeu idolatria,
pois, conceber Deus de forma diferente do que Ele diz de Si mesmo ou esvaziá-
lO de Seus atributos é fazer um ídolo, uma imagem. Imagens sempre deturpam,
em nós e para nós, a apreensão do Ser de Deus. O Segundo Mandamento Quando
o Senhor entregou o resumo da Lei Moral nos Dez Mandamentos, percebemos
que os quatro primeiros dizem respeito ao nosso relacionamento com Ele,
especificamente, ao Seu culto. O Primeiro Mandamento nos ensina quem (e
somente quem) devemos adorar; o Segundo, como devemos adorar no aspecto
externo (não por meio de imagens); o Terceiro, como devemos adorar no aspecto
interno (não tomando o nome dEle em vão); e o Quarto, quando devemos adorar
(no Dia do Senhor, o Shabbath). Portanto, perceba que a adoração a Deus é o
tema que unifica os quatro primeiros mandamentos. Então, no Segundo
Mandamento, nos é dito: “Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma
semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas
debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o
SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos,
até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a
milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos” (Êxodo
20.4-6, ACF 2011). Atualmente, muitos evangélicos têm interpretado este texto
da mesma forma como os romanistas (católicos romanos), nos dias da Reforma,
quando procuravam legitimar sua prática de feitura de imagens. Eles dizem:
“neste mandamento, Deus não proíbe fazer imagens dEle. Proíbe adorar imagens
dEle ou imagens de qualquer coisa na Criação”. Então, para amparar essa
interpretação, fazem uma confusão da feitura de imagens dEle com a arte
(imagens) ordenadas no restante das Escrituras, como a serpente de bronze
(Números 21.8-9); os querubins associados aos itens do tabernáculo e, depois, do
Templo (Êxodo 25.18-22; 26.1, 31; 36.8, 35; 37.7-9; Números 7.39). Então, a
conclusão deles é tal qual a dos romanistas: “Deus não proibiu fazer imagens,
mas proibiu adorá-la. Podemos fazer imagens, então, para fins didáticos”. Esse é
o exato argumento católico romano: “as imagens são a Bíblia que o leigo e
iletrado lê” (para fins didáticos).[3] Porém, essa equivocada interpretação
desconsidera e confunde algumas questões. Primeira, ela desconsidera que os
Dez Mandamentos são o resumo da Lei Moral (cf. a excelente exposição bíblica
feita no BCW 39–40 e no CMW 93–98). Assim, o Segundo Mandamento não é
exaustivo na tratativa desse ponto. Ele é sucinto. Devemos considerar as demais
partes das Escrituras que compõe a vontade de Deus, a Lei Moral, que é resumida
nos Dez Mandamentos. A Lei Moral foi revelada em toda a Escritura. Quando
considerarmos o todo — o que faremos em instantes — veremos que: (a) Deus
proíbe o simples ato de fazer imagens dEle, ainda que “sem pretexto” de
adoração; (b) Deus proíbe adorar imagens de criaturas; (c) Deus não proíbe a arte
que representa a Criação, até mesmo alguma “arte sacra”, desde que não seja
representando-O, nem seja adorada. Segunda questão, essa interpretação
confunde tópicos. Evocar a ordem para fazer a Serpente de Bronze e afins é
confundir a matéria proibida; é não entender o papel dessa “arte religiosa” sob a
antiga aliança; e é não entender o que tais coisas eram. É como dizer que o Sexto
Mandamento não proíbe o assassinato, porque Deus ordenou, inúmeras vezes, o
exército de Israel matar pessoas de cidades inteiras (por exemplo, Números
25.17; 31.17) ou mesmo porque ordenou que um de Seus anjos exterminasse um
exército de centenas de milhares de soldados (2 Reis 19.35). A ordem posterior
de confecção destas expressões artísticas para uso religioso revelacional,
condizente com e próprio para as sombras da antiga aliança, não é proibida neste
mandamento. Entretanto, a partir do momento em que tais coisas foram usadas
para idolatria, como no caso da Serpente de Bronze, Deus mandou ser destruída
(2 Reis 18.4). Portanto, essa abordagem hermenêutica faz uma confusão de
tópicos que termina mal interpretando e anulando a Lei de Deus.[4] Além disso,
nenhum desses exemplos evocados (como se objeções fossem) são, efetivamente,
representação de Deus. Nenhum! Deuteronômio 4 O texto de Deuteronômio 4
lança uma incandescente luz sobre essa doutrina resumida no Segundo
Mandamento e evoca a de João 4. Por favor, se você puder, pare e leia, agora,
Deuteronômio 4.9-24. Então Agora, perceba: primeiro, o Senhor inicia essa
porção (v. 1-8), lembrando Israel de seu dever pactual de guardar os estatutos
dEle e todos os benefícios que terão se assim o fizerem. Assim, dessa exortação,
Ele passa a um alerta (v. 9-24), que começa assim: “Tão somente guarda-te a ti
mesmo, e guarda bem a tua alma” (v. 9ª). Eles seriam tentados a esquecer tudo o
que testemunharam o Senhor fazer e tudo o que ouviram dEle. Eles deveriam se
guardar disso e ensinar aos filhos tais obras divinas (v. 9-10). Então, o Senhor os
leva, em lembrança, de volta ao monte Horebe, à cena do monte fumegando e de
todas as manifestações temíveis da Sua presença nele (v. 11). Em seguida, Ele diz
algo que repetirá outras vez no decorrer deste trecho: “Então, o SENHOR vos
falou do meio do fogo; a voz das palavras ouvistes; porém, além da voz, não
vistes figura alguma” (v. 12, grifo nosso). Preste bem atenção: “não vistes figura
alguma”. Vocês ouviram apenas a voz, não viram “aparência nenhuma” (ARA)
ou “forma alguma” (ALM 21, NVI). Então, Ele diz o que entregou a eles, os Dez
Mandamentos e outras leis (v. 13-14) e repete: “Guardai, pois, com diligência as
vossas almas, pois nenhuma figura vistes no dia em que o SENHOR, em Horebe,
falou convosco do meio do fogo” (v. 15, grifo nosso). Perceba: eles tinham de
diligentemente guardar o coração. Por quê? Ele segue: Para que não vos
corrompais, e vos façais alguma imagem esculpida na forma de qualquer figura,
semelhança de homem ou mulher; figura de algum animal que haja na terra;
figura de alguma ave alada que voa pelos céus; figura de algum animal que se
arrasta sobre a terra; figura de algum peixe que esteja nas águas debaixo da terra;
que não levantes os teus olhos aos céus e vejas o sol, e a lua, e as estrelas, todo o
exército dos céus; e sejas impelido a que te inclines perante eles, e sirvas àqueles
que o SENHOR teu Deus repartiu a todos os povos debaixo de todos os céus (v.
16-19). Porque eles ouviram a voz e não viram nenhuma figura, eles não
poderiam fazer imagem de Deus na forma de qualquer coisa na Criação, quer
animais, quer ser humano, quer astros. Note bem que é exatamente a mesma
linguagem do Segundo Mandamento. Aqui, chegamos ao âmago da intenção
daquele resumo da Lei Moral no Segundo Mandamento. Ele não proibia mera
representação da Criação — do contrário, estaria proibindo a arte; Ele não
proibia apenas fazer alguma representação de alguma criatura e adorá-la. Ele
também não proibia apenas o adorar imagens de representações dEle. Ele proibia
especialmente Ele ser representado, comparando-O ou conformando-O a algo na
Criação. Isso é um absurdo para o Deus Criador, que é espírito e invisível, ser
representado semelhante a algo na Criação. Deus não separou o ato de fazer
imagem de Si, comparando-o com algo na Criação, do ato de idolatria. O mero
fazer imagens de Deus já é idolatria porque perverte o ser de Deus. Ele é
Espírito, por isso, não foi visto forma alguma dEle; e, por isso, Ele não pode ser
representado. O mero ato de fazer imagens de Deus é idólatra. E, para que ficasse
claríssimo e nenhuma dúvida pairasse sobre sua proibição moral (que não está
presa a nenhuma Lei Civil ou Cerimonial do Antigo Testamento, portanto, não é
uma lei positiva/momentânea), o Senhor repete pela terceira vez: “Guardai-vos e
não vos esqueçais da aliança do SENHOR vosso Deus, que tem feito convosco, e
não façais para vós escultura alguma, imagem de alguma coisa que o SENHOR
vosso Deus vos proibiu” (v. 23, grifo nosso). Não podemos fazer imagem de
Deus — Deus o Pai, Deus o Filho e Deus Espírito Santo. Isso é claramente
expresso aqui. E, para que também ficasse claro que isso tem a ver com o Culto à
Deus, Ele lembra: “Porque o SENHOR teu Deus é um fogo que consome, um
Deus zeloso” (v. 24). Esse é o mesmo texto que o autor aos Hebreus citou a fim
de falar da adoração que devemos prestar a Ele sob a Nova Aliança (Hebreus
12.28-29). Esse Deus é o mesmo; Ele não mudou os Seus atributos; Ele continua
sendo fogo consumidor e Deus zeloso pelo Seu Culto. Ele é o Deus que alerta o
Seu povo para que não façam nenhuma imagem dEle. Deuteronômio 4 é
claríssimo quanto à proibição. Há mais nas Escrituras sobre essa doutrina. Êxodo
32 e Salmo 115 Outras duas porções das Escrituras que nos revelam a vontade/a
Lei Moral do Senhor quanto ao Segundo Mandamento. Em Êxodo 32.1s, nos é
narrado a ocasião em que o povo de Israel, enquanto Moisés estava no Monte
recebendo a Lei, forja, por meio de Arão, um bezerro de ouro. Há dois pontos do
texto que devem ser destacados aqui. O primeiro é que o povo de Israel, ao fazer
o bezerro de ouro, não estava fazendo para si um falso deus. Explicitamente, é
proclamado: “Este é teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito” (Êxodo
32.4b, ACF 2011). Atente bem: eles não estavam representando Baal, Astarote ou
Moloque (falsos deuses cananeus); nem Osíris, Ísis, Rá, Amon ou Anúbis (falsos
deuses egípcios). Eles estavam representando “o Deus que os tirou do Egito”.
Eles intentaram representar o SENHOR (Javé). Porém, era um ídolo (conforme
apropriadamente Estevão nomeia em Atos 7.41), pois qualquer imagem da
Divindade (do Deus verdadeiro) é um ídolo. Como Deus reage a isso? Com
profunda indignação e ira (Êxodo 32.7-10). Não foi possível ser alegado a Deus
ignorância do povo: “ah, Deus, o povo acabou de sair do Egito; o Senhor ainda
vai lhes dar a Lei”. Nem a “boa” intenção dos israelitas (Êxodo 32.1). Não! Eles
igualaram Deus a um bezerro. Todavia, Ele é zeloso de Seu nome e de Seu ser.
Deus estava prestes a derramar juízo sobre eles. A narrativa continua e, nesse
evento, Deus nos revela algo importante sobre a Sua Obra Redentora e sobre
Cristo. Moisés se põe como mediador entre Deus e o povo, intercedendo pelo
povo. Deus estava nos ensinando sobre Cristo, como o Mediador entre nós e Ele:
sem um mediador, sem o mediador que Ele providenciaria, sem Cristo, nós
seríamos fulminados pela Ira de Deus. Mas ainda, sobre a questão das imagens,
devo destacar outro ponto que o Senhor revela nesta narrativa. No verso 6, nos é
dito que o povo, após concluir a confecção da imagem de Deus, assentou-se para
comer e beber e levantou-se para carícias libidinosas (comumente traduzida por
“divertir-se” ou “farrear”).[5] Note bem a forma como eles passam a reagir diante
desse ídolo que fizeram. Então, Deus diz a Moisés, em Sua deliberação de ira e
juízo: “Tenho visto a este povo, e eis que é povo de dura cerviz” (Êxodo 32.9).[6]
Deus diz que esse povo é exatamente como o bezerro (de ouro, isto é, rígido; ou
teimoso) — é povo de cerviz dura. Aqui, então, é estabelecido um conceito que
será repetido nos Salmos, nos profetas (ex.: Isaías 6.9-10) e no Novo Testamento:
“você se torna aquilo que você adora”.[7] O Salmo 115 é singular na retomada e
no uso deste conceito. Após exaltar somente o SENHOR e lhe dar toda a glória
(v. 1), o salmista contrasta o Senhor com os ídolos das nações que questionam
“onde está o seu Deus” (v. 2). Essa pergunta retórica oriunda dos pagãos possui
um pressuposto igualmente pagão por trás: “eis, aqui, o meu deus, nesta imagem,
representado nessa estatueta. Onde está o de vocês, se Ele é tão sublime assim”.
Essa pergunta pressupõe que é da natureza de um falso deus ser reproduzido em
imagens etc. O nosso Deus, porém, está nos Céus e é Soberano; não é
manipulável, como uma imagem (v. 3). Os ídolos parecem vivos. Eles têm boca,
têm olhos, têm ouvidos, têm pés, têm mãos. Porém, são mortos, pois não falam,
não veem, não ouvem, não andam, não apalpam (v. 4-7). Parecem vivos, mas são
mortos. E o ser reproduzido em uma imagem/estatueta, que é inerte e morta,
representa perfeitamente um falso deus. Entretanto, não pode representar o Deus
que é o vivo e verdadeiro; que está nos Céus, não em nossas mãos ou nossas
pinturas; que faz tudo como lhe agrada e sobre quem não pode ser dito: “eis,
aqui, a representação de meu Deus”. Então, o salmista evoca a verdade
estabelecida e vista na prática em Êxodo 32: “Tornem-se semelhantes a eles
aqueles que os fazem e todos os que neles confiam”. Você se torna aquilo que
você adora. E, representar o Deus vivo e verdadeiro é igualá-lO a ídolos mortos.
Mas, se você O adora, segundo a Sua natureza, você se torna como Ele (2
Coríntios 3.18; Colossenses 3.10; Romanos 8.29). Deus não pode ser igualado
aos falsos deuses, os quais podem ser modelados pelas mãos dos homens e são
produto da imaginação deles. Aqueles que confiam nesses ídolos se tornam como
eles. Mas, os que confiam em Deus (exortação que se segue no restante do Salmo
115) e O adoram em espírito tornam-se semelhantes a Ele, adoradores espirituais
(João 4.24). São estes que o Pai procura — não os imaginadores e feitores de
imagens de Deus. Aqueles que nunca viram Deus terão de imaginá-lO para fazer
alguma imagem dEle. Quão grave é tratar o Deus vivo e verdadeiro como se Ele
fosse um falso deus. No Salmo 160.20, retratando esse evento, o salmista diz
que, ao fazerem essa imagem de Deus, Israel trocou a glória de Deus pela
imagem de um boi que come capim. Todas as vezes que imagens de Deus são
feitas está se trocando a glória dEle por uma imagem de alguma criatura.[8]
Antes de avançar, eu preciso responder a uma objeção que é feita a partir de uma
má compreensão da forma como Deus se revela especialmente nos salmos. É
objetado: “mas, nos Salmos, nos são dadas, por Ele mesmo, descrições físicas e
ilustrações (imagens) dEle. Fala-se sobre o braço de Deus (Salmo 44.3; 89.13);
da mão do Senhor (Salmo 75.8); de Ele se levantando do Seu trono (Salmo
103.19); ou da face dEle (Salmo 4.6; 13.1; 27.8), etc. Então, qual o problema de
representa-lO nesses termos?”. Essa objeção se esquece que não apenas é falado
isso. É dito também que Deus é refúgio (Salmo 14.6); Ele é castelo (Salmo 18.1;
46.1); Ele é porção e herança (Salmo 16.5); Ele como possuindo asas (Salmo
17.8; 36.7; 57.1), etc. Deus será representado como tais objetos e coisas
inanimadas? É claro que não! O que ocorre é o que Calvino chamou de
“linguagem de acomodação”; ou, como é comumente chamado, antropomorfia
(atribuição de formas humanas e até de coisas e animais a Deus) para ilustrar um
aspecto da verdade de Seu ser e de Sua obra. Assim, Sua face voltada para nós,
ilustra o Seu favor ao Seu povo; Seu braço, a Sua força e o Seu poder; Suas asas,
a Sua proteção. Ser porção e herança, ser aquilo que nos é mais precioso; ser
castelo, ser a nossa maior proteção etc. Ele não fez isso para ser representado ou
imaginado como sendo estas coisas, mas para que, em nossa limitação, usasse
uma linguagem comum a nós (acomodação). Entretanto, isso não é tudo. A
revelação da Lei Moral avança e somos instruídos ainda mais sobre isso também
nos profetas. Consideremos, a seguir, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Habacuque. Na
verdade, nos profetas, toda a oposição do Senhor às imagens é recorrentemente
repetida. 1 Reis 12.25–33 A idolatria inicial do Reino do Norte, sob Jeroboão,
também lança luz sobre essa doutrina. Por causa do pecado de Salomão, Deus
dividiu o Reino de Israel, sob o governo de seu filho, Roboão, e o norte se torna
um reino independente, sob o governo de Jeroboão. As Escrituras nos dizem que
Jeroboão, a fim de impedir que o povo subisse à Jerusalém para adorar ao
SENHOR e, com isso, se sentissem tentados a quererem voltar para “a casa de
Davi”, mandou fazer dois bezerros de ouro (um em Betel e outro em Dã, v. 29),
dizendo: “Muito trabalho vos será o subir a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó
Israel, que te fizeram subir da terra do Egito” (v. 28) — qualquer semelhança
com Êxodo 32 não é mera coincidência. Assim como, em Êxodo 32, o bezerro de
ouro não era a representação de nenhum falso deus, mas uma do próprio
SENHOR; assim também, Jeroboão não estava representando Baal ou qualquer
outro falso deus. Ele coincidentemente — inclusive, para os fins que ele
intentava tinha de ser isto — fez uma representação do Deus vivo e verdadeiro.
Porém, o bezerro, não Deus, era adorado (v. 30). Os principais momentos de
idolatria de Israel foram marcados por representações do Deus vivo e verdadeiro
que conduziram à idolatria. O mesmo continua ocorrendo hoje. Imagens
limitadas, abobalhadas, infantilizadas do Deus glorioso gera em crianças e
adultos uma visão distorcida de quem Deus é, portanto, um ídolo. O que está em
jogo é muito caro. Isaías No profeta Isaías, é dito que Deus trataria o Reino do
Sul e suas imagens como Ele tratou o Reino do Norte — com juízo (Isaías 10.10-
11). Aqui, os ídolos são chamados de imagem de escultura. O Senhor mostra a
íntima relação que há entre as imagens dos falsos deuses e os falsos deuses em si
(Isaías 21.9). Imagens e poste-ídolo ou altar idólatra são tidos como a mesma
coisa (Isaías 27.9; 44.10). Referindo-se às imagens em Israel, o Senhor diz “Eis
que todos são [os artífices] vaidade; as suas obras não são coisa alguma; as suas
imagens de fundição são vento e confusão” (Isaías 41.29, grifo nosso). Aqueles
que fazem imagens de divindades (incluindo a do Deus verdadeiro) serão
envergonhados (Isaías 45.16). Se já é algo vergonhoso o produzir imagens das
falsas divindades, quanto mais do Deus verdadeiro. Os artífices e adoradores das
imagens se tornaram como elas (Isaías 6.9-10). Em uma longa seção, em Isaías
44 (v. 9-20), o Senhor repete a mesma verdade: “Todos os que fazem imagens
esculpidas não são nada; os seus objetos mais preciosos não têm valor nenhum;
suas próprias testemunhas não veem nada, nem entendem, para sua própria
vergonha. [...] Todos os seus seguidores passarão vergonha, pois os artesãos são
apenas homens” (v. 9, 11). Então, ele passa a descrever a ridícula cena da feitura
de uma imagem (v. 10-20). Algo importante é repetido (já havia sido dito em
Isaías 41.29) sobre elas: “uma imagem de escultura que não serve para nada”
(grifo nosso). Àqueles que impõe sobre a convecção de imagens da Divindade
alguma finalidade oriunda de sua imaginação (isto é, finalidade não ordenada por
Deus), Deus diz: as imagens de Deus não servem para nada de real valor; elas são
vento; são vaidade; só causam confusão (trataremos mais sobre essa última
afirmação em Habacuque). No livro do profeta Isaías, fica clara a ideia de que
ídolo não é apenas o falso deus, mas a representação de uma divindade em si
(Isaías 48.5). Ídolo, imagem e escultura de suas próprias mãos, representando
uma divindade, são sinônimos (Isaías 45.20 etc.). Assim, em todo o livro de
Isaías, Deus faz um drástico contraste entre Ele e os ídolos ou as imagens (Isaías
17.7-8). A maior seção, no livro do profeta Isaías, que nos revela a gravidade das
imagens está em Isaías 40.18-28 e 42.8, 17. Por isso, citarei a perícope na íntegra,
a despeito de seu tamanho. Assim diz a Palavra do Senhor: A quem, pois, fareis
semelhante a Deus, ou com que o comparareis? O artífice funde a imagem, e o
ourives a cobre de ouro, e forja para ela cadeias de prata. O empobrecido, que
não pode oferecer tanto, escolhe madeira que não se apodrece; artífice sábio
busca, para gravar uma imagem que não se pode mover. Porventura não sabeis?
Porventura não ouvis, ou desde o princípio não se vos notificou, ou não
atentastes para os fundamentos da terra? Ele é o que está assentado sobre o
círculo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; é ele o que
estende os céus como cortina, e os desenrola como tenda, para neles habitar; o
que reduz a nada os príncipes, e torna em coisa vã os juízes da terra. E mal se tem
plantado, mal se tem semeado, e mal se tem enraizado na terra o seu tronco, já se
secam, quando ele sopra sobre eles, e um tufão os leva como a pragana. A quem,
pois, me fareis semelhante, para que eu lhe seja igual? Diz o Santo. Levantai ao
alto os vossos olhos, e vede quem criou estas coisas; foi aquele que faz sair o
exército delas segundo o seu número; ele as chama a todas pelos seus nomes; por
causa da grandeza das suas forças, e porquanto é forte em poder, nenhuma delas
faltará. Por que dizes, ó Jacó, e tu falas, ó Israel: O meu caminho está encoberto
ao SENHOR, e o meu juízo passa despercebido ao meu Deus? Não sabes, não
ouviste que o eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos fins da terra, nem se cansa
nem se fatiga? É insondável o seu entendimento (Isaías 40.18-28, ACF 2011,
grifo nosso). Aqui, o Senhor repete, duas vezes, a pergunta — cuja resposta
deveria ser óbvia para os criadores de imagens — que é respondida em toda a
seção: “A quem, pois, fareis semelhante a Deus, ou com que o comparareis? [...]
A quem, pois, me fareis semelhante, para que eu lhe seja igual?” (v. 18, 25).
Então, Ele passa a descrever duas coisas: (1) A produção de imagens pelos
sacerdotes dos falsos deuses (v. 19-20); (2) depois, a descrição de Sua majestade,
Seu poder, Sua glória — que gloriosa descrição nos é dada de nosso Deus em
Isaías 40 (v. 21-24, 26-31). Então, vem a implicação/demanda óbvia: “vocês vão
me representar em uma imagem? Vocês vão me tratar como um idólatra trata seu
falso deus (v. 19-20)? Eu, que sustento as estrelas, serei sustentado nas mãos de
vocês em uma imagem (v. 26)? Eu, que sou o Criador (v. 28) e que estou
assentado nos céus (v. 22), serei modelado em um pedaço de madeira? Eu, que
derrubo príncipes e governo, será levado para cima e para baixo em uma
representação (v. 23-24)”? Em suma, fazer imagem de Deus é compará-lO a
(algo na) Criação. Então, ao que Deus pode ser comparado? Nada, absolutamente
nada! Nada; mil vezes, nada! Por isso, o Senhor diz enfaticamente: “Eu sou o
SENHOR; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outro não darei, nem o meu
louvor às imagens de escultura. [...] Tornarão atrás e confundir-se-ão de vergonha
os que confiam em imagens de escultura, e dizem às imagens de fundição: Vós
sois nossos deuses” (Isaías 42.8, 17). A partir disso, Ele poderia dizer, hoje:
“vocês vão me comparar ao que para me representar em suas revistinhas de
Escola Dominical, com fins didáticos, usando um método que não ordenei que
fosse usado para ensinar a seus filhos sobre minha glória? Vocês vão desenhar o
que para me representar e dizer a seus filhos: ‘filhinho, este é o
desenho/representação de nosso Deus’? Porventura, eu sou tão inglório quanto
esse tolo desenho? Desenharão um sol, dizendo que sou eu? Acaso o brilho de
minha glória é limitado como o brilho do sol que criei apenas no quarto dia da
Criação? Ora, eu espalhei pelo Universo estrelas que brilham com muito mais
fulgor do que o Sol do sistema de vocês e me desenharão como o Sol? Vão
desenhar uma mão grande, dizendo que é minha mão? Acaso o meu braço está
encolhido e limitado como o dessa mão desenhada? Representarão um velho
bonachão, sentado em uma cadeira, dizendo que sou eu em meu trono — o qual
nem os querubins, os seres mais santos, podem contemplá-lo sem cobrir seus
rostos? Ah, farão esculturas e pinturas a pretexto de arte, dizendo que fazem para
minha glória, quando a diminuem em uma representação visível de mim, que sou
invisível? Pense um pouco e considere minimamente a minha glória, então, diga-
me: você, de fato, acha que eu me agrado disso? Você, de fato, acha que não
ultraja a minha glória? De fato, acha que não me trata como os idólatras tratam
seus falsos deuses? Se você não sabe responder, eu respondo: você divide a
minha glória com imagens (Isaías 42.8). E eu jamais dividirei e deixarei você
fazer isso?! De nenhuma imagem, você poderá dizer: eis a representação de meu
Deus. Quando vocês estiverem diante de mim, vocês verão o tamanho da tolice
de vocês em fazer isso. Vocês olharão para mim, o Criador, não para imagens
(Isaías 17.7-8), e verão a infinita distância — distância tal que, assim como é
ridículo a cena do idólatra confeccionando o seu falso deus, ainda mais ridícula é
de um adorador, que diz me adorar, representando-me”. Jeremias e Ezequiel Por
meio de Jeremias, o Senhor ensina que é provado à Ira pelas imagens de
escultura em Sua Igreja (Jeremias 8:19). Elas refletem o embrutecimento sobre
quem Ele é. Elas falam mentiras — Ele fala isso três vezes em todo o livro (cf.
Jeremias 10:14; 50:38; 51:17). Em Jeremias também é repetido o conceito básico
da relação das imagens de representação e dos artífices e adoradores delas, a
saber, “você se torna aquilo que você adora”. Em Jeremias 2.5, é dito: “Assim diz
o SENHOR: Que injustiça acharam vossos pais em mim, para se afastarem de
mim, indo após a vaidade, e tornando-se”. Indo após imagens/ídolos (Jeremias
2.8) inúteis se tornaram inúteis. No profeta Ezequiel, o Senhor diz que quebrará
as imagens no meio do Seu povo (Ezequiel 6:4, 6). Também em Ezequiel, como
em Isaías, o ídolo e a imagem são tomados como a mesma coisa (Ezequiel 7:20;
30.13). Também é dito, em Ezequiel, que as imagens (dos falsos deuses), que
estavam espalhadas por todo o Israel, provocam ciúmes em Deus. Então, a
máxima continua: não há um só lugar em que a feitura de imagens de Deus,
muito menos a de falsos deuses, seja aprovada. Há reprovação sobre reprovação
dessa prática. Fazer imagem dEle é tratá-lO como se trata um falso deus fruto da
imaginação humana. Habacuque Em Habacuque, nos é dito algo singular sobre
as imagens, que, foi dito antes em Isaías e em Jeremias. Aqui, enfatizaremos essa
informação que, deliberadamente, “deixamos passar”. O Senhor diz: “Para que
serve a imagem esculpida por um artífice? E a imagem de fundição, que ensina a
mentira? Pois o artífice confia na sua própria obra, mas faz ídolos mudos”
(Habacuque 2.18, ACF 2011, grifo nosso). Em Isaías, fora dito: “Eis que todos
são [os artífices] vaidade; as suas obras não são coisa alguma; as suas imagens de
fundição são vento e confusão” (Isaías 41.29, grifo nosso). E, em Jeremias, duas
vezes, foi dito: “Todo o homem é embrutecido no seu conhecimento;
envergonha-se todo o fundidor da sua imagem de escultura; porque sua imagem
fundida é mentira, e nelas não há espírito” (Jeremias 10.14; 51.17). O conceito é
claro: a imagem de qualquer divindade é mentira, ensina mentira e causa
confusão. Se isso é assim com a imagem de falsos deuses, cujas imagens
correspondem com a imaginação de seus escultores (embora não com a realidade,
porque não existe); muito mais, no tocante ao Deus que existe, mas que é
invisível e que nenhuma imagem poderá representar a Sua glória. A confecção de
imagens dEle, por si só, é uma gritante e flagrante mentira. Quando olhamos uma
imagem e dizemos: “ela representa a Deus”, há uma grande mentira. Quando é
dito: “usarei imagem de Deus para ensinar às crianças”, além de não ter sido essa
a forma pela qual Deus ordenou ensinar sobre Si (ou a Sua Palavra) a nossos
filhos, ela não ensinará a verdade; antes, ensinará a mentira.[9] Você realmente
quer ensinar sobre o Deus vivo e verdadeiro? Então, não O represente para fins
didáticos em imagens mortas e mentirosas! Imagens da Divindade ensinam
mentira. Que imagem (visível) pode representar o Deus Invisível e ainda falar a
verdade? Que imagem pode representar a dupla natureza de Cristo e o Seu corpo
glorioso? Em um filme chamado “O Homem do Norte” (2022),[10] há um
diálogo que ilustra bem essa mentira que as imagens contam — e, nesse caso, em
especial, a mentira que elas contam àqueles que não creem no Deus vivo e
verdadeiro. A história, que se passa no contexto nórdico e viking, relata a
vingança de um homem que viu o seu pai morto pelo próprio tio. Quando, após
anos, conseguiu alcançá-lo, de forma infiltrada, matou paulatinamente inúmeros
homens de sua propriedade. Após uma das noites de assassinatos, ao raiar do dia,
corpos estavam pendurados no telhado de uma cabana. Eles, então, discutiam
quem teria feito isso. Eles consideraram espírito malignos etc. Então, um diz:
“sem dúvida foram os cristãos” — havia escravos cristãos naquela propriedade
— “pois, o Deus deles é um homem morto pendurado na madeira”. Aquele
idólatra considerou que Deus era “um homem morto pendurado na madeira” por
causa das representações romanistas. Ele não estava adorando aquela imagem.
Mas estava vendo a representação. Porque Deus foi tratado como os falsos
deuses daquele homem, ele concluiu que aquele Deus representado era só mais
um e era “um homem morto pendurado na madeira”. Quanta mentira uma
imagem representando o Deus vivo e verdadeiro passa para aqueles que não
creem nEle. Agora, passemos a considerar o ensino do Novo Testamento; e
trataremos diretamente sobre a representação da imagem do Filho. O fato da
encarnação, comumente, é evocado pelos defensores das imagens como “uma
licença para representar ao menos a Segunda Pessoa da Trindade” e o fato da
visível manifestação do Espírito em formato de pomba sobre Cristo “é uma igual
licença para isso, evidenciando que todo esse ‘cuidado’ era algo do Antigo
Testamento, não uma Lei Moral perpétua”.[11] Demonstrarei que esse raciocínio
é equivocado. Evangelhos, Atos e Epístolas Os Evangelho são uma importante
porção das Escrituras para essa doutrina que, aqui, tratamos. Os Evangelhos são
quatro livros, escritos em um gênero único e sem igual, que relatam o Ser e a
Obra de Cristo — cada um enfatizando algo sobre isso. Eles trazem inúmeros
fatos sobre Cristo; narram e interpretam inúmeros acontecimentos. Tudo isso
para nos apresentar Cristo e a Sua Obra, quando esteve fisicamente entre nós,
desde Sua encarnação até a Sua ascensão. Portanto, é impressionante e
significativo que nenhum, absolutamente nenhum, dos quatro Evangelhos
descrevam a aparência de Cristo. Não há o relato de nenhum traço, nenhuma
feição, nenhuma característica fenotípica, nem altura, nem tom de pele, nem
tamanho do cabelo, nem barba ou não! Nada! Não há um só til ou iota dedicado a
isso. Por que será? A resposta é óbvia: Deus Filho Encarnado não deve ser
representado, então, o Espírito não inspiraria os apóstolos a darem subsídio para
a quebra da Lei. O mesmo padrão é encontrado no livro de Atos e nas Epístolas.
Tanto os Evangelhos quanto Atos e as Epístolas foram escritos para discípulos
que não viram Jesus. Se fosse útil, necessário ou devido fazer imagens de Cristo,
por que os apóstolos não o descreveram a estes “pobres discípulos” que não
tiveram o mesmo privilégio que eles de contemplarem a face carnal de Cristo?
Porque a ênfase está na descrição de Seu Ser, nunca em Sua aparência. Isso é
irrelevante. Não é olhar para a face carnal de Cristo que salva e nos faz conhecê-
lO, mas o conhecimento dEle que vem pela fé através da Palavra (não de
imagens). Deus Filho Encarnado não deve ser representado. E, quando os
homens se lançam na idolatria pela feitura de imagens, Paulo lembra, que eles se
tornam imorais como elas (Romanos 1.18ss). A ideia geral de que Ele era homem
(João 1.14) ou das marcas provocadas pelos cravos (João 20.27) ou até mesmo de
sua transfiguração (Mateus 17.2) não geram imagens específicas dEle, apenas
afirmam o óbvio: Ele é ser humano do sexo masculino; Ele, que possui um
corpo, foi visto, apalpado e ferido (1 João 1.1; João 19.34). Ninguém pode, a
partir disso, representá-lO sem que o faça como produto de sua própria
imaginação (conforme é feito com os ídolos/falsos deuses), preenchendo as
infinitas lacunas dessa descrição concreta, geral e idealista. Portanto, a
encarnação não é uma licença para que, pela imaginação (visto que nada foi
descrito), representemos a Pessoa do Filho. Além disso, há duas outras questões.
Primeira, aqueles que olharam para Ele, em corpo não-glorificado, percebiam
algo mais do que um mero homem. De alguma forma, a contemplação do Cristo
Encarnado dava, aos que se aproximavam dEle em fé, a certeza de que Ele era
tanto homem quanto Deus (Mateus 27.54; Lucas 5.8, 21); enquanto os que não se
aproximavam dEle assim não viram nem beleza nem formosura, nada que os
atraísse a Ele (Isaías 53.2). Uma imagem não consegue apreender a dupla
natureza (divina e humana) de Cristo. Apenas o contemplá-lo pela fé. Paulo
reiteradamente diz que Cristo é a imagem do Deus invisível (2 Coríntios 4.4;
Colossenses 1.15; Hebreus 1.3). Cristo disse quem olha para Ele vê o Pai (João
12.45; 14.8-9). Agora, qual representação artística consegue expressar isso? É
uma grande tolice insistir que “não há problema representar Cristo ou a parte
humana de Cristo”. Estão querendo separar o inseparável — o que foi unido por
Deus, o Espírito, e jamais será separado. As duas naturezas de Cristo são
inseparáveis, distintas e imiscíveis. Que artífice pode representar essa gloriosa e
bendita natureza? Por isso, tanto o artífice quanto sua pretensa representação de
Cristo são chamados de vaidade (Isaías 41.29). É apenas por mera vaidade que se
continua insistindo na legitimidade da representação de Cristo. Precisamente, por
isso, Mark Jones disse: “Sendo Cristo a Pessoa em quem as naturezas humana e
divina estão inseparavelmente unidades, sua representação ainda é a
representação de Deus. E toda imagem de Cristo que não reflita de verdade sua
pessoa inteira, humana e divina, é uma representação falsa”.[12] Segunda,
outrossim, hoje, Cristo não está mais no corpo do estado de humilhação, mas no
espiritual (1 Coríntios 15.44) próprio do Seu estado de exaltação. Qual
representação pode expressar a glória desse Cristo exaltado? (veremos mais sobre
isso em Apocalipse). Portanto, novamente, a encarnação não é uma licença para
que, pela imaginação, representemos a Pessoa do Filho. O Espírito Santo ter se
manifestado em forma corpórea de pomba (Mateus 3.16; Marcos 1.10; Lucas
3.22) também não é uma licença, como não o foi nenhuma das teofanias
anteriores. Essa manifestação é mais uma das muitas teofanias vistas no AT.
Teofania é uma indicação visível/física da presença de Deus. Como disse, há
inúmeras teofanias ocorreram no AT: os passos do Senhor na viração do dia
(Gênesis 3.8); as bolas de fogo passando por entre os animais no pacto abraâmico
(Gênesis 15.17); a sarça ardente (êxodo 3.2-4); a coluna de fogo (Êxodo 13.21-
22); a nuvem de glória (Êxodo 16.10); o Anjo do Senhor (Juízes 2.1); a brisa (1
Reis 19.12); etc. Nenhuma destas teofanias do AT foram dadas para que
representássemos Deus. Assim também a manifestação visível do Espírito no
relato do Evangelho ou as línguas de fogo em Atos 2.1-3. Tratando disso,
Calvino disse, nas Institutas: O Espírito Santo apareceu em forma de pomba;
mas, visto que logo se desvaneceu, quem não vê que, pelo símbolo de um
simples momento, foram os fiéis advertidos de que se deve crer que o Espírito é
invisível e, assim, contentes com seu poder e graça, a si não evocassem nenhuma
representação externa?[13] 1 João e Apocalipse A Revelação entregue, por meio
do apóstolo João, nos traz três verdades importantes sobre essa doutrina.
Primeira, João iniciou sua epístola destacando a humanidade tangível de Cristo,
em oposição ao pronto-docetismo contra o qual já lutava (1 João 1.1). Então, em
1 João 3.1, nos diz: “Amados, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o
que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos
semelhantes a ele, pois o veremos como ele é”. Nós O veremos; e essa visão
(chama de beatífica por alguns puritanos) terá poder transformador.[14] Nós O
veremos de fato, não segundo a nossa imaginação. O que esse texto pressupõe é
que não o vemos carnalmente “deste lado da eternidade”. Sendo mais preciso, O
vemos, aqui, pelos olhos da fé. Essa é a visão apropriada para esse momento da
História da Redenção. Querer vê-lO carnalmente, por meio de representações, é
ir na contramão da visão da fé que devo ter. Porém, na manifestação dEle, O
veremos com os olhos glorificados, capacitados por Ele e pelo Espírito para O
contemplar e sermos transformados a partir dessa contemplação. A visão de uma
representação de Cristo, fruto da imaginação de homens, pode me transformar?
Não, não pode! E se não há poder transformação, as representações e imagens de
Cristo promovem uma visão falsa, tola e inútil. Nem mesmo a visão da imagem
física de Cristo era suficiente para salvar, por exemplo, os fariseus que O viram.
Apenas a visão da fé, que não precisa de (na verdade, despreza e descarta as)
imagens é que salva. Por isso, Mark Jones, comentando sobre o ensino de Owen
acerca dessa visão beatífica, disse: “o entendimento apropriado da visão beatífica
devia impedir o povo de Deus de usar imagens de Jesus. [...] a glória real de
Cristo não pode ser capturada pela imagem e [...], portanto, distrai nossos
pensamentos da fé para a pretensa vista” (grifo nosso).[15] Conforme o Senhor
falou, por meio de Isaías, imagens [de Deus] causam confusão. Segunda verdade,
o livro de Apocalipse nos dá um relato da manifestação do Cristo Glorioso e
Glorificado a João. Diante da visão dEle, João caiu quase como morto
(Apocalipse 1.17-18). Ele foi incapaz de contemplá-lO. Quando João descreve-
O, no mesmo uso da linguagem dos salmos, é feita uma descrição “pitoresca”
que, obviamente, não foi feita para ser representada (Apocalipse 1.12-16). Há
uma glória irrepresentável por imagens. Então, perguntemos: “podemos [de fato]
capturar de alguma forma a glória do Deus-Homem Exaltado em uma imagem?
[...] Sua glória precisa necessariamente transcender a imagem”.[16] Podemos
adorar uma representação de Cristo? Não podemos nem a fazer, quanto mais
adorá-la. Entretanto, diferentemente da contemplação de uma imagem falsa de
Cristo, “a visão de Cristo na consumação com certeza fará com que nos
prostremos diante dEle e O adoremos (Filipenses 2.9-11). Se não adorarmos uma
imagem de Cristo, porque ela não é o Cristo real, então, qual é o sentido de
confeccioná-las?”.[17] Por isso, John Owen, diante da beleza da glória
incomparável e irreproduzível do Filho, disse: A beleza da Pessoa de Cristo
representada nas Escrituras consiste em coisas invisíveis aos olhos da carne. Eles
são tais que nenhuma mão humana pode representar ou sombrear. Somente o
olho da fé pode ver este Rei em Sua beleza. O que mais pode contemplar nas
glórias incriadas de Sua natureza divina? Pode a mão do homem representar a
união de Suas naturezas na mesma Pessoa, na qual Ele é peculiarmente amável?
Que olho pode discernir as comunicações mútuas das propriedades de Suas
diferentes naturezas na mesma pessoa que delas depende, de onde Deus deu Sua
vida por nós e comprou Sua Igreja com Seu próprio sangue? Nestas coisas, ó
homem vaidoso, consiste na beleza da Pessoa de Cristo para as almas dos crentes
e não naqueles golpes de arte para os quais a imaginação guiou uma mão hábil e
um lápis. E que olho de carne pode discernir a habitação do Espírito em toda
plenitude na Natureza Humana [de Cristo]? Sua condescendência, Seu amor, Sua
graça, Seu poder, Sua compaixão, Seus ofícios, Sua aptidão e Sua habilidade para
salvar pecadores podem ser decifrados em uma tábua ou gravados em madeira ou
pedra? Por mais adornadas que sejam essas imagens, por mais embelezadas e
enriquecidas que sejam, elas não são aquele Cristo que a alma da noiva ama; eles
não são meios de representar Seu amor por nós; ou de transmitir nosso amor a
Ele. Elas apenas desviam as mentes das pessoas supersticiosas do Filho de Deus,
para os braços de uma nuvem, composta de fantasia e imaginação (grifo nosso).
[18] E a terceira e última verdade está em Apocalipse 9.20. Nesse texto, é dito:
“Os outros homens, que não foram mortos por essas pragas, não se arrependeram
das obras de suas mãos; não deixaram de adorar os demônios, nem os ídolos de
ouro, de prata, de bronze, de pedra e de madeira, que não podem ver, nem ouvir,
nem andar”. O último livro das Escrituras lembra novamente que os ídolos é que
são representáveis, não o Deus verdadeiro. Portanto, a partir de todo o NT, não há
nenhuma permissão para que imagem de nenhuma das pessoas da Trindade sejam
feitas. A História da Arte e História da Igreja Por último, antes da demonstração
confessional, quero trazer alguns breves argumentos a partir da História da Arte e
a História da Igreja. Quanto à História da Arte, quando consideramos todas as
pretensas representações da Divindade reveladas nas Escrituras, em particular, de
Cristo, percebemos a enorme variedade e variação entre elas. Isso não prova
apenas que o que é representado não é o Deus vivo e verdadeiro, antes o produto
da imaginação dos artífices; mas também mostra que cada “cristo” representado
possuía uma visão e um fim de uso filosófico por trás. Tomemos o “cristo
europeu” — “loiro, frágil, efeminado, pálido e dos olhos azuis”. Por que
representam Cristo, um judeu do Oriente Médio e carpinteiro assim? Há um
propósito de legitimação filosófica por trás, a saber: “Cristo é europeu; é católico
romano. Ele é nosso [no sentido carnal]”. E quanto ao “cristo abobalhado” das
revistinhas infantis? Que grande contraste desse com o Cristo do Salmo 45 ou
110. Ou ainda o “cristo das minorias” dos progressistas modernos? Em tudo isso,
há uma conformação de Deus à nossa imagem e não a nossa conformação a
imagem dEle. Há a construção de um ídolo que é segundo a nossa imagem, e não
segundo a Revelação — pois, o Deus que conhecemos segundo a Revelação não
pode ser representado; se Ele é representado, então, não é o Deus das Escrituras.
Nenhum desses “cristos” representam o Cristo verdadeiro que está assentado à
destra de Deus Pai e de onde há de vir para julgar os vivos e mortos. Tais artífices
da imaginação se estarrecerão e ficarão envergonhados (Isaías 44.9) com a
discrepância entre o Cristo real e suas representações mentirosas. Essa
discrepância revelará também o tamanho da inutilidade e da tolice de se insistir
na confecção dessas representações como úteis para algo, quando o Senhor diz
que são inúteis (Isaías 41.29; Jeremias 2.5). A História da Igreja também nos
mostra que, quando se abriu concessão para a mera representação artista;
avançou-se para a representação didática; depois, a representação para fins de
piedade e, por fim, a idolatria escancarada e legitimada. Uma pequena rachadura
no dique gerou uma inundação de apostasia. Isso não é nenhuma falácia lógica. É
a descrição do agravamento de um passo idólatra se tornando um estilo de vida
idólatra. O primeiro passo já era idolatria por natureza. Os passos seguintes
foram apenas o agravamento e o escancaramento da idolatria. Nossa
Confessionalidade — a fé que professamos Confessamos isso nas perguntas 107
a 110 do Catecismo Maior de Westminster e nas perguntas 49 a 52 do Breve
Catecismo de Westminster. É nisso que a Igreja Presbiteriana crê; é isso que
todos os seus ministros e presbíteros subscreveram crer e ensinar. O erro não está
nos que defendem esse ponto; não há neles exagero, radicalismo, xiitismo
(adjetivos que, comumente, estão na boca daqueles que são mais abertos em
relação a pontos doutrinários e morais para se referir àqueles que se mantém
firmes na posição bíblica). Há, na verdade, falta de ombridade e desonestidade
daqueles que, jurando algo e tratando um voto a Deus como nada, mentiram e
creem e ensinam o contrário. Estes é que perturbam a unidade e a paz da igreja,
fazendo polêmica no que é claramente afirmado e professado em nossos padrões,
resumindo o que é, mais claramente ainda, ensinado nas Escrituras. Por isso,
abaixo, transcrevo as referidas perguntas do Catecismo Maior de Westminster.
107. Qual é o segundo mandamento? O segundo mandamento é: “Não farás para
ti imagem de escultura, nem figura alguma de tudo o que há em cima no céu, e
do que há embaixo na terra; nem de coisas que haja debaixo da terra. Não as
adorarás nem lhe dará culto, porque eu sou o Senhor teu Deus, o Deus forte e
zeloso, que vinga a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração
daqueles que me aborrecem e que usa de misericórdia até mil gerações com
aqueles que me amam e que guardam os meus preceitos” (Êxodo 20:4-6). 108.
Quais são os deveres exigidos no segundo mandamento? Os deveres exigidos no
segundo mandamento são o receber, observar e guardar, puros e inalterados, todo
o culto e todas as ordenanças religiosas que Deus instituiu na sua Palavra,
especialmente a oração e ações de graças em nome de Cristo; a leitura, a prédica,
e o ouvir da Palavra; a administração e a recepção dos sacramentos; o governo e
a disciplina da igreja; o ministério e a sua manutenção; o jejum religioso, o jurar
em nome de Deus e o fazer os votos a Ele; bem como o desaprovar, detestar e
opor-nos a todo o culto falso, e, segundo a posição e vocação de um, o remover
tal culto e todos os símbolos de idolatria. 109. Quais são os pecados proibidos no
segundo mandamento? Os pecados proibidos no segundo mandamento são o
estabelecer, aconselhar, mandar, usar e aprovar de qualquer maneira qualquer
culto religioso não instituído por Deus; o fazer qualquer imagem de Deus, de
todas ou de qualquer das três pessoas, quer interiormente no espírito, quer
exteriormente em qualquer forma de imagem ou semelhança de criatura alguma;
toda a adoração dela, ou de Deus nela ou por meio dela; o fazer qualquer imagem
de deuses imaginários e todo o culto ou serviço a eles pertencentes; todas as
invenções supersticiosas, corrompendo o culto de Deus, acrescentando ou tirando
dele, quer sejam inventadas e adotadas por nós, quer recebidas por tradição de
outros, embora sob o título de antiguidade, de costume, de devoção, de boa
intenção, ou por qualquer outro pretexto; a simonia, o sacrilégio; toda a
negligência, desprezo, impedimento e oposição ao culto e ordenanças que Deus
instituiu. 110. Quais são as razões anexas ao segundo mandamento para lhe dar
maior força? As razões anexas para o segundo mandamento, para lhe dar maior
força, contidas nestas palavras: “Porque eu sou o Senhor teu Deus, o Deus forte e
zeloso, que vinga a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração
daqueles que me aborrecem e que usa de misericórdia até mil gerações com a
queles que me amam e que guardam os meus preceitos”, são, além da soberania
de Deus sobre nós e o seu direito de propriedade em nós, o seu zelo fervoroso
pelo seu culto e indignação vingadora contra todo o culto falso, considerando-o
uma apostasia religiosa, tendo por inimigos os violadores desse mandamento e
ameaçando puni-los até diversas gerações e tendo por amigos os que guardam os
seus mandamentos, prometendo-lhes a misericórdia até muitas gerações.
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físicos Loja Virtual E-books na Amazon Instagram: @editoranaderereformatie
Site: editoranaderereformatie.lojaintegrada.com.br E-mail:
naderereformatiepublicacoes@gmail.com [1] Considere também: CALVINO,
João. Institutas I.XI.1-16. [2] Adquira pelo link:
https://www.amazon.com.br/dp/B08CHNGHPW. [3] Todas, absolutamente todas,
as pessoas com quem conversei (e não foram poucas) sobre a doutrina e tive
oportunidade de ensinar, desde os discipulados em nossa igreja até em conversas
casuais, evocavam estes argumentos. Desde pessoas que os usavam para objetar,
até pessoas que possuíam dúvidas sinceras sobre a relação desses fatos. [4] Se
ainda houver dúvidas sobre a correta interpretação da Lei, considere as perguntas
99 e 100 do Catecismo Maior de Westminster. [5] O verbo ‫ צ ֵַחֽק‬está no Pi’el, que
é a forma ativa do intensivo. “Ele é utilizado para descrever uma ação
intensificada, repetida ou enérgica” (GUSSO, Antônio Renato. Gramática
Instrumental do Hebraico. São Paulo: Vida Nova, 2008. p. 135). Assim, no Qal,
este verbo significa meramente “rir”, “brincar” ou “debochar/caçoar”
(SCHOKEL, Luis Alonso. Dicionário Bíblico Hebraico–Português. São Paulo:
Paulus, 1997. p. 559). No Pi’el, pode ser traduzido por farrear, divertir-se ou
acariciar-se (sexualmente). [6] Algumas versões, como a NVI, faz uma tradução
hermenêutica: “Tenho observado esse povo e vi que é um povo muito obstinado”.
De fato, “dura cerviz” denota “teimosia” e “obstinação”. Porém, ao fazer esse
tipo de tradução, a versão tira do leitor a singularidade do ensino que o Senhor
intentava nos dar pelo trocadilho de imagens e palavras. [7] Sobre esse conceito,
conforme é tomado em todas as partes das Escrituras, recomendo: BEALE, G. K.
Você se torna aquilo que você adora: uma Teologia Bíblica da Idolatria. São
Paulo: Vida Nova, 2014. Ou o resumo desta obra presente como um capítulo em
outra obra do mesmo autor: BEALE, G. K. O pecado como idolatria — o
processo de assemelhar-se à imagem adorada, seja para ruína, seja para
restauração do adorador. In: Teologia Bíblica do Novo Testamento: continuidade
teológica do Antigo Testamento no Novo. São Paulo: Vida Nova, 2018. p. 313-
332. [8] Para uma análise exegética mais extensa desse texto, veja: BEALE, G.
K. Você se torna aquilo que você adora: uma Teologia Bíblica da Idolatria. São
Paulo: Vida Nova, 2014. p. 87-92 [9] Ela também ensinará a mentira aos ímpios.
Recentemente, vi um filme que se passava no período viking, no qual, o pagão,
se referindo ao “Deus cristão” disse: “o deus deles é um morto pendurado em
uma tora de madeira”. As imagens são um empecilho para a verdadeira
evangelização. Foi exatamente pelo contraste das imagens dos falsos deuses com
o Deus verdadeiro que Paulo introduziu a pregação aos idólatras atenienses em
Atos 17. Paulo pode apresentá-lO como um Deus sem igual, que não é servido
por mãos humanas (Atos 17.24-25) — isso poderia ser facilmente constatado
pela ausência de imagens dEle. [10] Eu não recomendo este filme. Confesso que
o assisti pensando uma coisa e me surpreendi com outra totalmente diferente. De
qualquer forma, indo até o final — apesar da frustração — foi útil pela ilustração
que me legou. [11] Não há espaço para refutar a equivocada visão sobre a não
validade da Lei Moral no Novo Testamento. Para isso, considere: CFW XIX;
BCW 39–40; CMW 93–98. CALVINO, João. Institutas II.7-9; III.17. BOSTON,
Thomas. Of the Duty Which God Requireth of Man (1 Samuel 15:22). The Moral
Law, the Rule of Man’s Obedience. (Romans 2:14-15). The Moral Law
Summarily Comprehended in the Ten Commandments. (Matthew 19:17). In:
Works of Thomas Boston. Volume 2. KEVAN, Ernest. A Lei Moral. Recife: Os
Puritanos, 2000. BEEKE, Joel. O Uso Didático da Lei. Espiritualidade
Reformada: Uma Teologia Prática para a Devoção a Deus. São Paulo: Fiel, 2014.
FERGUSON, Sinclair. Somente Cristo: Legalismo, Antinominismo e a Certeza
do Evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2019. Inúmeras outras obras ou trechos de
obras poderiam ser elencados aqui. [12] JONES, Mark. O Conhecimento de
Cristo. Brasília: Monergismo, 2018. p. 283. [13] CALVINO, João. Inst. I.XI.3.
[14] Sobre isso, veja: JONES, Mark. O Conhecimento de Cristo. Brasília:
Monergismo, 2018. p. 280-282. Veja também: JONES, Mark. Cristologia e
Piedade no Pensamento Puritano. In: Piedade Puritana. Natal: Nadere
Reformatie, 2022. p. 51-65. [15] JONES, Mark. O Conhecimento de Cristo.
Brasília: Monergismo, 2018. p. 283. [16] Ibid., p. 282. [17] Ibid., p. 283. [18]

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