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Uma geração

exaurida:

agricultura comercial e
mão-de-obra indígena
As razões nada simples para
o definhamento da
escravidão indígena em
paralelo à capitalização da
economia açucareira
Os índios

Tupinambás ao norte e
Tupiniquins (e Aimorés) ao
sul de Camamu.

Tabajaras/Tupinaês
remanescentes no sertão, em
especial no oeste baiano.
Agricultura de subsistência com poucas
trocas. Grande disponibilidade de alimentos.

“Nenhum povo ofereceu resistência mais


contínua e eficaz aos portugueses que os
aimorés, habitantes do Espírito Santo, Ilhéus
e regiões fronteiriças do sul da Bahia.” (p. 43)

Medo, admiração e repugnância dos


portugueses pelos Aimorés.
Terror constante até
meados do XVIII em
Ilhéus (Guaimurés), Porto
Seguro (Aimorés) e
Espírito Santo (Tapuias).

Desconhecimento,
perplexidade e
ressentimento.

Luta de Reconquista:
“Um reduzido punhado de
guerreiros investia com
tanto vigor que era capaz de destruir um engenho
de açúcar defendido por grupos com armas de
fogo.” (MOREL, 2018, p. 24)
A guerra foi predomi-
nante, mas ao longo
dos três primeiros
séculos também houve
negociações.

Até o XVIII só foram


derrotados nas
capitanias da Bahia e
de São Tomé/Paraíba
do Sul.
Presença constante em um território de 150 mil km2 entre os rios Pardo
(Canavieiras), Jequitinhonha e Doce. Dito “vazio”, “despovoado”; porção
de terra maior que as da Conquista no XVII.
“Subentende-se que os trechos em branco são
despovoados ou vazios. [...] Como se povoamento
fosse sinônimo apenas de colonização e que os
índios não constituíssem povoação, isto é,
habitantes de determinado lugar ou região”. (p. 29)

“Seriam os Aimorés invisíveis?”


Diferentemente dos
historiadores do
HGCB, do XX,
Bartolomeu Velho, o
cartógrafo do XVI,
via e fazia ver os
Aimorés -
dentre outros
povos
indesejados
pelos
portugueses.
Reações à economia europeia

Trato do pau-brasil, adaptação ao modo de


vida tupinambá.

Com a novidade das capitanias a demada por


cativos cresceu como nunca, e o custo destes
também.

Gândavo: “se os índios não fossem tão


caprichosos e dados à fuga, a riqueza do
Brasil seria incomparável”.
Escravos, camponeses ou
proletários

Coerção pelos colonos -> escravos.

Reduções jesuíticas -> camponeses.

Integração individual -> assalariados.


Conflitos entre a consciência e o
tesouro real. O que fazer com os
índios?

Brechas, vistas grossas em meio aos


conflitos entre colonos e jesuítas.

Afinal, qual é a razão de ser da


colônia?
Resgates de cativos dos tupinambás,
prisioneiros de guerra e - na maioria
das vezes - saltos ilegais nas matas.

Passados mais de 10 anos da


proibição da escravização do
indígena, em PE estes
representavam cerca de ⅔ da força
de trabalho dos engenhos.
As condições dos escravizados na
BA eram melhores que as de PE?
Força maior dos jesuítas.

Em depoimento de 1591 à
Inquisição, João Remirão diz que a
maioria de seus colegas senhores de
engenho não respeitava os
domingos e dias santos.

[Porto Seguro não serviu de lição?]


Indiferenciação entre cativos e forros.

Um sinal de que as agressões ao espírito,


ao modo de vida dos ameríndios, podia ser
tão ruim ou pior que as agressões ao
corpo: “Muitos índios querem ir com eles
[colonos] e servi-los, antes que estar na
aldeia” (p. 49)

Dificuldades na criação de um
campesinato na América portuguesa.
O desenho dos sonhos dos senhores de engenho.
Propriedades circundadas por canaviais a perder de vista,
depois aldeias que pudessem servir de fonte de mão de
obra esporádica, de alimentos e escudo contra indígenas
hostis.

Impôs-se a especialização geográfica. Produção de


alimentos se estabeleceu no litoral sul do Recôncavo, em
Camamu e Ilhéus, empregando predominantemente
população livre mestiça.
“Na Bahia, no início da década de 1580, as aldeias jesuíticas
forneceram cerca de quatrocentos a quinhentos
trabalhadores aos colonos, sob um sistema de trabalho
contratado. Os índios recebiam um parco salário mensal de
400 réis, que mal chegava a um terço do salário de um
barqueiro comum, contudo até mesmo essa quantia muitas
vezes nunca era paga. Ainda assim, os senhores de engenho
sentiam-se incomodados com o controle de seus
trabalhadores por jesuítas.” (p. 51)

Esforços oficiais em prol do assalariamento indígena.


Um contato funesto:
reajustamentos entre
portugueses e indígenas

Epidemias devastadoras entre 1559 e


1563. Varíola e sarampo. Efeitos
arrasadores nas regiões coloniais. Fome.

Fator importante na transição iniciada


em 1570 com a importação de africanos.
Paradoxalmente, ou não, a partir de
1570 ocorrem grandes apresamentos
para as aldeias da Bahia.

A mobilização de 800 Potiguares


para o enfrentamento aos Aimorés
em Ilhéus. A maior parte acabou
sendo integrada ao Recôncavo.
Arrependimento do administrador do
Engenho Santana.
Santidade e Resistência

Além das resistências cotidianas,


alguns movimentos coletivos de
grande impacto foram memoráveis.

A Santidade enquanto religião dos oprimidos.

Apropriações culturais.
No sul da Bahia a Santidade sobreviveu às
pressões até, pelo menos, 1627. Guerra
contínua contra o gentio na região.

Integração de africanos e crioulos fugidos.

Captura dos papas não era suficiente.

Segundo o governador Diogo de Meneses (1608-1612),


havia mais de 20 mil seguidores da Santidade aldeados.
Receio de colaboração externa.
Primeira
escravidão:

do indígena ao
africano
Sebastião de Rocha Pitta, 1720:
“Como os gentios do Brasil não têm por costume
o trabalho cotidiano como os da costa da África e
só lavram quando têm necessidade, vagando
enquanto têm que comer, sentiam de forma a
nova vida, o trabalhar por obrigação e não
voluntariamente, como usavam na sua liberdade,
que na perda dela e na repugnância e pensão do
cativeiro morrendo infinitos, vinham a sair mais
caros pelo mais limitado preço”
O trabalho com a documentação
dos engenhos e registros
paroquiais.

Apresentação das séries


documentais na página 64.
Mão-de-obra indígena:
terminologia, aquisição e tipos

Negro, indivíduo cativo, posição social


[inclusive, nos EUA, imigrantes italianos eram
considerados negros até o XX]

Forro, submetido, ainda que não fosse cativo.


Decréscimo populacional,
particularmente no sul da Bahia.

Pestes, ataques de Aimorés, fome,


desorganização do sistema produtivo
colonial.

Combustível extra nas tensões entre


colonos e jesuítas. Queixas à Lisboa.
Costas quentes dos proprietários dos
engenhos de Sergipe (Recôncavo) e
Santana (Ilhéus) favoreceu maior
colaboração dos jesuítas.

Emprego de índios livres/aldeados


em atividades secundárias e pontuais.
Escambo e salários.
Composição étnica da
população escrava
indígena

A transformação dos nomes.

Mistura de indígenas de povos


diferentes foi contingente ou
deliberada?
Distribuição etária e de gênero,
notavelmente similar à dos cativos
africanos.

Unidades familiares.
Improdutividade.

Emprego das mulheres nas


atividades agrícolas de subsistência.
Aculturação e interação

Emprego de indígenas no cultivo da


mandioca como introdução ao
trabalho na grande lavoura.

A adoção de nomes portugueses,


novo status.
A grande importância dos batismos e da
instituição do compadrio. Proteção. Busca de
padrinhos brancos, que pudessem interceder a
favor de seu filho (mesmo contra o seu dono).
Para se pensar a diferença entre quem auxilia e
quem cuida - madrinhas geralmente eram da
mesma categoria racial das mães.

Endogamia - mais social que étnica, mas sendo


sempre predominante a paternidade branca.
Filhos mamelucos.
A velha sedução pela cultura dos
subordinados. “Quanto mais distantes das
áreas densamente povoadas ou das cidades
costeiras, maior a tendência de os colonos e
seus descendentes adotarem costumes índios.”
(p. 67)

Adesões e conversões à Santidade de


adolescentes mamelucos e portugueses.

Domingos Fernandes Nobre, o Tomacaúna.


Dos indígenas aos africanos

Destaque das duas primeiras décadas do


XVII, sobretudo no período de trégua
com a Holanda. Regularização do trato.

A familiaridade dos portugueses com os


africanos. Emprego em trabalhos
domésticos e especializados.
“Os africanos sem dúvida não eram mais ‘predispostos’
ao cativeiro do que índios, portugueses, ingleses ou
qualquer outro povo arrancado de sua terra natal e
submetido à vontade alheia, mas as semelhanças de sua
herança cultural com as tradições europeias
valorizavam-nos aos olhos dos europeus. A
suscetibilidade dos índios de todas as idades às doenças
europeias aumentava o risco do investimento em tempo
e capital para treiná-los em trabalhos artesanais ou de
fiscalização.” (p. 70)
O hiato salarial entre o trabalho ameríndio
e o africano, independentemente da
condição civil (livre, forro ou escravizado).

Guerra e preconceito. Relutâncias.

O mesmo se deu no México do XVI (dentre


espanhóis) e na Carolina do XVIII (dentre
ingleses). Valorização maior do africano
era da ordem de 3 a 4 vezes em
comparação com os nativos.
Fatores: disponibilidade regular do
mercado (aspecto subordinado à produção
colonial); maiores dificuldades para as
fugas e resistências; preconceitos contra os
nativos; produtividade maior dos
trabalhadores importados.

Em fins do XVI, a BA contava com 3 a 4


mil cativos africanos e três vezes mais
cativos indígenas. Proporção exatamente
inversa entre o preço médio de um cativo
africano (20$000) e o de um índio adulto
(7$000).

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