Você está na página 1de 29

FICHAMENTO DO LIVRO “ÍNDIOS NO BRASIL: história, direitos e

cidadania” – Manuela Carneiro Cunha.

BOLSA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA ART. 171 – UNIEDU

João Venâncio Schiessl Scherer – Bolsista.

Alexandre Assis Tomporoski – Orientador.

Trabalho desenvolvido a partir da leitura do Livro acima citado, e que


serve de referencial Teórico ao Projeto de Pesquisa “De Bugres a Invisíveis: um
Estudo sobre as populações indígenas no território do Contestado”.

CUNHA, Manuela Carneiro da. Índios no Brasil: História, direitos e cidadania.


São Paulo: Claro Enigma, 2012.

INTRODUÇÃO A UMA HISTÓRIA INDIGENA

PÁGINA ENTENDIMENTO
8/9 O livro inicia-se com um a cit ação em que se ret rat a a gigant e diferença ent re

o que os Europeus erigiram ao passar dos séculos e ao que os Indígenas não

davam a m enor im port ância. Assim os navegadores ao ver t am anha beleza

natural pensaram cont emplar o paraíso e nom earam os diversos lugares a que

chegavam bat izando assim a t erra ant es dos seus habit ant es, e nom eando a

t erra t omou-se posse dela.

Dessa form a, pela “ port a dos fundos” ent raram os índios na Hist ória do

M undo. A consideração desses seres descobert os com o homens at est ados pela

sant idade Papal, gera um a nova quest ão – de onde vieram t ais homens – Seriam

descendent es de Noé, dos mercadores de Salomão que viajavam em busca de

ouro, ou das t ribos perdidas de Israel? Se assim forem , como cruzaram o

Oceano? Haveria no passado um a comunicação ent re o novo e o antigo mundo?

Ou vieram esses a deriva? Est as quest ões foram debat idas por anos e at é hoje

ainda não foram por com plet as respondidas, se houveram diversas rot as de

penet ração, ou som ent e pelo est reit o de Bering e ainda quando a fizeram?

9/10/11 ORIGENS – Sabe-se que em um período glacial onde o nível do


oceano haveria baixado em torno de 50 metros num período entre 35 mil
e 12 mil anos, deixando assim aflorar o estreito de Bering possibilitando
a travessia a pé da Ásia para a América. Sobre o período anterior a 35
mil anos nada se sabe, por isso aceita-se a hipótese de que entre 14 e
12 mil anos atrás teriam migrado asiáticos do nordeste da Ásia para a
América. Há também a possibilidade de entrada marítima se é verdade
que Austrália foi povoada por homens que se lançaram ao mar e
navegaram 60km da Ásia até lá a 50 mil anos atrás.
Há controvérsias quando adicionados os fatos que os sítios
arqueológicos mais antigos existentes de aproximadamente 12 mil anos
estão mais ao sul da América como o caso dos existentes no Piauí,
dando a entender que este foi colonizado antes do Norte. Se do ponto de
vista arqueológico se diferem as hipóteses no estudo de linguistas
também há conflitos, enquanto Nichols afirma baseada na diferenciação
de estoques linguísticos, afirma que o povoamento ocorreu entre 30 e 35
mil anos, Greenberg mantém os 12 mil anos e estabelece a existência de
3 línguas colonizadoras. Daí não se pode descartar outras fontes
populacionais e outras rotas de acesso além do estreito de Bering.
11/ PRESENÇA DA HISTÓRIA INDIGENA – Na época em que foi escrito
o livro se tinha uma noção maior do que não se sabia a respeito da
história indígena do que daquilo que realmente se sabe, o que foi
desenvolvido na literatura permite imaginar o que poderia ter ocorrido,
mas não preencher as lacunas do que acontecerá.
A maior ilusão é pensar que os indígenas eram seres primitivos. Por
não haver um Estado, e uma construção semelhante a europeia, por
anos foi considerado que a estagnação dos povos do novo mundo eram
o passado das sociedades mais “evoluídas”. Segundo Varnhagen, estes
povos não possuíam história e estavam ainda na infância.
O presente etnográfico e a ausência de História das sociedades
indígenas nos dão uma ilusão de sociedade virgem, onde remontam que
o que são hoje é semelhante ao que eram antes de Cabral.
12 A História está onipresente, seja moldando unidades e culturas novas,
residente numa trajetória compartilhada como no agrupamento piro/
conibo/ cambeba, que forma a cultura ribeirinha Ucayaki, de três famílias
linguísticas diferentes – Arawak, Pano e Tupi, é o caso das fusões
Arawak-Tukano do alto Rio Negro, das culturas neoribeirinhas do
Amazonas, das sociedades indígenas chamadas como coloniais, por
serem geradas pela colônia.
A História está presente nas sociedades indigenistas isoladas fruto
dos “refratários” grupos formados por índios foragidos de missões ou
colonos que se “retribalizavam” ou aderiam a grupos independentes. Os
Mura reuniam diversas etnias. Os Xavantes quando eram contatados
fugiam. Havia o contato mediatizado por objetos como machados,
miçangas, que percorriam imensas extensões e geravam uma certa
dependência, esses objetos e os micro-organismos invadiram o Novo
Mundo numa velocidade superior à dos homens que os trouxeram.
13 A História está presente na perda de diversidade cultural, e
acentuação de microdiferenças que definem a identidade étnica,
resultando de um possível processo de atomização percebidos em
estudos de caso em reagrupamentos de grupos linguisticamente
diferentes em unidades culturalmente semelhantes e etnicamente
diversas como o exemplo as do alto Xingu e do alto Rio Negro. Os grupos
da língua Jê parecem ter ficado imunes a estes conglomerados. Hoje a
sociedade indígena brasileira é fragmentos de um tecido social, mais
complexo e abrangente que cobria o território como um todo.
Acima de tudo a História está presente na relação dos homens com a
natureza. As sociedades indígenas amazônicas hoje são igualitárias e de
população diminuta. Muito se estudou para explicar essa característica,
uns acharam ser um modo de proteção a emergência do Estado, cogitou-
se a que a delimitação demográfica foi resultado de uma limitação
ambiental como a infertilidade dos solos, diminuição do potencial agrícola
e de proteínas animais. A arqueologia deu conta que por muito tempo a
região amazônica foi habitada por populações numerosas e sedentárias,
populações que não são resultado da difusão de culturas avançadas, não
são produto da natureza, antes suas relações com a natureza são
mediatizadas pela história.
14 MORTANDADE E CRISTANDADE – Vários povos indígenas
desapareceram do encontro com os navegadores, fruto de micro-
organismos e da ganância e da ambição do capitalismo mercantil, capaz
de reduzir uma população na casa dos milhões em 1500 para 800 mil
hoje.
“Um dos maiores cataclismos biológicos do mundo” (Dobyns), foi tido
como o que dizimou os indígenas visto que não tinham resistência as
doenças e trazidas pelos europeus. Os micro-organismos incidiram num
mundo socialmente ordenado e social e ecologicamente devastaram a
vida.
15 Os aldeamentos feitos por missionários tiveram peso decisivo, entre
1562/64 sarampo e varíola assolaram aldeias da Bahia, matando índios
tanto de doença quanto de fome. Batismo e doença o que lembra Fausto
ficaram gravados no espirito dos Tupinambá. Os aldeamentos não se
reproduziam biologicamente, e sim predatoriamente na medida em que
os índios eram trazidos sucessivamente para preencher as lacunas
deixados pelos mortos.
Outros fatores que contribuíram para a mortandade foram as diversas
guerras provocadas pela sede de escravos, e a fome que vinha com elas,
a desestruturação social, a fuga para regiões que não tinham
conhecimento dos recursos e haviam de enfrentar os habitantes, a
exploração do trabalho indígena.
16 Dos poucos estudos demográficos relativos a estes fatores um
elucidativo, Maeder analisa a população guarani no período de 1641 a
1807 após o termino das expedições paulistas de aprisionamento de
índios e resulta dessa pesquisa que os períodos de maior mortandade
foram os de maior mobilização de homens pelos poderes coloniais, disso
resultam a fome haja vista a desestruturação agrícola e as pestes.
A AMÉRICA INVADIDA – As estimativas populacionais indígenas em
1492 são assunto de grande controvérsia. A autora apresenta um quadro
de Denavan onde mostra que na América do Sul a população chegava a
8,5 mi com uma densidade de 14,6 habitantes por km², muito próxima
comparando a península ibérica na mesma época que era de
17habitantes por km².
17 Bem servida pelos trabalhos da escola de Berkley a América tem
dados mais confiáveis que os da Europa, onde estima-se que haviam de
60 a 80 milhões de habitantes, como as estimativas aqui são de 100
milhões vê-se que com um punhado de colonos dizimou-se um
continente muito mais populoso.
Dentre as divergências há concordância num mínimo de população
em 1650, mas as estimativas de depopulação no período 1492-1650
variam de um quarto para Rosenbalt a 96% para Dobyns.
18 Se foi real a estimativa populacional que se tem hoje das Américas na
época se esvai a imagem de que ela era pouco habitada, e como sita
Jennings (1975) a América foi invadida e não descoberta.
POLÍTICA INDIGENISTA – Na primeira metade de 1500 os índios
foram parceiros comerciais dos europeus, trocando ferramentas e
animais exóticos por pau-brasil. Com o primeiro governo geral do Brasil
as relações se alteraram pelos interesses europeus que envolviam
colonos, governo e missionários que mantinham segundo Taylor uma
complexa relação de conflito e influência.
Deixando de lado o escambo os colonos precisavam de mão de obra,
canoeiros e soldados. Um velho índio tupinambá em torno de 1610 disse
aos franceses que se estabeleciam no Maranhão: - assim como os
portugueses que se estabeleceram em Pernambuco, os franceses
faziam agora. No início queriam apenas traficar sem fixar residência,
19 depois diziam para os índios se acostumarem com a presença deles e
que ergueriam fortalezas para se defenderem e cidades para morarem
com os índios. Mais tarde disseram que não poderiam viver sem
escravos para trabalharem por eles, e os servirem, e não satisfeito com
os capturados em guerra escravizaram toda a nação. Assim aconteceu
com os franceses da primeira vez vieram para traficar, apenas visitavam
uma vez por ano, voltavam ao seu pais levando mercadorias para trocar
pelo que os índios necessitavam, agora já falam em se estabelecer,
construir fortalezas para defender-nos contra nossos inimigos. Para isso
trouxeram vários Morubixada (chefe) e padres. Em verdade estamos
satisfeitos, mas os portugueses fizeram o mesmo, como estes vocês
querem escravos, a princípio; agora os pedis e os quereis como eles no
fim[...] (d’Abbeville, Trad. Sérgio Milliet, [1614] 1975: 115-16).
A Coroa tinha seus interesses queria ver prosperar a Colônia e
garanti-la politicamente. Tinha interesse em aliados indígenas para lutar
com franceses, holandeses e espanhóis internamente e externamente
terem fronteiras vivas, formadas por grupos indígenas. Como no caso do
rio Madeira, era útil a presença de índios hostis para obstruir rotas fluviais
e impedir o contrabando.
20 Para a Coroa futuramente existiria um povo livre formado por brancos
e índios em um Estado consistente onde somente os negros seriam
escravos.
Os colonos e a Coroa eram conflitantes em seus interesses havia
ainda o complicador dos missionários Jesuítas. A igreja era diversa em
posições e haviam oposições entre o secular e o regular, a rivalidade
entre diversas ordens, chamadas de religiões no século XVII. No
padroado, o Rei exercia funções na hierarquia religiosa por delegação
papal conferindo assim poder religioso a Coroa.
O padroado era justificado pela obrigação de evangelizar a Colônia, e
sujeitava o clero ao rei, menos no caso dos Jesuítas que possuíam
independência financeira e ligação direta com Roma tinham uma política
independente, e entravam em choque com o governo e os moradores –
ocasionalmente eram expulsos como houve em São Paulo em 1640, no
Maranhão em 1661-2 e 1684, por influência de colonos e de outras
ordens religiosas. O centro da discórdia sempre foi o controle dos
aldeamentos, sua direção e a distribuição dos trabalhos.
21 Entre os séculos XVII e XVIII foi a época de ouro para os Jesuítas,
iniciado pela influência que tinham junto a Dom João IV e ao papa, e pelo
interesse que os portugueses tinham de ocupar a Amazônia onde os
jesuítas possuíam vasto controle. Em 1759 foram expulsos pelo marques
de Pombal e em 1808 com a chegada de D. João VI a política indigenista
foi reduzida e teve sua natureza modificada: não se discordava sobre
escravizar os índios e ocupar suas terras. A partir do século XIX a cobiça
desloca do trabalho para as terras indígenas (J. O. Beozzo). No século
XX do solo passará para o subsolo indígena.
No início do século XX cria-se o Serviço de Proteção ao Índio em 1910.
Por acusação de corrupção é extinto em 1966 e em 1967 é criada Funai
Fundação Nacional do Índio e a política permanece atrelada ao estado e
seus interesses. Em 1970 há investimentos em infraestrutura e
prospecção mineral, época da Transamazônica, barragem do Tucuruí e
Balbina, do projeto Carajás. Tudo cedia ao progresso e os índios eram
realocados para longe das obras, e desembocou numa questão militar
em 1980, pois os índios eram um risco e um empecilho para a segurança
e o progresso nacional.
22 A presença indígena nas fronteiras era então um perigo, os mesmos
índios que no século XVIII foram barreiras.
No fim dos anos 70 multiplicam-se ONG’s de apoio aos índios, no
início dos 80 se organiza um movimento de âmbito nacional. Essa
mobilização garante grandes novidades obtidas na constituição de 1988
que reconhece os direitos originários dos índios, seus direitos históricos,
a posse da térrea que foram os primeiros senhores.
POLÍTICA INDÍGENA – Por muito tempo permaneceu a visão de que
os índios foram vítimas do sistema mundial, políticas e práticas que eram
externas e os destruíram. Além do fundamento moral há o teórico que
embasavam tal visão, pela história da metrópole, do capital. O resultado
paradoxal de tal visão foi somar eliminação física e étnica a sua
eliminação como sujeitos históricos.
Os índios foram atores políticos importantes de sua história. Sabe-se
que a metrópole usaram-se da inimizade entre grupos indígenas no
século XVI os franceses e portugueses aliaram-se respectivamente aos
Tamoio e Tupiniquins e no século XVII holandeses se uniram com
Tupaias contra os portugueses.
23 No século XIX os Mundukuru foram utilizados para banir do Madeira
grupos hostis e os Krahô, no Tocantins oara combater outras etnias Jê.
Esses tipos de coligação requerem uma política indígena, e interesses
próprios, como o caso de uniões comprovadamente indígenas entre
Conibos (Pano) aliados a espanhóis para contestar o monopólio Piro
(anawak) das rotas comerciais, a coalizão de Karajás, Xerentes e
Xavantes que derrubou o presídio de Santa Maria no Araguaia são
exemplos da amplitude da política indígena.
Essas coalizações são resultado da fragmentação étnica. Pela falta
de estudos da fragmentação destaca-se a descrição Turner mostrando a
articulação da política externa com a política interna dos grupos Kayapó
ao longo de décadas, na aquisição de armas, separação e estrutura
social. A história local é elemento importante do conhecimento
etnográfico.

24 OS ÍNDIOS COM AGENTES DE SUA HISTÓRIA – A concepção de


uma consciência histórica em que os índios são sujeitos e não apenas
vítimas é nova somente para nós visto que para os índios o contato com
o homem branco são produto de sua própria vontade.
A gênese do homem branco difere na mitologia indígena de outros
estrangeiros e inimigos pela desigualdade no poder e na tecnologia. O
homem branco seria um mutante indígena surgido do próprio grupo. A
desigualdade bélica é fruto de uma escolha equivocada dos índios. Os
Krahô e os Canela por exemplo preferiram o arco e a flecha a espingarda
e o prato. Outros mitos semelhantes existem nas tribos Waurá,
Tubinamba e para os Kawahiwa os brancos são os que aceitaram se
banhar na panela fervente de Bahira: permanecem índios os que se
recusam. O tema recorrente é que sempre foi uma escolha indígena, não
sendo vítimas de forças externas, mas agentes de seu destino. Mesmo
escolhido mal permanece a dignidade de terem escolhido a própria
história.
25 A etno-história do contato indica que os índios pensaram a sua forma
o que lhes acontecia, que tiveram escolha e que as escolhas tiveram
consequências.
IMAGEM DE INDIOS DO BRASIL: O SÉCULO XVI

PÁGINA ENTENDIMENTO

28 / 29 São diversos os relat os sobre os índios firmadas no século XVI, na lit erat ura,

iconografia, desdobram entos morais e filosóficos. As leis vindas da reflexão

t eológica e jurídica, passada à era do escambo, um a ordenação das relações

coloniais, a conquist a t errit orial e espiritual dos indígenas.

Os índios são os do espaço at ribuído pelo Papa no Trat ado de Tordesilhas,

fundament alm ent e form ada pelos grupos de língua Tupi e Guarani. Como

cont raponto há a figura do Aimoré, Ouet eca, Tapuia, aqueles que os Tupis

acusavam de barbárie.

PRIM EIROS OLHARES – Nos primeiros 50 anos de cont ato o Brasil passou

despercebido vist o à fascinação dos portugueses pelo orient e. Verifica-se na

poesia de Camões no ultimo canto dos Lusíadas quat ro versos sobre o pau-

brasil, só em 1570 que Gandavo escreve obras que incent ivam invest im ent os e

a imigração para o Brasil. O int eresse português est ava concent rado nas índias

enquanto aos demais colonizadores o fascínio era pelo novo mundo.

A belíssim a cart a de Pero Vaz de Cam inha a D. M anoel só é publicada em

1773 e os let rados europeus só souberam da exist ência do Brasil e seus

habit ant es por cart as enviadas por Am érico Vespúcio a Lourenço de M édici.

As ideias de paraíso e de inúm eros t esouros é propagada desde o Diário de

Viagem de Colombo, m esm o que bebessem em m itos e alim ent assem o

im aginário dos descobridores t inham veracidade e escrúpulos mais do que

m uit os relatos post eriores.

30 Os navegadores elaboram relatos da população que encont rou no Novo

M undo como gent e sem crença, inocent e e dócil para convencer os reis

cat ólicos da facilidade do dom ínio das t erras fért eis e ricas em ouro e

esp eciarias.

A cart a de Caminha é um relat o de 22 de abril a 10 de m aio de 1500, e narra

a progressiva descobert a de habit antes. Como Colombo à prim eira vist a relat a

que os índios vão nus e imberbes, no m ais se engraça sem vergonha pelas

“ vergonhas” das índias dizendo fariam inveja as europeias.


Essa imagem de nudez dá a ideia de inocência aos índios. Caminha ret rat a a

candura e ingenuidade com ercial dos índios quando os port ugueses t inham

sed e de ouro e prat a.

31 Na visão de Cam inha os índios não eram domest icados e não sabiam

m anipular plantas e anim ais, cogit ava que não t inham nem casa. Essa ideia t ão

fort e não lhe perm it iu ver as redes, jangadas e a agricult ura indígena. Para

Cam inha eram selvagens por não t erem chefe e nem crença, com para os índios

eram a argila moldável.

Um a segunda expedição percorreu a t ot alidade da cost a em 1501, Vespúcio

relat a que passou 27 dias comendo e dorm indo em m eio aos “ anim ais

racionais” desse Novo M undo, é ele quem complet a o invent ário básico e cunha

o t erm o índios. Ret rata aqui pela prim eira vez a ant ropofagia, e não os toma

m ais como t ão ingênuos, pois vivem em guerra com seus inim igos, por razões

m ist eriosas, por não dem arcarem t erras e não cobiçarem escravos, por

ignorarem o que seja cobiça, roubo ou a ambição de reinar sobre os demais

32 A ideia de guerra é por vingança da mort e dos ant epassados, do mesmo

m odo que a ant ropofagia não é alim ent ar, mas pelo m esm o mot ivo.

Vespúcio reforça t ambém o mito da font e da juvent ude por perceber a

longevidade dos índios, est es cont avam o t empo por ciclos lunares e para

dem onst rar a sua idade usavam pedras, onde um velho índio sinalizou t er 1700

pedras o que tot alizaria 130 anos.

Com pequenos acréscimos Vespúcio reproduz Cam inha e fala que os índios

não tinham lei, nem fé, nem rei, e que eram senhores de si mesmo, que viviam

conform e a natureza e não conheciam a imort alidade da alm a. Est á é a ideia

que se t em dos brasileiros at é 1549 e m uit o mais t arde, por mercadores e

expedicionários.

33/34 A partir de 1550 divide-se a concepção da população ent re autores ibéricos

ligados a colônia – missionários, adm inist radores, moradores - a ibéricos ligados

ao escambo, para quem os índios eram m ais matéria de reflexão do que de

gest ão; e out ra que num a lut a religiosa pert ence a católicos e a prot est ant es.
Dent re as cat egorias exist em cont ribuições import ant es como a do

franciscano André Thevet que regist rou a cosmologia Tubinambá, em oposição

com o inim igo, Hesse, Hans St aden descreve a int eligências dos mesmos, o

calvinist a Jean de Léry que viveu por m eses junto aos Tupinambá, e relat a

hábitos dos colonizadores espanhóis, que aturdidos pela fome com em

enforcados em Buenos Aires, t ambém a cont ribuição do autor alem ão Ulrich

Schimidel que fornece um rot eiro gast ronômico das múlt iplas et nias inclusive

da dos Carijós.

34 O TEU E O M EU – Jean de Léry ressalt a a supost a ausência de propriedade

m at erial e cobiça ent re os Tupinambás, e critica as sociedades m ovidas pelo

lucro e o ent esourament o. Os Tupinambás não acumulavam , não t inham

herdeiros e part ilhavam a comida.

35 SEM F, SEM L, SEM R – Uma visão ambígua se instala após relat os de

Vespúcio e Caminha – seria o éden? Seria a barbárie? A ausência de política e

religião. Isto exalt a Gândavo ao dizer que os índios não tinham F, L e R no

alfabet o, pois não possuíam Fé, nem Lei e nem Rei.

36 Na França a carência de fé e crença não preocupa m as faz sonhar. O est ilo

de vida ao bel-prazer dos brasileiros é cobiçado pelos franceses e disso pensam

que o Brasil é o paraíso t erreal.

37 CÃES, CANIBAIS – Imagem emblem át ica e que se vulgarizou foi a do

canibalism o. Sebast ian M unst er erroneam ent e chega a sinalizar num mapa

ent re a bacia am azônica e a do rio da Prat a com a palavra Canibali. Nóbrega

t ambém cont ribuíra para essa visão comparando os canibais a homens com

cabeça de cães. Est a imagem fant asm a flutua por muito t em po no im aginário

m edieval. Som ent e Colombo os localiza um a vez quando opõe os caribenhos

que devoram os antilhanos.

ANTROPÓFAGOS, M AS NÃO CANIBAIS - A quest ão do canibalismo é t anto

léxica como semânt ica, um a vez que ao se t rat am de dois conceitos empregados

e que com o passar do t em po t ornaram-se sinônimos. Canibais são pessoas que


se alim ent am const ant em ent e de out ras pessoas, no caso dos Tupi est es

com iam seus inimigos após bat alhas e por vingança.

38 Thevet relat a que os m ais desumanos da am érica viviam ent re o cabo de

Santo agost inho ao M aranhão, est es t eriam na base de sua alim entação a carne

humana. Os Tupinambás com em por vingança, grande ódio, host ilidade ao

inim igo e não para mat ar a fom e. Do mesmo m odo Vespúcio ao relat ar que por

não t erem cães que auxiliassem na caça o que m ais comiam era carne hum ana,

m as relat a que a base da alim ent ação eram peixes e frut os do m ar.

A ant ropofagia era por excelência um a inst ituição dos Tupi que ao mat ar um

inim igo em seu t erreiro, norm alment e com um golpe na cabeça recebiam novos

nomes, ganhavam prest ígio, ascendiam ao casamento e at é a uma imort alidade

im ediat a. No ritual t odos da t ribo e seus aliados comiam o inimigo, m enos o

guerreiro que o m atou. A vingança era comer e não m at ar.

39 Para M ont aigne essas sociedades eram a m á consciência da civilização seus

juízes m orais, prova que exist e sociedade igualitária e frat erna, que ignora o

lucro, e fazem guerras não pela conquist a de t errit órios e riquezas, m as por

m ot ivos nobres. São regidos por leis naturais, e próximos da pureza natural. O

discurso moral opõe est á sociedade selvagem sem vínculos, com a de uma

sociedade corruptora e sanguinária.

40 Relat a M ont aigne que os índios est ranhavam que homens feit os

obedecessem a um a criança – o rei. Est ranhavam a exist ência de ricos e

m endigos.

SEM ELHANÇAS, DESSEM ELHANÇAS – De que os índios eram hum anos não

havia duvida, o mesmo at est a o Papa Paulo III em 1534, falt a é inseri-la na

gen ealogia dos povos, e o que se encont ra com o explicação é a noção da

continuidade, porque a hum anidade é uma só, e est a nova humanidade deveria

descender de Adão e Eva, continuament e de Noé. Nóbrega adm it e at é que os

índios lembravam -se do dilúvio o que se considera suficient e para at est ar sua

origem. Tam bém os índios t eriam sido visit ados pelo apost olo Tom é lem brado

por eles como Sum é ou Zomé.

41 A part ir das prem issas do dilúvio e do mit o de Sum é os jesuít as tornam


int eligível e t eologicam ent e aceit ável a hum anidade dos índios e est es por sua
vez encaixam os europeus em sua cosm ologia, com o profet as que Hans St aden,
saberá usar quando prisioneiro para se salvar.
A dessem elhança ecoa na França e na Inglat erra, sendo a perspect iva
renascent ist a, pelo livro “ O Selvagem ” de Jean de Léry em que ret rat a t odos os
horrores vividos no Novo M undo, ret rat a o índio com o canibal, como selvagem ,
deixando de lado os pontos sem elhant es, ideia essa t am bém de Shakespeare
que cria um anagrama ao índio de M ont aigne.
Têm diversas int erpret ações os jesuít as, não se preocupam t anto com a
crít ica, m ais com o julgament o do que inversam ent e parece sem elhant e.
42 A semelhança poderia causar ilusão que provem do dem ônio que faz da
sem elhança um arrem edo, as santidade, sant os ou caraíbas, os profet as que no
processo colonial assum em carát er milenar, são inspiração sua. Há nessas
sant idades uma compet ição para liderança espirit ual e m at erial. M as há
t ambém um esforço para abranger o dessem elhant e, de incorporar e t ornar
int eligíveis as crenças est rangeiras.
As crenças t ão fort es davam ao martírio dos jesuít as grandes st at us pois
com o relat am Anchiet a e Nóbrega chegam a rezar por mort e gloriosa, capaz de
fecundar a seara de alm as que est ava sendo plantada. Semelhança encont ra-se
nos índios que buscavam m ort e digna, que era em bat alha, nas m ãos do inimigo.
43 As m esm as cenas, o m esm o anim o e m esm a crença, mas com valores
diferent es e isso cega a sem elhança aos jesuít as.
O INDIO DOS JESUÍTAS – São vários gêneros de lit erat ura jesuít a na época
de cunho pedagógico, as cart as que são alem de um relat o assunto para
reflexão. O t eat ro pret ende fornecer ao índio um a nova autoim agem. O Diálogo
da conversão do gent io põe em cena dúvidas e preconceit os dos missionários,
e deixa t ransparecer que a visão deles sobre os índios não é unanime.
No inicio da missão (1549) Nóbrega louva o espírit o desint eressado dos
índios e por guardarem a lei nat ural.
44 No t eat ro feit o por Nóbrega encenam dois jesuítas leigos em que o int uito
era mot ivar para que os m issionários não desanimassem, m as fica claro t ambém
a vulgaridade do pensam ent o ent re os m esmos dist ante do que é
t eologicament e elaborado. Por não t erem reino os índios tinham de ser
convert idos individualment e. Não adoravam nada, careciam de fé, e o que
segundo Nóbrega era por sua facilidade de aceit ar as coisas novas. Também não
t inham leis que os t ornassem políticos, e de razão para ext irpá-los a rudeza.
45 Blázquez acrescent a a ant ropofagia e que os índios não t inham vontade de
salvar-se, com o um lado negro dessa nova hum anidade. Nóbrega dá crédito aos
índios com um a visão m ais hum anist a onde julga que descum priam a t rês ou
quat ro m andament os, m as viviam bem entre si.
Sem fé, m as crédulos é cont raditório. As carências são avat ares da ausência
de julgo, de um nom adism o ideológico e desnecessária organização polít ica.
46 A sujeição dos índios t em que se dar em t odos os planos, pois um a é
dependent e da out ra. Havia disput a ent re Xamãs e Padres para operar curas e
m ilagres, onde havia sem pre um a int enção de fazer algo m aior que os out ros.
Os padres não cont est avam a realidade dos milagres, mas sim a font e desses
poderes que não vinha de Deus, m as dos Dem ônios.
Léry e Debry difundem uma imagem dos índios atorm ent ados por demônios.
Anchiet a m ont a seus t eat ros onde dem ônios normalm ent e de t ribos rivais
im pedem as alm as de ir para o céu. Numa das versões chega a encenar o rit ual
m áxim o da ant ropofagia onde um prot agonist a mat a a um diabo com uma
cacet ada na cabeça.
47 LUXURIOSOS E SODOM ITAS – O t em a da sexualidade suscit ou grade
int eresse ainda que m uitos considerassem os europeus eram mais lascivos que
os índios. Os costum es como a poligamia, levirat o e avunculado, a liberdade
pré-nupcial e o ciúme das esposas, o rigor quant o o adult ério a hospit alidade
sexual, a iniciação sexual m asculina por mulheres m ais velhas e a
despreocupação com sucessivos casam ent os e separações não eram com uns
aos europeus, ainda assim os jesuít as debruçaram-se sobre est es cost um es a
fim de formarem fam ílias crist ãs. Precisavam reconhecer a prim eira esposa de
cada hom em para torna-la vitalícia. Porém as regras de aliança ent re os índios
cont rariavam os princípios católicos, onde os missionários foram levados a pedir
dispensa ao papa para algum as sit uações de parent esco.
A sodomia associada ao canibalismo era um t abu para os europeus.
48 Quanto a homossexualidade que era certa ent re índios e t ambém ent re
portugueses, não havia um est at ut o moral imperant e, nos casos relat ados por
Léry e Thevet diziam ser reprovada. Gabriel Soares, colono ret rat a que os
Tupinambás são luxuriosos e que não vem afront a pela homossexualidade e
t em por habito as orgias e a t roca de casais.
OUTRAS NAÇÕES DE ÍNDIOS – conform e adent ravam na colonização havia
relat os de índios leais e t raiçoeiros, e daí aparece uma política indígena, com
est rat égias próprias e um a política indigenist a.
No século XVI prevalece a visão et nocênt rica dos t upis. Denunciam-se os
Aimorés como bárbaros, relat a-se que são nômades, e que vivem da caça e dos
frut os da natureza, que t em fala t ravada e não é possível a escrit a, que fazem
49
armadilhas, são omófagos, e a sua ant ropofagia alim ent ar, habito est e
com partilhado com os Oit acás, ent re out ros. No caso dos Aim orés era um
canibalism o, vist o que t inham a carne humana por m ant imento e não por
vingança.
49 A ant ropofagia foi t ema de um a oposição clássica na época vist o que
acont eceu em guerras de religião na França onde católicos e calvinist as
at ribuíam uns aos out ros, cenas de ant ropofagia, crueldade, esquart ejament o
e suplícios. É como se a ant ropofagia tupinam bá figurasse m ais civilizada dent ro
desse gênero.
Em 1500 Caminha viu gent e, engenheiros dist inguiam gent io insubmisso de
índio e negro t erra, que t rabalhavam e os franceses que não se fixaram viram
selvagens.
50 No final do século se consolidam duas im agens a que exalt a pelos franceses
e a ibérica que o deprecia, respect ivament e uma de viajant e e out ra de colono.
POLÍTICA INDIGENISTA NO SÉCULO XIX
56 No início dest e art igo a aut ora ressalt a que reproduz part e da int rodução do
que foram as leis indigenist as e o uso da legislação, mas como est as foram
violadas represent am o pensam ent o indigenist a, deixando claro que os relat os
dos president es de província são m aterial de apoio, mas o que acont eceu
realm ent e est á na lit erat ura.
O século XIX foi o único que t eve t rês regim es políticos, sendo a colônia, o
im pério e o início da republica velha. Começa com o t ráfico negreiro e encerra
com vagas de imigrant es livres. Período de t ensão ent re oligarquias e surto de
cent ralização do poder. É o século que o Brasil a sua m aneira se moderniza.
A quest ão indígena deixou de ser de mão de obra e passou a ser de Terras.
No povoam ento ant igo apoderam-se das t erras, nas frent es de expansão e rot as
fluviais procura-se a m ão de obra indígena, mas o motor do processo é a
conquist a das t erras.
57 A mão de obra é t ransitória, vist o que exist em novas oportunidades.
Out ra mudança import ant e é onde se discut em as polít icas indigenist as,
deixando de oscilar ent re os int eresses da Coroa, moradores e jesuít as, com a
vinda da coroa para o Brasil os jesuít as ficam int eirament e a serviço do est ado.
Os indígenas sem represent ação só se manifest am por rebeliões, e event uais
pet ições ao imperador, ou ainda, por processos Judiciais. A quest ão indígena
t orna-se função da m aior ou m enor cent ralização polít ica e a desenvoltura do
poder aum enta muit o sendo localizada.
A quest ão indígena é discut ida de form a m ais host il a partir do momento
que os índios não são mais necessários como m ão de obra. Debat e-se se devem
ser ext erm inados os índios bravos, o que beneficia aos colonos, ou se devem
civiliza-los, e inclui-los na sociedade, solução propost a pelos est adist as para que
fossem incorporados a m ão de obra. No fundo a quest ão era se deviam t rat a-
los como hum anos ou animais.
58 SÃO HUM ANOS? – No século XIX volt a à t ona a quest ão da humanidade
indígena iluminada pelos princípios cient íficos onde dem arcava-se clarament e
o ant ropoide dos hum anos, e de onde vinham argumentos que o por exemplo,
o crânio de um botocudo, est ava ent re o de um orangot ango e de um hom em .
O primeiro crit ério era o da perfect ibilidade, onde o hom em se
autodet ermina, e se sobressai a natureza, defen dido por José Bonifácio, mas
Von M artius que viajou por grande part e do Brasil, e conhecia a et nologia e
linguíst ica indígena defendia a posição cont rária. A humanidade dos índios era
afirm ada oficialment e, m as int ernam ent e a ideia de best ialidade e fereza era
m uit o expressa. Bonifácio disse em 1823, que m uitos dos portugueses
im aginavam que os índios só t inham figura humana, m as eram incapazes de
perfect ibilidade.
59 UM DESTINO FUNESTO – A hist ória da evolução hum ana passa a figurar
dent ro da evolução natural e segundo cientist as da época nos continent es
americanos a vida era t ardia e não evoluía, vist o que os animais eram de menor
port e e os hum anos não tinham civilidade, o que faria com que atingissem a
ext inção.
60 No Brasil a t eoria acim a cit ada t eve dois defensores, Von M art ius e
Varnhagen que compara os índios e demais espécies a seres que não
sobrevivem a luz da civilização.
No final do século, porém novas t eorias dão conta que os índios são
primit ivos, t est em unhos de um a era pela qual os europeus já haviam passado,
com o se a infância do desenvolvim ent o, e que com o passar do t em po se
desenvolveriam e at ingiriam a organização social ocident al.
61 Como cont ra prova o projet o de Const ituição Posit iva de janeiro de 1890
declara que o Est ado é compost o da fusão dos element os europeus, africanos e
aborígenes, e que seria um dever t er relações am ist osas com est es, e t eriam
prot eção do governo nacional cont ra violência física e t errit oriais, sendo o
acesso de suas t erras solicit ado e obtido pacificament e.
CATEGORIAS DE ÍNDIOS – Os índios são subdivididos em bravos e domést icos
ou mansos t erminologia que enleva a sua anim alidade e errância. A
domest icação era t orna-los m ansos, aldeados e subm issos as leis.
62 Na cat egoria de bravos são incorporados os índios que guerreiam nas
front eiras do império, localizados nos afluent es do Am azonas, do Araguaia,
M adeira, do Purus, do Jauaperi e no fim do século no oest e paulist a e de zonas
de colonização alemã no sul do Brasil (Xoklengs).
A classificação administ rat iva dá duas cat egorias de índios a prim eira a dos
t upis e guaranis, virt ualm ent e ext int os ou assimilados, que figuram na imagem
que o Brasil fez de si, o índio bom e convenient e.
A Segunda cat egoria é a dos botocudos, índio vivo, guerreiro de reput ação
indomável e de host ilidade. Est es são Tapuia, os inimigos dos t upis no início da
colônia e consequent em ent e dos colonizadores. Naturalist as e viajant es se
espalham pelas t erras “ conquist adas” , a curiosidade que despert a faz com que
um príncipe alem ão viajando pelo Brasil chegue a levar um botocudo com o qual
fez amizade, e t ambém um crânio o qual foi est udado junt o a out ros dois
levados post eriorm ent e dos quais se concluem um muito próximo ao de
orangot ango e out ros absolut am ent e respeit áveis.
63 GUERRA OU PAZ – Ao longo do século houve t anto a brandura como a
violência. A fim de colonizar o vale do rio Doce no Espírito Sant o e nos cam pos
de Guarapuava o recém -chegado D. João VI, inaugura um a guerra cont ra os
Bot ocudos. Ant es dele ações violent as eram defensivas e t inham benefícios aos
que se sujeit avam a sociedade e ao crist ianismo.
José Bonifácio, com vist as em um projet o político m ais amplo pret ende
chamar os índios a sociedade civil e agrega-los a um povo que deseja criar. Para
Bonifácio era necessário t rat a-los com just iça e reconhecer as violências
com et idas. Essa just iça era a compra das t erras indígenas e não a sua usurpação.
64 Os meios brandos passam a fazer part e do discurso oficial, mas haviam vozes
dissonant e que est im ulavam a organização ofensiva, como no caso do minist ro
da Guerra, e do historiador Varnhagen, que incit a o uso da força e a ut ilização
dos mesmo como recom pensa aos que os cat ivarem , sua fixação e t rabalho
escravo.
Na prática, o que acont ece são desinfest ações e o est abelecim ent o de
presídios onde pret ender-se-ia inst alar núcleos de povoações, o combat e aos
índios logra formar aldeam ent os como reserva de m ão de obra e fornecedores
de lenha.
COM PETÊNCIA LEGISLATIVA – As oligarquias derrot am o projet o de Bonifácio
e D. Pedro que abdica forçadament e em 1834, as Assembleias Provinciais
passam legislar sem a necessidade de sanção imperial.
65 Com a descent ralização os governos do Ceará e Goiás deslocam expedições
ofensivas cont ra os índios para ext ingui-los, sendo propost o que saiam
pacificament e e sejam queim adas as suas lavouras para que não volt em ou se
lut arem morram e quem sobreviva seja escravizado.
VAZIO DE LEGISLAÇÃO – At é 1845 houve um vácuo legislat ivo em larga
m edida subsidiária de uma política de t erras. Com a revogação do Diret ório
Pombalino em 1978 houve um vazio só preenchido em 1845 com o
Regulamento acerca das M issões de cat equese e civilização dos índios, onde
t ent a-se est abelecer diret rizes gerais, m ais administ rat ivas que polít icas para o
governo dos índios.
Dada a devida urgência cinco projet os de deput ados a respeit o da política
indigenist a foram submet idos a vist as das cort es portuguesas para efet ivarem -
se na const ituição brasileira de 1822.
66 O projet o de José Bonifácio foi o m ais aclamado, e apresent ado com
pequenas modificações na assembleia independent e do Brasil, seus
“ Apont ament os para a civilização dos índios bravos do Brasil” , recebe parecer
favorável e seria publicado para discussão na assembleia de inst rução o que
m uit o se assem elha a uma prot elação. Seriam remet idas copias as províncias,
exigidas not ícias do andamento e m eios eficazes da realização. Som ent e t rês
anos depois foi lançada um aviso pedindo a t al situação e índole dos índios, as
t erras para o aldeam ent o, e as sugest ões para o plano geral. As respost as muito
diversas não propiciaram um plano geral e o m esm o foi ext into.
A legislação indigenist a global era de medidas am plas e perm anent es para
vários níveis de governo. M as os apontam ent os de Bonifácio que faziam par a
“ Represent ação a Escravat ura” , continham diret rizes que hoje soam ingênuas e
preconceit uosas. Pregavam a brandura, m as o sujeit avam ao t rabalho e aos
aldeam ent os.
67 Os apont amentos aprovados pela assem bleia const it uint e não foram
incorporados a constituição rest ando assim as províncias promover missões e
cat equese dos índios, dissolvida por D. Pedro I nossa primeira constituição não
m enciona a exist ência de índios.
Um grande plano de civilização dos índios é pat ente de diversos docum entos
no início do im pério. Em 1823 t om am -se providencias urgent es, m as o
aldeam ent o e civilização deixa-se para discut ir na const ituição. Em 1824 dá-se
regulam ent o int erino, que acaba longevo, para aldeam ent o do rio Doce, para
dar fundam ent os a grande obra de civilização. As províncias legislam por cont a
própria, em 1839 o IGHB lança t ema para dissert ação onde quest iona o m elhor
m odo para colonizar os índios, se conviria crist ianiza-los, ou out ro que t enha
m elhores result ados.
68 Apesar de ext int o em 1798 o Diret ório Pombalino parecer t er efeit o em
diversas províncias nesse vácuo legislat ivo, no Ceará é rest abelecido no mesmo
ano, no Rio é utilizado para exam inar o Regulamento das M issões de 1845.
O Regulam ent o das M issões é o único docum ento indigenist a do império,
m ais docum ento adm inist rat ivo, que pret ende aldear os índios e é ent endido
com uma t ransição para assimilação complet a dos índios. Depois dele só haverá
em 1970 out ro docum ento inovador, num abandono da concent ração e a
criação de int ernat o para crianças, t roca de ferram ent as, e designada a levar a
civilização aos seus parent es. O governo até prepara um programa de ensino de
Nheengat u, velha língua dos jesuít as.
ADM INISTRAÇÃO LEIGA OU M ISSIONÁRIA? - Em 1841 Antônio M . S. de Brito,
inspet or de missões no Pará, dado o abuso de com erciant es, desert ores e
crim inosos que se delegue aos m issionários a com pet ência de cont rolar os
forast eiros ent re os índios.
69 Bonifácio já havia favorecido essa ideia vint e anos ant es de missionários
orat orianos apoiados por m ilit ares. Essa disput a secular se arrast ará por m ais
de um século.
A solução encont rada pelo império é a adm inist ração leiga, mas t rat a-se de
um a solução ambígua, na falt a de leigos probos os missionários exerciam
t ambém a função de diret ores de índios. Em 1843 o im pério inicia uma
im port ação de capuchinhos it alianos para adm inist rar aldeias, mas o
recrut am ent o é deficit ário.
70 Os m issionários não t êm m ais a mesma autonomia em relação aos projet os
governam ent ais, ficam int eiram ent e a disposição do governo e do diret or do
aldeam ent o. Segundo relat ório de 1970 no Amazonas, os m issionários part iram
pela int erferência do poder local e das subvenções im periais.
Recorre-se a igreja sempre que o problem a é superior a organização do
governo, como acont eceu com guaranis no Paraná, e índios do Am azonas, em
Goiás, e no Pará. Os presídios inst alados são ladeados de aldeam entos
m issionários e segundo Januário Cunha Barbosa a cat equese é o meio m ais
eficient e de t razer os índios a sociabilidade.
71 TERRAS – a polít ica de t erras não é independent e da do t rabalho, pois busca
rest ringir o acesso a propriedades e convert er em assalariados um a população
independent e de libert os, índios, negros e brancos pobres.
DIREITOS ORIGINÁRIOS – A primazia dos índios sobre suas t erras lhes dá
preferência na escolha de onde ficar. Como diz em consult a a Câm ara de
Barbacena é injusto det erminar ao dono da casa onde ele deve ficar.
D. João VI ao declarar devolut as as tomadas dos índios em guerra just a,
im plica no reconheciment o dos direit os originários.
72 As t erras ocupadas pelos índios deveriam se est ender at é onde eles haviam
sido aldeados, t anto é verdade que em 1819 a coroa volt a at rás em um t ít ulo
de sesmaria dent ro da aldeia de Valença, por serem inalienáveis e não
devolut as, sendo nula sua concessão a sesmarias. Bonifácio t ambém afirm a em
seus apont am ent os que os índios são legít imos senhores das t erras que Deus
lhes deu.
Finalm ent e em 1850 na lei de t erras João M endes Jr., dá aos índios o t ít ulo
originário, não exigindo legit imação nem promulgação na lei de t erras.
SUBTERFÚGIOS E INTRUSÕES – Cont ra esses princípios serão ut ilizados todos
os subt erfúgios.
73 Será dito que os índios são errant es e não t em noção de propriedade, que
não se apegam ao mat erial, que são nôm ades e que não t em test am ent o dessas
t erras.
Ao cont rário do que se im agina os índios t em apego m at erial com o em caso
de Guarapuava em que índios recebem t erras diferent es das suas do governo e
não aceit am se dispondo a bat alhar para recuperar as suas.
D. João VI tom a a guerra just a como art ificio para dar novo t ítulo sobre as
t erras dos índios, o de devolut as, e t ambém para dar fundamento a escravização
dos m esm os.
74 Nessas t erras favoreciam o est abelecim ent o de colonos, milicianos,
fazendeiros, e aos pobres e est es ensinariam o t rabalho e a religião católica aos
índios.
M uit o depois da conquist a do Rio Doce as terras dos botocudos eram dadas
ainda a soldados da bat alha e do presídio para est abelecerem a at ração e
pacificação dos índios.
Deriva da ideia que os colonos que ganhassem t erras inst ruiriam os índios.
Daí o imperador permit e que além de formarem aldeias os governadores de
província doem t ambém sesmarias a quem pedir.
Civilizar era submet er as leis e obrigar ao t rabalho. Como os índios fugiam
para as mat as a t át ica era int rusar-lhe as m at as e cort a-las, a um desem bargador
coube a ideia de cort ar t oda a veget ação e dar aos ricos para que est es dessem
emprego agrícola aos índios. Um president e da província do Espírito Santo
recom enda a concessão de t erras a fim de isolar os índios para que busquem
recursos e se am oldem na sociedade ocident al.
75 Um a polít ica Pombalina visava mist urar est ranhos aos índios para assimilá-
los ao rest ant e da população, criando um a população livre brasileira. A
t ent at iva de quebrar o isolamento jesuít a, utilizava-se soment e o port uguês,
aldeias eram elevadas a vilas, eram dados nom es portugueses aos lugares e o
casament o e o est abeleciment o de moradores ent re os índios eram favorecidos.
UM A POLÍTICA DE CONCENTRAÇÃO – reunir e sedent arizar os índios sob
governo m issionário ou leigo era prat ica jesuíta necessária para cat equizar os
índios. Quant o aos colonos desejavam t er aldeament os próximos para
aproveit ar a mão de obra.
76 Foram const ant es na colônia a formação de aldeam ent os próximos as
cidades, daí conquist ou-se a primeira redução de t errit órios.
O aldeam ent o era convenient e pois t irava os índios de t errit órios
int eressados para agropecuária, e os realocava em locais onde seriam ut eis.
Est abeleciam os aldeament os em rot as fluviais e de t ropeiros, junt o a
inst alações m ilit ares e além de serem at endidos os int eresses de m oradores
locais.
77 Aldeam ent os de índios rivais causaram desast res com o a mort e de 28 índios
Vot oron e Cam é por índios Cayeré que na m esm a aldeia queim aram suas casas.
A cobiça por t erras por part e de câm aras municipais que pressionam para
que hajam poucos aldeament os, onde se reúnam o maior número de indígenas.
TERRAS DE ALDEIAS – com o passar dos séculos foi const ant e a dim inuição
de aldeament os de um a légua em quadra at é chegar a ¼ de légua em quadra.
Isso demonst ra a marcha de expropriação das t erras indígenas.
78 A LIQUIDAÇÃO DAS TERRAS DE ALDEIAS – Em 1832 espoliam-se as t erras de
aldeias para serem com ercializadas. As aldeias recebiam sesm arias e podiam ser
arrendadas, dest e lucro deveriam sust ent ar-se. Em 1833 ainda se dest inavam
os recursos aos índios.
79 Não demoravam os arrendat ários a pedir os t ítulos das sesmarias de
aldeam ent os em 1812 foram concedidos dois que em 1819 foram reafirmados.
Com o Regulam ent o das M issões só aum ent a o processo em curso, mesmo
havendo opositores a sit uação do arrendam ento de terras de aldeia sabendo
dos abusos com etidos, m as é vot o vencido e acaba sendo regularizada a
remoção de aldeias e sua reunião.
Com a lei de t erras em 1850 as áreas de aldeias são consideradas inalienáveis
e dest inadas a seu usufruto. A sit uação é t ransitória e por at o especial o governo
cede as t erras ao pleno gozo dos índios o que será const ant em ent e burlado.
Um m ês depois da promulgação da lei de t erras o governo incorpora t erras
de índios dispersos e confundidos em meio a população, ou seja, enquanto se
est abeleceram est ranhos em m eio aos índios para socializa-los usa o crit ério de
população não indígena e de assimilação para expropria-los.
80 A ident idade ét nica é ut ilizada t ambém para ident ificar o modo de vida dos
índios e expropria-los.
No Nordest e em quinze anos se nega a exist ência de índios e aldeias
identificáveis, e se ext inguem as t erras indígenas.
81 AS TERRAS DAS ALDEIAS EXTINTAS – segundo o Regulam ento das M issões as
t erras eram propriedade plena dos índios, mas após a Lei das Terras se arrast am
por t rint a anos as disput as ent re império, províncias e munícipios dando a
ent ender que seriam as t erras indígenas devolut as. No Regulam ento há que os
índios não dependiam de t ít ulo ou de pagar arrendament o. Em 1975 as Câm aras
M unicipais passam a poder vender t erras e usa-las para vilas, povoações e
logradouros públicos.
Com a proclam ação da república em 1891, as terras de aldeias ext int as
passam a pert encer aos est ados, sem jam ais serem declaradas devolut as. A
espoliação inicia-se com a concent ração dos índios em aldeament os, pelo
est abeleciment o de est ranhos em sua vizinhança, o aforament o das t erras para
82 seu sust ent o, e ext inguem -se as aldeias por serem os índios confundidos com a
população. “ Cada passo é um a pequena burla, e o result ado final é a
expropriação t ot al” .
82 TRABALHO –
Escravidão Indígena - Foi abolida a escravidão e abolida a abolição por
diversas vezes durant e os séculos XVII e XVIII. O NO século XIX oint uito principal
das guerras cont ra os índios era am ansa-los e subm et e-los ao t rabalho e as leis.
O t rabalho escravo perdurou at é 1850, t anto na agricultura com o na cort e. Com
a fom e índios chegavam a vender seus filhos por dez cont os de réis.
83 Tut ela – Aos índios de aldeia foi impost a a tut ela por administ radores ou
m issionários que dispunham da mão de obra e dos frut os de seu t rabalho.
Algumas t ribos escaparam a essa t ut ela. Ent re 1755 e 1757 os índios obtiveram
autonomia quando Pombal os emancipa da tutela dos jesuít as, m as ent ão
M endonça Furt ado inicia o Diret ório dos Índios a fim de governa-los at é que
possam por si m esm o governar-se, pois ao seu ver est es ainda eram m uito
rúst icos dado a má inst rução dos jesuít as.
84 Os diret órios são ext intos em 1798 por Cart a Régia de D. João VI, pela
primeira vez os índios são em ancipados e com parados aos dem ais habitant es e
deveriam ser cont rat ados por part iculares que os inst ruiriam, pagariam e
educariam . Est es órfãos por at ribuição de D. M aria I tinham privilégio de órfãos,
que seria a tut ela por um juiz para que fossem pagos e honrados os seus
cont ratos. Esse privilégio era est endido a out ros como os negros libert os e
recém -chegados após a proibição do t ráfico negreiro onde eram descarregados
no Brasil, e sem saber falar o português eram facilment e enganados e
m ist urados com escravos.
85 Tal lei vinha de encont ro aos int eresses de particulares que passam a gozar
de sua m ão de obra. Um a vez libert os os índios sob jugo do juiz de órfãos eram
dest inados ao t rabalho.
Além da tut ela de liberdade havia uma tut ela dos bens, que o est ado na
pessoa do juiz vela sobre seus aldeam ent os, o arrendam ent o de suas t erras e
os benefícios revert idos aos índios. Com o Regulam ento das M issões t ais
funções são dadas aos diret ores de província e aos de aldeam ent os. Também
cabia a est es designar os índios a serviços particulares e públicos e para que
fossem rem unerados. Os cont ratos dos índios eram feit os por juízes de órfãos
m esm o que m uit as vezes os diret ores t am bém o fizessem .
86 Apesar de reinst aurar adm inist ração dos índios que havia sido ab-rogada em
1798, o Regulamento das M issões não dá prazo para que sejam em ancipados
novam ent e. Soment e em 1854 lhes é concedido o pleno gozo das t erras, mesmo
assim est es serão espoliados de t erras que int eressam ao desenvolviment o.
RESISTÊCIA AO TRABALHO – Civilizar os índios t rat ava-se de faze-los
t rabalhar. Explorava-se o índio ao pagar m enos pela sua produção e ao vender
m ais cara as mercadorias. Eles t inham resist ência ao t rabalho e daí cria-se a
im agem de indolência.
87 Bonifácio faz com que se t enha uma visão diferent e a est e respeit o sendo
que os índios possuíam t erras vast as e abundant es não t endo a necessidade de
t rabalhar por não t erem vínculos a posse nem necessit ar de casa ou roupas.
Dessa análise, deve se sujeit ar novas necessidades aos índios e rest ringir sua
possibilidade de sat isfaze-las, diminuir seu t errit ório. Daí lhe incit am a usar
ferram ent as m anufaturadas de ferro, e a beber cachaça para que se
m odifiquem os hábit os.
88 A DISPUTA PELO TRABALHO INDÍGENA – a abolição do t rabalho escravo era
porque part iculares a burlavam , mas o est ado era abundant e em t rabalho
com pulsório indígena em seu próprio benefício.
O t rabalho para part iculares nunca foi proibido, só mudava quem
int erm ediava ent re diret ores de aldeias e juízes de órfãos, o que fazia os
senhores procurarem os índios por pagar-lhes menos que aos dem ais. Nem
m esm o no Regulamento das M issões o valor pela mão de obra foi fixado
som ent e se dizia que o t rabalho não poderia ser com pulsório. Em 1954 perm it e-
se o recrut ament o de índios no M aranhão por t rês anos, e seu pagamento
som ent e no t erm ino desse período. Em 1852 a recém-criada província do
Am azonas reest abelece a livre negociação com os chefes de nações selvagens e
os índios adquiridos seriam educados para volt arem as suas aldeias.
89 Saint Hilaire relat a que ao visit ar o Jequitinhonha não haviam m ais crianças
nas t ribos pois em 1823 foi concedido aos compradores 10 anos da vida dos
índios para educa-los e dest a lei result ou a venda de diversas crianças por seus
pais e o rapto de muit os para serem negociados.
OFÍCIOS DE ÍNDIOS, O ESTADO – No início do século XIX foram expedidas
diversas circulares para que fossem alist ados índios para a m arinha. Eram
com pulsoriam ente recrut ados no século XVIII.
90 Índios coroados foram ut ilizados para a dinam ização de índios Puri em
M inas. Eram utilizados em expedições bélicas e serviam-se mut uam ent e a
polít ica indígena e indigenist a.
Eram ut ilizados os mansos cont ra os agressivos e recebiam a m et ade do que
os dem ais soldados. No Paraná haviam aldeias de índios caçadores incumbidos
pelo governo de combat er os selvagens. No Pará e no Am azonas foram
utilizados para combat er os M ura. Era comum seu uso para combat er
quilombos.
Na época da independência foram utilizados e no Ceará, Pernam buco e Bahia
e parecem t er recebido isenção de impostos.
91 Em 1830 Kadiw éu e Guaikuru foram arm ados por habit ant es para roubar
gado no Paraguai, e anos mais t ardes na guerra do Paraguai sua part icipação
rendeu a dem arcação de t erras por D. Pedro I.
O uso dos índios era no que se t rat ava de t erras, apoio a inst alações m ilit ares,
e rot as comerciais. Est abeleciam -se aldeias onde se abriam est radas e
m antinham lavouras para abast ecer viajant es e servissem de m ão de obra em
geral.
Durant e a cabanagem foram utilizados índios Tupaias na época da
independência at é 1840. Foram usados pelas elit es para com os liberais. Várias
disput as part iculares t am bém foram t ravadas durant e a cabanagem , como por
exemplo a revolt a dos M aw é cont ra moradores de Luzéia ou os M ura cont ra
habit ant es de M anaus.
92 De form a genérica foram utilizados para povoar lugares remotos
reminiscência da política pom balina que t inha int uit o de form ar um povo
brasileiro unindo brancos e índios e das t radições de favorecer as front eiras.
Após guerra declarada D. João VI salient a que são meios de combater aqueles
que se opunham a m eios brandos de civilização para que não fiquem im ensos
sert ões desert os no m eio do t errit ório.
OS ÍNDIOS E AS LEIS INDIGENISTAS – Da legislação indigenist a já se sabe que
era a lei do mais fort e, mas t am bém houveram casos em que os índios
recorreram à justiça.
Em 1815 índios da Bahia na aldeia de Aram aris de Inhambupe de cima
prot est aram cont ra a espoliação de t erras que eles ocupavam a m ais de 100
anos. Em 1821/ 22 na Gam ela de Viana lograram just iça na dem arcação de suas
t erras. Em 1825 o capit ão mor de um a aldeia Xukuru denunciaa abusos
com et idos pelo diret or de um a aldeia e obtém decisão favorável do imperador.
93 Em 1828 na vila de at alaia em alagoas prot est a-se cont ra violências e invasão
de t erras da aldeia.
O que vigorou de 1798 a 1845 na aut ogest ão indígena foi ridicularizado pelos
cont em porâneos, por acharem que est e governo não t inha poder real. O
capit ão de um a aldeia do Ceará era desprezado enquanto seu hom ologo
branco, escolhido pelos ricos e det ent or de civis e milit ares era t emido, pois
t inha posse das t erras. Conceit o est e ilust rado por Capist rano de Abreu, onde
os índios eram juízes sem saber ler ou escrever, o escrivão era servido pelo juiz
índio, que cedia t ambém sua cam a e esposa, quando est ava em cessões da
t ribo. Os despachos eram feit os e assinados pelo escrivão.
94 Apesar dos preconceitos os índios eram responsáveis e eficazes e após 1945
quando os diret ores indígenas assumem como procuradores indígenas,
ext inguem -se processos de direit os dos índios.
TRÊS PEÇAS DE CIRCUNSTÂNCIA SOBRE OS DIREITOS DOS
ÍNDIOS.
100 A saber os t ext os que seguem rem ont am a 1978 onde a FUNAI subm et ida ao
m inist ério do Int erior passava por um a sit uação cont radit ória, vist o que a
inst it uição deveria defender os direit os dos índios e est ava sob autoridade de
um órgão cujo dever era gerar desenvolviment o. Isso geravam cust os
ambientais e sociais, que t inham carát er secundário ou ignorado, pois os índios
eram considerados empecilhos para o desenvolvim ent o.
Tent avam em ancipar os índios aculturados, mas a verdadeira int enção era a
de emancipar as t erras indígenas. A est e projet o houve m assiva oposição e o
m esm o foi engavet ado, sendo que volt a à tona por diversas vezes com
pequenas mudanças.
101 CRITÉRIOS DE INANIDADE OU LIÇÕES DE ANTROPOFAGIA – Quem é e quem
não é índio? Pergunt a inquiet ant e dos anos 1980, pois se t rat ava de uma
m odificação de dois art igos do Est atuto do Índio, o que definia índios e suas
com unidades e out ro que especificava as condições de sua em ancipação. A
m odificação pret endia resolver por decret o quem eram índios, e assim eliminar
índios incômodos, com o os que est avam aprendendo a percorrer os m eandros
da vida administ rativa, que poderiam ser separados de suas comunidades e
im pedidos de ent rarem em áreas indígenas. O est opim seria a autorização da
viagem do chefe M ario Juruna pelo TF im pedido pelo minist ério do int erior.
102 O Est at ut o do Índio seguia a convenção de Genebra que distinguia a
assimilação da int egração. Por assim ilação ent ende-se a dissolução dos
indígenas na sociedade e sua int egração os direit os a cidadania, o que não seria
a sua em ancipação. Os direit os a t erra, saúde e educação, mant er sua
autonomia, tudo de acordo com o direit o internacional. Os crit érios de
inanidade procurados pela FUNAI eram para que se livrassem dos índios, visto
que t anto para a ant ropologia social quanto para a ciência o conceit o de raça e
não servem para a definição de um grupo ét nico.
103 Raça não exist e, exist em cont inuidades hist óricas de grupos de uma
det erm inada origem , não se pode paut ar nisso que as form as cult urais
perm aneçam int act as com o passar do t em po. Para a ant ropologia social há um
único crit ério que define uma et nia e ele se dá pela dist inção que fazem de si e
de out ros grupos que int eragem . “ Exist em enquant o se consideram diferent es,
não import ando se est a distinção se manifest a nos t raços ou na cultura” . Assim
é o grupo quem aceit a ou recusa, eles t êm as regras para incluir ou excluir.
Port ant o comunidades indígenas são aquelas que t endo cont inuidade
histórica com sociedades pré-colombianas, se consideram dist int as da
sociedade nacional. Índio é quem pert ence a essas comunidades. Em últ ima
inst ancia soment e eles podem decidir quem lhes pert ence, e esse direit o que a
FUNAI queria ret ira-lo. Também é inserido no direit o int ernacional que índio
emancipado cont inua índio e det ent or de direit os hist óricos. Para a FUNAI a
emancipação seria como lavar as m ãos a seu respeit o.
A em ancipação t raz o m aleficio da exploração por part iculares como
soberanos das t erras de índios emancipados.
104 A quest ão de cont rariar o Est at uto do Índio em 1978 provocou o
engavet am ent o do projet o, haja vist a a oposição da opinião pública. M as em
1980 o intuit o era alt era-lo, para dar ao tutor o poder de sua classificação.
PARECER SOBRE OS CRITÉRIOS DE IDENTIDADE ÉTNICA – Prim eiram ent e a
autora t rat a do crit ério biológico que vê com o uma comunidade indígena, os
descendent es puros de uma de população pré-colombiana. Esse crit ério foi
refut ado pela ant ropologia social, um a vez que soment e em casos de um
isolam ento geográfico pode se m anter uma raça pura.
105 O que afet a fort em ent e est e crit ério é que a política indigenist a desde o
descobriment o, a colonização, as primeiras m issões jesuít as, o período
pombalino, houve a miscigenação sendo respect ivam ente, a curiosidade ent re
os que se conheciam motivo para copulação inicialm ent e, logo após frut o da
aliança de índios e portugueses, depois im post a por senhores de escravos na
t ent at iva de escravizar t am bém os índios, e o favorecim ent o de brancos que
casassem com índias promovido pelo est ado com o forma de criar uma
população homogenia. At ravés dos séculos a miscigenação foi est imulada e a
part ir de 1840/ 50 é utilizada com o crit ério para descaract erizar os índios e
expropriar suas t erras.
106 O crit ério da cult ura por sua vez diz que um grupo ét nico compart ilha valores,
form as e expressões culturais. Como exem plo uma língua exclusiva do grupo,
m as não crit ério imprescindível. Est e crit ério é sat isfat ório de modo empírico,
m as há dois pressupostos que devem ser excluídos, o da cult ura ser uma
caract eríst ica primária, pois, a m esm a deriva da organização do grupo ét nico e
o da cult ura part ilhada ser exclusivament e ancest ral. Não se pode afirm ar que
recorrendo aos t raços culturais podemos est abelecer sua identificação, nem
m esm o que são o mesmo grupo de seus ant epassados.
As t écnicas evoluem , a língua se modifica e os t raços culturais se alt eram de
acordo com a situação e as condições ecológicas que se apresent am no t em po
e no ambient e.
107 O que põe em cheque o crit ério da cult ura para verificar se índios são índios
é que com o passar do t empo os índios foram influenciados pelos colonos,
sendo modificada sua língua, a religião e seus cost umes, os hábitos alim ent ares
e a t ecnologia. A resist ência a essa int erferência preserva a ident idade do grupo,
assim se afirmam e diant e das perdas culturais m ant ém a singularidade e
continuidade do grupo.
O t erceiro argum ento é que m esm o derivando da resist ência t raços cult urais
que se realçam há a preocupação em quais ent re t odos seriam enfat izados.
O conceit o de et nia pela ant ropologia social define que grupos ét nicos são
organizações sociais em populações cujos m em bros se ident ificam e são
identificados pelos dem ais, sendo dist intos de out ras cat egorias da mesma
ordem .
108 Como cit a Darcy Ribeiro: “ os grupos sobrevivem além das t ransformações de
seu pat rimônio cult ural, pois são at ribut os ext ernos e produt os desse grupo. São
cat egorias ent re grupos humanos compost as por lealdades morais ant es que de
aspect os cult urais. ”
109 A lei 6001 de 19/ 12/ 1973 incorporou o conceit o de que índios são aqueles
que se consideram e que são considerados com o tal.
Origens e t radições são elaborações ideológicas que podem ser verdadeiras
ou falsas sem que se alt ere a identidade ét nica, e ajudam a conferir o que são
os grupos, com relação a sua identidade ét nica afim de ident ificarem -se ent re
si.
Como salient a Bart h o foco da pesquisa passam ser as front eiras sociais do
grupo e não as raciais e culturais. A ident idade étnica é, port anto, uma função
de aut o identificação e da ident ificação pela sociedade envolvent e.
110 Pode-se haver preconceit os regionais o que t ende a ocult ar a identidade,
m as est a não desapareceu da consciência do grupo nem da população regional.
A HORA DO ÍNDIO – inst alou-se a ideia de que os índios gozam de privilégios
e não de direit os, porque não chegaram a civilização, daí se sust ent a uma
prot eção que perm it e ou reprim e conform e as circunst ancias, e ainda t ent a
substituir a vont ade dos índios sem ouvi-los e respeit a-los.
Os direit os mínimos dos índios são as t erras, o de serem reconhecidos como
povo, e a cidadania a organização e represent ação.
111 SENHORES DAS TERRAS – o direit o fundam ent al vem de que os índios eram
senhores de suas terras ant es do descobrim ento e que os ibéricos pôr os
descobrir não eram passiveis de se considerassem donos do t errit ório, pois em
sit uação invert ida se os índios chegassem a Europa e por que razão se
declarassem donos de suas t erras.
Os próprios port ugueses declararam os índios com o senhores naturais de
suas t erras, sem necessit ar t ítulo ou t ribut o, Bonifácio declara que não deviam
serem t rat ados m au os índios, pois eram legít imos donos das t erras por herança
divina, e Rondon a relação dos ocident ais com os índios é de grande dadiva pois
usurparam as suas riquezas.
112 Jurist as perant e a cort e de Haia sust ent aram que ser índio é um título
congênito de posse t errit orial em cont rast e com a ocupação que é um t ítulo
adquirido. Port ant o o que há na constituição é o reconheciment o de um direit o
histórico.
TUTELA: A GRANDE DÍVIDA – a t ut ela é consequência da dívida, onde o
est ado é responsabilizado por guardar as t erras indígenas que ainda rest am , e
que após a liberdade, nas palavras de Rondon são um a vítim a social do descuido
perant e os princípios da moral e da razão. Daí deve-se respeit ar a organização
desses povos não lhes impondo t ransformar-se em t rabalhadores. Não é por
serem ignorant es que est ão tut elados, m as pela dívida histórica.
Do posit ivism o surge a responsabilidade de uma sociedade m ais evoluída de
acelerar o desenvolvim ent o dos povos em est ado t eológico. A m issão crist ã era
t ambém civilizat ória, e que paralela as noções de desenvolviment o são
inquest ionáveis.
113 A m et áfora de Comt e de que associava o desenvolvim ent o a espécie, fez com
que os ocidentais pensassem os dem ais povos como primit ivos e t est emunhos
históricos de est ágios ant eriores, de infância da hum anidade.
A evolução dos conceitos se dá t ambém com a das discussões,
primeirament e se discutia se os índios eram humanos, depois como humanos
se eram da m esm a espécie que os out ros povos, com o conceito sociológico
passam a por obrigação a tornar-se organizados com o os ocident ais.
114 INTEGRAÇÃO E CIDADANIA – Respeit a-se o índio com o homem, m as pede-se
que ele deixe sua condição ét nica, querendo que ele se desenvolva e t orne-se
com o nós. Nessa perspect iva int egração t orna-se assim ilação cultural, e isso é
algo nocivo quando confundido, um a vez que int egrar-se é ser ouvido, part icipar
at ivam ent e das decisões polít icas fazendo valer seus direit os específicos.
Inicialm ent e os índios foram reconhecidos como livres e isent os da jurisdição
dos port ugueses, e sem nem um t rat ado ent re as nações, porém só foram assim
t rat ados quando na busca das alianças coloniais e quando houve quest ão ent re
o marquês de Pombal e os jesuít as.
Só tiveram valor nos mom entos benéficos ao est ado, de rest o foram t rat ados
com o mão de obra, e hoje são supérfluos a serem subst ituídos por gado,
barragens e a exploração de m inérios.
115 OS POVOS DO BRASIL – na propost a da prim eira constituição republicana, os
índios eram reconhecidos dent re os povos diversos sob a suprem acia de um
est ado único, e dest e deveria m ant er com eles relação amist osa, garantir seus
direitos, e prot ege-los cont ra violência de suas pessoas e seus t errit órios.
Hoje os índios reclamam que se respeit em os direitos sobre suas t erras e
riquezas; que possam decidir sobre seu futuro e part icipar das decisões que os
afet am, t ambém que se reconheçam seus direit os à organização e
represent ação. Porém , ainda são invadidas suas terras sobretudo pelo est ado,
que art icula para que a t ut ela exercida pela Funai os obrigue a se calarem . Com
julgam ento favorável aos índios muda-se a lei, e se propõe que pela
int erpret ação em ancipem-se com pulsoriam ent e índios autônomos como forma
de punição.
120 O FUTURO DA QUESTÃO ÍNDIGENA
O modo de ent ender identidade e cultura genericam ente cham ado de
Platônico est as são coisas. A ident idade um horizont e alm ejado a part ir de um
m odelo seria assim uma essência, e a cult ura um conjunto de regras, valores,
posições previam ent e dados. Com o alt ernat iva a est a definição exist e, pois, o
m odo Heraclitiano, em que a ident idade seria como uma percepção de
continuidade, um a m emória e a cultura a possibilidade de gerar t raços em
sist emas et ernament e mut ável. Nest a perspect iva a aut ora desenvolve que a
et nicidade repousa na ident idade e o conceito de cult ura ao subst it uir o de raça,
herda a sua fixação (algo fixo). M ost ra utilizando a analogia ao t ot em ism o que
se podem pensar culturas m ultiét nicas de form ar est rut ural.
121 Os seres hum anos são iguais fisiologicament e, m as são as diferenças
culturalment e selecionadas que possibilit am a organização em um sist em a que
passa a t er out ro significado, ou seja, as diferenças culturais int erdependent es
em seu t odo, passam a ser usadas como signos em um sist ema mult iét nico
sendo part e de um m et assist ema que as organiza e dá novo significado. Num
novo sist ema de referência, sem m udar os objet os, muda t am bém o significado
dest es.
De cert a form a a aparência de ser o mesmo se alt era o t raço cultural, mas
sua alt eração em função de um novo sist ema não alt era a et nicidade.
122 Os signos ét nicos são como um código onde int ernam ent e represent am algo,
m as por sua sujeição a um sist ema ext erno t em out ra significância.
Ent ender o processo é import ant e para a definição da ident idade ét nica. Os
índios do século XVI eram bons selvagens para os europeus, mas ant ropófagos
para colônia, no XIX quando ext intos sím bolos nobres, quando vivos obst áculos
a serem ext int os, hoje são defensores da nat ureza, ora os defensores da natura,
ora inim igos int ernos.
Os índios não são nada de com o nosso im aginário quer vê-los, qualquer
essencialismo é enganoso, e sua posição dependerá de suas próprias escolhas.
123 POPULAÇÃO – Há ret omada dem ográfica indígena na década de 1980.
Devido a barreira im unológica desfavorável aos índios o prim eiro cont at o com
out ras populações acaba causando grande mort andade, que pode ser evit ada
com vacinas, at endim ento médico e assist ência geral. A cada avanço econômico
dá início a um ciclo de m ort andade e os grupos que sobrevivem iniciam a
recuperação dem ográfica, com isso a população que se considerava
desaparecendo t em sido aum ent ada gradativam ent e.
124 Cont ribui t ambém para o aum ento da população grupos que reivindicam sua
identidade ét nica ocultada durant e o século XIX sobret udo no Nordest e onde
sofreram com o at ribut o falso de inexist ência ou assimilação para que fossem
espoliadas suas t erras. Travam -se em bat es em t orno da identidade indígena do
conceito platônico t anto por part e dos fazendeiros quant o dos indígenas.
O pleno gozo de seus direit os seria uma form a de m ant er o cresciment o
populacional, m as nunca volt ara a ser como a dos anos 1500 quando era
com parada a da península ibérica.
125 TERRAS – Na Amazônia encont ram -se os grandes contingent es de t erras
indígenas bem com o a maioria da população. Essa região ficou a m argem de
surt os econôm icos e por esse mot ivo t em a m aior população. Dos locais onde
t iveram a ext ração e o desenvolviment o econôm ico os índios sobrevivent es
m igraram para out ros lugares.
Na várzea amazônica grupos foram dizim ados e t ransferidos para suprir a
m ão de obra de comunidades em formação durant e o século XVIII. Os grupos
m antidos em seus locais de origem, foram muralhas que guardaram as
front eiras de invasões est rangeiras.
126 Por mais que hajam objeções a maior part e do t errit ório nacional é ocupada
por latifúndios 48,5% e as t erras indígenas represent am apenas 10,52% do
t errit ório. O pais com o m aior t errit ório indígena é o Canadá onde 20% do
t errit ório pert ence aos esquimós.
127 As t erras indígenas em 1993 t inham menos de 50% demarcação física e
homologação. O rest ant e est á dem arcado fisicament e ou ainda sem
providencias. 85% t erras indígenas sofrem invasões const ant ement e.
DIREITOS – O direit o sobre suas t erras est á garantido aos índios desde 1609,
onde eram prim ários senhores naturais sem lhes requerer t ít ulo. Para burlar
est e princípio apelou-se para negação de sua identidade, e se não há índios não
há direit os. Na constituição de 1934 a bancada amazonense garant iu aos índios
a posse inalienável, e o usufruto exclusivo de suas t erras. As dem ais
const it uições m ant iveram e a det alharam.
128 A tut ela sobre os índios é enxert ada no código civil de 1916, e enquadrados
na cat egoria de relat ivam ent e capazes, isso para que sejam prot egidos pelo
est ado e em suas negociações para que não sejam lesados.
129 SUBSTRATO DAS RECENTES DECLARAÇÕES – De um a revisão feit a nos anos
1970/ 80 sobre as noções de progresso, desenvolvim ent o, int egração e
discriminação e da Declaração dos Direit os dos Povos Indígenas, result ou um
alvoroço a respeit o da solidez da soberania e do territ ório nacional. Os direit os
humanos baseavam -se som ent e na noção de igualdade a ser ent endido com
um a homogeneidade cultural e num dever de assimilação. Brot ado da ideologia
liberal t ais conceitos como o ant irracism o só é generoso com o indivíduo e não
com o grupo, ent ão o sujeit o que se t ornasse m ais sem elhant e ao grupo
dominant e era aceit o, e a discriminação fruto da diferença.
130 Com a crise ecológica da década de 1980 passasse a falar mais sobre o direit o
a diferença, o valor da diversidade cult ural, e sobre povos indígenas. O m aior
receio era de o t erm o povos implicar em um stat us de sujeit a-los ao direit o
int ernacional, e at ravés de sua autodet erm inação, colocar em risco a
int egridade do t errit ório nacional. Prim eirament e que ao cunhar o t ermo povos
gen ericament e não lhes dava o direit o a soberania. E a autodet erm inação
significava a part icipação política e não a reivindicação da soberania.
131 Alegava-se t am bém perigo para a segurança nacional na exist ência de áreas
indígenas em faixa de front eira. O m inist ro da Justiça Jarbas Passarinho resolveu
assinar port aria reconhecendo um a área Yanomami, e respondeu as críticas
falando que se caso fosse necessário deslocaria pelotões para defender o
t errit ório.
132 Considerando-se os índios como inimigos e t ambém a ONU e os EUA havia
funcionalidade, pois daí provinham m ais recursos para as forças arm adas.
ALTERNATIVAS - Quant o à exploração de recursos nas t erras indígenas:
exist e uma Legislação especial na Const it uição de 1988, a saber, a necessidade
de autorização previa do congresso, e a audiência de comunidades afet adas
bem como o a participação nos result ados obt idos.
133 A causa real é o modelo de país que se deseja e o papel da população
indígena nisso. Pode-se planejar est rat egicam ent e e beneficiar o país dando
im port ância aos índios que sempre ficaram em segundo plano, ou foram vistos
com o obst áculos. As riquezas am azônicas não são soment e as financeiras, uma
vez que exist e uma biodiversidade e os conheciment os sobre elas.
134 A conservação das espécies veget ais foi possível graças a sua descobert a,
seleção e cult ivo, feit as por populações t radicionais, e seu conheciment o t em
sido guia não só na aliment ação, m as t ambém na pesquisa das propriedades
m edicinais de diversas plant as.
Isso dem onst ra dois aspect os: a im port ância da riqueza biológica, e o
conheciment o das populações t radicionais fundam ent al para sua exploração. E
ist o que parecia pobreza, de se t er poucos indivíduos divididos em t ribos e
procurar na natureza diversos recursos de subsist ência, torna-se hoje um
t runfo.
135 Na perspect iva est rat égica a abert ura de uma exploração am azônica
indiscrim inada é um prejuízo.
O direit o aos t errit órios indígenas não são um obst áculo para o rest o do país,
m as uma m aneira de preservar sua riqueza, são direit os dos índios e int eresse
da sociedade brasileira. As áreas indígenas conform e pedido da Coordenação
Nacional de Geólogos serão as últimas a se explorar o minério por exemplo,
deveria t ambém form ar-se pact o para a preservação da riqueza biológica e de
seu conheciment o.
Form ar um pact o para que os índios não prest em serviço a sociedade
naturalm ent e, nas suas form as t radicionais os indígenas t êm preservado e
enriquecido a biodiversidade por dependerem dele, como o corredor de Carajás
em m eio a diversas áreas de devast ação.
136 A pressão externa sobre os recursos nat urais é grande, vist o que índios se
assassinam não m ais por honra, m as por int eresse. Exist em t ambém propost as
de m ineração por exem plo onde se oferecem rem uneração em t roca da
liberação da comunidade que precária de alt ernativas cede e aceit a.
A florest a amazônica com toda sua biodiversidade int eressa ao mundo, pois,
o fundo global do meio ambient e compensa as sociedades que renunciam o
aproveit am ent o de áreas em favor da conservação ambient al, implem ent ando
alt ernat ivas sust ent áveis para obt enção de recursos.
Há as duas posições quant o aos fatores de lucro e preservação, exem plos
que defendem as riquezas por se beneficiarem dela e de t ribos que renunciam
a defesa e recebem um a remuneração em t roca.
137 A ideia do “ bom selvagem” e ecológico t em a ver com um papel import ant e
para o futuro com um, não m ais sobre a essência que lhe é at ribuída. A escolha
dos índios hoje vai se desenhando conforme a confluência est rat égica ent re o
Est ado Brasileiro, a com unidade int ernacional e as diferent es et nias.
SÓCIODIVERSIDADE – As culturas const ituem um pat rimônio de diversidade
nas soluções de organização do pensam ent o e de exploração do meio social e
natural. Para a aut ora a sociodiversidade const rói um a reserva de processos e
sínt eses já experim ent adas que poderão ser exem plos e novos pontos de
part ida no futuro. O progresso instit uiu o nosso ponto de vist a histórico como o
ponto de chegada da evolução da hum anidade.
138 Dest aca que segundo St ephan Jay Gould, o homem não era melhor ou mais
adapt ado que as classes que não se desenvolveram biologicam ent e, foi t udo
obra do acaso. Com isso perderam -se prodigiosas form as vivas.
Do mesmo modo se o pont o de vist a evolucionist a cont inuar a ser usado,
haverá t ambém perdas sociais, como as de línguas, e processos.
Os processos são o valor da biodiversidade e para m ant ê-los é necessária a
sobrevivência das sociedades que os produzem . No início da conferencia a
autora cit a que os sist em as multiét nicos sobredet erm inam aos sociais e à lógica
int erna que os anima se acrescent a a lógica ext erna que os coloca em relação
com out ros sist emas. Esse sist em a mult iétnico não dissolve as sociedades
t radicionais, é sim uma condição de sobrevivência.

Você também pode gostar