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Irecê-Ba
2017.2
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1 INFORMAÇÕES GERAIS
2 APRESENTAÇÃO/PROPOSTA DO CURSO
O tempo já não é a nosso favor. Imagem arquetípica de uma fábrica moderna, encontra-
se submetido a um imperativo de produção contínua e seriada. Mimese de um mercado
financeiro qualquer, apresenta-se como reles instrumento para obtenção e acúmulo de capital
simbólico. Tempo é dinheiro, diriam os lobos de Wall Street; os promotores de celebridades
momentâneas, os mercadores de fórmulas, receitas e manuais de infalíveis sucessos. Multidão
inquieta, esta composta dos que vendem e consomem felicidades impossíveis, para a qual o
tempo já não é senão a sua obsedante e angustiosa ausência.
Desde o advento do mundo moderno, o tempo acelera em detrimento de nossa pouca ou
nenhuma capacidade de acompanhá-lo. Nascemos sem os motores que, irônico não?, nós
mesmos inventamos para ele. Na sociedade que nos resta, indisfarçavelmente parida pelo
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engenhoso da metáfora? Nossos usos linguísticos automáticos, aqueles aos quais nossa
experiência diária se encontra cada vez mais reduzida, não nos consegue traduzir desde o
dentro, senão com significativas perdas e amplos vazios. Eles não alcançam, superfície que são,
o recôndito de nós.
Repito: de fato, outro é o tempo da poesia. A leitura de um poema se faz em meio à
suspensão do tempo – não como a sensação de sua ausência, mas como se nos preenchesse de
absoluto, colocando em pausa toda e qualquer aceleração. A leitura de um poema se estende
para além da imagem necessária que nossos sentidos mais imediatos fazem dele. Acontece para
aquém de olhos e ouvidos, bocas, narizes e dedos: processa-se por dentro, naquilo a que, por
falta de palavra melhor, designamos alma. Lentamente. Depende menos do conhecimento
linguístico que podemos vir a ter do que, antes de tudo, de nos concedermos a permissão para
recuperar a metade destituída de nós mesmos: o estado poético.
Eis a razão e o objetivo deste curso, intitulado Exercícios de leitura poética. Não se trata
de enfileirar métodos e mais métodos meramente (pretensamente) racionais de como analisar
um poema, embora em algum nível eles estejam também presentes. Antes, a intenção é
constituir uma relação de intimidade com a poesia, de fazê-la partícipe e fundamento de nossa
saúde.
Convite: esqueçamos momentaneamente o temposemtempo de nosso dia a dia, o
coloquemos em suspensão. Escutemos o silêncio que reverbera baixinho desde o dentro de nós;
apaguemos as luzes, deixemos que a poesia se revele em nós.
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Promover uma espécie de intimidade entre o público discente e a poesia, seja do ponto
de vista de uma produção de experiência poética ou de uma abordagem teórico-crítica, de
maneira a provocar o estado poético e trabalhar possibilidades interpretativas.
4 IMPACTOS ESPERADOS
Espera-se que os egressos desse curso estejam aptos não apenas a ler/estudar poesia,
mas também a produzir uma relação mais saudável com o texto literário, de maneira a evitar os
sentimentos de angústia e de frustração ante sua presença. Da mesma forma, são esperados
impactos positivos na vida cotidiana do público discente, uma vez que a literatura, de forma
geral, e a poesia, em particular, são importantes recursos que temos contra os processos de
reificação a que o mundo nos tem submetido de modo cada vez mais intenso. Em uma
perspectiva um tanto mais pragmática, almeja-se também o desenvolvimento de uma maior
quantidade de pesquisas para Trabalhos de Conclusão de Curso em Letras no DCHT XVI que
se relacionem ao âmbito dos estudos poéticos.
5 METODOLOGIA
6 JUSTIFICATIVA
possível para a primeira, diz respeito à ausência de referenciais poéticos para além daqueles
(mal) lidos durante o período escolar, em geral muito pouco atento a construir uma relação
sensorial-intelectiva entre estudante e texto – o que colabora decisivamente para o solapamento
final do estado poético, ademais já escamoteado pela sociedade utilitarista e pragmática em que
vivemos, pouco afeita à suspensão do tempo que a poesia necessita para ser
lida/sentida/pensada/experienciada/entendida.
Em paralelo a estes fatores, é necessário também considerar que, ao menos no que
concerne à grade curricular do curso de Letras do DCHT XVI, nota-se a carência de uma
quantidade maior de componentes relativos aos estudos literários, principalmente no que se
refere ao campo da Teoria Literária e, de forma mais específica, da poesia lírica. O
reconhecimento desta lacuna, ademais justificável em face da importante implementação de um
conjunto sistemático de reflexões acerca da prática docente, que toma corpo na condição de
componentes curriculares obrigatórios com significativa carga-horária total, implica pensar
ações com o objetivo de suprir um leque de conteúdos que falta na formação de nosso público
discente, neste caso, a experiência poética – o ler/sentir/entender poesia. Nesta direção, o curso
aqui proposto pode acarretar impactos positivos na atuação profissional posterior de nossos
egressos, atendendo assim a uma dimensão pragmático-utilitária, bem como fomentar pesquisas
acadêmicas que se estabeleçam a partir de um corpus poético. Mas, indo além, afinal nada se
reduz a estanques finalidades a não ser aquilo cuja propriedade é ser coisa, este curso pode
também contribuir para a produção de mediações subjetivas mais saudáveis com o mundo em
derredor, uma vez que a literatura, e a poesia em particular, é fármaco potente contra os
processos de reificação constante a que somos submetidos dia após dia.
Por outro lado, e pensando para além do público interno do DCHT XVI, de maneira a
atender igualmente à demanda externa, não se pode deixar de notar que, a despeito de uma
produção considerável, a cena artística do município de Irecê e de suas adjacências é parca. A
completa ausência de espaços culturais, responsáveis por galvanizar artistas e não-artistas em
torno a férteis encontros e por dinamizar diálogos e criações, tem isolado os moradores da
região de um contato mais vertical e cotidiano com a arte. Ainda que se possa argumentar sobre
como a internet, supressão de fronteiras que é, tem sido uma importante aliada para reverter a
desimportância conferida à cultura/arte/poesia pelos poderes públicos, em geral nada
preocupados com o que não se traduz em números e cifras, consolidando verdadeiras redes
afetivas de circulação poética, o mundo virtual, por si só, não pode dar conta das relações
concretas e subjetivas que o ser humano estabelece com os espaços pelos quais transita. Neste
contexto, a promoção do curso de extensão Exercícios de leitura poética, como local propício
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DATA TEMA
Acolhida. Apresentações. Socialização
30.08.2017 poética. Introdução ao curso. Vista geral
sobre literatura.
6.09.2017 Estudos teóricos – O estado poético.
20.09.2017 Estudos teóricos – A lírica.
27.09.2017 Estudos teóricos – A metáfora.
4.10.2017 Estudos teóricos – A imagem.
11.10.2017 Estudos teóricos – O tempo.
18.10.2017 Estudos temáticos – Existir, a que será que
se destina.
25.10.2017 Estudos temáticos – Escrever, a que será que
se destina.
31.10.2017 Estudos temáticos – Do amor e de outras
alegrias.
8.11.2017 (terça-feira) Estudos temáticos – Da dor e de outras
tristezas.
14.11.2017 Estudos temáticos – Da guerra e de outras
lutas.
22.11.2017 (terça-feira) Estudos temáticos – Da infância e de outras
memórias.
29.11.2017 Estudos temáticos – Da morte e de outros
lutos.
6.12.2017 Estudos temáticos – Da partida e de outros
adeuses.
13.12.2017 Finalização. Intervenções poéticas.
REFERÊNCIAS
Poesia.
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Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.
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MALLARMÉ, Stephane. Mallarmé. Tradução de Augusto de Campos, Décio Pignatari e
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MARANHÃO, Salgado. Mural de ventos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1999.
MARANHÃO, Salgado. Ópera de nãos. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015.
MEIRELES, Cecília. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
MELLO, Thiago de. Faz escuro mas eu canto. Porque a manhã vai chegar. 5.ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1978.
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MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das letras, 2009.
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NATÁLIA, Lívia. Correntezas e outros estudos marinhos. Salvador: Ogum’s toques negros,
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PETRONIO, Rodrigo. Venho de um país selvagem. Rio de Janeiro: Topbooks, 2009.
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Teórico-críticas
TODOROV, Tzvetan. O que pode a literatura? In: ______. A literatura em perigo. Tradução
de Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009. p. 73-82.
TODOROV, Tzvetan. Uma comunicação inesgotável. In: ______. A literatura em perigo.
Tradução de Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009. p. 83-92.