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GESTO equivalentes entre os sentimentos e sua

e (Do latim gestas, atitude, movimento do visualização


corpo*-l gestual. O gesto é então o elemento
Fr.: geste; Ingl.: gesture; AI.: Gebãrde, Gestc; intennediário entre interioridade (consciência)
Esp.: e exterioridade (ser físico). Ainda aí, trata-se
gesto. da visão
Movimento corporal, na maior parte dos casos clássica do gesto na vida como no teatro: "Se
voluntário e controlado pelo ator, produzido os
com gestos são signos exteriores e visíveis de nosso
vista a uma significação mais ou menos I
dependente j
do texto dito, ou completamente autônomo. corpo, pelos quais se conhece as manifestações
1. Estatuto do Gesto Teatral interiores de nossa alma, infere-se que
a. O gesto como expressão podemos
Cada época tem uma concepção original do considerá-los sob duplo ponto de vista: em
gesto; o que, em contrapartida, influi na primeiro lugar como mudanças visíveis por si
interpretação do ator e no estilo da mesmas; em segundo lugar, como meios que
representação. A concepção clássica - que indicam
ainda prevalece bastante, as operações interiores da alma" (ENGEL,
atualmente - faz do gesto um meio de 1788:
expressão* 62-63).
e de exteriorização de um conteúdo psíquico b. O gesto como produção
interior e anterior (emoção, reação, Em reação a essa doutrina expressionista do
significação) que gesto, uma corrente atual tenta não mais definir
o corpo tem por missão comunicar ao outro. A a
definição de CAHUSAC, autor do artigo gestualidàcle como comunicação de um
"Gesto", sentido
da Enciclopédia, é reveladora dessa corrente de prévio, mas como produção. Superando o
pensamento: o gesto é "um movimento exterior dualismo impressão-expressão, essa concepção
do corpo e do rosto, uma das primeiras monista
expressões do sentimento dadas ao homem considera a gestualidade do ator (ao menos
pela natureza. (...] Para falar do gesto de numa
maneira útil às artes, é necessário considerá-lo forma experimental de interpretação e de
sob pontos de vista improvisação) como produtora de signos e não
diferentes. Mas de qualquer maneira que o como
encaremos, é indispensável vê-lo sempre como simples comunicação de sentimentos
expressão: aí está a sua função primitiva e, por "colocados
esta atribuição estabelecida pelas leis da em gestos", gestualizados. GROTOWSKI, por
natureza, é que exemplo, recusa-se a separar pensamento e
ele embeleza a arte da qual ele é o todo, e à atividade corporal, intenção e realização, idéia
qual e ilustração. O gesto é, para ele, objeto de uma
se une para se tornar sua parte principal". A pesquisa, de uma produção-decifração de
natureza expressiva do gesto torna-o ideogramas:
particularmente "Novos ideogramas devem ser constantemente
apropriado a servir à interpretação do ator, o pesquisados e sua composição parecerá
qual imediata
não tem outros meios senão os do seu corpo e espontânea. O ponto de partida dessas formas
para gestuais é a estimulação e a descoberta em si
expressar seus estados anímicos. "Há cenas mesmo de reações humanas primitivas. O
inteiras nas quais, para as personagens, é resultado final disso é uma forma viva, que
infinitamente mais natural mover-se do que possui sua
falar" (DIDEROT, própria lógica" (GROTOWSKI, 1971: 111). O
Sobre a Poesia Dramática, 1758). Toda uma gesto
psicologia primitiva estabelece uma série de teatral é aqui fonte e finalidade do trabalho do
ator. Impossível descrevê-lo em termos de - gestos inatos, ligados a uma atitude corporal
sentimento ou mesmo de posições-poses ou
(MEIERHOLD) significativas. Para a um movimento;
GROTOWSKI, a imagem do hieróglifo é - gestos estéticos, trabalhados para produzir
sinônimo de signo icõnico uma
intraduzível que é tanto o objeto simbolizado obra de arte (dança, pantomima, teatro etc.);
como o símbolo. Para outros praticantes do - gestos convencionais que expressam uma
teatro, mensagem compreendida pelo emissor e pelo
o gesto "hieroglífico" parecerá decifrável: receptor.
"Todo Outra distinção consistiria em opor gesto
movimento é um hieróglifo que tem sua imitativo e gesto original. O gesto imitativo é o
própria do ator que encarna de maneira realista ou
significação particular. O teatro deveria utilizar naturalista uma personagem, reconstituindo
somente os movimentos que são seu comportamento e seus "tiques" gestuais (na
imediatamente realidade, estilização e caracterização são
decifráveis, todo o resto é supérfluo" inevitáveis e
(MEIERHOLD, 1969: 200). condicionam mesmo esse efeito da realidade
c. O gesto como imagem interna do corpo gestual). O gesto pode, ao contrário, recusar a
ou como sistema exterior imitação, a repetição e a racionalização
Uma das principais dificuldades no estudo do discursiva.
gesto teatral é determinar ao mesmo tempo sua Ele se dá, então, como hieróglifo a ser
fonte produtiva e sua descrição adequada. A decifrado
descrição obriga a formalizar algumas - "O ator, diz GROTOWSKI, não deve mais
posições-chave do gesto; logo, a decompô-lo usar
em momentos seu organismo para ilustrar um movimento da
185 alma; ele deve realizar esse movimento com
GESTO seu
estáticos e a reduzi-lo a algumas oposições organismo" (1971: 91). Trata-se de encontrar
(tensão/relaxamento, rapidez/lentidão, ritmo os
entrecortado/fluidez etc.). Mas esta descrição, ideogramas corporais (em GROTOWSKI) ou,
além de segundo a formulação de ARTAUD, "uma
sua dependência da metalinguagem descritiva nova linguagem física à base de signos e não
verbal que impõe suas próprias articulações, mais de palavras" (1964b: 81).
permanece, como, aliás, toda descrição, Toda tipologia dos gestos de ve ser revista a
exterior ao partir do momento que se examina os gestos
objeto e não precisa seu vínculo com a palavra num
ou com o estilo de representação: ela é, muitas palco de teatro. Tudo, na verdade, é
vezes, mal integrada ao projeto significante significante
global (dramatúrgico e cênico). no trabalho gestual do ator, nad a é deixado ao
Quanto à apreensão do gesto através da aca so, tudo assum e valor de signo e os gestos,
imagem do corpo e do esquema corporal, ela é qualquer que seja a ca teg oria a que
função da representação que o ator ou o pertençam,
dançarino entram na catego ria estética . Porém,
faça do espaço onde evolui. Esta representação inversamente, o corpo do ator nunca é
do figurati vo gestual ficará, no momento, totalmente redutível a
perceptível apenas no nível de intuições. um conjunto de signos, ele resiste
2. Rumo a uma Tipologia e a um Código àsemiotização*
Gestual co mo se o gesto, no teat ro , conservasse
a. Tipo/agia sempre a
• Nenhuma tipologia dos gestos é marca da pessoa que o produ ziu.
verdadeiramente satisfatória, nem no tocante b. Código gestual
aos gestos executados na realidade, nem aos Em lugar de deeompor o movimento gestual
executados no teatro. Costuma-se distingui-los em un idades recorrentes (quinemas,
em: aloquinemas
na teoria de BIRDWHISTELL), indicar emos simples co mentário estético e enco ntrar a dim
algumas características de um código gestual ensão profunda do gesto, tem um longo ca
(para minho
uma discussão detalhada, cf PAVIS, 198Ia): pel a frente.
- tensão do gesto/relaxa mento; L::J:l Laban, 1960; Artaud, 1964; Birdwh
- conc entração física e tem poral de vários istell, 1973;
gestos Bouissac, 1973: Leroi-Gourhan ,
(cf os ideogramas de MElERHOLD, 1973); 1974;Cosnier,
- percepção da fina lida de e da orientação da 1977 ; Hanna, 1979; Krysinski, 198 I; Sarrazac
seqüência gestual; et ai.,
- processo estético de estilização, ampliação, 198 1; Marin, 1985; Lecoq, 1987, 1996; Pavis
depuração, distanciament o do ge sto ; e
- estabelecimento da liga ção entre o gesto e a Villeneuve,1 993.
palavr a (acompanhamento, GESTUAL
complementaridade, :'+ (Neologismo do início do século XX.)
substituição). 't.: FI.: gestuelle; 1ngl.: system of gestu res;
3. Problemas de uma Formal ização dos AI.:
Gestos Geb ãrdensprache ; Esp.: gestic ulaciá n.
Os gestos são dados num co ntinu um ao longo O gestual é uma noção que se aprox ima da
da representação, o que torn a muit o difícil noção de gestualidade" , É a maneira de se
uma mexer específica de um ator, de uma
decupagem " em unidad es gestuais. A personagem ou de um
ausência estilo de representar. Gestual implica um a
de movim ento não é critéri o suficiente para forma -
delimitar o início ou o fim do gesto; também lização e uma caracterização dos gestos do
não há, ator,
verdadeirament e, elementos recorrentes na preparando, portanto, para a noção de gestus ".
"frase gestual" como o objeto, o verbo ou o GESTUALIDADE
sujeito. B- FI.: gestualit é; Ingl.: gestualiry; AI.:
Tod a desc rição ve rbal do gesto do ator perde Gestik:
muit o das qualid ades es pecíficas dos Esp: ge stualidad.
movimentos e das atitudes ; ademais, ela Neo logismo empregado a pa rtir da s
decupa o corpo pesquisas
de co nform idade co m uni dades semânticas em semiótica e, provavelm ente, formado com
lingüís ticas, quando se de veria ex atamente base
estudar no mod el o literatura/lit eralidade, teat
o corpo segundo suas próp rias uni dades ou ro/teatra-
leis \id ade , par a design ar as propriedades es pec
- se é que existem. Tra ta -se de saber a que íficas
função ideológica co rrespo nde a necessidade do gesto "; particularmente aq uelas qu e
de uma aproximam e distinguem os gestos de outros
notação" e de uma grade aplicada ao estudo sistemas
dos de co municação.
movi mentos: é para fixar e codifica r o gesto, A gestualidade se o põe, por outro lado, ao
tranqüi liza ndo gesticulado r e ob servador? gesto individualizado: ela co nstitui um sistema
Não mais
será pre ciso adicionar à descrição exte rior ou menos coerente de maneiras de ser
uma corporais,
visão intuitiva da imagem corporal do ge ao passo que o gesto se refere a uma açã o co
sticulad or, reen contrar no gesto a di mcn são rporal singular.
das pu1- W Langagcs, 1968; Stern, 1973; Pavis, 1981a ,
sõ es cuja articulação FREUD most rou no • 1966.
limit e 186
dos domínios psíqu ieo e físico ? J
O estud o da gestualid ad e, se qu iser sa ir do GESTUS
B- Fr.: gestus; Ingl.: gesllls; AI.: Gestus; Esp.: situa entre a ação e o ca ráter (oposição
gestas. aristotélica de todo
1. Gesto e Gestus teatro): enquanto ação , e le mostra a
Gestus é o termo latin o para gesto *. Esta personagem
forma engajada numa praxis soc ial; enquanto caráter,
é en contrada em alemã o até o séc ulo XVIfI: representa o conjunto de traços próprios a um
LESSING fala, por exem plo, de "gestus indivíduo. O gestu s é sensíve l, ao mesmo tem
individualizantes" (quer dizer. característicos) po, no
ou do "gest us compo rtamento corporal do ator e em seu
de ad vertência patern a". Gestus tem aqui o discurso: um texto, uma música podem, na
sentido verdade, se r
de man eira caracteristica de usar o co rpo*, gestuais se apresentam um ritmo" apropriado
tomando, j á, a conotação social de atitude" ao
para com o sentido do que e le está falando (ex .: ge stus
outro, conceito que BRECHT reto mará em sua chocante e sincopado do son g * brcchti ano
teoria do gestus. MEIERHOLDdistingue, quan para repreGOS TO
to a e le, sentar um mundo chocante e pouc o harm
" posições- poses" (raku rz) qu e indicam a onioso).
atitude Melhor será, para o ator, usar gestos que
cristalizada e fundame ntal de uma palavras
personagem. ( " 1I0 1l verbis, sed gestibus") .
Se us exercíc ios biomec ânicos" têm a Esta noção mereceri a se r reconside rada à luz
finalidade, das teorias da linguagem poética, de iconi
entre outras, de determinar atitude s cidade * do discurso teatral e da gest ualidade
cristalizadas , teatral como
verdadeiros "brequ es" (entalhes de suspensão) hierógl ifo do corpo humano e do co rpo socia l
no (ARTAUD, 1964; GROTOWSK1, 1971 ).
movim ento gestual (co ndcnsação*). Distanciamento.
2. Gestus Brechtiano m Brecht, 1967, vol, 19: 385-421; Pavis, 197
O gestus deve ser diferenciado do gesto 8b ;
puramente individu al (coçar-se, espirrar ctc.): Knopf, 1980.
"As atitud es que as person agen s tornam
urnas com as outra s co nstitue m o qu e de no
mina mos domín io
gestual, Atitudes corpo ra is, entonaç õe s, jog
os
fisionômicos são determ inados po r um gestus
social: as perso nage ns se xingam, se
cumprimentam,
trocam conselhos etc." (Pequeno Organon,
1963:
§ 61 : 80). O gestus se compõe de um simples
movimento de uma pessoa dia nte de outra, de
uma
forma soc ial ou co rporativamcnte particular
de se
comport ar. Toda açã o cê nica pressupõe uma
certa
atitude dos protagon istas entre si e dentro do
universo social: é o gestus socia l. O
gestusfundamental da peça é o tipo de relação
fundament al que
rege os comportamentos soc iais (serv ilismo,
igualdade, violência , astúc ia ctc.), O gestus se

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