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Expressividade como qualidade dinâmica: uma discussão sobre percepção

na arte
Expressiveness as a dynamic quality: a discussion on art perception
La expresividad como una cualidad dinámica: una discusión sobre la percepción en el arte

Maria Clara de Almeida Carijó


Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Virgínia Kastrup
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Resumo
O artigo pretende examinar como a expressividade é percebida e criada na arte. Geralmente, a
expressividade é entendida como a capacidade das obras de arte transmitirem emoções do
artista, ou então como efeito da projeção de sentimentos do percebedor sobre elas. Recusando
tais posições, sugerimos que a expressividade é um fenômeno perceptivo que resulta da apre-
ensão de certas qualidades dinâmicas intrínsecas às obras. Tais qualidades dinâmicas são dis-
cutidas por Arnheim e, como buscamos mostrar, constituem a base daquilo que Stern chamou
de “afectos de vitalidade”. Essa nova abordagem da percepção da expressividade conduz-nos
a uma reformulação, também, da concepção do ato de expressão artística. Baseados em De-
wey, mostraremos que, em vez de uma ação de descarga de conteúdos subjetivos, a expressão
parece ser uma atividade perceptivamente guiada, em que o artista, através do modo como
organiza e apresenta os diversos elementos de sua obra, cria forças vivas e dinâmicas.
Palavras-chave: Expressividade; Expressão; Percepção; Arte; Qualidades Dinâmicas.

Abstract
The article investigates the perception and production of artistic expressive-
ness. Expressiveness is usually interpreted either as the capacity of works of art to convey the
artist’s emotions or as the projection of one’s feelings onto a work of art. We refuse such in-
terpretations and suggest instead that expressiveness is a perceptual phenomenon which takes
place when specific dynamic qualities which are intrinsic to the works of art are captured by
the spectator. Such dynamic qualities are discussed by Arnheim and, we argue, constitute
what Stern has termed “vitality affects”. This new approach to the perception of expressive-

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ness leads to a reformulation of the conception of artistic expression. Based on Dewey’s
work, we claim that expression is not a discharging of subjective contents, but rather a per-
ceptually guided activity in which the artist, by organizing and presenting the various ele-
ments of his work in particular ways, creates live and dynamic forces.
Keywords: Expressiveness; Expression; Perception; Art; Dynamic Qualities.

Resumen
El artículo examina como la expresividad puede ser percibida y creada en el arte. Comúnmen-
te, la expresividad es entendida como la capacidad de transmitir una emoción del artista que
las obras de arte poseen o como un efecto de la proyección de los sentimientos del espectador
sobre ellas. Recusamos esas posiciones y sugerimos que la expresividad es un fenómeno per-
ceptivo que resulta de la aprehensión de cualidades dinámicas intrínsecas a las obras. Tales
cualidades fueron discutidas por Arnheim y, como mostramos, constituyen la base de lo que
Stern llamó de “afectos de la vitalidad”. Reformulamos también la concepción del acto de la
expresión artística. Con base en Dewey, afirmamos que, a cambio de una descarga de conte-
nidos subjetivos, la expresión parece ser una actividad conducida por la percepción, en la cual
el artista, mediante el modo como organiza y presenta los elementos de su obra, crea fuerzas
vivas y dinámicas.
Palabras clave: Expresividad; Expresión; Percepción; Arte; Cualidades Dinámicas.

Introdução arte revela nas obras uma força própria,


uma espécie de vitalidade que nos afeta.
A capacidade que as obras têm de Valemo-nos de uma série de termos que
nos afetar e envolver é, talvez, a caracterís- buscam capturar tal dinâmica: dizemos que
tica mais marcante de nossa experiência uma pintura é melancólica, que uma per-
com a arte. Ao contemplarmos uma pintu- formance artística foi vibrante ou sombria,
ra, ouvirmos uma música, assistirmos a um que uma música soa exultante. Quando
filme ou a um espetáculo de dança, temos assim procedemos, estamos buscando for-
um tipo de experiência muito particular, mulações que deem conta de um aspecto
bem distinto daquele em que estamos mer- muito importante e também muito intrigan-
gulhados durante a maior parte do tempo, te das obras de arte: sua expressividade.
quando ocupados com nossas atividades A expressividade pode ser entendi-
habituais e cotidianas. A experiência com a da como um elemento essencial de nossa

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experiência com a arte, possuindo um pa- de sentimentos e emoções pessoais ou de
pel importante na criação de seu caráter expressão de um “eu”. Para isso, recorre-
estético. Entretanto, devemos perguntar remos à contribuição de John Dewey sobre
como somos capazes de perceber expressi- o ato expressivo, apontando as afinidades
vidade em obras de arte e como é possível do pensamento deste autor com a nova
criá-la. Muitos estudos, provenientes tanto concepção de expressividade artística pro-
do campo da psicologia quanto da filosofia posta.
e da arte, afirmam que a expressividade Antes de prosseguirmos, um escla-
está associada à capacidade das obras de recimento terminológico e conceitual é
arte transmitirem uma emoção ou senti- necessário. Observamos, na literatura per-
mento do artista ou, ainda, que ela pode ser tinente, que o vocábulo mais comumente
explicada por uma projeção de sentimentos utilizado para se referir ao fenômeno que
e emoções do percebedor sobre a obra. aqui abordamos é o termo “expressão”.
Apesar de afirmações deste gênero serem Porém, este termo comporta uma dificul-
amplamente aceitas, elas não parecem dar dade terminológica, que reflete, na verda-
conta de explicar o fenômeno em questão. de, uma questão conceitual. O termo “ex-
O objetivo deste artigo é, então, compre- pressão” dá lugar a interpretações diversas,
ender a expressividade artística, fundamen- de onde decorre que discussões acerca de
tando-a na percepção de qualidades dinâ- fenômenos completamente diferentes con-
micas intrínsecas às próprias obras, e não fundem-se entre si devido ao uso do mes-
na transmissão ou projeção de sentimentos mo vocábulo. Segundo o Dictionnaire
e emoções, seja do artista ou do percebe- d’esthétique et de philosophie de l’art
dor. Para tanto, nos basearemos, princi- (Morizot & Pouivet, 2009), a “expressão”
palmente, nos trabalhos de Rudolf Ar- é um caso difícil de passagem entre o inte-
nheim e de Daniel Stern. Esta nova forma ligível e o sensível, dizendo respeito à ca-
de colocar o problema da expressividade pacidade dos homens e das obras de arte de
terá consequências também, como mostra- exteriorizar, simbolizar e suscitar pensa-
remos ao final do artigo, para nossa forma mentos e sentimentos. Assim, ora ela se
de conceber o ato de expressão, uma vez refere a uma ação do sujeito – sendo defi-
que nos levará a reinterpretá-lo como uma nida como a operação realizada pelo artista
atividade perceptivamente guiada, em que que permite que as obras de arte veiculem
o artista cria com forças dinâmicas, esfor- qualidades estéticas expressivas –, ora se
çando-se para encarná-las em sua obra, e refere a uma característica das próprias
não mais como uma atividade de descarga obras de arte – sendo sua própria qualidade

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estética, ou seja, um atributo da obra. Daí o uma forma de expressão ou projeção de
uso do termo “expressividade” por alguns sentimentos e estados subjetivos, seja por
autores que reconhecem a diferença essen- parte do artista, seja por parte do percebe-
cial entre estes dois fenômenos, embora dor.
não neguem que exista uma relação entre Carroll (1999) enumera algumas
eles (Wolheim, 1994 e Tormey, 1971, cita- teorias provenientes da estética e da filoso-
dos por Morizot & Pouivet, 2009). O termo fia da arte que buscam explicar de que mo-
“expressividade” é então empregado para do a emoção se expressa na arte. Uma teo-
designar certa qualidade expressiva dos ria que ficou bastante popular, por exem-
objetos que é apreendida pela percepção, plo, foi proposta por Tolstói, para quem a
enquanto o termo “expressão” refere-se ao expressividade seria uma forma de comu-
ato por meio do qual se exprime algum nicação de emoções do artista. Carroll a-
sentimento ou ideia subjetiva através da firma que, na filosofia da arte, esta ideia
produção de uma obra. Assim, usaremos o foi amplamente aceita e formulada em
termo “expressividade” para nos referir- termos de uma “teoria da expressão”. Se-
mos a um atributo das obras em si e o ter- gundo ela, o que marcaria a arte seria uma
mo “expressão” para nos referirmos ao ato preocupação primária com a comunicação
expressivo propriamente dito, a fim de de emoções, ou seja, de um estado emo-
evitarmos mal-entendidos. cional interno que seria externalizado e
transmitido para espectadores, leitores e
Obras de arte entendidas como ouvintes:
expressão de emoções e sentimentos
De acordo com o teórico da expressão, o
que é transferido é uma emoção. Um artis-
Quando fazemos, ouvimos ou le-
ta olha uma paisagem e se sente melancó-
mos a descrição de uma obra de arte, é
lico. Então desenha a paisagem de tal for-
praticamente impossível escaparmos ao ma que o espectador experiencia o mesmo
uso de termos que fazem referência direta a sentido de melancolia. “O artista expressa
emoções e sentimentos: uma pintura é me- sua melancolia” aqui significa que ele tem
um sentimento de melancolia, o qual
lancólica; um espetáculo de dança é alegre;
transmite ou instila em seu público ao de-
um filme é apaixonante; uma música é
senhar de certa maneira.1 (Carroll, 1999, p.
sombria. Tanto na psicologia quanto na 61).
filosofia e nos estudos sobre arte, encon-
tramos uma tendência a se explicar o fe-
nômeno da expressividade artística como

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Esta teoria pressupõe três condições prios personagens, que, possuindo estados
necessárias para que exista arte: um artista, psicológicos, podem expressá-las de forma
um público e uma emoção compartilhada. direta (quando um ator representa estar
Ela também deixa subentendido que a e- triste ou alegre, por exemplo), ou podem
moção expressa pelo artista não é uma e- ser atribuídas a seres inanimados em virtu-
moção geral, mas totalmente particular, e de de sua configuração, por possuírem tra-
que a emoção experimentada pelo público ços que associamos com características
é do mesmo tipo daquela que o artista sen- humanas, tais como quando dizemos que
tiu. uma árvore expressa angústia por conta de
Carroll, por sua vez, sustenta que a seus galhos retorcidos (Carroll, 1999).
arte expressa não exatamente emoções, e De qualquer modo, as teorias apre-
sim qualidades humanas, ou “propriedades sentadas por Carroll continuam a se basear
antropomórficas” (1999, p. 80), que seriam na premissa de que a expressividade na
representadas por qualidades emotivas arte se relaciona com a comunicação de
(raiva, tristeza, e assim por diante) e quali- emoções, qualidades emotivas ou qualida-
dades de caráter (coragem, honestidade, des de caráter humano. O ponto de partida
imponência, etc.). Apresenta então a “teo- da experiência é, ainda, o íntimo plano
ria da exemplificação metafórica”, que interior do artista e do percebedor.
afirma que essas qualidades estariam “e- Na psicologia, podemos observar
xemplificadas” nas obras de arte de manei- uma predominância de estudos sobre a
ra metafórica: uma música não seria lite- expressão artística, se comparados com o
ralmente triste, apenas possuiria, metafori- número de estudos dedicados ao fenômeno
camente, a propriedade da tristeza. As pro- da expressividade. Assim, há uma tendên-
priedades antropomórficas se instalariam cia a se investigar a expressão no sentido
na obra através da metáfora, aqui entendida de uma ação, de uma projeção de estados
como a transferência de um conjunto de subjetivos através da produção de uma
características de um campo semântico obra de arte.
original de aplicação para outro campo. A expressão de conflitos do artista
O autor, entretanto, acredita que é proposta pela psicologia como uma das
apenas em alguns casos a arte expressa características primordiais da arte. Com
estas qualidades emotivas e de caráter a- frequência, defende-se a ideia de que a
través da metáfora. Em outros casos – co- personalidade de um artista pode ser traça-
mo na literatura e no teatro –, as proprie- da e analisada através de suas obras. Este
dades expressivas são atribuídas pelos pró- tipo de ideia foi e é proposto por várias

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vertentes psicológicas. Muitos instrumen- sem de fato realizados, não causariam pra-
tos e técnicas projetivas foram também zer, seriam mesmo excitações muito peno-
inspirados na ideia de que a pintura e o sas. É apenas no jogo de fantasias propor-
desenho são ferramentas de psicodiagnós- cionado pela obra que a realização de tais
tico. Por sua vez, a arte-terapia defende desejos pode se tornar fonte de prazer para
que a arte é não somente um instrumento seus ouvintes e espectadores. Segundo
de expressão do sujeito como também um Freud, os artistas conseguem transformar
instrumento de cura para seus sintomas desprazer em prazer através da técnica de
(ver, por exemplo, Vasconcellos & Giglio, sua arte. As emoções que causam em nós é
2007). um tipo de prazer preliminar, que é estético
Sigmund Freud, em seu texto “O e formal, uma espécie de “prêmio do estí-
Moisés de Michelângelo” (Freud, mulo”. Além disso, a arte funcionaria tam-
1914/1974), se pergunta como a arte é ca- bém como um escape, criando oportunida-
paz de exercer tão poderoso efeito sobre de para o leitor se deleitar com seus pró-
nós, sem que ao menos saibamos por que prios devaneios sem culpa (Freud,
somos afetados e de que modo. Conclui 1908/1969).
que o que nos encanta tão poderosamente A despeito de um considerável inte-
não é o objeto artístico (obra de arte) ele resse pelo ato de expressão, a psicologia
mesmo; é a intenção do artista que nos pouco se pronuncia quanto à expressivida-
comove. Para ele, uma obra de arte é pas- de das obras de arte, entendida como uma
sível de análise e interpretação, de modo propriedade e uma característica que elas
que, apenas assim, se pode chegar a com- portam. Pouco se pergunta sobre o que
preender a “expressão efetiva das intenções nelas as torna expressivas e de que forma
e das atividades emocionais do artista” percebemos sua expressão.
(Freud, 1914/1974, p. 252). Apenas esta Podemos citar três explicações psi-
interpretação pode revelar o que é aquilo cológicas principais para o fato de que po-
que nos afeta tão profundamente, quais são demos perceber um objeto como expressi-
os significados e conteúdos ocultos repre- vo (Guillaume, 1937/1966). A primeira
sentados na obra de arte. A literatura, por sustenta que é por empatia que um objeto
exemplo, ocultaria desejos infantis e proi- pode nos parecer triste, alegre, vibrante.
bidos, desejos insatisfeitos que através dela Segundo esta explicação, é através da
se realizariam. comparação do objeto com certos estados
Os desejos que a obra de arte tem pelos quais o percebedor já passou que é
função de realizar são desejos que, se fos- possível perceber sua expressão. Por e-

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xemplo, um salgueiro, com seus galhos observação e aprendizagem podemos atri-
languidamente caídos, remeter-nos-ia ao buir o valor “alegria” ao objeto “sorriso”.
caimento de nossos braços e de nosso cor- Da mesma forma, aprenderíamos que certo
po quando estamos tristes. Desta forma, tipo de grito exprime dor ou que determi-
diríamos que aquela é uma árvore triste, nada postura do corpo exprime tristeza
pois recorremos à nossa experiência passa- (Guillaume, 1937/1966).
da, nos colocamos no lugar do próprio ob-
jeto, para interpretar aquilo que ele expres- A expressividade entendida como
sa. percepção de forças dinâmicas
Outra explicação possível é a de
que a percepção da expressividade de um Em uma passagem do livro No ca-
objeto se deve a uma projeção dos senti- minho de Swann, de Marcel Proust, encon-
mentos do percebedor sobre aquilo que é tramos a descrição da impressão que uma
percebido. Afinal, como podemos explicar música escutada pelo personagem principal
que o cair de uma tarde nos pareça melan- lhe causara:
cólico? Apenas o vemos assim porque é
assim que nos sentimos. Projetamos nossa [...] eis senão quando, por baixo da linha
melódica do violino, tênue, resistente, den-
própria melancolia naquilo que percebe-
sa e dominadora, ele vira de súbito elevar-
mos, a expressividade nada mais é que o
se, num marulho líquido, a massa da parte
colorido que nossos próprios sentimentos do piano, multiforme, indivisa, plana e en-
dão às coisas ao nosso redor (Guillaume, trechocada como a malva agitação das va-
1966). gas que o luar encanta e bemoliza. [...] sem
poder distinguir com nitidez um contorno,
Por fim, há ainda a célebre explica-
dar um nome ao que lhe agradava, subita-
ção associacionista, segundo a qual objeto
mente arrebatado, buscara recolher a frase
e valor são, a priori, completamente inde- ou a harmonia – ele mesmo não o sabia –
pendentes entre si e, apenas por uma coin- que passava e que lhe abria a alma mais
cidência casual, atribuímos certos valores a largamente [...] Num ritmo lento, ela [a
frase] o dirigia primeiro para um lado, de-
certos objetos. É preciso que ocorra uma
pois para outro, depois mais adiante, para
aprendizagem anterior para que certos ob-
uma felicidade nobre, precisa e ininteligí-
jetos expressem determinadas emoções ou vel. E de repente [...] mudava de direção
sentimentos. Para os associacionistas, uma bruscamente e, com um novo movimento,
criança aprende que sorrir significa de- mais rápido, miúdo, permanente, melancó-
lico e suave, ela o arrastava consigo para
monstrar alegria, mas esta interpretação
não seria jamais espontânea. Apenas por

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perspectivas desconhecidas. Depois, desa- tar os efeitos provocados pela música em
pareceu (Proust, 2003, p. 207-208).
Swann e tal experiência nos parece muito
mais significativa e potente que qualquer
O extrato retirado da obra de Proust
descrição objetiva minuciosa em termos de
é a descrição da experiência de se escutar
seu tom, tempo ou sequência de notas po-
uma música. O autor nos envolve na expe-
deria ser. Proust descreve-nos a música em
riência vivida pelo personagem, dentro da
termos de sua expressividade.
qual mergulhamos. É como se experimen-
Observemos que a descrição do e-
tássemos com ele aquela música: vivemos
feito da música sobre o personagem não
sua dinâmica, acompanhamos seu ritmo,
menciona nenhum tipo de reprodução dos
somos confrontados com suas pausas. En-
sentimentos do artista naquele. Em vez
tretanto, nenhuma linha foi reservada pelo
disso, Swann parece ser movido por algo
autor para uma descrição objetiva daquela
que o toma de corpo inteiro. A experiência
composição. Não nos é informado seu tom,
que ele narra parece-nos mais compreensí-
seu tempo, suas notas; apenas sabemos que
vel em termos de forças que o perturbam,
foi tocada por um violino e um piano.
que o afetam visceralmente que em termos
Proust descreve uma experiência sem con-
de sentimentos bem definidos e categori-
tornos definidos, na qual o personagem não
zados, que seriam transmitidos pela músi-
consegue identificar com precisão o que é
ca. Certamente ocorre uma afetação do
que lhe agrada. O autor não utiliza termos
personagem e seria impossível dizer que
técnicos para descrever o som do violino,
ele vivencia tudo de maneira impassível.
mas recorre a suas características expressi-
Porém, as sensações e sentimentos que
vas: sua linha melódica é “tênue, resisten-
aquela experiência provoca não podem ser
te, densa e dominadora”. Do mesmo modo,
equiparados às emoções e sentimentos que
a frase da peça musical que mais lhe im-
estavam presentes na música (e, antes, no
pressiona tem um movimento “rápido, mi-
artista) e que, supostamente, teriam se re-
údo, permanente, melancólico e suave”. E
produzido em Swann; eles seriam, muito
Proust fala ainda da relação que se estabe-
mais, uma consequência desse efeito pri-
lece entre a música e Swann: ela o tira do
mário de afetação causado pela força di-
eixo, o move por completo, entra em um
nâmica que caracteriza a obra.
jogo de forças com ele – ela lhe arrebata,
De fato, muitos autores indicam
lhe abre a alma. Seu ritmo, ora lento, ora
uma estreita relação entre a arte e certas
rápido, o dirige e o arrasta cada hora para
forças dinâmicas que parecem ser centrais
um lado. Somos convidados a experimen-
na experiência com ela. Deleuze e Guattari

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(2007) afirmam que o problema comum de arte deixaria entrever as forças, evidenci-
todas as artes é o de captar o plano das ando a potência vital que tudo agita. A
forças. A tarefa da pintura, por exemplo, competência do artista é “encarnar, na o-
não é reproduzir ou inventar formas, mas bra, a percepção da vida que pulsa nas coi-
tentar tornar visíveis forças invisíveis (De- sas, autonomizada de sua pessoa” (Rolnik,
leuze, 2007). O artista realiza esta tarefa 2001, p. 30). O artista deve encontrar nas
extraindo perceptos de percepções. É atra- coisas a vitalidade que delas emana e tra-
vés dos perceptos que ele torna sensíveis as duzi-la para um meio de expressão que a
forças invisíveis que povoam o mundo e encarne.
que nos afetam, nos fazendo entrar em Mas, do ponto de vista cognitivo,
devir. Os afectos são estes devires não hu- como entender a expressividade como cap-
manos do homem. Segundo Deleuze e tura de forças e afectos, como entender
Guattari (2007), o artista é alguém que vê essa potência vital que tudo agita e que o
na vida algo demasiado grande, sendo por artista faz aparecer em suas obras? Como
isso um vidente, alguém que se torna. O percebemos essas forças e de que modo o
afecto que transborda dos perceptos marca, artista as captura?
então, uma saída de um mundo representa- Para responder a essas perguntas,
cional de semelhança entre formas e apon- iremos nos apoiar, principalmente, na teo-
ta para a potência de um fundo capaz de ria da percepção do gestaltismo e no traba-
dissolver a forma e revelar as forças que aí lho de três autores que nos ajudarão a
habitam. compreender melhor os aspectos cogniti-
Pensando com Deleuze, podemos vos e experienciais da percepção e da cria-
supor que a expressividade artística está ção da expressividade na arte: Arnheim
relacionada com estas forças que o artista (1966, 1984, 2002, 2004), Stern (1992,
captura em tudo que transborda vida. Não 2010) e Dewey (1934/2010). Na psicologi-
se trata da representação de um conteúdo a, vemos a teoria gestaltista se destacar
pelo que ele tem em si, mas de sua potên- como uma alternativa a explicações da
cia dinâmica, que nos atinge e nos absorve expressividade pela associação, empatia ou
em seu ritmo. Deleuze e Guattari (2007) projeção de sentimentos. Koffka
afirmam que o artista faz vibrar a sensação; (1935/1975) e Köhler (1938/1976), ligados
através dela ele captura afectos impessoais, à Escola de Berlim, e mais tarde Arnheim
e não emoções pessoais. (2002) – cuja afinidade com o gestaltismo
Nesse mesmo sentido, Rolnik é inquestionável –, sustentaram que o pró-
(2000) afirma que as obras são vibráteis. A prio objeto artístico poderia portar um ca-

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ráter expressivo intrínseco. Com isso, o cepção resulta de certa conformação de
problema da expressividade2 pôde ser reco- forças e tensões perceptivas no campo, que
locado em novos termos. implicam o percebedor e o atingem de
Para os gestaltistas, os objetos pos- forma vívida.
suem um caráter, seja ele estranho, gracio- Arnheim (2002) desenvolve as i-
so, elegante, irritante ou outro. Esse caráter deias gestaltistas em seu trabalho e susten-
se deve à própria estrutura do objeto, sendo ta, de forma semelhante, que a expressivi-
uma propriedade formal, que possui um dade é uma qualidade intrínseca aos pró-
sentido ou valor intrínseco. O fato expres- prios objetos. Sua teoria sobre a expressão
sivo não se confunde com um signo, cujo afirma a existência de uma dinâmica, ou
significado seria algo diferente dele pró- seja, de um jogo de forças, presente na
prio. Ele é fruto do caráter objetivo da estrutura dos objetos. As obras de arte,
forma e está sempre dado na percepção então, seriam dinâmicas por excelência e
direta (Guillaume, 1937/1966). colocariam em evidência o jogo de forças
A introdução do conceito de campo intrínseco às coisas. É tal atributo estrutu-
no estudo da percepção criou condições ral que confere unidade à obra: graças a
para que a expressividade fosse entendida ele, o objeto percebido porta certa qualida-
como um fenômeno objetivo. O conceito de, a que chamamos de expressividade. A
refere-se à existência de forças no meio aparência dinâmica de um objeto revela
comportamental que determinam e regu- “maneiras de comportamento”, que possi-
lam nossa percepção e comportamento. bilitam que dele se diga que é agressivo,
Assim, o campo pressupõe não só a exis- triste, enérgico, alegre, doce, suave, tenso,
tência de objetos no meio comportamental, e assim por diante. Em uma pintura, por
mas também a de suas propriedades dinâ- exemplo, as linhas, as cores e as formas
micas. O campo é, na maior parte do tem- possuem direções, intensidades e deforma-
po, heterogêneo, ou seja, há nele sempre ções que percebemos como forças e ten-
uma tensão entre seus componentes e uma sões dirigidas. São essas forças e tensões
direção de destaque para onde a percepção que dão caráter dinâmico e expressivo à
é atraída. O sujeito percebedor não somen- pintura. A expressão depende da percepção
te percebe tensões entre os diversos objetos do impacto dessas forças na obra. Tais
do campo, mas é, ele próprio, parte deste forças chegam vivas ao espectador e “pro-
campo, estando sujeito à ação das forças duzem a espécie de participação ativa que
que o compõem. A expressividade é uma distingue a experiência artística da aceita-
propriedade do objeto artístico e sua per-

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ção separada da informação” (Arnheim, nosso redor. Podemos entender a experiên-
2002, p. 452). cia de vitalidade pela análise da dinâmica
As qualidades dinâmicas são um de eventos muito pequenos e que, segundo
aspecto inseparável da percepção, qualquer Stern (2010), são a base dos momentos
que seja a modalidade sensorial nela impli- psicológicos e interpessoais de nossa vida:
cada. Apenas quando atentamos para as a força, velocidade e fluir de um gesto; o
propriedades métricas daquilo que vemos é timing e o acento de uma frase ou palavra;
que existe alguma possibilidade de igno- o modo como alguém abre um sorriso ou o
rarmos a expressão direta dos objetos ou curso de tempo para desfazê-lo; o modo de
situações. Quando apreendidos em termos uma pessoa mudar de posição em uma ca-
de suas qualidades dinâmicas, os objetos deira; a mudança de direção ou o “voo” de
são percebidos como carregados de signifi- um olhar; a pressa de um pensamento. Es-
cado expressivo. As descrições métricas tes são exemplos de experiências em pe-
escondem a qualidade fundamental da ex- quena escala e que são a matriz para expe-
periência perceptiva, tal como a percepção rienciarmos as outras pessoas e sentirmos
da ponta agressiva de um triângulo, o cho- sua vitalidade. Para o autor, essa experiên-
que dissonante de matizes coloridos ou o cia é tão central que ele chega mesmo a
arremesso do movimento explosivo (Ar- afirmar que “nós vivemos impressões de
nheim, 1984). vitalidade como nós respiramos o ar”
(Stern, 2010, p. 3).
A arte afeta: expressividade e afectos de Todavia, as experiências de vitali-
vitalidade dade não estariam restritas ao encontro
com pessoas, mas também seriam caracte-
Do mesmo modo, encontramos na rísticas de outras situações, como nossa
obra de Daniel Stern (1992, 2010) uma experiência com a arte. Uma vez que a
importante fonte para entendermos a per- expressividade artística refere-se, justa-
cepção da expressividade artística para mente, ao caráter dinâmico e vívido das
além da transmissão ou projeção de senti- obras de arte, podemos dizer que o fenô-
mentos e emoções. Stern (2010) aponta meno da expressividade equivale à experi-
que, em nosso cotidiano, estamos total- ência de vitalidade proposta por Stern. A-
mente mergulhados em “experiências de final, uma obra de arte é sempre mais que
vitalidade”. A vitalidade seria uma espécie um simples objeto que se presta à recogni-
de força, de energia vital que percebemos ção, e a força de sua expressividade está
na ação das pessoas e em certas coisas ao

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exatamente em sua intensa relação com os ria de afectos para dar conta delas, visto
aspectos mais vitais de nossa experiência. que existem muitas qualidades de sensação
Podemos encontrar em um espetá- que não se ajustam ao nosso léxico ou ta-
culo de dança ou teatro, por exemplo, uma xonomia de afectos existentes (Stern,
performance técnica adequada, mas uma 1992). Assim, os afectos de vitalidade re-
peça só marca nossa experiência, de fato, cobrem certas qualidades da experiência
quando o artista consegue trazer ao seu que são mais bem designadas por termos
trabalho uma vitalidade dinâmica única dinâmicos e cinéticos (geralmente adjeti-
que se expressa no espetáculo. A descrição vos ou advérbios), como: explosivo, rela-
da experiência de Swann de escutar uma xante, tenso, parado, crescente, pulsante,
música, como mostramos, também revela a lânguido, acelerado, fraco, decrescente,
grande vitalidade e dinâmica que a música flutuante, prolongado, entre outros. São
parece portar, atingindo o personagem com eles que trazem a experiência de vitalidade
intensidade. para nossas percepções, mas não são, de
Para explicar as experiências de vi- maneira alguma, emoções nem estados
talidade, Stern desenvolve o conceito de motivacionais.
“afectos de vitalidade” (Stern, 1992) ou Os afectos de vitalidade não dizem
“formas dinâmicas de vitalidade” (Stern, respeito ao conteúdo de uma experiência,
2010)3. A compreensão do papel dos afec- mas, antes, a sua forma dinâmica. Relacio-
tos de vitalidade em nossa experiência per- nam-se com o “como”, com o modo e esti-
ceptiva será essencial para compreender- lo através do qual uma experiência ocorre,
mos o fenômeno da expressividade e nos e não com o “o que” ou “por quê” desta.
permitirá dispensar as noções de emoção e Dessa forma, os afectos de vitalidade re-
sentimento como base explicativa para o presentam um aspecto de nossa experiência
mesmo. cotidiana que permeia todas as nossas a-
Stern acredita que os chamados a- ções e percepções, embora nem sempre
fectos categóricos (alegria, tristeza, raiva, e estejamos atentos a eles. Eles estão sempre
assim por diante) – que corresponderiam às presentes, mesmo que fora de nossa cons-
emoções e aos sentimentos evocados pelas ciência, enquanto afectos regulares como
teorias estéticas e psicológicas que apre- alegria, tristeza e raiva, ora aparecem, ora
sentamos no início deste artigo – não são desaparecem de nossa experiência.
suficientes para descrever determinadas Assim, os afectos de vitalidade são
formas de experiência. Ele sugere, então, distintos dos afectos categóricos, pois são
que é preciso acrescentar uma nova catego- inerentes a todo comportamento. Eles po-

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dem ocorrer na presença ou não de afectos volve e termina. Assim, nossa percepção
categóricos, não sendo a mesma coisa que do movimento caracteriza-se por um senso
uma emoção. A emoção é apenas um dos de tempo, forma e duração. Além disso,
possíveis conteúdos que podem ser mode- quando percebemos movimento, geralmen-
lados em formas dinâmicas de vitalidade. te atribuímos uma força a ele e tendemos a
A dinâmica não é uma característica per- considerá-la como intrínseca ou como es-
tencente a uma emoção em particular. Por tando “por trás” dele. O movimento define,
exemplo, um afecto de vitalidade de sobre- também, certo senso de espaço e, final-
carga pode tanto se referir a uma sobrecar- mente, parece possuir uma orientação, ou
ga de raiva ou alegria, quanto a uma inun- seja, sentimos que ele “vai a algum lugar”
dação de luz percebida, uma sequência (Stern, 2010).
acelerada de pensamentos, uma imensurá- Stern define, dessa maneira, cinco
vel onda de sentimentos despertada por componentes dinâmicos que caracterizari-
uma música ou a injeção de narcóticos. am nossa percepção de vitalidade: movi-
Um afecto de vitalidade não se refere ao mento, tempo, força (ou intensidade), es-
conteúdo de um sentimento, mas a uma paço (ou forma) e orientação. Eles ocorrem
forma que pode se referir a todo e qualquer sempre simultaneamente, formando uma
tipo de evento. O afecto de vitalidade “ex- espécie de Gestalt, ou, como o autor no-
plosivo”, por exemplo, pode tanto se refe- meia, uma “pêntade dinâmica fundamen-
rir a um riso quanto a um levantar-se de tal” (Stern, 2010, p. 4). Só podemos sepa-
uma cadeira (Stern, 1992). rá-los de maneira teórica ou analítica; a
Stern afirma que a vitalidade é uma vitalidade sempre é experimentada ou per-
experiência subjetiva e uma realidade fe- cebida como um todo, surgindo como uma
nomenal que possui uma base na ação físi- propriedade emergente. Stern (1992) tam-
ca e em operações mentais rastreáveis, não bém afirma que os componentes da vitali-
se confundindo, então, com uma forma de dade são qualidades amodais de nossa ex-
vitalismo. A base física dos afectos de vita- periência. Isso significa que, apesar de
lidade é o movimento, e ele carrega consi- serem compartilhadas por todas as modali-
go alguns componentes dinâmicos impor- dades sensoriais, tais qualidades dinâmicas
tantes. Em primeiro lugar, uma vez que da experiência não são específicas de ne-
todo movimento se desenvolve em certo nhuma delas, sendo um aspecto mais glo-
período de tempo, podemos atribuir a ele bal de nossa experiência. Elas são caracte-
um contorno ou perfil temporal, de acordo rísticas não somente de nossas experiências
com o modo como ele começa, se desen- sensoriais, mas de muitas outras formas de

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experiência. Por exemplo, podemos dizer são, incorpora às obras certa vitalidade (ou,
que uma cor (estímulo visual) possui tanta como preferimos, expressividade) através
intensidade quanto um som (estímulo audi- da forma pela qual o movimento, o tempo,
tivo) ou um odor (estímulo olfativo); mas a força, o espaço e a orientação são empre-
também podemos perceber intensidade em gados. Na música, por exemplo, a intensi-
uma gama de experiências não sensoriais: dade equivale à qualidade amodal de força
uma conversa pode ser intensa, um senti- dos afectos de vitalidade. A altura é perce-
mento ou mesmo um pensamento. bida como um reflexo da força, o que sig-
Assim, em comparação com as e- nifica, por exemplo, que para que um pia-
moções e sentimentos, os afectos de vitali- nista alcance um som mais alto, ele deve
dade estão mais aptos a exercerem um pa- trazer mais peso para suas mãos, de modo
pel fundamental na percepção da expressi- que esta ação tenha um efeito perceptível
vidade artística. Com eles, podemos enten- para o público em geral. Isto vale para
der de que modo as obras de arte encarnam qualquer instrumento. Do mesmo modo, o
sua expressividade, identificando nelas as “espírito” da velocidade das músicas resul-
qualidades amodais dinâmicas que as tor- ta de variações no tempo e é marcado pela
nam expressivas. convenção musical, algo que está implica-
Para Stern (1992), os afectos de vi- do nas indicações de allegro (suave), an-
talidade se apresentam nas obras através do dante (andando rápido), entre outras. Estas
estilo, ou seja, de acordo com o modo co- variações ajudam também a construir a
mo as formas são tratadas na arte – como forma de vitalidade a ser expressa.
as cores e linhas são executadas em uma Na dança e no teatro, diferentes a-
pintura, por exemplo. Assim como com- fectos de vitalidade resultam de variações
portamentos expressivos comportam afec- de esforço e forma que permitem falar em
tos de vitalidade, a expressividade de uma força, velocidade, desaceleração, acelera-
obra de arte também seria uma função do ção, energia, flexibilidade, etc. A singula-
estilo, variando segundo o modo como ela ridade de uma interpretação vai variar,
é executada, como nela se criam harmonias segundo Stern, de acordo com a forma
de cores ou resoluções lineares, e assim como uma performance é executada. Isso
por diante. fica evidente na seguinte passagem, em
Cada forma de arte possui uma ma- que o autor descreve como a maneira de se
neira de traduzir os afectos de vitalidade no executar determinado movimento pode
campo do perceptível. Cada uma delas, criar efeitos dinâmicos completamente
recorrendo a seu próprio meio de expres- diferentes – algo a que o célebre coreógra-

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fo e diretor americano Jerome Robbins, precisamos explorá-la, viajar com os olhos
premiado pelo clássico musical West Side sobre ela, algo que leva tempo e que não é
Story, parecia ser muito sensível: feito de maneira suave e uniforme. Para
Stern, formas visuais estáticas, como as
Alguns recursos dinâmicos são quase im- cores, também implicam movimento. Por
possíveis de codificar; não há linguagem
exemplo, as cores quentes, como o verme-
ou signo para eles. Dois exemplos da core-
lho, tendem a se projetar para frente em
ografia de Jerome Robbins são notáveis.
Pediu-se a uma dançarina que ela virasse
nossa percepção, e as cores frias tendem a
sua cabeça bruscamente para o lado, em retroceder. Para o autor, as cores
noventa graus. Ela o fez, e pareceu bom,
mas não foi exatamente o que Robbins [...] são como uma força que age em você.
queria, então ele disse, “vire a cabeça co- Curvas se movem suave e graciosamente,
mo se você tivesse levado um tapa na cara, enquanto ângulos agudos se movem de
forte.” Quando ela fez isso, o efeito foi forma denticulada. As linhas horizontais e
bem diferente (Stern, 2010, p. 86). verticais colocam o observador no espaço
virtual de maneira diferente das linhas dia-
Assim, cada forma de arte possui gonais, e assim por diante (Stern, 2010, p.
sua própria maneira de codificar as formas 31).

dinâmicas. Cada tipo de arte encontra suas


A posição de Stern encontra resso-
próprias técnicas para criar, basicamente,
nância na teoria gestaltista da percepção,
as mesmas formas vitais compartilhadas
que a compreende como resultado de uma
por todas.
série de interações de forças e vetores no
Entretanto, uma vez que Stern toma
campo perceptivo, e concorda especial-
o movimento como elemento central para
mente com a posição de Arnheim, quando
explicar o caráter dinâmico das experiên-
este analisa esse jogo de forças perceptivas
cias de vitalidade, podemos nos perguntar
no campo da arte. Para que as qualidades
como os afectos de vitalidade podem com-
amodais apontadas por Stern sejam perce-
parecer nas chamadas artes estáticas, como
bidas, não é preciso nenhum movimento
a pintura, a fotografia e a escultura. Stern
real do objeto percebido. As forças percep-
(2010) prevê algumas explicações possí-
tivas são de origem mental e surgem da
veis para estes casos, embora não se esten-
interação da estrutura dinâmica das obras
da muito nelas. Em primeiro lugar, aponta
de arte com nosso sistema perceptivo. Ar-
que a percepção de uma figura estática não
nheim afirma que não há qualquer razão
é instantânea, mas leva tempo para ser cri-
para não falarmos em forças perceptivas e
ada. Para que uma figura estática seja vista,

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em percepção de movimento mesmo quan- nheim, 2002, p. 405). A dinâmica é a qua-
do estamos diante de um simples desenho lidade responsável pela percepção da ex-
num papel. Por exemplo, quando estamos pressão. O autor observa que qualquer des-
diante de uma figura em que há um ponto crição adequada de uma obra de arte é car-
preto ligeiramente deslocado para a direita regada de termos dinâmicos, que visam dar
em relação ao centro de um retângulo den- conta de seu caráter expressivo. Os percep-
tro do qual ele se encontra. Embora seja tos são proeminentemente dinâmicos, ou
fisicamente estática, tendemos a perceber seja, são percebidos como possuídos por
na figura um movimento tendencial do forças dirigidas (Arnheim, 1984).
ponto preto em direção à borda direita da Arnheim (2002) sustenta que são as
imagem ou, ao contrário, em direção ao características dinâmicas dos traços, cores
centro dela. O gestaltismo explica esse e configurações que tornam uma obra de
fenômeno através da lei da boa-forma, que arte expressiva. Para ele, não são sentimen-
postula que nossa atividade perceptiva ten- tos que são expressos por uma obra, mas
de a equilibrar uma situação dada. Se com- qualidades dinâmicas de torção, expansão,
pararmos essa primeira figura com uma solidez, esforço, entre outros, que são reve-
segunda, em que o ponto preto se situa ladas através da conformação dinâmica que
perfeitamente centralizado em relação ao assume a obra. Para o autor, o esqueleto
retângulo que o envolve, veremos que, na estrutural de uma obra de arte revela o te-
última, o mesmo ponto se apresenta mais ma dinâmico de uma obra, bem como as
estável e estático, uma vez que sua posição forças perceptíveis que nela atuam, desper-
no campo perceptivo está mais equilibrada tando na mente do observador uma corres-
que na primeira figura. Assim, nossa per- pondente configuração de forças, que che-
cepção está permanentemente sujeita à gam a ele vivas e que lhe permitem perce-
experimentação de forças perceptivas e a ber sua expressividade.
arte é, por excelência, um campo de explo- Por exemplo, o famoso quadro de
ração dessas forças (Arnheim, 2002). Munch, convenientemente intitulado Me-
Arnheim descreve a expressividade lancolia, apresenta, através de um meio
como um fenômeno diretamente relaciona- visual, um afecto de vitalidade tal como o
do com a dinâmica das formas, sendo uma “decaimento”, que se expressa pela inten-
qualidade fundamental de toda percepção. sidade das cores usadas e por certo gradi-
Tomando como exemplo a visão, Arnheim ente que formam, assim como pela forma e
afirma que “a percepção visual consiste na pelo ritmo sugeridos por suas linhas. As
experimentação de forças visuais” (Ar- qualidades dinâmicas dos afectos de vitali-

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dade não são distinguidas como tais na periência artística, através do sentido ci-
experiência do observador, mas são expe- nestésico. Estas sensações funcionam co-
rimentadas como uma unidade. mo um objeto perceptivo e ocorrem não só
Para Arnheim (1984), a arte faz no artista, mas também no espectador. Po-
com que percebamos os estados dinâmicos dem ser suscitadas pela percepção de qual-
presentes na obra de arte através de uma quer sistema expressivo em qualquer meio,
experiência com características próprias. tais como as formas dinâmicas da música,
Esta experiência admite relações variáveis da arquitetura ou da pintura (Arnheim,
entre a estrutura dinâmica da obra e o per- 1966).
cebedor, relações essas que se caracterizam Num terceiro nível, a dinâmica do
por três estados possíveis diferentes. Em produto artístico envolve o próprio eu do
um primeiro nível, as estruturas não são observador, criador ou intérprete. Tal inva-
apreendidas em seu aspecto dinâmico. A são do eu pela dinâmica da obra de arte
obra é, então, percebida em suas proprie- seria responsável, por exemplo, por uma
dades estáticas, caracterizando uma situa- afetação pela obra de tal intensidade que o
ção de mera apreensão de informação, em espectador chega mesmo a chorar. Mas é
oposição a uma experiência artística plena importante ressaltar que esta afetação não
(que capta as propriedades dinâmicas dos se explica pela história de vida ou por sen-
objetos). Este é o caso, por exemplo, de timentos de um “eu”; é um produto da pe-
quando observamos e descrevemos uma netração das forças dinâmicas perceptivas,
pintura como um aglomerado de objetos, fruto de uma ressonância corporal muito
sem nos darmos conta de seu efeito primá- forte de tais forças no espectador.
rio, que é o efeito expressivo. Deste modo, não reconhecemos a-
Num segundo nível, os traços di- penas a presença de uma agitação numa
nâmicos darão vida não somente aos per- peça musical ou a desconcertante vacilação
ceptos do mundo físico, mas também às dos pensamentos de Hamlet; no texto de
sensações corporais, principalmente às que Shakespeare, tanto o artista quanto seu
se referem a indicações cinestésicas dos público sentem esses estados dinâmicos
esforços e tensões musculares. Aqui, en- como experiências em seu próprio corpo.
contramos uma ideia nova, muito pouco Quando a percepção se dá de maneira esté-
explícita nos trabalhos do autor, que chama tica, os traços dinâmicos dotam de vida
a atenção para um efeito de ressonância não só os perceptos do mundo físico, mas
corporal, que em algumas pessoas e em também as sensações recebidas dentro do
certas ocasiões reforça notavelmente a ex- corpo, sobretudo as indicações cinestésicas

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dos esforços e tensões musculares. Estas Conclusão: o fenômeno da expressão sob
sensações funcionam como um objeto per- a perspectiva da expressividade
ceptivo. Animada pelo seu caráter dinâmi-
co, a interpretação do ator ou bailarino é A explicação do fenômeno da ex-
expressiva, é algo mais que um frio mos- pressividade tem consequências diretas
truário de gestos. Assim, sensações cines- para o entendimento do fenômeno da ex-
tésicas também podem ocorrer no especta- pressão, entendido aqui como o processo
dor. através do qual o artista torna suas obras
É interessante notar que muitos au- expressivas. Como vimos, a maioria das
tores afirmam que a percepção da expres- teorias estéticas e psicológicas entendem
sividade envolve o corpo de maneira dire- que, no processo de criação, o artista, de
ta. Assim, quando apreciamos uma obra de algum modo, exprime seus sentimentos e
arte, é ao nosso corpo que ela se endereça seu eu através da arte. Porém, se recusa-
primariamente: é num nível ainda indescri- mos a ideia de que as obras expressam
tível em palavras, mas de realidade e con- emoções e sentimentos dos artistas, elimi-
cretude intensas, que ela causa um impacto namos também a ideia de que expressar
que é, antes de tudo, corporal. emoções é o que os artistas fazem. Agora
Os trabalhos de Arnheim e Stern podemos lançar um novo olhar sobre a
nos ajudam a defender e sustentar a ideia expressão, tomando-a como um processo
de que a expressividade não se explica pelo através do qual o artista cria com forças
contágio do público pela emoção pessoal dinâmicas, apresentando essas forças em
do artista, nem pela projeção de nossos sua obra com base, principalmente, em sua
próprios sentimentos sobre as obras de percepção.
arte, mas pode ser compreendida pelo cará- Se entendermos o ato de criação ar-
ter dinâmico das próprias obras, que por- tística tal como proposto por John Dewey
tam, pelo modo como exibem as formas, (1934/2010), admitiremos que a percepção
cores, movimentos, e assim por diante, estética não é uma atividade exclusiva do
certos afectos de vitalidade que lhes dão percebedor, sendo central também para o
um caráter expressivo único. ato de criação artística. Assim, o processo
de criação não é uma descarga de senti-
mentos ou uma via de autoexpressão. Todo
ato de criação artística abarca uma percep-
ção estética. Ou seja, ao criar, o artista as-
sume também o papel de espectador, já que

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toda criação se fundamenta na percepção tada por Dewey antes se assemelha à noção
de relações que vão se estabelecendo na de afectos de vitalidade apresentada por
obra ao longo de sua produção e que orien- Stern (1992, 2010) e possui um papel de
tam o trabalho. O artista seleciona e reúne extrema importância na condução do ato
materiais que serão trabalhados a fim de de expressão, embora não constitua seu
criar uma obra na qual se encarnam um conteúdo.
sentido e uma qualidade expressiva que A emoção, para Dewey, possui uma
penetram o todo da experiência. função fundamental no processo expressi-
O autor destaca que nem toda ativi- vo devido a seu caráter seletivo. Ela pode
dade “de dentro para fora” (Dewey, ser comparada com um clima predominan-
1934/2010, p. 164) é, por isso, expressiva. te que exclui tudo aquilo que não se incor-
Uma tempestade de paixão, por exemplo, pora a ele. Ela seleciona tudo que lhe é
não constitui um ato expressivo, visto que cognato, que pode alimentá-la e levar o
nela existe apenas atividade. O sujeito dá processo de criação a uma conclusão. Ela
vazão a um acesso de paixão, mas não há “extrai matéria de uma multiplicidade de
nem reflexão, nem a transformação de e- objetos, numérica e espacialmente separa-
lementos do meio em veículos expressivos. dos, e condensa o que é abstraído em um
Há apenas um transbordamento. A descar- objeto que é uma síntese dos valores per-
ga afetiva é uma condição necessária, mas tencentes a todos” (Dewey, 1934/2010, p.
não suficiente da expressão. “Descarregar 157).
é livrar-se de algo, descartá-lo; expressar é Esta emoção parece sobrepor-se ao
ficar com a turbulência, levá-la adiante em próprio artista, pois é responsável pela cri-
seu desenvolvimento, elaborá-la até sua ação de um encadeamento que se apresenta
conclusão” (Dewey, 1934/2010, p. 148- ao espectador como intrinsecamente neces-
149). Para haver expressão, há de se elabo- sário, seguindo uma lógica própria, que
rar as condições objetivas e moldar o mate- está acima da intenção consciente. Dewey
rial para que ele encarne tal agitação. coloca que esta é a razão pela qual, de vez
Dewey afirma que, ao longo do ato em quando, no irritamos ou nos ofendemos
expressivo, há uma emoção que guia o com certas obras de arte, em que a seleção
processo até sua conclusão. Mas é preciso e a montagem dos materiais não parecem
esclarecer que, para o autor, a emoção que guiados por uma emoção inerente a ela,
guia um ato expressivo não é um afecto mas por um esforço do autor em despertar
categórico que o artista sente e que busca no espectador determinada emoção pré-
expressar em sua obra. A emoção apresen- definida, que não condiz com o clima geral

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da obra. Em um romance, por exemplo, Assim, o que parece estar no cerne
isto ocorre quando o autor faz de um per- do fenômeno da expressividade não é a
sonagem um fantoche para expor uma i- comunicação de uma emoção ou sentimen-
deia que ele mesmo aprecia. Este tipo de to. A forma como as coisas nos afetam é
manobra causa-nos muitas vezes desagra- transmitida de maneira vital por uma obra
do, visto que provém de fora do movimen- de arte através das qualidades dinâmicas da
to temático da obra. percepção, que são comuns a todos os
É preciso, então, que a criação ar- meios expressivos e a todas as modalida-
tística também esteja pautada na captura de des perceptivas, qualidades estas que cons-
um afecto de vitalidade. O trabalho do ar- tituem afectos de vitalidade. Estes, sim,
tista consiste, entre outras coisas, em con- contribuem para o surgimento do caráter
seguir transmitir, em sua obra, a dinâmica expressivo de uma obra de arte, conferin-
desse afecto, e não sua própria subjetivida- do-lhe um caráter vivo e estético. Nosso
de. É isso que Matisse parece querer afir- corpo é diretamente afetado pela percepção
mar quando descreve a importância de se da expressividade, sendo tomado por uma
capturar as forças dinâmicas da natureza espécie de ressonância com as obras de
através da pintura: arte. A percepção da expressividade artísti-
ca não resulta, então, de processos mera-
É na expressão de ritmo que a atividade do
mente intelectuais, mas de uma espécie de
artista será realmente criativa [...]. Na Na-
sintonia que se estabelece entre nosso cor-
tureza-morta com magnólia, transmite com
o vermelho uma mesa de mármore verde; po e os afectos de vitalidade responsáveis
em uma outra parte, precisei de uma man- pelo caráter expressivo de uma obra.
cha preta para evocar a reverberação do sol
sobre o mar; todas essas transposições não
Notas
foram de forma alguma fruto do acaso ou
de sabe-se lá qual fantasia, mas o resultado
1
de uma série de pesquisas depois das quais Todas as traduções de obras não
essas cores me apareceram como necessá- publicadas em português são de nossa
rias, dada sua relação com o restante da responsabilidade.
composição, para transmitir a impressão 2
É importante ressaltar que o termo “ex-
desejada. As cores, as linhas, são forças, e
pressividade” (e mesmo “expressão”) foi
no jogo dessas forças, no equilíbrio entre
elas, reside o segredo da criação (Matisse, raramente utilizado pelos autores gestaltis-
2007, p. 371-372). tas em seus textos. Apenas em Guillaume
(1937/1966) encontramos explicitamente o
uso do termo “expressão”. Köhler

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(1938/1976) utiliza os termos “valor” e _________. (2004) Unidade e diversidade
“exigência”; Koffka (1935/1975) fala em das artes. In R. Arnheim. Intuição e
“caracteres fisionômicos”; outras vezes intelecto na arte (pp. 67-79). São
encontramos termos como “qualidades Paulo: Martins Fontes.
terciárias”, “caracteres exigentes” e “fisio- Carroll, N. (1999) Philosophy of Art: a
nomia moral” na obra dos autores da Esco- contemporary introduction. Nova
la de Berlim. Entretanto, em todos esses Iorque: Routledge.
casos, os autores tratam do mesmo fenô- Deleuze, G. (2007) Francis Bacon: lógica
meno perceptivo que aqui denominamos da sensação. Rio de Janeiro: Zahar
expressividade. Editor.
3
As duas expressões foram utilizadas pelo Deleuze, G., & Guattari, F. (2007) O que é
autor para designar o mesmo fenômeno, tal a filosofia? Rio de Janeiro: Editora
como ele próprio afirma em seu livro mais 34.
recente, Forms of Vitality (Stern, 2010). Dewey, J. (2010) Arte como experiência.
Aqui, seguiremos utilizando a expressão São Paulo: Martins Fontes. (Origi-
“afectos de vitalidade”, pois acreditamos nal publicado em 1934).
que a palavra afecto transmite melhor o Freud, S. (1969) Escritores criativos e de-
efeito da vitalidade no percebedor, pelo vaneios. Edição standard brasileira
fato de sugerir um movimento de fora para das obras psicológicas e completas
dentro, indicando uma verdadeira afetação de Sigmund Freud (v. 9, pp. 147-
do homem pelas coisas, numa espécie de 158). Rio de Janeiro: Imago. (Ori-
assalto da percepção. ginal publicado em 1908).
_________. (1974) O Moisés de Miche-
Referências langelo. Edição standard brasileira
das obras psicológicas completas
Arnheim, R. (1966) Para uma psicologia de Sigmund Freud (v. 13, pp. 249-
da arte. Lisboa: Dinalivro. 279). Rio de Janeiro: Imago. (Ori-
_________. (1984) Perceptual dynamics in ginal publicado em 1914).
musical expression. The Musical Guillaume, P. (1966) Psicologia da forma.
Quarterly, 70(3), 295-309. São Paulo: Nacional. (Original pu-
_________. (2002) Arte e percepção visu- blicado em 1937).
al: uma psicologia da visão criado- Koffka, K. (1975). Princípios de psico-
ra. São Paulo: Edusp/Pioneira. logia da Gestalt. São Paulo: Cul-
trix. (Original publicado em 1935).

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