Mescalina:

Peiote e São Pedro

O Peiote (Lophophora williamsii)
Crescimento: ~ 30 anos em estado natural, 6 a
10 anos quando cultivado.

Possui cerca de 20 tipos de alcaloides diferentes;

a mescalina representa 30% do total desses
alcaloides.

É usado pela ‘medicina tradicional’ como

estimulante, antídoto contra venenos e
antibiótico.
O San Pedro

(Trichocereus
pachanoi
ou
Echinopsis
pachanoi)
Echinopsis panachoi Echinopsis peruvianus
Trichocereus bridgesii
Cresce cerca de meio metro/ano, 6-8 ramos
em média.

Contém diversos alcaloides, sendo que a

mescalina representa até 2% do total de
alcaloides produzidos.

É consumido como alimento.

Natural da cordilheira dos Andes.

É usado para tratar: afecções nervosas,
afecções nas articulações, dependências
químicas, enfermidades cardíacas e
hipertensão. Também é usado,
tradicionalmente, para tratar de feridas,
dermatoses, inflamações, infecções fúngicas e
sinusites.
 A Mescalina - Posologia
Nenhum relato conhecido de dosagem mortal

Dose ativa: mínima de 100mg; geralmente de

500 à 600mg. Corresponde à, em média, de 2
a 30 botões de peiote.

A mescalina sintetizada chega a custar 70

dólares no mercado lícito, 200 no ílicito.
-As administrações vegetais incluem: ingestão dos
botões, ingestão do cacto moído (farinha),
ingestão de cápsulas e ingestão de infusão de chá.

-Parente bem próximo da Fenilalanina e da

Adrenalina que são aminoácidos essenciais.

-A tolerância da Mescalina é praticamente nula

quando tomada em espaços de um mês. No caso
da Igreja Peiotera (Igreja Nativa Americana), onde
é tomado semanalmente, produz tolerância leve.
 Efeitos Psíquicos e Subjetivos

Tem a especial capacidade de produzir visões

com as mais diversas mesclas de formas e
cores (padrões geométricos, fractais, etc).

Dois tipos básicos de imagens: os que

derivam da estrutura universal do sistema
nervoso humano (fosfenos) e os que derivam
da estrutura cultural.
• Introspecção elevada
• Inefabilidade, singularidade e intensidade dos
fenômenos alucinatórios
• Efeitos extáticos – prazer contemplativo
intenso
A ‘má viagem’, ou bad trip, não está
descartada. O ambiente de uso, a preparação,
a personalidade do(s) indivíduo(s), o estado
físico-psicológico-espiritual em que se
encontra(m), são variante importantes que
condicionam a experiência.
“La preparación y el ambiente son aspectos a
tomar en sério, pero aquello que finalmente
decidirá es la constitución anímica del sujeito; si
falta un espíritu de aventura y
autodescubrimiento hay altas propabilidades de
que la experiencia resulte trivial, o inútilmente
agotadora.” (ESCOHOTADO, Antonio. História
General de las Drogas, 2005, p.1332)
-A Mescalina catalisa processos mentais sepultados, mas
não ausentes do raciocínio normal.

-Para transes mais profundos, altas dosagens de

Mescalina são necessárias. Porém, durante uma
cerimônia tradicional, na qual elementos constituintes
do ritual atuam como ‘guias’ para a ‘viagem espiritual’,
mesmo em doses regulares, pode-se ter um efeito
bastante profundo de introspecção e imagens mentais.

-Acessos de pânico e rejeições da experiência podem ser

‘cortadas’ por meio de tranquilizantes. No entanto,
uma conversa com alguém experiente pode ser mais
proveitoso.
 Uso Tradicional - Peiote
-O Peiote é consumido há 3000 – 5500 mil anos
conforme estudos arqueológicos. Ele está
associado ao povo Huichol, Cora, Tarahumara,
Tepehuani, Tonkawa, Mescalero, Najavos,
Chichimecas, entre outros.
Elemento cultural fundamental para esses
povos do México e EUA.
Inquisição – Perseguição aos “bruxos” e
“feiticeiros” e demonização dos cultos
peioteiros. (México)
 Uso Tradicional - Peiote
• Peiotismo Mexicano – Pré-hispânico – Os
huicholes de Jalisco – utilização cerimonial do
Peiote mediante uma cultura simbólica de
grande complexidade
• Peiotismo Norteamericano – Pós-hispânico –
Registros documentais do seu uso desde 1716.
• Em 1918 o estado de Oklahoma aprovou a
instalação da Native American Church.
Igreja Nativa Americana (Native American
Church)
Movimento religioso e cultural americano,
comparado ao movimento do Santo Daime no
Brasil.
Fundada em 1918
Utilizam o Peiote como Sacramento – Ser
divino que a tudo pode curar.
Muito utilzado para tratamento do alcoolismo
e outras dependências químicas.
 Native American Church
Fundador – Quanah Parker, chefe comanche
-- Integração de elementos religiosos cristãos aos
cultos nativos.
Peiote como “uma parcela do corpo de Cristo”
-- Trabalhos de cura, batismo, funerais e aniversários.
-- Peiote comido ou consumido na forma de chá
Cerimônias, em geral, se iniciam à noite e vão até o
amanhecer do outro dia.
-- Aprox. 250.000 adeptos
Quanah Parker
 Uso Tradicional – San Pedro
-Há pelo menos 3000 anos que o São Pedro
começou a ser usado pela cultura Chavín, e
2000 anos pela cultura Moche.

-Assim como o Peiote, devido a colonização,

principalmente em função da ação da Igreja
Católica, muito do conhecimento do uso do
São Pedro se perdeu, foi ressignificado ou
transformado.
Centro Ceremonial Chavin de Huantar
Xamã segurando o cacto Cacto e Jaguar
Cacto e veado
 NAZCA
(100 aC – 800 dC)
Momento Ritual
 Império Inca
Incas
Império Huari
Moche & Nazca
Tr. Salinar
Chavin
 Usos terapêuticos
• Sensação de bem estar estimula as pessoas a conversarem em grupo.
• Curandeirismo psicodélico andino.
Alguns usos do Echinopsis peruvianus inluem:

Para a caspa e seborréia ou um xampu geral, usa-se a mucilagem do

caule.
• Dor de garganta: decocção do caule.
• Anti-reumáticos: O caule é cortado, fica de molho por um dia e no dia
seguinte é usada para lavar a área da dor com esta água mucilaginosa.

Veterinária: Para se livrar dos parasitas de suínos, o caule do cacto é

descascado, esmagado e deixadp de molho em água durante a noite. É
então misturado com o alimento dado ao animal.
 Legislação
-Classificado com psicotrópico por convenções
internacionais; o que permite aos países
legislarem sobre a substância como bem
entenderem.
-Proibido no Brasil (cultivo e comercialização do
Peiote).
-Restrito nos Estados Unidos
-Restrito no México
-Não é proibido na maior parte da Europa
-O São Pedro é amplamente cultivado com fins
ornamentais em diversos países; no entanto, o
cultivo relacionado com a mescalina é
geralmente criminalizado. Isto deixa uma
grande margem de dúvidas. Muitas vezes o
cacto é alegadamente vendido com propósitos
ornamentais sendo que, em verdade, o
destino final é a Mescalina. É o caso do Brasil.
 Panorama científico
• 1897 (EUA): isolada a partir do Peiote
(Lophophora williamsii) pelo cientista Arthur
Heffter – primeiro alucinógeno quimicamente
puro
• 1919: sintetizada pelo cientista austríaco Ernst
Spath
• 1930: pesquisa neurológica – abordagem
experimental dos universos mentais
 Curiosidades
-O São Pedro é também chamado de Wachuma,
ou Huachuma; do Quichuá, Ébrio e Consciente.
O nome São Pedro teria surgido quando,
durante a colonização espanhola, a Igreja
Católica teria tentado extinguir o uso do cacto
em cerimônias religiosas. Mas o entendimento
do cacto foi ressignificado e foi associado à
imagem de São Pedro; aquele que guarda as
chaves do portão dos céus.
SINCRETISMOS e MISCIGENAÇÕES
• Cristo de Tacobamba (século XVI): movimento
messiânico – Wachuma seria o sangue de
Cristo.
• Wachuma – San Pedro
• Peiote – Menino Jesus; Santa Rosa Maria; Erva
Santa Maria; Santa Maria do Peyote; San
Nicolas; San Antoñito.
São Nicolas São Pedro
Intelectuais e a mescalina

Jean-Paul Sartre; da sua experiência surgiram idéias e

pensamentos que aparecem em A Náusea (1938); obra que
inaugura e sustenta o pensamento do filósofo.

Henri Michaux escreveu Miserável milagre (1956), O

conhecimento pelos abismos (1961) e Infinito turbulento (1957);

Aldou Huxley escreveu As portas de percepção (1954) e Céu e

Inferno (1956)

Walt Disney; a sequência dos elefantes rosas em Dumbo (1941)

e o filme Fantasia (1940) teriam se baseado em experiências
que o autor teve com a Mescalina.
Sequência dos Elefantes rosas em Dumbo:
http://www.youtube.com/watch?v=RJv2Mugm2RI

Sequência inicial de Fantasia (a partir de 3:40):

http://www.youtube.com/watch?v=a1z12_Ps-gk

&
http://www.youtube.com/watch?v=bS4tUP0Tm50
 Bibliografia
• CARNEIRO S., Henrique. Amores e Sonhos da Flora:
afrodisíacos e alucinógenos na botânica e na farmácia. São
Paulo: Xamã, 2002
• HUXLEY, Aldous. As portas da percepção; e Céu Inferno /
Aldous Huxley; Rio de Janeiro: Globo. 1987
• ESCOHOTADO, Antonio. Historia General de las Drogas.
Madrid. Espasa Calpe S.A. 2002
• HOFMANN, A. & SCHULTES, R. E. Plantas de los Dioses. Fondo
de cultura. México. 1982
• CSORDAS, Thomas. Corpo, Significado, Cura. Porto Alegre:
Editora da UFRGS, 2008.