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Arte “pós-contemporânea”?

Juliano Ozga.

Primeiramente, deixo claro que uso o conceito anacrônico “pós-


contemporâneo” como uma crítica ao desconstrutivismo do tempo presente e
passado para buscar algo que não é concretizado positivamente e sim baseado
na desconfiguração do que existiu ou existe, ou seja, uma clara evidência da
falta de criatividade para criar, onde o destruir virou obra de arte e conceito
para expressão destrutivas do passado e presente, porém, observamos que o
que busca destruir para fundamentar sua obra é tão efêmero e passageiro que
nunca chega a se concretizar como uma escola, período ou tradição histórica
pelo seu fundamento que rui e abala suas próprias bases por ser vítima de um
ciclo destrutivo fluído que não busca permanência, e sim, parafraseando o
polonês Zygmunt Baumann, uma arte fluída que nunca chega a ser
contemporânea e por isso “pós-contemporânea” por não permanecer ou estar
perene, sempre está num futuro que não se realiza como presente e passado
por sua própria auto entropia.
Não estou criticando negativamente os artistas e pessoas humanas que
fazem arte contemporânea, ou seja, estou refletindo sobre um “zeitgeist” e
espírito do tempo desde o século XIX-XX que adentrou numa nebulosa entropia
da fábrica da morte ou indústria bélica da morte com o lema
“destruir/recontruir” aplicado na concepção geral de vida como necessidade
para a morte (basta observar todas as Guerras desde 1801-2000) e isso refletiu
enormemente nas artes em geral e nas teorias estéticas desde o seculo XX.
A arte pós-contemporânea como reflexo de um processo maior histórico
reflete a busca do ser humano nas artes por um caminho de duas vias: fluído e
efêmero como a vida que possui a única certeza da morte; ou a perenidade e
permanência como continuidade de um processo longo dentro da concepção
de graduação ou evolução humana desde os primórdios ancestrais até o
mundo ultra técnico/científico do século XXI.
A concepção de arte como uma convenção conceitual como Artur Danto
crítica é evidente e factual. A arte contemporânea é um jogo de convenções e

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precisa ser entendida conceitualmente quase como um compêndio esotérico
onde se você não domina os conceitos estéticos seria como você não entender
os conceitos lógicos de lógica modal, polivalente e matemática abstrata e
querer ler e entender um teoria científica da gravitação dos fluídos sem saber
ler, escrever e compreender matematicamente os símbolos e não entender a
linguagem matemática.
Outro exemplo é quando não sabemos ler partituras musicais, notação
musical, regras de composição e desejamos entender conceitualmente os
padrões e concepções de criação de uma peça musical, ou seja, escutamos e
ouvimos os sons da música mas somos analfabetos musicais em relação a
gramática da linguagem musical e não entendemos o que estamos ouvindo.
Tanto Wittgenstein e Langer bem como Danto perceberam a
concepção de convenção como um fator determinante nas regras do “jogo”
estético, onde a Filosofia da Arte como imitação ou mímesis de objetos naturais
na concepção de Platão e os protótipos ideias na visão de Schopenhauer e
Hegel são reflexos de uma ruptura anterior da autocrítica do modernismo com
Greenberg e Kant.
Ao mesmo tempo a Arte é expressão da ciência da época como discurso
aplicado na arte e também é uma expressão do simbólico como uma busca
mística de expressão através da arte sobre o que o discurso científico não pode
expressão, ou seja, o que se mostra e se manifesta no mundo é místico, isto é,
a manifestação no mundo é uma manifestação mística que a ciência não
possui a totalidade infinita de entendimento para expressar e explicar toda a
manifestação, donde “o que se pode dizer pode ser dito claramente
(discurso); e aquilo de que não se pode falar tem de ficar no silêncio”
(Wittgenstein). Esse silêncio ou misticismo do simbólico que é uma expressão
do que não se pode falar discursivamente mas sim expressar simbolicamente é
o campo do “zeitgeist” da arte.
Se aplicarmos conceitos da Filosofia da Ação de Wittgenstein, ou seja,
Razão-Causa-Motivo na arte (onde o campo da Razão é racional, seus tipos são
lógicos e suas regras/instruções são normativas e/ou prescritivas, o campo da
Causa é físico, seus tipos são científicos e suas regras/instruções são
descritivas e/ou observacionais e o campo do Motivo é emotivo, seu tipo é

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psicológico e sua regra/instrução é passional) observamos que a arte
contemporânea é uma expressão do espírito do tempo do século XXI fluído e
efêmero.
Baseado em tópicos de aula sobre “A Arte Autêntica como
Expressão” de Collingwood podemos refletir sobre: 1- A arte representa
(stellt) a realidade: teoria da imitação ou mímese (Platão e Aristóteles); 2- Tudo
o que conta na arte é a forma (Form): teoria formalista da arte; e 3- A arte
exprime (Ausdruck) emoções: teoria expressivista da arte.
A arte é a representação formal e expressa emoção, ou seja, a teoria
imitativa formal e expressiva (junção das três concepções anteriores). O
problema da definição disjuntiva da arte é a restrição e limitação (extensão e
tempo) da abrangência do conceito de Arte. A definição da arte baseada em
uma natureza/ponto comum; restrição valorativa do conceito “Arte”. “Diz tudo
e não expressa nada”: a definição disjuntiva da arte é uma condição suficiente
que envolve três ideias comuns.
Ao mesmo tempo nos indagamos “O que não é Arte?”= 1- ”Artesanato
(Handwerk): ofício (referente à profissão); 2- Representação (Darstellung):
imitação da realidade; 3- Magia (Magie): ilusão ritual; 4- Diversão (spass).
O que devemos esclarecer é a diferença entre expressão (Ausdruck) e
exprimir (ausdrücken) emoção (Emotion) dentro de uma concepção histórica. O
problema referente ao fator de fazer uma leitura não artística da Arte: há
necessidade de uma leitura artística das obras de arte, isto é, necessidade de
elaboração mais sofisticada posterior ao ato de escrever um poema.
Contrariedade ao aspecto eletista de Arte, ou seja, concepção da expressão
poética como forma de expressão de emoções.
Aqui chegamos na indagação sobre qual é a natureza da Arte? a) Poema
de inspiração (por conhecimento por contato ou descrição); b)
Expressão/Inspiração através do conhecimento por contato ou por descrição; c)
A inacessibilidade do Eu na obra de Fernando Pessoa é um tema recorente.
A crítica de Fernando Pessoa sobre o gênio malígno de René Descartes:
através da impossibilidade de acesso ao mundo exterior, Fernando Pessoa
propõe uma interpretação do fato de não ser possível, também, a

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acessibilidade do próprio Eu, onde há apenas, o fato possível de ter acesso às
representações do nosso Eu.
Onde chegamos a um dilema sobre uma solução/reflexão possível do
impasse: 1- A lógica da Arte: concepção relacional-funcional do conceito de
Arte, dentro de um aspecto lógico-formal e/ou; 2- Há uma necessidade de não
determinação do conceito e abrangência do uso do termo/conceito Arte, pelo
motivo necessário de não limitação do que é Arte.
Outra vertente reflexiva, baseada em tópicos de aula sobre Denis
Dutton e “O que é a Arte” expressa outra reflexão: exemplo da concepção
transcultural da arte de Julius Moravcsik. Os dois extremos de Arte são:
definições triviais; ou características meramente acidentais.
O que percebemos são generalizações Legiformes (Legis [leis] + forma):
leis da forma/formais para definir o que é Arte, onde a universalidade
comprometida da arte é expressa por aspectos referentes aos criadores de
teorias da arte ou aspectos subjetivos e implícitos nas teorias da arte.
Para tentar responder essa questão, Collingwood nos apresenta a
definição disjuntiva da arte, ou seja, Conjunto aglomerado de 12 critérios
suficientes para tentar conceituar o que é Arte. 1- Prazer estético; 2- Habilidade
e virtuosismo; 3- Estilo; 4- Novidade e criatividade; 5- Crítica; 6- Representação
(referente à música); 7- Foco especial; 8- Individualidade expressiva; 9-
Saturação emocional; 10- Desafio intelectual; 11- Tradições e instituições
artísticas e 12- Experiência imaginativa.
Em contraposição, Morris Weitz em “O Papel da Teoria Estética”
apresenta sua tese central onde o conceito e extensão do conceito (os objetos)
são necessárias e suficiente (sobre as propriedades), podendo ser o conceito
aberto (maleável e flexível) ou conceito fixo (rígido e estático).

Novamente encontramos o problema do Jogo em L. Wittgenstein onde


cada jogo teria apenas uma semelhança de família e jogo possuem modos e
regras para agir durante os “jogos”. A questão é a superação do “aspecto
primário e instintivo da criatividade humana” expressas em habilidades
motoras, aprimoramento físico/motor, aperfeiçoamento intelectual e criativo e
preservação de “atividades históricas e primitivas” que na antiguidade eram

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necessárias, e hoje é contingente, e o caráter de sobrevivência dos jogos
através das “práticas/ações” que hoje são consideradas esportes.
A questão de aceitar “jogar o jogo”, obedecer e aplicar regras e
restrições referentes aos objetivos e privações do jogo entendendo o aspecto
social/histórico/vital do termo/conceito “Jogo”. Entendemos “Jogo” como um
aspecto formal/convencional, porém, em relação ao indivíduo, consciente e
optativamente. Sendo assim possuímos tipos de Jogos: Pesca, atletismo
(contingentemente jogos individuais); Futebol, cabo de guerra
(necessariamente jogos coletivos).
Portanto, como pensar a A “Arte” como jogo e convenção? A prática
artística individual pode ser escrever um poema, um solista musical. Ao passo
que a prática artística coletiva seria uma orquestra musical, uma peça coletiva
de teatro. Portanto, há práticas artísticas com treinamento individual e
apresentação coletiva; há práticas artísticas com treinamento coletivo e
apresentação coletiva; há práticas artísticas com treinamento individual e
apresentação individual. A indagação é se a Arte contemporânea é uma
definição conceitual descritivo e/ou analítico, onde o que é descritivo denota,
descreve, infere o que é o objeto artístico e o que é analítico
qualifica/quantifica o objeto artístico valorativamente (moral, econômico,
social, religioso)?
Um exemplo de concepção da Arte como Arte e Ofícios dentro da
tradição perene pode ser observada na definição de “ARTES REAIS” da
tradição do ARCO REAL (BARBOSA JR., Antenos Rodriguês .:.):
1- ARITMÉTICA;
2- GEOMETRIA;
3- TRIGONOMETRIA;
4- ÓTICA;
5- CATÓPTRICA;
6- DIÓPTRICA;
7- DESENHO;
8- PERSPECTIVA;
9- MECÂNICA;
10- ESTÁTICA;

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11- HIDRÁULICA;
12- GEOGRAFIA;
13- CRONOLOGIA;
14- CANTARIA (ARTE DE CORTAR PEDRAS);
15- MARCENARIA (ARTE DE CORTAR MADEIRA);
16- METROLOGIA;
17- FÍSICA;
18- MÚSICA;
19- ARQUITETURA.

Portanto, a minha crítica sobra a arte pós-contemporânea que não se


torna ato perene passado/presente/futuro, as Artes e Ofícios foram deixadas de
lado como passado para a desconstrução baseada em convenções conceituais
efêmeras e fluídas sem permanência no espaço/tempo
(passado/presente/futuro), onde o instantâneo/aleatório/ é regra e o
treinamento, repetição, tentativa de erro e acerto são denominados
conservadores ou retrógrados na concepção de arte pós-contemporânea que
não se torna ato perene no passado/presente/futuro para ser uma potência
fluída e efêmera que não se concretiza. A Arte pós-contemporânea é um Não
Ser ou negação do Ser (ilógico por não ser possível negar algo que existe (Ser),
só é possível não aceitar o Ser) que não aceita o “Ser/Estar/Existir”
permanente no espaço-tempo, ou seja, a destruição do Ser é uma expressão
da desconstrução fluída do tempo-espaço perene que não se torna ato e por
isso fica na potência de se realizar no futuro pós-contemporânea contingente,
que pode ou não se realizar como ato e permanecer.

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