Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Filosofia da Arte
No âmbito do estudo da Filosofia da Arte, importa começar por dar uma definição de arte. Mas, será
que é fácil definir este conceito – arte?
Identificar certos objetos como sendo arte, não é a mesma coisa que saber o que é arte. Dar
exemplos de coisas que são arte e de outras que não o são, não é a mesma coisa que saber o que é
arte. Vejamos o texto seguinte:
À primeira vista parece uma perda de tempo perguntar o que é arte, pois somos perfeitamente capazes de dar
exemplos claros de coisas que são arte e de outras que não o são. Vejamos alguns exemplos: a escultura David,
de Miguel Ângelo, é arte, mas a cadeira em que a Rita se senta na cozinha não é arte; o quadro A Persistência
da Memória, de Dali é arte, mas a foto que o Arnaldo tirou para o passaporte não é arte; a Basílica da Estrela,
em Lisboa, é arte, mas os seus sanitários não são arte; A Mensagem, de Fernando Pessoa, é arte, mas as
cartas de amor do Arnaldo para a Rita não o são; As Quatro Estações, de Vivaldi, são arte, mas o toque dos
sinos da igreja não são arte; o quadro Ensaio de Dança, de Degas, é arte, mas não é arte o próprio ensaio de
dança nele representado.
Contudo, será que estes exemplos são suficientemente esclarecedores? Se tivermos presente que a noção de
arte se aplica a um conjunto de coisas vasto e diversificado, incluindo pinturas, esculturas, edifícios (arquitetura)
peças musicais e canções, peças de dança e de teatro, filmes, obras literárias, fotografias, etc., talvez os
exemplos anteriores não consigam dar-nos uma ideia suficientemente boa. Além disso, se tornarmos mais
precisos os exemplos anteriores de coisas que não são arte, as coisas deixam de parecer tão simples. Se, por
exemplo, a Rita estiver sentada num dos exemplos da cadeira Zig Zag, de Gerrit Rietveld, estamos neste caso a
falar de algo que é referido em livros e histórias da arte, havendo exemplares exibidos em museus e galerias de
arte; se, em vez dos sanitários da Basílica da Estrela, pensarmos em Fonte, de Marcel Duchamp, um urinol
adquirido numa fábrica de louça sanitária que é uma das mais famosas obras de arte do século XX, as coisas
complicam-se ainda mais; e se, em vez das cartas de amor do Arnaldo para a Rita, pensarmos nas cartas de
amor de Soror Mariana Alcoforado, escritas em segredo no seu convento em Beja, e que, uma vez descobertas,
se tornaram um clássico da literatura europeia, tudo fica mais difícil. Ao refletir sobre alguns destes exemplos
menos óbvios somos levados a perguntar: mas isso é arte? Afinal, se aquela cadeira, aquele urinol e aquelas
cartas são arte, por que razão não haveriam também de ser arte a cadeira onde se senta a Rita, as cartas do
Arnaldo e os lavatórios da Basílica da Estrela? Que características têm aqueles objetos, mas que faltam a estes,
para serem arte?
Ao fazer estas perguntas, estamos a questionar o próprio conceito de arte. E é para responder a tais perguntas
que talvez precisemos de uma boa definição de arte. Vários filósofos têm enfrentado o problema, apresentado
definições explícitas de arte, isto é, definições que especificam condições necessárias e suficientes para algo ser
arte.
Aires Almeida, Janelas para a Filosofia
Muitos filósofos têm defendido que uma definição correta de arte é aquela que descreve a sua
essência ou natureza íntima, revelando desse modo as características internas que fazem cada obra
de arte ser arte. Essas características fazem parte de todas as obras de arte e só as obras de arte as
possuem. Quem afirma isto é defensor da teoria essencialista da arte.
Por outro lado, há outros filósofos que consideram que para a definição de arte não é necessário
haver uma essência da arte. As condições necessárias e suficientes para definir arte dependem do
contexto social em que os objetos de arte estão inseridos. Quem afirma isto é defensor da teoria
não-essencialista da arte.
A arte é essencialmente uma forma de comunicação no sentido em que o sentimento que levou o
artista a criar a sua obra é também vivido pela sua audiência.
Segundo esta teoria para haver arte o artista tem de sentir o que exprime. Ora, esta teoria pode ser
criticada, pois reconhecemos um número significativo de exemplos de peças de arte que nada
exprimem e, por esse facto, não deixam de ser obras de arte. Os atores de teatro ou de cinema, por
exemplo, não sentirão tudo aquilo que representam. Os músicos de uma orquestra que interpretam
composições musicais, não sentem todos o que a composição musical exprime. Ou os sentimentos
que o compositor sentiu quando a compôs.
Por outro lado, a defesa de que o artista partilha connosco o que sentiu, facilmente pode ser criticada.
Pois, nem sempre conseguimos saber o que o autor da obra de arte pensou ou sentiu quando faz a
obra.
Outra objeção consiste na dificuldade em reconhecer e identificar a forma significante. Pois, esta
teoria defende que sabemos identificar a forma significante se sentirmos uma emoção estética, mas
uma emoção estética é o tipo de emoção provocada pela forma significante de uma obra de arte. Ora,
isto leva a um raciocínio circular, o que parece implausível.
A teoria Histórica da arte propõe que uma obra de arte é um objeto acerca do qual uma pessoa ou
pessoas têm a intenção não passageira de que este seja perspetivado como uma obra de arte, isto é;
perspetivado como foram ou são perspetivadas corretamente obras de arte anteriores. É como se,
quando observamos a obra produzida, o artista nos quisesse dizer o seguinte: eu pretendo que este
objeto seja visto da mesma maneira que as obras de arte do passado foram vistas.
Esta teoria foi proposta pelo filósofo Jerrold Levinson. De acordo com esta teoria a essência da arte
reside no seu caráter histórico ou retrospetivo. Toda a arte é o resultado de uma atividade humana
que se relaciona com o seu passado através da intenção de um indivíduo, que pode ou não conhecer
essa história.
Esta teoria é criticada pelo facto de poder incluir-se nesta definição falsificações de arte.