Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Os não-essencialistas admitem, ao invés, que a arte possa ter as mais variadas funções
— alargar o conhecimento, exprimir e explorar emoções, proporcionar experiências
compensadoras, divertir, proporcionar prazer, ajudar-nos a ser pessoas melhores,
comunicar ideias, criticar a sociedade, transformar o mundo, criar coisas belas, valorizar
as nossas vidas, ajudar-nos a suportar os males do mundo, etc. — o que torna inútil
procurar nos objetos de arte características permanentes supostamente associadas a
funções tão diferentes. Até porque uma mesma obra de arte, consideram os não-
essencialistas, pode servir diferentes funções, adquirir diferentes significados, admitir
diferentes interpretações ou exprimir sentimentos diferentes, consoante o contexto em
1
que ela é produzida ou apreciada. Não há uma essência da arte, o conceito de arte, é um
conceito aberto, em constante expansão.
Tudo isto sugere que não há condições necessárias e suficientes para que algo seja arte,
uma vez que as semelhanças na arte se verificam entre uma obra e outra num aspeto,
mas entre esta e uma terceira noutro aspeto, e assim sucessivamente. O não-essencialista
considera, em contrapartida, que tais condições são relativas ao contexto em que eles
estão inseridos e ao modo como tais objetos adquirem o estatuto de obras de arte. Uma
metáfora adequada da perspetiva do não-essencialista é a afirmação atribuída ao escritor
Jorge Luís Borges sobre a arte de que "nenhuma obra é uma ilha", no sentido em que é
preciso procurar fora da obra — mais precisamente no contexto em que ela se encontra
—, aquilo que a torna arte. Assim, a pergunta relevante para o não-essencialista não é
"Quais são as características de um dado objeto que fazem esse objeto ser uma obra de
arte?" mas antes "Como é que um qualquer objeto adquire o estatuto de obra de arte?" A
primeira pergunta aponta para as próprias obras de arte ao passo que a segunda aponta
para o seu contexto social. Por isso, os próprios defensores do não-essencialismo
consideram ajustado o termo "contextualismo" para classificar o tipo de teorias da
definição que eles propõem.
. Teoria da representação/imitação
Uma obra é arte se, e só se, é produzida pelo homem e imita algo. A característica
própria desta teoria não reside no facto de defender que uma obra de arte tem de ser
produzida pelo homem, o que é comum a outras teorias, mas na ideia de que para ser
arte essa obra tem de imitar algo.
Vários foram os filósofos que se referiram à arte como imitação. Alguns desprezavam-
na por isso mesmo, como acontecia com o conhecido filósofo grego Platão (Platão e
Aristóteles defendem que a arte é imitação ou mimese), ao considerar que as obras de
arte imitavam os objetos naturais, via essas obras como imagens imperfeitas dos seus
originais.
O que agora nos interessa, mais do que saber quem defendeu esta teoria, é avaliar o seu
poder explicativo. Vejamos então os principais pontos que parecem favoráveis a ela:
Vantagens:
Oferece um critério de classificação das obras de arte bastante rigoroso, o que nos
permite distinguir com alguma facilidade uma obra de arte.
Oferece um critério de valoração das obras de arte. Uma obra de arte seria tão boa
quanto mais se conseguisse aproximar do objeto imitado.
Um aspeto geral desta teoria mostra-nos que é uma teoria centrada nos objetos imitados.
Esta teoria exprime-se frequentemente através de frases como
«este filme é excelente, pois é um retrato fiel da sociedade americana nos anos 60», ou
como «este quadro é tão bom que mal conseguimos distinguir aquilo que o artista
pintou do modelo utilizado».
Mas será uma boa teoria? Vejamos as objeções:
Objeção 1: Apesar de muitas obras de arte imitarem algo, são inúmeras aquelas que não
o fazem.
2
Conscientes disso, os defensores mais recentes da teoria da arte como imitação,
acabaram por substituir o conceito de imitação pelo conceito mais sofisticado de
representação. Assim, já poderíamos dizer que as quatro primeiras notas da 5.ª Sinfonia
de Beethoven não imitam diretamente a morte a bater à porta, mas representam a morte
a bater à porta.
Objeção 2: Há obras que imitam algo sem que nos encontremos alguma vez em
condições de saber se a imitação é boa ou má. Basta pensar em obras que imitam algo
que já não existe ou não é do conhecimento de quem as aprecia. Como podemos saber
se A Escola de Atenas, de Rafael, reproduz com perfeição as figuras de Platão e
Aristóteles ou o ambiente da Academia? Pior, como sabemos que o Jardim das Delícias,
de Bosch, imita bem aquelas figuras estranhas e inverosímeis, admitindo que algo está a
ser imitado? Como podemos saber se O Nascimento de Vénus, de Botticelli, é uma boa
imitação, se é que, mais uma vez, algo é imitado? E não será abusivo afirmar que
qualquer pintura figurativa tecnicamente apurada é melhor do que o tosco Auto-Retrato
com Chapéu de Palha, de Van Gogh, ou do que todas as obras impressionistas?
Segundo este critério Picasso seria, com certeza, um artista menor e teríamos de
reconhecer que a fotografia é a mais perfeita de todas as artes. Só que não é isso que
acontece.
Vantagens:
Se é verdade, como parece ser, que a arte provoca em nós determinadas emoções ou
sentimentos, então é porque tais sentimentos e emoções existiram no seu criador e
deram origem a tais obras.
Também nos oferece, como a teoria anterior, um critério que permite, com algum rigor,
classificar objetos como obras de arte. Com a vantagem acrescida de classificar como
arte todas as obras que não imitam nada, o que acontece frequentemente na literatura e
sempre na música e na arte abstrata.
Mais uma vez oferece um critério valorativo: uma obra é tanto melhor quanto melhor
conseguir exprimir os sentimentos do artista que a criou.
Uma teoria como esta manifesta-se frequentemente em juízos como
«Este é um livro exemplar em que o autor nos transmite o seu desespero perante uma
vida sem sentido» ou como «O autor do filme filma magistralmente os seus próprios
traumas e obsessões».
3
Mas também esta teoria se irá revelar uma teoria insatisfatória.
Objeção 2: Há muitos objetos que geram emoções e que não são obras de arte.
Objeção 3: O critério de valoração falha, pois como saber se uma obra exprime
exatamente as emoções do artista? Por outro lado, não há qualquer garantia que
sentimos o mesmo que o artista perante a obra que ele apresenta. Não é possível saber-
se que emoções estiveram na origem da maioria das obras de arte.
Como podemos nós saber se uma determinada obra exprime corretamente as emoções
do artista que a criou, quando o artista já morreu há séculos?
4
A apreciação musical centra-se exclusivamente no jogo entre as propriedades formais
das obras. Frases como «Este quadro é uma verdadeira obra-prima devido à excepcional
harmonia das cores e ao equilíbrio da composição», ou como «Aquele livro é excelente
porque está muito bem escrito e apresenta uma história bem construída apoiada em
personagens convincentes e bem caracterizadas», exprimem habitualmente uma
perspetiva formalista da arte.
Vantagem:
Pode incluir todo o tipo de obras de arte, inclusivamente obras que exemplifiquem
formas de arte ainda por inventar. Desde que provoque emoções estéticas qualquer
objeto é uma obra de arte, ficando assim ultrapassado o carácter restritivo das teorias
anteriores.
Mas está sujeita a críticas.
Objeção 1: Em primeiro lugar, podemos mostrar que algumas pessoas não sentem
qualquer tipo de emoção perante certas obras que são consideradas arte. Quer dizer que
essas obras podem ser arte para uns e não o ser para outros? Também não é grande ideia
responder que quem não sente emoções estéticas em relação a determinadas obras não é
uma pessoa sensível, como sugere Bell.
Objeção 2: Clive Bell refere, pensando apenas no caso da pintura, que a forma
significante reside numa certa combinação de linhas e cores. Mas que combinação é
essa e que cores são essas exatamente? E em que consiste a forma significante na
música, na literatura, no teatro, etc.? O conceito de forma significante é demasiado
indefinido.
5
C. A teoria da arte defendida por Clive Bell, e antecipada por Kant, é uma teoria não
essencialista.
D. As teorias essencialistas defendem que as obras de arte partilham alguma
característica ou conjunto de características que são condições necessárias e suficientes
para que algo tenha o estatuto de arte.
2. Apresente uma diferença entre as teorias essencialistas e as teorias não
essencialistas.
BOM TRABALHO