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arte?
A Filosofia da arte é a disciplina filosófica que se dedica ao
estudo deste problema.
Definição de Arte. O que é a Arte? A definição deve captar o
sentido classificativo (descritivo) e o sentido valorativo
(avaliativo).
Descritivo: é dizer simplesmente que esse objeto pertence a
uma classe. TEORIA REPRESENTACIONISTA
Avaliativo: é reconhecer que esse objeto, além de pertencer à Se algo é arte, então é uma representação.
categoria das obras de arte é uma boa/bela obra de arte; tem
Foi a primeira teoria a surgir, defendida por Platão e Aristóteles.
valor estético.
Durante séculos a ideia de arte como uma representação
O que terá de dizer uma boa definição de arte?
imitativa foi quase consensual.
Terá de dizer o que é a arte e distingui-la do que não é arte.
É necessário identificar características: Os artistas procuraram imitar as coisas do modo mais fiel
• que todas as obras de arte possuam; possível. Quanto mais fossem parecidas com o que
• e que só as obras de arte possuam. representavam, mais valor artístico as obras teriam.
> Quais as condições necessárias e as condições suficientes A imitação é apenas um tipo de representação entre outros.
para algo ser arte? O conceito de representação é mais abrangente, uma coisa
Se algo é uma obra de arte, então é X. condição necessária pode representar outra mesmo que não a imite. Há obras que
não imitam nada, embora representem alguma coisa.
Se algo é X, então é uma obra de arte. condição suficiente
- Por representação entende-se o ato através do qual algo
Algo é uma obra de arte se, e só se, é X.
toma intencionalmente o lugar de outra coisa.
Basta um contra-exemplo para uma definição de arte ser falsa:
• uma obra de arte que não seja X Platão e Aristóteles entendiam que o tipo de representação
• coisas que sejam X e não sejam arte envolvido na produção artística consistia simplesmente na
imitação (mimesis). É a teoria mimética da arte. Algo é uma
> Teorias essencialistas e teorias não-essencialistas obra de arte se e só se imita um original (def.); e é tanto mais
Muitas teorias apresentam uma resposta à pergunta «O que é a artística quanto mais/melhor imitar o original.
arte?»: podem identificar-se condições necessárias e suficientes
Contudo, se todas as obras de arte são imitações, nem todas as
para definir a arte.
imitações são obras de arte: a imitação é uma condição
Teorias essencialistas - Existem características que constituem a necessária, mas não suficiente para a obra de arte. A teoria da
natureza da arte e que existem em todas as obras de arte arte como imitação tem sido criticada por ser demasiado
(condições necessárias) e apenas nelas (condições suficientes). restritivista, pois exclui desta classificação muitas obras de arte
São inerentes às obras de arte. que não assentam no caráter mimético, como, por exemplo, as
• Aceitam a existência de uma essência da arte. formas de arte abstrata.
• Tentam captar essa essência quando definem arte Objeções à teoria da arte como representação
• características intrínsecas, observáveis nas obras e
> Não apresenta uma definição de arte
comuns a todas.
«Se algo é arte, então é representação» significa que todas
Teorias não-essencialistas as obras de arte são representação, mas não significa que
Essas características não são inerentes às obras de arte. só a arte é representação.
• Há características que se podem associar a todas as obras O conceito é muito abrangente, inclui coisas que não são
de arte e só a elas. arte, por exemplo, os sinais de trânsito.
• Essas características não são observáveis nas próprias
> Contraexemplos
obras de arte (extrínsecas): têm a ver com o contexto
(institucional ou histórico). A ideia de que a representação é uma condição necessária
da arte é muito discutível.
Há muitas obras de arte que não representam nada.
> CETICISMO ESTÉTICO (defendido por Morris Weitz) A teoria institucional é classificativa e não avaliativa;
Existem razões para pensar que as teorias representacional, • pretende apenas dizer o que é arte e o que não é arte;
expressivista e formalista não conseguem definir arte • não pretende distinguir a boa e a má arte.
adequadamente. Dickie tenta contornar o problema das teorias essencialistas: a
avaliação de obras de arte. Ao fazê-lo, acaba-se por negar valor
Morris Weitz é um dos filósofos que pensa deste modo.
a obras geralmente consideradas como artísticas.
E afirma que a dificuldade está na natureza da atividade
Dickie pretende:
artística:
• limitar-se a indicar as características que as obras de arte
os artistas valorizam muito a criatividade e a liberdade;
possuem;
experimentam frequentemente novas possibilidades e
• abster-se de indicar características que deveriam ter.
coisas diferentes;
Deste modo, se alguém do mundo da arte considerar algo como
a arte vai estando em permanente construção.
como candidato a apreciação, nada impedirá que seja uma obra
Morris Weitz: «Arte» é um conceito aberto e não fechado. de arte.
Logo, é indefinível.
Objeções à teoria institucional
O conceito tem mudado ao longo da história e pode continuar a
Contraexemplos
mudar.
Há obras artísticas de autores que não fazem parte do mundo
Tal como as atuais, as futuras teorias também não encontrarão da arte.
a essência da arte.
Autores que nunca publicaram nada em vida só foram
Não é possível definir a arte – posição cética de Weitz. reconhecidos após a sua morte.
> A TEORIA INSTITUCIONAL (defendida por George Dickie) Circularidade
George Dickie: Procura responder aos desafios colocados pelos Ninguém parece ser capaz de estabelecer muito bem as regras e
desenvolvimentos da arte no século XX, nomeadamente o os procedimentos do mundo da arte.
aparecimento de obras como Fonte, de Marcel Duchamp.
Se um dos principais conceitos da teoria é pouco claro, esta não
Tal como Weitz: pensava não ser possível encontrar uma parece ser uma definição de arte satisfatória.
essência da arte. Ao contrário de Weitz: pensava ser possível
> A TEORIA HISTÓRICA (defendida por Jerrold Levinson)
definir arte.
A teoria histórica é uma teoria não-essencialista.
Dickie acredita ser possível indicar condições necessárias e
Teoria da arte como renovação histórica. Trata-se de uma
suficientes da arte, mas:
reformulação da teoria institucional, acrescentando como
essas características não fazem parte das próprias obras
exigências a Intenção (do artista) de integração na História
de arte;
(critério recursivo) da Arte de uma obra que é sua Propriedade.
fazem parte do contexto institucional em que as obras são
apreciadas. Tal como a teoria institucional, Jerrold Levinson defende:
é possível indicar condições necessárias e
E, por isso, a teoria institucional é uma teoria não-essencialista.
suficientes da arte;
Para a teoria institucional, algo é arte se for um artefacto e se essas características não são intrínsecas às obras
for considerado arte por alguém que faz parte de uma certa de arte, mas sim um aspeto contextual.
instituição social – o «mundo da arte».
Este aspeto contextual é o caráter histórico ou retrospetivo da
Por outras palavras: um membro do mundo da arte atribui a arte. Todas as obras de arte se relacionam de modo intencional
um objeto ou atividade o estatuto de candidato a apreciação; com as anteriores. Por vezes, Levinson refere-se à sua teoria
esse objeto ou atividade torna-se uma obra de arte. como histórico-intencional.
Para Dickie,
– um artefacto:
Um objeto (ou atividade) é arte na medida em que o seu autor
quer que este seja encarado como o foram as obras de arte do
passado e estas, por sua vez, são arte porque os seus autores > Problema da existência de Deus: Será que Deus existe
queriam que elas fossem encaradas como foram encaradas as realmente? Haverá boas razões para afirmar a sua existência?
obras de arte anteriores.
Filosofia da Religião: exame crítico das crenças e dos conceitos
Essa intenção de inserir as obras numa tradição histórica explica religiosos fundamentais: Deus, fé, milagre, etc…
a unidade e a continuidade da arte ao longo dos séculos.
Fé religiosa: crença na existência de Deus e atitudes de
INTENÇÃO: veneração e confiança em Deus.
sem a intenção, a semelhança de uma obra com as obras
Religiões:
do passado poderia dever-se ao acaso;
monoteístas – crença num só Deus
essa intenção tem de ser firme e duradoura para poder
o judaísmo;
transparecer na própria obra.
o cristianismo;
A relação com o passado não significa: o islamismo.
que as obras imitem as obras do passado; politeístas – crença em vários deuses
que se inspirem nas obras do passado. o religião do Antigo Egito e da Grécia Antiga;
Se assim fosse, a arte não mudaria. Mas é facto que muda, e o outras.
muito. Posições sobre o problema da existência de Deus:
Obra de arte: artefacto + intenção do titular do artefacto para Teísmo: Deus omnipotente (que pode fazer tudo);
que este seja encarado como outras criações artísticas do omnisciente (que sabe tudo); sumamente bom
passado, reconhecidas pela tradição histórica. (moralmente perfeito); criador; pessoa (não uma força da
natureza); e transcendente; (religião monoteísta e
Levinson propõe a seguinte definição de arte:
politeísta).
“Algo é arte, se e somente se, uma pessoa com direitos de Deísmo: Deus (todo poderoso) Criador, mas não intervém
propriedade sobre a sua obra tem a intenção séria de que a nem se importa com a criação, isto é, não tem relação com
sua obra seja inserida numa tradição na qual se encontram ela;
outras obras de arte”. Panteísmo: Deus indistinto do mundo (criação), isto é,
A referência ao DIREITO DE PROPRIEDADE Deus e Mundo são a mesma coisa. Deus Imanente. O
> Visa evitar que um artista possa tentar transformar em arte panteísmo é a crença de que absolutamente tudo e todos
coisas que não lhe pertençam ou cujo uso não esteja compõem um Deus abrangente, e imanente, ou que o
devidamente autorizado pelos legítimos proprietários. Universo e Deus são idênticos.
Ateísmo: Negação da existência de Deus;
Exigências da Teoria Histórica: a) Intenção; b) integração na
História; c) Propriedade. Agnosticismo: suspensão do juízo acerca da existência de
Deus, não afirmando nem negando a sua existência.
Objeções à teoria histórica Negação de acesso a Deus por via racional ou
Contraexemplos argumentativa, quer para afirmar ou para negar.
É possível realizar obras artísticas e não deter o direito de
A resposta ao problema da existência de Deus assenta em três
propriedade.
argumentos que tentam demonstrar a existência de Deus:
Exemplo: os autores de graffitis quando realizam obras em Argumento cosmológico (à posteriori);
paredes. Não é plausível que nenhum graffiti seja uma obra de Argumento teleológico (à posteriori);
arte. Argumento ontológico (à priori).
O problema da primeira obra de arte ARGUMENTO COSMOLÓGICO de Tomás de Aquino
Se algo é uma obra de arte se for visto como o foram as obras > Procura provar a existência de Deus a partir do facto
anteriores, como surgiu uma primeira obra de arte sem empiricamente constatável de existirem coisas no universo e,
qualquer referência anterior? por isso, é um argumento a posteriori.
a) À Propriedade (ex. Arte dos Graffitis: o artista é proprietário > Formulação do argumento:
da obra sendo que a parede onde pintou não é sua?) 1. Existem seres sensíveis.
b) À Tradição Histórica (ex: Pinturas Rupestres: em que 2. Todos os seres sensíveis têm causas.
tradição histórica da arte se inserem?). E a arte “Naif”, que não 3. Nenhum ser sensível é causa de si próprio.
foi criada e relação com nenhuma outra corrente estética ou 4. A cadeia de causas dos seres sensíveis não pode
artística (ex as pinturas de Afred Wallis)? regredir até ao infinito.
5. Logo, tem de existir uma primeira causa – que é Deus.
c) À Intenção (ex: obra literária de Franz Kafka, que pediu a um
amigo para destruísse a sua obra após a sua morte: Ele tinha a A 1ª premissa é trivial.
intenção de que a sua obra literária fosse arte?). 2ª premissa: uma coisa não pode simplesmente existir, tem de
haver algo que a provocou (mesmo que seja desconhecido).
3ª premissa: uma coisa não pode ser causa de si próprio, pois estes têm uma forma adequada a essa função (as suas diversas
obriga uma coisa ser anterior a ela mesma (já que as causas são partes articulam-se e ajustam-se entre si de modo a permitir a
anteriores aos efeitos). visão. Por outro lado, não parece possível que os olhos – devido
a essa complexidade de composição e funcionamento orientado
4ª premissa: não é possível ir sempre recuando na sequência de para um fim – resultem do acaso, mas sim de um desígnio, de
causas porque, então, o próprio processo causal não existiria, uma criação intencional. O mesmo se pode dizer das outras
ou seja, se não existisse uma causa primeira não existiriam as coisas da natureza.
causas seguintes. Mas é um facto que estas existem. 2ª premissa: Porém, esse desígnio não reside nos olhos nem nas
5ª premissa (conclusão): é preciso reconhecer que houve um outras coisas naturais, pois não têm inteligência. Uma flexa
começo do processo causal (uma primeira causa incausada) dirige-se de modo intencional para o alvo. Contudo, essa
enão uma série infinita de causas e efeitos e que essa primeira intencionalidade não reside nela mas sim no arqueiro. Do
causa incausada é Deus (que não faz parte do universo). mesmo modo, as coisas da natureza são dirigidas para as suas
finalidades por um ser exterior a elas que as criou desse modo.
> Objeções:
Esse ser tem de ser um ser com poder e sabedoria suficientes
Não se percebe como pode Deus ser incausado, mesmo
para criar as coisas da natureza e organizá-las de acordo com as
admitindo que tem uma natureza diferente do universo.
suas finalidades.
Explicar a existência do universo através de Deus também
coloca o problema da regressão infinita de causas. 3ª premissa: O ser inteligente capaz de conferir finalidade às
Mesmo admitindo que o argumento prova a necessidade coisas naturais só o pode fazer caso exista. Este é identificado
de uma causa primeira, não permiti a identificação desta com Deus, pois, de todos os seres em que conseguimos pensar,
com o Deus teísta. é o único que tem as características necessárias.