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> O problema da definição de arte - Qual é a definição de

arte?
A Filosofia da arte é a disciplina filosófica que se dedica ao
estudo deste problema.
Definição de Arte. O que é a Arte? A definição deve captar o
sentido classificativo (descritivo) e o sentido valorativo
(avaliativo).
Descritivo: é dizer simplesmente que esse objeto pertence a
uma classe. TEORIA REPRESENTACIONISTA
Avaliativo: é reconhecer que esse objeto, além de pertencer à Se algo é arte, então é uma representação.
categoria das obras de arte é uma boa/bela obra de arte; tem
Foi a primeira teoria a surgir, defendida por Platão e Aristóteles.
valor estético.
Durante séculos a ideia de arte como uma representação
O que terá de dizer uma boa definição de arte?
imitativa foi quase consensual.
Terá de dizer o que é a arte e distingui-la do que não é arte.
É necessário identificar características: Os artistas procuraram imitar as coisas do modo mais fiel
• que todas as obras de arte possuam; possível. Quanto mais fossem parecidas com o que
• e que só as obras de arte possuam. representavam, mais valor artístico as obras teriam.
> Quais as condições necessárias e as condições suficientes A imitação é apenas um tipo de representação entre outros.
para algo ser arte? O conceito de representação é mais abrangente, uma coisa
Se algo é uma obra de arte, então é X.  condição necessária pode representar outra mesmo que não a imite. Há obras que
não imitam nada, embora representem alguma coisa.
Se algo é X, então é uma obra de arte.  condição suficiente
- Por representação entende-se o ato através do qual algo
Algo é uma obra de arte se, e só se, é X.
toma intencionalmente o lugar de outra coisa.
Basta um contra-exemplo para uma definição de arte ser falsa:
• uma obra de arte que não seja X Platão e Aristóteles entendiam que o tipo de representação
• coisas que sejam X e não sejam arte envolvido na produção artística consistia simplesmente na
imitação (mimesis). É a teoria mimética da arte. Algo é uma
> Teorias essencialistas e teorias não-essencialistas obra de arte se e só se imita um original (def.); e é tanto mais
Muitas teorias apresentam uma resposta à pergunta «O que é a artística quanto mais/melhor imitar o original.
arte?»: podem identificar-se condições necessárias e suficientes
Contudo, se todas as obras de arte são imitações, nem todas as
para definir a arte.
imitações são obras de arte: a imitação é uma condição
Teorias essencialistas - Existem características que constituem a necessária, mas não suficiente para a obra de arte. A teoria da
natureza da arte e que existem em todas as obras de arte arte como imitação tem sido criticada por ser demasiado
(condições necessárias) e apenas nelas (condições suficientes). restritivista, pois exclui desta classificação muitas obras de arte
São inerentes às obras de arte. que não assentam no caráter mimético, como, por exemplo, as
• Aceitam a existência de uma essência da arte. formas de arte abstrata.
• Tentam captar essa essência quando definem arte Objeções à teoria da arte como representação
• características intrínsecas, observáveis nas obras e
> Não apresenta uma definição de arte
comuns a todas.
 «Se algo é arte, então é representação» significa que todas
Teorias não-essencialistas as obras de arte são representação, mas não significa que
Essas características não são inerentes às obras de arte. só a arte é representação.
• Há características que se podem associar a todas as obras  O conceito é muito abrangente, inclui coisas que não são
de arte e só a elas. arte, por exemplo, os sinais de trânsito.
• Essas características não são observáveis nas próprias
> Contraexemplos
obras de arte (extrínsecas): têm a ver com o contexto
(institucional ou histórico).  A ideia de que a representação é uma condição necessária
da arte é muito discutível.
 Há muitas obras de arte que não representam nada.

A TEORIA EXPRESSIVISTA (defendida por R. G. Collingwood)


Teorias expressivistas: a arte é expressão de sentimentos ou
emoções. «Algo é arte se e só se
1) isso foi produzido por alguém com o intuito de exprimir
as suas emoções individuais
2) de modo a clarificá-las.» (Exprimir = clarificar)
Tese: Algo é obra de arte se e só se transmite as A apreciação de uma obra não pode depender dos sentimentos
emoções/sentimentos do seu criador ao público. do artista. É implausível que a expressão de emoções seja a
essência da arte.
Questão: Toda a forma de expressão de sentimentos é obra de
arte? A TEORIA FORMALISTA (defendida por Clive Bell)
Representantes principais desta teoria: e Clive Bell, Filósofo
Evocar: contra-argumentos/Exemplos.
Crítico de Arte Inglês e Igor Stravinsky. Bell propõe a seguinte
definição de arte: Um objeto ou atividade é arte se, e só se,
A expressão de emoções: tem forma significante.
• é a essência da arte;
A Forma é o critério de definição da Obra de Arte.
• é um esforço do artista para clarificar as suas emoções.
Definição de Forma Significante: é uma combinação de linhas,
As emoções: cores, sons, formas e espaços capazes de produzir no
• não são gerais, são específicas; espectador emoções estéticas. Tese: Algo é obra de arte se e só
• não está em causa apenas se o artista sente insatisfação; se tem forma significante.
• mas também que insatisfação é essa. Questões: Toda a arte tem forma significante? Qual a forma
A arte do ofício significante do urinol de Duchamp?
A forma significante:
R. G. Collingwood: algumas coisas normalmente consideradas
 constitui a essência da arte;
como arte não o são. (Arte ≠ ofício) Existe:
 está presente em tudo o que é obra de arte.
• a «arte autêntica», aquilo que genuinamente é arte;
 não é a forma física dos objetos;
• e aquilo que não é arte, mas sim, «ofício».
 é uma determinada relação entre as partes da obra;
Por exemplo, dizer «arte do carpinteiro» é usar
 é independente de qualquer função;
inadequadamente a palavra arte.
 destaca-se por si mesma e impressiona-nos.
A carpintaria transforma um material num produto seguindo um
Exemplo: Na dança, é uma certa organização dos movimentos
plano previamente estabelecido.
Forma significante e emoção estética
O artífice sabe o que quer fazer antes de o fazer. A forma significante provoca uma emoção estética. Esta
Os artistas: emoção:
• não têm um plano prévio;  não é como a alegria ou a insatisfação;
• só ganham consciência do que estão a expressar durante o  é uma emoção especial;
processo de construção ou criação.  é uma emoção apenas suscitada por uma obra de arte.
Sensibilidade
A arte do entretenimento
A emoção estética só é sentida por pessoas que têm
Collingwood: É incorreto designar como arte a música, o
sensibilidade estética.
cinema ou o teatro quando têm por objetivo o entretenimento.
Porquê? Há quem não a tenha de todo. Sem sensibilidade estética,
estar diante de uma pintura ou de uma escultura é como estar
Procura provocar emoções previamente concebidas no público.
num concerto e ser surdo.
A «arte» do entretenimento não é arte autêntica, é, sim, uma
Só a forma significante e a emoção estética contam
forma de ofício.
É indiferente se a arte representa ou não alguma coisa.
Autoconhecimento através da arte
A representação não é essencial.
A verdadeira arte não tem por finalidade despertar emoções. A
contemplação da arte não deve ser passiva. O artista partilha a Também é indiferente se houve ou não intenção artística na
sua experiência com o público. Artista e público ganham sua criação.
consciência do seu mundo interior.  a arte promove o Essencial é uma obra:
autoconhecimento  ter forma significante;
Objeções à teoria expressivista  e provocar emoção estética.
Contraexemplos: O contexto (social, político, religioso, etc.) em que uma obra
Definir arte como expressão e clarificação de emoções é surgiu também é irrelevante.
demasiado restritivo. Exclui: Para Bell: se possuírem forma significante e suscitarem emoção
• obras que não parecem exprimir emoções do artista; estética: edifícios; tapetes; cerâmica; etc. podem ser
• obras criadas para entretenimento e reconhecidas considerados obras de arte
como obras-primas.
Pelo contrário, vários quadros famosos e muito apreciados
O estado de espírito dos artistas é muitas vezes desconhecido foram rotulados por Bell como meros documentos ou
Muitas vezes não é possível saber o que sentiram determinados descrições que não mereciam o título de obras de arte.
artistas ao fazerem as suas obras. Objeções à teoria formalista:
Contraexemplos: • não tem de ser um objeto produzido pelo próprio
Há objetos considerados artísticos que não se distinguem de artista (pode ser concebido por outras pessoas ou
outros (com a mesma forma) que não são artísticos; logo, a retirada da natureza e colocada num outro contexto),
forma significante não permite diferenciar o que é arte do que • pode ser um objeto escolhido pelo artista.
não é. Por exemplo: se Fonte, de Marchel Duchamp, é arte, • Exemplo: um tronco de árvore apanhado do chão e
então todos os urinóis com essa forma são obras de arte. colocado num museu pode ser um artefacto.
Circularidade – mundo da arte: artistas, críticos, historiadores de arte,
A teoria formalista é circular: as explicações de forma galeristas, público. O mundo da arte é uma instituição social,
significante e de emoção estética remetem uma para a outra. como a família ou uma religião.

> CETICISMO ESTÉTICO (defendido por Morris Weitz) A teoria institucional é classificativa e não avaliativa;
Existem razões para pensar que as teorias representacional, • pretende apenas dizer o que é arte e o que não é arte;
expressivista e formalista não conseguem definir arte • não pretende distinguir a boa e a má arte.
adequadamente. Dickie tenta contornar o problema das teorias essencialistas: a
avaliação de obras de arte. Ao fazê-lo, acaba-se por negar valor
Morris Weitz é um dos filósofos que pensa deste modo.
a obras geralmente consideradas como artísticas.
E afirma que a dificuldade está na natureza da atividade
Dickie pretende:
artística:
• limitar-se a indicar as características que as obras de arte
 os artistas valorizam muito a criatividade e a liberdade;
possuem;
 experimentam frequentemente novas possibilidades e
• abster-se de indicar características que deveriam ter.
coisas diferentes;
Deste modo, se alguém do mundo da arte considerar algo como
 a arte vai estando em permanente construção.
como candidato a apreciação, nada impedirá que seja uma obra
Morris Weitz: «Arte» é um conceito aberto e não fechado. de arte.
Logo, é indefinível.
Objeções à teoria institucional
O conceito tem mudado ao longo da história e pode continuar a
Contraexemplos
mudar.
Há obras artísticas de autores que não fazem parte do mundo
Tal como as atuais, as futuras teorias também não encontrarão da arte.
a essência da arte.
Autores que nunca publicaram nada em vida só foram
Não é possível definir a arte – posição cética de Weitz. reconhecidos após a sua morte.
> A TEORIA INSTITUCIONAL (defendida por George Dickie) Circularidade
George Dickie: Procura responder aos desafios colocados pelos Ninguém parece ser capaz de estabelecer muito bem as regras e
desenvolvimentos da arte no século XX, nomeadamente o os procedimentos do mundo da arte.
aparecimento de obras como Fonte, de Marcel Duchamp.
Se um dos principais conceitos da teoria é pouco claro, esta não
Tal como Weitz: pensava não ser possível encontrar uma parece ser uma definição de arte satisfatória.
essência da arte. Ao contrário de Weitz: pensava ser possível
> A TEORIA HISTÓRICA (defendida por Jerrold Levinson)
definir arte.
A teoria histórica é uma teoria não-essencialista.
Dickie acredita ser possível indicar condições necessárias e
Teoria da arte como renovação histórica. Trata-se de uma
suficientes da arte, mas:
reformulação da teoria institucional, acrescentando como
 essas características não fazem parte das próprias obras
exigências a Intenção (do artista) de integração na História
de arte;
(critério recursivo) da Arte de uma obra que é sua Propriedade.
 fazem parte do contexto institucional em que as obras são
apreciadas. Tal como a teoria institucional, Jerrold Levinson defende:
 é possível indicar condições necessárias e
E, por isso, a teoria institucional é uma teoria não-essencialista.
suficientes da arte;
Para a teoria institucional, algo é arte se for um artefacto e se  essas características não são intrínsecas às obras
for considerado arte por alguém que faz parte de uma certa de arte, mas sim um aspeto contextual.
instituição social – o «mundo da arte».
Este aspeto contextual é o caráter histórico ou retrospetivo da
Por outras palavras: um membro do mundo da arte atribui a arte. Todas as obras de arte se relacionam de modo intencional
um objeto ou atividade o estatuto de candidato a apreciação; com as anteriores.  Por vezes, Levinson refere-se à sua teoria
esse objeto ou atividade torna-se uma obra de arte. como histórico-intencional.
Para Dickie,
– um artefacto:
Um objeto (ou atividade) é arte na medida em que o seu autor
quer que este seja encarado como o foram as obras de arte do
passado e estas, por sua vez, são arte porque os seus autores > Problema da existência de Deus: Será que Deus existe
queriam que elas fossem encaradas como foram encaradas as realmente? Haverá boas razões para afirmar a sua existência?
obras de arte anteriores.
Filosofia da Religião: exame crítico das crenças e dos conceitos
Essa intenção de inserir as obras numa tradição histórica explica religiosos fundamentais: Deus, fé, milagre, etc…
a unidade e a continuidade da arte ao longo dos séculos.
Fé religiosa: crença na existência de Deus e atitudes de
INTENÇÃO: veneração e confiança em Deus.
 sem a intenção, a semelhança de uma obra com as obras
Religiões:
do passado poderia dever-se ao acaso;
 monoteístas – crença num só Deus
 essa intenção tem de ser firme e duradoura para poder
o judaísmo;
transparecer na própria obra.
o cristianismo;
A relação com o passado não significa: o islamismo.
 que as obras imitem as obras do passado;  politeístas – crença em vários deuses
 que se inspirem nas obras do passado. o religião do Antigo Egito e da Grécia Antiga;
Se assim fosse, a arte não mudaria. Mas é facto que muda, e o outras.
muito. Posições sobre o problema da existência de Deus:
Obra de arte: artefacto + intenção do titular do artefacto para  Teísmo: Deus omnipotente (que pode fazer tudo);
que este seja encarado como outras criações artísticas do omnisciente (que sabe tudo); sumamente bom
passado, reconhecidas pela tradição histórica. (moralmente perfeito); criador; pessoa (não uma força da
natureza); e transcendente; (religião monoteísta e
Levinson propõe a seguinte definição de arte:
politeísta).
“Algo é arte, se e somente se, uma pessoa com direitos de  Deísmo: Deus (todo poderoso) Criador, mas não intervém
propriedade sobre a sua obra tem a intenção séria de que a nem se importa com a criação, isto é, não tem relação com
sua obra seja inserida numa tradição na qual se encontram ela;
outras obras de arte”.  Panteísmo: Deus indistinto do mundo (criação), isto é,
A referência ao DIREITO DE PROPRIEDADE Deus e Mundo são a mesma coisa. Deus Imanente. O
> Visa evitar que um artista possa tentar transformar em arte panteísmo é a crença de que absolutamente tudo e todos
coisas que não lhe pertençam ou cujo uso não esteja compõem um Deus abrangente, e imanente, ou que o
devidamente autorizado pelos legítimos proprietários. Universo e Deus são idênticos.
 Ateísmo: Negação da existência de Deus;
Exigências da Teoria Histórica: a) Intenção; b) integração na
História; c) Propriedade.  Agnosticismo: suspensão do juízo acerca da existência de
Deus, não afirmando nem negando a sua existência.
Objeções à teoria histórica Negação de acesso a Deus por via racional ou
Contraexemplos argumentativa, quer para afirmar ou para negar.
É possível realizar obras artísticas e não deter o direito de
A resposta ao problema da existência de Deus assenta em três
propriedade.
argumentos que tentam demonstrar a existência de Deus:
Exemplo: os autores de graffitis quando realizam obras em  Argumento cosmológico (à posteriori);
paredes. Não é plausível que nenhum graffiti seja uma obra de  Argumento teleológico (à posteriori);
arte.  Argumento ontológico (à priori).
O problema da primeira obra de arte ARGUMENTO COSMOLÓGICO de Tomás de Aquino
Se algo é uma obra de arte se for visto como o foram as obras > Procura provar a existência de Deus a partir do facto
anteriores, como surgiu uma primeira obra de arte sem empiricamente constatável de existirem coisas no universo e,
qualquer referência anterior? por isso, é um argumento a posteriori.
a) À Propriedade (ex. Arte dos Graffitis: o artista é proprietário > Formulação do argumento:
da obra sendo que a parede onde pintou não é sua?) 1. Existem seres sensíveis.
b) À Tradição Histórica (ex: Pinturas Rupestres: em que 2. Todos os seres sensíveis têm causas.
tradição histórica da arte se inserem?). E a arte “Naif”, que não 3. Nenhum ser sensível é causa de si próprio.
foi criada e relação com nenhuma outra corrente estética ou 4. A cadeia de causas dos seres sensíveis não pode
artística (ex as pinturas de Afred Wallis)? regredir até ao infinito.
5. Logo, tem de existir uma primeira causa – que é Deus.
c) À Intenção (ex: obra literária de Franz Kafka, que pediu a um
amigo para destruísse a sua obra após a sua morte: Ele tinha a A 1ª premissa é trivial.
intenção de que a sua obra literária fosse arte?). 2ª premissa: uma coisa não pode simplesmente existir, tem de
haver algo que a provocou (mesmo que seja desconhecido).
3ª premissa: uma coisa não pode ser causa de si próprio, pois estes têm uma forma adequada a essa função (as suas diversas
obriga uma coisa ser anterior a ela mesma (já que as causas são partes articulam-se e ajustam-se entre si de modo a permitir a
anteriores aos efeitos). visão. Por outro lado, não parece possível que os olhos – devido
a essa complexidade de composição e funcionamento orientado
4ª premissa: não é possível ir sempre recuando na sequência de para um fim – resultem do acaso, mas sim de um desígnio, de
causas porque, então, o próprio processo causal não existiria, uma criação intencional. O mesmo se pode dizer das outras
ou seja, se não existisse uma causa primeira não existiriam as coisas da natureza.
causas seguintes. Mas é um facto que estas existem. 2ª premissa: Porém, esse desígnio não reside nos olhos nem nas
5ª premissa (conclusão): é preciso reconhecer que houve um outras coisas naturais, pois não têm inteligência. Uma flexa
começo do processo causal (uma primeira causa incausada) dirige-se de modo intencional para o alvo. Contudo, essa
enão uma série infinita de causas e efeitos e que essa primeira intencionalidade não reside nela mas sim no arqueiro. Do
causa incausada é Deus (que não faz parte do universo). mesmo modo, as coisas da natureza são dirigidas para as suas
finalidades por um ser exterior a elas que as criou desse modo.
> Objeções:
Esse ser tem de ser um ser com poder e sabedoria suficientes
 Não se percebe como pode Deus ser incausado, mesmo
para criar as coisas da natureza e organizá-las de acordo com as
admitindo que tem uma natureza diferente do universo.
suas finalidades.
Explicar a existência do universo através de Deus também
coloca o problema da regressão infinita de causas. 3ª premissa: O ser inteligente capaz de conferir finalidade às
 Mesmo admitindo que o argumento prova a necessidade coisas naturais só o pode fazer caso exista. Este é identificado
de uma causa primeira, não permiti a identificação desta com Deus, pois, de todos os seres em que conseguimos pensar,
com o Deus teísta. é o único que tem as características necessárias.

ARGUMENTO TELEOLÓGICO de Tomás de Aquino 4ª premissa: declara a existência de Deus.


> Procura provar a existência a partir do alegado facto empírico > Objeções:
de o universo exibir ordem e desígnio (ou finalidade), e, por  Mesmo admitindo que o argumento prova a necessidade
isso, é um argumento a posteriori. de um criador inteligente, este pode não ser o Deus teísta.
Teleológico significa: dirigido a um objetivo ou finalidade, feito  A teoria da evolução explica a complexidade da natureza
com um desígnio (um propósito). através do processo da selecção natural e sem pressupor
que há desígnio na natureza, o que mostra a
O argumento teleológico pressupõe que as coisas naturais têm
improbabilidade de existir um criador inteligente. (crítica
um carácter teleológico.
baseada em Darwin – através da teoria de evolução das
> Formulação do argumento: espécies).
1. As coisas naturais, apesar de não possuírem inteligência,
ARGUMENTO ONTOLÓGICO de Anselmo de Cantuária
atuam para atingir certas finalidades e são assim devido a
> Procura provar a existência de Deus a partir da própria ideia
um desígnio e não ao acaso;
ou definição de Deus e, por isso, é um argumento a priori, não
2. Se as coisas naturais, apesar de não possuírem inteligência,
se baseando em premissas empíricas (justificadas apenas pelo
atuam para atingir certas finalidades e são assim devido a
pensamento).
um desígnio e não ao acaso, então foram criadas e
organizadas desse modo por um ser inteligente e com > Argumento construído apenas pelo pensamento: Pensar o ser
conhecimento (e poder) para tal; pressupõe a sua existência. Se digo “Ser” implica o “Existir”.
3. Se as coisas naturais foram criadas e organizadas desse Como? Onde? No pensamento; pelo menos quando e porque
modo por um ser inteligente e com conhecimento (e penso.
poder) para tal, então esse ser (Deus) existe; > Formulação do argumento:
4. Logo, esse ser, que é Deus, existe. 1. Se Deus, o ser mais grandioso em que se pode pensar,
- Trata-se de uma sequência de dois modus ponens (ou seja: for apenas uma ideia e não existir realmente, então
duas afirmações da antecedente) e, portanto, é válido. podemos pensar num ser mais grandioso do que Deus;
2. Mas é falso que possamos pensar num ser mais
Este argumento baseia-se numa analogia entre a natureza e um
grandioso do que Deu;
relógio, comparando-os após a observação de cada um. Um
3. Logo, o ser mais grandioso em que se pode pensar. Não
relógio é um objeto que foi concebido para um determinado
é apenas uma ideia e existe realmente.
propósito (desígnio), isto é, cumpre uma determinada
finalidade. Todas as peças do relógio formam um mecanismo 1ª premissa: A ideia de Deus é a ideia de um ser supremo: um
que funciona harmoniosamente, pois cada peça cumpre a ser que é perfeito e acumula no grau máximo todas as
função que lhe está destinada dentro do conjunto. qualidades possíveis (poder, sabedoria, bondade, etc.) A
expressão «Deus é aquilo maior do que o qual nada pode ser
1ª premissa: as coisas naturais atuam para atingir certas
pensado» significa que não se pode conceber algo mais
finalidades pois tal como os olhos têm objetivo de ver e que
grandioso do que Deus. Se dissermos que Deus é apenas uma
ideia e não existe realmente, poderemos pensar num outro ser Objeção: dá explicação para o mal moral mas deixa de fora o
supremo e perfeito, mas que de facto exista. Porém, nesse caso, mal natural.
ao pensar nesse outro ser estaremos a pensar em algo mais  A DEFESA DA EDIFICAÇÃO DO CARÁTER
grandioso de que Deus, pois atribuímos-lhes as mesmas O mal – quer moral quer natural – é necessário para
qualidades mais a existência. desenvolver o carácter moral. Se não existisse mal no mundo, as
2ª premissa: É falso que possamos pensar num ser mais pessoas não poderiam desenvolver virtudes como coragem, a
grandioso do que Deus, pois isso é uma contradição: ao pensar generosidade, a capacidade de sacrifício, a perseverança e a
em Deus já estamos a pensar no ser mais grandioso em que se compaixão, pois estas são reações aos problemas e dificuldades
pode pensar. Por outras palavras: dizer «tenho a ideia a Deus, que surgem e, por isso, o seu desenvolvimento requer situações
mas penso que não existe» é como dizer «a ideia de Deus é a más e difíceis para enfrentarmos.
ideia de algo maior do que o qual nada pode ser pensado» e, Objeção: a quantidade de mal existente parece ser maior do
simultaneamente, dizer «a ideia de Deus não é a ideia de algo que o necessário para promover o desenvolvimento do nosso
maior do que o qual nada pode ser pensado». Ao negar a caráter. E isso sugere que há mal gratuito e sem sentido.
existência de Deus estamos a negar-lhe a grandeza máxima que
lhe tínhamos reconhecido ao defini-lo como «aquilo maior do  NÃO SABEMOS O SUFICENTE PARA CONSIDERAR O MAL
que o qual nada pode ser pensado». Por isso, é incoerente ter a INJUSTIFICADO
ideia de Deus e não reconhecer a sua existência. Somos seres cognitivamente limitados e não sabemos o
suficiente para perceber sempre qual é o bem maior que resulta
Conclusão: da ocorrência de um certo mal e, por isso, parece-nos que este
 Tenho a ideia de Deus  Deus é o ser mais grandioso em não tem sentido.
se pode pensar
 mas não acredito que ele exista  Deus não é o ser mais Objeção: é pouco coerente: se somos demasiados limitados em
grandioso em que se pode pensar termos cognitivos para perceber as razões justificativas dos
males que acontecem, também somos demasiado limitados
A conclusão do argumento é uma consequência lógica dessas para falar de Deus e afirmar a sua existência e os seus atributos
ideias apresentadas nas premissas. Deus não pode ser apenas (como a omnipotência e a suma bondade).
uma ideia, Deus existe
O Fideísmo de Pascal
> Objeções:
> Pascal conclui que nenhum argumento a favor ou contra à
 A definição de Deus como o ser mais grandioso que se
existência de Deus é sólido e que não consegue estabelecer a
pode conceber é incorreta, pois podemos sempre imaginar
existência nem a inexistência de Deus.
um ser ainda mais grandioso.
 O argumento ontológico tem consequências absurdas: > Pascal não é agnóstico, defende que a inteligência humana é
utilizando a sua estrutura argumentativa somos levados a limitada e por isso não podemos compreender algo tão eterno e
afirmar a existência de coisas manifestamente irreais. perfeito. Então, acedemos a Deus pela fé e não pela razão.
> Fideísmo: A crença religiosa assenta na fé e não de provas
Problema do mal
racionais; é uma adesão livre e incondicional do crente e não
> Se há tanto mal, não será improvável existir um Deus
precisa de razões, argumentos.
omnipotente, omnisciente e sumamente bom?
A APOSTA
> Deus criou o melhor dos mundos possíveis e, neste mundo, o
> A razão humana é incapaz de demonstrar a existência de
mal existe, seja por razões naturais (ex. catástrofes e doenças
Deus, mas pode mostrar que faz mais sentido acreditar em Deus
de origem genéticas), seja por vontade humana (resulta do livre
do que não acreditar: os ganhos são superiores às perdas.
arbítrio – como o assassínio e a tortura).
> A aposta de Pascal consiste na seguinte ideia: se uma pessoa
> Alguns males parecem ter justificação, mas outros parecem
«apostar» na existência de Deus e Ele existir, ganhará a vida
ser gratuitos e sem sentido. É difícil perceber como é que Deus
eterna; caso Deus não exista, não perderá nada de significativo
os poderia permitir, caso existisse.
(apenas tempo que gastou em cerimónias e leituras religiosas).
> Alguns filósofos como Leibniz, elaboraram teodiceias: Por outro lado, caso a pessoa «aposte» que Deus não existe e
explicações das razões pelas quais Deus terá permitido que o Ele afinal exista, perderá a vida eterna; no entanto, caso Deus
mal ocorresse. Três justificações possíveis são que o mal existe não exista e a pessoa «apostou» na sua inexistência, não
para: ganhará nada de significante.
 A DEFESA DO LIVRE-ARBÍTRIO
Acredito Não acredito
Deus permite o livre-arbítrio. Os seres humanos são livres e, por
Deus existe Ganho a vida eterna Perco a vida eterna
isso, alguns escolhem agir mal e fazer ações que provoca
Deus não O que perco é O que ganho é
sofrimento. O mal resulta do livre-arbítrio e deve-se, portanto,
existe insignificante insignificante
ao ser humano e não a Deus. Se só pudéssemos fazer o bem não
seríamos genuinamente pessoas livres e responsáveis.
Aposto 200 mil euros Não aposto
Há vida em
Ganho 200 mil euros Perco 200 mil euros
Marte
Não há vida
Perco dois euros Poupo dois euros
em Marte
> Não tenta provar a existência de Deus e sim mostrar que seria
mais vantajoso acreditar que ele existe do que não acreditar.
> O argumento da aposta de Pascal apresenta razões para
acreditar na existência de Deus e, por isso, pretende persuadir
os ateus e os agnósticos de que a crença produz mais ganhos do
que perdas.
Objeções:
 as crenças não são voluntárias: não podemos simplesmente
decidir acreditar em algo, precisamos de indícios que nos
levem a acreditar. Descobrimos que acreditamos, não
decidimos.
 o argumento é inapropriado: envolve uma atitude
interesseira e pouco sincera em relação à religião. Acreditar
em Deus para ganhar alguma coisa com isso parece não ter
qualquer valor (e caso Deus exista até pode desagradar-lhe).

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