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VERSÃO DO PROFESSOR

D I S C I P L I N A Organização do Espaço

Paisagem como categoria


da análise geográfica

Autoras

Eugênia Maria Dantas

Ione Rodrigues Diniz Morais

aula

Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___


05
Nome:_______________________________________
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Apresentação

N
esta aula, vamos refletir sobre a paisagem como categoria de análise geográfica. A
abordagem está ancorada em reflexões que apresentam a trajetória desse conceito
no âmbito da ciência geográfica, mostrando as vertentes teórico-metodológicas
envolvidas. Assim, analisa a dialética presente na dinâmica do visível e do invisível compondo
a interpretação paisagística; discute a oposição entre paisagem natural x paisagem
transformada, problematizando essa questão e sua validade para se compreender a relação
homem/natureza no contexto das transformações espaciais contemporâneas; e, por fim, de
maneira a estimular a reflexão autônoma do aluno, sugere alguns temas de pesquisa que
podem ser desenvolvidos pelo aluno.

Objetivos
Compreender o conceito de paisagem a partir de
1 diferentes perspectivas teórico-metodológicas.

Analisar a dialética da paisagem presente na dinâmica


2 do visível e do invisível.

Refletir sobre a validade das definições de paisagem


3 natural e humanizada no contexto da ciência
geográfica atual.

Aplicar o conteúdo conceitual em situações-problema.


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Aula 05  Organização do Espaço 1


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Iniciando um caminho...

C
omo já dissemos, esta aula traz como tema a paisagem. Você já estudou a respeito
do espaço como objeto e conceito da ciência geográfica. Agora, vai adentrar pelos
meandros da Geografia, tendo inicialmente por guia a visão, o tato, a audição e o
olfato, possibilitando o encontro com as formas geográficas.

Todos os dias, ao sair de casa, você se depara com um conjunto de elementos que
facilitam, disciplinam ou impedem o seu trajeto. São ruas, pontes, semáforos, calçadas,
carros, pessoas, bicicletas, árvores, animais etc. que se impõem combinando-se ao seu
passo, a sua escuta, a sua visão e ao seu olfato.

Atividade 1
Assim, pare e pense sobre um trajeto feito diariamente e reflita como os seus sentidos
são acionados para fazer esse percurso.

Será que você consegue distinguir cheiros, sons, cores e texturas no compasso que o
seu pé é levado a ter ao colocar-se em contato com o espaço?

Registre aqui a sua experiência.

Tipos de cheiros Tipos de sons Tipos de cores Tipos de texturas

2 Aula 05  Organização do Espaço


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Você deve estar se perguntando em que essa tarefa se relaciona com o tema da nossa aula.
Pois muito bem, ela é um desafio à leitura da paisagem, na medida em que exige de cada um
o esforço para estranhar aquilo que é mais familiar, e de distinguir o que parece homogêneo.
Você foi estimulado a colocar-se diante do “mundo”, de corpo e alma, para experimentar as
sensações que, possivelmente, foram adormecidas pela “tirania” da repetição.

Para estudar a paisagem, é necessário:

n olhar aquilo que é mais familiar, como se estivesse diante de algo estranho;

n descrever o que é visto, aproximando as sensações de familiaridade –estranhamento


dos elementos móveis e fixos na cena;

n revelar cores, odores, texturas e sons que, misturados, compõem a morfologia, guiando
o olhar a identificar, na homogeneidade da cena, a heterogeneidade das formas.

Assim, o sujeito se relaciona com a paisagem em seu movimento cotidiano de ir e


vir, seja na cidade ou no campo, na rua ou na casa, no bairro ou na vila. Os objetos fixos e
móveis se (re)organizam, compondo o cenário em que se desenrola a vida, em processos de
redefinições sócio-ambientais e afetivas.

Outras experiências no meio do caminho...


A experiência do homem com a natureza criando cenários geográficos é descrita e
sentida de formas distintas. A você, foi sugerido vivenciar essa prática de estranhar o familiar.
Vamos apresentar agora algumas experiências que tiveram no espaço o ponto de encontro,
intersecção, intervalo, dúvida... do corpo e da alma.

A casa materna, do poeta brasileiro Vinícius de Morais, faz surgir as imagens impressas
na memória da casa materna como se fosse um reservatório de lembranças e sentimentos que
permanecem e dão ritmo ao olhar que volta para encontrar, na forma, a vida que a faz pulsar.
Leia o texto e perceba como o poeta utiliza o jogo da descrição, trazendo à tona o detalhe.

Há, desde a entrada, um sentimento de tempo na casa materna. As grades do portão


têm uma velha ferrugem e o trinco se encontra num lugar que só a mão filial conhece. O
jardim pequeno parece mais verde e úmido que os demais, com suas palmas, tinhorões
e samambaias, que a mão filial, fiel a um gesto de infância, desfolha ao longo da haste.
É sempre quieta a casa materna, mesmo aos domingos, quando as mãos filiais se
pousam sobre a mesa farta do almoço, repetindo uma antiga imagem. Há um tradicional
silêncio em suas salas e um dorido repouso em suas poltronas. O assoalho encerado,
sobre o qual ainda escorrega o fantasma da cachorrinha preta, guarda as mesmas
manchas e o mesmo taco solto de outras primaveras. As coisas vivem como em
preces, nos mesmos lugares onde as situaram as mãos maternas quando eram moças
e lisas. Rostos irmãos se olham dos porta-retratos, a se amarem e compreenderem
mudamente. O piano fechado, com uma longa tira de flanela sobre as teclas, repete
ainda passadas valsas, de quando as mãos maternas careciam sonhar.

Aula 05  Organização do Espaço 3


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A casa materna é o espelho de outras, em pequenas coisas que o olhar filial admirava
ao tempo em que tudo era belo: o licoreiro magro, a bandeja triste, o absurdo bibelô.
E tem um corredor à escuta, de cujo teto à noite pende uma luz morta, com negras
aberturas para os quartos cheios de sombra. Na estante junto à escada há um Tesouro
da juventude com o dorso puído de tato e de tempo. Foi ali que o olhar filial primeiro viu
a forma gráfica de algo que passaria a ser para ele a forma suprema da beleza: o verso.
Na escada há o degrau que estala e anuncia aos ouvidos maternos a presença dos passos
filiais. Pois a casa materna se divide em dois mundos: o térreo, onde se processa a vida
presente, e o de cima, onde vive a memória. Embaixo há sempre coisas fabulosas na
geladeira e no armário da copa: roquefort amassado, ovos frescos, mangas-espadas,
untuosas compotas, bolos de chocolate, biscoitos de araruta - pois não há lugar mais
propício do que a casa materna para uma boa ceia noturna. E porque é uma casa velha, há
sempre uma barata que aparece e é morta com uma repugnância que vem de longe. Em
cima ficam os guardados antigos, os livros que lembram a infância, o pequeno oratório em
frente ao qual ninguém, a não ser a figura materna, sabe por que queima às vezes uma vela
votiva. E a cama onde a figura paterna repousava de sua agitação diurna. Hoje, vazia.
A imagem paterna persiste no interior da casa materna. Seu violão dorme encostado
junto à vitrola. Seu corpo como que se marca ainda na velha poltrona da sala e como que
se pode ouvir ainda o brando ronco de sua sesta dominical. Ausente para sempre de sua
casa materna, a figura paterna parece mergulhá-la docemente na eternidade, enquanto
as mãos maternas se fazem mais lentas e as mãos filiais ainda mais unidas em torno à
grande mesa, onde já agora vibram também vozes infantis. (MORAES, 1991).

Do Brasil contemporâneo, voltamos à Renascença do século XIV. Lá encontramos A


ascensão ao Monte Ventoux, do Petrarca, poeta italiano, considerado pelos estudiosos da
paisagem uma pedra fundamental. Aqui sintetizamos algumas idéias apresentadas por Jean-
Marc Besse (2006) sobre esse poeta, no artigo “Petrarca na montanha: os tormentos da
alma deslocada”. Para esse autor, por meio dessa descrição inaugura-se uma nova forma de
ver a paisagem pautada pelo distanciamento do sujeito do cenário que o envolve. Ao escalar
a montanha “para simplesmente verificar o que poderia ser visto do seu cimo, teria sido o
primeiro a encontrar a fórmula da experiência paisagística, no sentido próprio do termo: a
da contemplação desinteressada, do alto do mundo natural, aberto ao olhar” (BESSE, 2006,
p. 1/2). Petrarca, ao eleva-se para um ponto mais alto, toma a distância necessária para ver
a natureza por ele mesmo, na mesma medida em que se põe dentro dela como se estivesse
a ritualizar uma peregrinação espiritual. Ao chegar ao cume e experimentar as primeiras
sensações que ela provoca, parece elevá-lo a certeza de “uma assunção e uma confirmação
do espaço intelectual inicial no qual Petrarca inscreveu sua empresa, a da busca da grandeza
da alma, que obtém no exercício de olhar o mundo do alto” (BESSE, 2006, p. 5). Esse
exercício vai ser configurado por um processo de tensão entre viver e conhecer, mediado
pela curiosidade. Assim, olhar a paisagem é repousar sobre um ambiente para desvelar as
suas entranhas, mantendo-se distante dele para ver aquilo que “não nos diz respeito”. No
entanto, ao desejar isentar-se do espaço para ver melhor, o poeta não extingue as marcas
que a paisagem vai imprimindo na alma de maneira que se pode sintetizar a ambivalência da
familiaridade e estranhamento na descrição da paisagem por meio da seguinte afirmação:
“enfim, experimentei quase tudo e em nenhum lugar encontrei repouso”. O que de fato

4 Aula 05  Organização do Espaço


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Petrarca encontra ao contemplar a paisagem? Ele encontra um intervalo, uma distância
tanto no aspecto geográfico quanto temporal, os quais não podem ser suprimidos, apenas
percorridos pelo olhar e pela reflexão. “A separação é vivida em dois planos: o topográfico,
do aqui e dali, e o cronológico, do presente e do passado”. (BESSE, 2006, p. 6)

A partir dos dois relatos, o ambiente se releva por meio do sujeito que olha, contempla,
sente, distancia-se e aproxima-se do cenário visto. Temos a experiência registrando o
encontro do homem com a fisionomia, levando-os a criar representações de sua superfície
como se fosse possível fazer cópias do mundo visto.

Você já estudou noções básicas de cartografia e sabe que o mapa é uma tentativa
nessa direção. Sabe também, estudando Introdução à Ciência Geográfica, que a Geografia é
herdeira da cartografia e das narrativas de viagem, de maneira que, mesmo estando distantes
séculos dessa tradição, ainda permanece como se fosse uma “marca genética” no exercício do
geógrafo a atenção aos signos do mundo, incrustados nas distintas formas espaciais. Assim,
na grade de comunicação com a semiótica do espaço, a paisagem é uma representação que
deve ser contemplada pelo sujeito. Nesse sentido, o indivíduo, de forma intencional ou não,
a representa como espaço do qual é preciso se afastar, ou em relação ao qual é preciso se
elevar para apreendê-la como imagem. Contemplar a paisagem se efetiva em um prazer
estético em que o olhar capta a “ordem do mundo que se faz visível”. Ou seja,

tudo se passa como se justamente fosse preciso não está ocupado com o trabalho para
estar em condições de apreender visualmente a paisagem como tal. Como se fosse
necessário colocar o mundo à distância ou, mais exatamente, colocar-se à distância
do espaço terrestre para percebê-lo em sua dimensão de paisagem. Como se não
houvesse paisagem a não ser na distância de um olhar por assim dizer exterior, se não
estrangeiro, um olhar que passa e julga (BESSE, 2006, p. 35).

Aula 05  Organização do Espaço 5


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A partir das experiências narradas, podemos apresentar algumas dimensões que estão
presentes na paisagem. Quais sejam:

1) a dimensão física e objetiva limitada aos elementos que estão na superfície e que podem
ser vistos pelo homem;

2) a dimensão humana, subjetiva e contemplativa que diz respeito ao encontro do homem


com essa superfície, provocando sensações de familiaridade e estranhamento;

3) a dimensão representacional e imagética que se apresenta como uma objetivação da


relação entre a dimensão física e humana, configurando-se em elaborações sintéticas do
mundo visto e sentido;

4) as dimensões ética e estética que se referem às ações e ao prazer estabelecidos a partir


das concepções e interações do homem com a superfície terrestre.

Atividade 2
Agora vamos refletir e praticar mais um pouco!

Veja a fotografia a seguir.

a) Identifique os elementos presentes na fotografia que compõem a paisagem.

b) A partir dos elementos identificados e tendo por parâmetro as dimensões presentes na


paisagem, anteriormente definidas, faça uma descrição da imagem.

c) A partir da resolução das questões a) e b), das reflexões até então apresentadas e da
sua percepção, o que é paisagem?

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a)

sua resposta
b)

c)

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O que é paisagem?
Vamos colocar a sua definição em contato com outras abordagens para que você seja
capaz de reorganizar as suas idéias, ampliando a sua percepção inicial.

Até o século XVI, não se conhecia a paisagem em uma dimensão estética, ou seja, como
uma imagem a ser refletida, contemplada e sentida. Ela estava imersa na noção de país ou na
fração de espaço identificado por território, ou ainda, em um lugar do ponto de vista de suas
características físicas, humanas e econômicas. Ao se confundir com base física do espaço, a
paisagem até então se aparentava com a materialidade revelada de imediato ao sujeito, que,
por sua vez, atrelava a feição à prática e ao uso da forma. Nessa perspectiva, a paisagem era
entendida como espaço objetivo da existência, mais territorial e geográfica do que estética. É,
somente, a partir do século XVII, com a pintura, que vai aparecer o valor estético da paisagem,
alimentando-se da imaginação e da contemplação. Com essa ampliação, o inventário das
imagens da Terra são ressignificados, trazendo à tona um vasto quadro que aparece a partir
dos caminhos feitos pelo olhar. Até o século XVIII, a percepção estava atrelada à pintura e
à arte e representava o sítio – lugar – visto. “Tomada pelo individuo, a paisagem é forma e
aparência. Seu verdadeiro conteúdo só se revela por meio das funções sociais que lhe são
constantemente atribuídas no desenrolar da história” (LUCHIARI, 2001, p. 13). Ou melhor,

A paisagem é denotada pela morfologia e conotada pelo conteúdo e processo de


captura e representação. A paisagem como representação resulta da apreensão do olhar
do indivíduo, que, por sua vez, é condicionada por filtros fisiológicos, psicológicos
socioculturais e econômicos, e da esfera da rememoração e da lembrança recorrente.
A paisagem só existe a partir do indivíduo que organiza, combina e promove arranjos
do conteúdo e forma dos elementos e processo, num jogo de mosaicos [...] Assim
a paisagem tem sua existência condicionada pela capacidade do indivíduo reter,
reproduzir e distinguir elementos significativos (culturais ou naturais, circunstanciais ou
processuais, adventícios ou genuínos, entre outros aspectos) desse mosaico construído.
A paisagem evoca significados a partir dos signos e valores atribuídos. Esses signos
assumem amplo espectro de propriedades e escalas numa grade semântica própria.
(GOMES, 2001, p. 56/57).

Assim, a paisagem se define como sendo tudo aquilo que nós vemos, o que nossa
visão alcança. Pode ser circunscrita ao domínio do visível, daquilo que a nossa visão
consegue abarcar de um só lance. Não é formada somente de volumes, mas também de
cores, movimentos, odores, sons e texturas.

Nessa perspectiva, os limites da paisagem são dados pelo olhar e pela localização do
sujeito com relação à linha do horizonte. A paisagem assume escalas distintas aos nossos
olhos a partir do ponto em que nos encontramos. O que se revela está de acordo com a
capacidade de perceber, sentir, escutar e tocar. Na leitura da paisagem, os sentidos são
aguçados para ativar a percepção, por isso o aparelho cognitivo tem importância capital,
posto que regula e filtra a extensão das sensações para um campo representacional em que
interferem o capital cognitivo acumulado no processo de formação do sujeito.

8 Aula 05  Organização do Espaço


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A abordagem da paisagem no seio da Geografia institui a sua ascensão no patamar
da Ciência. No entanto, desde a Antiguidade, ela está presente nos registros de filósofos-
matemáticos, considerados também “geógrafos”, que construíam representações da
superfície terrestre, procurando detalhar as suas singularidades e movimentos. A corografia
praticada por Estrabão é um exemplo disso. Humbolt e Ritter, séculos depois, ao se
debruçarem para encontrar uma explicação para a dinâmica da Terra, também traziam como
ponto de partida a descrição do cenário que lhe chegava por meio da visão e das experiências
que se estabeleciam com esse mundo visto. Assim, a Geografia partia da descrição dos
aspectos físicos ou naturais, sentidos e percebidos pelo olhar. Os geógrafos do final do
século XIX e das primeiras décadas do século XX vão fazer uso das mesmas estratégias para
procurar consolidar a Geografia no espaço científico.

No entanto, cabe destacar que, nesse período, a Ciência assume contornos distintos,
aprofundando o racionalismo como meio para se chegar a um conhecimento verdadeiro. Desta
feita, há que reduzir as interferências subjetivas provocada pelo olhar. E assim, ao assumir a
descrição e o olhar como meio de ascensão ao conhecimento, à ciência geográfica, ressalva-
se ser necessário contemplar, mas como o legítimo interesse de conhecer. Portanto, o olhar
não é despretensioso, mas erudito, alicerçado em teorias e procedimentos metodológicos.
Olhar, descrever, comparar e analisar constituem mecanismos de objetivação para
compreender a singularidade da Terra, revelada em suas múltiplas paisagens. A Geografia
toma a materialidade da paisagem como uma objetivação analítica que impede o sujeito da
ciência de se enganar. É dessa perspectiva que o viés positivista se instaura, alimentando
espíritos como Ratzel e La Blache.

Para Ratzel, é preciso compreender a dinâmica da natureza para entender a dinâmica


humana. O homem se faz como tal na natureza, sendo necessário encontrar a explicação
para essa relação. Nesse sentido, a natureza exerce uma ação poderosa que se manifesta
através de todas as fases da história, bem como em todas as esferas da vida. O homem
se vê como espécie livre, mas na realidade ele é servil, pois como as raízes que fixam as
plantas ao solo, o homem também está preso ao solo que recebeu de herança. Assim, o
ponto de partida para compreender esse processo de servidão parte da observação da
natureza, das condições objetivas que se revelam inicialmente ao olhar de um observador
erudito. Desvendar a dinâmica dos elementos naturais é o caminho para estabelecer as leis
explicativas da dinâmica do homem na paisagem natural, pois este é visto como mais um
elemento da natureza a compor o cenário geográfico.

Em La Blache, a paisagem é a revelação da Terra como um organismo em equilíbrio. O


homem ao interferir na natureza cria o meio geográfico, e é a partir da observação e descrição
desse meio que podemos compreender a dinâmica a Terra. Assim, a paisagem assume
importância central, sendo a porta de entrada do geógrafo para fazer o inventário da Terra. Olhar
e descrever, comparar e sintetizar constituem ferramentas básicas para a leitura da paisagem.

Em relação à perspectiva cultural de Carl Otto Sauer – para ampliarmos mais um


pouco essa discussão –, podemos ainda trazer à tona a idéias de Carl Otto Sauer, geógrafo

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americano do século XX, que problematizou e discutiu a ciência geográfica, colocando
luzes sobre a morfologia da paisagem. Para ele, a paisagem deve ser o objeto da ciência
geográfica, sendo concebida como “uma associação de formas, físicas e culturais, resultado
de um longo processo de constituição e diferenciação de um espaço” (GOMES, 1996, p,
231). Sauer sublinha a importância da análise da estrutura e das funções de cada paisagem,
que deve ser vista sobre um plano sistemático e geral, em que possa ficar evidente a
estrutura metodológica e teórica, possibilitando analisar os elementos significativos na
estruturação da paisagem e criando tipologias morfológicas. A partir das tipologias, é
possível compreender a diferenciação regional, objeto último da Geografia. Para Sauer, a
paisagem forma-se da combinação de elementos naturais e humanos. Assim, ela pode ser
classificada em paisagem natural e artificial, na medida em que o homem se defronta com
a natureza, estabelece uma relação cultural, que é também política e técnica. Dessa relação
cultural, o espaço geográfico assume feições distintas, sendo estas resultado dos diferentes
níveis de intervenção humana.

No que diz respeito à visão dialética de Milton Santos, a percepção é “um processo
seletivo de apreensão da realidade. Se a realidade é apenas uma, cada pessoa a vê de forma
diferenciada; dessa forma, a visão pelo homem das coisas materiais é sempre deformada”
(SANTOS, 1994, p. 62). Assim, para esse teórico, a percepção é apenas o primeiro dispositivo
que nos permite ver a paisagem, não é conhecimento da mesma. O que o homem vê é
apenas sua forma e aparência, não distinguindo pelo olhar o que a constitui. A percepção
que estimula a visão representa apenas a entrada na análise que desvela o conteúdo. Para
adentrar seu significado, é necessário ultrapassar a forma vista, o seu aspecto visível, sendo
necessário ultrapassar a aparência para conhecer a sua essência ou gênese. É necessário, para
isso, compreender a dinâmica da produção de uma sociedade historicamente organizada. A
proposição de Milton Santos está apoiada em uma perspectiva dialética de leitura do espaço
em que a relação homem/natureza se dá pela mediação da técnica e do trabalho, ainda em
Santos (1994, p. 66), verifica-se que a noção de

paisagem não se cria de uma só vez, mas por acréscimos e substituições; a lógica
pela qual se fez um objeto no passado era a lógica da produção daquele momento.
Uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que têm idades
diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos.

Dessa perspectiva, depreende-se que para além das sensações iniciais que mobilizam
o sujeito este deve tomar o distanciamento necessário para reconhecer na forma o
conteúdo, e desta maneira, conhecer a adentrar nos sistemas técnicos e sociais que movem
a transformação da natureza primeira em segunda Natureza. A paisagem geográfica é a
fisionomia que assume a segunda natureza, marcada pelas contradições sociais, econômicas
e culturais que moldam a sociedade capitalista.

10 Aula 05  Organização do Espaço


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A perspectiva fenomenológica
de Eric Dardel

N
esta abordagem a percepção é o meio e o fim do conhecimento, pois o mundo
não é exterior, nem abstrato a vida do sujeito, é sempre uma experimentação, uma
vivência, ou como sugere Merleau Ponty, “ o mundo é não aquilo que penso, mas
aquilo que eu vivo”. A fenomenologia prioriza o ser no mundo. Assim, a paisagem, nessa
vertente, resulta da geograficidade perene nas diversas maneiras pelas quais sentimos e
conhecemos em todas as suas formas. Originalmente, a Geografia é um prolongamento
da experiência, em que a paisagem é uma dimensão da condição humana de habitar. É
uma força imanente que transforma todos os homens em seres topológicos. “A função da
paisagem se precisa então: ela permite manter uma relação viva entre o homem e a natureza
que o envolve imediatamente. A paisagem desempenha o papel de mediação, que permite a
natureza subsistir como mundo para o homem” (BESSE, 2006 p. 82). Assim, a Geografia,
tem o seu valor positivo como ciência, mas representa também um elo fundamental do
homem com a natureza.

A paisagem geográfica é a síntese primeira dessa condição. Por ela, entramos no espaço
geográfico, encontramos seus limites, conhecemos o mundo e a nós mesmos. A paisagem
aqui é designada como uma dimensão da sensação, da percepção, como uma orientação
no e sobre o mundo. Eric Dardel (apud BESSE, 2006) colocou o sentido da Geografia no
meio caminho entre o saber disciplinar e o eminentemente humano. Em suas indagações, se
pergunta “o que é habitar a Terra”? cuja resposta assume a dimensão originária da existência
humana. Para além de uma dimensão epistemológica e científica, o sentido da Geografia está
“na frequentação do mundo e na paixão pelo mundo, na sua densidade e variedade fenomenal,
ao mesmo tempo em que procura compreender-lhe as estruturas e os movimentos” (BESSE,
2006, p. 82). Assim, a paisagem, nessa perspectiva, está atrelada ao espaço vivido, sentido
e percebido. A Geografia, ou de forma sinonímica, a paisagem não

procura revelar aos homens o sentido oculto dos lugares, mas ela procura
apreender como, no contato, com os lugares, as significações ‘pegam’, ou
como se diz que uma maionese ‘pega’, ou que uma forma nasce de repente,
num fenômeno de emergência que é a aparição inata de um sentido (BESSE,
2006, p. 89).
A paisagem é para Dardel expressão do encontro singular entre a Terra e o projeto
humano. Não há paisagem de sobrevôo. Olhar a paisagem é um movimento de intimidade
e de profundidade na relação de experimentação que vincula o homem à Terra. É por esse
vínculo que se revela a “geograficidade originária do ser humano, que é, para o espaço, o
par daquilo que a noção de historicidade representa para a relação do homem com o tempo”.
(BESSE, 2006, p. 93).

Aula 05  Organização do Espaço 11


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A paisagem é criação e recriação da natureza no homem, na medida em que este, ao
modificar as formas originais, percebe, experimenta e vivencia os processos sócio-afetivos
que estruturam e constituem a sua relação com a natureza. Na mesma dimensão, ocorre a
criação e recriação do homem na natureza, visto que esta, ao assumir contornos moldados
pela ação humana, ressignifica suas formas originais, passando a adquirir ritmos e feições
vinculados ao resultado do encontro do homem com a natureza. De uma perspectiva
fenomenológica, a paisagem possibilita ao homem relembrar esse encontro. E mais, permite
refletir que a ‘habitalidade’ do mundo deve se pautar por um compromisso ético e estético
em que se possa concretizar uma vivência mais equilibrada entre os limites da natureza e os
desejos humanos. A percepção da paisagem não é uma atitude passiva do sujeito diante do
mundo, mas uma experimentação, criando o espaço vivido. A percepção é um exercício de
objetivação da natureza no homem, do homem na natureza.

Atividade 3
Vamos praticar!

Pesquise como o tema paisagem é abordado em livros didáticos de 9º ano e de


Ensino Médio.

Apresente o conceito(s) de paisagem abordado(s) no livro didático escolhido


por você.

Compare as noções encontradas com as idéias postas até aqui nesta aula e apresente
três pontos semelhantes e três diferenças.

12 Aula 05  Organização do Espaço


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A trama do visível e do invisível

V
ocê viu até agora que a paisagem é um conceito que se define a partir da perspectiva
teórico-metodológico utilizada. Assim, na perspectiva positivista, ela fica presa ao
universo do visível e do que pode ser descrito dos elementos que se encontram ao
alcance da visão do observador. É claro que tal observação/descrição procura neutralizar
as variáveis subjetivas que podem interferir na análise e na síntese. Assim, há uma
preponderância do que se vê e da identificação dos elementos como fundamentais no
processo de explicação das diferenciações paisagísticas. O que está disponível à visão se
torna central na compreensão da paisagem.

Já na abordagem dialética, tem-se o reconhecimento da percepção como caminho inicial


para a compreensão da paisagem, mas é necessário ao sujeito saber ultrapassar o aspecto
visível a fim de encontrar os elementos que são responsáveis pela trama paisagística. Assim,
ganha centralidade a produção da paisagem como resultado dos movimentos estruturantes
da sociedade, como o trabalho, a técnica e as condições de realização de dominação do
homem sobre a natureza, alterando a natureza primeira em uma segunda natureza. A paisagem
revela o aspecto imediato desse processo, mantendo em sua fisionomia as contradições,
permanências e rupturas que regem a sociedade em sua relação com a natureza.

A vertente fenomenológica assume a percepção como condição para compreender a


paisagem, sem cisões ou fragmentações. A paisagem é o elo de comunicação do sujeito com
o mundo. A percepção da forma é condição de objetivação do sujeito no mundo. Não há,
portanto, subordinação entre as condições subjetivas e objetivas na produção da paisagem,
na media em que o espaço geográfico é a própria vivência do homem na Terra. O visível se
mistura ao invisível, de maneira que o que aparece é sempre o resultado de processos de
experimentação e vivência do homem na natureza.

Assim, você deve ter percebido que a discussão da paisagem está enredada na trama
do visível e do invisível, sobre a qual se estabelece a lógica de explicação da sociedade. Tal
explicação decorre da combinação das técnicas e saberes culturalmente organizados. Assim,
o que vemos e sentimos é mediado por essa combinação.

Para compreender melhor o que está sendo dito, podemos perguntar: o que é a Terra?
Se tomarmos o conjunto de imagens de satélites que são feitos sobre o planeta, podemos
enxergar uma superfície marcada por grandes transformações, em que a técnica e ação
humana se apresentam como mestras.
Captada de longe, pelas lentes de câmeras em órbita, a Terra deixa entrever imensos
oceanos, imponentes cadeias de montanhas, vastas massas continentais. As imagens
noturnas revelam manchas luminosas e pontos de luz que correspondem às cidades,
às concentrações de poços de petróleo e até mesmo aos faróis de frotas de navio
pesqueiros (MAGNOLI, 2005, p. 13).

Se recuarmos no tempo e fizermos a mesma pergunta tendo por referência a Antiguidade,


a resposta, porém, não será a mesma. Essa diferença resulta, justamente, das condições de
objetivação da técnica e do conhecimento produzidos em escalas distintas.

Aula 05  Organização do Espaço 13


Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________
Hoje, por meio dos instrumentos técnicos e das informações existentes é possível
encontrar a paisagem do alto sem precisar se elevar ao cume de uma montanha, como
fez Petrarca. Pode-se ver a superfície da Terra como uma incorporação das técnicas e da
tecnologia criando a multiplicidade de paisagens. Quando observamos a paisagem, podemos
enxergá-la como uma composição de tempos que misturam ações do presente, do passado
e direcionam modelagens futuras. Na trama do visível, podemos avaliar, criticar e intervir no
resultado da ação humana, pois ela está tatuada na paisagem.

Assim, “as paisagens não existem a priori, como um dado da natureza, mas somente em
relação à sociedade. Em diferentes períodos históricos, o olhar lançado sobre o meio elege
e inventa paisagens em uma construção social que não cessa” (LUCHIARI, 2001, p. 20). Por
meio da habilidade humana, a natureza não se esgota, mas regenera-se, refaz-se, renova-
se. Esse processo está atrelado ao compromisso do sujeito com o entorno, reconhecendo
nele a sua própria existência. Desta feita, o sujeito, ao se colocar na paisagem, deve assumir
o compromisso ético e estético com a mesma. Essa perspectiva exige dele saber olhar,
se posicionar diante do que está sendo visto. Pense que na paisagem está a História e a
Geografia simultaneamente enlaçadas. Verifique que é possível ver as mazelas do mundo
com apenas um olhar. Assim, ver a paisagem é olhar a realidade em um grande espelho que
reflete diversas faces da própria humanidade.

Atividade 4
Vamos Praticar!

Veja as imagens:

A partir delas, o que você pensa da relação entre paisagem e ética? Reflita e escreva a
sua opinião.

14 Aula 05  Organização do Espaço


Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________
Paisagem natural x paisagem
transformada: uma oposição
possível?

V
amos analisar um outro ponto que é bastante tradicional no estudo da paisagem
geográfica: a diferença entre paisagem natural e paisagem humanizada. Define-se
paisagem natural como resultado de uma combinação singular de elementos, como
relevo, solo e as formações vegetais. Esses elementos se modificam ao longo do tempo, em
um ritmo lento e quase imperceptível.

A paisagem humanizada refere-se àquelas formações resultantes da ação humana ou


das sociedades na superfície terrestre. Elas são produtos do trabalho social, isto é, do esforço
coletivo e organizado das gerações que, por meio de técnicas disponíveis, instalam artefatos
os quais são utilizados e recriados a partir das múltiplas interações que se realizam.

Essas definições têm hoje valor apenas didático, não se constituindo um viés de
interpretação e análise das formas espaciais. Não se pode mais considerar uma fronteira material
entre o físico e o humano na leitura do espaço. A fisionomia do espaço assumiu uma feição em
que elementos da natureza se misturam ao humano criando feições espaciais heterogêneas. As
relações homem-natureza responsáveis pela trama paisagística combinam ritmos diferenciados,
distensões e próteses. O natural não é um dado do real, mas uma construção do real. É,
segundo Armando Corrêa da Silva (1993), um ponto de vista derivado da observação. Por isso,
“a natureza só se apresenta ao indivíduo, ao grupo por meio de um treinamento” (SILVA, 1993,
p. 42). E acrescenta: “então, não se trata de procurar o natural nos lugares ainda intocados pela
humanidade. O natural está presente na informática, na cibernética, na robótica, na telemática”
(Idem, ibdem). A paisagem não é única, mas revela o grau de bricolagem em que se encontra
a informação e a comunicação na relação homem-natureza.

A partir daí, é possível perceber que “o equilíbrio resultante dessas combinações não
têm nada de estável, que ele está à mercê de modificações cuja multiplicidade de fatores
abrem uma ampla margem” (LA BLACHE, 1985, p. 43). Os estudos geográficos sobrevivem
das transformações remanejadas no tempo, das misturas, dos resíduos que se incrustam nas
formas espaciais, resultantes da indissociável relação entre o homem e a natureza. Afirma
Vidal de La Blache (1985, p. 42) que “a obra do passado persiste através do presente como
matéria sobre a qual se exercem as forças atuais. A partir daí estamos em plena Geografia”. A
superfície da Terra é laboratório de múltiplos resíduos que, ao se combinarem, formam o meio
geográfico, exigindo do geógrafo o saber olhar. Para saber olhar, é necessário compreender
a priori esse laboratório marcado por relações de interdependência entre o movimento e a
inércia, a rugosidade e a transformação, o fluxo e o repouso, o real e o virtual, a convivência
e a barbárie, o símbolo e a matéria, superando as fronteiras pragmáticas e paradigmáticas
que estão fincadas nas estranhas de sua trajetória.

Aula 05  Organização do Espaço 15


Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________
Assim, a paisagem é uma categoria da análise geográfica que possibilita problematizar
o espaço a partir do conjunto de objetos fixos dinamizados por meio dos fluxos de idéias,
percepções, valores, condutas, usos apropriações que variam no tempo. A natureza coloca
seus elementos; o homem coloca as suas técnicas; a paisagem é síntese dessa combinação
natureza-técnica, em que não se pode separar uma da outra sob o risco de cairmos na
armadilha da fragmentação, que isola o homem da natureza, a partir de conceitos que
dificultam a compreensão dos problemas. No mundo técnico-científico e informacional,
o qual caracteriza a era da globalização, a paisagem concretiza múltiplos usos e funções.
Sugere inúmeras apropriações em função da utilização do espaço como mercadoria. Pode-
se falar, de acordo com Milton Santos (1996, p. 191), em uma cientificização e tecnicização
da paisagem, em que cada vez mais são colocadas próteses visando ampliar o raio de
acumulação de capitais e de sedução às práticas inovadoras ativadas por agentes sociais
distintos. O meio geográfico globalizado impõe-se como uma lógica que estimula no espaço
a realização do particular no universal, do universal no particular. Assim, a Geografia é
um empecilho ou uma abertura a esse modelo, constituindo um ponto ou nó na rede de
informações e trocas que alimentam a sociedade hoje.

Finalizando a nossa abordagem, sugerimos alguns temas para reflexões, os


quais você pode assumir como caminhos de pesquisa.

1) A noção de ecossistemas e paisagem: qual é o lugar do homem nesse


contexto?

2) Biomas e paisagens: como compreender a natureza em transformação?

3) Paisagens urbanas: onde está a natureza?

4) Paisagem: qual o lugar da natureza e do homem na trama morfológica?

Resumo
Nesta aula, foi feita uma abordagem teórico-metodológica e prática da paisagem
como categoria da análise geográfica. Contextualizamos a reflexão em situações
de ensino-aprendizagem, a qual exigiu do aluno a leitura e a participação ativa
nas atividades. Assim, vimos que a paisagem é um conceito e uma prática de
análise do espaço, constituindo-se em um campo de reflexão e ação do sujeito.

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Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________
Auto-avaliação
Tendo em vista que a paisagem está enredada na trama do visível e do invisível, observe
esta imagem.

A partir do que você observou, elabore um texto reflexivo em que seja feita uma descrição
e uma análise teórico-metodológica da paisagem como categoria de análise geográfica.

Referências
BESSE, Jean-Marc. Ver a terra: seis ensaios sobre a paisagem e a geografia. São Paulo:
Perspectiva, 2006.

GOMES, Edvânia Torres Aguiar. Natureza e cultura: representações na paisagem. In:


ROSENDHAL, Zeny; CORRÊA, Roberto Lobato (Org.). Paisagem, imaginário e espaço. Rio
de Janeiro: EDUERJ, 2001. p. 50-70.

GOMES, Paulo César da Costa Gomes. Geografia e modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1996.

LA BLACHE, P. V. As características próprias da geografia. In: CHRISTOFOLETTI, A. (Org.).


Perspectivas geográficas. 2. ed. São Paulo: DIFEL, 1985.

LUCHIARI, Maria Tereza Duarte Paes. A (re)significação da paisagem no período


contemporâneo. In: ROSENDHAL, Zeny; CORRÊA, Roberto Lobato (Org.). Paisagem,
imaginário e espaço. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2001. p. 09-28.

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Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________
MAGNOLI, Demétrio; REGINA Araújo. Geografia: a construção do mundo. São Paulo:
Moderna, 2005. (Geografia Geral de Brasil).

MORAES, Vinícius. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Companhia
das Letras, 1991.

SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. 3. edição. São Paulo:


HUCITEC, 1994.

______. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo:


HUCITEC, 1996.

SILVA, Armando Corrêa. A geografia humana e a abordagem naturalista. In: SOUZA, M. A et


al. (Org.). Natureza e sociedade de hoje: uma abordagem geográfica. São Paulo: HUCITEC,
1993. (p. 42-45).

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Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________
Anotações

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Anotações

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Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:______________________
Organização do Espaço – GEOGRAFIA

EMENTA

Objeto de estudo da geografia; as correntes filosóficas que embasam o pensamento geográfico; espaço, território,lugar,
região e paisagem nas diversas abordagens geográficas; a importância das redes no estudo geográfico do mundo
globalizado; a ciência geográfica na sociedade pós-moderna:paradigmas, perspectivas e dificuldades; as formas de
abordagens dos temas geográficos no Ensino de geografia; atividades práticas voltadas para a resolução de problemas
referentes ao espaço geográfico em situações de ensino

AUTORAS

n  Eugênia Maria Dantas

n  Ione Rodrigues Diniz Morais

AULAS

01   Despertando para a leitura do espaço

02   Aprofundando o conceito de espaço

03   A Organização do Espaço: um desafio inter-trans-disciplinar?

04   A dinâmica entre o global e o local na globalização

05   Paisagem como categoria da análise geográfica

06   Lugar e (des) identidade

07   Território e territorialidade: abordagens conceituais

08   Território e territorialidade: abordagens conceituais (parte II)

09   Por entre territórios e redes: múltiplas leituras


Impresso por: Gráfica

10   Região e a Geografia tradicional

11   Região no contexto da renovação da geografia

12   Organização do espaço: do universo conceitual ao ensino da Geografia


2º Semestre de 2008

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