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implacáveis de
Meyer Filho
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implacáveis de
Meyer Filho
textos Kamilla Nunes [p.6], Verônica Stigger [p.16] e Sandra Meyer [p.68]
Florianópolis, 2017
UM ARTISTA FANTASIADO
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DE BANCÁRIO
Possui uma voz fina e estridente, é aficionado pelo apocalipse,
pelos botecos, pelos demônios que rondam o universo, pelo mundano.
Kamilla Nunes É um organismo sempre disposto a se vingar de seu criador, um
animal terrestre e cacarejante. É o primeiro e único brasileiro a
conquistar – ou antes, se auto-outorgar – o título de “Embaixador
do Planeta Marte na Terra”. Enquanto nós, seres comuns, temos
amigos a que chamamos cachorro, gato ou humano, os de Meyer eram
marcianos. Alguns eram dóceis, outros esbravejavam com suas armas
nas mãos, de ferro ou de flores, a disputar um território que
acreditamos, ainda, ser nosso.
De Meyer Filho, conheci apenas a obra. Da pessoa de carne e
ossos, só tive acesso a estes últimos. Foi num dia chuvoso, seu
filho Paulo havia falecido e fui convidada a presenciar a exumação
de Meyer e de sua esposa. Enquanto o coveiro, sem luva nem nada,
jogava os ossos num saco de lixo, ganhei silenciosamente um pedaço
de seu crânio. A tentativa de imaginar o mundo com Meyer é antiga.
O que não imaginava era que o veria num buraco, através de um
paletó azul, roto, só osso. O cidadão, a pessoa e o artista ali,
juntos como sempre foram, embora ele mesmo, durante toda sua vida,
tenha tentado separá-los, tenha tentado rasgar o próprio corpo,
como se conseguisse articular de forma específica seus lugares no
mundo: a casa, o ateliê, o banco, o boteco, o museu, a praça, a
briga de galo, o quintal, o clube.
Incansáveis vezes Meyer Filho repetia que conseguiu se
aposentar sem nenhuma falta no serviço, nenhuma úlcera no estômago
e nenhuma promoção por merecimento. Passou 30 anos e 61 dias
trabalhando no Banco do Brasil, espaço que servia também, entre
um cafezinho e outro, como ateliê. Esboçava ali seus personagens
híbridos, suas infindáveis cristas de galos, flores, caveiras e
retratos de marcianos, a que se referia como “desenhos rápidos
e rapidíssimos”. Destes, alguns passaram a integrar seu “arquivo
implacável” (lugar onde guardava todos os desenhos, pinturas,
tapeçarias, jornais, revistas e livros que julgava expressivos),
que hoje está aos cuidados da família. Outros, milhares de outros,
foram parar no lixo, ao lado de sua mesa de trabalho.
Em casa, escreveu sua autobiografia, gravou depoimentos
e esbravejou pelos cantos que seu emprego servia apenas para
alimentar a si e a sua família, mas que ser artista sempre foi sua
principal atividade. E foi mesmo. Meyer produziu compulsivamente,
concentrou-se em discursos políticos, envolveu-se com a formação
de um circuito de arte local, trabalhou como cartunista e
ilustrador de jornais e revistas nacionais através de críticas ao
governo e ao engessado e elitista sistema de arte do país. Se para
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alguns ele foi um “louco”, para outros, Meyer fixou a atenção no seu tempo
com lucidez e reagiu com sabedoria à escassez de apoio à cultura, escolhendo
o humor para reivindicar seus direitos como artista e cidadão, da Terra e
de Marte. Impaciente e curioso, deixou seu pensamento vagar sobre papéis
vagabundos, eucatex, recibos, jornais, catálogos, pacotes de cigarro. Seu
desejo de construir uma obra coerente com seu discurso e sua maneira, pouco
convencional, de ver o mundo, pode ser percebido nas páginas desta publicação,
que mescla técnicas, temporalidades, assuntos e lugares. Meyer manteve-se
sempre perplexo diante da multiplicidade de lugares, pessoas e objetos expostos
à sua visão. Olhou para a silhueta da cidade, para o caos de uma sociedade
organizada com base no conflito. Inventou um modo próprio de composição, pelo
qual era, e continua sendo, imediatamente reconhecido. Caiu, também, na sua
própria armadilha. Repetiu-se. Repetiu-se tanto que a repetição passou a se
tornar seu lugar de fala, a fazer parte da construção de sua linguagem.
Em suma, a forma não se encontra exclusivamente em seus desenhos ou suas
pinturas, mas nos planos que se abrem à experiência de descoberta de um outro
mundo. Ou, pelo menos, de uma outra percepção de mundo. Mais complexa, mais
irônica, mais sarcástica, mais codificada. Note-se que seu trabalho como
bancário foi em grande medida decifrar “palavras códigas” que, de acordo com
o artista em uma de suas crônicas, possuíam sempre cinco letras, com as quais
conviveu diariamente, durante sete anos em que, pelas circunstâncias da vida,
foi tradutor e codificador de todos os telegramas recebidos e expedidos pelo
Banco do Brasil, tanto no seu próprio código, quanto no de outros bancos
nacionais e estrangeiros.
ABACV, SJEAG, SIZEZ, SOCYO, SNEPA, MABUI E MACAC são as “palavras códigas”
mais usuais, que aparecem tanto na obra do artista, como nos seus relatos e
escritos. Numa época em que artistas e intelectuais, eram considerados “uns
sonhadores, uns grandessíssimos vagabundos, mandriões e outras coisas mais”,
não havia outra alternativa a não ser assumir-se como um “pintor fantasiado
de bancário”. Não é nenhuma surpresa, portanto, o fato de que a fantasia
de bancário tenha encontrado seu lugar na obra do artista, de que ele tenha
estabelecido uma reflexão crítica sobre seu próprio discurso.
O HOMEM E O GALO
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1. Segundo o horóscopo chinês, 1957 foi – como agora, 2017 – o ano do galo. Naquele ano,
Ernesto Meyer Filho desenhou um dos mais magníficos galos de seu repertório [fig. 1].
Algumas notas sobre Meyer Filho Ao contrário da maioria dos que desenharia ou pintaria posteriormente, este não se acha
contra um fundo claro ou de um colorido vivo, mas contra um fundo negro, que realça o
Verônica Stigger
branco da cauda e do peito do bicho. O galo está bem no centro da superfície vertical
do papel, com as patas e o corpo de frente para o espectador e a cabeça de perfil. Os
olhos são pequenos, como costumam ser os olhos dos galos, e parecem fixar algum ponto
à direita. A imensa cauda clara circunda-o como uma aura ou, talvez mais precisamente,
como a cauda aberta dos pavões albinos ou ainda como o fundo exuberante forjado pelo
adereço aplicado às costas nas fantasias dos destaques das escolas de samba. A crista e
o papo de um vermelho vivo e o bico e os pés ocres quebram com o bicromatismo do preto
e branco do corpo e da cauda. As penas mais compridas desta última estão alinhadas à
crista, funcionando como uma espécie de coroa. Nada há além do galo: nem chão, nem
céu, muito menos paisagem. Nem seria possível haver o que quer que fosse afora sua
figura: ele se impõe ao olhar, de peito inflado, soberbo. Reina só, como um emblema,
sem legenda ou epigrama, de algo que, a princípio, não apreendemos. Talvez pudéssemos
supor que Meyer Filho o realizou em função da comemoração do ano do galo. Assim, seria
o desenho um símbolo daquele ano. Não se trata de uma hipótese a se descartar, mas o
mais provável é que tenha sido uma coincidência. As inúmeras e variadas versões da ave
feitas pelo artista atestam uma afeição desmedida, quase uma devoção, a ponto de buscar
se identificar com ela. «Vocês podem me chamar de gozador e de tudo», disse, certa feita,
Meyer Filho, «na Terra, o símbolo oficial da França é o galo.» Acrescentou ainda: «E o
galo é também o símbolo do planeta Marte. E o meu símbolo também»1. Em outra ocasião,
afirmou: «No meu caso particular, o galo representa toda a minha luta para chegar a ser
o desenhista e o pintor que sou, com a ajuda de Deus, dos anjos e dos bons espíritos
do além, bem como dos meus esforços»2. Afirmação esta que veio na sequência de um longo
elogio ao caráter do galo: «Considerado símbolo da bravura, o galo briga a qualquer
hora, esteja ou não com o papo empanturrado de milho. É ele, de todos os animais, o mais
universal símbolo da arte. O galo é encontrado em todas as regiões do globo, em estado de
animal doméstico ou silvestre, pois todas as raças de galinhas descendem dos primitivos
galos selvagens. A domesticação do galo perde-se na noite dos séculos. É simplesmente
impressionante a bravura, determinação e ferocidade que os galos de briga demonstram nas
rinhas. Crivados de esporadas, banhados em sangue, cegos das duas vistas, muitas vezes já
se têm visto galos ganharem lutas nos “rebolos” a eles destinados. Os meneios amorosos
do galo silvestre norte-americano inspiram a dança de guerra dos peles-vermelhas»3. O
galo, ao anunciar a manhã com seu canto estridente, espanta os maus espíritos e outras
assombrações das chamadas «horas abertas», as horas sem defesa4. Se o galo não canta ao
amanhecer, é a morte que espreita5.
1. Ernesto Meyer Filho, «Meyer Filho: Um incrível (e cósmico) pintor», Jornal de Santa Catarina, 7 jun.
1981.
2. Ernesto Meyer Filho em entrevista a Carlos Alberto Feldmann, «Ernesto Meyer Filho fala sobre sua
arte, sucesso de crítica e público», Jornal Bom Dia, 15 jan. 1978. Reproduzido em Meyer Filho (Exercício
de imaginação), Florianópolis: Instituto Meyer Filho, 2011, p. 131.
3. Idem.
4. Luís Câmara Cascudo, Superstições no Brasil, Belo Horizonte: Itatiaia, 1985, p. 99.
5. Ver George Steiner, «Two cocks», No Passion Spent, London: Faber and Faber, 1996, p. 514.
Fig.1 Fig.2
Fig.3
3. Na ilustração que Meyer Filho produziu para a capa do número de janeiro de 1960 que ilustram o trecho sobre sua «fase negra» no terceiro volume de Histoire de
da revista Litoral, o homem se funde ao galo [fig. 3]. Como aquele de 1957, o la Peinture Moderne12, editado por Skira, e que Meyer Filho muito provavelmente
galo aqui também se acha de frente. Diferentemente do anterior, porém, este, com conhecia, uma vez que possuía um exemplar do livro em sua biblioteca. No desenho de
crista, papo e bico de um vermelho vivo, encara-nos com seus olhos pequeninos. As Meyer Filho, a estilização parece funcionar como indicativo de não serem aqueles
asas estão levemente abertas para os lados, como as dos anjos num sem-número de seres estritamente humanos, mas marcianos. (Não esqueçamos que, no final da década
representações medievais e renascentistas. Em sua barriga, no entanto, divisamos de 1960, o artista relatou à rádio A Verdade a viagem que fizera ao planeta Marte:
um rosto masculino: dois grandes olhos que fixam o espectador, sobrancelhas ação esta que considerava sua «performance»13.) A suposição se baseia ainda em
bastas, nariz e traços grossos e escuros na altura do que seria a bochecha, que outro detalhe recorrente nas abundantes representações de Meyer Filho dos seres
podem representar tanto um bigode quanto uma pintura tribal. O longo pescoço de Marte (tão parecidos com os que encontramos aqui, sejam galos, sejam homens e
e a cabeça do galo se constituem como uma espécie de chapéu para esse rosto. mulheres): no alto das cabeças, costuma aparecer um orifício redondo, que permite
Talvez pudéssemos identificar, nesse jogo de duplicação da imagem, um aspecto ver através, similar àqueles que observamos em algumas obras surrealistas, como em
caro a certos pintores surrealistas, como Salvador Dalí. Vale lembrar que Meyer L’Homme, l’ennemi de la femme, ou l’homme, le meilleur ami de la femme (1927), de Max
Filho seguidas vezes se autointitulou o «primeiro pintor fantástico-surrealista Ernst, também reproduzido no terceiro volume da coleção da Skira14, ou em Vestiges
do Sul do Brasil» . Na entrevista que concedeu ao Jornal de Santa Catarina em
9
ataviques après la pluie (1934), de Dalí. Poderíamos evocar ainda outro trabalho de
1981, precisou ainda a data a partir da qual se tornou o primeiro surrealista do Meyer Filho, sem data [fig. 5], em que um galo todo colorido traz, no que parece
Sul: 195710, o ano do galo. Para Dalí, a imagem dupla, derivada do processo que ser uma cavidade aberta no peito, uma mulher nua de corpo inteiro. No sistema solar
denominava «paranoico-crítico», resultava na «representação de um objeto que, sem de Meyer Filho, tanto em Marte quanto na Terra, o humano (ou o que se aproxima
a menor modificação figurativa ou anatômica, seria ao mesmo tempo a representação dele) se entranha no animal. Nos desenhos em questão, é como se estivéssemos diante
de outro objeto absolutamente diferente»11. No entanto, se em L’Homme invisible de um ventre grávido e aberto, tal qual nas esculturas de estudos anatômicos, em
(1932), uma das primeiras pinturas em que Dalí recorreu às imagens duplas, que o humano é gestado no animal. Esconde-se dentro dele, como se o animal não
elementos da paisagem ajudam a constituir o homem e vice-versa, fazendo com fosse mais que um casulo, uma capa, uma roupa que o cobre. Em Meyer Filho, talvez
que, ao observarmos o quadro, ora vejamos o homem, ora a paisagem, ou, mais esteja em jogo a revelação não do que há de animal no homem, mas do que há de homem
precisamente, ora vejamos um torso de costas inclinado, ora um ombro e um braço, no animal. Como não lembrar, a propósito, certo aspecto do pensamento ameríndio
na ilustração de Meyer Filho para a revista Litoral enxergamos sempre o galo, e a descrito por Eduardo Viveiros de Castro, segundo o qual o fundo comum entre homens
barriga não deixa de ser barriga para se tornar uma cabeça humana. É dentro dela, e animais não seria a animalidade, mas a humanidade, uma vez que «os animais são
inserida nela, que se vê o rosto humano. Visualizamos sempre os dois ao mesmo gente, ou se veem como pessoas»: «Tal concepção está quase sempre associada à
tempo. Galo e homem se tornam um só. ideia de que a forma manifesta de cada espécie é um envoltório (uma “roupa”) a
esconder uma forma interna humana, normalmente visível apenas aos olhos da própria
espécie ou de certos seres transespecíficos, como os xamãs»15. A «roupa» animal
está, portanto, estritamente associada à metamorfose: «A noção de “roupa” é, com
Em 27 de outubro de 1959, Meyer Filho realizou um desenho a grafite [fig. 4] efeito, uma das expressões privilegiadas da metamorfose – espíritos, mortos e
4. que guarda algumas semelhanças com a ilustração da capa da revista Litoral, xamãs que assumem formas animais, bichos que viram outros bichos, humanos que são
publicada alguns meses depois. No desenho, um galo se encontra exatamente na inadvertidamente mudados em animais –, processo onipresente no “mundo altamente
mesma posição que o da capa. A sua barriga, no entanto, não traz elementos transformacional” (Rivière 1994) proposto pelas culturas amazônicas»16.
que formam um rosto humano, mas abriga, dentro dela, duas cabeças de tal modo
estilizadas que lembram as máscaras de figuras humanas talhadas em madeira. Há
algo nos traços destes rostos estilizados que levam a recordar os dos personagens
representados por Picasso na época da realização de Les Demoiselles d’Avignon,
12. Histoire de la Peinture Moderne. De Picasso au surréalisme, Genève: Skira, 1950, vol. 3,
como os rostos-máscaras de Danseuse nègre (1907) e Trois femmes assises (1907-08), p. 42-43.
13. Ernesto Meyer Filho, «Respeitável público:», reproduzido em Meyer Filho (Exercício de
imaginação) cit., p. 17.
9. Ernesto Meyer Filho, «Meyer Filho: Um incrível (e cósmico) pintor» cit. 14. Histoire de la Peinture Moderne. De Picasso au surréalisme cit., p. 179.
10. Idem. 15. Eduardo Viveiros de Castro, «Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena»,
11. Salvador Dalí. «L’Âne pourri». In: Le Surréalisme au Service de la Révolution, n. 1, A inconstância da alma selvagem, São Paulo: Cosac Naify, 2002, p. 351.
juillet 1930, p. 10. 16. Idem.
Fig.4 Fig.5
Fig.7
17. Rosângela Cherem e Lígia Czesnat, Meyer Filho, um modernista saído da lira,
Florianópolis: Naumblu Ciência e Arte, 2007, p. 20.
Fig.6
Fig.8
Fig.9 Fig.10
35
Fig.11
6. Em 1965, quase duas décadas antes da fotografia feita por Beto Stodieck, Meyer Filho
havia realizado um estudo à caneta em que vemos um jovem carregando, no braço direito,
um galo de cabeça, crista e papo vermelhos e, no esquerdo, um buquê de apenas três
flores [fig. 11]. A cauda do galo é quase tão longa quanto a de um pavão. O jovem está
descalço, vestindo uma camiseta xadrez em azul e vermelho, de gola careca, e calças de
corte simples, levemente curtas e em tom marrom. O xadrez de sua camiseta contrasta
com o padrão das penas do galo: as linhas retas se sobrepõem às curvas destas, que,
por seu formato, têm algo de escamas. O desenho é vertical como a fotografia. Atrás
do rapaz, há apenas duas nuvens. Ele e o galo olham para as flores. No ano seguinte,
Meyer Filho voltou ao mesmo tema em outro estudo, também à caneta [fig. 12]. Sobre
o verso de uma folha de papel com timbre do Banco do Brasil, desenhou um homem – ou
seria uma mulher? – que traz igualmente nos braços um galo e, na mão, flores. A pessoa
parece vestir uma capa ou algo como um manto de penas. Nos trabalhos seguintes de
Meyer Filho, essa figura se desdobra em duas. Por um lado, no mesmo ano de 1966, uma
variação dela aparece em, pelo menos, dois desenhos coloridos: o homem, montado num
cavalo [fig. 13] ou num ser meio cavalo meio felino de grande porte [fig. 14], aparece
com o galo, mas sem as flores. Em Cavaleiro sideral, está abraçado ao galo, como nos
desenhos comentados anteriormente, enquanto em Cavaleiro cósmico levanta a mão para
o alto a fim de servir de apoio à ave. Por outro lado, em 1967, em dois estudos à
caneta [figs. 15 e 16], o homem reaparece como cavaleiro, portando as flores, mas
sem o galo. Essa figura será vista em trabalhos posteriores do artista, como, por
exemplo, em Idílio no cosmos (1972). Em 1957, em Idílio fantástico, já havia surgido,
no universo de Meyer Filho, o personagem masculino, que, então, oferecia flores
a uma sereia. No entanto, tratava-se, naquela ocasião, de um centauro, que também
seria representado seguidas vezes, como, mais de uma década depois, em Idílio sideral
(1969). Curiosamente, em ambos os estudos de 1967, o homem possui asas. Um anjo?
Talvez. Contudo, se voltarmos um pouco no tempo e prestarmos atenção nos desenhos de
1966, perceberemos que o padrão colorido do corpo do galo [fig. 13] ressurge, tanto
nos tons quanto nas formas, no padrão da camiseta do cavaleiro [fig. 14], como se
ele vestisse ali a «roupa» do galo, isto é, como se incorporasse, em si, o corpo do
galo. Interessante notar ainda que, nos dois estudos de 1967, o corpo do cavaleiro
se apresenta coberto de marcas – pinturas, tatuagens ou sinais de nascença? – como
se fosse se apenas imitasse a pele dos bichos. No desenho de janeiro daquele ano
[fig. 16], o padrão visto nas pernas do homem repete o padrão de suas asas: seriam
então pernas cobertas de penas ou pernas pintadas imitando penas? Vale observar ainda
que seu rosto está todo pintado em vermelho vivo, o mesmo tom da cara de muitos dos
galos. Estaríamos aí diante de um processo de metamorfose, da fusão do homem ao galo?
Se assim o fosse, talvez pudéssemos considerar a asa como o que restou do galo, como
seu vestígio. Em 1975, num desenho muito colorido e repleto de detalhes [fig. 17], a
figura que oferece flores a uma sereia é, sem sombra de dúvida, um híbrido homem-galo:
tem cabeça e corpo de galo e braços e pernas de gente.
Fig.12 Fig.13
Fig.14
Fig.15
Fig.16 Fig.17
7. Tanto o galo quanto as flores são itens de oferenda. «Critão, devemos
um galo a Asclépio. Não te esqueças de saldar esta dívida»18, disse
Sócrates pouco antes de morrer sob o efeito da cicuta, entregando-
se, em certa medida, a si mesmo em sacrifício: aceitou a condenação
sem nem ao menos tentar recorrer do processo19. O galo é também um
dos animais sacrificados a Exu. A Iemanjá oferecemos, entre outros
presentes, flores, o que também se oferta a determinadas divindades
hindus. Em nossa cultura, costumamos oferecer flores àqueles que
prezamos. A escultora Maria Martins, quando narra o mito da uiara,
a sereia da mitologia amazônica, conta que ela oferece ao homem que
deseja seduzir «uma flor e o beijo da morte»20. João Evangelista
de Andrade Filho já havia ressaltado a importância do «tópico da
oferenda» nas obras de Meyer Filho, «um dos mais gratos ao universo
do artista». Como um dos exemplos, menciona o centauro de Idílio
fantástico21, que oferece flores a uma sereia (ou uma uiara),
invertendo a ordem de sedução proposta por Maria Martins. Seriam então
dádivas o galo e as flores levadas pelos homens dos desenhos de 1965
e 1966 [figs. 11 e 12]? Se sim, o que testemunhamos no desenvolvimento
do tema nos anos seguintes, quando a imagem do homem parece
paulatinamente se fundir à do galo, é o processo de transformação
do ofertante em ofertado; ou, mais especificamente, o processo de
duplicação da figura do ofertante em, simultaneamente, ofertante e
ofertado. O homem, ao se incorporar ao galo, se torna ele mesmo objeto
de oferenda. No desenho de 1975, é um galo-homem que oferece flores
a uma sereia. Em se tratando de uma sereia, cujo poder de sedução,
nos conta a mitologia, é irresistível e assassínio, o galo-homem está
aqui, em certa medida, ele próprio se entregando em sacrifício.
E parece ter consciência e não muita convicção do que está prestes a
realizar: do contrário, não levaria uma adaga.
PERFORMA DESENHO
afinal, por Desenho. Ele respondeu: - “O Desenho
não é a forma, é a maneira de ver a forma”.1
Sandra Meyer
Iniciados no ano de 1943, os primeiros desenhos de meu pai agiam mimeticamente sobre
a coisa vista - geralmente fotografias de artistas de cinema e cenas do cotidiano.
Aos poucos, a coisa vista foi se transformando em “coisa vivida”2, à medida que o ato
de desenhar lhe propiciava desvios, falhas e acertos no caminho (aquele que só se faz
andando) da elaboração de uma linguagem própria, inserida no que ele nominava universo
fantástico.
- Sandra, este aqui não é para ser vendido. Vai pros arquivos implacáveis de
Meyer Filho!
No decorrer dos anos, teve o cuidado de guardar obras de suas mais significativas
fases criativas, complementadas com recortes de jornais, revistas e correspondências
por ele comentados, catálogos, crônicas, dentre outros documentos, todos relativos à
produção realizada entre as décadas de 1940 e 1980. Neste acervo, vê-se a elaboração
de uma visão particular, de si próprio e do mundo, num mergulho onírico e obsessivo.
Elaboração e mergulho que testemunhei desde menina. De tempos em tempos, enquanto
desenhava sobre a mesa da sala de jantar, a mesma pergunta:
Meu pai agia não somente através do traço, mas também do gesto e da fala. E não
num tom qualquer: sua voz era aguda, estridente, quase cacarejante. Em uma luta
incansável para provar a si mesmo e aos outros que era um artista, suas estratégias de
sobrevivência e de visibilidade não se davam apenas pelos meios pictóricos, mas também
por escritos e por atos de fala, de certa forma, performáticos. Como artista da dança
sempre me inquietou a possibilidade de abordar a pulsão performativa de meu pai como
parte de sua interlocução poética, e não como mero exibicionismo ou excentricidade de
artista.
1. Valéry, Paul. Degas dança desenho. SP: Cosac Naify, 2012, p. 139.
2. Idem, p. 140.
70 71
que ele exercitou a imaginação, desenhando “estudos rápidos e rapidíssimos” e Sua presença ocorria de formas distintas e curiosas. Além de agenciar
compondo ações cuja dimensão estética e política é ainda pouco percebida. comportamentos pouco convencionais, ele os comentava repetidamente com doses de
sarcasmo entre um desenho e outro em algum boteco da cidade. As suas performances
- Poxa, a arte deve estar acima da política, porque tudo é política. Se eu
são até hoje comentadas, algumas delas descritas por ele em crônicas.
faço um bom trabalho estou sintomaticamente elevando o nível cultural de
Autodeclarou-se, por exemplo, Embaixador do Planeta Marte na Terra, após ter sido
quem olha, e isso é um ato político.
abduzido em 1963 às três da madrugada num hotel durante uma exposição individual
em São Paulo.
Desde criança, os atos de meu pai causavam-me um misto de fascínio,
estranhamento e vergonha. Certa vez estava numa festinha no Castelinho da
- Se o artista está de acordo com o poder é mais fácil para ele vencer. A
Marinha, no centro de Florianópolis, quando o som dos Mutantes na vitrola foi
maioria está nessa ô!
bruscamente interrompido. Alguém acabava de relatar que um “maluco” estava nas
imediações da Praça XV, de smoking e chinelo, dizendo a todo mundo que era um Seus desenhos se esquivavam do representacional à medida que ele investigava o
artista. Minhas pernas tremeram... afinal, só podia ser ele. Em 2016, reelaborei cosmos, a humanidade, os animais, as paisagens, as plantas, os quintais. Eram
esse acontecimento numa performance no espaço Memorial Meyer Filho. realizados na casa n. 30 da rua Altamiro Guimarães em meio aos cuidados com a
horta no quintal da casa, onde ervas daninhas conviviam harmoniosamente com
Sandra, durante anos enfrentei uma verdadeira corja de medíocres e
pés de alface e de couve (e onde se via um cartaz: Plantando dá, pessoal!). Na
invejosos em Santa Catarina. E isto trancado em um banco, em uma cidade
garagem, um fusca vermelho fazia as vezes de cavalete para os quadros à mostra,
situada mais de mil quilômetros fora do eixo Rio-São Paulo.
enquanto as pessoas adentravam a casa para vê-lo pintar na mesa da sala de jantar
ou no ateliê, no segundo andar, cuja sacada também exibia pinturas e jarros de
Contava a mesma história para mim, minha irmã Helenita e meu irmão Paulo. Era
barro com imagens de galos e do boi-de-mamão.
uma vez três carneirinhos: um era todo branquinho e se chamava? Respondíamos em
coro: Branquinho. O outro era marronzinho e se chamava...Marronzinho; o terceiro
Sandra, este é o mais bonito que fiz hoje, que tal? Vou guardar, o resto
era pretinho e se chamava...Pretinho. Repetia esta e outras histórias menos
joguei no lixo.
inocentes inúmeras vezes, tal como desenhava galos, aos milhares, sem descanso.
Quanto mais me aproximava da intensidade do artista, mais minhas exigências em
- Tá bonito, Shandoca? Nenhuma crista de galo é igual a outra!
relação ao que se costuma esperar de um “pai normal” diminuíam. Entre estudos em
guardanapos num bar qualquer da cidade, passávamos a combinar as estratégias de
Suas intervenções de cunho aparentemente pessoal, direcionadas a certas pessoas
uma próxima exposição. Agora eu era artista, e, como tal, podia ter a dimensão de
ou fatos, eram, contudo, atravessadas por questões mais amplas acerca dos modos
tudo pelo que ele passara e pelo que ainda poderia passar.
de percepção da arte e do papel do artista na cidade. Inúmeras vezes chegava em
casa enfurecido, outras tantas, melancólico. Um dia entrou aos berros no hall da
Desde sua despedida deste planeta, em 22 de junho de 1991, tenho atuado como
Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina por conta de uma promessa,
gestora do acervo por ele deixado para a família, atualmente aos cuidados do
não cumprida, de apoio financeiro para a impressão do programa de uma exposição
Instituto Meyer Filho. Herdar um acervo num país em que a memória cultural e
individual no Rio de Janeiro. Era um enunciado aparentemente anódino:
artística raramente é valorizada e subsidiada requer estratégias constantes de
resistência e re-existência.
O reitor é um cafeicultor! O reitor é um cafeicultor! O reitor é um
cafeicultor!
Por isso a importância do apoio recebido por meio da Lei Federal de Incentivo
à Cultura - Lei Rouanet, ao projeto Conservação e Restauro das obras em papel
Mas o modo de enunciação não deixava dúvidas sobre sua verve contestatória.
de Meyer Filho. O projeto priorizou os desenhos, que receberam tratamento de
Semanas depois, outdoors por ele desenhados eram espalhados aos quatro cantos conservação preventiva e curativa, permitindo melhores condições de armazenamento
da cidade. Por meio do discurso de seus seres cósmicos, indagava: - Por que a e acesso. Mergulhar novamente neste vasto acervo foi como ser reconduzida ao
Universidade Federal de Santa Catarina ignora a arte de Meyer Filho? tempo em que estes desenhos e estudos foram elaborados, e a tudo que esse tempo
representa afetiva e artisticamente.
arquivos
implacáveis de
Meyer Filho
5
Por favor, não pensem que estou lelé-da- sua zelosa obrigação, achegou-se certo
cuca, somente por colocar estapafúrdio dia do então bancário autor dessa
título nesta minha despretensiosa e mal croniqueta e perguntou: “senhor Meyer,
alinhavada crônica... é verdade que o seu único serviço é
Não creiam, também, que estou me traduzir e codificar telegramas?”
apropriando de palavras códigas usadas “É, respondi”. “Então tenho que lhe dar
pela CIA norte-americana, KGB soviética, mais trabalho”...
ou outra rede de espionagem não menos Senhor gerente, redargui-lhe eu, o
sinistra, embora não tão famosa... senhor, além de gerente, é mais velho
Informo igualmente, que não se trata de do que eu. Logo, deve conhecer melhor
palavras pertencentes a qualquer linguagem serviço-de-banco do que o funcionário
ou dialeto humanos, vivos ou mortos. Nem que vos fala.
tão pouco de linguagem extra-terrena... Sabe perfeitamente, portanto, que em
São, pura e simplesmente, algumas das nosso estabelecimento bancário, qualquer
milhares de prosaicas palavras códigas, serviço que envolva responsabilidade,
todas com cinco (5) letras, com as quais deverá ser conferido. Estou fazendo
convivi diariamente, durante os 7 (sete) minha atual tarefa há 5 (cinco) ou 6
anos em que, pelas circunstâncias da (seis) anos e até agora ninguém conferiu
vida, fui o tradutor e codificador de meu trabalho, nem nunca houve qualquer
todos os telegramas recebidos e expedidos reclamação digna de nota.....
por um certo banco, tanto do seu próprio “É verdade?” “É, senhor gerente, e digo-
código, como de outros bancos, nacionais e lhe mais: se o senhor mandar um colega
estrangeiros. conferir meu serviço, poderá muito bem
Somente para exemplificar, informo que aumentar minha tarefa diária”.....
algumas das palavras que deram o título E foi assim que, durante pelo menos
a esta crônica significam “São Paulo”, mais um ano e meio continuei a “falar”
“Florianópolis” e “Seus títulos CI números monotonamente as palavras “ABACV, SJEAG,
tais ... foram pagos ontem”. SIZEZ, SOCYO, SNEPA, MABUI e MACAC”
Não digo quais, por ser o referido código entre as milhares delas, sem que ninguém
sigiloso. as conferisse.....
Como vocês sabem, também nós, artistas e E, decorridos quase 15 anos de
intelectuais em geral, somos considerados minha “Ressurreição”, por um desses
uns “sonhadores”, uns “grandessíssimos mistérios da natureza humana, ainda não
vagabundos, mandriões e outras coisas consegui me esquecer dessas 7 (sete)
mais”. “cabalísticas” palavras códigas.
Não querendo abusar da paciência de vocês,
explico que toda essa verbosidade serviu
pura e simplesmente como introito de uma
passagem de vida de “um pintor fantasiado
de bancário”. Ei-la:
Certo gerente, novo na agência, cumprindo
MINHA PRIMEIRA
15
AUTOBIOGRAFIA Nasci na cidade de Itajaí, Santa Catarina, no dia 4 de dezembro de 1919, filho de
Ernesto Meyer e Rachel Liberato Meyer. Meu avô paterno nasceu em Berlim. Os demais
Um artista de Florianópolis eram brasileiros, descendentes de portugueses.
Mas foi em Florianópolis, para onde vim com a família aos três anos de idade, que
cresci e me fiz gente.
Meu primeiro desenho, feito com a idade de quatro anos, representava uma pesca
de tainhas, na praia dos Ingleses, uma das mais belas praias da Ilha de Santa
Catarina. Guardado, por minha mãe, ainda tinha este desenho até bem poucos anos
atrás.
Em várias folhas de cadernos, também guardados por minha mãe, vê-se que eu já
desenhava, aos sete anos de idade, “GALOS”, pássaros, animais domésticos, aviões,
navios, canoas, automóveis, etc. Havia até uma cena de naufrágio, do transatlântico
“Mafalda”, desastre marítimo que emocionou o mundo de seu tempo. Dando geralmente
nome aos desenhos, havia um que se chamava “Pai dando no Filho”, outro, “Uma coelha
e seus filhos”, etc. Quando no quarto ano do grupo “Lauro Muller”, predominavam
como assunto os “mocinhos” do cinema americano. Hoot Gibson, Tom Mix, Tim McCoy e
Buck Jones eram os “heróis” dos meus desenhos daquele tempo.
Ingressando no Ginásio Catarinense, os desenhos continuaram, nos meus cadernos.
Aliás, desenho e história natural sempre me ajudaram a conseguir média para passar.
Sempre gostei de animais e plantas. Quando não se tratava de fazer simples figuras
geométricas ou de copiar, geralmente tirava o primeiro lugar em desenho, o que eu
sempre tive pavor foi de copiar.
O interessante é que, ao completar o ginásio, bem como bom número de anos depois,
nunca havia ouvido falar em “Escola de Belas Artes”, nem, como é óbvio, de “Arte
moderna”. Jamais pensaria que um dia seria mesmo artista. O ambiente artístico em
Florianópolis, naquele tempo, devia ser simplesmente pavoroso, muito embora já
tivesse os seus heróis locais..... Até então, dado meu gosto pelo campo, pelas
plantas e animais, julgava ser a agronomia minha verdadeira vocação. Para “não
perder tempo”, iniciei meu curso de contador, que terminaria muitos anos mais
tarde em Curitiba. Não sendo filho de político influente nem de pai rico, tive de
procurar, como quase todo o mundo, um emprego. Fiz concurso e entrei, em 1941, para
o Banco do Brasil. Continuei desenhando sempre, às vezes nem sei porquê. Creio que
foi sempre para satisfazer (embora instintivamente), uma desconhecida necessidade
interior, irresistível, de realização.
1943 – Neste ano eu iniciei, por conta própria, meus “estudos” de desenho. Foram
geralmente cópias de fotografias de artistas de cinema e muitas caricaturas. Os
desenhos eram feitos inicialmente com lápis comum. Passei posteriormente a usar
tinta de escrever comum e finalmente, em 1944, o NANQUIM ou tinta China, que nunca
mais larguei. O meu objetivo, naquela época, não era copiar, e sim aprender a
técnica do desenho a nanquim. Instintivamente, creio que neste tempo eu já sabia
que a verdadeira arte nunca foi imitação pura e simples da natureza. Sempre datei
16
e assinei meus desenhos, com o objetivo de 1951 – Este ano para mim foi importante.
confrontá-los posteriormente e ver o meu Já casado, com Dna. Ruth Silveira de Souza
progresso como desenhista. Meyer, fiz meu primeiro desenho sobre BOI-
1945 – A partir deste ano, quando me DE-MAMÃO, versão catarinense do “Bumba-
transferi para a cidade de Curitiba, os meus Meu-Boi”. Desenho de imaginação, havia
desenhos iam ficando cada vez melhores. De no referido desenho muitas figuras. Ao
mistura com muitos retratos de artistas, fazer tal desenho, me dei conta de que
havia muitas ilustrações. E caricaturas. me faltavam muitos conhecimentos seguros
1946 – Minha primeira paisagem, desenhada do sobre desenho. E, assim, comecei a comprar
natural, data deste ano. Uma vista do centro numerosos livros sobre anatomia, humana
da cidade de Curitiba, desenhada a nanquim, e animal, perspectiva, luz e sombra. A
do quinto andar de um hotel. Até 1946, com gente aprende uma porção de regras para
a idade de 27 anos, já tendo certamente depois, pela deformação artística, mandá-
feito muitas centenas de desenhos (a las praticamente às favas. Mas o fato é que
maioria rasgados pouco depois de terminados, realmente estudei.
alguns, os mais bonitos, guardados por 1952 – Meu pai morre repentinamente, do
mim ou amigos), praticamente jamais havia coração. E eu fui obrigado a tomar conta de
desenhado do natural nem com modelos vivos. seu escritório de representações. Durante
Todos os meus desenhos eram feitos quase mais de dois anos trabalhei 6 horas dentro
que exclusivamente de imaginação. Não havia de um Banco, fui representante comercial
sequer desenhado do natural uma simples mão, e ainda fazia meus desenhos. Mas, assim
um copo, uma paisagem. O meu aprendizado que me foi possível, passei o escritório
de desenhista foi certamente muito longo. para meu cunhado. E logo começaram a surgir
Mas, felizmente, um pintor pode iniciar os meus primeiros desenhos realmente
“carreira” até com 70 anos. Ou mais... artísticos.
Creio que foi neste ano que pela primeira 1953 – Minha primeira charge política,
vez procurei professores de desenho. publicada em jornal da terra.
Encontrei dois, mas eram muito ruins 1954 – Executei novamente numerosas charges
(acadêmicos) e com um deles não cheguei políticas. Mas havia nestas charges,
a “aprender” nem um mês. Apesar de nada geralmente intituladas “Brasil 1954”, uma
entender sobre arte, já sabia reconhecer os especial preocupação artística no manejo
falsos pintores que a ignorância em matéria do preto e branco. Surge neste ano minha
de arte até hoje chama de “clássicos” ou primeira série de desenhos sobre o BOI-
acadêmicos. O ambiente em Curitiba, àquele DE-MAMÃO. Estava pensando em um bom motivo
tempo, era muito ruim. Não havia nem teatro, para fazer uma série de desenhos, quando
nem a biblioteca pública. Parece que haviam ele “veio” às 10 horas da noite, ao ouvir
pegado fogo. As companhias teatrais, quando a cantoria e a batucada do “Boi”, dentro
apareciam, exibiam-se no pior cinema da da noite. Após acompanhar durante várias
cidade, verdadeiro pulgueiro. Vindo para noites o conhecido folguedo popular pelas
Florianópolis, continuei desenhando, ruas da cidade, executei os trabalhos em
mês após mês, ano após ano. Progredia, número de sete, que foram várias vezes
naturalmente, muito lentamente. reproduzidos em jornais e revistas da terra.
104
19
E foi a partir de 1954 que comecei a enriquecer minha biblioteca com belos livros de arte
e história natural. Principalmente de arte. Comprei inicialmente os treze primeiros volumes
da coleção “Summa Artis, Historia General Del Arte”, de José Pijoán e os três volumes de
“Histoire de La Peinture Moderne”, da Skira. E, posteriormente, muitos outros.
Assim, durante anos, atravessando muitas vezes as madrugadas, fui, ao lado dos meus
desenhos, tomando conhecimento da História da Arte, desde os primeiros desenhos e pinturas
pré-históricas das cavernas da Europa, aos mais recentes “ismos” da arte contemporânea.
1955 – Minha tímida entrada no mundo da cor. Executei primeiramente uns sete ou oito
desenhos, coloridos com lápis de cera, representando figurinhas de barro da cerâmica
popular catarinense. O meu desenho mais bonito deste ano foi um crayon representando meu
filho Paulo desenhando, de costas. Infelizmente o presenteei a quem não o merecia.
1956 – Executei uma série de figuras populares, usando nanquim e lápis de cor. Data deste
ano meu mais bonito trabalho sobre o Boi-De-Mamão, também colorido.
1957 – Ano muito fértil. Algumas figuras populares, galos. Minhas primeiras paisagens
coloridas, com nanquim e lápis de cor. “Fundos de Quintais nº1” e “Fundo de Quintais nº2”,
sendo este o meu desenho mais trabalhoso. Trabalhei nele durante muitos meses. As árvores
foram desenhadas, folhinha por folhinha. Milhares delas. Surgem igualmente os primeiros
desenhos “fantásticos”, como “Árvore seca com passarinhos em tarde sombria”, “Idílio
Fantástico” e “Paisagem Sideral”.
1958 – Realiza-se o 1º Salão do “Grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis”, com muitas
brigas. Para a disputa de três insignificantes prêmios de Cr$5.000,00 cada, foi o diabo.
Fiquei a imaginar o que não ocorreria nas “Bienais” e outros salões do mundo... Nesta
ocasião, o crítico Flávio de Aquino viu pela primeira vez meus desenhos, tendo gostado.
O saudoso Governador Jorge Lacerda fez questão de ser fotografado ao lado de Paisagem,
digo “Fundo de Quintais nº2”. Aliás, foi uma lástima a morte trágica e prematura do culto
governador catarinense, em desastre aviatório, quando faleceu igualmente o Sen. Nereu Ramos
e Leoberto Leal. Entre os meus melhores trabalhos de 1958, destaco: “Maricota”, “Retrato
de Jovem”, “Recanto ensolarado de Coqueiros” e “Paisagem em Coqueiros”, minha primeira
paisagem aquarelada. Data deste ano minha primeira exposição individual, no “Museu de Arte
Moderna de Florianópolis”, quando seu diretor o professor João Evangelista de Andrade
Filho, atualmente professor de arte na Universidade de Brasília. Expus 17 desenhos. Em
novembro do mesmo ano, em companhia de outros artistas do Grupo de Artistas Plásticos de
Florianópolis, expus 20 desenhos em Curitiba, no “Centro Catarinense”.
1959 – 2º Salão do grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis. O 1º lugar foi repartido
entre Mund e eu. Julgaram os trabalhos Flávio de Aquino e João Evangelista de Andrade
Filho, diretor do Museu de Arte Moderna, onde foi realizada a exposição. A parte pitoresca,
quanto aos meus desenhos, foi a crítica de um “poeta” e cronista social da terra, que
classificou meus trabalhos como uma “rechonchuda criação de galinha”.....
Assinado por Flávio de Aquino, pela primeira vez aparece um artigo sobre mim na imprensa
nacional (Jornal do Commercio), do Rio.
Ainda neste ano expus, com outros artistas do Grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis,
15 desenhos em local bem central de Florianópolis, junto ao melhor cinema da cidade. A
exposição, inaugurada sob uma saraivada de foguetes, foi muitíssimo visitada; os meus
103
20
No mais, um abraço de
100
27
95
28
92
RESPEITÁVEL
35
PÚBLICO: o coveiro do stalinismo, soltou os cachorros: A julgar pelo que acabo de ver,
disse o secretário geral do PCUS aos artistas, vocês não passam de um bando de
pederastas e por isso mereciam pegar dez (10) anos de cadeia. “O coveiro” acabara
de exumar seu mais ilustre cadáver. E, mais uma vez, o realismo socialista voltou
à moda, na URSS. Não foi a primeira, nem seria a última.... No afã de tudo
“democratizar”, os soviéticos nivelaram a arte por baixo, tornando-a “socialmente
útil e educacional..... Os artistas que não foram embora, morreram ou se mataram
(caso de MAIAKÓVSKY) de desgosto etc. Etc. Etc. (Sérgio Augusto, repórter da
Folha de SP 2.3.1986).
Florianópolis (Ilha de Sta. Catarina) 1957: Foi a partir dessa época, 5
(cinco) anos antes do acima citado “affaire” de Moscou, que, na qualidade de
ilustrador do jovem movimento literário e artístico da Revista “Sul”, editada em
Florianópolis, comecei a “ver” filmes deste tipo. Na opinião de ilustres membros
do PARTIDÃO e não menos ilustres intelectuais da ESQUERDA FESTIVA, eu, trocando
os (belos) desenhos de operários e “gente do povo” pelos galos e personagens
fantásticos e surrealistas, havia, simplesmente, praticado um “crime” tipicamente
capitalista!!! Logo EU!!!, que ao aposentar-me como bancário no, para mim,
histórico dia 22 de julho de 1971, após trabalhar durante 30 (trinta) anos e
61 dias, não recebi um único centavo extra, por não ter optado pelo FUNDO DE
GARANTIA!!
Em meu belo catálogo-pôster, intitulado Meyer Filho – 60 anos, de 1979, citei,
entre outras coisas, que desenho desde que me conheço por gente; fiz milhares
de desenhos rápidos e estudos, em uma certa “hora do cafezinho”; fui, entre os
artistas residentes em Santa Catarina, o primeiro a expor, individualmente, em
museus e galerias de arte de Florianópolis (O Museu de Arte de Santa Catarina,
1958), Rio de Janeiro (Galeria Penguin, 1960), Belo Horizonte (Museu de Arte de
Belo Horizonte, 1961), São Paulo (Casa do Artista Plástico, 1963, 1964) e Buenos
Aires (Galeria Lagart, 1976). Fiz 24 exposições individuais, em Florianópolis,
Porto Alegre, Cascavel, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,
Buenos Aires e Mar Del Plata, e participei de mais de 80 (oitenta) exposições
coletivas. Tenho elogiosos “verbetes” no Dicionário de Artes Plásticas do Brasil,
de Roberto Pontual; Grande Enciclopédia Delta Larousse, Dicionário Brasileiro de
Artistas Plásticos (com uma bela foto) do I.N.L – MEC; 22 páginas em Mito e Magia
na Arte Catarinense de Adalice Maria de Araújo; 4 páginas na História de Sta.
Catarina, edição Grafipar, Curitiba; Santa Catarina –Terra e Gente, de Marcos
Konder Reis, Hoyêdo de Gouvêa Lins e Domingos Cavalcanti e Espreita no Olimpo,
de Péricles Prade, entre outros... Mas, para vocês não pensarem que minha vida
de artista tem sido, sempre, um imenso “Mar de Rosas”, morando na então pequena
e burguesa Florianópolis, terra de Sol, Mar, Vento Sul e Chuva, a centenas de
quilômetros do eixo Rio-São Paulo, em verdade, em verdade, vos digo: “Durante
anos os Florianopolitanos olharam Meyer Filho com o mesmo olhar irônico que se
dá aos ‘loucos mansos’. Durante todo esse tempo só ele acreditou no seu talento”
(Flávio de Aquino, revista bilíngüe “Módulo”, n. 19 de 1960). Sim, durante
36
p.1 – sem título p.16 - sem título p.34 – sem título p.49 - sem título p.1 - Ave Sideral p.17 - sem título p.33 - sem título
| nanquim sobre | grafite, | nanquim sobre p.62 – sem título
| nanquim sobre | nanquim sobre | nanquim sobre | nanquim sobre
papel | 40,6 x acrílica e caneta papel | 24 x 20 cm | caneta hidrocor
papel | 20,3 x papel | 26 x 34 cm papel |33,5 x 41 papel | 12,5 x
32,5 cm | 1975 esferográfica | 1978 sobre papel |12,4
19,6 cm| 1963 | 1959 cm | SD 20,5 | SD
sobre papel | 9,5 x 10,5 cm | 1960
Neste livro, algumas imagens das obras do artista foram apresentadas parcialmente em função do projeto gráfico.
| nanquim sobre 32,5 cm | 1959 publicada na p.38/39 - sem
28,2 cm | 1966 acrílica sobre
papel | 25,5 x 25 coluna Artes título | nanquim
cm | 1954 p.24 - sem título papel | 16,7 x Visuais do p.22 – sem título sobre papel |21,3
p.37 – Cavaleiro 20,5 cm | 1975 p.64/65 –
| grafite e giz de jornal O Estado | grafite sobre x 17 cm | 1954
Cósmico | acrílica Apocalipse I |
p.6/7 - Homenagem cera sobre papel | Florianópolis, papel | 9 x 11,5
sobre papel | 21 x nanquim sobre
ao automóvel | | 16,5 x 22,7 cm p.52/53 - sem 13/01/84 cm | 1959 p.40 – Ave Sideral
28,2 cm | 1966 papel | 49,5 x
nanquim sobre | 1959 título | caneta | nanquim sobre
36,2 cm | 1960
papel | 41 x 32,5 esferográfica p.7 - sem p.23 - sem título papel | 26 x 34 cm
cm | 1975 p.25 – sem título p.38/39 – sem sobre papel |13 x título | caneta | grafite e crayon | 1959
título | nanquim 10 cm | 1963 p.66/67 - sem
| acrílica sobre esferográfica e sobre papel | 12,2
sobre papel | título | caneta
p.9 – sem título papel | 22 x 30,5 acrílica sobre x 18,2 cm | 1959 p.41 - sem título
26,7 x 20,3 cm | esferográfica
| nanquim sobre cm | SD p.54/55 – papel | 14,5 x 9,5 | nanquim e
1967/1977 sobre papel | 22,5
papel | 12,4 x Exercício de cm | 1966 p.24/25 – sem acrílica sobre
x 18 cm | 1960
20,3 cm | SD p.27 – sem título imaginação e título | nanquim papel | 12,5 x 16
| nanquim e p.40 - sem criatividade para p.7 – sem sobre papel | 13,5 cm | SD
título | caneta comemorar meus 50 p.68/69 – Paz e
p.10/11 – sem acrílica sobre título | caneta x 10,5 cm | 1963
esferográfica anos de idade | amor | nanquim
título | nanquim papel | 36,5 x esferográfica e p.42 – Manuscrito
sobre papel | 19,5 nanquim e acrílica sobre papel | 45 x
e acrílica sobre 45,5 cm | 1959 acrílica sobre p.26 - Capa ABACV, SJEAG,
x 18,5 cm | 1967 sobre papel | 33 x 32,3 cm | 1974
papel | 21,5 x 14 papel | 14,5 x 9,5 elaborada por SIZEZ, SNEPA,
22 cm | 1969 cm | 1966
cm | 1963 p.28/29 – Galo Meyer Filho para SOCYD, MACAC e
p.41 - sem título p. 72 – Sandra
Vidente | nanquim o catálogo da MABUI| caneta
| acrílica sobre p.56/57 – sem Meyer e Meyer
p.12/13 – sem e acrílica sobre p.8/9 – Ilustração Galeria de Arte esferográfica
eucatex | 30 x título | grafite e Filho | Fotografia
título | nanquim e papel |52 x 47 cm para o caderno Studio A/2 | 1974 sobre papel |
33,2 cm | 1975 crayon sobre papel Pedro Alípio Nunes
giz pastel sobre | 1959 “Especial” do página 3
| 17,5 x 12,5 cm | Intervenção em
papel | 33,4 x jornal O Estado p.28/29 - sem
| 1959 tinta acrílica de
29,5 cm | 1957 p.30/31 – sem p.43 – sem título | Florianópolis, título | nanquim p.43 – Brasil 1954
Meyer Filho | 1980
título | grafite e | acrílica sobre 17/09/77 sobre papel | 39,5 | nanquim sobre
crayon sobre papel papel | 24 x 12,5 p.58/59 – sem x 35,4 cm | 1965 papel | 25 x 27,8
p.14 – sem título p.73 – sem título
| 16,3 x 14,6 cm cm | 1969 título | nanquim p.10/11 - sem cm | 1954
| nanquim e | nanquim e
| 1959 e acrílica sobre título | nanquim
hidrocor sobre acrílica sobre p.30/31 – O
p.44/45 - sem papel | 41,5 x sobre papel |38 x
papel | 21,1 x papel | 21 x 28,5 monstro | nanquim
título | grafite 34,7 cm | 1959 33 cm | 1959
15,6 cm | 1960 p.32 – sem cm | SD sobre papel |27,5
título | caneta sobre papel | 47 x x 22 cm | 1963
esferográfica e 31,5 cm | 1959 p.60 – sem p.12/13 - sem
p.14 – sem
giz de cera sobre título | caneta título | nanquim
título | caneta p.32 – Galo |
papel | 10,5 x p.46/47 - esferográfica, sobre papel | 24 x
esferográfica nanquim sobre
16,4 cm | SD sem título | nanquim e acrílica 15,5 | 1954
e nanquim sobre papel | 44 x 36 cm
nanquim e caneta sobre papel | 9,7
papel |21,8 x 16,8 | 1959
esferográfica x 14,5 cm | 1966
cm | 1960 p.32/33 – sem p.14/15 – Peixe
título | acrílica sobre papel |24 x maior “come” o
19,5 cm | 1966 p.32 - sem título
sobre eucatex | 67 p.61 – sem título menor...... |
p.15 - sem título | nanquim sobre
x 60 cm | 1973 | grafite e crayon nanquim sobre
| nanquim e papel |46,8 x 36
p.48 – sem título sobre papel | 18 x papel |30 x 21 cm
acrílica sobre cm | 1959
| crayon e caneta 25 cm | SD | 1979
papel | 25,2 x
32,5 cm | 1959 esferográfica
sobre papel | 12,5
x 18 cm | 1959
EQUIPE TÉCNICA FICHA TÉCNICA LIVRO
Projeto Conservação e Restauro das Obras em Papel de Meyer Filho ABACV, SJEAG, SIZEZ, SOCYO, SNEPA, MABUI E MACAC:
arquivos implacáveis de Meyer Filho
COORDENAÇÃO TÉCNICA DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO
Cláudia Philippi Scharf e Rita de Cássia Castro da Cunha ORGANIZAÇÃO Kamilla Nunes e Pedro Franz
COORDENAÇÃO EDITORIAL Sandra Meyer
ELABORAÇÃO DO PROJETO TEXTOS Kamilla Nunes, Meyer Filho, Sandra Meyer e Veronica Stigger
Cláudia Philippi Scharf PROJETO GRÁFICO Pedro Franz
REVISÃO Fernando Scheibe
ARQUIVAMENTO DIGITAL FOTOGRAFIA Pedro Alípio Nunes
Grace Madrid Fagundes
Esta publicação é resultado do projeto Conservação e Restauro das Obras
ESTÁGIO DE CONSERVAÇÃO PREVENTIVA em Papel de Meyer Filho, realizado pelo Instituto Meyer Filho, em
Anna Júlia Borges Serafim, Raisa Ramoni Rosa, Rogério Victor Satil Florianópolis, SC, no período de janeiro a dezembro de 2016. O acervo
Neves e Natália de Oliveira Viscontte Poli de obras em papel de Ernesto Meyer Filho (Itajaí, 1919 – Florianópolis,
1991), composto por 2.560 desenhos passou por um processo de higienização,
ORGANIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA DOCUMENTAÇÃO Cleber Roberto Szczepanik conservação e acondicionamento, sendo que 606 deles foram restaurados.
REGISTRO FOTOGRÁFICO
Pedro Alípio Nunes
Projeto realizado com o apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura - Lei Rouanet A116 ABACV, SJEAG, SIZEZ, SOCYO, SNEPA, MABUI E MACAC: arquivos implacáveis de
Meyer Filho/ Kamilla Nunes e Pedro Franz (Org.). 1. ed. - Florianópolis:
Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A - BADESC 120 p.: il. p&b e color. 22 cm
ST Importações Ltda.
1. Artistas visuais – Florianópolis (SC). 2. Desenhos. 3. Biografia – Artistas.
APOIO 4. Ernesto Meyer Filho. I. Nunes, Kamilla. II. Franz, Pedro. III. Stigger, Verônica.
REALIZAÇÃO
Lei Federal de Incentivo à Cultura - Lei Rouanet
Ministério da Cultura
Governo Federal
Instituto Meyer Filho Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Alice de A. B. Vazquez CRB 14/865
AGRADECIMENTOS
Eneléo Alcides, José Carlos da Silva, Fonte Roboto Mono e Rubik Papel pólem bold 90g/m2 Tiragem 1000 exemplares
Neiva Maristela Lazari, Rubens J. M. de Abreu Filho Impresso na Gráfica Cinelândia, São Paulo, abril de 2017.
arquivos
implacáveis de
Meyer Filho
Florianópolis, 2017