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Autores
Aldo Dantas
aula
09
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação a Distância – SEED
Carlos Eduardo Bielschowsky
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UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.
Apresentação
riedrich Ratzel (1844-1904) e sua obra foram de fundamental importância para o
F processo de sistematização da Geografia moderna. Foi de sua autoria uma das pioneiras
formulações de um estudo geográfico especificamente dedicado à discussão dos
problemas humanos, o qual denominou de antropogeografia. Seu projeto teórico, com forte
caráter interdisciplinar, teve a preocupação central de entender: a difusão e distribuição dos
povos sobre a superfície da Terra; as diversas formas de circulação de pessoas e bens materiais;
a influência das condições naturais sobre o comportamento humano; as formações territoriais
e, intimamente vinculada a estas, a dimensão política da relação homem-natureza.
Objetivos
Entender em que contexto histórico se desenvolve o
1 pensamento ratzeliano.
Contexto político-econômico
Com o processo de expansão colonial, os conflitos entre populações nativas e o
elemento europeu são cada vez mais intensos e demandam intervenções. O domínio político
aparece como garantia de abertura real dos espaços ao comércio mundial e impõe o respeito
aos interesses ocidentais.
Em 1859, Charles Darwin (1809-1882) publica o que seria o seu mais importante livro,
Origem das Espécies. Tal fato tem significado particular para a Geografia. A idéia de que os
seres vivos evoluem já estava formulada desde meados do século XVIII e início do século
XIX. Lamarck (1744-1829) será o primeiro a fazer uma sistematização dessa idéia concluindo
que o organismo se adapta ao meio onde está inserido e acaba por se modificar.
Um outro nome que vai influenciar os estudos da Geografia nesse período (e continua
a influenciar ainda hoje vários ramos da ciência) é o do biólogo alemão Ernest Haeckel
(1834-1919) que propõe em 1866, em seu livro Morfologia Geral dos Organismos, o termo
ecologia para designar o novo campo de estudo: aquele que investigará as relações dos
seres vivos com o ambiente.
O ensino de Geografia
O interesse por conhecimentos geográficos úteis à vida comercial internacional nunca
havia sido tão grande como nas últimas três décadas do século XIX. Nesse mesmo período,
a engenharia política dos estados europeus apontava em direção aos nacionalismos e essa
tarefa recai, entre outros, sobre o ensino da Geografia na escola elementar, que teria a função
de dar aos cidadãos uma consciência clara sobre o espaço em que se desenvolve a sua
existência. Por outro lado, as elites tinham a necessidade de um bom conhecimento dos
mapas e das rotas do comércio.
Na França, por exemplo, após a derrota de 1870 (derrota da França frente à Prússia), é
confiado a Emile Levasseur um estudo (Relatório Levasseur) sobre as causas da inferioridade
dos oficiais franceses frente aos prussianos. Esse relatório conclui que a inferioridade
francesa recai no baixo nível dos oficias quanto ao conhecimento das línguas e da Geografia.
O relatório recomenda que seja feita uma reforma do ensino, particularmente do ensino de
Geografia. O essencial das recomendações desse relatório está presente, ainda hoje, nos
programas do ensino primário e secundário da França (nas próximas aulas vocês estudarão
como se deu o desenvolvimento da Geografia na França).
Nos outros países da Europa Ocidental ocorre o mesmo com o ensino da Geografia,
pouco tempo antes na Alemanha e um pouco mais tarde na Inglaterra.
Depois da guerra, Ratzel parte para os Estados Unidos, como jornalista, onde passa
vários anos. Nesse período, visita também o México. De volta à Alemanha, defende uma tese
sobre a imigração chinesa na Califórnia.
Ratzel procura estabelecer leis gerais que rejam a influência do meio sobre os grupos
humanos, dedicando-se ao estudo das relações que se desenvolvem entre as sociedades e o
ambiente em que vivem, mas introduz uma outra idéia: o movimento é uma das características
centrais do mundo vivo, em especial do homem. Essa idéia leva-o a interessar-se pelos
fenômenos de circulação que as sociedades desenvolvem de um ponto da Terra a outro.
Veja no texto a seguir o que diz Antônio Carlos Robert de Moraes sobre a importância
da obra de Ratzel.
Positivismo e Determinismo
na obra de Ratzel
ocê já deve ter lido ou ouvido alguém fazer relação entre o nome de Ratzel e o
Essa idéia de que a ciência deveria ser positiva se espalhou para todos os ramos das
ciências, inclusive das chamadas ciências humanas e sociais, entre elas a Geografia.
Mas, é somente em meados do século XIX que surge o Positivismo. Embasado nas
elaborações de Auguste Comte (1791-1857), o Positivismo fundamenta-se no palpável,
no que é passível de comparação e de experimentação. Na concepção positivista, para se
alcançar o conhecimento, a observação é imprescindível.
Será que podem ser feitas afirmações tão peremptórias a respeito de Ratzel?
Afinal de contas, fala-se de um intelectual que, ao deparar-se com o problema
das condições geográficas e das conseqüências etnográficas das migrações,
constata: “Não podemos fugir das influências precisas de nosso ambiente,
principalmente das que atuam em nossos corpos; lembro as que se referem ao
clima e à oferta de alimentos. É sabido que também o espírito encontra-se sob
influência dos caracteres gerais do cenário que nos cerca. Mas, por outro lado,
o grau que essa influência desempenha vai depender, em grande medida, da
força da vontade que a ela resista. Podemos nos defender dela, contanto que o
queiramos. Um rio que, para um povo preguiçoso, constitui um limite para um
povo decidido pode não ser uma barreira [...] não há coação nem nenhuma lei
inflexível, mas sim amplos limites, dentro dos quais o homem consegue impor
a sua vontade e até mesmo seu despotismo. E é isto precisamente que tanto
dificulta todos os estudos sobre a relação entre história e ambiente natural,
a ponto de podermos falar apenas de gerais especificadas. Pois há um fator
nessa relação, nessa ligação, que não é precisamente calculável para cada caso
isolado, porque é livre; trata-se da vontade humana” (RATZEL, 1906, p. 36).
1.
sua resposta
2.
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1991.
Neste livro, o autor discute dois conceitos fundamentais para a Geografia: região e
organização espacial. Ele o faz trazendo à tona a história da Geografia e as correntes de
pensamento que influenciaram esta ciência. No capítulo 2, faz uma boa discussão sobre a
idéia de determinismo geográfico. Livro de leitura introdutória e obrigatória para o estudante
de Geografia, pois além de trazer elementos para se compreender a história dela discute o
conceito de região a partir dessa história e introduz de maneira clara a idéia de organização
espacial, conceito fundamental para se entender a Geografia dos dias atuais.
Esse texto focaliza a obra de Ratzel a partir da uma reflexão crítica e faz uma revisão
do lugar que sua obra ocupa na memória da Geografia. Analisa a abrangência de temas
estudados por Ratzel e mostra quão redutoras são as leituras daqueles que relacionam
de forma simplista a obra desse pensador ao Determinismo geográfico e às estratégias
expansionistas da Alemanha.
Resumo
A aula contextualiza o período em que Ratzel, fundador da moderna Geografia
humana, vive, assim como a influência que sofreu do desenvolvimento das
ciências naturais, principalmente aquelas oriundas do evolucionismo darwinista.
Discute as relações entre as elaborações ratzelianas e o positivismo, bem como
a pecha de que seria ele o maior representante e elaborador do Determinismo
geográfico. Mostra ainda que não se pode de forma simplista acusar esse
pensador de se utilizar de um Determinismo absoluto.
Auto-avaliação
Leia o fragmento a seguir com bastante atenção e em seguida relacione-
o ao contexto em que se desenvolveu a obra de Ratzel e a discussão sobre
o Determinismo. Após isso, elabore um pequeno texto colocando no centro
da discussão a seguinte idéia: Ratzel – pensador determinista. Você deverá
entender que existe uma relação entre realidade histórica social e intelectual e a
originalidade de cada pensador. No caso de Ratzel, ele é fruto de uma realidade
histórica (séculos XIV-XVIII), cultural e científico. Do ponto de vista histórico,
Ratzel assiste à consolidação do capitalismo e um novo momento de expansão
colonial econômica, além da formação dos impérios. Do ponto de vista científico,
é herdeiro de Humboldt e Ritter e de toda a tradição geográfica. Vai sofrer a
influência do evolucionismo de Darwin e do surgimento das ciências sociais.
Referências
CLAVAL, Paul. Histoire de la gèogaphie. Paris: PUF, 1995.
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1991.
MARTINS, Luciana de Lima. Friedrich Ratzel hoje: a alteridade de uma geografia. Revista
Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 54, n. 3, p. 105-113, jul./set. 1992.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. São Paulo:
HUCITEC, 1983.
Anotações
Ementa
A construção do conhecimento geográfico. A institucionalização da geografia como ciência. As escolas do
pensamento geográfico. A relação sociedade/natureza na ciência geográfica. O pensamento geográfico e seu
reflexo no ensino. A geografia brasileira. Atividades práticas voltadas para a aplicação no ensino.
Autores
n Aldo Dantas
Aulas
01 O saber geográfico
02 A ação humana
03 A Geografia na Antiguidade
05 Os tempos modernos
06 Espaço e modernidade
07 A institucionalização da Geografia
12 Os movimentos de renovação