Você está na página 1de 4

1

A GEOGRAFIA E A FENOMENOLOGIA

Sandra Lencioni
(Do livro: “Região e Geografia”, de Sandra Lencioni, Edusp,2003, pp. 147-173)

A fenomenologia foi concebida por Edmund Husserl (1859 - 1918) e se constitui numa corrente
filosófica que considera os objetos como fenômenos, os quais devem ser analisados como aparecem na
consciência.1 A fenomenologia prioriza a percepção2 e entende que qualquer idéia prévia sobre a natureza
dos objetos deve ser abolida. Afirma que toda disciplina deve questionar a essência que funda o objeto de
sua investigação científica.
A fenomenologia, é importante observar, tem recebido várias acepções que podem dar margem a
leituras subjetivistas. Porém, da maneira que foi concebida por Husserl, não há espaço para essas leituras.
O objetivo, perseguido por Husserl, foi fundar uma nova base racional para a ciência, buscando captar a
essência das coisas por meio da compreensão que nega o subjetivismo e o relativismo, afirmando o mundo
vivido como possibilidade de viver a experiência sensível e de simultaneamente poder pensá-la de forma
racional.
Entre os fenomenológicos, cabe citar Max Scheller e Maurice Merleau-Ponty. Max Scheller (1874-
1928) desenvolveu o pensamento fenomenológico nos campos da religião, da ética e da filosofia da
cultura. Sua ética, mesmo sendo uma continuação da ética kantiana, procura superar o formalismo
1
O termo fenomenologia foi criado por J. H. Lambert, em 1764.
2
A percepção possui as seguintes características segundo a fenomenologia:
● é o conhecimento sensorial de configurações ou de totalidades organizadas e dotadas de sentido e não uma soma de sensações elementares;
sensação e percepção são a mesma coisa;
● é o conhecimento de um sujeito corporal, isto é, uma vivência corporal, de modo que a situação de nosso corpo e as condições de nosso
corpo são tão importantes quanto a situação e as condições dos objetos percebidos;
● é sempre uma experiência dotada de significação, isto é, o percebido é dotado de sentido e tem sentido em nossa história de vida, fazendo
parte de nosso mundo e de nossas vivências;
● o próprio mundo exterior não é uma coleção ou uma soma de coisas isoladas, mas está organizado em formas e estruturas complexas
dotadas de sentido. Uma paisagem, por exemplo, não é uma soma de coisas que estão apenas próximas umas das outras, mas é a per cepção de
coisas que formam um todo complexo e com sentido: o vale só é vale por causa da montanha, cuja altura e distância só podem ser avaliadas
porque há o céu, as árvores, um rio e um caminho; o verde do vale só pode ser percebido por contraste com o cinza ou o dourado da
montanha; o azul do céu só pode ser percebido por causa do verde da vegetação e o marrom da terra; essa paisagem será um espetáculo de
contemplação se o sujeito da percepção estiver repousado, mas será um objeto digno de ser visto por outros se o sujeito da percepção for um
pintor, ou será um obstáculo, se o sujeito da percepção for um viajante que descobre que precisa ultrapassar a montanha. Em resumo: na
percepção, o mundo possui forma e sentido e ambos são inseparáveis do sujeito da percepção;
● a percepção é assim uma relação do sujeito com o mundo exterior e não uma reação físico-fisiológica de um sujeito físico-fisiológico a um
conjunto de estímulos externos (como suporia o empirista), nem uma idéia formulada pelo sujeito (como suporia o inte lectualista). A relação
dá sentido ao percebido e ao percebedor, e um não existe sem o outro;
● O mundo percebido é qualitativo, significativo, estruturado e estamos nele como sujeitos ativos, isto é, damos às coisas percebidas novos
sentidos e novos valores, pois as coisas fazem parte de nossas vidas e interagimos com o mundo;
● o mundo percebido é um mundo intercorporal, isto é, as relações se estabelecem entre nosso corpo, os corpos dos outros sujeitos e os
corpos das coisas, de modo que a percepção é uma forma de comunicação que estabelecemos com os outros e com as coisas;
● a percepção depende das coisas e de nosso corpo, depende do mundo e de nossos sentidos, depende do exterior e do interior, e por isso é
mais adequado falar em campo perceptivo para indicar que se trata de uma relação complexa entre o corpo-sujeito e os c orpos-objetos num
campo de significações visuais, tácteis, olfativas, gustativas, sonoras, motrizes, espaciais, temporais e lingüísticas. A percepção é uma conduta
vital, uma comunicação, uma interpretação e uma valoração do mundo, a partir da estrutura de relações entre nosso corpo e o mundo;
● a percepção envolve toda nossa personalidade, nossa história pessoal, nossa afetividade, nossos desejos e paixões, isto é, a percepção é
uma maneira fundamental de os seres humanos estarem no mundo. Percebemos as coisas e os outros de modo positivo ou ne gativo,
percebemos as coisas como instrumentos ou como valores, reagimos positiva ou negativamente a cores, odores, sabores, texturas, distâncias,
tamanhos. O mundo é percebido qualitativamente, efetivamente e valorativamente. Quando percebemos uma outra pessoa, por exemplo, não
temos uma coleção de sensações que nos dariam as partes isoladas de seu corpo, mas a percebemos como tendo uma fisionomia (agradável ou
desagradável, bela ou feia, serena ou agitada, sadia ou doentia, sedutora ou repelente) e por essa percepção definimos nosso modo de relação
com ela;
● a percepção envolve nossa vida social, isto é, os significados e os valores das coisas percebidas decorrem de nossa sociedade e do modo
como nela as coisas e as pessoas recebem sentido, valor ou função. Assim, objetos que para nossa sociedade não causam temor, podem causar
numa outra sociedade. Por exemplo, em nossa sociedade, um espelho ou uma fotografia são objetos funcionais ou artísticos, meios de nos
vermos em imagem; no entanto, para muitas sociedades indígenas, ver a imagem de alguém ou a sua própria é ver a alma desse alguém e
fazê-lo perder a identidade e a vida, de modo que a percepção de um espelho ou de uma fotografia pode ser uma percepção apavorante;
● a percepção nos oferece um acesso ao mundo dos objetos práticos e instrumentais, isto é, nos orienta para a ação cotidiana e para as ações
técnicas mais simples; a percepção é uma forma de conhecimento e de ação fundamental para as artes, que são capazes de criar um “outro”
mundo pela simples alteração que provoca em nossa percepção cotidiana e costumeira. Basta lembrar aqui o texto de Clarice Lispector sobre
o inseto e sobre o ovo (Do livro: Convite à filosofia, de Marilena Chauí. Ed. Ática, 2000, pp. 120-125)
2
racionalista de Kant. Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) centrou-se na discussão da relação entre
natureza e consciência, considerando que a relação do homem com o mundo se constitui pela percepção.
Acima de tudo, é preciso ressaltar que a fenomenologia consiste num método e numa forma de
pensar, nos quais a "intencionalidade da consciência" é considerada chave. Essa intencionalidade se refere
à relação entre os atos da consciência, os objetos e a como esses objetos aparecem na consciência. Por
exemplo, a percepção de uma paisagem se constitui num ato da consciência, o qual se relaciona ao ato de
ver que, por sua vez, relaciona-se à forma com que esse objeto é percebido e como esse aparece na
consciência. Esta formulação, certamente, pode permitir o subjetivismo próprio da experiência interior, no
entanto, deve ser superada pela consciência na construção de uma compreensão racional da experiência
vivida.
Em virtude da consciência se constituir a partir das experiências vividas, a fenomenologia chama
atenção para o fato de que é pelo vivido que o indivíduo se põe em contato com o mundo dos objetos
exteriores. Por isso, com a compreensão racional do vivido, com sua dimensão subjetiva, distante do
mundo objetivo e abstrato da ciência, é que se alcança a essência dos objetos tal como eles se apresentam
na consciência. Portanto, é através do percebido, e não do concebido; ou seja, não por idéias prévias, por
idéias pré-concebidas ou por conceitos que o homem se põe cm contato com os objetos exteriores. A
consideração da percepção advinda das experiências vividas é, assim, considerada etapa metodológica
importante e fundamental.
A fenomenologia influenciou primeiramente a psicologia desenvolvendo a Escola da Gestalt ou
Escola Comportamental. Esta corrente da psicologia propôs a observação e a descrição do mundo dos
fenômenos, a experiência direta e a consciência, colocando em segundo plano as idéias prévias ou
preconcebidas. Na Geografia, a influência da fenomenologia se fez presente, em 1964, no trabalho de
Julian Wolpert que, ao discutir a migração, incorporou, em sua análise, a dimensão subjetiva dos
indivíduos estudados para compreender os motivos que os fizeram migrar 3. Até então, na Geografia, a
única interrogação em termos comportamentais dizia respeito a como o homem era condicionado pelo
meio; por isso, a incorporação da subjetividade desses sujeitos na análise geográfica pode ser considerada
inovadora.
Muitos trabalhos de Geografia passaram a discutir o comportamento do homem ante a natureza, a
percepção da natureza e da paisagem urbana, assim como dos espaços do medo e do ódio, incorporando à
análise geográfica a dimensão psicológica. Esta vertente da Geografia passou a ser referida como
Geografia da percepção e do comportamento, desdobrando-se em Geografia humanista, voltada mais para
a análise da literatura, dos significados e dos símbolos. Assim, sob a influência da fenomenologia, mais do
que a do existencialismo e a do idealismo, a Geografia colocou em cena elementos negados pelo
positivismo, criticando arduamente a depreciação do vivido em função do concebido.
Considerando que a realidade social contém uma dimensão estética, bem como outras, a Geografia
afirmou a importância da estética e do imaginário, apontando que essas deveriam ser levadas em conta na
análise da realidade. Além disso, questionou a ausência da dimensão pessoal e subjetiva presentes na
Nova Geografia, assinalando que quando o pesquisador se debruça sobre a realidade o faz imbuído de seus
valores, sentimentos e percepções. Em outros termos, a Geografia, sob influência da fenomenologia,
afirmou que a consciência diante de qualquer objetivação cientifica é sempre uma consciência engajada,
negação de qualquer imparcialidade.
A Geografia da percepção e do comportamento, assim como a Geografia humanista, procurou
elaborar um enfoque globalizador e subjetivo da realidade, no qual a intuição passou a ser um elemento
constitutivo e importante do processo de conhecimento. A Geografia de inspiração fenomenológica
apresentou, no cenário da disciplina, a discussão das representações que os homens fazem do mundo. Isso
porque, ao mesmo tempo que o espaço é vivido e percebido de maneira diferente pelos indivíduos, uma
das questões decisivas da análise geográfica que se coloca diz respeito às representações que os indivíduos
fazem do espaço. Essa Geografia procurou demonstrar que para o estudo geográfico é importante
conhecer a mente dos homens para saber o modo como se comportam em relação ao espaço.
A discussão das representações, do imaginário e das fantasias dos homens conduziram ao interesse
pelo estudo dos mapas mentais, distintos dos mapas cartográficos que buscam elaborar uma represen-
tação objetiva do espaço. Os mapas mentais são subjetivos e construídos a partir da percepção do espaço;
e no âmbito dessa percepção, os homens elaboram imagens acerca desse espaço.
3
Cf. Wolpert, 1964, pp. 337-358
3
Consideremos, para melhor ilustrar, a distância entre dois pontos determinados. Enquanto na
cartografia essa distância é representada geometricamente e de forma absoluta, nos mapas mentais isso
não ocorre. Exemplificando, a distância entre dois pontos num cartograma representa cinco quilômetros.
Distância que não sofre variação seja quem for o observador. Esta mesma distância percebida por um
grupo de indivíduos pode ser representada, num mapa mental, de formas distintas: próxima para alguns ou
distante para outros, revelando o significado que o espaço tem para cada indivíduo. Os mapas mentais são,
portanto, reveladores; ou seja, é possível, com o estudo dos mapas mentais, apreender as imagens que os
indivíduos têm acerca dos lugares, procurando relacionar essas imagens às características socioculturais
destes e entender uma das dimensões das relações que os indivíduos estabelecem com o espaço4.
Essa perspectiva geográfica destaca os significados e valores que os homens atribuem ao espaço.
Considera que o pesquisador deve se comprometer com o que analisa, fazendo parte da pesquisa, exercen-
do uma observação participante. Ou seja, acredita que a investigação à distância não possibilita a
compreensão da realidade social e assim o pesquisador deve ser participante da realidade que estuda.
Desse modo, esta corrente de pensamento rompe a oposição entre sujeito e objeto, tanto quanto entre ator
e observador.
A influência da fenomenologia significou uma crítica persistente à Geografia concebida como uma
ciência espacial voltada para a elaboração de técnicas de organização do espaço. Em resumo, uma
contramão da Nova Geografia e do seu desdobramento no uso dos modelos matemáticos. Essa crítica se
desenvolveu, sobretudo, onde essa Geografia não era proeminente, como na Austrália e no Canadá.
Apenas posteriormente, a Geografia de inspiração fenomenológica chegou aos Estados Unidos e à Grã-
Bretanha, centros eminentes da Nova Geografia.
Em 1974, Yi-Fu Tuan, com seu livro Topophilia, e E. Relph, com Place and Placelessness, de
1976, apontam para aspectos bastante negligenciados na investigação geográfica ao incorporarem os
aspectos estéticos e simbólicos, bem como os valores e as intenções, na análise da construção social do
lugar.
Firmou-se, com essa perspectiva fenomenológica, uma visão antropocêntrica do mundo e uma
recuperação do humanismo que a Nova Geografia havia feito desaparecer com seus modelos teóricos. O
homem contemporâneo, como no Renascimento, foi colocado no centro das preocupações intelectuais.
Mais do que isso, essa Geografia incorporou e salientou a dimensão dos valores sociais e culturais, bem
como a valorização da história e do mundo vivido, aspectos aos quais a Geografia do século XIX, sob a
influência do romantismo, já havia chamado a atenção e que estavam sendo resgatados de um ponto de
vista humanista.
Esse humanismo significou um novo trilhar da Geografia. O espaço, por causa da sua dimensão
abstrata, deixou de ser a referência central. A referência passou a ser o espaço vivido, aquele que é
construído socialmente a partir da percepção das pessoas. Espaço vivido e, mais do que isso, interpretado
pelos indivíduos. Igualmente, espaço vivido como revelador das práticas sociais.
Essa preocupação com o espaço vivido colocou no centro da análise o lugar. Isso porque é o lugar,
mais do que o espaço, que se relaciona à existência real e à experiência vivida. O lugar, porém, é visto
pela Geografia sob influência da fenomenologia não como um lugar em si, um lugar objetivo, mas como
algo que transcende sua materialidade, por ser repleto de significados. Por isso é que o lugar, concreto,
único e que tem uma paisagem, não apenas natural, mas essencialmente cultural, torna-se o centro e o
objetivo do conhecimento geográfico.
Reiterando, o lugar transcende sua realidade objetiva e é interpretado como um conjunto de
significados. Nesse sentido, os monumentos, as obras de arte, assim como cidades são lugares porque são
um conjunto de significados. Por outro lado, quando o lugar já não se coloca como um conjunto de
significados, na maioria das vezes por causa da tecnologia que transforma todos os lugares em espaços
homogêneos, em verdadeiros "clones paisagísticos", os lugares passam a ser não-lugares.
Considerando os objetos como fenômenos e como estes aparecem na consciência, o enfoque
regional passou a desenvolver novos temas. A discussão sobre o modo do espaço ser percebido e sobre os
significados e valores modelados pela cultura e estrutura social atribuídos a este espaço passaram a ser
analisados com o objetivo de compreender o sentimento que os homens têm por pertencer a uma
determinada região. Assim, procurou-se apreender os laços afetivos que criam uma identidade regional. A
4
Alguns estudos pioneiros sobre mapas mentais estão presentes no livro editado por R. M. Downs e D. Stea intitulado, Image and
Environment: Cognitive Mapping and Spacial Behaviour, 1973; e o de P. R. Gould e R. While, Mental Maps, 1971.
4
identidade dos homens com a região se tornou, então, um problema central na Geografia Regional de
inspiração fenomenológica.
A partir dessa perspectiva, os estudos regionais passaram a conceber o homem com seus valores
culturais e sociais, procurando superar o reducionismo de muitas análises que o consideram, acima de
tudo, um ser econômico ou um dado de uma matriz. A Geografia passou então a se interessar por textos
não diretamente relacionados à produção geográfica científica.
Recuperou-se a vertente historicista da Geografia, à medida que a região passou a ser considerada
como um produto da história e da cultura. Por meio de induções sucessivas procurou-se compreender
como se processa o sentimento que os homens têm de pertencer a uma determinada região. Sentimento
que emana do interior e do íntimo das pessoas.. A região, portanto, passou a ser vista não como
constituindo uma realidade objetiva; ao contrário, ela foi concebida como uma construção mental,
individual, mas, também, submetida à subjetividade coletiva de um grupo social, por assim dizer, inscrita
na consciência coletiva.
Armand Frémont, em sua obra La région, espace vecú, de 1976 — um clássico canadense da
proposta de um estudo geográfico da região sob a perspectiva humanista —, considera a região como um
espaço vivido. Ele define a Geografia como a ciência que estuda as combinações de fenômenos num
quadro espacial e distingue o espaço como objetivo, espaço da vida, espaço social e espaço vivido. O
primeiro, relacionado à realidade objetiva. O segundo, espaço da vida, relativo aos lugares freqüentados
pelo grupo do qual o indivíduo faz parte. O terceiro, espaço social, referente à relação estabelecida entre
os lugares freqüentados pelas pessoas do grupo social. O quarto, espaço vivido, o mais completo,
incorpora, além das dimensões dos outros espaços, a dimensão afetiva.
Em entrevista à revista Espaces Temps, Frémont ressalta a importância dos valores simbólicos e
tradicionais para a compreensão da região5. Observa que a regionalização — no que se refere à divisão do
espaço — contém uma dialética na qual existe uma divisão do espaço que é exterior às pessoas e uma
outra divisão que diz respeito ao espaço vivido. Uma divisão por regiões administrativas, cujo
fracionamento é realizado por pessoas que não vivem no lugar, elaborada pela administração pública, é
diferente de uma divisão feita por pessoas que vivem nesse espaço. Essas pessoas podem construir
recortes variados que talvez não correspondam à regionalização elaborada pela administração pública. Em
suma, a divisão regional, dizendo respeito ao espaço vivido, relaciona-se à percepção que as pessoas têm
do espaço e ao seu sentimento de pertencer a uma rede de lugares. Por isso é que o sentimento de perten-
cerem a uma dada região persiste mesmo quando a dinâmica econômica modifica os vínculos entre os
lugares.
A região, como espaço vivido, ultrapassa a idéia de espaço material, pois incorpora valores
psicológicos que as pessoas têm em relação à região, não tendo, por isso, limites fixos. Mas não se
confunde coro os espaços sociais cotidianos, com os lugares pontuais nem com os grandes espaços,
situando-se numa escala intermediária, definida segundo a rede de relações que os indivíduos tecem de
acordo com os lugares mais freqüentados por um determinado grupo social.
Portanto, a análise regional, na perspectiva fenomenológica, não se restringe à investigação
geográfica da dinâmica econômica ou da estrutura social. O procedimento de investigação procura
ultrapassar o nível socioeconômico, buscando compreender como o homem se coloca em relação à região
e, a partir disso, procura analisar os aspectos estrutural, funcional e subjetivo da região. O primeiro, relati-
vo ao modo da organização dos elementos que constituem a região; o segundo, diz respeito à dinâmica
regional; e, o terceiro, discute a relação do aspecto estrutural e funcional com o aspecto subjetivo; como,
por exemplo, a relação das imagens mentais que os homens constroem acerca do espaço vivido, da região.

5
Cf. Frémont, “A chacun as définition », em Espaces Temps. N. 10-11, pp. 27-29.

Você também pode gostar