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FENOMENOLOGIA

Hoje: 28-09-2022
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
Fenomenololgia (do grego phainesthai, aquilo que se apresenta ou que se mostra, e logos,
explicação, estudo) afirma a importância dos fenômenos da consciência os quais devem ser
estudados em si mesmos – tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses fenômenos, a
esses objetos ideais que existem na mente, cada um designado por uma palavra que representa a
sua essência, sua “significação”. Os objetos da Fenomenologia são dados absolutos apreendidos em
intuição pura, com o propósito de descobrir estruturas essenciais dos atos (noesis) e as entidades
objetivas que correspondem a elas (noema). A Fenomenologia representou uma reação à pretensão
dos cientistas de eliminar a metafísica.
O empirismo. Desde Aristóteles até o final da Idade Média, o caminho para o conhecimento
foi o da análise dialética, ou seja, o raciocínio por dedução lógica, na busca de novos
conhecimentos. As respostas dadas por esse método pareciam tão satisfatórias e convincentes que
não havia muita preocupação em testá-las no mundo real, mediante a observação. Ciência era o
mesmo que Filosofia, e o método dedutivo lógico dominou o ensino e o estudo da natureza a partir
de conceitos teológicos sobre Deus e o universo. Por exemplo: se Deus existe, Ele é um Ser
perfeito e se é um Ser perfeito, sua criação das coisas haveria de refletir a Sua perfeição.
Consequentemente, a órbita dos planetas não podia ser qualquer uma mas devia ser a mais perfeita
possível, que é a forma circular e não a elíptica, porque esta última contem desigualdades. Logo, as
estrelas e os planetas situavam-se em esferas perfeitas ao redor da Terra.
Galileu (1564-1642), com sua luneta, descobre que as esferas celestes não existiam e porque
contrariou essa ideia, tão certa para todos, por pouco não foi condenado a morrer na fogueira,
acusado de heresia.
A nova atitude naturalista de Galileu, de dúvida e observação, inspirou Francis Bacon (1561-
1626) a criar tábuas para o controle da experimentação e o estabelecimento de leis científicas, o
que levou rapidamente o homem a novos conhecimentos na astronomia, na química e na física. A
mesma atitude de observação e interpretação natural levada ao estudo da mente e do conhecimento,
deu origem à Corrente Empirista, que haveria de afetar profundamente a filosofia e criar o
Positivismo, ou seja, o tratamento científico de todos os fatos e fenômenos, inclusive em Política.
John Locke (1632-1704), tido como o maior dos filósofos empiristas, procurou, no seu Essay
Concerning Human Understanding (1690), demonstrar que todas as ideias são registros de
impressões sensíveis (ou são derivadas de combinações, de associações entre essas ideias de
origem sensível), e criticou o pensamento de Descartes (1596-1650) de que existiriam algumas
ideias que seriam inatas – que o homem teria no espírito ao nascer –, como, por exemplo, a ideia de
perfeição. Segundo Locke, alguma coisa é enviada pelos objetos e é captada por nossos sentidos e
dão causa à formação das ideias. Este pensamento é a base da teoria corpuscular da luz.
Outro filósofo dessa corrente foi David Hume (1711-1776). Ainda mais contundente que seu
predecessor Locke, negou o valor do raciocínio lógico, denunciando que a relação de causa e efeito
não é suficiente como verdade, pois nada encontramos entre causa e efeito senão que um acidente
costumeiramente se segue a outro. Estamos habituados a chamar o primeiro acidente de causa
apenas porque ele sempre acontece antes do segundo que chamamos de efeito.
Psicologismo e Historicismo. À influência da psicologia associativa de Locke sobre a
filosofia (ou teoria) do conhecimento se chamou Psicologismo. É a teoria de que os problemas da
epistemologia (a validade do conhecimento humano) e inclusive a questão da consciência, podem
ser solucionados por meio do estudo científico dos processos psicológicos. A Psicologia deve ser
tomada como base para a Lógica. Os psicologistas entendiam a lógica – domínio da filosofia –
como ciência. Seria apenas uma disciplina definidora, normativa, dos atos psíquicos, dos modos
associativos do pensamento, e suas matérias apenas regras para pensar bem, e não fonte de
verdade. A filosofia ficou fora de moda, “reduzida” a uma psicologia científica vinculada ao
Positivismo.
O historicismo representava a mesma tendência empirista para uma interpretação científica da
História. Os fatos históricos somente poderiam ser compreendidos e julgados se confrontados com
a cultura estética, religiosa, intelectual e moral do período histórico em que aconteciam, e não em
relação a valores morais permanentes.

Husserl. O filósofo Edmund Husserl ( 1859-1938), matemático e lógico, professor em


Göttingen e Freiburg im Breisgau, autor de Die Idee der Phänomenologie (A ideia da
Fenomenologia – 1906) enfrenta o Psicologismo e o Historicismo, e funda a Fenomenologia.
Contrariamente a todas as tendências no mundo intelectual de sua época, Husserl quis que a
filosofia tivesse as bases e condições de uma ciência rigorosa. Porém, como dar rigor ao
raciocínio filosófico em relação a coisas tão cambiantes e variáveis como as coisas do mundo real?
O êxito do método científico está em que ele pode estabelecer uma “verdade provisória” útil, que
será verdade até que um fato novo mostre uma outra realidade. Para evitar que a verdade filosófica
também fosse provisória, a solução, para Husserl, é que ela deveria referir-se às coisas como se
apresentam na experiência de consciência, estudadas em suas essências, em seus verdadeiros
significados, de um modo livre de teorias e pressuposições, despidas de seus acidentes próprios do
mundo real, do mundo empírico objeto da ciência.
Buscando restaurar a “lógica pura” e dar rigor à filosofia, argumenta a respeito do principio da
contradição na Lógica.

No primeiro volume do seu Logische Untersuchungen (“Investigações lógicas”-1900-01),


sob o título Prolegomena, Husserl lança sua crítica contra o Psicologismo. Segundo os
psicologistas, o princípio de contradição seria a impossibilidade do sistema associativo estar a
associar e dissociar ao mesmo tempo. Significaria que o homem não pode pensar que A é “A” e ao
mesmo tempo pensar que A é “não A”. Husserl opõe-se a isto e diz que o sentido do princípio de
contradição está em que, se A é “A”, não pode ser “não A”. Segundo ele, o princípio da
contradição não se refere à possibilidade do pensar, mas à verdade daquilo que é pensado.
Insistiu em que o principio da contradição, e assim os demais princípios lógicos, têm validez
objetiva, isto é, referem-se a alguma coisa como verdadeira ou não verdadeira, independentemente
de como a mente pensa ou o pensamento funciona.
Em seu artigo Philosophie als strenge Wissenschaft (“Filosofia como ciência rigorosa” -1910-
11) Husserl ataca o naturalismo e o historicismo. Objetou que o Historicismo implicava
relativismo, e por esse motivo era incapaz de alcançar o rigor requerido por uma ciência genuína.
A redução fenomenológica. A fenomenologia é o estudo da consciência e dos objetos da
consciência.
A redução fenomenológica (ou “epoche” no jargão fenomenológico), é o processo pelo
qual tudo que é informado pelos sentidos é mudado em uma experiência de consciência, em um
fenômeno que consiste em se estar consciente de algo. Coisas, imagens, fantasias, atos, relações,
pensamentos eventos, memórias, sentimentos, etc. constituem nossas experiências de consciência.
Husserl propôs então que, no estudo das nossas vivências, dos nossos estados de consciência,
dos objetos ideais, desse fenômeno que é estar consciente de algo, não devemos nos preocupar se
ele corresponde ou não a objetos do mundo externo à nossa mente. O interesse para a
Fenomenologia não é o mundo que existe, mas sim o modo como o conhecimento do mundo se
dá, tem lugar, se realiza para cada pessoa. A redução fenomenológica requer a suspensão das
atitudes, crenças, teorias, e colocar em suspenso o conhecimento das coisas do mundo exterior a
fim de concentrar-se a pessoa exclusivamente na experiência em foco, porque esta é a realidade
para ela.
Na redução fenomenológica, a noesis é o ato de perceber. Aquilo que é percebido, o
objeto da percepção, é o noema. A coisa como fenômeno de consciência (noema) é a coisa que
importa, e refere-se a ela a conclamação “às coisas em si mesmas” que fizera Husserl.
“REDUÇÃO FENOMENOLÓGICA” significa, portanto, restringir o conhecimento ao
fenômeno da experiência de consciência, desconsiderar o mundo real, colocá-lo “entre parênteses”,
o que no jargão fenomenológico não quer dizer que o filósofo deva duvidar da existência do mundo
– como os idealistas radicais duvidam – mas sim que a questão para a fenomenologia é antes o
modo como o conhecimento do mundo acontece, a visão do mundo que o indivíduo tem.
Consciência e intencionalidade. Vivência (Erlebnis) é todo o ato psíquico; a Fenomenologia,
ao envolver o estudo de todas as vivências, tem que englobar o estudo dos objetos das vivências,
porque as vivências são intencionais e é nelas essencial a referência a um objeto. A consciência é
caracterizada pela intencionalidade, porque ela é sempre a consciência de alguma coisa. Essa
intencionalidade é a essência da consciência, e é representada pelo significado, o nome pelo
qual a consciência se dirige a cada objeto.
Em seu Psychologie vom empirischen Standpunkte (“A Psicologia de um ponto de vista
empírico”- 1874), Franz Brentano afirma: “Podemos assim definir os fenômenos psíquicos dizendo
que eles são aqueles fenômenos os quais, precisamente por serem intencionais, contem neles
próprios um objeto”. Isto equivale a firmar, como Husserl, que os objetos dos fenômenos psíquicos
independem da existência de sua réplica exata no mundo real porque contêm o próprio objeto. A
descrição de atos mentais, assim, envolve a descrição de seus objetos, mas somente como
fenômenos e sem assumir ou afirmar sua existência no mundo empírico. O objeto não precisa de
fato existir. Foi um uso novo do termo “intencionalidade” que antes se aplicava apenas ao
direcionamento da vontade.
A redução eidética. Reconhecido o objeto ideal, o noema, o objeto da percepção, o passo
seguinte é sua “redução eidética”, redução à idéia (do grego eidos, que significa ideia ou essência).
Consiste na sua análise para encontrar o seu verdadeiro significado. Isto porque não podemos nos
livrar da subjetividade e ver as coisas “como são” – o que é o real, uma vez que em toda
experiência de consciência está envolvido o que é informado pelos sentidos e também o modo
como a mente enfoca, trata, aquilo que é informado. Portanto, dar-se conta dos objetos ideais, uma
realidade criada na consciência, não é suficiente – ao contrário: os vários atos da consciência
precisam ser conhecidos nas suas essências, aquelas essências que a experiência de consciência de
um indivíduo deverá ter em comum com experiências semelhantes nos outros.
Por exemplo, “um triângulo”. Posso observar um triângulo maior, outro menor, outro de lados
iguais, ou desiguais. Esses detalhes da observação – elementos empíricos – precisam ser deixados
de lado a fim de encontrar a essência da ideia de triângulo – do objeto ideal que é o triângulo –, que
é tratar-se de uma figura de três lados no mesmo plano. Essa redução à essência, ao triângulo como
um objeto ideal, é a redução eidética
A redução eidética é necessária para que a filosofia preencha os requisitos de uma ciência
genuinamente rigorosa, requisitos já antes mencionadas por Descartes, de claridade apodítica, a
certeza absolutamente transparente, e de distinção unívoca, que quer dizer sem ambiguidade. Os
objetos da ciência rigorosa têm que ser essências atemporais, cuja atemporalidade é garantida por
sua idealidade, fora do mundo cambiável e transiente da ciência empírica.
A Intuição do Invariante. Não importa para a Fenomenologia como o mundo real afeta os
sentidos. Husserl distingue entre percepção e intuição. Alguém pode perceber e estar consciente de
algo, porem sem intuir o seu significado. A intuição eidética é essencial para a redução eidética.
Ela é o dar-se conta da essência, do significado do que foi percebido. O modo de apreender a
essência é, no jargão dos fenomenólogos, o Wesensschau, a intuição das essências e das estruturas
essenciais. De comum, o homem forma uma multiplicidade de variações do que é dado. Porém,
enquanto mantendo a multiplicidade, o homem pode focalizar sua atenção naquilo que permanece
imutável na multiplicidade, isto é, a essência, esse algo idêntico que continuamente se mantém
durante o processo de variação, e que Husserl chamou “o Invariante”.
No exemplo dado do triângulo, o “Invariante” do triângulo é aquilo que estará em todos os
triângulos, e não vai variar de um triângulo para outro. A figura que tiver unicamente três lados em
um mesmo plano, não será outra coisa, será um triângulo.
Não podemos acreditar cegamente naquilo que o mundo nos oferece. No mundo, as essências
estão acrescidas de acidentes enganosos. Por isso, é preciso fazer variar imaginariamente os pontos
de vista sobre a essência para fazer aparecer o invariante.
Como dito, não é a coisa existir ou não, ou como ela existe no mundo, o que importa, mas,
sim, a maneira pela qual o conhecimento do mundo acontece como intuição, o ato pelo qual a
pessoa apreende imediatamente o conhecimento de alguma coisa com que se depara. Também que
é um ato primordialmente dado sobre o qual todo o resto é para ser fundado. Husserl definiu a
Fenomenologia em termos de um retorno à intuição (Anschauung) e a percepção da essência. Além
do mais, a ênfase de Husserl sobre a intuição precisa ser entendida como uma refutação de
qualquer abordagem meramente especulativa da filosofia. Sua abordagem é concreta, trata do
fenômeno dos vários modos de consciência.
No entanto, a Fenomenologia não restringe seus dados à faixa das experiências sensíveis mas
admite, em igualdade de termos, dados não sensíveis (categoriais) como as relações de valor, desde
que se apresentem intuitivamente.
Resumindo, “epoche” é colocar entre parenteses a atitude natural de modo que a pessoa possa
abordar o fenômeno do modo como ele se apresenta. Uma vez que a atitude natural é colocada
entre parênteses a pessoa pode abordar o que, de acordo com Husserl, são os dois polos da
experiência: noema e noesis. Noesis é o ato de perceber enquanto noema é aquilo que é percebido.
Através desse método, para Husserl, a pessoa pode perfazer uma “redução eidética”, ou seja, os
noema podem ser reduzidos à sua forma essencial ou “essência”, que será sua garantia de verdade.
Redução transcendental. Embora tenha trabalhado até o final de sua vida na definição do que
chamou Redução Transcendental, Husserl não chegou a uma conclusão clara. Basicamente seria a
redução fenomenológica aplicada ao próprio sujeito, que então se vê não como um ser real,
empírico, mas como consciência pura, transcendental, geradora de todo significado.
Doutrinas afins. A Fenomenologia de Husserl é uma forma de idealismo, porque lida com
objetos ideais, com as ideias das coisas em sua essência, tal como os idealistas Platão, Hegel e
outros. Desde os ensinamentos de Platão a filosofia nos diz que, por influência dos sentidos (a
construção das ideias que o homem tem em sua mente se faz por informação dos sentidos, como
dito por Locke) existem várias imagens possíveis de um objeto, porém todas elas significando a
mesma coisa, ou seja, todas elas redutíveis ao mesmo significado, todas referindo-se ao mesmo
objeto ideal, contendo a mesma ideia, constituídas da mesma essência. Todas as imagens de mesa
(o exemplo mais frequente nos textos) têm uns certos componentes que fazem com que cada uma
das imagens signifique “mesa”, uma mesa maior, menor, alta ou baixa, vista de cima ou de baixo,
por uma pessoa míope ou por outra daltônica, não importa, terá sempre aqueles componentes
básicos que garantirão a aquele objeto o significado de mesa.
Para Platão (428-347 AC), essa essência de cada coisa, o que se chamou “universais”, estava
no Mundo das Ideias que as almas humanas podiam vislumbrar antes da encarnação. Aristóteles
(384-322 AC) reconheceu de pronto a importância desse pensamento, porém trouxe a essência das
coisas para o mundo real, para as coisas mesmas. Em uma mesa, por exemplo, havia algo que era
sua essência, e que, não importando quantas e quais fossem as variações acidentais, fazia que fosse
uma mesa e não outra coisa qualquer. Husserl, por sua vez, retira do objeto a sua essência e a
coloca na mente do homem. O objeto ideal mesa, o fenômeno da representação da mesa na mente,
independe de que haja qualquer mesa no mundo externo, no mundo real, porque a essência de
“mesa” está na própria mente.
A afinidade entre Husserl e Kant está em que ambos buscam a condição de verdade do
conhecimento. Husserl sustenta que a verdade está no conhecimento das essências, e Kant, que ela
existe limitada às categorias do que é possível conhecer.
Segundo a filosofia do conhecimento (Crítica) de Immanuel Kant (1724-1804), nós não
podemos conhecer as coisas inteiramente, porque nem todos os sinais que recebemos das coisas
são aceitos pela mente, e disto resulta que não podemos conhecer inteiramente o real. Conhecemos
do real apenas aquilo que a mente pode assimilar, e que ele chamou fenômeno; ao que permanece
incognoscível para nós ele chamou o noumeno. Então Kant tomou a série de conceitos que
Aristóteles havia listado como o que podemos dizer das coisas, e transformou-a em uma série de
categorias que são o que podemos conhecer das coisas. Para Kant o dado empírico tem validade,
porém nunca validade absoluta ou apodítica. Husserl igualmente duvida do conhecimento
científico dos fatos e, para ele, o que deve ser procurado é o conhecimento científico das essências.
A linguagem. Para o fenomenólogo, a função das palavras não é nomear tudo que nós vemos
ou ouvimos, mas salientar os padrões recorrentes em nossa experiência. Identificam nossos dados
dos sentidos atuais como sendo do mesmo grupo ou tipo que outros que já tenhamos registrado
antes. Uma palavra, então, descreve, não uma única experiência, mas um grupo ou um tipo de
experiências; a palavra “mesa” descreve todos os vários dados dos sentidos que nós consultamos
normalmente quanto às aparências ou às sensações de “mesa”. Assim, tudo que o homem pensa,
quer, ama ou teme, é intencional, isto é, refere-se a um desses universais (que são significados e,
como tal, são fenômenos da consciência).E por sua vez, o conjunto dos fenômenos, o conjunto das
significações, tem um significado maior, que abrange todos os outros, é o que a palavra “Mundo”
significa.
Influência. O movimento fenomenológico, que começou então a tomar forma difundido
principalmente através dos 11 volumes de sua publicação Jahrbuch für Philosophie und
phänomenologische Forschung (1913-30), do qual Husserl foi o principal editor. Influiu não
somente sobre filósofos mas também sobre psicólogos e sociólogos. Os existencialistas que o
seguiram, principalmente Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, e Maurice Merleau-Ponty, se
intitularam fenomenólogos.
O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976), colega de Husserl e que dedicou a ele sua
obra fundamental, Sein und Zeit (1927; “O Ser e o Tempo”). foi seu discípulo mas logo surgiram
diferenças entre ele e o mestre. Discutir e absorver os trabalhos de importantes filósofos na história
da Metafísica era, para Heidegger, uma tarefa indispensável, enquanto Husserl repetidamente
enfatizou a importância de um começo radicalmente novo para a filosofia e, com poucas exceções
(entre elas Descartes, Locke, Hume, e Kant), queria excluir, colocar “entre parênteses”, a história
do pensamento filosófico.
Heidegger tomou seu caminho próprio, preocupado que a fenomenologia se dedicasse ao que
está escondido na experiência do dia a dia. Ele tentou em O ser e o tempo (1927) descrever o que
chamou de estrutura do cotidiano, ou “o estar no mundo”, com tudo que isto implica quanto a
projetos pessoais, relacionamento e papeis sociais (pois que tudo isto também são objetos ideais).
Em sua crítica, Heidegger salientou que ser lançado no mundo entre coisas e na contingência de
realizar projetos é um tipo de intencionalidade muito mais fundamental que a intencionalidade de
meramente contemplar ou pensar objetos, e é aquela intencionalidade mais fundamental a causa e a
razão desta última, da qual se ocupava Husserl.
Jean-Paul Sartre (1905-1980) segue estritamente o pensamento de Husserl na análise da
consciência em seus primeiros trabalhos, L’Imagination (1936) e L’Imaginaire: Psychologie
phénoménologique de l’imagination (1940), nos quais faz a distinção entre a consciência
perceptual e a consciência imaginativa aplicando o conceito de intencionalidade de Husserl.
No seu The Philosophy of Existentialism, de 1965, Sartre declara que “a subjetividade deve ser
o ponto de partida” do pensamento existencialista, o que mostra que o existencialista é
primeiramente um fenomenólogo. A negação de valores e o convite ao anarquismo implícitos na
doutrina atraíram os pensadores de Esquerda e afastaram os conservadores de Direita.
Merleau-Ponty (1908-1961), outro importante representante do Existencialismo na França, foi
ao mesmo tempo o mais importante fenomenólogo francês. Suas obras, La Estruture du
comportement (1942) e Phénoménologie de la perception (1945), foram os mais originais
desenvolvimentos e aplicações posteriores da Fenomenologia produzidos na França.
Em sua tentativa de aplicar a Fenomenologia ao exame da existência humana, Heidegger,
Sartre e outros autores franceses desenvolveram uma linguagem sofisticada, recheada de termos
que caíram no gosto dos acadêmicos mas se tornaram um obstáculo ao entendimento da doutrina
inclusive entre os próprios intelectuais.
O mais original e dinâmico dos primeiros associados de Husserl, no entanto, foi Max Scheler
(1874-1928), que havia integrado o grupo de Munique quem realizou seu principal trabalho
fenomenológico com respeito a problemas do valor e da obrigação. Ampliou a idéia de intuição,
colocando, ao lado de uma intuição intelectual, outra de caráter emocional, fundamento da
apreensão do valor.
A Fenomenologia e a psicologia. Foi de grande importância e de grande impacto o
pensamento fenomenológico na psicologia, na qual Franz Brentano ( ) e o alemão Carl Stumpf ( )
haviam preparado o terreno, e na qual o psicólogo americano William James, a escola de
Würzburg, e os psicólogos da Gestalt haviam trabalhado ao longo de linhas paralelas. This method,
and adaptations of this method, have been used to study different emotions, psychopathologies,
things like separation, loneliness, and solidarity, the artistic experience, the religious experience,
silence and speech, perception and behavior, and so on.
Mas a Fenomenologia deu provavelmente sua maior contribuição no campo da psiquiatria, no
qual o alemão Karl Theodor Jaspers (1883-1969), um destacado existencialista contemporâneo,
ressaltou a importância da investigação fenomenológica da experiência subjetiva de um paciente.
O paciente psicológico é paciente em vista do objeto ideal que em sua mente corresponde à
realidade, não importa qual a situação externa, e porque essa construção ideal difere do padrão
comum dos objetos ideais na mente das demais pessoas com respeito aos mesmos estímulos dos
sentidos. O psicólogo precisa encontrar o significado nos objetos do mundo ideal do seu paciente, a
fim de poder lidar com sua situação psicologia.
Jaspers foi seguido pelo suíço Ludwig Binswanger (1881-1966) e vários outros,
inclusive Ronald David Laing (1927-1989) na Inglaterra, na psiquiatria existencial da linha
filosófica ateia de Sartre; Viktor Frankl (1905-1997), com sua teoria da logotherapia, na Áustria e,
pioneiramente, Halley Bessa (1915-1994), no Brasil, ambos da linha do Existencialismo cristão
de Gabriel Marcel (1889-1973).
O fenomenalismo. A femonomenologia não pode ser confundida com o Fenomenalismo. Este
não leva em conta a complexidade da estrutura intencional da consciência que o homem tem dos
fenômenos. A Fenomenologia, diferentemente do Fenomenalismo, examina a relação entre a
consciência e o Ser. Para o Fenomenalismo, tudo que existe são as sensações ou possibilidades
permanentes de sensações, que é aquilo a que chamam fenômeno. É materialista. O fenomenólogo,
diferentemente do fenomenalista, precisa prestar atenção cuidadosa ao que ocorre nos atos da
consciência, que são o que ele chama fenômeno.
Comentário e Crítica. Na psicologia, a objeção que se levanta é contra a possibilidade de se
viver com o paciente sua própria visão do mundo, de sua situação e de si mesmo. Como a
subjetividade deve estar também no psicólogo, é impossível ter o terapeuta uma intuição desses
aspectos que seja inteiramente livre do seu próprio eu, do seu próprio pensar, de modo a evitar
introduzirem-se em sua análise certas impressões pessoais que precisaria evitar. Então o que a
Fenomenologia diz é que o terapeuta deve buscar compreender com a sua subjetividade a
subjetividade alheia. Na verdade, necessita um grupo de psicólogos consultores de modo que as
suas visões possam se somar para uma compreensão mais profunda de um fenômeno. (Isto é
chamado “intersubjectividade”). Porém deve lembrar-se de que, a rigor, ele não tem nenhum
padrão absolutamente confiável para aprovar ou reprovar qualquer comportamento alheio, apesar
de se encontrar confortável com a estatística da normalidade das atitudes e dos costumes.
Na Política e no Direito, o modo de se lidar com a subjetividade é a Democracia, em que o
problema da subjetividade é contornado por meio do consenso, pela coincidência estatística de
opiniões, pelo voto de um conselho ou da população, de modo que, por assim dizer, a subjetividade
de um único indivíduo, ou de uma minoria de intelectuais, não venha a prevalecer. Em Moral e
Religião, a âncora são as escrituras, consideradas revelação divina.
Rubem Queiroz Cobra

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