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Teoria do Conhecimento

Eduardo da Silva Hermenegildo Pereira

RESUMO

PREFÁCIO

Produzido a partir das aulas de Johannes Hessen na Universidade de Colônia, o


livro Teoria do Conhecimento busca demonstrar os problemas filosóficos inerentes a
disciplina e as possibilidades de respondê-las por meio de uma metodologia crítica e
com a posição do autor sempre evidenciada. O livro faz uso do método
fenomenológico, discutindo o problema da intuição e tratando da teoria do
conhecimento geral e especial.

INTRODUÇÃO

1. A ESSÊNCIA DA FILOSOFIA:

Para determinar o lugar da teoria do conhecimento na filosofia, Hessen começa


por apresentar as possíveis definições da filosofia sob os pontos de vista
dedutivo e indutivo. Ele inicia citando a etimologia tradicionalmente conhecida
da palavra filosofia, cuja resposta seria "amor pela sabedoria". No entanto, tal
definição é insatisfatória para definir esse saber então para obter uma
descrição mais precisa ele busca reunir entre os sistemas filosóficos os seus
pontos de conexão.
Partindo da concepção de Dilthey, em que se deve, em primeiro lugar,
buscar os conteúdos comuns nos sistemas filosóficos, temos a constatação de
que os filósofos, em sua busca pela verdade nos fundamentos da realidade,
têm a pretensão de reunir todos os objetos em seus sistemas de forma
universal, sempre com uma atitude de pensamento racional perante a
natureza.
No desenvolvimento histórico da filosofia, temos duas correntes
principais que se opõem e se complementam: A primeira, iniciada por Sócrates
e continuada por Platão, tem como ponto de partida a "visão de si", que sugere
que a vida humana deve ser edificada por meio do conhecimento do bem, e a
segunda “visão do mundo", desenvolvida por Aristóteles tem foco no
conhecimento científico e seus objetos. Essas concepções são tomadas e
retomadas conforme um novo grupo de filósofos se ergue, sendo os epicuristas
e estoicos mais partidários da visão filosófica do “cuidado de se” e da filosofia
como “mestra da vida” como propõe Cícero e os modernos e medievais
partidários da visão de mundo em seus sistemas filosóficos que tentam
compreender a realidade. Kant reestabelece a forma platônica de pensamento
ao colocar em reflexão o próprio pensamento a fim de descobrir seus limites
e avança para a vida prática e moral e para os juízos estéticos. No
idealismo
Alemão, Schelling e Hegel retomam novamente a visão Aristotélica. Essa
concepção leva uma série de novas correntes filosóficas.
Ao elencar esses pontos Hessen afirma o caráter duplo da filosofia e a
descreve como a autorreflexão da mente em relação ao seu agir ético, ao
mesmo tempo em que essa racionalidade se debruça sobre as conexões
últimas da realidade, a fim de desvendar os seus fundamentos. Para Hessen,
a filosofia se distingue sobretudo da moral por seu caráter prático, ainda que
compartilhe traços com a religião e a arte. É que a filosofia na visão de Hessen
é um saber teórico e se aproxima do saber científico, mudando apenas o objeto
em que se debruça. Com relação a arte e a religião a filosofia compartilha o
objeto, mas não o método. Não se pode esperar de um artista que reflita sobre
sua própria arte ao produzi-la, ao fazer isso, aquilo que sai de sua pena perde
muito do caráter artístico e espontâneo.
A filosofia desse modo tem contato com a ciência, com a religião e com
a arte. Sendo em comum com o primeiro o ponto de vista teórico e com as
outras duas a sua ambição pela totalidade do real.

2. A POSIÇÃO DA TEORIA DO CONHECIMENTO NO SISTEMA DA


FILOSOFIA

Para Hessen a filosofia se distingue entre Teoria da Ciência, Teoria do Valor e


Teoria da visão de mundo. Para o primeiro ponto a filosofia atua como teoria do
conhecimento científico e no segundo como um ponto de vista prático, voltado para a
ética e num terceiro ponto a filosofia como visão de mundo é o fim último desta
concepção filosófica.
As disciplinas da filosofia aparecem ao se desdobrarem essas três
concepções: A visão de mundo se relaciona com a Metafísica, o estudo sobre os
aspectos da realidade, a ontologia. Seja ela a da natureza, do espírito ou da mente.
A teoria do valor se distingue em ética, estética e filosofia da religião. A teoria da
ciência se divide em formal, doutrina material da ciência, lógica e em teoria do
conhecimento.
A teoria do conhecimento é uma teoria material da ciência ou a teoria dos
princípios, estudando assim a relação do pensamento com os objetos. Em oposição
a lógica que pensa o pensamento correto a epistemologia busca o pensamento
verdadeiro. A teoria do conhecimento geral diz respeito a relação do pensamento com
o objeto em sua generalidade enquanto a especial investiga criticamente os axiomas
e os conceitos fundamentais.

3. A HISTÓRIA DA TEORIA DO CONHECIMENTO

A teoria do conhecimento enquanto disciplina independente da filosofia só irá ter início


na modernidade com as discussões propostas por Locke quanto a origem, à essência
e a certeza do conhecimento humano. Após ele todos os teóricos que discutiram esse
problema tentaram refutá-lo ou complementá-lo, entre eles Leibniz e Berkeley, o
primeiro tentando refutá-lo e o segundo aceitando seus pressupostos, mas propondo
o imaterialismo como forma de combater o ceticismo. Além de David Hume trouxe
consigo os limites aos quais o empirismo poderia alcançar. No período da antiguidade
e idade média, toda reflexão acerca do conhecimento estava misturada com reflexões
metafísicas, mas aparecem sobretudo em Platão e Aristóteles.
Kant é considerado o grande fundador da teoria do conhecimento por propor a
fundamentação do conhecimento das ciências da natureza e estabelecer a validade
lógica do conhecimento por meio do seu método transcendental em que o foco não é
o conhecimento dos objetos, mas a forma pela qual podemos conhecê-los, as
condições da experiência possível. Após Kant a teoria se desdobra em dois grupos
distintos que interpretam de sua própria maneira a questão, sendo o primeiro liderado
por Schelling que desembocará em Hegel. A teria do conhecimento conectada a
metafísica, que encontrará eco em Schopenhauer e Hartmann. E os pressupostos
neokantianos que dando continuidade à teoria do conhecimento quase tornaram a
filosofia apenas o estudo relativo a essa questão como afirma Hessen. Com essa
visão, novas correntes epistemológicas surgiram, multiplicando os problemas e as
interpretações filosóficas sobre a teoria do conhecimento.

PRIMEIRA PARTE
TEORIA GERAL DO CONHECIMENTO
INVESTIGAÇÃO FENOMENOLÓGICA PRELIMINAR: O FENÔMENO DO
CONHECIMENTO E OS PROBLEMAS NELE CONTIDO.

A fim de interpretar e explicar filosoficamente aos problemas inerentes a


possibilidade, origem, essência, tipos e critérios de verdades relativos ao
conhecimento a epistemologia ou teoria do conhecimento se consolidou enquanto
disciplina independente da filosofia. Hessen defende a necessidade de examinarmos
com atenção a forma como descrevemos os objetos sobre os quais pretendemos
filosofar, buscando por meio da fenomenologia a apreensão da essência geral de um
determinado fenômeno.
Ao aplicar tal forma de avaliação ao conhecimento, verificamos que se trata da
relação do sujeito com o objeto. Esse dualismo é inerente ao conhecimento em sua
configuração mais essencial. A relação entre sujeito e objeto é recíproca, uma
dependendo da outra e se relacionando com a outra. Cada qual tendo sua função
específica. O sujeito deve apreender o objeto; O objeto deve ser apreendido pelo
sujeito.
A apreensão, a partir do ponto de vista do sujeito do conhecimento, parece ter
três movimentos: A saída do sujeito em direção ao objeto. O objeto invadindo a
consciência do sujeito. E a apreensão ou conexão dos limites do objeto. É no âmbito
do sujeito que ocorrem as alterações cognitivas, surgindo assim uma figura na mente
do sujeito com as imagens do objeto apreendido.
O objeto é determinante, o sujeito determinado: A imagem que o sujeito tem
é determinada pelo objeto, pois carrega as características dele. A figura aparece
como um meio que fornece tal conexão. Assim o objeto tem preponderância sobre o
sujeito. O objeto invade a subjetividade do sujeito. O sujeito o recepciona, mas não
de forma passiva necessariamente. O sujeito age de forma espontânea em busca do
objeto a ser apreendido. Esse processo se dá na imagem, onde o sujeito deseja
recepcionar o objeto ao mesmo tempo em que age de forma espontânea em relação
a imagem.
Objetos reais ou efetivos: São objetos obtidos via experiência externa,
interna ou inferidos a partir desta experiência.
Ideias: Irreais, meramente pensados, como os números, figuras geométricas.
Possuem um ser, uma transcendência. Apensar de sua irrealidade atuam em nossa
mente como os objetos reais.
O conceito de verdade está ligado a aquilo que existe de mais subjetivo ao
conhecimento, sua essência. Hessen defende que o conhecimento verdadeiro é
efetivo e o não-verdadeiro é tratado como erro e engano. A verdade consiste na
concordância da figura com o objeto e nesse sentido o conceito de verdade é
relacional. O objeto não pode ser tido como verdadeiro ou falso. Tal conceito de
verdade é transcendente, pertence ao leigo e ao cientista.
Critérios de verdade: Existe a necessidade de certeza de que dado
conhecimento é verdadeiro, com isso o critério de verdade se questiona como
podemos reconhecer os conhecimentos como verdadeiros. Apenas existe essa
exigência, mas nada sobre a sua possibilidade ou satisfação
Esferas do conhecimento - psicológica, lógica, ontológica: O
conhecimento trata de três campos distintos devido a sua estrutura. O sujeito, a
imagem na mente do sujeito e o objeto em sí. Nesse caso o sujeito se conecta com a
esfera psicológica, a figura se une a discussão lógica e objeto com a ontológica.
(1) A psicologia não pode estudar sozinha os problemas relativos à teoria do
conhecimento, pois, a psicologia se limita a investigar os processos do conhecimento.
Apenas como ele funciona, não se possui validade concordando com o objeto.
Qualquer tentativa desse tipo levaria aos erros do psicologismo.
(2) A lógica é responsável por avaliar a imagem que o sujeito forma do objeto. Mas
também a lógica não é capaz de estudar os problemas relativos ao conhecimento,
somente a estrita lógica. Se o conhecimento é correto e não se é verdadeiro. Não se
pode deixar cair no logicismo.
(3) A ontologia diz respeito ao objeto do conhecimento, seja ele real ou ideal. Deste
modo também não pode examinar a teoria do conhecimento em sua totalidade, pois
não podemos eliminar o sujeito do conhecimento e ficar só com o objeto.
A teoria do conhecimento é gnosiológica. Mas não devemos nos limitar a
descrição do conhecimento. A fenomenologia atua como método e não como teoria
do conhecimento.
Os cinco problemas principais

Possibilidade do conhecimento: Na apreensão do objeto pelo sujeito, pode existir


a dúvida se tal concepção da consciência é justificada, se realmente ocorre o contato
entre sujeito e objeto.

Origem do conhecimento: Sendo a relação sujeito - objeto dualista. Sendo o


primeiro raciona e espiritual, mental e dotado de sensibilidade e o segundo empírico
e definido. Assim surge a dúvida sobre qual é a principal fonte em que a o sujeito
conhecedor vai buscar seus conteúdos, se o fundamento do conhecimento é a razão
ou a experiência.

Essência do conhecimento humano: Dúvidas sobre a determinação do sujeito


sobre o objeto. Teóricos importantes pensam a definição como oposto. O sujeito
determinaria o objeto. A consciência atua de forma ativa e não apenas receptiva

Tipos de conhecimento humano: Comumente pensamos na apreensão do


conhecimento de forma racional-discursiva, mas surge a dúvida se o conhecimento
pode ser obtido intuitivamente.

Critérios da verdade: Relativo as dúvidas acerca da existência do conhecimento


verdadeiro, de como podemos reconhecer a verdade. Quais os critérios dizem se um
conhecimento é verdadeiro ou não é.

I. A POSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO

1. O Dogmatismo: Postura em relação a teoria do conhecimento reconhecida


por não ter como seu horizonte conceitual os problemas, dúvidas e
questionamentos relacionados com a forma de obtermos conhecimento ou a
possibilidade do conhecimento. Não se percebe que na obtenção do
conhecimento existe a relação entre sujeito (aquele que aprende os objetos do
conhecimento) e o objeto (aquilo que se quer conhecer), pois na visão do
dogmático a obtenção do conhecimento ainda não foi posta em
questionamento. A percepção e o pensamento não são de maneira alguma
considerados.
Para Hessen, existem o dogmatismo de nível teórico, voltando para
questões especulativas e o valorativo que se distingue entre o ponto de vista
ético e o religioso. O primeiro é a crença filosófica na capacidade da razão
humana de atingir verdades, muito presente nos sábios e nos primeiros
filósofos. O ético, diz respeito a consideração de um determinado sistema ético
como único verdadeiro. E o religioso diz respeito a aceitação de um ponto de
vista religioso sem a devida reflexão se o sujeito é capaz de conhecer o âmbito
do divino. É o ponto de vista mais antigo das sociedades, aparecendo até
mesmo nos pré-socráticos, que acreditam no poder de eficácia da razão para
apreender os fundamentos da realidade. É somente com o aparecimento dos
Sofistas e suas demonstrações de que as formas de obter conhecimento são
falhas, por meio de seus raciocínios e relativismo, que a filosofia perde seu
caráter dogmático.
Com relação ao dogmatismo especial, esse pode ser evidenciado nos
pensadores metafísicos anteriores a Kant, que presumiam ser possível adquirir
conhecimento sobre as estâncias metafísicas e superiores da realidade sem o
exame crítico da própria razão, seus limites e seu escopo de atuação.

2. O Ceticismo: Contrário oposto ao dogmatismo, o Ceticismo concebe a


impossibilidade de o sujeito apreender em sua mente os objetos do
conhecimento e com isso, a única ação que o sujeito pode ter é a suspensão
do juízo, não aceitando nem negando uma determinada proposição. O
ceticismo se preocupa em duvidar sobretudo da capacidade humana de
compreender as verdades. Tendo claro que o conhecimento depende do
sujeito e da configuração de seus sentidos, além dos efeitos da cultura e do
ambiente em que o sujeito está inserido.
Essa epistemologia possui duas variações, uma abrangente chamada
de absoluta e uma específica, que pode se distinguir enquanto ceticismo
metafísico ético e religioso. Para Hessen, o ceticismo também se divide entre
metódico e sistemático, sendo o primeiro aquele que coloca em dúvida a
capacidade da razão natural até atingir um conhecimento seguro.
Fundado por Pirro de Élis o ceticismo da antiguidade é absoluto e
descreve a impossibilidade de alcançar o conhecimento, enquanto seu
desdobramento histórico presente nos filósofos acadêmicos expressa seu
ceticismo defendendo que o conhecimento só pode ser verossímil, sem acesso
à verdade. Para Hessen essa seria uma contradição pois reconhecer a
verossimilhança de algo contribui para a tese de que existe verdade, além
disso a proposição cética de que o conhecimento é impossível é por sí mesma
uma posição que quer para sí a verdade, o que a torna contraditória.
Embora o ceticismo absoluto seja impossível na visão de Hessen, o
mesmo não vale para o ceticismo especial, dentre as concepções discutíveis
estão o ceticismo metafisico, mais associado ao positivismo de Augusto Comte
e religioso, relacionado ao agnosticismo de Spencer. Em suma, a importância
do ceticismo reside em sua maneira de impor a dúvida e permitir que o filósofo
questione seus pressupostos antes de emitir juízos de qualquer natureza.

3. O Subjetivismo e o Relativismo: Ambos são concepções epistemológicas


que concordam quanto a existência da verdade, discordando, entretanto, de
que seja ela seja unívoca e válida universalmente. A consideração subjetivista
declara que a verdade está restrita ao sujeito conhecedor que a partir disso
julga a validade da verdade. O subjetivismo se distingue entre o individual e o
genérico. No primeiro caso a validade de uma verdade, vale apenas para
determinado individuo, não valendo para outro. No caso genérico uma
determinada verdade válida para espécie humana não valeria para outra
espécie inteligente que porventura possa existir.
A consideração epistemológica relativista por outro lado, apesar de
semelhante ao subjetivismo desconsidera qualquer verdade absoluta. Toda
verdade acaba por ser relativa do ponto de vista do observador. O realismo
considera que o conhecimento humano depende de fatores exteriores a ele,
tais como a época, ambiente e cultura.
Os Sofistas são os principais iniciadores dessa corrente de pensamento
na antiguidade, sendo Protágoras o defensor da ideia de que o “homem é a
medida de todas as coisas”, a validez da verdade acaba por ser relação com o
ambiente em que o indivíduo está envolvido. Hessen expõe as contradições
do relativismo e subjetivismo afirmando que a própria tese se propõe como um
juízo verdadeiro acerca da realidade.

4. O Pragmatismo: Posição epistemológica semelhante ao ceticismo, mas com


caráter positivo. Ao invés de afirmar a impossibilidade do conhecimento o
pragmático defende que a verdade é aquilo que é útil para a sobrevivência do
homem, abandonando a ideia de que a verdade é a concordância entre
pensamento e objeto. O homem é um ser da vida prática que possui vontades
e não um ser que contempla o puro pensamento. O conhecimento se dá
quando está de acordo com os objetivos de sobrevivência do sujeito.
Entre os defensores deste ponto de vista na visão de Hessen estão
Willian James, Schiller e Friedrich Nietzsche, que dentre suas percepções
acerca do conhecimento, exprimem que o fato de um juízo ser falso não quer
dizer que possa ser criticado por isso, pois o que vale é o quanto tal concepção
promove a vida, ainda que sejam ficcionais.
Hessen contesta essa posição ainda que perceba não ser capaz de
demonstrar se elas afetam as posições dos filósofos pragmáticos. A relação
entre conhecimento e vida é importante de ser destacada, mas com a
moderação e sem perder a esfera lógica e não negando o caráter de verdade.

5. O Criticismo: Teoria epistemológica que se contrapõe ao ceticismo (que


acredita na impossibilidade do conhecimento) e ao dogmatismo (que coloca o
conhecimento como certo, sem questionamento) se reservando a uma posição
crítica e analítica. Acredita no potencial da racionalidade humana, porém
desconfia de conhecimentos ditos pré-determinados ou estabelecidos. Tem
como característica a busca pelos fundamentos da racionalidade e o
questionamento sobre a possibilidade da obtenção do conhecimento.
O criticismo é a própria reflexão epistemológica que tem seu surgimento
já na antiguidade com Platão e Aristóteles e no decorrer do seu
desenvolvimento histórico passa por entre as reflexões epistemológicas dos
filósofos medievais e modernos, encontrando o seu ponto mais elevado com
Kant.
Ao contrapor o dogmatismo presente em Leibniz e Descartes com o
ceticismo metafísico de David Hume, Kant inaugurou o criticismo enquanto
teoria epistemológica. Essa reflexão atua como método e particularmente em
Kant, atua como sistema, ou seja, uma forma de específica de criticismo. Esse
método tem como objetivo investigar todas as fontes e objeções de um
determinado saber, estabelecendo a possibilidade do conhecimento, porém
devendo ser alcançado de maneira criteriosa. Contra as críticas reservadas ao
sistema, que para Hessen é o único ponto de vista coerente, se pode afirmar
que a teoria do conhecimento é livre de pressuposições, estando aberta a
criticar e examinar a forma como apreendemos o conhecimento

II. A ORIGEM DO CONHECIMENTO

1. O Racionalismo: Para essa corrente epistemológica o pensamento ou a razão


são a principal fonte, origem e fundamento do conhecimento humano. O
racionalismo só considera como conhecimento aqueles que são necessários,
ou seja, as conclusões não poderiam ser diferentes nunca e seriam válidas
universalmente em todo e qualquer lugar, pois a experiência só é capaz de
revelar como as coisas são, não como devem ser. Tais requisitos são mais
bem cumpridos pelo conhecimento matemático, por ser dedutivo, obtendo suas
conclusões de premissas pré-estabelecidas e ser conceitual e abstrato.
Racionalismo Transcendente: Na antiguidade Platão é expoente
desta forma de conhecimento, pois considera o mundo sensível e material
acessado pela experiência como transitório e por esse motivo incapaz de gerar
episteme - conhecimento, mas somente doxa - opinião. Para Platão retiramos
nosso conhecimento seguro apenas do plano suprassensível denominado de
mundo inteligível, lugar imutável onde se situam as formas matemáticas
somente acessíveis pelo intelecto. Esse plano é metafísico e o verdadeiro
mundo que permite aos objetos sensíveis a sua forma. A teoria da
reminiscência das almas visa explicar de que maneira obtemos esse
conhecimento inato dos conceitos e das coisas. O mito descreve que como a
alma contemplou as ideias no mundo inteligível, a mente retoma essas ideias
por meio da rememoração. O mundo sensível não fundamenta o
conhecimento, mas o estimula.
Racionalismo teológico: É a forma de conhecimento proposta por
Plotino e Agostinho de Hipona, onde a alma ou mente do sujeito apreende o
conhecimento por meio de algo exterior ou transcendente a ele. De acordo com
Plotino o conhecimento é obtido por meio do recebimento do nous cósmico ou
Espírito pensante, obtendo assim a iluminação. Esse tipo de conhecimento
pode ser resumido pela frase: “A parte racional de nossa alma é sempre
preenchida e iluminada através do alto”. Agostinho se apropria dessa imagem
e a modifica, misturando com elementos da religião cristã. Deus se torna o ente
que preenche os espíritos com a iluminação do conhecimento. Apesar dessas
considerações teológicas Agostinho reconhece o papel da experiência para a
obtenção do conhecimento, porém com nível de importância menor e não
determinante. Por considerar a razão humana por meio da iluminação divina
como fonte do conhecimento a doutrina recebe o nome de racionalismo
teológico.
Teognosticismo: Intensificação do racionalismo teológico, o
teognosticismo é a doutrina do conhecimento presente na modernidade e
defendida por Malebranche. Sua citação é “Nous voyons toutes choses en
dieu” que poderia ser traduzida por: “Nós vemos todas as coisas em Deus”. É
por meio de deus que a mente humana apreende os objetos exteriores. É por
meio da visão do absoluto em sua atividade criadora ou da intuição racional do
absoluto que o ser humano concebe as coisas. Essa posição também é
comumente chamada de ontologismo.
Racionalismo Imanente do Séc. XVII: Representado pelos filósofos
Descartes e Leibniz, tal racionalismo concebe as ideias como inatas e
colocadas na alma por Deus. Ainda fortemente influenciado pelo pensamento
escolástico, Descartes utiliza o termo ideias enquanto formas de percepção
pertencentes a mente Deus. Para Descartes esses conceitos presentes na
mente desde o nascimento são os fundamentadores do conhecimento. Para
Leibniz tais conceitos existem em potência, mas podem ser alcançados ou não,
pois dependem da capacidade do espírito de conceber tais conceitos.
Racionalismo Lógico do Sec. XIX: Discute a validade e
fundamentação lógica do conhecimento por meio do conceito de consciência
em geral, que difere da consciência individual (concepção moderna) e do
sujeito absoluto (concepção antiga). Esse tipo de racionalismo é puramente
lógico e abstrato, representando os princípios do conhecimento. Atua
compreendendo que o conhecimento é deduzindo dos princípios superiores de
maneira logicamente encadeada.

Para Hessen a história do racionalismo demonstra a importância das


discussões sobre os fatores racionais como fundamento do conhecimento
humano. O ideal de conhecimento do racionalismo é quem garante essa
primazia da razão e pensa poder adentrar o domínio metafísico apenas com
sua capacidade racional.

2. O Empirismo: Para o pensamento empirista o conhecimento só pode ser


obtido por meio da experiência, pois ao nascer o homem não possui
informações prévias em seu cérebro, adquirindo deste modo todos os
conceitos que compõe o seu pensamento por meio dos sentidos ao longo da
vida. Tal concepção parte de fatos pré-estabelecidos como o desenvolvimento
histórico do ser humano, que passa da infância a vida adulta adquirindo
conhecimento enquanto experiência da realidade. Essa concepção aparece
como a única fonte possível de se obter o conhecimento. A maioria dos
filósofos empiristas estudam as ciências da natureza cuja obtenção de
conhecimento se dá por meio de experiências no mundo concreto mais do que
em axiomas e postulados matemáticos. Dentro das noções de experiência
existem a interna que é relativa à autopercepção e a externa que se relaciona
com o mundo concreto exterior ao indivíduo. O sensualismo considera que só
a externa tem validade.

A história do empirismo remete a Antiguidade, sendo a forma de obter


conhecimento adotada pelos sofistas e pelos estoicos. A ideia de que a alma
é como uma tábua em branco em que nada está escrito já pode ser localizada
no pensamento estoico, porém é com Jonh Locke nos séculos XVII e XVIII que
ela ganha força e projeção filosófica.

A concepção Lockeana tem como ponto de partida a rejeição e o combate da


doutrina das ideias inatas. Segundo sua concepção psicológica sobre a origem
do conhecimento existiria uma parte da experiência que é externa ao indivíduo
e obtida via sensação, tais experiências podem ser as cores, sabores, texturas,
sons e cheiros. Além disso essas ideias são subjetivas variando de um
indivíduo para outro. A outra parte é interna e diz respeito a capacidade
intelectiva da reflexão, a forma como a mente percebe os processos
internamente. Não são ideias inatas, mas sim ideias obtidas pelas experiências
que o sujeito refinou em sua mente. As ideias que provêm da experiência
podem ser simples ou complexas. As ideias simples são formadas por
qualidades primárias e secundarias. As primeiras são características objetivas
que não dependem do indivíduo conhecedor, mas as secundárias dependem
pois se formam do encontro da mente com o objeto. As ideias complexas são
a união de ideias simples, criada ativamente pela mente, como por exemplo a
ideia de duração, espaço, causalidade, identidade. A validade lógica,
entretanto, Locke diz não depender da experiência e nesse caso a matemática
é um dos conhecimentos que subsistem independente da experiência.

O filósofo irlandês David Hume é responsável por aprimorar as ideias de Locke.


Ele distingue impressões de ideias, sendo a primeira uma percepção vívida do
objeto que pretendemos conhecer do que a outra, sendo as ideias
representações da memória e da imaginação. Para Hume os conceitos da
mente devem vir de alguma impressão intuitiva coletada na realidade e para
saber a validade de determinado conceito deve se ter em mente a impressão
que o levou a ter ele. Por isso Hume rejeitava os conceitos de substância e
causa, já que não era possível distinguir a impressão que os criara.
Sensualismo: Tipo de empirismo mais restrito defensor da ideia de que apenas
a experiência externa tem validade. Os representantes dessa concepção são
Condillac e Jonh Stuart Mill. O primeiro faz justamente críticas a Jonh Locke
por distinguir as formas da experiência, defendendo que a única fonte do
conhecimento é a sensação e o pensamento é apenas uma sensação refinada.
Mill coloca a matemática na instância da experiência indo além das
concepções até então destacadas. Para ele as leis lógicas também se
fundamentam na experiência.

O Empirista tende a ter uma opinião cética com relação as especulações


metafísicas, uma vez que compreende que os objetos do conhecimento estão
sujeitos à experiência do mundo, tornando uma visão suprassensível
impossível. Hessen argumenta que o empirismo se anula por princípio por
aceitar as concepções racionalistas do ponto de vista da validade lógica, o que
verdadeiramente importa quando se trata da origem do conhecimento.

3. O Intelectualismo: Tentativa de mediação entre as concepções empiristas e


racionalistas. O intelectualismo considera que ambas as origens participam da
formação do conhecimento, considerando assim, a existência dos juízos
necessários e universais aos objetos reais, além dos ideais que são aceitos
por todos. Porém esse conhecimento é derivado da experiência. Para o
intelectualista a consciência lê por meio da experiência os conceitos, pois
segundo sua visão “nada está no intelecto que não esteja antes nos sentidos”.
Para o intelectualista em contraposição ao empirista, existem por meio da
experiência as representações sensíveis e os conceitos, enquanto conteúdos
não-intuitivos.

Aristóteles é reconhecido como o fundador dessa abordagem, pois por ser


discípulo de Platão teve contato com seu racionalismo, mas enquanto
pesquisador da natureza estava mais próximo do pensamento empirista.
Aristóteles refunda seu pensamento retirando os conceitos do âmbito do
mundo das ideias e colocando-as enquanto as formas essenciais das coisas.
A capacidade de apreender os dados dos sentidos é chamado por ele de nolls
poietikós, entendimento ativo. E essa iluminação é recebida pelo entendimento
passivo o nouls pathetikós.

Tomás de Aquino continuará a tese aristótelica de que todo o conhecimento


do intelecto deriva dos sentidos. Na concepção deste filósofo os seres
humanos recebem os conhecimentos dos sentidos. Em Aquino quem recebe a
informação é o intellectus e o intellectus possibilis é responsável pelo juízo
sobre as coisas. Os conceitos obtidos a partir desse processo são o princípio
de não-contradição e do ser e não-ser.
4. O Apriorismo: Outra tentativa de mediar as concepções racionalistas e
empiristas foi o apriorismo que considerava tanto a razão quanto o empirismo
como condições validas para a origem do conhecimento. Porém considera que
nosso conhecimento possui características que são apriori e de natureza
formal, pois não são concebidos enquanto conteúdos, mas como formas. Tais
formas são obtidas por meio das experiências se aproximando assim do
empirismo. Os fatores apriori da razão são preenchidos como folhas em
branco pela experiência. Para essa corrente a intuição e os conceitos
trabalham juntas. O fator racional vem, deste modo, do fator empírico. O
pensamento age de forma ativa na elaboração dos conteúdos. Immanuel Kant
é conhecido como fundador dessa concepção. Sua filosofia tentava conciliar o
racionalismo de Leibniz e Wolff com o empirismo de Hume e Locke. O objeto
do conhecimento viria da experiência e a sua constituição formal do
pensamento. Por meio da intuição o intelecto reorganiza todo o caos obtido via
experiência. Ordenando os conteúdos nas noções internas do espaço e no
tempo.

5. O Posicionamento Crítico: Hessen propõe um posicionamento crítico em


relação ao racionalismo e empirismo, separando o problema psicológico do
lógico. As concepções empirista e racionalista falham em seus pressupostos
psicológicos para a origem do conhecimento. A psicologia demonstrou que
existem conteúdos intuitivos, não-intuitivos e sensoriais, concluindo a partir
disso que o pensamento participa da produção da percepção. O racionalismo
também é afetado com os descobrimentos da psicologia, uma vez que ela
reconhece que não existem conceitos inatos e transcendentes. Do ponto de
vista lógico, entretanto é diferente. Não aceitando pressupostos cosmológicos
metafísicos, nem pressupõe a concepção psicológica-metafisica.

III. A ESSÊNCIA DO CONHECIMENTO

O conhecimento é determinado pela relação que há entre o sujeito conhecedor e o


objeto a ser conhecido. Por esse motivo investigar essa relação se torna o cerne
principal da teoria do conhecimento. Geralmente atribuímos, com base na nossa
consciência natural que o sujeito é determinado pelo objeto, isto é, suas
configurações mentais o permitem receber seja ativa ou passivamente a informação
que o objeto emana para nós. A pergunta que se faz é se é realmente isso que ocorre,
ou se pelo contrário, não é o objeto que é determinado pelo sujeito. O foco deve ser
dado ao sujeito ou ao objeto?

As respostas ao problema podem ser dadas de diferentes maneiras. Sem estabelecer


a ontologia dessa discussão existem as soluções pré-metafisicas ou anteriores a
metafísica: O objetivismo e subjetivismo. Cada qual dando maior importância para
uma esfera diferente. Ao se acrescentar à discussão metafísica essa questão se
desdobra em duas. Idealismo - que considera que os objetos possuem um “ser” ideal
de pensamento e realismo - que defende que existem objetos reais que são
independentes do pensamento. Retrocedendo e determinando a discussão entre ser
e pensamento existem as soluções teológicas que se distinguem entre monista-
panteísta e dualista-teísta.

1. Soluções Pré-Metafísicas do Problema

a) O objetivismo: O objeto é determinante na obtenção do conhecimento,


defendendo a concepção que o objeto determina o sujeito, fazendo com que
o “sujeito que conhece” se adapte para apreender o objeto, que aparece como
algo determinado. O principal fundador dessa concepção é Platão que
desenvolve o mundo das ideias, onde a verdade pode ser alcançada por meio
do esforço intelectual do filosofo e do método dialético. As ideias são
conhecimentos que existem de forma objetiva, completa e determinados.
Posteriormente, Edmund Husserl recupera essa ideia na sua fenomenologia.
distinguindo a intuição em sensível, onde existem os objetos concretos e o
suprassensível, ondem residiriam as essências universais. A semelhança
entre ambos se encerra na distinção dos mundos, com Husserl defendendo a
essencialidade ideal e Platão dando-lhes realidade ontológica. Platão utiliza a
mitologia para dar explicação a sua teoria, mas Husserl coloca como
capacidade humana uma intuição das essências que se permite entender o
fenômeno.

b) O subjetivismo: Ao contrário da anterior, essa concepção defende que a


subjetividade é relevante na apreensão do conhecimento. Se tem em mente
um sujeito transcendente. O objeto apareceria em suspenso até a atividade do
pensador se iniciar. Agostinho foi o proponente dessa visão. Ele substituiu a
crença no mundo das ideias pela ideia de Deus, em que os objetos do
conhecimento estariam presentes na mente do Ser Supremo e por esse
motivo tal concepção seria um subjetivismo, já que o conhecimento não
estaria mais num mundo objetivo, mas em Deus, para o qual deveríamos nos
voltar para apreender as coisas. O neokantismo é o proponente moderno da
filosofia subjetivista. O sujeito do conhecimento é apenas lógico, sem
elementos psicológicos e metafísicos. É “a consciência em geral” que
personifica as leis e conceitos supremos do conhecimento. Resumidamente
todos os objetos sãoprodução da consciência.
2. Soluções Metafísicas do Problema

a) O realismo: É a posição filosófica acerca da teoria do conhecimento que


acredita e defende a real existência dos objetos fora da consciência humana e
independente dela. Mas ainda que esse ponto de vista seja considerado
existem diferentes degradês de interpretações possíveis no realismo para
Hessen.

Realismo Ingênuo: Posição básica em que não existe nenhum


questionamento epistemológico. Considera como algo evidente que os objetos
existem independente da mente e que seus atributos são reais, enquanto
qualidades objetivas. É o ponto de vista adotado pela filosofia inicial e pelas
pessoas comuns.

Realismo Natural: Possui reflexões críticas e epistêmicas, mas, ainda


considera os objetos como reais e existentes por sí mesmos. A grande
diferença está na distinção entre essência e aparência. Para Aristóteles as
qualidades das coisas realmente têm relação com elas.

Realismo Crítico: Se baseia nas reflexões críticas e epistemológicas.


Argumentando que não são todas as qualidades das coisas que são
apreendidos por nós. Mas apenas aquelas obtidas por um dos sentidos. As
formas que esses objetos tomam dependem da nossa consciência, mas é dado
como certo de que existem na realidade. Demócrito foi o primeiro defensor
dessa concepção que só foi recuperada por Galileu na modernidade e
encontrou espaço na física moderna, na fisiologia e na psicologia. Descartes a
Hobbes dedicaram tempo em torná-la ainda mais bem fundamentada e Locke
a aprimorou e difundiu por meio da ideia de qualidades primárias e
secundárias.

Realismo Volitivo: Tese segundo qual a realidade não pode se comprovada


pelo conhecimento, mas apenas vivida e experenciada. É o querer que traz a
certeza sobre a facticidade dos objetos exteriores, das quais só podemos
chegar por meio da razão. Seres de entendimento puro não pode ter acesso a
verdade pois esta é fruto de nossa vontade. O esforço de compreendê-las é
que as torna cognoscíveis. Esta concepção é contemporânea e presente no
filósofo Dilthey.

b) O idealismo: É a concepção segundo o qual não existem os objetos fora da


consciência e independentes dela. Basicamente as coisas só existem na
consciência do ser e diferentes filósofos vão dar diferentes contribuições para
essa teoria.

Idealismo Subjetivo: Considera os objetos que existem na consciência, como


os sentimentos e as representações das coisas e por isso é considerado
subjetivo. Os objetos só existem quando são percebidos e deixam de existir
quando não são percebidas. O filósofo que primeiro defendeu essa concepção
foi George Berkeley, para responder aos céticos e aos ateus. Berkeley
considera que as ideias continuam existindo mesmo quando não são
percebidas por nós, pois existem na mente de Deus, que sempre as perceberá.
Esse é o caráter teológico da filosofia de Berkeley, porém filósofos posteriores
agregaram a ela mais conteúdo como Mach e Avenarius em sua teoria
chamada de empiriocriticismo e Shuppe e a sua filosofia da imanência. Para
os primeiros só existem as sensações e nos outros o ser é imanente a
consciência.

Idealismo Lógico: Pensa por meio de objetos ideais como a lógica e a


matemática. Esse idealismo defende a consciência objetiva de um ponto de
vista amplo, a consciência intelectual que repousa sobre as ciências. Nessa
concepção são levados em consideração os juízos de pensamento. Essa visão
coloca no sujeito a faculdade de apreender e construir em sua mente os objetos
lógicos, logo os objetos são produzidos no pensamento. Essa proposição é
defendida pelos neokantianos e pelo idealismo alemão, cada qual a sua
maneira. Fichte a sua maneira, ao buscar os fundamentos das ciências os
considerou enquanto objetos ideias e irredutíveis, desenvolvendo a ideia de
“Eu absoluto”. Hegel em seguida separou as concepções psicológicas e
metafísicas, ficando com a lógica em seu estado mais refinado.

c) O fenomenalíssimo: Tentativa de reconciliar as posições realistas e


idealistas, na questão sobre a essência do conhecimento. Foi desenvolvido por
Kant e recebe esse nome pois o sujeito só tem acesso as formas como as
coisas aparecem para o intelecto e não ao objeto em sí, ou a “coisa em sí”. O
homem só teria acesso ao fenômeno e não ao númeno. As coisas reais
existem, mas ninguém tem contato com sua verdadeira essência. O
fenomenalíssimo concorda com o realismo ao afirmar que existem coisas reais
e com idealismo ao afirmar que o conhecimento está limitado a realidade
apresentada à consciência, resultando em una limitação da mente humana de
conhecer verdadeiramente as coisas. Aqui se apresentam duas
considerações: A de que a coisa em sí não pode ser conhecida e de que nosso
conhecimento se limita ao mundo do fenômeno.

O realismo crítico já compreendia em filósofos como Locke que as qualidades


secundárias como cheiros e cores existiam apenas na mente do sujeito, porém
o fenomenalíssimo e Kant vai além ao acrescentar também as qualidades
primárias como formas e extensões, movimento, espaço e tempo. Kant
considera que espaço e tempo são formas intuitivas que a nossa consciência
usa para compreender a realidade. Além disso as propriedades conceituais
também são condicionadas, mas por algumas formas e funções a priori do
entendimento, que funcionam quando são estimuladas pela sensação sem que
o sujeito tenha qualquer influência ou controle. Alguns exemplos seriam: a)
Atribuir o conceito de propriedade as coisas do mundo; b) Considerar as
aparências como dotadas de substância; c) Atribuir causalidade a
determinados eventos que se seguem; Além de pensar em efetividade,
possibilidade e necessidade. E nesse caso outra consideração se apresenta:
O mundo aparece em nossa consciência porque colocamos em ordem e
processamos as informações por meio das formas a priori da intuição e do
entendimento.

d) Posicionamento Crítico: Tanto o idealismo quanto o realismo carecem de


argumentações tácitas e logicamente verdadeiras para garantir a veracidade
de suas proposições. Hessen defende que o realismo tem mais harmonia com
relação as ciências do que o idealismo, mas ainda sim carece de razões
universais e necessárias. No campo puramente teórico a disputa ainda não se
encerra, mas o realismo volitivo tem uma vantagem frente ao idealismo: A sua
atuação prática. Já que o homem quer e age conforme esse querer.

Frente as perguntas sobre a essência do conhecimento - existência dos


objetos, conhecimento e determinações - não somos capazes de omitir uma
opinião satisfatória sem adotar uma teoria do conhecimento. Comparando a
posição Aristotélica com a Kantiana vemos que na primeira: Os objetos do
conhecimento existem e são copiados para a mente humana inclusive com a
sua ordem intacta. Isso se deve ao modo de pensar da cultura grega e seu
senso estético de harmonia e ordem, sua função é receptora e de certo modo
repleta de uma passividade frente ao conhecimento. Na segunda, entretanto,
o conhecimento não está pronto, mas é a mente humana quem o organiza e
dá sentido por meio de suas categorias mentais pré-estabelecidas. Essa visão
se caracteriza pela atividade do ser cognoscente.

A duplicidade da realidade: Essa consideração deve ser tomada uma vez que
a existência de um mundo mental e de um mundo físico torna aparente a
existência de uma dupla realidade que acomete o conhecimento, nesse caso
a teoria de Kant se sai melhor do que a de Aristóteles por ele se esforçar em
trabalhar com suposições anteriores que ofusquem seu pensamento.

3. Soluções Pré-Metafísicas do Problema

a) A solução monista-panteísta: Volta a questão para o princípio da realidade


e a noção de absoluto. Não pode existir problema entre sujeito e objeto se eles
são considerados uma coisa só ou una. A dualidade é apenas aparente, cuja
verdadeira forma é uma unidade essencial e por isso metafisica. Spinosa é
precursor dessa ideia distinguindo pensamento (ideal) de extensão (material).
De acordo com essa concepção as conexões de ideias são semelhantes as
coisas. Schelling continua essa argumentação definindo que o absoluto é o
que dá unidade ao espírito e a natureza do objeto e do sujeito também é
unívoca, apesar de relevantes as contribuições de Schelling carecem de apelo
as bases científicas.

b) A solução dualista-teísta: Posição adotada pela teologia cristã de Agostinho


e Aquino e recuperada das noções de Platão, Aristóteles e Plotino. Essa tese
defende o dualismo, ou seja, a existência de duas noções de mundo entre o
sujeito e o objeto só que por descenderem do princípio divino ambos se
conectam numa relação de ser e pensamento.

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