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18 Stegmüller: A Filosofia contemporânea

anteriores. Assim, segundo ele, o conceito de juízo verdadeiro é mais fun­


Os problemas da Filosofia atual· 19

J damental do que o conceito de conhecimento. Nas doutrinas tradicionais,


da cognoscibilidade de objetos transcendentes à consciência estaria na hi­
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pótese da correspondência entre as categorias do pensamento e as do ser.
normalmente o conceito de verdade baseia-se na teoria de Aristóteles
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1.1,:
sobre a adequação. Segundo Brentano, este conceito de verdade leva a
diversas dificuldades insuperáveis. Por isso, Brentano vai fundamentar o
conceito de juízo verdadeiro no conceito de evidência, o qual para ele
Hartmann distingue-se de Brentano e dos fenomenólogos principalmente
pela rejeição do conceito de evidência.
Uma analogia com a tentativa de solução dada por Hartmann, a
se torna o eixo de todo o seu sistema. Com isso garante-se simultanea­ correspondência entre os princípios do ser e os do pensamento, encon­
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,, mente uma base de partida empírica, pois a evidência constitui um fenô­ tra-se também na posição oposta, isto é, na filosofia transcendental de
Reininger. Mas com a diferença de que os princípios do pensamento não
meno empiricamente constatável. Através do conceito de evidência apodí­
correspondem às leis de um mundo além da consciência: a correspon­
tica, Brentano chega a conhecimentos apriorísticos, que entretanto não
dência deve ser procurada no âmbito do próprio imanente. Às formula­
são interpretados por ele, como o são por Husserl, como conhecimentos
ções categoriais, que encontramos nos níveis reflexos superiores da cons­
de essências, mas como constatações existenciais negativas realizadas
ciência, têm o seu equivalente naquela experiência original que tudo
com conhecimento interno.
abrange, na qual tem a sua última origem toda expressão quotidiana e
Husserl tentou lançar uma nova fundamentação para a ciência e a filo­ científica.
sofia em geral. A lógica devia ser libertada de todos os preconceitos
Em relação à filosofia de Heidegger não se pode falar de teoria do
psicologísticos que, na opinião de Husserl, terminam necessariamente no conhecimento. Contudo, várias das suas obras contêm considerações es­
relativismo e no ceticismo. A lógica não trata dos casuais fenômenos senciais sobre o problema da verdade e do conhecimento. Destaca-se
psíquicos do ato, mas do conteúdo ideal do significado de expressões novamente o aspecto ontológico com certas modificações da filosofia
lingüísticas; a análise lógica é uma análise de significado e não análise transcendental. O fenômeno do "ser-no-mundo" analisado por Heidegger
de atos psicológicos. Ao contrário de Brentano, Husserl era de opinião torna supérflua a teoria do conhecimento, que se baseia no desdobra­
que devemos aceitar a existência de essências gerais e que, por isso, mento artificial entre sujeito e objeto, e sem sentido a questão da reali­
todo conhecimento apriorístico deve ser interpretado como conhecimento dade do mundo externo. Quanto ao conceito de verdade, Heidegger pro­
essencial. O seu método de redução fenomenológica devia descrever cura reconduzi-lo da esfera do juízo para a área existencial: somente
exatamente o caminho que nos leva a esses conhecimentos essenciais. porque o próprio homem está "na verdade" (mas também "na inverda­
Mas estreitamente ligado ao método de inclusão está também o idealismo de"), são possíveis juízos verdadeiros e falsos a respeito do mundo.
transcendental, ao qual chegou Husserl no decurso das suas reflexões. Também o método da compreensão é baseado em estruturas essenciais
Pois, após a realização da "aniquilação do mundo em pensamento", à da existência humana, que podem ser determinadas a priori.
qual leva aquele método, só deveria restar a esfera da "consciência trans­
A filosofia de Jaspers situa-se fora de todas essas doutrinas teóricas
cendentalmente purificada" que, ao mesmo tempo,' constitui o único
também sob o ponto de vista da teoria do conhecimento. Jaspers não pro­
absoluto, ao qual se relacionam todos os outros seres.
cura fundamentar a possibilidade de um conhecimento filosófico obje­
Outros fenomenólogos, entre os quais especialmente Scheler, não tivo. Ao lado dos juízos científicos intersubjetivamente válidos devem
acompanharam a transformação idealística de Husserl. De acordo com ser colocadas as afirmações da filosofia que já não pretendem mais trans­
Scheler, o fenômeno do conhecimento deve ser considerado sob o aspecto mitir um conhecimento objetivo, mas procuram apelar para a existência
ontológico: o conhecimento deve ser interpretado como uma relação possível no homem e tocar a transcendência divina. O problema da ver­
ontológica entre dois seres; de nenhum modo pode b mundo "que é" ser dade assume uma significação central na filosofia do abrangente. A cada
degradado a um simples objeto intencional de u~ "pura consciência". uma das modalidades do abrangente, que não pode ser percebida objeti­
Também em Hartmann este aspecto ontológico do'--C.onhecimento vamente, corresponde uma farma de verdade própria. A verdade cientí­
ocupa o primeiro plano. Ao mesmo tempo, ele adverte contra uma super­ fica, como a verdade "da consciência", representa apenas um aspecto
valorização do método fenomenológico na teoria do conhecimento. Se­ muito limitado do fenômeno da verdade.
gundo ele, as análises fenomenológicas devem constituir apenas o ponto Na moderna pesquisa fundamental e na filosofia analítica os pro­
de partida. Como tais elas não levam nem a colocações teóricas de pro­ blemas da lógica e da teoria do conhecimento ocupam o primeiro plano
blemas nem a teorias úteis. A fenomenologia do conhecimento deve estar dos interesses. O grande empenho dos sistemas de lógica moderna con­
ligada à aporética, que leva à formulação dos problemas e, numa terceira siste em estabelecer pela primeira vez um sistema completo e preciso das
etapa, à teoria do conhecimento propriamente dita. A solução do enigma regras lógicas que, ao contrário da lógica tradicional, inclua também as

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