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INTRODUÇÃO
1 A FENOMENOLOGIA DE HUSSERL
1
Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina e Professor da Escola de Direito
da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Campus Londrina, e da Universidade Estadual de
Londrina, e-mail: ghbs2002@yahoo.com.br.
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HUSSERL, Edmund. A idéia da fenomenologia. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70, [s.d.], p. 46.
2
Seu pensamento é exemplar da afirmação do conhecimento como
um vivido do sujeito e, nessa linha, incorpora a intencionalidade à Teoria do
Conhecimento, de sorte que, a consciência passa a ser entendida como consciência
de alguma coisa.
3
Ibid., p. 55-6.
4
HUSSERL, Edmund. Die Krise der europäischen Wissenschaften und die transzendentale
Phänomenologie (A crise da ciência européia e fenomenologia transcendental).
5
HUSSERL, Edmund. The Paris Lectures. (As lições de Paris) Trad. e Introd. Peter Koestenbaum.
The Hague: Martinus Nijhoff, 1975, p. XLI.
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conhecimento. O fenômeno é entendido de modo intuitivo; não é dado por
inferência, suposição, dedução ou indução.
6
vd. HABERMAS, Jürgen. Theorie des kommunikativen Handelns. (Teoria da ação comunicativa).
Frankfurt am Maim: Suhrkamp, 1981, v. II, p. 15 ss.
7
HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da modernidade: doze lições. Trad. Luiz Sérgio Repa;
Rodnei Nascimento. São Paulo: Martins Fontes, 2002, pp. 237-8.
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procede como se as funções pragmáticas da linguagem lhes fossem exteriores
Nesse passo, Husserl distingue o signo (Zeichen), que expressa um significado
lingüístico, do índice (Anzeichen). A existência do tampo da mesa indica a dos pés
que a suportam, um nó de barbante no dedo remete a um compromisso que não
pode ser esquecido. Pode-se afirmar que esses sinais evocam na consciência um
estado de coisas. Pouco importa, se o índice está associado por meio de nexos
causais, lógicos, icônicos ou puros nexos convencionais com a existência do estado
de coisas indicados; enquanto índice provoca, em virtude da associação intencional,
a representação de um estado de coisas não presente. O índice não diferencia o
objeto do conteúdo predicado. Eis que, Husserl formulou as relações intersubjetivas
produzidas na comunicação na perspectiva de uma consciência transcendental
dirigida a objetos intencionais, de modo que, o processo de entendimento recíproco
decompõe-se na “emissão” (Kundgabe) de um falante que produz sons, associados
com atos que conferem sentido, e na “recepção” (Kundnahme) do ouvinte, para o
qual os sons percebidos indicam as vivências físicas e psíquicas. A crítica
empreendida à formulação da consciência permite afirmar que os próprios sujeitos
se percebem a partir do exterior, como objetos. Então, a comunicação entre eles é
concebida segundo o padrão da sinalização de modo expressivo. Ao voltar-se os
elementos da fenomenologia de Husserl para a comunicação pode-se dizer que, os
signos mediadores funcionam como índices de atos que o outro realiza inicialmente
na vida solitária da alma8.
8
HUSSERL, Edmund. Logische Untersuchungen. (Investigações lógicas). v. II, Tübingen, 1913, p. 33;
HABERMAS, op. cit., p. 238.
9
HUSSERL, Edmund. Logische Untersuchungen. (Investigações lógicas). V. II, Tübingen, 1913, p. 35
apud HABERMAS, op. cit., p. 239.
6
Habermas afirma que o monólogo interior torna o substrato do signo
em “algo indiferente em si”. A expressão afasta-se do interesse e aponta para o
sentido. O índice é percebido como um “isto-aqui”, um ente. “Na imaginação,
idealizamos um signo verbal falado ou impresso, que na verdade não existe
absolutamente”10. Motivo pelo qual, Husserl ancora a identidade do significado, em
algo diferente das regras do uso dos signos (pragmática), no já dito “mundo vivido”.
Isso porque, esta pressupõe uma conexão interna entre a identidade dos
significados e a validade intersubjetiva das regras de significado. Enquanto que, a
fenomenologia de Husserl postula o primado dos significados puros; só pelo uso
desses conhecimentos originários torna-se possível participar de um jogo de xadrez:
10
HUSSERL, Edmund. Logische Untersuchungen. (Investigações lógicas). V. II, Tübingen, 1913, p.
36; HABERMAS, op. cit., p. 240.
11
HUSSERL, Edmund. Logische Untersuchungen. (Investigações lógicas). V. II, Tübingen, 1913, p.
69 apud HABERMAS, op. cit., p. 240.
12
HUSSERL, Edmund. Logische Untersuchungen. (Investigações lógicas). V. II, Tübingen, 1913, p.
104 apud HABERMAS, op. cit., p. 241.
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uma nova formação de conceitos nos ensina como se realiza um significado nunca
antes realizado”13.
13
HUSSERL, Edmund. Logische Untersuchungen. (Investigações lógicas). V. II, Tübingen, 1913, p.
104 apud HABERMAS, op. cit., p. 241.
14
HABERMAS, Jürgen. Verdade e justificação: Ensaios filosóficos. Trad. Milton Camargo Mota. São
Paulo: Loyola, 2004, p. 21. White esclarece que a noção de “mundo da vida” [Lebenswelt] foi
introduzida, na obra de Habermas, para ligar a teoria da ação mais convincentemente aos processos
de racionalização. Isto significa compreender não apenas como ações particulares poderiam ser
julgadas como racionais, mas como o potencial de racionalidade tornado disponível na cultura
moderna é “alimentado nas” ações particulares, tornando assim possível “uma conduta de vida
racional” em geral, vd. WHITE, Stephen K. Razão, justiça e modernidade: a obra recente de Jürgen
Habermas. Trad. Márcio Pugliesi, São Paulo: Ícone, 1995, p. 97.
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demarca uma teoria do conhecimento guiada por uma teoria pragmática da
linguagem e afirma que a utilização do conceito de mundo da vida nas ciências
sociais exige uma alteração de método da atitude (performativa) da [primeira e]
segunda pessoa, para a atitude (teórica) da terceira pessoa.
NOTAS FINAIS
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HABERMAS, Jürgen. Racionalidade e comunicação. Trad. Paulo Rodrigues. Lisboa: Edições 70,
2002, p. 127.
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O recurso ao mundo vivido almeja recuperar o mundo da vida como
o reino imediatamente presente dos feitos originários. Pretende que a formulação de
um conhecimento universal pré-reflexivo e não temático – que faz parte da
competência lingüística – seja útil para a produção de atos de fala de um modo
geral, gerando ação comunicativa embora não sirva de complemento e suplemento à
mesma.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HUSSERL, Edmund. The Paris Lectures. (As lições de Paris) Trad. e Introd. Peter
Koestenbaum. The Hague: Martinus Nijhoff, 1975.