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UNIDADE I

Psicologia
Fenomenológica
Profa. Mércia Gomes
Apresentação da Unidade I – Psicologia fenomenológico-existencial

Objetivo:

 compreender as bases epistemológica e filosófica da fenomenologia;

 situar os principais pensadores que fundamentam essa perspectiva.


Sobre a fenomenologia

 A fenomenologia é uma perspectiva da filosofia.


 Filosofia é um esforço sistemático de entender a realidade e o homem.
 Filosofia, do grego: Filo + Sofia = Amor + Sabedoria.
 Fenomenologia não é uma abordagem psicológica.
 Fenomenologia é um método de como se conhecer, o que a torna uma reflexão,
pois quem conhece é o homem.
 Há diferentes fenomenologias.
 Apresentaremos o precursor, Edmund Husserl (1859-1938).
 A fenomenologia traz grandes contribuições para a
psicologia. Estudaremos a de Martin Heidegger, que
colabora para o desenvolvimento de uma
abordagem terapêutica.
Filosofia – fim do século XIX

 Psicologia – disciplina especulativa e filosófica.


 Estudos das faculdades mentais.
 1879 – W. Wundt funda o laboratório de psicologia científica.
 Início da ciência aplicada.

Duas vertentes para o conhecimento:


 Primazia do objeto X primazia do sujeito.
 Objetividade X faculdades mentais.
Vida e obra: Edmund Husserl

 República Tcheca.

 Filho de comerciantes judeus.

 1876 – início dos estudos universitários.

 Foco na matemática.

 Estuda astronomia, física, filosofia e psicologia


com Wundt.

 1882 – tese de doutorado: “O cálculo das variações”.


Método de acesso

 Naturalistas – viés organicista na Psicologia.


 Foco na objetividade.
 Realidade objetiva.
 Método mensurável.
 Busca por leis universais.
 Necessidade de hipóteses.

 Psicologistas – viés da representação e da subjetividade


na Psicologia.
 Objetividade alcançada pelo sujeito “puro”.
 As leis objetivas são convenções subjetivas explicáveis
pelo psicólogo.
Contribuições de Husserl

 Busca fundamentar o conhecimento verdadeiro, isento de pressupostos.


 Críticas ao naturalismo. Primazia do orgânico.
 Críticas ao psicologismo. Primazia do psicológico.
 Fenomenologia como saída à crise das ciências.
 Crítica à pretensão da cientificidade.
 Crítica à determinação psicofísica.
 Ambos estão fundamentados em pressupostos que desconhecem.
A antessala da fenomenologia: Franz Brentano (1838-1917)

 Filósofo, professor de importantes pensadores como Husserl e Freud.

 Trouxe contribuições fundamentais para o campo da psicologia, que ele definia


como ciência dos fenômenos psíquicos.

 Atos mentais são experienciáveis, intencionais.

 Resgate de termo da filosofia aristotélica.

 Intentio – dirigir-se a…
Fenomenologia para Husserl

 Ciência rigorosa – fundamenta diferentes ciências.

 Ciência primeira – como se formam os pressupostos e está livre desses.

 Relação intencional – consciência intencional


X
objeto significativo

 Conceito de intencionalidade – supera psicologismo,


logicismo e naturalismo.
Fenomenologia como método investigativo

Atitude natural

Atitude fenomenológica

 Epoché – etapa do método fenomenológico.


Interatividade

Leia atentamente a seguinte afirmação de Husserl:

 “Mostra-se, pois, por toda a parte, esta admirável correlação entre o fenômeno
do conhecimento e o objeto de conhecimento. Advertimos agora que a tarefa da
fenomenologia, ou antes, o campo das suas tarefas e investigações, não é uma
coisa tão trivial como se apenas houvesse que olhar, simplesmente abrir
os olhos.” (HUSSERL, 1907/1990, p. 33) [Referência bibliográfica: HUSSERL, E.
“A Ideia da Fenomenologia”. Trad.: Artur Morão. 1. ed. 1907. Lisboa: Edições
70, 1990]
Interatividade

Sobre essa citação, é correto afirmar que:


a) a passagem se refere à intencionalidade da consciência, que pode ser descrita
como a propriedade de toda consciência ser referida a um objeto e todo objeto
só ser enquanto referido a uma consciência.
b) por meio dessa concepção, sujeito cognoscente e objeto conhecido são
entidades separadas.
c) a fenomenologia é um método rígido, pois exige como fundamento a atitude
natural em relação ao mundo para poder conhecer sua constituição.
d) o fenomenólogo precisa do método fenomenológico
para conhecer os fenômenos, esses são
naturalmente constituídos.
e) a passagem se refere à consciência que, nessa
perspectiva, é passiva em relação ao mundo.
Resposta

Leia atentamente a seguinte afirmação de Husserl:

 “Mostra-se, pois, por toda a parte, esta admirável correlação entre o fenômeno do
conhecimento e o objeto de conhecimento. Advertimos agora que a tarefa da
fenomenologia, ou antes, o campo das suas tarefas e investigações, não é uma
coisa tão trivial como se apenas houvesse que olhar, simplesmente abrir
os olhos.” (HUSSERL, 1907/1990, p. 33) [Referência bibliográfica: HUSSERL, E.
“A Ideia da Fenomenologia”. Trad.: Artur Morão. 1. ed. 1907. Lisboa: Edições
70, 1990]
Resposta

Sobre essa citação, é correto afirmar que:

a) a passagem se refere à intencionalidade da consciência, que pode ser descrita


como a propriedade de toda consciência ser referida a um objeto e todo objeto
só ser enquanto referido a uma consciência.
Fenomenologia existencial de Martin Heidegger

 Livro “Ser e tempo” (1927) – usa a fenomenologia


para investigar a existência.
 Filosofia ocidental: perguntar sobre o Ser das coisas e do homem.
 Método fenomenológico para acessar o Ser.
 Atitude fenomenológica – suspensão de pressupostos.
 Perguntar ao Ser o que ele é!
 Perguntar pelo ente que compreende Ser, ou seja, o homem.
 Distinção entre Ser (sentido) e ente (concretude, coisa).
 Perguntar pelo sentido de Ser em geral.
 O Ser do homem é a condição humana (existenciais).
Obra “Ser e tempo” (1927), de Heidegger

 Heidegger propõe uma analítica do homem.

 Uso de terminologia própria.

 Homem denominado como Dasein.

 Dasein = Ser-aí.

 Do alemão: Da = Aí e Sein = Ser.

 Uso do hífen na fenomenologia-existencial.


Analítica do Dasein

 Descrição do Ser dos homens.


 Ôntico – entes históricos, concretos.
 Ontológico – Ser dos entes. Aspectos essenciais dos entes.

 Existenciais – aspectos essenciais da existência humana.


X
 Categorias – descrição de propriedades (do ser) das coisas.

 Humano como manifestação única.


 Dasein compreende Ser.
 Ente = é o que é.
Interatividade

 Sobre o Ser-aí, Heidegger escreve que “é próprio deste ente que seu ser se lhe
abra e manifeste com e por meio do seu próprio ser, isto é, sendo.
A compreensão do ser é, em si mesma, uma determinação do ser do Dasein. O
privilégio ôntico que distingue o Dasein está em ser ele ontológico” (1927, p. 38).

Nessa afirmação estão presentes dois conceitos essenciais à compreensão da


fenomenologia-existencial e para a implicação das descrições de Heidegger para as
ciências do homem. A saber, tratam-se dos conceitos de “ontológico” e “ôntico”, que
significam, respectivamente:
Interatividade

a) “Ontológico” é a constituição do aparelho psíquico do Ser-aí, enquanto “ôntico”


se refere às representações que o preenchem.
b) “Ontológico” é a constituição essencial do Ser-aí, enquanto ôntico refere-se aos
modos concretos possíveis em que essa constituição se manifesta
cotidianamente.
c) “Ontológico” significa que se refere ao Ser-aí, enquanto “ôntico” se refere ao ser
dos objetos.
d) “Ontológico” significa a possibilidade de conscientização
do Ser-aí sobre si mesmo, enquanto “ôntico” se refere
ao modo irrefletido em que as pessoas vivem.
e) “Ontológico” é sinônimo de “fenomenológico”, enquanto
“ôntico” se refere às abordagens não fenomenológicas.
Resposta

a) “Ontológico” é a constituição do aparelho psíquico do Ser-aí, enquanto “ôntico”


se refere às representações que o preenchem.
b) “Ontológico” é a constituição essencial do Ser-aí, enquanto ôntico refere-se aos
modos concretos possíveis em que essa constituição se manifesta
cotidianamente.
c) “Ontológico” significa que se refere ao Ser-aí, enquanto “ôntico” se refere ao ser
dos objetos.
d) “Ontológico” significa a possibilidade de conscientização
do Ser-aí sobre si mesmo, enquanto “ôntico” se refere
ao modo irrefletido em que as pessoas vivem.
e) “Ontológico” é sinônimo de “fenomenológico”, enquanto
“ôntico” se refere às abordagens não fenomenológicas.
Existenciais

 Definidos em Ser e tempo a partir da descrição fenomenológica – livre de


pressupostos – da constituição ontológica do Dasein.
 Essa não é a “essência” ou natureza do Dasein. São perspectivas para acessar
a Existência.
 Existência refere-se exclusivamente ao homem, aquele capaz de refletir sobre o
ser. Para Heidegger, o homem é abertura.
 Os existenciais são os caracteres ontológicos do Dasein.
 Ser-no-mundo.
 Temporalidade.
 Finitude ou ser-para-a-morte.
 Cuidado ou cura.
 Culpa.
Ser-no-mundo

 Compreensão de Dasein como um ser que acontece aí, no mundo, em um


espaço, com os outros.
 Estar sempre em uma relação significativa consigo mesmo, com os outros e com
as coisas.
 Existencial ser-no-mundo compreende ser-com-os-outros.
 Ser inclui ser-consigo-mesmo e considera a capacidade do pensamento reflexivo.
Existência. Sei que existo e me pergunto sobre mim.
 Heidegger não se ocupa das descrições ônticas
dos diversos modos concretos do Dasein existir.
 Descrição ôntica é tarefa do psicólogo, por exemplo.
Temporalidade

 Usado para diferenciar o conceito usual de tempo cronológico. Sequência linear


e infinita de agoras.
 O tempo do Dasein é outro, pois sabe-se finito. Há um tempo certo, porém ainda
não revelado. Para Heidegger, “decisão antecipadora” da morte.
 Dasein como tarefa a ser realizada. Facticidade (ex.: origem – delimita minhas
possibilidades, mas não me determina).
 Dasein é sua situação, que inclui contexto, outro e relação.
 Futuro como porvir – funda possibilidades.
 Passado como ser-sido.
 Presente como presentificação, no qual todos os tempos
se articulam.
Ser-para-a-morte

 Angústia existencial.

 Assumir-se como ser único, insubstituível e destinado a ser.

 Existir é tarefa.

 Homem condenado a ser livre, como no Existencialismo de Sartre.

 Impossibilidade é diferente de morte biológica.

 Impossibilidade = não poder ser como era. Articula-se


com a facticidade.

 Dasein se coloca como cuidado.


Cuidado ou cura

 Sorge, palavra alemã utilizada por Heidegger.

 Dasein é ontologicamente inacabado; precisa realizar-se.

 Realizar-se acontece em relação aos demais e à significatividade.

 Dasein como possibilidade, ou seja, nunca acabado. Abertura.

 Sempre faltando algo. Portanto, Dasein se constitui culpado.

 O cuidado é uma dimensão ontológica do homem,


que se expressa onticamente como cuidando bem
ou mal.
Culpa

 Schuld, palavra alemã utilizada por Heidegger, que significa “débito”.


 Dasein em débito consigo mesmo ao realizar-se.
 A culpa só deixa de existir na morte.
 A possibilidade da morte é constante na vida do Dasein.
 Dasein não realiza sua morte, pois quando essa acontece, ele não está
mais aí para vivenciá-la.
 Sentimento relacionado a olhar para trás e concluir que poderia ter feito diferente;
desejar não ter feito o que fiz ou ter feito o que não fiz.
 Existir é escolher e renunciar, trazendo dúvidas.
 Culpa não é para ser eliminada. É condição
da existência.
Interatividade

Pompeia (2004) afirma que:

 “Poder existir é uma oportunidade que se renova a cada instante. Pode ser que
vivamos só este momento ou por mais alguns dias, anos, até mais de cem anos.
Pode, não tem de ser assim, apenas pode. A vida não é um direito nosso, pois
pode ser arrebatada a qualquer momento; não é um dever nosso, pois não nos
é dada como condição de necessidade, mas é uma contingência.”
Interatividade

Assim, existir emerge como projeto. A partir desse contexto, a afirmação correta
abaixo é:

a) O determinismo encontra-se aí na condição de ser-para-a-morte.


b) A experiência humana da vida é, originariamente, fixada em um dado tempo
e em um dado espaço.
c) A relação entre o homem e sua existência depende do modo como ele enfrenta
sua condição de mortal.
d) A existência só pode ser compreendida a partir de uma
análise cronológica dos eventos que permeiam a vida
de cada homem.
e) O horizonte existencial do homem é infinito
e indeterminado.
Resposta

Assim, existir emerge como projeto. A partir desse contexto, a afirmação correta
abaixo é:

a) O determinismo encontra-se aí na condição de ser-para-a-morte.


b) A experiência humana da vida é, originariamente, fixada em um dado tempo
e em um dado espaço.
c) A relação entre o homem e sua existência depende do modo como ele enfrenta
sua condição de mortal.
d) A existência só pode ser compreendida a partir de uma
análise cronológica dos eventos que permeiam a vida
de cada homem.
e) O horizonte existencial do homem é infinito
e indeterminado.
Hannah Arendt (1906-1975)

 Filósofa alemã, ex-aluna de Heidegger e radicada nos EUA.


 Filosofia é a capacidade de avaliar a vida e modificá-la, diferentemente de
Heidegger, que acreditava que a filosofia exige descomprometimento com
a vida cotidiana.
 Relação íntima entre filosofia a ação. Portanto, ao transformar nossas crenças,
transformamos nosso jeito de ser.
 Ser-no-mundo-com-os-outros: a existência se realiza concomitantemente no
singular (eu sou) e no plural (no mundo com os outros).
 Suspensão dos conceitos de psiquismo, sujeito
e indivíduo.
 Filme: “Hannah Arendt” (2012). Direção Margarethe
Von Trotta.
Historiobiografia de Dulce Critelli

 Filósofa brasileira, criadora da historiobiografia, em 2012.


 Abordagem terapêutico-pedagógica que articula história e biografia,
aspectos fundamentais da existência.
 História: sentido duplo – narrativa e conhecimento do passado.
 Biografia: constituição da história pessoal ao longo do existir.
 Critelli (2012) indica três guias de viver: relatos, historietas e histórias.
Diferenciam-se pela abrangência temporal e complexidade.
 Costura histórica do existir.
 Visa à redescoberta do sentido da vida por meio
da compreensão da história pessoal.
 Fundamentada na filosofia de Hannah Arendt.
Características da historiobiografia de Critelli (2012)

 Possibilidade de fazer uso da filosofia, assim como entendida por Hannah Arendt.

 Ação como condição humana. Homem é iniciador.

 Existir é ser iniciador. Suspensão radical de quaisquer a priori que


substancializam a existência.

 Existir vem da junção dos radicais gregos Ek-Sistere.

 Ek = fora + Sistere = ser.

 Implica mundo.
Interatividade

Leia as duas frases de Critelli (2012, p. 26) e, considerando a relação entre elas,
indique a alternativa correta.

 “Os homens experimentam uma necessidade ontológica de compartilhar seus


conhecimentos, suas descobertas, seus sentimentos e pensamentos.”
Pois,
 “para os homens, tudo o que chamamos de real é aberto e sustentado pelo viver
em conjunto.”
Interatividade

Assinale a alternativa correta.

a) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda é uma justificativa correta


da primeira.
b) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda não é uma justificativa correta
da primeira.
c) A primeira afirmação é uma proposição verdadeira e a segunda é uma
proposição falsa.
d) A primeira afirmação é uma proposição falsa
e a segunda é uma proposição verdadeira.
e) Tanto a primeira como a segunda são
proposições falsas.
Resposta

Assinale a alternativa correta.

a) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda é uma justificativa correta


da primeira.

 “Os homens experimentam uma necessidade ontológica de compartilhar seus


conhecimentos, suas descobertas, seus sentimentos e pensamentos.”
Pois,
 “para os homens, tudo o que chamamos de real é aberto
e sustentado pelo viver em conjunto.” (p. 26)
ATÉ A PRÓXIMA!

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