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A filosofia e os demais

ramos do saber humano


Introdução à filosofia
Prof.ª Dr.ª Alexsandra Andrade Santana
Objetivos da aula

Identificar as características inerentes da


filosofia.
Comparar a filosofias com a arte, a religião
e a ciência.
Apresentar algumas áreas de interesse da
filosofia.
Refletir sobre a influência da filosofia na
educação.
Filosofamos partindo do que sabemos para o que
não sabemos, para o que parece que nunca
poderemos saber totalmente; em muitas ocasiões
filosofamos contra o que sabemos, ou melhor,
repensando e questionando o que
acreditávamos já saber. Então nunca podemos
tirar nada a limpo? Sim, quando pelo menos
conseguimos orientar melhor o alcance de nossas
dúvidas ou de nossas convicções. Quanto ao
mais, quem não for capaz de viver na incerteza
fará bem em nunca se pôr a pensar.
(Savater apud Aranha, 2012, p. 7, grifos do autor)
A ESSÊNCIA DA FILOSOFIA
A ESSÊNCIA DA FILOSOFIA

Qual a essência da filosofia? Qual método usar


para responder a essa pergunta?
1. Pelo significado: amor à sabedoria, aspiração ao
saber, ao conhecimento (risco: excessivamente
genérico).
2. Reunir e compara as diferentes definições dos
filósofos ao longo da história da filosofia (risco:
definições são muito divergentes).
3. Através do fato histórico da filosofia (Dilthey) (risco:
problema da circularidade).
Problema da circularidade

“Eu já devo saber o que é filosofia caso


pretenda obter seu conceito a partir dos
fatos” (Hessen, 1999, p. 4).
Onde está
Wally?
Problema da circularidade

“Eu já devo saber o que é filosofia caso


pretenda obter seu conceito a partir dos
fatos” (Hessen, 1999, p. 4).

 Solução: não partir de um conceito


definitivo, mas de uma representação
geral de filosofia.
Representação geral

São marcas essenciais da filosofia:


1. A atitude em relação à totalidade dos objetos;
2. O caráter racional, cognoscitivo dessa atitude.
(Hessen, 1999, p. 5).
Conceito puramente formal.
Ponto de partida para “apreender [...] a
totalidade do desenvolvimento histórico da
filosofia” (Hessen, 1999, p. 5).
Desenvolvimento histórico da filosofia

Sócrates e Platão – filosofia como visão de si:


“(...), a filosofia aparece em Sócrates e mais ainda em
Platão como autorreflexão do espírito [mente,
pensamento] a respeito de seus mais altos valores
teóricos e práticos, os valores do verdadeiro, do bom e
do belo” (Hessen, 1999, p. 6).
Aristóteles – filosofia como visão do mundo
metafísica como estudo da “essência das coisas, a
contingência e os princípios últimos da realidade”
(Hessen, 1999, p. 6).
Desenvolvimento histórico da filosofia

Estoicos e epicuristas – filosofia como filosofia de


vida
autorreflexão de si sobre questões práticas da vida.
Idade Moderna
Filosofia como conhecimento do mundo: Descartes,
Espinosa e Leibniz.
Filosofia como visão de si: Kant adota uma postura
mais platônica de autorreflexão, mas agora “como
reflexão da pessoa culta a respeito de todo o seu
comportamento valorativo” (Hessen, 1999, p. 7).
Desenvolvimento histórico da filosofia
 Século XIX:
1) idealismo alemão de Schelling e Hegel adota
uma filosofia aristotélica;
2) Com os neokantianos, a filosofia assume um
caráter puramente formal, metodológico
(abandono do conteúdo e da visão de mundo
kantiana);
3) Retorno ao aristotelismo como a metafísica
indutiva (Hartmann, Wundt e Driesch), filosofia
intuitiva (Bergson) e na moderna fenomenologia
(Husserl e Scheler).
Marcas essenciais da filosofia

Toda a história da filosofia aparece, enfim,


como um movimento pendular entre esses
dois pontos. Isso prova, porém, que esses
dois elementos pertencem ao conceito
essencial. Não se trata de um ou-isto-ou-
aquilo, mas de um tanto-isto-quanto-aquilo.
A filosofia é ambas as coisas: visão de si e
visão de mundo. (Hessen, 1999, p. 8).
Marcas essenciais da filosofia

1. A atitude em relação à totalidade dos


objetos;
 Mundo exterior(macrocosmo) – “visão de
mundo”
 Mundo interno (microcosmo) – “visão de
si”
2. O caráter racional, cognoscitivo dessa
atitude. (Hessen, 1999, p. 5).
A essência da filosofia [uma resposta]
Assim, em essência “a filosofia é: autorreflexão do
espírito sobre seu comportamento valorativo teórico
e prático e, igualmente, aspiração a uma
inteligência das conexões últimas das coisas, a uma
visão racional de mundo”. (Hessen, 1999, p. 9)
Se tomarmos a autorreflexão de si como um meio
para alcançar a imagem do mundo, “a filosofia é a
tentativa do espírito humano de atingir uma visão de
mundo, mediante a autorreflexão sobre suas funções
valorativas teóricas e práticas” (Hessen, 1999, p. 9).
A FILOSOFIA E AS DEMAIS FORMAS
DE SABER
Religião

Conhecimento intuitivo, sem questionamentos;


Compreensão plena de mistérios.
Quanto à origem da visão de mundo:
fé religiosa x conhecimento racional
vivência religiosa x conhecimento
universalmente válido
Arte

quanto à origem da visão de mundo:


vivência e intuição x conhecimento racional.
 O espírito da arte se dirige a “um ser e a um
acontecer concretos. [...]. na medida em
que interpreta um ser ou acontecer
particular, o verdadeiro artista nos dá
indiretamente uma interpretação da
totalidade do mundo e da vida.” (Hessen,
1999, p. 11).
A intuição e imaginação

A imaginação, ao tornar o mundo presente em


imagens, nos faz pensar. Saltamos dessas imagens
para outras semelhantes, fazendo uma síntese
criativa. O mundo imaginário assim criado não é
irreal. É, antes, pré-real, isto é, antecede o real
porque aponta suas possibilidades em vez de fixá-lo
numa forma cristalizada. Por isso, a imaginação
alarga o campo do real percebido, preenchendo-o
de outros sentidos. (Aranha, 2003, p. 374)
Ciência
 tem afinidade com a filosofia: mesma atitude
intelectual (o pensamento) e interesse pelo necessário.
 distinguem-se:
 Quanto ao objeto: parte da realidade (ciência) ou a
totalidade do real (filosofia).
“A totalidade do ente é mais do que uma soma dos
diferentes domínios parciais da realidade que constituem o
objeto das ciências particulares. [...], a totalidade é um
objeto novo, de outro tipo” (Hessen, 1999, p. 10).
 Quanto ao objetivo: explicar a realidade(ciência) ou a
busca do sentido da realidade (filosofia e religião).
Conhecimento científico: demonstração
(Aristóteles)

 “[...] o objeto do conhecimento científico existe


necessariamente, e por isso é eterno [...]” (Aristóteles,
2021, [EN, VI, 3], p. 134).
 “Considera-se que toda ciência pode ser ensinada, e
seu objeto, aprendido” (Aristóteles, 2021, [EN, VI, 3], p.
134).
 “O conhecimento científico é, então, um estado que
nos faz capazes de demonstração, [...]” (Aristóteles,
2021, [EN, VI, 3], p. 134).
Conhecimento cientifico : descrição

 A síntese consiste "em assumir que as causas foram


descobertas, em pô-las como princípios e em explicar
os fenômenos partindo de tais princípios e
considerando como prova essa explicação".
 A análise, ao contrário, consiste "em fazer experimentos
e observações, em deles tirar conclusões gerais por
meio da indução e em não admitir, contra as
conclusões, objeções que não derivem dos
experimentos ou de outras verdades seguras" (Newton.
Óptica, III, 1, p. 31).
Conhecimento cientifico: descrição

"As ciências todas, fechadas, o máximo


possível, nos fatos e nas conseqüências que
delas podem ser deduzidos, não fazem
concessões à opinião, a não ser quando a isso
são obrigadas“ (D'Alembert, Discours
préliminaire de Encyclopédie, p. 143).
"O conceito fundamental da Ciência é o da lei
científica e o objetivo fundamental de uma
Ciência é estabelecer leis." (R. B. Braithwaite,
Scientific Explanation, Cambridge, 1953, p. 2).
Conhecimento cientifico:
corrigibilidade (verificação)
"Podemos definir a Ciência como um Sistema
autocorretívo... A Ciência convida à dúvida. Pode
desenvolver-se ou progredir não só porque é
fragmentária, mas também porque nenhuma
proposição sua é, em si mesma, absolutamente certa,
e assim o processo de correção pode atuar quando
encontramos provas mais adequadas. Mas é preciso
notar que a dúvida e a correção são compatíveis com
os cânones do método científico, de tal modo que a
correção é o seu elo de continuidade" (Morris R.
Cohen, Studies in Philosophy and Science, 1949, p. 50).
Conhecimento cientifico:
corrigibilidade (falsificação)
"Nosso método de pesquisa não visa defender as
nossas antecipações para provar que temos razão,
mas, ao contrário, visa destruí-las. Usando todas as
armas do nosso arsenal lógico, matemático e
técnico, tentamos provar que nossas antecipações
são falsas, para apresentar, no lugar delas, novas
antecipações não justificadas e injustificáveis, novos
'preconceitos apressados e prematuros' como
escarnecia Bacon" (K. Popper, The Logic of Scientific
Discovery, 2a ed., 1958, § 85, p. 279).
Conhecimento cientifico:
corrigibilidade (falsificação)
"O velho ideal científico da episteme, do
conhecimento absolutamente certo e
demonstrável, revelou-se um mito. A exigência de
objetividade científica torna inevitável que
qualquer asserção científica seja sempre
provisória“ (K. Popper, The Logic of Scientific
Discovery, 2a ed., 1958, § 85, p. 279).
O que é ciência?

Demonstração [das suas afirmações]

Descrição [do seu objeto]

Corrigibilidade [de suas teorias]


Complementariedade dos saberes

A religião: compreensão intuitiva da realidade;


A arte: entendimento intuitivo do mundo;
A filosofia é reflexão
Radical: busca as raízes das questões
Rigorosa: criação de conceitos
De conjunto: busca a totalidade
A ciência: rigor cientifico (método)
estabelecimento de leis gerais e teorias;
Conclusão

“A filosofia tem uma face voltada para a religião e


para a arte e outra face voltada para a ciência. Com
a religião e a arte, tem em comum o olhar dirigido à
totalidade do real; com a ciência, tem em comum o
caráter teórico. No sistema da cultura, portanto, a
filosofia tem seu lugar entre a ciência, de um lado, e
a religião e a arte, do outro. Dentre as últimas, é a
religião que a filosofia está mais próxima, na medida
em que também a religião dirige-se à totalidade do
ser e tenta interpretar essa totalidade” (Hessen, 1999,
p. 12).
O SISTEMA DA FILOSOFIA

Autorreflexão do espírito sobre seu


comportamento teórico – teoria da
ciência.
Autorreflexão do espírito sobre seu
comportamento prático – teoria do valor.
Visão de mundo – teoria da visão de
mundo.
Teoria da ciência

Teoria formal – lógica – teoria do pensamento


correto.
Teoria material da ciência – teoria do
conhecimento – teoria do pensamento
verdadeiro.
Teoria do conhecimento geral – relação do
pensamento com o objeto em geral
Teoria do conhecimento específico investigação dos
axiomas e conceitos em que se exprime a referência
de nosso pensamento aos objetos.
Teoria do valor

Valores éticos – ética


Valores estéticos – estética
Valores religiosos – filosofia da religião
Teoria da visão de mundo

Metafísica
Metafísica da natureza
Metafísica da espírito
Teoria da visão de mundo (sentido estrito)
– questões sobre Deus, liberdade e
imortalidade.
A FILOSOFIA E A EDUCAÇÃO
Filosofia da Educação

 Antropologia filosófica
Qual ser humano que se quer formar?
 Axiologia
Quais os valores emergentes que se contrapõem a
outros, já decadentes?
 Epistemologia
Quais os pressupostos do conhecimento subjacentes
aos métodos e procedimentos utilizados?
REFERÊNCIA
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia e filosofia
da educação. In: ARANHA, Maria Lúcia de Arruda.
Filosofia da Educação [livro eletrônico]. São Paulo:
Moderna, 2012. p. 7-25.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Maria


Stephania da Costa Flores. Jandira, SP: Principis, 2021.

HESSEN, Johannes. Introdução. In: HESSEN, Johannes.


Teoria do conhecimento. Tradução de João Virgílio
Gallerani Cuter. Revisão técnica de Sérgio Sérvulo da
Cunha. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 3-16.

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