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FACULDADE DE TEOLOGIA CRISTÃ APOSTÓLICA REFORMADA

Introdução à Filosofia

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FATECAR – Faculdade de Teologia Cristã Apostólica Reformada 1


Elaboração: Dr. Ronaldo Belo da Silva Th.D
Introdução à Filosofia

Introdução

“A vida não examinada não vale a pena viver”


“A principal dignidade do homem é o exercício da razão na busca da verdade”
Sócrates VI a.C.

O homem sempre se questionou sobre temas como a origem e o fim do universo, as causas,
a natureza e a relação entre as coisas e entre os fatos.Essa busca de um conhecimento que
transcende a realidade imediata constitui a essência do pensamento filosófico, que ao
longo da história percorreu os mais variados caminhos, seguiu interesses diversos, elaborou
muitos métodos de reflexão e chegou a várias conclusões, em diferentes sistemas
filosóficos.

I. O termo “Filosofia”
O termo filosofia deriva do grego philos (amigo, amante), e sophia (conhecimento,
saber) e tem praticamente tantas definições quantas são as correntes filosóficas.
O que é filosofar?
Filosofar é a atitude de “espanto” do homem diante da realidade, e é aí que se dá o ato de
filosofar.
E o que é o “espanto”?
O espanto é exatamente aquilo que sentimos diante de algo que não nos parece por inteiro
explicável.É ir um pouco mais além da compreensão dos fenômenos que nos cercam.É pelo
espanto que crescemos em conhecimento e é através dele que liberamos os nossos canais de
percepção, comunicação e compreensão de tudo que nos rodeia.Esta atitude de espanto, de
impulso para compreender melhor, de perguntar, de questionar, fundamentalmente, nos
conduz ao exercício da filosofia, isto é, filosofar, perguntar, questionar, não parar adiante
do evidente e do simplesmente óbvio.Ir além, sim, ir além das aparências fenomênicas de
fato, ir além com a certeza de encontrar a verdade e a essência das coisas, o ser.

Aristóteles a definiu como a totalidade do saber possível que não tenha que abranger todos
os objetos tomados em particular; os estóicos, como uma norma para a ação; Descartes,
como o saber que averigua os princípios de todas as ciências; Locke, como uma reflexão
crítica sobre a experiência; Os positivistas, como um compêndio geral dos resultados da
ciência, o que o tornaria o filósofo um especialista em idéias gerais.Já se propuseram outras
definições mais irreverentes e menos taxativas.Por exemplo, a do britânico Samuel
Alexander, para quem a filosofia se ocupa “Daqueles temas que a ninguém, a não ser um
filósofo, ocorreria estudar”.

Definição de Filosofia
Pode-se definir filosofia, sem trair seu sentido etimológico, como uma busca da sabedoria,
conceito que aponta para um saber mais profundo e abrangente do homem e da natureza,
que transcende os conhecimentos concretos e orienta o comportamento diante da vida.A

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filosofia pretende ser também uma busca e uma justificação racional dos princípios
primeiros e universais das coisas, das ciências e dos valores, e uma reflexão sobre a origem
e a validade das idéias e das concepções que o homem elabora sobre ele mesmo e sobre o
que o cerca.

Evolução da Filosofia
Ao longo de sua evolução histórica, a filosofia foi sempre um campo de luta entre
concepções antagônicas - materialistas e idealistas, empiristas e racionalistas, vitalistas e
especulacionistas.Esse caráter necessariamente antagonista da especulação filosófica
decorre da impossibilidade de se alcançar uma visão total das múltiplas facetas da
realidade.Entretanto, é justamente no esforço de pensar essa realidade, para alcançar a
sabedoria, que o homem vem conquistando ao longo dos séculos uma compreensão mais
cabal de si mesmo e do mundo que o cerca, e uma maior compreensão das próprias
limitações de seu pensamento.

II. Origem da Filosofia

As culturas mais primitivas as antigas filosofias orientais expunham suas respostas aos
principais questionamentos do homem em narrativas primitivas, geralmente orais, que
expressavam os mistérios sobre a origem das coisas, o destino do homem, o por quê do
bem e do mal.Essas narrativas, ou “mito”, durante muito tempo consideradas simples
ficções literárias de caráter arbitrário ou meramente estético, constituem antes uma
autêntica reflexão simbólica, um exercício de conhecimento intuitivo.
Observando que os antigos narradores – Homero, Hesíodo – só transmitiram tradições, sem
dar nenhuma prova de suas doutrinas. Aristóteles, um dos fundadores da filosofia ocidental,
distinguiu entre filosofia e mito dizendo “ser próprio dos filósofos o dar a razão daquilo que
falam”.
Estabeleceu-se assim na cultura ocidental uma primeira delimitação do conceito de
filosofia: como explicação racional e argumentada da realidade.
No entanto, não havia sido definida nesse momento a separação da filosofia e das diversas
ciências.Aristóteles, por exemplo, investigou tanto sobre metafísica especulativa, como
sobre física, história natural, medicina e história geral, todas reunidas sob a denominação
comum de filosofia.Somente a partir da baixa Idade Média e mais ainda do Renascimento,
as diversas ciências se diferenciaram e a filosofia se definiu em seus atuais limites e
conteúdos.

A Filosofia se divide em três partes principais: Epistemologia, Cosmologia e Axiologia

Epistemologia

A epistemologia é uma palavra que deriva de duas palavras gregas (episteme


“conhecimento” e logos “teoria, ciência”).
A epistemologia é o estudo da teoria do conhecimento.Em outras palavras, é o estudo
sistemático da natureza, fontes e validade do conhecimento.Por exemplo, a epistemologia
pergunta: “Nós conhecemos o mundo independente ou simplesmente a nossa
experiência?”.

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Racionalismo versus Empirismo

As teorias do conhecimento se dividem natural, teórica e historicamente nas duas escolas


rivais do racionalismo e empirismo.
O Racionalismo acredita que algumas idéias ou conceitos são independentes da experiência
e que alguma verdade é conhecida somente pela razão.
O Empirismo acredita que todas as idéias e conceitos derivam da experiência e que a
verdade deve ser estabelecida somente em relação com a experiência.Nem o racionalismo e
nem o empirismo despreza a ferramenta básica da outra escola.

A Natureza do Conhecimento

Conhecer uma afirmação como verdadeira inclui:


a) O fato de que, em algum sentido ou por algum critério, a afirmação é realmente
verdadeira;
b) A crença de que ela é verdadeira;
c) A evidência em apoio a ela.

Tipos de Conhecimento

Russel faz a seguinte distinção:


1) Conhecimento por familiaridade é a apreensão direta de:
a) dados sensoriais;
b) objetos da memória;
c) estados internos;
d) nós mesmos.

2) Conhecimento por descrição é o conhecimento mediado ou raciocinado de:


a) outros seres;
b) objetos físicos (como construtos e não como dados sensoriais).

Cosmologia

A Cosmologia é uma palavra que deriva de duas outras palavras gregas (Kosmos “mundo”
e logos “teoria, ciência”).É a parte da filosofia que estuda a realidade física.
Perguntas relevantes:
O que é o mundo físico? O que é a vida? O que é ultimamente real? (Afirmações sobre a
essência da realidade).

Axiologia

A Axiologia é uma palavra que deriva de duas palavras gregas (axios “de igual valor” e
logos “teoria, ciência”).
É a parte da filosofia que estuda a teoria dos valores, em outras palavras, é o estudo dos
valores de todos os tipos (Urban).

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Questões axiológicas básicas:

Valor é uma quantidade, uma relação ou uma atitude?


O valor é encontrado ou feito?
O valor é definível? Analisável? Redutível? Caso positivo, a quê?

Teorias do Valor

A teoria geral do valor teve a sua origem no debate entre Alexius Meinong e Christian von
Ehrenfels na década de 1890 acerca da fonte de valor.Meinong viu a fonte do valor como
sentimento ou a expectativa ou possibilidade de prazer em um objeto. Ehrenfels (e também
Espinosa) viu a fonte do valor no desejo. O objeto é dotado de valor através do desejo atual
ou possível, isto é, um objeto possui valor porque é desejado.Em ambas as posições, valor é
a propriedade de um objeto (objetivismo axiológico).

III. Os grandes Períodos da Filosofia

■ Filosofia Pré-Socrática (600 a.C.)

Pré – socráticos são os filósofos anteriores a Sócrates, que vieram na Grécia por volta do
séc.VI a.C., considerados os criadores da filosofia ocidental.
Essa fase, que corresponde à época de formação da civilização helênica, caracteriza-se pela
preocupação com a natureza e o cosmos.
Os físicos da Jônia, como Tales de Mileto (624 a.C. – 545 a.C.) Anaximandro (610 a.C. –
547 a.C.), Anaxímenes (585 a.C. – 525 a.C.) e Heráclito (540 a.C. – 480 a.C.), procuraram
explicar o mundo pelo desenvolvimento de uma natureza comum a todas as coisas e em
eterno movimento.Heráclito, considerado o mais remoto precursor da dialética, afirma a
estrutura contraditória e dinâmica do real.Para ele, tudo está em constante modificação.Daí
sua frase “não nos banhamos duas vezes no mesmo rio, já que nem o rio e nem quem nele
se banha é o mesmo em dois momentos diferentes da existência.Os pensadores de Eléa,
como Parmênides (515 a.C. – 440 a.C.) e Anaxágoras (500 a.C. – 428 a.C.), ao contrário de
Heráclito, dizem que” o ser é unidade e imobilidade e que a mutação não passa de uma
aparência “.Para Parmênides, o ser é ainda completo,eterno e perfeito”.
Os atomistas, como Leucipo (460 a.C. –370 a.C.) e Demócrito (460 a.C. – 370 a.C.),
sustentam que “o universo é constituído de átomos eternos, indivisíveis reunidos
aleatoriamente”.
Pitágoras (580 a.C. – 500 a.C.) afirma que “a verdadeira substância original é a alma
imortal, que preexiste ao corpo e no qual se encarna como em uma prisão, como castigo
pelas culpas da existência anterior” (reencarnação).O Pitagorismo representa a primeira
tentativa de apreender o conteúdo inteligível das coisas, a essência, prenúncio do mundo
das idéias de Platão.

■ Filosofia Clássica (de 470 – 320 a.C.)

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A Filosofia da Grécia Antiga teve nos sofistas e em Sócrates seus principais expoentes.Eles
se distinguem pela preocupação com a Metafísica, ou procura do ser, e pelo interesse
político em criar a cidade harmoniosa e justa, que tornasse possível a formação do homem e
da vida de acordo com a sabedoria.Este período corresponde ao apogeu da democracia e é
marcado pela hegemonia política de Atenas.
Os sofistas, filósofos contemporâneos de Sócrates, como Pitágoras de Abdera (485 – 410
a.C.) e Górgias de Leontinos (485 – 380 a.C.), acumulam conhecimento enciclopédico e
são educadores pagos pelos alunos.Pretendem substituir a educação tradicional, destinada a
formar guerreiros e atletas, por uma nova pedagogia, preocupada em formar o cidadão da
nova democracia ateniense.Com eles, a arte da retórica – falar bem e de maneira
convincente a respeito de qualquer assunto – alcança desenvolvimento.
Conhecido somente pelo testemunho de Platão, já que não deixou nenhum documento
escrito, Sócrates (470 – 399 a.C?) desloca a reflexão filosófica da natureza para o homem, e
define, pela primeira vez, o universal como o objeto da Ciência.Dedica-se à procura
metódica da verdade identificada com o bem moral.Seu método se divide em duas
partes:Pela ironia (eironéia, do grego: perguntar), ele força seu interlocutor a reconhecer
que ignora o que pensava saber.Descoberta a ignorância, Sócrates tenta extrair do
interlocutor a verdade contida em sua consciência (método denominado como Maiêutica).
Discípulo de Sócrates, Platão (427 – 347 a.C.?) afirma que “as idéias são o próprio objeto
do conhecimento intelectual”, a realidade metafísica (Ver Platonismo).Para melhor expor
sua teoria, utiliza-se de uma alegoria, O mito da caverna, no qual a caverna simboliza o
mundo sensível, a prisão, os juízos de valor, onde só se percebem as sombras das coisas.O
exterior é o mundo das idéias, do conhecimento racional ou cientifico.Feito de corpo e
alma, o homem pertenceria simultaneamente a esses dois mundos.A tarefa da Filosofia
seria a de libertar o homem da caverna, do mundo das aparências, para o mundo real, das
essências.Platão é considerado o iniciador do idealismo.
Seguidor de Platão, Aristóteles (384-322 a.C.) aperfeiçoa e sistematiza as descobertas de
Platão e Sócrates.Desenvolve a lógica dedutiva clássica (formal), que postula o
encadeamento das proposições e das ligações dos conceitos mais gerais para os menos
gerais.
A Lógica, segundo ele, é um instrumento para atingir o conhecimento científico, ou seja,
aquilo que é metódico e sistemático.Ao contrário de Platão, afirma que a idéia não possui
uma existência separada – ela só existe nos seres reais concretos.

■ Filosofia Pós – Socrática (de 320 a.C. até o início da era cristã)

As correntes filosóficas do ceticismo, epicurismo e estoicismo traduzem decadência


política e militar da Grécia.
Primeira grande corrente filosófica após o aristotelismo, o ceticismo, que tem por Pirro
(365 – 275 a.C.) seu principal representante, afirma que as limitações do espírito humano
nada permitem conhecer seguramente.Assim, conclui pela suspensão do julgamento e
permanência da dúvida.Ao recusar toda a afirmação dogmática (ver Dogmatismo), prega
que o ideal do sábio é o total despojamento, o perfeito equilíbrio da alma, que nada pode
perturbar.Os cínicos , como Diógenes (413 – 323 a.C.) e Antístenes (444 – 365 a.C.),
desprezam as convenções sociais para levar uma vida natural primitiva.Afirmam que só a
virtude, por libertar o homem do desejo de possuir bens materiais, pode purificá-lo.

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Epícuro (341- 270 a.C.) e seus seguidores, os epicuristas, viam no prazer, obtido pela
prática da virtude, o bem.O prazer consiste no não-sofrimento do corpo e na não-
perturbação da alma.Os estóicos, como Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) e Marco Aurélio (121 –
180 d.C.), que se opõem ao epicurismo, pregam que o homem deve permanecer indiferente
a circunstâncias exteriores, como dor, prazer e emoções.Procuram submeter sua conduta à
razão, mesmo que isso traga dor e sofrimento, e não prazer.
No século III da Era Cristã, Plotino (205 – 270 d.C.) pensa no platonismo na perspectiva
histórica do Império Romano.As doutrinas neoplatônicas têm grande influência sobre os
pensadores cristãos.

■ Filosofia Medieval

Ao retomar as idéias de Platão, Santo Agostinho (354 – 430 d.C.) identifica o mundo das
idéias com o mundo das idéias divinas.Através da iluminação, o homem recebe de Deus o
conhecimento das verdades eternas.Esta corrente da Filosofia e seus desenvolvimentos são
conhecidos como Patrística, por ser elaborada pelos padres da Igreja Católica.Entre os
séculos V e XIII predomina a Escolástica, o conjunto das doutrinas oficiais da Igreja,
fortemente influenciadas pelos pensamentos de Platão e Aristóteles.Os representantes da
escolástica estão preocupados em conciliar razão e fé e desenvolver discussão, a
argumentação e o pensamento discursivo.Uma das principais correntes filosóficas da época
é o Tomismo,doutrina escolástica do teólogo italiano Santo Tomás de Aquino (1225 – 1274
d.C.) que encontra correspondência na estrutura socioeconômica do feudalismo,
rigidamente estratificada.

■ Filosofia Moderna

A desintegração das estruturas feudais, as primeiras grandes descobertas da Ciência – como


o heliocentrismo de Galileu Galilei e as leis das órbitas planetárias de Kepler – e a ascensão
da burguesia assinalam a crise do pensamento medieval e a emergência do
Renascimento.Em contraste com a filosofia medieval, religiosa, dogmática e submissa à
autoridade da Igreja, a filosofia moderna é profana e crítica.Representada por leigos que
procuram pensar de acordo com as leis da razão e do conhecimento científico, caracteriza-
se pelo antropocentrismo – atitude que consiste em considerar que o homem é o centro do
universo – e humanismo. O único método aceitável de investigação filosófica é o que
ocorre à razão.René Descartes (1596 – 1650 d.C.), criador do cartesianismo, é considerado
o fundador da filosofia moderna.Ele inaugura o racionalismo, doutrina que privilegia a
razão, considerada fundamento de todo o conhecimento possível.Dentro desta corrente
destacam-se também Spinoza (1632 – 1677 d.C.) e Leibniz (1646 – 1716 d.C.).
Ao contrário dos antigos pensadores que partiam da certeza, Descartes parte da dúvida
metódica, que põe em questão todas as supostas certezas.Ocorre a descoberta da
subjetividade, ou seja, o conhecimento do mundo não se faz sem o sujeito que conhece.O
foco é deslocado do objeto para o sujeito, da realidade para a razão.O percurso da dúvida
cartesiana, ao colocar em questão a existência do mundo, descobre o ser pensante “Penso,
logo existo”.
Além do racionalismo, as duas principais correntes da filosofia moderna são o empirismo e
o idealismo, movimentos que têm relação com a ascensão econômica e social da burguesia

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e com a Revolução Industrial.No séc. XVII, o inglês Francis Bacon (1561 – 1626) critica o
método indutivo da tradição escolástica, que parte de princípios considerados como
verdadeiros e indiscutíveis, e esboça as bases do método experimental, o empirismo, que
considera o conhecimento como resultado da experiência sensível.Na mesma linha, estão
os pensamentos de Thomas Hobbes (1588 – 1679), John Locke (1632 – 1704) e David
Hume (1711 – 1776).O empirismo pode ser considerado o precursor do positivismo.

Século XVIII – O racionalismo cartesiano e o empirismo inglês preparam o surgimento do


iluminismo, no séc. XVIII, caracterizado pela defesa da Ciência e da racionalidade crítica,
contra a fé, a supertição e o dogma religioso.Contemporâneo da Revolução Industrial
representa os interesses da burguesia intelectual da época e influencia a Revolução
Francesa.Os principais nomes do movimento são Voltaire (1694 – 1778) e Jean Jacques
Rousseau (1712 – 1778).Immanuel Kant (1724 – 1804) deseja fazer a síntese do
racionalismo e do empirismo, a partir de uma análise crítica da razão.Supera esses dois
movimentos ao afirmar que o conhecimento só existe a partir dos conceitos de matéria e
forma: a matéria vem da experiência sensível e a forma é dada pelo sujeito que conhece.
O Idealismo, a terceira grande corrente da filosofia moderna, consiste na interpretação da
realidade exterior e material a partir do mundo interior, subjetivo e espiritual.Isso implica
na redução do objeto do conhecimento ao sujeito conhecedor.Ou seja, o que se conhece
sobre o homem e o mundo é produto de idéias, representações e conceitos elaborados pela
consciência humana.Um dos principais expoentes é Friedrich Hegel (1770 – 1831).Para
explicar a realidade em constante processo, Hegel estabelece uma nova lógica, a
Dialética.Defende que todas as coisas e idéias morrem.Essa força destruidora é também a
força motriz do processo histórico.

Século XIX –O Positivismo de Auguste Comte (1798 – 1857) considera apenas o fato
positivo (aquele que pode ser medido e controlado pela experiência) como adequado para
estudo.É uma reação contra o idealismo e as teorias metafísicas do pensamento alemão.O
método é retomado no séc. XX, no neopositivismo, cujo principal representante é Ludwig
Wittgenstein (1889 – 1951).
Ainda no séc. XIX, Karl Marx (1818 – 1883), utiliza o método dialético e o adapta à sua
teoria, o materialismo histórico, que considera o modo de produção da vida material como
condicionante da História.O marxismo critica a filosofia hegeliana (“não é a consciência
dos homens que determina seu ser, mas, ao contrário, é seu ser social que determina sua
consciência”) e propõe não só pensar o mundo, mas transformá-lo.Assim, formula os
princípios de uma prática política, voltada para a revolução.Ganha força com a vigência do
socialismo em vários países, como a União Soviética, onde era a filosofia oficial.
Nesta época, surgem também nomes cuja obra permanece isolada, sem filiar-se a uma
escola determinada, como é o caso de Friedrich Nietzche (1844 – 1900).Ele formula uma
crítica aos valores tradicionais da cultura ocidental, como o cristianismo, que considera
decadente e contrário à criatividade e espontaneidade humana.A tarefa da filosofia seria,
então, a de libertar o homem desta tradição.No fim do séc. XIX, o pragmatismo defende o
empirismo no campo da teoria do conhecimento e o utilitarismo (busca a obtenção da
maior felicidade possível de pessoas) no campo da moral.Valoriza a prática mais que a
teoria e dá mais importância às conseqüências e efeitos da ação do que a seus princípios e
pressupostos.

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Renascimento

As grandes transformações culturais, econômicas e sociais dos séculos XV e XVI afetaram


também a filosofia, que, de monopólio até então quase exclusivo da classe universitária
(“escolástica” é o mesmo que “escolar”) passou a interessar a uma outra camada de
intelectuais, sem vínculo com a universidade e mais ligados à aristocracia e à cultura dos
palácios.O resultado foi a ruptura dos vínculos com a teologia e um crescente processo de
secularização da filosofia.Entre muitos dos novos intelectuais, o interesse primordial já não
era pelos temas sacros (divinae litterae, “Letras divinas”) e sim pela literatura secular
(humanae litterae) daí seu nome de “Humanistas”.As preocupações dos filósofos
renascentistas, que seriam desenvolvidas nos séculos posteriores, giraram em torno de três
grandes temas: O Homem, a Sociedade e a Natureza.
Foram os humanistas que se encarregaram da reflexão sobre o primeiro desses temas.A
nova organização do pensamento renascentista fez prevalecer Platão sobre Aristóteles, a
retórica sobre a dialética medieval, os diálogos literários sobre as disputas lógicas
escolásticas.Com a recuperação da literatura clássica, manifestaram-se também as
influências das filosofias do último período da antiguidade, como o atomismo, o ceticismo e
o estoicismo.
No pensamento social, sobressaiu a figura de Nicolau Maquiavel, que defendeu em O
Príncipe (1513) a aplicação da “razão de estado” sobre as normas morais.No século XVII
destacou-se no pensamento político as figuras do inglês Thomas Hobbes e do holandês
Hugo Grotius. O primeiro defendeu a existência de um estado forte como condição da
ordem social; Grotius apelou para a lei natural como salvaguarda contra a arbitrariedade do
poder político.

Filosofia Contemporânea

A partir do começo do século XX, teve início uma reflexão radical sobre a natureza da
filosofia, sobre a determinação de seus métodos e objetivos.No que diz respeito ao método,
destacaram-se as novas reflexões sobre a epistemologia ou ciência do conhecimento –
surgidas a partir do estudo analítico da linguagem – e o impulso dado à filosofia da
ciência.As preocupações fundamentais do pensamento filosófico foram as concernentes ao
homem e sua relação com o mundo que o cerca.
Dentro da chamada filosofia analítica, o empirismo lógico do Círculo de Viena foi uma das
correntes filosóficas que mais ressaltaram ser a filosofia como um método de
conhecimento.Para essa corrente, o objeto da filosofia não é um sistema universal e
coerente que permita explicar o mundo, mas sim o esclarecimento das linguagens das
proposições lógicas e científicas.Ora, para que elas tenham sentido, devem ser verificáveis,
de tal modo que as que não forem – por exemplo, proposições acerca da ética ou da religião
– carecem de qualquer interesse filosófico.Também a escola de Oxford considerou a
linguagem como objeto de seu estudo, se bem que tenha concentrado sua atenção na
linguagem comum, na qual quis descobrir, latentes, as várias concepções elaboradas sobre
o mundo.O austríaco Ludwig Wittgenstein insistiu na importância fundamental do estudo

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da linguagem e afirmou que ela participa da estrutura da realidade, já que não é senão um
reflexo, uma “figura”, da mesma.
A fenomenologia de Edmund Husserl propôs uma análise descritiva que permitisse chegar à
evidência da “própria coisa”, não como existente mas como pura essência.Para o vitalismo
de Henri Bergson há dois modos de conhecimento: o analítico, no campo da ciência, e a
intuição, própria da filosofia e único meio de captar a profundidade do homem e do mundo.
No que diz respeito às inquietações e propostas da moderna filosofia, cumpre citar o
Instrumentalismo de John Dewey, que estabeleceu como orientação da filosofia e como
critério da verdade a utilidade de uma idéia face às necessidades humanas e sociais; o
Existencialismo, que antepôs, na sua reflexão filosófica, a própria existência do homem a
qualquer outra realidade; o Estruturalismo que postulou, no estudo de qualquer realidade,
que ela deveria ser considerada nas suas inter-relações com o todo de que se faz parte.
Numerosos filósofos integraram em seu pensamento elementos pertencentes a escolas
filosóficas diferentes.Sartre, por exemplo, foi existencialista e marxista, e os pensadores da
chamada escola de Frankfurt ensaiaram uma síntese de marxismo e psicanálise.
Tanto o marxismo, que com sua pretensão de constituir um instrumento transformador da
sociedade, ultrapassou a simples classificação da escola filosófica, quando a psicanálise
que, ao contrário, somente pretendeu em princípio ser uma teoria e uma terapia
psicológicas, exerceram influência poderosa no pensamento filosófico contemporâneo.

A Lógica e as Leis do Pensamento

Origem e definição

A lógica foi desenvolvida de forma independente e chegou a certo grau de sistematização


na China, entre os séculos V a III a.C., e na Índia, do século V a.C. até os séculos XVI e
XVII da era Cristã.Na forma como é conhecida no Ocidente, tem origem na Grécia.
O mais remoto precursor da lógica formal é Parmênides de Eléia, que formulou pela
primeira vez o princípio de identidade e de não-contradição.Seu discípulo Zenão foi
fundador da dialética, segundo Aristóteles, por ter empregado a argumentação erística (arte
da disputa ou da discussão) para refutar quem contestasse as teses referentes à unidade e à
imobilidade do ser.
Os sofistas, mestres da arte de debater contra ou a favor de qualquer opinião com
argumentos que envolviam falácias e sofismas, também contribuíram para a evolução da
lógica, pois foram os primeiros a analisar a estrutura e as formas da linguagem.Foi
sobretudo em vista do emprego vicioso do raciocínio pelos sofistas que o antecederam que
Aristóteles foi levado a sistematizar a lógica.
Sócrates definiu o universal ou essência de todas as coisas, como o objeto do conhecimento
científico e, com isso, preparou a doutrina platônica das idéias.Ao empregar o diálogo
como método de procura do conhecimento das essências, antecipou a dialética platônica,
bem como a divisão dos universais em gêneros e espécies (e das espécies em subespécies),
o que permitiu situar ou incluir cada objeto ou essência no lugar lógico correspondente.

Definição - A Lógica é a ciência que tem por objetivo determinar, entre as operações
intelectuais orientadas pelo conhecimento da verdade, as que são válidas e as que não são.

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O termo “Lógica” vem de uma palavra grega que significa razão.A lógica é, de fato, a
ciência das Leis Ideais do Pensamento, e a arte de as aplicar corretamente à procura e à
demonstração da verdade.

São fundamentais para o conhecimento necessário (análise justa e coerente) as Três Leis do
Pensamento enumeradas por Aristóteles.
Elas são pressupostas sempre que alguém pensa sobre qualquer coisa:

1. Lei da Identidade – Uma entidade, qualquer que seja, é o que ela é e não é outra
coisa.Conforme aplicada a proposições: Se uma proposição é verdadeira, ela é
verdadeira; se é p, então é p (por exemplo: “Uma rosa é uma rosa”).
2. Lei da Não-Contradição – Nenhuma entidade, seja qual for, pode ser tanto o que
ela é como não ser o que ela é com a mesma especificação.Conforme aplicada a
proposições: Não pode ser verdade, que uma proposição seja verdadeira e falsa ao
mesmo tempo; não tanto p como não-p (por exemplo: “Uma rosa não pode ser uma
não-rosa”).
3. Lei do Terceiro Excluído – Uma entidade, qualquer que seja, ou é A (algum tipo
particular de coisa) ou não é. Tudo é ou A ou não-A, ou p ou não p (por exemplo:
“Uma coisa ou é uma rosa ou não é uma rosa”).
Essas leis do pensamento são três das muitas leis da lógica ou do raciocínio.A fim de
demonstra-las, precisam ser pressupostas.Nega-las é contraditório.Elas são pressupostos em
todo o pensamento e discurso racional, ou seja, consistente.

Metafísica

O nascimento da Metafísica

Da cosmologia à Metafísica

A filosofia nasce da admiração e do espanto, dizem Platão e Aristóteles: Admiração: Por


que o mundo existe? Espanto: Por que o mundo é como é?
Desde seu nascimento, a filosofia perguntou: O que existe? Por que existe? O que é isso
que existe?Como é isso que existe? Por que a natureza ou o mundo se mantém ordenados e
constantes, apesar da mudança de todas as coisas?
Essas perguntas – ou esse espanto ou admiração diante do mundo – levaram os primeiros
filósofos a buscar uma explicação racional para a origem de um mundo ordenado, o
cosmos. Por esse motivo, a Filosofia nasce como cosmologia. A busca do princípio que
causa e ordena tudo quanto existe na natureza (minerais, vegetais, animais, humanos,
astros, qualidades como úmido, seco, quente, frio) e tudo quanto nela acontece (dia e noite,
estações do ano, nascimento, transformação e morte, crescimento e diminuição, saúde e
doença, bem e mal, belo e feio, etc). A cosmologia era uma explicação racional sobre a
physis do Universo, e, portanto, uma física.

O Emprego da palavra Metafísica

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A palavra Metafísica foi empregada pela primeira vez por Andrônico de Rodes, por volta
do ano 50 a.C., quando recolheu e classificou as obras de Aristóteles que, durante muitos
séculos, haviam ficado dispersas e perdidas.Com essa palavra – ta meta ta physika - , o
organizador dos textos aristotélicos indicava um conjunto de escritos que, em sua
classificação, localizavam-se após os tratados sobre a Física ou sobre a Natureza, pois a
palavra grega meta quer dizer: “depois de, após, acima de”; ta “aqueles” ; meta “após,
depois”; ta physika “aqueles da física”.
Assim, a expressão ta meta ta physika significa literalmente: aqueles(escritos) que
estão(catalogados) após os (escritos) da física.
Ora, os tais escritos haviam recebido uma designação por parte do próprio Aristóteles,
quando este definira o assunto de que tratavam: são os escritos da Filosofia Primeira, cujo
tema é o estudo do “ser enquanto ser”.Deste modo, o que Aristóteles chamou de Filosofia
Primeira passou a ser designado como Metafísica.

O Emprego da palavra Ontologia

No século XVII, o filósofo alemão Jacobus Thomasius considerou que a palavra correta
para designar os estudos da metafísica ou Filosofia Primeira seria a palavra Ontologia.
A palavra Ontologia é composta de duas outras: onto e logia. Onto deriva-se de dois
substantivos gregos, ta onta (os bens e as coisas realmente possuídas por alguém) e ta
eonta (as coisas realmente existentes).Essas duas palavras, por sua vez, derivam-se do
verbo ser, que no grego, se diz einai , que significa “O ser é o que é realmente e se opõe ao
que parece ser, a aparência”.
Assim, ontologia significa:Estudo ou conhecimento do Ser, dos entes ou das coisas tais
como são em si mesmas, real e verdadeiramente.
Ontologia é, em sentido restrito, o “estudo do ser” e deste modo, pode equivaler à
metafísica.Uma vez que esta, com o tempo passou a incluir outros tipos de pesquisa e
reflexão (cosmológicos e psicológicos por exemplo), desde o século XVII, e sobretudo na
filosofia moderna, o termo ontologia passou a designar o estudo do ser enquanto ser.

O que estuda a Metafísica?

Que estuda a Metafísica? A essência do infinito, a essência do pensamento e a essência da


extensão.Como as estuda a metafísica? Como conceitos ou idéias rigorosamente racionais.
A Metafísica não se divide em Teologia, Psicologia Racional e Cosmologia Racional.A
Teologia é um conhecimento diferente da Metafísica, embora, como esta, estude a
substância infinita; a psicologia racional é um conhecimento diferente da metafísica,
embora, como esta, estude a substância pensante; a cosmologia é diferente da metafísica,
embora, como esta, estude a substância extensa.
■ A Substância Infinita – É a idéia racional de um fundamento ou princípio absoluto que
produz a essência e a existência de tudo o que existe.
■ A Substância Pensante – É a idéia racional de uma faculdade intelectual e volitiva (que
tem vontade, querer, desejo) que produz pensamentos e ações segundo normas, regras e

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métodos estabelecidos por ela mesma enquanto poder de conhecimento – é a consciência
como faculdade de reflexão e de representação da realidade por meio de idéias verdadeiras.
■ A Substância Extensa – É a idéia racional de uma realidade físico-geométrica que
produz os corpos como figuras e formas dotadas de massa, volume e movimento – é a
Natureza como sistemas de leis necessárias definidas pela mecânica e pela matemática.

O ponto de partida da Metafísica é a teoria do conhecimento, epistemologia, isto é, a


investigação sobre a capacidade humana para conhecer a verdade, de modo que uma coisa
ou ente só é considerado real se a razão humana poder conhecê-lo, isto é, se puder ser
objeto de uma idéia verdadeira estabelecida rigorosa e metodicamente pelo intelecto
humano.Assim, a metafísica não começa com a pergunta: O que é a realidade?, mas com a
questão: Podemos conhecer a realidade?

Aspectos da Ontologia

Há duas maneiras possíveis de entender ontologia, ou seja, dois aspectos segundo os quais
se pode estudar o ser:

1- O primeiro aspecto dito “existencial”; a Ontologia, nesse caso, consiste em saber


sobre aquilo que é fundamental ou irredutível, comum a todos os entes
singulares.Em outros termos, seria a ciência de um ente primeiro ou primordial em
que todos os demais se sintetizam.
2- A segunda maneira de conceber a investigação ontológica refere-se ao aspecto
“essencial” do ser e estabelece como meta à determinação daquelas leis, estruturas
ou causas do ser em si.

Entendendo que existem inúmeras abordagens de vários filósofos quanto suas perspectivas
metafísicas, e que nós estamos a utilizando para fins teológicos, partiremos para uma
análise cristã sobre a essência do Universo sob a perspectiva divina através da visão do
Teólogo e Filósofo Tomás de Aquino.

Tomismo

Tomismo é a doutrina filosófico cristã elaborada no século XIII pelo dominicano Tomás de
Aquino, estudioso dos textos do filósofo grego Aristóteles, recém – chegados ao
Ocidente.Tomás de Aquino dedicou-se ao esclarecimento das relações entre a verdade
revelada e a filosofia, isto é, entre a fé e a razão.Segundo sua interpretação, tais conceitos
não se chocam nem se confundem, mas são distintos e harmônicos.A teologia é a ciência
suprema, fundada na revelação divina e a filosofia, sua auxiliar.À filosofia cabe demonstrar
a existência e a natureza de Deus, de acordo com a razão.Só pode haver conflito entre
filosofia e a teologia caso a primeira, num uso incorreto da razão, se proponha explicar o
mistério do dogma religioso sem o auxílio da fé.
O pensamento de Tomás de Aquino foi alvo de muita polêmica e violentas críticas dos
teólogos de seu tempo, que o consideravam “excessivamente filosófico”.

Doutrina Tomista

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Segundo a doutrina tomista neoplatônica do teólogo Agostinho, que dominou o pensamento
cristão nos primeiros doze séculos da era cristã, a alma era superior ao corpo, pois pode
transcender a realidade imediata, percebida pelos sentidos, e alcançar as verdades
universais.Essa capacidade demonstra o caráter extra – humano da alma, - que não poderia
originar-se no homem ou no mundo exterior, ambos imperfeitos – e atesta a existência de
Deus.O conhecimento é decorrente da iluminação divina e só pode ser adquirido pela
interiorização contemplativa: o mundo sensorial é mera aparência.
Tomás de Aquino, ao contrário, não partiu de Deus para explicar o mundo, mas, sobre a
experiência sensorial, empregou o conhecimento racional para demonstrar a existência do
Criador.A partir da máxima aristotélica segundo a qual “nada está na inteligência sem antes
ter estado nos sentidos”, formulou as famosas “cinco vias” , cinco argumentos que
provariam a existência de Deus a partir dos efeitos por Ele produzidos, e não da idéia – no
sentido platônico – de Deus.
Ao atribuir à matéria conceitos positivos, relacionados ao grau de perfeição inerente à
divindade, o tomismo alterou o equilíbrio de forças entre corpo e alma, admitindo que
ambos como princípios igualmente necessários da natureza humana.O homem situa-se no
Universo entre os anjos e os animais.Os anjos seriam substâncias espirituais e puras, isentas
de matéria. Nesse sentido, a alma humana também seria pura, ou seja, apesar de unida ao
corpo, independeria da matéria enquanto ser.

Provas metafísicas da existência de Deus

Os cinco argumentos que para Tomás de Aquino demonstram a existência de Deus são:

1°- O Primeiro Motor Imóvel


O movimento existe, é evidente aos nossos sentidos. Ora, tudo aquilo que se move é
movido por outra força, ou motor. Não é lógico que haja um motor, outro e outro, e assim
indefinidamente; há de haver uma origem primeira do fenômeno do movimento, um motor
que se move sem ser movido, que seria Deus.

2°- A Causa Primeira


Toda causa é efeito de outra, mas é necessário que haja uma primeira, causa não causada,
que seria Deus;

3°- O Ser Necessário


Todos os seres são finitos e contingentes (são e deixam de ser).
Se tudo fosse assim, todos os seres deixariam de ser e, em determinado momento, nada
existiria.Isto é um absurdo; logo, a existência dos seres contingentes implica o ser
necessário, ou Deus;

4°- O Ser Perfeito


Os seres finitos realizam todos determinados graus de perfeição, mas nenhum é a perfeição
absoluta; logo, há um ser sumamente perfeito, causa de todas as perfeições, que seria Deus;

5°- A Inteligência Ordenadora

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Todos os seres tendem para uma finalidade, não em virtude do acaso, mas segundo uma
inteligência que os dirige.Logo, há um Ser inteligente que ordena a natureza e a encaminha
para seu fim; esse ser inteligente seria Deus.

Aspectos Gerais do Tomismo

A originalidade do pensamento de Tomás de Aquino evidencia-se em sua concepção de


existência, vista como ato supremo e como a perfeição de estar em Deus e, ao mesmo
tempo, entre as coisas criadas; na atribuição do ato criativo unicamente a Deus; na negação
da existência da matéria nos seres angelicais e, conseqüentemente, na distinção entre Deus
e as criaturas, definidas como uma composição de existência e essência.Todas as criaturas
teriam o amor a Deus como tendência natural.
Na visão de Tomás de Aquino, o teólogo aceita a autoridade e a fé como pontos de partida
e procede então a conclusões mediante o uso da razão. O filósofo é aquele se atém à
razão.Pela primeira vez, a teologia foi expressamente definida dessa maneira, o que
ocasionou um sem número de oposições, algumas das quais perduram ainda, sobretudo
entre religiosos para os quais a razão é sempre vista como intrusa em questões de fé.
Embora afirmasse ao mesmo tempo a crença num Deus criador e a ordem imanente da
natureza, Tomás de Aquino não considerava o mundo como mera sombra do sobrenatural.
Para ele, a natureza criada é regida por leis necessárias – o que autoriza a construção de
uma ciência racional – e, descoberta em sua realidade profana, acabaria por revelar seu
valor religioso e levar até Deus por conclusões lógicas.
Assim como Aristóteles, Tomás de Aquino sustentava que conhecer não é lembrar-se,
como pretendia Platão, mas extrair, por meio de um intelecto agente, forma universal que
se acha contida nos objetos sensíveis e particulares. O conhecimento parte dos sentidos e
chega ao inteligível pela abstração intelectual.

Bibliografia

Introdução à Filosofia SE.TE.EB


Filósofos e Correntes filosóficas Ed. Vida

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