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COMPREENSÃO GERAL DO VERBETE “RACIONALISMO”

Júnior César de Sousa1

1. INTRODUÇÃO

Este breve trabalho visa à pesquisa do verbete “Racionalismo”, para posterior aprofundamento
conceitual nas aulas de Teoria do Conhecimento. O que se segue é apenas uma visão mais geral,
visto o caráter introdutório da disciplina via análise de verbetes. A partir de Dicionários de
Filosofia e alguns outros livros de cunho filosóficos, abordaremos uma visão panorâmica acerca da
conceituação do que seja o Racionalismo.

2. RACIONALISMO

Segundo o dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano (2007, p.967), o verbete racionalismo


inicialmente se referia a uma seita religiosa que acreditava que o que era bom para o Estado e para
a Igreja era aquilo o que a razão lhes ditava; posteriormente, Immanuel Kant (1724-1804) transpôs
o termo para o campo filosófico e o caracterizou como sendo um período filosófico de Descartes a
Gottfried. Leibniz.

O Racionalismo pode ser entendido como sendo o uso exclusivo da razão para se alcançar o
conhecimento (dito verdadeiro) sem fazer uso da experiência sensível, uma vez que os sentidos
não são confiáveis (são confusos) e, consequentemente podem nos enganar, isto é, o conhecimento
provem da razão e não dos sentidos; sendo assim a razão controlaria a percepção sensorial
(experiência sensível), e esta, poderia “participar do conhecimento verdadeiro.” (CHAUÍ, 2003, p.
130) Percebe-se uma nítida provocação de que tudo pode ser explicado logicamente por métodos
puramente racionais, pautados na certeza e rigor metodológico e que nos garantem a existência de
conhecimentos a priori, advindos exclusivamente da razão e não dos sentidos (mesmo que não
possam ser provados fisicamente). Segundo Hessen (2000, p.36), o Racionalismo é:

[...] o ponto de vista epistemológico que enxerga no pensamento, na razão, a principal


fonte do conhecimento humano. Segundo o racionalismo, um conhecimento só merece
realmente esse nome se for necessário e tiver validade universal. Se minha razão julga que
deve ser assim, que não pode ser de outro modo e que, por isso, deve ser assim sempre e
em toda parte, então (e só então), segundo o modo de ver do racionalismo, estamos
lidando com um conhecimento autêntico.

1
Graduado em Matemática pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora_CES-JF e graduando em Filosofia pela
Faculdade Arquidiocesana de Mariana Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida_FAM
A preocupação com as bases do Conhecimento foi motivo de grandes especulações no século
XVII, período de grande efervescência matemática, na qual muitos filósofos eram também grandes
matemáticos, como René Descartes (1596-1650), Blaise Pascal (1623-1662) e Gottfried Leibniz
(1646-1716). Com efeito, eles procuraram também aplicar ao método filosófico a ferramenta
matemática, como instrumento eficaz nos processos de aquisição do conhecimento, devido ao seu
caráter rigoroso, preciso e sistemático. Não se trata aqui da realidade numérica em si, mas nos
procedimentos abstrativos lógico-dedudivos, que segundo os filósofos-matemáticos eram corretos
e provocavam um pensamento ordenado e isentos de dúvidas finais. Esta visão da contribuição dos
métodos matemáticos já era vislumbrada pelos filósofos gregos (especialmente Platão), que em
alguns escritos nos falem sobre a confiabilidade das entidades e relações numéricas frente a
problemática da desconfiança nos sentidos.

Enquanto filosofia, o Racionalismo tem seu início com o matemático e filósofo francês René
Descartes, a partir da pergunta fundante: “O que posso conhecer?” Ele inaugura a dúvida
metódica, isto é, pode-se duvidar de tudo a principio (a semelhança dos céticos), mas não da
própria dúvida. A dúvida era para ele fato primordial para a investigação acerca da veracidade do
conhecimento, e quem duvida, segundo Descartes, pensa, e se alguém pensa, dá-se conta de sua
existência como ser pensante (Daí a sua máxima: “Cogito, ergo sum”- “Penso, logo existo!”). R.
Descartes cria então um método (posteriormente chamado de método cartesiano) para se sujeitar a
dúvida e chegar a um conhecimento verdadeiro. Tal método, baseado na geometria, consiste
basicamente nos processos de: verificação, análise, sintetização e enumeração dos problemas (e
que não cabe aqui uma explanação). O fato é que a partir da sujeição a dúvida a métodos racionais
conseguir-se-ia alcançar uma verdade, a verdade do conhecimento como realidade. Foi a partir daí
que R. Descartes, elaborou sua prova racional da existência de Deus, partindo da concepção da
ideia de perfeição e infinitude, donde ele chegara a afirmação de que a ideia de Deus é uma
realidade existente (que também não cabe aqui explicitar). Em linhas gerais:

[...] [ele, Descartes] é um ser pensante, mas também Deus existe. E uma vez que Deus, um
ser sem imperfeições, não pode ser enganador, o filósofo recupera a certeza na idéias
claras e distintas [...] pois não existe um Deus todo-poderoso querendo enganar as pessoas
o tempo todo. [...] Existe, assim, além da res cogitam (a coisa pensante), a res extensa (a
coisa extensa). Isso significa que o conhecimento certo e seguro do mundo externo será
possível apenas no que diz respeito a [...] propriedades quantitativas, geométricas,
matemáticas, as únicas que poder ser reconhecidas pela razão. (CHALITA, 2006, p. 239-240)
Com efeito, percebe-se a clara vertente de um racionalismo matemático no método cartesiano e,
que tem resquícios até a contemporaneidade ao afirmamos que somos seres cartesianos, isto é,
pessoas humanas que querem se pautar somente naquilo que a razão consegue abarcar. Por sua
vez, Leibniz, matemático e filósofo alemão, acredita que:

[...] todo conhecimento pode ser acessado pela reflexão racional. No entanto, devido a
deficiências de suas faculdades racionais, os seres humanos também devem contar com a
experiência como meio de aquisição de conhecimento. [...] Para Leibniz [...] o universo é
composto de substâncias simples, individuais, chamadas “mônadas”. Cada mônada está
isolada de outras mônadas, e cada uma está u ma completa representação de todo o
universo em seu estado passado, presente e futuro [...] Deus criou as coisas – em um
estado de “harmonia preestabelecida” [...] [e] toda mente humana é uma mônada [...]
Portanto, é possível para nós, em principio, aprender tudo o que há para saber sobre o
mundo, e o que está além, simplesmente explorando nossas mentes.” (BUCKINGHAM et
al., 2011, p.136)

Parece-nos, então, que esta teoria (de certa forma semelhante à teoria da Reminiscência de Platão)
nos conduz a confiar naquilo que está em nossa razão, bastando acessar as ideias já contidas em
cada um, que na verdade são as mesmas para todos (mônadas que representam todo o universo),
convergindo assim para as mesmas conclusões, ou seja, pela exploração da mente, cada um
chegará ao mesmo ponto, o que de certa forma, garante uma unicidade da verdade. Como nos
afirma Johannes Hessen (2000, p. 39) a “doutrina das idéias conatas [...] há em nós um certo
número de conceitos inatos, conceitos que são, na verdade, os mais importantes, fundamentadores
do conhecimento. Eles não provêm da experiência, mas constituem um patrimônio original de
nossa razão”. Estas noções que nos são primitivas, segundo os racionalistas propiciam um
conhecimento verdadeiro e universalmente válido, contrariamente ao caráter contingente dos
dados empíricos. E estes princípios inatos, por si sós, são capazes de fecundar o conhecimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A problemática da Gnosiologia reside justamente da origem do Conhecimento e as formas de


concebê-lo. É natural, então, surgirem correntes filosóficas que tentem chegar a verdades que nem
sempre convergem. É o caso da corrente Racionalista que defende a confiabilidade da razão em
detrimento dos sentidos, e também defende a ideia de que existem conhecimentos inatos (a priori).
Em contraposição a esta corrente filosófica, temos os Empiristas que creem que o conhecimento
advém da experiência, sendo esta a fonte mais confiável de aquisição do conhecimento. Entre seus
expoentes temos, John Locke, G. Berkeley e David Hume, e que será abordado por outrem.
(BUCKINGHAM et al., 2011, p.60) O fato reside em reconhecer que há distintas correntes do
pensamento e que por mais que nos identifiquemos com algumas, não podemos nos fechar a esta
ou aquela doutrina, caso contrário, ficaremos condicionado como uma grande viseira, não abrindo
possibilidades ao confrontamento de ideias, assumindo uma posição dogmática.

REFERÊNCIAS

RACIONALISMO. In: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 5.ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 967.

BUCKINGHAM, Will et al. O livro da ao Filosofia.Trad. Douglas Kim. São Paulo: Globo, 2011.

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. 3. ed. São Paulo: Ática, 2006.

CHAUÍ, Marilena. Convite á Filosofia. 13.ed. São Paulo: Ática, 2003.

HESSEN, Johannes. Teoria do Conhecimento. Trad. João Vergílio Gallerani Cuter. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.

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