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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

AULA 03 –
TEORIA DO
CONHECIMENTO

Caro estudante,

Existem diferentes formas de compreender o mundo, e nesta relação de


conhecimento pressupõem-se dois elementos: o sujeito que quer conhecer e o
objeto a ser conhecido. Às vezes, defendemos que o conhecimento
seja transmitido pela família ou pela escola; mas não é só isso: algumas noções
afirmam que o conhecimento não é apenas transmitido, mas que é construído
de tal forma que sem esse processo não haveria acúmulo e evolução do
conhecimento e das formas de pensar ou interpretar o mundo.
Neste módulo, você descobrirá as características que denotam a
concepção inatista do conhecimento. Além disso, você será capaz de
compreender e caracterizar a teoria empirista e, finalmente, aprenderá as
principais características da teoria interacionista do conhecimento.

Bons estudos!
 Identificar as principais características da teoria inatista do conhecimento;
 Caracterizar a teoria empirista do conhecimento;
 Apontar as principais características e divisões da teoria interacionista do
conhecimento.

Nesta aula, você vai conferir os contextos conceituais da psicologia entenderá


como ela alcançou o seu estatuto de cientificidade. Além disso, terá a oportunidade
de conhecer as três grandes doutrinas da psicologia, behaviorismo, psicanálise e
Gestalt, e as áreas de atuação do psicólogo.

 Compreender o conceito de psicologia


 Identificar as diferentes áreas de atuação da psicologia
 Conhecer as áreas de atuação do psicólogo.
3 O EMPIRISMO E O INATISMO/RACIONALISMO:CORRENTES FILOSÓFICAS
OPOSTAS

O racionalismo e o empirismo são escolas de pensamento que tentam explicar


como os seres humanos adquirem conhecimento, mas têm filosofias
fundamentalmente opostas. O racionalismo aborda a questão do conhecimento a
partir das ciências exatas, enquanto o empirismo dá mais importância às ciências
experimentais. De acordo com o racionalismo, o conhecimento é obtido através do
bom uso da razão e não dos sentidos, pois as informações obtidas através dos
sentidos podem estar erradas, pois é possível que o que se ouve ou vê esteja errado.
Na perspectiva do empirismo o conhecimento se realiza pela produção de dois tipos
de ideias: a ideia simples, sobre a qual não podem ser feitas distinções (por exemplo,
cores, texturas, etc.), e a ideia complexa, que são associações de ideias simples. Isso
resultaria no conceito abstrato do que é matéria e de como temos experiência do
mundo.
O Quadro 1, a seguir, apresenta as principais características das teorias
empirista e inatista.

Quadro 1 - Principais características das teorias empirista e inatista

Fonte: Adaptado de Equipe Clorophila – Elmara (2018, documento on-line).


3.1 Teoria inatista do conhecimento

Pensar a concepção inatista é pensar em algo que se afirma a partir de uma


teoria pedagógica apoiada nos princípios das filosofias racionalista e idealista.
De acordo com Nunes (1986, p. 25 apud ABREU, 2018, documento on-line):

O racionalismo se norteia pela crença de que o único meio para se chegar ao


conhecimento é por intermédio da razão, já que esta é inata, imutável e igual
em todos os homens. Para o idealismo, o real é confundido com o mundo das
ideias e significados. Dar realidade às ideias, oferecer respostas ideais (de
ideias) às questões reais. É a forma de compreender a realidade, na qual o
espírito vai explicar e produzir a matéria.

Nessa perspectiva, os aspectos do conhecimento e da aprendizagem estão


relacionados com o fato de que o ser humano é um sujeito fechado em si mesmo e
nasce com potencialidades, dons e aptidões, que serão desenvolvidos de acordo com
o amadurecimento biológico. Assim, quando nascemos, algo já está impregnado em
nós, em nossa alma. Portanto, considerando a hereditariedade, entende-se que não
há possibilidade de mudança, pois o ser humano não age de forma eficiente e
não recebe interferência significativa do ambiente e do contexto social. Ou seja, após
o nascimento, as experiências não são tão significativas porque o sujeito já nasce
pronto, incluindo personalidade, valores, hábitos, atitudes, crenças, pensamentos,
sentimentos, bem como a conduta que terá dali para a frente em seu meio social.
O sujeito, entendido como biologicamente determinado desde o nascimento,
remete à ideia de uma possível sociedade harmoniosa e hierárquica que impossibilita
a mobilidade ou a transformação social desse sujeito. Sobre esse assunto, Leibniz
(1988, p. 34) faz outra importante contribuição:

Ocorre que as verdades inatas estão em nosso espírito de maneira virtual,


mas precisam que os sentidos lhes deem ocasião para que se manifestem e
possam captar nossa atenção. Pois, embora tenhamos uma infinidade de
ideias em nosso espírito, é impossível que possamos dar atenção a todas
elas ao mesmo tempo. Assim, é preciso que elas sejam avivadas pelos
sentidos. Desta forma, uma pessoa pode chegar puramente por meio do
raciocínio sem nenhum auxílio da experiência.

Leibniz critica o empirismo de Locke (nada existe na mente que não tenha
estado nos sentidos) e defende, como Descartes, um inatismo. Identifica as
qualidades inatas da alma, como ser, perceber e raciocinar. Nessa perspectiva,
Leibniz (1988) ainda enfatiza que as verdades da matemática e da geometria seriam
de natureza inata, da mesma forma que as verdades lógicas.
Uma das formas de inatismo contemporâneo se baseia na hereditariedade, ou
seja, o que é inato ao sujeito (ou seja, o que nasce com o ser humano). Segundo esta
corrente teórica, quando nascemos, já fomos concebidos com a herança genética,
com as qualidades e capacidades básicas necessárias ao ser humano. Entende-se,
portanto, que o pensamento inatista rejeita a possibilidade de aperfeiçoamento do
sujeito, pois defende a ideia de que não tem capacidade de evolução ou possibilidade
de transformação após o nascimento, já que é determinado pelas condições de sua
existência ‘espiritual’ e ideal ou no caso contemporâneo por sua estruturação
genética.
Portanto, no processo educacional, o papel do professor seria o
de facilitar a manifestação da essência, entendendo que quanto menos interferência
houver, maior será a espontaneidade e a criatividade do aluno. Segundo Rego (1996),
tal concepção do ser humano tem favorecido pedagogias espontâneas que
subestimam a capacidade intelectual do sujeito, enquanto o sucesso ou o
fracasso são atribuídos, única e exclusivamente, ao aluno e seu desempenho,
aptidão, dom ou maturidade.
Em certo sentido, considerar o inatismo aplicado à educação significa tender
para uma perspectiva imóvel e resignada, pois se considera que as diferenças e
dificuldades não podem ser superadas, pois o ambiente não interfere no
desenvolvimento do sujeito. Ainda, pode-se entender que os resultados da
aprendizagem pertencem exclusivamente ao aluno, retirando a participação e
responsabilidade do professor e da instituição de ensino.

3.2 Teoria empirista do conhecimento

A teoria empirista configura-se, principalmente, como uma corrente filosófica


que reafirma as experiências do ser humano como responsáveis, justamente, pela
construção das aprendizagens e ideias existentes na humanidade e no mundo. Essa
concepção também é caracterizada por aspectos relativos ao conhecimento científico,
ou seja, o momento em que os saberes são adquiridos por meio de percepções e
sensações. Nessa perspectiva, observa-se que as ideias surgem por meio da
percepção e do contato com objetos de conhecimento; esse contato, portanto, ocorre
por meio dos sentidos.
Portanto, o empirismo pode ser entendido como uma corrente epistemológica
que indica que todo conhecimento é resultado de uma experiência e, por isso, é
consequência dos nossos sentidos. Nesse sentido, a experiência estabelece o valor,
a origem e os limites do conhecimento.
O principal teórico do empirismo foi o filósofo inglês John Locke (1632-
1704), que defendeu e reafirmou a ideia de que a mente humana é uma "tabula rasa"
ou "folha em branco" na qual estão gravadas impressões externas à medida
que temos nossas experiências. Desta forma, o pensador não considerou a
existência de ideias natas, nem de conhecimento universal.
Por ser uma corrente teórica oposta ao racionalismo/inatismo, o empirismo
critica a metafísica e os conceitos de causa e substância. Em certo sentido, essa
escola de pensamento sustenta que todo o processo de saber, saber e agir ocorre por
meio da experiência, de vivências e de tentativa e erro.
Sobre o empirismo, Hessem (1987, p. 68) aponta que:

Este atribui o conhecimento à experiência e, neste caso, considera-se que a


realidade é construída pela via dos sentidos, não havendo conhecimentos
inatos e tampouco verdades a priori, e mesmo os conceitos abstratos e
universais partem de fatos concretos. Assim sendo: “A consciência
cognoscente não tira os seus conteúdos da razão; tira-os exclusivamente da
experiência. O espírito humano está por natureza vazio; é uma tábula rasa,
uma folha em branco em que a experiência escreve”.

Na mesma vertente de pensamento de John Locke, existiram outros autores de


grande importância mundial na formação e discussão do conceito de empirismo, são
eles:

 Aristóteles;
 Francis Bacon;
 Thomas Hobbes;
 Robert Boyle;
 David Hume;
 John Stuart Mill;
 Nicolau Maquiavel.

Na ciência, diante do conhecimento científico, falamos de empirismo quando


falamos do método científico tradicional, que emerge do empirismo filosófico e
reafirma que as teorias, estudos e pesquisas científicas devem ser baseadas também
na observação do mundo como experimentação, em vez de intuição ou fé,
como acontecia no passado. O empirismo é considerado parte fundamental do
método científico, pois sustenta que todas as hipóteses e teorias devem ser
testadas contra observações do mundo atual. Embora sensorial, atua além do
raciocínio a priori ou da intuição.

3.3 Teoria interacionista do conhecimento

A teoria interacionista é uma corrente pedagógica que considera e defende que


os fatores orgânicos e ambientais são fundamentais para o desenvolvimento do
sujeito, considerando as condições objetivas e subjetivas de sua existência.
Os pensadores e discípulos do interacionismo acreditam em uma complexa
combinação de fatores e influências que, segundo essa visão, podem auxiliar
no processo de aprendizagem. O sujeito, portanto, não é entendido
como passivo, ao contrário, é convidado a ser seu próprio agente de transformação,
autor e protagonista de sua própria história, de sua própria trajetória. Nessa
perspectiva, o sujeito deve utilizar os diversos objetos e seus inúmeros
significados para conhecer, aprender, compreender e, assim, desenvolver-se e
progredir.
Na abordagem interacionista, os processos de aprendizagem estão totalmente
interligados e se cruzam, se interpenetram, se misturam e, nesse movimento
constante, se complementam, atribuindo ao sujeito a responsabilidade de seu próprio
processo de aprendizagem, portanto, da construção de conhecimento. Segundo Davis
e Oliveira (1990, p. 36):

A concepção Interacionista de desenvolvimento apoia-se na ideia de


interação entre organismo e meio, e observa a aquisição de conhecimento
como um processo construído pelo indivíduo durante toda a sua vida, não
estando pronto ao nascer nem sendo adquirido passivamente graças às
pressões do meio.

Veja abaixo os principais pensadores da corrente pedagógica do


interacionismo:

 Jean Piaget (1896 – 1980): para ele, a criança é ativa e age espontaneamente no
meio. É estruturalmente diferente do adulto, mas funcionalmente igual. Ou seja,
suas estruturas mentais são específicas para seu nível de desenvolvimento,
marcado por estágios. Seu conhecimento vem do contato com o mundo. Piaget
dedicou-se ao estudo e compreensão do desenvolvimento cognitivo, e sua teoria
ficou conhecida como construtivismo. Houve um ponto primordial para o
desenvolvimento das ideias de Piaget: explicar a forma pela qual o ser humano
atinge o conhecimento, o que o distingue fundamentalmente das outras espécies
vivas. No entanto, esta é uma questão tipicamente filosófica. Entre a energia, o rigor
dos métodos biológicos e a filosofia, Piaget se concentra em uma lacuna que
precisa ser preenchida. Dessa forma, a psicologia do desenvolvimento assumiria
futuramente um papel mediador entre os dois campos de estudo (FERRARI, 2008).

 Lev Semionovitch Vygotsky (1896–1934): afirma que as características


tipicamente humanas do pensamento resultam da interação dialética do ser
humano com seu meio sociocultural. Ao mesmo tempo em que o ser humano
transforma o seu meio para atender às suas necessidades básicas, ele muda a si
mesmo. Isso significa que as influências e mudanças são recíprocas com ele
e com o meio em que ele se encontra. Para esse pensador, as habilidades
cognitivas do sujeito e a forma de estruturar os pensamentos não são
determinadas por fatores congênitos. Na verdade, são o resultado
de atividades realizadas conforme os hábitos sociais da cultura em que
se desenvolvem. Esse processo é fundamental para a interiorização do
conhecimento - ou a transformação de conceitos espontâneos e científicos -
através do método de tornar intrapsíquico o que antes era interpsíquico.
Consequentemente, a história da sociedade onde a criança se desenvolve
e sua história pessoal são fatores cruciais que determinam seu modo de pensar
(FERRARI, 2008).

Interacionismo e educação: algumas características

 O conhecimento é visto como uma construção histórica e social dinâmica, fruto de


uma construção coletiva, que necessita de um contexto para ser compreendido e
interpretado. Em outras palavras, o conhecimento é uma construção coletiva e
uma assimilação pessoal.
 A aprendizagem está ligada a este desenvolvimento. É na troca com os outros
sujeitos e consigo mesmo que se dá a aprendizagem e se interiorizam os saberes,
os papéis e as funções sociais. Isso permite, portanto, a constituição do
conhecimento e da própria consciência.
 O ensino deve valorizar as interações entre indivíduos e grupos, e entre estes
e diferentes segmentos da comunidade.
 A avaliação deve centrar-se na dinâmica das relações na comunidade, na escola
e na sala de aula. O bom aluno é aquele que participa, desafia, investiga e
contribui com diferentes grupos, se une, critica, toma decisões e desenvolve
comportamentos democráticos (EQUIPE CLOROPHILA – ELMARA, 2018).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, A. Inatismo. 2018. Disponível em: https://albertoabreu.wordpress.com/.


Acesso em: 26 dez. 2022.

ARISTÓTELES. Metafísica. Porto Alegre: Globo, 1969.

DAVIS, C. L. F.; OLIVEIRA, Z. M. R. Psicologia na educação. 2. ed. São Paulo:


Cortez, 1990. v. 1.

DIAS, T. P.; OLIVEIRA, P. A.; FREITAS, M. L. P. F. O método vivencial no campo das


habilidades sociais: construção histórico-conceitual e sua aplicação. Estudos e
Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 472-487, ago. 2011.

EQUIPE CLOROPHILA - ELMARA. Conhecimento, sujeito, ensino, aprendizagem


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FERRARI, M. Jean Piaget, o biólogo que colocou a aprendizagem no


microscópio. 2008.

HESSEN, J. Teoria do conhecimento. São Paulo: Arménio Amado Martins Fontes,


1987.

LEIBNIZ, G. Novos ensaios sobre o entendimento humano. São Paulo: Nova


Cultural, 1988. (Coleção Os Pensadores).

LINDOLFO. 2011. Concepções de ensinoaprendizagem. 2011.

REGO, T. C. R. A indisciplina e o processo educativo: uma análise na perspectiva


Vygotskyana. In: AQUINO, J. G. (Org.). Indisciplina na escola. 11. ed. São Paulo:
Summus, 1996.

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