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AULA
humano: o inatismo
Marise Bezerra Jurberg
Meta da aula
Apresentar a importância das diversas concepções de
homem, segundo modelos que foram influenciados
pelas descobertas em vários campos do saber, assim
como sua repercussão nos estudos psicológicos.
INTRODUÇÃO Espero que você continue animado com as aulas desta disciplina. Se você prestar
atenção à palavra “animado”, vai constatar que ela provém de anima, que
significa “alma“, em latim. Daí que expressões como “Eu te amo com toda a
minha alma”, ou “A atriz interpretou o papel com toda a sua alma” significam
que estamos expressando que algo é superior, melhor que o habitual. Como
esse conceito de alma encontra-se agora em sua mente?
Pegue uma folha de seu caderno e tente descrevê-lo agora. Guarde-o para
mais tarde, quando terminar a leitura, para fazer comparações sobre isso. O
conceito de alma é muito importante nas diversas concepções do ser humano
ao longo da nossa história.
Asif Akbar
Após a leitura da primeira aula, você deve ter percebido que os conceitos de
fenômenos que, posteriormente, seriam objeto de estudo da Psicologia – que
só se firma como ciência no século XIX – começaram como preocupações de
pensadores, e de filósofos. A herança filosófica da Psicologia remonta ao estudo
do psiquismo como equivalente à consciência, mas esse conceito é posterior
a esse período. Antes se discutiam as relações entre a alma, ou espírito, e o
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corpo. Hoje não temos dúvidas de que somos constituídos de corpo e mente.
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Somos indivíduos (e, portanto, indivisíveis) únicos. Além disso, estamos inseri-
dos nas dimensões espaço e tempo. Tais dimensões nos incitam a realizar uma
incursão na História, na cultura e nos diversos grupos sociais, para entender
como a humanidade tem apresentado ideias e valores que nortearam diferen-
tes concepções sobre o homem. Ora elas priorizavam dispositivos inatos, ora
destacavam fatores do ambiente: inatismo e ambientalismo.
Desde a Antiguidade, diversos filósofos preocuparam-se com a natureza do
conhecimento. Através da visão de diversos estudiosos sobre como conhece-
mos o mundo, poderemos inferir as diferentes concepções acerca do homem,
através de recortes da história da humanidade. Gadotti (2008), ao tratar da
história das ideias pedagógicas, inclui o pensamento oriental, mas aqui nos
deteremos nos pensamentos referentes ao Ocidente, já que foram os que mais
influenciaram nossa cultura.
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Psicologia e Educação | As concepções de homem relacionadas ao desenvolvimento humano:
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• a parte racional, com sede no cérebro; ela é livre, espiritual e
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imortal;
• a irascível, residindo no peito;
• a apetitiva, localizada nas entranhas.
Na sociedade, a organização do Estado deve assemelhar-se à alma
humana, dividida em três classes:
• a parte racional seria formada pelos filósofos e pelos que com-
poriam os encargos públicos;
• a irascível, formada pela classe dos guerreiros, para a defesa
social;
• a apetitiva, por operários e lavradores, responsáveis pela sub-
sistência.
Mais tarde ele reconheceu a impraticabilidade de sua teoria política
entre indivíduos que são seres humanos, e não divinos.
Em relação à visão aristotélica, verificamos que sua posição não
é idealista, mas realista, uma vez que seu objeto de estudos é o mundo
animado, ou seja, aquilo que tem vida, que se diferencia essencialmente
do mundo inorgânico. O princípio da atividade, portanto, é a alma.
Tais estudos podem ser classificados, como o fazem muitos autores,
como característicos de uma fase denominada Psicologia Filosófica.
Esta perdurou até o século XVII, a partir do qual a visão aristotélica
de ciência continuaria a fomentar discussões que se centralizam ainda
em duas possíveis vertentes: o conhecimento teria como fonte as sen-
sações – e, portanto, o papel da experiência é mais importante – ou
estas não conseguem nos fornecer uma visão fidedigna da realidade, a
não ser que usemos a razão.
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Escolástica
Constitui uma linha dentro da filosofia medieval, de características notadamente cris-
tãs, que surgiu da necessidade de responder às exigências da fé que era ensinada pela
Igreja, instituição que dividia o poder com os reinados e que se atribuía a função de
guardiã dos valores espirituais e morais de toda a Cristandade. A Escolástica deve
seu nome às artes ensinadas nas escolas medievais e perdurou do começo do século
IX até ao fim do século XVI, ou seja, até ao fim da Idade Média.
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/
File:Laurentius_de_Voltolina_001.jpg
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As doutrinas platônicas foram retomadas, no século IV, por Santo
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S anto Agostinho
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Agostinho, associadas à doutrina cristã; inspirado em Platão, destaca-se (354-430), filho de
mãe devota e cristã,
pela profundidade de suas ideias, associando o caráter especulativo dos depois canonizada
gregos com a praticidade latina. Suas principais preocupações eram (Santa Mônica), foi
o mais célebre dos
ligadas a problemas práticos e morais, tais como a liberdade, o mal, a padres latinos. Nas-
ceu na África, que na
predestinação. Destacou-se como padre e, no século XIII, São Tomás de época era romana, e,
Aquino torna-se uma das figuras mais destacadas no campo da Escolás- após uma vida licen-
ciosa, converteu-se
tica, inspirado na filosofia de Aristóteles. ao cristianismo aos
33 anos de idade,
quando se batizou.
Foi um teólogo-
filósofo. No campo
São Tomás de Aquino (1225-1274), denominado o “Doutor Angélico”, é con- da Filosofia, seguiu
siderado o maior teólogo da igreja no Ocidente. Dentre suas obras, destacam-se a
as ideias de Platão,
Suma teológica e a Suma contra os gentios, que são expressões da ortodoxia cató-
tentando adaptá-las
lica. Representa a Escolástica em toda a sua pureza. Construiu um sistema teológi-
à teologia cristã.
co-filosófico, tentando uma distinção e, ao mesmo tempo, uma conciliação entre fé
Para isso, fundamen-
e razão. Para ele, é próprio da Filosofia o conhecimento das coisas à luz da razão;
ta-se na demons-
a Teologia serve-se da razão, porém, esta opera à luz da revelação e dos dogmas
tração racional da
do cristianismo. Para a filosofia tomista, a espécie inteligível não é o objeto mate-
existência de Deus,
rial entendido, ou seja, a representação da coisa, mas o meio pelo qual a mente
assim como na imu-
entende as coisas do mundo exterior. Isto corresponde aos dados do conhecimento,
tabilidade das leis
permitindo-nos conhecer coisas, e não ideias. As coisas não podem entrar no nosso
que regem o conhe-
cérebro, pois são conhecidas através de imagens.
cimento humano.
Como Platão, defen-
de a imortalidade da
alma, cuja origem é
É na Idade Média, quando a educação formal restringia-se a divina, e pretendeu a
conciliação entre fé e
nobres e sacerdotes e era realizada sob a égide da Igreja Católica, que inteligência.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:
Copernicus.jpg
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Idade Contemporânea, pois esta constitui uma continuação da primeira.
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O período denominado Renascença (renascimento das Letras e das
Artes), iniciado na Itália no século XIV e caracterizado pelo estudo e
pela admiração dos cânones artísticos da Antiguidade clássica, marca a
transição para a Idade Moderna.
As profundas transformações na visão do homem, associadas às
grandes descobertas (a bússola, a imprensa, o uso militar da pólvora,
a descoberta da América) são acompanhadas pelo desenvolvimento de
duas correntes filosóficas – empirismo e racionalismo.
Jetmir Decani
De um modo geral:
• O empirismo defende que todas as nossas ideias são prove-
nientes de nossas percepções sensoriais (visão, audição, tato,
paladar, olfato) e que podem ser assimiladas através do processo
de aprendizagem.
• No racionalismo, os princípios lógicos seriam inatos à mente
do homem, motivo pelo qual a razão deve ser a fonte básica
do conhecimento. Somente a razão humana, operando com
princípios lógicos, pode atingir o conhecimento verdadeiro,
universalmente aceito.
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Resumindo o cartesianismo, pode-se dizer que ele admite, como
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ideias absolutamente certas – das quais a inteligência não pode abstrair
–, as ideias de pensamento e de extensão. O cartesianismo adota a dúvida
sistemática como método, o mecanismo como princípio e o espiritualismo
e o deísmo como princípios metafísicos. Deísmo
Na Inglaterra, John Locke rejeitava as ideias inatas, colocando a Atitude dos que
rejeitam toda espécie
fonte de todo o nosso conhecimento na experiência e na sensação, com de revelação divina
e, portanto, a auto-
o auxílio da reflexão; para ele, o psiquismo seria uma página em branco,
ridade de qualquer
na qual seriam inscritas as impressões que nos chegassem pelos sentidos. igreja. Porém, acre-
ditam na existência
No século seguinte, novas discussões e controvérsias ocupam os de um Deus, des-
provido de atribu-
filósofos, até alcançarem certo consenso acerca das faculdades inerentes tos intelectuais ou
ao psiquismo humano: a inteligência, a vontade e as emoções. Em seus morais, o qual pode
ou não ter criado o
primórdios, portanto, as explicações psicológicas que advieram da filo- Universo.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
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RESPOSTA COMENTADA
Para filósofos, desde a Antiguidade, era discutida a natureza inata
ou não das ideias humanas, dando origem a duas tendências que
se mantiveram durante a Idade Média e a Idade Moderna, per-
sistindo ainda na modernidade: a empirista e a racionalista. Estas
ainda perduram nas divisões das teorias psicológicas, que ainda
são agrupadas em duas grandes categorias: teorias que defendem
as associações entre eventos percebidos pelos sentidos e teorias
racionalistas, preocupadas com os processos racionais ou cognitivos.
Os filósofos mais importantes como defensores do inatismo foram
Platão, com sua teoria das ideias abstratas e eternas de objetos,
que já existem em nossas mentes, e Descartes, respectivamente na
Antiguidade e na Idade Moderna. De acordo com o cartesianismo,
somente através dos princípios da lógica, próprios da razão humana,
pode-se atingir a verdade, ou seja, o conhecimento universal. O ina-
tismo, nessas duas épocas, referia-se ao que é inato em termos de
funções da mente, com a finalidade de promover o conhecimento.
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diversas doenças e epidemias, as quais começou a evitar através da vacina-
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ção. Certa época, uma doença alastrava-se e estava dizimando um rebanho
de ovelhas do interior da França. Ele avisou às autoridades que se tratava
de uma epidemia, a qual estava sendo transmitida através dos animais
mortos deixados à beira dos rios. Para que ela fosse contida, propôs vaci-
nar a metade dos rebanhos de cada fazenda por onde passariam os cursos
de água contaminados, e só depois que os animais vacinados e marcados
sobreviveram pôde comprovar a efetiva ação dos micro-organismos na
transmissão de doenças. Assim como os animais, as pessoas também não
morriam por causas indeterminadas, mas porque eram atacadas por seres
microscópicos. Como acreditar que o ser humano – criado à semelhança
divina – pudesse sucumbir a criaturas tão inferiores?
Combatendo micróbios
Pasteur expôs a “teoria germinal das enfermidades infecciosas”,
segundo a qual toda enfermidade infecciosa tem sua causa (etiolo-
gia) num micróbio com capacidade de propagar-se entre as pessoas.
Deve-se buscar o micróbio responsável por cada enfermidade para
se determinar um modo de combatê-lo. Pasteur passou a investigar
os microscópicos agentes patogênicos, terminando por descobrir
vacinas, em especial a antirrábica. Fundou, em 1888, o Instituto
Pasteur, um dos mais famosos centros de pesquisa atuais.
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O criacionismo consiste na mais difundida explicação sobre a criação e
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desenvolvimento do Universo, incluindo galáxias, planetas e a própria
vida. Um sistema de crenças segundo o qual tudo teria sido criado por
uma entidade inteligente, superior, normalmente identificada como Deus.
Com o avanço das ciências naturais e sua desvinculação da religião, novas
explicações foram deduzidas sobre a origem do Universo, do homem, do
nosso planeta e da vida. Tais mudanças geraram e até hoje geram contro-
vérsias e conflitos entre certos grupos religiosos. Os cristãos, assim como os
fundamentalistas, configuram-se como os principais mantenedores dessa
polêmica, através do embate entre criacionistas versus evolucionistas.
Nos Estados Unidos da América do Norte, por exemplo, país considerado
desenvolvido segundo critérios econômicos e tecnológicos, em mais de
vinte estados ainda é proibido o ensino da teoria da evolução de Darwin.
O INATISMO E A PSICOLOGIA
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Não confunda experimentalismo com empirismo, este último já definido
na Aula 1. Para os empiristas, o conhecimento tem sua origem FORA
do indivíduo e é interiorizado através dos SENTIDOS. Os pressupostos
do método experimental para a verificação de hipóteses implicam, em
sua versão clássica, trabalhar com dois grupos, cujas respostas serão
comparadas: a um deles é aplicado um determinado tratamento (grupo
experimental), e ao outro (grupo de controle) não se introduz nenhu-
ma variável, tomando-se o cuidado de manter as mesmas condições do
primeiro. Tal controle permitiria que ambos os grupos fossem homogê-
neos. As respostas dos sujeitos de ambos os grupos seriam comparadas,
e as diferenças encontradas seriam atribuídas ao tratamento utilizado.
Atualmente este método vem sendo aperfeiçoado, inclusive em face
do desenvolvimento da estatística, e passou a incluir diversos tipos de
planejamento experimental e a possibilidade de pesquisar vários grupos
simultaneamente para os testes de hipóteses. No lugar de se tentar anali-
sar a ação de determinada droga, por exemplo, com uma única dosagem,
pode-se testar várias doses ao mesmo tempo, utilizando grupos de pessoas
em diferentes faixas etárias, como se faz nos planejamentos fatoriais.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
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Como descobertas científicas na Astronomia e na Biologia modificaram as
concepções do homem?
RESPOSTA COMENTADA
Ao tirar a Terra do centro do Universo e o homem do centro da criação
divina, Galileu e Darwin, respectivamente no período medieval e na
Idade Moderna, provocaram uma revolução nas ideias sobre a concep-
ção do homem. As mudanças radicais não costumam ser aceitas sem
perseguições de grupos que sentem seus ideais ou crenças abalados.
A revolução galileana foi precursora de outras grandes teorias da Física,
que vêm mudando substancialmente esta área de saber. As concepções
baseadas no inatismo deixam de ser uma verdade universal, o que
mudou a concepção de homem como um ser criado completo e não
sujeito às variáveis do meio ambiente.
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A dicotomia inato-ambiental separa a multidiversidade – que
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caracteriza o ser humano – em apenas duas possibilidades. Ela pode
ser denominada de outras formas, tais como: hereditário x aprendido,
essencialismo x construtivismo social, sociedade x natureza ou ainda
“nature” x “nurture”.
É necessário que você atente para o fato de que, embora essas duas
posições pareçam dar conta do objeto da Psicologia, não podemos nos
contentar em tentar compreender os fenômenos psíquicos que ocorrem
dentro do indivíduo apenas com essas duas vertentes. Conforme ressalta
Paulilo (1996), precisamos admitir que processos externos e internos têm
significação anterior à existência do ser humano, ou seja, há variáveis
que são oriundas da história da sociedade na qual o indivíduo nasce e
vive. Tentando aplicar as teorias psicológicas, a Psicologia da Educação
buscou fundamentação nas três áreas que estavam em franco desen-
volvimento no início do século passado: os estudos sobre diferenças
individuais e a preocupação psicométrica (uso de testes de inteligência,
atenção, aptidões), as pesquisas sobre processos e tipos de aprendizagem
e, finalmente, os estudos sobre o desenvolvimento infantil.
No que concerne ao estudo das diferenças individuais:
• O interesse pelas diferenças individuais entre os indivíduos
começou na área das Ciências Físicas, especificamente na Astro-
nomia, quando foi constatada uma diferença nos cálculos de
velocidades e distâncias de corpos celestes, ao serem compara-
dos os resultados de diferentes astrônomos. Uma aproximação
do tempo real deveria ser estimada, a partir de uma equação
pessoal dos erros. Daí resultaram estudos psicofísicos no Labo-
ratório de Leipzig, incluindo testes de tempo de reação.
• Na Psicologia, estes estudos influenciaram uma visão psico-
métrica da inteligência, buscando entender a forma pela qual
a inteligência se estrutura; neste modelo, coexiste uma pressu-
posição de que a inteligência é composta de habilidades e que
estas podem ser medidas por provas de capacidade mental.
• Além desse, outros paradigmas foram marcantes para o estudo
da inteligência: o desenvolvimento da psicologia cognitiva – que
concerne aos processos mentais responsáveis pelo funcionamen-
to do pensamento – e a ciência biológica, ao tratar das bases
neurais de inteligência, atualmente denominada neurociência.
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meio, a partir das ações do ser humano, propiciam adaptação progressiva,
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objetivando uma equilibração constante. A aprendizagem beneficia-se
desses progressos, mas não o influencia. Certos tipos de aprendizagem
só serão possíveis quando o organismo alcançar determinados níveis de
desenvolvimento das estruturas cognitivas. Desde que iniciou sua car-
reira, Piaget tinha interesse em fenômenos de adaptação ontogenética
que tinham repercussão na filogênese.
Segundo alguns autores, como Figueiredo (1991) e Palangana
(1994), a visão piagetiana é vista como interacionista, em face da neces-
sidade de a criança interagir com o meio para que ocorra a gênese do
pensamento. O interacionismo determinou o fim da dicotomia inatismo
x ambientalismo, inclusive porque esses dois termos possuem conotações
diferentes em outras áreas do saber.
!
As mil faces da Psicologia
Você deve estar se perguntando por que, ao observarmos a história da
Psicologia, nos deparamos com um conjunto de discursos composto por
inúmeras escolas, com diferentes orientações, o que lhe dá a aparência
de um corpo em pedaços, sem unidade, como observa Patto (1994).
Realmente, o objeto atual da Psicologia, com suas inúmeras especialida-
des, desde a Psicologia Biológica à Psicologia Social, abarca um grande
número de possibilidades para os que se dedicam a essa área de estudos.
Etologia
O INATO NA PERSPECTIVA ETOLÓGICA Disciplina dedicada,
em seus primórdios,
ao estudo do com-
Uma nova perspectiva de base inatista apareceu nos últimos cin- portamento animal,
mas que passou a
quenta anos, com o desenvolvimento de estudos etológicos. A Etologia, estudar a espécie
definida como a biologia do comportamento, surgiu na Europa, com humana. O termo
provém do grego
o objetivo de estudar os mecanismos do comportamento através de -
ethos (conduta,
costumes, compor-
uma perspectiva evolucionária. Ocupou-se inicialmente das atividades tamento) e logos
(estudo, tratado). Ela
instintivas nas diversas espécies, em ambiente natural. Destacam-se,
se utiliza de estudos
nessa fase, os trabalhos pioneiros de Konrad Lorenz e Niko Tinbergen em ambiente natural
e também em labo-
(1951), sobre instintos em aves, introduzindo a noção de imprinting ratórios, possuindo
caráter interdiscipli-
(ou “estampagem”) para atos instintivos – e, portanto, inatos – que nar e combinando
necessitam de certo estágio do desenvolvimento do animal, assim conhecimentos de
neuroanatomia,
como a presença de certo estímulo para que sejam gravados. ecologia e teoria da
evolução.
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Psicologia e Educação | As concepções de homem relacionadas ao desenvolvimento humano:
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Dentre as descobertas desses pioneiros, há ainda as que se rela-
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cionam aos “estímulos sinais”, ou estímulos deflagradores de compor-
tamentos inatos, como o grito de alerta à aproximação de predadores.
No caso das aves, por exemplo, a visão de um simples contorno que
caracterize um ganso ou uma águia provocará reações diversas, não
importando os demais detalhes da figura percebida.
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Agressão e autocontrole
O ponto crucial da visão de Lorenz a respeito da natureza humana,
exposto no livro Sobre a agressão, é que o ser humano, assim como
acontece com outros animais, tem o impulso inato do comportamento
agressivo em relação à sua própria espécie. Esse impulso deveria estar
limitado, provocando poucos danos ao outro, como acontece em geral,
entre outros animais, nas disputas por fêmeas ou por território. Entre
os humanos, no entanto, a agressão pode levar à morte do oponente,
consequência que contraria a necessidade de sobrevivência da espécie.
Nos seres humanos foram observadas duas grandes diferenças: a primeira
é o poder em termos destrutivos, com o crescente arsenal disponível para
matar. Se antes as armas demandavam contato com o inimigo ou com o
opositor, como eram os casos em que eram usados machados, espadas
e armas brancas em geral, passando pela lança e pelo arco e flecha, o
agressor podia ver o sofrimento causado ao outro, o que deveria inibir o
comportamento agressivo. Com a nova utilização da pólvora e a invenção
do revólver e, depois, de armas que impediam a visão das reações das
vítimas da agressão, o alvo ficou cada vez mais longínquo. Até que a
humanidade chegou à “assepsia” de apertar um botão e lançar mísseis
de longo alcance que sequer são associados à grandeza da destruição
que provocam e tampouco à população dizimada. Dessa forma, o equilí-
brio natural entre o potencial de agressão e a inibição a ela passou a ser
dificilmente percebido. A tecnologia destruiu a possibilidade de que a
espécie humana iniba o comportamento agressivo ao perceber a vítima
apresentando gestos ou posturas de submissão, como fazem os cães e
outros mamíferos, que se deitam de barriga para cima, mostrando-se,
dessa forma, vulneráveis e sem capacidade de reagir.
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Em 1973, Lorenz, Tinbergen e Von Frisch receberam o Prêmio
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Nobel por suas descobertas, tendo este último se destacado por suas
pesquisas sobre a comunicação entre abelhas, quando percebeu que,
de alguma forma, elas passavam informação às demais sobre o local da
fonte de alimento, ao chegarem à colmeia: a famosa “dança do oito”,
como ficou conhecida.
Fonte: http://www.i-l-g.at/preistraegerbild35.htm
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Afirmam que foi a contínua interação entre o apego e o investimento
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parental que deu origem ao amor entre pais e filhos e que, como evoluímos
em um contexto de vínculos afetivos individualizados, também permitiu o
desenvolvimento da própria sociedade (BUSSAB; OTTA, 2000).
Vivek Chugh
!
Não confunda o termo Psicologia Evolucionista com Psicologia Evolutiva, ou
Psicologia do Desenvolvimento. Esta última está mais ligada à ontogênese,
ou seja, ao desenvolvimento do indivíduo. E isso é diferente da filogênese,
ligada à primeira, que se refere ao desenvolvimento das espécies.
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ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 3
RESPOSTA COMENTADA
No comportamento da professora, nota-se uma orientação mais
ambientalista, além do reconhecimento de que natureza e ambiente
interagem contínua e reciprocamente, o que nos permite inferir uma
tendência interacionista nos processos que envolvem a criança.
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No interacionismo, não cabe a divisão em somente duas categorias
isoladas e não é aceita a dicotomia inato x aprendido. Quanto às
atitudes da mãe, há uma tendência ao inatismo; para ela, o com-
portamento do filho seria devido, exclusivamente, a fatores internos,
o que limita as possibilidades e a multidiversidade de alternativas de
que ela poderia dispor. A necessidade de contextualização, ou seja,
de aceitar a influência de diferentes variáveis, tanto internas quanto
externas, constitui uma premissa básica para o conhecimento psico-
lógico e suas aplicações à educação, favorecendo uma concepção
abrangente e mais compreensiva do ser humano.
CONCLUSÃO
E agora? Você deve estar se perguntando o que tudo isto tem a ver
com a Pedagogia? Qual a importância e as inter-relações entre posições
inatistas, para a Psicologia da Educação?
Durante séculos os estudiosos tentaram chegar a um consenso
a respeito da origem dos princípios racionais, da capacidade para a
intuição e de raciocínio do homem. Será que as pessoas já nascem com
potencialidades, dons e aptidões que serão desenvolvidos de acordo
com o amadurecimento biológico ou tudo isso é desenvolvido através
da experiência com o mundo externo? Essa discussão, que se iniciou a
partir de dois dos maiores filósofos da História, Platão e Aristóteles,
ocupou filósofos no período medieval e chegou à modernidade com
diferentes nomes, apresentando o ser humano como um agente estático,
sem a possibilidade de sofrer mudanças. Desta forma, quando o homem
nasce, tudo está definido, toda a atividade de conhecimento é exclusiva
do sujeito e o meio dela não participa.
Já a predominância do meio ambiente, como única fonte na
produção do conhecimento, característica do empirismo, destaca a
importância da educação e da instrução na formação do homem.
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Psicologia e Educação | As concepções de homem relacionadas ao desenvolvimento humano:
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Para entender o desenvolvimento, o inatismo parte do pressuposto
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de que o homem, em seu processo de aprendizagem, apenas aperfeiçoa o
que lhe foi dado de forma inata. A aplicação dessa concepção na educa-
ção gera imobilismo e resignação, uma vez que as diferenças individuais
não podem ser superadas, isentando a escola, a família, o educador – e
a própria sociedade – de qualquer responsabilidade.
ATIVIDADE FINAL
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Psicologia e Educação | As concepções de homem relacionadas ao desenvolvimento humano:
o inatismo
RESPOSTA COMENTADA
A Etologia animal e humana revolucionou muitos conceitos, demonstrando que o
determinismo do inato não é automático, mas depende de certas condições do
ambiente, de certos “estímulos sinais”, ou estímulos deflagradores, e que estes devem
ocorrer em determinados “períodos críticos” da ontogênese. Contribuiu, com a teoria
do apego, para a compreensão da formação de vínculos afetivos, principalmente
entre mãe e filho. A base biológica do homem, como afirma Carvalho (1989) deve
ser analisada dentro do contexto sociocultural. Mesmo possuindo uma abordagem
baseada na fisiologia, o etólogo Tinbergen, conforma assinala Ades (s/d), não
aceita o reducionismo inato, afirmando que o desenvolvimento das ações huma-
nas é composto de diversos níveis de integração, níveis estes que, dependendo da
ação em questão, obedecem a uma hierarquia: em certos comportamentos podem
predominar fatores inatos; em outros, o ambiente é que predomina, mas sempre
haverá participação de ambos os fatores.
RESUMO
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AULA
Mesmo o inatismo piagetiano, um inatismo mais relacionado aos estágios de
desenvolvimento desde a infância e até a adolescência, coloca em evidência que
as estimulações do ambiente são essenciais, para a passagem de um para outro
nível de desenvolvimento. Na psicopedagogia, reconhecer a predominância do
inato deixa de lado a responsabilidade dos pais, da escola e da própria sociedade
no desenvolvimento infantil – e, por consequência, no desenvolvimento humano –
anulando qualquer influência que venha do ambiente psicológico e sociocultural.
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