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FONTES PRIMEIRAS: RAZÃO OU

SENSAÇÃO?

IF SUDESTE – CAMPUS MURIAÉ


FILOSOFIA
Prof. Rone Santos
Outra questão básica enfrentada pela Teoria do
Conhecimento é apontar qual é a fonte que o sustenta e de
onde ele se forma:
- qual é a fonte, o ponto de partida dos conhecimentos?
- De onde se originam as ideias, os conceitos, as
representações?

Entre as respostas dadas a esse problema, destacam-se


basicamente duas correntes filosóficas: o racionalismo e o
empirismo. Mas existe também uma terceira posição, o
apriorismo/criticismo kantiano, que conjuga de alguma
maneira essas duas correntes.
RACIONALISMO:
A palavra racionalismo deriva do latim ratio, que significa
“razão”, e é empregada em diversos sentidos. Na Teoria do
Conhecimento, racionalismo designa a doutrina que atribui
exclusiva confiança à razão humana como instrumento
capaz de conhecer a verdade.

Segundo um dos principais filósofos


racionalistas, René Descartes (1596-
1650), não devemos nos deixar
persuadir senão pela evidência de
nossa razão.
Descartes
E como chegar até o conhecimento evidente, seguro,
verdadeiro e livre de dúvidas? Começando exatamente pela
dúvida, a chamada dúvida metódica.

Descartes afirmava que,


para conhecer a verdade, é
preciso antes colocar todos
os nossos conhecimentos
em dúvida. É necessário
questionar tudo e analisar
criteriosamente se existe
algo na realidade de que
possamos ter plena certeza.
Fazendo uma aplicação metódica da dúvida Descartes
percebeu que a única verdade totalmente livre de dúvida era
que ele pensava. Deduziu então que, se pensava, existia
(“Penso, logo existo”). Para descartes, essa seria uma
verdade absolutamente firme, certa e segura, que por isso
mesmo deveria ser adotada como princípio básico de toda a
sua filosofia. Era sua base, seu novo centro, seu ponto fixo.

O termo pensamento é utilizado pelo filósofo em um sentido


bastante amplo, abrangendo tudo o que afirmamos,
negamos, sentimos, imaginamos, cremos e sonhamos.
Assim, o ser humano seria, para ele, uma substância
essencialmente pensante.
Aplicando a dúvida metódica Descartes chegou à conclusão
de que no mundo haveria apenas duas substâncias,
essencialmente distintas e separadas:

• a substância pensante (res cogitans), correspondente à


esfera do eu ou da consciência;

• a substância extensa (res extensa), correspondente ao


mundo corpóreo, material.

O ser humano seria composto dessas duas substâncias,


enquanto a natureza se constituiria apenas de substância
extensa.
Glândula Pineal
Segundo Descartes neste órgão,
localizado dentro do cérebro, se
realizaria o encontro da mente (res
cogitans) e do corpo (res extensa)
A metafísica cartesiana também incluía uma substância
infinita (res infinita), relativa a Deus, o ser que teria criado
todas as coisas. Mas essa substância não seria parte deste
mundo, pois o deus cartesiano é transcendente, está
separado de sua criação.

Esquema do raciocínio
cartesiano em 4 etapas:

Da dúvida generalizada (1)


à descoberta do sujeito (2)
e da percepção de Deus
(3) à existência do mundo
físico (4).
Descartes era um racionalista convicto. Recomendava que
desconfiássemos das percepções sensoriais,
responsabilizando-as pelos frequentes erros do
conhecimento humano. Para ele o verdadeiro conhecimento
das coisas externas devia ser conseguido através do
trabalho lógico da mente.

Nesse sentido, considerava que, no


passado, dentre todos os indivíduos que
buscaram a verdade nas ciências, “só os
matemáticos puderam encontrar
algumas demonstrações, isto é, algumas
razões certas e evidentes” (Descartes,
Discurso do método).
Da sua obra Discurso do método, podemos destacar quatro
regras básicas, consideradas por descartes capazes de conduzir
o espírito na busca do conhecimento verdadeiro:
O pensamento racionalista de Descartes influenciou o
pensamento posterior. Sua concepção dualista do ser humano
(corpo e mente) ainda é sentida em diversos campos do
conhecimento. E seu método contribuiu grandemente para
uma visão reducionista da realidade.
Ter a razão como única fonte de conhecimento se deve à
compreensão racionalista de que a experiência sensorial é
uma fonte permanente de erros e confusões sobre a complexa
realidade do mundo.
Assim, somente a razão humana,
trabalhando de acordo com os
princípios lógicos e racionais pode
atingir o conhecimento verdadeiro,
capaz de ser universalmente aceito.

Para o racionalismo, os princípios


lógicos e racionais fundamentais
seriam inatos, isto é, já estariam na
mente do ser humano desde o
nascimento. Daí a razão ser concebida
como a fonte básica do conhecimento.
“O Sono da Razão produz monstros”
(1799), de Francisco Goya
EMPIRISMO:

A palavra empirismo tem sua origem no grego empeiria, que


significa “experiência”. As teorias empiristas defendem a
tese de que todas as nossas ideias são provenientes da
experiência e, em última instância, de nossas percepções
sensoriais (visão, audição, tato, paladar, olfato).
Portanto, para defensores do
empirismo, não existem as ideias
inatas. Como afirmava um dos
principais teóricos dessa corrente, o
filósofo inglês John Locke (1632-
1704), nada vem à mente sem ter
passado antes pelos sentidos.
John Locke
Isso quer dizer que ao nascermos nossa mente é como um
papel em branco (ou tábula rasa, expressão usada pelo
pensador), desprovida de qualquer ideia.

No livro “Ensaio acerca do


entendimento humano” (1690)
Locke combateu duramente a
doutrina cartesiana segundo a
qual o ser humano possui
ideias inatas. Ao contrário de
Descartes, o filósofo inglês
defendia que nossa mente, no
instante do nascimento, é
como uma tábula rasa.
A expressão tábula rasa usada por Locke tem o significado
de “tábua lisa”, na qual nada foi escrito nem gravado. Ao
nascer, nossa mente seria como um papel em branco, sem
nenhuma ideia previamente escrita.

Locke defende a tese empirista segundo a qual nada existe


em nossa mente que não tenha sua origem nos sentidos.
Para ele, as ideias que possuímos são adquiridas ao longo
da vida mediante a experiência sensível imediata e seu
processamento interno. Desse modo, o conhecimento seria
constituído basicamente por dois tipos de ideias:
Ideias da sensação Ideias da reflexão
• São nossas primeiras ideias, • São aquelas que resultam da
aquelas que chegam à mente combinação e associação das
através dos sentidos, isto é, sensações por um processo de
quando temos uma reflexão, de tal maneira que a
experiência sensorial, mente vai desenvolvendo outra
constituindo as sensações. série de ideias que não
Essas ideias seriam moldadas poderiam ser obtidas das coisas
pelas qualidades próprias dos externas. Seriam ideias como “a
objetos externos, como percepção, o pensamento, o
podemos observar nas ideias duvidar, o crer, o raciocinar”
de amarelo, branco, quente, (LOCKE, Ensaio acerca do
frio, alto, baixo, amargo, doce entendimento humano, p. 160).
etc.
Assim, a reflexão seria nosso
“sentido interno”, que se
desenvolve quando a mente se
debruça sobre si mesma,
analisando suas próprias
operações. Das ideias simples, a
mente avança em direção a ideias
cada vez mais complexas. Porém,
para Locke, de qualquer maneira a
mente sempre tem “as coisas
materiais externas, como objeto de
sensação, e as operações de
nossas próprias mentes, como
objeto da reflexão” (Ensaio acerca
do entendimento humano, p. 160).
Mas Locke admitia que
nem todo conhecimento
se limita exclusivamente à
experiência sensível.
Considerava, por
exemplo, o conhecimento
matemático válido em
termos lógicos, embora
não tivesse como base a
experiência sensível.
Nesse sentido, Locke não
era um empirista radical.
APRIORISMO/CRITICISMO KANT:

Nem todos os filósofos aderiram ao racionalismo ou ao


empirismo. Alguns buscaram um meio-termo para essas
visões tão opostas. É o caso do apriorismo/criticismo
kantiano, formulado pelo filósofo alemão Immanuel Kant
(1724-1804).
Kant afirmava que todo conhecimento
começa com a experiência, mas que a
experiência sozinha não nos dá o
conhecimento. Ou seja, é preciso um
trabalho do sujeito para organizar os
dados coletados pelos sentidos após a
experiência. Immanuel Kant
Assim, Kant buscou saber como é o sujeito a priori, isto é,
antes de qualquer experiência. Concluiu que o ser humano
possui certas faculdades ou estruturas (as quais ele
denomina formas da sensibilidade e do entendimento) que
não apenas possibilitam a experiência, mas também
determinam o conhecimento.

Para Kant, portanto, a experiência fornece a matéria do


conhecimento (os objetos do conhecimentos: os seres e
coisas do mundo), enquanto a razão organiza essa matéria
de acordo com suas formas próprias, as estruturas
existentes a priori no pensamento – daí o nome apriorismo.
Isso significa que o sujeito acaba sendo o centro do processo
de conhecer, e não o objeto, motivo pelo qual essa doutrina é
também conhecida como idealismo transcendental.
O conhecimento, portanto, seria o resultado de uma
interação entre o sujeito que conhece (de acordo com suas
próprias estruturas a priori) e o objeto conhecido.

Isso significa que não conhecemos as coisas em si


mesmas (o ser em si), como elas são de forma
independente de nós. Só conhecemos as coisas tal como
as percebemos (o ser para nós).

Em outras palavras, as coisas são conhecidas de acordo


com nossas próprias estruturas mentais.
Na visão kantiana o
conhecimento é composto
de duas partes: do
conhecimento empírico e
sensível direto do mundo
das coisas e fenômenos, e
do conhecimento racional e
a priori do mundo das
coisas e fenômenos.
Antes de Kant, nossa razão era regulada pelos objetos que
buscávamos conhecer. Com sua revolução copernicana
sobre o conhecimento, a razão passa a ser objeto de
estudo. E assim, a razão se torna a reguladora de todo o
conhecimento;
Com essa tese, Kant inaugurou o Criticismo.
Criticismo: É uma doutrina filosófica que tem como objeto o
processo pelo qual se estrutura o conhecimento,
estabelecida a partir das críticas ao empirismo e ao
racionalismo;

A filosofia kantiana sobre o conhecimento representou uma


superação do impasse criado entre o racionalismo e o
empirismo, pois edificou uma teoria segundo a qual o
conhecimento seria o resultado desses dois âmbitos: a
sensibilidade, que nos oferece dados dos objetos, e o
entendimento, que determina as condições pelas quais o
objeto é pensado.
Esquema das diferenças
entre racionalismo e
empirismo, e a solução
encontrada por Kant para
unir estas duas teorias
do conhecimento.
FAZER A ATIVIDADE EM GRUPO DE TEORIA DO
CONHECIMENTO – (ATIVIDADE 2 DE 4) – SOBRE A
AULA “FONTES PRIMEIRAS: RAZÃO OU
SENSAÇÃO?”
VALOR: 1,0 PONTO

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