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JACOB BAZARIAN

Ex-Pesquisador Científico do Instituto de Filosofia de Moscou


da A cadem ia de Ciências da U R S S

O PROBLEMA
DA VERDADE
TEORIA DO CONHECIMENTO

2? edição

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EDITORA ALFA-OMEGA
São Paulo
1985
Planejam ento gráfico e p ro d u ção :
Jesus A. Pugliesi

C apa:
A lexandre Benevides

1.4 edição 1979 - Círculo do Livro - SP - 5000 ex.


2.? edição 1980 - Círculo do Livro - SP - 5000 ex.
l.S edição 1980 - Edições Sím bolo - SP - 3000 ex.
2.? edição 1985 - Ed. A lfa Omega - SP - 3000 ex.

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V — AS FONTES DO CONHECIMENTO

Já vimos que do ponto de vista da gnosiologia científica o co­


nhecimento é o reflexo e a reprodução do objeto na mente.
No processo do conhecimento participam os sentidos, a razão e a
intuição. Pergunta-se: qual deles é a origem, a fonte e a base principal
do conhecimento humano? Na questão de saber o lugar e a importân­
cia deles no conhecimento da verdade há divergências de opiniões. Na
história da filosofia apareceram diferentes doutrinas a respeito:

1 — EMPIRISMO
(Do grego, empeiria = experiência) Doutrina que afirma que a
única fonte de nossos conhecimentos é a experiência, recebida pelos
nossos sentidos. Seu axioma fundamental é: “ Nihil est in intellectu
quod priusnon feurit in sensu” . Istoé, nada existe no intelecto que an­
tes não tenha estado nos sentidos.
Os empiristas consideram que o conhecimento empírico, sensível,
obtido através dos órgãos dos nossos sentidos, é suficiente para co­
nhecer a verdade. Ao nascer, a mente humana está completamente
vazia, assemelhando-se a uma tábua rasa, uma folha em branco, na
qual a experiência escreve. Todos os nossos conhecimentos, incluindo
os mais gerais e abstratos, o sujeito cognoscente tira da experiência. A
razão não agrega nada de novo, pois limita-se simplesmente a unir e
ordenar os diferentes dados da experiência. É suficiente a razão se
afastar dos dados da experiência para cair no erro, desligar-se da
realidade.
Os representantes principais do empirismo foram Locke, Hume,
Condillac, Stuart Mill, e outros.
CRÍTICA: O mérito dos empiristas foi assinalar com energia a
importância da experiência na origem dos nossos conhecimentos. Eles

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têm razão ao afirmar que não existem idéias inatas, que antes da ex­
periência não há e nem pode haver conhecimento sobre o mundo ex­
terior. O ponto fraco dos empiristas é a subestimação do papel da
razão, do pensamento abstrato, e a sua diferença qualitativa em re­
lação ao conhecimento empírico.
Os nossos sentidos nos dão somente o conhecimento dos fenô­
menos. A essência das coisas, o númeno, só pode ser alcançada pela
razão, pelo pensamento abstrato.

2 — RACIONALISMO

(Derivado do latim, ratio = razão). Doutrina que afirma que a


razão humana, o pensamento abstrato, é a única fonte do conheci­
mento da verdade.
Ao contrário dos empiristas, afirmam que os nossos sentidos nos
enganam e nunca podem conduzir a um conhecimento verdadeiro,
pois que o mundo da experiência encontra-se em contínua mudança e
alteração.
Segundo o racionalismo, um conhecimento é verdadeiro somente
quando é logicamente necessário e universalmente válido. Esse co­
nhecimento só pode ser alcançado pela razão.
Adeptos do racionalismo: Platão, Descartes, Spinoza, Leibniz,
Kant e outros.
Segundo a teoria das idéias inatas de Descartes ou das formas a
priori de Kant, os conceitos fundamentais do conhecimento são-nos
inatos, isto é, nascem conosco, e, portanto, não procedem da expe­
riência, são a priori, isto é, anterior à experiência.
CRÍTICA: O mérito do racionalismo consiste no fato de subli­
nhar o importante papel ativo e criador da razão, do pensamento abs­
trato, no conhecimento da verdade, da essência das coisas. Mas erram
ao divorciar a razão da experiência, ao desprezar o papel dos sentidos,
considerando que a razão, independente da experiência, pode co­
nhecer a verdade.
RAÍZES GNOSIOLÓGICAS DO RACIONALISMO: Os ra-
cionalistas partem da consciência do homem adulto e culto, que ad­
quiriu muitas idéias, axiomas e principios da razão. Mas eles se es­
quecem que essas idéias, princípios e axiomas tiveram uma origem
empírica. Depois de serem repetidas milhares de vezes pelo pensamen­
to, essas verdades objetivas se tornaram evidentes e axiomáticas e
criaram a impressão de serem a priori, inatas, congênitas e inerentes à
razão humana.

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3 — INTUICIONISMO

Pecam no mesmo erro os intuicionistas, como Bergson e outros,


quando afirmam que é possível conhecer diretamente a verdade, o ab­
soluto, sem o auxílio dos sentidos e da razão, através de uma facul­
dade irracional 011 sobrenatural chamada intuição, com a qual es­
tariam dotadas, segundo eles, apenas algumas elites previlegiadas,
eleitas por uma força sobrenatural (Deus etc.).
A intuição desempenha um papel muito importante no conhe­
cimento da verdade, mas ela não funciona sem os dados empíricos e
racionais.
Estudaremos esse ponto mais detalhadamente no capítulo sobre o
conhecimento intuitivo.

4 — MATERIALISM O DIALÉTICO
Como vimos, tanto o empirismo como o racionalismo e o in-
tuicionismo são doutrinas unilaterais. Enquanto o primeiro considera
os nossos sentidos (a experiência) como a base a fonte do conhecimen­
to, o segundo considera a razão e o terceiro, a intuição.
A verdade no caso estã na síntese dialética das três teorias ex­
tremas — O Materialismo Dialético. Segundo essa doutrina, os três
fatores, os sentidos, a razão e a intuição tomam parte na elaboração
do conhecimento.
Na nossa atividade prática, obtemos, por meio de nossos órgãos
dos sentidos, imagens sensíveis dos objetos concretos. Nesses mesmos
objetos encontram-se implícitas (ocultas, em potência), suas quali­
dades não-sensíveis, a sua essência. Só é preciso extraí-la. Isso tem lugar
por obra da nossa razão e da intuição, pelo entendimento ativo ou pelo
intelecto. Como indica a palavra (intelligere, de intus legere = ler no in­
terior), a inteligência cognoscente lê na experiência, tira da experiência
os seus conceitos. Dos conceitos assim extraídos, obtêm-se, por meio de
operações da razão, os conceitos mais abstratos e mais gerais, como os
que estão contidos nas categorias nos princípios da razão.
O materialismo dialético estabeleceu que o conhecimento não é
um reflexo simples, passivo, inerte, “fotográfico” , da realidade, mas
um processo dialético complexo.
Esse processo se desenvolve por etapas ligadas entre si e que se
sucedem uma à outra. Lenin expressou admiravelmente a essência
desse processo e mostrou como a realidade se reflete em cada grau do
conhecimento da verdade objetiva: “ Da contemplação viva ao pen­
samento abstrato, e deste à prática — tal é o processo dialético do

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conhecimento da verdade, do conhecimento da realidade objetiva”
(Cadernos Filosóficos, Ed. Russa, Moscou, 1947, pp. 146-147).
A razão está intimamente ligada aos nossos sentidos. Os dados do
sentido são a base, o fundamento dos nossos conhecimentos, mas não
todo o seu fundamento. A razão, o pensamento, na base desses co­
nhecimentos, vai além, em busca da essência das coisas que não estão
ao alcance dos sentidos.
A razão sem os dados empíricos é vazia.
A experiência sem a razão é cega.
Não há idéias inatas, nem a priori, anteriores à experiência. Do
ponto de vista biológico, as idéias não se herdam. Herda-se apenas o
mecanismo da atividade nervosa que serve de base fisiológica para o
conhecimento. Os conhecimentos práticos e teóricos acumulados
pelas gerações procedentes são herdadas, socialmente, através da ins­
trução, da educação ou adquiridos pela própria experiência individual
no processo da atividade prática e teórica.
5 — A S ESPÉCIES E FORMAS DO CONHECIMENTO
Assim, existem três espécies de conhecimento:
A — O conhecimento sensível ou empírico — fornecido pelos
nossos órgãos sensoriais (visão, audição, tato, olfato, paladar).
B — O conhecimento racional ou abstrato — obtido pela razão
ou intelecto.
C — O conhecimento intuitivo ou criativo obtido pela intuição.
Cada espécie de conhecimento se manifesta em formas peculiares
de conhecimento, segundo o quadro abaixo:
Espécies de conhecimento: Formas de conhecimento:

A — Sensível ou Empírico

B — Racional ou Abstrato

C — Intuitivo ou Criativo

Examinemos, brevemente, cada espécie de conhecimento com as


respectivas formas que elas se revestem.

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