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EPISTEMOLOGIA

O que é a Ciência?
Como podemos definir os limites do nosso conhecimento.

Dicionário de Filosofia

EPISTEMOLOGIA (do gr. episteme: ciência, e logos: teoria) Disciplina que toma as ciências
como objeto de investigação tentando reagrupar: a) a crítica do conhecimento científico
(exame dos princípios, das hipóteses e das conclusões das diferentes ciências, tendo em
vista determinar seu alcance e seu valor objetivo); b) a filosofia das ciências (empirismo,
racionalismo etc.); c) a história das ciências. O simples fato de hesitarmos, hoje, entre duas
denominações (epistemologia e filosofia das ciências) já é sintomático. Segundo os países e
os usos, o conceito de "epistemologia" serve para designar, seja uma teoria geral do
conhecimento (de natureza filosófica), seja estudos mais restritos concernentes à gênese e
à estruturação das ciências. No pensamento anglo-saxão, epistemologia é sinônimo de
teoria do conhecimento (ou gnoseologia), sendo mais conhecida pelo nome de philosophy
ofscience. E neste sentido que se fala de epistemologia a propósito dos trabalhos de Piaget
versando sobre os processos de aquisição dos conhecimentos na criança. O fato é que um
tratado de epistemologia pode receber títulos tão diversos como: "A lógica da pesquisa
científica". "Os fundamentos da fisica", "Ciência e sociedade', "Teoria do conhecimento
científico', "Metodologia científica", "Ciência da ciência', "Sociologia das ciências" etc. Por
essa simples enumeração, podemos ver que a epistemologia é uma disciplina proteiforme
que, segundo as necessidades, se faz "lógica', "filosofia do conhecimento", "sociologia",
"psicologia", "história" etc. Seu problema central, e que define seu estatuto geral, consiste
em estabelecer se o conhecimento poderá ser reduzido a um puro registro, pelo sujeito,
dos dados já anteriormente organizados independentemente dele no mundo exterior, ou se
o sujeito poderá intervir ativamente no conhecimento dos objetos. Em outras palavras, ela
se interessa pelo problema do crescimento dos conhecimentos científicos. Por isso,
podemos defini-la como a disciplina que toma por objeto não mais a ciência verdadeira de
que deveríamos estabelecer as condições de possibilidade ou os títulos de legitimidade,
mas as ciências em via de se fazerem, em seu processo de gênese, de formação e de
estruturação progressiva.

TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE FILOSOFIA


PAUL KLEINMAN

EMPIRISMO x RACIONALISMO

De onde vêm as verdades?


Na epistemologia, os filósofos examinam a natureza, as origens e os limites do
conhecimento. As principais questões levantadas são:

● Como alguém obtém conhecimento?


● Quais são os limites do conhecimento?
● Qual é a natureza do verdadeiro conhecimento? O que assegura que ele seja
verdadeiro?

Para responder à primeira questão sobre como se origina o conhecimento, existem duas
teorias filosóficas opostas: o empirismo e o racionalismo.
significativa de conhecimento ainda é obtida
EMPIRISMO unicamente pela experiência.

O empirismo propõe que todo conhecimento RACIONALISMO


deriva da experiência sensorial. De acordo com
essa teoria, nossos sentidos obtêm as informações O racionalismo é a teoria em que a razão, não os
brutas do mundo que nos rodeia e nossa percepção sentidos, é a origem do conhecimento. Os
sobre essas informações brutas dá início a um racionalistas argumentam que, sem contar com
processo pelo qual começamos a formular ideias e princípios e categorias já dados, os seres humanos
crenças. A noção de que os humanos nascem com não seriam capazes de organizar e interpretar as
um conhecimento inato é rejeitada. O argumento é informações oferecidas pelos sentidos. Assim, de
de que as pessoas só adquirem conhecimento a acordo com o racionalismo, os humanos contam
posteriori, ou seja, com “base na experiência”. Pelo com conceitos inatos e, então, aplicam o raciocínio
raciocínio indutivo baseado nas observações dedutivo.
básicas proporcionadas pelos sentidos, o
conhecimento se torna mais complexo. Os racionalistas acreditam em pelo menos um
dos seguintes pontos:
De modo geral, existem três tipos de
empirismo. - A tese da intuição/dedução

- Empirismo clássico Essa tese afirma que existem algumas


proposições conhecidas como resultado somente
Essa é a forma de empirismo associada à teoria da intuição, enquanto outras podem ser
da tábula rasa de John Locke. A noção de um conhecidas por dedução de uma proposição
conhecimento inato é completamente rejeitada e intuída. Segundo o racionalismo, a intuição é um
assume-se que não sabemos nada ao nascer. É tipo de percepção racional. Pela dedução, somos
somente quando alguém começa a experienciar o capazes de chegar a conclusões a partir de
mundo que a informação é obtida e o premissas intuídas, utilizando argumentos válidos.
conhecimento se forma. Em outras palavras, a conclusão tem de ser
verdadeira, se as premissas nas quais a conclusão
- Empirismo radical se baseia forem verdadeiras. Uma vez que uma
parte do conhecimento se torna conhecida, uma
O empirismo radical tornou-se famoso com o pessoa pode, então, deduzir as outras com base
trabalho do filósofo norte-americano William nesse conhecimento original.
James. Nas formas mais radicais do empirismo,
todo conhecimento de uma pessoa deriva dos Por exemplo, alguém pode intuir que o número
sentidos. Seria possível concluir, então, que o 5 é primo e menor do que 6 e, então, pode deduzir
significado de uma afirmação está conectado às que existe um número primo que é menor do que
experiências capazes de confirmá-la. Isso é 6. Todo conhecimento adquirido no processo
conhecido por princípio da verificação e integra intuição/dedução é a priori, isto é, foi conquistado
um tipo radical de empirismo denominado independentemente dos sentidos. Os racionalistas
positivismo lógico (que se tornou um tipo aplicaram essa tese para explicar matemática, ética,
impopular de empirismo). Como todo livre-arbítrio e até proposições metafísicas como a
conhecimento deriva dos sentidos, de acordo com existência de Deus.
o positivismo lógico, não é possível falar sobre algo
que não tenha sido experienciado. Se uma - A tese do conhecimento inato
afirmação não pode ser vinculada à experiência,
essa afirmação não tem significado. Para o Essa tese propõe que, como parte de nossa
positivismo lógico ser verdadeiro, a religião e as natureza racional, nós temos conhecimento de
crenças éticas precisam ser abandonadas porque algumas verdades próprias de determinados
ninguém tem uma experiência ou observação que assuntos. Como a tese da intuição/dedução, a do
seja capaz de confirmá-las, o que as torna sem conhecimento inato afirma que o conhecimento é
significado. adquirido a priori. De acordo com essa tese, porém,
o conhecimento não deriva da intuição ou da
- Empirismo moderado dedução; em vez disso, tê-lo é apenas parte da
nossa natureza.
Essa forma de empirismo, que parece mais
plausível do que o empirismo radical, admite que A fonte do conhecimento depende do filósofo.
haja casos em que o conhecimento não é Enquanto alguns racionalistas acreditam, por
fundamentado na experiência (embora ainda sejam exemplo, que o conhecimento vem de Deus, outros
considerados exceções à regra). Por exemplo, em o consideram resultado da seleção natural.
“9 + 4 = 13”, nós vemos uma verdade que não requer
investigação. No entanto, qualquer forma - A tese do conceito inato
determina o que é a informação. Essa ideia é
Essa teoria afirma que, como parte de nossa diferente da tese do conhecimento inato porque
natureza, os humanos contam com conceitos que aqui o conhecimento pode ser deduzido dos
aplicam em assuntos específicos. Segundo a tese conceitos inatos. De acordo com isso, quanto mais
do conceito inato, algum conhecimento não é distante um conceito estiver da experiência, mais
resultado da experiência; no entanto, a experiência plausível ele é de ser inato. Por exemplo, o conceito
sensorial pode disparar o processo que traz o de uma forma geométrica seria mais inato do que o
conhecimento à nossa consciência. Embora a conceito de dor porque o primeiro está mais
experiência possa funcionar como gatilho, ainda distante da experiência.
assim ela não proporciona os conceitos nem

Embora o empirismo e o racionalismo apresentem duas explicações


diferentes para a mesma pergunta, as respostas nem sempre são preto no
branco. Por exemplo, os filósofos Gottfried Wilhelm Leibniz e Baruch
Espinosa, considerados figuras-chave no movimento racionalista,
acreditavam que o conhecimento podia ser adquirido em princípio pela
razão. Contudo, além de áreas específicas como a matemática, eles não
consideravam que isso fosse possível na prática.

TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE FILOSOFIA


PAUL KLEINMAN

FILOSOFIA DA CIÊNCIA

O que é a ciência?
Ao discutir a filosofia da ciência, em geral, os filósofos concentram a atenção nas
ciências naturais, como a biologia, a química, a astronomia, a física e as geociências e
examinam as implicações, os pressupostos e os fundamentos que resultam disso. De modo
geral, os critérios para a ciência são:

1. A criação de hipóteses que devem atender aos critérios lógicos da contingência (falando
em termos lógicos, elas não são necessariamente verdadeiras ou falsas), de falseabilidade
ou refutabilidade (ou seja, podem ser comprovadas como falsas) e o de testabilidade (quer
dizer que existem chances reais de as hipóteses serem estabelecidas como verdadeiras ou
como falsas).

2. Uma consistente evidência empírica.

3. Uso do método científico.

A DEMARCAÇÃO DO PROBLEMA

De acordo com o filósofo Karl Popper, a questão central da filosofia da ciência é


conhecida como a demarcação do problema. De forma simples: a demarcação do problema
é como alguém pode distinguir entre ciência e não ciência (essa questão também lida com a
pseudociência em particular). Até hoje, não existe ainda uma forma aceita universalmente
de demarcação do problema e alguns até consideram que isso seja insignificante ou
insolúvel. Enquanto os positivistas lógicos, que combinam o empirismo e a lógica, tentam
embasar a ciência na observação e afirmam que tudo o que não é observável não é ciência
(e não tem significado), Popper declara que a principal propriedade da ciência é a
falseabilidade.

Em outras palavras, para Popper, toda afirmação científica deve poder ser
comprovada como falsa. Se, após amplo esforço, nenhuma prova puder ser encontrada,
então, isso significa que a afirmação é provavelmente verdadeira.
FALSEABILIDADE: para que uma hipótese possa ser aceita como verdadeira, e antes que
qualquer hipótese possa ser aceita como teoria científica ou hipótese científica, ela tem de ser
refutável (ou falseável).

A VALIDADE DO RACIOCÍNIO CIENTÍFICO

O raciocínio científico pode ser fundamentado em diferentes maneiras para demonstrar


que uma teoria é válida.
cientistas usam a indução. De acordo com o
Indução raciocínio indutivo, se uma situação se mantém
verdadeira em cada caso observado, então, isso vai
Pode ser difícil para um cientista afirmar que uma se manter verdadeiro para todos os casos.
lei é universalmente verdadeira porque, até mesmo
se todos os testes apresentarem os mesmos Verificação empírica
resultados, isso não significa necessariamente que
os testes realizados no futuro também terão os As afirmações científicas precisam de evidências
mesmos resultados. É por esse motivo que os para sustentar teorias ou modelos. Assim, as
predições que as teorias científicas e os modelos isolamento porque, para que alguém teste
podem fazer devem estar em acordo com a empiricamente uma hipótese, o indivíduo tem de
evidência que já foi observada (e, em última análise, envolver outros pressupostos básicos. Como
as observações resultam de nossos sentidos). resultado dessa tese, está a noção de que qualquer
Outros devem estar de acordo com a forma de teoria pode vir a ser compatível com informações
realizar as observações, que devem ser repetíveis. empíricas se forem incluídas hipóteses ad hoc o
E, por sua vez, as predições precisam ser suficiente. É por essa razão que a navalha de
específicas para que um cientista possa falsear Occam (a noção de que as explicações mais simples
(refutar) a teoria ou modelo (o que implica as devem ser escolhidas entre teorias concorrentes) é
predições) com uma observação. usada em ciência. Concordando com a tese de
Duhem-Quine, Karl Popper deslocou-se da
A tese de Duhem-Quine e a navalha de falsificação ingênua em favor do conceito de que as
Occam teorias científicas devem ser falseáveis, isto é, se
uma hipótese não pode gerar predições testáveis,
não é considerada ciência.
A tese de Duhem-Quine afirma que não é possível
testar uma teoria ou hipótese em completo

SUBORDINAÇÃO TEÓRICA: As observações básicas podem ser interpretadas de acordo


com diferentes teorias. Por exemplo, embora seja um conhecimento corriqueiro hoje de
que a Terra roda em torno do Sol, há séculos os cientistas acreditavam que o Sol se
movia e a Terra ficava parada. Dessa forma, quando uma observação (o que envolve
cognição e percepção) é interpretada por uma teoria, isso é chamado de subordinação
teórica. De acordo com o físico e filósofo Thomas Kuhn, é impossível isolar a hipótese da
influência da teoria (que é apoiada na observação). Kuhn afirma que novos paradigmas
(com base nas observações) são escolhidos para substituir os antigos, quando
conseguem explicar melhor os problemas científicos.

COERENTISMO: De acordo com o coerentismo, as teorias e as afirmações podem ser


justificadas como resultado de serem parte de um sistema coerente, que pode pertencer
às crenças individuais de um cientista ou de uma comunidade científica.

PSEUDOCIÊNCIA: A pseudociência refere-se


às teorias e às doutrinas que falham em
seguir o método científico. Essencialmente, a
pseudociência é não ciência que posa de
ciência. Embora teorias como design
inteligente, homeopatia e astrologia possam
servir a outros propósitos, não podem ser
consideradas ciência de verdade porque não
podem ser refutadas (falseadas) e seus
métodos conflitam com resultados aceitos
em geral. As disciplinas usadas para a
investigação científica simplesmente não se
aplicam a esses tipos de teorias. Isso não
quer dizer, no entanto, que toda não ciência
seja considerada pseudociência. A religião e a metafísica são dois exemplos de
fenômenos não científicos.

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