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CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA: FILOSOFIA GERAL E JURÍDICA


PROFESSOR: ALUISIO MARTINS

CONHECIMENTO
O que é conhecimento? É a relação que se estabelece entre o espírito e o mundo, entre o sujeito
cognoscente e o objeto a ser conhecido.
O problema do conhecer já preocupava os gregos antigos. Contudo, a filosofia era orientada pelo
estudo do ser (ontologia). A partir de Kant, passou a se preocupar com o problema do conhecer.
A gnosiologia ou teoria do conhecimento objetiva o estudo sistemático e científico do
conhecimento humano.
A resposta à pergunta, que é o conhecimento, depende da corrente ou da ótica filosófica do
pensador.

origem do conhecimento
-Qual a origem do conhecimento? Como nascem os conceitos? Como se forma o conhecimento?
CORRENTE INATISTA/RACIONALISTA
Ao nascermos trazemos em nossa inteligência não só os princípios racionais mas também algumas
idéias verdadeiras, idéias inatas.
-inatismo em Platão
A teoria da reminiscência. Nascemos com a razão e as idéias verdadeiras, e a Filosofia nada mais
faz do que nos lembrar dessas idéias. Morrem e passam a morar no reino dos mortos. Conhecer é
recordar a verdade que já existe em nós. É despertar a razão adormecida. Por isso Sócrates fazia
perguntas para provocar as lembranças.
-inatismo em René Descartes.
Ideias são aquelas que não poderiam vir de nossa experiência sensorial, porque não há objetos
sensoriais para elas, nem poderiam vir de nossa fantasia. Exemplos: a idéia de infinito. Noções
comuns da razão, como o todo é maior que as partes; as idéias inatas são a assinatura do criador no
espírito das criaturas racionais.
Se desde do nascimento, não possuímos no espírito a razão com seus princípios e leis, algumas
idéias verdadeiras das quais todas as outras dependem, nunca teremos como saber se um
conhecimento é verdadeiro ou falso.
CORRENTE EMPIRISTA: (grego empeiria – experiência) afirma que a origem do conhecimento é
a experiência. Sabe-se que o ser humano é constituído de sentidos (corpo, matéria) e intelecto

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(alma, espiritual,). Através dos sentidos o homem entra em contato com seu meio, experimentando
sensações pela vista, audição, olfato, tato e paladar. Os objetos impressionam os sentidos das
pessoas. Imagem é a lembrança da sensação. Esse tipo de conhecimento decorre, portanto, das
experiências vivenciadas pela pessoa. A fonte do conhecimento é experimental, porque não há
qualquer patrimônio a priori da razão. Ao nascer, o espírito humano é vazio, assemelhando-se a
uma tábua rasa, a um papel em branco, onde nada se acha gravado. Ao acumular experiência, inicia-
se um processo de abstração.
Principais expoentes: John Locke (1.632-1.704). refuta a teoria das idéias inatas. David Hume
(1711-1776). Impressões são as sensações sentidas. Ideias são as representações da memória.

CORRENTE EMPÍRICO-RACIONALISTA/INTELECTUALISTA – corrente intermediária.


Atribuída ao pensador Aristóteles. Do racionalismo extrai-se que há juízos necessários e
universalmente válidos, não apenas sobre objetos reais, como também sobre objetos ideias. O
conhecimento começa na e pela experiência, mas não se limita a ela. A razão confere forma aos
dados colhidos pela experiência. A razão tem a capacidade de fazer representações dos dados
captados pelos sentidos.
Principais expoentes Aristóteles e Kant.

tipos de conhecimento
A-. conhecimento vulgar/senso comum
É constituído pelas noções superficiais, gerais e assistemáticos sobre o mundo absorvidas pelo
homem enquanto interage com o mesmo. Conhecimento que decorre das experiências. Não é um
conhecimento sistematizado.

B- conhecimento religioso
As manifestações religiosas surgiram em decorrência do medo, do temor, ou em função da ausência
de explicação científica quanto a determinados fenômenos da natureza. Tais acontecimentos foram
atribuídos a seres sobrenaturais ou forças superiores, motivo pelo qual, primitivamente, o comando
das sociedades era entregue aos grupos religiosos. A fé pode libertar a pessoa da contingência
humana, na medida em que passa a acreditar em outras realidades.
Contudo, há um grande conflito entre a fé e a razão.

C- conhecimento técnico
Vivemos numa sociedade que valoriza o conhecimento instrumental, técnico e busca o resultado.

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Onde predomina o consumo compensador, a influência da mídia sobre as pessoas, onde há apatia
política. Logo, não há valorização do conhecimento filosófico, na medida em que é questionador,
crítico. Questiona-se: o saber filosófico está fora de moda? A técnica representa o meio pelo qual se
podem realizar determinadas atividades de interação e adaptação mecânica do homem com o meio
em que vive.

D- conhecimento científico
Manifestação racional do homem que busca a causa dos fenômenos para explicá-los, coloca à prova
do raciocínio e da testabilidade empírica as hipóteses formuladas para explicar os fenômenos que
circundam a humanidade.
A ciência deverá representar o conhecimento sistematizado, especializado, testado, organizado,
diluído em uma trama de postulados metodológicos.

E- conhecimento filosófico
Consiste na atividade do pensamento e reflexões acerca das causas primeiras (Aristóteles), sobre os
fundamentos, princípios e razões últimas para compreensão da realidade. A filosofia deve ser vista
como atividade permanente do espírito, como paixão pela verdade essencial. Representa uma
reflexão universal acerca das questões essenciais para a humanidade.

relação entre filosofia e ciência (saberes)


4.1. sentidos do termo ciência:
O termo ciência pode ser considerado em dois sentidos:
Amplo: todo conjunto de conhecimento ordenado coerentemente segundo princípios. Conhecimento
adquirido de forma sistemática.

Estrito: Todo conjunto de conhecimentos dotados de certeza por se fundar em relações objetivas
confirmadas por métodos de verificação definida, suscetível de comprovação.

No primeiro sentido, a filosofia é considerada ciência, pois se trata de um conjunto de


conhecimento sistemático.
Em sentido estrito, apenas as ciências exatas são incluídas, tais como a física, química, matemática,
biologia.

objeto: toda ciência tem um objeto de estudo. Objeto é a realidade a ser estudada pela ciência.

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Tipos de objeto:
material: é a realidade a ser estudada pelas diversas ciências. Matéria de estudo.
Formal: refere-se ao modo, à maneira como o objeto material é apreciado. Consiste na maneira
específica de analisar a realidade.
Uma ciência se distingue da outra em decorrência da forma especial de analisar, apreciar a
realidade, ou o objeto material. Assim, o objeto formal é o elemento que diferencia uma ciência das
demais. Portanto, cada ciência tem seu objeto formal, ou seja, uma maneira (método) adequada para
apreciar a realidade.
O objeto formal corresponde ao método, que é o caminho percorrido, utilizado para estudar o objeto
material. Destarte, é pelo método que se diferencia uma ciência da outra.

O problema da verdade
1 considerações gerais
A questão da verdade está vinculada aos critérios adotados. Inicialmente, deve-se indagar se o
homem é capaz de conhecer a verdade?
Para o pensamento dogmático, a razão pode conhecer a realidade em si, possibilidade de conhecer
verdades absolutas.
Dogmatismo – radical – crença de que mundo existe e que é exatamente da forma como
percebemos. Tomamos o mundo como já foi dado, já feito, transformado.
Para as doutrinas céticas, não há possibilidade de conhecimento verdadeiro. O ceticismo total é
também denominado de pirronismo, em homenagem ao filósofo grego Pirro (360-270 a. C).

2. O que é verdade. A noção de verdade depende do critério utilizado.

-correspondência – uma proposição/enunciado é verdadeira se corresponde à coisa referida.


-revelada – a verdade vinculada a questões absolutas, eternas e ser supremas. Atributo do ser.
- utilidade – (pragmatismo) o conhecimento é válido se for útil. Algo que seja conveniente.
- coerência – pensamento dotado de coerência, obtido de forma dialética, onde a síntese supera as
premissas anteriores, a tese e a antítese.
-consenso (Habermas 1929-) - a verdade decorre do consenso obtido pela comunidade. Verdade
dialógica. Através do diálogo obter um consenso entre os interlocutores. A verdade se mostra
provisória, histórica e relativa ao indivíduo. O problema da verdade se resolve no discurso.
Todo conhecimento é dirigido por um interesse. Há uma questão ideológica implícita.
Democracia

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-Conceitos de filosofia
Atribui-se ao pensador grego PITÁGORAS (572-510 a. C) a criação do termo filosofia
(philosophia): aquele que não alcançou a sabedoria, mas é amigo da sabedoria. Sophia (sábio); philo
(amigo, amante)

-critério nominal ou terminológico/etimológico: consiste na paixão pelo saber ou preocupação


com o saber; amor à sabedoria; desejo de saber, de conhecimento.
-critério global: concepção de mundo, cosmovisão.
-critério causal: descende de Aristóteles, para quem a filosofia consiste no conhecimento das
coisas pelos primeiros princípios, pelas causas. Busca os porquês das coisas, seus fundamentos
últimos.
-critério axiológico: teoria do valor. Mostra a filosofia como o estudo crítico-valorativo da vida.
A filosofia representa o potencial de libertação racional do homem. Atua no mundo das ideias, por
meio do pensamento. Cuida-se de uma forma sutil de atuação sobre a realidade.
A atividade filosófica consiste na análise das condições e princípios do pensamento e da ação, numa
reflexão sobre o conhecimento e uma crítica (avaliação racional para discernir entre a verdade e a
ilusão, os preconceitos, as ideologias).
Busca dos fundamentos (princípios, causas e condições) e do sentido (significação e finalidade) da
realidade.

Aristóteles (384- 322 a. C)


O saber filosófico é um saber de todas as coisas, um saber universal; um saber pelo saber; não tem o
objetivo de resolver algo de caráter prático. Um saber crítico e reflexivo.
A filosofia começa quando algo chama nossa atenção; pelo espanto e admiração.
Temos uma tendência a aceitar as respostas prontas, as crenças e valores reinantes na sociedade.
Contudo, algumas pessoas questionaram essas crenças, essas explicações prontas da cultura.
As pessoas aceitam passivamente as regras de condutas e os papéis sociais que lhe são atribuídos,
como se fizesse parte de uma ordem natural das coisas.
A filosofia cultiva o saber; busca o saber. Isso gera uma postura de modéstia, por isso Sócrates dizia
que só sei que nada sei.
O valor da filosofia reside mais nas perguntas do que nas respostas, pois lança dúvidas sobre ideias

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e crenças estabelecidas. Respostas definitivas se transformam em dogmas, o que é incompatível
com o espírito reflexivo crítico da filosofia.
Como não há respostas definitivas, há um retorno eterno às mesmas questões e dúvidas. A
possibilidade de uma resposta única e definitiva representa um desejo idiota do homem, segundo
Paul Valéry.
Não há novidade nas reflexões filosóficas, mas apenas atualizações de interpretação, considerando
os novos desafios e inquietações.
Para Platão a filosofia surgiu da admiração e para Aristóteles, do espanto. Significa reconhecer a
própria ignorância, ou seja, ter atitude filosófica para fugir da ignorância.
Consiste em abandonar nossas certezas e crenças, momentos de crise.

Filosofia do direito: cada ramo do direito disciplina a conduta das pessoas em sociedade, contudo,
não tem atribuição de aprofundar os institutos que disciplina, cuja tarefa é da filosofia, que investiga
os fundamentos do direito de propriedade, do direito de punir, a questão da soberania.

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PRINCIPAIS PENSADORES GREGOS

SÓCRATES (469-399)
-considerações gerais
Viveu durante o apogeu da civilização grega, quando era governada por Péricles. Embora seja um
pensador influente, não deixou nada escrito. Conhece seu pensamento através dos escritos de
Platão, um de seus principais discípulos.
Sua maior preocupação era o comportamento ético e social do homem e não as questões da
natureza, como ocorria com os pensadores anteriores. Por isso, é considerado um marco do
pensamento, uma linha divisória, pois se voltava para questões humanas. Antes dele, existiram os
pré-socráticos, como Tales (água), Pitágoras (números) e acreditava na imortalidade da alma, cujo
pensamento influenciou Platão; os sofistas (Górgias de Leôncio e Hípias) desenvolveram uma
técnica formal de persuasão. Para o sofista só há opiniões, não há verdades. Platão considera os
sofistas charlatães, ilusionistas, capazes de criar uma falsa aparência de saber.
Foi condenado a beber veneno (cicuta), sob a alegação de que estaria corrompendo a juventude e

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cultuando outros deuses. Aceitou a sentença, por entender que a observância da lei representava o
limite entre a civilização e a barbárie.

-Principais características do pensamento socrático:


a- Método maiêutico: parte do pressuposto de que o erro é fruto da ignorância e que o conhecimento
é virtude. O objetivo do educador é despertar o conhecimento que se encontra na pessoa.
O conhecimento reside no interior do homem, por isso conhecendo-se a si mesmo, o homem pode
conhecer melhor o mundo.
b- pensamento ético-social – o conhecimento é virtude, pois só as pessoas sábias poderão julgar
acerca do bem e do mal. Reside no conhecimento e na felicidade. Esta não consiste em possuir bens
materiais, mas em adquirir sabedoria. O saber conduz à felicidade.

c- primazia da ética coletiva sobre individual, na medida em que a lei deve ser observada, para ser
mantida a harmonia social.
Na visão socrática, o erro decorre da ignorância, que é considerada o maior dos males.

PLATÃO (427-347 a.C) - idealismo


- considerações gerais:
Principal discípulo de Sócrates. Nasceu em Atenas e viveu durante um período em que
predominava o regime democrático. Considerado um dos maiores escritores de todos os tempos.
Criou, cerca de 387 a.c, a Academia, considerada a primeira instituição permanente de pesquisa e
ensino superior do Ocidente, servindo de modelo para as futuras universidades. Assim, ao contrário
de Sócrates, que ensinava ao ar livre, Platão desenvolveu seus ensinamentos na Academia.
Realizou a primeira grande síntese do pensamento antigo.

- principais características do pensamento platônico:


a- mundo das aparências ou das sombras – onde vivemos, no qual devemos praticar a virtude para
sermos considerados justos, no julgamento final. Tudo que existe aqui, representa apenas cópia do
mundo das idéias.

b- mundo das idéias – considerado o mundo perfeito, onde existe a essência das coisas, de forma
eterna e incorporal. Como o ser humano, concreto e temporal, pode conhecer o mundo das idéias?
O homem é dotado de alma/espírito, de natureza semelhante à das idéias, porquanto a alma é
imortal e espiritual. Por ser imortal, a alma já teria contemplado o mundo das idéias, antes de se

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prender ao corpo. Entende que o corpo é a prisão da alma, limitando-o, motivo pelo qual esquece o
conhecimento anterior, quando se prende ao corpo.
Na medida em que os sentidos vão apreendendo os objetos (cópias imperfeitas daquelas essências
que a alma contempla), o homem vai se lembrando das idéias. Assim, o conhecimento é, na
verdade, reconhecimento, reminiscência, retorno.
OBS. Idealismo – a finalidade do saber é alcançar o mundo das idéias. O conhecimento verdadeiro
consiste em alcançar o bem supremo, que se encontra no Além – mundo das idéias.
c- conhecimento é reconhecimento/reminiscência. Conhecer é recordar. A verdade é a última
conquista.
d- a idéia de justiça é inata – a alma do homem antes de se alocar no corpo, já viveu no mundo das
idéias, onde conheceu o que é justo e injusto. Ao se fixar no corpo, esquece-se temporariamente
desses conhecimentos, cabendo ao filósofo, através da maiêutica, trazer à tona esse conhecimento
adquirido em experiências anteriores.
e- justiça humana – é imperfeita, falível, relativa, transitória.

f- justiça divina – perfeita, infalível e se realiza no além-vida. Ninguém escapa do julgamento final.
Consta do mito da Caverna e do mito de Er. Tem caráter metafísico,
Após deixar o corpo, a alma vai para o além, onde será julgada. Os juízes determinavam que os
justos ficassem à direita e subissem ao céu. Os injustos eram colocados à esquerda e desciam para o
inferno.
g- ciclos de purificação – as almas penalizadas retornam ao corpo, renascem (união do corpo com a
alma), para responderem pelo mal praticado, até serem totalmente purificadas (doutrina da
reencarnação). Antes de retornarem, bebem da água do rio Ameles a fim de esquecerem o que
viram no posterior renascimento.

g- critério de justiça – retribuição ou doutrina da paga, que consiste em aplicar pena pelo mal e
recompensa pelo bem.

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ARISTÓTELES ( 384-322 a.c.) – realismo


- considerações gerais
Nasceu em Estagira. Seu pai exercia a medicina em Estagira. Servia ao rei da Macedônia (Amintas
II). Discípulo de Platão. Foi preceptor/orientador de Alexandre, o Grande. Fundou o Liceu, onde

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ministrava seus cursos. Escreveu sobre filosofia, questões essenciais (metafísica), lógica, ciências
naturais, moral, política e retórica.
Rejeitou a teoria das idéias de Platão.
A filosofia se originou do espanto, da incompreensão da realidade, dos fenômenos. Para escapar da
ignorância, os pensadores se dedicaram à filosofia.
-principais características do pensamento aristotélico.
a- a justiça como virtude – assim como as demais virtudes (coragem, temperança) é o justo meio,
que consiste no equilíbrio (posição mediana) entre duas extremidades. Um homem é justo ao agir
na legalidade. Um homem é virtuoso, quando por disposição de caráter, orienta-se segundo esses
mesmos valores, mesmo inexistindo lei. Ocorre injustiça por carência ou por excesso.
b- a educação ética cria o hábito, que é a prática reiterada de ações em determinado sentido.
c- virtude real – mais importante que conhecer a virtude, é praticá-la.
d- o homem é um ser gregário e político – o homem é um ser gregário, logo só pode haver
realização humana plena em sociedade, na polis (família, aldeia, tribo e polis).
e- justiça distributiva – há uma relação de subordinação entre as partes, governoxcidadão. Nos casos
de distribuição de honras, cargos e bens pecuniários. Ocorre entre governantes e governados.
Ocorreria injustiça se houver desigualdade em relação aos governados, que receberam menos que o
devido ou suportariam um encargo maior que os demais. A injustiça residiria na escassez de
benefícios ou excesso de encargos. A justiça distributiva consiste em atribuir a cada um o que lhe é
devido. A igualdade na distribuição visa à manutenção de um equilíbrio, pois aos iguais é devida a
mesma quantidade de benefícios ou encargos, assim como aos desiguais são devidas partes
diferentes à medida que são desiguais e que se desigualam.
f- justiça corretiva – é aplicável a todo tipo de relação a ser estabelecida entre indivíduos que se
encontrem em uma situação de coordenação, ou seja, de iguais entre iguais. Entre particulares.
g- justiça política – é a justiça aplicável ao cidadão grego, que participava da vida política. Estavam
excluídos as mulheres, menores, estrangeiros e escravos.
h- justiça doméstica – aplicada às pessoas que não eram consideradas livres.
i-juiz – é o mediador de todo o processo de aplicação da justiça corretiva. A função do juiz será
retirar daquele que se apropriou de porção maior do que lhe seria devido, retribuindo-a ao outro. A
justiça corretiva, que é aplicada pelo juiz, conduz ao retorno das partes ao status quo antes, quando
isso é possível ou do arbitramento de uma equivalência indenizatória, para recompor o prejuízo.
Obs.
Embora admita a existência de um Ser supremo do qual depende a ordem universal, nega a criação
e a possibilidade da religião, pois para ele, é impossível ao homem qualquer contato com a

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divindade.
-na visão de Aristóteles, no âmbito social, justiça e virtude são idênticos, contudo, pode se dizer que
um homem é justo ao agir na legalidade; diz-se que um homem é virtuoso quando, por disposição
de caráter, orienta-se segundo esses mesmos vetores, mesmo sem a necessária presença da lei ou
conhecimento da mesma.

DIFERENÇAS ENTRE O PENSAMENTO DE PLATÃO E ARISTÓTELES

PLATÃO ARISTÓTELES
Defende a corrente idealista, por isso rejeita a Realista, toma a experiência como ponto de
experiência como fonte de conhecimento certo. partida do conhecimento. Busca na realidade os
Entende que a realidade é o que pensamos. fundamentos para especulação metafísica.
O que vemos na natureza é o reflexo do que A filosofia é essencialmente teórica, busca
existe no mundo das ideias, ou seja, na alma dos entender o universo. O homem filosofa para
homens. fugir da ignorância. Os conceitos são formados
Faz distinção entre o mundo inteligível (das a partir da experiência. Abrange todo o saber
ideias) e mundo sensível) humano racional. No sentido estrito, a filosofia
O conhecimento é inato. é dedução do particular pelo universal. Não
aceita o conhecimento inato.
Só existe uma realidade, sendo que formulamos
nossos conceitos e ideias a partir da observação
da realidade.
Seu pensamento se integra na cultura européia,
na idade média, através do trabalho de Averróis,
filósofo árabe. Depois, através de Tomás de
Aquino.
Teoria das causas. Causa material (aquilo de
que uma coisa é feita), causa formal (aquilo que
faz com que uma coisa seja o que é), causa
eficiente (a que transforma a matéria) e causa
final (o objetivo com que a coisa é feita).
Todas pressupõem uma causa primeira, uma
causa não causada, o motor imóvel do cosmos, a

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realidade suprema.
Quando se morre, a matéria fica; a forma, o que
caracteriza as qualidades particulares das coisas,
desaparece.
Ato e potência. O ato explica a unidade do ser, a
potência, a multiplicidade e a mudança.
O que está na alma do homem é apenas o
reflexo dos objetos da natureza, a razão está
vazia enquanto não sentimos nada.
O fim último do homem é a felicidade. Ele
alcança quando executa, devidamente, suas
atribuições, seu trabalho, na polis, na cidade.
Uma pessoa virtuosa é a que possui coragem,
competência e nobreza ética.
O homem deve encontrar o meio-termo, o justo-
meio; deve viver usando, prudentemente, a
riqueza; moderadamente os prazeres e conhecer,
corretamente, o que deve temer.
A grandeza não consiste em receber honras, mas
em merecê-las.

LIVRO JUSTIÇA DE MICHAEL J SANDEL


Quais discriminações são justas? A resposta depende do propósito da atividade em questão.
O autor vê a política como um procedimento que permite às pessoas escolher suas finalidades por
conta própria.
Para Aristóteles, o propósito da política é formar bons cidadãos e cultivar o bom caráter. P240
A finalidade e o propósito de uma pólis é uma vida boa, e as instituições da vida social são meios de
atingir essa finalidade.
Atualmente se vê a política como um mal necessário, e não como uma característica essencial da
vida boa. P242
Por que participar da política é essencial para alcançar uma boa vida?
No entender de Aristóteles, a resposta está na natureza do ser humano. A natureza não faz nada em
vão, e os seres humanos, diferentemente dos animais, possuem a faculdade da linguagem. Apenas
na polis, na convivência com outras pessoas, podemos exercitar a faculdade humana essencial da

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linguagem, expressar que é justiça ou injustiça, certo ou errado.
Por que não podemos exercer plenamente essa nossa capacidade de linguagem apenas na família,
nos clãs ou nas agremiações? 244
Na visão de Aristóteles, a pessoa virtuosa é aquela que sente prazer com as coisas certas. Se alguém
sente prazer ao assistir uma luta de cães, por exemplo, trata-se de um vício que deve ser superado.
Assim, a vida moral e virtuosa conduz a pessoa à felicidade.
É preciso viver na polis para se tornar uma pessoa virtuosa, pois não podemos aprender sólidos
princípios morais em casa, na aula ou lendo livros sobre ética. Na visão dele, a virtude moral resulta
do hábito. É o tipo de coisa que aprendemos com a prática. Jesus disse: a fé sem obras é morta. 244
APRENDENDO COM A PRÁTICA
Tornar-se uma pessoa virtuosa é como aprender a tocar um instrumento. É preciso praticar. 246

A virtude moral, fazer a coisa certa, está vinculada a uma sabedoria prática, que trata da maneira
como a pessoa deve agir. 246

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RENÉ DESCARTES - RACIONALISMO

René Descartes (1596-1650) nasceu na França, família nobre. Inquieto na busca da verdade. Seus livros mais
famosos são: o discurso sobre o método e as meditações metafísicas. Na época todos seus livros foram
proibidos (index). Para escapar da Inquisição, mudou-se para a Holanda, em 1.629. Em 1.633, Galileu foi
condenado pelo Santo Ofício.
Principais obras: o discurso sobre o método e meditações metafísicas.

- Principais características do pensamento cartesiano:

a- O homem é um animal racional – todos possuem razão ou bom senso, que é a capacidade de bem julgar e
discernir o verdadeiro do falso. Como nem todos conseguem utilizar adequadamente a razão, mostra-se
necessário a utilização de um método.

b- método – conjunto de procedimentos racionais utilizados para o estabelecimento e a demonstração da


verdade. Presta-se para bem conduzir a razão, que é igual em todos os homens, bem como para buscar a
verdade nas ciências. Entende que o bom método é aquele que nos permite conhecer o maior número
possível de coisas.

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Observação – método dedutivo – vai dos princípios às consequências. Considera, a priori, o conhecimento
extraído pela razão.
c- regras fundamentais do método:
-regra da evidência – “Jamais admitir coisa alguma como verdadeira se não a reconheço evidentemente como
tal”. Se existir dúvida, não se pode aceitar determinado enunciado. Uma ideia evidente é uma ideia clara e
distinta. Considera-se clara quando se impõe a nós em sua verdade imediata, sem que possamos duvidar dela.
É distinta quando não podemos confundi-la com nenhuma outra.
- regra da análise – “Dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quanto forem possíveis.”
- regra da síntese – “Concluir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais
fáceis de serem conhecidos para, aos poucos, como que por degraus, chegar aos mais complexos.”
-regra do desmembramento – “Para cada caso, fazer enumerações o mais exatas possíveis ... a ponto de estar
certo de nada ter omitido.” Extraído do Livro: discurso sobre o método.
d- dúvida metódica – deve-se considerar falso tudo aquilo do qual não se pode duvidar. Contudo, não se deve
duvidar por duvidar, como fazem os céticos, que não acreditam na possibilidade do conhecimento humano
atingir a verdade. O objetivo da dúvida cartesiana é encontrar a verdade. Trata-se de uma dúvida metódica,
voluntária, provisória e sistemática. Entende que são falsas todas as coisas das quais não podemos duvidar.
Por isso, Descartes rejeita os dados dos sentidos, que por vezes eles nos enganam; rejeita também os
raciocínios, que por vezes nos induzem a erros. Assim, após duvidar de tudo, descobre a primeira certeza: o
Cogito, ergo sum – penso, logo existo, que corresponde ao duvido, logo existo.

“Logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que
eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade, eu penso, logo existo, era tão firme e tão
certa que todas as demais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de abalá-la, julguei que
podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava.”discurso sobre o
método – IV parte.

e- dualismo – o eu corresponde à alma, que se identifica com o pensamento. A realidade é formada por duas
substâncias ou elementos irredutíveis e independentes: a alma é uma substância inteiramente distinta do
corpo. As idéias, que são modos de pensamento, são distintas das coisas, que são modos de extensão.
“Mas o que sou eu? Uma substância que pensa. O que é uma substância que se pensa? É uma coisa que
duvida, que concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina e que sente.” Meditações,
2.

f- Deus – segunda verdade. Diz que por definição o ser perfeito é aquele que possui todas as perfeições. Ora,
a existência é uma perfeição, logo, o ser perfeito existe, que é Deus.
g- racionalismo – entende que é através da razão, utilizando um método adequado, que se busca o
conhecimento. Rejeita toda e qualquer autoridade no processo de conhecimento, distinta da razão, motivo

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pelo qual proclama a independência da filosofia que, doravante, deverá submeter-se aos ditames da razão. Só
devemos aceitar aquilo que podemos compreender claramente e demonstrar racionalmente. Assim, devem
ser desconsiderados os dogmas religiosos, os preconceitos sociais e os dados fornecidos pelos sentidos. Para
os racionalistas, todo o processo de conhecimento decorre da reflexão e não do papel da experiência sensível.
Diz que a razão é capaz conhecer toda a realidade, eis que esta é regulada por leis lógicas.

Principais racionalistas:
SPINOZA (1632-1677)
MALEBRANCHE (1640-1715)
LEIBNIZ (1646-1716)

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FILOSOFIA CRISTÃ

A- considerações gerais
Não se pode ignorar a influência da doutrina cristã nas tradições, hábitos, costumes, crenças
populares, na moral, nas leis, enfim, na formação da cultura ocidental.
É a filosofia que, influenciada pelo cristianismo, predominou no Ocidente, no período do século I
ao século XIV. O problema central da filosofia cristã é conciliar as exigências da razão humana com
a revelação divina.
Duas fases:
PATRÍSTICA (sec. I a V)
É a filosofia construída pelos padres da Igreja. Santo Agostinho é considerado o maior pensador.
Conferiu nova roupagem ao pensamento de Platão. Apresenta uma nova versão do mundo das
idéias. Este não existe no mundo determinado, mas está presente em Deus, que é criador de todas
as coisas.
ESCOLÁSTICA (até o séc. XIV)
Santo Tomás de Aquino é considerado o maior expoente. Enquanto Santo Agostinho cristianizou o
pensamento platônico, Tomás cristianizou Aristóteles. Entende que não há conflito entre a fé e
razão, ou entre teologia e filosofia. São diferentes, mas não são contraditórias, pois a razão
humana é uma expressão imperfeita da razão divina, motivo pelo qual encontra-se subordinada.
Assim, a filosofia é uma serva da teologia.

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NOÇÕES DE JUSTIÇA EXTRAÍDAS DA BÍBLIA
-Antigo testamento – lei mosaica
Quem cometia algum pecado ou violava algum mandamento, deveria ser punido.
10 mandamentos:
Noção de Deus: era apresentado como um ser poderoso, da guerra, vingativo.

- Novo testamento
Quem cometia pecado deveria ser perdoado, pregava a caridade.
DEUS – é visto como um pai bondoso, amoroso e que perdoa.
Preceito Máximo: amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos.
A obediência às regras sagradas não afasta as leis elaboradas pelo homem. Daí, pois, a César o que
é de César, e a Deus o que é de Deus.
A doutrina cristã é apolítica, na medida em que disse que o meu reino não é deste mundo.
Jesus prega para os desvalidos, os desamparados, os empobrecidos, os excluídos, os
discriminados, os desprezados e os marginalizados, os quais serão beneficiados pelas bem-
aventuranças.
A doutrina cristã prega o altruísmo e o sofrimento.
Sofrimento – é uma forma de expiar os pecados, uma forma de redenção e afastar o mal, para
alcançar o bem. A dor faz parte da vida do cristão. O símbolo cristão é a cruz. Através da cruz
ocorre a redenção dos pecados.
Altruísmo – consiste no desprendimento da pessoa, em viver com humildade. Regras: tendes
aprendido: amareis vosso próximo e odiarás vossos inimigos; e eu vos digo: amai os vossos
inimigos, fazei o bem àqueles que vos odeiam e orai por aqueles que vos perseguem e vos
caluniam; a fim de que sejais filhos de vosso Pai que está nos céus, que faz erguer o Sol sobre os
bons e sobre os maus, e faz chover sobre os justos e os injustos; porque se não amardes senão
aqueles que vos amam, que recompensa tereis disto? Mas se alguém vos bate na face direita,
apresentai-lhe também a esquerda.
A crucificação do Cristo imortalizou a figura da condenação injusta. Assim, a justiça humana é
falível, corrupta, insuficiente.
Quem crê será salvo. Então, a fé é que salva. Fé é acreditar na palavra revelada por Deus.
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FILOSOFIA POSITIVISTA

Principal expoente

AUGUSTE COMTE (1798-1857)

O termo positivo significa o real, por oposição ao quimérico, o útil em oposição ao ocioso,
a certeza em oposição à indecisão, o preciso em oposição ao vago. Ainda é o contrário de
negativo.

Lei dos três estados

Segundo Comte o espírito humano e a própria história atravessa três estados: teológico
ou fictício, metafísico ou abstrato e o positivo ou científico, no qual a razão encontra a
ciência. Aqui se verifica a observação dos fatos, procurando as leis que disciplinam os
fenômenos. Há um progresso na evolução da sociedade.

Teológico –o espírito humano acredita que os fenômenos são explicados pela ação de
agentes sobrenaturais.

Estado metafísico – os agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstratas como
explicação dos fenômenos

Estado positivo – aqui se realiza o verdadeiro espírito científico, o qual se limita à


observação dos fatos, a raciocinar sobre eles e procurar suas leis. Todos os problemas
poderiam ser resolvidos através da ciência.

Ordem e progresso
Sem ordem não há progresso.
Ideia chave do positivismo: o amor por princípio, a ordem por base e progresso por fim.

Características do pensamento positivista


Recusa pelo pensamento metafísico
Valorização extremada do fato, da experiência e da prova
A confiança sem reserva na ciência
Conferir forma científica aos fenômenos sociais. Deveria ser aplicado a todos os ramos do
saber o método das ciências exatas.
Proposta de uma sociedade científica e organizada.

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