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Fichamento (textos do projeto) – Seminários metodológicos – 2º de 2022

19/12/2022
1
Joaquim Carlos Salgado

1) SALGADO, Joaquim Carlos. A ideia de justiça no Período Clássico. 2018


Segundo Salgado o grande problema da filosofia na Grécia antiga é encontrar a unidade do
conhecimento entre o cosmos e o ser humano.
Para responder a isso surge a política, a ética, a física, a necessidade de sistematização do
conhecimento. É a síntese dos dois anteriores (cosmos e o ser humano) em um novo
conhecimento que os explica.
De acordo com Salgado, Platão se alia a Parmênides que subordina a busca da
fundamentação da ciência ao inteligível. E acrescenta a descoberta socrática da descoberta
do conceito.
Platão recusa as ideias de que a ciência é feita pelos sentidos ou pela sensação (como
defendiam Protágoras e Heráclito) que não possibilitam a verdade certa há que o
conhecimento de algo num momento não valeria para outro momento.
Seria preciso de acordo com Platão, ainda segundo Salgado, encontrar a possibilidade de uma
verdade universal para ser possível a ciência.
Assim, segundo a perspectiva platônica, o mundo sensível subordina-se às essências ou
ideias, formas inteligíveis, modelos, que salvam os fenômenos e lhes dão sentido.
No ápice das essências, encontra-se a ideia do Bem. O maior bem que o ser humano pode
fazer a si mesmo é o conhecimento, que permanece para sempre.
O conhecimento se processa pela educação, que é condição para a realização e a satisfação
plena do ser humano.
Assim, para saber o que é a Justiça, é necessário o conhecimento do seu conceito por meio
da educação. (Mito de er - ver se procede).
Para tanto, Platão se apoia no conceito psyqué encontrado por Sócrates que fundamenta a
construção da ética e da ciência teorética sem a participação da animalidade do ser humano.
Para demonstrar que a virtude pode ser objeto da ciência (e, portanto, ser ensinada) Sócrates
funda a ética como ciência e contribui para a humanidade com a formulação do conceito.
O conceito socrático é resultado de um processo exclusivamente lógico, momento abstrato.
Platão aplica ao conceito socrático os predicados do ser, construindo a ideia.
Controvérsia sobre a ideia em Platão.
1) Interpretação tradicional: segundo Aristóteles, o intuito de Platão em encontrar nas ideias
as causas dos seres, criou “outros tantos seres iguais em número aos do mundo sensível”
(Metafísica, Cap. 9, Livro I; e também em Ética a Nicômaco, Cap. 6, Livro I)
2) Interpretação contrária: a ideia em Platão é antes um método, um processo lógico. A ideia
platônica - ideia é derivada de id (vid) = ver, segundo Paul Nartop - e significa a atividade do
espírito no sentido de captar a realidade, de “vê-la” no seu íntimo como ela é. Assim, a ideia
não é um princípio lógico, mas o princípio do lógico no qual todo ser particular se justifica.
Alegoria da caverna (Livro VII). Existência de 2 mundos (sensível e inteligível, corpo e alma).
Como chegar ao inteligível? Método analítico de Sócrates (sensível descartado p/ raciocínio).
Até chegar ao conceito que não se refere ao objeto aqui e agora, mas ao obj. em geral.
Ex. Mesa. Esta mesa. Mesa em geral.
1
Prof. Titular de T. Geral e Filosofia do Direito, Especialista em Filosofia do Direito pela Rheinische Friedrich-
Wilhelms-Universitat Bonn, Rep. F. Alemanha (1975/1976).
1962 Bacharel em Direito; 1973 Bacharel em Filosofia;
1986 A ideia de Justiça em Kant; 1995 A ideia de Justiça em Kant, 2ª ed.; 2012 A ideia de Justiça em Kant, 3ª
1996 A ideia de justiça em Hegel
2010 A ideia de justiça no mundo contemporâneo
2018 A ideia de justiça no Período Clássico
2022 Sacra scientia
Segundo este método, para se descobrir as qualidades de uma coisa cuja natureza
desconhecemos, deve-se prosseguir por hipóteses. (Ex. geômetras: um triângulo e círculo; s/
certas condições um resultado; s/ outras condições outro resultado)
Para demonstrar a reminiscência, cita o exemplo de um ser humano que jamais teve
ensinamento sobre geometria, chega a conhecimentos precisos dessa ciência.
Através de Sócrates, Platão demonstra que a definição de virtude não pode ser
particularizada, tem-se de encontrar o que é comum em todas as virtudes, como qualquer
outro objeto de definição (ex.: abelhas).
Ex.: Fédon: dilema de Sócrates. A causa da decisão livre é bem (mesmo que devido).
Os conceitos, essências das coisas, é que são as causas verdadeiras. As coisas participam do
conceito. Virtudes como Bem e Belo são enquanto tais na medida em que participam do
conceito.
Assim, a ciência opera pela demonstração, que fornece o resultado determinado pelo
pressuposto (hipótese) de que se partiu.
Ex.: o geômetra para fazer uma demonstração parte de uma hipótese e usa um círculo
desenhado (dados sensíveis) para chegar a um objetivo.
O conhecimento científico se auxilia do sensível e se elabora sobre a ideia, já que o círculo
desenhado é a imagem do círculo perfeito concebido para demonstrar a hipótese.
Assim, o objeto da ciência não é o conhecimento sensível, embora se ligue a ele, mas o
intelectual, que está abaixo do conhecimento do princípio absoluto (filosófico ou dialético).
Nessa imagem, tem-se o falso (imagem), a opinião (coisas sensíveis) e o conhecimento
(inteligível).
A relação entre imagem e coisas sensíveis = coisas sensíveis e conhecimento - > verdadeiro.
A relação entre imagem e modelo = relação entre coisas sensíveis e conceito ou ideia.
As coisas inteligíveis resultam de um método que parte de hipóteses como princípios (através
de dados sensíveis) até uma conclusão verdadeira, a partir de um método discursivo.
Esse método prepara o conhecimento mais alto, a contemplação da ideia do bem.
O conhecimento puro que capta o princípio absoluto - não meramente hipotético - só é
obtido pelo processo dialético (capaz de levar à ideia do bem ou conhecimento filosófico).
A dialética (Platão, República) é a ciência que tem como método o uso exclusivo da razão,
dispensando “de modo absoluto os sentidos, para elevar-se à essência das coisas” ou coisa
em si (ex.: marceneiro, a cama real é a que serve de modelo) até alcançar por meio da
inteligência o que constitui o bem em si (ex.: imagem do sol que ilumina), momento supremo
do inteligível, princípio absoluto.
A ideia para Platão somente pode ser entendida a partir da compreensão da dialética, método
de superação da contradição do sensível (na predicação do juízo) até o universal (considerado
em si mesmo), ou predicado universal em si mesmo (não como determinação do sujeito).
Se a ideia for considerada coisa (Aristóteles), será para Kant ilegítima postulação da razão.
Se for método, lei, assume um caráter positivo na CRPr de Kant.
Se a teoria das ideias é o objetivo principal e a religião desempenha um caráter instrumental,
então ideia deve ser concebida com lei, expressão de legalidade da realidade, regra de
conhecimento, método.
Se é privilegiado o caráter religioso, no sentido de que Deus é o criador das ideias, como
arquétipos das coisas, Aristóteles tem razão. No entanto, se for considerada a partir de uma
noção intermediária entre (1) salvação da religião que decai e (2) exigência lógica da
explicação da realidade, então a ideia aparece como método e como objeto.
Lima Vaz destaca 3 sentidos de ideia (eidos):
a) sentido comum: forma visível, delimitação, propriedade;
b) sentido socrático: forma geral a cuja obtenção tende a investigação dialética ou a ideia;
c) sentido platônico: objeto da ciência ou ideia.
3) Interpretação de Lima Vaz: no Fédon, ao tratar da imortalidade da alma chega a mostra-
la como a própria dialética do pensar, desdobrando-se em ideias, identificando-se com o
inteligível como tal. A transcendência em relação ao sensível se alcança por 2 dialéticas:
3.1) procedimento dialogal: caminho p/ ciência dialética, intuição da ideia, partida da chegada
3.2) âmbito do puramente inteligível (noetón), o ser que é verdadeiramente tal (óntos ôn)
Assim, a intuição da ideia “coroa a subida dialógica para o inteligível”, o discurso aprisionado
na experiência é suspenso e a ideia surge como o que é.
A dialética surge como o “discurso sobre as ideias”, que se põem como hipóteses necessárias,
como princípios de inteligibilidade.
Lima Vaz recusa a interpretação (1) segundo a qual as ideias seriam conceitos abstratos
ontologizados e a (2) das ideias como método, em que a dialética seria uma coletânea de
problemas (e não uma ciência de teses).
Para Lima Vaz, segundo Salgado, as ideias são o real idêntico a si mesmo.
Lembrando Hegel, na Introdução à Ciência da Lógica: “A ideia platônica não é outra coisa
senão o universal ou, mais determinadamente, o conceito do objeto” (em que alguma coisa
tem “realidade efetiva”).
A ideia é a razão de ser do real. A ideia é o que dá razão ao real. Não como axiomas lógicos.
Mas como princípios necessários e suficientes de inteligibilidade, postas como causas
primeiras do conhecimento do ser.
Conforme Hegel, segundo Salgado, “para Platão, a realidade verdadeira só pode ser a
realidade conhecida e o conhecimento verdadeiro é o conhecimento das ideias”.
A dialética de Platão consiste na necessidade de união dos contrários em um termo superior,
no conceito universal, a ideia, considerando o predicado não como mera determinação do
sujeito, mas em si mesmo: “Não o homem justo, mas a justiça em si, a beleza em si” (Hegel).
A ideia é o resultado do próprio movimento do pensar, designado p/ Platão como alma
(Hegel).

Jäger - > Paideia: ajuda a entender a psique - > Estrutura-se - > H = animal racional
- 2 características:
3 períodos: Composta por 3 dimensões: * Sensibilidade
- Cosmológico - Arete: heróica * Entendimento
- Antropológico - Techne: política
- Sistmético - Sophia: científica

- GALUPPO, Marcelo Campos. Igualdade e diferença no pensamento de Habermas

1º paradigma: Logos (Gregos) - > Platão


2º paradigma: Sujeito (Moderno) - > Kant
3º paradigma: Discurso (Contemporâneo) - > Apel
2) SALGADO, Joaquim Carlos. A ideia de justiça em Hegel, 1996

De acordo com Salgado (pp. 122, 137, 145)

Para Hegel o princípio fundamental do idealismo é que nada existe para o homem
a não ser no pensar. Tudo tem de estar no plano do pensamento. A realidade da
coisa para o homem dá-se no pensamento. Não que o pensado seja o real, ou o
ideal oposto ao que existe fora dele. [...] A realidade para Hegel só se mostra como
tal como idealidade, realidade no plano do pensamento. Esse conceito de
idealidade pelo qual o pensável é o real ou em que o real é pensável e o verdadeiro
é o pensável, é o princípio supremo do idealismo, segundo Hegel, e mesmo de
toda a filosofia, na medida em que é saber no plano infinito do pensar. (1996, p.
118)

Conforme Salgado:
A Lógica é exatamente o pensar do infinito na finitude e vice-versa. Todos os
momentos lógicos, ser, essência e conceito, trazem, cada um no seu nível
(imediatidade, mediação e totalidade mediatizada), a dialética do finito e do
infinito, que não é apenas a negação do finito, a sua eliminação, a sua ausência,
nem a seriação do finito negado sucessivamente nos outros finitos, que se
apresentam interminavelmente como sucessão de termos, ou finitos que
suprimem a sua finitude indefinidamente [...] pensar cada coisa na afirmação de si
mesma e ao mesmo tempo na sua negação, dissolvendo “cada determinação finita
em toda infinitude das suas relações. Pensar o infinito é pensar cada coisa como
não sendo ela mesma”, numa dissolução universal das suas determinações ou
relações”2 (1996, p. 119)

Salgado explica que:

O momento da ideia é a razão de ser de todo o desenvolvimento da Lógica e a


Ideia é a totalidade do processo lógico desenvolvido na Lógica. Processo, método
que é ao mesmo tempo o objeto, eis a característica inconfundível da Ciência da
Lógica, síntese da dialética genial, da idealidade e da dialética platônica, da
realidade aristotélica e da crítica kantiana às ideias da razão, a partir da qual Hegel
define a característica essencial do seu pensamento. (1996, p. 178).

Na Enciclopédia, os momentos da Lógica (Parmênides), da natureza, dasein (crítica à substâcia


de Aristóteles), e do espírito, ser-para-si (resultado do atomismo), mostram-se em estágios.
Chegando à representar na esfera da teoria do ser o que é a ideia absoluta (fim da Lógica), a
vida na Filosofia da Natureza ou o Espírito absoluto (fim da Filosofia do Espírito).

[...] é de extrema importância ter em conta que Hegel trata das formas lógicas com
que o pensável se determina, não do que ocorre na relação física. A modificação
do quantum, quantidade limitada, determina a modificação da qualidade, vale
dizer, a quantidade limitada (a qualidade é a categoria do finito, do limite)3. Do
mesmo modo que a categoria da quantidade constitui a negação da qualidade, a
negação dessa negação é o quantum posto como ser-aí, como qualidade. (1996,
p. 125)

A essência é “a explicação do ser”, o ser “é só manifestação” e a existência é o “ser que


mostra a sua essência” (1996, p. 137). Pensar “exige o fundamento do que aparece”.

(Pp. 137/138)

2
3
WL, 5, p 277.
1º momento: ser, o puro aparecer (Schein), que é oposto a
2º momento: essência, que é a explicação do ser (que não é um nada), volta a este (ser) e
aparece nele (ser) refletida;
3º momento: existência, a essência manifesta-se, aparece. O que está presente e que dá a
razão de si (que mostra a sua essência) é o existente. Existência é, portanto, o ser que mostra
a sua essência.

Segundo Salgado:

Esses momentos entrecruzam-se na dialética da essência. A qual explica a própria


estrutura do saber científico, que, entretanto, não sabe da sua estrutura e da
exigência da sua superação. É que no momento da essência, sendo o momento
da divisão, da cisão ôntica, o entendimento reflexivo que opera eficazmente no
conhecimento das ciências para o conceito, mas fixa os momentos da essência,
da explicação: o do fundamento de um lado e o da experiência, do fundado, de
outro. Por isso, a relação fundante e fundado, essência e aparência é infinita. A
ciência particular é um saber aberto ao infinito, no sentido de ser uma permanente
busca do fundamento. (1996, p. 139)

Nesta última etapa, da realidade efetiva, verifica-se a característica dialética do pensamento,


pela qual se constata “a exigência da passagem dos momentos um no outro, como momentos
que trazem em si a sua negação, e os concebe como unidade”.

A dualidade da essência, a que se refere Hegel, atinge em Kant uma maior nitidez e
diversidade. O problema da essência é deslocado para a esfera do sujeito. Para resolver o
problema da explicação da essência, Kant desdobrará o objeto em: - (a) coisa em si e
- (b) fenômeno

(a) Aspecto objetivo do objeto: o em si não oferece resposta à quididade (essência) do obj
(b) A essência (explicação) do fenômeno (Schein) é (estava no objeto) deslocada para o
sujeito e, esse aspecto do objeto que ocorre compartimentadamente no sujeito tem
explicação no próprio sujeito (p. 139).
- Ser: intuição Aspecto subjetivo do objeto
- Essência: explicação do fenômeno pelo entendimento

O ser “aparece no conceito” (1996, p. 150). “Pensar o real é pensá-lo em todos os seus
momentos, num processo global” (p. 151).

Exatamente onde Kant encontrou a franqueza da ideia, Hegel encontra potência:


a contradição. Os opostos não se anulam como na lógica do entendimento que
os recusa, mas se movimentam num processo infinito. ‘A ideia é a própria
dialética’4 e, nesse sentido, a totalidade que se mostra no seu movimento: processo
e sistema, que o real se desenvolve como sua verdade. (1996, p. 178).
Conforme Salgado:
De Kant, Hegel recebe a nova característica da dialética como contradição posta
pela razão. A razão é por isso faculdade da contradição, do que Hegel conclui:
faculdade de pensar a contradição, mas para superá-la na unidade. A dialética tem,
assim, um plano superior, o da unidade, não vista por Kant, porque a razão, para
ele, nada mais era do que o próprio entendimento pensando objetos
transcendentes, fixando seus aspectos. (p. 181)

“A ciência que conhece a ideia, a filosofia, é ela mesma, como pensar por conceito, esse
próprio ‘desenvolvimento pensante’.”

4
Enz. 9, § 247.
No conceito de ideia está o resultado de todo o processo dialético, o momento
propriamente especulativo, em que a identidade e a diferença encontram a sua
superação como termos opostos; ser imediato e essência mediata, identidade e
diferença são postos no momento do racional positivo do pensamento
especulativo como superados na sua unidade. O momento especulativo é, pois, o
momento do positivo mediatizado pela negação5, ou da identidade e da diferença.
Por isso, caracteriza a ontologia hegeliana, como o momento do ser caracteriza a
metafísica clássica (Lima Vaz). Somente dos momentos positivos se faz a
ontologia: ontologia do imediato positivo e ontologia do objetivo mediatizado.
Da negação da essência não se faz metafísica; corresponde à divisão introduzida
pela crítica à metafísica dogmática. (pp. 194/195)

Salgado, citando Hegel: “A análise do começo daria, assim, o conceito da unidade do ser e
do não-ser – ou, de forma reflexa, o conceito da unidade do ser distinto e do ser indistinto –
ou ainda o da identidade da identidade e da não-identidade”6. “Essa é a primeira definição
do absoluto” (p. 196).
A Lógica nada mais é do que o sucessivo definir, cada mais concreto ou mais
verdadeiro, do absoluto. O especulativo é o momento próprio do conceito ou da
unidade diferenciada introduzida pela mediação da essência, ou a unidade
diferenciada do conceito, que é a verdade da unidade indiferenciada do ser. (p. 196)

Para Salgado:
Não há algo como sujeito, a que se atribuem predicados. O ser põe-se em
determinações. Ao surgir como começo, o ser é indeterminado; para falar do ser,
dar suas determinações tem-se de determiná-lo. Mas o falar do ser é o seu próprio
desdobramento; o falar é o desdobrar-se do pensar. Não persiste o paradoxo. A
Explicatio é exatamente o falar do ser, a introdução da determinação. (p. 196)

Segundo Salgado:
O pensamento puro é para Hegel o princípio da Ciência ou Lógica, um princípio
ontológico e não no lógico [...]. Não se trata de uma ontologia fundada
imediatamente na realidade, natural ou espiritual, mas de uma ontologia que tem
por objeto o ser como pensável; [...] que passou pelo momento crítico [...] não é
[um modelo] da metafísica clássica ingênua, isto é, anterior à crítica da capacidade
de conhecer da razão, metafísica do entendimento, que se mostrou incapaz de
alcançar os objetos transcendentes, nem de [...] [fixar-se] no fenômeno oposto à
coisa em si, como único objeto do conhecimento.

Salgado explica que:


A ontologia de Hegel é, portanto, o estudo das condições a priori (portanto, do
pensamento puro – Reich des reinen Gedankens7) de pensabilidade do real.
Assim, têm-se: em Hegel, condições (ou determinações ) a priori de pensabilidade
do real – ontologia; em Kant, condições a priori de cognoscibilidade do real
empírico – crítica gnosiológica; em Hegel, explicatio das determinações a priori (do
pensar) do pensável, do real a priori (do sujeito) do conhecimento do real
enquanto dado do real em si; Kant: dedução da validade objetiva dos elementos
a priori do conhecimento do fenômeno. (p. 197)

- fim a ser alcançado


- ponto de referência que a realidade almeja infinitamente

5
WL, 5, p. 52.
6
Wl, 5, p. 74; Differenz, 2, p. 96.
7
WL
Em Kant ideia (de justiça) é - projeto (cuja realização se persegue na H indefinidamente)
- (concebe a H como progresso ético para a liberdade)

- unidade do conceito e da realidade efetiva, não se trata de


Em Hegel ideia é - fixar num projeto uma realidade que deve ser alcançada
- ainda que concebido a partir da realidade, mas de
- captar a realidade, tal como é, no conceito
- o fim, enquanto ideia subjetiva (proposta e almejada)
- é momento abstrato
- só é real na totalidade do processo
- processo na sua completude

- realidade efetiva do direito


Em Hegel ideia (de justiça) é - conceito do direito (elevado a um nível superior)
- unidade do conceito e da realidade efetiva

3) SALGADO, Joaquim Carlos. A ideia de justiça em Kant. 1986 (1ª), 1995 (2ª), 2012 (3ª)
Inteligível = moral visa um bem externo
A felicidade em Aristóteles é estado de espírito da felicidade.
“eu + daimon + ia”
Máximas (B 840): princípios individuais subjetivos de ação
Móbil (sensíveis)
Mérito p/ ser feliz (dignidade)
A ética kantiana se caracteriza pela vontade boa
É pura
Independente do sensível
A reminiscência de Platão é a priori.
O belo (Banquete) é o caminho p/ o bem.
No Fédon aparece a ideia. Na República a ideia do bem.
A vida de cristo como um ensinamento moral.
Hegel, na juventude, defende o cristianismo como
Sto. Agostinho: o amor de Deus (e não o temor).

Unidade segundo fins, e não como causalidade (causa é sempre eficiente p/ Kant).
No plano prático, tudo aquilo que pode existir.
A filosofia moral de Kant tem uma influência de Sto. Agostinho.
Convicção - > Lógica, objetiva, analítica
Persuasão - > Emocional, subjetiva
Objetivo p/ Kant é universal.
Retórica (Aristóteles): Cícero, Ato. Vieira (Cristão)
(Profano) - Catilinares. O que é a defesa e limite
Ciências: conjunto de verdades certas (Aristóteles)
Certeza (objetiva)
Em Hegel, tem-se o saber c/ a unidade entre certeza do sujeito e verdade do objeto.
Na filosofia (Parmênides), vê-se doxa (opinião) e episteme (ciência).
* Cria a ontologia
* Cria princípios da lógica
Cf. a metafísica de Salgado, o pensamento tem que ter as características: * Universal
* Necessário
* Livre
4) SALGADO, Joaquim Carlos. A ideia de justiça no mundo contemporâneo, 2006

Em Kant, antes do direito, é preciso falar da sociedade, organização social, Estado,


fundamento racional da origem da sociedade humana.
Não é um contrato social histórico, e sim lógico (a priori).
República p/ Kant = Democracia
Deve-se Pura: todos podem dar seu assentimento.
chegar a
Ideia de Constituição, progressão (Montesquieu e Poder Judiciário).

5) “Justiça em Números”
O funcionamento das formas de solução dos conflitos envolvendo ofensa de diretos das
pessoas é medido pelo Conselho Nacional de Justiça (órgão auxiliar do poder judiciário
criado com a Emenda Constitucional n.º 45/2004) por meio de um projeto denominado
“Justiça em Números” divulgado por meio de relatório anual (desde 2009). Essa análise pode
ser caracterizada como uma abordagem feita a partir de um aspecto quantitativo da realidade
judicial brasileira e sintetizada nos seguintes tópicos:

1) O Brasil tem uma média de 1 processo para cada 2 pessoas, aproximadamente


. Em 2020 ocorre a maior queda de toda a série histórica contabilizada pelo CNJ,
com início a partir de 2009, com uma redução no estoque processual de
aproximadamente 1,5 milhão de processos;
2) Segundo apuração do CNJ (2019) até 31/12/2018, o tempo médio de duração
dos processos em tramitação na fase de conhecimento de 1º grau é de 3 anos e 4
meses; de 2 anos e 1 mês de tramitação no 2º grau; e de 6 anos e 4 meses de
tramitação na fase de execução do 1º grau, totalizando: 11 anos e 9 meses de
duração total em média;
3) Ainda segundo apuração do CNJ (2020), até 31/12/2019, o tempo médio de
duração dos processos em tramitação na fase de conhecimento de 1º grau é de 3
anos e 6 meses; de 2 anos e 1 mês de tramitação no 2º grau e de 6 anos e 9 meses
de tramitação na fase de execução do 1º grau, totalizando: 12 anos e 6 meses de
duração total em média.
4) De acordo com o CNJ (2020) até 31/12/2019, MG foi indicado como o estado
que apresenta a menor demanda por habitante, apesar de figurar como tribunal
de grande porte (ao lado de BA, SP, RJ, PR e RS) em todos os segmentos (TJMG,
TRT3 e TRE-MG) dentre os de grande porte;
5) Sobre o tema conciliação, de acordo com o CNJ, o TJMG continua em segundo
lugar em números absolutos levando-se em conta todos os tribunais, e conta
atualmente com 166 Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania
(CEJUSCs) instalados, para um total de 297 comarcas;
6) Conforme o CNJ (2020) sobre o quesito conciliação, o índice do TJMG é o
maior entre os tribunais de grande porte (ao lado de BA, SP, RJ, PR e RS), com
16,1%, contra 13,7% do RJ, 13% do PR, 11,5% do RS e 7,9% de SP;
7) Entre os tribunais de grande porte (ao lado de TJBA, TJSP, TJRJ, TJPR e
TJRS), o TJMG gastou menos por habitante em comparação com o TJSP e o
TJRS. O TJMG também de destaca nesse quesito, se comparado com tribunais
de médio e pequeno porte. 8

8
Segundo relatório estatístico produzido para diagnóstico e monitoramento de dados sobre o Poder
Judiciário (série “Justiça em Números” edição de 2020) publicado anualmente pelo Conselho Nacional de
Justiça. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/08/WEB-V3-Justi%C3%A7a-
em-N%C3%BAmeros-2020-atualizado-em-25-08-2020.pdf.
6) TRIVISONNO, Alexandre T. G. A Teoria da Estrutura Hipotética das Normas Jurídicas
de Kelsen. Revista Brasileira de Estudos Políticos, v. 121, p. 73-120, 2020.

Teoria de Kelsen Teoria de Hart


normas primárias: ligam um ato de coação como regras primárias:
sanção a determinado pressuposto fático estabelecem deveres e
normas não normas secundárias: normas sanções coativas
autônomas que enunciam deveres
normas que permitem Vacat
positivamente: limitam a
aplicação de outras normas
normas que derrogam: Vacat
suprimem a aplicação de
outras normas
normas que estabelecem regras secundárias de
poder ou competência modificação
regras secundárias de
aplicação
normas que interpretam Vacat
outras normas
em termos de direito
positivo, vacat: não existe
correspondente, na
tipologia de normas
jurídico-positivas de Kelsen,
à regra de reconhecimento
de Hart; mas ela
corresponde, na teoria de
Kelsen como um todo, à
norma fundamental regra
secundária de
reconhecimento

7) FISS, Owen. As formas de justiça. In. Harvard Law Review, v. 93, 1979

8) SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Resolução de disputas - métodos adequados para
resultados

Os mecanismos baseados em acordo seguem um molde procedimental geralmente compostos


das seguintes etapas:
✔ Estabelecimento da relação: etapas preparatórias de aproximação das partes;
✔ Condução da negociação: identificação da controvérsia; debate das soluções;
✔ Exercício culminante da vontade: o acordo em si.
Por sua vez, os procedimentos dos mecanismos que perseguem uma decisão imposta por
terceiro dependem, estruturalmente, das seguintes etapas:
✔ Alegações das partes: apresentação dos argumentos;
✔ Demonstração: comprovação dos fatos e razões apresentadas;
✔ A decisão em si.
REFERÊNCIAS

1. A teoria da justiça entre o transcendentalismo e o comparativismo [manuscrito] / 2020 - ( Dissertações )


- BARROS, Cristiano Luiz Girardelli de;
SALGADO, Ricardo Henrique Carvalho. A teoria da justiça entre o transcendentalismo e o comparativismo .
2020. 264 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Direito. Disponível
em: http://hdl.handle.net/1843/35032. Acesso em: 17 jan. 2022.

2. definição de actio romana e maximum ético em Joaquim Carlos Salgado, A [manuscrito] / 2017 - (
Dissertações )
- VIEIRA NETO, Levindo Ramos; SALGADO, Joaquim Carlos. A definição de actio romana e maximum
ético em Joaquim Carlos Salgado. 2017. 100 f Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais,
Faculdade de Direito. Disponível em: <http://hdl.handle.net/1843/BUOS-ASXHQA>. Acesso em: 26 fev.
2018.

3. Dever jurídico de distribuição de riquezas [manuscrito] : seu fundamento na dignidade humana e a


imprescindibilidade para a realização da justiça universal concreta, O / 2012 - ( Dissertações )
- SILVA, Nathália Lipovetsky e.; SALGADO, Joaquim Carlos. O dever jurídico de distribuição de riquezas :
seu fundamento na dignidade humana e a imprescindibilidade para a realização da justiça universal concreta.
2012. 124 f., enc. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Direito.
Disponível em: http://hdl.handle.net/1843/BUBD-9VKHAM. Acesso em: 24 jan. 2022.

4. Dialética da ideia de justiça no mundo contemporâneo [manuscrito] : consciência moral; política; consciência
jurídica e Estado Democrático de Direito, A / 2016 - ( Dissertações )
- ARAÚJO, Diego Manente Bueno de; SALGADO, Joaquim Carlos. A dialética da ideia de justiça no mundo
contemporâneo : consciência moral; política; consciência jurídica e Estado Democrático de Direito. 2016. 92 f
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Direito. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/1843/BUBD-AKMRFW>. Acesso em: 3 maio 2017.

5. Direito e justiça na jusfenomenologia de Gerhart Husserl [manuscrito] / 2018 - ( Teses )


- HENRIQUES, José Carlos; SALGADO, Ricardo Henrique Carvalho. Direito e justiça na jusfenomenologia
de Gerhart Husserl. 2018. 293 f. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de
Direito. Disponível em: <http://hdl.handle.net/1843/BUOS-B5FKZL>. Acesso em: 26 out. 2018.

6. Direito romano na filosofia do direito [manuscrito] : permanência e atualidade do direito romano enquanto
elemento suprassumido na jusfilosofia brasileira contemporânea, O / 2008 - ( Dissertações )
- PINTO COELHO, Saulo de Oliveira; SALGADO, Joaquim Carlos. O direito romano na filosofia do direito
: permanência e atualidade do direito romano enquanto elemento suprassumido na jusfilosofia brasileira
contemporânea. 2008. 271 f., enc. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade
de Direito.

7. Efetividade da justiça no mundo contemporâneo [manuscrito] : entre ética e economia / 2016 - ( Teses )
- SILVA, Nathália Lipovetsky e; SALGADO, Joaquim Carlos. Efetividade da justiça no mundo contemporâneo
: entre ética e economia. 2016. 157 f., enc Tese (doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade
de Direito. Disponível em: <http://hdl.handle.net/1843/BUOS-ASWF44>. Acesso em: 1 mar. 2018.

8. Estado, poder e liberdade [manuscrito]: uma reflexão a partir dos culturalismos de Nelson Nogueira Saldanha
e Joaquim Carlos Salgado / 2018 - ( Dissertações )
- DUARTE COSTA, Layon; HORTA, José Luiz Borges. Estado, poder e liberdade : uma reflexão a partir dos
culturalismos de Nelson Nogueira Saldanha e Joaquim Carlos Salgado. 2018. 234 f. Dissertação (mestrado) -
Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Direito. Disponível em:
http://hdl.handle.net/1843/BUOS-B9KKBD. Acesso em: 21 jan. 2022.

9. Estoicismo imperial como momento da idéia de justiça [manuscrito] : universalismo, liberdade e igualdade
no discurso da Stoá em Roma, O / 2009 - ( Teses )
- MATOS, Andityas Soares de Moura Costa; SALGADO, Joaquim Carlos. O estoicismo imperial como
momento da idéia de justiça : universalismo, liberdade e igualdade no discurso da Stoá em Roma. 2009. 422 f.,
enc. + CD-ROM Tese (doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Direito. Disponível
em: <http://hdl.handle.net/1843/BUOS-967NC9>. Acesso em: 0.
17. Ideia de justiça - ou o princípio de racionalidade - nos crimes contra a ordem tributária, A [manuscrito] /
2019 - ( Dissertações )
- SANTOS, Mariane Andréia Cardoso dos.; SALGADO, Joaquim Carlos. A ideia de justiça - ou o princípio de
racionalidade - nos crimes contra a ordem tributária. 2019. 226 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal
de Minas Gerais, Faculdade de Direito. Disponível em: http://hdl.handle.net/1843/DIRS-BC9UKF. Acesso
em: 24 jan. 2022.

18. Impossibilidade da efetivação dos direitos fundamentais nos estados antidemocráticos através da concepção
salgadiana de justiça, A [manuscrito] / 2019 - ( Dissertações )
- LAMOUNIER, Micaela Afonso; SALGADO, Ricardo Henrique Carvalho. A impossibilidade da efetivação
dos direitos fundamentais nos estados antidemocráticos através da concepção salgadiana de justiça. 2019. 103
f. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Direito. Disponível em:
http://hdl.handle.net/1843/34102. Acesso em: 19 jan. 2022.

19. Interdependência entre liberdade politica e liberdade privada como exigência do estado democrático de
direito [manuscrito]: a síntese operada no pensamento de Kant, A / 2014 - ( Dissertações )
- MELLO, Rodrigo Antonio Calixto de Pina Gomes; SALGADO, Karine. A interdependência entre liberdade
politica e liberdade privada como exigência do estado democrático de direito : a síntese operada no pensamento
de Kant. 2014. 133 f.; enc Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Direito
Disponível em: http://hdl.handle.net/1843/BUBD-9XMJ6T. Acesso em: 13 out. 2015.

20. Paradigmas no direito e suas anomalias [manuscrito] : hermenêutica dialética e o justo atual segundo uma
consciência paradigmática, Os / 2019 - ( Teses )
- PEIXOTO, Danilo Ribeiro.; SALGADO, Ricardo Henrique Carvalho. Os paradigmas no direito e suas
anomalias : hermenêutica dialética e o justo atual segundo uma consciência paradigmática. 2019. 284 p. Tese
(doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Direito. Disponível em:
http://hdl.handle.net/1843/BUOS-BBWJSN. Acesso em: 22 nov. 2021.

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