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Há muito tempo atrás havia um homem que argumentava que a existência de Deus
pode ser provada. O Monge francês do século XI Anselmo de Cantuária. Ele
ofereceu um argumento dedutivo para a existência de Deus, baseado no que ele
entendia ser a natureza do ser Deus, ou a definição de Deus. Devido ao estudo do
“ser” ser chamado de ontologia, esse argumento e outros como ele são chamados
de argumentos ontológicos.
Agora: como você acha que Deus é? Anselmo pensou que Deus é, por definição, a
melhor coisa que podemos imaginar “A MELHOR COISA”. Tente imaginar a coisa
mais legal, incrível, mais espantosa e maravilhosa que puder. Seja lá o que for,
Anselmo diz que Deus é melhor. Ele simplesmente é o melhor.
Nas palavras de Anselmo: Deus é “o que nada maior pode ser concebido”. Mas o
que isso quer dizer? Significa que Deus deve existir, de acordo com Anselmo. Afinal,
ele aponta, há somente duas maneiras de algo existir. Algo está apenas em nossa
mente e é imaginário como o Papai Noel e os unicórnios. Ou pode existir em nossas
mentes e também na realidade, como a pizza e os cavalos - algo que podemos
imaginar, mas que também é real. Anselmo aponta - e não parece estar certo sobre
isso - que qualquer coisa boa seria melhor se existisse na realidade e também em
nossas mentes. Quer dizer: unicórnios, eles são bem legais, mas não seriam
melhores se existissem? Ou o parceiro romântico perfeito: inteligente, engraçado,
bonito, que gostasse dos mesmos filmes e jogos que você, muito rico. Seria muito
legal na sua cabeça, mas seria melhor se existisse mesmo. Anselmo também
achava isso. E daí, ele acreditou que poderia provar a existência de Deus.
Se definimos Deus como a melhor coisa que podemos invocar na nossa mente, a
única coisa que poderia ser melhor que ele seria … uma versão real! E desde que
imaginemos a melhor coisa possível não pode haver nada melhor. Portanto, Deus
tem que existir, tanto na minha imaginação quanto na realidade. Anselmo tinha
certeza de que tinha conseguido - dedutivamente provado a existência de Deus de
forma imune ao erro. Aqui, uma vez mais, como um argumento filosófico: Deus é a
melhor coisa que podemos pensar. Coisas podem existir apenas na nossa
imaginação ou na nossa imaginação e também na realidade. Coisas que existem na
realidade são sempre melhores que as coisas que existem na nossa imaginação. Se
Deus existe apenas em nossa imaginação, ele não seria a melhor coisa que
poderíamos imaginar, porque Deus na realidade seria melhor. Portanto, Deus deve
existir na realidade.
Anselmo pensou que seu argumento estava bem construído. Mas um de seus
contemporâneos, um colega monge francês chamado Gaulino, não estava satisfeito.
Ele sugeriu que poderíamos usar a mesma linha de raciocínio para provar a
existência de, literalmente, qualquer coisa que imaginássemos. Ele sugeriu um
argumento com a mesma estrutura formal do de Anselmo, para provar que a mítica
ilha perdida existia. Ele propôs: a melhor ilha que posso imaginar é a que posso
nadar e relaxar numa praia tropical e esquiar em montanhas cobertas de neve tudo
numa só tarde. Eu posso imaginar, então deve existir. De outra forma, não seria a
melhor ilha - haveria uma ilha melhor e essa deveria ser real!
Basicamente, disse Gaulino, você pode fazer o mesmo tipo de argumento para
provar a existência de qualquer coisa que você desejar - mas isso não tornará essa
coisa real. Anselmo respondeu às críticas de Gaulino dizendo que ele não entendeu
o ponto, que o argumento só funciona para seres necessários e que existe apenas
um - Deus. O que temos aqui é um exemplo clássico de falácia conhecida como
“petição de princípio”. Uma falácia é um argumento mal construído. No caso da
“petição de princípio” você está assumindo o que está tentando provar com seu
argumento. Adicionando essa ideia de “ser necessário” à sua definição de Deus,
Anselmo fez da existência de Deus parte da definição de Deus. Um ser necessário
é aquele que deve existir, então Anselmo assumiu como verdade o próprio ponto
questionado - que Deus existe.
Pode imaginar do que A e B estavam falando? Para dar uma ideia de quão longo é
esse vai-e-vem entre os filósofos - tentando provar a existência ou não existência de
Deus - John Wisdom propôs essa parábola em 1944 … mais ou menos mil anos
depois de Anselmo e Gaulino.
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