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Corrêa da Silva
organizador
2012
e Artmed Editora SA, 2012
Capa: Pao/a Manica
IMPRESSO NO BRASIL
PRJNTED IN BRAZ/L
P738 Pneumologia (recurso eletrônico) :princípios e prática I
organizador, Luiz Carlos Corrêa da Silva ; coeditores, Jorge
Lima Hetzel ... [et ai.]. - Dados eletrônicos. - Porto Alegre:
Artmed, 2012.
CDU616.24
Coeditores
J orge Lima H etzel: Pneumologista do Pavilhão Pereira Fi- Coordenadores de Seção
lho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia Adalberto Spcrb Rubin: Pneumologista do Pavilhão Pereira
de Porto Alegre. Professor associado de Pneu mologia da Filho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre de Porto Alegre. Professor adjunto da UFCSPA. Doutor em
(UFCSPA). Diretor médico do Pavilhão Pereira Filho e do Pneumologia pela UFRGS.
Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto
Ana Luiu Moreira: Pneumologista do Pavilhão Pereira Fi-
Alegre. Doutor em Pneumologia pela UFRGS.
lho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de
Jo~ Carlos Felicetti: Cirurgião torácico do Pavilhão Pereira Porto Alegre. Professora adjunta de Pneumologia da UFCS-
Filho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia PA. Doutora em Ciências Pneumológicas pela UFRGS.
de Porto Alegre. Professor assistente de Cirurgia Torácica da
Brun o Hocbbcgger: Radiologista do Pavilhão Pereira Filho
UFCSPA. Mestre em Pneumologia pela UFRGS.
do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Por-
José da SUva Moreira: Médico clinico do Serviço de Doenças to Alegre. Professor de Radiologia da UFCSPA. Doutor em
Pulmonares do Pavilhão Pereira Filho do Complexo H ospi- Pneumologia pela UFRGS.
José da Silva Moreira: Médico cHnico do Serviço de Doen- Ana Luiza Moreira: Pneumologista do Pavilhão Pereira Fi-
ças Pulmonares do Pavilhão Pereira Filho do Complexo lho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de
Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Porto Alegre. Professora adjunta de Pneumologia da UFCS-
Professor do Departamento de Medicina Interna e profes- PA. Doutora em Ciências Pneumológicas pela UFRGS.
sor orientador permanente do Programa de Pós-graduação Artbur S. Seuza Jr.: Professor livre docente e coordenador
(Mestrado e Doutorado) em Ciências Pneumológicas da de ensino da Faculdade de Medicina de São José do Rio Pre-
UFRGS. to (FAMERP).
José J. Camargo: Professor de Cirurgia 1brácica da UFCS- Artur Burlamaque: Anestesiologista do Pavilhão Pereira Fi-
PA. Diretor de Cirurgia 1brácica e Diretor médico do Cen- lho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de
tro de lhlnsplantes do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre. Membro da equipe da Soeiedade de Aneste-
Misericórdia de Porto Alegre. Pioneiro em transplante de siologia Ltda. (SANE).
pulmão na América Latina. Membro titular da Academia
Beatriz Gebm Moraes: Pneumologista do Pavilhão Pereira
Nacional de Medicina.
Filho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia
Luciano Müller Corrêa da Silva: Pneumologista do Pavilhão de Porto Alegre.
Pereira Filho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Miseri-
Bruno Hocbhegger: Radiologista do Pavilhão Pereira Filho
córdia de Porto Alegre. Mestre em Pneumologia pela UFR-
do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Por-
GS. Doutorando em Pneumologia pela UFRGS.
to Alegre. Professor de Radiologia da UFCSPA. Doutor em
Paulo José Zimermann Teixeira: Pneumologista do Pavilhão Pneumologia pela UFRGS.
Pereira Filho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Miseri- Candice Santos: Radiologista do Pavilhão Pereira Filho do
córdia de Porto Alegre. Professor adjunto do Departamento Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto
de Cliniea Médica e responsável pela disciplina de Pneu- Alegre.
mologia da UFCSPA e Coordenador do Programa de Resi-
dência em Pneumologia. Professor tüular da Universidade Carla Bicca: Psiquiatra. Thrapeuta cognitiva pelo Beck Insti-
Feevale. tute. Especialista em Dependência Qulmica pela Associação
para o Incentivo a Pesquisa em Álcool e outras Drogas (FI-
Tiago Noguchi Machuca: Cirurgião torácico do Grupo de PAD) em parceria com a Universidade Federal de São Paulo
Cirurgia Torácica do Complexo Hospitalar Santa Casa de (UNIFESP). Mestre em Ciências Médicas pela UFRGS.
Misericórdia de Porto Alegre. Cirurgião do Grupo de "frans-
plante Pulmonar, responsável pela captação pulmonar do Carla Adriane Jarczewski: Pneumologista. Coordenadora
Programa de "fransplante. Doutor em Ciências Pneumoló- do Programa Estadual de Controle da Thberculose do Rio
Grande do Sul. Mestre em Pneumologia pela UFRGS.
gicas pela UFRGS.
Carlos Alberto lglesias Salgado: Psi9uiatra. Presidente da
Associação Brasileira de Estudos do Alcool e outras Drogas
(ABEAD). Psiquiatra sênior do Instituto de Psiquiatria do
Autores Hospital Mãe de Deus de Porto Alegre. Especial.ista em De-
pendência Química pela UNIFESP. Mestre em Psiquiatria
Adalberto Sper b Rublo: Pneumologista do Pavilhão Pereira
pelaUFRGS.
Filho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia
de Porto Alegre. Professor adjunto da UFCSPA Doutor em Carlos Villanova: Pneumologista do Serviço de Doenças
Pneumologia pela UFRGS. Pulmonares do Complexo Hospitalar Santa Casa de Miseri-
córdia de Porto Alegre. Doutor em Medicina pela UFRGS.
Alberto J osé de Araújo: Pneumologista e sanitarista. Diretor
do Núcleo de Estudos e Tratamento do Tabagismo (NETI') Cassiano Teixeira: Professor de Qinica Médica da UFCS-
do Instituto de Doenças do Tórax (IDT) do H ospital Uni- PA Especialista em Medicina Intensiva pela Associação de
versitário Qementino Fraga Filho (HUCFF) da Universida- Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). Doutor em Medicina
de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Presidente da Comis- pelaUFRGS.
são de Thbagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Cecflia Bitteneourt Severo: Farmacêutica-bioqulmica do
Tisiologia (SBPT). Doutor em Ciências pela Coordenação Laboratório de Micologia do Complexo Hospitalar Santa
dos Programas de Pós-graduação em Engenharia de Produ- Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Doutora em Ciências
ção (COPPE) da UFRJ. Pneumológieas pela UFRGS.
Alessandro C. Pasqualotto: lnfectologista. Professor de Pa- Cláudia Peixôto Fogaça: Farmacêutica-bioqulmiea do Labo-
rasitologia e Micologia da UFCSPA. Diretor do Laboratório ratório Central de Análises Clinicas do Complexo Hospita-
de Biologia Molecular do Complexo Hospitalar Santa Casa lar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Especialista
de Misericórdia de Porto Alegre. Pesquisador do CNPq. em Análises Qinicas .
Pós-doutor pela Universidade de Mancbester (UK).
Cristiano Feij6 Andrade: Cirurgião torácico do Hospital da
Aline Dal Pozzo Antunes: Fisioterapeuta. Acadêmica de Me- Criança Santo Antônio do Complexo Hospitalar Santa Casa
dicina da UFCSPA. de Misericórdia de Porto Alegre. Cirurgião torácico do Hos-
pital de Clinicas de Porto Alegre (HCPA). Professor do curso córdia de Porto Alegre. Coordenadora do Programa do Taba-
de pós-graduação em Ciências Pneumológicas da UFRGS. gismo 100' do Pavilhão Pereira Filho do Complexo Hospitalar
Mestre e Doutor em Pneumologia pela UFRGS. Pós-doutor Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Especialista em
em Cirurgia Torácica pela Universidade de Thronto, Canadá. Enfermagem em Thrapia Intensiva pela UFRGS.
Dagoberto Va noni de Godoy: Professor adjunto de Medici- Elizabelh Araúj o: Coordenadora do Núcleo de Otorrinola·
na do curso de Medicina da Universidade de Caxias do Sul ringologia do Hospital Moinhos de Vento (Unidade lguate-
(UCS), Serviço de Pneumologia do Hospital Geral de Caxias mi). Mestre em Medicina pela UFRGS.
do Sul. Especialista em Pneumologia pela SBP'I Mestre e
Elton Xavier Rosso: lnte.mista e pneumologista do Pavilhão
Doutor em Pneumologia pela UFRGS.
Pereira Filho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Mise·
Danilo Corto:ti Berton: Pneumologista Pavilhão Pereira Fi- ricórdia de Porto Alegre.
lho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de
Porto Alegre. Professor do Instituto de Ciências da Saúde Emilio Pizzicbini: Professor associado de Medicina da Uni-
da Universidade Feevale. Mestre em Ciências Pneumológi- versidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Chefe do Ser-
viço de Pneumologia do Hospital Universitário da UFSC.
cas pela UFRGS. Doutor em Ciências Pneumológicas pela
UNIFESP. Membro do Comitê Científico da Globallniciative for Asth-
ma (GINA). Coordenador do Núcleo de Pesquisa em Asma
Darcy Ribeiro Pinto Filho: Chefe do Serviço de Cirurgia To· e Inflamação das Vias Aéreas (NUPAJVA). Pesquisador do
rácica do Hospital Geral de Caxias do Sul (Fundação Uni· CNPq. Doutor em Pneumologia pela UNIFESP.
versidade de Caxias do Sul). Professor de Cirurgia Torácica
da UCS. Cirurgião torácico titular da Sociedade Brasileira Fábio Amaral Ribas: Anestesiologista do Complexo Hospi·
de Cirurgia Thrácica (SBCT). Cirurgião torácico titular do talar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Corres·
Colégio Brasileiro de Cirurgia (CBC). Mestre e Doutor em ponsável pelo Centro de Ensino e Theinamento do SANE.
Pneumologia pela UFRGS. Preceptor do Programa de Residência Médica em Aneste·
siologia do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul
Dayse Carneiro Alt: Pneumologista do Pavilhão Pereira Fi- -Fundação Universitária de Cardiologia (IC-FUC). Precep-
lho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de tor do Programa de Residência Médica em Anestesiologia
Porto Alegre. Médica clfnica da emergência de convênios do do Hospital Ernesto Do.meles de Porto Alegre.
Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto
Alegre. Especialista em Pneumologia pela SBPT. Mestre em Fabíola Adélia Perin: Cirurgiã Thrácica do Serviço de Ci·
Pneumologia pela UFRGS. rurgia Torácica do Pavilhão Pereira Filho e do Grupo de
lransplante de Pulmão do Hospital Dom Vicente Scherer do
Débora Rosilei Miquini de Freitas Cunha: Enfermeira. Li· Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto
der do Programa de Melhoria da Qualidade e Segurança do Alegre. Especialista em Cirurgia Thrácica pela SBCI:
Pavilhão Pereira Filho no Hospital São José do Complexo
Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Es· Fabrício Fari.as da Fontoura: Educador fisioo e fisioterapeu·
pecialista em Gerenciamento dos Serviços de Enfermagem ta. Membro da equipe multidisciplinar de reabilitação pul-
pela UFRGS. Especialista em Saúde Pública pelo Instituto monar do Pavilhão Pereira Filho do Complexo Hospitalar
Brasileiro de Pós-graduação e Extensão. Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Especialista em
Cinesiologia e lreinamento Flsico pela UFRGS. Mest.r ando
Dorvaldo Paulo 1àraseoni : Radiologista intervencionista do em Ciências Pneumológicas pela UFRGS.
Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto
Alegre. Especialista em Radiologia lntervencionista e An· Fabrício Piceoli Fortun a: lntensivista do Hospital Geral de
giorradiologia pela Sociedade Brasileira de Radiologia ln- Caxias do Sul. Professor assistente do Departamento de CII·
tervencionista e Cirurgia Endovascular (SoBRJCE) e pelo nica Médica da UCS. Especialista em Thrapia Intensiva pela
Conselho Federal de Medicina (CFM). AMffi. Mestre em Pneumologia pela UFRGS.
Edson Marcb lori: Professor titular de Radiologia da Univer- Fernanda Brum Spilimbergo: Pneumologista do Pavilhão
sidade Federal Fluminense (UFF). Coordenador adjunto de Pereira Filho e do Centro de Hipertensão Pulmonar, ambos
pós-graduação em Radiologia da UFRJ. do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Por·
to Alegre. Mestre em Pneumologia pela UFRGS.
Eduardo Garcia: Professor adjunto de Medicina e professor
de Pedagogia Médica da UFCSPA. Coordenador médico do Fernanda Carvalho de Queiroz Mello: Professora adjunta da
Serviço de Medicina Ambulatorial do Pavilhão Pereira Filho Faculdade de Medicina da UFRJ. Coordenadora de Ensino
do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Por- do IDTNFRJ. Coordenadora do Ambulatório de Tisiolo-
to Alegre. Especialista em Geriatria pelo Instituto de Geria- gia Newton Bethlem do IDT/UFRJ. Mestre e Doutora em
tria e Gerontologia da Pontifícia Universidade Católica do Pneumologia pela UFRJ.
Rio Grande do Sul (IGG/PUCRS). Doutor em Pneumologia
Fernanda Waltrick Ma rtins: Pneumologista do Hospital
pelaUFRGS.
Tereza Ramos e do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres
Elenice Rode: Enfermeira do Ambulatório de Convênios e (LagesJSC). Professora adjunta da Faculdade de Medicina
do Serviço Auxiliar de Diagnóstioo e lratamento do Pavilhão da Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC). Mes-
Pereira Filho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Miseri· tranda em Ciências Pneumológicas pela UFRGS.
Fernando Gustavo Stclzer: Neurologista. Especialista em João Antônio Bonfadini Lima: Pneumologista Pediátrico da
Medicina do Sono pela Associação Brasileira do Sono. Es· Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Consultor em Pneu·
pecialista em Eletroencefalografia e Polissonografia pela mologia do Hospital da Criança Santo Antônio do Comple-
Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica. Mestre em xo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Neurologia pela Universidade de São Paulo (USP). Doutor em Pneumologia pela UFRGS.
Fernando Rosado Spil.ki: Professor adjunto do Instituto de João Carlos Prolla: Professor titular de Medicina Interna da
Ciências da Saúde da Universidade Feevale. Doutor em Ge- UFRGS.
nética e Biologia Molecular pela Universidade Estadual de
Jorge Amilton Hoher: Intensivista e coordenador médico
Campinas (UNICAMP).
da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Central do Comple-
Flávio de Mattos Oliveira: Micologista do Laboratório de xo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Micologia do Complexo Hospitalar Santa Casa de Miseri- Professor adjunto do Departamento de Clínica Médica da
córdia de Porto Alegre. Doutor em Ciências Pneumológicas UFCSPA. Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB.
pela UFRGS. Doutor em Pneumologia pela UFRGS.
Geraldo Resin Geyer: Patologista e gestor associado do Labo· Jorge Lima Hetzel: Pneumologista do Pavilhão Pereira Filho
ratório de Patologia do Complexo Hospitalar Santa Casa de do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Por-
Misericórdia de Porto Alegre. Patologista e gestor associado to Alegre. Professor associado de Pneumologia da UFCSPA.
do Laboratório de Patologia e Citologia do Sistema de Saúde Diretor médico do Pavilhão Pereira Filho e do Complexo
Mãe de Deus. Patologista do Hospital Ernesto Dornelles. Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Doutor em Pneumologia pela UFRGS.
Gilberto Bueno Fischer: Professor titular de Pediatria da
UFCSPA Chefe do Serviço de Pneumopediatria do Hospital José Augusto Santos Pellegrini: lntensivista. Plantonista das
da Criança Santo Antônio. UTis do Hospital Nossa Senhora da Conceição e do Pavi·
!hão Pereira Filho do Complexo Hospitalar Santa Casa de
Giscla M. B. Meyer: Cardiologista. Responsável pelo Centro
Misericórdia de Porto Alegre.
de Hipertensão Pulmonar do Complexo Hospitalar Santa
Casa de Misericórdia de Porto Alegre. José Carlos Felicdti: Cirurgião torácico do Pavilhão Pereira
Filho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia
Giuliano Scornavacca: Pneumologista do Pavilhão Pereira
de Porto Alegre. Professor assistente de Cirurgia Torácica da
Filho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia
UFCSPA. Mestre em Pneumologia pela UFRGS.
de Porto Alegre. Doutor em Pneumologia pela UFRGS.
José da Silva Moreira: Médico clínico do Serviço de Doenças
Guilherme Loureiro Fracasso: Acadêmico de Medicina da
Pulmonares do Pavilhão Pereira Filho do Complexo Hospi·
UFRGS. Interno do HCPA Estagiário do Serviço de Radio·
talar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Professor
logia Intervencionista do Complexo Hospitalar Santa Casa
do Departamento de Medicina Interna e professor orienta-
de Misericórdia de Porto Alegre.
dor permanente do Programa de Pós-graduação (Mestrado e
Helena Teresinha Mocelin: Pneumologista pediátrica do Doutorado) em Ciências Pneumológicas da UFRGS.
Serviço de Pneumologia do Hospital da Criança Santo An·
José J, Camargo: Professor de Cirurgia Torácica da UFCS-
tônio. Mestre em Pediatria pela UFRGS. Doutora em Pneu-
PA. Diretor de Cirurgia Torácica e diretor médico do Cen·
mologia pela UFRGS.
tro de nansplantes do Complexo Hospitalar Santa Casa de
Iana Oliveira e Silva Ribeiro: Pneumologista. Professora Misericórdia de Porto Alegre. Pioneiro em transplante de
adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Norte pulmão na América Latina. Membro titular da Academia
(UFRN). Chefe da disciplina de Semiologia na UFRN. Mes- Nacional de Medicina.
tre e Doutora em Ciências Pneumológicas pela UFRGS.
José Miguel Chatkin: Professor titular de Pneumologia e Me·
ldilio Zamin Júnior: Gastrenterologista do Laboratório da dicina Interna da Faculdade de Medicina da PUCRS. Pós-dou-
Motilidade Digestiva do Complexo Hospitalar Santa Casa de tor em Pneumologia pela Universidade de Toronto, Canadá.
Misericórdia de Porto Alegre. Especialista em Endoscopia
José R. Jardim: Professor livre docente de Pneumologia da
Digestiva pela Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva
UNIFESP. Diretor do Centro de Reabilitação Pulmonar do
(SOBED). Mestre e Doutor em Medicina pela UFCSPA
Lar Escola São Francisco da UNIFESP. Membro do Comitê
lima Aparecida Paschoal: Professora associada de Pneumo· de Planejamento da Assembléia de Reabilitação da Ameri-
logia do Departamento de Oínica Médica da Faculdade de can Thoracic Society.
Ciências Médicas da UNICAMP.
Josue Almeida Victorino: Pneumologista. Professor adjunto
J. Alberto Neder: Professor titular livre docente e chefe da de Medicina Intensiva da UFCSPA. Doutor em Pneumolo-
disciplina de Pneumologia da Escola Paulista de Medicina gia pela USP.
da UNIFESP. Coordenador do Setor de Função Pulmonar e
Juliessa Flor ian: Fisioterapeuta do Serviço de Reabilitação
Fisiologia Clínica do Exercício (SEFICE). Pulmonar do Complexo Hospitalar Santa Casa de Miseri·
Jamila Bellicanta Fochesatto: Pneumologista do Hospital córdia de Porto Alegre. Membro da equipe multidisciplinar
Regina de Novo Hamburgo/RS. Mestre em Pneumologia do Hospital Dom Vicente Scherer do Complexo Hospitalar
pela UFRGS. Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Especialista em
Cinesiologia pela UFRGS. Mestre em Ciências Pneumoló- Maria Carolina M. A. Gouveia: Especialista em Pneumolo-
gicas pela UFRGS. gia pela SBPT e pela Associação Médica Brasileira (AMB).
Klaus L. Irion: Radiologista do Liverpool and Broadgreen Especialista em Pneumologia pelo Pavilhão Pereira Filho do
University Hospital, Reino Unido. Professor honorário da Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto
Universidade de Liverpool. Fellow do Colégio Britânico de Alegre. Doutora em Pneumologia pela UFRGS.
Radiologia. Membro titular do Colégio Brasileiro de Radio- Marília Maria dos Santos Severo: Infectologista do Comple-
logia (CBR). Doutor em Pneumologia pela UFRGS. xo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Leonardo Gilberto Haas Signori: Residente de Pneumolo- Professora assistente de lnfectologia da UFCSPA. Coorde-
gia do Pavilhão Pereira Filho do Complexo Hospitalar Santa nadora do Ambulatório de Ensino em Doenças Infecciosas
Casa de Misericórdia de Porto Alegre. e Parasitárias da UFCSPA. Especialista em lnfectologia pela
UFCSPA. Especialista em Medicina Ttopical pela UNIFESP.
Ulian Scussel Lonz.etti: Reumatologista do Complexo Hos- Mestre em Pneumologia pela UFRGS.
pitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Mestre
em Ciências da Saúde pela UFRGS. Marisa Pereira: Pneumologista do Pavilhão Pereira Filho do
Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto
Lilla.n Recb Pasin: Pneumologista e intemista. Médica plan- Alegre. Mestre em Pneumologia pela UFRGS.
tonista da UTI do Hospital Tacchini de Bento Gonçalves/
RS. Pneumologista do Hospital São Pedro de Garibaldi/RS. Marli Maria Knor st: Pneumologista do Serviço de Pneu-
Doutoranda em Ciências Pneumológicas pela UFRGS. mologia do HCPA. Professora associada do Departamento
de Medicina Interna e do Programa de Pós-Graduação em
Lisand ra Soldati: Psicóloga do Programa de ll-atamcnto de Ciências Pneumológicas da Faculdade de Medicina da UFR-
Thbagismo 180" do Complexo Hospitalar Santa Casa de Mi- GS.
sericórdia de Porto. Responsável pelo ll-einamento do Pro-
grama Institucional dos Vigilantes da Saúde. Psicóloga no Mavis Klaus lnbaqulles: Médica do 'Jl-abalho. Supervisa-
Centro Clínico do Hospital São Lucas da PUCRS. Especia- ra do Serviço de Atenção a Saúde e Qualidade de Vida do
lista em Ttanstomos do Controle dos Impulsos pela Alliant Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto
lntemational University (San Diego, CA). Mestre em Lin- Alegre.
gufstica {Análise do Discurso) pela Universidade Estadual Mima da Mota Machado: Médica assistente do Laboratório
de Maringá (UEM). de Motilidade Digestiva do Pavilhão Pereira Filho do Com-
Luciano Müller Corrêa da Silva: Pneumologista do Pavilhão plexo Hospita.l ar Santa Casa de Misericórdia de Porto Ale-
Pereira Filho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Miseri- gre. Médica assistente do Laboratório de Motilidade Esofa-
córdia de Porto Alegre. Mestre em Pneumologia pela UFR- giana do Hospital São Lucas da PUCRS. Médica assistente
GS. Doutorando em Pneumologia pela UFRGS. do Serviço de Motilidade Digestiva São Lucas do Hospital
Regina de Novo Hamburgo/RS. Mestre em Ciências Pneu-
Luiz Carlos Severo: Professor associado nfvel Ill do Depar- mológicas pela UFRGS.
tamento de Medicina Interna da Faculdade de Medicina da
UFRGS. Pesquisador lB do CNPq. Moreno Calcagnollo dos Santos: Internista e intensivista.
Plantonista da UTI do Pavilhão Pereira Filho do Comple-
Manuela Cavalcanti: Pneumologista do Pavilhão Pereira Fi- xo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
lho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Médico rotineiro da UTI do Hospital Nossa Senhora da
Porto Alegre. Doutora em Pneumologia pela UFRGS.
Conceição do Grupo Hospitalar Conceição (HNSC/GHC).
Mara Rúbia André Alves de Lima: Pneumologista. Professo- Mestrando em Ciências Médicas da UFRGS.
ra adjunta da UFCSPA Professora adjunta da Faculdade de
Nelson Porto: Radiologista do Pavilhão Pereira Filho do
Medicina da UFRGS.
Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto
Marcelo Tadday Rodrigu es: Pneumologista do Pavilhão Alegre. Professor aposentado da UFRGS e da UFCSPA.
Pereira Filho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Mi-
Oliver A. Nascimento: Médico da disciplina de Pneumologia
sericórdia de Porto Alegre. Professor adjunto do Curso de
da UNIFESP. Vice-diretor do Centro de Reabilitação Pul-
Medicina da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC).
monar do Lar Escola São Francisco da UNIFESP.
Doutor em Pneumologia pela UFRGS. Pós-Doutor em
Pneumologia pela Universidade de Thronto, Canadá Patrícia Scbwarz: lntensivista e internista. Rotineira da UTI
do Pavilhão Pereira Filho do Complexo Hospitalar Santa
Márcia C. Pucbalski: Ecocardiografista do Complexo Hos-
Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Plantonista da UTI
pitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
do Hospital Mãe de Deus. Especialista em Medicina Inten-
Marcia M. M. Pizzicbini: Professora de Medicina da UFSC. siva pela AMIB.
Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Ciências
Paula Pinheiro Berto: Pneumologista e intensivista. Coor-
Médicas da UFSC. Presidente da Comissão de Asma da
denadora da UTI do Pavilhão Pereira Filho do Comple-
SBPT. Doutora em Pneumologia pela UNIFESP.
xo H ospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Ale-
Marcus B. Conde: Professor associado do Instituto de Doen- gre. Intensivista do Centro de Terapia Intensiva {CTl) do
ças do Tórax da UFRJ. HCPA
Paulo Camargos: Professor titular convidado do Departamen- Robério João Lersch: Adrninistrador de Empresas. Gerente
to de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Administração de Pessoas do Complexo Hospitalar Santa
Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor visitante sênior Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Especialista em Ges-
do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de tão de Pessoas pela Fundação para o Desenvolvimento de
São João del-Rei. Assistant Étranger da Faculté de Médecine Recursos Humanos.
Saint-Antoine, Université Pierre et Marie Curie (PARIS VI).
Rodrigo Moreira Bello: Radiologista do Complexo Hospita-
Paulo de Tarso Roth Oalcin: Pneumologista responsável lar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e do Hospi-
pelo Programa para Adultos com Fihrose Cística do HCPA tal Mãe de Deus.
Professor associado do Departamento de Medicina Interna
daUFRGS. Rossane Frizzo de Godoy: Psicóloga. Professora adjunta do
curso de Psicologia da UCS. Membro do corpo permanente
Paulo F. Guerreiro Cardoso: Professor associado visitan- do Núcleo de Pesquisa em Ciências e Artes do Movimento
te da disciplina de Cirurgia Torácica do Departamento de Humano da UCS. Mestre em Ciências do Movimento Hu-
Cardiopneumologia da Faculdade de Medicina da USP. mano pela UFRGS. Doutora em Ciências Pneumológicas
Professor associado de Cirurgia Torácica do Departamento pelaUFRGS.
de Cirurgia da UFCSPA. Mestre em Cirurgia Thrácica pela
Faculdade de Medicina da UFRJ. Doutor em Pneumologia Rute Merlo Somensi: Enfermeira. Especialista em Gestão
pela UFRGS. de Pessoas (Estratégias de Negócios) pela Fundação dos
Administradores do RS (FARS). Gerente Hospitalar do Pa-
Paulo J osé Zimermann Teixeira: Pneumologista do Pavilhão vilhão Pereira Filho e do Hospital São José do Complexo
Pereira Filho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Miseri-
Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
córdia de Porto Alegre. Professor adjunto do Departamento
de Clinica Médica e responsável pela disciplina de Pneumo- Sadi Marcelo Schio: Coordenador clfnico do Programa de
logia da UFCSPA e coordenador do Programa de Residência Transplante Pulmonar do Complexo Hospitalar Santa Casa
em Pneumologia. Professor titular da Universidade Feevale. de Misericórdia de Porto Alegre. Especialista em Medicina
Interna pelo HCPA e em Cardiologia pelo ICFUC.
Paulo Renato Petersen Behar: Iofectologista do Controle de
Infecção Hospitalar do HNSC/GHC. Professor responsável Sandro Bertani da Silva: Radiologista do Complexo Hospi-
pela disciplina de Iofectologia da UFCSPA. Chefe do Servi- talar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Membro
ço de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Complexo Hos- titular do CBR.
pitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Mestre
Spencer Marcantonio Camargo: Cirurgião torácico do Com-
em Microbiologia (Ciências da Saúde) pela UFRJ. Doutor
plexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Ale-
em Pneumologia pela UFRGS.
gre. Mestre em Pneumologia pela UFRGS.
Paulo Roberto Goldenfum: Pneumologista e preceptor da
residência em pneumologia do Pavilhão Pereira Filho do Suzana Zelmanovitz: Pneumologista do Complexo Hospita-
Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto lar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Alegre. Especialista em Pneumologia pela SBPT. Mestre em Taiane Francieli Rehelatto: Acadêmica de Medicina da
Pneumologia pela UFRGS. UFRGS.
Renata Diniz Marques: Pneumologista do Pavilhão Pereira Tatiana Freitas Tourinho: Professora de Reumatologia da
Filho do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia UFCSPA. Mestre e Doutora em Clinica Médica pelo curso
de Porto Alegre. Especialista em Medicina do Sono pela de pós-graduação em Clínica Médica da UFRGS.
UNIFESP. Especialista em Pneumologia pela SBPT e em
Medicina do Sono pela Associação Brasileira de Sono. Mes- Tiago Noguchi Machuca: Cirurgião torácico do Grupo de
tre em Pneumologia pela UFRGS. Cirurgia Torácica do Complexo Hospitalar Santa Casa de
Misericórdia de Porto Alegre. Cirurgião do Grupo de naus-
Rene J acobsen Eilers: Cirurgião geral e do aparelho diges- plante Pulmonar, responsável pela captação pulmonar do
tivo. Médico do Laboratório de Motilidade Digestiva do Programa de Transplante. Doutor em Ciências Pneumoló-
Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto gicas pela UFRGS.
Alegre. Mestre em Ciências Médicas pela UFSCPA. Mem-
bro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva. Vera Lúcia Fauri: Enfermeira. Chefe de Enfermagem de
Ambulatório do Hospital Santa Clara do Complexo Hospi-
Ricardo de Amorim Corrêa: Professor do Departamento de talar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. MBA em
Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais
Gestão por Processos pela Escola Superior de Propaganda e
(UFMG). Coordenador da disciplina de Pneumologia e do
Marketing (ESPM).
Serviço de Pneumologia e Cirurgia Torácica do Hospital das
Clinicas da UFMG. Coordenador geral do Centro de Pes- Zahara Albornoz: Assistente social do Serviço de Atenção
quisas Clfnicas do Hospital das Clfnicas da UFMG. Especia- a Saúde e Qualidade de Vida do Complexo Hospitalar San-
lista em Pneumologia pela SBPT. Doutor em Medicina pelo ta Casa de Misericórdia de Porto Alegre. MBA em Gestão
Programa de Pós-graduação em Medicina 'Il'opical e lnfec- Empresarial pelo Instituto Brasileiro de Gestão de Negócios
tologia da UFMG. (IBGEN).
Poucas pessoas foram tão instigantes e tão indutoras para o desenvolvimento
de jovens pneumologistas quanto Bruno Carlos Palombini.
Este é apenas um breve relato de algumas das muitas coisas que ele fez e influenciou.
Só temos a agradecer por tudo que Palombini fez pela pneumologia c por todos
nós, parúeularmcnte em momentos importantes do nosso desenvolvimento.
35 Tabagismo Passivo e Ambiente 100% 40.1 Micoses Pulmonares Primárias .............. 338
Livre de Tabaco ..................................... 264 *Cecília Bittencourt Severo; *Flávio de Mattos Oliveira;
*Luiz carlos Severo
*Luiz Carlos Corrêa da Silva; • Aline DaI Pozzo Antunes
35.1 Ambiente 100% Livre de Tabaco: o 40.2 Micoses Pulmonares Oportunísticas ..... 343
*Cecilia Bittencourt Severo; *Flávio de Mattos Oliveira;
Caso da Santa Casa de Porto Alegre ..... 269 *Luiz canos Severo
*Usandra Soldati; *Débora Rosilei Miquini de Freitas
Cunha 40.3 Aspergilose Broncopulmonar
36 Tabagismo: Onde Estamos, Alérgica ................................................ 351
*Afessandro C. Pasqualotto; *Jorge Uma Hetzel
para Onde Vamos................................. 271
*Alberto José de Araújo 41 Abscesso de Pulmão ............................. 362
*José da Silva Moreira; *Ana Luiza Moreira; *José J.
Camargo; *Paulo Roberto Goldenfum
6 Doenças e Distúrbios Pulmonares
42 Bronquiectasias .................................... 368
37 Viroses Respiratórias ............................ 281 *José da Silva Moreira; •José J. camargo; *Bruno
Hochhegger; • Spencer Marcantonio camargo
*Paulo José Zimermann Teixeira; *Fernando Rosado Spilki;
*Fernanda Waltrick Martins 43 Fibrose Cística ...................................... 377
38 Pneumonias ......................................... 290 •Paulo de Tarso Roth Dalàn
44.1O DPOC: Onde Estamos, para 52 Vasculites (Angiites) Sistêmicas ............ 560
Onde Vamos ......................................... 441 *José da Silva Moreira; *Nelson Porto
*José R. Jardim; *Oiiver A. Nascimento
53 Câncer de Pulmão ................................ 565
45 Asma Brônquica ................................... 447 *José da Silva Moreira; *Geraldo Resin Geyer; *Bruno
Hochhegger; *José J. Camargo
45.1 Definição, Epidemiologia e
Fisiopatologia ....................................... 447 54 Outras Neoplasias Pulmonares ............. 584
*Emílio Pizzichini; *Marcia M. M. Pizzichini *José J. Camargo; *Nelson Porto
Pós-graduação em Pneumologia
[I] ATENÇÃO
Havia, em 1998, apenas 66 programas de doutorado
em instituições particulares, e estas se distribuíam
por apenas quatro unidades da federaçlo, 26 delas
no estado do Rio de Janeiro, 23 em São Paulo, 16
no Rio Grande do Sul e uma em Minas Gerais. No
ano de 2008, o número de programas de doutorado
em Instituições particulares havia saltado para 147 e
estes se distribuíam por 11 unidades da federação.
Desses programas, 34% localizavam-se em Slio Pau-
lo, 24% no Rio Grande do Sul, 21% no Rio de Janeiro
e os demais 21% distribuíam-se por Paraná, Minas
Gerais, Santa catarina, Goiás, Distrito Federal, Bahia, Programa de Pós-graduação em Ciências
Pernambuco e Ceará. Pneumológicas da UFRGS
0 ATENÇÃO
cavidades internas denominadas células etmoidais, forman-
do limite ósseo entre a cavidade nasal e a órbita. Thmbém
pertencem ao osso etrnoide as duas delgadas lâminas ósseas
A investigação acurada das doenças pulmonares, que formam a concha nasal superior e a concha nasal média.
que sempre necessita do adequado relacionamento A concha nasal inferior é um osso individual. Cada concha
entre diversos setores, particularmente clfnico, fun- nasal recurvada recobre um espaço nasal homônimo, os me-
cional e anatômico, exige um conhecimento deta- atos nasais. Nos meatos nasais, abrem-se os seios paranasais
lhado da anatomia e das alterações que acontecem e o dueto lacrimonasal.
quando da instalação de uma doença. A pequena concha nasal superior recobre o meato
nasal superior, no qual desembocam as células etrnoidais
posteriores. Entre a concha nasal superior e o corpo does-
Neste capítulo, são abordadas as principais partes anatô- fenoide adjacente ao septo nasal, localiza-se o estreito de-
micas do tórax, sobretudo as que têm relevância para o en- nominado recesso esfenoetmoidal. Nesse recesso, drenam
tendimento das alterações patológicas. O estudo anatômico os seios esfenoidais. A concha nasal média, em compara-
do tórax está dividido em quatro grandes compartimentos ção com a sua homônima cranial, tem grandes dimensões
que correspondem a vias aéreas, mediastino, parênquima e recobre o meato nasal médio, no qual desembocam seio
pulmonar e parede torácica. frontal, seio maxilar e células etmoidais anteriores. No me-
ato nasal médio, salienta-se a parte inferior do etmoide e
o processo uncinado, que recobre o óstio do seio maxilar.
Acima deste, existe uma grande célula anterior de etmoi-
Vias aéreas de, denominada bolha etmoidal. A delgada concha nasal
As vias aéreas iniciam-se com a cavidade nasal, dividida pelo inferior recobre o meato nasal inferior, no qual se abre o
septo nasal em metade direita e esquerda (FIGURA 5.1). Atra- dueto lacrimonasal.
vés das duas narinas, as cavidades nasais se abrem anterior Os seios paranasais são cavidades aéreas pares revestidas
e inferiormente para o exterior. Posteriormente, a cavidade por mucosa, localizadas nos ossos adjacentes à cavidade na-
nasal, de cada lado, comunica-se com o setor nasal da fa- sal. Estão em comunicação com a cavidade nasal através de
ringe (rinofaringe) por meio de uma ampla fenda posterior estreitas aberturas na sua parede lateral e, por meio delas,
denominada cóano. Cada metade da cavidade nasal possui a mucosa respiratória tem continuidade com aqueles seios
assoalho, teto, parede lateral e mediai. paranasais. A estrutura dos seios paranasais existe ao nas-
FIGURA 5.1 ~ Tom09rafia computadorizada de face com reconstrução tridimensional evidenciando as vias aéreas superiores. a = seio frontal direito;
b = seio maxilar direito; c = complexo osteomeatal; d = cometo nasal médio; e = células etmoidais; f = corneto nasal inferior; g = seio esfenoidal;
h = cóanos.
cimento, mas adquire forma e tamanho definitivos apenas A traqueia (FIGURA 5.2) é um tubo flexível com 10 a 12
após a erupção dos dentes permanentes. em de comprimento (no adulto) que se estende desde a
O seio frontal situa-se posteriormente aos arcos super- cartilagem cricóidea até a bifurcação da traqueia, sendo
ciliares do frontal. Entre os seios frontais, identifica-se um dividida em sua parte cervical e torácica. A parte cervical
septo, variável e com frequência desviado da linha mediana. está no nível da sex1a e sétima vértebras cervicais, e a par-
O seio etmoidal é um conjunto de pequenas câmaras incom- te torácica situa-se entre a primeira e a quarta vértebras
pletas separadas por finas paredes formadas pelo labirinto torácicas. A parede da traqueia é constituída por 16 a 20
etmoidal, e de cada lado estão divididas em grupos ou célu- peças de cartilagem hialina em forma de ferradura, que são
las etmoidais anteriores, médias e posteriores. A maior célu- ligadas na parede posterior por uma lâmina membranácea
la etmoidal, a bolha etmoidal, situa-se na parede lateral da
que contém músculo liso. A bifurcação da traqueia é assi-
cavidade nasal logo acima do hiato semilunar.
métrica, de onde emergem os brônquios principais direito
O seio maxilar é o maior seio paranasal e preenche o
e esquerdo.
corpo da maxila. O teto é, ao mesmo tempo, o assoalho da
órbita. O assoalho do seio maxilar estende-se até o pro- O brônquio principal direito é mais curto e mais cali-
cesso alveolar da maxila e tem o seu ponto mais profundo broso do que o esquerdo. E le está angulado em relação à
localizado entre o segundo dente pré-molar e o primeiro traqueia em aproximadamente 20 graus e com ela continua
dente molar. Os seios esfenoidais localizam-se no corpo do quase na mesma direção do seu trajeto. O brônquio princi-
esfenoide posteriormente à cavidade nasal e cuja parede pal esquerdo é o mais longo e mais estreito e se angula em
posterior se originou embriologicamente. Entre as variáveis cerca de 35 graus em relação à traqueia. Na bifurcação da
formas dos seios esfenoidal direito e esquerdo, localiza-se traqueia, salienta-se, interna e sagitalmente em direção à sua
um septo que pode estar assimetricamente deslocado para luz, um esporão cartilaginoso reforçado, denominado carina
um dos lados. da traqueia.
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AGURA 5.2 ~ A Tomografia computadorizada de traqueia com reconstrução tridimensional evidenciando as vias aéreas inferiores. a = traqueia; b
= brônquio principal direito; c= brônquio principal esquerdo; d = brônquio do lobo superior esquerdo; e= brônquio do lobo inferior esquerdo; f
= brônquio do lobo superior direito; g = brônquio intermediário direito.
Os brônquios principais direito e esquerdo dividem-se em segmento superior, segmento basilar media!, basilar
em brônquios lobares, três à direita e dois à esquerda, cujos lateral, basilar posterior e basilar anterior. Cabe ressaltar
diâmetros variam de 8 a 12 mm. A divisão do brônquio prin- que a terminologia anatômica atual dividiu os segmentos
cipal direito emite o brônquio lobar superior a 1 a 2 em de basilares do lobo inferior esquerdo em cinco segmentos, ao
distância da carina da traqueia e os brônquios lobares médio contrário do que era previamente descrito - houve desdo·
e inferior a 5 em da mesma carina. À esquerda, o brônquio bramento do segmento anteromedial. Os brônquios seg-
principal também se divide a cerca de 5 em da bifurcação da mentares dividem-se em brônquios cada vez menores até
traqueia em brônquios lobar superior e inferior. Os brôn- se continuarem como bronquíolos; cada bronquíolo supre
quios lobares se dividem em brônquios segmentares, 10 à uma pequena porção de pulmão denominada lóbulo pul-
direta e nove à esquerda. O pulmão direito é composto de monar. Esses achados são descritos adiante, no tópico Pa-
10 segmentos pulmonares (FIGURAS 5.3, 5.4 e 5.5). No lobo su- rênquirna Pulmonar.
perior direito, observa-se o brônquio apical, posterior e an-
terior. No lobo médio existem dois brônquios segmentares,
o media! e o lateral. No lobo inferior direito, observam-se
cinco brônquios, um segmentar superior e quatro segmenta-
Mediastino
res basilares, denominados basilar mediai, basilar anterior, Na cavidade torácica, as duas regiões pleuropulmonares
basilar lateral e basilar posterior. são divididas pelo mediastino, que se estende do esterno
O pulmão esquerdo divide-se em lobo superior e infe- e das cartilagens costais, anteriormente, até a coluna ver-
rior, sendo o lobo superior composto pelos segmentos api· tebral e goteira costovertebral, posteriormente; da raiz
coposterior, anterior e lingular superior e inferior, esses dois do pescoço, cranialmente, ao diafragma, caudalmente.
últimos correspondendo ao lobo médio do pulmão direito Abrange todas as estruturas intratorácicas, exceto pul-
(FIGURAS 5.6, 5.7 e 5.8). O lobo inferior esquerdo divide-se mões e pleuras, que estão alojados em uma expansão da
!racionamento pelas estruturas adjacentes, para um lado O mediastino é dividido em superior e inferior por
ou para o outro. um plano imaginário que passa anteriormente pelo
ângulo do esterno e posteriormente na margem da
quarta vértebra torácica (FIGURA 5.9). O mediastino
FIGURA 5.7 ~ Tomografia computadori·
zada de tórax com reconstrução tridimen-
sional evidenciando os segmentos bron-
copulmonares do lobo superior esquerdo
(LSE). a = segmento superior da llngula
(amarelo); b e segmento inferior da língu-
la (vermelho).
FIGURA 5.11 -+ Tomografia computadorizada de tórax com reconstrução tridimensional evidenciando as estruturas mediastinais. a= traqueia; b =
esôfago; c = veia cava superior; d = tronco braquiocefálico arterial; e = artéria carótida comum esquerda; f = artéria subclávia esquerda; g =arco
a6rtico.
FIGURA 5.12-+ Tomografia computadorizada de tórax com reconstrução tridimen.sional evidenciando as estruturas mediastinais. a= aorta descen·
dente; b = aorta ascendente; c = tronco da artéria pulmonar.
O termo lóbulo pulmonar primário também tem sido usado dade de tecido pulmonar margeada por tecido conjuntivo.
por Miller para descrever a unidade pulmonar muito menor Tendo em vista que a tomografia computadorizada de alta
associada a um único dueto alveolar, mas essa designação resolução do tórax identifica de maneira muito acurada os
em geral não é utilizada.' septos pulmonares, o lóbulo pulmonar secundário de Mil-
Os lóbulos pulmonares secundários têm forma cuboide ler tem sido descrito como padrão de estrutura funcional do
e são um tanto variáveis quanto ao tamanho, medindo apro- pulmão para avaliação das alterações patológicas. '
ximadamente 1,0 a 2,5 em de diâmetro na maioria das lo- Anatomicamente, os lóbulos secundários são circunda-
calizações. Cada lóbulo pulmonar secundário é suprido por dos por septos interlobulares de tecido conjuntivo que se es-
um pequeno bronquíolo e uma arteríola pulmonar, sendo tendem da superfície pleural para o interior do pulmão. Th.is
margeado de forma variável nas diferentes regiões pulmona· septos fazem parte do sistema de fibras intersticiais periféri-
res por septos interlobulares e tecido conjuntivo, contendo cas descrito por Weibel, que se estende ao logo da superfície
a veia pulmonar e ramos linfáticos. Os lóbulos pulmonares do pulmão, abaixo da pleural víscera!. As veias pulmonares
secundários são constituídos por um número limitado de áci· e os vasos linfáticos situam•se dentro dos septos interlobula-
nos pulmonares, em geral 12 ou menos, embora o número res de tecido conjuntivo, marginando o lóbulo. Esse sistema
varie consideravelmente. intersticial é denominado extra-axial ou sistema intersticial
O ácino pulmonar é definido como a porção de parên· periférico. 1
quima pulmonar distai ao bronquíolo terminal e suprido por A porção central do lóbulo referida como região cen-
um ou mais bronquíolos respiratórios de primeira ordem. trolobular contém um ramo da artéria pulmonar e os ramos
Como os bronquíolos respiratórios são o maior setor das vias bronquiolares que suprem o lóbulo, assim como algum teci-
aéreas que possui alvéolos em suas paredes, um ácino é a do conjuntivo de suporte. Nesse tecido conjuntivo de suporte
menor unidade funcional pulmonar onde ocorrem as trocas existe tecido linfático. Esse interstício é também chamado de
gasosas. O diâmetro dos ácinos geralmente varia de 6,0 a interstício centrolobular ou peribroncovascular. Cabe ressal-
10,0 mm. Como mencionado no início desta seção, Miller tar que também existe um terceiro interstício pulmonar que
definiu o lóbulo pulmonar secundário como a menor uni- liga o interstício extra-axial com o peribroncovascular, deno-
RGURA 5.13 ~ Tomografia computadorizada de tórax com reconstrução tridimensional evidenciando as estruturas mediastinais. a = aorta descen·
dente; b = veia cava inferior no nfvel de entrada das veias supra-hepáticas; c = es6fago; d = ffgado; e = ventrfculo direito; f = ventrfculo esquerdo;
g =átrio direito; h = átrio esquerdo.
minado interstício intralobular, raramente demonstrado por O pulmão cortical pode ser conceituado como consistin-
métodos de imagem em situações normais. do em duas a três fileiras de camadas de lóbulos pulmonares
secundários bem organizados que, em conjunto, formam uma
camada de 3 a 4 em de espessura na periferia do pulmão, ao
~ATENÇÃO longo da superficie pleu ral. Os lóbulos pulmonares no córtex
do pulmão têm tamanho relativamente grande e são margea-
dos por septos interlobulares mais espessos e bem definidos.
Um conceito que raras vezes tem sido emprega-
Os lóbulos pulmonares no pulmão cernal ou medular são me-
do, porém de grande importAncia para as dife-
nores e mais regulares em formato do que no pulmão cortieal,
renciações patológicas, é o de pulmão cortical e
sendo margeados por septos interlobulares mais finos e não
medular. Com base nas diferenças de anatomia
tão bem definidos. Quando visíveis, os lóbulos pulmonares
lobular, tem sido sugerido que o pulmão normal
podem aparecer de forma hexagonal e poligonal, mas lóbulos
seja composto por uma parte periférica e uma me-
bem definidos raramente são visíveis em indivíduos normais.
dula central. Embora esses termos em geral não
sejam usados, o conceito de regiões pulmonares
corticais e medulares é útil na avaliação das cau-
sas das afecções patológicas, tendo em vista que a Parede torácica
maioria das neoplasias tem causa brônquica (por-
tanto medular) e a maioria das infecções é alveolar A parede torácica é constituída pelas costelas e pelas 12
(portanto cortical). vértebras torácicas, bem como pela musculatura da parede
torácica (FIGURAS 5.17 e 5.18). Nas 12 vértebras torácicas, há
descrição de um corpo vertebral, isto é, uma placa compacta
FIGURA 5.14 -+ Tomografia computado·
rizada de tórax com reconstrução tridi-
mensional evidenciando as estruturas m~
diastinais. a = ventrículo direito; b = átrio
direito; c = veia cava superior; d = tronco
da artéria pulmonar; e = artéria subclávia
esquerda; f = artéria carótida comum es•
querda; g =tronco braquiocefálico arterial;
h = arco aórtico; i = ventrfculo esquerdo; j
= átrio esquerdo.
FIGURA 5.15 -+ Ressonânc.ia magnética de tórax (vista posterior) demonstrando o tronco da artéria pulmonar (a) e seus ramos (b = ramo principal
direito; c = ramo principal esquerdo).
de ossificação que apresenta na sua face posterior um fora- -se entre uma e meia altura vertebral abaixo do respectivo
me para a passagem de uma veia (veia vertebral). Na face corpo. Os processos espinhosos das três últimas vértebras
posterolateral das vértebras torácicas existe o arco vertebral, torácicas apresentam-se como placas planas.
que se continua bilateralmente com os processos espinhosos. Os sete pares de costelas superiores unem-se diretamen-
Os processos espinhosos das vértebras torácicas sobre- te ao estemo, constituindo as chamadas costelas verdadeiras,
põem-se como telhas, de modo que as suas pontas situam- e as cinco últimas costelas são denominadas falsas porque
FIGURA 5.16 -+ Tomografia com·
putadorizada de tórax com recons·
trução tridimensional demonstrao·
do o lóbulo pulmonar secundário.
AGURA 5.18-+ Tomografia computadorizada de tórax com reconstrução tridimensional evidenciando as estruturas musculares da parede torácica. a
= músculo lat[ssimo do dorso; b = grande dorsal; c = peitoral maior; d = peitoral menor; e = músculo serrátil; f = músculo intercostal.
se unem apenas por meio de conexões cartilaginosas com o esterno, aberto em direção posterior. O processo xifoide
esterno. O osso costal é a parte óssea da costela e apresenta pode ser cartilaginoso até a fase adulta, podendo ossificar
cabeça, colo e corpo. O limite entre o colo e o corpo é mar- completamente no idoso ou permanecer com a parte carti-
cado pelo tubérculo da costela. laginosa. Na extremidade cranial ao manúbrio, encontra-se
O esterno compõe-se de manúbrio, corpo e processo a incisura jugular e, lateralmente a ela, dos dois lados, estão
xifoide. Entre o manúbrio e o corpo, situa-se o ângulo do as incisuras claviculares. A incisura clavicular participa da
união articular com a clavícula. Logo abaixo da incisura cla-
vicular encontra-se, no manúbrio, a primeira incisura cos- Leituras recomendadas
Abiru H, Ashizawa K, Hashmi R, Hayashi K. Normal radiographic
tal. No ângulo do estemo fica a segunda incisura costal, que
anatomy of thoracic structurcs: analysis of 1000 chest radiographs in
se une com a segunda costela.
Japanesc population. Br J Radiol. 2005;78(929):398-404.
A caixa torácica é composta por vários músculos que
auxiliam durante a respiração; dentre eles, destacam-se os Carricr G, Fréchcttc E, Ugaldc P, Dcslauricrs J. Correlativo ana·
músculos intercostais internos e externos, os músculos sub- tomy for thc stcrnum and ribs, costovertebral anglc, chcst wall
costais e os músculos escalenos. Os músculos escalenos mo- musclcs and intercostal spaccs, thoracic outlct. Thorac Surg Clin.
2007;17(4):521-8.
vem a musculatura intercostal no sentido cranial. Estes são
os principais músculos da respiração, pois elevam o primeiro De Brux JL, Orcnicr P, Pcmcs JM, Desblcds Ml: Anatomy of thc
e o segundo par de costelas e a parte superior do tórax. Sua lhoracic aona: magnctic rcsonancc imaging and intcrprctation of
ação é ampliada pela extensão no pescoço. Oow phcnomcna. Surg Radiol Anat. 1987;9(2):141-9.
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Pietrasik K, Bakon L, Zdunck P, Wojda-Oradowska U, Dobosz P,
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Luciano Müller Corrêa da Silva
6
A AGURA 6.1 representa, graficamente, as curvas pressão·
Introdução -volume (P-V) para o pulmão e a parede torácica, isoladas e
A principal função fisiológica do sistema respiratório, em em conjunto. Na capacidade pulmonar total (CPT), a curva
última instância, é a hematose. Esta envolve o transporte de P-V do pulmão demonstra um platô, o que não ocorre na curva
oxigênio (OJ do setor alveolar para o sanguíneo (hemoglo- P-V da parede torácica. Nesse caso, é a elasticidade do pulmão
bina) e de dióxido de carbono (C0 2) do sangue para o al- q ue determina a CPT. Na CPT, a musculatura inspiratória está
véolo. A consequente integração entre os diferentes setores em seu encurtamento máximo. Já no volume residual (VR), a
(pulmão, coração, circulação pulmonar e sistêmica e respira- curva P-V da parede torácica demonstra um platô, não sendo o
ção celular) permite a manutenção de um adequado equill- caso da curva P-V do pulmão, que está até verticalizada. Logo,
brio ácido·básico e a resposta eficiente a qualquer mudança é a limitação da parede torácica que determina o VR.
do estado de repouso para exercício. As duas variáveis mais importantes para a determinação
O sistema respiratório consiste em um aparato mecânico de todos os volumes e capacidades pulmonares são a CRF
responsável pela ventilação alveolar, pelo setor alveolocapi- e a capacidade vital (CV). A CV é o volume máximo expi-
lar e por estruturas que regem o controle de todo o sistema rado, partindo-se da CPT, ou o volume máximo inspirado,
respiratório. partindo-se do VR. O volume de reserva inspira tório (VRI)
é o volume máximo de ar inspirado, partindo-se do volume
corrente (VC). A capacidade inspiratória (CI) é o volume
Princípios da mecânica ventilatória máximo de ar inspirado, partindo-se do repouso expiratório
(CRF). O volume de reserva expiratório (VRE) é o volume
O fole respiratório depende da interação adequada entre o
máximo de ar expirado, partindo-se também, do repouso ex-
pulmão e a parede torácica. A função primordial é garantir
piratório (CRF). Já o VR é o volume de ar presente nos pul-
uma diferença pressórica apropriada entre a atmosfera e o
mões após uma expiração forçada e completa. O VR nunca
sistema respiratório por meio da menor resistência possível
é determinado diretamente por qualquer método de função
(resistência das vias aéreas e resistência tecidual).
pulmonar. Deve-se, primeiro, medir a CRF, obtendo-se o
VR subtraindo-se a CRF pelo VRE.
As diferentes capacidades e os volumes são demonstra-
dos na FIGURA 6.2. Note que a capacidade é sempre a soma
de dois ou mais volumes. É interessante observar que os vo-
lumes mudam de forma considerável entre diferentes indiví-
duos, principalmente de acordo com sexo, idade e altura. Já
a relação de proporção dos diferentes volumes com a CPT
Capacidade pulmonar total (%)
100
/
I Sistema respiratório
I
I
75 I
I
"
Parede torácica/ Pulmão
50
Nível de repouso (CRF)
- - - - "- -
---·- ---,---- 1
I
25 I
I FIGURA 6.1 -+ Curvas pressão-volume para o pulmão e a parede
torácica e da resultante interação entre ambos no sistema respi-
ratório. Para a curva do sistema respiratório, é medida a pressão
ao nível da boca, com uma válvula respiratória ocluída, em di-
ferentes volumes (pressão de relaxamento). Note que o volume
-10 o +1 0 + 20 +30 que representa o ponto de equillbrio entre ambos é a C.RF. Nesse
Pressão (cmH,O) ponto, a pressão de relaxamento é zero.
não varia muito em indivíduos saudáveis, considerando o Na inspiração, a musculatura inspiratória gera uma ten-
mesmo sexo e idade. Em média, a CRF é 40 a 50% da CP1; são na parede torácica, que é diretamente transmitida para
a CI é 50 a 55% da CP1; a CV é 70 a 75% da CPT e o VR é o espaço pleura~ virtual e formado apenas por uma fina ca-
20 a 40% da CPT. O VR, em geral, aumenta com o grau de mada líquida entre as pleuras visceral e parietal. Essa tensão,
envelhecimento etário. por capilaridade, exerce uma tração radial por todo o pa-
-----------------------------------~----~-----------~
FIGURA 6.2 -+ Capacidades e volumes pulmonares. Observe que a capacidade pulmonar total, o volume residual e a capacidade residual funcional
(linhas e setas em preto) não podem ser obtidos pelas manobras expirat6rias e inspirat6rias de forma direta na espirometria.
rênquima pulmonar, transmitida para as paredes alveolares A complacência pulmonar estática varia de acordo com
e paredes das vias aéreas, o que provoca uma diferença de o volume pulmonar. Em volumes mais altos, a complacência
pressão entre essas estruturas e a atmosfera, determinando do pulmão costuma ser menor, e em volumes mais baixos,
por sua vez a geração de fluxo aéreo. maior. A inclinação da curva P-V ao longo da CV é a com-
Em primeira instância, a magnitude necessária para a ge- placência estática, que varia de acordo com o tipo de doença,
ração dessa pressão depende da complacência da parede to- ou alteração (obstrução primária de vias aéreas, enfisema,
rácica e dos pulmões. Complacência pulmonar estática, que é fibrose pulmonar). Nota-se que, no paciente com asma, o
uma medida da distensibilidade do pulmão, é a variação devo- formato e a inclinação da curva costumam ser similares ao
lume produzida por uma variação na pressão estática (quando normal, enquanto no enfisema a curva está marcadamente
não há fluxo aéreo por pelo menos 1,5 s) de 1 cmHzO ao longo inclinada para a esquerda (FIGURA 6.3). Isso ocorre porque
do pulmão, ou seja, entre a superficie pleural e a boca. o parênquima pulmonar na asma costuma ter complacên-
A diferença entre a pressão da superfície pleural (medida, cia normal, enquanto no enfisema está bastante reduzido.
na prática clínica, pela pressão esofágica) e a pressão da boca Observa-se que, em doenças restritivas que reduzem a elas-
é denominada pressão transpulmonar. Complacência estática ticidade pulmonar (fibrose), a curva P-V está notadamente
da parede torácica é a alteração do volume pulmonar gerada inclinada para baixo (complacência menor). Na obesidade, o
por uma variação da pressão estática ao longo da parede torá- formato da curva é semelhante ao normal, embora varie em
cica, ou seja, entre a superfície pleural e a superficie externa volumes menores (FIGURA 6.4).
da parede. A complacência total do sistema respiratório é a A complacência pulmonar também pode ser determina-
variação de volume gerada por uma pressão de 1 c~O ao da durante a ventilação (quando há fluxo aéreo). Nesse caso,
longo da parede torácica e dos pulmões. A unidade de medida é denominada complacência dinâmica (Cdin). É definida
da complacência (C) é UcmH,O. A fórmula genérica é: como a variação de volume durante um ciclo respiratório
(VC) dividida pela variação de pressão transpulmonar do
final da expiração para o final da inspiração. Assim como a
C=!!.V/M' complacência estática, seu valor também depende do volu-
me pulmonar no qual ocorre a ventilação.
Asma
Normal
Volume (L)
Normal
Volume (L)
8
Vol ume (L)
0,7
- - - -- -...:Y:,:::
,olume pulmonar baixo
Volume(l)
+ P.,, ou seja, 30 cm~O. Como a pressão inicial das vias modo que o PIP se desloca cada vez mais na direção do al-
aéreas, logo antes da expiração, é igual à atmosférica (zero), véolo, o que determina um fluxo ainda menor. Dessa forma,
a pressão das vias aéreas (Py...) reduz do alvéolo em direção os seguintes fatores determinam os fluxos expiratórios máxi-
à boca, sendo que existe um ponto no qual a pressão no in- mos (em uma expiração forçada):
terior das vias aéreas é igual à pressão que as circunda. Esse
ponto chama-se ponto de igual pressão (PIP). • As propriedades elásticas do pulmão. Quanto maior are-
O PIP não apresenta uma localização anatômica espe- tração elástica, mais o PIP se desloca na direção dos seg-
cífica, simbolizando apenas um modelo representativo da mentos brônquicos mais distais. Dessa forma, um fluxo
dinâmica das vias aéreas. A montante do PIP (na direção da maior pode ser obtido com volumes menores em doenças
boca), as vias aéreas estão sujeitas à compressão da pressão pulmonares restritivas (p. ex., fibrose pulmonar). Da ou-
pleural. Esse processo é dinâmico, pois à medida que o flu- tra forma, quanto menor a retração elástica, menos o PIP
xo na via aérea diminui, a pressão dentro dela também, de se desloca para os segmentos brônquicos mais distais, li-
Volume (L)
Fluxo Fluxo
Volume ulmonar alto
a
Fluxo
0,7
é normal, de modo que a inclinação da reta expiração-inspi- resistência das vias aéreas em indivíduos normais é conside-
ração final está normal. Nessa situação, a energia potencial rada pequena. Nestes, a frequência respiratória média que
acumulada na inspiração é insuficiente para sobrepujar are- envolve um mínimo gasto energético parece estar em torno
sistência das vias aéreas, o que demanda um esforço ativo da de 15/minuto.
musculatura expiratória. Em indivíduos com fibrose, a com- Em indivíduos com doença restritiva (p. ex., 6brose pul-
placência estática está muito reduzida (maior inclinação da monar), é necessário um aumento da frequência respiratória
reta inspiração-expiração final para a direita). Nesse caso, para minimizar o trabalho resistivo elástico. Consequcnte-
o que está muito aumentado é o trabalho elástico (FIGURA mentc, a frequência respiratória média necessária para mini-
6. t 28). O trabalho da resistência das vias aéreas e o da pró-
mizar o gasto energético ventilatório nesses pacientes é alta.
pria expiração podem estar até reduzidos.
Em indivíduos com doença obstrutiva, é o trabalho resistivo
A partir de agora, não é difícil entender como o traba-
das vias aéreas que está aumentado, levando esses pacientes
lho respiratório pode influenciar no padrão ventila tório. Em
a compensar isso pela redução da frequência respiratória e
geral, quando um indivíduo normal ventila mais profunda-
mente (aumento do volume inspiratório e expiratório com pelo aumento do VC. No entanto, essa regra não é válida
frequência respiratória baixa), a necessidade de trabalho em todos os casos. Em pacientes com hiperinsuflação e obs-
elástico aumenta e a da resistência das vias aéreas se reduz. trução severa, a ventilação ocorre nos extremos da relação
Em frequências respiratórias maiores com um VC menor, pressão-volume. Consequentemente, o trabalho elástico
o trabalho elástico é minimizado, mas o da resistência das pode aumentar muito e a frequência respiratória pode se
vias aéreas aumenta. No entanto, o gasto enérgico total ain- elevar. Com a elevação da frequência respiratória, é possível
da é pequeno, pois a complacência dinâmica altera-se mi- que haja redução da complacência dinâmica com aumento
nimamente, mesmo em frequências respiratórias altas, e a adicional desse trabalho elástico.
Volume(L) Volume(!)
0,7 0,7
D
FIGURA 6.12 -+ Trabalho mecânico ventila tório de um paciente com asma (A) e de outro com fibrose pulmonar (B).
Para a realização desse trabalho venti latório, é neces- indivíduos saudáveis, o E MA e o EMF são, praticamente, os
sária a ação da musculatura respiratória e o consumo de mesmos (150 mL ao repouso, ou 20 a 30% do VC). Em pneu-
oxigênio. Em indivíduos saudáveis, em repouso, o VO, do mopatas, podem existir tanto alvéolos bem ventilados com per-
sistema respiratório está em torno de 0,3 a 1,8 mi.JL de ven- fusão inadequada como ventilação compensatória de alvéolos
tilação, representando, aproximadamente, 1 a 3% do total preservados com perfusão normal. Nesses dois casos, uma pro-
do consumo de oxigênio. Um fator importante é a segurança porção significativa de ar alveolar não participa da hematose.
ventilatória garantida pela adequada perfusão sanguínea do
diafragma. Mesmo em situações de baixo débito cardíaco {p.
ex., choque), o fluxo sanguíneo diafragmático pode exceder
em até 20% aquele. No entanto, em situações como o exer-
~ATENÇÃO
cício extremo, esse consumo pode aumentar de forma consi-
Ventilação alveolar é a proporção do ar inspirado
derável, representando uma parcela significativa do V02 to-
que está envolvida na hematose. Em última instân-
tal. Em indivíduos doentes, mesmo em repouso, a proporção
cia, é o ar ventilado mais importante para o processo
do V02 total para a ventilação aumenta consideravelmente. respiratório de fornecimento de oxigênio sanguíneo.
No caso de pacientes com enfisema e tllperinsuflação, por
exemplo, existe um gasto energético desproporcional com
pequenos incrementos na ventilação. Mesmo com volumes-
-minuto baixos, o gasto energético desses pacientes pode ser Vários fatores influenciam o grau de ventilação alveolar:
de 4 a 10 vezes maior do que em pessoas saudáveis (FIGURA ventilação-minuto, frequência respiratória, VC, EMF. Para
6.13). O maior trabalho resistivo e elástico associado à menor a mesma ventilação-minuto, um aumento no EMF (p. ex.,
eficiência ventilatória com grande gasto energético é um im- enfisema) ou uma diminuição no VC (p. ex., obesidade) pro-
portante desencadeador de dispneia nesses pacientes. voca uma redução da ventilação alveolar. O impacto sobre a
hematose é ainda maior se há redução simultânea de ambos
os fatores. A ventilação alveolar, obviamente, não é o único
fator determinante nas trocas gasosas. O nível da PaC02 al-
Ventilação pulmonar veolar e arterial é influenciado pela relação entre produção
Conforme discutido na introdução, a função primordial do metabólica de 002 e ventilação alveolar (VC02 é a produ-
sistema respiratório é a hematose: transferência eficaz de ção de dióxido de carbono, V"' ventilação alveolar):
oxigênio do alvéolo para o sangue capilar e de dióxido de
carbono do sangue capilar para o alvéolo. Em circunstâncias
normais, um indivíduo respira, aproximadamente, de 6 a 8 PaC02 (mmHg) = (VC02 [mUmin] x 0,863) I Va (U min)
litros de ar por minuto. No entanto, não é a quantidade de ar
ventilado que importa, mas sim o volume de ar envolvido nas Quando o nível de ventilação alveolar é inadequado em
trocas gasosas entre o alvéolo e o sangue capilar. relação à produção de C02o a PC02 alveolar e arterial aumen-
A boca, a cavidade nasal, a faringe, a laringe, a traqueia, ta, ocorrendo hipercapnia (PC02 > 45 mmHg ao nível do
os brônquios e os bronquíolos formam o chamado espaço mar). Quando a ventilação alveolar sofre um aumento des-
morto anatômico (EMA). No entanto, o EMA é um conceito proporcional em relação à produção de C02, a PC0 2 alveo-
sem muita importância para a fisiologia. Importa muito mais o lar e arterial reduz-se (menos de 35 mmHg ao nível do mar),
chamado espaço morto fisiológico (EMF), definido como o ar ocorrendo hipocapnia. Devido à grande difusibilidade do C02o
que inclui todo o EMA e todo o ar alveolar que não apresen- o que permite um rápido equilíbrio nas pressões parciais, a
ta hem atose (alvéolos com pouca ou nenhuma perfusão). Em PaC02 (arterial) é praticamente similar à PACO, (alveolar).
Logo, a PaC02 pode ser considerada uma medida precisa da
capacidade da ventilação alveolar de compensar a produção
( nfiscma
de C02• Já não ocorre o mesmo com o 0 2• Devido à dífusibili-
dade menor, e ao fato de que a maior parte do 0 2 está ligada à
hemoglobina, as diferenças que normalmente ocorrem entre a
distribuição da ventilação e da perfusão nos pulmões, mesmo
em indivíduos normais, fazem com que a Pa02 não seja uma
medida fidedigna da PA02• A Pa02 é, aproximadamente, em
indivíduos normais, 10 mmHg menor do que a PA02 ( diferen-
ça alveolocapilar, ou P(A-a)02). O fator que mais influencia a
P(A-a)O, é a relação ventilação-perfusão (V/Q).
A distribuição da ventilação nos diferentes setores dos
200
~--------------------------
20
"'
80
VM~o(Vmin)
.. pulmões não costuma ser uniforme. Ela depende, funda-
mentalmente, da posição, do VC e do volume pulmonar em
que ocorre a ventilação (VR, CRF e CPT). Em um indivíduo
AGURA 6.13 -+ Variação da V02 associada com a ventilação em indiví-
normal, em posição ortostática, em repouso, em VC (ven-
duos normais e doentes.
tilação que ocorre próximo à CRF), as pressões pleurais
costumam ser mais negativas nos lobos superiores (estima- que 1 mmHg. O fluxo sanguíneo capilar pulmonar é pulsá-
-se que a pressão pleural aumente em torno de 0,25 ~O til (pulsos gerados pelas contrações do ventrículo direito).
por em de distância do terço superior ao terço inferior dos Isso é demonstrado pelo fato de que as trocas gasosas ins-
pulmões). Logo, nos lobos superiores, os alvéolos estão mais tantâneas oscilam de acordo com os batimentos cardíacos.
distendidos e mais próximos do limite superior da curva P-V. O Jeito capilar pulmonar apresenta uma capacidade grande
Nessa localização e em tais condições, a ventilação costu - para acomodar o grande aumento da volemia durante o
ma ser menor do que nos lobos inferiores. Caso o indivíduo exercício. Além disso, também funciona como uma reserva
mude de posição, essa relação pode ser alterada. De forma de sangue que não é sempre necessária para o organismo.
geral, devido às influências da gravidade sobre a pressão Essa reserva pode ser drenada, por exemplo, pelo trato
pleural, são as porções mais pendentes as mais bem ventila- gastrintestinal durante a digestão, ou pela pele, quando há
das na CRF. No entanto, se o indivíduo ventilar forçosamen- necessidade de dispersão de calor.
te próximo à CPT, essas diferenças regionais diminuem mui- Em indivíduos normais, a distribuição do fluxo pulmonar
to, pois todo o pulmão estará no limite da curva P-V, embora é determinada, principalmente, por dois mecanismos:
a ventilação se reduza substancialmente. E m uma ventilação
forçada próximo ao VR, as porções pendentes poderão ter • Gradiente vertical de pressão devido à força gravitacio-
uma ventilação menor pelo fechamento mais precoce das nal: o fluxo pulmonar é maior nas áreas mais pendentes.
vias aéreas. A melhor uniformidade do fluxo pulmonar pode ser ob-
No entanto, a relação V/Q altera-se entre as porções tida na posição prona.
mais e menos pendentes dos pulmões. Em um indivíduo nor- • Anatomia local: o fluxo entre os lobos pulmonares é dis-
mal, em posição ortostática, em VC, em repouso, embora tribuído desigualmente.
os lobos superiores sejam menos ventilados e perfundidos,
a relação VIQ é maior do que nos lobos inferiores. Os lobos Outros mecanismos que podem influenciar a distribui-
superiores são hiperventilados em relação à sua perfusão, ção do fluxo pulmonar são o grau de expansão pulmonar e o
enquanto os lobos inferiores são hipoperfundidos em rela- fechamento crítico das arteríolas. A vasoconstrição hipóxica
ção à sua ventilação. também regula a circulação pulmonar pelo aumento do tô-
nus vasomotor.
~ Pa=PA
2
p~
'___/\__.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ~>Pv>PA
4
FIGURA 6.14-+ Oistribuiç~o do fluxo pulmonar em indívfduo sau-
dável, em repouso, em posiç.\o ortost.ltica.
-------
Fluxo sanguíneo Ventilaçio pulmonar VIQ
po< unid~de de por unidade de volume
volume pulmon•r
Ruxo unguíneo
P,- P2 m diferença de pressão parcial pela membrana em alterada. O resultado é que, no estado de repouso, em pa·
mmHg cientes com predomínio enfiscmatoso, hipoxcmia c hipercap·
T • espessura da membrana, ou distância para a difusão nia costumam ocorrer somente nas fases mais avançadas da
em em doença. Contudo, o distúrbio da difusão no enfisema pode
D • coeficiente de difusão, ou difusibilidade do gás (Da ter repercussão clínica caso o paciente seja submetido a excr·
solubilidadc:tJpeso molecular) cício. Nessa situação, a redução do fator de transferência do
0 2 é acentuada e pode ocorrer hipoxemia. No caso da fibrose
pulmonar, em repouso, a redução da difusão colabora apenas
com 19% da P (A·a)Ol' O restante é devido ao desequílibrio
V/0. No exercfcio, a P(A·a)02 aumenta, sendo que 40% des-
sa diferença são atribuíveis à redução da difusão. A relação
V/0 não se altera de forma signifiC8tiva. Além disso, existem
também alterações estruturais na vasculatura pulmonar, o
que colabora para o desequillbrio V/0 na fibrose pulmonar.
Transporte de oxigênio
O oxigênio que se difunde do alvéolo para o sangue capilar
Existe uma grande diferença de solubilidade entre o 0 2 e é tranSportado aos tecidos dissolvido no plasma, ou pela he·
o CO:- O C02 é quase 25 vezes mais solúvel e 20 vezes mais moglobina presente nas hemácias. A Pa01 do sangue normal
difusível do que o 0 2• Por esse motivo, é muito mais difícil está em tomo de 11,3 a 13,3 kPa (média de 90 mrnHg).
que ocorram alterações de difusão do CO, por alterações na
membrana alveolocapilar. No entanto, o tempo de equilí-
brio entre as pressões parciais alveolocapilares para o CO, é
maior do que para o 0 2, pois o C02 apresenta uma curva de
dissociação linear e a reação com componentes sanguíneos
se dá de forma mais lenta. A ligação do 0 2 à hemoglobina
permite que o equillbrio entre as pressões parciais seja rápi·
do (em tomo de 0,25 s), bem menor do que o tempo de trân-
sito das hemácias nos capilares pulmonares, seja em repouso
(0,75 s) ou no exercício intenso (0,3 s). Em tomo de 1 grama de hemoglobina é capaz de se com·
Os fatores que afetam a difusão pulmonar são todos binar quimicamente com 1,39 mL de oxigênio. Logo, em um
aqueles descritos na equação de Fick (gradiente de pressão indivíduo saudável com uma concentração de hemoglobina
alveolar, espessura e área de superficie da membrana alveo· de 15 g/100 mL, o sangue é capaz de transportar 20,85 mL
locapilar). No entanto, a maior parte das alterações da Pa01 de oxiemoglobina por 100 mL de sangue. No ar ambiente, a
e da PaC0 2 nas situações de doença, no estado de repouso, hemoglobina não pode ser completamente saturada em sua
deve-se mais a alterações na relação V/0 do que propria· capacidade máxima (média de 97%). O grau de saturação da
mente a alterações da difusão. Por exemplo, a difusão no hemoglobina depende da pressão parcial de oxigênio pre-
enfisema costuma estar reduzida, sobretudo pela redução na sente no meio (p. ex., capilares pulmonares ou tecidos). A
área de superfieie alveolocapilar. Todavia, como há destrui· saturação declina com a idade, principalmente pela redução
ção de toda a unidade alveolocapilar, a relação V/ 0 não é do equiliôrio V/0.
A hemoglobina é uma molécula que engloba quatro ca- beração de íons H • . Nessa situação (FIGURA 6.16), a curva
deias polipeptídicas interligadas (duas alfa e duas beta; no de dissociação de hemoglobina desloca-se para a direita
feto, duas alfa e duas gama), cada uma com um anel de porfi- e a redução da sua afinidade pelo 0 2 provoca maior li-
rina (heme) contendo um átomo de ferro em estado ferroso. beração para os tecidos. A redução da afinidade da he-
Logo, cada molécula de hemoglobina pode transportar qua- moglobina pelo 0 2 na presença de CO, ou de íons H •, é
tro moléculas de 0 2• No entanto, a molécula de hemoglobina chamada de efeito Bohr.
não se liga a quatro moléculas de ferro ao mesmo tempo. A • O 2,3-difosfoglicerato (2,3-DFG) é produzido nos eri-
reação de ligação apresenta quatro estágios. A velocidade trócitos durante a glicólise anaeróbica. Ele é um impor-
de reação com o 0 2 ( afinjdade) aumenta exponencialmente tante mecanismo adaptativo, produzido em situações de
à medida que cada sítio é preenchido. Essa velocidade varia menor disponibilidade de 0 2 para os tecidos periféri-
de acordo com vários fatores, como pH, temperatura, PCO, cos, como hipoxemia, insuficiência cardíaca congestiva,
concentração de 2,3-difosfoglicerato. A curva de dissociação doença pulmonar crônica, anemia, entre outras. Níveis
da hemoglobina para o 0 2 tem um formato sigmoide (em S, altos de 2,3-DFG deslocam a curva para a d.ireita, redu-
como mostrado na FIGURA 6.16). Ela apresenta as seguintes zindo a afinidade da hemoglobina pelo 0 2, com maior
características: oferta do mesmo para os tecidos. Em situações como
choque séptico, em que há prejuízo dos mecanismos de
o A parte superior da curva atinge um longo platô. Dessa glicólise, há redução dos níveis de 2,3-DFG e desloca-
forma, alterações significativas na P0 2 não repercutem mento da curva para a esquerda.
na Sa02 nesse nível. Uma consequência disso é que, após • O efeito da temperatura corporal não é tão pronunciado
um determinado ponto, por mais que um individuo au- como os anteriores. Na hiperterrnia, há deslocamento da
mente a ventilação alveolar em ar ambiente, ocorre pou- curva para a direita, e na hipotermia, deslocamento para
co incremento na Sa02. Ao contrário, a PaCO, como a esquerda.
descrito adiante, varia muito com a ventilação alveolar,
pois apresenta uma curva de dissociação da hemoglobina
linear. Transporte de C02
o Após a primeira metade da curva, pequenas variações da Em condições normais, a PaC0 2 do sangue normal é em tor-
P02 determinam grandes variações na Sa02• no de 5,3 kPa (40 mmHg). A PvC02 é em torno de 6,1 kPa
o A quantidade total de 0 2 transportado é a soma do 0 2 li- (45mmHg).
gado à hemoglobina (maior parte) e ao plasma, de acor- O C02 é um gás altamente difusível produzido por todas
do com a seguinte fórmula: as células do metabolismo. O gás, em solução no citoplasma
Conteúdo de 0 2: (1,39.{Hb em g/dL}xSa0 2) + (0,023. celular, passa por difusão para o plasma dos capilares adja-
PaOJ centes. Neles, o C02 move-se para o interior dos eritrócitos,
Em pacientes com anemia, há redução da quantidade de sendo 90% de sua quantidade hidratados sob a ação da ani-
0 2 distribuída para os tecidos. No entanto, a Pa02 e a drase carbônica tipo II, conforme a seguinte reação:
Sa02 não são alteradas.
o Nos tecidos, a PC0 2 é relativamente alta, sendo o pH
baixo em razão do metabolismo. Há também aumento
da temperatura local. Essa situação é amplificada no es-
tado de exercício em função de sua intensidade, onde é No plasma, há uma forma de anidrase carbônica (tipo
produzido ácido láctico, que também reduz o pH pela li- I) que promove uma reação bem mais lenta. Dessa forma, o
C02 entra novamente no plasma, mas como íons bicarbonato
tamponados pelas proteínas plasmáticas. Os 10% restantes
.1.2.3-DFG J.H + J.PCO, de C02 são dissolvidos como gás no plasma, sendo ligados
J.temperat às proteínas como compostos carbamato. Quase todos esses
_, .-- .-- últimos resumem-se à carbamino-hemoglobina.
....
Hb% ~o, ///J. afinidade o,
~ATENÇÃO
t 2,3-DFG t H+ fPCO,
/ f temperat
/
I
I O sistema de transporte de CO, opera em um in-
I
I tervalo muito restrito de pressões parciais. Isso se
I deve ao fato de a relação de dissociação do C02 no
I sangue ser linear e bastante inclinada. Dessa forma,
/
y uma pequena variação da PC0 2 está associada a uma
grande variação no conteúdo do gás sangufneo. Isso
P02
tem o efeito de minimizar a diferença de pH entre os
FIGURA 6.16 -+ Curva de dissociação da hemoglobina (Hb% - satura- teàdos e os pulmões.
ção de oxiemoglobina/P02 - pressão parcial de oxigênio).
Nos tecidos, a desoxiemoglobina funciona como um im- a esses sistemas de tamponamento, pequenas alterações do
portante receptor para os íons H + (ligados aos resíduos de equiliôrio ácido-básico manifestam-se por um deslocamento
histidina na hemoglobina)- A desoxiemoglobina tem uma do equilíbrio da reação dos tampões com atenuação de mo-
afinidade por prótons muito maior do que a oxiemoglobi- dificações significativas da concentração dos íons H + livres ou
na. Esse tamponamento dos íons H+ faz com que a direção do pH. O tampão bicarbonato é o mais importante.
da reação da anidrase carbônica desloque-se para a direita, A acidez ou alcalinidade de uma solução frequentemen-
aumentando em muito a síntese de bicarbonato e, por conse- te é expressa como pH, que é o logaritmo negativo na base
guinte, o transporte de C0 2 no sangue. A maior capacidade 10 da concentração de H•. Um aumento ou uma diminuição
da desoxiemoglobina em transportar o C02 por esse meca- de uma unidade de pH representa uma alteração de 10 ve-
nismo é chamada de efeito Haldane. zes da concentração de H + na direção oposta. A água pura,
Nos pulmões, as reações químicas são o reverso do que que é neutra, tem uma concentração de H+ de cerca de 10·'
ocorre nos tecidos. Elas são iniciadas e mantidas pelas trocas moles/L, de modo que o pH é 7. Uma solução ácida tem uma
recíprocas entre o C02 e o 0 2 • O aumento do gradiente de concentração de H + maior do que 10·' moles/L (ou um pH
pressão parcial alveolocapilar do C02 aumenta a velocidade menor do que 7,0). Uma solução alcalina tem uma concen-
de reação da anidrase carbônica na direção do ácido carbô- tração menor do que 10·' moles/L (ou um pH maior do que
nico. O transporte de 0 2 para a hemoglobina libera os íons 7,0). Entretanto, no organismo humano, a definição de áci-
H + e reduz a quantidade de carbamino-hemoglobina. A libe- do, ou alcalino, é diferente.
ração dos íons H+ aumenta ainda mais a velocidade da rea-
ção com o bicarbonato. A temperatura dos pulmões é, em
média, menor do que nos tecidos, o que também contribui
Equação de Henderson·Hasselbach
para a liberação de C02• O C02 liberado difunde-se rapida- Essa equação representa a relação entre o ácido carbônico e
mente para a fase aquosa do tecido pulmonar e, então, para o ânion bicarbonato no plasma. Essa relação é, quantitativa-
o alvéolo. Apesar de o C02 ser um gás altamente difusível, mente, o sistema-tampão mais importante do compartimen-
durante a h ema tose, é muito mais rápido o transporte do 0 2 to extracelular.
para a hemoglobina do que do C02 para o plasma e o alvé-
olo. Durante o repouso, essa diferença acentua-se bastante,
pH = pK + log HC03-
mas é compensada pelo aumento da ventilação alveolar.
HzC03
Acidose respiratória
É o aumento da PaC021 que leva ao aumento do ácido car-
bônico e, consequentemente, à redução do pH. Sua causa é
a redução direta do volume-minuto, ou o aumento do vo- Os mecarusmos neurais sensíveis à concentração de H~
lume do espaço morto sem aumento do volume-minuto, ou influenciam a musculatura respiratória no sentido de aumen-
aumento da produção de C0 2• Thmbém ocorre quando a tar a taxa de eliminação respiratória do co2.Esse processo
produção de C02 aumenta sem uma elevação proporcional toma a razão bicarbonato/ácido carbôruco mrus próxima do
da ventilação alveolar, particularmente quando o trabalho normal (20:1), levando a uma redução na concentração de
respiratório é excessivo em um paciente com pneumopatia H•. Entretanto, o sistema respiratório dificilmente faz com
grave. que o pH retorne por inteiro ao normal (7,4).
Alcalose metabólica
) ATENÇÃO É um processo anormal secundário a um ganho primário
de base pelo líquido extracelular (p. ex., administração de
A ~en5açAo ~ra a acidose respiratória e a aóde: bicarbonato) ou uma perda primária de ácido pelo líquido
'mia é feita pelo rim, que aumenta a sec~o de H• e extracelular (p. ex., perda de ácido clorídrico por vômitos).
reabsorve e libera bicarbonato no sangue. A razão bicarbonato/ácido carbôruco aumenta, com redução
da concentração de H • e aumento do pH (alcalemia meta-
bólica). O aumento do bicarbonato está muitas vezes asso-
Ao mesmo tempo, o rim elimina mais cloreto na forma ciado à redução da concentração de cloreto. A compensação
de ácido hidroclórico ou cloreto de amônio. O cloreto plas- também é realizada, primariamente, pelo sistema respirató-
mático diminui, aproximadamente, na mesma medida que rio. Mecanismos neurais sensíveis à redução da concentra-
o bicarbonato plasmático aumenta. Esse processo compen- ção de H• reduzem a ação da musculatura respiratória para
satório tem i.rucio rápido, mas sua efetivação pode demorar que haja aumento da PaC02•
vários dias a semanas.
Alcalose respiratória
É a redução da PaC02 por ventilação alveolar excessiva em
relação à produção de co2. Esse processo provoca redução
do ácido carbôruco e consequente alcalemia. A hiperventi-
lação pode ter várias causas: estimulo reflexo dos quimior-
receptores centrrus por fármacos (p. ex., intox.i cação por
salicilatos), acidente vascular cerebral, estímulo dos qui-
miorreceptores periféricos por hipoxemia (p. ex., doença
cardiorrespiratória, altitude), estados de ansiedade. Se hou-
ver tempo suficiente, o rim também compensa a alcalemia Distúrbios ácido·básicos mistos
(excreção de bicarbonato, excreção de cátions, retenção de D istúrbios ácido-básicos puros ocorrem somente em um
íons cloreto). breve período, pois os mecanismos compensatórios são, em
geral, iniciados de modo rápido. Particularmente em pacien-
tes graves, mrus de um distúrbio costuma ocorrer ao mesmo
tempo. Um exemplo são pacientes com insuficiência respira-
tória crôruca que apresentam um pH desproporcionalmente
bruxo para um certo ruvel de PaCO, sobretudo em situações
como cboque e anemia severa. Em circunstâncias como essa,
é difícil determinar, somente pela análise de exames labora-
toriais, se existe hipercapnia aguda com pobre compensação
ou se a hipercapnia é crônica, mas reforçada por acidose me- por variações da frequêncía respiratória e VC, alteração dos
tabólica aguda (p. ex., acidose láctica). tempos inspiratório e expira tório, alterações do padrão ven-
tilatório na presença de desconforto e ansiedade.
A ventilação sofre considerável controle voluntário,
e o córtex cerebral pode, dentro dos limites, exercer con-
trole sobre o tronco cerebral. Não é diffcil que a PaC02
seja reduzida até pela metade por meio de hiperventila-
ção, embora a alcalose subsequente possa causar tetania
e parestesias. A queda da PaC02 pela metade aumenta o
pH em cerca de 0,2 unidades. A hipoventilação voluntária
é mais dificil. A duração da parada respiratória é limitada
Como regra, se a PaC02 está elevada, o distúrbio primá-
por vários fatores, inclusive a PaC02 e a Pa0 2 arteriais.
rio é, provavelmente, respiratório se o pH for menor do que
Um periodo preliminar de hiperventilação aumenta a ca-
7,4, e metabólico se o pH for maior do que 7,4. Se a PaC0 2
pacidade de apoeia, especialmente se for respirado oxigê-
for baixa e o pH maior do que 7,4, o distúrbio primário é, so-
bretudo, respiratório; se o pH for menor do que 7,4, é muito nio a 100%.
No exercício intenso, o consumo de 0 2 e a formação de
provável que o distúrbio seja primariamente metabólico. Na
maioria das situações, a avaliação clfnica e laboratorial con- C02 podem aumentar em até 20 vezes. No entanto, a ven-
junta auxilia nessa diferenciação. tilação alveolar aumenta proporcionalmente ao nivel do
metabolismo. Como consequência, a Pa02 e o pH arterial
permanecem praticamente normais.
Tempo (segundos)
0,100 0,110 0,120 0,1l0 0,140 O, ISO 0,1Ei0 0,170 0,180 0,190 0,200 0,210 0,220 0,230 0,240 0,250 0,260 0,270 0,280 0,290 0,100 0,110 0,120 O,llO 0,340
0,20
O,IS
0,10
·0,10
·0,15
·0.20
FIGURA 7.2 7 Manifestação de aspiração faríngea - me<:anismo vibratório. Baixas amplitude e frequência do som emitido, com duração relativa·
mente longa (0,35 s).
o. ' 0.10 0,15
Tempo (segundos)
0,20 OlS ... o '
FIGURA 7.3 ~ Manifestação de pigarrear - mecanismo vibratório. Amplitude e frequência baixas e maior duração do som emitido (0,20 s).
tosse se dá ao longo das vias aéreas que estão agora compri- do pelo muco produzido por células e glândulas da mucosa
midas e com diâmetro momentaneamente reduzido, com o brônquica e pelo liquido alveolar. Esse volume de secreções
ar vibrando e movimentando-se com grande velocidade (FI- relativamente reduzido é movimentado no sentido alvéolos-
GURA 7.4), resultando em deslocamento de líquidos e sólidos -oro faringe, em especial pelo mecanismo de transporte mu-
que se encontram em sua passagem. cociliar sediado na superfície interna da árvore brônquica.
A fase de relaxamento é caracterizada pela diminuição Havendo aumento de produção das secreções - o que em
da pressão intratorácica associada ao relaxamento dos mús- geral ocorre em situações patológicas - , são necessárias ou-
culos intercostais e abdominais e por uma broncodilatação tras ações de socorro, como tossir e pigarrear.
temporária. Contudo, a tosse como mecanismo de defesa O muco normalmente produzido por glândulas e células
tem função emergencial, atuando somente quando a quan- da mucosa respiratória é um coloide hidrofilico com proprie-
tidade de secreções ou materiais depositados no interior das dades físico-químicas e reológicas especiais, ideal para reco-
vias aéreas é suficientemente grande para desencadear o re- brir uma superfície de transporte em constante movimento,
flexo correspondente. funcionando como se fosse uma esteira em deslocamento,
aprisionando e deslocando partículas que sobre ela se depo-
sitam. É constituído por 95% de água, 2 a 3% de glicopro-
teina e pequenas quantidades de algumas outras proteínas
Muco e líquidos pulmonares e lipídeos. A glicoproteína "mucosa" é que lhe confere as
O muco produzido pelo trato respiratório e a depuração importantes qualidades viscoelásticas e a permeabilidade se-
mucociliar são, normalmente, os principais componentes de letiva que possui. Durante processos inflamatórios, grandes
defesa do trato respiratório inferior. Indivíduos hígidos, em quantidades de macromoléculas, como DNA e actina poli-
condições fisiológicas, produzem por dia pequeno volume de merizada provenientes de leucócitos, podem ser encontra-
secreções- cerca de 10,0 mL- que são constituídas sobretu- das no muco, aumentando marcadamente sua viscosidade.
Tempo (segundos)
FIGURA 7.4 ~ Tosse - mecanismo vibratório explosivo. Elevadas amplitude e frequência iniciais, e curta duração do som emitido, inferior a O, 15
segundos.
O muco de indivíduos normais, higidos, permite que lubrificante do líquido periciliar facilita o movimento do muco
penetrem em seu "domfnio" somente pequenas moléculas, ao longo da supcrficic das vias aéreas em resposta à tosse.
sendo praticamente impermeável às macromoléculas, e tem Os cllios são constituídos por projeções microtubulares
propriedades bactericidas até mesmo para P:reudomonas que partem de um corpo basal, imersas em citoplasma e en-
aeruginosa, o que já não ocorre com pacientes portadores de volvidas por membrana celular.12 Cada conjunto de nove pa-
fibrose cística. Lactoferrina, lisozima e inibidor da elastase, res exteriores e dois pares interiores de microtúbulos forma
produzidos pelas células serosas, são as principais proteínas o axonema do cllio (FIGURA 7.5).
responsáveis por essa propriedade do líquido das vias aéreas. Na constituição dos microtúbulos entra uma proteína con-
O muco desempenha importantes funções de defesa das trátil, a tubulina; braços interno e externo e hastes de dinefna -
vias aéreas, incluindo uma fina camada (capa) de revestimen- com função de ATPase - projetam-se de um dos componentes
to que captura materiais particulados e microrganismos; um dos pares microtubulares exteriores, c braços de ncxina ligam
meio móvel que pode ser propulsionado pelos cílios (cujas entre si os pares de microtúbulos adjacentes. As extremidades
pontas direcionam a camada gel acima da camada sol em di- proximais das hastes radiais dispõem-se orientadas em tomo
reção à oro faringe); uma camada a prova d'água que atua re- do processo tubular central. Os cílios têm comprimento varian-
duzindo a perda de líquido através das vias aéreas; e um meio do de 3 a 7 11-m, com os mais longos localizando-se na traqueia
que transporta substâncias essenciais secretadas, como enzi- e nos brônquios pré-segmentares, com diâmetro de 0,2511-m.
O batimento ciliar (1.000/minuto) - promovido pela fos-
mas, defensinas, colectinas, antiproteases e imunoglobulinas.' 8
A secreção de muco da árvore respiratória encontra-se forilação da dinefna - dá-se em um meio aquoso (sol) so-
bre o qual flutua c se desloca uma camada (gel) de muco
basicamente sob controle colinérgico. A metacoli.na estimula
viscoso. 12 No nível das vias aéreas inferiores, esse "tapete"
sua produção tanto por células de glândulas mucosas como
mucociliar é capaz de promover o deslocamento ascendente
serosas. Thdavia, tem sido mostrado em animais que o con-
de partículas a uma velocidade de 10 a 20 mm por minuto,
trole adrenérgico também deve estar presente, com os agen- maior na superfície traqueal, sendo bem menor nas vias aé-
tes beta-adrenérgicos estimulando a secreção mucosa e os reas superiores na direção da nasofaringe.
alfa-adrenérgicos, a secreção serosa. Aproximadamente 90% do material depositado sobre a
As vias aéreas inferiores e grande parte das superiores mucosa do trato respiratório inferior podem ser eliminados
são recobertas por epitélio cilíndrico ciliado, existindo cerca dentro de uma hora. O batimento ciliar consiste em uma fase
de 200 cílios em cada célula, ou aproximadamente dois mi- efetiva de curta duração (15 ms), quando o c.ílio se distende e
lhões de cOios por centímetro quadrado de superfície de mu- penetra cerca de 0,5J.tm de sua extremidade distai na cama-
cosa, com maior concentração na traqueia e em brônquios da superficial do muco, e em uma fase lenta (29 ms) de "re-
pré-segmentares. Esse epitélio é recoberto por uma fina ca- cuperação" (FIGURA 7.6), quando ele se encolhe, retomando
mada líquida de 5 a 100J.tm de espessura, cujo movimento na à posição inicial.
18
superíJCie das vias aéreas compreende dois passos: primeiro, A coordenação do movimento ciliar em seres humanos
os batimentos ciliares atuam movendo a camada de muco parece independer de controle neurológico ou de esúmulo
unidirecionalmente sobre a superfície da via aérea; segun- mecânico. O movimento progride por ondas transversais ao
do, a interação friccionai da camada mucosa com o líquido fluxo das secreções (ondas metacrônicas), é iniciado por pe-
periciliar permite a essa camada deslizar ao longo do líquido quenos grupos de cílios "ativos" e pode ser intensificado por
subjacente. substâncias adrenérgicas, acetilcolina e nicotina, e deprimido
Uma disfunção ciliar pode, portanto, diminuir bastante a por agentes bloqucadores dos receptores alfa e beta, por subs-
depuração mucociliar. Além disso, as propriedades fisicas da tâncias atropínicas, promazina e álcool, por alguns dos compo-
camada de superfície líquida não somente afetam a depuração nentes da fumaça do cigarro, como a acrolefna (QUADRO 7 .2).
mucociliar, mas também a viscosidade do muco, alterando a Dentre as técnicas disponíveis utilizadas para medir a velo-
eficiência da depuração das vias aéreas pela tosse. A função cidade de limpeza do trato respiratório - geralmente avaliada
•
FIGURA 7.5 ~ (A) microfotografia do corte de um
citio (60.000 x). (8) esquema explicativo: a ~ braço
de dinelna, b = nexina, c • raio.
-----
b
secreções na direção do hilo pulmonar. Há evidências clínicas e
dados eJqJCrimentais mostrando os prejuízos que ocorrem com
a limpeza dos pulmões, ou de determinada porção deles, quan-
do está diminuído ou ausente esse tipo de movimento, o que
pode ser visto, por exemplo, em pós-operatório de cirurgia ab-
dominal alta, quando atclectasias laminares e dificuldades para
FIGURA 7.6-+ Mecanismo de transporte mucociliar. Os cmos mergulha· eliminar secreções broncopulmonares são ocorrências comuns.
dos no muco (soluçAo) empurram, com suas extremidades, o "tapete"
(gel - traço escuro).
Experimentais
- Metissergida
- Fentolamina
- Feno10benzamina
- Sefotonina
- Ou\ltrofenol
- HISUmina (aerossol)
- Atropina e derivados
sença de detenninado patógeno, resultando na estimulação
e migração de receptores específicos para aquele ligante. 30
O processamento e a apresentação de antígenos inala-
dos ocorrem principalmente no tecido linfoide localizado em
folículos ao longo da árvore brônquica (BALTS- bronchus-
-associated lymphoid tissues), estimulando linfócitos BeTa
se tomarem células de memória e efetoras. As três principais
funções dos linfócitos pulmonares são produção de antioor-
.. pos, atividade citotóxica e elaboração de mediadores infla-
.··· matórios. A citotoxicidade, promovida pelas diversas células
.... . •.....
•o:: T, como as células NK, anticorpo-dependentes e antígeno-
.. . ~·
~o o•·· ·.• .• l
-restritas, é um importante mecanismo de defesa, fazendo-
-se sentir particulannente sobre células infectadas por vírus,
• • o~onai 0 • promovendo alise delas. )I
•• •• o •
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Ana Luiza Moreira
José da Silva Moreira
8
Em cada uma das partes que compõem a anamncse res-
Introdução piratória, certos itens podem ser de particular importância
O diagnóstico das doenças do aparelho respiratório funda- em qualquer situação, devendo ser mais detalhados ou es-
menta-se em bases clínicas, de imagem, funcionais e labo· clarecidos.
ratoriais. Desde os tempos de Hipócrates, e passando por
outras importantes figuras históricas, o método clinico -
anamnese e exame físico - segue sendo a pedra angular da
investigação médica, ainda que diversas outras excelentes
Identificação
ferramentas sejam hoje amplamente oferecidas. • Idade: a idade cronológica - dado fácil de ser obtido -
A experiência tem mostrado que os recursos de pon t.a dis- tem sempre importância relevante levando-se em consi-
ponfvcis só são aplicados em sua plenitude c com o mãximo de deração que determinadas doenças incidem em grupos
proveito naquele paciente que passou por um exame clínico etários distintos (DPOC e carcinoma brônquico prefe-
bem executado. A metodologia clillica e os demais recursos de- rencialmente em pacientes com mais de 50 anos; bron-
vem ser usados buscando-se, em cada caso, o maior rendimen-
quiolite em crianças).
• Sexo: algumas doenças, como a paracoccidioidomicose,
to do conjunto todo, e sempre se atentando para o binômio
ocorrem de forma preferencial em homens, e excepcio-
risco-beneficio de cada procedimento, incluindo-se os custos.
nalmente em mulheres; na linfangioliomiomatose, acon-
Na anamnese, é necessário obter e ordenar as informa·
tece o oposto.
ções referentes às queixas relatadas pelo paciente em um
• Cor (subentendendo a raça): a tuberculose e a sarcoido-
conjunto harmônico, que faça sentido, formando um mode- se são proporcionalmente mais frequentes e podem ser
lo clinico que possa ser indicativo de determinada doença mais graves em indivíduos da raça negra.
(pneumonia, tuberculose, doença pulmonar obstrutiva crô- • Estado civil: verificar em cada situação o tipo e o número
nica - DPOC, neoplasia), levando à hipótese diagnóstica. de parceiros, especialmente pela possibilidade da conta·
Deve-se ter sempre em mente que as informações estão minação pelo vfrus da imunodeficiência humana (HIV).
sob influência do estado psicológico, social e até mesmo de • Profissão: a exposição ocupacional (tipo e tempo) pode
consciência do indivíduo doente. Quanto mais próximo se levar ao desenvolvimento de doenças consequentes à
chega do nível de compreensão do paciente, maior a chance inalação no ambiente de trabalho de poeiras minerais
de se obter uma entrevista bem-sucedida.' Portanto, deve-se ou orgânicas, gases tóxicos, ou mesmo microrganismos.
usar uma linguagem por ele entendida, reservando os ter- Daí a importância desse dado, mesmo que no passado
mos médicos para as anotações no prontuário. A obtenção do indivíduo.
da história clínica exige alguns cuidados: ambiente tranquilo, • Procedência: indivíduos que vivem ou viveram em de-
privacidade, conforto, comunicação e empatia. terminadas localidades podem apresentar doenças que
são ali endêmicas, como hidatidose na fronteira do Rio • Mesológicos: condições sociais, hábitos (fumo, álcool,
Grande do Sul com o Uruguai e a Argentina, esquistos- outras drogas).
somose no Nordeste brasileiro e paracoccidioidomicose • Imunológicos: imunizações (bacilo de Calmette-Guérin
na América do Sul. BCG, anti-influenza, etc.), manifestações de hipersen-
sibilidade ou atopia (rinite, asma, urticária, reações a
drogas), imunodeficiências (em especial infecção por
HIV).
Queixa principal
A queixa principal é definida como o sinal, o sintoma ou
mesmo o resultado de exame complementar que motivou
a procura pelo médico, sendo o sintoma-guia, por meio do
História médica familiar
qual a história vai sendo organizada. De forma didática, em seu braço vertical, buscam-se con-
dições genéticas (atopia, deficiência de alfa 1-antiprotease,
fibrose cística, diabete melito etc.), e no horizontal, as doen-
História da doença atual ças infectocontagiosas dentro do ambiente familiar (tuber-
culose, viroses agudas).
Sugere-se que a conversa se inicie de forma aberta, escutan-
do-se o que o paciente relata de maneira cuidadosa. Este
momento é crucial para toda a relação que está se construin-
do. Em um segundo momento, cabe ao médico elaborar
Revisão de sistemas
questões dirigidas e objetivas que possam acrescentar infor- Percorrendo os diversos sistemas do corpo, essa revisão fun-
mações relevantes ao que foi descrito. Assim que obtidos os ciona como um lembrete, buscando informações que possam
dados da história, estes devem ser sempre registrados. detectar algo que tenha escapado na investigação inicial, al-
A história da doença atual (HDA) envolve o sintoma gum sintoma que deva ser investigado, mesmo que sem re-
principal que motivou a busca do médico e os outros sinto- lação com a HDA, ou que possa acrescentar dados às infor-
mas e sinais associados ao primeiro, que algumas vezes são mações da HDA e corroborar com a hipótese diagnóstica.Z
inclusive mais sérios. Ela é constituída basicamente de três
itens:
I(J\IfHJ·IJ!t($U,
Sinusite ou nasofaringite Tosse após infecção de vias aéreas superiores (IVAS), gotejamento pós·nasal, aspiração faringea
Traqueobronquite Dor de garganta, coriza e sintomas oculares
Anamnese. exame
fíSico e rad1ografia de
tórax
Fumo
1
Descontinuar
Urru!i causa para a
tosse é sugerida:
investigar e TRATAR
IECA
l
Sem
resposta
1
Radiografia
1
considerada normal e Via aérea $Uperjor: tratamento empírico
resposta inadequada AunA: espirometria com teste
broncodilatador (ideal) ou TBP ou
tratamento emptrlco
Bronqujte eo~jnofíljca não asmática
(idealmente investigada por pesquisa de
eosinófilos no escarro) ou tratamento
empírico
ll&G.E: tratamento empírico (ver tratamento)
Investigado adiçjonal;
-pHmetria de 24 horas endosc6pica ou
videofluorosc6pica
-Esofagograma baritado
-TCde SPN FIGURA 8.1 ~ Avaliação de tosse crônica
·TCAR de tórax com duração de oito semanas em adultos.
-Broncoscopia TC = tomografia computadorizada; TCAR
-Ecocardiograma
= tomografia computadorizada de alta
·Avaliação ambiental
·Considerar outras causas menos comuns resolução.
Fonte: Adaptada de Fishman.'0
"O indivíduo percebe que tem a necessidade de mais ar em • A maioria dos médicos aplica o termo vagamente, com
circunstâncias que não produziriam tal sensação". 11 base em sua experiência com o paciente predominante
"É a experiência subjetiva de desconforto respiratório que atende (p. ex., pacientes com DPOC ou asma).
7
Muito leve
Dispneia paroxística noturna
O paciente é despertado por dispneia, acorda com uma dramá- Leve
tica sensação de falta de ar e precisa sentar-se ou levantar-se,
procurando uma área mais ventilada ou até mesmo abrindo Moderada
as janelas (também sugestivo de insuficiência cardíaca esquer- 4 Relativamente grave
da). Frequentemente acompanhada de tosse e sibilâneia, obri·
ga o paciente a dormir sentado. Acredita-se que, durante o Grave
sono, a reabsorção do edema periférico leve à hipervolemia
sistêmica e pulmonar, com consequcntc aumento da pressão 6
capilar pulmonar c agravamento da congestão pulmonar. Muito grave
A sibilãncia associada à congestão pulmonar deu origem
ao termo "asma cardfaca", cujos sibilos são uma manifesta- 8
ção de edema traqueobrônquico, espessamento das paredes
brônquicas e redução do lúmen das vias aéreas (as pressões 9 Muito, muito grave (quase mbíma)
que são necessárias para superar a obstrução durante a expi-
------
10 MAxima
ração tendem a estreitar ainda mais as vias aéreas). Após a
recuperação do episódio agudo de edema pulmonar, a resis- •utiliza núme<os • tormos par• d!KIM< um• mudanç• N ínlt<lild.I<M do tsdmulo.
tência e a complacência pulmonares voltam ao normal. Fontt: Sdlwartnttin." MoriJnfz t <Oioboradom'' tiCovt!~ t <OI•bcxadotos."
QUADRO 8.3 ~ Escala de dispneia (MRQ A cianose não ocorre nas intoxicações por monóxido de
carbono ou em anemia severa, embora o teor de oxigênio
arterial seja extremamente baixo (a presença de outros pig·
mentos, como metemoglobina, dificulta a detecção da ciano·
O Sem dispneia, somente com exercício extenuante se). Em contrapartida, os pacientes policitêmicos desenvol-
vem cianose com uma saturação maior de oxigênio do que o
Dispneia ao caminhar depressa no plano ou subir ladeira indivíduo norma1.47
suave
Anda mais devagar do que pessoas da mesma idade no
plano pela dispneia ou pre<:isa parar para respirar Mecanismos
• Aumento na quantidade de hemoglobina reduzida nos
Pre<:isa parar para respirar após caminhar uma quadra capilares da pele, consequente a uma oxigenação inade-
ou poucos minutos no plano quada do sangue arterial.
• Retirada excessiva de oxigênio do sangue capilar (como
4 Muito dispneico para sair de casa ou vestir·se
quando a circulação através de uma região é retardada
fonte: Stoller e colaboradores." por vasoconstrição, ou por baixo débito cardíaco).
• Combinação dos dois mecanismos anteriores.
Dissecção
Pleuris Angina instável aguda
da Aorta
TEP
muitas vezes, é acompanhado de uma longa história de he- mica/alta pressão (bronquiectasias, colonização intracavitá-
patopatia e/ou doença gastrenterológica.7 ria por fungo, tuberculose escavada). Assim, clinicamente,
A patogenia da hemoptise depende da doença e de sua o paciente muitas vezes pode informar qual o lado que san-
localização (QUADRO 8.4). Doenças que comprometem ou grou (sente "ferver, borbulhar''). As hemorragias oriundas
que levam a ftStulas ou neoformações vasculares incluindo de artéria pulmonar costumam apresentar-se com menor
ramos da artéria brônqu ica costumam causar grandes he- volume (vasos de baix.a pressão).22
moptises, uma vez que esse vaso é ramo da circulação sistê- Em crianças, a associação entre aspiração de corpo es-
tranho e hemoptise é comum. Os exames que contribuem
para esclarecer a causa são radiografia de tórax, broncosco-
QUADRO 8.4 ~ causas de hemoptise pia e TCAR (rendimento de 93%).'.2.7 A broncoscopia é útil
tanto no diagnóstico como na terapêutica. Em hemoptise
- Tuberculose que ameace a vida, a indicação é de ambiente intensivo, de-
- Carcinoma brônquico cúbito sobre o lado sangrante (evitando comprometimento
- 8ronquiectasias do pulmão contralateral) e uso de oxigênio se necessário. A
- Abscesso pulmonar de aspiração maioria recebe antibioticoterapia pela relativa frequência de
- Tromboembolismo pulmonar com infarto pulmonar doenças infecciosas de base.
- Estenose mitral A avaliação de hemoptise envolve história cuidadosa,
- Corpo estranho exame físico e radiografia de tórax. Neste momento, também
Discrasias sangufneas deve ser incluído um hemograma completo. É importante
- Vasculites
corrigir o grau de anemia, e a trombocitopenia pode ser um
- Trauma
- Doenças cardiovasculares
fator contribuinte para a hemoptise. Estudos da função renal
- Infecções fúngicas (p. ex., Aspergillus) e urinálise podem estar indicados quando um processo sistê-
- Bronquite mico faz com que uma síndrome pulmonar-renal seja uma
- Infecções possibilidade. Escarro deve ser coletado com soHcitações
- Pneumonias para bacilo álcool-ácido resistente (BAAR), exame citopa-
- Alterações imunológicaS/hematológicas tológico e culturas microbiológicas.2.7
14. Celli BR, Cote CO, Mario JM, Casanova C. Montes de Oca M,
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José da Silva Moreira
Mara Rúbia André Alves de lima
9
Giuliano Scornavacca
'M~~--:.;.riI_'...
---:; ; ~-da_f_~_in-ge
minuição do volume da faringe, durante o pigarrear há um
aumento do seu volume, produzido pela passagem do ar com
maior pressão, expandindo livremente o lúmen da faringe
(FIGURA 9.4).
Vdlanova,3 em 1996, estudou a prevalência dos sinais de
aspiração faríngea e do pigarrear em pacientes portadores
RGURA 9.1 ~ A pressão critica (Púit) e sua relaçjo com a faringe. VAS
de tosse crônica ocasionada por GPN. Dentre os 45 pacien-
• via aérea superior.
tes com tosse crônica por GPN, 29 (64%) eram portadores
FIGURA 9.3 ~ (A) pipeta volumétrica, com um
bulbo (dilataç.\o) na parte central. (8) orofaringe
(of) significativamente mais dilatada do que a
nasofaringe (nf), ali acumulando-se as secreções
a aspiradas das estruturas mais craniais.
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Ana Luiza Moreira
LuizCarlos Corrêa da Silva
10
Joséda Silva Moreira
Introdução 0 ATENÇÃO
Este capítulo tem como principal objetivo chamar a aten-
ção sobre o que é mais relevante no exame físico do setor Recomenda -se que, rotineiramente, mesmo que
pneumológico para o diagnóstico e a conduta terapêutica. o paciente já tenha realizado estudo de imagem,
Interessa, fundamentalmente, a abordagem do tórax e dos proceda-se à inspeçao geral e da parede torácica e
setores extratorácicos relacionados com as pncumopatias. à ausculta pulmonar. O exame da pele, do nariz, da
Atualmente, o médico - dispondo de uma tecnologia de boca, da orofaringe e a palpaçao do pescoço e do
imagem cada vez mais acurada- é tentado a realizar um exa- abdome também fazem parte do exame físico míni-
me fisico rápido e objetivo, por vezes podendo deixar de lado mo. Os sinais vitais sao igualmente dados obrigató-
achados relevantes. No entanto, existem dados semiológicos rios na primeira avaliaçao e nas revisões sucessivas.
que não podem ser detectados a não ser pela observação di-
reta, como é o caso do bipocratismo digital, das alterações
da parede torácica e dos sinais acústicos.
~boa estratégia buscar dados no exame riSico que pos-
sam explicar ou ter relação com a história clínica, como a
Para a adequada realização do exame físico
palpação da parede sempre que houver queixa de dor toráci- torácico, é importante considerar alguns itens
ca, a busca e a identificação de sibilos na suspeita de crise de fundamentais
asma e a constatação da redução do murmúrio vesicular em ~ Ambiente tra nquilo, boa luminosidade, sem ruldos
pacientes com enfisema pulmonar. interferentes e com privacidade
"Examinar com cuidado os locais relacionados com as ~ Paciente à vontade, sem constrangimentos, com tó -
queixas do paciente e aqueles que, desde o início, nos cha- rax d espido
mam mais atenção"- esta é uma boa prática! ~ Respeito para com a timidez do paciente, se neces-
Se o médico tiver de resumir ao máximo o exame físi- sário ex.aminando o tórax com vestuário mlnimo, em
co do setor pneumológico em um paciente ambulatorial uma primeira etapa
que já disponha de radiografia de tórax, deve realizar, no ~ Conforto para ambos, paciente e médico
mínimo, inspeção geral (estado geral do paciente e sinais ~ Posiçlo do paciente: sentado. prefere náalmente des-
vitais na primeira avaliação e nas revisões sucessivas) e da pido
parede torácica, ausculta pulmonar e exame do pescoço ~ Posição do médoco: de ~. tendo acesso a todos os
c das extremidades buscando a presença de hipocratismo setores do tórax do paáente
digital. ~ Se o clima es1lver froo, cuidar a temperatura das mãos
e do estetoscópio •->
Dados da anatomia torácica que superior). Ptose e miose unilaterais podem ser consequentes
a tumor de Paneoast (FIGURA 10.4), configurando a síndrome
interessam ao exame físico de Qaude Bemard-Homer.
Lábios semicerrados e uso de musculatura acessória po-
A anatomia de superfície permite entender a projeção dos
lobos pulmonares, conforme as FIGURAS 10.1 a 10.3. dem ser um sinal de doença pulmonar obstrutiva crônica
É essencial observar que, ao escutar-se a parede torácica (DPOC), bem como confusão mental, obnubilação ou so-
posterior, estão sendo examinados os lobos inferiores; os lo- nolência {hipercapnia). Uma coloração arroxeada de mu-
bos superiores projetam-se na parede anterior. Lobo médio cosas e pele pode indicar hipoxemia, independentemente
e língula são projetados na parede anteroinferior, à direita e da causa de base. Eritema nodoso em paciente jovem com
à esquerda, respectivamente. ausência ou poucos sintomas torácicos pode dever-se à sar-
coidosc.
O hipocratismo digital, dada a sua estreita correlação
com doença intratorácica geralmente grave, é comentado
Inspeção geral e da parede torácica mais adiante.
Pistas importantes sobre o diagnóstico podem ser apresen- É importante observar a parede sob condições estáticas:
tadas ao médico já na inspeção, como dentes em mau esta- normal, globosa, piriforme ou em peito de pomba ou pectus
do de conservação em paciente com síndrome infecciosa e carinatum, infundibuliforme oupectus excavatum ou tórax de
achados radiológicos em locais de aspiração, sugerindo abs- sapateiro, com retificação estemal. Também, sob condições
cesso pulmonar. dinâmicas, deve-se procurar retrações, abaulamentos e ou-
Alteração de conduta recente em paciente grande fu- tras alterações (FIGURA 10.5).l
mante com lesão pulmonar, bem como circulação colateral É característico o aspecto de tórax "em barril", em que
torácica exuberante e edema de face e pescoço em grande o formato do tórax apresenta-se arredondado e com grande
fumante, pode dever-se a carcinoma brônquico (o primeiro aumento do diâmetro anteroposterior, sendo frequentemen-
à metástase cerebral e o segundo, à síndrome de veia cava te observado em pacientes com DPOC avançada com pre-
Ausculta pulmonar
A ausculta pulmonar deve ser realizada, preferencialmen-
te, com o paciente sentado e com a região a ser auscultada
Respirlç,i o normal despida. Deve-se auscultar todo o ciclo respiratório em uma
~.,..__.,.,t- mesma posição antes de movimentar o estetoscópio para o
Rotmo de Cheyne-Stokes próximo campo pulmonar, inclusive abrangendo faces late-
rais e anteriores do tórax onde se auscultam lobo médio e
AGURA 10.7-+ Ritmos respiratórios. língula .._.
H á someme dois sons pulmonares normais: o murmúrio
vesicular (MV) e o ruido laringotraqueal (sopro glótioo).
intercostal. Posteriormente, utilizam-se oomo pontos anatô- A percepção auscu ltatória do MV depende de diversos
micos as últimas costelas (11• e 12'), seguindo cranialmen- aspectos: espessura da parede torácica, dinâmica ventila-
te. A localização de achados também é facilitada por linhas tória (maior ou menor rapidez dos movimentos respira-
imaginárias traçadas sobre o tórax (FIGURAS 10.8 a 10.10). Thr- tórios) e alterações devidas a anormalidades pleurais c
mos utilizados para descrever localizações são supraclavicu- pulmonares. Pacientes com enfisema pulmonar apresen-
lar (acima da clavicula), infraclavicular (abaixo da clavicula), tam redução significativa da intensidade do MV. Fatores
tnterescapulovertebral direita ou esquerda e infraescapular que aumentam a dificuldade de transmissão do MV como
(abaixo das escápulas). obesidade e derrame pleural tornam reduzida sua inten-
sidade.
Linha med1oesternal
Linha vertebral
(ao longo das apófi~s esponhosas)
unha Hapular
(vertical ao 3ngulo inferior da esúpula)
Sons pulmonares anormais (ruídos adventícios) de limitação ao fluxo aéreo e vibração das pa.redes das vias
Seguindo o que foi proposto pela American Thoracic Socie- aéreas durante o fluxo aéreo. Estão caracteristicamente pre-
sentes nos pacientes com asma, durante crise.8 Podem ser
ty (ATS), a classificação dos sons pulmonares anormais é ob-
jetiva e clara, tendo sido introduzida por Forgacs.7 Eles não percebidos em qualquer fase do ciclo respiratório, embora
são inerentes ao ciclo respiratório normal; se presentes em sejam mais audíveis na expiração. Em princfpio, qualquer
respirações sucessivas, refletem anormalidade subjacente. obstrução das vias aéreas de grosso e médio calibre pode ge-
rar sibilos, como pode ocorrer na presença de tumor central,
corpo estranho ou mesmo secreções.
Os roncos são auscultados na presença de diminuição
localizada de calíbre ou de secreção mucosa nas vias aéreas,
predominando na inspiração, e sua tonalidade depende do
calibre do brônquio envolvido e das características da secre-
ção. Solicitar ao paciente que tussa pode modificar a locali-
zação dos roncos ou até extingui-los.
O estridor é predominantemente inspiratório c mais
bem audível próximo do pescoço, tendo como causas co-
muns corpo estranho em via aérea intratoráciea alta e lesões
Os sibilos originam-se do estreitamento da via aérea, adquiridas da via aérea em adultos, como carcinomas.
por broneospasmo, espessamento da parede ou obstrução Os estertores, que podem ser de grossas e finas bolhas,
do lúmen. Presumivelmente, ocorrem devido à combinação costumam ser subdivididos conforme o perlodo da inspira-
ção em que são auscultados: se no início, protoinspiratórios; o da constituição da própria parede (espessura);
no final, teleinspiratórios. o do parênquima pulmonar.
Os estertores de finas bolhas são atribuídos à equaliza-
ção de pressão pela abertura sequencial da pequena via aérea, Dessa forma, pode-se concluir que, para que sejam nota-
que estava fechada durante a expiração prévia. Caracteristi- dos redução ou aumento do FfY, é necessário haver assime-
camente são teleinspiratórios, e seu ruído simula o ruído do tria entre os hemitóraces.
afastamento das duas superfícies do "velcro", muitas vezes O exame da elasticidade torácica consiste na compressão
observado na fibrose pulmonar. São curtos, múltiplos e explo- do tórax com as mãos, pressionando as paredes anterior e
sivos. Com a perda de retração elástica, há aumento no som. posterior, procurando aproximar uma da outra enquanto se
Os estertores de grossas bolhas originam-se na abertura observa a resistência que o tórax oferece.
e no fechamento de vias aéreas oontendo secreção visoosa e No exame da expansão torácica, solicita-se que o pacien-
espessa. Têm frequência menor (sons graves) e maior dura- te respire mais profundamente do que o usual, acompanhan-
ção do que os finos. São audíveis no início da inspiração e do o deslocamento da parede (QUADRO 10.2).
em toda a expiração, além de sofrerem nítida alteração com Da mesma forma, a palpação pode auxiliar em casos de
a tosse. Ocorrem, por exemplo, na bronquite crônica e nas maior sensibilidade locali2ada próximo a costelas, a partir
bronquiectasias. da reprodução do sintoma (até chegando a produzir dor) se
Os estertores podem, inclusive, ser auscultados em pa- presentes fraturas ou metástases naqueles locais.
cientes acamados, deixando de ser ouvidos após sucessivas Sempre se deve incluir no exame físico pneumológico a
inspirações mais profundas. palpação da região supraclavicular, onde é possível encon-
O atrito pleural, som de atrito descontínuo, não modifi- trar massa correspondente a neoplasia (neste caso, quando
cado pela tosse, mais intenso na inspiração, é produzido pela presente e positiva para neoplasia, informa detalhes do esta-
inflamação da serosa acometida.•.s É um ruído grosseiro, ins- diamento do tumor) . Uma anormalidade nessa localização
piratório e expiratório, semelhante ao "retorcer do couro", - em geral ganglionar - é facilmente biopsiada, por punção,
devendo-se ao roçar das duas pleuras inflamadas. Pode ser ou excisada.
percebido palpatoriamente como uma vibração, o frêmito
pleural.
~ ATENÇÃO
Percussão da parede torácica A detecção de assimetria no exame ffsico do tórax,
isto é, quando se observa um achado unilateral,
Normalmente, com a percussão do tórax, percebe-se um
sempre deve levantar a suspeita de que exista anor-
som claro pulmonar. A macicez, em particular se unilateral,
malidade, seja no caso de macicez à percussão, alte-
é a alteração mais significativa e que costuma estar associada
ração auscultatória ou do FTV.
à presença de derrame pleural volumoso. A hipersonoridade
sugere excesso de ar intratorácico, seja por enfisema pulmo-
nar ou pneumotórax (QUADRO 1O. 1).
O FTV aumenta em situações nas quais existe comuni-
cação de vias aéreas permeáveis com áreas de consolidação,
Palpação da parede torácica e diminui em DPOC, derrame pleural, estenose brônquica,
pneumotórax e alterações de parede (anasarca, obesidade).
A percepção do frêmito toracovocal (FIV) depende:
MOBIUDADE
MV
• Na asma brônquica, os sibilos costumam ser mais inten- tudo na vigência de doença sistêmica, é essencial examinar a
sos na expiração, mas podem ter a mesma intensidade úvea anterior e o fundo de olho (EFO). Se o paciente apre-
na inspiração e na expiração, ou até ser mais intensos na sentar doenças como hipertensão arterial sistêmica, diabetes
inspiração. Portanto, não é sempre que os sibilos em pa- melito, sarcoidose, tuberculose miliar ou hipertensão intra-
ciente asmático ocorrem apenas na expiração. craniana, o EFO deve sempre ser realizado. Deve-se verifi-
• Pacientes com asma, particularmente em fase assinto- car, também, a simetria ou não das pupilas (anisocoria).
mática, podem apresentar sibilos apenas se fizerem uma
expiração forçada, profunda e rápida.
• Estertores crepitantes teleinspiratórios (no final da inspi- Boca
ração) ou "em velcro" frequentemente ocorrem na fibra- Do ponto de vista respiratório, deve-se observar se está bem
se pulmonar, na pneumonia e na insuficiência cardiaca, preservada ou se existem cáries dentárias, gengivite, aumen-
nesta última devido ao edema pulmonar intersticial. This to das amígdalas, entre outros. Em pacientes com dentes em
estertores originam-se do enrijecimento heterogêneo mau estado de conservação, há risco de aspiração e desen-
dos septos interalveolares e do parênquima pulmonar, volvimento de pneumonia e até de abscesso pulmonar, es-
segundo Forgacs.' pecialmente se houver episódio de perda de consciência. É
importante sempre observar se há cianose labial.
Diagnóstico
O diagnóstico do bipocratismo não oferece dificuldades na-
queles casos em que a presença do sinal é clinicamente óbvia
(FIGURA 10.11), com alterações grosseiras nas extremidades
dos dedos. Entretanto, pode não ser tão fácil quando as mo-
dificações se mostram incipientes ou pouco pronunciadas.
Sobremaneira nesses casos, critérios objetivos de determina-
ção mostram-se vantajosos, auxiliando o juízo clínico e ainda
possibilitando que os dados fiquem registrados e armazena-
dos para eventuais e ulteriores estudos comparativos.
Dentre os critérios de avaliação objetiva do HD, os que
FIGURA 10.12 -+ Val()(es da espessura das partes moles subungueais e
têm se mostrado mais fidedignos são o ângulo ou sinal do
do ângulo hiponiquial determinados sobre imagens radiográficas em
perfil (AP) verificado em dedos indicadores ou polegares, perfil de dedos indicadores. Casos de indivíduos com (A) e sem (8) hi-
a relação entre as espessuras falãngica distai e interfalãn- pocratismo. Os val()(es sAo significativamente maiores nos dedos com
gica (EFD/EIF) de dedos indicadores c o ângulo hiponi· hipocratismo.
quial (AH) em dedos indicadores. Para que tais critérios
possam ser aplicados, todavia, são necessárias imagens em
perfil dos dedos, ou moldes deles. Grau de curvatura da
unha e aumento de volume da extremidade do dedo são postas as extremidades dorsais dos dedos (indicadores) de
critérios menos discriminadores de dedos com e sem hi- ambas as mãos (sinal de Scharnroth) (FIGURA 10.13).
pocratismo. Na OAPH, os dados clínicos mais evidentes para o diag·
Os valores referidos na literatura, em dedos indicadores nóstico são HD, dores ósseas e articulares e infiltração dos
de indivíduos normais, são estes: AP - em torno de 170,00 tecidos moles das pernas. Ocasionalmente, são detectados,
± 4,5•; AH - 180,00 ± 4,5"; relação EFD!EIF - 0,895 ± também, ginecomastia e fenômenos vasomotores (cutâne-
0,041 em crianças, 0,889 ± 0,037 em adultos negros e 0,911 os) . Ao estudo radiológico, nota-se a presença da periostite
± 0,049 em adultos brancos. Em indivlduos clinicamente "embainhante", sobretudo nos ossos longos, alterações ósse-
portadores de bipocratismo, todos esses valores mostram-se as que podem ser evidenciadas também em estudos cintilo-
bem maiores - em geral o do AH, superior a 192,00, e o da gráficos (FIGURA 10.14).
relação EFD/EIF, superior a 1,O.
Imagens de dedos indicadores em perfil podem ser facil-
mente obtidas por algum dispositivo que projete a sombra Significado clínico
deles, sobre as quais se colocam os pontos de referência e O HD, na maioria das vezes, é simétrico, envolvendo todos os
são traçados os ângulos e as espessuras a serem determina- dedos de mãos c pés, apontando geralmente para a presença
dos. Imagens fotográficas e radiográficas também têm sido de doença intratorácica, pulmonar ou cardíaca, ncoplásica ou
utilizadas com o mesmo propósito. Por meio de imagens não. A TABELA 10.1 mostra a prevalência do HD em diver-
radiográficas" podem ser avaliados, além dos ângulos e das sas doenças pulmonares. O critério usado para o diagnóstico
espessuras das extremidades dos dedos, as partes moles su- do hipocratismo nesses casos foi primariamente clínico. As
bungueais e seu aumento, que ocorre em dedos bipocráticos determinações objetivas, quando empregadas c consideradas
(AGURA 10.12). indicativas da presença do sinal, foram mais vezes o valor do
Na tentativa de tomar o diagnóstico do HD mais objeti- HA superior a 192" e/ou uma relação entre as espessuras da
vo, outros critérios têm sido utilizados, como determinações extremidade do dedo indicador EFD/EIF superior a 1,0.11
do volume da extremidade do dedo, do grau de curvatura da A presença de OAPH tem um significado mais restrito,
unha e da obliteração do ângulo do perfil ao serem contra- associado, via de regra, à neoplasia maligna intratorácica,
d •
El
ah
'' ''
'' ''
'
efd eif
'
''' ''
'
•
'
•
AGURA 10.13 7 (A) imagem em perfil da sombra de dedo indicador, sobre a qual s.io colocados os pontos de referência a, b, c, d, e, f, que permane-
cem no papel (B), e por onde são traçadas as linhas (C) para as determinações dos ângulos do perfil (ap) e hiponiquial (ah) e as espessuras falângica
distai (efd) e interfalângica (eit).
Atelectasia
A atelectasia (FIGURA 11.2) consiste em uma redução volumé-
trica do pulmão decorrente de uma menor aeração de uma
parte ou de todo o pulmão. Manifesta-se como um desvio
Aprisionamento aéreo
O aprisionamento aéreo (AGURA 11.1) é a retenção de exces-
so de gás (ar) em todo o pulmão ou em parte dele, espe-
cialmente durante a expiração, como resultado de uma obs-
trução parcial ou completa de vias aéreas, ou secundária a AGURA 11.1-+ Tomografia computadorizada (TQ com reconstrução
uma anormalidade focal da complacência pulmonar. Ele é axial mostrando ~reas hipodensas geométricas, compatíveis com apri-
reconhecido na fase expiratória como uma redução da ate- sionamento aéreo.
FIGURA 11.2-+ (A) radiografia de tórax demonstran-
do aumento da densidade e redução volumétrica do
lobo superior esquerdo. (8) TC mostrando um aumen-
to da atenuação do parênquima pulmonar associado
à redução de volume, caracterizado pelo deslocamen-
to da fissura oblíqua.
FIGURA 11.3 -+ TC de tórax evidenciando área focal de atelectasia sub- FIGURA 11.4 -+ Atelectasia redonda. A TC de tórax mostra uma opaci-
segmentar com configuração linear se estendendo até a pleura. Este dade focal arredondada para a qual convergem estruturas broncovas-
paciente apresentava um processo inflamatório em resolução. culares em um paciente após resolução de empiema.
em. Sua distribuição em geral é horizontal (perpendicular
à superficie pleural), mas pode ser obllqua. Normalmente
traduz fibrose pleuroparenquimatosa. Distorções da ar-
quitetura pulmonar costumam ser identificadas. Bandas
parenquimatosas são encontradas com mais frequência em
pacientes expostos ao asbesto.
Bola fúngica
A bola fúngica (FIGURA 11.5) resulta da colonização fúngica
de cavidades pulmonares preexistentes, geralmente secun-
dárias à tuberculose ou à sarcoidose, mas pode também
ocorrer dentro de cistos (p. ex., cisto broncogênico), bolhas
e brônquios dilatados. Na maioria das vezes, a colonizaçáo é
causada por AspergiUus spp., sendo comum, nesse caso, o uso FIGURA 11.6 ~ TC de tórax evidenciando área focal hipodensa que
do termo "aspergiloma". Representa um enovelado de hifas apresenta paredes bem definidas e lisas na periferia do lobo superior
associado a muco, fibrina e restos celulares. Na TC, apre- esquerdo compatfvel com uma bolha.
senta-se como uma imagem de uma massa, arredondada ou ---------------------
oval, com tendência a mover-se para uma localização pen-
dente com a aquisição de imagens em decúbitos diferentes.
tos na TC) . Tipicamente mede 1 em ou mais de diâmetro.
Outros achados comuns da bola fúngica incluem presença
Bolhas menores do que 1 em, localizadas na pleura víscera!
do "sinal do crescente aéreo", calcificação amorfa no inte-
ou na região pulmonar subpleural, são denominadas blebs na
rior da lesão, aspecto espongiforme da lesão e espessamento
língua inglesa. As blebs (algumas vezes traduzidas como vesí-
pteural adjacente. O termo "bola fúngica" não deve ser utili-
culas) de localização apical com frequência são responsáveis
zado como sinônimo de "micetoman, pelo fato de represen-
pelo pneumolórax espontâneo primário. O termo em inglês
tarem processos diferentes.
para bolha é bulia.
Ver também Micetoma.
Ver também Enfisema bolhoso e Enfisema parasseptal
(acinar distai).
Bolha
A bolha (FIGURA 11.6) é uma área focal hipodensa que apre-
Broncocele
senta paredes bem definidas e lisas que não ultrapassam A broncocele (FIGURA 11.7) é uma dilatação brõnquica com
1 mm de espessura. Costuma ter conteúdo gasoso, mas pode retenção de secreções (impacção mucoide), geralmente
ocasionalmente ter nível líquido. Em geral, associa-se a ou- causada por obstrução proximal, que pode ser congênita
tros sinais de enfisema pulmonar e apresenta localização (p. ex., atresia brõnquica) ou adquirida (p. ex., aspcrgito-
parasseptal (achados que auxiliam na diferenciação de eis- se broncopulmonar alérgica). A broncocele apresenta-se
como uma imagem tubular ou ramificada que se assemelha
a um dedo de luva. Na TC, pode-se observar, em casos de
atresia brônquica, uma redução da atenuação do parênqui-
ma distai à lesão.
Broncograma aéreo
O broncograma aéreo (FIGURA 11.8) é a tradução radiológica
da identificação de brônquio(s) contendo ar, circundado(s)
po r parênquima pulmonar doente, onde o ar dos espaços
aéreos foi substituído por um produto patológico qualquer,
radiologicamente mais denso do que o ar (p. ex., transudato,
exsudato, sangue, produto de acúmulo ou células neoplási-
cas). Em geral, é a expressão utilizada quando se identifica
uma imagem tubular gasosa {hipodensa) no interior de uma
área de pulmão opacificado. Essa imagem tubular deve ter o
AGURA 11.5 ~ Bola fúngica. ATC de tórax demonstfi imagem de uma tamanho e a orientação usual de um brônquio ou de vários
massa arredondada no interior de uma cavidade preexistente no lobo brônquios, presumivelmente representando um segmento da
superior esque<do. árvore brônquica.
FIGURA 11.7-+ Broncocele. (A) Um caso de atresia brônquica com
uma redução da atenuação do parênquima distai à lesão. (8) A TC
com reconstrução em projeção de intensidade máxima (MIP) de-
monstra imagem tubular e ramificada que se assemelha a um dedo
de luva, compatível com broncocele.
FIGURA 11.8 -+ TC com técnica de projeção de intensidade minima FIGURA 11.9-+ Broncolito. Na TC, identifica-se um pequeno foco de
(MiniP) evidenciando imagem tubular gasosa, no interior de uma Mea calcificação dentro da via aérea em um paciente com tuberculose pul·
de pulmão opacificado, compatível com áreas de consolidação. monar previamente tratada.
Cavidade (escavação)
Uma cavidade (FIGURA 11.12) representa espaço que contém
gás, com ou sem nível líquido, dentro de um nódulo, massa
ou consolidação pulmonar. Geralmente ocorre por elimina-
ção ou drenagem da parte necrótica pela via aérea ou para o
espaço pleural. As paredes costumam ter contornos irregu-
lares e medir mais de 1 mm de espessura. "Cavidade" não é
sinônimo de "abscesso". O termo "cavitação" não deve ser
usado como sinônimo de "escavação": na língua portuguesa,
"cavitação" tem significado diferente, e seu uso é incorreto.
Cisto
FIGURA 11.11 ~ Bronquiolectasia de tração. A TC demonstra a dilata- Cisto (FIGURA 11.13) é qualquer espaço arredondado, bem
ção brônquica e bronquiolar, causada pela retração do parênquima em circunscrito, circundado por uma parede epitelizada ou fi-
decorrência de fibrose, em paciente com fibrose pulmonar idiopática. brosa, de espessura variável. Na TC, caracteriza-se por uma
área arredondada de baixo coeficiente de atenuação no pa-
rênquima pulmonar com uma interface bem definida com
Bronquiolectasia
'frata-se de uma dilatação bronquiolar. É análoga à bron-
quiectasia, mas em uma via aérea de muito menor calibre,
identificada na periferia pulmonar. As bronquiolectasias
manifestam-se como estruturas arredondadas ou tubulares,
geralmente na periferia pulmonar, e com paredes espessadas
ou preenchidas por secreção (ver Padrão de árvore em brota-
menta). Também podem se associar a outras opacidades pul-
monares e à distorção do parênquima em situações de fibrose. FIGURA 11.12 ~ Paciente com tuberculose. A imagem mostra espaço
Ver também Bronquiectasia e bronquiolectasia de tra- que contém gás dentro de uma massa compatfvel com cavidade. Note
ção. os vários nódulos centrolobulares adjacentes à lesão.
FIGURA 11.13 -+ TC evidenciando áreas arredondadas de baixo coe· FIGURA 11,14 -+ TC demonstrando preenchimento, com substituição
ficiente de atenuação no parênquima pulmonar e uma interface bem do ar, dos espaços alveolares por um produto patológico, compatível
definida com o pulmão normal adjacente, compatfvel com cistos pul· com áreas de consolidação em paciente com quadro grave causado por
monares. pneumonia adquirida na comunidade.
Enfisema panacinar
O enfisema panacinar (panlobular) envolve todas as por-
ções do ácino e, mais ou menos uniformemente, o lóbulo
pulmonar secundário. Predomina nos lobos inferiores e
representa a forma de enfisema associada à deficiência de
alfa,-antitripsina. O enfisema panacinar se manifesta na TC
como uma diminuição generalizada da atenuação pulmonar,
com redução do calibre dos vasos sanguíneos nas áreas aco-
metidas, com ou sem distorção deles. O enfisema panacinar
acentuado pode coexistir e combinar-se com o enfisema cen-
triacinar grave. Na TC, pode ser indistinguível dos achados
de bronquiolite constritiva grave.
Enfisema centriacinar
É a destruição das paredes dos alvéolos centriacinares, asso-
ciada ao aumento dos bronquíolos respiratórios e dos alvéo-
los que se originam nesses bronquíolos, sendo a forma mais
comum de enfisema em fumantes de cigarro. Os achados
tomográficos são de áreas centrolobulares de diminuição da
atenuação, em geral sem paredes visíveis, com distribuição
não uniforme, predominantemente localizadas nas regiões
pulmonares superiores. As artérias centrolobulares muitas
vezes podem ser identificadas no interior das áreas hipoden- FIGURA 11.16 ~ Enfisema intersticial. A radiografia demonstra dissec-
sas. O termo centrolobular é comumente utilizado como si- ~o do interstfcio pulmonar por ar, tipicamente localizado nos feixes
nônimo na TC. broncovasculares, nos septos interlobulares e na pleura visceral.
culares, separadas por septo interlobular intacto. Algumas tes resulta no aspecto de arcadas poligonais. O espessamen-
vezes associa-se a bolhas. to septal pode ser secundário à alteração de qualquer um de
seus componentes (veias, vasos linfáticos ou tecido conjun-
tivo) e é um achado comum a várias alterações pulmonares,
embora sua presença seja particularmente destacada nos ca-
Espessamento de septos interlobulares sos de edema pulmonar e carcinomatose linfática. O espes-
É o espessamento dos septos de tecido conjuntivo que separam samento septal pode ser do tipo liso, nodular ou irregular.
os lóbulos pulmonares secundários (FIGURA 11.17), sendo carac- Essa diferenciação pode ajudar no diagnóstico diferencial
terizado na radiografia por finas opacidades lineares, também das diversas causas.
denominadas linhas B de Kerley. Geralmente encontra-se em
íntimo contato com a superffcie pleural lateral, junto aos seios
costofrênicos, apresentando um ângulo reto em relação à pa-
rede. Atualmente os termos "linhas septais" ou "espessamento
Estruturas centrolobulares
septal" têm sido preferidos à expressão linhas de Kerley. Correspondem a região central do lóbulo pulmonar secun-
Na TCAR, o espessamento dos septos interlobulares é dário, representada pelo conjunto artéria pulmonar-bron-
caracterizado pela presença de opacidades lineares que de- quíolo e pelo interstício pulmonar circunjacente. Na TCAR
limitam os lóbulos pulmonares secundários, mais facilmente de pacientes normais, estruturas centrolobulares (FIGURA
distinguível na regiâo subpleural, onde tem aspecto de linhas 11 .18) correspondem a uma pequena imagem nodular ou
perpendiculares à superfície pleuraL Nas regiões centrais linear, localizada a 3 a 10 mm da superfície pleural ou do
dos pulmões, o espessamento dos septos de lóbulos adjacen- septo interlobular, que representa a artéria pulmonar intra-
lobular, com aproximadamente 1 mm de diâmetro.
O bronquíolo correspondente, quando normal, tem pa-
redes com espessura aproximada de 0,15 mm, aquém do li-
mite de resolução da TCAR Portanto, a doença bronquiolar
que produz acentuação da estrutura centrolobular ocorre
quando existe espessamento da parede ou preenchimento
da luz bronquiolar (ver adiante FIGURA 11 .27). Padrões cen-
trolobulares incluem: a) nódulos; b) árvore em brotamento;
c) espessamento do interstício peribroncovascular periféri-
co; e d) áreas com atenuação reduzida sem paredes visíveis
(enfisema).
FIGURA 11.24 -+ Oligoemia. A TC demonstra uma diminuição do cali- FIGURA 11.25 -+ Radiografia mostrando uma 1magem que se distingue,
bre e do número de vasos pulmonarM e da densidade do lobo superior pelo menos parcialmente, das estruturas que a circundam ou se super·
esquerdo. põem, po< apresentar maior densidade, compatível com uma opacidade.
Placa pleural
É um espessamento pleural focal, por vezes com calcifi-
cações, de espessura variável e com extensão de até 5 em.
Costuma ocorrer na superficie pleural parietal subcostal ou
na pleura diafragmática. Quando múltiplas e bilaterais, são
quase sempre decorrentes de exposição ao asbesto.
Pseudocavidade
Uma pseudocavidade (FIGURA 11.33) representa uma área ar-
FIGURA 11.32 -+ Paciente com histoplasmose. A TC mostra pequenos redondada ou oval de baixo coeficiente de atenuação em nó-
nódulos dispersos de forma aleatória pelos pulmões, compatíveis com dulos ou massas pulmonares ou em uma área de consolida-
padrão miliar.
ção secundária a: 1) presença de uma porção de parênquima
pulmonar preservado; 2) presença de brônquios dilatados ou
mesmo de calibre normal; ou 3) uma área de enfisema no
monares, ou seja, os septos interlobulares, a pleura visceral interior da lesão. Essas pseudocavidades geralmente medem
e grandes vasos pulmonares. O termo é mais utilizado no
contexto de doenças (p. ex., pneumonia em organização pe-
rilobular) que são distribuídas principalmente em volta da
periferia do lóbulo secundário. Na TC, é caracterizado pela
presença de opacidades poligonais espessas e irregulares na
periferia do lóbulo pulmonar secundário. Deve ser distingui-
do do espessamento de septos interlobulares (padrão septal),
por ser mais espesso e irregular, e do sinal do halo invertido.
Ver também Sinal do halo invertido.
Padrão reticular
Trata-se de uma alteração geralmente relacionada com as
doenças intersticiais e caracterizada nas radiografias por inú-
meras pequenas opacidades lineares que resultam em uma
aparência de rede. Na TCAR, é possível individualizar os
componentes responsáveis por esse padrão na radiografia,
que costumam estar relacionados com a presença de linhas FIGURA 11.33-+ TC de paciente com tuberculose demonstrando uma
intralobulares e septais ou com a presença de cistos cujas área arredondada ou oval de baixo coeficiente de atenuação permeada
paredes se apresentam como linhas na radiografia, como nas por nódulos, compatfvel com pseudoescavação.
menos de 1 em de diâmetro, podendo ser identificadas em
pacientes com adenocarcinoma, carcinoma bronquioloalve-
olar e pneumonia.
Pseudoplaca
Trata-se de opacidade pulmonar periférica, adjacente à
pleura visceral, formada por pequenos nódulos pulmonares
coalescentes que simulam placa pleural. Mais comumente
encontrada em sarcoidose, silicose e pneumoconiose dos mi-
neradores de carvão.
FIGURA 11.34 ~ TC de paciente com bronquiectasias mostrando um FIGURA 11.36 ~ Paciente com pneumonia em O<ganização evidencian-
br&nquio dilatado, em associação com artéria pulmonar adjacente do área focal de vidro fosco citeundada por um anel de consolidaçJo,
compatível com sinal do anel de sinete. compatível com sinal do halo invertido.
Silva CIS, Marchiori E, Souza Júnior AS, Müller NL; Comissão
Leituras recomendadas de Imagem da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.
Souza Jr. AS, Araujo Neto C, Jasinovodolinsky D, Marchiori E, Consenso brasileiro ilustrado sobre a terminologia dos descri-
Kavakama J, Jrion KL, et ai. Thrminologia para a descrição de to- tores e padrões fundamentais da TC de tórax. J Bras Pneumol.
mografia computadorizada do tórax. Radiol Bras. 2002;35(2):125-8. 2010;36(1):99-123.
Diagnóstico
Diferencia I
das Imagens
Torácicas Mais
Frequentes
Bruno Hochhegger
Edson Marchiori
12
Klaus L. lrion
Candice Santos
Nelson Porto
Rodrigo Moreira Bello
Neste capítulo, incluem-se quadros de diagnóstico di-
I >-, ATENÇÃO ferencial com os principais achados radiológicos, tanto to-
mográficos quanto radiográficos, não tentando englobar a
O reconhecimento dos padrões mais frequentes de totalidade das doenças pneumológicas, mas sim, certamen-
achados radiográficos das doenças torácicas é mui- te, incluindo o diagnóstico diferencial das doenças mais
tas vezes a forma mais incipiente de inicio de inves- prevalentes.
tigação diagnóstica no paciente pneumológico. O
correto diagnóstico diferencial desses achados au-
xilia de forma muito importante em um diagnósti-
co correto e, consequentemente, em uma conduta
adequada.
I1-!i@lt't 1!3oi•JIWW3f·ll.
Edema pulmonar Éa causa mais comum de espessamento dos septos interlobulares e, na maioria dos casos, tem tendência a
maior prevalência nos lobos inferiores, estando associado a derrame pleural, maior à direita, e opacidades em
"vidro fosco".
Carcinomatose linfática É um achado comum; precisa ser auxiliado da informação clínica de neoplasia prévia, pois o sitio primário
muitas vezes não é pulmonar, devendo-se sempre ter em mente a possibilidade de neoplasia mamária,
ovariana e gástrica. A nodularidade cissural a.ssociada ao derrame pleural, na maioria das vezes bilateral - no
caso das neoplasias extratorácicas- e ipsilateral- no caso das neoplasias torácicas -, ajuda no diagnóstico
diferenciaL
Continua ...
QUADRO 12.1 (CONT.) ~ Diagnóstico diferencial de espessamento dos septos interlobulares
Doença linfoproliferativa O espessamento pode ser liso ou nodular, e outras anormalidades, sobretudo os nódulos estriados, estão
frequentemente associadas.
Hemorragia pulmonar O espessamento costuma ser liso e associado a opacidades em "vidro fosco•. Pode apresentar absorção
rápida em relação aos demais (a exemplo do edema).
Pneumonias intersticiais O espessamento geralmente é liso e associado a opacidades em "vidro fosco", dispersas na maioria dos
segmentos pulmonares. Germes atfpicos (vfrus, Pneumocystis, Legionella) costumam ser a causa.
Sarcoidose O espessamento liso é comum, mas em geral está associado a pequenos nódulos e linfonodomegalia. Na fase
tardia, um tecido fibroso peri-hilar cranial pode ser encontrado.
Fibrose pulmonar idiopática Pode ser encontrado, mas não é o achado mais comum. Os achados de faveolamento e espessamento intra·
alveolares são mais frequentes.
Pneumonia intersticial não Os achados de opacidade em "vidro fosco• e reticulação também são encontrados com maior predominância
especifica em lobos inferiores.
Pneumonia de hipersensibilidade O espessamento é incomum. As opacidades reticulares irregulares e o faveolamento geralmente predominam.
crônica
Amiloidose Nesta forma de comprometimento por amiloidose, que não é a mais frequente, há acometimento do
parênquima pulmonar, e deve-se considerar, inclusive, a possibilidade de associação com cistos pulmonares.
Carcinomatose linfática Nestes pacientes, com exceção de tumores que apresentam linfangite peritumoral, geralmente há associação
de espessamento extra·axial intertobular e leve grau de derrame pleural.
Edema pulmonar Éa causa mais comum de espessamento septal peribroncovascular, bem como de interlobular, e a associação
com cardiomegalia e derrame pleural bilateral faz lembrar este diagnóstico.
Sarcoidose O espessamento da sarcoidose pode ser peribroncovascular, mas costuma ser nodular devido à presença de
granulomas no interstício. Aassociação com linfonodomegalias em estágio inicial e com massas fibróticas em
estado final deve ser considerada.
Fibrose pulmonar idiopática Geralmente, o espessamento peribroncovascular é comum, mas os demais achados de faveolamento e
bronquiolectasias predominam.
Pneumoconioses Este espessamento, quando existe nos pacientes com pneumoconioses, não é o achado principal. Os nódulos
centrolobulares no estágio inicial da doença e as massas fibróticas nos polos superiores na fase final são os
achados de maior importância.
Pneumonites de Os achados de fibrose nos lobos superiores são mais prevalentes neste tipo de alteração.
hipersensibilidade crônica
QUADRO 12.3 ~ Diagnóstico diferencial de faveolamento
Fibrose pulmonar idiopática e Éachado relativamente comum nestes pacientes, sendo periférico e com predomínio subpleural e nos lobos
outras causas de pneumonia inferiores.
intersticial usual
Asbestose Ofaveolamento é comum na doença avançada, sendo periférico e também com predomínio subpleural.
Pneumonia de hipersensibílidade Os achados de faveolamento são comuns e periféricos, mas tendem a ter uma prevalência nos terços médios/
crônica superiores, ao contrário das demais doenças citadas.
Sarcoidose Um pequeno percentual dos casos desenvolve faveolamento, que é periférico e esparso. Contudo, como a
doença tem elevada prevalência e baixa mortalidade, deve ser sempre considerada no diagnóstico diferencial.
Pneumonia interstícial não Oachado de faveolamento é incomum; quando muito extenso (> 5%), não se deve excluir esta hipótese do
especifica diagnóstico diferencial.
QUADRO 12.4 ~ Diagnóstico diferenc.ial de pequenos nódulos (menores do que 1,O em) de distribuição linfática peribroncovascular ou
extra-axial
Silicose A história de exposição à sllica é de vital importância para o diagnóstico e, em geral, tem predomínio nos
lobos superiores, sendo subpleuraís e simétricos.
Carcinomatose linfAtica Os nódulos costumam ser septais e peribroncovasculares. Entretanto, podem ser esparsos e unilaterais,
dependendo da neoplasia que se está disseminando. Em tumores de pulmão ou de mama, em geral são
assimétricos. Em neoplasias difusas, como as de ovário e estômago, são bilaterais e tendem à assimetria.
Amiloidose Os nódulos estão predominantemente no interstício interlobular extra·axial. Éuma doença rara e faz parte
deste diagnóstico diferencial.
Pneumonia ínterstkiallinfodtíca Os nódulos geralmente são peribroncovasculares e a associação com cistos ou mesmo linfonodomegalías
pode ser encontrada.
QUADRO 12.5 ~ Diagnóstico diferencial de pequenos nódulos (menores do que 1,0 em) de localização centrolobular
Ml·fJ·IilJWJ',I!tij,}[fl.\;1}11fJ·lf.Jtl~aiD
Disseminação endobrônquica de Os nódulos apresentam, predominantemente, aspecto de árvore em brotamento, sendo esparsos e
infecção difusos, e a associação com lesão focal reativada é frequente. Nas doenças granulomatosas infecciosas
mícobacterióticas, a presença de cavidades pode estar presente.
Pneumonia viral (adenovírus/ Os nódulos têm disseminação em todos os segmentos pulmonares e frequentemente são acompanhados de
HINI) uma história dinica característica.
Doenças das vias aéreas superiores Este é, sem dúvida, a causa de maior prevalência deste achado. Tais nódulos costumam ser esparsos e
(refluxo gastresofágic~sinusopatia têm maior predominância nos lobos inferiores, sobremaneira à direita. Os segmentos anteriores dos lobos
crônica) anteriores muito raramente são acometidos.
Continw ...
QUADRO 12.5 (CONT.) ~ Diagnóstico diferencial de pequenos nódulos (menores do que 1,0 em) de localização centrolobular
Aspergilose broncopulmonar Os nódulos centrolobulares em padrão de árvore em brotamento são frequentes, e as bronquiectasias,
alérgica especialmente as cernais, são muito comuns.
Pneumonia de hipersensibilidade Os nódulos são de tamanho similar, com densidade semelhante em "vidro fosco". Tal fase costuma ser a
subaguda desta doença.
Pneumonia linfocítica Os nódulos são centrolobulares e costumam estar associados a cistos pulmonares.
Bronquiolite respiratória Os nódulos costumam ter densidade semelhante em "vidro fosco•, sendo esparsos e tendo predomlnio nos
lobos superiores.
Asbestose São um achado precoce, com predomínio basal subpleural e associação com opacidades reticulares.
Trombose endobrônquica tu moral Os nódulos são espaços difusos com padrão de árvore em brotamento. Representam trombos tumorais no
interior da arteríola centrolobular.
Calcificação metastática Amaioria dos nódulos têm densidade cálcica no seu centro, com predomínio nos lobos superiores.
QUADR012.6 ~ Diagnóstico diferencial de características de pequenos nódulos (menores do que 1,0 em) de disseminação randômica
Infecção miliar Tais nódulos geralmente são de tamanho variável e têm remodelamento difuso e veniforme, exceto nas
doenças micobacterióticas, como a tuberculose, em que o predomfnio e a dimensão dos nódulos são maiores
nos polos superiores.
Metástases hematogênicas Costumam aparecer como nódulos de múltiplos tamanhos e com predomínio nos lobos inferiores.
Sequelas de doença Sem dúvida, a causa mais comum de pequenos nódulos distribuídos de modo aleatório no parênquima
granulomatosa prévia pulmonar e, quase exclusivamente em nosso meio, relacionáveis a sequelas de doença granulomatosa
micobacteriótica ou fúngica. Esses nódulos têm uma frequência extremamente elevada e estimada como
sendo superior a 80% em todos os pacientes quando em uso de técnicas de detecção nodular avançadas
(projeção e intensidades máximas).
Sarcoidose As massas conglomeradas peri-hilares são comuns em estágios avançados da sarcoidose e estão associadas à
reação fibrótica e granulomatosa confluentes.
Silicose/pneumoconiose das minas São comuns na doença avançada nos lobos superiores e se associam a enfisema paracicatricial.
de carvão
Talcose Conglomerados de massa e tec.ido fibroso com predomínio nos lobos superiores e peri-hilares são comuns nos
estágios mais avançados da doença.
Carcinoma metastático O predomínio é basal e geralmente são nódulos confluentes, lobulados, periféricos.
Carcinoma bronquioloalveolar Em geral, os nódulos são menos frequentes e as consolidações difusas têm maior prevalência.
Doenças linfoproliferativas Grandes nódulos são comuns, ma.s as áreas de consolidação também são muito frequentes.
Contiooa ...
QUADRO 12.7 (CONT.) ~ Diagnóstico inicial de grandes nódulos e massas conglomeradas
Bronquiolite obliterante com Nódulos são relativamente incomuns, mas opacidades pe<iféricas costumam ser encontradas nestes pacientes.
pneumonia em organização
(pneumonia organizante)
Infecção micótica As infecções fúngicas, especialmente em paciente imunodeprimido, devem ser sempre consideradas no
diagnóstico diferencial.
Atelectasia redonda Este achado quase sempre está associado a doença pleural e a possibilidade de neoplasia deve ser
considerada.
Edema pulmonar Este achado é frequentemente encontrado em edema pulmonar e costuma ter curso agudo.
He<norragia pulmonar Geralmente esparso, o padrão de pavimentação em mosaico inicia-se e<n um estágio subagudo da
hemorragia.
Pneumonia (sobretudo Este padrão é relativamente comum nas pneumonias atípicas, em especial as de acometimento intersticial.
pneumonias atípicas)
Pneumonite por radiação A extensão em geral é geométrica, seguindo a linha de radiação, e tem curso agudo.
Proteinose alveolar Este achado costuma ter um curso clinico subagudo/crônico. Trata-se da entidade em que esse padrão foi
descrito pela primeira vez e, portanto, mais frequentemente associado. Adistribuição é esparsa e difusa,
podendo tal entidade ser primária ou secundária.
Carcinoma bronquioloalveolar Ocurso é subagudo/crônico e a forma de acometimento é difusa e esparsa, sendo que alguns nódulos e áreas
de consolidação estão frequentemente associados.
Pneumonia (bacte<iana) Oquadro clínico é agudo e a localização depende do tipo de germe e da imunidade. Os germes atípicos
geralmente acometem mais de um lobo pulmonar; nas pneumonias pneumocócicas ou típicas, o
acometimento unilobar é mais frequente.
Edema pulmonar Em geral, as áreas consolidativas se acompanham de atelectasia pela compressão causada pelo derrame
pleural, que frequentemente é encontrado nesses casos.
He<norragia pulmonar As consolidações associadas à hemorragia geralmente são o primeiro achado encontrado nestes pacientes;
depois disso, começa a existir uma absorção linfática da hemoglobina, e o padrão de pavimentação em
mosaico e de espessamentos de septos é encontrado.
Pneumonia intersticial aguda Costuma ser um quadro de consolidações difusas de inicio agudo, que ocorre raramente e tem mortalidade
deSO%.
Bronquiolite obliterante com Costuma ter um curso subagudo/crônico, com acometimento mais frequentemente periférico. Aassociação
pneumonia em organização com doenças farmacorrelacionáveis e/ou pós-infecciosas é frequente.
Pneumonia eosinofilica crônica Geralmente são consolidações de base pleural periféricas de curso crônico.
Continw ..
QUADRO 12.9 (CONT.)-+ Diagnóstico diferencial de consolidação
Pneumonia lipofdica Os achados em geral são esparsos e associados à aspiração, no caso de pneumonia lipoidica exôgena, que
é a mais frequente em nosso meio. Adensidade de gordura aferida à tomografia pode auxiliar no devido
diagnóstico deste achado.
Histiocitose de células de São cistos com formatos incomuns, acompanhados de nódulos, que acometem com maior prevalência os
langerhans lobos superiores.
Pneumonia intersticial linfocítica Os cistos são muito menos numerosos do que na linfangioliomiomatose, e nódulos em "vidro fosco· podem
estar associados.
Bolhas Adistribuição subpleural, na maioria dos casos, e a associação com tabagismo, especialmente de maconha,
devem ser lembradas no diagnóstico diferencial.
Pneumatoceles Costumam ser esparsas, associadas a extensas áreas de pneumonia em um quadro clinico grave.
Faveolamento Predomfnio subpleural. com múltiplas camadas junto à superffcie pleural compartilhando suas paredes. Os
achados de distorção arquitetura! são frequentes.
Bronquiectasias císticas Adistribuição focal e a presença de níveis hidroaéreos, quando as bronquiectasias estão infectadas, devem
lembrar este diagnóstico.
Linfonodo intrapulmonar
Bronquiectasia mucoide
Con~nua ...
QUADRO 12.11 (CONT.) -+ Nódulo pulmonar solitário
Cisto hidático
Plasmacitoma
Infarto pulmonar
Sarcoma de pulmão
Sequestro intralobar
Granulomatose de Wegener
IP·1314t'i•J•lj:f·if:<·l;lbi3•l
Menor ou igual a 4 mm Nenhum complemento necessário. É sugerido complemento na tomografia em 12 meses
e, se não houver mudança, nenhum outro exame
tomográfico é necessário.
Nota: Os pacientes incluídos nesta comparação têm 35 anos de idade ou mais. Em pacientes mais jovens, a possibilidade de neoplasia ~muito baixa e o acompanhamento
não é necessArio para nódulos pequenos.
•o diâmelro do nódulo é a médía da medida de dois diámeuos axiais do nódulo.
...Alto risco édefinido como história de tabagismo fiou outro fator de risco conhecido.
Obs.: Nódulos com padrão em "vidro fosco• exigem um acompanhamento de até 36 meses para excluir adenocarcinoma.
Fonte: MacMahon e colaboradores.1
Sarcoidose (nódulos, fibrose e linfonodomegalias são frequentemente Talcose (história clínica de uso de droga intravenosa, nódulos
encontrados). pulmonares centrolobulares e enfisema também podem estar
associados).
Continw ...
QUADRO 12.13 (CONT.) -+ Doença pulmonar com predomínio nos lobos superiores
QUADRO 12.14? Diagnóstico diferenc.ial das doenças que acometem os lobos inferiores na tomografia de alta resoluçáo
Asbestose (faveolamento e espessamento pleural estão frequentemente Pneumonia de hipersensibilidade (nódulos centrolobulares com
associados). atenuação em "vidro fosco" e algum grau de reticulação).
Pneumonias de aspiração (em geral são nódulos dependentes, e o lobo Pneumonia lipoídica (normalmente ocorre em zonas pendentes devido à
superior direito nem sempre é o mais comprometido). aspiração de conteúdo lipídico).
Atelectasias, distensão abdominal. Neoplasia diafragmática (sarcoma, metástases, tumor fibroso de pleura).
Paralisia do nervo esplênico por neoplasia brõnquica, sequefa de Hipoplasia ou agenesia do pulmão.
processo inflamatório e/ou iatrogenia cirúrgica.
Derrame pleural subpulmonar (nestes casos, o estudo com o paciente Rim intratorácico.
em decúbito lateral do mesmo lado da elevação pode ajudar no
diagnóstico diferencial).
ltB:O·I•tJ&f·ltJ@l•!ll31i•U 1•109/r.\ji!i!•tJI.'I#;i3•!113.'•if1
Carcinoma brônquico com pneumonia obstrutiva (cerca de 20% das Carcinoma bronquioloalveolar.
neoplasias brônquicas são descobertas após um episódio de pneumonia
de resolução lenta).
Pneumonia lipoídica.
Linfoma.
Pneumonia tuberculosa.
Referência
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Leituras recomendadas
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Heidclbcrg: Springer-Vcrlag; 2003.
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thc lung. 3rd cd. Philadclphia: Lippineott Williams & Wilkins; 2001.
Luciano Müller Corrêa da Silva
Adalberto Sperb Rubin
13
Fernanda Brum Spilimbergo
Luiz Carlos Corrêa da Silva
• Curvas selecionadas de acordo com as recomendações É importante manter uma rotina de reavaliação pe-
(volume expiratório forçado no primeiro segundo - riódica dos equipamentos, tanto de calibração quan-
VEF,- e capacidade vital forçada - CVF - não neces- to de acurácia e reprodutibilidade.
sariamente provenientes da mesma manobra e fluxos da
curva com maior soma de CVF e VEF1).
• Capacidade do sistema de aceitar modificações nas O QUADRO 13.2 resume uma proposta de controle de
equações de regressão dos valores previstos. qualidade acessível a todos os laboratórios que realizam
• Atualização periódica do software do equipamento colo- espirometria, volumes pulmonares e difusão pulmonar. O
cada à disposição pelo fabricante. controle pode ser realizado com uma seringa de 3 L devi-
• O usuário deve e pode testar o espirõmetro em si mesmo damente validada (a mesma utilizada na calibração). Para
e utilizando uma seringa de 3 L. No caso de uma seringa o teste da capacidade vital, deve-se utilizar a seringa como
de 3 L, deve-se realizar manobras em diferentes veloci- se fosse um paciente em um teste de espirometria que in-
QUADRO 13.2 ~ Proposta de rotina de controle de qualidade (CQ) para espirometria, volumes pulmonares e difusão pulmonar
li lt!rill•i(GJrl i:!!ii•f.1•lj
Preparaç.\o do paciente
- Perguntar sobre motivo do exame. tabag1srno (último cigarro
fumado).
- Explicar o teste ao paciente da forma mais dara possível.
simul<lndo o esfor~o neces~no que ele dever~ realizar durante o
exame: postura correta com a ca~ um pouco elevada, inalação ls
rápida e completa, expiraçio rápida e a mais longa possível. (A) Tempo
Realiza~io da manobra
- Colocar o paciente na postura correta com adequado ajuste do
bocal; evitar hiperexten~o ou hiperflexáo cervical.
- Colocar o prendedor nasal e ajustar o bocal~ boca de forma
hermética, sem vazamentos.
- Realizar inala~io rápida e completa at~ a CPT, com pausa
inspiratória < 1 segundo.
- Realizar expiração mbima e rápida, sem hesita~io- volume
retroextrapolado < 5% da CVF, ou O, 15 L. o que for maior. CPT
- Diferença entre os três maiores valores do PFE < 10%, ou 0,5 l/s, o
que for maior.
Expiração até o limite - o paciente deve expirar pelo menos 6
segundos (para aqueles com doença obstrutiva, o ideal é pelo
menos 1Osegundos). Terminar sempre com um platô de pelo
menos 1 segundo, visualizado durante o exame na curva volume-
tempo, ou no caso de exaustao do paciente.
- Não tossir no primeiro segundo de elq)iraçAD. realizar movimento
glótko na exp~ra~io, afrouxar a boca, usar as bochechas na
expiração, usar manobra de Valsalva ou colocar a língua no bocal.
Resultados reprodutiveis
- Executar sempre três manobras acert.lveis e pelo menos duas
reprodutiveis. Os dois maiores valofes de CVF e VEF, nAo devem
d1ferir mais do que 0,15 Lem até oito manobras. Caso não seja v
possivet utilizar os três melhores testes (anotar esse fato na (B)
interpretaçjo).
FIGURA 13.1 ~ Curvas volume-tempo e fluxo-volume. Na curva volu-
Seleção das curvas me-tempo, o VEF, é demonstrado facilmente. Nessa curva, é possível
- Testes de qualidade aait.lvet acompanhar o esforço elq)iratório do paciente até o final. Na curva
- Selecionar a maior CVF fluxo-volume é posslvel identificar inicio hesitante. movimentos inade-
- Selecionar o maior VEF, das curvas com PFE aceit.lveis e quados, como tosse e uso da glote, e alteraç~ de via aérea (ver Figura
reprodutfveis 13.3). (A) Curva volume-tempo; (8) curva fluxo-volume (alças inspirató-
- Seleção dos fluxos instantaneos da curva com maior soma de CVF ria e elq)iratória).
eVEF1
A CRF obtida ~a pletismografia é aceit~el quando: Normalmente, o teste dura 3 a 4 minutos em indivíduos
1. O nlvel do VGT for estável (linha reta, quando o paciente executa o normais para o alcance da concentração estável final de N2•
panting). Durando um tempo maior do que 7 minutos, indica a presença
2. A válvula do obturador fechar ao nivet do final da expiraçAo do de distribuição irregular da ventilação pulmonar. Outro indica-
volume corrente (desnivel máximo de 200 mL. VGT - CRF s 200 tivo de distribuição ventilatória irregular é o formato da linha
mL). de queda da concentração de N21 que nesse caso pode apresen-
3. O volume do panting for pequeno (50 a I 00 em'). Isso é verificado tar duas ou mais fases. Em indivíduos normais, costuma ser li-
visuahzando·se ambas as extremidades da reta. near. Recomenda-se a realização de pelo menos urna manobra
4. A frequência do panting estiver entre 30! 90 movimentos por bem-feita. Deve-se te.r muito cuidado com vazamentos entre a
minuto.
boca e o bocal. Um aumento súbito da concentração de N2 in-
5. Aalça da manobra do panting apresentar mí111ma hosterese.
dica potencial vazamento. Caso seja necessária a repetição do
6. AinchnaçAo da reta da relação entre as pressões for paralela ~ alça teste, deve-se aguardar, pelo menos, 15 minutos, sendo que os
doVGT.
valores de CRF não devem diferir em mais de 10%.
7. A alça da manobra do VGT apresentar fases inspirat6ria e
expirat6ria.
8. EJcistirem pelo menos três manobras de VGT aceitáveis.
Referências
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das por aferições ventilatórias (frequência respiratória U],
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Brasileiro sobre Espiromctria. J Pneumol. 2002;28(3):S2-115. (frequência cardíaca [FC], pressão arterial [PA] e eletrocar-
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4. Pelzer AM, Thomson ML. Effeet of age, sex, stature, and sintomas que limitam o exercício também é realizada. Mais
smoking babits on human airway eonductance. J Appl Physiol. recentemente disponibilizadas na prática clínica, podem
1966;21(2}:469-76. ser feitas medidas seriadas da capacidade inspiratória (CI)
durante o exercício para avaliação dos volumes pulmonares
5. Pereira CAC, Neder JA Sociedade Brasileira de Pneumologia
e Tisiologia (SBPT): diretrizes para testes de função pulmonar. J operantes, técnica hoje usada no diagnóstico de hiperinsu-
Pneumol. 2002;28(3):S1-238. flação pulmonar dinâmica. De forma crucial, as demais va-
riáveis mensuradas são inter-relacionadas com medidas de
6. Black LF, Hyatt RE. Maximal respiratory pressures: normal values
trocas gasosas. Isso adiciona importante significado pelo
and relationship to age and sex. Am Rev Respir Ois. 1969;99(5):696-
702. fato de correlacioná-las com as reais energias despendidas
durante o exercício em vez de, simplesmente, usar estimati-
vas indiretas de gasto energético.
Leituras recomendadas
Chemiack RM. Pulmonary function testing. 2nd ed. Philadelphia:
Saunders; 1992. Como realizar o teste cardiopulmonar
Cotes JE, Chinin DJ, Miller MR. Lung function. 6th ed. Oxford: de exercício
Blackwell; 2006.
A despeito da grande variedade de protocolos de exercício
Gibson GJ . Clinicai tests of respiratory function. 3rd ed. London: existentes, a adequação da resposta fisiológica sistêmica in-
Hodder Arnold; 2009.
tegrada é mais bem estudada por meio de um protocolo
incrementai limitado por sintomas. Isso costuma ser obti-
do com pequenos aumentos progressivos fixos da carga de
trabalho imposta com um intervalo fuo predeterminado
1111 (a cada minuto ou menos), em um padrão de "degrau", ou
com incrementos graduais da carga sob controle compu-
Teste Cardiopulmonar de Exercício tadorizado, como uma "rampa" lenta e progressivamente
(Ergoespirometria) crescente.
O exercício costuma ser imposto em laboratório por
Danilo Cortosi Berton meio de um ergômetro (em geral cicloergômetro e, mais re-
José Alberto Neder centemente, esteira ergométrica) que permite a contração
simultânea de grandes grupos musculares (normalmente dos
membros inferiores). Todavia, protocolos de carga constante
de alta intensidade estão se tornando cada vez mais utiliza-
Introdução dos, visto que acabam representando uma forma mais sensí-
Testes de exercício são utilizados em uma grande variedade vel de detectar melhora funcional secundária a intervenções
de situações clinicas, fornecendo informações que não po- (FIGURA 13.1.2).
Pne\lmotac6grafo
[\ ,[\ C\[\
O , OGJO , OC
FIGURA 13.1.1 -+ Principais dispositivos e sinais fisiológicos primários envolvidos no teste cardiopulmonar de exercício. Note como os sinais deriva-
dos dos dispositivos de mensuração fluxovolumétrica (pneumotacografia) e gasosa respiratória (em geral expiratória), além da frequência cardfaca
(ECG), devem ser integrados, normalmente por tecnologia microprocessada, para a obtenção das diversas variáveis metabólicas, ventilatórias e
cardiovasculares. Outros sinais também podem ser captados, como aqueles provenientes de um oxímetro de pulso.
antes da interrupção do exercício por sintomas. Dessa baixo (nadir) no LA, seguido por um aumento até que
forma, o pico do V02 (V02Pico) é frequentemente usa- ~ caJ?acidade máxima de exercício seja alcançada. O
do como uma estimativa do VO~áx para pacientes que VE/VC02 também diminui com o incremento do exer·
têm sua capacidade de exercício interrompida antecipa- cicio até o seu nadir no LA, quando atinge um período
damente por algum motivo (p. ex., disfunção de algum de estabilidade (ou seja, seu valor permanece relati-
sistema fisiológico, subesforço, etc.). vamente constante). Para testes incrementais, o pon-
• O limiar anaeróbio (LA), também conhecido como li- to em que o VEN02 começa a aumentar ocorre em
miar de lactato, limiar de trocas gasosas ou limiar ven- associação ao momento em que a queda do VENCO,
tilatório, é considerado o ponto estimado do início da se estabiliza. Esse perfil distingue o início da hiperven-
acidose metabólica causada predominantemente pela tilação fisiológica que normalmente ocorre com o LA
inflexão da taxa de crescimento da concentração de lac- daquele proveniente de outras causas (ansiedade, dor,
tato arterial durante o exercício. É descrito como o V0 2 hipoxemia, ou voluntária).
no qual esse aumento começa a ocorrer, sendo expresso
como porcentagem do V02máx previsto.
• O pulso de oxigênio, obtido pela relação entre o V0 2 e a
FC, reflete a quantidade de oxigênio consumida em cada Como interpretar o teste
batimento cardíaco. Tem sido utilizado como uma esti- cardiopulmonar de exercício
mativa do volume sistólico durante o exercício (embora
seja controverso, especialmente em pacientes com dessa- Quando a capacidade de suprir as demandas energéticas de
turação da oxiemoglobina). uma determinada tarefa física é afetada, surge a intolerância
• A reserva ventilatória (RV), que reflete a relação entre ao exercício IISico, que representa a queixa principal de uma
a demanda e a capacidade ventilatória máxima (normal- série de condições clínicas, em especial as doenças cardiopul-
mente estimada pela manobra de ventilação voluntária monares. A intolerância ao esforço não pode ser prevista de
máxima - VVM), é a maneira tradicional de se fazer a forma confiável a partir de variáveis fisiológicas de repouso,
verificação de limitação ventilatória ao exercício. A RV como o volume expiratório forçado no primeiro segundo
tem sido definida como a porcentagem da VE no pico (VEF ,), a fração de ejeção sistólica e o índice de massa cor-
do exercício que falta para atingir a VVM medida ou poral. Dessa forma, o TCPE, apesar de representar uma ativi-
estimada em repouso(= VEF, x 35-40). Costuma ser dade realizada em laboratório e, portanto, não refletir exata-
expressa da seguinte forma: [1- (VEpicoNVM) x 100]. mente as tarefas físicas diárias, é considerado o padrão-áureo
• Os equivalentes ventilatórios para consumo de oxi· para avaliação das causas da intolerância ao exercício.
gênio (VEN0 1) e produção de gás carbônico (VEN O objetivo do teste de exercício, então, é impor uma car-
C02) são ambos relacionados com a fração do volume ga sobre os sistemas que contribuem para a realização do
corrente (VT) desperdiçado como espaço morto (VD), exercício até um nível em que as anormalidades se tornam
sendo elevados quando a relação VD/VT aumenta (ou discerníveis em comparação com variáveis selecionadas
seja, quando a relação ventilação/perfusão alveolar como padrão de normalidade.
está aumentada) . Contudo, os equivalentes ventilató- A interpretação dos resultados é baseada na inter-rela-
rios também se elevam com hiperventilação e, então, ção de duas perspectivas: diferenciar a magnitude e o padrão
sua interpretação deve ser feita com cautela. O pa- de de.svio de uma resposta considerada normal (seleciona-
drão normal de resposta no VEN0 2 é uma queda no da de um grupamento padronizado para determinada faixa
início do exercício incrementai até o seu ponto mais etária, gênero e nível de condicionamento físico) e contras-
tar um possível padrão de resposta anormal observado com TABELA 13.1.1 -+ Critérios de normalidade sugeridos para
aquele que é característico de um ou mais sistemas funcio- interpretação do teste cardiopulmonar de exercício
nais que não estão operando adequadamente.
A seleção de valores de referência considerados normais
é, portanto, crucial para a interpretação do teSte. Esses valores I"' '·'f'j
de referência normais fornecem a base de comparação para Pico do exerclcio
aferir questões importantes relativas à normalidade da respos-
ta de um individuo. Deve ser enfatizado, entretanto, que, para vo,máx ou vo,pico > 84% do previsto
uma interpretação otimizada, o grande potencial diagnóstico
FC > 90% do previsto
do TCPE não é representado por nenhuma medida isolada,
mas sim pelo uso integrado de todas as variáveis obtidas. RK < 15 batimente>Vmin
Algoritmos com base em determinadas medidas-chave
podem ser úteis no diagnóstico diferencial, mas devem ser Pressão arterial < 22W90
adotados com cautela em função da excessiva confiança depo-
sitada em medidas isoladas. No entanto, pela complexidade Pulso de oxigfnio (\ÍO,IFO > 80% do previsto
c quantidade do conjunto de variáveis derivadas do TCPE,
RV 1 - (\ÍEmáx/VVM) x 100: > 15%
uma abordagem integrativa é apresentada na FIGURA 13.1.4,
Ampla faixa de normalidade: 43·13%
visando tornar prática a interpretação do teste incrementai.
Questões que sempre devem ser consideradas e avalia- Frequênda respiratória < 60 respirações/min
das para uma interpretação acurada do TCPE incluem indi-
cação do teste, avaliação da qualidade dos dados coletados, Pressão parcial o,
-----------------------
> 80 mmHg
comparação das medidas gráficas e tabulares derivadas do
teste com valores de referência apropriados, avaliação dos .11(1 <tO (espeàalmente em idosos)
sintomas e razão para interromper o exercício, correlação
.!1Sp0, <4%
dos resultados do teSte de exercício com as informações clí-
nicas obtidas do paciente e informadas na solicitação do teS- Limiar anaeróbio (lA)
te. Finalmente, um guia de valores sugeridos como normais
é fornecido na TABELA 13.1.1. Se as respostas ao exercício di- Vo,(tAI > 40% do previsto
ferem do esperado, a comparação com um padrão de respos- Ampla faixa de normalidade: 40 a 80%
tas t!picas de diferentes entidades clínicas deve ser buscada
(ver FIGURA 13.1.4). ÍIE/ÍICO, (no tAl <34
Convém lembrar que existe sobreposição significativa na
Vo1 = consumo de ox•gfn•o; FC • frequênda cardíaca; RfC = resetVa de frtqutn·
resposta ao exercício de pacientes com diferentes doenças ~ia c.udíaca (FC málcima previna FC atingida no pico); rw = resetva ventilatória;
cardíacas e respiratórias, e também que um paciente com VEmáx = ventilaçao no pico do exerdcio ou exerd<io máximo; WM • ventil~çlo
frequência pode apresentar múltiplas condições eoexisten- voluntária málcima mtnsurada tm repouso ou estimada(= VI' F, x 35-40); ACI •
tes. Entretanto, tipicamente, uma ou mais respostas costu- capacidade inspira tório (C I) no pico do tsforço - Cl no repouso; ASpO, • OJ<imetria
mam predominar, o que permite caracterizar os fatores con- de pulso (SpO,) no pico do esforço - SpO, em repouso.
tribuintes dos sintomas e/ou disfunção ao exercício.
Todavia, além da constatação objetiva de intolerância
ao exercício e avaliação da contribuição específica de cada
Quando solicitar o teste sistema fisiológico envolvido, existem diversas outras indica-
ções específicas para TCPE:
cardiopulmonar de exercício
O TCPE geralmente é considerado quando outras moda- • Avaliação de pacientes com doença cardíaca e/ou pul-
lidades diagnósticas não foram suficientes para fornecer monar: verificação de quais sistemas fisiológicos estão
respostas a importantes questões relativas à intolerância ao contribuindo para os sintomas e a limitação ao exercício,
exercicio e ao manejo do paciente. avaliação funcional e prognóstica, avaliação do efeito de
intervenções ou da progressão da doença e indicações
para transplante pulmonar ou cardíaco.
• Avaliação pré-operatória, seja para cirurgia envolvendo
ressecção pulmonar ou cirurgia não torácica, para esti-
mar o risco operatório.
• Prescrição de exercício em programa de reabilitação car-
díaca ou pulmonar.
Avaliação de disfunção e incapacidade.
• Detecção de broncoconstrição induzida pelo exen:ício.
• Detecção de dessaturação arterial de oxigênio induzida
pelo exercício.
História e exame ffsico, Espirometria, ECG
(Ecocardiografia e Dlco a critério)
wT rfW!'\11 ...entJI.nóna, WT reserva ventilltória, N, reserva Yenti1atóril. wJ. ,~. ~l.ltór... .&. rtitfVI V'tntalit6na.
t ttsef\'IJ de frequfnc1a Nlf reserva de frequfoaa N/lrese<Va do frequb>oa N/t rf'Sf'rvl de frequfnc•1 t r~ de frequtno-1
~rdlaco. N...tu<o<io da c.arcfl.a. N, Sltur6Ç&o da ardiaa. lsaturo<&o da c.trdlfa.... wturaç.lo d.l cordlaa. wl >lturo<io da
O>OttnOglobiNI)Of OXierne>gklbina por oxiemoglobma por oxttmoolobtne por ~·nlpot
0111mttna dt pulso, Nl U? oximetril de pulso, l oximetna de pulso, J. O»mtthl dt pulso, J. OJIItnetna de pulso, N/ lt1
1tm1.tr ana~blo tst1mtdo limi.ar 1n.eeróbio estimado limiar ai'\HtÔbio HtHTI.6do lim~r an.ttróbto f'S:llmtdo hmi~r anaerób10 tst•m.ado
n6o •nVISNitnente nio uwasivamente nio invamamrnte nlo tnVMIVIM«<lt n6o invlStvlmtnte
HtptMnbJaçAO/ansltdade:
~rAo ret_tratório .rregul•r;
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PETC01 o Ooonço Doença Doença pulmonar
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s.l ~; pulmonar putmon.r oburutiva aônKI
~ 'E~
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vascular inttrstkial
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H! v
l "
8
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e
FIGURA 13.1.4-+ Estratégia de interpretação dos resultados obtidos durante TCPE incrementai até o limite da tolerSncia (modificada de ATS/ACCP
Statement on Cardiopulmonary Exercise Testing. Am J Respir Crit Care Med 2003; 167: 211-277).
Fonte: Modificada de American Thoracic Society e American College of Chest Physicians.'
~------~----~-----------------------------
Além disso, o TCPE pode trazer informações diagnós- • Auxilio na identificação de disfunção diastólica na insufi·
ticas úteis em algumas situações clinicas específicas, que di- ciência cardfaca crônica, na qual a fração de ejeção ainda
ficilmente teriam sido identificadas com outras abordagens pode estar normal no repouso, mas com a presença de
diagnósticas, como: diversas alterações circulatórias no exercício.
Por fim, a doença mitocondrial (modelo de disfunção
• Presença de forame oval patente, com desenvolvimento
metabólica muscular) também pode se apresentar na for-
de shunt direito-esquerdo durante o exercício - tal si-
ma de intolerância ao esforço de origem indeterminada,
tuação pode revelar-se apenas na atividade ffsica, com
com ou sem fraqueza muscular periférica. Os achados no
o aumento do regime pressórico direito (p. ex., doença
TCPE em geral são compatíveis com doença circulatória
vascular pulmonar primária ou secundária). Caracteri-
ou doença periférica acentuadas, que respondem apenas
za-se pelo surgimento súbito e precoce de hipoxemia
discretamente ao treinamento f!sico. Na ausência de evi-
não responsiva à inalação de 0 2 a 100%, com marcada
dente doença cardíaca, anemia ou carboxiemoglobinemia,
resposta vcntilatória (aumento da inclinação da relação
um padrão de resposta de "disfunção cardiocirculatória"
VEJVCOJ - esse fenômeno, provavelmente, se deve
deve levantar suspeita de miopatia. Entretanto, formas le-
ao estímulo maciço dos quimiorrcccptores periféricos,
ves de miopatia, bem como descondicionamcnto muscular
mediado pelo co2
proveniente da circulação venosa
significativo, podem ser diffccis de diferenciar de doença
sistêmica.
cardiovascular leve.
• Identificação precoce de doença pulmonar vascular oclu-
Os seguintes achados são compatíveis com doença mito-
siva, ainda sem hipertensão pulmonar.
condrial muscular: relação lactato/piruvato sérica acima de
• Demonstração de comprometimento da função ino-
20 (embora uma razão normal não afaste o diagnóstico); ní·
trópica (p. ex., discinesia do ventrículo esquerdo por
veis baixos de carnitina sé rica; e evidências de acometimento
doença arterial coronariana), quando há platô na rela-
tubular renal na urina de 24 horas (piruvato,lactato, glicose,
ção ô VO/ ó.Potência c no pulso de oxigênio (e, portan-
fosfato e aminoácidos). O diagnóstico definitivo pode de·
to, do débito cardíaco) com aumento da FC- nessas
pender da biópsia muscular e, eventualmente, do sequencia-
circunstâncias, o volume de ejeção sistólica provavel-
mento genético local {btbridização in silu).
mente está reduzido.
Referências Leituras recomendadas
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Renata Diniz Marques
14
F€rnando Gustavo Stelzer
EEG Ritmo alfa ou Baixa amplitude, Complexo K e/ou > 20% de onda,s Baixa amplitude,
baixa amplitude, frequência mista, fusos do sono lentas: 0,5-2 Hz frequênc.ia mista,
frequência mista atividade teta ondas dente de serra
EMG Alto Menor do que na Igual ao estágio N1 Igual ao estágio N2 Baixo ou ausente,
vigília atividade muscular
transitória
EEG • eletroencefalograma; EMG • e~romiograma; EOG • eletro-oculograma; REM • · rapid eyes movement•; V • vigília.
C-anula
Abdome
a s.o,
sao, ....:..........................::::::::::::::::::::::::::::::::::::: :·
10 ••• ••• ••• ••• ••• ••• ••• ••• •• •••• ••• ••• •• •••• ••• ••• •• •••• •• •••• •• ••• ••• •• •
D
FIGURA 14.4 ~ Eventos ventilatórios. (A) RERA: observa-se o achatamento da curva de pressão de fluxo aéreo. Ao final do evento, segue-se desper-
tar eletroencefalográfico (não mostrado na figura). (8) Hipopneia obstrutiva: observa-se redução do fluxo aéreo na cânula, com discreta redução da
amplitude das incu<Wes no termistor. Verifica-se também ventilação paradoxal, com assincronia das curvas de esforço ventilatório torácico e abdo-
minal. (Q Apneia obstrutiva: observa-se ausência de fluxo aéreo tanto na cá nula como no termi,stor, com persistência de esforço ventilatório torácico
e abdominal. Há ventilação paradoxal. (O) Apneia central: há ausência de fluxo aéreo na cá nula e no termistor, associada à ausência de esforço ven-
tila tório torácico e abdominal. (E) Apneia mista: na primeira parte do evento, observa-se ausência de fluxo aéreo, bem como do esforço ventila tório,
ao passo que, na segunda parte, há retomada do esforço ventila tório torácico e abdominal. Todos os eventos têm duração superior a 1Osegundos.
Hipoventilação: durante o sono, a hipoventilação é defini- Eficiência do sono: relação entre o tempo total de sono e a
da como um aumento da pressão arterial de CO, de, pelo duração de registro da polissonografia (tempo de permanên-
menos, 10 mmHg, em comparação com a vigflia em posição cia na cama), expressa em percentual. Considera-se normal
supina. A persistência de dessaturação de oxigênio por oxi- valor superior a 85%.
metria de pulso, de modo isolado, não é suficiente para a
Arquitetura do sono: inclui a duração e a distribuição dos
determinação de hipoventilação. No entanto, a queda de sa-
diferentes estágios do sono no período de registro.
turação de oxiemoglobina (superior a 10%) sem evidência
de obstrução das vias aéreas superiores é sugestiva de hipo- Hipnograma: é a representação, em um gráfico, da distri-
ventilação, mas esses achados não são específicos. buição dos estágios do sono. Na maioria dos casos, também
inclui distribuição dos eventos ventilatórios, saturação da
Respiração de Cbeyne-Stokes: é caracterizada por padrão
oxiemoglobina, frequência cardíaca, movimentos dos mem-
cíclico de respiração em que períodos de apoeia ou hipop-
bros inferiores e posição corporal (FIGURA 14.5).
neia central alternam-se com períodos de hiperpneia, com
padrão crescente e decrescente.
23:00 03:00 05:00 07:00
Arou sal I I I I 1 11 • 11 11
MT
Wake
REM
51
52
S3
S4
Button
Supine
Left
Prone
Righi
Upright
LM ~--------------------------------------------------------------~
I I . .. . . • 1 111 I I I - ll l -11!1-...1 li 1111
PLM --•
Desat~----------~~~~~--~ ••-
~ ~ornu~.~,~~--~~----~~--~
,~.,--------------,~~~~~~~~----------~~~~~m
100 ~--------~=---~~~~~~~----~~~~----~~~~--~~--~~
90
Sp02 80
(%) 70
60
125
Pulse 100
(bpm] 75
50 ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Snore
135
90
RM I
45~--L-------~~~~~~~==~~~~~~~~~~~~~~~~
90
Obstructive 60
(seconds) 30
90
Central 60
(seconds) 30
90
Mixed 60
(seconds) 30
90
Hypopnea 60
(seconds) 30
23:00
FIGURA 14.5 ~ Exemplo de hipnograma. Observa-se predomínio dos eventos ventilatórios (apneias e hipopneias - obstrutivas) no sono REM, inde-
pendentemente da posição do paciente.
Despertares breves ou microdespertares: são despertares mero total ou como índice (relação entre o número total de
transitórios, sem estabelecimento da consciência, com dura- eventos e horas de sono).
ção superior a três segundos. Podem ser expressos no nú-
QUADRO 14.4-+ Parâmetros do relatório de polissonografia
QUADRO 14. 5-+ Classificação dos tipos de aparelhos para avaliação de apneia do sono
Tipo I ~ 7 parâmetros, incluindo EEG, EMG do mento, ECG, Sim Sim Sim
fluxo aéreo, esforço respiratório e oximetria
Tipo li <! 7 parâmetros, incluindo EEG, EMG do mento, ECG Sim Sim Não
ou FC, fluxo aéreo, esforço respiratório e oximetria
Tipolll <! 4 parâmetros, incluindo fluxo aéreo, FC ou ECG, Sim Talvez Não
oximetria
SAOS IAH superior a 5/hora; fragmentação excessiva do sono pelo aumento do número de despertares e microdespertares;
dessaturação da oxiemoglobina; presença de roncos.
SARVAS Aumento do número de microdespertares (> 10/hora), sendo estes precedidos de aumento do esforço ventilatório;
queda do volume corrente com limitação do fluxo aéreo.
Narcolepsia Latência reduzida para início do sono e do sono REM; múltiplos despertares (espont3neos); aumento do tempo de vigília
após início do sono, com redução da eficiência do sono e aumento percentual do estágio Nl. A polissonografia deve ser
complementada por teste de latências múltiplas do sono.
Hipersonia idiopática Sono noturno prolongado, com elevada eficiência de sono; índice de despertares dentro da normalidade e aumento do
sono de ondas lentas; latência para o sono REM dentro da normalidade.
PLMS Presença de movimentos periódicos dos membros inferiores, frequentemente associados a despertares ou
microdespertares.
SPI Frequente associação com PLMS, com presença de movimentos periódicos dos membros inferiores, associados a
despertares breves.
Distúrbios do despertar: Aumento dos despertares breves; hipersincronia da atividade delta durante o sono não REM; aumento do sono de ondas
sonambulismo, terror lentas; arquitetura do sono geralmente normal. No sonambulismo, há aumento da atividade motora no final do primeiro
noturno e despertar ou do segundo período de sono de ondas lentas. No terror noturno, os episódios ocorrem predominantemente no
confusional primeiro terço da noite, no sono de ondas lentas. com aumento da atividade neurovegetativa.
Transtorno de Ausência de atonia durante o sono REM; presença de movimentos periódicos e não periódicos dos membros inferiores
comportamento do no sono não REM.
sono REM
SAOS = sindrome da apneia obstrutiva do sono; SAINA.S • síndrome do aumento da resistência de vias aéreas; PLMS = síndrome dos movimentos periódicos durante o sono;
SPI • síndrome das pemas inquietas; IAH • índice de apneia·hipopneia.
para avaliar a eficácia do tratamento em pacientes previa- 4. Amcrican Acadcmy of Slecp Mcdicinc. Thc AASM manual for
mente diagnosticados com SAOS. tbc sroring of slccp and associatcd cvcnts: rulcs, terminology and
Os aparelhos tipo IV restringem-se à monitoração da tecbnical spccifications. Westcbester: AASM; 2007.
oximetria de pulso, que avalia a Sp0 2 noturna. Não são re- 5. Amcrican Acadcmy of Sleep Mcdicine. The lntcrnational Classi·
comendados como teste diagnóstico para SAOS, mas podem fication of Slecp Disorders: diagnostic and cocling manual. 2nd cd.
ser utilizados para triagem de apoeia do sono em pacientes Westcbester: AASM; 2005.
de alto risco e avaliação do impacto de intervenções terapêu-
ticas como CPAP na oxigenação noturna.
O QUADRO 14.6 mostra alguns achados obtidos com a po-
lissonografia que são importantes para diagnosticar distúr-
Leituras recomendadas
Alves RSC. Potissonografia.ln: Pessoa JHL, Pereira Júnior JC, Al-
bios do sono em adultos.
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José da Silva Moreira
Cláudia Peixôto Fogaça
15
Luiz Carlos Severo
João Carlos Prolla
-+
FIGURA 15.2 Paciente masculino, 47 anos, com dor torácica à esquerda, febre, escarro purulento com mau odor. (A) Lesão escavada com nível
hidroaéreo no segmento posterior do lobo inferior do pulmão esquerdo à radiografia de tórax. (8) Numerosos cocos gram·positivos de diferentes
dimenms e bacilos gram-negativos ao exame direto do escarro (flora mista). Diagnóstico: abscesso pulmonar por germes anaeróbios.
-+
FIGURA 15.3 Paciente masculino, 43 anos, com dor torácica à esquerda, febre, escarro purulento sem mau odor. (A) Bloco de consolidação no
terço médio do pulmão esquerdo à radiog rafia de tórax. (8) Células mononucleares e polimorfonucleares, e ausência de bactérias ao exame direto
(Gram) do escarro. Diagnóstico: pneumonia por Legionella pneumophila (sorologia positiva).
FIGURA 15.4-+ Paciente masculino, 58 anos, com tosse, expectoração purulenta e hemática sem mau odor e perda de peso durante quatro meses.
(A) Lesão escavada, com paredes espessas e focos de disseminação pericavitários no lobo superior do pulmão direito à radiografia de tórax. (B) Pre-
sença de BAAR ao exame direto do escarro (coloração de Ziehi-Neelsen). Diagnóstico: tuberculose pulmonar de reinfecção.
a
FIGURA 15.5-+ Paciente masculino, 48 anos, com tosse, expectoração purulenta, dispneia, perda de peso. (A) Lesões grosseiramente simétricas,
predominando nos terços médios de ambos os pulmões à radiografia de tórax. (B) Microscopia de escarro apresentando leveduras grandes arredon-
dadas, multibrotantes, características de Paracocddioides brasiliensis (potassa com tinta Parker, 40x). Diagnóstico: paracoccidioidomicose.
FIGURA 15.8 -+ (A) Tomografia computadorizada de tórax mostrando massa tumescente, com halo de infiltração periférica, no lobo inferior do
pulm~o direito. (B) Exame citopatológico do escarro (400x). Adenocarcinoma, padr~o acinar.
FIGURA 15.9-+ Exame citopatológico do escarro (400x). (A) Carcinoma de células es<:amosas; grande célula com citoplasma vítreo, núcleos irregula-
res, padrão célula dentro de célula. (B) Carcinoma neuroendócrino de grandes células; grandes nucléolos e dispersão de células.
FIGURA 15.10 ~ (A) Radiografia de tórax mostrando massa na região cernal do pulmão esquerdo, com extensão para o mediastino. (B) Exame
citopatológico do escarro (400x): carcinoma de pequenas células. Cromatina padrão sal e pimenta; grupo com amoldamento celular ("fila
indiana").
servado em espécimes obtidos por biópsia e por aspirados de and distribution in normal voluntccrs. Am J Rcspir Crit Carc Mcd.
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Os exames citológicos diferenciais do escarro ou da se- 10. Courcol RJ, Oamien JM, Ramon P, Voisin C, Martin GR. Pre-
creção nasal podem fornecer ao clínico informações sobre a scncc of alveolar macrophagcs as a critcrion for dctcrmining thc
natureza do processo, em especial quando demonstram nas suitability of sputum speeimcns for bactcrial culturc. Eur J Clin Mi-
secreções a presença de um número aumentado de eosinófi- crobiol. 1984;3(2):122-5.
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A, Elias J, Fishman J, Grippi M, Senior R, Paek A. Fishman's pu!-
Jorge lima Hetzel
16
• Identificação do alergênio, geralmente por detalhada
Introdução história clínica
As manifestações mais comuns de alergia respiratória estão • Demonstração da presença de IgE específica por testes
relacionadas com rinite alérgica e asma. Decorrem de hiper- cut.ãneos ou por métodos in vifro
sensibilidade imediata, reagínica ou de tipo I na classificação • Estabelecimento de uma relação causal entre a exposi-
de Gell e Coombs, mediada por imunoglobulina E (IgE). Po- ção ao alergênio e os sintomas, pela história clínica ou
dem também estar associadas a conjuntivite alérgica, eczema por testes de provocação
e alguns casos de urticária. Um aspecto importante é que os
sintomas dos asmáticos podem estar relacionados com aler-
gia e mecanismos não imunológicos. Por outro lado, muitos Anamnese
pacientes são sensíveis a vários antígenos e seu efeito cumu-
lativo pode ser importante.
(EJ .A~O .
o desenvol~imento da atopiâ depende de umcon, '
~ junto de fatores, como predisposiçao genética e
. interaçao com o meio ambiente de risco, levandÓ
' : à sensibilização : e;~aó: surgimêntõ subsequente da
· doença esp.eclfica:.' · "'
.. ,
, -· •''
Exame físico
O exame fisioo é um método auxiliar na busca de manifesta- O exame citológico diferencial do escarro ou da secre-
ções de doenças atópicas, como asma, conjuntivite alérgica, ção nasal é usado no diagnóstico da alergia respiratória. O
rinite alérgica e eczema atópico. O conhecimento dos acha- achado de ma.is de 5 a 10% de eosinófilos no escarro ou na
dos clínicos das formas de apresentação dessas doenças per- secreção nasal sugere o diagnóstico de alergia respiratória.
mite o enriquecimento das informações e uma certeza maior Entretanto, na vigência de infeoção, pode-se observar ape-
quanto à real causa alérgica da manifestação exibida. nas a presença de neutrófilos.
Dosagem de imunoglobulina Testes cutâneos de hipersensibilidade
E(lgE} sérica imediata
A dosagem de IgE total no sangue periférico, embora possa Os testes cutâneos de hipersensibilidade imediata (mediada
estar elevada na alergia respiratória, não deve ser utilizada por lgE) têm alta sensibilidade quando interpretados à luz
como um marcador específico de doença alérgica individual de sua relação com a história clínica. Constituem o principal
com finalidade diagnóstica. Vários são os fatores que podem método diagnóstico para confirmar a sensibilidade clínica
influenciar os níveis séricos desse anticorpo. Parasitoses in- induzida por grande variedade de alergênios encontrados
testinais e cutâneas, mieloma múltiplo, nefrites intersticiais naturalmente no ambiente. São propriedades importantes
por drogas, síndrome hiper-IgE, aspergilose broncopulmo- dos testes cutâneos para alergia:
nar alérgica, filariose pulmonar, entre outras doenças, po-
dem elevar os níveis séricos totais de IgE. • Identificação da sensibilização alérgica mediada por IgE
O método mais usado na determinação da IgE total é o de maneira pouco invasiva;
ensaio imunossorvente ligado à enzima (ELISA), e os valo- • Boa reprodutibilidade;
res são expressos em unidades internacionais por mililitro. • Confirmação imediata do resultado (20 minutos);
Na avaliação dos resultados, também se deve considerar • Indicação da resposta do paciente aos alergênios avalia-
que os níveis séricos de IgE variam com a idade do indivi- dos;
duo. Sua produção inicia-se em torno da 131 e 141 semanas • Demonstração visual ao paciente da reação determinada.
de vida intrauterina, mas, ao nascimento, seus níveis são
quase não identificáveis. Seus valores máximos ocorrem Além da indicação para diagnóstico de doença atópica,
entre 7 e 8 anos e começam a decrescer após os 60 anos. os testes cutâneos também são úteis na orientação terapêu-
Embora a gravidade dos sintomas se correlacione bem com tica das medidas profiláticas que devam ser tomadas. Cons-
a contagem de eosinófilos sanguíneos, o mesmo não ocorre tituem contraindicação alto risco de anafilaxia, história de
em relação aos níveis de IgE. Essas considerações permitem episódio anafilático recente, uso de medicação que possa in-
que se conclua que a dosagem de IgE sérica total tem sensi- terferir no tratamento de eventual anaf!.laxia e doença cutâ-
bilidade e especificidade baixas no diagnóstico de alergia.' nea disseminada.5
Algumas situações podem determinar a ocorrência de
resultados falso-negativos:
Métodos para avaliar lgE específica a • Idade inferior a 3 anos ou superior a 70 anos;
antígenos • Uso de anti-histaminicos;
• Material com concentração inadequada de antígeno;
In vivo
• Erro técnico na introdução de antigenos;
• Testes de provocação nasal ou brônquica • Paciente sob imunoterapia;
• Testes cutâneos de hipersensibilidade imediata • Dermatite a tópica grave.
In vilro
Seleção dos antígenos
• Imunoglobulina E especifica Tendo em vista que a realização dos testes cutâneos objeti-
va identificar a presença ou não de atopia, e não os vários
antígenos aos quais o paciente possa ter sido sensibilizado,
não é necessária a realização de bateria muito ampla. Dessa
Testes de provocação maneira, é suficiente o emprego de 4 a 5 grupos de antígenos
Os testes de provocação por inalação de alergênío permitem mais comuns no ambiente, o que permite uma sensibilidade
o diagnóstico especifico da reatividade das vias aéreas para do método superior a 90%. Considera-se adequada a reali-
determinado estímulo. A necessidade de cuidados especiais zação do teste cutâneo com os seguintes antígenos:
quanto à dose do antígeno inalado e outras dificuldades ope-
racionais do método os tornam pouco usados. Por isso, os • Poeira domiciliar;
testes de provocação são utilizados quase exclusivamente no • Ácaros (D. pteronyssinus, D. farinae, B. tropicalis );
nível experimental. Também deve ser considerada a possibi- • Fungos do ar (Aspergillus, Penicillium, Cladosporium);
lidade de desencadeamento de crise importante durante a • Pólens (L. multiflorum e outras);
realização do exame. Isso implica a necessidade de executá- • Lã.
-lo apenas em nível hospitalar.
A correlação entre o teste cutâneo, a imunoglobulina es- Quando há suspeita clínica de aspergilose broncopul-
pecifica e o teste de provocação depende do alergênio e do monar alérgica, testam-se, também, antígenos de Asper-
grau de sensibilização, sendo maior quando a reação cutâ- gillus. Nesse caso, desejando-se realizar a leitura imediata
nea for fortemente positiva. (15 a 20 minutos) e tardia (6 a 12 horas), prefere-se a apli-
cação pela técnica intradérmica, que favorece, principal- • Deve ser realizado em local onde se tenha acesso imedia-
mente, esta última leitura. to a profissionais, equipamentos e medicamentos para
atendimento de emergência.
Técnica
Teste por puntura (prick test) Dosagem de imunoglobulina E(lgE)
A região preferencial para a sua realização é a fossa cubital
do antebraço, logo após aotissepsia com álcool etílico a 70%, específica
deixando-o evaporar completamente. Com um puntor plásti- A mensuração de IgE específica no sangue foi introduzida
co ou uma lanceta, realizam-se as punturas no local desejado, com a técnica do radioimunoalergossorbente, daf ser am-
com um espaçamento de aproximadamente 3 em de distãocia plamente conhecida como RAST. As técnicas laboratoriais
uma da outra. Coloca-se uma gotícula do extrato desejado, e modernas são outras e, por isso, esse nome não é adequado
a leitura é feita em 15 a 20 minutos. Como controle positivo, c não deve mais ser usado. Na maioria das vezes, a anam-
usa-se histamina; como controle negativo, solução salina ou o nese e o teste cutâ.n eo aos antígenos inaláveis fornecem os
diluente empregado para conservação do extrato. dados necessários para o diagnóstico da doença atópica e o
Para a leitura dos resultados, alguns autores sugerem planejamento da terapêutica. Devido ao tempo de execução,
que deva ser considerado o maior diâmetro da pá pula, in- custo e baixa sensibilidade para alfuns alcrgênios, deve ser
dependentemente da posição; outros recomendam que se reservado para situações especiais:
considere a média do maior e o menor diâmetro. Em qual-
quer dos critérios citados, será considerada positiva a pápula • Uso de anti-histamínicos, antidepressivos tricíclicos e
maior do que 3 mm. Outro critério é considerar o controle medicamentos que interferem na rcatividade ao teste
negativo zero e o positivo ( + + + ). Positivo (+)caracteriza- cutâneo e que não possam ser interrompidos.
-se por eritema maior do que o controle negativo, e positivo • Eczema, derrnografismo ou alterações de pele que invia-
(++)por eritema e pápula menores do que o controle posi- bilizem o teste cutâneo.
tivo. Caso a pá pula seja maior do que o controle positivo ou • Após episódio de anafilaxia.
com pseudópodes, será positivo ( + + + + ). • Risco de reações sistêmicas ao teste cutâneo.
O resultado pode ser falso-positivo quando ocorrer apli- • Thste cutãoeo com resultado duvidoso.
cação excessiva de antlgeno, reação traumática pelo teste, • Falta de condições fisicas ou mentais para realizar o teste
interpretação imprópria dos resultados, falhas dos controles cutâneo.
positivos ou negativos ou antígeno muito concentrado.
Podem ocorrer falso-negativos com aplicação de pouco
ant.igeno, erro técnico na introdução de antígenos, uso de
fármacos que bloqueiam as reações (anti-histamlnicos, fár- Referências
macos adrenérgicos e teofilina) e pele atrófica ou edema- 1. Hetzel JL, Hetzel MP. Avaliação alcrgológj<:a em asma. ln: Cor-
ciada. rêa da Silva LC, Hetzel Jl.. Asma brônquica: manejo clínico. Porto
Alegre: Anmcd; 1998.
Complicações como exagero da reação cutânea ou aoa-
filaxia são raras. 2. Cruz AA, Oliveira JC, Lima GS. lovcstigação de atopia em pa-
cientes com doenças das vias a6reas. In: Sociedade Brasileira de
Pneumologia e r.siologia. Prática pneumológica. Rio de Janeiro:
Teste intradérmico Guanabara Koogan; 2010.
O teste cutâneo aplicado intradermicamente é cerca de 100
a 1.000 vezes mais senslvel do que o teste por puntura ou 3. American Academy of Allcrgy, Asthma & lmmunology. Overview
of allcrgie diseascs. Milwaukee: The American Academy of Allergy,
cscarificação, o que quase elimina a possibilidade de falso-
Asthma and lmmuoology; 2000. The Allergy Repor!, v. 1.
-negativos. Uma vez que, com esse método, há maior pos-
sibilidade de ocorrência de reações indesejáveis intensas, é 4. Cruz AA, Campos CAH, Jacob CMA, Sarinho ESC, Sahano E,
indispensável que seja precedido de uma anarnnese precisa e Castro FFM, et ai. U Consenso Brasileiro sobre Rinites. Rev Bras
que se esclareça o grau de sensibilidade individual. Alergia lmunopatol. 2006;29(1):29·58.
É importante que se reconheça que o teste por puntura 5. Noite H, Kowal K, Dul3uskc L. Ovcrvicw of sldn testing for al-
é realizado em menor tempo, com mais segurança, menor lergie diseasc [Internet]. Waltham: Up'lbDatc, c2011 (capturado
custo e menos desconforto para o paciente. em 21 jan. 2011]. Dispon(vel em: http:/fwww.uptodate.com/con-
tents/overview-of-skin·tcsting-for-allcrgic-discasc?souree• scarch_
result&selcctedTitle~ 1-150.
Recomendações
6. Joint Task Force on Praetiee Parameters, American Academy of
• O teste cutâneo deve ser realizado por profissional capa-
Allergy, Asthma aod lmumunology, American College of Allergy,
citado (médico ou outro profissional da saúde com rigo- Asthma and lmmunology; Joint Couocil o f Allergy, Asthma and lm·
rosa supervisão médica). munology. Thc diagnosis and management o f anapbylaxis: an upda·
• Não deve ser aplicado em pacientes com manifestações tcd practice parameter. J Allergy Oin lmrnunol. 2005;1 t5(3 Suppl
agudas de alergia. 2):5483-523.
Jorge lima Hetzel
17
Os indiVÍduos reatores fortes são aqueles habitualmente
Introdução referidos como positivos. Isso indica que deve ter havido a
O teste tuberculinico (TI') é um método diagnóstico da tu- primoinfecção tuberculosa em algum momento do passado
berculose, sendo indicado nos pacientes com suspeita de próximo ou remoto. A maioria desses reatores é de pessoas
doença e contatos não vacinados com bacilo de Calmette- infectadas que nunca evoluem para a doença ativa, pois se
-Guérin (BCG). O uso rotineiro do TI pode contribuir com estima que somente 5 a 10% dos infectados adoeçam. Nos
informações epidemiológicas que auxiliem na elaboração do portadores de doença ativa, o TI é positivo na quase totali-
1
Programa de Controle da Thberculose. dade. Em crianças, particularmente abaixo de quatro anos,
sem BCG prévio, um TI positivo significa provável infecção
recente, o que nessa faixa etária aumenta a possibilidade de
Reação de Mantoux haver doença no presente ou em futuro próximo.'
Nos indiVÍduos não reatores, por outro lado, é remota
O TI pela técnica de Mantoux é a introdução intradérmica, a etiologia tuberculosa de lesões pulmonares detectadas ra-
com seringa e agulha, de 0,10 mL de tuberculina, por con- diologicamente, tanto em adultos quanto em crianças.
venção na face anterior do antebraço esquerdo. A leitura do As reações fracas ao teste tuberculínico são valorizadas,
resultado é feita após 48 a 72 horas, medindo·se em milí- para fins práticos, apenas em crianças não vacinadas com
metros o tamanho do diâmetro transverso da enduração em BCG e em contato com casos de tuberculose ativa no do-
relação ao menor eixo do antebraço. micilio, com vistas à quimioprofilaxia. Essas reações tam-
bém são atribuídas, em certas áreas geográficas, a outras
micobactérias. Os portadores do vírus da imunodeficiência
humana (H IV) e outros portadores de imunodeficiência
importante são considerados infectados pelo bacilo da tu-
berculose quando apresentam enduração igual ou maior do
que5 mm.
Há uma série de situações em que o TI pode ser nega-
tivo em pessoas infectadas, como antígeno fora do prazo
de validade, erro técnico de aplicação ou leitura, anorma-
lidades tegumentares, disfunção linfocitária (p. ex., sarcoi-
dose, linfomas, outras neoplasias malignas, corticoterapia,
uso de imunossupressores e sindrome de imunodeficiência
adquirida).
O TI também pode ser negativo na fase aguda de serosite No caso de pessoas que têm contato com pacientes com
tuberculosa (sobretudo derrame pleural e meningite), na tu- tuberculose ativa, e com um primeiro TI negativo, sugere-se
berculose hemática e em casos muito avançados de tuberculo- sua repetição em 8 a 12 semanas, tendo em vista que o risco
se pulmonar, em que haja mau estado geral. Ao contrário do do desenvolvimento de doença ativa é maior nos converso-
que se divulgava antes, sabe-se que a gestação não interfere res recentes à tuberculina. Este risco está relacionado com
na reatividade tuberculínica. O grau de hipersensibilidade tu- o desenvolvimento da imunidade adquirida, e estima-se que
berculínica pode declinar com o passar do tempo, sendo pos- seja o seguinte: 5
sível que a pessoa se torne não reator a após períodos mais ou
menos longos. No entanto, como o bacilo tuberculoso persiste • Em menores de 1 ano de idade: 50%
nos tecidos da maioria dos infectados, a hipersensibilidade • Em crianças entre 1 e 2 anos: 12 a 25%
tuberculínica pode estar presente mesmo após muitos anos • Em crianças entre 2 e 5 anos: 5%
da primoinfecção. Os não reatores e em especial os reatores • Em crianças entre 5 e 10 anos: 2%
fracos podem tornar-se positivos depois de repetidas aplica- • Em maiores de 10 anos: 10 a 20%
ções do TI sem que isso signifique, necessariamente, booster,
ou seja, a exacerbação de uma reação anteriormente tênue?
Em indivíduos infectados e bigidos, reações exuberan-
tes, com grandes endurações, flictenas ou úlceras, sugerem a Referências
1. Melo FAF, Rodrigues OS, Figueroa F. Teste tubcrculinioo. In: So-
presença de hiperergia tuberculínica ou, pelo menos, maior
ciedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Prática pneumo16-
probabilidade de evolução para tuberculose-doença.
gica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2010.
2. Targeted tubcrculin testing and treatment of latent tuberculosis
infection. This official statement of the American Thoracic Socic-
Indicações ty was adoptcd by thc ATS Board of Directors, July 1999. Thls is a
Joint Statement of the American Thoracic Society (ATS) and lhe
O TI discriminando entre infectados e não infectados pelo
Centers for Disease Control and Prevcntion (CDC). This statcment
bacilo da tuberculose, isoladamente, define a infecção, e não was cndorscd by thc Council o f the Infectious Diseascs Society of
o adoecimento. America. (IDSA), September 1999, and the scctions of this statc-
Como indicador da situação epidemiológica da tubercu- mcnt. Aro J Crit Care Mcd. 2000;161(4 Pt 2):S221-47.
lose em determinada população, é utilizado para a medição
3. Comissão de Tuberculose da SBPT. ni Diretrizes para Tubercu-
do risco anual de infecção, considerado um importante indi-
lose da Sociedade Brasileira c Pneumologia c Tisiologia. J Brasil
cador epidemiológico que mede a porcentagem de infecta- Pneumol. 2009;35(10):1018-48.
dos evolutivamente'
O TI é útil sobretudo como meio diagnóstico auxiliar 4. Gutierrez RS, Ott WP, Corrêa da Silva LC, Hctzel 1L, Pioon
nas situações em que se indica teste terapêutico e como im- PD, Porto NS. Thberculosc. In: Corrêa da Silva LC. Compêndio de
portante rastreador de infectados entre os contatos diretos pncumologia. 2. ed. São Paulo: Byk-Procienx; 1991. p. 539-79.
de baciliferos. No entanto, assim como no diagnóstico indivi- 5. Marais BJ, Gie RP, Schaaf HS, Bcyers N, Donald PR, Starkc JR.
dual, por não ser teste isento de resultados cruzados, um tes- Childhood pulmonary tuberculosis: old wisdom and new challengcs.
te positivo carece muitas vezes de discriminação, pois pode Aro J Respir Crit Care Mcd. 2006;173(10):1078-90.
significar infecção tanto pelo bacilo da tuberculose quanto
por outras micobactérias, ou mesmo pelo bacilo vacina!
(Calmette-Guérin).
~ ATENÇÃO
Considerando que o percentual de vacinados nos pri-
meiros meses de vida cresce cada vez mais e que a
vacinação confere reatividade indistinguível da pro-
vocada pela infecção natural, a valorização de um
TI positivo deve ser avaliada muito criteriosamente.
Dessa forma, por exemplo, é impossfvel utilizar o TI
para estudos do risco anual de infecção em popula-
ções vacinadas com o BCG e, nos casos individuais,
deve-se ter presente que um TI positivo também
pode ser devido à vacinação anteriormente aplicada .
Marcelo Tadday Rodrigues
18
to lógicas? As isoformas constitutivas - neuronal (NOSl) e
Introdução endotelial (NOS3) -são ativadas pelos íons cálcio e produ-
A análise do ar expirado tem uma longa tradição na medi- zem pequenas quantidades de NO, exercendo presumivel-
cina, desde a detecção pelo olfato de componentes voláteis mente um papel na regulação local, como neurotransmissor
- como amônia, acetona e compostos sulfúricos em diabetes (NOSl), e na regulação do fluxo sanguíneo (NOS3). A iso-
e em insuficiência renal e hepática, - até o uso de métodos forma induzível (NOS2) é ativada por estímulos inflamató-
analíticos sensíveis para a separação e identificação de subs- rios ou infecciosos e produz grandes quantidades de óxido
tâncias voláteis, como a cromatografia de gás e a espectro- nítrico, independentemente do influxo de íons cálcio. Ape-
metria de massa. Uma das substâncias mais estudadas nos sar dessa distinção entre as formas constitutivas e induzível,
últimos 30 anos tem sido o óxido nítrico, através da medida sabe-se que as formas constitutivas podem ser induzíveis, e
de sua fração exalada (~0). Apesar disso, e de sua cres- que a forma induzível pode ser constitutivamente expressa
cente utilização na prática clín ica, o papel da medida da em determinadas condições.
FEso nas doenças respiratórias ainda não está completa- A óxido nítrico sintetase endotelial (NOS3) é expressa
mente determinado. nas células endoteliais das circulações brônquica e pulmo-
Inicialmente conhecido como um poluente ambiental, nar e tem um papel de regulação do fluxo vascular. Também
presente na fumaça do cigarro, 1 produzido por motores a é expressa nas células endoteliais alveolares e nas células
combustão, e conhecido também como agente destruidor epiteliais da via aérea em toda a sua extensão. Ela parece
da camada de ozônio, o óxido nítrico (NO) teve, a partir da reduzir a exsudação de plasma na via aérea, e sua forma epi-
década de 1980, sua reputação modificada quando pesquisas telial parece regular o batimento ciliar e, assim, o clearance
mostraram tratar-se de uma molécula essencial na fisiolo- mucociliar. Em modelos de asma, uma NOS3 inativa parece
gia do corpo humano, em especial do sistema respiratório. contribuir para a hiper-responsividade das vias aéreas.
Posteriormente, descobriu-se que poderia ser detectado no A outra forma constitutiva da NOS, a NOS neuronal
ar exalado,2 abrindo um campo de pesquisa promissor no (NOSl), está localizada nos nervos colinérgicos das vias aé-
acompanhamento das doenças pulmonares inflamatórias. reas e é mediadora da broncodilatação inibitória neural não
O óxido nítrico endógeno tem um papel fundamental na adrenérgica não colinérgica, atuando como um antagonista
regulação da função da via aérea e apresenta efeitos tanto funcional da acetilcolina. Thmbém é expressa nas células epi-
benéficos como deletérios. É produzido continuamente nas teliais das vias aéreas e nos pneumócitos tipo I, e há evidên-
vias aéreas a partir da conversão da L-arginina em L-citru- cias de que sua expressão e atividade estejam aumentadas na
lina por três isoformas da enzima óxido nítrico sintetase periferia dos pulmões de pacientes com doença pulmonar
(NOS), que são reguladas e expressas de maneiras distintas obstrutiva crônica (DPOC) como resultado do estresse oxi-
nas vias aéreas, além de exercer diferentes funções fisiopa- dativo.
A forma induzível da enzima óxido nítrico sintetase que detecta o NO exalado em apenas um fluxo, 50 mL.s·'.
(NOS2) é encontrada nas células do epitélio respiratório de Os analisadores de quimioluminescéncia, que são capazes de
pacientes com asma e é reduzida com o uso de corticoides medir a FENo em diferentes fluxos expiratórios, possibilitam
inalatórios. Também é encontrada nas pequenas vias aére- estimar tanto a CA" 0 quanto o J' ,.NO. A potencial utilidade
as e na periferia do pulmão de pacientes com DPOC. O es- de medir e determinar o sítio predominante da inflamação
tresse oxidativo gera ânions superóxidos e, em combinação eosinofllica nas vias aéreas é o que mantém o interesse pelo
com NO, resulta na formação de espécies altamente reativas estudo da dinâmica das trocas de NO.
de oxigênio - peroxinitrito - o qual está aumentado no ar
condensado exalado de pacientes com DPOC. Inibidores
seletivos da NOS2 reduzem a FENo em asmáticos e mesmo
em voluntários normais, mas apresentam menor efeito em
Principais aplicações da medida da FENo
pacientes com DPOC, sugerindo que o NO periférico au- Apesar de poder ser utilizada em condições tão diversas
mentado nesses pacientes seja derivado das isoformas cons- quanto discinesia ciliar, transplante pulmonar, DPOC,
titutivas, NOSl e NOS3. hipertensão pulmonar e fibrose cística, é em pacientes com
asma que a ~o é mais estudada.
O interesse por aparelhos portáteis que pudessem ser uti- flete o aumento no tamanho da via aérea à medida que
lizados em clínicas e mesmo a domicílio levou ao desen- a criança cresce. A maioria dos estudos com adultos,
volvimento de sensores eletroquímicos. Esses analisadores contudo, não demonstra efeito da idade sobre o óxido
mostram boa concordância com o método de quimiolumi- nítrico exalado.
nescência, e seu uso vem crescendo, com vários centros dis- • Peso: os dados são conflitantes quando se estuda a asso-
ciação entre peso ou índice de massa corporal e ~<>"
ponibilizando a dosagem de FE:.0 em seus laboratórios de
Asmáticos que estão acima do peso podem apresentar
função pulmonar com esses aparelhos portáteis. No Brasil,
está disponível o NIOX Mino®, da empresa sueca Aerocrine um perfil inflamatório diferente, já que a obesidade foi
(FIGURA 18.1).
relacionada com uma FE,0 diminuída em pacientes com
asma leve, moderada, grave e asma de dificil controle.
• Sensibilização alérgica: a sensibi.lização de lgE está as-
Espectrometria alaser sociada a aumento de FEs0 , mas o resultado é variável,
Esse método, utilizado em pesquisas, não é alternativa para pois o efeito da atopia no aumento da FENo depende do
uso clínico até o momento. grau de sensibilização da lgE e do grau de exposição a
alérgenos.
• Função pulmonar: estudos mostram pouca ou nenhuma
associação entre VEF, e FEso·
Fatores relacionados com o paciente que • Tabagismo atual: está associado a uma redução de 40 a
4
influenciam a FENo 60% nos níveis de FE, 0 • Essa redução parece estar cor-
relacionada com o índice tabágico.
• Sexo: alguns estudos relatam uma associação entre sexo • Tabagismo prévio: alguns estudos sugerem que o taba-
feminino e menores valores de FE,.0 • Essa diferença gismo prévio pode estar relacionado com uma redução
pode ser explicada por uma menor produção de NO en- na FE,0 .
dógeno nas mulheres (sugerida por menores concentra- • Manobras espirométricas: as diretrizes recomendam fa-
ções plasmáticas de nitratos). Outra explicação seria a zer as medidas de FE,.0 antes do exame espirométrico,
menor área de superficie das vias aéreas condutivas em pois alguns estudos mostram que a espirometria pode le-
relação ao tamanho corporal, levando a uma menor ca- vara uma pequena diminuição nos níveis de FE,.0 (o que
pacidade de difusão de NO. talvez não tenha importância na rotina clínica).
• Exen:ício fisico: os dados são conflitantes a respeito do
efeito da atividade fisica nos níveis deFEso. mas parece
Valores de referência e interpretação
haver uma diminuição. Recomenda-se, portanto, para dos resultados
fins de padronização, que o paciente abstenha-se de
Existe grande variação nos níveis de FE..o em pacientes cli-
exercício fisico por uma hora antes do exame.
nicamente estáveis, da mesma forma que com a função pul-
• Ingestão de alimentos r icos em nitratos: isso leva a
monar, além dos diversos fatores técnicos e individuais que
um aumento do óxido nítrico exalado, que pode ser de
podem afetar essas medidas. Para ensaios cllnicos avaliando
mais de 150% após a ingestão de nitrato corresponden-
a FEso. uma possibilidade seria a determinação de um nível
te a 200 g de espinafre, e tal efeito pode durar até 15
ótimo individual, a partir de um curso de corticoide oral, e
horas após a ingcsta. Recomenda-se evitar alimentos acompanhando a partir desse ponto. Outra forma seria ava-
ricos em nitrato pelo menos 24 horas antes do exame.
liar a variação a pa.r tir de um valor basal (TABELA 18.1). De
Uma alternativa, caso o paciente tenha ingerido gran- modo geral, considera-se:
de quantidade de nitrato, seria enxaguar a boca com
clorexidina, que reverte o efeito do nitrato no óxido
Baixos ( <5 ppb)
nítrico exalado. • Discinesia ciliar primária (restar NO nasal)
• Variação diurna: alguns estudos mostram um aumento de • Fibrose cística
cerca de 15% nos valores obtidos à tarde quando com- • Doença pulmonar da prematuridade
parados aos da manhã, possivelmente relacionados com a
ingesta de nitratos na dieta durante o dia. Outros estudos, Normais (5 a 25 ppb)
contudo, não mostram nenhuma variação diurna. • Se sintomático, considerar diagnóstico alternativo:
• Asma neutrofl1ica
• Hiperventilação/ansiedade
Técnica de medida da FENo • Disfunção de corda vocal
• Refluxo gastresofágico
Diversos fatores influenciam a medida da fração exalada • Rinossinusite
de óxido nítrico; por essa razão, diretrizes para padronizar • Doença cardíaca
a medida foram publicadas pela American Thoracic Society • Em crianças, pensar também em:
(ATS) e pela European Respiratory Society (ERS). • Alterações otorrinolaringológicas
• lmunodeficiências
1. O paciente deve inalar, através do analisador, ar livre de • Se assintomático e em t ratamento:
NO até ou próximo à capacidade pulmonar total (CPT). • O paciente é aderente ao tratamento
2. Imediatamente, deve iniciar a expiração no analisador • Considerar redução de dose ou suspensão do anti-infla-
(sem segurar o ar). matório
3. O fluxo deve ser constante (o padrão é 50 mL.s·') e deve
durar de 6 a 10 segundos. Intermediários (25 a 50 ppb)
4. Um platô é atingido no ftnal da expiração, e os últimos • Interpretação baseada na apresentação clínica:
três segundos são utilizados para calcular o nível de NO • Se sintomático e em uso de terapia anti-inflamatória,
exalado. considerar:
• Infecção como causa da piora
As diretrizes da ATS/ERS 1 recomendam duas medidas, • &posição a alérgeno
e uma terceira se houver diferença maior do que 10% entre • Aumento de dose
as duas primeiras. Uma medida, contudo, pode ser suficiente • Acréscimo de beta-agonista de longa ação
na prática cllnica de rotina. • Em crianças, verificar adesão e técnica de inalação
Escarro induzido e DPOC Brightling CE. Clinicai applieations of induced sputum. Chest.
2006;129(5):1344-8.
A DPOC costuma estar associada a um aumento dos neutró-
filos inversamente proporcional à taxa de declínio do VEF1, Crapo RO, Jcnsen RL, Hargreave FE. Airway inllammation in
o que sugere o papel do processo inflamatório neutroffiico COPO: pbysiological outcome measures and induced sputum. Eur
nas pequenas vias aéreas na progressão da doença. Até cerca Respir J Suppl. 2003;41:19s-28s.
de 40% dos pacientes com DPOC apresentam mais de 3% Fireman E. lnduced sputum as a diagnostic tactic in pulmonary
de eosinófilos no escarro, e esses pacientes são indistinguí- discascs.lsr Mcd Assoe J. 2003;5(7):524-7.
veis cllnica e funcionalmente daqueles sem eosinofilia.
Holz O, Kips J, Magnusscn H. Update on sputum methodology. Eu r
A presença de eosinofilia no escarro - assim como na Respir J. 2000;16(2):355-9.
tosse crônica - seria preditora de resposta ao tratamento
com corticoides inalados e/ou orais. Estudos recentes mos- Jayaram L, Parameswaran K, Scan MR, Hargrcavc FE. lnduoed
traram que o tratamento objetivando reduzir a eosinofilia no sputum ceU counts: their usefulness in clinicai practioe. Eur Rcspir
escarro com corlicoides em pacientes com DPOC levou a J. 2000;16(1):150-8.
uma redução nas exacerbações exigindo internação hospita- Kips JC, lnman MD, Jayaram L, Bel EH, Parameswaran K, Pixziebi.
lar em comparação com o manejo convencional, com base ni MM, et ai. The use of induced sputum in clinicai trials. Eur Respir
em sintomas, porém mais estudos são necessários para com- J Suppl. 2002;37:47s-50s.
Magnusscn H, Holz O, Stcrk PJ, Hargreave FE. Noninvasivc Rodway GW, Choi J, Hoffman lA, Sethi J M. Exhalcd nitric oxide
mcthods to mcasurc airway inflammation: futurc considerations. in thc diagnosis and managcment of asthma: clinicai implieations.
Eur Rcspir J. 2000;16(6):1175-9. Chron Rcspir Ois_ 2009;6(1):19-29.
Pavord ID, Sterk PJ, Hargreave FE, Kips JC, Inman MD, Louis R, Silkoff PE, Trudeau JB, Gibbs R , Wenzel S. The relationship of
ct ai. Clinicai applications of asscssment of ailway inflammation induced-sputum inflammatory cells to BAL and biopsy. Chcst.
using induccd sputum. Eur Rcspir J Suppl. 2002;37:40s-3s. 2003;123(3 Supp1):371S-2S.
PauloJoséZimermannTeixeira
Spencer Marcantonio Camargo
20
Adalberto Sperb Rubin
JoséCarlos Felicetti
Introdução Indicações
A broncoscopia é um procedimento com fins diagnósticos e A broncoscopia pode ser utilizada com finalidades diagn6s-
terapêuticos que permite a visualização e o estudo da árvore ticas ou terapêuticas. O QUADRO 20.1 demonstra as principais
traqueobrônquica. A primeira broncoscopia foi realizada na indicações da broncoscopia diagn6stica, e o QUADRO 20.2, as
Alemanha em 1987 por KiHian, que investigou a traqueia e indicações mais frequentes.
os brônquios principais com o uso de um laringosc6pio. Até
1970, a broncoscopia rígida foi o único instrumento utilizado
para avaliar as vias aéreas, quando então o broncosc6pio fle-
xível foi introduzido por Shigeto Ikeda. Contraindicações
Atualmente, a broncoscopia flexível é o procedimento Não existe uma contraindicação absoluta para a realização
invasivo mais utilizado pela pneumologia. Já a broncoscopia de broncoscopia flexível, devendo ser levadas em conta a
rígida tem sido utilizada como método de escolha para pro- condição do paciente e a necessidade de realização do exa-
cedimentos com laser, dilatação de estenoses traqueobrôn- me. Pacientes com cardiopatia isquêrnica severa, relato de
quicas, colocação de próteses endobrônquicas, retiradas de
corpo estranho e para o manejo da hemoptise maciça.
0 ATENÇÃO -
-
Tosse
Hemoptise
- Radiografia de tórax anormal
- Lavado broncoalveolar
A broncoscopia é um procedimento seguro com bai- - Cornagem diagnóstico:
xa morbidade (0,1 a 2,5%) e muito baixa mortalidade - Linfadenomegalia - Infecções pulmonares
( <0,05%) e, desde sua introdução, algumas modifi- intrator~cica ou massa - Doença pulmonar difusa
cações ocorreram. A substituição da fibra óptica por - Carc.inoma brônquico - Queimadura quimica
videobroncoscopia, a utilização da ultrassonografia - Carc.inoma metast~tico e térmica da ~rvore
para a realização da punção transbrônquica, a bron- - Tumores mediastinais e traqueobrônquica
esof~gicos - Trauma torácico
coscopia de autofluorescência e, mais recentemente,
- Corpo estranho - Paralisia de corda vocal
a broncoscopia de alta magnificação e a broncosco-
- Estenoses traqueobrônquicas - Paralisia diafragmática
pia tomográfica de coerência óptica são novas tec- - Fistulas traqueoesof~gicas
nologias para diagnóstico que, de forma progressiva, - Fístulas broncopleurais
estão sendo incorporadas na prática clinica.
QUADRO 20.2 ~ Indicações mais frequentes para broncoscopia• QUADRO 20.3 ~ Fatores associados ao risco de complicações da
broncoscopia
Massas, nódulos, lesões suspeitas ou c.\ncer 96,4%
- Não cooperação do paciente - Asma grave
Hemoptise ou sangra~nto 81,1% - Pessoal não treinado - Coagulopatia grave
- Material não adequado - Obstru~ traqueal
Pneumonia ou 0111ra infec~ 65,1% - Angina instávd signôficativa
------------------
Doença pulmonar difusa em imunocompetente 62,1%
- Arritmias não controladas - Ventilaçao mec.\nica
--------- - Hipoxemia refrat.!ria - Prtssao ellj)iratória final
- EnfiSellla bolhoso grave positiva
Broncoscopia terapfutica para atelectasia loba rou 56.4% - 81ópsia pulmonar
segmentar
broncoscópica
Tosse ou sibilo 23.4% - Proced1~nto broncoscópico
prolongado
Paciente imunocomprometido 15.4%
Lavado brónquico Cultura para micobactérias, fungos, viroses, e coloração para pneumocistose
Lavado broncoalveolar Cultura de todos os organismos, especialmente para identificação de mico bactérias, fungos,
citomegalovlrus, outras viroses e coloração para Pneumocystis jirovecii
ES<ovado brónquico não protegido Colorações para mico bactérias, fungos, P. jirovecii e viroses
Biópsia endobrônquica 1. lesões da mucosa causadas por micobactérias, fungos, protozoários, etc.
2. Remoção de lesões obstrutivas respon.sáveis por infecções
3. Drenagem de abscesso pulmonar
Aspirado transbrônquico por agulha 1. Colorações e cultura de linfonodos extrabrônquicos para identificação de micobactérias e fungos
2. Drenagem de cisto broncogênico e instilação de agente esclerosante
Broncoscopia rígida e flexível Inserção de prótese traqueobrônquica para tratar obstrução causada por infecções, como tuberculose ou
histoplasmose
Quando não se observam lesões na radiografia de tórax,
os sítios preferidos para execução do LBA são a língula e o
lobo médio. Nos lobos inferiores ou mesmo nos lobos supe-
riores, o retorno do material lavado proveniente deles é signi-
ficativamente menor do que nos demais segmentos. Em doen-
ças pulmonares difusas, ambos os pulmões devem ser lavados.
Infundem-se, em média, cinco allquotas de 20 mL de
soro fisiológico em cada segmento, embora determinados
grupos o façam com aüquotas de 50 a 60 mL por infusão,
com coleta imediata do fluido mediante pressão de 50 a 100
Thrr, com a mesma seringa de infusão. Como regra, obtém-
-se de 40 a 60% do volume administrado (FIGURA 20.1), com
viabilidade das células superior a 80% (FIGURA 20.2). Pelo FIGURA 20.3 ~ lavado broncoalveolar de má qualidade, contaminado
menos 25 mL de material devem ser resgatados. O volume por c~ulas da orofaringe.
rec:uperado é menor em fumantes, idosos e pacientes subme-
tidos à anestesia geral para o procedimento. É usada solução
salina isotônica à temperatura ambiente ou, preferencial-
mente, aquecida a 3'?C. O soro pré-aquecido auxilia a evitar (FIGURA 20.3). Portanto, esse material deve ser separado e
tosse e broneospasmo, pode aumentar o volume recuperado examinado como amostra "brõnquica", ou mesmo despre-
e dar maior rendimento da eelularidade. Não se deve ultra- zado. O lavado não será válido para o diagnóstico se houver
passar 3 ml/kg (máximo de 300 mL). abundante secreção purulenta, se o fibrobroncoscópio não
A primeira aüquota é uma amostra da via aérea anterior se mantiver encastoado durante todo o procedimento e se
à superflcie alveolar do lobo ou segmento pulmonar ana- menos de 40% do material vier a ser recuperado. Uma das
lisado (com maior número de polimorfonucleares e maior vantagens de se utilizar a seringa para aspirar alíquotas se-
possibilidade de contaminação por células da orofaringe) paradas é que, caso o broncoscópio saia do local onde estava
eneastoado, o material coletado não se perderá, o aparelho
poderá ser reposicionado e novas aüquotas serão coletadas.
O LBA recuperado deve ser armazenado a 40C e enviado
para o laboratório assim que possível. A análise de material
deve ser efetuada em laboratório experiente com manejo
adequado dos espécimes, padronização das rotinas e nor-
matização dos valores de referência para interpretação dos
resultados (FIGURA 20.4).
As qualificações do operador, o preparo do paciente e
as precauções de segurança são as mesmas indicadas para a
fibrobroncoscopia.
Constituição do material
Celularidade
AGURA 20.1 ~ Aspecto macroscópico do lavado broncoalveolar. Deve
ser recuperado mais de 40% do que foi injetado, Mpumoso e de colo-
Nos indivíduos saudáveis não fumantes, os macrófagos corres-
raç.\o opalescente. pondero a 88 a 95% do total de células recuperadas, com os
•
••
• •
•
'-• •
• ,'
•
FIGURA 20.4 ~ lavado broncoalveolar demonstrando c~ula.s de ade-
FIGURA 20.2 ~ lavado broncoalveolar ele boa qualidade. noc.lrcinoma br6nquico.
linfócitos em segundo lugar, com menos de 15%, e o restante senta limitado va.lor para diagnóstico de lesões pulmonares
sendo constitufdo por diversas outras linhagens celulares. Em periféricas, como no caso de neoplasias isoladas. Pode ser
crianças, o percentual de neutrófilos é maior. Os macrófagos realizado em pacientes com infiltrados pulmonares, naque-
são oriundos da medula óssea e atuam na defesa contra o~ga· les com síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) e
nismos e antfgenos depositados na superficie alveolar, além em pacientes imunoincompetentes ou em ventilação mecâ-
de neutralizarem enzimas proteolítieas. Os linfócitos, em sua nica com lesões pulmonares não diagnosticadas.
maioria, são originários dos tecidos linfoides brônquicos e
linfonodos, com o restante proveniente da circulação. São,
principalmente, células de "memória», com as células Tem Segurança, contraindicações e complicações
maioria e a relação CD41CD8 de cerca de 1,8:1. A fibrobronc:oseopia com LBA é um procedimento rápido
Fumantes normais apresentam uma contagem do total e seguro quando efetuado em um paciente adequadamente
de células 5 a 10 vezes maior do que não fumantes, encon· preparado, por profissional competente e ciente dos riscos
trando-se também maior quantidade de polimorfonucleares. potenciais e que toma as providências necessárias para que
eles não ocorram.
Proteinas e outros materiais Não há contraindicação absoluta à sua realização, mas é
preciso ter conhecimento de situações de risco e de contrain·
Dentre as diversas protefnas recuperadas do LBA, a albu-
dicaçôes relativas, que incluem pacientes não colaborativos,
mina corresponde a um terço do seu total. Várias imunoglo·
volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF,)
bulinas, especialmente lgG e lgA, também são encontradas.
Fragmentos de IgA secretora são encontrados no LBA, e a menor do que 800 a 1.000 mL, asma moderada a grave, hi·
percapnia, hipoxemia não corrigida a uma Sp0 2 maior do
concentração de lgE é a mesma do plasma. Acredita-se que
nem IgM ou lgD existam no fluido do LBA. Várias outras que 90% com oxigênio suplementar, arritmias cardJacas gra·
enzimas e materiais podem ser encontrados, como comple· ves, infarto agudo do miocárdio há menos de seis semanas,
mento, interleucinas, ~, -antitripsina, colagenase, fibronecti· diátese hemorrágica não corrigida e instabilidade hemodi·
na, entre outras substâncias. Dentre o complemento, C4, C5 nãmica.
e fator B são facilmente localizados no LBA. A incidência de complicações menores oscila entre 0,2%,
e as maiores, entre 0,08%. Dentre as possíveis complicações
estão febre (10% ou mais dos pacientes), que melhora sem
Indicações necessidade de terapia, laringospasmo e broncospasmo,
O LBA é realizado em pacientes imunocompetentes com pneumonia, pneumotórax, arritmias eardlaeas, hipoxia, con-
pneumonia alfpica, tuberculose, suspeita de aspiração crôni· fusão mental, hipotensão e, raramente, sepse e morte. Os
ca, doença pulmonar eosinoffiiea, SDRA, proteinose alveo- mínimos decréscimos da capacidade vital forçada (CVF), do
lar e doenças pulmonares intersticiais (QUADRO 20.5). Apre- VEF,, bem como do pico de fluxo expiratório (PFE), estão
mais relacionados com a fibrobronc:oseopia em si do que
com o próprio LBA. A síndrome da resposta inflamatória
QUADRO 20.5 -7 Rendimento diagnóstico do lavado
sistêmica é observada em até 10 a 12% de todos os exames
broncoalveolar (LBA) na doença pulmonar infiltrativa bronc:osoópicos.
A incidência de complicações é baixa quando o bron-
coscopista possui conhecimento acurado das minúcias fi.
LBA sem biópsia geralmente sufiCiente: alta sensibaodade e alta
especificidade siopatológieas e técnicas do LBA, em especial no pacien·
- Proteinose alveolar te internado em unidade de terapia intensiva (UTI) e sob
- Pneumonia por P. Frovecii ventilação mecânica. As taxas de complicações observadas
- Carcinoma brónquico em pacientes ambulatoriais e internados são semelhantes,
- Unfoma não de Hodgkin e menos de 1% destes necessitam de hospitalização. Por·
- Hemorragia al~lar tanto, a fibrobroncoscopia com LBA pode ser efetuada no
nível ambulatorial, de maneira segura, desde que por pes·
LBA em combinação com a clinica eTC de tórax de alta resolução soal qualificado.
frequentemente suficiente: alta sensibilidade. baixa esp«ificidade
- Fibrose pulmonar idiopática (neutrófilos ± eosinófilos)
- Pneumonia de hipersensibilidade (linfócitos, plasm6citos,
macrófagos espumosos) Escovado brônquico
- Bronquiolite obliterante com pneumonia organizante (celularidade
mista) O escovado brónquico é realizado com a introdução de uma
- Bronquiolite respiratória/doença pulmonar interstidal (macrófagos escova pelo canal de trabalho do broncoscópio. A escova é
do fumante) visualizada distalmente à ponta do broncoscópio c introdu·
zida junto a uma lesão ou na área de interesse a ser exami·
LBA tipico em apenas 50% dos pacientes, biópsia geralmente nada. Por meio de movimentos de vaivém, a escova é friccio-
n«essária (se TC de tórax atipica): sensibilidade moderada, alta nada diversas vezes e recolhida. A amostra é preparada em
especifiCidade uma lâmina de microscópio ou no interior de uma solução
- S<!rcoidose (C04/CD8 aumentados) salina e encaminhada para exames de cultura e citologia.
- Histiocitose das células de Langerhans (CD1 > 4%) Nas lesões neoplásieas centrais, o escovado brônquico é po-
sitivo em cerca de 60% dos casos. Um aspecto importante
para a pesquisa de células neoplásicas no esfregaço em lâmi-
na do escovado brônquico é a colocação imediata do fixador
para que não ocorra lise celular, o que prejudicaria a análise
pelo citopatologista.
Biópsia brônquica
A realização de biópsias brônquicas pode ser prevista com
antecedência, tendo como base os achados descritos nos exa-
mes de imagem realizados previamente, ou, algumas vezes,
durante a execução de exames investigativos, quando se de-
para com uma alteração não conhecida até então.
Para a realização das biópsias, utiliza-se uma pinça em
forma de fórceps, que é inserida pelo canal de trabalho do FIGURA 20.6 ~ lesão mediastinal invadindo a traqueia. A biópsia d~
monstrou criptococose. Este caso exemplifica a importãncia de não se
broncoscópio e avançada até quase tocar na lesão (FIGURA
colocar todos os fragmentos em formol. Para pesquisar fungos e mico-
20.5). A pinça é então aberta e avançada em direção à lesão
bactérias, os fragmentos devem ser colocados em solução fisiológica.
visualizada, quando, sob visão direta, é fechada e recuada,
retirando um fragmento da lesão em questão (FIGURA 20.6).
A maioria das biópsias brônquicas tem por objetivo co-
lher um fragmento de lesões vegetantes que emergem no
interior dos brônquios. O diagnóstico nas lesões centrais é
Biópsia transbrônquica
obtido em cerca de 70% dos casos, caindo para menos de A biópsia transbrônquica é realizada avançando-se a pinça
50% nas lesões mais periféricas. As lesões descritas nos exa- de biópsia na via aérea distai, fora da visão do examinador,
mes radiológicos como periféricas e com menos de 2 em de até que uma resistência seja encontrada. A pinça é recuada
diâmetro têm um baixo rendimento diagnóstico. cerca de 1 em e então aberta. Devem ser realizados movi-
Algumas doenças costumam comprometer a mucosa, mentos de vaivém para que a pinça se abra. Solicita-se que
como é o caso da amiloidose, da sarcoidose e de neopla- o paciente inspire profundamente, e a pinça é avançada de
sias. No caso da sarcoidose, é interessante que, mesmo não forma suave. Pede-se então que o paciente exale o ar, quan-
havendo lesões visíveis na mucosa, a biópsia é positiva em do a pinça é fechada e tracionada, retirando-se um fragmen-
cerca de 40% das vezes. Nessas situações, a realização de to de parênquima pulmonar (FIGURA 20.7).
repetidas biópsias no mesmo local, aprofundando a mucosa, É importante observar se o paciente relata dor quando
aumenta o rendimento diagnóstico. Em algumas ocasiões, a a pinça é fechada, o que significa que a pleura visceral foi
utilização de uma pinça com um esporão central facilita a ultrapassada. Nesta situação, aumenta bastante o risco de
biópsia de lesões submucosas localizadas na parede lateral ocorrência de pneumotórax.
dos brônquios principais e traqueia, quando é difícil a flexão
do aparelho para a fiXação da pinça.
~ ATENÇÃO
As principais indicações de biópsias transbrônquicas
são estas:
• Nódulos ou lesões tumescentes periféricas, náo
visfveis na broncoscopia
• Investigação de doenças pulmonares intersticiais.
• Pacientes transplantados pulmonares com sus-
peita de rejeição ou infecção
• Obtenção de material para culturas de fungos ou
micobacterioses
Termoplastia brônquica
O mecanismo postulado consiste na destruição ou atrofia da
musculatura lisa por meio da liberação de energia térmica
via radiofrequência. O equipamento consiste em um cateter
brônquico (FIGURA 20.13) e um gerador de radiofrequência. FIGURA 20.14-+ Cesta expandida na via aérea.
O cateter é introduzido através do broncoscópio e possui na
sua extremidade uma cesta expansível com quatro eletrodos.
O cateter alcança a via aérea mais distalmente visível através
do broncoscópio, sendo então a cesta expandida de modo através dos eletrodos durante esse tempo. Após eada ativa-
ção, a cesta é retraída e o cateter é reposicionado proximal-
que os quatro eletrodos estejam em contato harmônico com
a parede das vias aéreas (FIGURA 20.14). mente em 5 mm, em posição adjacente à ativação anterior e
O sistema gerador libera energia via radiofrequência por com cuidado para não ocorrer sobreposição. O tratamento
completo consiste em três sessões intercaladas por intervalos
um período de 10 segundos, gerando e transmitindo calor
de três semanas. Cada sessão consiste em uma média de 30 a
45 ativações com duração entre 30 e 60 minutos.
Os estudos realizados indicam que a principal utilização
da termoplastia será em pacientes com asma persistente se-
vera e asma de dificil controle, nos quais, a despeito do tra-
tamento otimizado c baseado nas diretrizes internacionais
(Global Initiative for Asthma - GINA), ainda não é possível
alcançar o controle da doença. É fundamental que o bron-
coscopista encarregado do procedimento tenha uma boa
técnica e informação sobre o manejo de pacientes asmáticos
submetidos ao exame, em especial sobre potenciais compli-
cações em decorrência da asma. Dados atuais sobre segu-
rança envolvendo os três grandes ensaios cl!nicos - Air 'fria!,
Risa mal e Air Trial I! - foram recentemente divulgados,
demonstrando segurança deste procedimento após três anos
_____
FIGURA 20.13 -+ Cateter br6nquico para tennoplastia.
_;_
de acompanhamento. O procedimento já foi liberado pelo
Food and DrugAdministration {FDA) e está sendo utilizado
nos Estados Unidos.
Redução endoscópica de volume
pulmonar
Diferentes métodos endoscópicos vêm sendo desenvolvidos
e estudados experimentalmente e testados em estudos clíni-
cos, em uma tentativa de se encontrar alternativas não cirúr-
gicas para a redução volumétrica do pulmão enfisema toso.
Os dispositivos para o tratamento endoscópico do enfi-
sema heterogêneo podem ser divididos em dispositivos blo-
queadores (p. ex., válvulas unidirecionais), não bloqueado-
res reversíveis ou removíveis (p. ex., coils ou molas) e não
bloqueadores definitivos ou não reversíveis (ablação térmica
por vapor e obstrução endobrônquica por polímeros). Den- FIGURA 20.16 7 VAivula unídirecional do tipo 1sv-.
tre os procedimentos direcionados para o enfisema homogê-
neo, o bypass das vias aéreas interno ( endobrônquico) tem
sido o mais estudado.
Dispositivos não bloqueadores reversíveis
Dispositivos bloqueadores (removíveis)
As válvulas unidirecionais são os únicos dispositivos já va- As molas (coils) consistem em um fio de nitinol (liga metá-
lidados para uso clfnico. O modelo Zephyr• (Pulmonx, Re- lica de níquel e titânio) com memória que, ao ser introdu-
dwood City-CA, EUA) (FIGURA 20.15) é de instalação bron- zido no brônquio subsegmentar, curva-se trazendo consigo
coscópica, e pode ser removido em caso de necessidade. A o parênquima pulmonar em um movimento rotatório sobre
redução volumétrica pulmonar endoscópica tem por obje- o seu eixo, reduzindo assim o volume do parênquima por
tivo causar uma desinsuflação progressiva, levando a uma esse mecanismo de torção (RePneu• Lung Volume Reduc-
reconfiguração diafragmática com consequente melhora tion Coil, PneumRx lnc, Mountain View, California, EUA)
funcional pulmonar, da capacidade de exercido e da quali- (FIGURA 20.17). Para obter a redução volumétrica desejada
dade de vida. com este método, é necessário quevárioscoils (molas) sejam
Os resultados do acompanhamento após seis meses de instalados através do canal de trabalho de um broncoscópio
instalação dessas válvulas em um estudo multicêntrico de- flexível em um lobo com menor perfusão.
monstraram melhora discreta embora significativa no VEF,
e um aumento na tolerância ao exerclcio no teste de cami- Dispositivos não bloqueadores definitivos (não
nhada de seis minutos.
Outro dispositivo valvular que tem sido testado apresen- reversíveis)
ta um desenho diferente, porém seu mecanismo de ação é A ablação térmica por vapor é uma nova tecnologia que
semelhante ao dos demais (IB~. Olympus Co., Spiration, utiliza vapor d'água aquecido, o qual é administrado por
Redmond-WA, EUA) (FIGURA 20. 16). 0 objetivo do dispo- broncoscopia flexível através de cateter de oclusão endobrô-
sitivo é obstruir o fluxo aéreo seletivamente nos segmentos nquica por balão posicionado na área a ser tratada (lobo,
broncopulmonares em que é posicionado, atuando como segmento). Essa nova tecnologia ainda está em avaliação, e
válvula unidirecional cujo formato permitiria a drenagem de novos estudos clínicos estão sendo empreendidos com quan-
secreções. tidades de vapor diferentes.
FIGURA 20.15 7 Válvula unidirec;ional do tipo Zephyr•. FIGURA 20.17 7 Mola ou coi/.
A redução volumétrica biológica (BLVR) compreende a BoneUa F, Ohshimo S, Bauer P, Guzman J, Costabel U. Bronchoal-
obstrução endobrõnquica por polúneros biodegradáveis ins- veolar lavage. Eur Respir Mon. 2010;48:59-72.
tilados nos brônquios subsegmentares por meio de um bron- Brickcy DA, Lawlor DP. Transbronchial biopsy in lhe prcscnce of
cofibroscópio, causando obstrução local com atelectasia da profound clcvalion of lhe inlcrnalional normalizcd ralio. Chcst.
área hiperinsuflada. Essas substâncias causam também uma 1999;115(6):1667-71.
reação inflamatória local com formação de tecido cicatricial
British Tboracic Society guidelines on diagnoslic flexible broncbos-
que perpetua a desinsuflação local.
copy. Thorax. 2001;56(Suppl l ):il -21.
Cardoso PFG, SneU GJ, Hopkins P, Sybrecht GW, Stamatis G, Eng
Dispositivos para enfisema homogêneo P, et al. Clinicai application of airway bypass witb paclitaxel-eluting
O bypass endobrõnquico é um procedimento, realizado por stcnts: early rcsults. J Thorac Cardiovasc Surg. 2007;134(4):974-81 .
meio de broncoscopia flexivel, que inclui a produção de
Cbapman JT, Mebta AC. Bronchoscopy in sarcoidosis: diagnostic
orifícios (fenestrações) endobrônquicos na via aérea distai
and tberapcutic intcrventions. Curr Opin Pulm Mcd. 2003;9(5):402-
(brônquios subsegmentares), os quais são mantidos perme- 7.
áveis pela instalação de dispositivos (stents) eluidores de fár-
macos (FIGURA 20.18). Ainda estão em análise os resultados Cox G, Thomson NC, Rubin AS, Nivcn RM, Corris PA, Sicrsted
preliminares de estudos com esta técnica. HC, et al. Astbma control during tbe year after bronchial tbermo-
plasty. Ncw Engl J Med. 2007;356(13):1327-37.
Apesar dos benefícios demonstrados pelos vários proce-
dimentos endoscópicos propostos para o enfisema avançado, DeCamp MM Jr, McKenna RJ Jr, Descbamps CC, Krasna MJ.
os resultados não são uniformes e tampouco suficientes para Lung volume rcduction surgery: tcchniquc, operative mortality, and
sua aplicação clinica imediata em larga escala. Mais estudos morbidity. Proc Am ThoracSoc. 2008;5(4):442-6.
são necessários para confirmar a eficácia clinica desses mé- Dreher M, Ekkernkamp E, Storre JH, Kabitz HJ, Windisch W. Se-
todos em enfisema severo. dation during flexible bronchoscopy in palients with pre-cxisling
respiratory failure: Midazolam versus Midazolam plus Alfentanil.
Rcspiration 2010;79(4):307-14.
2. Dooms C, Seijo L, Gasparini S, lrisolini R, Ninaoe V, Tournoy Ernst A, Ebcrhardl R, Wahidi M, Becker HD, Hcrlh FJ. Effcct of
KG. Diagnostic brochoscopy: statc of thc art. Eur Rcspir Rcv. rouline clopidogrel use on bleeding complications after transbron-
2010;19(117):229-36. cbial biopsy in humans. Chcst. 2006;129(3):734-7.
Folcb E, Mebla AC. Airway interventions in tbe lracheobronchial
tree. Sem in Rcspir Crit Care Mcd. 2008;29(4):441-52.
Leituras recomendadas Gu P, Zhao YZ, Jiang LY, Zbang W, Xin Y, Han BH. Endobroncbial
Berger RL, DeCamp MM, Criner GJ, Celli BR. Lung volume re- ultrasound-guidcd transbroncbial needlc aspiration for staging of
duction lherapics for advanecd emphyscma: an updalc. Chcst. lung cancer: a systcmatic revicw and meta-analysis. Eur J Cancer.
2010;138(2):407-17. 2009;45(8):1389-96.
Introdução ~ ATENÇÃO
O uso das características imagéticas para definir a natu-
reza benigna ou maligna de uma lesão, ou mesmo para A punção torácica transcutAnea é um procedimento
sugerir seu tipo histológico, é uma das principais funções pouco invasivo, seguro, com baixo fndice de compli-
do radiologista. I númeras publicações foram dirigidas às cações e que permite a coleta de material para es-
tabelas de diagnóstico diferencial radiológico, sendo ba- tudos citológico, histológico e microbiológico. Esse
seadas nas limitadas capacid ades de resposta ou modifi- método tem sido utilizado no diagnóstico de massas
cação do tecido pulmonar frente a um processo inflama- mediastinais, lesões submucosas, nódulos e massas
tório (infeccioso ou não) ou neoplásico. Essas hipóteses pulmonares periféricas.
diagnósticas têm sido úteis, mas certamente não atendem
à necessidade de maior acurácia diagnóstica, fruto da evo-
lução terapêutica. É fundamental a oonsciência de que o exame por micros-
A evolução do diagnóstioo médioo, permitindo que se- oopia também está sujeito a erro, o que não é tão infrequen-
jam identificados numerosos tipos de germes e diferentes te. Assim, um diagnóstico histopatológioo ou microbiológioo
tipos de neoplasias, leva o diagnosticista a respeitar oom divergente dos dados cHnioos e radiográficos deve também
maior rigidez os limites do diagnóstico fundamentado em ser questionado, avaliando -se a necessidade de coleta de
método radiológioo. Não é menor, contudo, a necessidade uma nova amostra ou do encaminhamento do material para
de um amplo conhecimento sobre a expressão radiográfi- consultoria em centros de referência.
ca dos diversos processos patológicos, nem diminu iu a im- A técnica de biópsia por agulha, precursora do método
portância do radiologista, que está participando cada vez hoje utilizado, foi inicialmente explorada por Martin e Ellis, em
mais ativamente do processo diagnóstico-terapêutico. Com 1925. Em 1966, foi publicada uma das primeiras séries de bióp-
as biópsias por agulha, orientadas por raio X, tomogr afia sia orientada por Ouoroscopia por Dahlgren e Nordenstrõm.
computadorizada (TC) ou ultrassonografia, o radiologista Hoje, a punção biópsia transcutãnea é um método usa-
colhe material para um diagnóstico especifico, tanto em do universalmente, bastante preciso e seguro. Esse aumento
doenças neoplásicas oomo em doenças inflamatórias (in- na utilização das punções foi possível graças ao desenvolvi-
fecciosas ou não). mento em paralelo das técnicas citológicas e microbiológi-
cas, ao crescente número de citologistas e microbiologistas
oom experiência e, também, à grande redução nos custos das
agulhas de punção, agora de uso único, permitindo aprovei- O uso cada vez mais disseminado do ácido acetilsalicílico
tamento máximo de seu fio de corte, com consequente redu- também é uma contraindicação formal ao procedimento, o
ção da frequência de pneumotórax ou bemoptise_ qual pode ser realizado após sete dias da suspensão do medi-
O aprimoramento da indústria metalúrgica também foi camento. No caso das heparinas, se o paciente for portador
significativo no que se refere ao desenvolvimento de no- de alguma doença infectocontagiosa, isso também deve ser
vas ligas metálicas, mais resistentes, possibilitando reduzir referido claramente na requisição.
o calibre externo das agulhas, sem prejuízo importante do
diâmetro de sua luz. Atualmente, mesmo as agulhas com ca-
libres muito finos são bastante rijas, sofrendo pouco desvio
no seu trajeto (FIGURA 21.1).
Técnica
Três tempos básicos dividem o procedimento e devem ser
observados com rigor: a orientação e o conforto do paciente,
~ ATENÇÃO a punção, incluindo a anestesia, e a manipulação do material
coletado.
A intervenção por punção no tórax era inicialmen-
te dirigida ao diagnóstico de lesões tumescentes
(nódulos ou massas). Agora, está também indicada
QUADRO 21 .1 -7 Material para punção-biópsia pulmonar
para avaliação celular (citologia, microbiologia) ou transcutânea
tecidual (histopatologia) de doenças pulmonares
difusas, bem como de lesões pleurais ou mediasti-
- Campos estéreis, fenestrados
nais. Quase invariavelmente se utiliza um método de - Duas cubas (para soro e álcool iodado)
diagnóstico por imagem para guiar o procedimento. - Torundas estéreis
- Dânula de uma via
- Seringas de 1Oml ede 20 ml
- Lâmina de bisturi n°11
- Anestésico local a 1%
Material - Soro fisiológico
Para realizar o procedimento, recomenda-se a montagem - Fixador citológico (frasco conta·gotas)
- fixador histológico (formol)
de conjuntos contendo pelo menos o material que consta no
- Frasco esterilizado para coleta de liquido
QUADRO 21.1 e na FIGURA 21.2. - Lâminas de vidro esterilizadas
Se a lesão for tumescente com área de escavação ou de - Agulha grossa para aspiração do anestésico
aspecto consolidativo com broncograma, as punções com - Agulha fina para anestesia
agulha lancetante devem ser realizadas em ambiente onde - Agulhas de punção, ponta em bisei e mandril, n" 18G e 20G, com
seja possível a assistência de um endoscopista, para coloca- 7, 10 e 15 em de comprimento
ção de um cateter de Fogarty e/ou soro gelado, com o obje- - Agulhas para coleta de amostra de tecido (biópsia lancetante),
tivo de estancar eventual hemoptise volumosa (FIGURA 21.3). ponta em bisei e sistema coaxial. manual ou de disparo automático
Para evitar esse tipo de complicação, o clinico, ao solicitar o - frascos com meios de cultura diversos (para fungos, bactérias
exame, deve certificar-se de que não há alteração das provas aeróbias, bactérias anaeróbias e micobactérias)
- Caixas para as lâminas de vidro
de coagulação do paciente, especialmente de que este não
- Etiquetas para identificação dos frascos e das lâminas
esteja anticoagulado, não tenha realizado diálise e não apre- - Conjunto para drenagem de pneumotórax
sente hipertensão arterial pulmonar.
Orientação e conforto Após essas explicações iniciais, o paciente deve ser po-
O paciente deve ser adequadamente informado sobre o pro- sicionado de modo a obter o melhor acesso à lesão, sempre
cedimento a que será submetido, com dados sobre as eta- respeitando-se o conforto dele, pois sua colaboração é fun-
pas de posicionamento, anestesia local, punção da lesão e damental para o sucesso do procedimento. Decúbitos pro-
período pós-procedimento. Devem-se ressaltar o tipo e a no, supino, lateral ou oblíquo podem ser livremente usados,
intensidade da dor que poderá sentir (em geral semelhante dando-se preferência àquele em que a agulha seja direciona-
à de uma injeção intramuscular), a necessidade de apoeia da na vertical, sem angulaçáo.
prolongada (especialmente durante a transftxação da pleu- No decúbito prono, o uso de coxins sob o esterno per-
ra) e absoluta imobilidade após o posicionamento e a de- mite maior afastamento das escápulas. Nessa posição, tam-
marcação. Não se pode esquecer de preveni-lo sobre o tem- bém são utilizados pequenos coxins ou sacos de areia para
po aproximado do procedimento, tampouco sobre os sinais acomodar os pés do paciente, apoiando os tornozelos. No
que deverá observar para identificar eventuais complicações
decúbito dorsal, um triângulo de espuma sob os joelhos,
após o exame (pneumotórax e hemoptise).
flexionando-os a 45 graus, aumenta em muito o conforto,
O paciente deverá, também, ser informado acerca da ne-
cessidade de drenagem torácica em caso de pneumotórax vo- retiftcando a coluna lombar, permitindo maior relaxamen-
lumoso, o que é fundamental por questões legais e para que, to. Quando a via de acesso é axilar ou oblíqua, pode ser ne-
no caso, o paciente compreenda que o pneumotórax é uma cessário um posicionamento variado do braço, para afastar
complicação esperada e relativamente frequente (tO a 15% ). A a escápula do trajeto da agulha. Flexiona-se o cotovelo em
orientação dada com empatia e transparência é a melhor for- cerca de 90 graus e desloca-se o braço em sentido caudal ou
ma de se obter a máxima colaboração por parte do paciente. cranial.
121 ATENÇÃO
da anestesia com a lesão do parênquima (FIGURA 21 .4). Em
geral, a punção deve ser dirigida para o local em que a lesão
estaciona após uma apoeia em inspiração, pois, com os pul-
Ot cuidados.com a esterilização são importantes e mões cheios, o paciente consegue mantê-la por mais tempo.
semelhantes aos de uma biópsia pleural. A utiliza- Além disso, a inspiração torna mais constante a posição da
Çao de agulhas. campos e luvas esterilizadas e uma lesão em relação à parede.
adequada assepsia da pele com álcool iodado são Feito isso, retira-se essa agulha e efetua-se uma incisão
suficientes para a proteção. Nos casos mais diffceis, pequena e profunda na pele com a lâmina de bisturi nO 11.
em que o radiologista pode precisar de apoio para Essa incisão tem como objetivo básico diminuir a resistên-
os braços, o uso de avental esterilizado pode ser im- cia da parede torácica à introdução da agulha de biópsia,
portante para evitar a contaminação dos campos de reduzindo a perda desnecessária do fio da agulha na pele e
1proteçAo. Na série de nosso serviço. nenhuma com- aumentando a sensibilidade do operador às resistências que
lplicaçAo quanto à contaminação 'foi identificada. serão transfJXadas. Sem esse corte, a pele fica justa ao redor
da agulha, travando-a mais do que as outras camadas da pa-
rede torácica, que são mais frouxas. Quanto mais grossa for
a agulha de punção, mais essa incisão será útil.
Punção Ao introduzir parte da agulha de punção, sempre menos
Orientando-se a agulha anestésica em direção à costela de do que a da anestesia fora introduzida, revisa-se a posição
referencia, faz-se uma boa anestesia da parede torácica, sem em relação à lesão e reorienta-se o paciente sobre o grau de
risco de causar pneumotórax por transfiXação inadvertida inspiração e a pequena dor que poderá sentir no momento
da pleura. Com a seringa de 10 mL com anestésico (xilo- da passagem pela pleura. Insiste-se no fato de que ele não
caína a 1%, sem vasoconstritor), realiza-se uma adequada poderá reagir a essa pequena dor, sob risco de causar pneu-
anestesia da pele, do tecido subcutâneo c da musculatura. motórax antes que seja possível atingir a lesão, inviabilizan-
Ao atingir a costela, o anestésico da seringa é substituído do o procedimento.
por 5 a 7 mL de anestésico puro (1 %). Dirige-se, então, a Ao sentir a resistência ao deslocamento da agulha quan-
agulha para o espaço intercostal cranial a essa costela de do se atinge a lesão, deve-se introduzi-la um pouco mais e
referência, aprofundando a agulha mais 5 mm, quando se aspirar o material. Fecha-se a dãnula para manter a pressão
anestesia a pleura. negativa no interior da agulha. Em lesão tumescente, sólida,
A noção de profundidade que a costela fornece é funda- raramente o material alcançará a dãnula ou a seringa, exceto
mental, pois a mensuração da espessura da parede torácica nos casos em que há necrose ou tenha ocorrido hemorragia
é sempre incorreta, seja pela mudança de posicionamento durante o procedimento. Retira-se a agulha e espalha-se o
ou pelo diferente grau de contratura muscular que alteram a material, conforme descrito adiante.
espessura das partes moles a serem transflxadas. Uma radio- Dependendo do volume e do aspecto do material cole-
grafia, a verificação por radioscopia ou um corte tomográfi- tado, poderá ser necessária a repetição imediata da punção,
co deve ser utilizado para certificar-se da relação da agulha lembrando sempre que a cada passagem pela pleura aumen-
FIGURA 21A ~ Reconstrução tridimeruional de pun~ orientada por TC. (A) Repare o ponto cut.\neo. (8) A agulha de anestesia. (Q A agulha de
pu~ão lan<:etante.
ta-se em muito o risco de pneumotórax. Antes da reintro- QUADRO 21 .2 ~ Contraindicações da biópsia pulmonar por
dução da agulha, passa-se uma torunda, embebida em soro agulha
fisiológico, limpando sua superfície externa, para retirar
o sangue seco que seria mais um elemento de atrito. Para - Discrasia sanguínea
aqueles que acreditam na fantasia de implante neoplásico - Terapia com anticoagulantes (incluindo diálise)
em punção, essa é uma atitude que pode reduzir sua ansie- - Leucemia
dade. - Enfisema ou bolhas
Caso tenha ocorrido pneumotórax na primeira tentati- - Pneumonectomia contralateral
- Hiperten.sáo pulmonar
va, será muito difícil atingir novamente a lesão, pois haverá
- Dificuldade de cooperação do paciente
grande mudança na sua posição relativa ao ponto de intro- - Cisto hidático
dução na pele. - Malformação arteriovenosa
Se a punção for lancetante, a resistência da lesão à agu-
lha da pistola é nossa maior referência para obter uma noção
de profundidade e para alcançar a lesão.
sanguínea, terapia com anticoagulantes, diálise, leucemia,
enfisema ou bolhas, pneumonectomia contralateral e dift-
Material coletado culdade de cooperação do paciente são exemplos de con-
Dois tipos básicos de material poderão ser obtidos: aspirado traindicações relativas e dependem da severidade do qua-
ou fragmento de lesão. dro e da possibilidade de corrigir o problema, pelo menos
Na biópsia lancetante, o fragmento será liberado da agu- temporariamente. Hipertensão pulmonar pode ser fator de
lhwa diretamente na cuba com soro e logo transferido para contraindicação se a lesão for próxima à região do cerne.
o frasco com formalina. Não deve ser colocado diretamente Lesões periféricas podem ser puncionadas com segurança,
na formalina, pois isso inutilizaria a agulha para a repetição dependendo da gravidade do quadro.
do procedimento. Caso o fragmento seja mais consistente, Contraindicações mais específicas são a suspeita de cisto
pode-se colocá-lo sobre uma lâmina de vidro para obter uma equ inocócico ou de malformação arteriovenosa.
amostra pela técnica de "imprint", colocando-o, a seguir, no
frasco com formalina.
Na punção aspirativa, o material colhido será colocado
sobre lâminas para esfregaço e/ou em meios de cultura. Se, Complicações imediatas do
ao esfregaço, o material secar logo, tornando-se opaco, não
será necessária a colocação de fixador. Nesse caso, deverá
procedimento
ser enviado para coloração pelo método de Leishman. Caso As complicações mais frequentes são pneumotórax e hemor-
contrário, se o material permanecer úmido, deverá ser ime- ragia pulmonar, sendo que a taxa de mortalidade relatada na
diatamente banhado com flXador citológico, sendo enviado literatura é menor do que 0,1 % . Outras complicações - mui-
para coloração pelo método de Papanicolau. Outras lâminas to raras - estão possivelmente relacionadas com a seleção
poderão também ser enviadas para microbiologia, estas sem inadequada dos pacientes ou o emprego de técnicas alterna-
flXador. tivas (QUADRO 21 .3).
Excesso de sangue em geral significa material impróprio
para análise citológica, sendo recomendada repetição ime-
diata da punção. Pneumotórax
Caso o material aspirado seja algum tipo de líquido O maior risco de pneumotórax está em pacientes com en-
abundante, parte poderá ser enviada para análise bioquími- fisema pulmonar. Nesta situação, deve-se considerar a re-
ca e parte para a técnica de análise em bloco de células por serva funcional, além do grau de participação do pulmão a
citocentrifugado. ser puncionado nas trocas gasosas. Isso pode ser avaliado
Além dos três tempos do procedimento em si, é de fun- subjetiva ou quantitativamente por TC ou cintilografia. Nes-
damental importância o conhecimento das contraindica- ses casos, é importante a capacidade de colaboração, pois
ções e das possíveis complicações, bem como um adequado
acompanhamento após o procedimento.
QUADRO 21 .3 ~ Possíveis complicações de biópsia pulmonar
transcutânea
Hemorragia
Com ou sem hemoptise, pode ocorrer em até 10% dos ca-
sos, com aumento de sua incidência conforme o tipo de ex-
Conclusão
tremidade e o calibre das agulhas de punção. Alguns raros
casos fatais foram descritos na literatura. A chance de uma
hemorragia pulmonar causar complicação grave aumenta
0 ATENÇÃO
nos pacientes com depressão do reflexo da tosse, o que pode A biópsia pulmonar por agulha ~ um procedimento
ocorrer por debilidade ou sedação excessiva. Por isso, não se seguro, desde que corretamente indicada e respeita-
recomenda o uso de pré-medicação com sedativos. O risco das as contraindicações. Deve ser realizada por pro·
também aumenta em casos de pacientes com hipertensão fissionais altamente treinados em diagnóstico por
pulmonar, doença inflamatória e em lesão próxima a grossos imagem e com habilidade para manejar as eventuais
brônquios ou grossos vasos. complicações.
Hemorragia mais grave pode ocorrer em pacientes com
tempo de protrombina maior do que três segundos em re-
lação ao controle e em pacientes com leucemia e trombo- Biópsias de lesão hil.a r ou em pacientes com maior risco
citopenia. Se for muito necessário, esses pacientes podem de complicações não devem ser realizadas em serviços que
ser puncionados durante a transfusão de plasma fresco ou não disponham de fibrobroncoscopia para o tratamento das
de plaquetas. As condutas recomendadas frente a um caso hemorragias intrabrônquicas. A biópsia de lesão mediasti-
de hemoptise pós-punção são a colocação do paciente em nal deve sempre ser realizada com orientação por TC, sendo
decúbito lateral sobre o lado puncionado e, em casos mais indispensável um exame tomográfico computadorizado com
graves, fibrobroncoscopia com aspiração para identificação realce de meio de contraste prévio ao procedimento, para
do brônquio sangrante e posterior oclusão brônquica com demonstrar a posição dos grandes vasos em relação aos bor-
cateter com balão. dos da lesão.
Implante tu moral
O implante tu moral no trajeto da agulha é uma ocorrência Leituras recomendadas
muito rara. Em uma série de 4.000 casos, Nordenstrõm e Dupas B, Frampas E, Leautc F, Bcrtrand.Vasscur A, Lerat F. (Com·
Bjork relataram um único caso definido de implante tu- plications of fluoroscopy-, ultrasound-, and Cf-guidcd pcrcutancous
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LuizCarlos Corrêa da Silva
22
• Local de realização do procedimento: costuma-se reali-
Introdução zá-lo ambulatorialmente, em sala não cirúrgica, com dis-
A toracocentese - punção aspirativa do líquido pleural reali- ponibilidade de material para emergências.
zada com agulha fina - e a punção-biópsia pleural - retirada • Exame de imagem de tórax recente (radiografia ou to-
de fragmento pleural com agulha de Cope - são procedi- mografia computadorizada): é importante ter na sala um
mentos de rotina a serem realizados desde que seu resultado exame recente, para que no início do procedimento se
possa decidir ou mudar condutas. tenha certeza de que realmente existe derrame pleural e
Quando há possibilidade de que um derrame pleural não haja troca do lado de realização da punção (direito
seja causado por neoplasia, deve-se proceder à investigação ou esquerdo).
pleural, seja por meio de toracocentese, biópsia com agulha, • Posição do paciente: sentado (FIGURA 22.1), com o mem-
pleuroscopia, videotoracoscopia seja por toracotomia mini- bro superior do lado da punção elevado de modo a abrir
ma, até que se confirme a causa do processo. os espaços intercostais e facilitar o processo da punção
Se o mecanismo fisiopatológico ou a causa forem óbvios (o paciente pode segurar a porção superior de um supor-
e a conduta independe de exames pleurais, do líquido ou de te de soro).
fragmentos pleurais, obtidos por toracocentese ou biópsia, • O procedimento em si:
estes podem ser dispensados. São exemplos as seguintes si- • Marcação do local da punção: junção do plano ho-
tuações: insuficiência cardíaca, hipoproteinemia, concomi- rizontal que passa pelo apêndice xifoide com a linha
tància de tuberculose no parênquima pulmonar. axilar posterior, o que corresponde ao oitavo ou nono
A fim de se obter o melhor rendimento na investigação espaço intercostal.
pleural, uma rotina cuidadosa deve ser empregada, tanto nas • Antissepsia da pele.
técnicas de punção quanto no manuseio e na realização dos • Anestesia local: infiltração com xilocaína ou marcaína
exames dos materiais colhidos. da pele e pleura parietal. Para isso, faz-se um botão
anestésico tegumentar e introduz-se a agulha anesté-
sica logo acima da borda da costela adjacente, até se
atingir o líquido pleural; então, traciona-se o conjun-
Punção do líquido pleural to agulha-serínga, aspirando continuamente, até que
(toracocentese) cesse a saída de líqu ido (o que indica que o bisei está
próximo e Jogo para fora da pleura parietal); a seguir,
Para a realização da toracocentese, deve-se levar em conta injeta-se mais anestésico, o que garante uma boa in-
alguns fatores importantes, descritos a seguir: filtração do local da pleura parietal a ser biopsiado
(FIGURA 22.2A).
• Aspecto purulento e/ou presença de germes e/ou pH bai-
xo: empiema.
• Aspecto hemorrágico: acidente de punção, trauma ou
neoplasia maligna; não é sugestivo de tuberculose.
• Taxa de proteínas muito elevada: tuberculose.
• Citológico diferencial com linfocitose e ausência de célu-
las mesoteliais: tuberculose.
• Citopatológico oom presença de células ma.lignas: derra-
me neoplásieo.
• Pesquisa de BAAR positiva ou anatomopatológico com
granuloma: tuberculose.
• Células LE presentes e/ou FAN com título elevado: lú-
pus eritematoso sistêmico.
• Derrame quiliforme com triglicerfdeos elevados e/ou
presença de quilomicra: quilotórax.
• Uma taxa de adenosina deaminase superior a 40 UI/L
aponta fortemente para tuberculose.
• Um pH abaixo de 7,2 em paciente com derrame pleural
FIGURA 22.1 ~ Posiç3o do paciente. parapneumônico pode significar empiema. Para uma dc-
------------------- termínação adequada do pH, são necessários os seguin-
tes cuidados: colher o líquido em seringa heparinizada,
vedada de contato com o ar; enviar o material rapida-
• Com a mesma agulha da anestesia ou outra (n2 7), as- mente ao laboratório e/ou mantê-lo em baixa temperatu-
pira-se de 20 a 40 mL de líquido pleural para exames: ra até a realização do exame.
aspecto, proteínas, citológico diferencial, citopatoló-
gico, bacteriológico, BAAR e outros, solicitados con-
forme suspeita cl(rllca, como células LE, pH, glicose,
amilase e lipfdeos (FIGURA 22.28). Punção-biópsia pleural (agulha de Cope)
• Antecipadamente, coloca-se anticoagulante no frasco A sequênc:ia para realização da biópsia pleural com agulha
que vai receber o liquido pleural aspirado (1 mL de de Cope é a seguinte:
heparina para 10 mL de liquido pleural); o material
é colocado em dois frascos, que serão encaminhados • Anestesia (já realizada para a toraeocentese).
para o laboratório, devidamente rotulados com a • No mesmo local da toraeocentese, ainda sob efeito da
idenúficação do paciente e acompanhados das requi- anestesia, utilizando lâmina de bisturi n• 11, faz-se um pe-
sições dos exames a serem realizados. queno corte na pele e subcutâneo (:t5 mm de extensão).
• Através deste pertuito, íntroduz-se a agulha de Cope,
mostrada na FIGURA 22.3, montada com a cânula externa
Exames do liquido pleural e o possíveVprovável cortante e o mandril obturador (FIGURA 22.4A).
significado dos seus resultados • Uma vez introduzido o conjunto, troca·se o mandril ob-
• Um aspecto amarelado é o mais comum, não tendo rela- turador pela peça com gancho na extremidade (durante
ção com nenhuma causa em especial. essa troca, costuma haver extravasamento de liquido, o
0 ATENÇÃO
Técnica
A mediastinoscopia cervical (FIGURA 23.5) é realizada com o
paciente sob anestesia geral, em decúbito dorsal, com um co-
No tratamento dos tumores pulmonares, a indicação
xim sob os ombros para proporcionar extensão cervical. É rea-
de ressecção das neoplasias é definida pelo estadia-
lizada uma pequena incisão de 3 em, cerca de um dedo acima
menta oncológico da neoplasia, e os linfonodos me-
da fúrcula esternal. Os tecidos são separados na linha média
diastinais são, na maioria das vezes, o primeiro local
em direção à traqueia. A glândula tireoide é afastada supe-
de comprometimento extrapulmonar (FIGURA 23.3).
riormente, com cuidado para não lesar as veias tireóideas m·
A biópsia desses linfonodos define a indicação pri-
feriores. A fáscia pré-traqueal é aberta e, utilizando-se o dedo
mária de tratamento cirúrgico ou a necessidade de
ind icador, aberta em toda a extensão anterior da traqueia sob
tratamento radioterápico e/ou quimioterápico neo-
adjuvante ou definitivo. dissecção romba. Neste momento, aproveita-se para palpar
os linfonodos das cadeias paratraqueais e também se busca
identificação de lesões tumor ais. É colocado um mediastinos-
cópio que permite a visualização e biópsia dos linfonodos das
Nos últimos anos, surgiram novas técnicas de estadia- cadeias paratraqueaís laterais, anteriores e subcatinais.
menta mediastmal do câncer de pulmão menos invasivas, A mediastmoscopia anterior é realizada na maioria das
como a tomografia computadorizada por emissão de pósi- vezes à esquerda, no segundo espaço intercostal, para bióp-
trons (PET-TC) e a ultrassonografia endobrônquica (EBUS). sia dos linfonodos das cadeias aortopulmonar e subaórtica.
Estudos comparando esses métodos com a mediastinoscopia Pode também ser realizada à direita para biópsia de Jinfono-
ainda não são conclusivos para a exclusão da mediastinosco- dos ou massas mediastinais.
pia. Também é necessário considerar que essas novas técni-
cas têm um custo elevado e não estão disponíveis na maior
parte do nosso país, mantendo-se a mediastinoscopia como Mediastinoscopia estendida
método de eleição para o estadiamento do câncer de pulmão Recentemente, uma técnica de abordagem mais abrangen-
(FIGURA 23.4). te dos linfonodos mediastinais por meio de um videome-
RGURA 23.3 ~ Les~o pulmonar no lobo superior esquerdo (A) com adenopatias mediastinais (B) (cancêr de pul~o).
,- -~
' \
A f)
~- /)
~ ·~ 1 ,
c
FIGURA 23.4-+ Paciente com uma lesão neoplásica no lobo superior esquerdo (A) com captação aumentada também nos linfonodos mediastinais,
sugerindo envolvimento neoplásico (B, C). A biópsia dos linfonodos por mediastinoscopia foi negativa.
FIGURA 23.5 -+ (A) identificação dos limites anatômicos; (B) incisão cerca de um dedo acima da fúrcula esternal; (C) colocação do mediastinoscópio;
(O) imagem do mediastinoscópio em relação à traqueia e aos grandes vasos.
Indicações
A toracoseopia pode ser realizada com intenções diagnósti-
cas ou terapêuticas.
As principais indicações diagnósticas são:
Resultados Liu DW, Liu HP, Lin PJ, Olang OI. Video-assisted tboracic surgcry
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Embora tenha sua validade muitas vezes questionada, prin-
cipalmente em relação à utilidade terapêutica e mudança do Noppen M. Thc utility of thoracoscopy in tbc diagnosis and
prognóstioo, estudos mostram que a biópsia pulmonar tem managemcnt of pleural discasc. Semin Respir Crit Carc Med.
uma acurácia diagnóstica de cerca de 90%, levando a mu- 2010;31(6):751-9.
dança no tratamento de 38 a 74% dos pacientes. Embora Sagawa M, Sato M, Sakurada A, Matsumura Y, Endo C, Handa
muitos desses pacientes evoluam mal devido à gravidade da M, ct ai. A prospectivo trial of systcmatic nodal disscction for lung
doença de base, a possibilidade de obter um diagnóstico de canccr by vidco-assistcd thoracic surgery: can it be pcrfect? Ann
exatidão pode indicar a necessidade de adicionar ou subtrair Thorac Surg. 2002;73(3):900-4.
medicamentos e signíficar a única chance de recuperação Sawada S, Watanabc Y, Moriya.ma S. Video-assisted thoracoscopic
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Leituras recomendadas
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1998;66(5):1751-4.
ldílio Zamin Junior
24
Rene Jacobsen Eilers
Paulo F. Guerreiro Cardoso
Mirna da Mota Machado
têm demonstrado uma associação entre a terapia antirrefluxo Tais evidênàas refletem uma realidade atual e findam
e a redução na ocorrência desses sintomas. J-6 por trazer a esofagomanometria e a pHmetria de 24
A frequente interação entre a doença digestiva e as ma- horas, outrora de domlnio exclusivo do gastrentero-
logista, para dentro do consultório de pneumologia.
nifestações respiratórias exige que o pneumologista tenha
conhecimento específico da fisiopatologia deste binômio, Os exames de esofagomanometria e pHmetria de 24
horas são hoje solicitados na rotina de atendimento
bem como dos métodos de sua investigação.
pneumológico e da cirurgia torácica, cujos profissio-
A inclusão da avaliação funcional esofágica nestes pa-
nais passaram a ter a necessidade de saber quando
cientes auxilia o seu manejo clinico e parece ter importãncia
solicitar e como Interpretar os seus resultados.
tanto diagnóstica quanto prognóstica. Em nosso meio, a ava-
liação funcional de portadores de manifestações respirató-
rias demonstrou que mais de 30% deles eram assintomáticos
do ponto de vista digestivo e possuíam refluxo patológico à Tem sido observado um aumento exponencial de pneu-
pHmetria esofágica de 24 horas. 7 Neste grupo de pacientes mologistas e cirurgiões torácicos envolvidos diretamente
em particular, os asmáticos parecem ser os mais beneficia- na avaliação funcional esofágica ao longo da última déca·
dos com a detecção do refluxo e da dismotilidade.s da, como atesta o crescente número desses especialistas que
acorrem aos serviços de motilidade digest.iva à procura de
treinamento em esofagomanometria e pHmetria de 24 bo-
ras. Embora ambos os exames não possuam alta complexida-
de técnica, suas indicações e interpretação nem sempre são
simples e requerem conhecimento especifico.
Este capitulo tem por finalidade apresentar de forma ob-
jetiva e resumida os métodos em uso corrente para avaliação
funcional csofágica, bem como suas indicações mais comuns.
Esofagomanometria
A esofagomanometria (EMN) é o método de escolha para
a investigação da motilidade esofágica, uma vez que for-
nece um perfil pressórico completo de todo o esôfago. Sua
utilidade reside na capacidade de se avaliar a competência
(tônus e relaxamento) dos esfincteres e sua extensão/locali- FIGURA 24.1 -+ Equipamento de esofagomanometria (manômetro com
zação, bem como de fornecer informações sobre as caracte- transdutores e cateter de perfusão). Traçado gráfico de pHmetria de 24
horas no monitor.
rfsticas e a organização do peristaltismo do corpo esofágico
(perfil motor).
Os primeiros estudos manométricos esofágicos foram
realizados por Melt.zer em 1894/ mas somente por volta dos EMN (manômetro com cateter de perfusão) e o traçado grá·
anos de 1950 cunharam-se as bases para o conhecimento fico de um exame normal estão descritos nas FIGURAS 24.1 e
dos distúrbios da motilidade esofágica a partir do desenvol- 24.2.
vimento de cateteres de perfusão e de transdutores.'0 No Mais recentemente, surgiu um novo sistema denomina·
infcio da década de 1980, com a introdução do sistema de re- do manometria de alta resolução, que utiliza 32 canais de
gistro computadorizado das pressões intraluminares, a EMN
11 pressão em estado sólido capazes de captar pressões de ma·
tomou-se mais versátil e precisa, permitindo que o método
neira simultânea e reconstruir imagens com o perfil pressóri·
se tomasse rotineiro na investigação funcional do esôfago
co diretamente na tela do computador, não sendo necessária
em nosso meio.
a movimentação do cateter. u É provável que esse sistema
se tome mais popular em um futuro próximo, porém, sua
Oexame de esofagomanometria desvantagem é o custo elevado. A imagem de um sistema de
O exame consiste na introdução - por via nasoesofágica manometria de alta resolução pode ser vista na FIGURA 24.3.
- de um tubo único multiperfurado contendo de 4 a 8 pe- Independentemente do sistema empregado, a EMN é
quenos cana.is, cujos orifícios abrem-se em diversos pontos realizada sem sedação. O paciente precisa seguir instruções
em distâncias predeterminadas e com distribuição axial (FI· e obedecer a comandos simples como deglutir quando solici·
GURA 24.1). Cada tubo é conectado a uma bomba pneumo- tado, não deglutir por curtos e determinados períodos e in·
·hidráulica capilar que infunde 0,5 mUminuto de água por formar sintomas durante os testes provocativos para avalia·
orifício. Quando posicionado no interior do esôfago, o cate- ção de dor torácica. Pacientes com distúrbios cognitivos ou
ter de EMN detectará o diferencial das pressões por meio da pouco cooperativos, seja por ansiedade ou condições diver·
resistência imposta pela parede do esôfago em movimento sas que impeçam esse controle, em geral não são bons can-
contra a saída da água perfundida através dos canais. Essa didatos ao procedimento. A despeito do breve desconforto
pressão é captada por transdutores de pressão, transmitida da passagem do cateter pela oro faringe, que é atenuado pela
para um polígrafo com registro computadorizado para arma- anestesia tópica, a quase totalidade dos pacientes tolera o
zenamento da informação, criando um traçado gráfico em procedimento sem dificuldades, uma vez que a EMN é um
tempo real que é armazenado para cálculos e análise subse· método rápido e totalmente indolor.
quentes. " A técnica de execução do cume é simples e está descrita
Thmbém existem os sistemas com cateteres e transduto- em detalhe alhures. 7 Inicia-se com uma breve entrevista, na
res em estado sólido, que prescindem do sistema de infusão. qual se esclarece a natureza e o motivo do exame, e obtém·
A vantagem desses sistemas é o fato de proporcionarem uma -se o consentimento do paciente para a sua realização. O
avaliação motora mais adequada da faringe e do esfíncter paciente é então posicionado em decúbito dorsal na mesa
esofágico superior (EES). A desvantagem é o custo mais ele- de exame, procede-se a anestesia tópica da fossa nasal com
vado dos cateteres, bem como em sua menor durabilidade gel anestésico, seguida da introdução por via nasoesofágica
e versatilidade, uma vez que a configuração dos cateteres é do cateter.
fiXa. u Assim sendo, os sistemas perfundidos com cateteres Neste momento, a progressão do cateter é facilitada por
multiperfurados ainda permanecem sendo os mais utilizados uma leve flexão da cabeça do paciente feita pelo auxiliar e
em laboratórios de motilidade digestiva. O equipamento de com a adição de goles de água em pequenas quantidades.
FIGURA 24.2 -+ Traçado de esofagomanometria normal. Note ondas peristálticas normais no corpo esofágico durante as deglutições úmidas (deri·
vações Pl, P2, P3 e P4 à esquerda e acima); esfíncter esofágico inferior com tônus normal de 22,8 mmHg (valores normais entre 14 e 40 mmHg), cal·
culado a partir da média aritmética da press~o respiratória média (PRM) nas quatro derivações radiais e com relaxamento completo (setas verticais)
às deglutições nas derivações PS, P6, P7 e P8 (radiais).
Uma vez no interior do esôfago, o cateter é avançado até o Os parâmetros de referência utilizados para análise e in·
estômago (50 a 55 em das narinas), e o equipamento é ca- terpretação no Laboratório de Motilidade Digestiva seguem
librado a partir da pressão intragástrica, aqui considerada padrões normatizados na literatura e em estudo realizado
como zero. A partir daí, inicia-se a remoção a intervalos de em nosso laboratório em indivíduos normais.,.,,s Quando
1 em do cateter com registro das pressões. São avaliados o indicados, os testes provocativos são realizados ao final do
esfíncter esofágico inferior, o corpo esofágico e o esfíncter registro das pressões. O cateter é então removido e o exame,
superior, nessa sequência. encerrado.
O traçado gráfico é obtido em tempo real, gravado em
computador para análise e interpretação, constando de três
módulos distintos: Indicações para esofagomanometria
Dentre as principais indicações para o estudo da motili·
• Esfíncter esofágico inferior (extensão, localização, tônus dade esofágica pela EMN, destacam-se o esclarecimento
e relaxamento); das disfagias na ausência de obstrução mecânica; a inves·
• Corpo esofágico (perfil motor composto de amplitude, tigação de pacientes com dor torácica não cardiogênica
duração, morfologia e velocidade); (D1NC); e a avaliação complementar da doença do reflu-
• Esfíncter esofágico superior (extensão, localização, tô· xo gastresofágico (DRGE), inclusive como investigação
nus, relaxamento e coordenação com as contrações fa- pré-operatória. A EMN deve ser realizada antes da pH-
ríngeas) . metria de 24 horas, uma vez que é o único método que for-
nece a exata identificação e localização do esfíncter esofá·
Manometria convencional
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FIGURA 24.3 ~ Imagem gerada a partir de esofagomanomelria de alta resolução (esquerda) e a sua correspondência com a manometria conven-
cional (direita).
gico inferior (EEI), permitindo, assim, o posicionamento diagnosticada acalásia e 38% t iveram distúrbios motores
adequado do cateter de pHmetria. 12 inespecíficos.
insuflação de um pequeno balão acoplado ao cateter de ma- intra-abdominal, possuem implicação direta na fisiopatolo-
nometria, que provoca um aumento da peristalse a montante, gia e na gravidade da DRGE.t< A EMN é capaz de traçar
o teste de Bernstein (administração de ácido clorídrico 0,1 N um perfil do corpo do esôfago e das possíveis alterações da
pelo cateter de manometria) e a administração de cloreto de motilidade. Sabe-se hoje que o clareamento esofágico (pro-
edrefônio (fensilon~ 80 11-g/kg peso corporal por via endove- cesso que restaura o pH normal na luz do esôfago após a
nosa), um fármaco anticolinesterásico de ação curta que atua ocorrência de um episódio de refluxo) depende fundamen-
como estimulador da musculatura lisa. No entanto, tais testes talmente da amplitude da contração e da propagação da
são subjetivos e dependem da percepção e descrição dos sin- onda esofágica, informações estas obtidas durante o estudo
tomas pelo paciente. Ademais, há muitos resultados falso-po- mano métrico.
sitivos e falso-negativos, tendo sido evidenciada a ocorrência Outras informações de extrema importância, sobretudo
de DTNC em voluntários normais durante esses testes. 25 do ponto de vista cirúrgico, dizem respeito à presença de ou-
tros distúrbios motores concomitantes, como alterações se-
Doença do refluxo gastresofágico cundárias a colagenoses (p. ex., escleroderrnia) e à existência
O estudo manométrico do esôfago - ao avaliar a função es- de distúrbios motores primários (p. ex., espasmo esofágico
fincteriana e a atividade motora do órgão - proporcionou e acalásia). A comparação dos achados manométricos antes
um grande avanço no entendimento da fisiopatologia da e depois da correção cirúrgica do refluxo (fundoplicatura)
DRGE. Informações sobre o EEI, como hipotonia, rela- é fundamental nos pacientes que apresentem disfagia pós-
12
xamentos transitórios (não diagnosticados na manometria -operatória persistente. Assim sendo, a EMN deve sempre
convencional) e ausência ou encurtamento do segmento ser realizada em pacientes candidatos a fundoplicatura.
Antes da realizaçãode pHmetria de 24 horas cidivado, e, ao contrário, pode excluir a doença como causa
Para que os resultados obtidos por meio da pHmetria apre- dos sintomas apresentados se os resultados dessa avaliação
sentem fidelidade e reprodutibilidade, durante a realização estiverem dentro dos parâmetros da normalidade.
do procedimento, o examinador precisa seguir adequada- A medição do pH esofágico foi descrita pela primeira
mente os detalhes técnicos do exame e, entre eles, o posicio- vez em 1960 por Tuttle e colaboradores, que utilizaram uma
namento correto do eletrodo é fundamental. Caso o eletro- sonda com um eletrodo de pH de vidro para mapear o gra-
do seja posicionado muito próximo ao estômago ou muito diente do pH gastresofágico. 29 A monitoração prolongada
distante dele, o refluxo será superestimado ou subestimado, tornou-se viável em 1974, quando J ohnson e DeMeester de-
respectivamente.n senvolveram um eletrodo de referência externo confiável. 30
Hoje em dia, considera-se que a manometria esofágica Usando a técnica de monitoração desenvolvida por perío-
sempre deve preceder a pHmetria para a identificação exata dos de até 24 horas, eles foram capazes de identificar os pa-
da localização do EEI e o posicionamento correto do sen- râmetros mais importantes na avaliação da exposição ácida
sor de pH. Da mesma forma, no diagnóstico de refluxo su- esofágica, classificando-os em um escore, o que possibilitou
praesofágico (laringofaríngeo), o posicionamento do senso r expressar numericamente os resultados dessa monitoração
proximal de pH deve ter como base a localização manomé- prolongada. Isso permitiu a quantificação objetiva do RGE
trica do EES. Isso é particularmente importante nos pacien- e, por conseguinte, a determinação da gravidade da doença.
tes portadores de manifestaçôes respiratórias associadas ao Apesar de modificações propostas ao longo dos anos sub-
refluxo, nos quais a correlação entre doença respiratória e sequentes, o escore de DeMeester continua sendo usado
digestiva depende ao menos em parte dos dados fornecidos ainda hoje na avaliação dos resultados? '
pela pHmetria e da sua realização técnica correta. A monitoração prolongada do pH possibilita que se ava-
lie a correlação entre os sintomas apresentados e sua coinci-
dência com os episódios de refluxo. Esse fato é especialmen-
te importante no que diz respeito aos chamados sintomas
pHmetria esofágica ambulatorial atipicos do refluxo, nos quais se incluem a dor torácica de
de 24 horas origem não cardíaca, os sintomas respiratórios e os otorrino-
laringológicos. Como o pH esofágico é registrado por cerca
A monitoração do pH esofágico é considerada o método iso- de 24 horas, o paciente é orientado a registrar o momento
lado mais sensível e específico para o diagnóstico da DRGE, em que ocorrem os sintomas que o levaram à investigação,
por sua alta sensibilidade (84 a 96%) e especificidade (91 a tornando possível assim o estabelecimento de uma relação
98%) no diagnóstico dessa doença. A medida da presença de temporal entre esses sintomas e os episódios de refluxo.
ácido no esôfago é o método mais objetivo para documentar A interpretação se faz por meio de índices que expres-
a DRGE, bem como para avaliar a gravidade da doença e sam numericamente essa correlação, sendo os mais usados
monitorar a resposta ao tratamento clínico ou cirúrgico. o índice de síntomas (IS}, o índice de sensibilidade de sin-
A DRGE é uma doença comum nos países ocidentais. tomas ( ISS) e a probabilidade de associação dos sintomas
Nos Estados Unidos, 7% da população apresentam pirose (PAS). Portanto, em um paciente sintomático, é importante
diariamente e 44% pelo menos uma vez por mês.26 A pirose considerar não apenas a presença de refluxo, mas também
ocorre quando a mucosa do esôfago é exposta ao conteúdo a correlação positiva entre os episódios de refluxo e os sin-
ácido gástrico, mas essa queixa nem sempre é um guia confi- tomas.
ável para a presença do refluxo ácido no esôfago/' uma vez Por outro lado, a ausência de refluxo patológico docu-
que pode ocorrer o refluxo sem o aparecimento de sínto- mentada por pHmetria também possui interesse diagnóstico
mas. Além disso, mesmo nos pacientes sintomáticos e com e prognóstico, já que indica a possibilidade de coexistência
refluxo, cerca de metade não possui esofagite detectável na de outras causas que tenham provocado ou perpetuado as
endoscopia digestiva, caracterizando a chamada doença do manifestações respiratórias.
refluxo não erosiva (non-erosive reflux disease, ou NERO, em Os equipamentos disponíveis na atualidade para a reali-
inglês).28 zação da pHmetria incluem a pHmetria de 24 horas conven-
A identificação dos portadores de doença do refluxo sem cional, a pHmetria por telemetria sem fio e a impedâncio-
esofagite constitui-se em uma das principais indicaçôes para ·pHmetria, descritas mais detalhadamente a seguir.
a realização da pHmetria esofágica.
Nos pacientes em tratamento com antiácidos ou inibido r
de bomba de prótons (IBP) e que persistem sintomáticos, a pHmetria de 24 horas convencional
realização da pHmetria em vigência do tratamento medica- Ainda é a mais difundida por sua praticidade e baixo custo.
mentoso permite que se verifique se a supressão ácida me- Consiste em um cateter contendo de 1 a 3 eletrodos, distri-
dicamentosa está adequada. A não aderência ao tratamento buídos em distâncias predeterminadas pelo fabricante. Os
clínico ou o uso de doses insuficientes dos IBPS manifestam- eletrodos de pHmetria mais utilizados são os de antimônio
-se na pHmetria como um refluxo persistente ou parcial- com eletrodo de referência externo cutâneo, pois são relati-
mente controlado. Mesmo nos pacientes já submetidos à vamente baratos, semidescartáveis e bem tolerados pelos pa-
cirurgia antirrefluxo, quando os sintomas são persistentes ou cientes. O exame exige suspensão dos antiácidos e procinéti-
recidivam, a monitoração prolongada do pH esofágico for- cos por 5 a 7 dias antes do exame, com exceção das instâncias
nece informação sobre a presença de RGE residual ou re- nas quais o objetivo do exame for a verificação da eficácia
da ablação ácida farmacológica. Como mencionado antes, o namento do cateter e a avaliação dos dados em crianças são
posicionamento do eletrodo é crítico, pois dele dependem a completamente diferentes. Os cálculos realizados fornecem
reprodutibilidade e a confiabilidade dos dados. Assim sendo, dados sob a forma de pontuação para cada um dos achados
independentemente do fato de se utilizar eletrodo único ou recém-descritos. A análise crítica deles, a certificação da
múltiplo, o eletrodo dista! deve ser posicionado sempre 5 em qualidade dos dados, a eliminação de artefatos, a interpre-
acima do limite pressórico superior do EEI. Th.l localização tação e a análise da ascensão dos episódios de refluxo ao
dos limites do EEI exige a realização de EMN para sua de- eletrodo proximal, quando utilizado cateter de dois canais,
terminação precisa. ficam a critério do examinador.
O eletrodo é conectado a uma unidade portátil digital A pHmetria esofágica ambulatorial de 24 horas com ca-
que obtém e armazena uma medida de pH a cada quatro teter convencional é um exame versátil e acessível, podendo
segundos durante 24 horas consecutivas (FIGURA 24.4). A téc- ser aplicado a uma gama de doenças que têm o RGE como
nica de introdução do cateter assemelha-se à descrita para denominador comum. Th.I tecnologia atravessou o teste do
a EMN. Após a introdução nasoesofágica do eletrodo, ele tempo e permanece em uso na maioria dos serviços. É extre-
é avançado até o estômago, onde o pH deverá situar-se en- mamente confiável e, em geral, bem tolerada pelos pacien-
tre 1,5 e 3, quando, então, se traciona o eletrodo em sentido tes, embora apresente algumas limitações, como a presença
cranial até que sua extremidade se situe a exatos 5 em acima incômoda do cateter, o limite de 24 horas para aquisição de
do limite superior do EEI preestabelecido pela EMN. O ele- dados e o fato de não ser capaz de captar refluxo não ácido.
trodo é fvcado à narina do paciente e a gravação é acionada,
dando-se inicio ao exame.
O paciente é instruído a abster-se de medicação antiá- pHmetria por telemetria sem fio
cida e orientado a não tomar banho. Recomenda-se que o Este sistema utiliza uma cápsula que é introduzida na luz
paciente mantenha suas atividades cotidianas, inclusive a esofágica do paciente por via endoscópica. A cápsula é fi-
alimentação. Ao final das 24 horas, o paciente retoma, oca- xada à parede do esôfago distai, sendo capaz de medir o pH
teter é removido e o aparelho é conectado ao computador no local a intervalos regulares e transmitir os dados para
para entrada e análise dos dados, sendo emitido um laudo uma unidade externa portátil por telemetria. Assim sendo,
descritivo com as conclusões do exame. o sistema dispensa o uso de fios de conexão entre o eletrodo
A partir das medidas de pH e das informações introduzi- intraesofágico e o gravador externo.
das pelo examinador, o programa computadorizado gera um O kit de introdução é composto pela cápsula e por um
gráfico e uma tabela de análise que consta de número total cabo em cuja extremidade situa-se a cápsula. A cápsula é
de episódios de refluxo nas 24 horas; percentuais do tempo constituída por um eletrodo de antimônio, pelo eletrodo de
em posição ortostática e em decúbito (período noturno) em referência, por uma bateria interna e pelo transmissor que
que ocorreu refluxo (pH < 4 durante pelo menos 15 segun- envia os dados para um receptor externo através da teleme-
dos); duração do episódio mais longo; e quantificação dos tria por radiofrequência. Antes de ser colocada, a cápsula é
episódios de refluxo com duração superior a cinco minutos. ativada por um interruptor magnético e calibrada. 32
As planilhas de cálculo baseiam-se nos valores normais A recomendação de submeter os pacientes à endoscopia
da tabela de DeMeester, que é um padrão de referência para digestiva alta baseia-se na necessidade de averiguar a pre-
avaliação do RGE ácido a 5 em acima do EEI. Assim sendo, sença ou não de outras doenças e medir com precisão a dis-
vale ressaltar que, quando utilizado cateter de dois ou mais tância a partir dos incisivos. Finalizada a endoscopia, o pa-
canais, a análise de DeMeester só é válida para os dados cap- ciente permanece em decúbito lateral esquerdo, passando-se
tados pelo eletrodo distai em adultos, uma vez que o posicio- por via oral o kit de colocação e fixando-se a cápsula 6 em
FIGURA 24.4-+ Unidade porWil digital de pHmetria esof~gica de 24 horas com eletrodo.
acima da medida da junção epitelial esofagogástrica (FIGURA sem o uso de radiação. Quando combinada com a pHmetria,
24.5). Por meio de um sistema a vácuo, é feita uma sucção da anlplia a capacidade de informação do método por permitir
mucosa do esôfago, com fixação da cápsula e liberação dela a detecção de refluxo não ácido.
do cabo de colocação, o qual é retirado em seguida. Impedãncia é a medida da oposição ao fluxo de corrente
O tempo de registro usual do exame é de 48 horas. Os elétrica em um circuito de corrente alternada . Dentro da luz
pacientes são estimulados a exercerem suas atividades esofágica, a irnpedância está inversanlente relacionada com
usuais, incluindo trabalho e banho de chuveiro normal. Após a condutividade da parede do órgão e seu conteúdo. O com-
48 horas, o paciente retoma ao laboratório para a retirada ponente básico de tal tecnologia é o circuito de impedância,
do equipamento. A cápsula se desprende da mucosa do esô- composto de anéis de metal separados por um isolante - no
fago e é eliminada naturalmente com o conteúdo fecal após caso o corpo do cateter - que são conectados a um gerador
alguns dias, fato este verificado por urna radiografia de tórax de corrente alternada. Para fechar o circuito, a descarga
após uma semana de completado o estudo. Nos pacientes elétrica deve percorrer a área ao redor do isolante. Quando
cujas cápsulas não foram eliminadas ap6s 15 dias, uma nova este espaço é composto por ar, praticamente não há fluxo de
endoscopia digestiva alta está indicada para a sua remoção. corrente entre os anéis, e a medida da irnpedãncia entre os
Esse sistema, embora de execução um pouco mais com- dois eletrodos é muito alta.
plexa, é capaz de fornecer dados por um perfodo mais lon- Quando esse sistema é colocado dentro do esôfago, o
go e de forma mais confortável para o paciente. Contudo, fluxo de corrente entre os anéis é permitido pelas descar-
apresenta problemas em cerca de 15% dos casos, que vão gas elétricas dentro da mucosa do esôfago. A presença de
desde deslocamento precoce, perda de dados, necessidade qualquer outro material dentro do esôfago interfere nesta
de remoção e re~osicionamento (dor retroesternal), até per- transmissão, devido à condutividade elétrica (d iretamente
furação víscera!. l relacionada com concentração iônica) e à secção transversa
As contraindicações ao procedimento são as mesmas de (contração esofágica). A impedãncia elétrica, sendo oposta
um procedimento endoscópico, acrescidas da presença de à condutividade, é decrescente no sentido ar, parede muco-
varizes de esôfago. Esta última é particularmente importan- sa, saliva/material deglutido e, por último, conteúdo gástrico
te, pois fundamenta a recomendação de realização de endos- refluído (irnpedãncia mais baixa).;~e
copia digestiva alta antes da instalação da cápsula.
A presença de bolus líquido entre os anéis de irnpedãncia
Embora o sistema esteja validado e consolidado na lite-
é identificada por uma queda da impedãncia quando a cor-
ratura, sua aplicabilidade em larga escala permanece limi-
rente de fluxo é alcançada pelo bolus, seguida de aumento
tada em nosso meio devido ao custo ainda elevado das cáp-
na irnpedãncia à medida que o bolus é conduzido deste seg-
sulas.
mento pela onda peristáltica. Uma "ultrapassagem" da im-
pedãncia corresponde à diminuição da luz do órgão durante
lmpedâncio-pHmetria esofágica a contração muscular, para então retomar à linha de base.
A impedãncia intraluminal de múltiplo canal é uma tec- A presença de ar entre os dois anéis de impedãncia é
nologia desenvolvida há pouco mais de uma década e cujo identificada como um rápido aumento da impedância com
objetivo é avaliar o movimento do bolus dentro do esôfago, um rápido retorno à linha de base.
A presença de bolus misto (gás-líquido ou líquido-gás)
é caracterizada pela combinação das alterações causadas
pelo líquido e pelo ar. A medição da impedãncia em locais
sequenciais em um único cateter (irnpedância intraluminal
de múltiplo canal) permite não apenas a determinação da
presença do bolus em vários níveis do esôfago, mas também
a direção de seu movimento dentro do esôfago. As altera-
ções na impedãncia no sentido proximal para distai indicam
um movimento anterógrado (craniocaudal) do bolus, como o
que ocorre normalmente durante a deglutição, ao passo que
alterações na impedância no sentido distai para proximal in-
dicam um movimento retrógrado do bolus, como o observa-
do no refluxo {FIGURA 24.6).
A impedâncio-pHmetria permite a detecção de todos os
tipos de episódios de refluxo, independentemente do pH do
material refluído, definindo se o conteúdo refluído é acido
ou não ácido, além de poder classificar os episódios de re-
fluxo em líquido, gasoso e misto.u Usando-se o cateter múl-
tiplo, ainda é possível registrar a altura exata que o refluxo
AGURA 24.5 ~ Cápsula e receptor de pHmetria por tel~a sem fio. atingiu cranialroente no esôfago. O diâmetro externo doca-
Cápsula aderida à mucosa esofágica c~ca de 6 em acima da junção epi- teter de irnpedãncia associado à pHmetria é semelhante ao
telial esofagogástrica {esquerda); unidade receptora {direita). Imagem dos cateteres de pHmetria convencionais (2,1 mm), sendo
cedida pelo Prof. Ary Na~i {HC-FMUSP)
bem tolerado pelos pacientes.
FIGURA 2.4.6 -+ Traçado de imped3ncio·pH·
metria demonstrando a queda de impedância
em sentido retrógrado (caudal-cranial), repre-
sentando episódio de refluxo concomitante à
queda do pH.
15 s
Apesar de sua introdução relativamente recente, se com- nóstico ao mesmo tempo em que se quantifica a intensidade
parado aos demais métodos de mensuração de pressões e e o padrão do refluxo, tanto em relação ao período do dia
pH, a impedãncio-pHmetria já conquistou espaço na prática como às atividades realizadas. Ao possibilitar que se avalie a
clínica diária. Embora sua interpretação seja algo mais la- associação entre os sintomas extraesofágicos c a ocorrência
boriosa e tenha características diferentes dos demais méto- dos episódios de refluxo, a pHmetria permite que se estabele·
dos, a qualidade e a confiabilidade dos dados obtidos com ça uma relação temporal entre esses sintomas, indicando, nos
essa técnica apontam para a perspectiva de permanência da casos positivos, uma interferência do refluxo no aparecimento
impedâncio-pHmetria como método de utilização em larga ou na exacerbação desses sintomas extraesofágicos.
escala no futuro. As novas tecnologias, como a manometria de alta resolu·
ção e a impedâncio-pHmetria, foram incorporadas à inves-
tigação ao mesmo tempo em que vieram expandir o conhe-
Resumo cimento sobre as características e a natureza dos distúrbios
motores, bem como do próprio RGE. Cunharam-se, assim,
A associação entre RGE e doença respiratória é conhecida novas bases para a investigação dos pacientes e, sobretudo,
e frequente, sendo que a população de pacientes portadores da participação de refluxo não ácido nos pacientes portado-
de asma, tosse crônica e doenças intersticiais parece ser a res de manifestações respiratórias.
mais acometida. A avaliação funcional do esôfago comple- O conhecimento dos métodos de avaliação funcional
menta a avaliação morfológica (endoscopia e radiologia) e esofágica e sua interpretação por parte do pneumologista e
possui papel importante na investigação dos pacientes porta- do cirurgião torácico são necessários, visto que facilitam em
dores de manifestações respiratórias, associadas ou não aos muito o reconhecimento e o diagnóstico das frequentes in·
sintomas digestivos. terações entre manifestações respiratórias relacionadas com
os distúrbios motores do esôfago e do RGE.
[E ATENÇÃO
A EMN é o método de escolha para a investigação da
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Tabagismo:
Doença e Grave
Problema de
Saúde Pública
LuizCarlos Corrêa da Silva
25
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, recebe o título
"transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de
fumo" (CID 10: F-17).1
Costuma iniciar-se na adolescência, devido à vulnerabi-
lidade desta fase da vida, caracterizando-se primeiramente
pelo consumo eventual de cigarros. Com a conúnuidade do
uso, instala-se a dependência, e o consumo - antes eventual
- toma-se diário. Como na maioria dos casos começa na
adolescência, o tabagismo deve ser considerado uma doença
pediátrica. Nessa doença, além da dependência qu!mica de
nicotina, outras variáveis podem ter grande importância, de-
pendendo de caracteristicas individuais, como fatores psico-
lógicos, que podem levar o fumante à necessidade do uso de
cigarros como parte de seus hábitos e automatismos, difíceis
de controlar e de mudar,fatom genéJicos, que podem au-
mentar o grau da dependência quúnica, e efeilos diretos da ni-
cotina, por ser um modulador neuroquímico, dentre outros.
O tabagismo deve ser encarado como um problema cole-
tivo, e não apenas individual dos próprios fumantes, uma vez
q ue todos são atingidos, d ireta ou indiretamente, por suas
consequências. Há várias décadas, constitui-se em um sério
problema para a saúde da população, tendendo a aumentar
sobretudo nos países mais pobres e na população mais pobre
de qualquer país, a menos que ocorra uma grande mudança
da atitude coletiva, mundialmente.!
A doença
O tabagismo, em si, é uma doença de dependência de nico-
tina, crônica, multifatorial, com variados graus de intensida-
Aepidemia
de, podendo ter como desfecho mais de 50 doenças, mui- O tabagismo é um dos mais importantes problemas de saúde
tas delas graves e fatais. ' Na Oassificação Internacional de pública, comprometendo sobremaneira a espécie humana,
pelas suas consequências nos índices de morbidade e morta-
lidade e, também, pelos impactos em outros seres vivos e no
meio ambiente. Um terço da população mundial com mais de
15 anos de idade é fumante, o que corresponde a 1,3 bilhão
de pessoas. Como consequência do tabagismo, morrerão 500
milhões de pessoas, sendo metade desse contingente aínda
crianças ou jovens, hoje com menos de 20 anos de idade.
Verifica-se que, a cada dia, mais de 100.000 jovens fu-
mam o primeiro cigarro da sua vida, o que totaliza 36 mi-
lhões de novos experimentadores por ano. Dentre estes,
mais de 50% se tomarão dependentes da nicotína. Portanto,
para os cinco milhões de pessoas que cessam o tabagismo a Consumo do tabaco
cada ano devido ao seu óbito, há uma reposição de mais de Pelo fato de representar um mercado novo e promissor, a
18 milhões de novos fumantes. A indústria do tabaco festeja população dos palses em desenvolvimento, particularmente
e incentiva este saldo macabro. mulheres, crianças e adolescentes, tem sido objeto do inte-
No Brasil, ocorrem 200.000 mortes a cada ano por doen- resse direcionado da indústria do fumo. Isso levou a OMS a
ças relacionadas com o fumo. Portanto, a cada cinco minutos considerar esses grupos como de risco e a lhes dirigir cuida-
morre um brasileiro em consequência do tabagismo. dos especiais para prevenção do tabagismo e promoção da
Embora a tendência seja de crescimento, ainda há muito saúde em geral.
menos mulheres fumantes do que homens. Estima-se que, Cerca de seis trilhões de cigarros são consumidos anual-
mundialmente, esse número esteja hoje em torno de 250 mi-
mente, manufaturados a partir de quase seis milhões de
lhões, isto é, de cada seis fumantes, um é mulher. Portanto,
toneladas de folha seca de tabaco. O consumo anual de
dos cinco milhões de mortes anuais por doenças tabaco-rela-
cigarros por adultos, no mundo, aumentou da década de
cionadas, um milhão é de mulheres.
1970 para a de 1980 e se estabilizou a partir daL Os palses
O início da epidemia do tabagismo mostrava nítida asso-
desenvolvidos, depois de experimentarem um aumento de
ciação com nível socioeconômico elevado, mas, nas últimas
consumo em 1970 e 1980, mostraram redução nas últimas
décadas, esse panorama começou a se modificar e, princi-
décadas. Chama atenção que os paises menos desenvolvidos
palmente nos países desenvolvidos, a maior prevalência do
são aqueles que vêm sofrendo o maior aumento a partir da
tabagismo passou a ser observada em homens de baixo nível
socioeconômico. década de 1970, constatando-se que o consumo de 800cigar-
A prevalência do tabagismo entre os homens ficou em ros anuais por adulto duplicou.'
tomo de 50% por quase 20 anos. Já entre as mulheres, tem No Brasil, o consumo de cigarros registrado no ano de
aumentado substancialmente nos últimos 20 anos, estando 1989 foi de 162 bilhões de unidades, índice dos mais altos
as taxas do tabagismo das mulheres urbanas muito seme- até então atingidos, posteriormente tendo caído para cerca
lhantes às dos homens. Dados nacionais levantados pelo de 100 bilhões por ano apesar do crescimento populacional.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatlstica (IDGE), em Dados nacionais ainda mostram que o índice de consumo de
2008, demonstraram que 17,2% (24,6 milhões) da população cigarros, à semelhança de outros países, está inversamente
brasileira acima de 15 anos fuma: 21,6% dos homens (14,8 associado ao seu preço real médio, confirmando que o au-
milhões) e 13,1% das mulheres (9,8 milhões).• As informa- mento de preços é uma medida eficaz para a redução do ta-
ções atuais revelam prevalências semelhantes entre homens bagismo.
e mulheres de 20 anos c mais, o que indica que as mulheres O conhecimento do volume de contrabando é muito
avançaram muito nessa nefasta competição. pobre e incontrolável, o que sempre dificulta uma análi-
A proporção de mulheres em idade reprodutiva que se aprofundada do montante do consumo gerado por essa
fuma é de, aproximadamente, um terço, tendo como uma origem do produto. Estima-se que tal fonte de cigarros
das consequências o baixo peso dos recém-nascidos, o que possa chegar a 30% do total registrado oficialmente. Entre
se constitui em um dos fatores mais importantes para mor- os 100 países produtores de tabaco, o Brasil ocupa o 4°
talidade iníantil. lugar, sendo responsável por 6% da produção global (Chi-
Em nlvel mundial, os dados epidemiológicos sobre a na: 34%; Estados Unidos: 11%; Índia: 10%). Esses quatro
doença tabagismo ainda são alarmantes, pois, segundo a Or- pafses juntos cobrem dois terços da produção global de
ganização Mundial da Saúde (OMS), ocorrem cinco milhões tabaco no mundo. O Brasil destaca-se como o maior ex-
de mortes anualmente devido a doenças tabaco-relacionadas, portador, sendo responsável por 16% da exportação global
6
o que equivale a mais de 10.000 mortes por dia, ou seja, a cada defumo.
oito segundos, morre um ser humano por doença relacionada
com o fumo. As estimativas da OMS indicam que essa epi-
demia, se mantiver o crescimento atual, poderá duplicar seus
efeitos letais, levando a 10 milhões de mortes anuais a partir
Otabagismo como fator de risco
de 2030. Caso isso aconteça, será consequência direta do au- O tabagismo é o principal fator de risco prevenível de
mento do consumo do tabaco nas regiões em desenvolvimen- doenças e de mortalidade para o ser humano. Os concei-
to, mais pobres, particularmente África, fndia e China. tos vigentes há quatro décadas devem ser completamente
modificados, pois a quase totalidade das informações hoje tivos peculiares a esse período da vida e, posteriormente,
disponíveis sobre os danos causados pelos cigarros foi des- quando houver dependência de nicotina, toma-se difícil a
coberta mais recentemente. Isso quer dizer que as pessoas cessação. Constitui também um importante fator de risco,
que começaram a fumar naquela época não apenas estavam não apenas para as situações salientadas no QUADRO 25.1,
desinformadas, mas também eram estimuladas a fumar por mas também por favorecer a iniciação de outras drogadi·
uma mídia avassaladora e extremamente competente para ções, como álcool, maconha, cocaína e crack.
captar novos fumantes.
Um quarto dos fumantes que não conseguem parar de
fumar morre em média 20 anos antes, em comparação com
não fumantes. Quem fuma 20 cigarros por dia morre 10 anos
lmpado ambiental
antes e consome mais tempo com incapacidade do que a mé- O impacto ambiental do dcflorestamcnto c do uso de agro-
dia dos não fumantes. tóxicos tem muita importância no Brasil. Os esforços para
No QUADRO 25.1, enumeram-se as principaisconsequên- reflorestamento, pelos plantadores de fumo, não têm sido
cias do tabagismo quanto a doenças e danos. efetivos e, sem a utilização dos agrotóxicos, o cultivo do ta-
O tabagismo, pelo fato de geralmente se iniciar na ado- baco torna-se economicamente desinteressante. Embora
lescência, fase em que os aconselhamentos e as informações estudos tenham demonstrado os efeitos danosos dos pro-
sobre saúde não fazem parte dos interesses da maioria dos dutos quimicos utilizados no cultivo do tabaco sobre o meio
jovens, tem um caminho aberto para sua iniciação pelos mo- ambiente e, particularmente, sobre os fumicultores, sua
utilização prossegue e com apoio e incentivo das empresas
que comercializam, controlam, exportam c industrializam
a produção. As tentativas de reflorestamento, por parte da
QUADRO 25.1 ~ Doenças e danos causados pelo tabagismo indústria, são utilizadas como propaganda em prol delas
mesmo, sem que haja nenhum indicativo de reversão do
Qncer Pulmão, laringe, boca, esôfago, p3ncreas, problema.
bexiga, rim, estômago, leucemia, cérvice
media os sinais comportamcntais da sfndrome de abstinên- Assim, a privação de nicotina pode resultar em um
cia da nicotina. estado de deficiente resposta dopaminérgica a no·
A alteração da fu nção e do número de receptores glu- vos estfmulos e a um estado de mal-estar e incapaci-
taminérgicos devido à exposição crônica à nicotina, par- dade de sentir prazer, conhecido como desregulaçâo
t icular mente na AVI; torna a transmissão glutaminérgica hedônica. A desregulaçlio hedOnica pode explicar a
mais lenta e desencadeia o comportamento característ ico fissura e a sensibilidade aos efeitos da nicotina.
da abstinência nicot fnica. 5 A at ividade aumentada das
projeções glutaminérgicas do córtex pré-frontal para o nu-
cleus accumbens inOucncia o comportamento de busca por Embora os fumantes deem diferentes explicações para a
nicotina.• necessidade de nicotina, a maioria deles concorda que fumar
Assim, ocorre neurotransmissão aumentada do gluta- proporciona excitação matinal e relaxamento em situações
mato com a administração da nicotina. Por outro lado, a estressantes.
2. Changeux J P, Thly A. Nicotinic reeeptors, allosteric proteins and
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tolerância
3. Benowitz NL. Nicotine addiction. N Engl J Med.
A administração crônica de nicotina produz alteração pa-
2010;362(24):2295-303.
radoxal na função dos nAChRs, a qual consiste na dessen-
sibilização dos receptores - não resposta do receptor com 4. Wonnacott S. Presynaptic nicotinic ACb rceeptors. nends Neu-
fechamento do canal iônico -desencadeando um aumento rosci. 1997;20(2):92-8.
numérico dos nACbRs, o que está ligado ao desenvolvimen- S. Kenny PJ, Gasparini F, Markou A. Group 11 metabotropic and
to de dependência e tolerância à nicotina.' alpha-an1ino-3-bydroxy-5-mcthyl-4-isoxazole propionate (AMPA)/
A dependência à nicotina está fortemente associada a kainate glutamate rcccptors rcgulatc the deficit in brain reward
circuitos funcionais interconectando o giro cingulado e cor- function assoeiated with nicotinc withdrawal in rats. J Pharmaeol
po estriado. No entanto, a administração aguda de nicotina Exp Tber. 2003;306(3);1068-76.
não rem efeito significativo sobre esses circuitos. Além disso,
6. Kalivas PW, Volkow NO. The neural basis of addiction: a patholo-
a administração de nicotina multiplica em muitas vezes a co- gy of motivatio o and cboicc. Am J Psychiatry. 2005;162(8):1403-13.
nectividade em circuitos cingulado-neocórtex, os quais não
estão associados à gravidade da dependência à nicotina, mas 7. Govind AP, Vezina P, Green WN. Nicotine-induced upregulation
têm papel nas propriedades de melhora cognitiva desenca- of nieotinic receptors: underlying mcchanisms and rclcvancc to ni-
deada pela droga. Dessa maneira, é possível que circuitos eotinc addiction. Bioebem Pbarmacol. 2009;78(7):756-65.
disfuncionais entre o giro cingulado e o corpo estriado sejam 8. Hong LE, Gu H, Yaog Y, Ross TJ, Salmcron BJ, Buchholz B,
responsáveis pela falha da terapia de reposição de nicotina, et ai. Nieotine addiction and nicotinc's aetions are assoeiatcd with
observada em muitos fumantes que desejam abandonar o separate cingulate cortcx fuoctional circuits. Arch Geo Psycbiatry.
hábito tabágico.8 2009;66(4):431-41.
Metabolismo da nicotina
Genes envolvidos no metabolismo da nicotina também são
candidatos plausiveis para estudos do comportamento tabá-
gico. Indivíduos que metabolizam mais lentamente a nico· Assim, os polimorfismos envolvidos na codificação de
tina são menos propensos a começar a fumar, pois tendem enzimas metabolizadoras de drogas, da variabilidade das
a ter efeitos adversos mais prolongados e mais intensos ao
proteínas transportadoras ou dos receptores fazem parte do
experimentarem o fumo. Após terem se tomado fumantes cerne dessas investigações.
regulares, essas pessoas geralmente fumam menos, pois
Os primeiros estudos fannacogenéticos envolvendo os
mantêm o nfvel sérico de nicotina alto por mais tempo. O
medicamentos utilizados no tratamento do tabagismo surgi-
polimorfismo no gene CYP2A6, que faz a regulação hepá-
ram muito recentemente e identificaram, de modo prelimi-
tica da enzima transfonnadora de nicotina em cotinina, tem
sido amplamente estudado.l.S.Il-!6 nar, determinados alelos que poderiam predizer a resposta
17 terapêutica.
Carter e colaboradores, em metanálise do gene
Na literatura, há cerca de 30 estudos de associação entre
CYP2A6 e do comportamento tabágico (fumante versus
não fumante), envolvendo 5.628 pessoas, não encontraram polimorfismo genético e cessação do tabagismo e um estudo
associação significativa entre as variantes e o genótipo consi- genômico (GWAS) que envolveram terapêutica de reposi-
derado normal, nem com a quantidade de cigarros fumada, ção de nicotina e bupropiona. Entretanto, poucos genes ou
considerada de modo categórico. regiões cromossômicas foram estudados completamente.
Os estudos ENGAGEs e TAG3 identificaram variações Além disso, alguns fármacos em uso no arsenal terapêutico
no CYP2A6 associadas ao número de cigarros fumados por para combater o tabagismo também ainda não foram avalia-
dia. Entretanto, a complexa arquitetura genética das muta- dos sob esta perspectiva.''
ções nesse gene pode obscurecer associações se determina- Assim, ainda que as perspectivas sejam promissoras, há
dos cuidados metodológicos não forem tomados. necessidade de novos estudos com amostras suficientemente
As limitações a esses estudos são várias. O ajuste ina- grandes para ajustes de vários fatores de confusão, muitas
dequado da estratificação da população estudada entre os vezes negligenciados, envolvidos na cessação do tabagismo.
casos e os controles tem papel importante na não replicação Estudos de genoma têm demonstrado polimorfismos de
dos resultados entre as várias publicações, além de proble- nucleotfdeo único (SNPs) que podem distinguír fumantes
mas técnico-laboratoriais. que tiveram sucesso ao cessar o tabagismo em ensaios cHni-
Outra limitação é que a classificação simplista dos in- cos com reposição de nicotina e bupropiona. Além disso, os
divíduos em fumantes, ex-fumantes ou não fumantes pode estudos têm identificado marcadores genômicos associados
não ser satisfatória para descrever os múltiplos fenótipos a êxito na cessação do tabagismo, permitindo até a proposi-
ligados ao fumo, como idade de inicio, carga tabágica diá- ção de um escore genotípico para cessação.' 9
ria, influência ambiental e familiar, experiências individuais, O tratamento individualizado do tabagismo, portanto,
tentativas prévias de abandono, sinais, manifestações e grau ainda não é uma realidade para a prática clínica diária.
de dependência e muitos outros. Desse modo, ainda que os fármacos disponíveis para o
Características fenotípicas complexas, como o tabagis- tratamento do tabagismo sejam eficazes, existem substan-
mo, provavelmente são resultantes da interação de vários ciais diferenças interindividuais nas respostas terapêuticas.
genes com fatores do ambiente. Isso aponta para a neces- Estudos fannacogenéticos podem tomar mais favoráveis os
sidade de deünição muito precisa de padrões fenotípicos, o percentuais de sucesso e de efeitos adversos, identificando
que ainda não foi conseguido com unanimidade, dificultan- variantes genéticas preditivas de resposta terapêutica. les-
do a comparação de resultados e sua introdução na prática tes que possam prever a resposta terapêutica ainda estão em
clínica diária. fase de avaliação antes de sua introdução na prática cl!nica.
Conclusões gene is impli<:ated in smoking addietion. Am J Med Oenet B Neu-
ropsycbiatr Genet. 2004;1288(1 ):90-3.
Nos dias atuais, apesar dos avanços na farmacoterapia do ta- 9. Minnix JA, Robinson JD, Lam CY, Carter DL, Foreman JE, Van-
bagismo, a chance de recaída de um fumante ainda é muito denbergh OJ, et ai. The serotonin transporter gene and stanlc rcs-
maior do que a possibilidade de se alcançar e manter a absti- ponsc during nicotine deprivation. Biol Ps)'Chol. 2011 ;86(1 ):1-8.
nência. Este cenário se deve, em parte, ao forte componente
10. Fowlcr JS, Volkow ND, Wang GJ, Pappas N, Logan J, MacGre-
genético que só agora começa a ser mais bem entendido. 28
gor R. et ai. lnhibition of monoaminc oxidase B in thc brains of
Melhorar a efetividade dos tratamentos disponíveis median- smokcrs. Nature. 1996;379:733-6.
te a compreensão dos mecanismos de adicção tabágica deve
ser a meta dos estudiosos do assunto nos próximos anos. 11. McKinney EF, Walton RT, Yudkin P, Fuller A, Haldar NA, Mant
A aplicabilidade prática desses conhecimentos, portanto, O, et ai. Association berween polymorphisms in dopamine mctabo-
lic cnzymes and tobacco consumption in smokers. Pharmacogenc·
ainda é restrita e se limita a avanços que por enquanto não tics. 2000;10(6):483-91.
podem ser aplicados na clínica diária, embora se esteja bem
próximo disso. 12. Barrucco M , Alonso A, González.Sarmicnto R. Bases genéticas
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José da Silva Moreira
LuizCarlos Corrêa da Silva
28
dois grupos de indivíduos, um exposto e outro não exposto
Introdução ao fator (no caso, tabagismo), a frequência de um desfe·
cho (no caso, doença) é significativamente maior no gru·
~ATENÇÃO po exposto. O tempo de exposição ao fator em estudo e a
avaliação do desfecho dependerão das características de
O tabaco, desde os primórdios do seu uso, já era per· ambos.
cebido por alguns como danoso para a saúde, mas Para avaliar risco, o modo mais correto de fazê-lo é por
não havia base cientlfica nas observações, e tal pos· meio de um estudo de coorte, seguindo-se, a partir de um
tura antitabagista mostrava-se com alguma impor· determinado momento, dois grupos de indivíduos, compa·
t.ância apenas quando o manifestante detinha poder ráveis sob todos os aspectos, mas somente um deles exposto
social ou religioso. Somente a partir da metade do ao fator (p. ex., fumo). Verifica-se, ao final de um tempo pre-
século XX obteve-se consistência metodológica para estabelecido, se ent re os grupos a frequência da ocorrência
considerar o tabagismo como fator de risco para da· do desfecho de interesse (p. ex., câncer de pulmão) foi dife-
nos, doenças e mortes nos seres humanos. Citem-se rente, de modo significativo. Esse tipo de estudo é, todavía,
os estudos de Auerbach' em cães, em que os animais demorado e oneroso.
desenvolviam tumores pulmonares malignos após se
A alternativa mais rápida e menos dispendiosa é efetu-
submeterem prolongadamente à fumaça de cigarros
ar um estudo t ipo caso-controle, em que se parte do desfe·
(prova biológica), e o grandioso estudo de coorte de
cho, buscando-se, retrospectivamente, qual a relação deste
34 mil médicos britânicos, realizado a partir de 1951
com o fator (de risco) estudado.5 O trabalho de Menezes,6
por Do li e Hill, >.J e Doll e colaboradores, • em que fi·
realizado em nosso meio, é um exemplo típico desse tipo de
cou claramente demonstrado que fumar se associa a
estudo.
uma elevada frequência de câncer de pulmão (prova
epidemiológica), entre outros achados que mostra·
ram o poder de dano do tabagismo para a saúde.
Entendimento do tabagismo como
fator de risco
Definição de fator de risco Pela grande importância que o tabagismo tem para a saúde
humana, faz-se necessário conhecer melhor suas caracterís-
Considera-se que existe risco aumentado devido a um de· ticas, seus efeitos, e estudar sua relação causal em diversas
terminado fator em estudo quando, na comparação entre dimensões.
Produtos liberados pela fumaça de cigarros QUADRO 28.1 7 Substâncias existentes na fumaça do tabaco
(15 funções químicas)
A presença de mais de 4. 700 substâncias químicas, formadas
pela queima do fumo, mais de 200 sendo produtos tólricos e
cerca de 50 tendo elevado poder cancerigeno, já é um for-
te argumento para considerar-se o tabagismo uma potente
Amidas, imidas 237
ameaça à saúde humana. No entanto, as evidências acumula-
das pelas observações de várias décadas fizeram-se necessá- Ácidos carboxilicos 227
rias para que os órgãos de saúde pública finalmente viessem
a se manifestar.' .. Lactonas 150
É possível unir os inúmeros componentes químicos da
Ésteres 474
fumaça de cigarros em quatro grupos gerais de substâncias
químicas: Aldeldos 108
-- - - - - CESSAÇÃO
Antioxidantes
' , r------------------L-------------------,
'
'
Oxidantes Alteração da depuração mucociliar
l
Irritação do epitélio da via aérea
l
Retenção de muco
lesão e morte de células Infecção
Influxo de neutr6filos
Inflamação
.___:-_L
---1--- Antiproteases
Antibióticos
AGURA 28.1 -+ Mecanismos de ação dos produtos da fumaça de cigarros, particularmente mediante processo inflamatório.
Não fumantes
tilfenantreno e outros) e as nitrosaminas. Essas substâncias
têm ação direta no genoma, produzindo durante sua meta- -;;,
bolização dióis·epóxidos, altamente lesivos para o DNA.u· 16
A nicotina também tem papel na patogênese do câncer de
pulmão.
g
~ 75 Fumantes /
suscetíveis
---,, ', Parou com
~g ' , , / 45anos
> l; 50 ''
Perda da função pulmonar ~ ''
.g lnc.apacitaçáo
Desde a década de 1970 se sabia da perda de função pulmo- t 25
'·
.......... Paroucom
nar que ocorre excessivamente em fumantes, em compara- Morte ' ' , / 65 anos
ção com não fumantes, sobretudo a partir das observações
o
de Fletcher e Peta, 11 divulgadas para todo o mundo na forma
da FIGURA 28.2. 25 50 75
Mais recentemente, demonstrou-se haver relação entre Idade (anos)
a perda funcional pulmonar e o processo inflamatório resul- FIGURA 28.2 -+ Queda de função pulmonar com a idade, em não fu-
tante da inalação da fumaça de cigarros.'2.13 mantes e fumantes (não suscetíveis e suscetíveis). VEF, = volume expi-
ratório forçado no primeiro segundo.
Fonte: Fletcher e Peto."
Fortalecem o papel do tabagismo como fator de
risco
~ Estudos experi mentais em animais
~ Estudo de Auerbach' em cães Danos e doenças associados ao
~
~
Estudos de coorte (britânica)
Estudo de Doll e Hill 2' 3 e Doll e colaboradores'
tabagismo
~ Estudos americanos - General Surgeon'.a No QUADRO 28.2, enumeram-se as principais consequências
~ Estudos de caso-controlé·'' do tabagismo quanto a doenças e danos e, na sequência, são
abordadas as principais situações em que o tabagismo se
constitui um importante fator de risco.
QUADRO 28.2-+ Doenças e danos causados pelo tabagismo Setor respiratório
C.!ncer Otstúrboos reprodutores Doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC}
Pulmão, laringe, boca, Redução da fertilidade Noventa por cento dos portadores de DPOC sáo ou foram
esôfago, p3ncreas, beXJga, Prematuridade fumantes. Quanto às doenças pulmonares intersliciais, a
nm, es16mago, leuc~ma, 8atXo peso ao nascer bronquiolite respiratória só oeorre em fumantes, e as outras
chvke doenças pulmonares intersticiais, como a pneumonia inters-
Abortamento
Doença cardiovascular Ruptura prematura de licial usual e a pneumonia intersticial inespecffica, ocorrem
Mortesúbrta membranas mais em fumantes. A asma oeorre com mais frequência e
Infarto agudo do mioárdoo Aumento da mortalidade maior gravidade em crianças fumantes passivas.' "
Angina instável perinatal
Acidente vascular cerebral Doença bucal Infecções
Doença oclusiva vascular C.!n<er bucal
periférica Tuberculose
Leucoplasia
Aneurisma de aorta O tabagismo aumenta a frcquência e a mortalidade por tu-
Gengivite
berculose em duas a três vezes, segundo estudo indiano.n
Doença pulmonar Pigmentação dentária
Um estudo recente demonstrou que a fumaça de cigarros
CAncer de pulmão Outros suprime a resposta imune protetora ao Mycobacterium tuber-
OPOC Menopausa precoce culosis em ratos e em humanos, por seus efeitos nos maeró-
Asma Osteoporose fagos alveolares e nas células THP-1.2-4
Pneumonias de repetição Catarata
Aumento da morbidade das Rugas cutâneas prematuras
viroses Infecções diversas
Agravamento de
Doenças pulmonares hipotireoidismo Viroses e infecções bacterianas no trato respiratório e de-
intersticiais mais setores do organismo ocorrem com mais frequência e
têm maior gravidade em fumantes.
Doença gastrintestinal
Úlcera péptica
Refluxo gastresof.lgico
0 ATeNÇÃO
A evidl!KY ü pritiu
Tumores malignos O médico, em particular o pneumologista, observa
Câncer de pulmão na sua prática diária que a subtotalidade dos seus
Sem dúvida, o estudo que deu grande consistência à asso- pacientes com dncet' de pulm!o e dos seus pacien-
ciação entre tabagismo e câncer de pulmão foi o de DoU e tes com DPOC é ou foi fumante. E, dentre aqueles
2
Hill. O trabalho de Hirayama, 13 no Japão, foi o primeiro a doentes com essas enfermidades que referem nunca
ter fumado, frequentemente poderá identificar um
demonstrar a importância do tabagismo passivo como causa
de câncer de pulmão, mostrado em um estudo chinês." apreciável número que foi fumante passivo e não se
deu conta disso.
Outros tumores
Há muitas evidências de que tumores malignos de outras
localizações, como laringe, cavidade bucal e nasal, esôfago,
estômago, bexiga, colo do útero, entre outros, também têm Referências
relação causal com o tabagismo.•.20.2• 1. Aucrbach O, Hammond EC, Kirman D, Garlinkcl L, Stout AP.
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Carlos Alberto lglesias Salgado
Carla Bicca
29
Introdução Otabagismo em associação com
De maneira geral, em ambiente clínico, a prevalência de to- transtornos psiquiátricos
das as doenças tende a ser maior do que na comunidade. Em
Fumantes são candidatos a mais transtornos psiquiátricos do
ambientes hospitalares de referência, a comorbidade múlti·
que seus pares não fumantes. Um estudo de seguimento de
pia é a regra. Em psicopatologia, esse aspecto se mantém,
10 anos que acompanhou 5.001 franceses, investigando fato-
sendo comum a comorbidade. Fumantes que procuram ser- res de risco para o abuso de substâncias, mostrou uma clara
viços para cessar com o tabagismo certamente apresentam associação entre psicopatologia e o desenvolvimento de abu-
maior chance de ter um ou mais diagnósticos psiquiátricos so de substâncias, com evidente destaque para o tabagismo.'
concomitantes do que a população geral. Thmbém ocorre o Existem alguns modelos interessantes para se situar o ta-
viés inverso: pacientes psiquiátricos tendem a apresentar his- bagismo entre outras condições mórbidas psiquiátricas. Um
tória mais frequente de problemas pelo uso de substâncias modelo bastante contemporâneo apresenta o tabagismo no
psicoativas como o tabaco. Usuários de outras substâncias trajeto de uma cascata de desinibição comportamental que
também fumam mais do que a população geral. E, por fim, avança desde o transtorno de déficit de atenção!hiperativi-
é claro que fumantes de tabaco tendem a abusar também de dade (TDAH), seguindo pelo transtorno desafiador de opo·
outra.s substâncias. sição, avançando até o transtorno da conduta e, por fun, da
É em meio a esse emaranhado de preditores que o personalidade antissocial.5
médico atende ao paciente em busca de cessação do taba· A relação entre o TDAH, por exemplo, e o tabagismo
gismo. Desde o começo, o prognóstico da relação médico- é complexa e parece envolver tentativas de automedicação,
· paciente vai sendo influenciado pela percepção adequada pois a nicotina pode oferecer algum alívio do déficit de atcn·
da psicopatologia eventualmente presente. Aspectos gerais ção, sintoma capital do t ranstorno. O prejuízo cognitivo,
de personalidade da dupla podem influenciar a percepção contudo, resulta ampliado. 6 Essas cond ições clínicas estão
adequada c o manejo das peculiaridades psicopatológicas muito associadas ao abuso de tabaco e outras substâncias.
do pacicntc.'·3 Isso se constitui em um desafio maior para a Esse modelo da cascata de desinibição comportamental não
prática cUnica judiciosa. equivale a dizer que o fumante tenha de ter uma relação pa-
Neste capítulo são discutidas as relações bidirecionais de tológica com regras sociais, mas, sim, que aqueles que a têm,
transtornos psiquiátricos com o tabagismo e suas consequên- fumam mais do que a população geral. Há evidências de que
cias para o trabalho médico cotidiano. a comorbidade do tabagismo com TDAH envolva um pior
prognóstico da cessação do tabagismo, a menos que o qua- pela via da automedicação com tabaco, sofre a resposta da
dro de TDAH seja estabilizado já ao início do tratamento.' adaptação neuronal. A interação de antidepressivos com o
Esta contingência costuma se repetir com as demais situa- tabagismo pode trazer uma compreensão da complexidade
ções de comorbidade com o tabagismo, ou seja, é importante citada. Por exemplo, receptores nicotínicos de acetilcolina
tratar antes os transtornos associados, melhorando as chan- estão envolvidos na modulação da liberação de vários neu-
ces de êxito diante do desafio da cessação do tabagismo. rotransmissores implicados na regulação do humor, como
serotonina, norepinefrina, dopamina, ácido gama-aminobu-
tírico (GABA) e glutamato. A inibição do receptor nicotini-
0 ATENÇÃO
co parece mitigar a instabilidade do humor e reduzir a de-
pressão. É possível que o ato de fumar possa ser seguido de
adaptações ou tolerância à nicotina, a qual pode promover
A associação de transtornos do humor com o taba-
estados afetivos negativos como depressão. A modulação do
gismo também merece especial atenção. Os vários
humor propiciada pela nicotina pode declinar ao longo do
transtornos do humor podem impor relevantes desa-
fios ao médico que ajuda o paciente na cessação do tempo. Os estudos epidemiológicos da relação depressão-
tabagismo. lndivlduos deprimidos podem ser espe- -tabagismo, desde a juventude até a vida adulta, capturando
histórias mais longas de tabagismo e padrões mais elevados
cialmente inábeis para com a proposta de reorgani-
zação de suas vidas para se contrapor à tendência de de uso do tabaco, mostram que fumar prediz depressão, o
recaldas frequentes. Eles podem identificar no taba- que é consistente com essa explicação neurofisiológica."
co um alivio sintomático significativo, embora tran- O uso concomitante de maconha e tabaco que tem iní-
12
sitório. Considerando a ambivalência sempre presen- cio na adolescência pode seguir presente na vida adulta. É
te no individuo que enfrenta o desafio de parar de relevante, portanto, sempre investigar o uso de maconha em
fumar, os sintomas depressivos e seu alivio podem adultos que procuram atenção médica para a cessação do
ser arregimentados para o lado da manutenção do tabagismo. Não é incomum que o paciente tenha relutância
tabagismo. em expor seu uso de maconha em razão do maior peso social
desfavorável envolvido. Uma vez que o médico interrogue
o paciente com cuidado e respeito, poderá propiciar uma
abordagem mais efetiva, já que o uso de maconha pode estar
Pacientes depressivos sintomáticos são de abordagem envolvido em eventuais recaldas no uso de tabaco.
mais difícil em qualquer condição clínica, daí a importância
da rápida identificação do quadro. O uso eventual de escalas
de depressão pode organizar a investigação do médico. A
Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD) permi-
te registrar sintomas das duas linhagens sem a interferência
0 ATENÇÃO
de sintomas neurovegetativos comuns a muitas condições A relação entre ansiedade e tabagismo é mais com-
clínicas gerais e também frequentes entre fumantes.8 Para os plexa do que parece a prindpio." Especialmente o
quadros em que se suspeita de mania, condição clínica opos- estresse pós-traumático relaciona-se com a gravida-
ta e simétrica à depressão, podem-se utilizar escalas bastan- de do tabagismo, contribuindo para as evidências de
te simples e autoexplicativas como a Escala de Avaliação de que transtornos psiquiátricos mais graves tendem a
Mania de Bech-Rafaelsen (EAM-BR). 9 Tendo em vista o associar-se mais ao tabagismo e a um pior prognós-
risco de uso de fármacos que podem contribuir para quadros tico da cessação.
de mania, eventualmente é útil empregar a escala de mania
referindo-se a algum episódio passado do paciente que sugi-
ra transtorno do humor bipolar. Uma revisão crítica da produção científica de 1960 a 2008
Um estudo avaliando 1.560 fumantes adultos mostrou incluiu 24 estudos cujo foco era a associação entre tabagismo
que a depressão recorrente em fumantes está associada a di- e transtorno de pânico, quadro caracterizado por crises paro-
ficuldades maiores na abordagem e em seu prognóstico, mas xísticas e extremamente intensas de ansiedade." Ela demons-
também ficou evidente que esse particular grupo de pacientes tra que o cigarro aumenta o risco da instalação do transtorno
tende a responder melhor a abordagens psicoterápicas mais de pânico. Embora a comorbidade tenha suas bases pouco
robustas.'0 Essa evidência propicia base para uma comple- desvendadas, o estudo mostra que: 1) fumar cigarros promove
xidade maior na organização de serviços para o tabagismo, o pânico, ao induzir anormalidades ventilatórias ou doenças
especialmente aqueles que por sua excelência se tomem refe- pulmonares; 2) a nicotina produz efeitos fisiológicos caracte-
rência para casos mais graves, sendo necessário que a equipe rísticos do pânico ao liberar norepinefrina; 3) o transtorno de
conte com profissional hábil em recursos psicoterápicos. pânico promove o ato de fumar como automedicação; e 4)
Em adolescentes, a relação entre depressão e tabagismo uma vulnerabilidade compartilhada promove ambas as con-
é complexa. Ela é mediada também pela influência de seus dições. Achados dessa ordem apontam para a importância
pares fumantes. Em uma avaliação linear, a associação é cla- da atenção sistemática a comorbidades muito provavelmente
ra: adolescentes depressivos são mais vulneráveis à influên- presentes e determinantes do prognóstico do paciente.
cia de pares fumantes e progridem mais para o tabagismo. Observando pelo ângulo oposto, a avaliação de fumantes
Por outro lado, a eventual redução de sintomas depressivos, pode ser uma excelente oportunidade de detecção e encarni-
nhamento a tratamento de indivíduos portadores de trans- menor a ser tolerado. Ocorre que pacientes graves muitas
tornos psiquiátricos relevantes. Como estudos mostram que, vezes fumam compulsivamente, são obesos e sedentários, o
em uma unidade psiquiátrica, por exemplo, a associação de que resulta em um conjunto de fatores de risco clinico que
transtornos psiquiátricos e abuso de substâncias, incluindo o deve ser sempre considerado no planejamento da atenção
tabaco, está presente em 30 a 50% dos casos, 15 é de se pen- ao paciente. A política disseminada no mundo inteiro de
sar que também no serviço psiquiátrico se possa perder ex- banimento do tabaco de ambientes fechados tem propicia-
celentes oportunidades de abordar o uso do tabaco. Com o do um estímulo a mais ao clínico para o cnfrentamento do
banimento do uso do tabaco desses serviços, tem sido mais desafio da cessação."'
dificil ignorar o tabagismo, pois a slndrome de privação mui- O uso de medidas simples como a terapêutica de repo·
tas vezes se manifesta claramente. sição de nicotina (TRN), em ambientes nos quais se proíbe
Um estudo com 731 adolescentes da África do Sul evi- o uso de tabaco, como é o caso dos serviços psiquiátricos
denciou que a gravidade do tabagismo acompanha-se do e de internações clinicas, pode facilitar muito o manejo e
aumento da gravidade de transtornos da conduta, incluindo a motivação do paciente para a cessação. É comum que o
violência, abuso sexual e outras condições menos graves, 16 paciente psiquiátrico, quando fumante pesado, compare
sintomas de externalização ou comportamentais patológi- serviços pelos quais passou, preferindo aqueles que permi-
cos. Outro estudo, examinando 126 alcoolistas na Turquia, tam o acesso a pátios nos quais pode fumar. Isso ilustra de
mostrou que aqueles que fumam são significativamente mais maneira clara a aplicação equivocada do recurso clinico da
agressivos do que os não fumantes." Mais uma vez, caberes- redução de danos, pois realmente os pacientes graves tam-
saltar que dificuldades tão frequentes no manejo de fuman- bém merecem o esforço da equipe médica no sentido da
tes podem ter origem em situações mais graves ou comple- cessação do tabagismo.
xas do que a corriqueira ambivalência para a cessação. O tabaco contribui para os elevados índices de mortali·
Avaliar indivíduos agressores pode ser especialmente dade entre pacientes psiquiátricos. Seu uso piora o desem-
penoso para o médico pelo possível rechaço que eles podem penho das terapêuticas correntes. O tabaco está claramente
produzir no profissional. Isso nos remete a um conceito cli- associado ao aumento do risco de suicfdio e piora em lugar
nicamente muito útil ao se pensar na abordagem de fuman- de melhorar as manifestações depressivas. É perversamente
tes, o de contratransferência. Esse estado mental intenso tomado como fonte de alivio do estresse, equívoco absoluto
produzido no médico diante do contato com seu paciente é muito defendido por seus usuários. É curioso que, contra a
descrito corno um instrumento para o melhor entendimento crença de muitos psiquiatras e cllnicos, tratar o tabagismo
do sofrimento do paciente." Contudo, pode explicar o even- com métodos adequados a cada paciente psiquiátrico não
tual rechaço intenso que o paciente produza na relação com piora o prognóstico de transtornos psiquiátricos, mesmo os
seu médico, sobretudo quando o profissional não percebe muito graves.
estar dominado pela vivência e atua submetido a ela. Esse Pacientes portadores de esquizofrenia, transtorno que
fenômeno é especialmente presente diante de pacientes que se caracteriza por marcado retraimento social, dificuldades
apresentam comorbidades psiquiátricas mais graves que cognitivas crescentes, alterações sensoperceptivas e formais
comprometam o todo de suas personalidades.) do pensamento, apresentam prevalência muito maior de ta·
No plano da prevenção primária de quadros psiquiátri- bagismo do que a população geral, chegando a níveis de 45
cos importantes, o estudo do uso de tabaco por gestantes é a 80% . Esquizofrênicos, mesmo em primeiro surto, sem uso
relevante e muito preocupante. Evidências envolvendo o se- de neurolépticos, fumam mais do que a população geral, fato
guimento de 536 indivíduos portadores de TDAH mostraram que se contrapõe à impressão clinica de que eles usariam
que o tabagismo matemo se associa a outros fatores, precipi- tabaco primariamente para aliviar sintomas iatrogênicos
tando não só o TDAH como também o transtorno da conduta decorrentes do uso de psicofármacos, em especial neurolép-
nas crianças expostas.'' A abordagem firme de gestantes fu- ticos. Existem outras evidências robustas para uma vulnera-
mantes em maternidades oferece um desafio a mais para mé- bilidade ao tabagismo caracterfstica da esquizofrenia. Por
dicos acostumados a assistir indivíduos buscando ativamente exemplo, déficits psicofisiológicos, demonstrados como o
a cessação do tabagismo. O médico terá, nesse contexto, de potencial evocado PSO, evidenciando anormalidades na au-
lançar mão de elementos da abordagem motivacional para dição de tais pacientes, são aliviados pela nicotina. Thmbém
vencer a inércia motivacional c a ambivalência da paciente, a memória de trabalho pobre, própria do esquizofrênico,
como, aliás, é descrito no Capitulo "Thbagismo: Terapia Cog- é melhorada com nicotina. Fumar cigarros pode reduzir o
nitivo-Comportamcntal". parkinsonismo induzido por neurolépticos, mas pode piorar
sintomas de discinesia tardia, distúrbio do movimento asso-
ciado ao uso a longo prazo de neurolépticos, achados esses
consistentes com o aumento da atividade dopaminérgica em
Abordagem do tabagismo em pacientes sistemas subcorticais.
21
Pré·contemplação Não pensa em parar de fumar Estimular a mudar de fase, sem censura
Mostrar problemas clínicos presentes e sua relação com o cigarro
Salientar os benefícios do ato de parar de fumar
Analisar os motivos que levam a fumar
Fornecer material de autoajuda
Tentar mostrar ao paciente que suas justificativas para fumar são, na verdade,
mecani.smos de autodefesa
Aumentar a autoestima do paciente
Preparação Considera seriamente parar de fumar. Estimular o paciente a criar uma nova autoimagem
(Idealmente, não se deve estender muito Aconselhar o paciente a substituir pensamentos irracionais por positivos e
essa fase para não desmotivar o fumante, construtivos
ou perder o foco!) Identificar os gatilhos e desenvolver plano de ação
Desenvolver ações para controle do estresse
Aconselhar a ingerir bastante água e evitar cafezinho, chimarrão, chás com
cafeína, bebidas alcoólicas
Sugerir hábitos saudáveis
Trabalhar ambiente familiar
Fornecer material de autoajuda
Marcar data para cessação
Manutenção Sem fumar Prevenir a recaída. O paciente deve manter os sistemas de autorrecompensa,
fortalecer as relações de auxílio, substituir pensamentos irracionais por
construtivos, manter o comprometimento com o terapeuta e realizar
seguimento a longo prazo, manter controle ambiental, evitando situações que
possam levar a uma exposição desmedida ao uso do tabaco (p. ex., férias de
verão com amigos fumantes), procurar o terapeuta em situações de estresse
intenso (p. ex., perda de familiar)
Recaída Voltou a fumar O paciente deve procurar entender o ocorrido e tentar reiniciar o processo da
cessação, sem culpa ou perda da autoestima. Deve ser reforçado que isso não
significa insucesso de todo o tratamento e que uma cessação final pode ser
antecedida de várias tentativas.
•o paciente pode, ao longo do tratamento, transitar entre os Mtágios comporta mentais ou motivacionais.
f<lnte: Adaptado de Prochaska • OiCiemente.'
ambivalência e gerenciá-la. Reconhecer que a cessação do • É muito importante evitar situações de risco, como festas
tabagismo se constitui em um desafio de longo prazo tam- onde fumantes não respeitem a proibição de fumar em
bém é central no processo de mudança. Alguns itens mere- ambientes fechados.
cem especial destaque: • Escapar de situações em que surge a fissura não deve ser
tomado como humilhante. Sair do local de risco, buscar
• É muito importante esclarecer ao paciente e a seus fami- ajuda, aumentar a dose de nicotina pelo uso imediato de
liares que a vontade de fumar pode ser controlada com os goma são opções a considerar.
recursos do programa de tratamento. A sensação de fiS- • Adiar a decisão diante da fissura pode envolver estraté-
sura - a vontade intensa de fumar - aparece e desaparece gias cognitivas como "não vou fumar agora; vou esperar
em poucos minutos. Deve ficar bem claro que o descon- mais um pouco". Manter a calma ajuda a não ter um lap-
forto e as sensações desagradáveis vão passar logo e não so ou recaída.
vão durar para sempre. Thdos os envolvidos no esforço de • Sempre que surgir a vontade de fumar, lembrar das mo-
mudança do paciente devem ser instruídos sobre a ambi- tivações e dos objetivos da cessação.
valência e lembrados frequentemente da sua existência.
• Para fumantes com alta dependência de nicotina, re-
comenda-se usar terapêutica de reposição de nicotina
(TRN) com o propósito de controlar as desagradáveis
Lapso
manifestações da síndrome de abstinência. Além disso, A ocorrência isolada do uso de tabaco pode caracterizar o
deve-se manter o adesivo continuamente, com doses lapso. É certo que o paciente deve sempre evitar a primeira
proporcionais à carga tabágica, e acrescentar doses ex- tragada do cigarro, mas não deve ser levado a concluir que,
tras de nicotina na forma de goma de mascar, conforme já que usou, a recaída é inevitável. Caracterizar-se-ia então o
necessário. Uma alternativa é o uso da vareniclina (blo- efeito da violação do objetivo- EVO (abstinência).
queador de receptores nicotinicos). Diante do lapso, o paciente deve revisar suas estraté-
• Buscar apoio social é muito importante. Embora seja o gias de eofrentameoto e identificar onde falhou, além de
próprio paciente quem deva dar os principais passos, isso listar a eventual nova situação de risco ainda não conhe-
não significa que deva fazê-lo sozinho. Ele pode ter um cida. É importante manter a motivação do paciente para
"apoiador'' em cada ambiente: por exemplo, um em casa ação. As consultas terão de ser mais frequentes, até que
e outro no trabalho. Se estiver em tratamento de grupo, fique claro que ele não esteja sob o domínio do EVO. É
pode trocar telefonemas e criar uma rede de apoio. Deve comum o abalo da sua autoeficãcia, da confiança em suas
pedir ajuda, como sempre fez ao consumir cigarros. É habilidades de eofrentamento, ou seja, de que pode dar
importante ter cuidado com os "sabotadores", que em conta do desafio da cessação. 9
geral são fumantes e não aceitam bem a ideia de que o
amigo, colega ou cônjuge vai deixar de fumar. Trata-se
de pessoas que duvidam dessa atitude e que atacam essa
decisão, às vezes porque elas próprias não conseguem fa-
Recaída
zê-lo. A existência de um sabotador exige seu afastamen- Ao perceber-se em um padrão de uso que se sistematizou
to ou estratégias de convívio, pois de outro modo corre- e que vai se assemelhando ao já habitual, o paciente en-
-se o risco de pôr a perder mais um esforço de mudança. contra-se em plena recaída. É aqui que o médico vai ter de
• Para lidar com a presença de outros fumantes no am- retomar sua tolerância à ambivalência do paciente. É pe-
biente social, particularmente no mesmo domicílio ou no noso para o médico perceber que a natureza dinâmica da
local de trabalho, é vital criar regras de convivia, pelo motivação para mudança pode fazer o paciente retomar a
menos durante o período inicial. Não se deve oferecer atitude contemplativa ou mesmo pré-contemplativa dian-
cigarros ao paciente, nem deixá-los à vista, e- acima de te de sua dependência do tabaco. O médico terá também
tudo- não se deve fumar no ambiente do paciente. de resistir à sensação de fracasso. Deve lembrar-se de que
• O paciente deve envolver-se com distrações e atividades quem mais tenta mais para de utilizar o tabaco. Talvez até
prazerosas. Lazer em áreas livres de tabaco, beber bas- sete tentativas sejam necessárias para uma efetiva cessação
tante água, comer algo prazeroso, telefonar para alguém do tabagismo.
de interesse, assistir a um filme, reunir-se com pessoas A cuidadosa revisão de todos os passos que o paciente
que têm o mesmo propósito de parar de fumar são exem- percorreu até a recaída pode trazer mais luz à complexidade
plos corriqueiros e muito úteis. de um dado caso e pôr em evidência áreas de inabilidade
• Praticar exercícios é sempre útil, desde uma simples ca- do paciente diante de situações de risco. Provavelmente, ao
minhada até atividades esportivas que estejam ao seu percorrer o trajeto de uma recaída, o paciente vai encontrar
alcance. Toda e qualquer atividade física que seja de- uma série de decisões não bem avaliadas e muitas vezes com
sejada pelo paciente será mais um precioso recurso de aparência benigna. Cabe lembrar que ao fim e ao cabo a de-
apoio para essa fase de cessação do tabagismo e para a cisão de parar é sempre do paciente e que a ambivalência
fase de manutenção. diante do desafio também é. 9
3. DiClemente CC, Prochaska JO. Self-cbange and therapy change
Recomendação ao médico que atende o f smoking hehavior: a comparison of processes of change in eessa-
o fumante tion and maintenance. Addict Behav. 1982;7(2):133-42.
4. Rollnick S, Miller WR, Butler CC. Entrevista motivacional no
A ideia que se deve passar para o paciente que de- 5. Piore MC, Bailcy WC, Cohen SJ, Dorfman SF, Goldstein MO,
seja parar de fumar, e que traduz o fundamento da Gritz ER, et al. Treating tohacco use and depcndenee. Rockville:
cessação do tabagismo, é de que npara parar de fu- U.S. Department of Health and Human Serviees, Public Hcalth Ser-
vice; 2000.
mar, é preciso mudar este comportamento, e para
mudar. .. é preciso, de fato, mudarN! 6. West R, Shiffman S. Fast facts: smoking cessation. 2nd ed. Oxford:
Hcalth Press; 2007.
7. Reichert J, Araújo AJ de, Gonçalves CMC, Godoy I, Chatkin JM,
Sales MPU, et ai. Diretrizes da SBPT: diretrizes para cessação do
Referências tabagismo - 2008. J Bras Pneumol. 2008;34(10}:845-80.
1. Sardinha A, Oliva AD, D'Augustin J, Ribeiro F, Falcone EMO. 8. Ranney L, Melvin C, Lux L, McCiain E, Lohr KN. Systematic re-
Intervenção cognitivo-comportamental com grupos para o abando- view: smoking eessation intervention stratcgies for adults and adults
no do cigarro. Rev Bras Thr Cogn. 2005;1(1}:83-90. in spccial populations. Ann lntern Med. 2006;145(11): 845-56.
2. Prochaska JO, DiOemente CC. Stages and processes of self-chan- 9. Marlatt GA, Donovan DM. Prevenção de recaída: estratégias
ge of smoking: toward ao integrative model of change. J Consult de manutenção no tratamento de comportamentos adietivos. 2. ed.
Clin Psycbol. 19S3;51(3):390-5. Porto Alegre: Artmed; 2009.
O Papel dos
Fármacos no
Tratamento do
Tabagismo
José Miguel Chatkin
31
em condições especiais, não havendo sucesso prévio ou se
Introdução há contraindicação do uso dos agentes anteriores ou condi-
->.I ATENÇÃO ções econômicas que impossibilitem o uso de fármacos mais
dispendiosos. A restrição a esses fármacos considerados de
segunda linha se deve principalmente a seus potenciais efei-
A eficácia do uso de agentes farmacológicos duran- tos adversos?
te o processo de cessação do tabagismo está bem Entretanto, não há consenso na literatura quanto a cri-
demonstrada na literatura médica. Esses fármacos térios que o clínico possa empregar na escolha do fármaco
podem duplicar ou até quadruplicar a possibilidade mais útil para um paciente em particular, nem sobre qual
de sucesso e diminuir de forma significativa os sinto- deles deve ser usado inicialmente. Para a eleição de um em
mas da sfndrome de abstinência, facilitando o pro- detrimento de outro, deve-se considerar qual é o melhor fár-
cesso de cessação. No entanto, devem ser associados maco, a preferência e as experiências em tentativas prévias
a apoio comportamental. sobretudo nos fumantes do paciente, a existência de eventuais condições especiais,
de mais de 1O cigarros por dia, pois a manutenção como gravidade da dependência nicotínica, contraindica-
da abstinência a longo prazo depende fundamen- ções, efeitos adversos, interações com outros tratamentos e
talmente da mudança comporta mental definitiva, o comorbidades e, finalmente, o custo do tratamento.'
que não se consegue apenas com o uso de medica- O QUADRO 31 .1 apresenta a eficácia de cada fármaco.
mentos. '->
~Mtl@itfl;)j.J,tJjjll·l,\lj
Gomas de 2 e 4 mg Mascar vigorosamente até Lesões de gengiva, Cessação - OR* 2
Oepend~ncia moderada: sentir gosto ou formigamento. hipersalivação, gosto ruim, Evitar goma em fumante com pcoblema na ATM ou
2 mg cada 1 a 2 horas, 4 semanas Repousar a goma entre a amolecimento de dentes. com úlcera péptica ativa.
2 mg cada 2 a 4 horas, 4 semanas gengiva e a bochecha. Reiniciar náuseas, vômitos, soluços e Contra indicado em casos de doença cerebrovascular
2 mg cada 4 a 8 ho<as, 4 semanas a mastigaç~ ao término dores na mandíbula. ou cardiova.scular grave e/ou aguda (< 1 més).
Goma de 4 mg para alta do formigamento. Mascar a Em grávidas e lactantes: pesar risco benefíào de
dependência. goma por 20 a 30 minutos. TRN em dose menor do que a do tabaco.
Consumir no máximo 20 unidades Não ingerir alimentos durante Iniciar a TRN no dia marcado para cessar o
e apôs o uso por 15 a 30 tabagismo.
por dia. minutos. Não fumar durante a TRN.
_N
_i_q_
ui_
tin_ e_ Nico
__r_ett_e_.- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Pode combinar mais de um tipo de TRN e, esta, com
Pastilhas de 2 e 4 mg Chupar lentamente a pastilha Semelhante à goma, exceto bupropiona, em casos mais difíceis.
Mesma dose da goma ate seu término (de 20 a 30 alterações nos dentes e
Niquitin e Nicorette. minutos) mandíbula.
1. Em quanto tempo após acordar voei fuma~ primeiro agarro? 4. Quantos cigarros aproximadamente você fuma por dia?
()Até 5 minutos (3 pontos) () 6 - 30 minutos (2 pontos) ()Até 10 cigarros (O ponto) () 11·20 cigarros (I ponto)
() 31 - 60 minutos (I ponto) () Mais de 60 minutos (0 ponto) () 21-30 cigarros (2 pontos) () Mais de 30 cigarros (3 pontos)
2. Vod acha difícil n~o fumar em lugares proibidos (igreja, hospital, S. Você fuma mais frequentemente pela manh~?
cinema, etc.)? ( ) Sim (I ponto) () Não (O ponto)
( ) Sim (I ponto) () Não (O ponto)
3. Qual o cigarro que mais o satisfaz? 6. Você fuma mesmo doente, quando precisa ficar na cama?
()O primeiro da manhã (I ponto) ()Outros (0 ponto) () Sim (I ponto) () Não (O ponto)
-------------- --------------
Al>ós rtspOnder todas os questões, somando os pontos, obtbn·so o grou do dependéncia do tabagismo, confor~M tsta tsco.,:
0-2 pontos: dependfncio muito baixa.
3-4 pontos: dependfncio baixa.
5 pontos. dtpendfnoo midio.
6-7 pontos. dtpondfnc11 - -
8· t0 pontos. dtpendfnoo muito elevada.
fontt. F•gentrõm.'
Identificação e controle dos gatilhos (fatores É essencial trabalhar com outras perdas do passado e re-
visar como o paciente lidou e como lida hoje com este tipo
que levam a fumar) de problema. Alguns constroem sua imagem de fumante
O paciente deve fazer um inventário de 24 horas, em dia habi- com tal intensidade que toda sua identidade pessoal e au-
tual da sua rotina, descrevendo o que aconteceu nos momen- toimagem ficam atreladas ao tabagismo. Deve-se buscar nas
tos em que fumou e a que circunstâncias atribuiu o fato de ter relações do paciente pessoas que pararam de fumar c estão
fumado cada cigarro. Deve-se solicitar que ele descreva seus bem.
sentimentos no momento de cada cigarro. Assim poderão ficar
caracterizados os fatores-gatilho, motivos que o levam a fumar.
O controle dos gatilhos costuma ser de grande impor- Desenvolvimento de habilidades para lidar com
tância para a cessação. Citam-se, a seguir, exemplos do que o estresse e a vontade de fumar
deverá ser evitado pelo fumante, pelo menos, no período ini- Muitos fumantes usam o cigarro para reduzir o estresse e
cial da cessação: reluar. É importante identificar os fatores estressantes para
• Se costuma fumar após as refeições, não permanecer na procurar eliminá-los ou aprender a lidar com eles. Técnicas
de relaxamento podem ajudar a controlar o estresse.
mesa; escovar logo os dentes e ocupar-se com algo.
• Se cosruma beber e fumar, manter-se afastado do consu-
mo de bebidas alcoólicas. Compromisso entre médico e paciente
• Se fuma enquanto fala ao telefone, ter sempre caneta e
Este pode ser um ponto crucial, pois uma vez que o fumante
papel para ocupar-se com anotações.
e o médico definam sua atuação no processo e se compro-
• Se fuma em situações de espera, ocupar-se com leitura e
metam, o programa será reforçado e seu percurso tenderá
outros recursos para passar o tempo.
a ser menos árduo. O entusiasmo e a afetividade tanto do
• Se associa cigarro com café, substituí-lo por outra bebida
paciente quanto do médico são decisivos, pois fortalecem a
como chá ou suco.
percepção e o sentimento do fumante de estar fazendo o que
• Se fuma quando em companhia de amigos e colegas de
é certo.
trabalho, isso deverá ser pelo menos temporariamente
O terapeuta do tabagismo deve ser ativo e estar presente
evitado.
durante todo o programa para cessação. Deve-se evitar troca
de médico durante o tratamento, salvo se for desejo do pa-
Ambiente social, familiar e profissional ciente ou se houver tal necessidade por parte da equipe. O
Como é o ambiente familiar, profissional e social? Convive paciente precisa saber que pode contar com o terapeuta em
muito com outros fumantes? Há estimulo para fumar? Ou momentos de maior dificuldade, como na vigência de slndro-
existe muita pressão para largar o ciga.rro? Há regras coibin- me de abstinência ou fissura. Um contato telefônico pode
do o fumar nos locais de trabalho e de convívio social? Há ser muito úti.l para evitar lapso e recaída.
apoio para parar de fumar?
Esquema terapêutico da nicotina: Uma minoria de pacientes pode apresentar efeitos ad-
Durante as primeiras 8 a 12 semanas de cessação, usar versos como náuseas, cefaleia, insônia ou tonturas. This
adesivo de 21 mg, uma vez ao dia. Para dependência efeitos em geral não exigem suspensão do medicamento,
muito elevada (TF > 7), pode-se aumentar a dose diária ocorrendo adaptação do organismo. Recomenda-se especial
para dois ou até três adesivos, usados simultaneamente.
cuidado com pacientes psiquiátricos, com depressão e ten-
A dose é reduzida a cada quatro semanas para 14 e 7 mg
ao dia, conforme tolerância à sfndrome de abstinência. dência suicida, pois há relatos de caso com desfecho fatal,
Se, apesar do uso de adesivo de nicotina, houver mani- não definidamente atribuível ao fármaoo.
festações de abstinência ou fissura, pode-se acrescentar A vareniclina tem demonstrado segurança e tolerabilida-
goma de mascar (chiclete) de 2 ou 4 mg para os mo- de tanto em fumantes jovens quanto em idosos com função
mentos de piora dos sintomas, podendo usar-se até 20 renal normal. Não se recomenda o uso simultâneo de nicoti-
gomas ao dia. na e vareniclina, salvo em circunstâncias especiais.
Bupropiona
As formas de nicotina disponíveis em nosso meio são Originalmente usado como antidepressivo, é o único psico-
estas: ativo extensamente testado e validado pelo Food and Drug
Administration (FDA). 17.18
• Adesivo transdérmico. Apresentação: 21, 14 e 7 mg. Efei- Trata-se de fármaco com efeitos antidepressivos, dopa-
tos adversos: irritação local, eritema infiltrativo (os quais minérgicos (aumenta a dopamina no nucleus accumbens por
raramente justificam suspensão). Recomenda-se variar o inibição da recaptação) e noradrenérgicos (afeta neurônios
local de aplicação do adesivo na pele. no locus ceruleus) que reduz a síndrome de abstinência, pois
simula a ação da nicotina. Reduz pela metade o ganho de
17
peso associado à abstinência (3,0 kg x 1,5 kg). • A maioria dos fumantes s6 consegue cessação
definitiva na enésima tentativa (4 a 8).
• Com o uso de apenas um medicamento, isolada·
mente, após 12 meses, cerca de 30% das pessoas
Esquema terapêutico da bupropiona mant~·se abstinentes.
(comp. 150 mg) • Com a terapia cognitivo-comportamental como
1 comprimido pela manhã nos primeiros três dias base terapêutica, mais medicações associadas,
1 comprimido duas vezes ao dia, a partir do quarto dia, conforme necessidades individuais, após 12
durante 12 semanas meses, a abstinência poderá ser superior a 50%
(este é o desafio 1).
QUADRO 32.2.1 -7 Protocolo do Tratamento em Grupo do Programa de Tratamento de Tabagismo 180°- Pavilhão Pereira Filho da
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
AVALIAÇÃO/TRIAGEM ENCONTRO 5
- Entrevista individual com psicóloga - Revisão da semana
- Entrevista individual com enfermeira - Ênfase em prevenção de recalda
- Consuha individual com pneumologista - Revisão de lapsos, humor/ansiedade, outros sintomas psiquiátrico!/
- Entrevista individual com psiquiatra psicológicos
- Definição da modalidade de tratamento (em grupo ou individuaO - Beneficios da parada
- Aumento da motivação e informações sobre o tratamento - Entrega de tarefa e relaxamento
ENCONTRO 1 ENCONTRO 6
- Apresentações - Revisão da semana
- Regras do grupo- horários, local, faltas - Revisão da tarefa
- Tabagismo como dependência quimica e modelo de tratamento - Prevenção de recalda e efeito de violação da abstinência
- Modo de parada, data e método preferido pelo paciente - Entrega de tarefa e relaxamento
- Discussão de paradas anteriores e síndrome de abstinência
ENCONTRO 2 ENCONTRO 7
- Revisão da semana - Revisão da tarefa
- Continuação da discussão sobre motivação, planos da parada e - Início do encerramento da fase ativa do tratamento, revisão de
métodos, além da revisão de eventuais tentativas de parar progressos, possíveis obstáculos
- Preparação pessoal e do ambiente - Entrega da tarefa e relaxamento
- Prazo final para entrada de novos pacientes
- Entrega de tarefa
ENCONTR03 ENCONTROS
- Revisão da semana - Revisão da semana
- Ênfase na parada: datas, medicação e manejo das fissuras, benefícios - Combinações de manutenção
imediatos da parada - Replanejamento do tratamento dos que seguem fumando
- Preparação para a síndrome de abstinência da nicotina
- Entrega de tarefas e relaxamento
ENCONTRO 4 - Pneumologista e psiquiatra MANUTENÇÃO
- Revisão da semana - Manutenção da abstinência e identificação de recafdos para alinhar
- Revisão da medicação e aumento da motivação tratamento
- Revisão de aspectos clínicos - Observação de mudanças de humor e fases do luto
- Relaxamento
QUADRO 32.2.2-? O caso de Julia Baldisserotto G, Soldati L, Paim K, Ferreira E, Guths P. Manual de
terapêutica. Porto Alegre; 2003. Não publicado.
Julia, 42 anos, 25 fumando, tinha parado de fumar há 75 dias. Bcck AT, Wright FD, Ncwman CF, Liese BS. Terapia cognitiva de las
Durante todos os encontros, ela parecia muito confiante em sua drogodcpcndcncias. Buenos Aires: Paidós; 1999.
capacidade de permanecer como uma não fumante, pois conseguia
lidar muito bem com as fissuras que sentia após ter parado. Deixa Bccoiia E. Tratamento do tabagismo. In: CabalJo VE. Manual para
de vir a dois encontros da manutenção. Quando retorna, relata que o tratamento cognitivo-comportamental dos transtornos psicológi-
certa noite, quando estava em um bar bebendo com amigos, acabou cos da atualidade. São Paulo: Santos; 2006.
cedendo e aceitou o convite de um deles para fumar. Ela pensou
consigo: "Isso não vai dar em nada. Eu sei que abandonei o cigarro!·
No dia seguinte, sentiu-se extremamente culpada e desapontada,
com muita raiva de si mesma por ter fumado e com muita vergonha.
Ela imaginou ter posto a perder todo o seu trabalho para parar de
fumar. O que diria no grupo em seu próximo encontro? "Puxa vida! Em
Eu sou um fracasso!", disse para si mesma. eassim, achou que podia Tratamento conforme Normas do
muito bem comprar um maço de cigarros no caminho de volta para
casa para poder se sentir melhor. Instituto Nacional do Câncer (INCA)
Elton Xavier Rosso
mar. Isso serve de alerta para uma melhor preparação quan- Atualmente, 79% dos brasileiros são assistidos unicamente
to à prevenção de recaídas e situações de risco. pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e 21% têm assistência
suplementar de saúde. Em 2008, o Ministério da Saúde cons-
tatou prevalência de 15,2% de tabagismo no Brasi1. 12 Por-
>I ATENÇÃO tanto, universalizar e estruturar programas de tratamento do
tabagismo representa o investimento mais custo-efetivo em
cuidados da saúde.
Como se pode observar, existem muitas peculiari- Nesse processo, o INCA capacita os recursos humanos
dades no tratamento da dependência da nicotina,
das Equipes Coordenadoras dos Estados (Secretarias Esta-
o que acaba tornando esse processo ainda mais duais de Saúde e Educação), que, por sua vez, capacitam as
desafiador. É muito importante que o profissional
Equipes Coordenadoras dos Municípios (Secretarias Mu-
condutor do grupo de tratamento tenha consciência
nicipais de Saúde e Educação), para desenvolverem ativi-
das dificuldades e da alta complexidade desse tra-
dades de coordenação e gerência operacional e técnica do
tamento, devendo ter treinamento especifico, muita
Programa. Estes últimos capacitam os profissionais em seus
satisfação com o que faz e uma maneira positiva e
locais de trabalho nas unidades de saúde, ambientes de tra-
instigadora de se comunicar com os pacientes.
balho e escolas, respectivamente, onde as informações são
divulgadas junto com ações que visam criar nesses ambien-
tes um contexto favorável a mudanças de comportamento
de grupos formadores de opinião e modelos de comporta-
Referências mento como profissionais de saúde, professores, estudantes
1. Young J. Thrapia cognitiva para transtornos da personalidade: e trabalhadores em geral.
uma abordagem facada em esquemas. Porto Alegre: Artmcd; 2003. Nesse contexto, por exemplo, a proposta do Programa
2. Millcr WR, Rollnick S. Entrevista motivacional: preparando as Ambientes Livres do Cigarro é de que a difusão continuada
pessoas para a mudança de comportamentos adictivos. Porto Ale- de informações sobre os riscos do tabagismo e, sobretu-
gre: Artmed; 2001. do, do tabagismo passivo nesses ambientes aconteça jun-
tamente com a normatização e a sinalização da restrição
3. Fredrickson BL. Positividade: descubra a força das emoções po· ao consumo de tabaco nesses canais, associando-a ao apoio
sitivas, supere a ncgatividade c viva plenamente. Rio de Janeiro: aos fumantes para cessação do fumar. Cabe aos düerentes
Rocco; 2009. setores da sociedade alertar, cobrar, estimular c pressionar
4. Gablc SL, Gonzaga GC, Strachman A. Will you bc tbere for me as esferas responsáveis pela legislação. O objetivo é criar
when things go right? J Pcrs Soe Psychol. 2006;91{5):904-17. leis que resultem em mudanças políticas, ambientais e eco-
nômicas para reforçar as mudanças de comportamento ne-
cessárias à redução da incidência e mortalidade do cãncer
e de outras doenças relacionadas com o tabagismo e outros
Leituras recomendadas fatores de risco. Além disso, são necessárias medidas im-
Abreu CN de, Guilhardi HJ. Thrapia comportamcntal e cognitivo- portantes para dificultar o acesso dos jovens a produtos de-
-comportarncntal: práticas clínicas. São Paulo: Roca; 2004.
rivados do tabaco, as quais envolvem o aumento de preços
Araújo RB. O craving em dependentes de tabaco (tese). Porto Ale- desses produtos, o controle de sua venda e, principalmente,
gre: PUCRS; 2005. o mercado ilegal?
f. Aceitação da equipe para sua participação
OPrograma Nacional de Controle do Tabagismo
privilegia quatro grandes grupos de estratégias: Os critérios de exclusão são os seguintes:
-+ O primeiro está voltado para a prevenção da inicia-
ção do tabagismo, tendo como público-alvo crianças a. Transtorno psicótico agudo
e adolescentes. b. 'Il:anstorno de humor grave
-+ O segundo envolve ações para estimular os fuman- c. Doença clínica grave e aguda, em fase instável
tes a deixarem de fumar, propiciando programas de d. Indisponibilidade de horários e recursos para desloca-
tratamento, preferencialmente em grupo, e inclusive mento e participação nos encontros
fornecendo medicamentos.
-+ O terceiro grupo abrange medidas que visam proteger a A equipe deve ser composta por um médico e outro
saúde dos NO fumantes da exposição à fumaça do taba- profissional de saúde, preferentemente um psicólogo.
co em ambientes fechados, pela implantação de amboen- Cada grupo deve ter a inscrição de 10 a 15 fumantes, ter
tes 100% livres de tabaco. à disposição uma sala com dimensões e ventilação ade-
-+ O quano conjunto consiste em medodas que regulam os quadas e cadeiras preferencialmente dispostas em circulo
produtos do tabaco e sua comerciahzação.
para facilitar o diálogo entre os participantes. As quatro
sessões iniciais são semanais, cada uma com duração apro-
ximada de 90 minutos; após, bã duas sessões quinzenais,
Além disso, para atingir todo o pais, o Programa bus- e, por fim, uma sessão mensal até completar um ano de
cou criar uma base geopolítica para que essas ações pu- tratamento.
dessem acontecer de modo equitativo em todo o território Cada sessão deve ser distribufda da seguinte forma:
nacional. Atualmente, o Programa conta com uma rede de
parcerias governamental e não governamental em âmbito a. Atenção individual (25 minutos): cada fumante conta
nacional. suas experiências, número de cigarros fumados por dia,
As bases para a implementação e a manutenção de um tempo de tabagismo, o que o faz fumar, por que quer
Programa de Cessação do Tabagismo devem estar alicerça- deixar de fumar e quais suas expectaúvas.
das na sensibilização e conscientização dos gestores, bem b. Estratégias e informações (25 minutos): ler de forma
como na avaliação da realidade local, e os ambientes onde simples e objetiva a cartilha referente à sessão.
serão implementados os programas devem ser livres de taba- c. Revisão e discussão (25 minutos): rever e discutir a carti-
co. O treinamento dos profissionais de saúde, a disponibili· lha, ou outros textos, e tirar dúvidas.
zação de material educativo e a divulgação do programa de- d. 'làrefas da semana (15 minutos): ler a cartilha em casa;
vem ser realizados, atualizados e revisados periodicamente. rever os objetivos individuais até a próxima sessão, mar-
A implementação do programa e a avaliação e monitoração car a data para parar de fumar e aplicar as estratégias
dos resultados também fazem parte desse espectro. Cada para continuar sem fumar.
programa deve ter uma meta de cessação do tabagismo com
6 e 12 meses de seguimento, sendo aceitável40% e 30% de As quatro primeiras sessões são fundamentais e aconte·
sucesso, respectivamente. cem na fase de abstinência do paciente.
Os pacientes serão encaminhados para o grupo após Na primeira sessão (durante a preparação para deixar
consultar um médico treinado, que definirá a necessidade de fumar), deve-se estabelecer a confiança entre todos e a
inicial do uso de medicamentos. Nesse momento, é funda- socialização do paciente, esclarecer sobre a doença e o trata·
mental avaliar se o paciente tem consciência de que é porta- mento, bem como extrair e corrigir as expectativas com a te-
dor de uma doença chamada tabagismo e de que, para parar rapia. A cartilha deve conter informações sobre os aspectos
de fumar, deverã aceitar que o tabagismo implica dependên· gerais do tabagismo e as técnicas para parar de fumar (para-
cia qufmica e psicológica. Portanto, o ingresso do fumante da abrupta ou gradual) e como se preparar para controlar a
em um programa de tratamento especializado dependerá da dependência.
sua disposição em parar de fumar e do preenchimento dos Na segunda sessão (os primeiros dias sem fumar), alguns
critérios de inclusão e exclusão. pacientes estarão sem fumar. Deve-se parabenizá-los e soli-
Os critérios de inclusão são estes: citar que contem como estão se sentindo. Outros, entretan·
to, ainda estarão fumando. Estes devem contar suas princi-
a. Desejo de parar de fumar pais dificuldades e quando marearão a data para a cessação
b. Aceitação do Programa e assinatura do termo de adesão do tabagismo. A segunda cartilha deve conter textos sobre as
c. Caso haja doença crônica, esta deve estar compensada e manifestações da slndrome de abstinência, técnicas de rela-
estável xamento, além de destacar esse momento único na vida e as
d. Condições para participar ativamente (dependência de wcasparavenceraf&ura.
cuidados e dificuldade cognitiva grave podem inviabili- Durante a terceira sessão (vencendo os obstáculos para
zar a participação) continuar sem fumar), deve-se seguir as orientações da se-
e. Ser alfabetizado e ter capacidade para leitura dos ma- gunda, discutindo a importância de tentar cessar o tabagis-
nuais do participante mo. A cartilha deve conter textos sobre os ganhos com a ces-
sação, esclarecer dúvidas sobre o ganho ponderai e destacar Referências
a importância dessa nova fase em suas vidas.
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Na quarta sessão (beneficios de parar de fumar e preven- Secretaria de Oestio Estratégica e Participativa Vigitcl Brasil 2008:
ção de recaídas), deve-se parabenizar os que estão sem fumar vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por
e pedir aos que não cessaram que contem suas dificuldades, inquérito telefônico: estimativas sobre freqüência e distribuição
ambivalências, metas, solicitando ao grupo que proponha aju- sócio-demográfica de fatores de risco c proteção para doenças crô-
da para estes fumantes. Neste momento, alguns necessitarão nicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em
de reavaliação individual para redefinição de objetivos.' 2008. Brasllia: Ministério da Saúde; 2009.
2. Brasil. Ministério da Saúde. DATASUS: Tecnologia da informa-
ção a serviço do SUS. População brasileira 2009 (Internet). BrasJlia:
DATASUS; c2008 (capturado em 24 maio 2011). Disponlvel em:
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/dcftohtm.exe?ibgel cnv/popuidef.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Coor·
denação de Preve~o e Vigilln~. Programa nacional de controle
do tabagismo e outros fatores de risco de câncer. Rio de Janeiro:
INCA;2001.
4. Pereira LFF, Corre& da Silva LC. Programas de cessação do taba·
gismo.ln: Sociedade Brasileira de Pneumologia e 1lsiologia. Prática
pneumológiea. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2010.
Luiz Carlos Corrêa da Silva
33
A Organização Mundial da Saúde (OMS) criou a Con-
O proncipal obje tivo dos Programas de Controle do Taba- venção-Quadro para Controle do Thbagismo (CQCf), pri-
gismo (PC11 é proporcionar melhores condoç6es de vida meiro 'll'atado Internacional de Saúde Pública com esta
para as pessoas por meio da progressiva redução da pro-
duçlo, comercialização e consumo do tabaco, que resul- fmalidade, que congrega mais de 170 nações.' Algumas me-
tará na redução de danos e melhoria da saúde. didas propostas pelacocr são vistas no QUADRO 33., . No
Três propostas devem ser priorizadas na elaboração Brasil, o Ministério da Saúde delegou ao Instituto Nacio-
de um PCT: nal do Câncer (I NCA) todas as ações governamentais des-
-+ Prevenção: para os jovens não se iniciarem no taba- tinadas ao cont role do tabagismo, objetivando atingir os
gismo Estados e os Municipios, por meio do Programa Nacional
-+ Proteção da fumaça ambiental do tabaco: para evitar de Controle do Thbagismo e do Siste ma Único de Saóde
o tabagismo passivo (SUS)? A Associação Médica Brasileira (AMB), o Con-
-+ Cessação: para incentivar e dar cond oç6es aos fu man- selho Federal de Medicina (CFM) e as Sociedades de Es-
tes de pararem de fumar pecialidades Médicas, particularmente a Sociedade Bra-
sileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT),1 panicipam,
em nível nacional, dessa grande rede com suas comissões
de tabagismo. A Aliança para o Controle do Tabagismo
(ACf), uma O NG de abrangência nacional, tem trabalha-
A rede para controle do tabagismo do desde 2006 para mobilizar a sociedade civil e as insti-
Para fazer frente à epidemia do tabagismo - a maior que a tuições que queiram aderir à causa, com enfoque social e
human idade protagonizou em toda a história da civilização atuação junto ao poder público.' O Programa Fumo Zero
- só existe uma alternativa: criar uma grande rede para mobi- da Associação Méd ica do Rio Grande do Sul (AMRIGS)
lização da sociedade civil, do setor polftico, das diversas ins- atua em nível estadual, desde 2003, com intensa participa-
tituições nos seus respectivos níveis de atuação c, muito par- ção, em nome das entidades médicas, junto ao setor polfti-
ticularmente, das organizações não governamentais (ONGs). co e à mídia.' Hospitais como a Irmandade da Santa Casa
Devem ser promovidas ações em que as lideranças se compro- de Misericórdia de Porto Alegre (JSCMPA) e universida-
metam e as pessoas atuem; o objetivo maior é a redução do des como a Univers.i dade Federal de Ciências da Saúde de
tabagismo, e cada um, no seu âmbito, deve fazer a sua pane. Porto Alegre (UFCSPA) estão em plena mobilização.
QUADRO 33.1 ~ Convenção-Quadro para Controle do Tabagismo: dos e sua utilidade para a saúde das pessoas. E, sempre
algumas medidas em andamento que necessário, devem ser abertas discussões para que o
tema seja amplamente debatido com a sociedade.
- Proteção da populiçáo do tabagismo passivo
- Aumento de impostos e preços
- Banimento da propaganda e da promoç.lo
- Proibição dos deicritorH (•bancos teorts• e outros)
- Regul.lmentaçAo dos produtos do tabaco
- Controle do mercado olegal (contrabando)
- Apoio para acHSo ao tratamento do tabagismo
- Proôbiç.lo da ~nda ou comércio para menores de idade
- Educação em saúde
- Mensagens de a~rt~ncia nas embalagens
- Atividades alternativas ao cultivo do fumo
Fontt: Adaptado de Wortd H..hh Org.>nozatiO<l.'
que não se fume nos ambientes fechados de convívio. Afinal, Para o controle do tabagismo, é muito importante
é nas cidades que acontece a rotina da vida cotidiana. formar multiplicadores, agregando pessoas que pos-
sam manter as ações necessárias para que os progra-
mas sejam permanentes. Neste caso, o maior desafio
é que se relevem questões menores e individuais e
Opapel das empresas todos os esforços sejam dirigidos em prol do con-
Sabe-se que funcionários fumantes perdem entre 10 e 20% junto. Atitudes aglutinadoras e de coesão é o que se
de produtividade (tempo desperdiçado para fumar, licenças espera das lideranças.
por adoecimento, etc.), apresentam maior risco de provocar
acidentes e incêndios e, como regra, têm prejuízo na higiene
pessoal. Os clientes, na sua maioria, preferem ser assistidos
por colaboradores não fumantes. Portanto, os empresários
têm o máximo interesse em reduzir o índice de tabagismo
Avaliação das intervenções dos PCTs
entre seus colaboradores. Para tal, os lideres devem dar A seguir são sugeridas medidas que podem ser realizadas
exemplo ao não fumar dentro da empresa, pois do contrário sequencialmente para avaliar os resultados de intervenções
seus subordinados poderão sentir-se autorizados a não mu- desenvolvidas por programas de controle do tabagismo em
dar esse comportamento. diferentes ambientes, fechados ou não (instituições, empre-
Recomenda-se que as empresas tenham normas para sas, ambientes públicos como praças, parques, locais de Jazer
controle do tabagismo, principalmente centradas na proibi- e outros):
ção de fumar nos seus ambientes fechados. É também re-
comendado que não exista o chamado "fumódromo", local • Prevalência de fumantes, por meio de questionário-padrão
fechado específico para fumar, pois em tal ambiente não • Contagem de bitucas no chão e em lixeiras
existe proteção para ninguém; pelo contrário, devido à im- • Medida do monóxido de carbono (CO) no ar expirado
possibilidade de depuração satisfatória do ar, as pessoas são de fumantes e não fumantes
obrigadas a inalar um ar altamente contaminado por gases e • Medida de CO em partes por milhão (PPM) no ar am-
partículas tóxicas. Thmbém é necessário proporcionar infor- biente
mações sobre promoção de saúde e prevenção de doenças • Medida de cotinina na urina (ou saliva) de não fumantes
aos colaboradores e, na medida do possível, facilitar o acesso
de fumantes a programas de tratamento do tabagismo.
Referências
0 ATENÇÃO
1. World Health Organization. WHO framework eonvention on to-
baceo eontrol. Gcneva: WHO; 2003.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Co-
O ideal é que, nas empresas, não seja permitido fumar ordenação de Prevenção e Vigilância. Programa nacional de con-
a partir do local de entrada (portão externo, quan- trole do tabagismo c outros fatores de risco de câncer [Internet].
do este é o caso), pois isso sinalizará com ênfase que 2nd ed. BrasOia: Ministério da Saúde; 2003 [capturado em 24 maio
existe um total comprometimento da alta administra- 2011]. Disponível em: http://www.inca .gov.br/tabagismo/frameset.
ção com a saúde e a qualidade de vida de todos. Tam- asp?item= programa&link=introdueao.htm.
bém se recomenda divulgar, por meio de sinalização, 3. Reichert J, AraújoN de, Gonçalves CMC, Godoy I, Chatkin JM,
cartazes e materiais impressos, em locais estratégicos, Sales MPU, et al. Diretrizes da SBPT: diretrizes para cessação do
sobre a polftica institucional para controle do tabagis- tabagismo - 2008. J Bras Pneumol. 2008;34(10):845-80.
mo. Deve ser estimulada a promoção de palestras e
encontros periódicos para divulgação de informações 4. ACf: Aliança de Controle do Tabagismo [Internet]. São Paulo: ACf;
2011 [capturado em 24 maio 2011). Disponível em: www.actbr.org.br.
sobre promoção de saúde e prevenção de doenças.
S. Correa da Silva LC. Controle do tabllgismo. Revista da AMRIGS
(Internet). 2010 [capturado em 24 maio 2011];54(1):110..1. Disponí· todas as informações e estratégias necessárias para
velem: http://www.amrigs.eom.br/ revista/S4·01!23·eontrole_do_ta· d irecionar seus esforços neste sentido. Programas de
bsessao_fumo _zcro.pdf. tratamento do tabagismo também são oferecidos
6. Hughcs JR. Tobacco trcatmcnt specialists: a ncw profcssion. J para a comunidade externa.
Smoking Ccssation. 2007;2(2 Supp1):2-7.
maneiras:
-+ N6o fumar dentro do hospital. Ação 1: Avaliação do problema tabagismo na
-+ Incentivar seus colegas e subordinados a nlo fuma- instituição por meio de questionário elaborado
rem dentro do hospital e a participarem das ações
propostas pelo PCT-ISCMPA. pela comissão
-+ Incentivar seus subordinados e colegas a participa- Essa ação visa diagnosticar a doe nça tabagismo entre os
rem do g rupo de vigilantes da saúde. acadêmicos, professores e funcionários da instituição, bem
-+ Ao perceber alguém fumando, abo rdar a pessoa, como avaliar o posicionamento da comunidade frente à im-
com respeito. mas com firmeza. plantação do programa. Os alunos integrantes da comissão,
-+ Ao sentir-se sem cond ições de fner a abordagem, assim como outros alunos colaboradores, realizaram a coleta
avisar um vigilante da saúde. dos questionários em toda a comunidade acadêmica {alunos
-+ Se souber de algum colega que fuma dentro do hos- de todos os cursos, de todas as séries e professores) e quadro
pital, repetidamente, o fato precisa ser comunicado de funcionários da instituição (contratados e terceirizados),
~ seus superiores.
totalizando cerca de 1.500 pessoas. O questionário foi ela-
-+ Incorporar esta nova maneira de ser e de viver pro- borado pela comissão e apresenta questões para fumantes
posta pelo PCT-ISCMPA que vai transformar a Sa nta e não fumantes referentes a sexo, curso, renda, Lei Federal
Casa de Porto Alegre em um modelo também de cos-
9.294/96 so bre proibição do fumo em ambientes fechados,
tumes e práticas internas de seus colaboradores!
experimentação do tabaco, proibição de fumar dentro da
universidade, tentativas de cessação para os fumantes, im-
portância de um programa de tratamento facilitado pela
UFCSPA, entre outras. Atualmente, os questionários aplica-
dos estão sendo submetidos à análise estatística.
Em
Programa de Controle do Tabagismo Ação 2: Alinhamento da UFCSPA com a legislação
da Universidade Federal de Ciências (Lei Federal nR9.294/96)
O objetivo dessa ação é implantar nos prédios da UFCSPA
da Saúde de Porto Alegre placas sinalizando a proposta ·~bientes sem Fumaça de Ta-
baco" (proibição de fumar em ambientes fechados - a partir
Aline Dal Pozzo Antunes da entrada principal da universidade). As placas de advertên-
LuizCarlos Corrêa da Silva cia ("Neste local não se fuma" ou "Proibido fumar") foram
colocadas em diversos locais da instituição, como entrada, ca-
feteria, salas de aula, corredores, biblioteca, banheiros e, prin-
Exemplo de caso de uma universidade cipalmente, na área aberta da universidade (estacionamento),
a começar pelos aoessos externos, sinalizando que a UFCSPA
O PCT-UFCSPA foi instituído em janeiro de 2009, a pedido é livre do consumo de tabaco. Os locais foram estrategica-
da reitora da universidade, visando melhorar o convívio e mente definidos pela comissão e pela prefeitura da UFCSPA
a qualidade de vida das pessoas no âmbito universitário. A Além da sinalização por placas, houve um treinamento,
comissão responsável é formada por alunos, professores e realizado por uma psicóloga especialista no assunto, de um
funcionários da instituição. grupo de funcionários, os "vigilantes da saúde" . O papel des-
ses vigilantes é o de fiscalizar o cumprimento da proposta de Futuramente, a universidade atuará em campanhas nas
ambiente sem fumaça de tabaco, sendo que eles funcionam datas emblemáticas, como no Dia Mundial sem Thbaco (31
também como educadores dentro da comunidade acadêmica. de maio) e no Dia Nacional de Combate ao Fumo (29 de
agosto), com atividades realizadas em ambientes públicos
como parques e shopping centers. Nessas datas, deverão
Ação 3: Inclusão de módulo sobre tabagismo no ocorrer diversas ações que poderão ser realizadas em parce-
programa de ensino (PDCI) ria com outras iniciativas em prol do controle do tabagismo.
O módulo sobre tabagismo objetiva preparar os acadêmicos A dinâmica dessas atividades será a mesma da realizada nas
para melhor atuação na prevenção de doenças relacionadas feiras de saúde.
com o tabaco e apresenta conteúdos diversificados sobre a
doença tabagismo, em todas as suas dimensões, integrando
disciplinas do curso de medicina (pneumologia, psiquiatria,
Ação 5: Criação de espaço no site da UFCSPA
Trata-se de ação ainda em planejamento, com o intuito de
cardiologia, cancerologia, dermatologia, cirurgia plástica,
entre outras) e os diversos cursos da saúde. Nesse módulo, facilitar a comunicação da comunidade acadêmica com o
PCf-UFCSPA O espaço conterá informações da comissão
cuja implementação foi realizada em 2010, também foram
do PCf-UFCSPA, links com outras instituições e informa-
discutidas questões polltieas, jurídicas e sociais. O seu maior
objetivo é preparar os acadêmicos da área da saúde para ções relacionadas com o tema tabagismo.
atuarem não apenas como educadores, mas também como
profissionais capazes de controlar a epidemia do tabagismo. Ação 6: Realização de reavaliação periódica
A reavaliação periódica das ações propostas pelo Per-
Ação 4: Realização de intervenções externas (na -UFCSPA é fundamental para identificar ajustes necessários
no programa. Entre as estratégias de reavaliação estão a
comunidade) aplicação anual do questionário para acompanhamento do
Essa ação foi desenvolvida junto às feiras de saúde, promo- setor acadêmico e reuniões quinzenais da comissão para re-
vidas mensalmente pela universidade em diferentes escolas visão dos conteúdos do módulo de tabagismo do PDCI e dos
da cidade de Porto Alegre (RS), objetivando divulgar para outros setores.
a comunidade informações sobre tabagismo ativo e passivo
por meio de material informativo. Para realiz.ar essa ação,
~ ATENÇÃO
foi criada a banca de tabagismo que, além de desenvolver as
atividades mencionadas, realizou a intervenção breve com
a população frequentadora das feiras. A intervenção breve
baseia-se em uma ent.revista com o individuo com o obje- Embora o PCT-UFCSPA ainda se encontre em fase de
tivo não somente de informar sobre os benefícios de cessar implementaç.\o, pode-,se observar que teve boa acei-
o tabagismo, mas, principalmente, de estimulá-lo para tal. tação por parte de professores, funcionA rios e acad~
Para tanto, foi elaborado um pequeno manual de interven- micos, visto entenderem que tal programa é impor-
ção breve que foi distribuído à população. Além disso, um tante não apenas para a formaç.\o dos acadêmicos,
pneumologista realizou espirometria e monoximetria, com o mas também para o aprimoramento dos profissio·
objetivo de verificar a função pulmonar dos indivíduos bem nais da saúde e para a educaçlio dos fundonários de
como apresentar dados para eles, como forma objetiva de urna universidade da saúde.
motivá-los sobre a importância de cessar o tabagismo.
Gilberto Bueno Fischer
34
QUADRO 34.1 ~ Efeitos adversos do tabagismo na gestação sobre
Introdução o feto e o recém-nascido
O saudoso mestre José Rosemberg já chamava a atenção
para o fato de que o tabagismo é uma doença pedidtrica. En-
tretanto, até o momento, a pediatria ainda não se apropriou ~tt~oa:~,m.a··
adequadamente desse tema. Estima-se que em torno de 80 a
90% dos fumantes adultos tiveram sua iniciação no tabagis- Aborto espontâneo 1,0·1,8 Sim
mo antes dos 18 anos. Vários fatores influenciam essa inicia-
ção: pais fumantes, amigos pr6Jcimos fumantes, fácil acesso Descolamento de placenta 1,4·2.4 Sim
ao cigarro, insegurança do adolescente, entre outros. Neste Placenta prévia 1,5·3,0 Ignorado
capitulo são discutidos alguns aspectos pertinentes à crian-
ça e ao adolescente, destacando o que o pediatra deve fazer Fetos ~uenos para a idad~ 1,5·2,9 Sim
para melhor abordar esse assunto. gestadonal
Gases tóxicos
- Monóxido de Gás tóxico. Liga-se à hemoglobina com afinidade 250 vezes maior do que o 0 1, dificultando seu transporte no organismo.
carbono (CO) Fumar 20 cigarro!/dia aumenta o CO em 5 a 10 vezes.
- Cianeto Carcinogênico. Inalado em pequenas quantidades, pode levar a tonturas, dores de cabeça, náuseas e vômitos.
- Cetonas Entorpecente e inflamável. A inalação de pequenas quantidades causa tonturas e cefaleia; em grandes quantidades, pode
ser fatal.
- Terebintina Diluente de tintas a óleo. Provoca irritação nos olhos, vertigem, desmaios e lesões no sistema nervoso.
- Xileno Inflamável e cancerígeno. Provoca irritação dos olhos, tontura, cefaleia e até perda de consciência.
- Ácido levulínico Torna as vias aéreas superiores menos sensiveis ao fumo, levando a tragadas mais profundas e maior absorção da nicotina.
- Tolueno Gás tóxico. Ao ser inalado, deposita-se no tecido adiposo. Ocasiona depressão do sistema nervoso central, cefaleia,
inapetência, alterações menstruais.
Metais tóxicos
- Arsênico Tóxico. Ocasiona lesões ao ser armazenado em fígado, rins, coração, pulmões, ossos e dentes.
- Cádmio Metal pesado, tóxico e cancerígeno. Provoca lesões em órgãos como fígado, rins, pulmões e cérebro. Pode causar câncer
de pulmão e de próstata, rins e estômago. Pode permanecer no corpo por até 30 anos.
Alcaloides
em mais de três vezes, como se demonstrou no pioneiro tra· Segundo o Ministério da Saúde,5'6 a cada dia morrem
4
balho de Hirayama. sete brasileiros como consequência do tabagismo passivo,
totalizando mais de 2.600 mortes por ano.
Como o tabagismo passivo pode causar os mesmos danos
~ATENÇÃO que o ativo, deve-se fazer uma reflexão sobre os pacientes
com doença pulmonar, cardíaca ou câncer de pulmão que
referem "nunca ter fumado", mas foram fumantes passivos
A fumaça ambiental do tabaco, geradora do tabagis·
nas décadas passadas, fato que passou despercebido e hoje
mo passivo, pode causar os mesmos problemas que
ainda continua sendo subvalorizado. Assim, explicar-se-ia o
o tabagismo ativo, dependendo das diversas variá·
contingente de 10 a 20% de pacientes portadores dessas gra-
veis envolvidas, sendo mais importantes a suscetibi·
ves doenças que, embora refiram nunca ter fumado na vida,
Iidade individual. o inóculo (quantidade de fumaça
foram legítimas vitimas da FAT.
e tempo de exposição), as dimensões do ambiente
A associação entre exposição à FAT e sintomas respira·
da exposição e os mecanismos de depuração do ar
tórios foi estudada, na Suíça, em uma amostra de 4.197 adul-
ambiente.
tos nunca fumantes,7 encontrando-se associação com risco
QUADRO 35.2 -+ Consequências do tabagismo passivo' informações sobre riscos não são incluídas adequadamente
nos programas de saúde pré-natal ou não são incorporadas
Efeitos imediatos do tabagismo passivo por profissionais e pacientes. Considera-se papel primordial
- Irritação nos olhos, garganta e nariz (espirros, congestão nasal) do gineco-obstetra chamar a atenção sobre este assunto com
- Náuseas suas pacientes e acompanhar o processo da solução do pro-
- Tosse e cefaleia blema quando for o caso.
- Aumento de problemas alérgicos e cardíacos As consequências danosas para o feto são causadas por
Efeitos não imediatos mais graves do tabagismo passivo diversos fatores, entre os quais o efeito da hipoxemia, que
- Adultos fumantes passivos têm mais ocorre pela vasoconstrição dos vasos umbilicais e pela eleva-
- Câncer de pulmão ção da taxa de carboxiemoglobina, e a toxicidade do cádmio
- Doenças cardiovasculares à placenta.
- Doença das pequenas vias aéreas, com redução do VEF, O tabagismo materno, especialmente durante o terceiro
- Crianças fumantes passivas têm mais trimestre da gravidez, pode causar apoeias do sono obstruti-
- Morte súbita do recém·nascido vas, prejuízo da função pulmonar e menores escores do quo-
- Pneumonia
- Bronquite, asma ciente de inteligência (QI).
- Dificuldades de aprendizado
- Problemas comportamentais
- Baixo peso ao nascer Dados atuais sobre as consequências dotabagismo
- Sintomas respiratórios crônicos
- Doença do ouvido médio materno
-+ fumar durante a gestação e na fase de amamentação
VEf, = volume expirat6rio forçado no primeiro segundo. tem efeitos danosos na saúde fetal e na fase inicial de
desenvolvimento do lactente.
-+ Mães que fumam aumentam riscos para seus filhos
não apenas para abortamento, descolamento prema-
elevado para sibilância (RC=1,94), sintomas de bronquite turo da placenta e baixo peso ao nascer. mas tam-
(RC= 1,65), dispneia (RC= 1,45) e asma (RC = 1,39). bém para malformações (lábio leporino, fissura pa-
latina, defeitos em membros, etc.) e, provavelmente,
para síndrome de Down.
7 Nos primeiros meses de vida, muitos lactentes morrem
Tabagismo na gravidez devido à "slndrome da morte súbita do lactente", uma
Fumar na gravidez pode causar danos ao embrião, ao feto, à condição associada ao tabagismo materno (tabagismo
criança na etapa pós-natal e mesmo em fases posteriores da passivo intra e extrauterino).
vida. Quando os riscos associados ao tabagismo são compara-
dos com outros riscos no período perinatal, os efeitos danosos
do tabaco superam todos os outros fatores (QUADRO 35.3).
Embora hoje se considere inadmissível que a mulher Otabagismo passivo e a criança
fume, ativa ou passivamente, durante a gestação, ainda 20
a 30% das gestantes continuam fumando.8 Parece que as Estima-se que, em nível mundial, de cada duas crianças, uma
é exposta à FAT, o que equivale a 700 milhões de crianças fu-
mantes passivas. 1àl exposição, como se esperaria, acontece
principalmente no ambiente familiar.
QUADRO 35.3 -+ Consequências do tabagismo passivo para o feto A exposição ambiental ao tabagismo leva a inúmeros
e a criança, quando a mãe fuma durante a gravidez'·' prejuízos para as crianças, citando-se redução da função pul-
monar, aumento da frequência de infecções respiratórias e
- Maior chance de abortamento de exacerbações da asma.
- Maior chance de parto prematuro Para mais detalhes sobre o impacto do tabagismo passivo
- Diminuição do peso ao nascer na criança, ver Capítulo "O Papel do Pediatra no Controle
- Gravidez tubária do Tabagismo".
- Morte súbita do recém· nascido
- Risco de apneias do sono obstrutivas*
- Prejuízo da função pulmonar*
- Menores escores de Ql* Como evitar o tabagismo passivo
- Infecções respiratórias
- Aumento da frequência, da gravidade e do número de (proteção)
exacerbações de asma
Existe uma ampla legislação que proíbe fumar em am-
- Otite média
- Distúrbios de comportamento e desenvolvimento neurológico bientes fechados, públicos ou privados, salvo nos recintos
apropriados que tenham amplitude, ventilação e separa-
' Espe<ialmentt ~o tobbgismo passivo ocorrer no terceiro trimestrt da gestação. ções físicas adequadas. A permissão de fumar em quais-
quer espaços fechados, mesmo que fisicamente separados
de outros ambientes, sabe-se hoje ser inadequada, embo- Resultados da proibição de fumar em
ra isso ainda seja permitido pelas leis antigas que estão ambientes fechados
defasadas em relação ao recomendado pela Convenção
Quadro.' Lightwood e Glantz chamaram a atenção para o fato de que
Estudos de meteorologistas mostraram que a depura- a frequência de eventos miocárdicos agudos, em países como
ção do ar ambiente é pouco eficiente quando se trata de a Irlanda do Norte, reduziu 30% após a implantação das leis
FAT. Em nosso meio, Seelig e colaboradores avaliaram a que proibiram fumar em ambientes fecbados. 13
influência da ventilação na qualidade do ar de ambientes Ficbtenberg e Glantz verificaram que a implantação de
fechados expostos à FAl; utilizando um modelo de escoa- ambientes livres da fumaça de tabaco em locais de trabalho
mento de ar em prédios e um modelo de concentração de não apenas protege os não fumantes dos danos do tabagismo
poluentes originados no ato de fumar. Constataram que passivo, mas também encoraja os fumantes para a cessação
mesmo altas taxas de ventilação não reduzem suficiente- ou para a redução do consumo.••
mente a concentração dos poluentes, sendo necessário um
deslocamento de ar da ordem de mil quilômetros por hora
para uma depuração adequada. Portanto, sistemas de ven- Não fumar em ambientes fechados beneficia a
tilação não solucionam o problema da FAT em ambientes todos
fechados e a proibição do fumo nestas condições é a única -+ Os nâo fumantes sâo protegidos do tabagismo pas·
solução.10 sivo.
A atitude recomendada aos não fumantes é que preser· -+ Os fumantes passam a fumar menos e sâo motivados
vem seu ar ambiente sempre. Em casa, não tenham cinzei- para a cessaçAo.
ros, e de maneira alguma permitam que alguém fume. No -+ Os jovens sâo influenciados positivamente por esta
trabalho, exijam o cumprimento da Lei n• 9.294/96, que pro- atitude (prevençAo).
!be fumar em ambientes fechados." Ao irem a restaurantes e -+ O ambiente fica mais limpo e seguro.
locais de lazer, escolham os estabelecimentos que seguem a
legislação e têm consideração com sua saúde, isto é, tenham
áreas livres de fumaça de cigarros.
Segundo dados recentes, sabe-se que não basta evitar
fumar em ambiente fechado, pois crianças filhas de pais !I] ATENÇÃO
fumantes têm mais problemas de saúde do que crianças
filhas de pais não fumantes, mesmo não se expondo di- Segundo a OrganizaçAo Mundial da Saúde, a medida
retamente à FAT. Isso ocorre devido à impregnação das de maior impacto para o controle do tabagismo é a
roupas e da superfície corporal e aos produtos gasosos que implantaçAo de ambientes 100% livres da fumaça de
continuam sendo eliminados pelas vias aéreas dos pais fu. tabaco.'
mantes, mesmo quando não estão fumando. Este fato está
sendo denominado em língua inglesa "third-hand smcke",
ou seja, "fumaça de terceira mão", o que se constitui em
forte argumento para o banimento do tabagismo nos do- Como estão as leis
micílios. 12
Para controle da FAT, no Brasil, existe a Lei Federal n•
9.294/96, que diz "é proibido o uso de cigarros, cigarrilhas,
charutos, cachimbos ou de qualquer outro produto fumlge-
no, derivado ou não do tabaco, em recinto coletivo, privado
ou público, salvo em área destinada exclusivamente a esse
fim, devidamente isolada e com arejamento conveniente"."
Como essa lei ainda permite áreas especiais destinadas
para os fumantes (os "fumódromos"), apresenta-se defasada
com o que deliberou a Convenção Quadro e, portanto, pelo
fato de contrariar a "lei maior", deve ser considerada incons-
titucional. Leis Municipais têm sido instituídas, como a de
Porto Alegre (n° 555/2006). Leis Estaduais praticamente co-
meçaram a partir da iniciativa de São Paulo (n° 13.541/2009)
desde agosto de 2009, que foi pioneira e mais completa, pois
não admitiu o fumódromo e estabeleceu claramente os me-
canismos de fiscalização e penalização. Em seguida, vieram
as do Rio de Janeiro (n" 5.51712009), do Paraná (n° 16.239),
do Rio Grande do Sul (n° 148/2009), de Minas Gerais (n°
3.03512009) e de outros Estados.
Para o cumprimento dessas leis, faz-se necessário, por
parte dos governantes e líderes em geral, maior envolvi- importantes, poos asiáticos têm maior risco do que
mento e determinação, de modo que seja passado para o oeste-europeus e norte-americanos.
cidadão que as leis não serão mais uma chateação a não ser ~ Mulheres fumantes, quando planejam a gravidez
cumprida. Como se esperaria, ainda não se observa adesão ou inesperadamente ficam grávidas, devem fazer
adequada às recomendações e exigências, e tanto fumantes todo o esforço para parar de fumar antes da gravi·
qu anto não fumantes ainda deverão ser mais informados e dez ou durante as primeiras semanas . E devem nlo
educados para mudar este comportamento. Sobre tais leis, fumar durante os primeiros anos de seus filhos. O
mesmo se aplica às outras pessoas que convivem
devem ser considerados dois itens fundamentais: a proibição
na mesma residência.
do "fumódromo" (local fechado onde se permite fumar) e
~ A mãe é a figura-chave na determinação do estilo
fiscalização e penalização efetivas. O fumódromo não prote- de vida da famflia, e este é o ponto de partida a
ge o trabalhador (garçom ou outro), nem o acompanhante, ser abordado nos futuros programas de educação.
nem o próprio fumante, que literalmente fumará duas ve- ~ Crianças que se submetem a anestesia geral, folhas
zes, constituindo-se também em um mau exemplo para os de pais fumantes, têm o dobro de complicações
jovens. A fiscalização é fundamental, pois lei que visa mudar p6s·anestésicas. A medida da cotini na urinária
comportamentos e C05tumes, sem fisealização e penalização, pode ser útil para assegurar o controle deste fator.
toma-se vazia, sem valor. ~ A população deve ter conhecimento sobre as in·
Uma observação importante é que de nada adianta, em formações mais atualizadas a respeito da FAT, de
um espaço fechado, separar os ambientes apenas por demar- modo que em particular crianças e adolescentes
cação virtual, sem separação fisica real. Por exemplo, em um sejam efetivamente protegidos.
restaurante, separar mesas para fumantes e não fumantes,
na mesma sala, não tem valor, pois o ar dos seus diversos
setores mistura-se rapidamente. Para uma proteção eficaz,
deve existir uma separação real, física, como uma parede,
Referências
I. Waoson RR, Winen M. Environmental tobaeeo smoke. Boca Ra·
e sem o inconveniente de portas que se abram frequente-
ton: CRC; 2001.
mente.
2. Remmcr H. Passively inhalcd tobacco smoke: a chaUcngc to to-
xicologyand prcvcntivc mcdicine. Arch TolÕcol. 1987;61(2):89-104.
respiratórias
isquêmica vascular baixas
milhões
2,1
1,3 milhões
milhões
0,3
milhões 2000
1975
1950
FIGURA 36.1 -+ (A) Fração atribuível ao tabaco entre as oito principais causas de morte no mundo. O tabaco é um fator de risco para seis delas. As
áreas marcadas indicam a proporção de mortes atribuídas ao uso do tabaco. (B) Estimativas anuais (entre 1950 e 2030) de mortes causadas pelo
consumo de tabaco no mundo.
TABELA 36.1 -+ Percentual de pessoas de 15 anos de idade ou mais usuárias de tabaco fumado, por rendimento médio mensal domiciliar
per capita. segundo as grandes regiões (2008)
China Índia Indonésia Federação Estados Japão Brasil Bangladesh Alemanha Turquia
Russa Unidos
da América
FIGURA 36.3 -+ (M) Monitorar o consumo de tabaco e as políticas de prevenção à iniciação. Aproximadamente dois terços dos fumantes vivem em
apenas 10 países.
A cada ano, a OMS apresenta uma sinopse dos funda- deres executivo, legislativo e judiciário. A ação lobista se
mentos científicos para auxiliar as Partes a superarem as di- estende aos setores da mídia, desde artigos de opinião até
ficuldades enfrentadas na aplicação dessas estratégias.18 a publicação de matérias pagas, feitas em nome das entida-
des representativas dos ramos de hotelaria, alimentação e
turismo. Tais manobras vêm se intensificando a partir das
consultas públicas da Agência Nacional de Vigilância Sani-
AIndústria do Tabaco vs. Convenção tária (Anvisa) -regulação da publicidade e da proibição de
Quadro? aromatizantes - e de tentativas para barrar a lei federal dos
ambientes livres de tabaco, em tramítação no Senado.
Uma das dificuldades que as "Partes" têm tido para colocar De forma explícita, fica patente o conflito de interes-
em prática as prescrições da CQCT é a interferência que a ses quando a indústria financia as campanhas políticas e a
indústria do tabaco e seus prepostos exercem sobre os po- realização de eventos da Associação Nacional dos Jornais,
ISO%
do Ministério Público e da Conferência Nacional dos Ad- Quando já não há ma.is como refutar os argumentos de
vogados. embasados estudos cientlficos, a indústria difunde o discurso
Essas práticas configuram uma imoralidade e desres- de que o Estado está interferindo no mercado e na socieda-
peito ao artigo 5.3 da CQCf, pois, ao receberem recursos de, no direito de propriedade e no de escolha do fumante.
privados, as organizações do Estado comprometem a sua
necessária independência e isenção para atuar em defesa da
sociedade.
Além disso, a indústria do tabaco e a bancada de depu-
Perspectivas futuras para o tratamento
tados defensores do tabaco vêm mobilizando os explorados do tabagismo
fumicultores contra a diversificação do cultivo e para defen-
der o tabaco tipo "burley" produzido com adição de aroma- Afarmacoterapia: novos conceitos e as vacinas
tizantes. Os medicamentos para apoiar a cessação do tabagismo estão
Com a queda do consumo de tabaco, que já vem ocor- no mercado há poucas décadas. Apesar das escassas opções
rendo em função da adoção das medidas prescritas na disponlveis, eles são eficazes e, no mínimo, dobram as chan-
CQCT, a indústria do tabaco busca mercados dos países em ces de os indivíduos permanecerem sem fumar.
desenvolvimento, apostando na sofisticação dos sabores e A reposição de nicotina é segura para uso a curto prazo,
nas embalagens do tabaco. mas o uso a longo prazo exigirá novos estudos. A bupropiona
0% 14
-9%
-10%
FIGURA 36.7 ~ [E) Fazer cumprir as proibições sobre publicidade, promoção e patrocínio de produtos de tabaco. No gráfico, mudanças no consumo
de cigarros 1Oanos depois da introdução do banimento da propaganda em dois grupos de países.
§.
Ê .. ... .........
40%
"'" 2000
30%
~~~-~ ~
1500
25%
-
20%
1000 ~ 1-
~ 15%
10%
2ºº-
~
o 0%
e a vareniclina têm demonstrado resultados promissores na pio, para grupos especiais de pacientes, como os que apre-
terapia estendida por seis meses ou mais tempo, superando sentam comorbidades clínicas ou psiquiátricas.
as taxas de cessação nas terapias a curto prazo. A novidade para os próximos anos será a vacina para
O tabagismo enquanto doença crônica recorrente pode- bloquear a chegada da nicotina ao cérebro. Os estudos ini-
rá levar à extensão do tratamento por um período superior ciais mostram que há produção de anticorpos específicos.
às 12 semanas previsto na maioria dos consensos, por exem- Eles se ligam com grande afinidade à nicotina no plasma e
nos líquidos extracelulares. O acesso da nicotina aos recep-
tores cerebrais fica impedido, pois ela não consegue atraves-
Referências
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sar a barreira hematoencefálica. Desse modo, não há libe-
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ração dos neurotransmissores psicoativos, o que suprime a
Canccr. 2005;92(3):426-9.
sensação de prazer ao fumar. Os estudos farmacogenéticos
no futuro poderão indicar o protocolo mais apropriado para 2. United States. U.S. Dcpanmcnt on Hcaltb and Human Scrviccs.
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As janelas de oporturudade para abordagem do fumante jo-
effects of passive smoking: luog cancer and otber disordcrs. Wa-
vem deverão ser aproveitadas, como nos programas de qua-
shington: EPA; 1992.
lidade de vida no trabalho, nas escolas e nas visitas médicas
dos familiares seja ao pediatra, ginecologista ou clínico. S. World Health Organization. lntemaúonal Agency for Researcb
A restrição cada vez majs ampliada dos espaços para fu- on Cancer. lARC monograpbs on the evaluaúon of Lhe carcinogenic
mar e da publicidade irá também desestimular a iniciação e risks to humans: tobacco smoking. Lyon: lARC; 1986. lARC Mono-
grapbs, v. 38.
a manutenção do tabagismo.
Os fumantes das camadas sociais com menor ingresso 6. World Hcalth Organization. lntcrnational Agcncy for Rcscnr-
econômico, as mulheres e os portadores de distúrbios psi- ch on Canccr. Tbbacco smoke and involuntary smoking (Internet).
quiátricos representarão a principal demanda. Gcncva: WHO; 2002 [capturado em 31 maio 2011). IARC Mono-
Os sistemas de saúde público e suplementar deverão am- grapbs on the Evaluation of Carcinogcnic Risks to Humans, n. 83.
pliar a cobertura terapêutica aos fumantes, como uma ação Disponível em: http://monographs.iarc.fr/ENG/Monograpb.slvol83/
volume83.pdí.
básica de saúde, em todos os níveis da assistência. As escolas
técnicas e universitárias da área de saúde deverão incluir a 7. Repaoe JL, Hyde JN, Bruggc O. Air poUuúon in Boston bars bc-
abordagem do tabagismo em seus currículos, como proble- fore and after a smokiog ban. BMC Public Healtb. 2006;6:266.
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Aabordagem do tabagismo enquanto tation of comprchensive smoke-frcc workplace lcgislation in thc
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smoking ordinanccs in California on smoking ccssation. Am J Public
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Healtb. 2000;90(5):757-61.
discussão quanto ao uso de drogas psicoativas, sendo para-
digma para a intervenção em outras dependências, como o 10. Centcrs for Disease Control and Prevention. Perspectives in di-
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Os mecanismos de controle médico, político, social e talily and years of potentiallife lost, United States, 1984. MMWR
Morb Mona! Wldy Rcp. 1997;46(20):444-51.
econômico sobre o seu ciclo produtivo deverão nortear um
novo modus operandi, que não passa, em nossa opinião, pelo 11. United States. U.S. Oepanmcnt of Healtb and Human Scrviccs.
seu banimento. A lição que a grande recessão norte-ame- Centers for Disease Control. The healtb bencfits of smok.ing oessa-
ricana dos anos 20-30 do século XX trouxe é que o simples úon: a repon ofthe Surgeon General Rockvillc: CDC; 1990. DHHS
banimento do álcool fortaleceu o contrabando e a máfia. Publication n° (CDC) 9G-8416.
Apesar de todos os esforços pela redução do consumo, have- 12. World Hcalth Organization. WHO Framework Convcntion on
rá pessoas que se tomam dependentes do tabaco; estas pre- Tobacco Control (Internet]. Geneva: WHO; c2011 [capturado em 31
cisam ser precocemente alcançadas, encorajadas e apoiadas maio 2011). Disponfvcl em: http:/twww.who.int/fctc/enl.
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trabalho avança, rendimento mantém-se em alta, c mais domicfiios
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gismo passivo no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ, INCA; 2008.
Paulo José Zimermann Teixeira
Fernando Rosado Spilki
37
Fernanda Waltrick Martins
~ATENÇÃO
na natureza, pois são altamente resistentes no ambiente e
excretados pela via fecal. Os AdV estão enquadrados em
dois gêneros: Aviadenovüus (aviários) e MastadenovÍIUS (ma-
Estima-se que em tomo de 50% dos quadros deres- míferos). Pelo menos 51 sorotipos de AdV foram identifica-
friados estejam associados a infecções por rinovírus, dos em seres humanos, tendo sido divididos em subgrupos
o que torna esses vírus a causa mais importante do A - F com base em sua capacidade de aglutinar eritrócitos
resfriado comum. Os casos podem ocorrer ao longo de seres humanos ou outras espécies e no perfil de oncoge-
de todo o ano, mas há uma tendência de maior nú- nicidade em modelos animais; todavia, esses vírus não foram
mero de infecções no início do outono e na prima- associados a tumores em seres humanos.
vera em países frios, podendo perdurar ao longo do Indivíduos de todas as idades podem ser afetados, po-
inverno em áreas geográficas mais quentes. rém há maior prevalência da infecção em bebês e crianças,
causando uma manifestação febril com sinais clínicos respi-
ratórios associados ao trato respiratório superior e de dificil
O contato com crianças pequenas, assim como o conta- diferenciação de outras infecções respiratórias. A distribui-
to prolongado com indivíduos infectados e a aglomeração ção das infecções é mundial e estima-se que em torno de
maior de pessoas em ambientes malventilados são fatores 10% dos resfriados comuns estejam associados a infecções
predisponentes para a infecção. A disseminação se dá tanto de AdV. São comuns os surtos isolados da enfermidade em
por via aérea quanto pelo aperto de mãos e pelo contato com turmas de colegiais e em locais de trabalho. As infecções po-
superfícies contaminadas. Conforme mencionado antes, os dem ocorrer ao longo de todo o ano, sendo mais comuns ao
rinovírus são altamente resistentes a vários dos desinfetantes final do inverno e no início da primavera.
comuns por suas características estruturais. Desse modo, a Os sorotipos comumente encontrados são os AdV-1 até
forma mais eficaz de prevenção é a lavagem cuidadosa das AdV-7, AdV-14 e AdV-21, com variações dependendo da fai-
mãos (a aplicação de álcool-gel tem pouca eficácia). xa etária atingida. A transmissão se dá por aerossóis, contato
Após a infecção, que pode ocorrer mesmo com um nú- direto do tipo aperto de mãos e, provavelmente, veiculação
mero minimo de partículas infecciosas, o período de incuba- hídrica. Em vários trabalhos, os sorotipos de origem enté-
ção é bastante curto, da ordem de 24 a 48 horas, e os sinto- rica (AdV-40 e AdV-41), bem corno os sorotipos de origem
mas se prolongam por quatro dias até uma semana. O pico respiratória (AdV-2 e AdV-5), são os mais encontrados em
de excreção vira! coincide com o aparecimento dos sintomas. amostras de água contaminada.
Os sinais clínicos característicos são rinorreia associada O quadro clínico que se desenvolve após a infecção do
ao aumento da produção de muco pela produção de bradi- trato respiratório por AdV, especialmente em crianças, é
cinina e histamina, espirros e congestão nasal associada à caracterizado por rinite, tosse, mialgia, exsudato nasal leve
hiperernia e edema da mucosa nasal. Os sintomas sistêmicos a moderado, linfadenopatia cervical e febre. Em alguns ca-
de mialgia e cefaleia podem ocorrer, já quadros febris são sos, a produção de coriza pode ser mais copiosa. As com-
raros. Na maioria dos indivíduos, a doença é normalmen- plicações mais comuns envolvem laringite e conjuntivite bi-
te autolimitada, sem complicações, e o tratamento, apenas lateral, as quais podem ocorrer de forma concomitante ou
sintomático. Em idosos, quadros de otite média foram re- em sequência ao quadro de resfriado provocado por AdV.
lacionados como uma possível manifestação concomitante. Quadros de bronquiolite também podem ser observados em
Em pacientes imunossuprirnidos, podem ocorrer infecções crianças. Pneumonia é urna complicação relatada em adultos
mais graves, inclusive com quadros de pneumonia. Deve-se e idosos, podendo ser complicada pela presença de condi-
ressaltar que a doença clínica pode não ocorrer em até 50% ções crônicas subjacentes, como doença pulmonar obstrutiva
crônica (DPOC). A infeoção pode se disseminar para outros nimo comprometimento sistêmico, conforme descrito antes,
sistemas em pacientes imunossuprimidos. não se aplicando, neste caso, erroneamente o termogri~.
Ainda que já tenham sido comercializadas vacinas con-
tra AdV em pa!ses desenvolvidos, as medidas preventivas são
semelhantes àquelas preconizadas para rinovírus. Da mesma
forma, o tratamento t sintomático, as marurestações clínicas
podem se estender por semanas e a resolução costuma ser
espontânea. Estudos com antivirajs foram realizados in vitro,
mas a eficácia não foi devidamente testada em ensajos clinicas.
Coronavírus
runda entre os vírus associados ao resfriado, têm lugar de
destaque os coronavírus (Co V). 1!-ata-se de vírus envelopa-
dos, pleomórficos, dotados de material genético composto
de RNA de fita simples e polaridade positiva (ssRNA+ ),
cujo genoma é o mais longo dentre os vírus RNA. Os mem-
bros da famfiia Coronaviridae, ordem Nidovirales, podem
ser divididos em três grupos antigênicos distintos, sendo
os Co V que infectam seres humanos reunidos nos grupos I Surtos de inlluenza ocorrem em todos os invernos, poden-
(cepa HCoV-229E) e 11 (cepa HCoV-OC43), incluindo o ví- do ter infcio em médias latitudes no final do outono. làis sur-
rus síndrome respiratória aguda grave, SARS-CoV, outrora tos são caracterizados por elevada morbidade na população
considerado o protótipo de um grupo antigênico à parte. geral e respondem por algo em torno de 7 a 10% das infec-
Os isolados clássicos de CoV possuem patogenicidade e ções respiratórias na população humana, mesmo em pande-
virulência bem mais moderada do que o SARS-CoV, e esti- mias como aquela observada em 2009. As complicações do
ma-se que esses vírus sejam responsáveis por até 15 a 30% quadro de comprometimento pulmonar são frequentes c po-
dos casos de resfriado comum. A semelhança dos rinovírus, dem ter efeitos graves sobre pacientes majs suscetíveis, como
os CoV mantêm sua multiplicação restrita ao trato respira- idosos, mulheres grávidas c pacientes com condições crônicas.
tório superior por apresentarem níveis ótimos de replicação lnfecçôcs secundárias por bactérias também costumam ser
a temperaturas entre 33 e 35•c. As infecções são mais fre- encontradas em quadros graves de influenza.
quentes no mês de outono até o início da primavera, pelo
menos em regiões de clima temperado.
A principal via de transmissão dos Co V associados ao lnfluenzavírus
resfriado comum é pelos aerossóis expelidos por indivíduos Os influenzavírus são agentes envelopados, portanto pouco
contaminados. O período de incubação é de sete dias, po- resistentes no ambiente, pertencentes à família Ortomyxo-
dendo ser majs breve conforme a vírulência da cepa e o es- viridae, com genoma RNA de oito segmentos, e que podem
tado imunológico do indivíduo. Depois clisso, surgem sinajs ser agrupados em três gêneros distintos (A, B e C) confor-
cUnicos de resfriado semelhantes àqueles descritos para os me caracterização antigênica. O grupo mais variável e mais
rinovírus, podendo durar até uma semana, normalmente ha- frequentemente relacionado com infecções respiratórias em
vendo remissão espontânea, sem complicações. seres humanos é o grupo A, que é subdividido com base na
Os casos de infecções por SARS-CoV, uma provável alta variabilidade antigênica da proteína hemaglutinina (H)
zoonose emergente, ocorridos no ano de 2003, são caracte- e neuraminidase (N).
rizados por manifestações cllnicas mais graves, de compro- Dentre os diversos hospedeiros de influenzavfrus, que
metimento pulmonar e sistêmico, com elevado grau de le- incluem aves silvestres c domésticas, suínos, cavalos, felinos,
talidade, possuindo assim um padrão de virulência bastante seres humanos e, mais recentemente, cães, são conhecidos 16
distinto dos quadros moderados de resfriados comuns cau- subtipos de H e nove subtipos de N; a combinação desses sub-
sados por CoV. tipos presentes nas cepas virais costuma ser expressa ao se no-
Não existem vacinas contra resfriados causados por CoV, mear os vírus inlluenza, observa-se ainda o local de origem, o
e as atitudes preventivas devem incluir evitar aglomerações ano de isolamento e, em alguns casos, a espécie em que o vírus
e ambientes malventilados. foi isolado. Por essa convenção fica clara, por exemplo, a dis-
tinção entre a cepa causadora da pandemia de 2009, HlNl/A/
Califórnia/2009, e outra cepa de HlNl relacionada com a in-
fluenza sazonal, por exemplo, HINl/NBrisbanc/59/2007.
Gripe A variação das cepas de influenzavfrus A que infectam
Ainda que seja comum em diferentes fontes a confusão na seres humanos- normalmente restritas aos subtipos H I, H2,
llngua portuguesa entre os termos resfriado e gripe, deve-se H3, Nl e N2 - se dã de forma anual, o que exige constante vi-
utiliza.r a terminologia resfriado para as doenças confinadas gilância e formulação de vacinas atualizadas, jã que não ape-
ao trato respiratório superior, em geral com pouco ou mí- nas mutações, mas também o rcarranjo de segmentos genô-
micos de diferentes vírus na célula infectada, podem levar ao sistema nervoso central e, de forma mais frequente, pneu-
surgimento de novas cepas. Os influcnzavírus B c C possuem monia intersticial grave, com acúmulo de exsudato purulen-
bem menos diversidade genética e antigênica. As pandemias to, sobretudo quando associada a Streptococcus pneumoniae,
por influenzav[rus A são graves c, por isso, existem programas Staphylococcus aureus e Haemophilus influenzae.
internacionais de vigilância da gripe, no intuito de monitorar
e prevenir surtos de influenza em dimensões globais.
Em seres humanos, ocorrem infecções pelos influenzaví- Durante a temporada de gripe (períodos definidos
rus A e B. Conforme mencionado antes, os surtos de gripe
ocorrem todos os anos, e a gravidades dos sintomas observa- quando os vírus estão circulando na comunidade),
dos varia enormemente. As grandes pandemias se desenvol- o diagnóstico de gripe deve ser considerado
vem em intervalos de, aproximadamente, 30 anos, estando nos seguintes doentes, independentemente da
em geral relacionadas com a infecção zoonótica de seres hu-
situação vacinaI:
manos por um vírus de origem aviária. Seja pela influenza
sazonal, seja durante pandemias, a maior parte dos casos de
-+ lmunocompetentes e pessoas imunocomprometidas
(adultos e crianças), incluindo profissionais da saúde,
influenza está relacionada com infecções por vírus do grupo com febre e aparecimento agudo de sintomas respi-
A, que é o mais comum em seres humanos. ratórios.
Grandes variações antigênicas, chamadas na literatura -+ Pessoas com febre e exacerbação aguda da doença
internacional de "shifts" ou desvios antigênicos, seja apenas pulmonar crônica de base.
da hemaglutinina seja desta em conjunto com a neuramini- -+ Bebês e crianças pequenas com febre e outros sinais
dase, levam à formação de novas cepas de influenzavírus A e sintomas.
Associados a esses mecanismos, como já mencionado, os re- -+ Idosos com sintomas novos ou com piora dos sin-
agrupamentos de segmentos de virus influenza distintos es- tomas respiratórios, incluindo exacerbação da insu-
tão na base da geração de novas linhagens de influenzavírus ficiência cardfaca congestiva ou alteração do estado
patogênicos para humanos. A imunidade para um subtipo mental, com ou sem febre.
ou cepa específica é consistente; todavia, a imunidade cru- -+ Pessoas gravemente doentes com febre ou nipoter-
zada entre cepas e tipos confere pouca proteção. Ainda que mia.
o influenzavírus A predomine como causa de gripe, já foi -+ Crianças hospitalizadas sem febre ou sintomas respi-
relatada a cocirculação do grupo B em surtos de influenza. ratórios agudos e que desenvolvem esses sintomas
Durante o século XX, foram descritas três pandemias: após a internação.
a gripe espanhola em 1918/19, a gripe asiática em 1957 e a -+ Adultos hospitalizados sem febre ou sintomas respi-
ratórios agudos e que desenvolvem esses sintomas
gripe de Hong Kong em 1968. Recentemente, em 2009/10,
após a internação.
ocorreu a pandemia de influenza A (HlNl).
Ir !<Uiiilrl;IIIN
lnibidores da neuraminidase
Adamantinas
- Rimantadinas 200 mg ao dia em dose única ou divididos em 200 mg ao dia em dose única ou divididos em
duas doses duas doses
- Amantadina 200 mg ao dia em dose única ou divididos em 200 mg ao dia em dose única ou divididos em
duas doses duas doses
Preven~áo TABElA 37.2 -+ Esquema vacina) para influenza
A vacinação contra inlluenza sazonal é realizada com as es-
tirpes virais mais representativas das cepas circulantes no
campo a cada ano, conforme monitoramento realizado pe-
los programas mundiais de vigilância de vírus da gripe. No 6 a 36 meses 0,25 1·2*
Brasil, existem redes de saúde sentinela e laboratórios que 3 a 8 anos 0,5 1·2*
monüoram tanto a circulação de cepas virais como a mor-
bidade por infecções respiratórias agudas e a morbimortali- <?:9 anos 0,5
dade associadas à circulação das cepas virais. A partir dessas
informações, são elaboradas as vacinas a serem aplicadas na • A segunda do,. com intttv~lo dt 4 • 6 meses.
próxima campanha vacina!.
A vacina, cultivada em ovos embrionados e inativada, é
normalmente aplicada nos grupos mais afetados após a in- comunidade, a quimioprofilaxia pode ser considerada para
fecção por inlluenzavírus, sobremaneira crianças e idosos, pessoas de alto risco de complicações durante duas semanas
ainda que os adultos sejam o grupo que mais dissemina o ví- após a vacinação. Está contraindieado o uso de oseltamivir
rus, mesmo que de modo assintomático. Existem duas apre- para proftlaxia em larga escala, sendo aconselhado apenas
sentações de vacina: uma forma é com vírus vivo atenuado, para situações especiais:
aplicada na forma de spray nasal, não utilizada no Brasil;
a outra forma usa vírus inativados com dois tipos de vírus • Adultos e crianças maiores de 1 ano de idade que têm
influem:a A e um inlluenza B, devendo ser repetida anual- alto risco de desenvolver complicações da influcnza,
mente, já que sua composição varia a cada ano em função quando a vacinação está contraindicada ou terá baixa
das cepas circulantes. A vacinação está indicada para ido- efetividade, como no caso de pacientes irnunocompro·
sos acima de 60 anos de idade e para pacientes com doenças metidos, bem como quando está indisponível.
crônicas c imunodepressáo, sendo indicada também como • Adultos não vacinados, principalmente profissionais da
medida auxiliar para controle de surtos institucionais ou saúde, como profissionais de laboratório que tenham ma-
hospitalares para os que pertencem aos grupos de risoo, caso nipulado amostras clínicas contendo o vírus sem utiliza-
ainda não tenham sido vacinados. ção de equipamento de prot.eção individual (EPI) e traba-
A profilaxia primária está recomendada para profissio- lhadores de saúde que estiveram envolvidos na realização
nais da saúde que atuam na assistência individual de casos de procedimentos invasivos ou manipulação de secreções
de infecção respiratória, para trabalhadores de asilos e cre- em um easo suspeito ou confirmado de infecção por in-
ches, para indígenas a partir de seis meses de idade e para a fluenza A sem uso de EPI e crianças maiores de 1 ano de
população carcerária, como forma de reduzir o potencial de idade que são contatos diretos de pessoas com alto risco
transmissão da doença em comunidades fechadas e grupos de desenvolver complicações da inlluenza durante perlo-
mais vulneráveis à infecção. Após a vacinação em adultos dos de atividade da doença na comunidade.
saudáveis, a detecção de anticorpos protetores ocorre entre • Moradores de instituições (vacinados ou não vacinados)
uma e duas semanas e seu pico máximo é após 4 a 6 semanas. que estão enfrentando um surto de gripe.
A vacina está contraindicada em pessoas com história de
reação de hipersensibilidade do tipo anaftlática a proteínas A dose recomendada de profilaxia é de 75 mg, uma vez
ao dia, por 1Odias.
do ovo de galinha e em indivíduos com história pregressa de
síndrome de Guillain-Barré (TABElA 37.2).
Duraçáo da profilaxia
• A quimioprofilaxia pode ser interrompida duas semanas
após a vacinação de pessoas não institucionalizadas. As
crianças com menos de 9 anos de idade que receberam
a vacina pela primeira vez devem receber duas doses da
vacina, com intervalo de quatro semanas entre as duas
doses. Desse modo, crianças precisam, no mínimo, de
seis semanas de profilaxia.
• Quando a quimioprofilaxia é usada nos contatos após
diagnóstico de inlluenza em um membro da família, deve
ser mantida por 10 dias.
• Em pessoas com alto risco de complicações, quando a
vacina é contraindicada ou tem baixa efetividade, a pro-
ftlaxia deve ser mantida enquanto o vírus estiver circu-
Quimioprofilaxia lando na comunidade.
A vacinação contra inlluenza é a principal ferramenta para • Após um surtO institucional, a quimioprofilaxia antiviral
prevenir a gripe, e a quimioproftlaxia não é um substituto deveria ser continuada por 14 dias, ou por sete dias após
para a vacina. Quando o vírus da gripe está circulando na o inicio dos sintomas da última pessoa infectada.
topados, não segmentados, dotados de genoma de RNA de
Medidas não farmacológicas fita simples com sentido negativo (ssRNA-).
~ Realizar higiene das mãos com água e sablo. O bRSV é o agente vira! mais bem caracterizado nes-
~ Evitar tocar olhos, nariz ou boca após contato com te grupo, associado à doença do trato respiratório inferior.
superfícies. Recentemente, foi identificado um novo patógeno humano
~ Orientar para que o doente evite sair de casa enquan- pertencente à subfamllia PneumoviriMe, o metapneumoví-
to estiver em período de transmissAo da doença (até rus humano (hMPV), que possui semelhanças com o hRSV
cinco dias após o início dos sintomas). na sua organização genõm ica, estrutura víral, antigenicidade
~ Evitar entrar em contato com outras pessoas susce- e sintomas cUnicos. O vírus apresenta como característica a
tiveis. sazonalidade. Nos países de clima temperado, como Estados
~ Evitar aglomerações e ambientes fechados (manter Unidos, Japão, Reino Unido e Argentina, os surtos ocorrem
os ambientes ventilados). principalmente durante os meses de inverno. Nas regiões
~ Observar repouso, alimentaçlo balanceada e onges- de clima tropical e subtropical, os surtos têm uma distribui-
tlo de líquidos.
ção diferente ao longo do ano. Na Austrália e no Brasil, em
particular no sudeste, foram relatados surtos de hRSV com
inicio no outono, estendendo-se até o inverno, com picos de
incidência no mês de maio.
Pneumonias, bronquites e bronquiolites O hMPV foi isolado pela primeira vez em 2001 na Ho-
landa, a partir de um caso de pneumonia. O vírus apresenta
causadas por pneumovírus como característica o acometimento pulmonar, com padrão
semelhante àquele causado pelo hRSV, estando associado
Parainfluenzavirus sobretudo aos casos de bronquiolite e pneumonia. Estudos
Dentre os agentes causais de quadros que envolvem tan- sorológicos realizados na época do primeiro isolamento
to o trato respiratório superior quanto o inferior, estão os do vírus revelaram que a maioria das crianças na Holanda
parainfluenzavírus humanos (hPIV), membros da famflia com aproximadamente cinco anos havia sido infectada pelo
Paramyxoviridae, subfamília Paramyxovirinae, cujos vírions hMPV. Estudos posteriores relataram que o início da circu-
envelopados contêm um genoma composto de RNA de fita lação do vírus na população humana é datado de cerca de 50
simples de polaridade negativa (ssRNA-). Os soro tipos que anos atrás, sugerindo que o vírus não transpôs recentemente
mais causam infecções em seres humanos são hPIV-1, -2 e seu reservatório natural, de modo que ainda existem dúvidas
-3. As infecções são mais frequentes nos meses de inverno, sobre a origem desse novo agente.l
com exceção do hPIV-3, cujo pico é comumente relatado na A transmissão do hRSV ocorre pelo contato direto com
primavera. secreções de pessoas infectadas ou objetos contaminados. O
As manifestações clínicas vão desde quadros semelhan- hRSV está associado a bronquiolite e pneumonia durante os
tes aos descritos para o resfriado comum até pneumonias e primeiros anos de vida. Bronquiolite e pneumonia ocorrem
bronquiolites, sendo a infecção do trato respiratório inferior mais frequentemente entre seis semanas e nove meses de
mais comum em crianças. A participação do hPIV no qua- vida, com pico de incidência de infecções do trato respirató-
dro geral das enfermidades infecciosas do trato respiratório rio inferior entre 2 e 7 meses, correspondendo à diminuição
varia de 5 a 25%, dependendo do local de estudo, sendo a dos títulos de anticorpos matemos. Após infecção natural
segunda causa da infecções do trato respiratório inferior em pelo hRSV, a proteção contra reinfeoções tem curta duração,
crianças, atrás apenas do vírus respiratório sincicial humano. e as reinfecções costumam ser observadas em crianças me-
Em crianças. o primeiro sinal característico é a febre, mui- nores de dois anos. Reinfecções em adultos também ocor-
tas vezes seguida de coriza de aspecto seroso a seromucoso, rem, porém com sinais clínicos brandos, sugerindo que a
crupe, tosse e congestão nasal. Naqueles casos que evoluem gravídade da doença diminui após reinfecções consecutivas.
para pneumonia, podem ocorrer espirros, taq uipneia, taqui- Embora somente 1% das crianças infectadas precisem de
cardia, sibilãncia e retração supraesternal. Em crianças mais hospitalização, apenas nos Estados Unidos estima-se que 50
velhas e adultos, as manifestações clínicas normalmente são a 90% das hospitalizações sejam atribuídas a casos de bron-
mais brandas e restritas ao trato respiratório superior. quiolite, e 20 a 50%, a casos de pneumonia. A presença do
bMPV tem sido descrita mundialmente com incidência do
vírus em 1,5% a 41% dos casos estudados.
Pneumovirus O hRSV replica-se nas células do trato respiratório,
O vírus respiratório sincicial humano (hRSV) e o metapneu- onde causa um processo inflamatório, que inclui destruição
movírus humano (hMPV) são os principais agentes causado- do epitélio, edema e aumento de produção de muco. Após
res identificados nas infecções respiratórias agudas (IRAs) um período de incubação médio de 3 a 5 dias, o quadro clí-
em bebês. As IRAs representam importante causa de mor- nico inicia-se com sintomas das vias aéreas superiores, e pro-
bidade e mortalidade em crianças no mundo todo. Os hRSV gride com o acometimento das vías aéreas inferiores, sendo
e os hMPV, membros da ordem Mononegavirales, famflia a bronquiolite a manifestação mais encontrada. Quadros
Paramyxoviridae, subfamflia Pneumoviriruu, são vírus enve- clínicos mais graves- caracterizados por apoeia ou insufi-
ciência respiratória grave, predominantemente obstrutiva - 2. Center for Disease Control and Prevention (Internet). Atlanta:
ocorrem sobretudo em crianças prematuras menores de seis CDC; 2011 [atualizado em 27 maio 2011; capturado em 31 maio
meses de idade, e nas portadoras de doenças prévias, como 2011 ]. Disponível em: http:/Jwww.cdc.gov/ flui.
cardiopatias congênitas, pneumopatias e imunodeficiências. 3. Falsey AR. Human metapncumovirus irúcetion in adults. Pcdiatr
Otite média também foi relatada em associação com infec- Infcet Dis J . 2008;27(10 Suppi):Silú-3.
ção pelo hRSV, em especial em pacientes adultos, mesmo na
ausência de sintomas respiratórios.
Os sintomas clínicos observados em crianças infectadas
com hMPV são similares aos observados na infecção pelo
Leituras recomendadas
Arden KE, Mackay IM. Newly identified human rhinoviru-
hRSV. Crianças infectadas pelo hMPV apresentam um au-
scs: molecular mcthods hcat up Lhe cold viruscs. Rcv Med Virol.
mento dos níveis de IL-8 nas secreções respiratórias. Alguns 20!0;20(3):!56-76.
estudos têm relatado a associação do hMPV com a poten-
cialização de crises de asma em crianças e adultos, exigindo lnfluenza (gripe). In: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de
Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológi-
internação hospitalar.
ca. Guia de vigilância epidemiológica. 7. cd. Brasília: Ministério da
Saúde; 2009. p. 1-24, caderno 1.
Bocavírus Call SA, Vollenweider MA, Hornung CA, Simcl DL, McKinney WP.
Uma virose emergente do trato respiratório inferior, espe- Does this paticnt havc influcnza? JAMA. 2005;293(8):987-97.
cialmente em crianças, é causada por um agente vira! descri- Easton AJ, Domachowske JB, Roscnberg HF. Animal pncumovi-
to em 2005, nomeado bocavírus humano (HBoV). O HBoV ruscs: molecular genetics and pathogenesis. Clin Microbiol Rcv.
- um membro da fanu1ia Parvoviridae, não envelopado, com 2004;17(2):390-412.
genoma composto de DNA de fita simples (ssDNA)- está
Goins WP, Talbot HK, Talbot TR. Hcalth carc-acquired vira! rcspi-
geneticamente relacionado com os parvovírus bovino e par-
ratory diseascs. lnfect Dis Clin North Am. 2011;25(1):227-44.
vovírus canino tipo 1, ambos com pouca virulência para seus
hospedeiros naturais (ainda que se encontre na literatura Harpcr SA, Bradley JS, Englund JA, File TM, Gravenstein S, Hay-
uma relação errônea com o parvovírus canino tipo 2, este dcn FG, et al. Scasonal influcnza in adults and childrcn - diagnosis,
sim bastante virulento). Embora derivado de congêneres treatment, chcmoprophylaxis, and institutional outbreak manage-
mcnt: clinicai practice guidclincs of the lnfectious Disease Society
pouco apatogênicos para seus hospedeiros naturais, o HBoV
of Amcrica. Clin lnfcct Dis. 2009;48(8):1003-32.
está associado a casos de infecções respiratórias agudas e en-
terites em crianças. Além da linhagem relatada inicialmente H ui DS, Chan PK. Scvere acute respiratory syndrome and coronavi-
em 2005, já em 2009 identificou-se um novo tipo de HBoV, rus. lnfect Dis Clin North Am. 2010;24(3):619-38.
nomeado HBoV-2, também relacionado com distúrbios res- Hustcdt JW, Vazqucz M. The changing face of pcdiatric rcspiratory
piratórios em crianças, demonstrando a rápida evolução e tract infcctions: how buman mctapncumovirus and human boca-
considerável diversidade genética dos HBoV. vírus fit into thc overall etiology of rcspiratory tract infcctions in
Infecções por HBoV foram relatadas em diversos paí- young childrcn. Yalc J Biol Mcd. 2010;83(4):193-200.
ses, incluindo o Brasil, em taxas que variam de 1 a 19% dos Kunisaki KM, Janoff EN. lnflucnza in immunosupprcsscd popula-
casos de doenças infecciosas do trato respiratório. Crianças tions: a revicw of infection frcquency, morbidity, mortality, and vac-
com idades entre seis meses e dois anos são as mais afeta- cine rcsponscs. Lancet lnfect Dis. 2009;9(8):493-504.
das, enquanto os recém-nascidos podem ser protegidos de
Kunz AN, Ottolini M. Thc role of adcnovirus in rcspiratory tract
manifestações clínicas evidentes pela presença de anticorpos
infections. Curr Infect Dis Rcp. 2010;12(2):81-7.
matemos. Ainda não há dados suficientes que atestem uma
clara distribuição sazonal das infecções por HBoV, diferindo Pcng D, Zhao D, Liu J, Wang X, Yang K, Xicheng H, et ai. Multi-
do relatado para outros agentes que infectam o trato res- pathogcn infcctions in hospitalizcd childrcn with acutc rcspiratory
infections. VirolJ. 2009;6:155.
piratório, embora estudos preliminares apontem uma ten-
dência para a concentração dos casos nos meses de outono Riccetto AG, Silva LH, Spilki FR, Morcillo AM, Aros CW, Baracat
e inverno. EC. Gcnotypcs and clinicai data of rcspiratory syncytial virus and
Os sinais clínicos de infecções do trato respiratório por mctapncumovirus in Brazilian infants: a ncw pcrspective. Braz J 1n·
HBoV incluem espirros, coriza, bronquiolite e pneumonia. fect Dis. 2009;13(1):35-9.
Assim como em outras viroses respiratórias, as coinfecçóes Thavagnanam S, Christic SN, Dohcrty GM, Coylc PV, Shiclds MD,
com outros vírus podem ocorrer de forma comum, chegando Hcancy LG. Respiratory vira! irúection in lowcr airways o f asympto·
a 50% dos casos estudados. matic childrcn. Acta Pacdiatr. 2010 Mar;99(3):394-8
Thompson WW, Shay DK, Wcintraub E, Brammer L, Bridges CB,
Cox NJ, ct al. lnflucnza-associatcd hospitalizations in thc Unitcd
Referências Statcs. JAMA. 2004;292(11):1333-40.
1. Burch J, Corbet M, Stock C, Nicholson K, Elliot AJ, Duffy S, et al. Ttegooing JS, Scbwarze J . Respiratory vira! infections in infants:
Prescription of anti-influcnza drugs for hcalthy adults: a systcmatic causes, clinicai symptoms, virology, and immunology. Clin Microbiol
rcvicw and mcta-analysis. Lancet Infcet Dis. 2009;9(9):537-45. Rev. 2010;23(1):74-98.
38
EIII Essas manifestações são acompanhadas de uma opacidade
pulmonar nova na radiografia do tórax, que se caracteriza pelo
Pneumonia adquirida na preenchimento dos espaços aéreos e adjacências, denomina-
da consolidação. Devido ao baixo valor preditivo dos sinais e
comunidade sintomas para o diagnóstico, a avaliação radiológica do tórax é
Ricardo de Amorim Corrêa necessária para confumação e avaliação de possfveis diagnósti-
Paulo José Zimermann Teixeira cos diferenciais. A doença ocorre fora do ambiente hospitalar,
embora, ocasionalmente, as manifestações possam aparecer
em até 48 horas após eventual hospitalização.
Definições
A pneumonia é um processo inflamatório agudo do parên- Epidemiologia
quirna pulmonar, na grande maioria das vezes resultante da
invasão dos espaços aéreos por agentes microbiológicos. A PAC tem incidência estimada entre 2 e 12 casos/1.000 ha-
bitantes por ano, sendo a sexta causa de óbito nos Estados
Unidos e a primeira por doença infecciosa, estimando-se 5,6
milhões de casos anuais e 1,1 milhões de internações. A inci-
~ ATENÇÃO dência varia com a faixa etária, sendo superior entre crianças
menores de cinco anos e pacientes idosos (FIGURA 38.1.1).
Do ponto de vista clinico, a pneumonia adquirida na A hospitalização pode ser necessária em 12 a 20% dos
comunidade (PAC) caracteriza-se pelo aparecimento pacientes, sendo que 5 a 10% apresentam doença grave com
de manifestações agudas do aparelho respiratório necessidade de tratamento em unidade de terapia intensiva
(tosse e ao menos mais um entre expectoração, dor (UTI). A taxa de mortalidade varia de acordo com a forma
torácica e dispneia), pela presença de sinais focais de apresentação e as caractcr!sticas do hospedeiro, sendo
ao exame ffsico do tórax na dependência da exten- de 0,1 a 5% nos pacientes ambulatoriais; nos hospitalizados,
são do comprometimento pulmonar (estertores cre- pode alcançar 12%, e dentre os portadores de PAC grave que
pitantes e macicez à percussão torácica) e por pelo necessitam de admissão em UTI, pode chegar de 30 a 50%.
menos um sinal de comprometimento sistêmico Segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS), cer-
(sudorese, calafrios, febre igual ou superior a 38"c, ca de 1.900.000 casos anuais são atendidos por esse sistema,
tremores ou mialgias). com cerca de 24.000 óbitos em pacientes com idade superior
a 15 anos (2006), correspondendo à quana causa de morte
4(),0 se identificam os agentes etiológicos, e 2 a 5% apresentam
flora polimicrobiana. Métodos de biologia molecular em es-
35,0
pécimes respiratórios e pesquisa do antígeno pneumocócico
30,0 na urina demonstraram que boa parte desses casos se deve
25,0 também ao S. pneumcniae. Em relação aos anaeróbios, a sua
~
incidência é incerta, uma vez que a investigação microbio-
20.0 lógica na maioria dos estudos utiliwu amostras de escarro,
15,0 que é inadequado para o isolamento deste grupo.
Na PAC grave, os agentes envolvidos são S. pneumoniae
10,0 em 20%, bastonetes gram-ncgativos em 10%, Legianella pneu-
5,0 mophila em 7%, H. influenzae em 6% e S. aureus em 5% dos
casos. M. pneUJTU)niae é causa esporádica de pneumonia grave.
o.o Em um levantamento de estudos etiológicos europeus,
<5 5. 14 15. 59 60. 74 > 75 Idade
a prevalência do S. pneumoniae foi de 35,3%, M. pneumo-
AGURA 38.1.1 -+ Incidência da PAC segundo a faixa et.lria. niae 9,0%, C. pneumoniae 6,3%, vírus 6,6% e H. injluenzae
11,8%. Em 47,7% dos casos, o agente não pôde ser isolado.
Em crianças, bactérias e vírus são responsáveis por 80%
das doenças respiratórias em geral. A etiologia bacteriana
entre os adultos. Os custos com o tratamento giram em tor· advém principalmente de estudos onde os agentes foram
no de 137 milhões de reais. A PAC é a causa mais frequente isolados por meio de aspirados em crianças admitidas no
de hospitalização entre as doenças respiratórias. O risco de hospital antes de receberem tratamento antimicrobiano. Os
morte aumenta também em função da idade. principais patósenos são S. pneumoniae, H. influenzae e S.
aureus. Porém, tal causa parece variar com idade e condição
básica de saúde da criança.
Causas Em crianças com menos de 3 meses, os principais pató·
genos são S. aW'I!us, enterobaetérias, Streptococcus do grupo
De maneira geral, qualquer microrganismo pode causar A e B, Chlamydia trachomatis, Mycop/asma hominis, Urea-
pneumonia, mas um número relativamente pequeno de plasma urealyticum, Pneumocystis jirovecü, vlrus respirató-
microrganismos responde pela maioria absoluta dos casos. rios e citomegalovírus. O S. pneumoniae e o H. influenzae
O Streprococcus pneUJTU)niae é o agente mais frequente em também podem ocorrer. Entre 3 e 24 meses de idade, pre-
todas as formas de apresentação e de gravidade, vindo a se- dominam S. pneumoniae, H. influenzae e vírus respiratórios.
guir Haemophilus influenzae, Mycoplasma pneumoniae, Chla- S. aureus, enterobactérias eM. pneumoniae também podem
mydophila pneumoniae, Legionella sp., variando de acordo causar pneumonia nesta faixa etária.
com as séries apresentadas. Nas crianças com mais de 2 anos, S. pneumoniae e H.
Outros agentes são as enterobactérias, Pseudomonas influenzae são os agentes mais importantes. M. pneumoniae
aeruginosa, Staphy/ococcus aureus, anaeróbios e vírus respi· também pode ser encontrado nessa faixa etária, aumentando
ratórios (influenza, adenovlrus, vlrus respiratório sincicial, sua importância após os 5 anos.
parainfluenza, coronavírus). PAC por Acinetobacter sp. tem Nos imunodeprimidos, além dos agentes frequentes para
sido descrita com índices de morbimortalidade piores dos sua faixa etária, aparecem os bacilos gram-negativos, P. jiro·
que os vistos nos casos adquiridos no ambiente hospitalar. vecii, Mycobacterium tuberculosis, L. pneUJTU)phi/a e fungos
As manifestações clinicas não guardam relação com o agen- (FIGURA 38.1. 2).
te etiológico, e sim com a natureza da resposta inflamatória
do hospedeiro. Há superposição das manifestações clínicas
causadas por germes como M. pneumoniae, Legionella sp., Agentes etiológicos mais frequentes
C. pneumoniae e vlrus respiratórios com aquelas associadas Streptococcus pneumoniae
aos demais agentes, conforme demonstrado em diversas pu· O S. pneumoniae é uma bactéria gram-positiva que causa
blicações. Estima-se que tais germes sejam responsáveis por uma alveolite resultante de inóculo aspirado. As manifesta·
eerea de 30% dos casos ambulatoriais e 15% dos int.c rnados. ções clinicas ocorrem de maneira súbita, acometendo indiví-
Raras vezes a confirmação da etiologia é obtida. Re- duos previamente hlgidos ou em concomitância com estados
centemente, dados etiológicos de pacientes ambulatoriais gripais prolongados. As manifestações iniciais mais frequen-
demonstraram a seguinte prevalência: S. pneumoniae em tes são tosse, a qual se toma mais tarde produtiva, com ex-
22%, M. pneumoniae em 18%, C. pneumoniae em 16%, ví- pectoração purulenta, dor torácica ventilatório-<lependente,
rus em 10%, H. influenzae em 4% eLegionel/a sp. em I% ou febre, cefaleia, mialgias, taquipneia e taquicardia. O escarro
menos dos casos. por vezes assume aspecto sanguinolento ou ferruginoso, si-
Em pacientes hospitalizados por PAC, as causas mais milar a "cor de tijolo". Herpes labial pode ocorrer concomi-
frequentes são S. pneUJTU)niae (17%), M. pneumoniae (6%), tantemente nessa enfermidade.
C. pneumoniae (6%), Legionel/a sp. (4%), vírus respirató- A imagem radiológica é apresentada com uma opacifi-
rios (7% ), bastonetes gram-negativos (2% ), S. aurtUS (1%) eação confluente e homogênea de padrão alveolar, compro·
e P. aeruginosa (menos de 1%). Em 40 a 60% dos casos não metendo pane ou a totalidade de um ou mais lobos. O bron-
30
1,.8
25
li ~ 20
20
o Atípicos
Cl M . pneumoniae
15
IJ C. pneumoniae
10 I-- o l.pneumophila
!::: r<=i
í
f-
o
EUNCanadá
f Europa
~
Amlatina Ásia{África
FIGURA 38.1.2 ? Patógenos atípicos e pneumonia ad-
quirida na comunidade.
Fonte: Adaptada de Arnold e colaboradores.'
cograma aéreo, que por vezes pode não ser identificado à empiema. Pode iniciar de maneira repentina, com calafrios,
radiografia, torna-se mais evidente à tomografia computadori- febre, dor pleural, tosse produtiva, podendo apresentar es-
zada de tórax. O derrame pleural, comumente ipsilateral, cos- carro purulento ou sanguinolento e até mesmo grande com-
tuma ser de pequeno volume, regredindo rápido. Na suspeita prometimento do estado geral, com taquipneia, taquicardia,
clfnica de empiema, com um exame de imagem confirmando cianose e choque séptico. Deve-se investigar cuidadosamen-
derrame pleural, a toracocentese é obrigatória e urgente. te a pele à procura da porta de entrada (p. ex., lesões cutâne-
A resistência do S. pneumoniae à penicilina e a outros anti- as), uma vez que em adultos a via bemática é a mais comum.
bióticos tem alertado a comunidade cienúfica e médica quanto O aspecto radiológico pode assumir inicialmente uma
ao uso abusivo de antibióticos, que parece ser um dos fatores aparência de infiltrados redondos, únicos ou múltiplos, es-
responsáveis. Entretanto, a definição de resistência, utilizada cavados ou não, distribuídos em ambos os hemitóraces, de
até recentemente, baseava-se em padrões de cepas isoladas padrão alveolar, pouco densos, com pequenas áreas de ate-
em casos de meningite, o que explica a frequente dissociação lectasias intercaladas de parênquima normal. Em alguns ca-
clinica verificada entre tais testes e a boa resposta clínica, ob-
sos, simulam metástases. As lesões, com o tempo, resultam
servada ao tratamento com betalactâmicos e outros agentes. em formações cavitárias, de paredes finas, contornos regu-
Os pontos de corte da concentração inibitória mínima
lares e conteúdo líquido, conhecidas como pneumatoceles.
(CIM) foram redefinidos em 2008 para amostras do tra-
O comprometimento pleural é mais frequente nessa fase,
to respiratório e são atualmente considerados sensível (2
ocasionando um derrame inicialmente serofibrinoso e que
mg!L), intermediário ( 4 mg!L) e resistente (8 mg!L). Embo-
evolui, mais tarde, para empiema. Abscesso pulmonar pode
ra a preocupação persista e os cuidados devam ser mantidos
ser visualizado ao exame de imagem.
no sentido de prevenir a emergência de cepas resistentes, e
de acordo com essa nova definição e os dados microbioló- Um aspecto importante a ser observado é a emergência
gicos disponíveis, no Brasil, as cepas de S. pneumoniae são de cepas de S. aureus adquiridas na comunidade e resistentes
consideradas uniformemente sensíveis à penicilina. à oxacilina, que se apresentam na forma de infeoção cutânea
e lesões disseminadas. Esta bactéria tem sido identificada
como portadora do gene produtor de toxina chamada leuco-
StaphyiCKoccus aureus cidina Panton-Valentine.
O S. aureus é uma bactéria gram-positiva, coagulase-positiva,
esférica (aos pares, em tétrades, conglomerados ou em cacho
de uva) que acomete preferencialmente indivíduos com defe- Haemophilus influenzae
sas locais ou sistêmicas comprometidas, os quais muitas vezes Na pneumonia por H. influenzae (cocobacilo gram-negati-
exigem tratamento hospitalar. A patogenia pode ocorrer por vo), a infecção ocorre via inalatória por meio de gotículas
duas vias: na primeira, o germe coloniza a nasofaringe de seu aerossolizadas. As manifestações podem ser súbitas ou pre-
portador, de onde é aspirado para o pulmão, alcançando os cedidas por infecção do trato respiratório superior. O qua-
alvéolos (via brônquiea, endógeno-aspirativa). Na segunda, a dro clínico pode ser semelhante ao que ocorre na pneumo-
via hematogênica, que parece ser a preferencial, surge a par- nia pneumoeócica. Nos pacientes portadores de enfisema e/
tir de focos cutâneos ou de outros tecidos à distância. ou com bronquite crônica, esse bacilo é o primeiro agente a
A apresentação mais característica é de um paciente ser pensado no diagnóstico de pneumonia.
com sintomas de "gripe-resfriado" cujo quadro subitamente No exame de imagem, predomina o comprometimento
se agrava (mal-estar geral, calafrios, febre alta, dor pleuríti- dos lobos inferiores, com aspecto de infiltrado intersticial
ca e tosse produtiva). O envolvimento pleural é frequente, ou, evolutivamente, de consoüdação. Derrame pleural esté-
precoce e muitas vezes grave, sendo possível a ocorrência de ril ou empiema ocorre em até 25% dos casos.
Moraxe/la ciffarrllalis tosse, odinofagia, calafrios e febre. Ao exame físico, pode-
M. catarrhalis é um diplococo gram-negativo, e a infecção se -se encontrar taquipneia, sinais de faringite, eritema timpâ-
dá por via aspirativa-endógena, favorecida pela capacidade nico (em um terço dos casos), miringite bolhosa (mais rara),
do germe de aderir às mucosas. Nos adultos, principalmente erupções cutâneas, estertores e sibilãncia.
idosos com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), O exame radiológico pode ser normal nas primeiras 24
podem ocorrer surtos agudos de bronquites purulentas, a 48 horas. Não há um padrão patognomônico, mas predo-
broncopneumonias e infecções tanto de vias aéreas supe- mina infiltrado intersticiallocalizado preferencialmente em
riores como inferiores. Clinicamente se apresenta com tosse bases pulmonares, com acometimento segmentar ou subseg-
produtiva, bem como sinais e sintomas de broncospasmo. mentar, raras vezes ocupando todo o lobo. O infiltrado é tê·
As alterações radiológicas são muito discretas ou não nue e homogêneo e tem limites imprecisos, podendo evoluir
identificáveis. Podem ocorrer infiltrados disseminados sem de forma a tomar-se mais denso na sua parte central, sendo
consolidação. Formas lobares tendem a evoluir para necrose. acompanhado ou não de atelcctasia.
1«3ol!l·llttl
Alcoolismo 5. pneumoniae, anaeróbios, bacilos gram-negativos, M. tuberculosis
Ao exame físico, os sinais mais comuns de pneumonia presentes em consolidações maiores. Sinais de consolidação
são taquipneia e taqu icardia. A temperatura corporal está lobar são comumente encontrados na pneumonia bacteria-
comumente elevada. O uso de musculatura acessória, ciano- na. Sinais de derrame pleural devem ser procurados.
se, confusão, taquipneia e hipotensão indicam disfunção res- A presença de confusão mental constitui fator preditor
piratória grave. Bradicardia relativa (p. ex., temperatura axi- independente de mau prognóstico, devendo ser avaliada de
lar de 38,3°C e frequência cardíaca menor do que 110 bpm) forma objetiva. O Escore de Teste Mental Abreviado é o
em paciente não usuário de fármacos inotrópicos negativos instrumento mais utilizado e envolve 10 perguntas simples,
é um achado que pode sugerir infecção por Legionella sp. pontuando cada resposta correta com um ponto. Um escore
(FIGURA 38.1.3). de oito pontos ou menos define a sua presença.
Na ausculta pulmonar, podem estar presentes crepi- Em pacientes idosos, as manifestações de pneumonia
tações protoinspiratórias e roncos. Sinais de consolidação podem ser pouco específicas. Manifestações respiratórias
como macicez à percussão, aumento do frêmito toracovocal e febre podem estar ausentes, e um estado mental alterado
e diminuição ou abolição dos sons respiratórios podem estar pode ser a única modificação. Em um estudo que avaliou 503
1111
Sem manifestações
extrapulmonares
._L Com manifest.:lÇõeS
extra pulmonares
l -1' '1-
S. pneumoniae Sem contato Com contato
H. influenue zoon6tico zoon6tico
M . catarrl!a/is
Estreptococos do
grupo A -e:
8rbdiQrdia
~
eradicardia
l
K. pneumoniae Psitac:ose
relativa + relativa·
Pneumonia aspirativa N!breQ
l l Tularemia
FIGURA 38.1.3 ~ Fluxograma para abordagem clinica de pa-
Legionela Micoplasma c.ientes com pneumonia adquirida na comunidade.
Clamídia Fonte: Adaptada de Cunha.'
pacientes idosos com PAC, a tríade de tosse, expectoração Exames laboratoriais
purulenta e dor torácica pleurítica esteve presente em ape- Na avaliação inicial dos pacientes, a saturação periférica de
nas 30% dos casos. oxigênio (SpOJ deve ser verificada rotineiramente, antes do
uso de oxigênio suplementar e logo no início da avaliação.
Uma gasometria arterial deve ser realizada na presença de
Abordagem diagnóstica Sp02 S 90% em ar ambiente e em casos de pneumonia con-
siderada grave. A presença de hipoxemia indica o uso de oxi-
Diagnóstico clínico gênio suplementar e admissão hospitalar.
Os achados clínicos de PAC são inespecfficos. A probabili- O exame mais frequentemente solicitado é o hemogra-
dade de pneumonia aumenta na presença de temperatura ~ ma. Pode haver leucocitose com desvio à esquerda, mas este
37,8'C, frequência respiratória> 25 mpm, expectoração pu- é um achado de baixa especificidade e sensibilidade diag-
rulenta, frequência cardíaca superior a 100 bpm, crepitações, nóstica para PAC. Leucopenia em geral se correlaciona com
diminuição dos sons respiratórios, mialgias e sudorese notur- pior prognóstico, independentemente do agente etiológico.
na. No entanto, a descoberta de um ou mais desses achados é A dosagem de proteína C-reativa (PCR) tem baixa sen-
insuficiente para se estabelecer definitivamente o diagnóstico. sibilidade e especificidade para predição da etiologia bac-
Estudos têm demonstrado que somente 40% dos pacien- teriana. O nivel de proteína C-reativa inicial não apresenta
tes com sintomas respiratórios e sinais físicos de acometi- boa associação com a gravidade da doença, mas 95% dos
mento do trato respiratório inferior apresentam evidência pacientes hospitalizados têm níveis superiores a 50 mg!L.
radiológica de pneumonia. Sendo assim, o diagnóstico clí- Entretanto, a PCR pode ser útil no acompanhamento dares-
nico de PAC é impreciso, sendo obrigatória a realização da posta terapêutica, sobretudo naqueles cuja hospitalização é
radiografia de tórax. necessária. Falha ao tratamento ou complicações devem ser
consideradas se o nível de PCR não se reduz por pelo menos
50% no quarto dia de terapia.
Exames de imagem Dosagens de glicemia, eletrólitos e transaminases
Uma radiografia de tórax, nas incidências posteroanterior e não têm valor diagnóstico, mas auxiliam na decisão da
de perfil, deve ser realizada em todo paciente com suspeita hospitalização, devido à identificação de comorbidades
de pneumonia. As informações podem orientar o diagnós- descompensadas. Cabe ressaltar que a elevação da ureia,
tico, sugerir diagnósticos diferenciais com condições que independentemente do contexto do paciente, é o único
mimetizam pneumonia, identificar condições coexistentes, achado laboratorial isolado com valor prognóstico adverso
como obstrução brônquica, e complicações como derrame naPAC.
pleural e empiema, dentre outras, além de avaliar a extensão
do acometimento. A avaliação radiológica auxilia também
no seguimento do caso quanto à evolução e à resposta ao
tratamento.
~ ATENÇÃO
O acometimento multilobar com infiltrado de surgimen-
Recomenda-se que pacientes com idade entre 15
to repentino ou a presença de cavitações são indicadores de
e 55 anos portadores de PAC confirmada realizem,
maior morbidade e mortalidade. O achado de consolidação,
com consentimento pós-orientação, sorologia para o
de forma isolada, não é específico de pneumonia e, portanto,
vírus da imunodeficiência humana (H IV}, sobretudo
não conflffila o diagnóstico de pneumonia infecciosa, uma
se a gravidade do quadro exigir hospitalização.
vez que traduz, simplesmente, a presença de conteúdo pato-
lógico ocupando o espaço aéreo distai.
Eventualmente, em casos suspeitos, a radiografia de tó-
rax é normal ou não sugestiva. Isso pode decorrer de desi- Identificação do patógeno (microbiologia e sorologias)
dratação grave, neutropenia profunda, estágio precoce da A identificação do agente etiológico, mesmo quando extensa
pneumonia ou pneumocistose (10 a 20% das radiografias e invasiva, é de no máximo 60%. Além disso, os resultados
são normais) ou da presença de lesões estruturais paren- não estão disponíveis no momento da decisão da terapêutica
quimatosas prévias, como enfisema pulmonar. Embora a inicial. Em nível ambulatorial, não é necessária a investiga-
tomografia computadorizada (TC) de tórax helicoidal com ção do agente etiológico da PAC.
cortes de alta resolução possua maior sensibilidade para a A coloração de Gram e a cultura do escarro são reco-
detecção de infiltrados pulmonares em alguns pacientes com mendadas em pacientes que necessitam internação por PAC,
radiografia de tórax não sugestiva, como ocorre em pacien- principalmente quando houver suspeita de patógeno resis-
tes neutropênicos, ressalta-se que na maioria dos casos não tente ao tratamento ou um organismo não coberto pela te-
é necessária a sua realização, excetuando-se aqueles em que rapia empírica.
a apresentação clínica é duvidosa ou um diagnóstico diferen- Hemoculturas devem ser reservadas para os indivíduos
cial se toma imperioso. com necessidade de internação hospitalar, portadores de
No caso de pacientes de baixo risco de complicações ou PAC grave e no caso de pacientes internados não responde-
óbito, tratados ambulatorialmente, a radiografia de tórax é o dores à terapêutica instituída, pois normalmente têm baixo
único exame subsidiário necessário. rendimento.
A investigação sorológica não é útil para o tratamento monite aspirativa (pneumonia lipoídica), proteinose alveo-
dos pacientes individualmente. Sua indicação se restringe a lar, aspiração de suco gástrico, pneumonia em organização
levantamentos epidemiológicos de uma determinada região criptogênica, pneumoconioses, pneumonite lúpica e doenças
ou no caso de surtos epidêmicos. A pesquisa do agente etio- intersticiais.
lógico está indicada nos casos de PAC grave, ou para pacien- Em função disso, os pacientes tratados em nível ambu-
tes internados nos quais ocorreu falha do tratamento inicial. latorial devem ser reavaliados pelo menos no terceiro dia de
Nesses casos, recomenda-se investigação microbiológica tratamento e até a resolução completa do quadro. No caso
por bemocultura, cultura de escarro ou aspirado traqueal e de falência terapêutica (ou resposta insatisfatória), deve-se
amostras obtidas por broncoscopia nos pacientes em venti- iniciar a investigação para situações que mimetizam pneu-
lação mecânica. A pesquisa de antígeno urinário de S. pneu- monia, complicações da PAC ou germes resistentes a terapia.
moniae deve ser realizada em pacientes com PAC grave, e
para L. pneu17U)phila especificamente em todos os pacientes
não responsivos ao tratamento prévio.
A sensibilidade gira em torno de 50 a 60%, e a especifici-
Avaliação da gravidade
dade é superior a 95%. Contudo, a positividade pode perma- Partindo-se do princípio de que se está diante de um caso
necer por muitos meses após a infecção aguda. A detecção cujos achados correspondem a uma suspeita clínica de PAC,
do antígeno urinário do pneumococo por imunocromatogra- uma das decisões mais importantes a serem tomadas, a se-
fia de membrana é rápida (em tomo de 15 minutos) e tem guir, se não a principal, é o local onde será feito o tratamen-
sensibilidade de 86% e especificidade de 94%. Entretanto, to. 'Iàl decisão levará a condutas diagnósticas e terapêuticas
faltam evidências acerca do impacto da realização das soro- que trarão reflexos no resultado final do tratamento bem
logias e dos antígenos urinários no manejo do paciente em como nos custos dele. Essa etapa constitui passo inicial dos
relação à escolha do esquema antimicrobiano, tendo portan- diversos algoritmos atualmente disponíveis.
to valor assistencial duvidoso. Neste momento, torna-se necessário avaliar de forma
Devido à alta prevalência de tuberculose em nosso meio, objetiva a gravidade inicial do caso. Dentre os sistemas de
deve•se realizar pesquisa de bacilos álcool-ácido resistentes avaliação atualmente disponíveis, o escore denominado
(BAAR) no escarro em casos suspeitos. Pneumonia Severity Index (PSI) foi derivado e validado em
Por fim, nos casos de PAC grave, que obviamente serão mais de 50.000 pacientes e utilizado em outras dezenas de
hospitalizados, a investigação microbiológica deve ser ex- publicações como sistema de referência de gravidade. O PSI
tensa (exame de escarro, hemoculturas, antígenos urinários abrange 20 variáveis incluindo dados demográficos (sexo,
para pneumococo e legionela, lavado broncoalveolar, etc.). idade e local de residência), comorbidades, alterações labo-
ratoriais, radiológicas e do exame físico (QUADRO 38.1.2).
Outros métodos diagnósticos A pontuação das variáveis presentes em cada caso per-
Métodos diagnósticos invasivos, como a broncoscopia, es- mite a estratificação da gravidade em cinco classes, baseadas
tão indicados em situações específicas (p. ex., suspeita de no risoo de morte. O objetivo maior desse escore foi identi-
obstrução brônquica subjacente ou outra doença associada, ficar pacientes de baixo risco, os quais poderiam ser tratados
suspeita de germes oportunistas, e em pacientes graves que ambulatorialmente. As classes I a Ill foram consideradas de
necessitem de internação em UTI). baixo risco, e as classes IV e V, de alto risco (TABELA 38.1.1).
Derrame pleural significativo (acima de 50 mrn de espes- As maiores limitações de tal escore são a sua pouca pra-
samento na radiografia em perfil ou loculado) deve ser pun- ticidade para avaliação de casos em consultórios e clinicas
cionado, preferencialmente antes do início do tratamento, comunitárias, devido à necessidade de dados laboratoriais e
com o objetivo de se descartar empiema ou derrame pleural radiológicos imediatos, e o impacto exagerado da variável
complicado. Pacientes com PAC e derrame pleural, em geral, idade, responsável pela avaliação subestimada do risco da
devem ser hospitalizados para monitoramento da evolução. pneumonia grave em pacientes jovens portadores da doença
e com poucas alterações clínicas iniciais, além do fato de não
medir a gravidade específica da PAC. Assim, embora amplo
ao refletir bem as comorbidades e anormalidades laborato-
Diagnóstico diferencial riais, o PSI foi considerado pouco prático e, adicionalmente,
O diagnóstico diferencial de PAC é amplo e inclui infecções subestima o risco em pacientes mais jovens.
do trato respiratório superior, traqueobronquite aguda, Outro modelo de estratificação de risco, sugerido pela
tromboembolia com infarto pulmonar, carcinoma brôn- Sociedade Britânica do Tórax/ identificou quatro variáveis
quico, carcinoma bronquioloalveolar, linfoma, atelectasia, relacionadas com as alterações agudas da PAC que formam
bronq uiectasias infectadas, aspiração de corpo estranho, a base do sistema CURB (C =confusão mental nova- Mini-
edema pulmonar cardiogênico, micoses pulmonares, fratu- mental Thste < 8; U = ureia 50 mg!dL; R (de respiratory rate]
ra de costela, contusão pulmonar, infecção subdiafragmáti- <'! 30/min; B [de blood pres.sure) = pressão arterial sistólica <
ca, hemorragia alveolar, vasculites pulmonares, pneumonia 90 mmHg ou diastólica ~ 60 mmHg). Esse sistema apresenta
eosinofílica, pneumonite por hipersensibilidade, doença valor preditivo negativo em tomo de 97% para o diagnóstico
pulmonar induzida por fármacos (com destaque para meto- de pneumonia grave, porém valor preditivo positivo inferior
trexato, arniodarona, nitrofurantoina e sais de ouro), pneu- (16 a 39%).
QUADRO 38.1.2 ~ Escore de pontos de acordo com a presença de fatores demográficos, clínicos e laboratoriais
l\3if·l•aJ!f.!:!·l;l IW;II·IIJJ;II·l!·l~
IDADE - pH < 7,35 +30
Homens um ponto/ano de idade - Ureia > 50 mg/dl +20
Mulheres idade-1 - Sódio < 130 mEq/l +20
Procedentes de asilos +10 - Glicose > 250 mgldl +10
- Hematócrito < 30% +10
- PO, < 60 mmHg +10
- Derrame pleural +10
COMORBIDAOES EXAME ÁSICO
- Neoplasia +30 - Alteração do estado mental +20
- Doença hepática +20 - Frequência respiratória > 30/min +20
- Insuficiência cardíaca congestiva +10 - Pressão arterial sistólica < 90 mmHg +20
- Doença cerebrovascular +10 - Temperatura < 35' ou >40'C +15
- Doença renal +10
- Pulso~ 125/min +10
Fonte: Fine e colaboradores.'
TABELA 38.1.1 -+ Estratificação dos pacientes com PAC por classes plicidade e facilidade de uso, reprodutibilidade e validação em
de risco comparação com esoores mais oomplexos. A avaliação deve
ser completada com fatores sociais, demográficos, presença
Prevenção por vacinas A maioria dos indivíduos requer uma única aplicação da
vacina. A revacinação é recomendada, decorridos pelo me-
Imunização anti-influenza nos cinoo anos, para os imunocomprometidos e para aqueles
I ndivfduos com mais de 50 anos, aqueles em maior risco de que receberam a primeira dose antes dos 65 anos. Efeitos
complicações associadas à gripe, pessoas em contato domici- adversos incluem reações loca.is (edema, dor e hiperemia),
liar com outras de alto risco, além de profissionais da saúde, sendo raras e autolirnitadas as manifestações sistêrnicas
devem receber vacina anti-influenza de vírus morto. (reação febril, mialgia e artralgia).
São suscetíveis às complicações da gripe pacientes por-
tadores de doenças crônicas: cardiopatas e pneumopatas
(inclusive asmáticos); portadores de doenças metabólicas,
inclusive diabetes melito, disfunção renal, hemoglobinopa- • CASO CLÍNICO I
tias ou imunossupressão induzida por fármacos e pelo HIV;
Feminina, 16 anos, há duas semanas com febre de 39°C,
gestantes; c residentes de asilos.
calafrios e prostração. Relatava episódio prévio de gripe.
A vacina anti-influenza tem como contraindicação a hi-
Tosse inicia lmente seca e agora produtiva e purulenta.
pcrsensibilidade à proteína do ovo. No caso de doença febril
Gram do escarro sem bactérias. Hemograma sem leuco-
aguda, a vacinação deve ser feita após a resolução dessa ma-
nifestação. citose e DE. Usou amoxicilina sem melhora clfnica. Raio
X eTC de tórax com consolidação e broncograma aéreo.
Lavado broncoalveolar mostrou BAAR positivo. Este caso
Imunização antipneumocócica ilustra o cuidado com o uso de fluoroquinolonas no Bra-
A taxa de mortalidade por infecção bacteriêmica pneumo- sil. Se possibilidade de tuberculose, evitar o uso (AGURAS
cócica é alta, especialmente entre indivíduos com mais de 38.1.7 A e B).
FIGURA 38.1.7 -+ Caso 1.
I •
..~ fl/t, :
,,
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apartamento), não se relacionando com entubação endotra-
23. Lee KS. Pulmonary tuberculosis. In: Müller NL, Silva CIS, edi-
tors. lmaging of the chest. Philadelphia: Saunders; 2008. p. 322-41, q ueal e ventilação mecânica, podendo, entretanto, ser encami-
cap. 13, v. 1. nhada para tratamento em UTI, quando se apresenta ou evolui
de forma grave. Dentro desse conceito, deve ser considerado o
24. Leung AN. Pulmonary rubereulosis: the essentials. Radiology. tempo de incubação médio característico de cada germe.
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Pneumonia tuberculosa. In: Picon PD, Rizzon CF, Ott WP, edi- corrido desde a admissão até o seu aparecimento. A PAH
tores. Thberculose: epidemiologia, diagnóstico e tratamento em precoce é a que ocorre até o quarto dia de internação, sendo
cHniea e saúde pública. Rio de Janeiro: Medsi; 1993. p. 291-306, considerada tardia a que se inicia após cinco dias da hospi-
cap. 11. talização.
26. Costa PG, Menseh MR, Oliveira MJ de, Menezes JL, Gutierrez
RS, Mattos WLL de. Pneumonia tuberculosa: estudo de 17 casos e Pneumonia associada à ventilação mecânica
revisão de literatura. Rev AMRIGS. 1994;38(4):299-303.
A pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM) é
aquela que surge 48 a 72 horas após entubação endotraqueal
e instituição da ventilação mecânica invasiva. De modo simi·
lar, a PAVM também é classificada em precoce e tardia. A
Em PAVM precoce é a que ocorre até o quarto dia de entubação e
início da ventilação mecânica, sendo a PAVM tardia a que se
Pneumonia Adquirida no Hospital inicia após o quinto dia da entubação e ventilação mecânica.
Apesar da validade dessa classificação para muitos cen-
PauloJosé Zimermann Teixeira tros hospitalares e UTis, a ocorrência de PAH causada por
Ricardo de Amorim Corrêa germes resistentes, comumente associados à de início tardio,
tem sido relatada com relativa frequência em pacientes por-
tadores de PAH de início precoce. Esse fato reforça a neces-
Introdução sidade do conhecimento da microbiota local e do respectivo
perfll de sensibilidade, essencial para a adoção de protocolos
Define-se pneumonia adquirida no hospital (PAH) como institucionais mais adaptados à realidade de cada unidade,
aquela adquirida no ambiente hospitalar após 48 horas ou permitindo o uso racional dos recursos diagnósticos e tera-
mais da internação, sendo a segunda causa mais frequente pêuticos disponíveis.
de infecções hospitalares, correspondendo a aproximada-
mente 15% destas e afetando de 0,5 a 2% dos pacientes hos-
pitalizados. Pneumonia relacionada com cuidados de saúde
A PAH representa cerca de 10 a 15% de todas as infec- A pneumonia relacionada com cuidados de saúde (PRCS)
ções nosocomiais e é a de maior mortalidade. Sua incidência ocorre em pacientes com as seguintes características: resi-
é estimada em 5 a 10 casos por 1.000 admissões. Pacientes dentes em asilos ou tratados em sistema de internação do-
entubados na unidade de terapia intensiva (UTI) apresen- miciliar, pacientes que receberam antimicrobianos via intra-
tam risco 20 vezes superior ao dos não entubados, com au- venosa ou quimioterapia nos 30 dias precedentes da atual
infecção, pacientes em terapia renal substitutiva e aqueles
mento entre 1 e 3% para cada dia adicional de ventilação
que foram hospitalizados em caráter de urgência por dois ou
mecânica. Em UTI, a incidência tem cifras variadas, entre
mais dias nos últimos 90 dias antes da infecção.
25 e 70%, dependendo da população estudada, do tipo de
UTI e dos critérios diagnósticos utilizados. As taxas de mor-
talidade podem chegar até a 70%, mas quando se considera Traqueobronquite hospitalar
a mortalidade diretamente relacionada com a pneumonia, as A traqueobronquite hospitalar (1H) caracteriza-se pela pre-
taxas variam entre 30 e 50%. sença dos sinais de pneumonia sem a identificação de opa-
Devido à gravidade da PAH e ao manejo terapêutico ne- cidade radiológica nova ou progressiva, descartadas outras
cessário, outro aspecto negativo da sua ocorrência é o gran- possibilidades diagnósticas que possam justificar tais sinto-
de aumento no custo do tratamento, seja pelas medidas de mas, sobretudo a febre. O isolamento de germes em cultu-
suporte necessárias, pelo uso de antibióticos de amplo es- ras, dissociado dos sinais, não permite o diagnóstico de TH,
pectro ou pelo aumento significativo no tempo de perma- não devendo servir de estímulo à introdução de antibióticos
nência no hospital. ou eventual modificação da terapêutica vigente.
tação do trato gastrintestinal e em pós-operatório de cirurgia
Causas abdominal.
Os agentes etiológicos mais frequentes são os bacilos gram- Os fatores que promovem a colonização da faringe por
·negativos, incluindo Pseudomonas, enterobactérias eAcine- bactérias gram-negativas -responsáveis pela alta incidência
tobacter, sendo implicados em 55 a 85 % dos casos. Os cocos das pneumonias hospitalares por essas bactérias - são os se-
gram-positivos, principalmente o Staphylococcus aureus, res- guintes: coma, hipotensão, acidose, uremia, alcoolismo, dia-
pondem por 20 a 30% dos casos, mas estão presentes em 40 betes melito, leucocitose, leucopenia, doença pulmonar, uso
a 60% das situações em que a infecção é polimicrobiana. de antibióticos e tubo nasogástrico e endotraqueal. A colo-
As pneumonias hospitalares de inicio recente, isto é, nização por bacilos gram-negativos começa com a aderência
aquelas que ocorrem até o quinto dia de internação, são dessas bactérias nas células epiteliais da orofaringe ou da mu-
muitas vezes causadas por patógenos comunitários, como cosa traqueobrônquica. A aderência pode ser afetada pelas
o Streptococcus pneumoniae, o Haemophilus e o S. aureus bactérias, pelas células do hospedeiro e pelo ambiente. A fi-
oxacilino-sensível (SAOxa-S). Isso sugere que a ocorrência bronectina pode inibir a aderência de bacilos gram-negativos,
de germes resistentes seja muito pequena. e certas condições como desnutrição, enfermidade grave e
Por outro lado, quando o diagnóstico de pneumonia é estado pós-operatório podem aumentar tal aderência.
estabelecido a partir do quinto dia de internação, os germes Por outro lado, o estômago é considerado um reser-
mais comuns passam a ser os hospitalares. Os bacilos gram- vatório de microrganismos que causam PAH, e seu papel
-negativos aeróbios (Pseudomonas, enterobactérias, Acine- pode variar na dependência da condição subjacente do pa-
tobacter) ou o S. aureus oxacilino-resistente (SAOxa-R) são ciente e de intervenções terapêuticas ou profiláticas. Pou-
responsáveis por 30 a 70% dos casos. É importante ressaltar cas bactérias podem sobreviver no estômago na presença
que em muitos locais já existem Pseudomonas eAcinetobac- de um pH menor do que 2. Já com um pH maior do que 4,
ter panresistentes como agentes etiológicos, o que faz com os microrganismos se multiplicam, atingindo altas concen-
que a polimixina B se torne parte dos esquemas empíricos trações bacterianas.
de tratamento. A inalação de aerossóis contaminados, usados para te-
O momento do diagnóstico da infecção e a presença de rapia respiratória ou anestesia, constitui uma porta de en-
fatores de risco específicos para determinados microrganis- trada de bactérias para as vias aéreas inferiores. Os fluidos
mos podem auxiliar na tomada da decisão terapêutica. Os usados para aerossol, quando contaminados, podem conter
fatores de risco capazes de indicar a maior probabilidade de altas concentrações de bactérias e são depositados nas pe-
um determinado agente são: quenas vias aéreas. Isso se torna mais grave nos pacientes
com traqueostomia ou tubo endotraqueal, pelo acesso direto
• Aspiração ou cirurgia abdominal recente: anaeróbios do aerossol para as vias aéreas inferiores.
• Coma, trauma cranioencefálico, episódio gripa! prévio,
uso de drogas intravenosas, diabetes melito, insuficiência
renal: S. aureus
• Corticoides em altas doses: Legione/la
Fatores de risco
• Internação prolongada em UTI, uso de corticoides,
doença pulmonar estrutural, uso prévio de antibióticos, ~ATENÇÃO
ventilação mecânica, desnutrição: P. aeruginosa
• Antibioticoterapia prévia, ventilação mecânica: Acineto- Os fatores de risco mais importantes para o desen-
bacter volvimento de PAH são a necessidade de ventilação
• Antibioticoterapia prévia, ventilação mecânica: S. aureus mecanica por perfodo superior a 48 horas, o uso pré-
oxacilino-resistente vio de antibioticoterapia de amplo espectro, o tem-
• Cateteres por período prolongado: S. coagulase negativo po de permanência no hospital ou na UTI, a gravida-
de da doença de base e a ocorrência da sfndrome da
distrição respiratória do adulto (SDRA).
Patogenia
As bactérias invadem o trato respiratório inferior mediante Pacientes em ventilação mecânica apresentam um ris-
aspiração de material da orofaringe, inalação de aerossóis co 6 a 21 vezes maior de adquirir pneumonia, com um risco
contendo bactérias e, menos frequentemente, disseminação cumulativo de 1 a 3% por dia de ventilação. A ventilação
hematogênica a partir de outro sítio do corpo. A transloca- mecânica prolongada é o principal fator de risco para o de-
ção bacteriana do trato gastrintestinal tem sido considerada senvolvimento de PAH, ocorrendo em 9 a 40% dos pacientes
um possível mecanismo de infecção. Dessas rotas, a aspira- que permanecem em ventilação por mais de 48 horas.
ção é a mais importante. A SDRA é complicada por PAH em 34 a 60% dos casos,
Pacientes com maior probabilidade de aspirar são os que ocorrendo mais frequentemente após o sétimo dia de ventila-
apresentam anormalidade de deglutição, a exemplo dos que ção mecânica. Um estudo envolvendo 243 pacientes demons-
têm depressão do nível de consciência, instrumentação das trou que a ocorrência de pneumonia era maior nos pacientes
vias aéreas inferiores e/ou ventilação mecânica, instrumen- com SDRA (55%) do que naqueles sem SDRA (28%). Deter-
minadas situações relacionadas com a condição do paciente dos, como febre ou hipotermia, leucocitose ou leucopenia,
predispõem à colonização e ao desenvolvimento de pneu- presença de secreção purulenta nas vias aéreas e piora ou
monia, como doenças agudas e crônicas, coma, desnutrição, surgimento de infiltrado pulmonar novo, podem ser decor-
hospitalizações e pré-operatórios prolongados, hipotensão, rentes de outras doenças, de causa não infecciosa. Pacientes
acidose metabólica, tabagismo, doenças do sistema nervoso com ínfecções extrapulmonares ou processos pulmonares
central, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), dia- não infecciosos podem receber tratamento inadequado de-
betes melito, alcoolismo, uremia, insuficiência respiratória e vido à alta sensibilidade e à baixa especificidade do diagnós-
idade avançada. A utilização de fârmacos como corticoides tico clínico.
e agentes citotóxicos debilita a imunidade, e os depressores Pugin e colaboradores~ criaram o Oinical Pulmonary In-
do sistema nervoso central aumentam o risco de aspiração. O fection Score- CPIS- em que os achados clínicos, o Grame
QUADRO 38.2.1 resume os principais fatores de risco para o as culturas do aspirado endotraqueal, presentes no momento
desenvolvimento de pneumonia. da suspeita diagnóstica, são pontuados, gerando um escore
total de, no máximo, 12 pontos (O a 12). O CPIS superior a 6
associou-se a uma alta probabilidade da presença de PAVM,
Diagnóstico com sensibilidade e especificidade de 93 e 100%, respecti-
vamente. Entretanto, em outros estudos, o CPIS alcançou
O diagnóstico da PAH quando o paciente não se encontra sensibilidade de 72 a 77% e especificidade de 42 a 85%, em
em ventilação mecânica é baseado na presença de uma sín- comparação com outros métodos, obtendo acurâcia seme-
drome infecciosa e da observação de uma inftltração na ra- lhante à dos critérios.
diografia de tórax. No entanto, o diagnóstico da PAVM é um Embora pouco frequentes, hemoculturas positivas são
desafio, visto que os critérios clínicos habitualmente utiliza- úteis no diagnóstico etiológico, assim como exames bacterio-
lógicos do líquido pleural, quando presente.
Em razão da dificuldade diagnóstica apenas com crité-
QUADRO 38.2.1 ~ Fatores de risco independentes para rios clínicos, o Centers for Disease Control and Prevention
pneumonia associada à ventilação mecânica (CDC)l norte-americano definiu como PAH aquela que
ocorre após 72 horas de hospitalização, com presença de
Fatores maiores (razão de chances > 3,0) estertores, macicez à percussão ou surgimento de infiltra-
- Trauma do pulmonar novo e um ou mais dos seguintes: a) escarro
- Queimadura purulento; b) agente infeccioso isolado no sangue, aspirado
- Doença neurológica* traqueal, biópsia pulmonar ou escovado brônquico; c) iso·
- Tempo de ventilação mec3nica (> 1Odias)'* lamento de vírus nas secreções respiratórias; d) títulos de
- Broncoaspiração presenciada'' anticorpos para determínados patógenos; e e) evidência his-
- Colonização do trato respiratório por bacilos gram·negativos tológica de pneumonia. Como com qualquer outra doença
- Ausência de antibioticoterapia" infecciosa, a identificação do agente causador da infecção é
- Uso de pressão positiva ao final da expiração - PEEP ~ 7,5 cmH,O) importante para a conduta terapêutica adequada. Em vista
Fatores menores (razão de chances 1,5 a 3,0) disso, várias técnicas de coleta de material têm sido propos-
tas, todas com vantagens e desvantagens.
- Doença cardiovascular*
- Doença respiratória A forma menos ínvasiva de coleta de material para exa-
- Doença gastrintestinal me microbiológico, quando o paciente não está entubado,
- Cirurgia torácica ou abdominal é pela coleta do escarro. A coleta adequada de material e
- Administração de bloqueadores neuromusculares'* o seu rápido processamento podem melhorar o rendimento
- Tabagismo (~20 maços-ano) diagnóstico, chegando o Gram do escarro a apresentar uma
- Hipoalbuminemia na admissão (albumina :S 2,2 g/dl) sensibilidade e especificidade ao redor de 85%. A cultura do
escarro, por outro lado, pode apresentar um grande número
Outros fatores (análise univariada, não confirmados na regressão de falso-positivos, principalmente quando há crescimento de
logística)
bactérias gram·negativas. No entanto, confrontando o acha-
- Idade (>60 anos)
do do Gram do escarro com a cultura e com as característi-
- Sexo masculino
- Paciente proveniente da emergência cas clínicas do paciente, é bem provável que o agente isolado
- Piora do Sepsis related Organ Failure Assessment (SOFA) seja o causador da pneumonia.
- Nutrição nasoenteral O aspirado endotraqueal pode ter rendimento compa-
- Nutrição enteral por qualquer via rável ao de outras técnicas, tanto não ínvasivas quanto inva-
- Síndrome da angústia respiratória aguda sivas, apresentando uma sensibilidade que varia entre 57 e
- Insuficiência renal 88%, mas uma especificidade muito baixa (O a 33%) quando
- Bacteriemia utilizadas culturas qualitativas. Um aspecto importante a ser
- Dreno de tórax considerado é que a cultura qualitativa negativa do aspirado
"Diagnóstico principal.
endotraqueal apresenta alto valor preditivo negativo para o
••va r~ei.s tempo-dependentes.
diagnóstico da PAVM.
Fonte: Adaptado de Diretrizes bra~leiras para tratamento das pneumonias adquiri· O uso de culturas quantitativas pode auxiliar na valoriza·
das no hospital e das associadas~ wntil~o mednica: 2007.' ção do exame, tendo sido geralmente utilizada como ponto
de corte a presença de 106 unidades formadoras de colônias Os pontos fundamentais do tratamento são a adequa-
bacterianas (UFC}/mL. ção terapêutica desde o início, o que depende do conheci-
A utilização do lavado broncoalveolar (LBA) por fibro- mento da microbiota local, e a sua instituição precoce. A
broncoscopia é considerada uma boa alternativa para o diag- estratégia de ampliação do espectro antibacteriano após
nóstico das pneumonias hospitalares, visto que uma grande a obtenção dos resultados das culturas - esealonamento -
quantidade de material pode ser coletada por esse método. concorre para o aumento da mortalidade, ao passo que a
A sensibilidade e a especificidade são altas, variando de 72 a estratégia de redução, desde que adaptada tão logo possível
100% e 69 a 100%, respectivamente. Um grande empecilho à aos resultados microbiológicos, não eleva a taxa de letali-
sua realização é a necessidade de uma equipe médica treinada dade nem aumenta a pressão seletiva sobre os agentes de
em endoscopia respiratória e o aumento do custo. maior resistência. Tal estratégia permitiria também o uso
O minilavado broncoalveolar protegido às cegas apresen- de fármacos de menor espectro e até a monoterapia em
ta um rendimento semelhante ao do LBA convencional e eli- casos selecionados, quando não estão presentes bactérias
mina a necessidade da fibrobroncoscopia, não tendo utiliza- multirresistentes.
ção rotineira devido ao elevado custo do cateter de aspiração. Como enfatizado, a escolha do antibiótico inicial deve
O escovado pulmonar protegido (EPP) tem a seu favor levar em conta a presença de fatores de risco para patógenos
uma melhora na especificidade (89%), porém uma perda na resistentes à terapêutica e seu perftl de sensibilidade, e inclui
sensibilidade (82%) decorrente do alto ponto de corte para não apenas o tempo de início da PAH (precoce ou tardia),
diagnóstico (lcY bactérias/roL) quando se utilizam culturas mas também a presença de comorbidades, o uso prévio de
quantitativas e da pequena quantidade de material recupe- antibióticos, dentre outros. A estratégia deve ser individuali-
rado. zada para cada paciente e instituição/unidades de internação
Uma metanálise sugere que os critérios clínicos represen- e de acordo com os dados microbiológicos locais. Esses da-
tam a melhor referência para a prática clínica diária. Esses dos apontam para a necessidade de um esquema antibiótico
mesmos autores dizem que estudos avaliando a acurácia de empírico que forneça cobertura adequada para os germes
testes diagnósticos não deveriam incluir os testes como parte mais provavelmente envolvidos, não nos permitindo aguar-
da definição do que é PAVM. Mais recentemente, uma revi- dar até que resultados de estudos microbiológicos estejam
são publicada na Cochrane demonstrou que a investigação disponíveis.
utilizando métodos invasivos ou não invasivos não influenciou Os esquemas terapêuticos sugeridos pela Sociedade Bra-
na mortalidade, no tempo de internação, nos dias de venti- sileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) são:s
lação mecânica nem na troca de antibióticos.' Esses mesmos
achados ocorreram quando o aspecto analisado era o proces- 1. Pacientes de baixo risco para presença de bactérias po-
samento das amostras por cultura qualitativa ou quantitativa. tencialmente resistentes:
Os biomarcadores têm sido utilizados para auxiliar no Germes prováveis: S. pneumoniae, H. influenzae, S.
diagnóstico e avaliar o prognóstico dos pacientes com pneu- aureus oxacilino-sensível, enterobactérias sensíveis: Es-
monia. A proteína C-reativa, a procalcitonina, a copeptina e cherichia co/i, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter sp.,
o pepúdeo atrial natriurético têm sido estudados, e a redu- Serraria marcescens
ção dos seus valores quando dosados no terceiro ou quarto Opçôes de tratamento, após considerar o padrão local
dia após o início do tratamento vem sendo associada a um de resistência:
melhor prognóstico. • Associação de betalactâmico-inibidor de betalacta-
mases não ativos contra Pseudomonas sp.
• Fluoroquinolonas
• Cefalosporinas de terceira geração não ativas contra
Tratamento Pseudomonas sp.
O tratamento inicial das PAH é escolhido empiricamente,
devendo-se considerar os seguintes fatores: padrão de sen- 2. Pacientes com fatores de risco para patógenos resistentes:
sibilidade da flora local, condiçôes subjacentes do paciente, Germes prováveis: P. aeruginosa , Acinetobacter sp.,
estado de imunidade, tipo de antirnicrobiano usado previa- Stenotrophomonas maltophilia, enterobactérias resisten-
mente e sua capacidade de estimular a produção de endoto- tes, S. aureus oxacilino-resistente
xinas e selecionar cepas resistentes. Geralmente se emprega terapia combinada:
• Betalactâmicos-inibidores de betalactamases ativos
contra Pseudomonas sp.
~ ATENÇÃO • Cefalosporinas de quarta geração
• Carbapenêmicos
• Quinolona com ação antipseudomonas
A terapia precoce e adequada da pneumonia hospi-
talar está diretamente relacionada com a sobrevida • Aminoglicosídeos
do paciente; já se demonstrou que a sobrevida foi, • Monobactâmicos
• Fármacos antiestafilocócicos: glicopeptideos (vanco-
no mfnimo, duas vezes maior naqueles pacientes que
receberam antibioticoterapia adequada . micina), oxazolidinonas (linezolida) ou estreptogra-
minas (quinupristin/dalfopristin)
Sugere-se incluir um agente antipseudomonas, podendo- • Devidas à presença de infecções extrapulmonares
•se associar um fármaco antiestafllocócico, de acordo com a • Presença de outros sítios de infecção: sinusite hos-
prevalência local do S. aureus oxacilino-resistente. A terapia pitalar, sepse relacionada com cateter intravenoso,
antibiótica combinada deve ser empregada nos pacientes de sepse abdominal e suas diversas causas, sepse uriná-
alto risco para patógenos resistentes utilizando-se classes ria, dentre outras
diferentes de antibióticos. Aminoglicosídeos devem ser evi- • Devidas à presença de condições não infecciosas
tados em idosos e em pacientes com disfunção renal e não • Com infiltrado pulmonar persistente: SDRA, ate-
devem ser usados isoladamente. lectasias, hemorragia pulmonar, pneumonia organi-
A monoterapia pode ser considerada nas seguintes cir- zante criptogênica, edema pulmonar cardiogênico,
cunstâncias: embolia pulmonar, pneumonite aspirativa, dentre
outras causas
• Presença de melhora clínica
• Estabilidade hemodinâmica A abordagem desses pacientes deve ser individualizada
• R aeruginosa eAcinetobaccer sp. não são os agentes iso- com investigação rigorosa, podendo ser necessária a prope-
lados. Este último é naturalmente resistente a betalactâ- dêutica broncoseópica, de exames de imagem tomográficos
micos e cefalosporinas e a aminoglicosídeos em 70% das do tórax, convencional ou angiotomografia, ultrassonografia
vezes, chegando a 97% no caso das fluoroquinolonas. Os e até biópsia pulmonar a céu aberto em casos selecionados.
antibióticos de preferência são carbapenêmicos ou ampi-
cilina/sulbactam.
Prevenção
Duração do tratamento A prevenção da PAVM pode ser dividida em estratégias físi-
Considerar a presença de
fatores de risco para patógenos
re-sistentes
Alto risco
Baixo risco
2:S dias no hospital
<5 dias no hospital
Com uso de antibióticos
Sem uso de
nos últimos 15 dias
antibióticos nos
Outros fatores de risco:
últimos 15 dias
neurocirurgia, oorticoide.
Sem outros fatores de
ventilação mecânica
risco
prolongada, SDRA
l l
Pat6genos prováveis
Pat6genos prov~veis
S. pneumoniae. H. influenue,
Pseudomona.s aerug;nosa,
SADxa·S, enterob<lctérias
Aci~tobacter sp., S.
sensiveis (E. co/i, K.
maltophilia, enterobactérias
pneumoniae, Enteroba<:ter sp.,
multirresistentes, SAOxa-R
S. matrescens)
àiDIÇÃQ:
*Quino1ona antipseudomonas: àprofloxacina
**Aminoglicosídeos e monobactâmicos não devem FIGURA 38.2.1 -7 Abordagem da pneumonia.
ser usados isoladamente. Aminoglicosídeos devem Fonte: Diretrizes brasileiras para tratamentos das
ser evitados em idosos e pacientes com disfunção pneumonias adquiridas no hospital e das associadas
renal. à ventilação mecânica: 2007.'
• A troca frequente dos circuitos dos respiradores não re- • Se a profJ.!axia do sangramento gástrico por estresse for
duz a incidência de PAVM. necessária, tanto o uso de sucralfato quanto de antago·
• Thdos os dispositivos que favoreçam os episódios aspi- nista H 2 é aceitável.
rativos devem ser removidos o mais cedo possível, assim • Os pacientes devem ser mantidos de preferência em po·
que as condições clínicas do paciente o permitirem. sição semissentada (30 a 45 graus) em vez de em posição
• Nos pacientes em pós-operatório, os exercícios resistivos supina, para prevenir aspiração, especialmente se estive·
inspiratórios são considerados medidas efetivas na pre- rem recebendo alimentação enteral.
venção de PAH.
• A nutrição enteral deve ser preferida em lugar da paren- Fagon JY, Chastre J, Wolff M, Gervais C, Parer-Aubas S, Stéphan F,
teral. et ai. l nvasive and noninvasive strategics for management of suspcc-
• Deve-se evitar o uso de sedação profunda e constante. ted ventilator-associated pneumonia: a randomizcd trial. Ano Inter
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39
Em mulando os mecanismos de defesa do hospedeiro e provo-
cando nele o surgimento de hipersensibilidade de tipo tardio
Pato enia da Tuberculose (mediada por células), e exibe características estrutural e tin·
torial de um bacilo álcool-ácido resistente (BAAR).
José da Silva Moreira Gotfculas com menos de 10 1-1m de diâmetro, desseca·
das na atmosfera, contendo de um a três bacilos {núcleos
goticulares), eliminadas principalmente através da tosse por
indivíduos adultos portadores de lesões pulmonares ativas,
[~] ATENÇÃO escavadas (densamente habitadas), uma vez inaladas, podem
chegar ao compartimento alveolar de outro indivíduo. Esse
aporte pode ocorrer por primeira vez (tuberculose primá·
A tuberculose é uma das doenças Infecciosas mais
ria), ou em vez subsequente (tuberculose pós-primária ou
prevalentes no ser humano, de longa trajetória
histórica (milênios), manifestando-se em diversos secundária). Em cada uma de tais situações, os fenômenos
que se seguem costumam cursar diferentes caminhos.,_,
órglos ou sistemas. mas com os pulm6es sendo
comprometidos em torno de 80% das vezes, se- Quando por primeira vez (infecção primária, mais frcqucn·
guindo-se pleura, gânglios linfáticos, ossos e siste- temente ocorrendo em crianças), uma dessas gotículas cbegan·
mas urinário e nervoso central.' Estima-se que um do ao compartimento alveolar do pulmão, os bacilos que elas
terço da população mundial encontre-se infectada, contêm serão englobados pelos macrófagos ali presentes, mas
ocorrendo cerca de 90 milhões de casos cllnicos em geral não são inativados ou lisados. Em vez disso, usarão o
(doentes) a cada 1O anos, ainda com expressiva interior dessas células para se multiplicar, destruindo-as, fican·
mortalidade, mesmo com os eficient es recursos te- do liberados para ulteriores tentativas de fagocitose por outros
rapêuticos disponíveis. macrófagos. Desse modo, uma pequena lesão vai se formando
em qualquer local da zona cortical do pulmão (cancro de ill()-
culação), em geral não visível na radiografia, com progressiva·
mente maior número de unidades bacilares.
O Mycobacterium ruberculosis - variedade humana das A partir dessa lesão inicial, os bacilos chegam aos gân-
micobactérias - é o mais importante agente causador da glios mediastinopulmonares, formando-se o comp~ pri·
doença. Esse germe é um aeróbio estrito, com metabolismo máoo, com seus polos parenquimatoso e ganglionar, este
acentuadamente dependente de oxigênio, mas que, sob con· último mais vezes visivel à radiografia ( adenopatias) -lesões
dições adversas, consegue sobreviver mantendo« viável por macroscópicas caracteristicas da tuberculose primária. Via
longos períodos (anos). Thm parasitismo intracelular, esti· coletores linfáticos maiores, os germes acabam chegando
ao confluente venoso júgulo-subclávio bomolateral, e daí Uma criança com sintomas gerais, incluindo febre per-
ganham a circulação sanguínea e, por conseguinte, órgãos sistente por mais de 10 dias, sem uma causa alternativa para
diversos. Nessa fase inicial da infecção, não há evidência clí- explicar as manifestações, deve levar à suspeita de tuber-
nica ou imunológica de anormalidade (ausência de sintomas, culose primária evolutiva, em especial se for comunicante
reação tuberculínica negativa). Se tal fase for olhada sob a de um adulto portador da doença. Um teste tuberculínico
óptica do sangue, diz-se estar ocorrendo uma bacilemia as- positivo e a radiografia de tórax mostrando a presença de
sintomática; se vista pelo lado dos tecidos, onde os bacilos adenomegalias mediastinopulmonares deverão corroborar o
acabam sendo retidos no sistema macrofágico-monocítico, diagnóstico (FIGURA 39.1.2). Na grande maioria de tais casos,
fala-se em semeadura precoce (FIGURA 39.1.1). a identificação do bacilo não terá sucesso.
Toda essa permissividade, possibilitando a livre dissemi-
nação por diferentes órgãos no decorrer da primoinfecção,
ocorre em indivíduos ainda sem o seu sistema imunológico
especificamente ativado contra os germes. Todavia, tais indi-
~ATENÇÃO
víduos que são componentes de uma espécie que há muito
As complicações mais importantes da tuberculose
tempo encontra-se em contato com o agente trazem em seu
primária (pneumonia, derrame pleural, disseminação
genoma a potencial capacidade de lutar contra ele.' Essa re-
hemática, meningite) costumam ocorrer dentro do
sistência natural, herdada, pode ser variável, em especial na
primeiro ano de sua evolução. Decorrido esse tempo,
dependência da raça, sendo maior nos brancos, há mais tem-
elas terão menos probabilidade de acontecer. Mais
po em contato com o bacilo tuberculoso. 5 A ativação do meca-
adiante, em geral na vida adulta, caso o mesmo in-
nismo, desde o aporte alveolar dos bacilos, progride pelo tem-
divíduo volte a apresentar a doença, ela ocorrerá re-
po de três a oito semanas, após o que aparecem os sintomas,
vestindo o padrão secundário (pós-primária).
geralmente sistêmicos, incluindo febre, e o indivíduo passa a
manifestar reatividade à tuberculina (viragem tuberculínica).
A partir desse ponto, na infecção primária, uma de duas
situações ocorre: ou os sintomas se atenuam e terminam por A tuberculose pós-primária (secundária), manifestando-
desaparecer, caracterizando a situação de infecção tubercu- -se via de regra em indivíduos adultos, tem sua origem a par-
losa primária não evolutiva, que é a mais frequente; ou os tir de bacilos que causaram a primoinfecção e que persisti-
sintomas aumentam, com piora clínica progressiva, envolvi- ram nos tecidos desses indivíduos (patogenia endógena), ou
mento multissistêmico, podendo incluir a forma miliar grave em indivíduos adultos que já tiveram a primoinfecção e que
da doença, e meningite. Em ambos os casos, daí para frente, voltam a se infectar, novamente inalando bacilos (patogenia
a reação tuberculínica manter-se-á positiva - enquanto hou- exógena). No primeiro caso, a reativação costuma iniciar-se
ver bacilos vivos, viáveis, nos tecidos do hospedeiro. localizada, restrita a um órgão (pulmão mais frequentemen-
8
TT
Bac. Assint
4 6 8
i
FIGURA 39.1.1 ~ Em A, cancro de inoculação na cortical do pulmão
direito; adenopatia mediastinopulmonar homolateral, formando o
complexo primário bipolar. Em 8, fase de bacilemia assintomática (Bac.
Assint.) ocorrendo nas primeiras semanas logo após a contaminação
(seta), em uma criança com sua resistência natural (R,.), herdada. Sur-
gimento de sintomas (S) e teste tuberculínico (TT) tornando-se positivo.
Doença evolutiva (D), com persistência dos sintomas, ou involutiva (1), FIGURA 39.1 .2 ~ Criança de 11 meses de idade, com febre persistente
com regressão deles, na dependência do grau de resistência natural, es- há duas semanas. Adenopatia mediastinopulmonar à direita à radiogra-
pecificamente organizada (R,..,). fia (A). Reação tuberculínica (Mantoux) fortemente positiva (8).
te, pleura, gânglio linfático, osso, rim, tuba uterina) para lesão ativa para o interior de veia sistêmica. Essas lesões ca·
onde foram semeados germes na fase de bacilemia assinto· seosas, sobretudo as ganglionares linfáticas, podem ainda se
mática da infecção primária, e ali evoluir. No segundo caso, abrir para a pleura, formando o derrame pleural tuberculo-
a doença se inicia e progride no pulmão. so, para o pericárdio (pericardite) ou peritônio (peritonite).
De modo geral, todavia, as lesões pulmonares da tuber·
culose secundária predominam nos quadrantes posteros-
superiores, o que se explica por ser mais vantajoso para os
bacilos, devido ao teor mais alto de oxigênio ali disponível, e
~ATENÇÃO
pelo fato de esses germes já não encontrarem toda a permis-
Um individuo adulto com manifestações respirató·
sividade imunológica por parte do hospedeiro que havia na
rias, em especial tosse produtiva, acompanhadas
época da infecção primária.
de sintomas sistêmicos, incluindo febre persistente,
Na maioria das vezes, a tuberculose pós-primária no
por algumas semanas a poucos meses, deve sugerir
pulmão inicia-se como uma lesão exsudativa (infiltrado pre·
o diagnóstico de tuberculose. Uma radiografia de
coce), que evolui e acaba necrosando, formando a caverna,
tórax mostrando lesões em quadrante superior dos
contendo grande número de bacilos. Embora seja mais raro,
pulmões e a pesquisa direta de BAAR no escarro de-
pode manifestar-se como uma lesão produtiva encapsulada
vem confirmar o diagnóstico (FIGURA 39.1.3). lndivl·
(tuberculoma), pobremente habitada.
duos imunodeficientes (portadores de HIV), diabéti·
O pulmão pode, ainda, ser comprometido secundaria-
cos ou em uso crônico de altas doses de corticoides
mente a partir de uma lesão extrapulmonar, como um gân·
podem apresentar-se com lesões com aspectos e lo·
glio com doença evolutiva fistulizando para o brônquio, de-
calizações diferentes nos pulmões.8•9
terminando o aparecimento de pneumonia tubercul05a,6·7 ou
ser envolvido, junto com outros sistemas, na progressão da
tuberculose miliar, também dependente da abertura de uma
FIGURA 39.1.3 -+ Individuo adulto com tosse, expectoração e febre persistente há dois meses. Evolução das lesões pulmonares: radiografia nesse
período, de pequena área de consolidação no terço superior do pulmão direito (infiltrado precoce) (A), para lesão escavada com focos pericavitários
e de disseminação brônquica contralateral (B). Escarro positivo para BAAR (coloração de Ziehi·Neelsen) (C).
Referências Em adultos e crianças maiores de 5 anos, o diagnóstico
de TB é baseado na história e no exame físico que identifi·
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2005. p. 979-1043, cap. 33, v. 1. escarro devem ser submetidas à baciloscopia para pesquisa
de BAAR e cu ltura.
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cleico da micobactéria por meio de reação em cadeia da
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13. Thberculous pneumonia: a study of 59 microbiologically confir· baciloscopias diretas positivas no escarro ou uma cultura po-
mcd cases. J Bras Pneumol. 2011;37(2):232-7. sitiva paraM. tuberr:ulosis, radiografia de tórax compatível
8. Picon PO, Caramori Ml., Bassancsi SL, Jungblut S, Folgicrini M, e reação de M antoux positiva. Em casos sem expectoração
Porto NS, ct a!. Diffcrcnccs in thc clinicai and radiological prcscnta· e radjografia de tórax sugestiva, o escarro induzido com so-
Lion of intratboracic tuberculosis in the prcsencc or absencc of Hl V lução salina está indicado e tem rendimento semelhante em
infection. J Bras Pneumol. 2007;33(4):429-36. relação à broncoscopia com lavado broncoalveolar (LBA).'
9. Lee KS. Pulmonary tubcrculosis. In: MuUer Nl., Silva C1S. 1ma&in8 A identificação das micobactérias se faz com a cultura,
of tbe cbest. Philadelpbia: Saunders; 2008. p. 322-41, cap. 13, v. 1. que também permite a realização de teste de sensibilidade.
Os meios sólidos de cultura recomendados são Lõwenstein-
-Jensen e Ogawa-Kudoba (este último dispensa o uso de
centrífuga, podendo ser empregado em laboratórios de me-
Diagnóstico
O diagnóstico da tuberculose (TB) é confirmado pelo isola-
mento do microrganismo responsável (Mycobocteri1un tubercu-
lo.sis) em secreções ou tecidos, sendo baseado em dados epide-
miológicos, na cllnica e no estudo radiológico. A radiografia A radiografia de tórax é o exame de imagem de escolha
de tórax e a pesquisa do bacilo álcool-ácido resistente (BAAR) na avaliação inicial e no acompanhamento da TB pulmonar.
no escarro são os principais exames a serem realizados.' A TB primária é mais comum em crianças e adolescentes,
Os principais sintomas da TB são: mas pode ocorrer em adultos. Sua apresentação clínica cos-
tuma ser de doença aguda e grave, embora possa se manifes-
• Thsse com expectoração, ou não, por mais de duas a três tar de maneira insidiosa e lenta. Por vezes se acompanha de
semanas eritema nodoso, conjuntivite e artralgia de Poncet, que são
• Inapetência manifestações de hiperscnsibilidade.
• Perda de peso A apresentação radiológica da TB pulmonar primária
• Fraqueza inclui:
• Febre vespertina baixa
• Sudorese noturna • Opacidades parcnquúnatosas unifocais
• Dor torácica • Opacidades arredondadas (3 em de diâmetro) nos lobos
• Escarro bemático' superiores e calcificações de linfonodos bilares
• Linfadenomegalia unilateral, hilar e paratraqueal direita Diagnóstico da tuberculose extrapulmonar
(mais em crianças), podendo ocorrer em adultos, asso- A TB extra pulmonar é uma doença paucibacilar, mas mesmo
ciadas ou não a opacidades e atelectasias assim o diagnóstico bacteriológico e histopatológico deve ser
• Atelectasias devidas à compressão extrínseca das vias aé- realizado. As formas mais comuns são pleural, linfática, do
reas por linfonodos aumentados, mais em crianças com sistema nervoso central, pericárdica, ileooecal, peritoneal,
menos de 2 anos, nos segmentos anterossuperiores e no da coluna vertebral, outras lesões ósseas e articulares. Não
lobo médio são comuns empiema, acometimento do trato geniturinário,
• Padrão miliar (opacidades de 1 a 3 mm de diâmetro) si- renal, da glândula suprarrenal e da pele. Em HIV-negativos,
métrico associado ou não a linfonodos aumentados a forma mais comum costuma ser a pleural; já em HIV-posi-
• Derrame pleural, manifestação tardia, raro em crian- tivos, a mais comum é a linfática.
ças.u
rf!;!Mi •11
2RHZE RHZE Até 20 kg R: 1Omg/kg/dia
Fase intensiva H: 1Omglkg/dia
Z: 35 mglkg/dia
E: 25 mglkg/dia
20·35kg 2 comprimidos
36·50 kg 3 comprimidos
> SOkg 4 comprimidos
O número antecedendo a sigla indica o núme<o de meses de tratamento; do~ por comprimido: R• 150 mg; H • 75 mg; Z • 400 mg; E• 275 mg.
Fonte: Adaptada da 111 Diretrizes para Tuberculose da Sociedade Brasileira de Pneumologia e 1isiologia.1
• O número na frente da sigla do fármaco significa o tempo de uti- • O número no lado direito da letra, infradesnivelado, significa o
lização dele, em meses. número de dias na semana de uso do fármaco.
doença hepática ou hepatite (passada ou atual), em uso de tante evitar Se E, ou administrá-las em doses reduzidas e com
outras medicações hepatotóxicas e infecção pelo HIY.19 intervalos maiores. O esquema mais seguro é 2RHZf/4RH.'"
Biossegurança em tuberculose
A transmissão da TB em ambientes fechados, como unida-
des de saúde, prisões e asilos, tem aumentado, daí a preocu-
pação com a adoção de medidas efeúvas de proteção. Em
todos os locais com chance alta de transmissão doM. tuber·
cu/osis, seja de pacient.e para indivíduos sadios, de paciente
Tuberculose na gravidez para paciente ou de paciente para profissionais de saúde,
Os tuberculostátioos (RHZE) atravessam a placenta, mas não devem ser adotadas medidas de biossegurança. O que define
têm efeito nocivo para o feto c podem ser utilizados nas doses quais medidas de biossegurança devem ser adotadas é o úpo
habituais. Deve-se evitar estreptomicina, etionamida, canami- de ambiente de exposição, ou seja, de risco baixo, médio ou
cina, amieacina, capreomicina e Ouoroquinolonas, pois ofere- alto. Essas medidas podem ser administraúvas, de contro·
cem risco ao feto. Sugere-se que grávidas com TBL recebam te ambiental e de proteção respiratória, também orientadas
hidrazida por seis meses, com suplementação de piridoxina conforme o ambiente de exposição.•A••
(para evitar crise convulsiva no recém-nascido). Os fármaoos de
primeira escolha (RHZE) têm baixa concentração no leite ma-
temo; portanto, nestes casos a amamentação é recomendada.li) Tuberculose e tabagismo
O tabagismo pode dificultar a ncgativação do escarro durante
Tuberculose no diabético o tratamento da tuberculose, bem como aumentar a taxa de re-
Pode-se estender o tratamento para nove meses nos depen- cidiva da doença. Portanto, combater o tabagismo por meio de
dentes de insulina. Naqueles não dependentes, sugere-se programas de cessação associados à rotina de atendimento dos
manter o esquema habitual. Recomenda-se substituir o bi- portadores de tuberculose pode ser uma boa alternativa.'·6.••
poglicemiante oral por insulina, quando houver necessidade
(manter a glicemia de jejum igual ou menor a 160 mgldL). Programa Nacional de Controle da Tuberculose
Indica-se ainda o uso profilático da piridoxina."''9 No Brasil, os casos de tuberculose diagnosticados devem ser
encaminhados a uma unidade de saúde mais próxima ao domi·
Tuberculose na insuficiência renal cílio do paciente para inscrição no programa, prescrição e for-
R, H e Z podem ser prescritas nas dosagens normais. Deve-se necimento gratuito dos medicamentos. A inscrição do paciente
modificar n tratamento em casos de insuficiência renal com no programa garante a notificação do caso c permite o controle
depuração da creatinina S 30 mL/min ou em diálise. É impor· epidemiológico da doença. Com o objetivo de aumentar a adc·
são ao tratamento, a Organização Mundial da Saúde (OMS), 15. Tom:-Cisneros J, Ooblas A, Aguado IM, San Juan R, 81anes M,
desde 1990, recomenda a adoção da estratégia de Tratamento Montejo M, et ai. Thberculosis after solid-organ uansplant: inciden-
Diretamente ObseiVado (TDO), e desde 1998 o Brasil também ce, risk factors, and clinicai cbaractcristies in lhe RESITRA (Spanisb
recomenda tal estratégia. A adoção da estratégia TDO, bem Network of lnfeetion in "fransplantation) cobon. Oin lnfect Ois.
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como a integração do Programa de Controle da Thberculose
com outros programas (Saúde da Famflia, Agentes Comuni- 16. Thrgcted tuberculin testing and treatmcnt of lalcnt tuberculosis in-
tários de Saúde, Antitabagismo, AIDS), fazem parte de um fection. Tbis oflicial statcment of the Ameriean Tboracic Society was
conjunto de medidas para controlar a doença no Brasil. 1 '~11•18 adopted by lhe ATS Board of Oirectors, July 1999. Tbis is a Joint Sta-
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2009;58(RR-4):1-207; quiz CEt-4.
Na Grécia Antiga, deveu-se a Hipóaates a denominação
de tJsica, oriunda do termo phlhisilws e que significa con-
Tuberculose no mundo e
sumpção. Desde aquela época havia o entendimento de que propostas para o seu controle
repouso e climas amenos poderiam auxiliar na recuperação
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em
dos doentes. Foi a partir dos séculos XVII e XVIII, com os
2009 tenham ocorrido 9,4 milhões de casos novos de TB no
estudos de anatomia, que a doença passou a ser denominada
mundo (incidência de 137 casos/100.000 habitantes), sendo
tuberculose. cerca de 1,2 milhões em pacientes infectados pelo vlrus da
Durante o século XVIII, na Europa Ocidental, a TB imunodeficiência humana - HIV (80% deles no continente
chegou a apresentar taxas de mortalidade entre 200 e 400 africano) e em tomo de 3,3 milhões em mulheres. O conti-
óbitos por 100.000 habitantes, situação idêntica à relata- nente asiático foi responsável por 55% desses casos, seguido
da no Município de Porto Alegre - RS no inicio do século pela África (30%), região leste do Mediterrâneo (7% ), Eu-
3
XX. Na segunda metade do século XVI II, com a Revolu- ropa (4%) e região das Américas (3%).
ção Industrial na Inglaterra e o êxodo rural decorrente do Apenas 22 pa.íses notificam em tomo de 80% de toda a
crescimento dos latifúndios, gerando aglomerações urbanas carga mundial de TB, sendo que o Brasil é o único país das
e pobreza, a TB começou a se espalhar nesses locais, fato Américas que figura nesse grupo. Os cinco países que lide-
que continua ocorrendo até hoje nas grandes cidades e suas ram a lista dos 22 prioritários no controle da TB são Índia
regiões metropolitanas. Cabe salientar que a doença atinge (2 milhões), China (1,3 milhões), África do Sul (490 mil),
principalmente pessoas em fase produtiva da vida, sendo Nigéria (460 mil) e Indonésia (430 mil casos).
que cerca de 80% dos pacientes notificados têm idade entre A prevalência estimada da TB no mundo é um número
15 e 59 anos. ainda mais assustador, girando em tomo de 14 milhões de
Embora Robert Koch tenha identificado o agente cau- casos. No mundo, apenas 27% dos pacientes notificados com
sal da TB em 1882 e logo em seguida Rocntgen, em 1885, TB realizam testagem para HIV, e destes, 26% têm resultado
por meio da radiologia, tenha auxiliado no diagnóstico e positivo, o que representa 7,2% de coinfecção TB/HIV. Dos
acompanhamento dos doentes com sua descoberta, até a coinfectados, 75% estão recebendo cotrimoxazol profilático,
década de 1940 nenhum tratamento eficaz estava disponí- 37% estão sob terapia antirretroviral (TARV) e 85.416 estão
vel para a enfermidade. A era sanatorial, com seu apogeu recebendo isoniazida para tratamento da infecção latente
na primeira metade do século XX e baseada no isolamento por tuberculose {ILTB).3
do doente, oferecia aos pacientes como alternativa tera- Calcula-se que ocorram, a cada ano, 1,3 milhões de
pêutica o repouso absoluto no leito e ao ar livre, além de óbitos por TB em indivíduos HIV-negativos, com 380 mil
uma alimentação rica e o uso de medicamentos sem efi- mortes em mulheres. Em torno de 400 mil mortes em pa-
cientes HIV-positivos devem-se à TB, totalizando 1,7 mi-
cácia comprovada, como enxofre, preparados de ouro e
lhões de óbitos a cada ano (26 óbitos/100.000 habitantes).
bismuto, cálcio, creosoto e quinino. Thntativas cirúrgicas
O indicador relativo à mortalidade, apesar de preocupan-
como ressecção pulmonar, toracoplastia c pneumotórax
te, seque r é um dado mensurado de maneira confiável em
terapêutico também faziam parte do arsenal disponível na
muitos países.
época.
Em 2008, estima-se que tenham ocorrido 440 mil casos
Somente em 1944, com a descoberta da estreptomicina,
de tuberculose multidrogas-resistente (TB-MDR), sendo
surgiram fármacos anlimicrobianos eficazes contra o bacilo que 86% deles ocorreram em 27 países (15 países europeus),
de Koch. Em 1946, foi descoberto o ácido paraminossalicí- salientando-se que somente a China teve em tomo de 100
lico (PAS), e em 1952, a hidrazida, com um grande impacto mil casos, seguida pela Índia, com 99 mil. Em julho de 2010,
nas taxas de mortalidade por TB no mundo inteiro. Na déca- 58 países já haviam notificado pelo menos um caso de tuber-
da de 1960, foram instituídos os tratamentos com no mínimo culose extensivamente resistente a drogas (TB-XDR).
3
três fármacos, tendo sido considerados eficientes do ponto Apesar da situação epidemiológica alarmante nos dias
de vista teórico em mais de 95% dos casos, com a evolução atuais, desde 1993 a OMS declarou a TB uma emergência
para o tratamento ambulatorial e o fechamento dos sanató- mundial e propôs a estratégia DOTS (Directly Observed Treat-
rios em todo o mundo. ment Short cow-se) para detecção de 70% dos casos estimados
A partir da descoberta dos fármacos com atividade e obtenção de sucesso de tratamento (cura) em pelo menos
confirmada sobre o bacilo de Koch, houve a expectativa de 85% destes e abandono do tratamento menor do que 5%.
erradicação da doença até o final do século XX ou, pelo A estratégia DOTS baseia-se em cinco pilares: a) de-
menos, a esperança de que ela estivesse limitada aos países tecção de casos por meio de exames bacteriológicos de
pobres. No entanto, fatores como o surgimento da AIDS, qualidade entre sintomáticos respiratórios (SR) que de·
a desorganização dos serviços de saúde pública e a crise fi- mandam os serviços de saúde; b) tratamento padronizado
nanceira mundial impediram a concretização do controle de curta duração, com supervisão da tomada da medica-
da TB, como está evidenciado nos dados epidemiológicos ção e apoio ao paciente, monitorado em sua evolução; c)
relatados a seguir. fornecimento regular de fármacos e gestão adequada dos
medicamentos; d} sistema de registro e informação que
assegure o monitoramento dos casos, desde sua notifica-
ção até o encerramento; e e) compromisso do governo
0 ATENÇÃO
colocando o controle da TB como prioridade entre as po- Apesar de haver uma detecção de casos adequada, a
líticas de saúde.' taxa de cura ainda decepciona, sendo que em 2008
Em setembro de 2000, a Organização das Nações Uni- foi de somente 77%, ainda abaixo do preconizado
das (ONU) aprovou e apresentou a Declaração do Milênio pela OMS. Os resultados obtidos devem-se. certa-
com as Metas de Desenvolvimento do Milênio. Na Meta 06 mente, à epidemia de AIDS. à abordagem inadequa-
(Combater o HIV/AIDS, malária e outras doenças), o ob- da do paciente, que nao tem garantido o tratamento
jetivo 08 contempla a TB: Até 2015, deter o aumento da in- diretamente observado (TDO). e à fragilidade do sis-
cidência da malária e outras doenças importantes e iniciar tema de informação.' Considera-se que, exceto em
a inverter a tendência atual. Dos indicadores pactuados, alguns poucos palses, com a adequada expansão da
almeja-se que até 2015 consiga-se reduzir em 50% a taxa de Estratégia DOTS e do TDO, seja possível atingir as
incidência, prevalência e mortalidade por TB em relação ao Metas de Desenvolvimento do Milênio.
ano de 1990.
A Parceria STOP TB, criada em 2006 para auxiliar
no cumprimento das Metas do Milênio, tem ainda como
objetivo reduzir a incidência global da TB ativa para me-
nos de 1 caso/milhão de habitantes até o ano de 2050. Em
Tuberculose no Brasil
2010, considerando-se que faltavam apenas cinco anos para O Brasil figura como o 1Cf' entre os 22 pafses responsáveis por
2015, foram feitas atualizações no plano, a ser cumprido 80% da carga mundial de TB e está em 108" 1ugar no mundo
no perfodo 2011 a 2015: a) diagnóstico, notificação e tra- em taxa de incidência. Em 2009, notificou 71.641 casos novos
tamento de 7 milhões de casoS/ano; b) cura de pelo menos da doença, com uma taxa de incidência de 38,4 casoS/100.000
90% dos pacientes com baciloscopia de escarro positiva; habitantes c uma prevalência estimada em tomo de 100.000
c) testagem de 100% dos pacientes com TB para HIV; d) casos. Os casos novos somados às recidivas totalizaram
cobertura de TARV (tratamento antirretrovial) e profilaxia 75.040, atingindo uma taxa de detecção de 86% (a incidência
com cotrimoxazol em 100% dos coinfectados TB/HlV; e) estimada para o Brasil em 2009 foi de 87.000 casos). Nomes-
dispensação de isoniazida para todos os pacientes HIV-po- mo ano, foram testados para HIV 49% dos pacientes, 18,5%
sitivos com indicação de tratamento da ILTB; f) realização deles com resultado positivo, o que representa uma taxa de
de cultura para micobactérias e teste de sensibilidade aos coinfecção TB!HIV de 9,1 %. Em tomo de 92% dos coinfec-
fármacos em 100% dos casos de retratamento, bem como tados estão recebendo TARV, e não há dados acerca do trata-
naqueles de alto risco para TB-MDR (em tomo de 20% de mento da ILTB, nem do uso de cotrimoxazol profilático.1 Em
todos os novos pacientes); g) tratamento de todos os casos 2010 foram notificados cerca de 71.000 casos da doença, com
de TB -MDR de acordo com as normas internacionais; e h) taxa de incidência de 37,9 casos/100.000 habitantes.
mobilização de 7 bilhões de dólares ao ano para fomentar
Em 1998, o Brasil resolveu destacar a TB como um
a estratégia STOP TB e 1,3 bilhão de dólares ao ano para problema prioritário de saúde no pais, estabelecendo uma
a pesquisa de novos fármacos, novos métodos diagnósticos
série de medidas para o controle da doença mediante a
c vacinas.'
criação do Plano Nacional de Controle da Thberculosc,
a partir de uma decisão do Conselho Nacional de Saúde,
em 06 de agosto daquele ano. Em 2003, o Ministério da
Tuberculose nas Américas Saúde determinou ser a TB uma das cinco doenças prio·
ritãrias no Brasil, e o Programa Nacional de Controle da
Nas Américas, embora os números nem de longe possam ser
Tuberculose do Ministério da Saúde (PNCf-MS) passou a
comparados com os continentes Asiático e Africano, a Orga-
nização Pan-Americana de Saúde (OPAS} tem tido grande intensificar suas ações de capacitação c de monitoramento
preocupação no que se refere a serem atingidas as Metas de e avaliação em todos os Estados da Federação, em especial
Desenvolvimento do Milênio.' No ano de 2009, foram esti- nos 315 Municípios Prioritários (MP) para o controle da
mados 270.000 casos novos de TB, com uma taxa de incidên- TB no Brasil, onde estão concentrados em torno de 70%
cia de 29/100.000 habitantes e uma prevalência estimada de do total de casos.6
350.000 casos. Foram efetivamente notificados 216.398 casos A descentralização das ações de controle da TB para
novos (110.598 pulmonares positivos), o que se traduz em a Atenção Básica e para a Estratégia de Saúde da Família
uma taxa de detecção de 76%, valor este dentro das expecta- com a busca dos SR, o diagnóstico oportuno dos doentes e a
tivas pactuadas anteriormente. Dos pacientes com TB, 41% realização do TDO em todos os pacientes com TB tem sido
foram testados para HIV em 2009 e, destes, 17% foram po- o objetivo de todas as abordagens e capacitações realizadas
sitivos. Entre os coinfectados TB/HIY, 61% estão recebendo pelo PNCf-MS. Apesar do investimento continuo em capa-
cotrimoxazol profllático, 73% estão sob TARV e somente citação de gestores e das equipes de saúde para a detecção
4.568 estão tratando ILTB com isoniazida.3 precoce de casos e seu tratamento adequado, a taxa de cura
no pafs ficou em n % em 2008 e a de abandono, em 9,9%, década {2001-2010), ocorreu um incremento da taxa, que em
números ainda muito aquém dos preconizados pela OMS.6 2001 foi de 40,9 casos/100.000 habitantes!
O Brasil conseguiu reduzir, de 1990 a 2010, sua taxa de Apesar de as taxas de incidência não estarem caindo
incidência de 51,7 para 37,9 casos/100.000 habitantes, com no Estado, a taxa de mortalidade em 2009 foi de 2, 7 ca-
isso vislumbrando estar muito próximo do que está pactuado sos/100.000 habitantes, um pouco superior à do Brasil (2,6),
para 2015. No entanto, a queda na taxa de incidência não vem o que poderia indicar uma melhoria dos indicadores, quando
ocorrendo nas Regiões Norte e Sul do pafs, o que tem sido comparada com 1990 (3,6 mortes/100.000 habitantes).'
motivo de preocupação e priorização de ações nesses locais.'
Embora tenha ocorrido a expansão da Estratégia de
Saúde da Família de norte a sul do Brasil, sua cobertura
ainda não é uniforme, principalmente nos grandes centros [Ii ATENÇÃO
urbanos, sendo que em 2010 somente 37,4% dos casos no-
vos diagnosticados receberam mo, o que pode justificar as Quando se avalia a taxa de coínfecção TB-HIV, a par-
taxas de cura ainda abaixo de 85%, no pafs. tir de 2001 ela tem se mantido em tomo de 20%,
A taxa de mortalidade, que era de 3,55 casos/100.000 que é pelo menos o dobro da média nacional, sendo
habitantes em 1990, foi de 2,55 casos/100.000 habitantes em que no Municlpio de Porto Alegre, a capital brasneira
2009, demonstrando uma tendência clara de queda em di- com maiores taxas de inód~ia de TB em 2009 e
reção ao que foi pactuado nas Metas do Mil~nio. Cabe des- 201 O (115 e 111 casos/1 00.000 habitantes, respecti-
tacar que a mortalidade é maior entre os homens e os não vamente), a coinfe<:çAo passa de 30%.1
brancos.
Em 2009, o Brasil notificou 411 casos de TB -MDR,6 mas,
com a mudança do esquema de tratamento ocorrida no país Altas taxas de coínfeoção TB -HlV aliadas a uma baixa co-
a partir de novembro daquele ano c dos critérios para defini- bertura de Estratégia de Saúde da Famflia (35%) e baixo per-
ção de um caso de TB-MDR, é provável que esse número ve- centual de pacientes em TDO (15%) resultaram em uma taxa
nha a ter um incremento importante nos próximos anos. De- de cura de somente 66% em 2008, com um abandono de 12%.
ve-se lembrar que a grande maioria dos casos de TB-MDR Desde 2001 o RS notifica anualmente entre 30 e 40 ca-
notificados no país é decorrente de resistência adquirida aos sos de TB-MDR, o que, assim como acontecerá no Brasil,
fármacos devido a tratamentos irregulares, altas taxas de deverá aumentar nos próximos anos, seja pela mudança de
abandono e não realização do mo de maneira uniforme. critérios para definição de caso, seja pela universalização da
cultura para micobactérias com teste de sensibilidade aos
fármacos disponível em menor período de tempo com o ad-
Tuberculose no Rio Grande do Sul vento da automação, que tende a se expandir em nosso meio.
0 ATENÇÃO
se na atenção primária à saúde [Internet]. Porto Alegre: Hospital
Nossa Senhora da Conceição; 2011 (capturado em 08 jun. 2011].
Disponível em: http://wwW2.ghc.com.br/GepNet/publicacoes/ tuber-
Por fim, mas não menos importante, destaca-se o culosenaatcncao.pdf.
papel da sociedade civil organizada como parceira Fundação Oswaldo Cruz. Escola NacionaJ de Saúde Pública Sergio
na divulgação de conhecimentos sobre a TB e co- Arouca. Controle da tuberculose: uma proposta de integração ensi-
brança de ações para o controle da enfermidade jun- no-serviço. Rio de Janeiro: BAD!BNSP; 2008.
to aos gestores políticos nas três esferas de governo.
Picon PD, Rizzon CFC, Ou WP. Thberculose: epidemiologia, di&&·
Concluindo, a melhoria dos Indicadores epide- nóstico e tratamento em el(nica c saúde pública. Rio de Janeiro:
miológicos, o controle da doença e talvez, em um Medsi; 1993.
futuro muito distante, sua erradica~o Solo responsa-
bilidade de todos.
Em rer ainda por ingestão (via digestiva) e por inoculação direta,
associada ou não à realização de procedimentos invasivos.
Micobacterioses Atípicas A incidência real é desconhecida porque a notificação
dos casos não é obrigatória junto aos órgãos governamentais
Fernanda Carvalho deQueiroz Mello da maioria dos países, mas há evidências de que a incidência
e a prevalência estejam aumentando em várias nações.
Nem todas as MNTBs descritas até o momento foram
Introdução identificadas como causadoras de doença. As manifestações
pulmonares são descritas em 94% dos casos de isolamento
O termo micobacterioses aúpicas é utilizado para denomi- de MNTBs. Entretanto, podem afetar tecido cutâneo, ossos
nar as infecções causadas por todas as espécies de mico- e linfonodos. A forma disseminada pode ocorrer e, sem tra-
bactérias que não pertencem ao complexo Mycobacterium tamento medicamentoso, frequentemente é fatal.
tuberculosis.' As micobactérias aúpicas podem receber ou- No Brasil, isolados de micobactérias recebidas de dife-
tras denominações: oportunistas, ambientais, micobactérias rentes regiões do país e analisados no Laboratório Nacional
outras que não a tuberculose (do inglês mycobacteria other de Referência de Micobactérias do Centro de Referência
than tuberculosis - MOTT) e micobactérias não tuberculosas Professor Hélio Fraga no período de 1994 a 19993 mostraram
(MNTBs). a seguinte distribuição das MNTBs nas amostras estudadas:
As MNTBs foram identificadas em 1885, mas a patoge- complexo Mycobacterium avium 44,4%, Mycobacterium lum-
nicidade em seres humanos foi descrita somente em meados sasii 13,7%, Mycobaterium fortuitum 10,8%, Mycobacterium
do século XX. Na época, Emest Runyon propôs uma classi-
abscessus 9,5% e Mycobacterium chelonae 1,5%.
ficação dessas micobactérias em quatro grupos: Nos últimos anos, foram relatados vários sur tos hospita-
lares de MNTBs de crescimento rápido, associados a proce-
• Grupo 1: fotocromogênicas (com produção de pigmento dimentos cirúrgicos estéticos, ortopédicos, oftalmológicos e
na presença de luz) abdominais por videolaparoscopia. Os pacientes tinham his-
• Grupo 11: escotocromogênicas (com produção de pig- tória recente de videocirurgia (em sua maioria para colecis-
mento independentemente da presença de luz) tectomia), implante de prótese de silicone e lipoaspiração e
• Grupo III: não fotocromogênicas (sem produção de pig-
apresentavam infecção de pele/subcutâneo, abscessos frios!
mento algum) piogênicos ou nódulos/fistulizações na porta de entrada, sem
• Grupo IV: de crescimento rápido (com crescimento em
resposta ao uso de antimicrobianos para germes piogênicos.
tomo de sete dias).
Mycobacterium massiliense foi considerado o agente respon-
sável pelo surto.
As MNTBs dos grupos I, 11 e III são de crescimento me-
nos rápido, necessitando de mais de sete dias em meio de
cultura, variando de 1 a 3 semanas.
Atualmente, mais de 148 espécies de MNTBs já foram Manifestações clínicas e radiológicas
identificadas. Cabe ressaltar que os avanços das técnicas mi-
crobiológicas e, em especial, o desenvolvimento de métodos Complexo Mycobacterium avium
moleculares de identificação de micobactérias contribuíram Esse complexo inclui pelo menos duas espécies: M. avium
para o aumento, nos últimos anos, não apenas do número de e Mycobacterium intracellulare. M avium é o patógeno mais
espécies descritas, mas também do número de casos diag- importante na doença disseminada eM. in trace/lu/are é opa-
nosticados de infecção por MNTBs. Soma-se a isso, como tógeno respiratório mais frequente.
possíveis fatores associados ao aumento de casos, a maior Existem apresentações distintas da doença pulmonar
suspeição clinica, o envelhecimento da população em geral, associada ao complexo M. avium. A forma tradi cional é
a maior sobrevida de pacientes com patologias predisponen- aquela descrita pela presença de lesão fibrocavitária em lobo
tes a micobacterioses atípicas, o maior número de pacientes superior, em homens brancos, na faixa dos 40 aos 50 anos,
sob imunossupressão e possivelmente a maior exposição am- com história de uso abusivo de álcool e tabagismo. Doenças
biental a MNTBs? pulmonares de base são comuns nesses pacientes e incluem
As MNTBs estão distribuídas mundialmente no meio doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), bronquiec-
ambiente, sendo encontradas no solo, na água (tratada ou tasias, fibrose cística, pneumoconioses e tuberculose (TB)
não), no esgoto e na superfície de animais. Crescem em di- prévia.
ferentes temperaturas, toleram alterações de pH, salinidade Os sintomas da forma tradicional são os seguintes: tosse,
e variações de tensão de oxigênio, além de serem resistentes expectoração, hemoptise, febre baixa, calafrios, sudorese e
a desinfetantes, detergentes, ácidos, cloro e antissépticos. A perda de peso. O exame direto do escarro e a cultura ge-
sua hidrofobicidade facilita a aerossolização (transmissão) e ralmente são positivos, o que pode levar à suposição diag-
a formação de biofilmes (persistência em superfícies). Não nóstica de TB, que é revista somente após a identificação
há evidências de transmissão a partir de animais ou entre da espécie da micobactéria isolada. Não é possível distinguir
seres humanos. A infecção ocorre com maior frequência por o complexo M. avium do complexo M. tuberculosis apenas
inalação de aerossóis gerados no ambiente, mas pode ocor- pelo resultado positivo da cultura. Um paciente com mico-
bacteriose atípica, se tratado inicialmente como um caso de pacientes com doença causada pelas MNI"Bs, deva ser asso-
TB, na ausência de resposta ao tratamento, poderia ser ca- ciado ao uso de adequada terapia anti-MNTBs.
racterizado (com base na resposta cünica) como caso de TB
resistente. Daí a importância da cultura com identificação
da micobactéria no caso de suspeita clfnica de doença por Mycobacterium kansasii
MNTBs. Na telerradiografia de tórax, é possfvel encontrar, A infecção por M. kansasii geralmente acomete homens de
em comparação com a TB pulmonar, lesão cavitária com meia-idade, mas pode ser encontrada em pacientes adultos
paredes mais finas e infiltrado associado discreto, menor de qualquer idade, raça ou gênero. Os fatores de risco para
disseminação broncogênica, porém maior disseminação por infecção por M. kansasii são pneumoconioses, DPOC, TB
conliguidade, além de maior reação pleural adjacente. prévia, fibrose pulmonar, doenças malignas e uso abusivo de
A outra forma de apresentação caracteriza-se pela pre- álcool. Todavia, a combi.n ação de infecção pelo vírus da imu -
sença de nódulos e infiltrado intersticial acometendo lobo nodeficiência humana (HIV) e silicose resulta em acentuada
médio e üngula, predominantemente em mulheres brancas, susceu'bilidade. A principal fonte do microrganismo é a água
magras, não fumantes, pós-menopausa e com alterações pos- de torneira, não tendo sido descrito isolamento a partir do
turais (escoliose e pecrus e.scavarwn) e/ou pro lapso mitral' solo.
Os sintomas nessa apresentação são tosse prolongada, A doença pulmonar causada por M. kansasii apresen-
mal-estar e fadiga Tal forma também é denominada doença ta grande semelhança com a TB. Os sintomas podem ser
bronquiectásica nodular. Na tomografia computadorizada vagos, o que pode dificultar o diagnóstico na presença de
de alta resolução (TCAR) de tórax, os achados são os se- doença pulmonar de base. As queixas mais frequentes são
guintes: múltiplos nódulos pulmonares periféricos, localiza- tosse, febre c adinamia. O achado radiográfico de lesão ca·
dos na árvore broncovaseular, e bronquiectasias cilíndricas. vitária em lobo superior não permite distinção de TB ou de
As bronquiectasias podem apresentar complicações não re- doença pulmonar por complexo M. avium, apesar de alguns
lacionadas com a micobacteriose, como infecções in específi- autores descreverem as paredes de tais lesões como mais fi.
cas por bactérias grarn-negativas.
nas, com a possfvel existência de um infiltrado perilesional
Finalmente, foi descrita uma sfndrome semelhante à
menos intenso na doença causada por M. kansasii também.
doença pulmonar de hipersensibilidade também associada
Recentemente, foi descrita uma forma de doença pulmonar
ao complexo M. avium. Os casos foram descritos pela pri-
semelhante à apresentação bronquiectásica do complexo M.
meira vez em spas, nos quais havia um conjunto de banheiras
avium.
de água quente e um sistema de ventilação especifico, mas
M. kansasii é a segunda causa mais comum de micobac-
já foi relatado um caso relacionado com o uso de chuveiro
teriose em pacientes com AIDS. Em contraste com a forma
doméstico. Há também descrições de outros casos associa-
disseminada pelo complexo M. avium, o comprometimento
dos à exposição ocupacional de metalúrgicos a Ouidos como
parafinas, óleo de pinha e hidrocarbonetos policíclicos aro- pulmonar é visto em 50% dos casos.
máticos.
Os pacientes costumam ser mais jovens do que os indi- Micobadérias de crescimento rápido:
víduos com as formas pulmonares clássicas, não fumantes,
e apresentam-se com dispneia, tosse e febre de instalação M. abscessus, M. fortuitum eM. chelonae
subaguda. Em alguns casos, pode haver hipoxemia e neces- D entre as micobactérias de crescimento rápido (grupo IV),
sidade de suporte ventilatório. Na telerradiografia de tórax M. absce.ssus, M. fortuilum eM. chelonae são as espécies as-
e na TCAR, existem anormalidades em todos os casos. Ob- sociadas ao adoecimento de seres humanos. In vilro, esses
serva-se a presença de infiltrado difuso com nódulos proe- microrganismos crescem em 3 a 10 dias, e a resposta imuno-
minentes. Além disso, a presença de lesão tipo vidro fosco é lógica desencadeada por eles pode ser dimórfica, com aspec-
frequente, assim como o padrão de mosaico na TCAR. tos de inOamações granulomatosas e piogênicas. As formas
Convém ressaltar ainda que o isolamento do complexo de apresentação são pulmonar, cutânea, subcutãnea e óssea.
M. aviwn em espécimes respiratórios de pacientes HN-po-
sitivos é uma questão particular. Geralmente, em pacientes
com anormalidades na telerradiografia de tórax, os critérios Mycobacterium abscessus
para decisão terapêutica devem ser os mesmos aplicados A maioria dos pacientes com doença pulmonar por M. abs-
aos imunocompetentes, mas com ênfase na exclusão de ou- cessus são mulheres brancas, não fumantes, com mais de 60
tros possfveis patógenos oportunistas como causadores da anos. Condições de base, que podem estar associadas, são as
doença pulmonar. A doença pulmonar isolada em pacien- seguintes: doença prévia por micobactéria e/ou bronquiecta-
tes HIV-positivos não é usual, mas pode apresentar-se como sias. Outras condições, mais raramente associadas à doença
doença localizada ou difusa e ainda na forma de doença en- pulmonar por M. absce.ssus, incluem distúrbios gastresofági-
dobrOnquica. cos, pneumonia lipoide e fibrose cística. Nos pacientes com
O risco do uso de bloqueadores do fator de necrose tu- essas condições, a manifestação do quadro pulmonar acon-
moral alfa (TNFa) para a infecção por MNTBs ou sua pro- tece mais cedo, em tomo dos 40 ou 50 anos. Os sintomas são
gressão para doença não são exatamente conhecidos ainda. semelhantes àqueles das outras MNTBs, especialmente do
Contudo, sugere-se que o uso de bloqueadores de TNFa, em complexo M. avium , incluindo tosse e fadiga.
Os achados radiográficos são de opacidades multiloba- QUADRO 39.4.1 ~ Critérios para o diagnóstico de micobacteriose
res, reticulonodulares ou mistas {alveolointersticiais), com atípica pulmonar
predomínio do comprometimento dos lobos superiores.
Cavidades são evidenciadas em apenas 15% dos casos. Na Critérios cllnicos (ambos necessários):
TCAR, podem ser visualizados múltiplos pequenos nódulos 1. Sintomas pulmonares, cavidades ou opacidades nodulares na
( <5 mm) e bronquiectasias cilíndricas. Ou seja, de forma telerradiografia de tórax, ou uma TCAR com a presença de
geral, o aspecto é bastante similar ao das bronquiectasias bronquiectasias multifocais com múltiplos pequenos nódulos
nodulares relacionadas com o complexo M. avium . De fato, associados E
em cerca de 15% dos pacientes há isolamento do complexo 2. Exclus~o apropriada de outros diagnósticos (p. ex. TB, c~ncer,
M. avium, além do isolamento deM. abscessus em amostras histoplasmose).
respiratórias, o que sugere uma estreita associação desses Critérios microbiológicos (pelo menos um deles):
microrganismos. 1. Culturas positivas de pelo menos duas amostras distintas de
escarro espont1neo OU
Mycobacterium fortuitum 2. Uma cultura positiva de escovado ou lavado brónquico OU
3. Uma biópsia pulmonar, transbr6nquica ou não, com achados
A doença pulmonar caus.ada por M. fortuitum é similar àque-
histopatológicos sugestivos de doença micobacte<iana (inftamaçio
la ocasionada por M. abscessus. Embora M. abscessus seja o
granulomatosa ou presença de bacilo ~lcool-ácido resistente -
responsável pela maioria dos casos de doença pulmonar cau- BAAR) e cultura positiva para MNTBs, ou biópsia com achados
sada por MNTBs de crescimento rápido, a exceção é forma- histo patológicos sugestivos de micobacteriose (inflamação
da pelos pacientes portadores de distúrbios gastresofágicos, granulomatosa ou presença de BAAR) e uma ou mais amostras de
nos quais ambas são isoladas com frequências iguais. escarro ou lavado br6nquico com culturas positivas para MNTBs.
Mycobacterium chelonae
As apresentações cünica e radiográfica são semelhantes
àquelas descritas para M. abscessus e M. fortuitum, mas ge-
Diagnóstico
ralmente é uma causa menos comum de doença pulmonar O diagnóstico de doença pulmonar por MNTBs é dificultado
do queM. abscessus. pela po55ibilidade frequente de contaminação das amostras
clinicas por essas micobactérias (p. ex., Myccóacurium gor-
donae, Mycobacterium simiae).
0 ATENÇÃO
Portanto, o diagnóstico de infecção por MNTBs deve
considerar aspectos cllnicos e microbiológicos. O Omsenso
O comprometimento pulmonar causado por MNTBs da American Thoracic Society (ATS) de 200i sugere crité-
pode apresentar um destes quatro padrões: lesao fi- rios para o diagnóstico da doença pulmonar, os quais estão
brocavitária, bronquiectasias nodulares, nódulo soli- descritos no QUADRO 39.4.1.
tário ou pneumonite de hipersensibilidade. Uma rotina diagnóstica para a suspeita clínica de doença
pulmonar por MNTBs é sugerida na FIGURA 39.4.1.
L
ea.idades visíveis
l
1
Cole"' de escarro espontaneo
1
TCAR dt tórax: altêraçõts
sugestivas
1
Duas culturas positivas com identifica~o Uma ou n~nhuma cultura positiva
d•MNT8
1
lnfc"' de torapêuti<il: considerar potogfnest
das MNTlls X nsco do tratamento
1
Nowl amostta de escarro ou
Broncoscopoa - lovadc(escovado e/ou
8>ópsla transbtônquico ou
8oópsla pulmonar
FIGURA 39.4.1 ~ Fluxograma para suspeita dlnica de doença pulmonar por MNTBs.
--~~-------------------------------------
Alguns aspectos merecem atenção para que seja obtido
maior rendimento diagnóstico na investigação de doenças
Tratamento
causadas por MNTBs: Pacientes que não preencham os critérios diagnósticos atuais
devem ser seguidos até confirmação ou exclusão do diagnós·
• A coleta de amostras deve evitar possíveis fontes de con· tico de doença por MNTBs, o que pode determinar o segui·
laminação, especialmente água de torneira. mento por meses ou anos sem tratamento específico. Por
• As amostras deverão ser encaminhadas em tubos esté·
outro lado, o estabelecimento do diagnóstico não determina
reis e sem fixadores.
obrigatoriamente o inicio do tratamento, porque a decisão
• Se a entrega das amostras demandar período superior
deve ser baseada na relação de risco de efeitos adversos e
a uma hora, deverá ser encaminhada refrigerada a 4•c.
beneficios do tratamento.
• 'Ihltamentos com macrolídeos e quinolonas podem com-
As MNTBs podem apresentar-se naturalmente resisten-
prometer o isolamento de MNTBs; portanto, se possíve~
tes aos fármacos utilizados para o tratamento da TB. Além
devem ser evitados durante a investigação diagnóstica
disso, para a maioria das espécies de MNTBs, não há vali·
laboratorial.
dação dos testes de suscetibilidade in vitro, tampouco uma
• A coleta de espécimes respiratórios deve ser feita prefe·
boa relação entre os resultados in vilro e a resposta clínica.
rencialmente pela manhã, em dias distintos.
• Na suspeita de doença pulmonar e na ausência de expec· Portanto, os testes de sensibilidade devem ser utilizados com
toração, a broncoscopia, com ou sem biópsia associada, cautela na decisão terapêutica.
poderá ser necessária. Cabe, então, ressaltar que a lim- De fato, no momento, em nível internacional, as reco-
peza dos broncoscópios deve ser feita sem a utilização de mendações terapêuticas são baseadas no relato de séries
água de torneira. de casos e considerando-se as premissas dos tratamentos
• A maior quantidade de material clinico possível deve ser do complexo M. avium e doM. kansasü, que são as espécies
enviada ao laboratório de mkobactérias, que deverá es- mais frequentemente isoladas, assim constituindo a maior
tar ciente da suspeita clínica e apto a realizar testes bio- parte dos casos descritos na literatura. Está contraindicada
qufmicos ou moleculares que pelo menos sejam capazes a monoterapia na abordagem terapêutica de MNTBs; então,
de distinguir o complexo M. tuberculosis das MNTBs. de forma geral são utilizados esquemas com no mfnimo dois
• Dentre as técnicas de biologia molecular, as sondas ge· fármacos, para os quais o patógeno seja sensível, a fim de se
néticas comercializadas para o complexo M. avium, M. prevenir a seleção de resistentes.
kansasii e M. gordonae podem ser úteis para a rápida Geralmente a tomada de medicamentos deve ser diária,
identificação dessas espécies de MNTBs, apesar da exis· e a cultura tende a negativar em 6 a 12 meses. O tratamento
tência de escassos estudos sobre sua reprodutibilidade deve ser mantido por, no mfnírno, 12 meses após a negativa·
e/ou custo-efetividade em diferentes cenários clinico· ção da cultura. Dessa forma, o tratamento medicamentoso
-epidentiológicos, nos países em desenvolvimento. Outras dura em média de 18 a 24 meses.6
técnicas, disponibilizadas em laboratórios de pesquisa ou Recidivas são comuns e podem não estar relacionadas
de referência, como o sequenciamcnto do ácido desoxir· com o resultado do teste de sensibilidade. A falência do tra·
ribonucleico (DNA), a reação em cadeia da polimerase lamento ocorre mais frequentemente em pacientes que flze.
(PCR) com a análise de restrição da endonuclease (PRA), ram uso irregular dos medicamentos ou uso de esquema ina-
podem ser utilizadas para auxilio da identificação das es- propriado, como macrolldeos em associação com quinolona.
pécies assumindo as restrições recém-mencionadas. Como o resultado do tratamento nas recidivas tem menor
eficácia, nos casos de lesão pulmonar focal, sem resposta cli·
nica e bacteriológica nos primeiros seis meses, deve-se ava-
Como diferenciar doença de isolamento de MNTBs liar a possibilidade de terapêutica cirúrgica, antes da piora
do quadro clinicorradiológico.
por contaminação ou colonização?
-+ Deve-se considerar número de amostras positivas
e sua natureza (escarro. lavado. biópsia). potencial
patog~nico da espéde micobacteriana isolada e ca-
racterlsticas dlnicas e radiológicas do paciente, bem
como o seu padrão de progressão.
-+ Os portadores de librose clstica devem ser avaliados,
ao menos uma vez ao ano, quanto ~ presença de in·
lecçlo por MNTBs. Caso sejam candidatos ao uso de
macrolldeos, devem ser investigados antes c perio·
dicamente durante o seu uso para que seja afastada
onlecçlo por MNTBs. Além disso, se houver agrava·
mento clinico da doença de base, sem resposta ao
tratamento para pat6genos que n6o as MNTBs, deve
ser consoderada a pesquisa de MNTBs em espédme
resporatório, tanto em adultos como em crianças.
PROGNÓSTICO Pergunta: Esta paciente deve ser tratada?
Resposta: Sim, porque os achados cl!nicos e radiológicos
Complexo Mycobacterium avium são compatíveis com doença pulmonar por M. avium, e
• Doença fibrocavitária: essa forma, se não tratada, apresen- duas amostras distintas de escarro foram positivas. O tra-
ta uma evolução progressiva em 1 a 2 anos, com destruição tamento deve ser mantido por 12 meses após negativação
do parenquima pulmonar e insuficiência respiratória. da cultura.
• Doença bronquiectãsica nodular: apresenta uma evolu-
ção lenta, mas existem relatos de óbitos associados a ela.
• Pneumonite de hipersensibilidade: evolução subaguda, Situação 2
podendo haver hipoxemia e necessidade de suporte ven- Paciente masculino, 55 anos, fumante, com tosse, febre e
tilatório. adinamia. Passado de TB pulmonar com alta por cura. Te-
lerradiografia de tórax com lesão cavitária em lobo superior
direito de paredes finas e discreto infiltrado perilesional.
Mycobacterium kansasii Exames do escarro espontâneo: cultura negativa.
A história natural da doença pulmonar por M. kansasii não
tratada é de progressão cllnica e radiológica. Pergunta: Como proceder?
Conduta: Devido à sintomatologia presente, prosseguir com
Mycobacterium abscessus a coleta de espécime respiratório por broncoscopia, com en-
A história natural da doença em pacientes sem condições vio de material para cultura c teste de identificação de espé-
associadas é indolente, mas lentamente progressiva. Nos de- cie para diagnóstico diferencial entre TB e micobacteriosc
mais pacientes, sobretudo naqueles com distúrbio gastreso- atípica.
fágico e com fibrose clstica, a evolução pode ser fulminante.
Simplificar o ttatamento da TB
Novos fármacos para o tratamento da
Permitir a administração concomitante com outros medicamentos
tuberculose doença ativa anti·TB
1•·113o!!" l@ílo)
Nitroimidazol PA-824 Inibição da síntese Ensaio de EBA já Sem resistência cruzada Risco de toxicidade peta
da parede celular realizado. Estudo de fase com os fármacos atuais. longa vida tecidual.
micobacteriana llb sendo implementado Pode aumentar a eficácia Suscetível a interação
para TB sensível e TBMR dos esquemas para com a rifampidna.
TBMR e tem pouca Possibilidade de
probabilidade de interagir resistência
com outros fármacos
Nitroimidazol OPC-67683 Inibição da síntese Ensaio de EBA já Sem resistência cruzada A dose ideal ainda não foi
da parede celular realizado. Estudo de fase com os fármacos atuais. determinada. As reações
micobacteriana llb sendo implementado Pode aumentar a eficácia adversas bem como as
para TB sensível e TBMR dos esquemas para possíveis interações com
TBMR e tem pouca outros medicamentos
probabilidade de interagir ainda são pouco ou nada
com outros fármacos conhecidas
Fluoroquinolonas Inibição da ADN girase Ensaios de fase llb Já são produzidas e têm Parece que está
micobacteriana para TB sensível em comprovada capacidade ocorrendo um aumento
andamento esterilizante na taxa de resistência em
alguns locais.
Ausência de dados sobre
a segurança em crianças e
mulheres grávidas
Diarilquinolina-TMC 207 Inibição da enzima ATP- Estudos de EBA já Sem resistência cruzada A longa meia-vida
sintase micobacteriana realizados e de fase com os fármacos atuais. tecidual traz dúvidas
11 para TBMR em Pode aumentar a eficácia sobre toxiddade. Parece
andamento dos esquemas para TBMR ter interação com
rifampicina e agentes
antirretrovirais
Rifampicina em dose Inibição do ARN Ensaios de EBA já Já produzidas e de Sem atividade contra
ajustada/rifapentina polimerase (rpoB gene) realizados. Estudos de fácil distribuição. TBMR, e é possível que
micobacteriano fase llb em andamento Provavelmente poderão tenha interação com
para TB sensível ser usadas em crianças outros medicamentos
e mulheres grávidas.
Em modelos murinos, a
rifapentina tem maior
capacidade esterilizante
do que a rifampicina
EBA • atividade bactericida preco<e; ARN • ácido ribonucle;co; ADN • acido desoxirribonucle;co; TB • tuberwlose; MR • multirresistente (resistente à isoniazida e à rifam·
picina).
por dia.5 No momento, um ensaio clínico de fase llb está em dois meses entre pacientes portadores de TB com coinfecção
andamento na África do Sul comparando a atividade bacte- pelo vírus da imunodeficiência humana {HIV) não encon-
riana estendida do esquema habitual (RHZE) com vários es- trou diferença estatisticamente significativa." No entanto, as
quemas terapêuticos experimentais, incluindo o PA-824 as- taxas de conversão da cultura ao final de dois meses foram
sociado a outros fármacos como a moillloxacina (M) e a Z. excepcionalmente altas neste estudo (97%), diminuindo a
O OPC-67683 é um composto potente in vitro contra M capacidade de detectar uma diferença na taxa de conversão
tuberculosis. Sua MIC contra a estirpe H37Rv é de 0,012 mg/ devido ao uso de levofloxacina.
mL, e sua atividade é semelhante contra uma gama de cepas Dois estudos publicados em 2004, avaliando a capacida-
de TB multirresistentes (MR).6 No momento, dois ensaios de de esterilização de diferentes tratamentos nos pulmões de
cl!nicos de fase II para pacientes portadores de TBMR utili- modelos murinos, demonstraram que esquemas terapêuticos
zando OPC67683 estão em andamento. contendo M - RMZ e RHZM -tinham maior atividade es-
Nem o PA-824 nem o OPC67683 parecem ter interações terilizante do que o esquema RHZ (p < 0,001 ), sugerindo
significativas com o sistema citocromo P450. Ambos têm fortemente o potencial para redução do tempo de tratamen-
1
boa biodísponibilidade oral e propriedades farmacocinéticas to da associação da M ao esquema anti-TB. s.16 Esses estudos
consistentes com administração uma vez ao dia. pré-clínicos foram a base cientifica para três estudos clíni-
cos de fase llb: o estudo Moxi Rio, financiado pelo Food
and Drug Administration (Rio/FDA) dos Estados Unidos,
Fluoroquinolonas o estudo 27 do Thberculosis Trial Consortium (TBTC) do
Centers for Disease Control and Prevention (CO C) e o es-
As fluoroquinolonas são uma classe de compostos que têm tudo 28 do TBTC. 11' 17' 18 Conforme pode ser visto no QUADRO
sido usados contra infecções bacterianas desde 1980. Além 39.5.3, no estudo Rio/FDA, o braço utilizando o esquema
de sua excelente atividade contra uma variedade de diferen- RHZM teve a conversão de cultura deM. tuberculosis de po-
tes tipos de bactérias, as fluoroquinolonas são ativas contra a sitiva para negativa em mais pacientes e mais precocemente
1 17
maioria das linhagens deM.tuberculosis. do que o braço usando o tratamento-padrão (RHZE).
Um estudo comparando RH e ciprofloxacina (cipro) Com relação à segurança, todos os estudos mostraram
com o esquema anti-TB padrão mostrou que a cultura per- que o uso das fluoroquinolonas foi seguro - e mesmo a náu-
maneceu positiva paraM. tuberculosis por um período de sea, a reação adversa previamente mais associada ao uso de
tempo maior no braço cipro e que houve uma tendência fluoroquinolonas (em especial entre os pacientes tratados
maior para recidiva nesses pacientes, sugerindo menor ca- com moillloxacina), raras vezes resultou em descontinuação
pacidade de esterilização no esquema RH-cipro do que no do tratamento.
esquema-padrão.8
Outro estudo avaliou a eficácia da ofloxacina (O) 300 mg
(em 10 pacientes) ou 800 mg (em 10 doentes) em associação
com medicamentos anti-TB de segunda linha no tratamento
de pacientes com TBMR.9 Os achados demonstraram exce-
lente tolerância aos fármacos e uma taxa de conversão de
cultura mais rápida no grupo O 800 mg do que no grupo O
300 mg. Outra pesquisa avaliou diferentes esquemas de tra-
tamento da TB com duração de 4 e 5 meses. 10 Nesse estudo,
os pacientes tratados com 3RHZO, seguido de RH duas ve-
zes por semana, durante 1 ou 2 meses, tiveram taxas de cura
de 92 a 98%. Uma limitação desse estudo foi a não inclusão
de um braço-controle com o esquema anti-TB usual.
Estudos avaliando a eficácia e a segurança de esquemas
contendo O para o tratamento da TB em p,acientes com
1
doença hepática também foram realizados.2. No primeiro
estudo, 26% dos pacientes com doença hepática subjacente Diarilquinolina·TMC 207
que usaram o esquema 2RHE/7RH desenvolveram hepato-
xicidade em comparação com nenhum dos que utilizaram o O T MC207 é um novo medicamento com atividade demons-
esquema 2HZE0/10HEO (p = 0,04). Os achados sugeriram trada in vitro contra ce/'.as sensíveis e contra cepas resisten-
que o esquema contendo O foi menos hepatotóxico e tão tes doM. tubercu/osis. 1 Um estudo com cobaias demonstrou
12 que, embora a concentração sérica de TMC 207 tenha se
eficaz quanto o esquema contendo R. Outro estudo des-
creveu o desfecho do tratamento de pacientes com lesão he- reduzido em 50% quando administrado com rifampicina,
pática (induzida por fármacos ou não) utilizando o esquema uma boa atividade antimicobacteriana se mantém.lO Estudos
com estreptomicina, E e O por três meses seguido de EO por clínicos de EBA confirmaram a atividade em cepas sensíveis
nove meses sob condições de rotina. u O estudo concluiu que e multirresistentes em humanos?.%! Com base nos achados
o esquema foi bem tolerado e teve boa efetividade (85%). u atuais e embora ainda não esteja bem claro o impacto da
Um ensaio clínico randomizado avaliando o efeito da le- longa meia-vida sérica e nem estejam disponíveis os dados
voOoxacina sobre as taxas de conversão de cultura ao fmal de de segurança e tolerabilidade a longo prazo, é provável que
QUADRO 39.5.3 7 Estudos com moxifloxacina
fiill.}.fJ)
Fase
Intervenção** RHZM vs. RHZE RMZE vs. RHZE RHZM vs. RHZE
Centros de pesquisa Estados Unidos, Canadá Estados Unidos, Canadá, Brasil e Brasil
África
Desfecho (endpoint) Cultura na oitava semana Cultura na oitava semana Cultura na oitava semana
primário Tolerabilidade Tolerabilidade Tolerabilidade
Segurança Segurança Segurança
Resultado A diferença na taxa de conversão A diferença na taxa de conversão (5%) A diferença na taxa de conversão
(4,3%) não foi estatisticamente não foi estatisticamente significativa (17%) foi estatisticamente
significativa Bem tolerada significativa (p =0.02)
Bem tolerada O tempo mediano para convefSão
da cultura foi de 36 dias no
braço experimental vs. 42 dias no
tratamento habitual (p =0,03)
o TMC 207 venha a desempenhar um importante papel no ciados ou em andamento no momento para avaliar a ativida-
futuro do tratamento dos pacientes com TBMR, bem como de e a tolerabilidade de doses diárias elevadas de R e/ou P
nos seus contatos infectados. Além disso, apesar da intera- em associação com outros fámacos anti-TB como a H e a M.
ção entre o TMC 207 e a rifampicina, não se pode descartar No QUADRO 39.5.4, os principais estudos em andamento são
a possibilidade de que este fármaco venha a ter utilidade no resumidamente apresentados.
tratamento de pacientes com TB sensível.
Desfecho (endpoint) Cultura na oitava semana Cultura na oitava semana Cultura na oitava semana
primário Tolerabilidade Tolerabilidade Tolerabilidade
Farmacocinética Farmacocinética Farmacocinética
P• rifapentina; H • isoniazida; Z • pirazinamida; E• etambutol; R• rifampicina; M • moxifloxadna; número a.p6s a letra • dose por mg/pesoldia (p. ex.• P10 • rifapentina
na dose de 10 m!jlk!Vdia); númerosapós a sigla do tratamento • núme<o de dias de tratamento (p. ex.. 517• medicamento administrado cinco dias porsemana).
Recentemente, o PREVENT TB Study (estudo 26 do PA-824 in smcar-positive rubcrculosis paticnts. Antimicrob Agents
TBTC/CDC), que avaliou a eficácia e a tolerabilidade do and Chemother. 2010;54(8):3402-7.
esquema com rifapentina/isoniazida (3PH) em uma base se- 6. Matsumoto M, Hashizume H, Thmishige 1; Kawasaki M, Thubou-
manal por três meses versus isoniazida {9H) diária por nove chi H, Sasaki H, et ai. OPC-67683, a nitro-dihydro-imidazooxazolc
meses para o tratamento da TBIL foi concluído. Esse estudo derivative with promising action against tuberculosis in vitro and in
avaliou mais de 8.000 casos de TBIL em um ensaio clínico mice. PLoS Med. 2006;3(11 ):e466.
de não inferioridade, multicêntrico, que envolveu Estados
7. Gosling RD, Uiso LO, Sam NE, Bongard E, Kanduma EG,
Unidos, canadá e Brasil e deverá ter seus dados publicados
Nyindo M, et ai. Thc bacterial activity of moxifloxacin in pa-
ainda em 2011. A conclusão do estudo é que no braço que
tients with pulmonary tuberculosis. Am J Respir Crit Care Med.
utilizou 3PH a taxa de incidência de TB doença ativa foi se- 2003;168(11 ):1342-5.
melhante à do braço que utilizou 9H e que o esquema expe-
rimental apresentou maior taxa de conclusão do tratamento 8. Kennedy N, Fox R, Kisyombe GM, Saruni AO, Uiso LO, Ramsay
e, portanto, pode ser uma importante ferramenta para auxi- AR, et ai. Early bactericida! and stcrilizing activities of ciproOoxa-
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40
ttD [8 ATENÇÃO
Micoses Pulmonares Primárias- ---
As micoses :sistêmicas são blastomicose, coccidíoi-
Cecilia Bittencourt Severo domicose, criptococose gattii, histoplasmose e para-
Flávio de Mattos Oliveira coccidioidomicose.
Luiz Carlos Severo
Manifestações clínicas
Na blastomicose, a infecção pulmonar primária tem curso
Em imunocompetentes, nos quais a ocorrência de C.
assintomãtico/sintomático autolimitado. A doença pulmonar
gattii é mais frequente, o comprometimento do sistema
crônica pode evoluir insidiosamente com ou sem manifesta-
nervoso central (SNC) pode se apresentar como uma me-
ções ext.rapulmonares. ningite mais prolongada e com resposta inflamatória mais
A coccidioidomicose tem amplo espectro de manifes-
intensa, com criptococomas e hidrocefalia no exame de
tações clfnicas, variando desde síndrome tipo influenza até imagem, quando comparado à infecção pelo Cryptococcus
quadro tfpico de pneumonia, com escarro purulento, e às neoformans. No Cryptococcus com cápsula íntegra, as carac-
vezes com raias de sangue. As lesões pulmonares podem ser terísticas micromorfológicas sáo diferenciadas e o diagnósti-
classificadas em quatro tipos principais: broncopneumonia, co é único. No fungo deficiente de cápsula, as características
cavidades, nódulos e adenopatias hilarcs. O achado radio- histológicas são bastante inespecíficas, encontrando-se em
lógico mais comum é o infiltrado pulmonar segmentar, com outras doenças de origem infecciosa. O Cryptococcus sem
adenopatias hilares e/ou pequeno derrame pleural em 20% cápsula pode ser confundido com H. capsulatum, esférulas
dos casos. imaturas de Coccidioides, formas pequenas de 8. dermatitidis
A criptococose gauii está associada a indivíduos imuno- e Paracoccidioides, Candida glabarala e Sporolhrix schenkii.
competentes que têm massas inflamatórias significativas e Nesses casos, a coloração histoquímica especial (Fontana-
comumente produz sequela neurológica que exige cirurgia -Masson) diferencia o Cryptococcus das outras leveduras.
e terapia antifúngjca prolongada. Entretanto, a eriptococosc Na histoplasmose capsulati, a apresentação clinicor-
por C. gattii por vezes ocorre em pacientes imunodeprimidos, radiológica é similar à de tuberculose, adiaspiromicose
incluindo aqueles com AIDS, como micose oportunfstica. e sarcoidose. A diferenciação em cortes histológicos do
H capsulatum de Leishmanifl e Toxoplasma é feita pela colo- As esférulas do Coccidioides variam bastante em tama-
ração de Grocott, pois os dois últimos não coram. nho (10 a 200 JLm): algumas podem conter endósporos, ou-
tras podem estar vazias (TABELA 40.1 .1). Os endósporos lem-
bram H. capsulatum, porém sem brotamento (FIGURA 40.1.1E).
~ATENÇÃO Na criptococose gattii, a identificação histopatológica
é realizada pelas técnicas histoquímicas básicas - H&E e
GMS- e especiais- Mucicarmin de Mayer (MM) e Fonta-
A paracoccidioidomicose frequentemente é confun-
na-Masson (FM). A criptococose pode ser dividida em duas
dida com tuberculose. e a associação entre as duas
categorias histológicas, reativa e paucirreativa, com base nas
infecções ocorre em 4 a 10% dos casos; pode simular
reações teciduais do hospedeiro, e reveladas ao exame com
ainda histoplasmose, sarcoidose e carcinoma brôn-
H&E (TABELA 40.1.1).
quico. As lesões cutâneas simulam histoplasmose
No padrão reativo, existe a presença de resposta inflama-
capsulati e leishmaniose.
tória granulomatosa composta por histiócitos, células gigan-
tes multinucleadas e infiltração linfocitária; as leveduras são
primariamente intracelulares.
Já no padrão paucirreativo, a resposta inflamatória é
Achados histopatológicos mínima ou ausente; há presença de numerosas leveduras
esféricas e/ou ovais medindo 2 a 20 JLm de diâmetro, circun-
A blastomicose tem tropismo tecidual por pulmão, pele e
dadas por halo claro e dispostas extracelularmente (FIGURA
ossos. Em geral, nos cortes histológicos, evidencia-se reação 40.1.1C).
mista supurativa (precoce) e granulomatosa (tardia). Células A coloração de GMS revela características morfológicas
gigantes costumam estar presentes, algumas contendo ele- como parede celular e brotamentos, além de evidenciar ha-
mentos fúngicos. O B. dermatitidis apresenta-se nos tecidos los claros perinucleares circundantes aos microrganismos. A
como leveduras grandes (8 a 15 JLm de diâmetro, variação de coloração de MM é considerada um método específico para
2 a 30 JLm), com parede dupla e ligação de base larga (TABELA visualização da estrutura mucopolissacarídica capsular de
40.1.1). Pode ser visto em cortes corados por bematoxilina- Cryptococcus. A coloração de FM evidencia a melanina pre-
-eosina (H&E), porém é mais facilmente demonstrado pela sente na parede celular fúngica, sendo alternativa para casos
técnica da prata metanamina, método de Gomori-Grocott de infecções por organismos deficientes de cápsula.
(GMS) (FIGURA 40.1.1A). Foram observadas em pacientes com Na histoplasmose capsulati, o tropismo tecidual é por
AIDS células leveduriformes polimórficas, leveduras peque- pulmão, linfonodos, fígado, baço e medula óssea. A reação
nas e hifas. tecidual usual é o granuloma, com ou sem necrose caseosa
Na coccidioidomicose, o tropismo tecidual é por pulmão, (TABELA 40.1.1). Os achados característicos do H. capsulatum
pele, linfonodos, ossos e SNC. A reação tecidual costuma ser var. capsu/atum no espécime clinico são células levedurifor-
mista: supurativa (precoce) e granulomatosa (tardia). Oca- mes pequenas (2 a 5 JLm), ovaladas, unibrotantes, com base
sionalmente ocorrem fibrose e calcificações. estreita (FIGURA40.1.1D); frequentemente estão agrupadas no
l--
81astomicose, Blastomyces
dermatitidis
,i"'
8-15 pm
i.
Cocddioidomicose, 10-200 jlm Esférula com endósporos Granulomatosa, necrose caseosa; pulmáo, pele, 40.1.1 E
Coccidioides immitis e linfonodos, ossos e sistema nervoso central
Coccidioides posadasii
Histoplasmose, Oval, unibrotante com base Granulo ma tuberculoide com necrose caseosa; pulmão, 40.1.1 O
Histoplasma capsulatum estreita linfonodos, fígado, baço e medula óssea
Paracoccidíoidomicose, S-20pm Polimórfico, multibrotante Mista supurativa e granulomatosa; pulmão, suprarrenal, 40.1.18
Paracoccidioides transíçáo mucocutânea, músculo estriado, tecido
brasiliensis e P. lutzii linfoide e zonas mais frias do corpo
..
. loil . '-
".
..... . ""· • ••
...
..'"' ·g
..
~
.,.,._......
"
FIGURA 40.1.1 ~ (A) Elementos lew!duriformes grandes, parede dupla, compatfveis com Blastomyces sp. (combinado H&E e GMS, 40x). (B) Elemen·
tos leveduriformes multibrotantes, compatíveis com Paracoccidioides sp. (GMS, 20x). (C) Elementos leveduriformes arredondados, circundados por
um halo, compatíveis com Cryptococcus sp. (Giemsa, 40x). (O) Presença de elementos leveduriformes pequenos, ovalados, compatíveis com Histo·
plasma capsulatum (GMS, 40x). (E) Esférula contendo endósporos em seu interior, compatível com Coccidioides sp. (GMS, 40x).
•
exigir tratamento inicial com anfotericina B e manutenção
com itraconazol (TABELA 40.1.2). Nos pacientes que tiverem
tuberculose associada, no momento do uso de rüampicina,
deve ser usado sulfametoxazol-trimetoprim, pela incompati-
bilidade do itraconazol com a rifampicina.
Micoses Pulmonares Oportunísticas
Cecília Bittencourt Severo
Flávio de Mattos Oliveira
Leituras recomendadas Luiz Ca~os Severo
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coccidioides species complex. BMC Gcnomics. 2010;11:130. Aspergilose
Oliveira FM, Severo CB, Guauelli LS, Severo LC. Cryptococcus Na aspergilose, os microrganismos do gêneroAspergillus são
gattii fungemia: report f a case with lung and brain lcsions mimi- ubíquos e comumente encontrados no solo, na água, em ma-
cking radiological features of malignancy. Rcv lnst Med Th>p São terial orgãnico e vegetação em decomposição. As principais
Paulo. 2007;49(4):263-5. espécies implicadas em casos de aspergiloses são Aspergillus
Pappas PG. Blastomyeosis. Semin Respir Crit Cate Med. fumigatus, Aspergillus flavus e Aspergillus niger, esta última
2004;25(2):113-21. sobretudo em pacientes diabéticos.
QUADRO 40.2.1 ~ Diagnóstico tecidual das micoses pulmonares oportunísticas
1J!tl1·1·431·lll-\!,
Aspergilose Hifa hialina (3 a 51Jm), septada, ramificada dicotomicamente; Necrose supurativa; tropismo vascular
conidióforos em lesões escavadas
Candidose 8lastoconfdios, pseudo·hifas e hifas hialinas (5 a 7IJm) Supurativa, menos comum granulomatosa; tropismo renal
Criptococose Leveduras (8 a 10 11m), cápsula gelatinosa, carminofílica; Ausência de reação (lesões cisticas); granulomatosa em
blastoconídios de base delgada leveduras sem cápsula; neurotropismo
Pneumocistose Elementos fímgicos ovalados (4 a 61Jm), não brotantes com Exsudato espumoso alveolar e infiltrado intersticial,
ponto escuro central (coloração de GMS) raramente granuloma
Scedosporiose Hifa (3 a 51Jm), hialina em coloraçáo de hematoxilina e Necrose supu rativa; tropismo vascular
eosina (H&E) e escura em Fontana·Masson; aneloconídios,
especialmente em lesões escavadas
Mucormicose Hifa hialina, larga (6 a 251Jm), irregular, ramificações aleatórias Necrose supurativa; marcado tropismo vascular
INt!D)•I,~
Aspergilose
Criptococose
Candidose
Na candidose, a pneumonia por Candida continua sendo uma
entidade pouco conhecida, independentemente de a candido-
se invasiva ser a causa frequente de infecção nosocomial. As
espécies do gênero Candida são confinadas aos reservatórios
humano e animal, embora tenham sido isoladas do solo, de
alimentos e do ambiente hospitalar. C. a/bicans é o principal O microrganismo e seu ciclo vital continuam pouco en-
agente, seguido de Candida tropicalis e Candida paropsilosis. tendidos. Existem dúvidas sobre partieulas infectantes e ni-
Os fatores de risco para candidosc incluem neutropenia cho ecológico ambiental. Contudo, estudos experimentais
grave, hospitalização prolongada, antibioticoterapia múl- mostraram que o P. jirovecii é transmitido por via aérea e tem
tipla, cateter venoso central, corticoterapia e alimentação porta de entrada pulmonar.
parenteral. A pneumonia por P. jirovecii emergiu no infcio dos anos de
1980: evoluiu de uma entidade clínica incomum, vista raramen-
te apenas em pacientes imunodeprimidos, para a mais frequen·
Criptococose neoformans te infecção oportunista pulmonar nos pacientes com AIDS.
Cryptococcus neoformans (teleomorfo: Filobasidiella
neofonnans) é um basidiomiceto encapsulado de duas va-
riedades: C. neofonnans var. grubii e C. neoforiiUins var.
Scedosporiose
neofonnans. O Scedosporium apiospennum (teleomorfo: Pseudal/eschereia
Os pacientes com risoo para criptooooosc ncoformans são boydii) e o Scedosporium prolijicans são hifomicetos oportu-
deficientes de células T, portadores de Hodgkin, transplanta- nistas típicos, em geral adquiridos por traumatismo ou ina-
dos e com slndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). lação. O Scedosporium é fungo habitante normal da água e
do solo, amplamente distribuído na natureza. Esse fungo
emergiu oomo novo agente de pneumonia oportunística em
Hialo-hifomicose indMduos que aspiram água poluída.
Fusarium é o principal agente de bialo·hifomioose. É saprófita A scedosporiose disseminada é uma importante com-
do solo e frequentemente fitopatógeno. Entre as mais de 50 plicação na imunossupressão, sobretudo na granulocito-
espécies, é marcante o parasitismo humano com Fusarium so- penia.
loni. A incidência de hialo-bifomicose no ser humano não está
clara. Contudo, a bialo-bifomioosc emergiu nos últimos tem-
pos nos hospitais terciários de tratamento para câncer como Mucormicose
a segunda causa de micosc invasiva por fungos filamentosos. A mucormicosc é uma infecção fúngica rara, porém a mais
fulminante (infrequentemente diagnosticada antemortem).
Um espectro crescente de zigomicetos patogênicos tem sido
Feo·hifomicose descrito como causa de mucormicose em humanos. Predo·
Na feo-bifomicose, os principais agentes são Bipolaris minam os membros da ordem dos Mucoroles, mas infecções
spicifero, Cladophialophora bantiana, Exophiala jeanse/mei, profundas pelo gênero EntoiiUiphtom/es têm sido relatadas.
Phialophoro pamsitica e CuNularia lunata. Contudo, qual- Os microrganismos que mais causam mucormicosc per-
quer fungo demácio (que possui melanina), habitante co- tencem aos gêneros Rhizopus, Absidia e Mucor. Infecções pelo
mum do solo, pode ocasionar doença, especialmente em gênero Rhizopus são provavelmente mais comuns, com RJtizo.
hospedeiros imunodeprimidos. É uma infecção rara que en- pus oryzae sendo o mais agressivo. Outros menos frequentes
volve pele, tecido subcutâneo, seios da face, pulmões, ossos são Rhizomucor pusillus, Cunninghamella bettholletiae, Mucor
e sistema nervoso central. indicus e Absidia corymbifera.
Os fungos são filamentosos, ubíquos na natureza, habi- Feo-hifomicose
tando saprobioticamente solo, matéria em decomposição,
A infecção costuma ser lentamente progressiva. As manifes-
pão e poeira. Devido à sua veiculação dos esporangiosporos
tações pulmonares incluem febre, tosse seca e hemoptise;
no ar ambiente, pulmões e seios da face são os sítios primá- nos achados radiológicos, observam-se infutrados, consoli-
rios de infecção.
dação e derrame pleural.
Os fatores de risco para a doença pulmonar incluem dia-
Em pacientes atópicos, achados clínicos e radiológicos
bete melito não controlado, linfoma, leucemia, neutropenia
indistinguíveis da ABPA (eosinofilia periférica e elevação
grave, transplante de órgãos, AIDS, corticoterapia e trata·
menta com deferoxamina. Ocasionalmente, pessoas hígidas dos níveis de IgE) foram registrados em pacientes com infec·
podem ser infectadas. ção por fungos dematiáceos.
Pneumocistose
Manifestações clínicas A pneumocistose apresenta-se com febre, tosse, dispneia,
calafrios e dor torácica. Infiltrado pulmonar misto, intersti-
Aspergilose cial e alveolar é o achado radiológico clássion, embora várias
A aspergilose é doença espectral, de curso clinico variável manifestações torácicas tenham sido descritas: radiografia
com o hospedeiro. A AIA frequentemente é caracterizada normal, infiltrados nodulares, cavilação, bolhas de enfisema,
por dor ventilatório-dependente, hemoptise e febre, com pneumotórax e derrame pleural.
infiltrado pulmonar que não responde a antibiótico de am-
plo espectro, com subsequente escavação. A APNC é ma·
nifestada por tosse, febre, suores noturnos, emagrecimento Scedosporiose
e anemia. Na CIPA, predominam a tosse produtiva crônica O espectro das manifestações clínicas é similar - em ter-
e a hemoptise de repetição. Na ABPA, o paciente costuma mos de variedade c gravidade - ao da doença causada por
ser asmático (atópico com eosinofilia) de difícil controle, Aspergillus, exceto pela predominância de micctoma devido
com dispneia, tosse, expectoração purulenta (eosinoffiica) e à penetração traumática dos elementos fúng.icos, através da
moldes brônquicos, podendo evoluir de maneira grave para pele, no tecido subcutâneo.
um quadro supurativo com bronquiectasias e/ou para fibrose Nos pulmões, após a inalação dos conídios, podem ocor-
pulmonar- na situação de asma simples, o fungo faz o papel rer três manifestações clínicas: doença broncopulmonar
de um simples alergênico. alérgica, colonização intracavitária e doença invasiva.
Candidose Mucormicose
A candidose pulmonar hemática (pneumonia secundária) As infecções clfnicas geralmente cursam em hospedeiros
é complicação de candidose disseminada, sobremaneira no imunocomprometidos e manifestam-se por doença nasofa-
paciente granulocitopênico. A broncopneumonia de aspira- ríngea, pulmonar ou disseminada. A mucormicose do trato
ção (pneumonia primária) ocorre mais frequentemente em respiratório é relatada mais em neutropênicos com leuce·
neonatos e em hospedeiros debilitados. mia, linfoma e corticoterapia.
O aspecto radiológico depende da via de disseminação:
a pneumonia secundária apresenta-se à radiografia de tórax
como infiltrado pulmonar nodular difuso; já a pneumonia
primária, como consolidações peribrônquicas.
Criptococose neoformans
A criptococose neoformans apresenta-se na maioria dos
casos como doença disseminada, tendo o fungo um mar-
cante tropismo pelo sistema nervoso central. Na espécie C.
neoformans, predomina meningite ou meningoencefalite em
paciente com radiografia torácica aparentemente normal.
Hialo·hifomicose
A manifestação clínica da híalo-hifomicose invasiva é ines-
peclfica, e o estado imunológico do hospedeiro desempenha Diagnóstico diferencial
papel crucial na gravidade da doença. No hospedeiro nor-
mal, a doença é tipicamente localizada, por exemplo na pele Aspergilose
ou nos olhos. Na doença invasiva, febre persistente que não Na aspergilose, a doença invasiva tem aspectos clínicos e ra-
responde aos antibióticos de amplo espectro é a principal diológicos semelhantes aos de feo-hifomionse, mucormicose,
característica. hialo-hifomicose e scedosporiose. A APNC lembra tubercu-
lose, e a ABPA é indistinguível, clínica e radiologicamente, lar Aspergillus e Scedosporium . A presença de microconidios
de outras doenças fúngicas broncopul.monares alérgicas. septados faz a diferença (FIGURA 40.2.1E).
Nos cortes histológicos de casos de aspergilose invasi-
va, as hifas devem ser diferenciadas dos agentes de hialo-
·hifomicose e de sccdosporiose. Nas colonizações intraca- Feo·hifomicose
vitárias, os conidióforos aspergilares e os aneloconldios do Na infecção invasiva, os aspectos clínicos e radiológicos são
Scedosporium permitem tal diferenciação quando não foi indistinguíveis de aspergilose, hialo-hifomicose, mucormi-
possível isolar o agente em cultivo. cose e scedosporiose. A feo -hifomicose broncopulmonar
alérgica deve ser considerada no diagnóstico diferencial de
ABPA, em queAspergillus foi excluído.
Candidose
A candidose pulmonar deve fazer parte do diagnóstico di·
ferencial de infecções bacterianas de aspiração e hemáticas. Pneumocistose
Na diferenciação laboratorial de criptococose, é necessário O envolvimento pulmonar na pneumocistose costuma ser
procurar cápsula, testar urease e produção de melanina (fe- bilateral, difusamente distribuído pelos pulmões. Contu·
noloxidose) em ágar Staib. do, R jirovecii pode ocasionar lesões focais, restritas aos
lobos superiores, nodulares ou cavitárias, simulando tu-
berculose.
Criptococose neoformans
0 ATENÇÃO Scedosporiose
A scedosporiose deve ser incluída no espectro de infecções
A criptococose muitas vezes é diagnosticada equivo- pulmonares oportunlsticas graves, atualmente em expansão.
cadamente como neoplasia, sarcoidose, tuberculose Como tanto Scedosporium quanto Aspergillus não são
ou outras micoses. Nódulos subpleurais com necrose pigmentados nos tecidos e possuem hifas estreitas e septa-
caseosa podem mimetizar histoplasmoma ou tuber- das, é mandatório o cultivo para o diagnóstico etiológico
culoma. Nos cortes de tecido, leveduras acapsuladas adequado, principalmente se forem observados aneloconl-
devem ser diferenciadas de Histoplasma capsulatum dios no exame microscópico (FIGURA 40.2.10) ou se tenha tes-
ou formas pequenas de Paracoccidioides. te de imunofluorescéncia específico positivo.
Mucormicose
Hialo·hifomicose Os aspectos clínicos e radiológicos são indistinguíveis das
As hifas são hialinas, estreitas, e a septação é frequente, o outras micoses por fungos filamentosos que apresentam tro-
que as diferencia dos zigomicetos. Contudo, podem simu· pismo vascular, como aspergilose.
.il!.!.[.(jd,l,i§,\(.fi·::
Hifa cenocítica ~ - Hifa septada
.J.~
·~-
""'''"""00
1
~ Fungo hialino FIGURA 40.2.1 ~ (A) Hifa larga, tortuosa, não
septada e ramificada em ângulo de 45 graus
r
Feo··hifomicose
...
Aspergilose
(Giemsa, 40x). (B) Exame a fresco mostrando
hifa com parede regular, septada, de cor acas·
lanhada, caracterizando um fungo negro (40x).
11
.• (C) Corte de tecido renal. Hifas septadas, pare-
de regular, ramificaç~o dicotômica em ângulo
de 45 graus, abrindo um leque, caracterizan·
do aspergilose invasiva (GMS, 20x). (D) Corte
de bola fúngica pulmonar por Scedosporium
Hialo-hifomicose
apiospermum, mostrando os aneloconídios
no interior da massa fúngica, com crescimen-
to zoniforme (H&E, 40x). (E) Hialo-hifomicose
por Fusarium. Hifas hialinas com presença de
microconídios septados (H&E, 40x).
Achados histopatológicos Hialo·hifomicose
Os principais achados histopatológicos são abscesso, infarto
Aspergilose e granuloma. Microscopicamente, os abscessos podem oca-
Na aspergilose, a necrose supurativa é a reação tecidual sionar trombo séptico e fungemia, sendo Fusarium o fungo
usual; por vezes, observa-se granuloma. Nos pacientes imu- filamentoso que mais se isola em hemoeultivo.
nodeprimidos, o fungo prolifera nos alvéolos e invade os va-
sos sanguíneos. As espécies de Aspergil/us apresentam hifas
hialinas septadas (3 a 12 p.m), ramificando-se dicotomica-
Feo-hifomicose
mente em ângulo de 45 graus (FIGURA 40.2.1C). A reação tecidual usual é piogranulomatosa, com abscessos
circundados por células gigantes. Os achados de hifas (2 a
6 p.m de largura), blastoconfdios, pseudo-hifas e clamidoco-
Candidose nídios pigmentados (cor marrom) confirmam o diagnóstico
(FIGURA 40.2.18).
Pneumocistose
O envolvimento misto - alveolar (exsudato espumoso consis-
tindo em material eosinoffiico relativamente hipocelular) e
intersticial por monócitos e plasmócitos - é a reação tecidual
usual. A impregnação argêntica de Gomori-Grocott revela
um grande número de elementos fúngicos característicos no
material alveolar: ovalados ( 4 a 6 p.m), não brotantes, com
ponto escur o central, alguns em forma de crescente e outros
colapsados (FIGURA 40.2.4). Os achados histopatológicos po-
dem não ser típicos: ausência de exsudato alveolar, presença
de fibrose intersticial, granuloma e até mesmo calcificações
Criptococose neofonnans podem ser observados em pacientes que não estão grave-
mente imunodeprimidos.
O padrão histopatológico depende do tempo de evolução
da lesão: lesões recentes são mucoides, com reação tecidual
mínima ou ausente; lesões antigas apresentam aspecto gra- Scedosporiose
nulomatoso, evidenciando fagocitose, especialmente quando A scedosporiose invasiva é histopatologicamente similar à
elementos fúngicos têm defiCiência de cápsula. Nesses casos, aspergilose (pneumonite necrosante, abscessos pulmonares
os nódulos podem estar envoltos por uma camada fibróti- e infartos nodulares).
ca e apresentar necrose caseosa, sendo necessário utilizar a Há presença de hifas septadas, randomicamente ramifi-
técnica de imunofluorescência direta para confirmação díag- cadas (a ramificação progressiva é caracterlstica da infecção
nóstica. por Aspergii/LLs), com 2 a 5 p.m de largura; podem ser visualí-
C. neoformans costuma apresentar-se no material clínico zados aneloconfdíos tipo ScedJJsporium, sobretudo em lesões
sob forma de levedura esférica (2 a 5 p.m ), encapsulada. Oca- cavitárias (FIGURA 40.2.1O).
sionalmente podem aparecer pseudo-biCas; a cápsula pode
não ser evidente (FIGURA 40.2.3).
• (
•
Aspergilose Hialo·hifomicose
A AIA é tratada com anfotericina B. A recuperação precoce
da granulocitopenia é importante para a sobrevida. O prog-
nóstioo reservado dessa apresentação clínica da micose pode ~ ATENÇÃO
ser melhorado por investigação di agnóstica e abordagem te-
O tratamento de escolha nAo foi estabelecido, e os
rapêutica mais agressivas.
testes de sensibilidade aos antifúngicos não foram
A APNC pode ser tratada com itraconazol (200 a 400
padronizados. Tem sido relatado tratamento com
mg/dia) ou anfotericina B. Em alguns casos, é necessária
altas doses de anfoteriàna B e comblnaçlo com ou-
abordagem cirúrgica. tros antifúngicos, com sucesso variável. Pacientes
O tratamento de esoolha para a CIPA é a rcssecção ci- com neutropenia profunda e hialo-hifomicose lrao a
rúrgica, especialmente para pacientes com hemoptise impor- óbito independentemente do tratamento.
tante. O itraconazol é uma alternativa para aqueles pacien-
tes em que a cirurgia está contraindicada.
A ABPA é tratada com corticoide (a prednisona é prefe-
rida). O itraconazol está indicado, possibilitando diminuição Feo·hifomicose
de dose de corticoide e de tempo de utilização, sobretudo O itraconazol é o fármaco de escolha. A ressecção cirúrgica
para pacientes que apresentam escarro persistentemente co- é um importante fator adjuvante ao tratamento. Em alguns
lonizado por Aspergillus. casos, este procedimento é diagnóstico e curativo. É funda-
mental para a sobrevida a recuperação da granulocitopenia.
Candidose
O fármaoo de escolha, em particular quando há risco à vida, Pneumocistose
é a anfotericina B (0,5 a 1,5 mg/kg/dia; dose total de 1 a 2 O trimetoprim (20 mg!kg/dia), associado ao sulfametoxazol
g). Triazóis (itraconazol e fluconazol) são opções menos tó- (100 mg/kgldia), em 3 a 4 doses diárias, durante três sema·
xicas que podem ser utilizadas por via oral. O flucona.zol (8 nas, via oral ou intravenosa, é o tratamento de primeira li·
a 10 mg!kg/dia), que também tem apresentação parenteral, oba. A pentamidina ( 4 mg!kg/dia), em infusão intravenosa
possui a vantagem da boa penetração no sistema nervoso durante 1 hora, diariamente, durante três semanas, é a se·
central. O prognóstico varia conforme alguns fatores: preco- gunda escolha. A mortalidade nos pacientes com AIDS varia
cidade do diagnóstico, possibilidade de remoção de fatores de 5 a 43%. O melhor indicador prognóstico para a sobrevi-
predisponentes (cateter, antibióticos, corticoides), doenças da é o nível de bipoxemia no momento do diagnóstico. Com
de base e locais acometidos. a deteóoração da POzo a mortalidade aumenta.
Severo CB, Xavier MO, Gazzoni AF, Severo LC. Cryptococeosis in
Scedosporiose ehildren. Paediatr Respir Rev. 2009;10(4):166-71.
0 ATENÇÃO
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A bola fúngica exige remoção cirúrgica da lesão pul-
Spellberg B, Edwards J Jr, Ibrahim A Novel perspeetivcs on mu-
monar, especialmente no paciente com hemoptise eormycosis: patbophysiology, prescntation, and management. Clin
importante. Microbiol Rev. 2005;18(3):556·69.
Patogênese da aspergilose
broncopulmonar alérgica
A ABPA é caracterizada por intenso infiltrado inflamatório
Frequência da doença
broncocênlrico, com evidência de infiltrado de neutrófilos A despeito de avanços significativos na compreensão da fi.
e eosinóftlos, ativação de granulócitos e resposta linfocftica siopatologja da doença, a exata prevalência de ABPA perrna·
envolvendo ativação de vias Th· l e Th-2. Em fntima asso- nece desconhecida, embora se assuma que, nos dias atuais,
ciação com esse processo inflamatório intenso e destrutivo, a ABPA seja reconhecida com maior frequência e grau de
está a presença de A. fumigatus na via aérea, sugerindo que certeza. A doença pode se iniciar na i.nf"ancia e permanecer
a per.>istência de fungos viáveis seja central na condução de não reconhecida por décadas. A ABPA não é reconhecida
na Classificação intemacional de doenças e problemas relacio- ou quarta década de vida. Embora as descrições iniciais en-
nados d saúde (CID-10), o que dificulta a revisão de dados volvessem adultos, existe hoje uma melhor compreensão da
hospitalares visando ao conhecimento da preval!ncia dessa doença, levando a um diagnóstico mais precoce, por vezes
condição. A relativa falta de uniformidade no diagnóstico de na infância.
ABPA também toma difícil a comparação de resultados ge- Pacientes com ABPA podem às vezes ser completamen-
rados em diferentes centros. te assintomáticos, com o diagnóstico sendo feito durante
exames de rotina em paciente com asma. Por outro lado,
a maioria possui sintomas, c a pista para o diagnóstico de
Aspergilose broncopulmonar alérgica em ABPA costuma ser uma asma pouco controlada com medidas
asmáticos usuais, a despeito de boa adesão ao tratamento. As manifes-
A prevalência relatada de hipersensibilidade a Aspergillus tações clínicas da ABPA são resumidas na TABELA 40.3.1.""·"
spp. (hipersensibilidade cutânea imediata a antlgenos de A ABPA pode se manifestar com febre de baixo grau,
Aspergillus) em asmáticos varia de 13 a 45 %, em diferen- sibilãncia, hiper-rcatividade brônquica, hemoptise ou tos-
tes regiões do mundo.'·7.s A incidência exata de hipersen- se produtiva. Os pacientes também podem ter episódios
sibilidade aAspergillus spp. não é conhecida, uma vez que de doença sistêmica, com febre, perda de peso e mal-estar .
dados populacionais sobre essa condição não estão dispo- A expectoração de tampões mucosos amarronzados é vis-
níveis; a maior parte dos dados disponíveis é oriunda de ta em 31 a 69% dos pacientes; alguns autores acreditam
clinicas especializadas, com potencial para viés de seleção. que esta seja uma manifestação caracterlstica, que pode
auxiliar no diagnóstico." 12' 13 Deve-se reforçar, no entanto,
Além disso, o significado clinico dessa hiperscnsibilidade
permanece incerto. que a ABPA pode complicar o curso de uma asma aparen-
temente bem controlada, devendo ser suspeitada em todos
os asmáticos. Em uma grande série envolvendo 155 casos
Aspergilose broncopulmonar alérgica em de ABPA, 19% dos pacientes com essa condição tinham
asma bem controlada.•
pacientes com fibrose cística Não existe caracterlstica ao exame físico que permi-
O fato de a patogênese da fibrose cística envolver uma eli- ta diagnosticar ABPA com confiança. O exame fisico pode
minação alterada do muco ciliar, resultando em obstrução ser normal ou revelar achados de asma, com graus variáveis
ao fluxo aéreo, pode favorecer a germinação de conidios de de sibilância polifônica. Hipocratismo digital é visto em
Aspergillus spp. e a liberação de antígenos, tendo como con- apenas 16% dos pacientes, particularmente naqueles com
sequência uma resposta imune complexa por parte do hos- bronquiectasias de longa evolução. À ausculta pulmonar,
pedeiro. A prevalência de ABPA em pacientes com fibrose estertores crepitantes podem ser ouvidos em 15% dos pa-
9
cística tem variado nos estudos entre 1 e 15%, podendo cientes.8 O achado de sibilância no exame fisico e opacidades
afetar mesmo crianças com menos de dois anos de idade. O pulmonares à radiografia de tórax podem sugerir ABPA. O
desenvolvimento de ABPA nesses pacientes pode ser dele- exame rJSico também pode ser útil na busca de complicações
tério, resultando em função pulmonar reduzida, bem como da ABPA, como hipertensão pulmonar e/ou insuficiência
maior frequência de colonização microbiana, pncumotórax, respiratória.
hemoptisc maciça e desnutrição. Durante a exacerbação de ABPA, podem ocorrer acha-
dos localizados de consolidação (estertores localizados ou
Aspergilose broncopulmonar alérgica em ruído broncofônico) (FIGURA 40 ..3.1A e B) e atelectasias (dimi-
nuição dos ruídos adventícios), sendo necessãrio diferenciar
individuas não asmáticos e sem fibrose cística ABPA de outras doenças pulmonares. Geralmente é difícil
Ocasionalmente, a ABPA tem sido relatada como doença diagnosticar ABPA com base apenas na avaliação clínica;
complicando outras condições, como bronquiectasias, doença nesse contexto, os valores de IgE são de grande importância
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e doença granulomatosa diagnóstica. 1
crônica em associação com síndrome biper-JgE. Isto é, no en- Pacientes com ABPA também podem apresentar, em-
tanto, o resultado de relatos de casos únicos, ou de pequenas bora raramente, outras manifestações de aspergilose, como
coortes de pacientes.' Em um estudo recente envolvendo 200 bolas fúngicas ou mesmo formas mais agressivas e comple-
pacientes com DPOC na Índia, 10 a frequência de hipcrscnsi- xas, como aspergilose pulmonar necrosante crônica.' Essas
bilidadc a Aspergil/us foi de 8,5%, não tendo sido detectado slndromes podem representar verdadeira hipersensibilidade
nenhum caso no grupo-controle, composto por 100 adultos consequente ao desenvolvimento de bolas fúngicas em cavi-
voluntários. Dois pacientes (1,0%) com DPOC preencheram dades pulmonares de longa evolução, resultando de doenças
critérios sorológicos para ABPA, sugerindo que, embora infrc- como tuberculose ou sarcoidose.
qucntc, a DPOC pode ser um fator de risco para ABPA. Alguns autores têm proposto que a presença de uma
bola fúngica possa resultar em estimulação antigênica
devido à liberação contínua de antígenos de Aspergillus,
o que, em indivíduo geneticamente predisposto, poderia
Aspedos clínicos resultar em ABPA. Outra explicação seria que a coloni-
Não ex.iste predileção de gênero para o desenvolvimento zação saprotrófiea com Aspergi/Jus spp. possa resultar na
de ABPA, e a maioria dos casos é diagnosticada na terceira formação de bolas fúngicas em cavidades bronquiectásieas
TABELA 40.3.1 ~ Síntese das maiores séries de pacientes com aspergilose broncopulmonar alérgica
Eosinofilia sanguínea (> 500 células/pl) 43% 100% 100% 76% 79%
resultantes de ABPA Qualquer que seja a causa, a maio- Embora a ABPA compartilhe mecanismos fisiopatoló-
ria dos pacientes mostra pronta resposta à terapia com gicos com a rinossinusite fúngica alérgica, a coexistência
corticoides. de ambas as doenças é um achado surpreendentemente
incomum.
FIGURA 40.3.1 ~ (A) radiografia de tórax mostrando área de consolidação na zona média do pulmão esquerdo. (8) radiografia de tórax do mesmo
paciente mostrado em (A), realizada cinco meses mais tarde. Houve resolução da consolidação anteriormente observada. No entanto, surgiram novas
consolidações afetando o terço inferior do pulmão esquerdo, bem como o pulmão direito.
Aspectos radiológicos
Os achados radiológicos de ABPA incluem opacidades
pulmonares transitórias ou fiXas, frequentemente descri-
tas como consolidações. Outros achados incluem tramline
shadows, o8acidades em dedos de luva ou em forma de pasta
de dentes. s.o6 Todos esses achados são devidos à impactação
de muco em cavidades bronquiectásicas. Com o seguimento
dos pacientes, pode-se observar fibrose e colapso pulmonar,
que mais comumente envolve os lobos superiores, podendo
levar a aspergilose pulmonar cavitária crônica. A associação
de bronquiectasias centrais com brônquios periféricos nor-
mais é altamente sugestiva de ABPA
Os achados radiológicos em pacientes com ABPA podem
FIGURA 40.3.2 -+ Tomografoa computadorizada de alta resolução do
ser divididos em transitórios e fixos.'
tórax mostrando bronquiectasias centrais (seta menor). bem como
As alterações transitórias incluem: áreas de broncocetes. preenchidas por muco (seta maior).
(i) Asma
jGJ!ii'l!!·tJ&14.'1·1'!f1 Corticoides
Embora inexistam estudos controlados duplo-cegos avalian-
(i) hpectoraç.\o de tampões amarronzados do o impacto de corticoides em pacientes com ABPA, a cor-
(ii) Cultura de escarro positiva para Aspergi/Jus spp. ticoterapia sistêmica possui papel central no tratamento des-
sa doença. 1 Nos estágios agudos da ABPA, a corticoterapia
(iii) Reatividade cutânea tardia (do tipo Arthus) para A. fumigatus reduz os níveis séricos de IgE, reduz a eosinofilia periférica,
limpa os infiltrados pulmonares e melhora o broncospasmo
Fonte: Rosenberg e colaboradores, 11 Wang e colaboradores.20 associado.
Diversos regimes de doses têm sido propostos. Para as
exacerbações agudas, a terapia por duas semanas com pred-
o diagnóstico de ABPA seja estabelecido com maior grau nisona 0,5 mg!kg/dia tem sido sugerida, seguida de 0,5 mg/
de certeza. kg em dias alternados por 6 a 8 semanas adicionais. A dose
Pacientes com ABPA de longa evolução podem passar a de prednisona é então diminuída para 5 a 10 mg a cada duas
apresentar anticorpos precipitantes negativos no soro. Bron- semanas, de acordo com os sintomas. À medida que se reduz
quiectasias centrais/proximais, na ausência de bronquiecta- a dose de corticoides, pode haver leve agravamento das ma-
sias distais, foram anteriormente consideradas condição sine nifestações de asma, o que exige controle com broncodilata-
qua non para o diagnóstico de ABPA. Entretanto, hoje sere- dores e/ou corticoidcs por via inalatória. A dosagem de corti-
conhece que bronquiectasias centrais podem não estar pre- coides orais e a duração da terapia deverão ser avaliadas com
sentes nas fases iniciais da ABPA, bem como no subgrupo de base em cada paciente individual, de acordo com a gravidade
pacientes com as formas mais leves da doença. das manifestações de asma e a frequência das exacerbações.
Após descontinuação da prednisona, remissões prolon-
gadas têm sido relatadas. Embora a manutenção de cortico-
terapia sistêmica não seja rotineiramente indicada, seguindo
História natural e estadiamento da remissão inicial, muitos pacientes com ABPA tomam-se de-
doença pendentes de corticoides. O uso de corticoides inalatórios
em tais pacientes pode prevenir a dependência a corticoides
A história natural da ABPA é ainda pouco caracterizada, sistêmicos e reduzir a chance de exacerbações recorrentes.
sendo geralmente marcada por episódios recorrentes de re- Estudos têm demonstrado que a beclometasona inalada
missão e recidivas. A evolução da doença é de difícil pre- pode melhorar a função ventilatória e o controle da asma,
dição, pois a melhora espontânea dos sintomas e das opa- mas não afeta a frequência de infiltrados pulmonares eosi-
cidades pulmonares caracteriza um importante aspecto da noffiicos nesses pacientes. Entretanto, existe evidência pre-
doença. De qualquer modo, acredita-se que o diagnóstico e liminar de que altas doses de corticoides inalados possam
o tratamento precoces dessa condição possam reduzir os da- trazer beneficio para pacientes com ABPA. A terapia anti-
nos pulmonares em pacientes com ABPA. fúngica, discutida a seguir, pode ter um importante papel
Dois são os esquemas mais utilizados de classificação como adjunto à corticoterapia, permitindo que se utilizem
para ABPA: os estágios de Patterson e colaboradores (QUA- doses menores de corticoides.
21
DRO 40.3.3), em que a ABPA é dividida em cinco estágios, e Pacientes com ABPA fibrocavitária costumam apresen-
a classificação de Greenberger e colaboradores,s baseada na tar bronquiectasias extensas bem como doença pulmonar
presença ou ausência de bronquiectasias. Deve-se salientar obstrutiva que não se revertem com corticoterapia sistêmica.
QUADRO 40.3.2-? Critérios diagnósticos para aspergilose broncopulmonar alérgica em pacientes com fibrose cística
1. Deterioração aguda ou subaguda (tosse, sibilância, intolerância ao exercício, asma induzida pelo exercício, declínio na função pulmonar. aumento
no volume expectorado), não atribuivel a outra causa
2. Concentrações de lgE sérica total > 1.000 UVml (> 2.400 ng/ml), a menos que o paciente esteja recebendo corticoides (neste caso, retestar
quando os corticoides forem descontinuados)
3. Reatividade cutânea imediata para Aspergillus (teste cutâneo com resultado > 3 mm em diâmetro, com edema associado, em paciente não
recebendo anti-histamlnicos por via sistêmica) ou presença de anticorpo lgE especifico contra A. fumigatus no soro
4. Anticorpos precipitantes ou lgG contra A. fumigatus no soro
S. Anormalidade radiológica nova ou recente (infiltrados ou tampões mucosos) ou tomográficas (bronquiectasias) que não se resolveram com
antibióticos ou fisioterapia
1. Deterioração aguda ou subaguda (tosse, sibilância, intolerância ao exercício, asma induzida pelo exercfcio, declínio na função pulmonar, aumento
no volume expectorado), não atribuivel a outra causa
2. Concentrações de lgE sérica total > 500 UVml (> 1.200 ng/ml); se há suspeita de ASPA, mas os valores de lgE estão entre 200 e 500 UVml,
repetir a testagem em 1 a 3 meses; se o paciente estiver usando corticoide, repetir quando este for descontinuado
3. Reatividade cutânea imediata para Aspergillus (teste cutâneo com resultado > 3 mm em diâmetro, com edema associado, em paciente não
recebendo anti-histamlnicos por via sistêmica) ou presença de anticorpo lgE especifico contra A. fumigatus no soro
4. Um dos seguintes: (a) anticorpos precipitantes ou lgG contra A. fumigatus no soro; ou (b) anormalidade radiológica nova ou recente (infiltrados
ou tampões mucosos) ou tomográficas (bronquiecta.sias) que não se resolveram com antibióticos ou fisioterapia
2. Determinar lgE sérica total anualmente. Se concentrações > 500 UVml, determinar reação cutânea imediata contra A. fumigatus ou determinar
lgE específica contra A. fumigatus. Se os resultados forem positivos, considerar o diagnóstico baseado nos critérios diagnósticos mini mos.
3. Se lgE total entre 200 e 500 UVml, repetir a dosagem caso haja elevada suspeição de ASPA, como exacerbação de doença. e realizar testes
diagnósticos adicionais (teste cutâneo ou lgE especifica contra A. fumigatus, anticorpos contra A. fumigatus, precipitinas contra A. fumigatus, ou
anticorpos lgG séricos contra A. fumigatus, além de radiografia de tórax).
Fonte: St~ns e colaboradores.'
Fase aguda Geralmente Normal ou presença de opacidades lgE > 1.000 UVml, aumento em
assintomático, febre, radiológicas, simulando pneumonia precipitinas, lgE e lgG específicas
perda de peso, sibilância contra A. fumigatus
Remissão Assintomático Geralmente normal ou resolução dos lgE costuma declinar 30 a 50% nas
achados da fase aguda semanas 6 a 12, podendo normalizar
11 1 Exacerbação Sintomático como na Opacidades pulmonares transitórias ou lgEdobra em comparação com o nível
fase aguda fixas; achados podem ser pouco sugestivos basal
IV ABPA dependente Sintomático Opacidades pulmonares transitórias ou Níveis variáveis de lgE; alguns
de esteroides fixas pacientes mantêm niveis muito altos,
que respondem a esteroides
v ABPA em estágio Sintomático, obstruçao Bronquiectasias, fibrose pulmonar, lgE e imunoglobulinas específicas se
avançado aérea fixa, grave hipertensão pulmonar mantêm altas na maioria dos casos
(fibrótico) disfunção pulmonar, cor
pu/mona/e
11
Fonte: Patterson e colaboradores.
Cetoconazol 400 mgao dia Estudos abertos com número Resultados inconsistentes; potencial para eventos adversos graves.
limitado de pacientes
ltraconazol 200 mg 12/12 Relatos de casos, séries de casos Monitorar níveis de itraconazol e função hepática. A solução oral de
horas e dois estudos randomizados itraconazol (não disponível no Brasil) resulta em melhores níveis, porém
controlados com placebo maior toxicidade gastrintestinal. Efeito inotrópico negativo (infrequente).
Voriconazol 1SO a 200 mg Relatos de casos e séries de A função hepática deve ser monitorada rotineiramente.
12/12 horas casos em pacientes com fibrose Fotossensibilidade associada ao uso crônico. Omonitoramento de níveis
cística do fármaco também é necessário.
Posaconazol 400 mg 12/12 Dados clínicos ainda não A função hepática deve ser monitorada rotineiramente. Menos interações
horas publicados medicamentosas do que outros azólicos. Resistência cruzada pode
ocorrer entre os fármacos da classe.
dos leucotrienos 04 têm demonstrado atividade antieosino- de Aspergillus. Entretanto, até o momento, esses agentes ain-
filica in vitro, sendo potencialmente úteis no tratamento da da não foram devidamente estudados para esse fim.
ABPA. 24 O anticorpo monoclonal anti-ILS mepolizumabe
pode vir a ter um papel no tratamento da doença. A IL-5 é
importante na maturação e proliferação de eosinófilos; os
pacientes com ABPA poderiam ser beneficiados com a ini-
Seguimento pós-tratamento
bição de IL-5 . Adicionalmente, o mepolizumabe tem sido Deve-se dar atenção ao monitoramento de sintomas pulmo-
utilizado com sucesso para casos refratários de sindrome nares em pacientes com ABPA. Estes incluem não apenas
hipereosinoffiica primária, embora tenha falhado em mos- sintomas típicos de asma, como sibilância, dispneia, tosse e
trar qualquer beneficio em pacientes com asma ou derma- dor torácica, mas também manifestações menos usuais de
tite atópica. Outros agentes com potencial uso benéfico em exacerbação de asma, como febre e expectoração de tam-
pacientes com ABPA incluem os antagonistas do receptor pões amarelos a marrons. O desenvolvimento desses sinto-
da quimoquina 3, que bloqueiam a ativação de eosinófilos, e mas deve prontamente levar a testes que avaliem a possibili-
imunoterapia direcionada especificamente contra antígenos dade de se tratar de uma exacerbação de ABPA.
Pacientes com ABPA podem ter exacerbações assin- 3. McCarthy OS, Pepys J. Allergic bronchopulmonary aspcrgillosis:
tomáticas, independentemente dos achados radiológicos. elinical immunology: (1) Clinicai fcaturcs. Clin Allergy. 1971;1:261-
Assim, é importante monitorar os niveis de IgE depois do 86.
diagnóstico inicial. Sugere-se que isso seja feito a cada 1 a 4. Rosenberg M, Patterson R, Roberts M, Wang J. The assessment
2 meses, por pelo menos um ano após o diagnóstico. Me- of immunologic and clinicai changcs occurring during onrtionstcroid
lhora radiológica e resolução dos sintomas clínicos têm sido therapy for aUergie bronehopulmonary aspergillosis. Am J Mcd.
associadas a reduções em 35% nos níveis de IgE. Quando as 1978;64(4):599-606.
concentrações de IgE se elevam duas vezes em pacientes as- 5. Grccnbergcr PA, Millcr TP, Robcrts M, Smith LL. Allcrgic bron-
sintomáticos, uma avaliação radiológica é recomendada. Se ebopulmonary aspcrgillosis in patients with and without evidence of
esses pacientes não demonstram um novo infiltrado pulmo- broncbicctasis. Ann Allergy. 1993;70(4):333-8.
nar, se apresentam testes de função pulmonar estáveis e não
têm sintomas pulmonares, eles devem ser novamente moni- 6. Carvalho A, Pasqualotto AC, Pi12urra L, Romani L, Dcnning DW,
Rodrigues F. Polymorpbisms in toU-like receptor genes and suscep-
torados, sem ajuste da dose dos medicamentos. Na presença
tibility to pulmonary aspcrgillosis. J l nfcct Ois. 2008;197(4):618-21.
de novos infiltrados pulmonares ou sintomas respiratórios
ou piora da função pulmonar, a terapia deve ser restituída 7. Campbell MJ, Clayton YM. Bronchopulmonary aspcrgillosis. A
ou intensificada. onrrelation of tbe clinicaJ and laboratory fiildings in 272 paticnts in-
Alguns investigadores têm sugerido que a TC deva ser vestigated for broncbopulmonary aspcrgillosis. Am Rev Respir Ois.
usada para monitorar ABPA. Novas áreas bronquiectási- 1964;89:186-96.
cas ou impactação mucoide biperatenuada na TC sugerem 8. Agarwal R, Gupta O, Aggarwal AN, Saxcna A.K, Cbakrabarti A,
doença potencialmente destrutiva, que merece terapia. En- J inda! SK. Clinicai significance of byperattcnuating muonid impac.
tretanto, é possível que a radiografia simples de tórax seja tion in allergic bronchopulmonary aspergillosis: an analysis of 155
igualmente efetiva no acompanhamento de tais pacientes. patients. Chest. 2007;132(4):1183-90.
Esses exames devem ser repetidos a cada 4 a 8 semanas após 9. Stcvcns DA, Moss RB, Kurup VP, Knutscn AP, Grecnbergcr P,
o início da terapia, para confirmar a resolução ou melhora Judson MA, ct ai. Allcrgic bronehopulmonary aspcrgiUosis in cys-
dos infiltrados pulmonares prévios. tic fibrosis - state of tbc art: Cystie Fibrosis Foundation Consensus
O monitoramento com espirometria anual pode ser útil, Confcrcncc. Clin lnfect Ois. 2003;37 Suppl 3:S225-64.
pois um declínio na capacidade vital forçada <!: 15% pode
10. Agarwal R, Hazarika B, Gupta O, Aggarwal AN, Chakrabarti
sugerir exacerbação de ABPA. Evidência de maior obstru-
A, Jindal SK. Aspergillus bypcrscnsitivity in paticnts with ebronic
ção ao fluxo aéreo com um declínio no volume expiratório obstructive pulmonary disease: COPO as a risk factor for ABPA?
forçado no primeiro segundo (VEF,) ou redução nos fluxos Med Myonl. 2010;48(7):988-94.
médios deve sugerir ABPA, devendo-se realizar adequada
investigação laboratorial. 11. Bebera O, Guleria R, Jindal SK, Cbakrabarti A, Panigrabi O.
Allergic bronehopulmonary aspergillosis: a rctrospcctive study of 35
Se o paciente não manifestar qualquer exacerbação de
cases. 1ndian J Chest Ois Allied Sei. 1994;36(4):173-9.
ABPA ao longo dos próximos três meses após a cessação
da terapia, muitos autores consideram-no como estando 12. Chakrabarti A, Setbi S, Raman OS, Bebera O. Eight-year stu-
em "remissão completa". Pacientes que atinjam esse estado dy of allergie broncbopulmonary aspcrgillosis in an lndian teaching
devem ser seguidos com IgE a cada seis meses no primeiro hospital. Myonses. 2002;45(8):295-9.
ano de doença, seguido de dosagem anual de IgE após esse 13. Kumar R, Gaur SN. Prcvalencc of allergic broncbopulmonary
período (com monitoramento mais frequente se clinicamen- aspcrgillosis in patients with bronchial asthma. Asian Pae J Allergy
te indicado). Mesmo em pacientes que atingiram remissão lmmunol. 2000;18(4):181-5.
completa, os níveis de IgE costumam estar aumentados; na
14. Hct2el JL. Aspcrgilose brononpulmonar alérgica: estudo de 128
maioria dos pacientes com ABPA, os valores não retomam
casos [tese). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do
ao normal. Isso é uma importante consideração, pois o alvo Sul; 1990.
da corticoterapia não é reduzir os valores de IgE a níveis
normais, mas sim promover uma redução em 30 a 50% nos 15. McCarthy OS, Simon G, Hargreavc FE. Thc radiological appc-
níveis, ao longo de 6 a 12 semanas. Alguns pacientes no es- aranees in allergic broncbo-pulmonary aspergillosis. Clin Radiol.
1970;21 (4):366-75.
tágio III da doença podem entrar em período prolongado de
remissão ou mesmo em remissão permanente. Uma remis- 16. Min!ZCr RA, Rogcrs LF, Kruglik GD, Rosenberg M, Neiman
são completa, no entanto, não implica remissão permanente HL, Patterson R. The spectrum of radiologic findings in allergic
em cada caso, pois exacerbações da doença têm sido docu- broncbopulmonary aspcrgillosis. Radiology. 1978;127(2):301-7.
mentadas em pacientes com até sete anos de remissão. 17. Howard SJ, Pasqualotto AC, Dcnning DW. Azole rcsistancc in
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José da Silva Moreira
41
Ana Luiza Moreira
José J. Camargo
Paulo Roberto Goldenfum
0 ATENÇÃO
Filho- Santa Casa, Porto Alegre
AGURA 4 1.3-+ (A) Cavidade abscedida no terço médio do pulmão direito. (8) Grande abscesso ocupando integralmente o segmento superior direi-
to. (Q Corte tomográfico mostrando a lesão escavada com conteúdo necrótico e ali lamento do brônquio segmentar.
FIGURA 41.4 ~ Mesmo paciente da Figura 41.3. (A) lesão escavada, persistente, mas significativamente menor, após passagem do cateter de fo·
garty, com dilatação brônquica retrógrada. (8) Duas semanas depois, lesão inequivocamente reduzida. Paciente já assintomático. (C) Radiografia de
tórax normal após quatro semanas; ausência de secreção brônquica.
FIGURA 41.5 ~ (A) Grande cavidade necrótica, hiperinsuflada, com conteúdo de densidade heterogênea ocupando o segmento superior e parte
da pirâmide basal à direita. (8) Imagem em perfil da cavidade que tem parede superior fina e lisa, e com grande extensão em contato com a pleura
parietal. (C) Imagem depois de quatro semanas do estoma epitelizado, construido através da ressecção de um fragmento de costela, e da sutura da
pele na pleura parietal.
FIGURA 41.6 7 Mesmo paciente da Figura 41.5. (A) R<l·
diografoa de tórax após quatro semanas do procedimen·
to (pneumostomia) à direita, mostrando minima sequela
fibrótica no segmento superior do mesmo lado. (B) Na
incidência de perfil, observa·se pequeno resfduo do que
fora a grande cavidade necrótica que chegara a ocupar
grande parte do lobo inferior direito.
7. Ricc TW; Ginsberg RJ, Thdd TR. Tube drainage oflung abseesses. mycin +/- ccphalosporin for the treatmcnt of aspiration pneumonia
Ann Thorac Surg. 1987;44:356-9. and primary lung absecss. Clin Microbiollnfcct. 2004;10(2):163-70.
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9. Allewclt M, Schülcr P, Bõlcskci PL, Maucb H, Lode H, Study
Group on Aspiration Pneumonia. Ampicillin + sulbactam vs clinda-
José da Silva Moreira
José J. Camargo
42
Bruno Hochhegger
Spencer MarcantonioCamargo
FIGURA 42.1 ~ Mecanismo inicial, proposto para a formação das bronquiectasias. (A) Via brônquica axial normal com seus ramos laterais perme-
áveis. Forças radiais homogeneamente distribuídas por todo o volume pulmonar. (B) Via brônquica lateral ocluída por processo infeccioso. Forças
radiais se transmitem às paredes da via brõnquica axial permeável, tracionando·a, resultando na dilatação (Q dessa via.
0 ATENÇÃO
QUADRO 42.1 -+ Causas de bronquiectasias
Pós-infecciosas:
A ocorrência de bronquiectasias está, assim, relacio- - Pneumonia por sarampo
nada com o número e a gravidade das infecções na - Traqueobronquite por Bordetella pertussis
infância (sarampo, influenza, adenoviroses, coquelu- - Tuberculose
- Pneumonia por adenovírus
che, primoinfecção tuberculosa, etc.) ou com situa-
- Vírus sincicial respiratório
ções que as propiciem (discinesia ciliar, fibrose cfsti- - Aspergil/us fumigatus
ca, imunodeficiência, aspiração de corpo estranho) - Pneumonia por Mycoplasma
(QUADR042.1). - Pneumonia necrosante bacteriana (Staphy/ococcus, Klebsiel/a,
Pseudomonas)
- Vírus da imunodeficiência humana (HIV)
Uma vez estabelecidas, costumam constituir afecção crô- - Sequela de abscesso pulmonar
nica de expressiva morbidez. Em algumas situações, as di- Congênitas:
latações brõnquicas observadas durante surtos de infecções - Cisto pulmonar congênito
pulmonares agudas mostram-se reversíveis (pseudobron- - Fibrose dstica
quiectasias), com a melhora do quadro infeccioso, o qual - Sindrome de Williams-Campbell
não foi tão grave e prolongado.' - Síndrome de Mounier-Kuhn
A noção de bronquiectasias foi introduzida em 1819 por - Síndrome da unha amarela
Lãennec. Reynaud, em 1835, chamou a atenção para a obli- - Deficiência de alfa,-antitripsina
teração dos pequenos brônquios constituintes da "via late-
lmunodeficiências:
ral" de um brônquio maior, dilatado. Churchill, em 1949 e,
- Hipogamaglobulinemias
logo após, um discípulo seu, Duprez, em 1951, retomaram a - Deficiência de subclasses de lgG
ideia original, desenvolvendo-a em estudos de peças cirúrgi- - Deficiência de lgA
cas.• Os achados anatômicos obtidos por Reid em 1950, ao - lmunodeficiência combinada severa
estudar broncográfica e anatomopatologicamente casos de - Hipogamaglobulinemia variável comum
bronquiectasias, concordavam com a concepção da ocorrên- - Anormalidades na função dos neutrófilos
cia prévia da bronquiolite obliterante, pois verificara uma - Síndrome de Shwachman-Diamond
redução do número de ramificações distais aos brônquios - Doença granulomatosa crônica
ectásicos (FIGURA 42.2). - Síndrome de Chediak-Higashi
- Síndrome de Job
- Deficiência de complemento
- AIDS
Clínica Anormalidades ciliares:
O modelo clínico de apresentação das bronquiectasias é a - Discinesia ciliar primária
presença de manifestações respiratórias (especialmente tos- - Sindrome de Kartagener
se e expectoração purulenta) de longa duração (anos), os - Síndrome de Young
Pós-obstrutivas:
- Obstrução brônquica intrínseca
- Tampão de muco
- Corpo estranho
- Neopla.sia
- Obstruç.lo brônquica extrínseca
- Gânglios linfáticos hipertrofiados
- Sindrome do lobo médio
Outras:
- Asma
- Aspergilose broncopulmonar alérgica
- Síndrome de aspiração crônica
- Refluxo gastresofágico
- Distúrbio da deglutição
- Síndrome de Marfan
lm·•;,,o)(.,
Tosse 170 100,0
Hemoptise 70 41,2
Dispneia 55 32,4
Tiragem 12 7,0
Cianose 1,2
' Mulhete<: 106 (62,4%); homens: 64 {37.6%). Idades entre12 e 88 anos. Ante- FIGURA 42.3 7 Broncografia evidenciando bronquiectasias cilíndricas
cedentes registrados na infãncia: pneumonia (52,5%). tuberculose (19,8%), asma
(A) e cisticas (8).
(8,8%).'
1~ ATENÇÃO
•
manifestação de doença de pequenas vias aéreas nas tomo-
grafias em expiração) e enfisema.
A TC consegue demonstrar a presença mesmo de pe-
quenas bronquiectasias.'"" Um critério importante para
decidir sobre a presença e o grau das dilatações brônquicas
é compará-las com o diâmetro do ramo da a.rtéria pulmo·
nar adjacente e observar a perda do afilamento brônquico
distai, o que é possível em cortes obtidos pela TC (FIGU RAS
42.5 e 42.6). A utilidade da ressonância magnética (RM) na
avaliação de bronquiectasias ainda precisa ser mais bem de-
01
c
... O·
-
CJ
0'
. ..
terminada. -+
FIGURA 42.5 O lndice bronquioarterial (lBA) é definido como o di._
metro brônquico intraluminal dividido pelo diâmetro da artéria pulmo-
nar adjacente. (A) Demonstração de um paciente com v~ rias dilataç6es
brônquicas com lBA > 1. Note algumas ~reas de aprisionamento aéreo
Classificação associadas ~s ãreas de bronquiectasias. (B) lBA normal para compara··
çáo. (C) Mesmo paciente que em (A), com demonstração do d lculo de
Há diversos modos de se classificar as bronquiectasias. De lBA (02101). O lndice de espessamento brônquico ((0302)/03) e o lndi·
acordo com a apresentação radiológico-patológica, elas são cedo lúmen da luz br6nquica (02103) também podem ser calculados.
classificadas em:
• CiHndricas: dilatações brônquicas grosseiramente uni- pleural. À broncografia, não se vê a via lateral (ocluída)
formes, terminando de modo abrupto junto à superficie dos brônquios maiores, dotados de bainha conjuntivo-
-cartilaginosa, os quais mantêm sua forma cilíndrica com
o diámetro transverso aumentado (FIGURA 42.3A).
• Císticas-saculares: as dilatações aumentam progressi-
vamente em direção à periferia do pulmão ou tendem
à forma esférica (FIGURA 42.38). Elas envolvem três ou
quatro gerações brônquicas mais terminais, destituldas
de bainha conjuntivo-cartilaginosa. Essas pequenas vias,
tendo ocluídas suas vias laterais menores, dilatam-se, as-
sumindo a forma esférica ou sacular junto à superfície
pleural.
• Varicosas: os brônquios dilatados possuem tamanho e
forma irregulares, com constrições em vários locais e, ca-
racteristicamente, apresentam dilatação terminal.
Função pulmonar
FIGURA 42.4 -+ Aspecto da tomografia computadorizada de bron·
quiectasias em lobo superior do pulmão direito. Brônquios dilatados Funcionalmente, as alterações observadas refletem a ex-
com paredes espessadas. tensão das próprias bronquiectasias e das condições asso-
Tratamento
FIGURA 42.9 -? (A) Radiografia de tórax mostrando doença grosseira em lobo médio. (8) Tomografia computadorizada de tórax confirmando a
presença de bronquiectasias concentradas neste lobo, com os demais minimamente comprometidos. (C) Radiografia de tórax pós-operatória de
lobectomia média, mostrando excelente evolução.
na, sobretudo em casos de pacientes portadores de fibrose zível de pacientes volte a sangrar semanas ou meses após
cística. o procedimento.15
O benefício de antibióticos nebulizados em bronquiec-
tasias ainda precisa ser determinado. Alguns estudos têm
demonstrado que a terapia com corticoides inalados está as·
sociada a uma menor infiltração de células Te interleucina-8
~ ATENÇÃO
no interior da mucosa brônquica, principalmente com o uso
Pacientes com quadro grave de bronquiectasias, bi-
de propionato de fluticasona em altas doses. 24 No entanto,
laterais e extensas, com cor pu/mona/e incipiente ou
estudos adicionais ainda são necessários para a avaliação dos
estabelecido, quase sempre infectados por germes
efeitos da terapia inalatória com corticoides sobre os com-
multirresistentes, sáo potenciais candidatos a trans-
ponentes inflamatórios nas bronquiectasias. Vacinaçôes de
plante pulmonar bilateral. 26
rotina, em especial para pneumococo, são recomendadas.
O uso de broncodilatadores, mesmo naqueles pacien-
tes sem evidências de obstrução reversível ao fluxo aéreo,
tem sido recomendado por sua ação benéfica na depuração São critérios para a indicação de transplante em bron-
mucociliar. Mucolíticos podem ser utilizados, especialmen- quiectasias:
te nos portadores de fibrose cística. Os pacientes devem ser
vigiados quanto ao estado nutricional, uma vez que apre- • Volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF,)
sentam um catabolismo aumentado devido às infecçôes de <25%.
repetição. • Cor pulTMnale progressivo.
Nos pacientes com hemoptises de repetição e função • Hipercapnia.
pulmonar significativamente comprometida, bá a alter- • Quadro clínico em declínio, hipoxemia, internaçôes mais
nativa da embolização de artérias brônquicas, método de frequentes e prolongadas.
baixa morbidade e de apreciável rendimento no controle • Perda de peso.
imediato do sangramento, embora um número não despre- • Ausência de doença sistêmica associada.
FIGURA 42.10 -+ (A) Radiografia de tórax mos-
trando pulmões destruidos por bronquiectasias
em paciente com fibro.se dstica (VEF 1 de 23%).
(B) Pós-operatório tardio (dois anos) do trans·
plante pulmonar bilateral com VEF, de 107% do
previsto.
• Condição ambulatorial preservada. Ainda que não haja na literatura relato de morte por
• Perfil emocional e condições socioeconômicas favorá- lobectomia realizada para este fim, a morbimortalidade do
veis. doador e a necessidade de envolver duas pessoas sadias no
procedimento são as grandes críticas que se fazem a um pro-
Nos adultos, o transplante com doador cadavérico é grama de transplante intervivos.
a única alternativa plausível para um transplante que, por
mot.ivos óbvios, deverá ser sempre bilateral (FIGURA 42.1O). A
expectativa de sobrevida em cinco anos nesta população, em
geral jovem, atualmente é de 60%.
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Paulode Tarso Roth Dalcin
43
Introdução1' 2 da, de acordo com as diferentes populações. Assim, na Amé-
rica Central e na América do Sul, a mutação F508del com-
A fibrose cística (PC) é uma doença genética cujo padrão de preende apenas 45% das mutações identificadas na FC.5 No
hereditariedade é autossõmico recessivo. A expressão clínica Brasil, a mutação F508del foi identificada em 47% dos casos,
da doença é muito variada. Em geral, apresenta-se como um com variação de 23 a 57% em cinco diferentes estados.•
envolvimento multissistêmico, caracterizado por doença pul- A sobrevida dos pacientes com FC tem aumentado pro-
monar progressiva, disfunção pancreática exócrina, doença gressivamente nos últimos anos. Em uma série histórica
hepática, problemas na motilidade intestinal, infertilidade de 1943 a 1964, os pacientes com fleo meconial fatalmente
masculina (azoospermia obstrutiva) e concentrações eleva- morriam no período neonatal, sendo que apenas 15% so-
das de eletrólitos no suor. breviviam no primeiro ano de vida; já os pacientes sem íleo
meconial tinham uma mediana de sobrevida de apenas nove
meses, sendo que apenas 20% sobreviviam até o quarto ano
de vida. Em 1985, a mediana de sobrevida já atingia 27 anos
Epidemiologia nos Estados Unidos. A partir de 2002, diversos países relata-
A FC é a doença genética mais comum que afeta indivíduos ram medianas de sobrevida próximas de 37 anos_s
brancos. A incidência varia de acordo com grupos étnicos: 1 Atualmente, há mais de 30.000 indivíduos com FC nos
para cada 2.500 a 1 para cada 3.200 nascidos vivos em bran- Estados Unidos e são estimados cerca de 100.000 indivíduos
cos, 1 para cada 15.000 em afro-americanos e 1 para cada com a doença no mundo.'
31.000 em asiáticos.3 Com a crescente sobrevi da, o número de adultos com FC
No Brasil, a incidência estimada para a Região Sul é pró- tem aumentado progressivamente. A partir de 2008, cerca
xima à da população branca europeia, isto é, 1 para 2.500 de 50% dos pacientes tinham mais de 18 anos nos países de-
nascidos vivos. Uma hipótese para essa semelhança estaria senvolvidos.
na grande imigração de europeus para essa região. Em ou- O aumento da longevidade na FC resultou em uma
tras regiões do país, estudos que utilizam dados da triagem proporção maior de problemas médicos relacionados com
neonatal mostram que a incidência diminui para cerca de 1 a idade e com a progressão da doença, modificando as ne-
para 9.520 nascidos vivos.' cessidades na assistência da saúde. Exigiu, sobretudo, que
A mutação encontrada com mais frequência é a F508del profissionais de diferentes especialidades na área de saúde
(antes designada M'508), que compreende 66% das muta- do adulto se envolvessem no atendimento desses pacientes.2
ções identificadas globalmente, seguida pela G451X, com Um estudo recente8 mostrou redução, ainda que mo-
2,4%, e pela G551D, com 1,6%. Entretanto, a prevalência desta, na prevalência de nascidos vivos com FC. Isso foi
das mutações identificadas na FC varia de maneira acentua- atribuído à triagem neonatal, que leva ao diagnóstico pre-
coce da doença c motiva os casais sob risco a se submete- mentação de sódio pela via intercelular também para a luz da
rem a subsequentes testes pré-natais. via aérea de modo a manter o cquillbrio necessário de cargas
elétricas na região. A movimentação de cloreto de sódio para
o meio externo arrasta água por gerar forças osmóticas, e essa
Bases moleculares da doença e água se incorpora ao líquido superficial das vias aéreas.'
As mutações da FC fazem com que a CFTR não atinja a
fisiopatologia membrana a picai ou, atingindo-a, tenha uma função reduz.i-
da. Isso resulta em um transporte de cloretos reduzido na su-
A FC é causada por mutações em um gene localizado no
perficie apical das células epiteliais. Além disso, a absorção
braço longo do cromossomo 7. O gene CFTR foi clonado
do sódio a partir das vias aéreas se toma aumentada. Isso
em 1989, e é o responsável pela codificação de uma proteína
porque o funcionamento normal da CFTR inibe a atividade
com 1.480 aminoácidos, denominada proteína reguladora da
dos canais de sódio, enquanto as mutações na CFTR provo-
condutãncia transmembrana da FC (cystic {lbrosis transmem-
brane condutance ~/ator - CFI'R). Essa proteína se consti- cam aumento na absorção de sódio na FC. Assim, o defeito
tui em um canal de cloretos na membrana apical das células básico na FC é uma diminuição na condutãncia do cloreto
epiteliais exócrinas, regulando e participando do transporte através das membranas apicais, acompanhada por um au-
de eletrólitos através das membranas celulares.5·9 mento na captação dos íons sódio.9
Ainda que nem todos os aspectos da patogênese da FC Nas células glandulares e no epitélio das vias aéreas, a
tenham sido elucidados, tem sido aceito que as mutações na disfunção da CFTR resulta em uma diminuição da camada
CFTR causem a doença por interferirem no transporte iôni- do líquido superficial das vias aéreas, aumento da viscosida-
co epitelial. Mais de 1.500 mutações já foram identificadas de das secreções e diminuição da capacidade de remover in-
como capazes de levar à disfunção da proteína CFTR e re- fecções bacterianas. O muco espesso favorece a colonização
sultar em fenótipo de FC. 5·' e a persistência bacteriana nas vias aéreas. 5
A FC apresenta o padrão de herança genética autossô- A lesão pulmonar inicial na FC é uma bronquiolite. A
mica recessiva, sendo necessário que duas mutações estejam oclusão de bronqulolos por impactação de secreção ou este-
presentes para que a doença se manifeste. Portadores de nose cicatricial, associada à progressão do processo inflama-
uma única mutação não apresentam anormalidades fenoti- tório ao longo da parede de vias aéreas maiores, explicam o
picas.' aparecimento de bronquiectasias. A distorção brônquica ori-
As mutações descritas para a FC podem ser agrupadas ginada desse processo irá proporcionar ainda maior obstrução
em cínco classes, de acordo com o tipo de defeito produzido e retenção de secreção, aumentando o processo infeccioso.10
na CFI'R (QUADRO 43.1). As mutações de classe 1, 2 ou 3 es- Decorre dessa cascata de eventos uma predisposição
tão associadas a doença mais grave, pior função pulmonar e única à infecção no trato respiratório no indivíduo com FC,
insuficiência pancreática. As mutações de classe 4 ou 5 estão sendo que patógenos específicos serã.o adquiridos em uma
associadas a doença pulmonar mais leve e suficiência pan- sequêocia dependente da idade.' 0
creática.'
A CFTR é encontrada em glândulas sudoriparas, duetos
pancreáticos, intestino, túbulos seminíferos, vias aéreas, ca-
nalículos hepáticos e muitos outros tecidos.'
Clínica
No epitélio respiratório, a CFI'R transporta cloreto para O QUADRO 43.2 apresenta as principais características feno-
a luz das vias aéreas. A salda do cloreto desencadeia a movi- típicas da FC.
QUADRO 43.1 7 Classes de mutações de acordo com o tipo de defeito produzido na CFTR
-----------------------------
Prejufzo no processamento proteico no complexo de Nenhuma Na o
Golgi A CFTR é degradada no citoplasma
------------------------------~
111 ~ulaçao defeituosa Nenhuma Sim
IV
------------------------------
Prejufzo da funçjo causando reduçjo no transporte Sim, mas reduzida Sim
de cloretos
v Reduçlo da sintese de CFTR com função normal Depende do número de CFTR Sim, de~de do número de CFTR
funóonal funcional
QUADRO 43.2 ~ Achados fenotípicos consistentes com diagnóstico de fibrose cística
4. Anormalidades urogenitais masculinas resultando em azoospermia obstrutiva (ausência congênita bilateral dos duetos deferentes).
11
Teste do suor Análise de mutações
O teste do suor através da iontoforese quantitativa pela pilo- A identificação de mutações conhecidas como causa de FC
carpina é o padrão-áureo para a confirmação do diagnóstico em cada um dos genes da CFfR, frente a um contexto clini-
de FC. Os métodos de coleta são o procedimento de Gibson- co ou história familiar compatível, estabelece o diagnóstico
-Cooke e o sistema de coleta de suor Macroduct. Em ambos, de FC. Entretanto, o achado de uma ou de nenhuma muta-
o suor é estimulado pela iontoforcse pela pilocarpina e co- ção no gene da CFfR não exclui o diagnóstico de FC. Além
disso, já foram relatados pacientes com FC não clássica sem
evidência de mutações nos genes da CFfR. Portanto, a exis-
tência de genótipos complexos, de fatores modificadores e
QUADRO 43.3 7 Critérios diagnósticos de fibrose cística
de mutações atenuadoras exige que o diagnóstico de FC seja
feito com a contribuição dos achados cllnicos.s.9.11
~ 1 achado fenotlplco
ou
Teste do suor positivo
ou
0 ATENÇÃO
~ATENÇÃO
O teste é realizado após 48 horas de vida (porém sem
ultrapassar 30 dias) por punção do calcanhar do recém-nas-
cido. Para a pesquisa da FC, é feita a leitura quantitativa da
Nos casos de FC atlpica, o teste do suor com valor
tripsina imunorreativa. O ponto de corte utilizado para defi-
normal ou limftrofe não afasta o diagnóstico de FC.
nir o teste positivo tem sido valor maior do que 70 ng/mL Se
Esses casos são frequentemente vistos pelo pneu-
a primeira dosagem for positiva, uma segunda dosagem deve
mologista de adultos e exigem esforço diagnóstico
ser realizada após duas semanas. As crianças cujos testes
adicional.
permanecerem positivos devem ser submetidas ao teste do
suor ou a estudo genético. Uma dificuldade na realização da
tripsina imunorreativa é a falta de consenso quanto ao ponto
de corte do teste para a triagem.•
São argumentos a favor da realização da triagem neona- Tratamento
tal para FC os indiscutíveis ganhos em relação ao diagnósti-
A FC é uma doença complexa que exige uma abordagem
co precoce e as repercussões sobre o estado nutricional, com
suas implicações sobre o aparelho respiratório e cognitivo. holística para o seu tratamento. A utilização do modelo de
Com o advento da triagem neonatal, é possível a confirma- abordagem multidisciplinar para tratar a doença se funda-
ção do diagnóstico no segundo mês de vida.14 menta na observação de que a formação de centros abran-
gentes de cuidados em FC está relacionada com o progressi-
5 11
vo melhor prognóstico dos pacientes.2.s
Exames complementares '9' A despeito do grande avanço sobre o conhecimento da FC, o
Na avaliação diagnóstica inicial, outros exames complemen- tratamento da doença é baseado na terapêutica sintomática
tares são utilizados. Eles contribuem de forma secundária e na correção das disfunções orgânicas. •
A FC é uma doença multissistêmica, mas o envolvimento A aquisição e a persistência de P. aeruginosa no trato
pulmonar é a causa principal de morbidade e mortalidade. respiratório inferior de pacientes com FC estão associadas
Embora o curso da doença pulmonar seja invariavelmente a maior morbidade e mortalidade. I nicialmente, as cepas
de deterioração progressiva, a abordagem terapêutica ade- isoladas têm aparência não mucoide e são multissensíveis
quada pode retardar a progressão da doença pulmonar. 2.S aos antibióticos. Essas cepas de infecção recente podem ser
O regime terapêutico padrão para a doença pulmonar erradicadas por tratamento antibiótico agressivo. No entan-
inclui: a) antibioticoterapia, b) higiene das vias aéreas e to, com o tempo, desenvolvem-se cepas de P. aeruginosa com
exercfcio, c) agentes mucolfticos, d) broncodilatadores, e) fenótipo mucoide que se associam a declínio mais acelerado
agentes anti-inflamatórios, f) suporte nutricional e g) suple- na função pulmonar e maior risco de morte.
mentação de oxigênio.2.S A infecção crônica por P. aeruginosa de fenótipo mucoi-
de costuma ser impossível de erradicar, e a meta do trata-
Antibioticoterapia mento antibiótico passa a ser, então, a supressão do pató·
geno. Assim, frente à identificação inicial de P. aeruginosa,
Os antibióticos são a pedra fundamental do tratamento da
doença pulmonar na FC. Os pacientes com FC devem ser o tratamento precoce e agressivo para tentar a erradicação
avaliados rotineiramente, de preferência a cada quatro me- e prevenir a infecção crônica tem sido recomendado. Entre-
ses, quanto à microbiologia e ao antibiograma do escarro.' 5 •9 tanto, uma área de incerteza no manejo da errad icação pre-
Os antibióticos podem ser utilizados em quatro situações coce de P. aeruginosa é qual o melhor regime terapêutico e a
clínicas específicas na FC: a) no tratamento das exacerba- sua duração. Uma alternativa prática para essa abordagem
ções infecciosas, b) na erradicação ou no tratamento a longo consiste na combinação de ciprofloxacina oral com colistin
prazo para Staphylococcus aureus, c) na erradicação precoce inalatório por um período de três a seis semanas. Naqueles
da infecção por PseudomoiUls aerugilUJsa e d) no tratamento pacientes com recidiva ou naqueles com identificação inicial
supressivo da infecção crônica por P. aeruginosa.U·9 de cepas mucoides, é sugerido um curso mais prolongado
O tratamento intermitente das exacerbações infecciosas de três meses. A utilização da tobramicina inalatória por 28
pode ser feito com antibióticos por via oral ou intravenosa, dias também obteve uma significativa taxa de erradicação. A
dependendo da gravidade do quadro clinico. Para os pacien- erradicação também foi demonstrada com a combinação de
tes com exacerbações mais graves, é preconizado o trata- antibióticos por via intravenosa oom antibióticos inalatórios,
mento com antibióticos intravenosos por 14 a 21 dias, em porém com desvantagens eoonômicas e Iogísticas.'·l·9
geral exigindo hospitalização. Os antibióticos inalatórios têm sido utilizados como for-
A escolha dos antibióticos é baseada na revisão das cul- ma de tratamento supressivo da infecção crônica por P. aeru-
turas de escarro e dos antibiogramas mais recentes. O alvo ginosa, oom evidências de melhora nos desfechos funcionais
do tratamento antibiótico abrange os patógenos especifica- e no curso clinioo. Estudos iniciais utilizaram os aminoglioo-
mente relacionados com a FC, como P. aeruginosa, S. aureus sfdeos, em especial a tobrarnicina, nas doses de 60 a 80 mg,
e Burkholderia cepacia. Como P. aeruginosa é o patógeno nebulizadas duas a três vezes ao dia. O oolistin (polimixina
mais isolado em adultos com FC, em geral se utiliza o tra- E) tem sido largamente utilizado na Europa nas doses de
tamento com fluoroquinolonas para as exacerbações leves, 500.000 a 1.000.000 UI, nebulizado duas vezes ao dia. Uma
enquanto a combinação de um betalactãmico com um arni- prepar ação de tobramicina inalatória livre de feno!, na dose
noglicosídeo está indicada para o tratamento das exacerba- de 300 mg por ampola, administrada duas vezes ao dia, por
ções mais graves.'.s.9
28 dias com intervalo livre de 28 dias, tem sido a forma de
S. aureus costuma ser a primeira bactéria cultivada na tratamento mais estudada por ensaios clínicos. A despeito
secreção respiratória em crianças com FC, permanecendo
desses avanços, ainda faltam evidências para definir qual o
como um importante patógeno no adulto. As abordagens
melhor fárrnaoo para a supressão crônica.15•9
para o tratamento de S. aureus incluem, além do curso anti-
As evidências para o uso oral crônioo de antibióticos em
biótico na exacerbação, um curso curto de antibiótico frente
adultos com FC são muito precárias. Thdavia, tem sido de-
à identificação da cultura de escarro positiva e antibiotico-
terapia prolongada a partir do diagnóstico de FC. Muitos monstrado que o tratamento oral com macrolídeo melhora
centros recomendam a erradicação precoce dessa bactéria, a função pulmonar e diminui a frequência de exacerbações
utilizando curso de antibiótico por duas a quatro semanas, em pacientes oom P. aerugiMsa . Os principais efeitos adver-
mesmo na ausência de sintomas. Embora o sucesso da er- sos demonstrados são náuseas e diarreia. Hepatotoxicidade
radicação seja de 75%, ocorre recidiva da infecção após a e ototoxicidade também têm sido evidenciadas. Os macrolf-
cessação do antibiótico. deos parecem exercer seus efeitos por meio de ação sobre a
A antibioticoterapia contínua com flucloxacilina, inicia- bactéria patogênica (afetando a formação do biofilme de P.
da a partir do diagnóstico de FC, resultou em menores taxas aeruginosa) e sobre o hospedeiro (efeitos imunomodulató-
de cultura de S. aureus, menos tosse e menores taxas de in- rios). O benefício do uso prolongado da azitromicina parece
ternação. E ntretanto, o tratamento antiestafilocócico contí- se estender também aos pacientes sem infecção por P. ae-
nuo resultou em taxas de aquisição deP. aerugi!Ulsa mais ele- ruginosa. Existe uma grande heterogeneidade na resposta à
vadas. No estado atual, existem evidências insuficientes para azitromicina. As doses utilizadas de azitromicina foram 250
definir a utilização da antibioticoterapia profilática para S. a 500 mg ao dia e 250 mg (peso < 40 kg) a 500 mg três vezes
aureus nessas duas situções.'~·9 por semana.'.5.9
Higiene das vias aéreas e exercício dão, alteração da voz e faringite. Na maioria dos casos, esses
As medidas mecânicas para aumentar o clearanct mucociliar sintomas são autolimitados.
têm se constituído em um dos pilares fundamentais no trata- A nebulização de solução salina hipertônica aumenta o
mento da FC. Existe uma variedade de técnicas fisioterápi- transporte ciliar, melhora as propriedades reológicas do es-
cas para a higiene das vias aéreas. As técnicas convencionais carro e melhora a hidratação da superfície das vias aéreas. A
incluem drenagem postural e percussão torácica em posições nebulização com solução salina de 3 a 7% na FC melhora o
anatômicas diferentes, de forma a facilitar - por ação da gra- clearance mucociliar c a função pulmonar em curto período
vidade - a remoção de secreções. A despeito das evidências de tempo. Mais recentemente, um ensaio clfoico estudou
de benefícios com essas técnicas, elas podem acarretar hi- a nebulização de 4 mL de solução salina hipertônica a 7%
poxia, particularmente em pacientes com doenças graves, e durante um perlodo de 48 semanas, mostra.ndo significati-
refluxo gastresofágico. Além disso, essas técnicas exigem as- va melhora funcional pulmonar e redução de 56% nas taxas
sistência para sua realização, oonsumindo tempo e tomando de exacerbação e não se associando a piora na infecção bac-
o paciente dependente de seus cuidadores, resultando em teriana ou na inflamação. Assim, a nebulização de solução
baixa adesão. À medida que o paciente se toma adulto, a salina hipertônica, precedida pela inalação de um bronco-
autonomia passa a ser uma prioridade. dilatador, é uma medida terapêutica barata e segura na FC,
Ma.is recentemente, foram desenvolvidas técnicas fisiote- cujos beneficios terapêuticos parecem ser independentes do
rápicas que permitem a higiene das vias aérea sem assistên- uso da alfa-dornase.
cia. Esses métodos incluem drenagem autogênica, drenagem Embora a N-acetilcistelna, na forma nebulizada, tenha
autogênica modificada, ciclo ativo da respiração, técnica de sido usada na FC para reduzir a viscosidade do escarro, sua
expiração forçada, pressão expiratória positiva aplicada por utilização carece de evidências suficientes. Além disso, esse
máscara, técnicas com dispositivos oscilatórios orais, com- fármaco pode ser irritante para as vias aéreas e causar bron-
pressões torácicas de alta frequência e ventilação percussiva coconstrição. A forma oral da medicação tampouco possui
intrapulmonar. O paciente deve ser orientado na esoolba, na fundamentação para sua utilização.
realização oorreta das manobras e na melhor combinação de
técnicas. A frequência e a duração do tratamento devem ser
individualizadas. Pacientes com sintomas respiratórios míni-
Broncodilatadores,,u
mos podem necessitar apenas uma sessão de fisioterapia por A hiper-reatividade brônquica é muito frequente na FC,
dia, enquanto pacientes com doença pulmonar mais grave ocorrendo em cerca da metade dos pacientes. Assim, os
ou com grande quantidade de secreção podem precisar de broncodilatadores inalatórios têm sido utilizados como par-
três ou mais sessões por dia.•.s.• te do tratamento-padrão da FC. Os agentes mais emprega-
A atividade física aumenta o clearance das vias aéreas dos são os agonistas bet~-adrenérgicos de curta ação. São
e se constitui em um importante adjuvante nas medidas de utilizados geralmente antes da fisioterapia respiratória, para
higiene brônquica. O exercício atenua o declínio da função facilitar o clearance das vias aéreas. A maioria dos pacientes
pulmonar, melhora o desempenho cardiovascular, aumenta apresenta melhora funcional com sua utilização. O empre-
a capacidade funcional e melhora a qualidade de vida. Por go do brometo de ipratrópio como broncodilatador na FC
essas razões, o exercício deve ser recomendado aos pacien- tem dados limitados, porém a maioria dos estudos mostra
tes adultos com FC. Pacientes com doença pulmonar mais um modesto benefício funcional. Assim, todos os pacien-
grave devem ser avaliados quanto à necessidade de receber tes com FC devem ser avaliados quanto à hiper-reatividade
suplementação de oxigênio durante a atividade física.u .• brônquica e um teste terapêutico com medicações broncodi-
latadoras deve ser realizado.
Agentes mucolíticosu,, 1
A viscosidade anormal do escarro na FC é causada pelo áci- Agentes anti·inflamatórios •5·'
do desoxirribonucleico (DNA) extracelular liberado pelos A busca de uma estratégia anti-inflamatória que detenha a
neutrófilos. A preparação de DNase humana recombinante progressão do processo fisiopatológico na FC tem sido alvo
ou alfa-dornase, administrada por via inalatória, diminui a de inúmeras pesquisas. Apesar de todos os esforços, ainda
viscosidade do escarro na FC mediante degradação do DNA não foi identificado um fármaco que seja eficaz e seguro
extracelular em pequenos fragmentos. Foi demonstrado be- para esse fim.
nefício da alfa-dornase em pacientes com mais de 5 anos de A prednisona na dose de 1 a 2 mglkg em dias alternados
idade e com volume expira tório forçado no primeiro segun- parece retardar a progressão da doença pulmonar, mas os
do (VEF,) maior que 40% do previsto, oom redução na taxa benefícios são oootrabalançados pela ocorrência de impor-
de exacerbação da doença pulmonar de 22% e melhora no tantes efeitos adversos, especialmente desenvolvimento de
VEF, de 5,8%. Em pacientes com doença pulmonar mais catarata e prejuízo no crescimento. Faltam evidências para o
grave (VEF, < 40% do previsto), foi observado benefício uso dos corticoides sistêmicos nas exacerbações. Entretanto,
funcional pulmonar, mas não redução nas exacerbações. A os corticoides sistêmicos têm sido utilizados como recurso
dose recomendada da alfa-domase é de 2,5 mg. nebulizada terapêutioo em pacientes com exacerbações graves, sobretu-
uma vez ao dia. Os principais efeitos adversos são rouqui- do na presença de hiper-reatividade brônquica.
Os corticoides inalatórios também têm sido estudados temporária para os pacientes com insuficiência respiratória
na FC com o objetivo de reduzir o processo inflamatório c crônica que aguardam transplante pulmonar.
diminuir a lesão pulmonar. Entretanto, no estado atual, as
evidências são insuficientes para estabelecer se há benefício
com o seu uso.
Abordagem das manifestações extrapulmonares
Doses elevadas de ibuprofeno (20 a 30 mg/kg ao dia) fo- Os pacientes com FC e fenótipo de insuficiência pancreática
ram estudadas em pacientes com FC, evidenciando redução exócrina devem receber suplementação de enzimas pancreá-
na taxa de declínio do VEF,, redução nas hospitalizações ticas nas refeiçôes e nos lanches. A dose inicial de enzimas
e melhora no estado nutricional. Contudo, a incidência de para o adulto é de aproximadamente 500 U de lípase/kg/
insuficiência renal e de hemorragia gastrintestinal duplicou, refeição e metade dessa dose nos lanches. As doses devem
limitando a sua utilização. Thmbém existe a necessidade de ser ajustadas de acordo com as necessidades clínicas até o
monitorar o nível sérico da medicação. Uma revisão de- máximo de 2.500 U de lípase/kg/refeição. Os pacientes com
monstrou a falta de evidências para recomendar o uso do insuficiência pancreática estão predispostos à má absorção
ibuprofeno na rotina clínica. das vitaminas lipossolúveis A, D, E e K. A suplementação
dessas vitaminas é recomendada de rotina.'5
Cerca de 20 a 25% dos pacientes com FC desenvolvem
Suporte nutricional15 doença hepática, mas apenas 6 a 8% deles evoluem para cir-
O estado nutricional desempenha um importante papel no rose. Os testes de função hepática têm baixa sensibilidade
curso clínico da FC. Prejuízos no estado nutricional acarre- e especificidade para o diagnóstico. Um sistema de escore
tam alterações na função pulmonar e interferem na sobre- ultrassonográfico pode contribuir para a identificação da
vida do paciente. A intervenção nutricional deve ser preco- doença hepática crônica em adultos. Há evidências de bene-
ce. Todo paciente deve ser avaliado regularmente, a fim de fício do ácido ursodeoxicólico na doença hepática relaciona-
monitorar o estado nutricional e assegurar uma adequada da com a FC. A dose apropriada é de 20 mglkg/dia em duas
ingestão calórica. A recomendação inclui uma dieta rica em tomadas. O transplante hepático tem sido uma estratégia te-
gordura, com 35 a 40% das calorias a partir dessa fonte. O rapêutica importante para os pacientes com doença hepática
paciente com FC pode necessitar 120 a 150% das necessida- crônica avançada.s.•
des diárias estimadas. Suplementos orais comerciais podem A prevalência de diabetes melito e de intolerância à gli-
ser utilizados em casos selecionados. A meta é manter o ín- cose aumenta com a idade. O estado clínico e a função pul-
dice de massa corporal~ 22 kg!m2 nas mulheres e ~ 23 kg/m 2 monar deterioram-se nos anos precedentes ao diagnóstico
nos homens. Ainda, são componentes importantes da abor- do diabetes, e ocorre piora na sobrevida. O rastreamento
dagem nutricional o tratamento da insuficiência pancreática regular com testes orais de tolerância à glicose permite a in-
exócrina e do diabetes melito relacionado com a FC. tervenção precoce com insulina.5' 9
A prevalência de osteoporose varia de 38 a 77% em pa-
cientes adultos. Os princípios para prevenir a doença óssea
Suplementação de oxigênio consistem em vigilância intensa, principalmente durante a
A doença pulmonar na FC tem caráter progressivo e, nas puberdade, associada a exercício físico e suplementação com
fases mais avançadas, acompanha-se de hipoxemia e hiper- cálcio e vitaminas D e K. Os bifosfonados, por via oral ou
tensão pulmonar. O tratamento da hipoxemia é importante intravenosa, são úteis para tratar doença estabelecida. 5'9
para retardar a progressão da hipertensão pulmonar. Porém, Noventa e cinco por cento dos homens com FC são in-
os dados disponíveis sobre oxigenoterapia na FC são muito férteis. A inferlilidade decorre de anormalidades no trato
limitados. Assim, os critérios utilízados para oxigenoterapia reprodutivo, resultando em azoospermia obstrutiva. A au-
contínua na FC são extrapolados dos estudos com doença sência de esperrnatozoides no espermograma confirma a
pulmonar obstrutiva crônica: pressão arterial de oxigênio infertilidade. Técnicas como aspiração microcirúrgica de
menor do que 55 mmHg na vigflia e em ar ambiente; ou esperma do epidídimo, aspiração percutânea de esperma do
pressão arterial de oxigênio menor do que 59 mmHg na pre- epidídimo e biópsia testicular permitem obter esperrnatozoi-
sença de edema de membros inferiores, policitemia ou evi- des. A técnica de concepção assistida de injeção intracito-
dência eletrocardiográfica ou ecocardiográfica de aumento plasmática do espermatozoide no oócito permite a paterni-
de câmaras direitas ou hipertensão pulmonar. Ainda, uma dade biológica desses pacientes. Porém, é um processo caro,
porcentagem de pacientes com FC apresenta hipoxemia so- disponível somente em grandes centros e com uma taxa de
mente durante o exercício ou durante o sono. sucesso por ciclo de 12 a 45%.5•9
A oxigenoterapia durante o exercício está indicada se a Embora existam relatos sobre a redução na fertilidade
saturação de oxigênio cair abaixo de 88 a 90%. A oxigeno- feminina na FC, essa afirmativa tem sido questionada. A es-
terapia noturna está indicada se a saturação de oxigênio for colha do contraceptivo é difícil e exige que seja individuali-
menor do que 88 a 90% por 10% ou mais do tempo total zada caso a caso. O uso de contracepção oral pode acarretar
de sono. Algumas situações específicas podem exigir pressão piora do diabetes, da má absorção e da disfunção hepática.
positiva contínua nas vias aéreas durante o sono. A ventila- Por outro lado, o uso de antibióticos de largo espectro pode
ção mecânica não invasiva pode ser uma medida de suporte afetar a absorção e a eficácia dos contraceptivos orais. Os
desfechos fetais e matemos da gestação na FC, em geral, são vias aéreas precisa vencer as defesas sistêmicas e locais pul-
favoráveis. O risco da gestação está aumentado na doença monares.
pulmonar avançada (VEF, < 50% do previsto), no diabe- A utilização de vetores virais para essa administração
tes melito e na desnutrição, porém o ponto de corte para a tem maior eficiência de transdução, porém não se tem en-
contraindicação clínica da gestação não está estabelecido.5•9 contrado solução para evitar a resposta imunológica que
surge com as readrninistrações. A utilização de vetores não
virais está associada a uma resposta imunológica bem me-
Transição da equipe pediátrica para a equipe de nos intensa, porém possui uma eficiência menor de trans-
adultos5'9 dução. Além disso, a baixa expressão da CFTR e o curso
O processo de transição dos cuidados de saúde entre eq ui- episódico da doença pulmonar tornam difícil a utilização
pes que lidam com diferentes faixas etárias é uma estratégia dos desfechos convencionais como medida de eficácia da te-
importante a ser desenvolvida em todos os centros de FC. rapêutica gênica. Dessa forma, a terapia gênica não se con-
Além da vantagem da abordagem mais direcionada a pro- verteu ainda em realidade clínica, a despeito de inúmeros
blemas cünicos específicos da idade, o programa de adulto ensaios clínicos. 5' 9
deve priorizar a independência e autonomia do indivíduo.
Embora seja sugerido que a transição ocorra entre os 16 e os
18 anos, deve haver flexibilidade, levando em consideração a
maturidade e o estado clínico do paciente. Em geral, a tran-
[I] ATENÇÃO
sição requer estabilidade clínica da doença.
Uma perspectiva de tratamento consiste na terapêu-
tica com células-tronco. Várias populações celulares
Transplante pulmonar derivadas da medula óssea adulta ou do cordão um-
O transplante pulmonar está relacionado com a perspectiva bilical podem localizar uma variedade de órgãos e
de maior sobrevida e de maior qualidade de vida na doença adquirir caracterfsticas fenotlpicas e funcionais de
pulmonar avançada. Em razão da natureza supurativa da células orgânicas especificas maduras. Isso permitiria
FC, existe a necessidade de pneumonectomia bilateral para corrigir o defeito genético mediante regeneração de
evitar infecção no pulmão enxertado. A técnica mais utili- células epiteliais respiratórias. Entretanto, o conheci-
zada é o transplante pulmonar duplo, por meio de proce- mento das células-tronco pulmonares é muito escas-
dimento cirúrgico sequencial bilateral, com doador cadavé- soe a pesquisa está em fase muito inicial. 5•9
rico. O transplante lobar de doador vivo é uma alternativa,
em especial para os pacientes que não podem aguardar na
lista por um doador cadavérico, e exige pequena estatura do
receptor e proporcionalidade de volume com os órgãos a se- Referências
rem enxertados. I. Ratjcn F, Dõring G. Cystic fibrosis. Lancct. 2003;361(9358):681-9.
Os critérios para referenciar o paciente incluem: VEF,
2. Yankaskas JR, Marshall BC, Sufian B, Simon RH, Rodman O.
< 30% do previsto; hipoxemia grave; hipercapnia; prejuízo
Cystic fibrosis adult carc: conscnsus confcrcncc repor!. Chcst.
funcional crescente ou aumento na duração e frequência
2004;125(1 Suppl):lS-39S.
do tratamento hospitalar para exacerbações; complicações
pulmonares ameaçadoras à vida, como hemoptise; aumen- 3. Strausbaugh SD, Dav:is PB. Cystic fibrosis: a revicw of cpidemio-
to da resistência dos patógenos bacterianos aos antibióti- logy and pathobiology. Clin Chcst Med. 2007;28(2):279-88.
cos. Em função da maior sobrevida dos pacientes com FC, 4. Santos GP, Domingos MT, Winig EO, Riedi CA, Rosario NA.
a utilização do VEF, < 30% do previsto tem sido revista (Nconatal cystic fibrosis scrccning program in thc statc of Para-
como critério de referenciamento para transplante. A taxa ná: cvaluation 30 months aftcr implemcntation]. J Pediatr (Rio J).
de decünio da função pulmonar tem sido sugerida como um 2005;81(3):240-4.
critério mais fidedigno. Um novo modelo para referencia-
S. Hodson M, Geddcs O, Bush A. Cystic fibrosis. 3rd ed. London:
mento e predição de mortalidade tem sido proposto a partir Hoddcr Arnold; 2007.
da pontuação de múltiplas variáveis clínicas e funcionais. A
sobrevida pós-transplante em cinco anos tem sido de 50%. 5•9 6. Raskin S, Pereira-Fcrrari L, Reis FC, Abreu F, Marostiea P, Rozov
T, et ai. lncidenoe of eystie fibrosis in five different states of Brazil as
determined by screening o f p.F508del, mutation at the CITR gene
Avanços e perspectivas in ncwborns and patients. J Cyst Fibros. 2008;7(1}:15-22.
O princípio da terapia gênica envolve a administração de 7. Boyle MP. Adult cystie fibrosis. JAMA. 2007;298(15}:1787-93.
ácido ribonucleico ou ácido desoxirribonucleico para as cé-
lulas epiteliais das vias aéreas, a fim de compensar o defeito 8. MassicJ, Curnow L, Gaffney L, Carlin J, Francis I. Decliningpre-
valcncc of cystic fibrosis sincc the introduction of ncwbom scree-
genético. As dificuldades técnicas incluem a necessidade de
ning. Arch Ois Child. 2010;95(7):531-3.
readministrações contínuas devido ao tumover das células-
-alvo. Além disso, a administração do material gênico nas 9. Bush A. Cystic fibrosis in the 21st ccntury. Base!: Karger; 2006.
10. Gibson RL, Burns JL, Ramsey BW. Pathophysiology and mana- 13. Müller NL, et ai. Radiologic diagnosis of diseases of the chest.
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12. Orenstein DM, Stem R, Rosenstein BJ. Cystic fibrosis: medicai
eare. Philadelphia: Lippineott Williams & Wilkins; 2000.
44
ml Esses múltiplos fatores determinam a conduta terapêutica
mais adequada para cada paciente.
Definição, Epidemiologia, Desde a publicação de sua primeira versão, em 2001,
a diretriz Global lnitiative for Obstructive Lung Disease
Fisio_pato enia e História Natura_!_ (GOLD) preconiza que se destaque a denominação DPOC
Mara Rúbia André Alves de Lima em vez dos termos enfisema pulmonar e bronquite crôni·
ca, que não são nem mencionados na definição da versão
GOLD 2010. 1 Porém, ambos os termos permanecem ainda
presentes, tanto entre os profissionais da saúde quanto entre
os pacientes.
Definição Enfisema pulmonar é uma das alterações patológicas
que podem ocorrer na DPOC e descreve a destruição da
) A~ superficie onde ocorrem as trocas gasosas nos pulmões, ou
seja, nos alvéolos. Bronquite crônica refere-se à presença de
A doença pulmonar obstrutiva crônica (OPOC) é uma tosse e expectoração ao longo de pelo menos três meses, du·
doença caracterizada por limitaçAo cr6nica do fluxo rante dois anos consecutivos.
aéreo, na maioria das vezes progressiva e pardal·
mente reverslvel, estando associada a uma resposta
inflamatória anormal do pulmão à exposição de ga· Epidemiologia
ses e partfculas nocivas, principalmente os contidos
na fumaça do cigarro. É, portanto, uma condição Prevalência
prevenfvel e tratável, embora não exista tratamento Apesar de várias dificuldades metodológicas, uma revisão
curativo. sistemática e metanálise de estudos efetuados em 28 países
entre 1990 e 2000 e outro estudo do Japão (GOLD) suge·
rem que a prevalência da DPOC é maíor em fumantes e ex-
Além da limitação do fluxo aéreo, urna gama de altera- -fumantes do que em não fumantes, acima dos 40 anos e em
ções patológicas do pulmão decorrentes de DPOC somadas bomens.
a repercussões significativas extrapulmonares e comorbida- Na América Latina, em 1991, na cidade de Pelotas (RS),
des, contribuem individualmente para a gravidade dos sin· a prevalência da população com sintomas de bronquite crô-
tomas de dispneia e limitação da capacidade de exercício. nica foi de 12,7%, sendo que 39% da população eram fu·
mantes.2 Em 2002, o Projeto Latino-Americano para Investi- fluenciada por outras comorbidades, como doença musculo-
gação da Doença Pulmonar Obstrutiva (PLATINO)' avaliou esquelética e diabete. Apesar disso, nos Estados Unidos, no
a prevalência e os fatores de risco associados à DPOC em ano de 2000, houve 8 milhões de consultas ambulatoriais, 1,5
cinco grandes cidades: São Paulo (Brasil), Santiago (Chi- milhão de atendimentos nas emergências e 673.000 hospita-
le), Cidade do México (México), Montevidéu (Uruguai) e lizações por DPOC.
Caracas (Venezuela). Essas cidades representaram diferen-
tes áreas geográficas da América Latina, sendo as maiores
áreas metropolitanas de cada um dos países participantes. Mortalidade
Foram investigados, aleatoriamente, indivíduos com mais de Em 2000, houve 2,74 milhões de óbitos no mundo por
40 anos, que responderam a um questionário sobre sintomas DPOC, sendo esta a quarta causa de morte. Em um estu-
e fatores de risco e realizaram espirometria antes e depois do sobre o impacto global da doença, foi considerado que
do uso de broncodilatador. Segundo o estudo PLATIN0,3 a uma epidemia poderia ocorrer devido ao aumento mundial
prevalência da DPOCvariou de 7 a 8% (78/1.000) na Cidade do tabagismo (principalmente na África e na Ásia), à mu-
do México a quase 20% (174/885) em Montevidéu. Em São dança da estrutura etá.r ia da população e ao declínio de ou-
Paulo, a prevalência foi de 15,8%. Foi constatada maior pre- tras causas de morte, como diarreia e doenças relacionadas
valência em homens e também em indivfduos mais idosos, com o vírus da imunodeficiência humana (HIV). A análise
com menor escolaridade, com menor índice de massa corpo- de tendência das seis principais causas de mortalidade nos
ral (IMC) e com maior exposição ao tabaco. Estados Unidos, entre 1970 e 2002, indicou que, enquan-
Os estudos de prevalência da DPOC precisam ser inter- to a mortalidade causada por outras doenças crônicas está
pretados levando-se em consideração que ainda não há con- declinando ou estabilizada, a mortalidade por DPOC está
senso quanto aos critérios mais adequados para o diagnós- aumentando.'
tico de tal doença nesse tipo de pesquisa. Thnto os estudos No Brasil, a DPOC foi a causa de morte que mais cresceu
com base em levantamentos epidemiológicos quanto aqueles no período de 1980 a 1999, sendo que em 1999 foi a quinta
com base em diagnóstico clínico prévio da DPOC apresen- causa de morte entre adultos. Em 2008, no Brasil, houve um
tam diversas fontes de variações. Algumas dessas fontes, se- total de 1.077.007 mortes por todas as causas, sendo 9,74%
gundo a GOLD, são representadas pelos seguintes aspectos: delas por doenças do sistema respiratório. Nesse grupo,
37.930 óbitos foram atribuídos à DPOC, que representou a
• O diagnóstico da DPOC defme-se na presença de obs- 10' principal causa de óbito e a segunda principal causa de
trução irreversível das vias aéreas identificada quando a óbito por doenças do sistema respiratório, perdendo apenas
relação volume expiratório forçado no primeiro segun- para a pneumonia.
do/capacidade vital forçada (VEF.fCVF) < 0,70 ocor-
rer no teste pós-broncodilatador. Porém, esse ponto de
corte fixo desconsidera alterações de volume pulmonar
Impacto social e econômico da doença pulmonar
que ocorrem com a idade. Assim, podem ocorrer diag- obstrutiva crônica
nósticos de DPOC falso-negativos em adultos jovens e Do ponto de vista social, existe uma medida chamada Disa-
falso-positivos em adultos acima dos 50 anos (GOLD). bility Adjusted Life Year (DALY), que soma os anos perdi-
Para corrigir essa distorção, foi sugerido o uso do limi- dos pela mortalidade prematura e aqueles vividos com limi-
te inferior da normalidade (LIN) da relação VEF,/CVF tações, sendo ajustada para a gravidade da limitação causada
pós-broncodilatador. por uma doença. A DPOC, em 1990, era a 12' colocada de
• Amostragens podem não ser representativas da popula- acordo com a DALY no mundo, e poderá ser a quinta, em
ção-alvo. 2020, devido ao tabagismo e ao aumento da faixa etária da
• As taxas de resposta ao broncodilatador são variáveis. população.
• O controle de qualidade da espirometria exige cuidados Do ponto de vista econômico, há custos diretos com
rigorosos. diagnóstico e cuidados médicos e custos indiretos relaciona-
• O uso de valores pré-broncodilatador, em vez de valores dos com faltas ao trabalho, mortes prematuras e gastos com
pós-broncodilatador, pode aumentar o número de casos. cuidadores, sejam profissionais ou membros da faJDJ1ia. Nos
• O esvaziamento inadequado dos pulmões durante as países em desenvolvimento, devido à DPOC e por falta de
manobras de espirometria é comum e aumenta artificial- suporte adequado, duas pessoas deixam de ir ao trabalho,
mente o valor de VEF,!CVF com consequente subdiag- ou seja, o doente e o familiar encarregado de seus cuidados.
nóstico da DPOC.
Fatores de risco
Morbidade Existem associações e interações entre os múltiplos fatores
Os dados de morbidade são menos fidedignos do que os de de risco para a DPOC que incluem, entre outros, fatores
mortalidade, pois dependem da disponibilidade de dados genéticos, exposição a inalantes nocivos aos pulmões (prin-
sobre consultas médicas, atendimentos nas emergências cipalmente fumaça de cigarros), características do desenvol-
e hospitalizações e do acesso que o paciente tenha a esses vimento e crescimento pulmonar, estresse oxidativo, gênero,
cuidados médicos. Além disso, a morbidade também é in- infecções, condições socioeconômicas, nutrição e asma.
Fatores genéticos Gênero
A DPOC é uma doença poligenética e um exemplo de in· As mulheres parecem ser biologicamente mais suscetíveis
teração entre genética e ambiente. A deficiência hereditá- (dose e exposição menores para um maior efeito). Além dis-
ria de alfa,-antitripsina é uma condição recessiva rara que so, tem ocorrido um aumento do tabagismo entre mulheres.
apresenta enfisema panlobular em não fumantes. Um dado
interessante é que familiares não fumantes em primeiro grau
Infecções viraise bacterianas
de pacientes com DPOC têm, com maior frequência, uma
São fatores de risco para o início e também para as exacer-
função pulmonar menor em relação àqueles sem histórico
bações da DPOC. Infecções respiratórias graves na infância,
de DPOC na família.
que podem depender de baixo peso ao nascer ou hiper-reati-
vidade brônquica, relacionam-se com sintomas respiratórios
Exposição a inalantes na idade adulta. A infecção pelo mv acelera o aparecimen-
Os efeitos nocivos da exposição a inalantes são aditivos e es- to da DPOC em fumantes. Pacientes com tuberculose pul·
tão relacionados com cigarro, exposição ocupaciona~ polui- monar prévia têm maior risco de apresentar obstrução ao
ção interna e poluição externa. fluxo aéreo, independentemente do tabagismo, reduzindo-se
O tabagismo contribui com 80 a 90% das causas identifi· o reconhecimento da DPOC em países nos quais a tubercu-
cáveis de DPOC. Um trabalho desenvolvido na Espanha de- lose é frequente.
5
monstrou que 15% dos fumantes apresentarão DPOC. To-
davia, acredha•se que uma porcentagem maior de indiv!duos
possa ter função pulmonar alterada se continuar a fumar.6
Condição socioeconómica desfavorecida
Nem todos os fumantes seguem o clássico curso evolutivo da É fator de risco para DPOC, podendo depender de maior
DPOC do diagrama de Fletcher e Peto, que é na realidade risco de exposição à poluição interna e externa, desnutrição,
uma média de mwtas evoluções individuais diferentes. 7 além do convívio em aglomerados e na pobreza.
CachUnbo, charuto e outros tipos de uso do tabaco, po-
pula.res em muitos países, bem como a exposição passiva à Nutrição
fumaça do cigarro, inclusive durante a gestação, também são Seu papel isolado é duvidoso, mas a desnutrição em animais
fato.res de risco para DPOC. As consequências do tabagismo de experimentos produziu DPOC e a tomografia computa-
são dose-dependentes e proporcionais à idade do início, ao dorizada de tórax em mulheres anoréxicas mostrou altera-
total de cigarros fumados e à condição de fumante ou ex- ções semelhantes às do enfisema. O baixo peso ao nascer é
· fumante, que são preditívos de mortalidade.
fator de risco pa.ra DPOC.
A exposição ocupacional a quimicos irritantes, a vapo-
res e poeiras orgânicas ou inorgânicas representa mais um
fator de risco, sendo que 10 a 20% dos sintomas ou da perda Asma
funcional relacionados com a DPOC podem ser de causas Asma e DPOC podem coexistir, mas a asma poderia ser um
ocupacionais. fator de risco para limitação fiXa do fluxo aéreo, embora essa
A poluição interna está relacionada com a fumaça oriun- hipótese aguarde comprovação. Entretanto, sabe-se que as-
da da queima de biomassa (lenha, excrementos de animais e máticos fumantes apresentam maior risco de DPOC do que
carvão) em ambientes com pouca ventilação. Esses métodos fumantes não asmáticos.
empregados para aquecimento das habitações e utilizados
em fogões para o preparo da alimentação são usados por três
bilhões de pessoas, principalmente por mulheres e crianças.
A poluição externa relaciona-se com a emissão de moto-
Fisiopatogenia
res de carros em centros urbanos. A curto prazo, tem efeito A fisiopatogenia da DPOC parece ter influência genética e
mais prejudicial para cardiopatas. piorar com o estresse oxidativo e o excesso de proteinases
pulmonares, levando às alterações patológicas caracterís-
Fatores que alterem o desenvolvimento e o crescimento ticas da doença. O estresse oxidativo gerado, entre outros
fatores, pela fumaça do cigarro aumenta nas exacerbações
pulmonar da doença, agrava a DPOC, ativa genes da inflamação e es-
São aqueles que atuam durante a gestação, durante o nasci-
timula a exsudação plasmática, reduzindo a ação anti-infla-
mento (baixo peso ao nascer) e durante infecções graves nos
matória dos glicocorticoides. O desequihôrio entre proteases
primeiros anos de vida.
e antiproteases pulmonares leva à destruição irreversível da
elastioa.
Estresse oxidativo A inflamação das vias respiratórias na DPOC repre-
Os pulmões são expostos a oxidantes endógenos provenien- senta um exagero da resposta inflamatória normal diante
tes dos fagócitos e de outras células, assim como oxidantes da exposição do pulmão a irritantes inalados, sendo que o
exógenos oriundos da polwção e dos cigarros. Quando há mecanismo que leva a essa resposta exagerada ainda é pou-
um desequil.íbrio entre os sistemas enzimáticos e não enzi- co entendido. As alterações patológicas envolvem células
máticos, ativam-se mecanismos moleculares inflamatórios. inflamatórias, como neutrófilos, macrófagos e linfócitos. Os
mediadores inflamatórios são de diversos tipos, podendo ser QUADRO 44.1.1 7 Oassificação espirométrica da gravidade da
mediadores quimiotáticos que atraem células inflamatórias DPOC conforme o VEF, pós-broncodilatador segundo a GOLD
da circulação, citocinas pró-inflamatórias que aumentam o 2010
processo inflamatório ou fatores de crescimento que indu-
zem mudanças estruturais. Estádio I VEF,JOIF< Leve limi~ do ftuxo aéreo
As diferenças entre a inflamação da DPOC e a inflama- DPOCieve 70% VEf, • ou > ~do previsto
ção da asma se associam a diversos efeitos fisiopatológicos,
sintomas e resposta ao tratamento. Porém, pode haver uma Estáó10 11 VEf,JOIF< limitaçAo moderada do fluxo aéreo
DPOC 70% 50%SVEF, <~do previsto
mescla da inflamação da DPOC com a inflamação da asma,
mostrando um aumento dos eosinófilos. Além disso, alguns moderada
asmáticos que fumam apresentam achados patológicos ca- Estádio 111 VEFJOIF < limit.Jç~o grave do fluxo aéreo
racterísticos de DPOC. DPOCgrave 70% 30% s VEF, < 50% do previsto
NORMAL DPOC
6 8 _,... •..•• PtC'Yisto
" -R~u)O
(''······..... '·...._ ..... EJotrdoo
•. 6
·•.
4
'·\
4 ·\.\
....... FIGURA 44.2.2 -7 Comparação da alça fluxo-volume corrente no
-;;;2
::. ~2 ,'.•.
...... repouso (alça menor contínua) e em um nível padronizado de exer-
õt ... cido (alça tracejada) com a máxima alça de repouso em pacientes
~o
'•
êo ê -2
com OPOC e indivíduos saudáveis. A porçáo positiva representa os
fluxos expiratórios, e a negativa, os fluxos inspiratórios. Observe a
-1 li:
u sobreposição entre as alças fluxo-volume corrente e a máxima na
-2 DPOC, ou seja, limitação do fluxo expiratório. Consequentemente,
-4
-3 com o aumento da demanda ventilatória no esforço e a redução
-4 -6 do tempo expiratório, há deslocamento da alça de exercício para
4 3 6 5 4 maiores volumes pulmonares (hiperinsuflação pulmonar dinâmica)
VOLUME (U VOLUME (U
com redução da capacidade inspiratória (CI). CPT =capacidade
Repouso f--- - --7 Repouso pulmonar total; VR = volume residual.
Exercício ~---7 Exerc.ício Fonte: Adaptada de O'Oonnell."
CI CI
Volume Volume
CPT
CPT
VPEF
VPEF VR
l>P
VR
---...1...-------- Pressão Pressão
a
RGURA 44.2.3-+ Curva pressão-volume (P-V) estática do sistema respiratório em indivíduo normal (A) e portador de DPOC (8). As alças menores re-
presentam esta relação no repouso, e as maiores, durante o exerdcio. Observe que indivíduos normais conseguem obter um aumento da capacidade
inspiratória (CO durante o exercício, mantendo a curva na posição central mais inclinada da relação onde variações (6) maiores de volume são obtidas
com variações menores de pressão (maior complacência do sistema respiratório). Na DPOC, em razão da limitação do fluxo expiratório durante o
exercício (ver Figura 44.2.2), ocorre uma redução da Cl (com redução do VRI) e deslocamento da curva para as partes mais superiores e achatadas
da curva P-V. Logo, maiores variações de pressão são necessárias para obter os mesmos níveis de variações de volume (menor complacência), com
aumento do trabalho elástico respiratório. CPT = capacidade pulmonar total; VRI = volume de reserva inspiratório; VPEF = volume pulmonar expi-
ratório final; VR = volume residual.
Fonte: Modificada de O'Donnel e colaboradores'
NORMAL DPOC
~:F } Cl
o
_ ,o
'2 v,
~20
"-
u VPEF
~ 30
~
~ 40
..
!so
E
.i2so cv
~ f--
70 70+-------------~---,
10 20 30 40 50 60 70 80 10 20 30 40 50 60 70 80
solicitada periodicamente pelo examinador durante o teste De fato, em um importante estudo que avaliou os mo-
de exercício. Thl metodologia tem como premissa fisioló- tivos da intolerância ao exercício em pacientes com DPOC
gica a constatação de que a CPT permanece relativamente (n=105), 14% daqueles com uma reserva ventilatória apa-
constante no exercício, mesmo em pacientes com DPOC.12' 14 rentemente dentro da normalidade (VEmáx/VVM < 75 a
Desse modo, pode-se confirmar e graduar a hiperinsu.llação 80%) apresentaram uma limitação ventilatória indicada por
pulmonar na DPOC por meio da queda da CI corresponden- aumento de volumes operantes em valores muito próximos
te à elevação do VPEF no decorrer do exercício. (ver Figura da CPT (volume pulmonar inspiratório fmal > 95% da CPT)
44.2.4). 10,15-17 e queda significativa da CL 10
Assim, a redução da hiperinsuflação em paciente com pós..:arga do ventrículo direito devido a um aumento na
DPOC é um mecanismo..:have na melhora da tolerância resistência vascular pulmonar por lesão vascular direta, va-
ao exercício físico. Diversas intervenções que aumentam a soconslrição hipóxica e/ou eritrocitose. O aprisionamento
capacidade de exercício estão associadas a redução da hi- aéreo e o consequente aumento na pressão atrial direita
perinsuflação pulmonar: terapia broncodilatadora (FIGURA também podem comprometer a função cardíaca durante o
44.2.5), 11 uso de mistur a gasosa de baixa densidade contendo exercício.
79% de gás hélio e 21% de oxigênio (heliox), suplementação A disfunção muscular esquelética periférica pode ser
de oxigênio durante atividade física e programa de reabilita- resultante de emagrecimento com consequente sarcopenia,
ção pulmonar com treinamento físico.' 8 Ressalta-se, ainda, descondicionamento fisico por inatividade, inflamação sistê-
que uma melhora na tolerância ao exercício tem potencial mica, estresse oxidativo, distúrbios na troca gasosa e uso de
de promover efeitos positivos no nível de atividade dos pa- corticoide sistêmico. Uma capacidade aeróbia reduzida dos
cientes, o que, por sua vez, pode levar à melho.r a adicional da músculos periféricos pode afetar a tolerância ao exercício,
capacidade física. principalmente pelo aumento desproporcional da acidosc
Conforme comentado antes, além da lim.i tação ventila- láetica para uma dada carga de exercício. Isso acarreta au -
tória, os pacientes com DPOC apresentam um aumento da mento das necessidades ventilatórias, impondo uma carga
demanda ventilatória. Isso ocorre, principalmente, devido adicional para músculos respiratórios já sobrecarregados.
à ineficiência ventilatória pulmonar resultante de altera-
ções na relação entre ventilação alveolar c perfusão capilar
(VNQc). Assim, as áreas com alta relação VNQc resultam
em aumento da fração respirada desperdiçada no espaço Referências
morto (aumento da relação espaço morto/Volume corren- 1. Alivcrti A, Macldem PT. Point-countcrpoint: thc major limitation
te - VEM/VC), gerando a necessidade de maior ventilação to cxcrcisc performance in COPO is inadcquate cncrgy supply to thc
rcspiratory and locomotor musclcs. J Appl Physiol. 2008;105:74~·51.
para eliminar o C02 produzido no exercício. Hipoxemia e
aumento do gradiente alvéolo-arterial de 0 2 [P(A-a)OJ são 2. Ocbigaré R, Mal tais F. Point-countcrpoint: thc major limitation o
resultantes da perfusão de unidades pobremente ventiladas excrcisc performance in COPO is lowcr limb musclc dysfunction. J
(baixa relação VNQc), porém não ocorrem de forma sis- Appl Physiol. 2008;105(2):751-3.
temática como nas doenças do interstício e da vaseulatura 3. O'Donncll DE, Wcbb KA. Point-counterpoint: thc major limita-
pulmonar." Outros fatores que contribuem para a demanda tino to cxcrcisc performance in COPO is dynamic hypcrinflation. J
ventilatória aumentada na DPOC incluem acidosc láctica Appl Pbysiol. 2008;105(2):753-5.
precoce, alta demanda metabólica, baixo ponto de ajuste do
4. Ncdcr JA, Jones PW, Ncry LE, Whipp BJ. Octcrminants of thc
C0 2 arterial em alguns pacientes e outras fontes de origem
cxercisc cndurance capaeity in paticnts with cbronic obstructive pul-
não metabólica de estimulo ventilatório, como os reflexos monary discasc: the power-duration rclationsbip. Am J Rcspir Crit
vagais toracopulmonares?'' Carc Mcd. 2000;162(2):497-504.
Por fim, a disfunção do sistema eardiovascular e da mus-
culatura esquelética muitas vezes está associada ou é uma S. Pucntc-Macstu L, Oarda de Pedro J, Martlnez-Abad Y, Ru(z de
consequência desses mecanismos recém-descritos, poten- Ona JM, Uorcnte O, C\Jbillo JM. Dyspnea, vcntilatol}' pauern, and
cialmente contribuindo para a intolerância ao exercício na changcs in dynarnic hypcrintlation rclatcd to thc intcnsity of cons-
2 tant work ratc cxcrcisc in COPO. Cbcst. 2005;128(2):651-6.
DPOC. '
O sistema eardiovascular pode estar comprometido de 6. Borghl-Silva A, Oliveira CC, Carrascosa C, Maia J, Bcrton DC,
diversas maneiras, sendo a mais importante o aumento na Quciroga F Jr, et ai. Rcspiratory muscle unloading improvcs leg
"'li:~ 140
~ Pt~..f PR
!"'.. 4
120 P6s·IPR
~
v, / FIGURA 44.2.5 ~ Volumes pulmonares operantes e dispneia du·
~
,.
/
rante o exercido em pacientes com OPOC antes (pré-IPR) e depois
l
i!.
100
1<5 /
/
(pós-IPR) da administraçao de brometo de ipratr6pio 500 IJ9 via
nebulizaç3o. Observe a redução nos volumes pulmonares operan-
ll 80 tes e o consequente aumento do volume de reserva inspirat6rio
E
(VRI) no pico do exercício, proporcionando menor restrição mecj-
~ 60 o
nic:a para expans3o do volume corrente (V,).Isso pro~ melhora
da dispneia e aumento do tempo de exercício.
o 2 4 6 8 10 12 o 4 6 8 10 12
Tempo de exerclóo (min)
Fonte: Adaptada de O'Oonnell."
Tempo de exerclóo (min)
muscle oxygenation during exercise in patients with COPO. Thorax.
2008;63:910-5. D
7. Chiappa GR, Borghi-Silva A, Ferreira LF, Carrascosa C, Oliveira Diagnóstico
CC, Maia J, et ai. Kinetics of muscle deoxygcnation are accelcra-
ted at the onset of hcavy intensity exercise in patients with COPO: Luciano Müller Corrêa da Silva
rclationship to central cardiovascular dynamics. J Appl Physiol. Luiz Carlos Corrêa da Silva
2008;104(5): 1341-50.
Estádio I leve limitação do fluxo aéreo (VEF jCVF < O, 7 ou < limite Nesse estágio, em geral náo há queix.1 de di.spneia.
(leve) inferior para individuas > 60 anos e VEF 1 ~ 80% do previsto),
acompanhada ou não de tosse e expectoração.
Estádio 11 VEF JCVF reduzida segundo os critérios acima e VEF 1 entre 50 e Nessa fase, os pacientes podem procurar assistência
(moderado) 80% do previsto. Nessa fase, costuma haver queix.1 de dispneia médica por sintomas respiratórios crônicos ou por alguma
aos esforços. ex.1cerbação.
Estádio 111 VEFJCVF reduzida segundo os critérios acima e VEF 1 entre 30 Frequentemente há procura por assistência médica. O
(grave) e 50% do previsto. Nessa fase, costuma haver dispneia mais encaminhamento ao pneumologista é essencial.
intensa, a~pacidade aos esforços bem reduzida e exacerbações
frequentes, com importante prejuizo na qualidade de vida.
Estádio IV Obstrução ao fluxo aéreo muito grave (VEF JCVF reduzida Insuficiência respiratória crônica: PaO, < 60 mmHg (8
(muito grave) segundo os critérios acima e VEF1 < 30% do previsto), ou VEF. kPa), com ou sem Paco, > 50 mmHg (6. 7 kPa) ao nfvel do
<50% do previsto + manifestações de insuficiência respi ratória mar, em ar ambiente.
crônia~. Qualidade de vida pobre.
Obs. OVEF1 é medido após o uso de broncodilatador (p. ex., salbutam ol 400 ~g).
Fonte: Adaptado de Globallnitiatiw for Chronic Obstructive lung Disease. J
das vias aéreas de maior calibre, resultando em menor volume A análise da resposta ao broncodilatador é fundamen-
de ar expirado. Naqueles pacientes com relação VEF,ICVF tal, pois o VEF, utilizado para classificar a gravidade da
limltrofe, o uso da relação VEF,JCVL pode aumentar a sensi- DPOC é o obtido após o seu uso. Em pacientes com DPOC,
bilidade do diagnóstico de limitação do fluxo aéreo. a ausência de resposta imediata ao broncodilatador (10 a 15
O uso do volume expiratório forçado em seis segundos minutos) não tem nenhum valor em predizer a resposta ao
(VEFJ não pode ser mais utilizado como desfecho substitu- tratamento. Um mesmo paciente, em momentos diferentes,
to da CVF. A relação VEF,IVEF6 não apresenta sensibilida- pode apresentar ou não variação significativa do VEF, ao
de adequada para o diagnóstico de obstrução ao fluxo aéreo broncodilatador. Os critérios de resposta ao broncodilatador
em relação à VEFJ CVF.' em pacientes com obstrução ao fluxo aéreo variam conforme
Outra variável útil para mensuração é a capacidade as sociedades médicas.
inspiratória (CI). A Cl, principalmente em pacientes mais O Consenso da American Thoracic SocietyfEuropean
graves, pode estar reduzida por efeito da hiperinsuflação Respiratory Society (ATSIERS) considera resposta ao bron-
pulmonar. Essa redução apresenta correlação com limita- codilatador uma variação :2: 12% e :2: 200 mL do VEF1, ou da
ção ao exercício em pacientes com DPOC (consumo máxi- CVF.7
mo de 0 2 na ergoespirometria e maior dispneia no teste de Já o Consenso Brasileiro sobre Espirometril valoriza
caminhada).' Uma melhora da CI após o uso de broncodi- muito mais a mudança das variáveis em relação aos valores
latador correlaciona-se mais com a redução da dispneia do previstos. Esse modo de avaliar a resposta ao broncodila-
queoVEF1• tador apresenta vantagens (avaliação da resposta indepen-
Casanova e colaboradores6 publicaram um artigo vali- dentemente do grau de obstrução e melhor correção para
dando um novo índice denominado "fração inspiratória", tamanho, idade e sexo do indivíduo). Nesse caso, considera-
defmida como a relação capacidade inspiratóriafcapacidade -se resposta ao broncodilatador uma variação do VEF 1 :2:
pulmonar total (CI!CPT). Esse índice refletiria o grau de 200 mL e > 7% em relação ao previsto em paciente com
hiperinsuflação pulmonar estática (em repouso), a exemplo obstrução ao fluxo aéreo. Se, junto com a resposta ao bron-
do grau de disfunção ventricular esquerda medida pela fra- codilatador, ocorrer normalização do VEF, (> 80% do pre-
ção de ejeção na ecocardiografia. Utilizando como ponto de visto), o diagnóstico de DPOC pode ser questionado. Para
corte para a relação CI/CPT o valor de 25%, constatou-se a CVF, costuma-se utilizar como ponto de corte na resposta
que a mortalidade em pacientes com CIICPT ::; 25% foi de broncodilatadora uma variação <?: 350 mL; para a CVL, uma
71% versus 29% em pacientes com CI/CPT > 25% em um variação <?: 400 mL; e para a Cl, <?: 300 mL. Para a CI, uma
seguimento médio de três anos. Em análise multivariada, a variação absoluta > 15%, ou > 10% em relação ao previsto,
relação CI!CPT foi um fator preditor independente de mor- também pode ser considerada critério de resposta ao bron-
talidade, o que faz desse novo índice uma variável adicional codilatador. Essas variações correlacionaram-se com melhor
9 0
para a avaliação do prognóstico em DPOC. Contudo, a Cl, desempenho ao exercício. ·'
em relação ao VEF" ainda tem duas grandes desvantagens: Na análise da variação da CVF ou da CVL, é importante
menor reprodutibilidade e ausência de tabelas de referência que não haja diferença muito grande entre o tempo expira-
confiáveis e estudos a longo prazo que avaliem a sua evolu- tório pré e pós-broncodilatador (> 10%) e que o aumento
ção em pacientes com DPOC. da CVF ou da CVL pré versus pós seja verificado no mesmo
tempo expirado pré venus pós. Contudo, mesmo esses crité- É importante salientar que pacientes moderadamente
rios podem ser questionados. Um estudo recente de análise obesos também podem apresentar uma DLco alta." No caso
11
da variação individual de variáveis de esforço inspiratório de apresentarem DPOC concomitante, a DLco pode estar
sugere que uma variação absoluta significativa para a CI se- compensatoriamente normal Na DPOC, a redução da DLco
ria de 20%, e não 15%. Seja oomo for, esses são os melhores costuma ocorrer somente após um decHnio mais significativo
critérios dos quais se dispõe até o momento. do VEF,. Se a DLco está muito reduzida em um paciente
Uma oonsideração importante é que resposta ao bron- com DPOC com leve obstrução ao fluxo aéreo, outra causa,
codilatador, isoladamente, não pode ser oonsiderada como além do enfisema, deve ser considerada.
critério para diferenciar DPOC de asma. Em pacientes com DPOC e restrição pulmonar associada,
como quando da concomitância de enfisema e pneumonia in-
tersticial fibrosante, a DLco pode estar muito reduzida, sendo
Volumes pulmonares estáticos essa redução desproporcional em relação a VEF,, CVF c CPT.
A determinação da capacidade pulmonar total (CPT), do Em pacientes jovens com obstrução ao fluxo aéreo e DLco
volume residual (VR) e de outros índices derivados dessas baixa, deficiência de alfa,-antitripsina deve ser considerada.
variáveis não pode ser feita pela espirometria simples. A me- Para fins prognósticos, uma DLco mais baixa ainda
dida do VR é sempre indireta, sendo derivada da capacidade apresenta valor incerto, ao contrário do VEF,. O teste é de
residual funcional (CRF). Várias técnicas são empregadas fundamental importância para avaliação de risco operatório
nesse sentido: pletismografia de corpo inteiro, lavagem de em paciente com DPOC, pois uma DLco :S 40% do previs-
nitrogênio (N2), técnica de di.luição de gases. to (medida diretamente, ou estimada caso haja resscoção
De forma geral, a CRF medida pela pletismografia tem a pulmonar) indica risco muito alto de mortalidade cirúrgica.
vantagem de incluir tanto as áreas ventiladas quanto as não Todo paciente que vai se submeter a uma cirurgia de ressec-
ventiladas, medindo de forma mais acurada, por exemplo, ção pulmonar deve realizar medida da DLco, independente-
áreas de enfisema bolhoso ou áreas de ar aprisionado. Por 15
mente do valor do VEF1•
outro lado, a CRF medida pela pletismografia pode medir
ar de vísceras abdominais que estejam presentes no tórax.
Além disso, em pacientes com obstrução grave ao fluxo aé- Gasometria arterial e oximetria digital não
reo, uma frequência de panting > 1 Hz pode superestimar a invasiva (Sp02)
medida da CRF. Já as técnicas de lavagem de N 2 e diluição O papel da gasometria na avaliação ambulatorial eletiva de
de gases tendem a subestimar a CRF, mas são de execução pacientes com DPOC é bem mais limitado do que qualquer
mais fácil. outro teste funcional. Ela não costuma ser recomendada,
Para fins práticos, pode-se estabelecer como ponto de pois não é isenta de efeitos adversos decorrentes de punção
12
corte para hiperinsuflação grave uma CPT > 133%. Para arterial.
fins de resposta ao broncodilatador, não existe um critério Ao contrário, a oximetria digital não invasiva, pela sim-
defmido para a variação do VR. Empiricamente, admite-se plicidade e rapidez da técnica, deve sempre fazer parte do
que uma redução do VR > 20% seja significativa. Sempre exame físico. A gasometria arterial pode ser indicada para
deve ser lembrado que a relação CIJCPT parece ter impor- pacientes com Sp02 < 95%, em ar ambiente e em repou -
tância prognóstica, conforme discutido antes. so, e em pacientes com obstrução ao fluxo aéreo mais grave
(VEF1 < 50% do previsto). Hipercapnia ocorre com mais
Difusão frequência em pacientes com VEF1 < 1 L.
A capacidade de difusão dos pulmões para o monóxido de
carbono (DLco) é um teste relativamente fácil de realizar e Testes de exercício
que pode ser importante no diagnóstico diferencial da DPOC O teste de caminhada dos 6 minutos é o teste mais bem
Em geral, a técnica mais empregada é a de respiração única. validado e mais prático a ser realizado em pacientes com
No entanto, para pacientes com função pulmonar muito limi- DPOC. É um exame que frequentemente se correlaciona
tada (capacidade vital < 1,5 L) ela toma-se inviável. com o desempenho do paciente em suas atividades diárias.
A DLco é um bom marcador do grau de enfisema em Auxilia, também, como um dos indicadores prognósticos no
pacientes obstrutivos. Uma DLco reduzida tem alta corre- índice de BODE (ver adiante). Além disso, permite detectar
lação com uma densidade média baixa de tecido pulmonar dessaturação sanguínea (da hemoglobina) ao exercício. A
medida pela tomografia computadorizada de tórax de alta ergoespirometria tem valor, sobretudo, na avaliação do risco
resolução. 13 Pacientes fumantes com obstrução ao fluxo aé- operatório. Em pacientes com DLco alterada ( < SO%), pode
reo que apresentam uma DLco totalmente normal muitas ser útil na estratificação do risco operatório.
vezes mostram predomlnio de um componente bronquí-
tico. Uma DLco normal ou aumentada em paciente com
resposta muito importante ao broncodilatador (variação do Outros estudos funcionais
VEF1 > 10% do previsto) geralmente significa asma, e não A polissonografia ou a monitoração noturna por oximetria
DPOC. podem ser indicadas ante a suspeita de slndrome das apoeias
obstrutivas do sono (SAOS), principalmente em pacientes
obesos, ou no caso de policitemia e/ou sinais de cor pu/mo· Pontos-chave
na/e. A função pulmonar (VEF, previsto) não parece ser um O diagnóstico de pacientes com DPOC costuma incluir os se·
fator preditor na triagem de pacientes para a realização de guintes achados:
polissonografia." A determinação das pressões respiratórias
1. Idade > 40 anos.
máximas, inspiratória e expiratória, tem indicação sobretu- • Fumante ou ex· fumante (costumeiramente<! 20 anos·
do nos pacientes com DPOC e disfunção muscular, ou com ·maço), ou com exposição a produtos de combustão
dispneia desproporcional às medidas da função pulmonar. de biomassa em ambientes fechados (pelo menos 1O
hora~dia).
• Sintomas respiratórios crônicos, particularmente tos·
Oíndice de BODE se, expectoração mucoide e dispneia, com períodos
O sistema de classificação da Global Initiative for Obstruc- de exacerbação. A dispneia crônica aos esforços é o
tive Lung Disease (GOLD) baseia-se unicamente no VEF, sintoma mais importante.
para o estadiamento da gravidade e, consequentemente, do • Obstrução ao fluxo aéreo (VEF ,fCVF reduzida, irrever·
prognóstico em pacientes com DPOC. No entanto, o índice sível, ou apenas parcialmente reversível, e progressi·
de BODE (QUADRO 44.3.2) apresenta um melhor valor pre- va).
2. A realização de espirometria com broncodilatador é fun·
ditivo para risco de mortalidade em pacientes com DPOC. damental para o diagnóstico e a estratificação da gravi·
As quatro variáveis incluídas nesse índice são índice de dade.
massa corporal (Body mass index), VEF, (Obstruction), grau 3. Comorbidades devem sempre ser avaliadas. Fatores de
de dispneia (Dyspnea, medida pelo Modified Medicai Rese· risco, sinais e sintomas de doença cardiovascular são de
arch Council - MMRC - dyspnea score) e distância percor- fundamental importAncia, considerando sua prevalência
rida no teste da caminhada dos seis minutos (Exercise). 17 O em pacientes com DPOC.
índice de BODE apresenta melhores correlações com mor· 4. Grau de dispneia (MMRC), IM C, hemograma, radiografia
talidade, qualidade de vida e risco de exacerbação do que de tórax. eletrocardiograma e oximetria digital não inva·
o VEF, ou qualquer outro índice já validado. O maior nú- siva são itens fundamentais na avaliação clínica inicial de
qualquer paciente com suspeita de DPOC (Figura 44.3.1).
mero de pontos possíveis é 10. O quartil mais alto (quarto
5. Outros exames dependem das variáveis avaliadas no
quartil - BODE 7-10) esteve associado a uma mortalidade item 4 e dos dados clinicas (Figura 44.3.1).
de 80% em 52 meses no trabalho de validação original. Para 6. É importante identificar pacientes que apresentam exa-
cada aumento de 1 ponto no escore, existiu um aumento na cerbações frequentes, pois eles representam um subgru·
razão de mortalidade de 1,34 (34%). Indivíduos no quarto pode maior risco.
quartil apresentam um risco quatro vezes maior de sintomas 7. Para pacientes com DPOC moderada, grave ou muito
depressivos e de exacerbações. grave, pela classificação da GOLO, é importante o cálculo
Atualmente, o índice de BODE é um cálculo obrigató· do índice de BODE na avaliação inicial para fins prognós·
rio que deve constar na avaliação inicial de pacientes com ticos.
DPOC por ser um dos poucos preditores fidedignos e de
fácil acesso em qualquer contexto, seja em uma clínica de
atenção primária ou em um centro de referência.
Distância no teste da caminhada dos seis minutos <! 350 250·349 150·249 S149
1
VEf,/CVF < 0,7 (ou < fomrte1nfenor s. > 60 anos)
1
Escala de dispneia MMRC Escala de dispneia MMRC
IMC IMC
Hemograma Hemograma
Radiografia de tórax Radiografia de tórax
Eletrocard•ograma Eletrocardiograma
Oximetria dtgital nio invastva Oximetria digital não invasiva
Gasome tria a rteriol s. SpO, < 95% Gasometria arterial se SpOl < 95%
Dlco (se suspeita de •nf1.sema. ou para risco operatório) Dl.co
Volumes pulmonares (se suspeita de hiperins.,flaçio) Volumes pulmonares
Teste da caminhada dos seis minutos (se MMRC > 1) Teste da caminhada dos seis minutos
Ecocardiograma (se suspeita de cor pu/monak) Ecocardiograma (se suspeita de cor pulrnoMk)
Polissonogralia (so suspeito de SAOS) Polissonografia (se suspeita de SAOS)
FIGURA 44.3.1 ~ Algoritmo para avaliaçjo cllnica e funcional do paciente com OPOC. (Adaptada da referM<:ia 18.)
6. Casanova C, Cote C, Thrres JP de, Aguirre-Jaime A, Marin JM, 13. Gould GA, Redpath AT, Ryan M, Warren PM, Best JJ, Flcn·
Pinto-Plata V, et al. lnspiratory-to-totallung eapacity ratio predicts ley DC, et al. Lung CT density eorrelates with measurements
mortality in patients with chronic obstructive pulmonary diseasc. of airflow limitation and the diffusing eapacity. Eur Respir J.
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14. Saydain G, Beclc KC, Decker PA, Cowl cr, Scanlon PD. Oinical O enfisema é definido hoje em dia como "aumento anor-
si!lllifocance o f elevated diffusing capacity. O!est. 2004;125(2):446- mal e permanente dos espaços aéreos distais ao bronquíolo
52. terminal acompanhado de destruição das paredes alveolares,
15. Brunelli A, Rcfai MA, Salati M, Sabbatini A, Morgan-Hugbcs sem fibrose óbvia"? A caracterização de um paciente como
NJ, Rocco G. Carbon monoxidc lung diffusion capacity improvcs bronquítico crônico não é baseada apenas em alterações his-
risk stratification in paticnts without airOow limitation: cvidcnce for topatológicas, mas fundamenta-se em critérios clínicos que
systcmatic mcasurcment bcfore lung resection. Eur J Cardiothorac compreendem episódios de tosse persistente c produtiva
Surg. 2006;29:567-70.
cujo tempo de duração perfaz três meses por ano, ao longo
16. Sharma B, Feinsilvcr S, Owcns RL, Malhotra A, McSharry O, de dois anos consecutivos, pelo menos.
Karbowitz S. Obstructive airway disease and obstructivc sleep &J>-
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Radiografia de tórax
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18. Guia de Practica Clínica de Di3811óstico y Thuamiento de la En-
fcrmedad Obstructiva Cronica. SEPAR·AI...AT, 2009. www.separ.es
Em
Avaliaç_
ão Radioló ica
Bruno Hochhegger
Klaus l.lrion O rendimento da avaliação do enfisema pelo estudo ra-
Arthur S. Souza Jr. diológico simples é bastante limitado, não havendo anor-
EdsonMarchiori malidade na radiografia se não existir aprisionamento de ar.
Nesses casos, a principal alteração é a redução da vascula-
tura, perceptível apenas muito tarde na história natural da
doença, além de ser um critério de extrema subjetividade.
Introdução Quando há aprisionamento de ar, os critérios mais segu-
Atualmente, o enfisema pulmonar c a bronquite crônica são ros são descritos no QUADRO 44.4.1.
referidos em conjunto sob o acrônimo DPOC (doença pul- Quando todos os critérios estão presentes, o diagnóstico
monar obstrutiva crônica). Estima-se que a DPOC afete de é de certeza. Dentro do diagnóstico diferencial desses acha·
6 a 15,8% da população com idade superior a 40 anos, gene- dos, o aumento de câmaras direitas do coração, com redução
ralizando-se para a população brasileira os dados obtidos no da vasculatura intrassegmentar, também pode ser identifi-
estudo PLATINO,' em São Paulo. A DPOC é a quinta maior cado em hipertensão arterial pulmonar sem enfisema. Os
causa de internamento no sistema público de saúde do Brasil critérios, apesar de específicos quando positivos, são pouco
em maiores de 40 anos, com 196.698 internações, sendo gas- sensíveis, tendo como exemplo as bolhas, que s6 estarão pre-
tos ao redor de 12 milhões de reais por ano. sentes em um terço dos casos.
A DPOC é uma enfermidade respiratória prcvenível e Em revisões atualizadas, reafirmam-se algumas proposi-
tratável, caracterizada pela presença de obstrução crônica do ções de extrema importãncia:2
fluxo aéreo que não é totalmente reversível. A obstrução do
fluxo aéreo costuma ser progressiva e está associada a uma
• "Se os pulmões são levemente afetados por enfisema, a
resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de par-
radiografia com frequência é normal."
tículas ou gases tóxicos, causada, sobretudo, pelo tabagismo.
• "Enfisema pode ser diagnosticado pela radiografia quan-
O processo inflamatório crônico pode produzir altera-
do a doença está avançada."
ções nos brônquios (bronquite crônica), nos bronquíolos
• "Somente metade dos pacientes com enfisema de exten-
{bronquiolite obstrutiva) e no parênquima pulmonar (en-
são moderada tem o diagnóstico feito pela radiografia
fisema pulmonar). Essas alterações anatomopatológicas,
causadas sobremaneira pelo tabagismo, encontram-se de tórax."
em proporções variáveis em cada indivíduo afetado pela • "A radiografia de tórax não é considerada uma ferra-
doença, tendo correlação com as manifestações clínicas menta confiável para o diagnóstico ou a quantificação do
apresentadas. Os extremos de tais alterações são o enfise- enfisema."
ma pulmonar (dano predominante no parênquima pulmo-
nar) c a bronquite crônica (dano, principalmente, bronco- Na bronquite crônica, o outro espectro da DPOC, o es-
bronquiolar). pessamento de paredes brônquicas é o único achado signi-
FIGURA 44.4.1 ? Radiografia de tórax em incidên-
cia posteroanterior (A) e perfil (8) demonstrando o
rebaixamento das hemirupulas diafragmAticas (setas
simples) e o aumento do espaço retroesternal (seta de
ponta dupla). Note também o espessamento de feixes
broncovasculares difuso e bilateral, presumivelmente
representando algum grau de bronquite crônica.
[I] ATENÇÃO
Quando o enfisema encontra-se às margens de uma cicatriz
nos pulmões, pode ser denominado enfisema paracicatricial.
A quantificação por escore visual geralmente utiliza es-
Em relação à apresentação radiológica e ao prognós- cala de 1 a 4 ou 5, graduando a doença conforme acometi-
tico, um estudo de sobrevida realizado por Simon e mento de O, 25, 50, 75 ou 100% dos pulmões. A correlação
Medvei' mostrou que 53% dos pacientes com bron- dessa técnica com a anatomia patológica é de r = 0,91 in
quite crônica e enfisema diagnosticáveis na radiogra- virro (com espécimes pulmonares de cadáveres)./n vivo, essa
fia de tórax estavam mortos em cinco anos, e 70% correlação é de r = 0,81. Deve-se considerar, contudo, que
em 10 anos.3 existem limitações naturais quando se utiliza análise subjeti-
a D
D
RGURA 44.4.2 ~ Tomografia computadorizada com re<:onstrução axial (A) e coronal (C). (B) e (O) foi aplicada a técnica de projeção de intensidades
mfnimas. que ressalta as áreas de hipodensidade, como o enfisema neste caso. A predominância em lobo superior e a localização centrolobular são
compatíveis com diagnóstico de enfisema centriacinar.
va paia a quantificação de enfisema, seja por método radio- Como se poderia prever, a compaiação entre os méto-
lógico ou por avaliação macro ou microscópica da anatomia dos de quantificação por escores visuais e aqueles realizados
patológica. automaticamente com computação gráfica demonstrou dife-
rença significativa a favor da automação.
A máscara de densidades apresentada por Müller e
colaboradores5 foi uma das técnicas de maior importância
na avaliação automatizada do enfisema, estando citada em
praticamente todos os demais artigos. Este foi o primeiro
estudo em grande escala cujo objetivo era o diagnóstico do
enfisema utilizando-se a TC com auxílio computadorizado.
A correlação da graduação por máscaras de densidades com
a anatomia patológica chega a r = 0,89.
~ AllNÇÃO
1
medic.ação
SIM
Manter medicações Aumento > 54 m ou > 10% do basal na: distância
Estimular atividade física ~corridano teste da caminhada dos seis minutos
para casos leves Redução > 4 pontos nos domíníos do QQVSG'
Manutenção de programa
r
de reabintação pulmonar l NÃO
L
nos casos moderados
a muito graves Não obteve melhora ou persiste baixa
capacidadedeexercício
1
Volume residual 2: 150%
l
Paciente < 75 anos: avaliar •Avaliar possibilidade de válvulas
possibilidade de cirurgia redutora endobrônquic.as ou de stents
de volume pulmonar
l
Aumonto da tosse. dospneia. volume e purulên<ia da
secr~o ou aponas puru~n<ia
Sugestivo de
exacerbaçio infecciosa
bacteriana da DPOC
H. onfluonzM, S. pMtJmOniae,
H. influonzM,
M . caldtrMhs, H.
S. PM<JtnOflla, H. influMu., S. PMUmoniM.
paramfluonzae
M . cararrNitS. M . cararrN/is> H.
V~M, M . PM<Jmoniae, C.
H. panÍflfluonzM parainfluenZM
~.
Virat M. {JMtJmOfl,.., Vnt M. pMUn>OIHM, C
BACILOS GRAM·NEGAT1VOS
c PM<JtnOflla ~.
-nas
ENftRJCOS
BACilOS GRAM·NEGAT1VOS
1 l ENTtRJCOS
aefiJ9IIIOSO
AzttromiCtt\1, dantrOn'IIICIN
DoluCldtna
Levofloltaona, ntOXIflOXOCJna,
gtrnrfloXKJna
l
Cefalosponnas de segunda e AntOXIo~N/dowlanato Quinolonas com
terceora geraçjo
atividade antipseudomonas
levofloxacona, moXIflouocona, (Ciprofloxacona ou
getTUflOXICIM
levofloxacina 500 mg)
FIGURA 44.5.2-+ Fatores de risco para exacerbaç~o da OPOC e sugestão de escolha antibiótica na exacerbação infecciosa bacteriana.
l ln•ciar antibióticos
Otimiur broncodilatador
Corticoide VO ou IV
l Otimizar broncodilatador
O~rvar
Corticoide VO ou IV
resposta por 1 hora
l Ventilação mec:in•ca nlo
invasiva ou Vflltilaçio
mec.lnica invasiva na UTI
pH 7,30-7,35
Ventilação mec.Snica não
invasiva na
enfermaria
pH < 7,30
Ventiloçio mednoca nio
invasiva N Un
2. Anthonisen NR, Skeans MA, Wisc RA, Manfreda J, Kanncr RE, 8. Dahl R, Olung KF, Bubl R, Magnussen H, Nonikov V, Jack O, et
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Long-term effCCI of inhaled budesonide in mild and modera te chro- Introdução
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Laneet. 1999;353(9167): 1819-23.
causam aumento da obstrução do fluxo aéreo, sobrecarre-
17. Burge PS, Calverlcy PM, Jones PW, Speneer S, Anderson JA, gando o sistema ventilatório c determinando um agravamen-
Maslcn TK. Randomised, doublc blind, plaeebo controlled stu- to da hipcrinsuflação pulmonar dinâmica, com aumento da
dy of Outicasone propionate in paticnts with modcratc to scvcrc "auto-PEEP" (ou pressão positiva ao f mal da expiração -
cbronic obstructive pulmonary disease: the !SOLDE trial. BMJ. PEEP- intrinseca). Essas alterações levam à fadiga muscu-
2000;320(7245):1297-303. lar e à instalação da insuficiência vcntilatória do tipo hipcr-
18. Joncs PW, Willits LR, Burge PS, Calvcrlcy PM; lnbaled Steroids cápnica. Nas exacerbações mais graves, ocorrem hipoxia e a
in Obstruetivc Lung Oisease in Europe study investigators. Oiseasc hipoxemia, decorrentes do desequilíbrio ventilação/perfusão
severity and the effeet of Outieasone propionate on cbronic obstruc- e da hipoventilação alveolar, provocando acidose.
tive pulmonary disease exaeerbations. Eur Respir J. 2003;21(1):68- Quando a oferta de oxigênio suplementar não corrige a
73. hipoxemia grave e o uso da estratégia medicamentosa não é
19. Calverley P, Pauwels R, Vestbo J, Jones P, Pride N, Gulsvilc A, ct suficiente para reduzir a sobrecarga do sistema respiratório, a
ai. Combined salmeterol and Outicasone in lhe treatment of ebronie hipoventilação alveolar se mantém, levando à acidosc, e nessas
obstructive pulmonary disease: a randomised eontrolled trial. Lan- situações está indicado o suporte ventilatório (FIGURA 44.6.1).
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20. Calverley PM, Andcnon JA, Celli B, Ferguson GT, Jenkins
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volume pulmonar no final da expiração acima da capacidade
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tive pulmonary disease: two randomised clinicai trials. Laneet.
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Inflamação }
22. Fabbri LM, Calverley PM, lzquierdo-Aionso JL, Bundsehuh
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·sevcre chronic obstructive pulmonary disease treated witb lon-
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Broncospasmo l
Oisfunc:;io da musculatur1 respiratória
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Ventila~o mednica
não invasiva
Ventilação
meclni<a invasiva
Para a avaliação da •auto-PEEP", as manobras devem Iminente parada Depressão do sensório (narcose
sempre ser realizadas sem interferência ventilatória cardiorrespiratória carbônica)
do paciente, mesmo que paralisantes musculares se-
Agitaç~o psicomotora Pneumonia
jam necessários previamente às medidas.
Obstrução das vias aéreas Hipersecreção
superiores
cxcrcisc traíning in paticnts with obstructivc lung discasc. Am Rcv Rics AL, Bauldoff GS, Carlin BW, Casaburi R, Emcry CF, Mahlcr
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Excrcisc training decreases vcntilatory rcquiremcnts and cxcrcise.
-induccd byperinflation at submaximal intensitics in paticnts with O enfisema pulmonar é caracteristicamente uma doença
COPO. Cbcst. 2005;128(4):2025-34. de tratamento clínico. Entretanto, após inúmeros avanços
não somente no campo da cirurgia torácica, mas também na
Puhan M, Schuncmann H, Frcy M, Scbarplatz M, Bacbmann L.
compreensão das alterações fisiológicas decorrentes do enfi-
How should COPO patients cxercisc during rcspiratory rehabili-
tation? Comparison of cxcrcise modalitics and intcnsitics to trcat
sema, a literatura registra uma série de modalidades cirúrgi-
skclctal musclc dysfunction. Thorax. 2005;60(5):367-75. cas idealizadas para pacientes bem selecionados.
-+
iiJ ATENÇÃO
QUADRO 44.8.1 Oassificação de Reid quanto aos tipos de
enfisema bolhoso
QUADRO 44.8.3 ~ Quatro grupos resultantes das combinações entre a distribuição da doença (apicaVbasal) e a capacidade inicial de
exercício (alta/baixa)
l.).!l/1>! 10?11
Baixa capacidade de exercício Alta capacidade de exercício Baixa capacidade de exercício Alta capacidade de exercício
Mortalidade menor no grupo Mortalidade igual nos dois grupos Mortalidade igual nos dois grupos Mortalidade maior no grupo
cirúrgico cir~rgico
Desempenho físico em 24 meses Desempenho físico em 24 meses Desempenho físico em 24 meses Desempenho físico em 24 meses
maior no grupo cirúrgico maior no grupo cirúrgico igual nos dois grupos igual nos dois grupos
Melhor qualidade de vida no Melhor qualidade de vida no Melhor qualidade de vida no Qualidade de vida igual nos dois
grupo cirúrgico grupo cirúrgico grupo c.irúrgico grupos
• Entre os 149 pacientes com doença basal e baixa ca- ocorrência sincrônica dessas duas situações é frequente (FIGU-
pacidade de exercício, a comparação demonstrou RA 44.8.5). A avaliação desses pacientes por uma equipe ex-
igual risco de morte nos dois grupos, bem como uma periente é fundamental, pois a análise de estudos funcionais
probabilidade semelhante de aumentar a capacidade isoladamente muitas vezes pode, à primei.ra vista, onntraindi-
de desempenho físico em dois anos (12% no grupo ci- car uma ressecção pulmonar. A maior incidência de tumores
rúrgico vs. 7% no grupo clínico; P = 0,50), mas os pa- nos lobos superiores, em geral os mais afetados pelo enfise-
cientes cirúrgicos tiveram melhor qualidade de vida ma, permite, com alguma frequência, a feliz circunstância de
no período estudado (37 vs. 7%; P = 0,001). que a cirurgia que removerá o tumor seja também redutora
• E, finalmente, entre os 220 pacientes com doença de volume, aumentando a capacidade pulmonar do paciente.
basal e alta capacidade inicial de exercício, o grupo Outra situação que merece destaque é o achado inespe-
cirúrgico revelou uma mortalidade maior no período rado da neoplasia somente no intraoperatório ou no relató-
de dois anos (P = 0,02), e probabilidades similares de rio do patologista após o estudo do material proveniente da
aumentar o desempenho físico (3% em ambos os gru- cirurgia redutora. Essa ocorrência foi relatada em 11 dos 325
pos) e uma qualidade de vida igualmente onmparável pacientes operados por McKenna e colaboradores,:J<õ todos
ao final dos 24 meses (15 vs. 12%; P =0,61). com tumores precoces (T1).
FIGURA 44.8.5 ~ Paciente de 58 anos, ex-fumante, com quadro de dispneia, dor torácica e perda de peso. Investigação com achado de lesão es-
cavada no lobo superior direito. além de enfisema heterogêneo concentrado nos ápices (A). A cintilografia pulmonar mostrou mínima perfusão no
lobo superior direito (6%) (B). O paciente foí submetido a lobectomía superior direita (0 com linfadenectomia mediastinal- carcinoma epidermoide,
estadiamento patológico T2NO. O seguimento espirométrico mostra VEF, pré-operatório de 0,94l (26%), com melhora para 1,54 L (43%) no terceiro
mês de pós-operatório.
tilatória ou hemodinãmica. Uma vez que o pulmão trans- QUADRO 44.8.5 ~ Contra indicações absolutas ao transplante
plantado apresenta menor resistência ao fluxo de ar, alguma pulmonar
desproporção ventilação/perfusão é esperada, porém essa
situação não impossibilita a realização do transplante. Instabilidade dínica grave
Infecção ex1r.lpulmonar ativa
Ocandidato ao transplante pulmonar
O momento da indicação do transplante em pacientes com Disfunção de órglos-alvo, espeàalmente rim e ligado (agressAD por
enfisema é uma tarefa muito delicada. Pacientes com doença imunossupressores)
avançada podem tomar um curso relativamente estável com Neopla5ia tratada há menos de dois anos (com exc~ão dos
um bom prognóstico. carcinomas escamoso e basocelular de pele)
Infecção pelo vírus da imunodefici~ncia humana (HIV)
' !El · AT~NÇÃÔ ----
Positividade para antígeno da hepatite B
• ··1 • • r • - •
)Como caracterfstlcas gérais;:o candidato l dear:ao ·, Hepatite Ccom dano hepático comprovado anatomopatologicamente
: transplante pulmonar deve possuir pneúmo.pátià
com grave limitação funcional e sem outras alter- · Coronariopatia intrat~vel (mesmo com angioplastia ou
revascularização cirúrgica) ou associada a disfunção ventricular
. · nativas terapêuticas, expectativa de vida inferior .a ' esquerda grave (em casos muito bem selecionados. pode ser
· 18 meses, ausência de comorbidades, idade inferio'r·· considerado o transplante coraçao-pulmão)
·· a 65 anos, condiçao psicossocial e suporte familia·r
:,adequad!ls, além.de mu.ita m_otivação para viver. • · Tabagismo ativo
Ausência de adequada estrutura social e familiar de apoio
Critérios especfficos de indicação de transplante em en-
fisema são listados no QUADRO 44.8.4.
Idealmente, o paciente ainda deve apresentar pouca tos-
se, componente bronquftico mfnimo, quadro clínico estável, Contraindicações relativas
condição nutricional adequada, sem sinais de ror pu/mona/e, e A experiência tem demonstrado que certas condições clini-
ausência de hipertensão pulmonar. O lndiec de BODE é um cas aumentam o risco do transplante (ventilação mecânica e
escore recente que inclui IMC, grau de dispneia (de acordo cirurgia torácica prévia), ou tendem a se agravar pelo trata-
com a escala de dispneia Modified Medicai Research Coun- mento medicamentoso indispensável pós-transplante (hiper-
cil- MMRC), VEF, e teste da caminhada dos seis minutos.)!I tensão, osteoporose, diabete melit.o), e nesses casos a rela-
Os pacientes com deficiência de alfa 1-antitripsina geral- ção risco-beneficio precisa ser analisada individualmente.
mente são mais jovens e têm um curso pós-operatório mais
previsível do que os pacientes com enfisema tabágico, o que Anaffabetismo
se explica pela enorme heterogeneidade de idade e de crité- Ainda que represente uma condição desfavorável, pode ser
rios de gravidade adotados nesse segundo grupo. compensada pela disponibilidade de um familiar que possa
O candidato deve ser incluído em um programa de reabili- administrar os cuidados indispensáveis.
tação pulmonar. O teste da caminhada dos seis minutos é um
imponante fator prognóstico, apontando para um desfecho
desfavorável quando a distância percorrida é inferior a 300 m.40 Ahas doses de corticoide
O uso prévio de corticoide é muito frequente entre os candi-
datos a transplante de pulmão, e no infcio da experiência a
Contraindicações ao transplante pulmonar utilização foi proscrita no periopcratório pela suspeita de in-
O QUADRO 44.8.5 apresenta as contraindicações absolutas ao terferência com a cicatrização brônquica. Atualmente se sabe
transplante pulmonar em indivfduos com enfiSema pulmonar. que uma dose de 0,2 a 0,3 mg/kg de prednisona é tolerável no
pré-operatório, sem interferir com risco cirúrgico.' Por outro
lado, a necessidade de doses maiores do que 20 mg/dia não
QUADRO 44.8.4 ~ Critérios de indicaç~o de transplante em é frequente, pelo menos a partir do momento em que se ad-
enfisema mite a falência do tratamento clinico e se cogita transplante.
FIGURA 44.9.5 ~ Principais et.1pas utilizada.s no procedimento de bypass das vias aéreas (EJ<hale Emphysema Treatment System••. Broncu.s Techno-
logies Inc., Mount.1in Víew - CA, EUA): (1) localização da área "silenciosa" (avascular) com sonda Doppler; (2) criaç3o da passagem por punção peta
área avascular e d1lat.1ção com bal.\o hidrostático; (3) reavaliação da área avascular após a punção com sonda Doppler; (4) colocação do stent por
insuflação de balão hidrostático na passagem criada; (5) saída de ar através da pa.ssagem mantida aberta com o stent.
Um estudo multicêntrico com 35 pacientes demonstrou Assim sendo, terminologias como "tratamento endoscó-
que após 30 dias havia melhora significativa nos parâmetros pico" e "tratamento do enfisema por redução volumétrica
funcionais (VR, CPT, capacidade vital forçada, escala de broncoscópica" devem ser empregadas com cautela, pois
dispneia e teste da caminhada dos seis minutos). Seis meses possuem um apelo terapêutico sujeito a interpretações er-
depois, a melhora no volume residual e na dispneia persistia. rôneas, sobretudo em individuos cuja vida é devastada por
Os achados foram mais evidentes nos pacientes com hiperin- doença crônica e incapacitante como a DPOC.
suflação marcada (VRJCPT;:: 67%), nos quais o VR reduziu Nâo obstante, quando bem indicados e aplicados em pa-
em 1.040 mL em um mês e 400 mL em seis meses, o mesmo cientes cujo tratamento médico esteja sendo bem conduzido
ocorrendo com a escala de dispneia.34 This resultados enseja- e otimizado, os procedimentos endoscópicos podem melho-
ram a confecção de um estudo multicêntrico de fase 111 com rar consideravelmente a qualidade de vida, ameniUllldo o
mais de 300 pacientes e braço controle3s cujos resultados do desconforto dos pacientes com limitação funcional impor-
primeiro ano de avaliação estão em fase de análise. 36 tante.
Por serem procedimentos de baixo risco, sua aplicabi-
lidade clinica poderá ser estendida a pacientes com alto
risco cirúrgico e baixa reserva funcional. Futuramente,
Conclusão poderão até ser empregados como "ponte" para outras
Apesar dos beneficios mostrados pelos vários procedimen- modalidades terapêuticas, como o transplante pulmonar.
tos endoscópicos propostos para o enfisema avançado, os Para isso, contudo, muitos estudos ainda necessitam ser
resultados não são uniformes nem suficientes para sua apli- empreendidos, novos dispositivos precisam ser propostos
cação clínica imediata em larga escala. e os atuais, desenvolvidos com o intuito de que essas novas
Ainda não está definido o número de dispositivos (válvu- tecnologias endoscópicas tornem-se aplicáveis clinicamen-
las, stents, coils, etc.) a serem colocados, nem se sua aplica- te nos pacientes portadores de enfisema pulmonar avan-
ção deve ser unilateral ou bilateral. Da mesma forma, ainda çado.
estão em discussão quais são os melhores parâmetros de ava-
liação após o procedimento. Neste particular, são promisso-
res os novos métodos, como os de avaliação de hiperinsufla-
ção que utilizam parâmetros de mensuração direta como a
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m
DPOC: Onde Estamos, para Onde
pacientes com DPOC no Brasil, mas somente estão diag-
nosticados por volta de meio milhão de casos. A maioria
dos indivfduos diagnosticados com DPOC em São Paulo se
distribuía, basicamente, entre graus leve (62,2%) e modera-
Vamos do (29,9%) da doença; os graves e muito graves perfaziam
somente 7,6%.
José R. Jardim
Oliver A. Nascimento
Sub e sobrediagnóstico prévio
Somente 12,5% dos indivíduos que receberam o diagnósti-
Introdução co de DPOC no estudo PLATINO' tinham anteriormente
o diagnóstico de DPOC ou bronquite crônica ou enfisema,
A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) alcançou, mostrando a alta taxa de subdiagnóstico. Em acréscimo,
no inicio da primeira década deste século, talvez o seu pon- houve uma alta taxa errônea de DPOC (ou bronquite ou
to mais alto em importância ao longo da história. Estudos enfisema) em indivfduos com espirometria normal ou que
como o PLATINO' e o BOLD2 trouxeram uma enorme car- revertia com o broncodilatador.
ga de conhecimentos na América Latina e na Ásia e Europa, Talvez uma das razões para essa baixa taxa de diag-
respectivamente. nóstico deva-se ao precário conhecimento da população
em geral sobre as manifestações da DPOC. Se as pessoas
os conhecessem, poderiam procurar atendimento médico
Onde estamos no Brasil? mais precoce.
Além desse motivo, há o fato de os médicos habitual-
O estudo PLATINO' teve como objetivo primário avaliar a mente atenderem um paciente com sintomas sugestivos
prevalência da DPOC em cinco grandes áreas da América de DPOC mas não pensarem no diagnóstico e não soli·
Lat.ina. Contudo, ele não se limitou à prevalência. Um ques- citarem uma espirometria. A taxa de realização de espi-
tionário extenso trouxe uma série de outras informações, rometria no estudo PLATINO' foi muito baixa: somente
tendo sido publicados, até 2011, 30 artigos sobre os mais va- 12% da população visitada havia realizado uma espirome·
riados assuntos. Iria na vida. No entanto, caso se considere como indicação
No Brasi~ estudou-se a área metropolitana de São Pau- para a realização do procedimento a resposta positiva a
lo, tendo sido visitadas 1.000 residências escolhidas de modo três das cinco perguntas do GOLD3 e da Sociedade Bra-
randomizado (de acordo com a classificação econômica da sileira de Pneumologia e Tisiologia5 (mais de 40 anos; ser
região)i foram avaliadas as pessoas com mais de 40 anos, in- fumante ou ex-fumante; ter tosse diária; ter catarro mati·
cluindo peso, altura, cintura abdominal, espirometria pré e nal; cansar-se mais do que uma pessoa da mesma idade),
pós-broncodilatador, bem como as respostas a um questio- 27% dos entrevistados já deveriam ter realizado uma es·
nário com mais de 150 perguntas. pirometria.
O diagnóstico de DPOC, como é aceito em estudos epi- A náo realização de espirometria pode ser devida a
demiológicos internacionais, foi definido pelo achado de muitos fatores, mas os principais são a baixa taxa de espirô-
uma relação volume expiratório forçado no primeiro segun- metros em centros de atenção à saúde e o escasso conheci·
do/capacidade vital forçada {VEF1/CVF) inferior a 0,7. Thl mento dos médicos não pneumologistas sobre a espirome-
definição é sujeita a críticas, mas assim foi definida no docu- tria. Ainda existe a crença de que esse exame é complicado
mento GOLD1 e aceita pelo estudo BOLD2• e de entendimento dificil. Muito provavelmente, esse fato
decorre do ensino deficiente nesse aspecto nos cursos de
medicina.
Prevalência
A prevalência da DPOCem São Paulo em pessoas acima de
40 anos foi de 15,8%, sendo 18% entre os homens e 14% en- Manifestações
tre as mulheres. Um dado importante foi ter-se encontrado O PLATINO,' em São Paulo, mostrou claramente que os pa·
9% de pessoas com DPOC na faixa entre 40 e 50 anos, cha- cientes e os médicos não valorizam as manifestações. Pelo
mando a atenção para o fato de que esta não é uma doença menos 50% dos pacientes não diagnosticados como tendo
somente de pessoas idosas. A prevalência aumentou com a DPOC apresentavam, no mínimo, um dos sintomas usuais
idade, chegando a 16,2% entre 50 e 60 anos e a 25,7% após dessa doença. Ficou evidente que os médicos estão diag·
os 60 anos. nosticando a DPOC tardiamente, pois houve uma nítida
Essa taxa de prevalência global foi semelhante à de diferença de prevalência de sintomas entre os grupos com
12,8% que Menezes e colaboradores' haviam encontrado diagnóstico prévio e os sem diagnóstico prévio, com inequí·
em Pelotas (RS), em estudo populacional baseado em sin· voca diferença a favor daqueles com diagnóstico prévio; isto
tomas e sem a realização de espirometria. Essa prevalência é, somente quando os pacientes apresentam-se com alta taxa
leva a crer que deve haver em tomo de 6 a 7 milhões de de sintomas é que o diagnóstico é realizado.
Onde estamos na América Latina? VEF, ficou em 110,6±7,8 mL nos indivíduos com DPOC
contra 164,7±11,8 mL nos indivíduos com obstrução rever-
Prevalência sível. A resposta positiva da CVF nos pacientes com DPOC
Além do estudo PLATINO,' há outro estudo na Améri- foi de 146,5± 14,2 mL, atestando a desinsuflação desses
6
ca Latina, o PREPOCOL, que estudou a prevalência de indivíduos após o uso de broncodilatador. Contudo, deve-
DPOC na Colômbia. Esse estudo avaliou a prevalência em -se ressaltar que dois terços dos indivíduos com DPOC não
cinco cidades colombianas com altitudes diferentes. Os mé- mostraram resposta aguda ao broncodilatador. Por outro
todos utilizados foram semelhantes aos do PLATINO, o que lado, a avaliação da resposta broncodilatadora foi testada
permite a comparação dos resultados. com 200 JJ-g de salbutamol e não 400 JJ-8. como é o habitual
A prevalência média de DPOC na Colômbia foi de 8,9%, mais recentemente.
mas variou entre as cidades, de 6,2% em Barranquilba a Ainda em relação à função pulmonar, Perez-Padilla e
13,5% em Medelin. Um dado muito interessante advindo do colaboradores' associaram a população do PLATINO, por
PREPOCOL é que os volumes pulmonares (capacidade vi- volta de 5.800 pessoas, com as populações dos primeiros es-
tal - CV- e VEF,) aumentavam à medida que a altitude das tudos BOLO, constituindo uma população total de 13 mil
cidades aumentava. indivíduos, e avaliaram qual seria o papel do pico do fluxo
Em relação às outras cidades estudadas pelo PLATINO,' expiratório (PFE) no diagnóstico da DPOC, considerando
as prevalências foram de 19,7% em Montevidéu, 16,9% em que o PFE é medido no inicio da expiração forçada, durante
Santiago do Chile, 12,1% em Caracas (na Venezuela) e 7,9% a realização da espirometria. Embora o valor preditivo posi-
na Cidade do México, demonstrando grande variabilidade. tivo tenha sido baixo, um valor pré-broncodilatador do PFE
É possfvel que a taxa mais elevada de Montevidéu relacione- > 70% efetivamente descarta DPOC nos estágios IIJ e IV.
-se com a maior idade da população. Por outro lado, fica sem E ntre os pacientes com, pelo menos, um fator de risco, só
explicação o fato de a Cidade do México ter uma prevalência 12% necessitariam espirometria confirmatória usando esse
tão baixa em relação a outras cidades, quando o índice de critério.
tabagismo assemelha-se ao do Brasil.
Grupos de fenótipos
Os fenótipos com mais probabilidade de serem estudados no
futuro devem esta.r relacionados com os grupos clínico, fisio-
lógico e radiológico.
No grupo clflúco, muito provavelmente, os estudos deve-
rão procurar avaliar a import.ância de grupos de pacientes
que tenham um comportamento semelhante, compreen-
Há vários caminhos para se modificar o curso da DPOC, dendo indivíduos com hiperinsuflação, exacerbadores, fn.
mas, em essência, eles sempre envolvem o tratamento. Em dice de massa corporal baixa, caquexia pulmonar, resposta
uma primeira fase, modificar o curso da DPOC não neces- ao corticoide inala tório, depressão e ansiedade, e não fu-
sariamente obriga ao desenvolvimento de novos fármacos. mantes.
Na fase atual, existe a premente necessidade de que se com- No grupo fisi.ol6gico, os fenótipos se agrupam naqueles
preenda melhor o papel de cada um dos componentes do que apresentam limitação do fluxo de ar, perda rápida da
tratamento, tanto farmacológico quanto não farmacológico, função pulmonar, resposta ao broncodilatador, hiper-rea-
e que se possa aplicá-los o mais cedo possível. Certamente, tividade brônquiea, bipercapnia, baixa tolerância ao exer-
o desenvolvimento de fármacos anti-inflamatórios mais es- cício, biperinsuflação, baixa difusão e hipertensão arterial
pulmonar.
pecíficos para DPOC será essencial, mas para isso deve-se
compreender melhor a inflamação da DPOC e toda a sua No grupo radi.ol6gico, os estudos deverão relacionar-se
patogênese. com as imagens tomográficas associadas às alterações espe-
cíficas dos componentes da árvore brônquica e as do enfise-
ma. Alguns estudos iniciais têm procurado relacionar maior
mortalidade com enfisema.
) ATENÇÃO
Comorbidades
0 ATENÇÃO O pneumologista que trata de pacientes com DPOCvai ter a
obrigação de ser um médico mais completo no futuro. Hoje,
O futuro deve caminhar rapidamente para a mudan- está bem consolidado o conhecimento de que os pacientes
ça do paradigma do VEF,. com DPOC apresentam várias comorbidades que são mais
prevalentes neles do que nos sem DPOC. O tratamento des-
sas comorbidades é imperioso para que o paciente possa ter
melhor qualidade de vida. Há aumento da prevalência de
Diagnóstico precoce por biomarcadores ansiedade, depressão, ostcoporose, miocardiopatia, hiper-
A DPOC é uma doença com desenvolvimento inflamatório tensão, miopatia e câncer de pulmão.
complexo, já tendo sido descritos inúmeros mediadores en-
volvidos no processo. Por muito tempo, descreveu-se que
a gravidade da D POC se associava à presença desses me-
diadores. Entretanto, a análise inicial do estudo ECLIPSE 0 ATENÇÃO
mostrou que é possível que se esteja equivocado e que tais
mediadores não refletiriam a gravidade da doença. Comorbidade é definida como uma relação que exis-
Nesse sentido, os resultados iniciais mostram que o fa- te entre duas doenças que afetam o mesmo indivi-
duo substancialmente mais do que apenas por chan-
tor de necrose tumoral alfa (TNFa) e as interleucinas 6 e
ce. O novo conceito de medicina em rede mostra que
8 apresentavam a mesma concentração independentemente
os seres humanos se associam por meio de redes e
do estágio em que os pacientes se encontravam. Os biomar-
que estas acontecem mediante composições de ge-
cadores com provável utilidade na D POC deveriam ser os
nética e proteômica e que tais alterações observadas
que podem avaliar o processo biológico normal, o processo
nos pacientes não ocorrem por acaso.
patogênico e a resposta farmacológica à intervenção tera-
pêutica.
Biomarcadores seriam os indicadores ideais da doença,
pois permitiriam que a DPOC fosse diagnosticada preco-
cemente, ainda quando as lesões estivessem ocorrendo em Referências
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45
aD provavelmente em decorrência do melhor tratamento.• Em-
bora seja inegável que as abordagens terapêuticas contem-
Definição, Epidemiologia porâneas sejam efetivas, muitos pacientes apresentam com-
prometimento residual significativo e alguns com asma mais
e Fisio atolo ia grave respondem de forma inadequada mesmo aos melhores
tratamentos disponlveis.5
Emílio Pizzichini Do ponto de vista fisiopatológico, os conceitos de que
MarciaM. M. Pizzichini a asma é uma doença inflamatória crônica complexa e he·
terogênea das vias aéreas e de que o controle é objetivo do
tratamento vêm sendo atualizados constantemente. Essa
Introdução heterogeneidade tem levado à conceituação de diferentes
fenótipos de asmáticos (com base nas características obser-
A asma é uma das doenças mais comuns encontradas na prá- váveis de subgrupos)' e, mais recentemente, ao surgimento
tica clínica, seja em adultos ou em crianças. De acordo com de endotipos (subtipos de asma caracterizados do ponto de
a Iniciativa Global para a Asma (GlNA),'.l essa doença pode vista de mecanismos funcionais ou fisiopatológicos) (FIGURA
afetar cerca de 300 milhões de pessoas, sendo que as preva- 45.1.1).' Neste capítulo, são discutidas a definição atual de
lências de asma nos Estados Unidos, no Canadá, no Brasil, asma, sua epidemiologia, o impacto e os aspectos relaciona-
na Austrália e no Reino Unido podem exceder 10% da po- dos com sua fisiopatologia.
pulação. Embora seja uma condição classicamente descrita
há mais de 2.000 anos, ainda hoje é subdiagnosticada e não
possu i uma definição única. Se, do ponto de vista conserva-
dor, compararmos com os números de 10 anos atrás (7%),
Definição
1
houve um acréscimo superior a quatro milhões no número Ainda não existe uma definição de consenso para a asma.
absoluto de asmáticos no Brasil nesse período, o que não se- Do ponto de vista descritivo, a asma é caracterizada clioica-
ria explicado apenas pelo crescimento populacional. mente pela ocorrência de episódios intermitentes de disp-
A maioria dos asmáticos tem asma muito leve e intermi- neia, sobretudo noturna, tosse (que pode ser manifestação
tente, e 5 a 10% podem ter doença muito grave. Além disso, isolada) associada ou não à presença de sibilos expiratórios
apesar do tratamento cont!ouo, cerca de 40 a 50% dos as- e opressão torácica. Esses sintomas são decorrentes da prin-
máticos apresentam falta de controle ideal, tendo manifesta- cipal característica fisiológica da asma, que é a limitação
ções persistentes da doença.3 A despeito disso, a morbidade (obstrução) reversível ao fluxo de ar das vias aéreas, causada
e a monalidade da asma têm diminuído na última década, por aumento anormal da responsividade das vias aéreas a
Mais recentemente, têm havido tentativas de encontrar
Slndrome asmática definições que acompanhem o conhecimento obtido nos úl·
S1ntomas de um. • obstruçJo variMI
limos anos sobre a heterogeneidade da asma, quer do ponto
Caracterfsticas dos fenótipos de vista clínico, fisiológico ou inflamatório.'·" Contudo, aio·
da asma da não existe consenso a esse respeito. Em nossa opinião, o
CoroctorlstK.u ob..,._~ sem ,_.oçio d~rm com uso do nome "asma" tem um impacto e uma história muito
o processo da ~. mduondo fisoologoa, gatilhos, grandes para ser abandonado. Thlvez a melhor alternativa
marudofft da tnRa<NÇio
seja utilizar diferentes "sobrenomes" (fenótipos) na concei·
tuação da doença, como asma eosinoffiica, asma induzida
Endotipos da asma
Enttd.des d•stJnt•s q~,~~~ pod.., se •pr.wntar como por exercício, asma aspirina-sensitiva, asma com limitação
dusters c!. fenótipo•, ma• c.ada um ' definido por um fixa no fluxo aéreo, asma oom exacerbações frequentes, etc.
mecan1smo fts~pato16gico disbnto No entanto, independentemente da defmição emprega-
I
Endotipo I Endotopo 11 I
Endotopo 111 I
Endotipo IV da, é consenso que alguns componentes (caracter!sticas) da
asma sejam sublinhados e enfatizados (FIGURA 45.1.2):
FIGURA 45.1.1 -+ E.squema ilustrando o conceito de que a slndrome
asm~tica é composta de diferentes fenótipos. Postula·se que em cada • Obstrução ao fluxo aéreo (podendo ser apenas parcial
fenótipo existam diferentes endotipos (grupos de pac.ientes definidos em alguns pacientes) reversível espontaneamente ou
por mecanismos biológicos distintos). com tratamento.
Fonte: Adaptada de lõtrall e colaboradores.' • Inflamação heterogênea na qual muitas células têm um
papel importante.
• Aumento da responsividade das vias aéreas.
• Episódios recorrentes de sibilos, dispneia, opressão to·
diversos estímulos inespec!ficos. This anormalidades são de- rácica e tosse, particularmente à noite ou pela manhã,
sencadeadas por um processo inflamatório crônico das vias ao acordar.
aéreas, considerado o principal determinante da expressão
clínica da asma, da ocorrência dos riscos futuros e talvez das
alterações estruturais subsequentes (remodelamento das
vias aéreas), o que leva à persistência das anormalidades Epidemiologia
clinicas (sintomas, limitação ao fluxo de ar das vias aéreas A asma é uma das condições crônicas mais comuns que
e hiper-res~nsividade), mesmo quando a inflamação está afeta tanto crianças quanto adultos, sendo um problema
12
controlada. mundial de saúde com estimativas de afetar 300 milhões de
A definição clássica proposta por Scadding,'"" que em indivíduos.' Com base nas prevalências médias da asma em
1959 definiu asma como " uma doença caracterizada por crianças, 17 adolescentes 13 e adultos," pode-se estimar que no
grande variação, em curtos períodos de tempo, da resistên- Brasil existam cerca de 20 milhões de asmáticos, se for consi-
cia ao fluxo de ar das vias aéreas", ainda é uma das mais derada uma prevalência global de 10%.
acuradas.'-'' O aumento da resistência (ou limitação) ao
fluxo de ar das vias aéreas pode ocorrer espontaneamente,
como na variação diurna, ou em resposta a agentes especí-
ficos (alérgenos) ou não específicos (metacolina, histamina,
Componentes das doenças
etc.). Idealmente, a limitação ao fluxo de ar das vias aéreas
das vias aéreas
deveria ser revertida de forma espontânea ou por tratamen-
to (broncodilatadores ou corticoides).
Sintoma• ~---.,
APCs
111. liberação de mediadores
Linfócitos 8 pelos linfócitos Th2
-·················
IV. ProduçAo dt lgE
pelo
linf6cito 8
.. Eosinófilos
FIGURA 45.1.3 ~ Esquema simplificado dos eventos iniciadores da inflamação das vias aéreas e a subsequente cascata inflamatória, que ocorre após
a inalação de um antígeno e de sua apresentação aos linfócitos T helper (Th2) por uma célula apresentadora de antígeno (AI'Cs).
ou produzidos de n(lll() (leucotrienos). Além disso, eles tam- para a luz brônquica para captar antígenos inalados, proces-
bém liberam citoeinas ligadas à inflamação alérgica (IL-4, sá-los e apresentar peptideos relevantes para os linfócitos
IL-5 e IL-13), estão presentes nas células da musculatura T nos órgãos linfoides periféricos, como os gânglios linfá-
lisa das vias aéreas e estão envolvidos no desenvolvimento ticos mediastinais, fazendo a ponte entre a imunidade inata
de hiper-responsividade das vias aéreas.:~5o" e a adaptativa. As células dendriticas têm, assim, um papel
central na ativação de linfócitos Th2 e no início da cascata
de ativação da in!lamaí!o alérgica, presente na maioria dos
Granulócitos portadores de asma.:ll..l .•o
A inflamação que ocorre na asma é geralmente eosinofilica,
ao passo que aquela da DPOC é neutrofilica. Essa diferença
costuma ser explicada pela presença das citoeinas envolvidas lnterleucina 4
na asma, como IL-4, IL-5 e eotaxina. Contudo, um grupo A IL-4 aumenta a sfntese de IgE pelos linfócitos B. A IgE,
de asmáticos apresenta resposta neutrofilica principalmente por sua vez, penetra na circulação e infiltra os tecidos das
ligada à ativação do mecanismo inato e liberação de IL-8. vias aéreas, sensibilizando os mastócitos (células residentes
O papel funcional dos eosinóftlos na asma continua em efetoras das vias aéreas que podem ser identificadas por seus
debate. Embora sejam pouco importantes na gênese da hi- receptores de alta afinidade para IgE). Os mastócitos, pre-
per-responsividade das vias aéreas, as evidências sugerem viamente sensibilizados pela lgE, em contato com um antr-
um papel mais importante no desenvolvimento da fibrose geno específico,liberam uma série de mediadores.
subepitelial e na ocorrência de exacerbações. This suposições Esses mediadores podem ser de três tipos: 1) pré-forma-
foram confirmadas bloqueando-se especificamente a ação dos, incluindo a bistamina e a endotelina, ambos potentes
da IL-5 com anticorpo monoclonal anti-IL-5 (mcpolizuma- broncoconstritores; 2) neoformados, os quais compreendem
be) em asmáticos mais graves e com inflamação eosinoffiica os produtos da via da lipolcigenase do metabolismo do áci-
apesar do uso de doses adequadas de esteroides inalatórios do araquidônico ou leucotrienos, também potentes bronco-
ou orais. Nesta situação, o bloqueio da IL-5 é capaz de abo- constritores e substâncias com atividade pró-inflamatória; e
lir a inflamação eosinofilica das vias aéreas, reduzir o núme- 3) citoeinas sintetizadas de novo, envolvidas no recrutamen-
ro de exacerbações eosinofilicas e diminuir a dose de corti- to e na ativação de outras células efetoras como eosinófi-
coides de manutenção. Esses resultados indicam que, pelo los, neutrófilos, monócitos/macrófagos e linfócitos. A lista
menos em um subgrupo {fenótipo) de indivfduos com asma, de citoeinas produzidas pelos mastócitos é grande, estando
os eosinófilos são células efetoras criticas na asma grave e entre elas IL-1 , IL -3, IL-4,IL-5, IL-6, IL-8, IL-13, fator de
nas exacerbações.»·''·'2 necrose tumoral alfa (TNF-a), fator transformador de cres-
cimento beta (TGF-P), interferon ~a (IFN-y) e protefna
inflamatória macrofágica {MIP-2)?
Linfócitos
Especialmente os linfócitos do tipo Th2 parecem ser es-
senciais no desenvolvimento e na manutenção do processo lnterleucina 5
inflamatório crônico da asma. A infiltração das vias aéreas A IL-5 é a citocina que sinaliza a medula óssea para a produ-
por linfócitos Th2 ativados é um achado consistente (embora ção de eosinófilos, os quais serão recrutados para o interior
não exclusivo) da asma, qualquer que seja a sua gravidade. das vias aéreas. Ela também é importante no recrutamento,
Existe quantidade considerável de evidências indicando que na diferenciação e na ativação dos eosinófilos. A presença
a infiltração continua das vias aéreas por eosinófilos e mas- dos eosinófilos na asma não se restringe às vias aéreas su-
tócitos, nos pulmões dos asmáticos, ocorre sob a regulação periores. Existem evidências de que os eosin6filos também
de produtos derivados dos linfócitos. Dentre as citoeinas pri- infiltram as pequenas vias aéreas e o parênquima pulmonar.
mariamente produzidas pelos linfócitos, duas são de particu- Uma vez dentro das vias aéreas, os eosinóftlos liberam
lar importância: a IL-4 e a IL-5.1S.J7.JO as chamadas protefnas eosinoffiicas (protefna eosinoffiica
catiônica {ECP), protefna eosinofilica principal {MBP) e pe-
roxidase eosinofilica (EPO)), as quais têm atividade pró-in-
Macrófagos
flamatória, estimulam a degranulação dos mastócitos e ba-
Os macr6fagos são derivados dos monócitos circulantes que
sófilos, a secreção de muco e provocam o descolamento do
migram para os pulmões em resposta a substâncias quimio-
epitélio brônquico. Os eosinófilos também produzem grande
atrativas como a MCPl. Aparentemente, estão mais envol-
quantidade de citocinas, incluindo IL-1, IL-2, IL-3, IL-4, IL-
vidos na fisiopatologia da DPOC e podem apresentar um
5, IL-6, IL-8, IL-10, IL- 11, IL-12, TGF, TNF-a, GM-CSF,
papel na resposta neutrofilica vista na asma com este fenó-
tipo.»
MIP-la e RANTES.
Assim, os eosinóftlos não apenas defendem o hospedei-
ro, mas também contribuem para a manutenção do dano
Células dendríticas tissular causado pelo agente invasor e desempenham um pa-
As células dendríticas demonstram a cada dia um papel mais pel imunorregulatório. A presença de eosinófilos no escarro
relevante na fisiopatologia da asma. Elas se abrigam entre parece ser um bom preditor da resposta ao tratamento com
as células epiteliais das vias aéreas e lançam seus dendritos corticoides.».36.•l
Remodelamento das vias aéreas
A inflamação crônica é um processo no qual existe um ciclo 0 ATENÇÃO
conúnuo de agressão e reparo (FIGURA 45.1.4). O reparo pode
Do ponto de vista fisiopatológico, o remodelamento
resultar em resolução (cura) ou remodelamento (cicatriza-
ção). Tipicamente, na inflamação crônica, a agressão tissular das vias aéreas é um processo dinâmico e heterogê-
repetida leva a uma resposta inflamatória composta por um
neo que representa o desequilíbrio entre produção
infiltrado celular (em geral por células mononucleares) e, e destruição de matriz extracelular, iniciado pelo re-
como consequência, em vez de reparo completo com desa- crutamento, diferenciação, migração e ativação de
células inflamatórias e que culmina com alterações
parecimento da inflamação (resolução), ocorre um processo
na deposição de tecido conectivo e alterações defini-
de reparo envolvendo a proliferação de pequenos vasos e fi-
tivas das vias aéreas.
broblastos, deposição de colágeno e cicatrização...,...,
A resolução ou regeneração é uma resposta biológica
benéfica, finamente regulada e consiste na reposição das cé-
lulas lesadas por células viáveis. A resolução não tem conse- O mecanismo preciso pelo qual o processo inflamatório
quências funcionais. leva ao remodelamento das vias aéreas na asma ainda é des-
Em contraste com a resolução, o remodelamento repre- conhecido. Contudo, acredita-se que a perda da integridade
senta um processo de reparo exagerado cujas consequências do epitélio brônq uico e a resposta inflamatória possam estar
funcionais dependerão da localização, extensão e duração da associadas ao processo de injúria e reparo das vias aéreas.'5
resposta inflamatória.·~"' Evidências oriundas de estudos recentes sugerem que a
O processo de reparo na asma é similar ao encontrado fibrose subepitelial é uma consequência do dano ao epitélio
em outras inflamações crônicas, resu ltando em resolução brônquico, o qual, por sua vez, é um dos aspectos inerentes
e remodelamento das vias aéreas (FIGU RA 45.1.5). Dá-se o da asma. 46 A integridade do epitélio brônquico parece ser
nome de remodelamento das vias aéreas ou remodelamen- um dos fatores mais críticos na regulação das funções das
to brônquico às alterações estruturais persistentes das vias células do tecido conectivo e na composição da matriz extra-
aéreas que ocorrem na asma como resultado da inflamação celular. A perda da barreira protetora oferecida pelo epité-
crônica. lio brõnquico aumentaria o acesso de uma grande variedade
Do ponto de vista bis tológico, o remodelamento das vias de agentes agressores às camadas mais profundas da parede
aéreas na asma é caracterizado por aumento da espessura brõnquica. Em consequência dessa exposiçã<>-agressão con-
das paredes brônquicas devido ao espessamento da cama- tinua, o epitélio brônquico é estimulado e responde entran-
da reticular da membrana basal (também conhecido como do em uma fase de reparo.
fibrose subepitelial), aumento do tecido da advenúcia, au- A lesão do epitélio brônquico, na asma, resulta do efei-
mento da espessura da camada muscular e formação de ede- to aditivo da ação das proteínas eosinofflicas básicas (ECP,
ma devido ao extravasamento microvascular. 35•.. EDN e MBP) e da quebra proteolitica das estruturas de
adesão interepitelial, bem como do estroma subepitelial,
causado por metaloproteases da matriz extracelular - um
grupo de proteases secretadas por macrófagos, neutrófilos
Mj.@ifl·i!(tm~M
ln~maç.lo I ~
e células do estroma cuja ação principal é degradar todos os
componentes da matriz extracelular, das quais as mais im-
( lnflomaçlo portantes são a metaloendoproteinase G (MMP-9) e a gela-
tinase B (FIGURA 45.1.6).
l
Reparo
l Durante o processo de reparo do epitélio brõnquico, que
C~mJ:wlar)
pode ser exuberante, as células broncoepiteliais passam a ter
!
Resoluçio
um papel importante na regulação do remodelamento das
vias aéreas mediante liberação de farores de crescimento,
regulação da proliferação de fibroblastos e liberação de me-
!
Cura
!
lnflamaçlo cr6nic:a
taloproteases.ll.•l Além disso, as células broncoepiteliais tam-
bém liberam proteínas da matriz extracelular c fibronectina."
1
P..modelamento
Essas evidências sustentam a noção de que o dano do epitélio
brônquico leva à fibrose subepitelial, uma vez que esta é cau-
sada pelo espessamento dos componentes da lâmina reticular
1 da membrana basal pela substituição do colãgeno fisiológico
(colágeno dos tipos IV e VII) pelo colágeno cicatricial ~colá
geno dos tipos I, lli e V), assim como por fibronectina.'
FIGURA 45.1.4 ~ Esquema ilustrando como os eventos se seguem à O aumento da camada reticular da membrana basal,
agressão tissular. A resposta inflamatória pode evoluir para a resolução contudo, não é exclusivo da asma e pode ocorrer na DPOC.
com cura ou para o remodelamento com cicatrização. A predisposição O que diferencia essas duas situações é a magnitude e a com-
ge<~étíca e o envolvimento de fatores do meio ambiente sào os determi-
posição do espessamento. Na asma, a camada reticular da
nantes finais do tipo de resposta.
membrana basal está espessada de forma homogênea, en-
Predisposição Alérgenos,
gené~ infecções,
etc. Inflamação
[ l
crônica
Inflamação
aguda
tJ,
l imitação
Dano tissular
irreversível ao
T
eHRVA hipersecr~ão
inflamação
de muco
L l Permeabil idade
vaS<.ular
e edema
Liberação de
citocinas e
fatores de
crescimento
FIGURA 45.1.5 -7 Esquema demonstrando a inte-
gração do processo inflamatório (agudo e crônico)
e suas principais consequências na asma (l imitação
ao fluxo de ar, hiper-responsividade das vias aéreas
[HRVA) e remodelamento).
~~Epitélio
l e U.J• r.J.. 1.~.. \. ~..l:J.._j. l• l.:J._t Membrana basal
2
~
!'-., (bFGF)
Mastóc~o
~
M iofibroblasto
GM-CSF
~
TNF-a
rGF-~ ./ LTB~BP I Histamina
Eosinófilo
1/' __..........-
~ LTC,
PGD,
l
/ ~ MBP 15HETE ~
ECP I ~ontração
Peroxidase EDN .J., muswlar FIGURA 45. 1.6-7 Esquema mostrando a relação entre as
aril-sulfatase Secr~ão
células inflamatórias e as alterações de remodelamento,
t -
Descamaçao
de muco Permeabilidade
especialmente quanto ao espes.samento da camada reti-
epitelial vascular cular da membrana basal.
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tural da asma revela aspectos sobre a gênese, a progressão e os
45. Moore WC, Pascual RM Update in asthma 2009. Am J Respir fatores de risco, sendo fundamental para a escolha da conduta
Crit Cate Mcd. 2010;181:1181-7.
mais adequada diante de um paciente com tal doença.
46. Laitinen A, Karjalaincn EM, Altraja A, Laitincn LA. Histopa- Muitos estudos mostram que 50 a 80% das crianças as-
thologic fc atures of early and progrcssive asthma. J Allergy Clin Im- máticas desenvolvem os sintomas iniciais antes dos cinco
muno!. 2000;105(2 Pt 2):S509-13. anos, mas, frequentemente, é muito difícil fazer um diagnós-
2
47. Bousquet J, Jcffcry PK, Bussc WW, Jobnson M, Vignola AM. tico definitivo até que a criança tenha mais idade. Devido
Asthma: from bronchoeonstriction to airways inflammation and re- às dificuldades para comprovação diagnóstica por meio da
modcling. Am J Respir Crit Care Med. 2000;161(5):1720-45. realização de provas de função pulmonar, o diagnóstico de
asma é fundamentalmente clínico e a indicação de um teste
48. Fish JE, Pcters SP. Airway remodeling and persistent airway obs- 3
terapêutico fica justificada nesse período da vida.
truction in asthma.J AUergyCiin lmmunol. 1999;104(3 Pt 1):509·16.
A asma pode começar durante os primeiros meses de
49. Lange P, Parner J, Vestbo J, Scbnohr P, Jensen G. A 15-year vida, mas o início do quadro clínico no período neonatal,
foUow-up study of ventilatory function in adults with astbma. New mormente se assoeiado a vômito, leva à necessidade de se in-
Engl J Med. 1998;339(17):1194-200. vestigarem outros diagnósticos diferenciais, como alterações
graves pulmonares e cardíacas.
Alguns episódios de sibilância e asma parecem estar re-
lacionados principalmente com alérgenos, enquanto outros
~ ATENÇÃO
Fora das crises, o paciente costuma ser assintomático e o
exame físico é normal, podendo haver evidências de sibilos
à ausculta pulmonar apenas durante expiração forçada. A
espirometria pode ser normal ou apresentar obstrução das Com o conjunto de informações iniciais, clinicas e
vias aéreas de pequena intensidade, com ou sem resposta funcionais, como regra, estará confirmado o diag-
nóstico de asma e estabelecida sua gravidade, estan-
ao broncodilatador. Sendo a espirometria normal, pode-se
do descartadas outras possibilidades diagnósticas.
realizar o teste de broncoprovocação, que em geral será po-
sitivo. Esse teste é obtido pela medida repetida do volume
expira tório forçado no primeiro segundo (VEF 1), antes e de-
pois da exposição do paciente a nebulizações com soluções O QUADRO 45.3.1 demonstra um conjunto de critérios
progressivamente mais concentradas de substância provoca- simples que costumam ser util.i zados para o diagnóstico de
tiva, como a metacolina. asma.
QUADRO45.3.1 ~ Critérios usuai.s para o diagnóstico de asma identificado. Sempre se deve procurar fatores que desenca-
deiam ou pioram os sintomas de asma. jã que a maioria dos
Clinico Dispneialtosselsibil~ncia pacientes saberá referir relação exposição-sintomas quando
"Aperto no peito" se abordam fatores ambientais. Fatores que podem contri·
buir para o dcsencadeamento de crises incluem infecções
Fundonal Obstrução variável respiratórias, mudanças climáticas, poeira domiciliar, mofos,
Hiper·reatividade Teste de broncoprovoca~o positivo determinadas vestimentas (p. ex., lã), medicamentos, entre
outros. Deve-se buscar em todos os ambientes do paciente
(não apenas no domicílio) fatores que costumam causar sin·
tomas em asmáticos: no trabalho, nos locais que frequenta
rotineiramente e até em exposições ocasionais. O QUADRO
Avaliação especializada 45.3.2 apresenta a maioria das perguntas que devem ser apli·
A avaliação clínica especializada do paciente oom asma deve cadas ao paciente e/ou cuidadores.
ser orientada em tomo de alguns objetivos fundamentais: A caracterização ou não de atopia pessoal e/ou familiar
deve sempre ser buscada pela presença de rinite alérgica,
• Confirmação diagnóstica dermatite alérgica, reações a fãrmacos e da própria asma
• Identificação de fatores desencadeantes de sintomas brônquica. O QUADRO 45.3.3 apresenta uma lista de pergun-
• Reconhecimento da gravidade tas que podem ser utilizadas para caracterizar o papel da
• Caracterização de atopia atopia no diagnóstico da asma.
• Caracterização da presença de rinossinusite A história detalhada dos tratamentos anteriores sempre
• Confirmação da presença de hiper-rcatividade será fundamental para o melhor entendimento da situação
• Avaliação crítica da história terapêutica do paciente e para o estabelecimento de um novo esquema
• Planejamento da estratégia terapêutica imediata e a lon- terapêutico.
go prazo Ao exame ftsico, é possível constatar sibilos apenas na ex·
piração prolongada. Os sibilos podem ser expiratórios, inspi·
O paciente oom asma costuma apresentar, durante os ratórios ou percebidos em ambas as fases. Ocasionalmente,
episódios de exacerbação (crises), o quadro obstrutivo clás- o exame fiSiCO do tórax é normal; nesse caso, uma expiração
sico, oom dispneia, síbilância (chiado no peito), tosse seca e forçada ou uma manobra de tosse suscitará o surgimento de
outras queixas vagas como "congestão no peito", "aperto sibilos. Na asma aguda grave, os sibilos podem atenuar-se
no peito" e cansaço. As crises ocorrem mais oomumente à ou desaparecer à medida que a obstrução se intensifique e a
noite, de maneira que a perturbação do sono é um achado
muito frequente. As manifestações noturnas em geral são
impactantes para a qualidade de vida, devendo ser sempre QUADRO 45.3.2 ~ Questões que devem ser feitas ao paciente e
muito bem avaliados e nunca esquecidos. Como regra, as cri- seus cuidadores
ses duram algumas horas ou dias e cedem espontaneamente
ou sob efeito de medicações, em particular broncodilatado· - lnído da doença
res e corticoides. - Frequência das crises
Por ocasião da crise, deve-se avaliar a gravidade e a du- - Ocasião em que ocorrem as crises
ração dos sintomas, a duração da falta de oontrole, a quan· - Intensidade das crises (consult.ts em emergências, hospitalizações,
tidade de beta-adrenérgico inalado nas últimas 24 horas, as internações em un)
doses e o tempo de uso de outros medicamentos, bem como - Sintomas noturnos e matutinos
a(s) causa(s) mais provável(is) da exacerbação. - Fatores desencadeantes
Em especial, uma rápida piora dos sintomas, atendimen- - Fatores de alívto
tos de emergência recentes e recorrentes, internação prévia - Influência dos sintomas nas atividades habituais ou vice-versa
- Tratamentos anteriores e sua regularidade
em unidade de terapia intensiva (UTI), com ou sem uso de - Uso de corticoide sist~mico (frequência de uso e doses)
ventilação mecânica, e a necessidade de manter corticotera- - Uso de anti·inflamatórios inaláveis (se continuado ou não)
pia prolongada são dados sugestivos de asma grave e devem - Uso de broncodilatadores (quais e como usa)
servir como mais um subsídio para o plano terapêutico e, - Infecções respiratórias de repeti~o. principalmente sinusite e
se necessário, para indicação de hospitalização. Devem ser pneumonia
reconhecidas causas comuns de exacerbação: infecção res· - Sintomas de refluxo gastresofágico
piratória, exposição a aeroalergênios, ingestão de alimentos - Outros medicamentos usados (anti·hipertensivos, colírios para
ou conservantes (p. ex., metabissulfito) aos quais há grande glaucoma, anti-inflamatórios não esteroides, etc.)
hipersensibilidade, ou uso de fármacos (p. ex., anti-inflama- - Atopia pessoal e fam1liar (asma, rinite alérgica, dermatite atópica,
tórios não esteroides, betabloqueadores). alergia a filrmacos)
- Exposições ambientais (quarto, cama, torração, cortinas, locais
Na maioria dos casos, um ou mais fatores podem ser re- úmidos e com mofo)
conhecidos como responsáveis pelo desencadeamento das - Tabagismo (ativo e passivo)
crises, enquanto em outros nenhum fator desencadeante é - Animais domésticos (cães, gatos. pássaros)
--------------------
QUADRO 45.3.3 ~ Perguntas para avaliar o papel da atopia em A presença de obstrução das vias aéreas inferiores (bron-
asma• coconstrição) é suspeitada pela história (dispneia com chia-
do), confirmada pelo exame físico (sibilância) e mensurada
1. Os sintomas pioram em certos meses? Se sim, existem sintomas pela espirometria ou pela determinação do PFE.
de rinite alérgica, espirros, pru rido, coriza e obstrução nasal ao A espirometria costuma demonstrar obstrução ao fluxo
mesmo tempo? (Pólen e mofo) aéreo, reversível seja imediatamente pelo uso de bronco-
dilatador ou de modo mais lento pela remissão natural da
2. Os sintomas surgem ao visitar um domio1io com animais de
estimação? (Pelos e outros elementos biológicos derivados de
doença. Interessam em particular a medida do VEF, e a ca-
animais) pacidade vital forçada (CVF). Costuma-se fazer a medida do
VEF, e da CVF antes e depois do broncodilatador, frequen-
3. Se existem animais de estimação no domicílio do paciente, os temente verificando-se uma diferença significativa. No caso
sintomas melhoram quando o paciente permanece fora por do VEF., para considerar-se significativa, tal diferença deve
uma semana ou mais? Os sintomas nasais, oculares e torAcicos ser~ 200 mL e 10% em relação ao previsto.
melhoram? Os sintomas pioram nas primeiras 24 horas após Fora das crises, em que o fenômeno obstrutivo pode
o retorno ao domicilio 7 (Pelos e outros elementos biológicos
estar ausente, os testes de broncoprovocação (TBP) podem
derivados de animais)
trazer esclarecimento sobre a presença ou não de hiper-re-
4. Apresenta prurido e eritema ocular após ter contato com algum atividade das vias aéreas. Os TBP são particularmente im-
animal? (Pelos e outros elementos biológicos derivados de animais) portantes para pacientes com sintomas incaracterísticos ou
tosse persistente com espirometria normal. Um TBP negati-
S. Os sintomas aparecem no cômodo onde tapete ou carpete foi vo deve obrigar o clínico a reconsiderar outros diagnósticos
aspirado? (Produtos de animais ou Acaros) caso o paciente não esteja sendo tratado. Já um TBP posi-
tivo nem sempre significa, necessariamente, o diagnóstico
6. Há sintomas ao arrumar a cama? (Ácaros)
de asma. Outras situações estão relacionadas com teste de
7. Há sintomas quando se abre alguma peça ou armário com roupas broncoprovocação positivo: rinite alérgica e atopia, doença
hA algum tempo fechados? (Mofo) pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), fibrose cística, insufi-
ciência cardíaca, bronquite infecciosa e infecção respiratória
8. Os sintomas estão relacionados com certos tipos de trabalho ou recente. A correlação com a clínica é fundamental.
atividades laborais?
É muito importante salientar que, mesmo em pacientes
9. Os sintomas melhoram após o paciente permanecer alguns dias com obstrução ao fluxo aéreo na espirometria, a ausência
fora do trabalho? de resposta ao broncodilatador não exclui o diagnóstico de
asma!
•es posslveis fatores causaisforam indicados entre parênteses. O componente alérgico é mais bem caracterizado pela
história clínica, interessando particularmente estabelecer a
relação exposição-sintomas com pequeno intervalo de tem-
insuficiência respiratória progrida. Nas crises graves, é pos- po. Antecedentes de atopia (alergia) como crosta láctea ao
sível detectar, também, hiperinsuflação torácica, contratura nascimento, dermatite atópica, rinite alérgica e reações alér-
dos músculos inspiratórios acessórios, ortopneia e cianose. gicas a medicamentos, tanto no próprio paciente quanto em
Os sinais fisicos geralmente associados a grave limitação familiares, são de grande importância para o diagnóstico de
ao fluxo aéreo (VEF1 < 40%) são taquicardia (frequência asma alérgica.
cardíaca > 120 bpm), taquipneia (frequência respiratória > A identificação de eosinofilia no hemograma, a dosagem
30 mpm), uso dos músculos respiratórios acessórios, pulso elevada de imunoglobulina E (IgE) e os testes cutdneos a an-
paradoxal (18 mmHg ou mais), fala monossilábica ou total tígenos inaláveis fornecem subsídios importantes, sobretudo
incapacidade de falar, exaustão, dispneia intensa, ausência quando houver suspeita clínica menos consistente de atopia.
de ruídos adventícios ("tórax silencioso"), hipoxemia (Sp02 Nesse aspecto, vale ressaltar que é desnecessária a utilização
< 92%), alteração da consciência, cianose e choque. de grande número de antígenos. Em caso de alergia respi-
Na fase pós-crise, sibilos e importantes alterações espiro- ratória, o teste cutâneo com os antígenos inaláveis mais fre-
métricas podem estar presentes mesmo quando o paciente já quentes, como poeira domiciliar (Dermatophagoides), fungos
esteja assintomático e se julgue livre do episódio. Tem gran- e pólens, permite a identificação de aproximadamente 90%
de importância a avaliação funcional (pico do fluxo, ou espi- dos casos. Embora sem fazer parte da rotina, o radioallergo-
rometria), pois é comum que o paciente apresente, na pós- sorbent test (RAST) possibilita o diagnóstico específico dos
-crise, baixa percepção do grau de obstrução ao fluxo aéreo. alergênios responsáveis pelo desencadeamento de alergia
A ausculta é útil para corroborar o diagnóstico da asma, respiratória. Todavia, é importante ressaltar que a ausên-
mas deve sempre ser complementada pela espirometria cia de atopia não exclui, necessariamente, o diagnóstico de
como parte da avaliação pneumológica mínima. Em alguns asma!
pacientes, os sintomas e os sinais cünicos de limitação ao flu- Na FIGURA 45.3.1, é proposto um algoritmo para o diag-
xo aéreo podem estar ausentes mesmo com um VEF, infe- nóstico de asma baseado na histórica clínica e na avaliação
rior a 50%. funcional.
Espirometria
Teste de broncaprovocaçAo
ou ~
NÃO 1
OBSTRUÇÃO AO FLUXO AÉREO
~
SIM
Usar broncodilatador
PEF seriado
SIM
Obstrução revertida
1
Resultados de um ou
SIM
NÃO
1
Broncodilatador + corticoide oral
l SIM
1
M~hora clínica e/ou funcional
(aumento do VEF,>10%) Outra doença pulmonar obstrutiva
crônica. ou asma irreversfvet
Outra doença
SIM
ASMA
Introdução
A asma é uma doença causada pela inflamação das vias aére-
as. As alterações patológicas envolvem tanto a via aérea pro-
ximal quanto a distai e resultam em limitação ao fluxo aéreo.
A resposta inflamatória aguda envolve o aumento do tônus
muscular liso peribroocovaseular, bem como o aumento das
secreções na via aérea e a eonsequente impaetação mucoide
em via aérea distai.
Os efeitos fisiopatológicos da obstrução aérea incluem
aprisionamento de ar e biperinsuflação dinâmica, resultando
no aumento da capacidade residual funcional e no aumento da
carga diafragmática. A consequ~ncia de um episódio agudo,
especialmente quando recorrente ou refratário, é uma respos-
ta inflamatória crônica das vias aéreas periféricas, que pode
ser determinante no remodelamento irreversível da via aérea.
Historicamente, os métodos radiológicos, quando usados
para o estudo da asma, tinham como único intuito excluir ou-
tras causas de dispneia c sibilos. O aumento da disponibili- Não obstante a limitação do estudo radiológico sim-
dade, assim como a evolução tecnológica dos equipamentos, ples de tórax para o diagnóstico de asma, ele é parte fun-
[E] ATENÇÃO redes das vias aéreas pode ser avaliado de modo quantitati-
vo ou qualitativo. Entretanto, com o uso de novos sofiwares,
evidenciou-se que a avaliação quantitativa é ma.is segura e
Ot sínais diretos de avaliação da gravidade da asma preditiva de doença de pequena via aérea. Como em todos
e do comprometimento da via aérea incluem a me- os testes não invasivos, os achados tomográficos não mais
dida da espessura das paredes dos brônquios, ' o fn- são do que a representação de uma doença de base.
dice do diâmetro brônquico em relação ao diâmetro A maneira como a tomografia computadorizada reflete
das artérias e a perda do afilamento brônquico usual a progressão histológica em pacientes asmáticos ainda está
(FIGURA 45.4.2). sob investigação e tem mostrado resultados muito animado-
res. Está demonstrado que os achados de tomografia com-
putadorizada de alta resolução se correlacionam fortemente
Outro achado direto inclui a relação do diâmetro máximo com o espessamento da membrana basal reticular nos adul-
do brônquio em relação à artéria pulmonar. Deve-se ter cuida- tos com asma. Achados semelhantes também são descritos
do, pois em crises agudas o paciente com asma apresenta hipo- em pacientes pediátricos com asma de difícil controle. Os
xia pulmonar, o que pode causarvasoconstrição das arteriolas, achados de espessamento parietal brônquico e perda do afi-
levando o paciente a apresentar um diâmetro brllnquico muito lamento brônquico usual são mais prevalentes em pacientes
superior ao da artéria pulmonar, o que por vezes é ocasionado adultos, provavelmente pelo fato de uma inflamação mais
pela vasoconstrição arteriolar associada à hipoxia. crônica propiciar maior alteração histológica.
Os sinais indiretos incluem focos de impactação mucoide
em via aérea distai (também conhecido como padrão de nó-
dulo em "árvore em brotamento", sugestivo de bronquiolite;
e o padrão de atenuação em mosaico, que indica a presença
Avaliação da via aérea periférica
de áreas geométricas de diminuição da densidade pulmonar A avaliação da via aérea periférica é baseada em achados
por hiperinsullação. Este último achado também pode ser indiretos, e os principais incluem atenuação em mosaico e
visto em pacientes com embolia pulmonar crônica e doença nódulos com padrão de "á.r vore em brotamento". Quando
infiltrativa, mas ao estudo em expiração essas áreas na asma existem bronquiolectasias, tais achados também são úteis.
permanecem hiperinsufladas e, nas demais doenças, tendem Os brônquios são geralmente considerados dilatados quan-
a apresentar desinsullação usual ao parênquima restante. do o lúmen deles é maior do que o diâmetro das artérias pu!-
FIGURA 45.4.4 -+ Exemplo de traqueobroncomalácia. (A) tomografia computadorizada em inspiração; (B) tomografia computadorizada em expira-
ção. Note-se o fechamento total da via aérea. (C e D) representação da via aérea em 30 em inspiração e expiração, respectivamente. (E) reconstrução
tridimensional demonstrando a traqueia em expiração e sua relação com o mediastino.
B!1
Tratamento
Luciano Müller Corrêa da Silva
Luiz Carlos Corrêa da Silva
Introdução
Quanto aos fármacos, para o tratamento de manutenção,
Otratamento da asma apresenta os seguintes a associação corticoide inalatório + broncodilatador de lon-
objetivos:1'1 ga ação é a mais eficaz. Já na asma aguda grave, o uso de
~ Proporcionar ao asmático um tratamento simples, broncodilatadores inalatórios em dose alta associado ao cor-
mas eficaz, utilizando como pilar as medicações ina- ticoide sistêmico continua sendo o esquema principal, com
latórias. melhor custo-efetividade. O controle ambiental nunca deve
~ Melhorar a qualidade de vida. ser esquecido, pois tanto o donúcflio quanto o trabalho são
~ Obter o melhor controle possfvel dos sintomas, parti- fontes de gatilhos e alergênios capazes de gerar má resposta
cularmente os noturnos. ao tratamento farmacológico. Na outra ponta, está o auto-
~ Reduzir o número de exacerbações. manejo, que consiste, por meio de intervenções educativas,
~ Reduzir visitas à emergência e hospotalizaçôes. em tomar o paciente suficientemente orientado para rea-
~ Diminuir a va ria bilidade da obstruçlo ao fluxo aéreo. lizar modificações em seu tratamento que permitam obter
maior controle e reduzir o risco de exacerbações graves.
de manutenção a longo prazo do uso do corticoide inala tório
Medicamentos para asma para a obtenção de um efeito mais sustentado.
Atualmente, devem ser destacados, por serem os mais efi- O efeito dos corticoides inalados na redução do processo
cazes, mais seguros e mais testados, os grupos de fármacos inflamatório brônquico presente na asma determina melhor
mencionados no QUADRO 45.5.1. controle de sintomas, redução das exacerbações da doença,
melhora da resposta ao tratamento da crise (aumento da
sensibilidade aos beta-agonistas), redução da suscetibilidade
Anti-inflamatórios esteroides inalatórios- ou aos fatores desencadeantes, melhora da qualidade de vida
corticoides inalatórios e, até mesmo, do próprio risco de mortalidade da doença.6
Os efeitos adversos mais frequentes são aqueles rela-
~ ATENÇÃO cionados com a ação local (candidíase oral, disfonia). Eles
podem ser bastante minimizados enxaguando-se a boca com
água após o uso. No caso de nebulímetros com corticoide
Os corticoides inalados são o tratamento de manu-
inalado, recomenda-se uso do espaçador. Para pacientes
tenção de primeira linha na asma brônquical
com candidíase oral refratária, a substituição por ciclesonida
(que apresenta ativação somente no epitélio respiratório)
pode ser de algum benefício. Quanto às ações sistêmicas,
Citem-se budesonida, fluticasona, mometasona, cicleso- os corticoides inalados não apresentam efeitos adversos im-
nida e beclometasona. Os corticoides inalatórios (CI) agem portantes, justificando seu uso pela alta relação benefício-
sobre as células do epitélio brônquico suprimindo a trans- -risco.' Deve-se ter muito cuidado em utilizar o corticoide
crição de genes envolvidos na resposta inflamatória. O me- inalado pela nebulização, pois há sempre a possibilidade de
canismo envolvido é a redução da liberação de citocinas, do vazamento da dose aplicada para a região ocular, o que pode
nfvel de enzimas, pepúdeos e moléculas de adesão responsá- desencadear catarata e/ou glaucoma. A possibilidade desse
veis pelo recrutamento de células inflamatórias. O início da efeito local em órgão nobre deve servir de alerta para que o
supressão da inflamação da mucosa respiratória é relativa- uso de corticoide nebulizado seja cada vez mais restrito!
mente rápido, com uma redução significativa dos eosinófilos
em seis horas e conse~uente diminuição da hiper-responsi-
vidade das vias aéreas. ·• A reversão da hiper-responsividade Broncodilatadores
das vias aéreas pode demorar vários meses para atingir um Os principais broncodilatadores são os beta-agonistas, que
platô, provavelmente o reflexo da recuperação de alterações proporcionam rápido alívio de sintomas pelo seu efeito
estruturais na via aérea.s Isso parece justificar a necessidade broncodilatador.
Il.mnii!lr·i!.llt:lN1
Corticoides Beta2·adrenérgicos (beta-agonistas)
• O uso de nebulimetro é mais prático do que a nebuliza· Já o nebulímetro com espaçador permite uma dose
ção, pois esta implica equipamento de maior porte e que administrada mais confiável, mais rápida e sem o risco de
exige fonte de energia elétrica ou gás comprimido. En- contaminação (QUADROS 45 .5.4 e 45.5.5). Engana-se quem
quanto o nebulimetro pode ser levado junto com o pa· pensa que a nebulização é mais eficaz do que a bombinha
I
ou
Nebulizaçlo: fenoteroVsalbutamol I O
gota• + SF o 0.9% 4 ml com fluxo de
ar comprimido, 6 Vmin. 20/20 minut os li 40-50%
1
Manter tratlmento na emergência por
2·3 horas com fenoteroVsalbutamol +
PFE
1
Primeiro escolha: FenoteroVsalbutamol
> iprotrópio - 4 jatos 10/10 minutos
com nebullmetro acoplado a espaçador
de grande volume (750 ml)
_j 1
30a
60mln
Com sintomas
Ou sem melhora
clfnlca
~ ipratr6pio 4 jatos 10/10 min.lniciar
corticoide sistfmico (prednisona oral
60 mg. ou met ilprednísolona 60 mg IV)
ou
<50% ~ Nebulizaçjo: FenoteroVsalbut.>mol 1O
gota• + iprat rópio 20 got.ls + SF a LJberaçjo da emergfncia após
0.9% 4 ml com fluxo de •r comprimido. > 60% + melhora d fnk;o observaçio mini ma de 30 mín
6 Vmin. 20120 minutos ou FenoteroVsalbutamol + oprotrópoo 4
40-50% + assintomátiao + jatos eM 4/4 hor•s com nebulímetro
sem fa tones ele risco ~,.
ocoplodo a es~çodor + corticoõde
asma faul + ideslo e oral2: 40 mgldoa 7-14 dias+
seguimento adequados enc.amenham~t o eo espe<t.lista
QUADRO 45.5.6 -+ Dose recomendada dos broncodilatadores de Tratamento da crise de asma na emergência
curta ação. para crises Em primeiro lugar, devem ser administrados ao paciente os
broncodilatadores de curta ação fenoterol ou salbutamol,
Nebulímetro com aerocAmara: salbut.Jmolffenoterol com ou sem associados ao ipratrópio. O ipratrópio não deve ser utilizado
iprauópio: 2 a 4 jatos de 10 em l Ominutos. A maioria dos pacientes isoladamente na crise de asma! Um dos grandes erros co-
responde com até 12 a t6 jatos, mas podem ser utilizados por até metidos é utilizar subdoses de broncodilatadores nas crises
três horas nessa frequ~ncia em caso de falt.J de resposta. Nesse caso,
de asma tratadas na emergência. Em muitos casos, perde-
isso sempre dever ser realizado no hospit.JI, ou em emergência, sob
-se tempo com o uso de aminofllina (sem eficácia relevante
supervisjo médica.
demonstrada na crise de asma) ou de corticoide sistêmico
Nebulízaç~o com ar comprimido: fenoterol ou salbutamol (1 Ogotas) intravenoso, ocorrendo demora na administração dos fár-
+ ipratrópio (20 gotas) + soro fisiológico a 0,9% (3 ml), com fluxo macos mais eficazes, que são os broncodilatadores de cu rta
de ar comprimido a 6 litros/minuto, de 20 em 20 minutos. ação.
Como a latência de ação do corticoide sistêm ico ocorre
entre 6 e 24 horas da sua administração, seu uso imediato
não é relevante. O corticoide pode ser administrado pos-
Enfatize-se que o ipratrópio não apresenta ação na teriormente, após a estabilização da crise, por exemplo. A
asma, quando utilizado isoladamente, nem no tratamento eficácia do corticoide oral e intravenoso é semelhante. O
de manutenção. No tratamento com nebulização, ele pode corticoide intravenoso é administrado, em geral, naquele pa·
ser usado. É importante lembrar que, no tratamento da crise ciente com indicação de internação hospitalar.
de asma, o uso das doses corretas das medicações é funda· Na avaliação do asmático em crise na emergência, é im-
mental. Em muitos casos, são utilizadas subdoses por receio portante a estratificação da gravidade da crise. Para o pa-
de possíveis efeitos colaterais no sistema cardiovascular. Nas ciente que já se apresenta com sinais de falência respiratória
doses recomendadas, os broncodilatadores são totalmente (dificuldade verbal, cianose, sudorese, exaustão, confusão
seguros e o clínico não deve 1emer o seu uso. mental ou diminuição do sensório, uso da musculatura respi-
ratória acessória com respiração paradoxal, hipoxemia com A maioria dos pacientes apresenta melhora da crise após
Sp02 S 90%, bradicardia, ou taquicardia com frequência 12 a 16 jatos do nebulímetro com a associação fenoteroV
card!aca > 140 bpm), a pronta admissão na UTI deve ser salbutamol + ipratrópio com espaçador de grande volume.
considerada. Após a melhora da crise e liberação do paciente da emer-
Murmúrio vesicular diminuído bilateralmente indica cri- gência, é obrigatória a administração diária de corticoide
se grave. Se diminuído unilateralmente, pode sugerir pneu- sistêmico entre 7 e 14 dias (~ 40 mg!dia de prednisona) e
motórax. Nesse contexto, na dificuldade de administração encaminhamento ao clínico de referência para reavaliação
de medicações inalatórias, podem ser associados broncodi- imediata do tratamento.
latadores por via subcutânea (terbutalina ou adrenalina), Para pacientes com crise mais leve, uma alternativa
sempre se mantendo os inalatórios em uso continuo. O uso proposta pela literatura ao emprego de corticoide sistêmi·
de sulfato de magnésio pode ser considerado como terapia co após a liberação da emergência é o uso de corticoide
adicional somente nos casos mais refratários, ou em pacien- inalatório em dose alta (1.600 Jtg/dia de budesonida) em
tes com crises graves (VEF, < 25% do previsto). um período de pelo menos 10 a 15 dias, até a reavaliação
A oxigenoterapia sempre deve ser administrada quando pelo clinico. No entanto, a dificuldade de tal alternativa
a Sp02 (medida por oximetria) for < 92%. A Sp0 2 deve-se é que o paciente pode ter pouca adesão a esse esquema
manter~ 92%. A adminjstração de fluxos altos de oxigêruo e o ambiente de emergência pode não ser muito propício
pode acarretar aumento da PaC02 e diminuição do pico do para o ensino desse tipo de medicação. E m tal contextO, o
fluxo expiratório. Logo, é sempre útil titular o fluxo neces- corticoide oral ainda é a terapêutica mais recomendada na
sário de oxigênio através da oximetria. O corticoide intrave- liberação do paciente, junto com os broncodilatadores de
noso é administrado, mas isso não deve retardar as medidas curta ação.
de suporte ventilatório do paciente, no caso de necessidade
de entubação.
O uso de broncodilatadores por via intravenosa (salbuta- Avaliação da efetividade do tratamento da crise
mol, terbutalina), além de não ser superior ao uso inalatório de asma na emergência
ou subcutâneo, pode acrescentar efeitos adversos, especial- A simples avaliação cHruca da resposta do paciente ao trata·
mente arritmias, hipopotasserrua e acidose, mas podem ser mento da crise de asma muitas vezes é errônea. É muito co-
utilizados em casos extremos. A ventilação não invasiva para mum, especialmente na situação da crise de asma, uma dis-
crise de asma não é recomendada. O uso de conicoide ina- sociação importante entre os sintomas e o grau de obstrução
latório em doses elevadas, junto com fenoteroVsalbutamol ao fluxo aéreo. Após o tratamento inicial, muitos pacienteS
+ ipratrópio, tem sido proposto no tratamento da crise de podem apresentar poucos sintomas, apesar da presença de
asma, sobremaneira naqueles pacientes com VEF, < 30% um grau importante de obstrução brônquica. Dessa forma, a
do previsto na admissão. Esse efeito mais imediato do cor- avaliação objetiva do grau de obstrução brônquica é impor-
ticoide inalatório em dose alta estaria relacionado com uma tante. A melhor forma de realizar isso é por meio do VEF1
diminuição do edema da via aérea pelo efeito vasoconstritor (obtido somente pela espirometria) ou do pico do fluxo expi·
do corticoide. No entanto, não foi uma abordagem que de- ratório (PFE). A avaliação deste último é bem mais simples
monstrou custo-efetividade para uso generalizado. pelo fato de necessitar apenas de um medidor portátil de
PFE, acessível a qualquer emergência.
lc<~vt,Mh.t<~1
Sintomas diA rios Nenhum (S 2x/semana) > 2x/semana Três ou mais caracteristicas de asma
parcialmente controlada presentes em
Limitação nas atividades Nenhuma Qualquer qualquer semana
6 meses ou mats
satJSfot6no -7 Mantl!l'
l
Roavaloação pnoumol6goca ospocialozada
Coment.irios adicionais.;
LEGENDA
-O cortkolde sistfmko podt> ink.almcnto s« IUOC.ildo ao tsquemt. conforme
•ca • cortkoid<' intlatório em dose ballCb (p e• .• s 400 pgtd~ de: a gravidadt dt aprtstntaÇIO ou 5tt aetoscen~o em qualquer momento que •
bud~ida ou 200 pg/dla do tlutkason.e) associaç.&o Ci + BALA em dose alta nJo SC!J• suficiente ptrl controle.
BALA ~·agoniJtb do longa oç6o (formoterol ou salmeterof) ·A ttofilina de libtfaçao lenta pode ser utd,zado como um acrMdmo •
assoei~ C:l + BALA em do.s.c aha noM1uctl8 PJdOntcs ainda sintom~tlcos.
80CA - broncodtlatador do curta aç6o
SN BOCA BOCA se noccssJrio <Otn ressalvas.
SN smart - somcmt• assocl.-çjo budetonlda • fofmotttel s.e nece-ss.itlo · Após controle total por pelo mC!nos J ITMI'SCS. rtduzir ~do Cl se uso da
VEF, 'o'Oiul"nt o.xplr~tóno t«c.tdo no primel10 5e9undo associ.&ç.&o Cl + BALA. mantendo-se o BALA. S. uJO do a lsol1do. rf'duz:tr
50'4 da dose! e depois • frtquiOOI . P.trl ptclentts do SIN90 11 (greves) o
UT1 • Untct.de de trat.tmtnbO intens.No
~ DIJ\It · qut MC.fljltou dt cortlcoidt li$t~mko tempo ne<ess.irio para avaliar reduç.to dcYe s.« suptrior a~~ ""'"'"
· Antes do au~to do <Ot'bCOide iNllt6ho. ou do KfHcm,g eM novas
medicac;6es ao esquefN j.il em uso, • fundamental a vf:t'lficlç.&o do1 correta
ldtsao do Pl<~tt 10 tratamento proposto!
único. Preferencialmente, utilizam-se inaladores com o res com risco potencial para exacerbações (p. ex., infec-
mesmo tipo de dispositivo para tomar mais acessível o ção vira! recente, alterações no domicflio ou trabalho),
aprendizado da técnica de uso. dose das medicações baseada no grau de controle (núni-
• Jamais deve ser esquecido o tratamento da rinite alérgi- ma dose necessária para o controle), temores do pacien-
ca. O descontrole sintomático da rinite alérgica resulta te relacionados com a doença ou a medicação.
em pior qualidade de vida e até mesmo em maior risco • De forma indireta, deve-se procurar indícios que atestem
de exacerbação. possível falta de adesão- que é a maior causa de descon-
• O controle ambiental adequado é fundamental para o trole da doença. A falta de adesão não inclui somente
tratamento preventivo. São medidas fundamentais não avaliar o uso da medicação, mas também a técnica de
expor-se a tabagismo ativo ou passivo, usar travesseiro uso, as concepções e percepções que o paciente apresen-
adequado com capa antialérgica, manter higiene corpo- ta em relação à doença e ao tratamento, a capacidade
ral e limpeza doméstica satisfatórias, evitar utensílios ou financeira para aquisição das medicações, o suporte so-
móveis no domicílio que sabidamente aumentam a proli- cial, bem como o estado mental e cognitivo.
feração de ácaros, fungos e insetos, usar roupas adequa-
das para o clima, lavar as mãos para diminuir o risco de
infecções, realizar vacinação anual para influenza, evitar Abordagens no tratamento de manutenção da
áreas muito polufdas e identificar fatores ocupacionais
no trabalho que possam agravar a doença.
asma para controle e prevenção de exacerbações
• Em cada visita, devem ser avaliados grau de controle da graves
asma, função pulmonar, técnica do uso do inalador, fato- Sistema SMART (single maintenance and reliever therapy)
Uma nova modalidade proposta de tratamento da asma
As FIGURAS 45.5.1 c 45.5.2 trazem dois fluxogramas que represen- é o tratamento com um único inalador tanto para manu-
tam propostas de tratamento farmacológico para asma aguda grave tenção quanto para períodos com exacerbação da doença,
na emerg~ncia e para manutenção em adultos, considerando-se a considerando-se que a asma é uma doença variável. Essa
atual custo-efetividade das intervenções. Esses fluxogramas foram
forma de tratamento aproveitaria o efeito anti-inflamatório
estruturados com base no estado atual da literatura e na experiência
dos autores. Ouuas abordagens podem ser possfvcis, conforme jul- do corticoide inalatório e a possibilidade de tratamento da
gamento médico individualizado. exacerbação com um beta2-adrenérgico de longa ação com
rápida latência de ação (formoterol) antes da evolução para le total não ultrapassaram 20% e de controle satisfatório
exacerbação grave. 60%, inferiores às taxas finais do estudo GOAL. Além
A associação mais estudada nesse aspecto foi budeso- disso, o número médio de exacerbações graves por pa-
nida + formoterol com o inalador de pó seco Turbuhaler. ciente/ano chama a atenção pelos valores maiores em re-
Estudos demonstraram que a associação pode ser utilizada lação ao estudo GOAL, mesmo nos grupos a + LABA
em doses baixas, uma ou duas vezes ao dia de forma fixa, fuo + beta-agonista de curta ação, se necessário.
sendo que, nos períodos de exacerbação, é aumentada se- • Apesar de a terapia SMART ter promovido um tempo
gundo as necessidades do paciente. Esse esquema pareceu maior até a primeira exacerbação, muitos dos parâme-
ser mais eficaz do que o uso apenas fixo da associação (bu- tros de controle diário ainda podem ser considerados
desonida + formoterol) + beta2-adrenérgico de curta ação insuficientes. Praticamente em todos os estudos, em mé-
nos períodos de exacerbação, ou do que o uso de corticoide dia, os pacientes utilizaram medicação de resgate uma
inalatório em doses mais altas + beta2-adrenérgico de curta vez ao dia, tiveram sintomas noturnos a cada 7 a 10 dias,
ação na exacerbação. No entanto, algumas considerações experimentaram menos da metade dos dias livres de
devem ser feitas em relação ao estudos22·lS com essa moda- sintomas de asma e obtiveram uma taxa de exacerbação
lidade de uso: grave de cerca de 1 em 5 pacienteS/ano.
• A terapia SMART baseia-se, exclusivamente, na per-
• O desfecho primário foi o tempo necessário para a pri- cepção do paciente sobre a falta de controle e ainda no
meira exacerbação grave. Este foi definido como neces- fato de ele utilizar a medicação de resgate. Sabe-se que
sidade de uso de corticoide sistêmico e queda do PFE > essa relação controle-percepção é por demais imperfei-
30% em dois dias consecutivos. No entanto, em recen- ta. Em um estudo clássico, Rubinfeld e Pain 30 demons-
te publicação da American Thoracic Society/European traram que um em sete pacientes não percebiam uma
Respiratory Society/ 6 recomendou-se não utilizar mais queda < 50% do previsto no VEF ,. Além disso, tam-
em ensaios clinicos o uso de queda do PFE como critério bém existem pacientes que usam medicação de resgate
de exacerbação grave devido à falta de evidências para além do necessário ou nem a utilizam, mesmo sintomá-
esse desfecho. ticos. Menos de um terço dos pacientes tem a capaci-
• Atualmente, busca-se como principal objetivo no trata- dade de fazer uso da medicação de resgate conforme a
mento da asma o controle total. Mesmo utilizando cri- função pulmonar.31
térios ~ue podem não ser os mais fidedignos, o estudo • Propaga-se que o sistema SMART apresentaria maior
GOAL 1 pelo menos empregou um escore composto eficácia na prevenção de exacerbaçóes pelo fato de o
para definir o grau de controle da doença e escalonou paciente utilizar maior dose de corticoide inalatório
o tratamento conforme esse controle. O mesmo não se logo no início da exacerbação. No entanto, esse dado
procedeu com os estudos sobre a terapia SMART na baseou-se, exclusivamente, no preenchimento de diá-
época em que foram realizados. Em uma análise retros- rios pelos pacientes. A falta de adesão em ensaios cll-
pectiva recente sobre esses estudos, Bateman e colabo- nicos não parece ser muito diferente da prática diária.
radores27 relataram que somente 17,1% dos pacientes Por exemplo, no Lung Health Study foi detectado, por
poderiam ser considerados controlados, 38,7% parcial- monitoração cronometrada, uso de doses que não cor-
mente controlados e 44,2% sem controle. Nessa análise respondiam ao relatado nos diários em uma pa rcela
final, a terapia SMART foi semelhante no grau de con- significativa dos pacientes.32 Muitas das doses foram
trole em relação aos demais tratamentos. Em termos de utilizadas logo antes e logo depois das visitas do estu-
classificação de controle, tanto a GINA como o GOAL do. Somente no grupo que foi informado que o nebu-
parecem ser similares. 28 Não há evidências, portanto, so- limetro era cronometrado houve melhor adesão. Nos
bre qual benefício a terapia SMART poderia promover estudos SMART, geralmente foram alocados pacientes
se fosse utilizada em um contexto semelhante ao does- utilizando CI ou CI + LABA. É possível que a seleção
tudo GOAL Um estudo recente, 19 em análise post-hoc de pacientes mal controlados por problemas de má ade-
(retrospectiva) dos principais estudos SMART (> 12.000 são, que só usam medicação justamente em períodos de
pacientes), descreveu o efeito da terapia budesonida/for- exacerbação, possa ter afetado os resultados. Seriam
moterol fJXa e, se necessário, sobre o controle da asma e necessários mais estudos utilizando inaladores eletrô-
o risco de exacerbação em comparação com esquemas nicos para que fosse possível monitorar o padrão de uso
fixos de CI isolado ou CI + LABA adicionados a beta- nessa modalidade de tratamento.
-agonista de curta duração. Nessa análise retrospectiva, • Outro dado que chama a atenção é o tratamento do pro-
os pacientes foram estratificados conforme a etapa de cesso inflamatório a longo prazo na terapia SMART. Em
tratamento da GINA no início do estudo. Somente pa- um estudo,33 pacientes que recebiam cerca de 800 J.Lg/dia
cientes das etapas 2, 3 e 4 foram incluídos (2: uso de CI de budesonida foram transferidos para o uso de 200/6 J.Lg
em baixa dose; 3: CI em dose média a alta, ou CI em budesonida/formoterol duas vezes ao dia + se necessário
dose baixa + LABA ou antileucotrieno ou xantina de li- ou 400/12 J.Lg budesonidalformoterol duas vezes ao dia em
beração lenta; 4: CI em dose média a alta + LABA ou dose fixa. A dose média utilizada no sistema SMART foi
antileucotrieno ou xantina de liberação lenta). Mesmo 600 J.Lg/dia. A contagem de eosinófilos no escarro induzido
usando os critérios de controle da GINA estrati.ficados e em biópsia brônquica diminuiu significativamente com a
para cada etapa, ao final dos estudos, os níveis de contro- combinação fJXa, enquanto na terapia SMART não houve
modificação na eosinofilia do escarro e oeorreu até um Otratamento de manutenção da asma para as pequenas
aumento significativo na eosinofilia da biópsia brônquica. vias aéreas
Dados recentes parecem reforçar o fato de que uma dose Corticoides inalados aerossolizados em partículas menores
fixa maior de corticoide inalado proporciona maior efi- ( < 5 ~o~-m) foram recentemente desenvolvidos como parte do
cácia, mesmo utilizando-se terapia SMART. Em recente plano mundial (Protocolo Montreal) de reduzir os propclen-
estudo,:~< um total de 8.424 pacientes com asma sintomáti- tes com CFC, substituindo-os pelos que utilizam HFA. Dois
ca utilizando CI com ou sem LABA foram randomizados tipos de corticoide estão disponíveis nessa formulação: beclo-
para budesonida/formoterol 20016 ,_.g duas vezes ao dia + metasona c ciclesonida. Ambos apresentam deposição pulmo-
se necessário (grupo lx2) e 400/121-'g (duas inalações de nar três a quatro vezes maior do que aqueles com formulação
200/6 1-'g) duas vezes ao dia + se necessário (grupo 2x2). comCFC.
O desfecho primário foi o tempo necessário para a pri- Uma aparente vantagem é a possibilidade de obtenção
meira exacerbação grave. No resultado final, o tempo ne- de controle clínico e inflamatório da doença com doses
cessário para a primeira exacerbação grave foi 18% maior menores de CI (em média, metade da dose de CI utilizado
no grupo 2x2 em relação ao grupo 1x2 (p = 0,03). A dose com CFC ou pó seco). Por depositarem uma dose menor na
média de budesonida usada foi 737 iJ-g/dia no 2x2 e 463 ~o~-g/ orofaringe, o risco de candidose oral seria minimizado. No
dia no lx2. Os pacientes com maior beneficio do esque- entanto, devido à maior absorção sistêmica pela maior depo-
ma 2x2 foram aqueles com pior função pulmonar. Esse sição pulmonar, seu efeito sistêmico não pode ser subestima-
estudo demonstra que, mesmo no sistema SMART, uma do e ainda não foi avaliado a longo prazo.
dosagem fixa maior de corticoide inalatório diminui adi- Estudos mais numerosos e detalhados são ainda neces-
cionalmente o risco de exacerbação considerada severa, sários para demonstrar uma clara vantagem desse tipo de
em particular nos pacientes mais graves. O antigo estudo inalador, particularmente no impacto sobre a evolução mais
FACE'f'l já havia demonstrado que doses adicionais de tardia da doença.l? Ainda estão sendo desenvolvidas abor-
CI associados ao LABA reduzem adicionalmente o risco dagens que sejam mais fidedignas para melhor avaliação das
de exacerbações graves. pequenas vias aéreas, a fim de estabelecer-se correlação en-
tre esses marcadores e resposta clínica ao tratamento.JI
Considerando-se esses dados, conclui-se que a terapia Em pacientes com asma moderada a grave, a associação
SMART não pode ser utilizada de forma indiscriminada, beclometasona/formoterol 200/12 I-'& duas vezes ao dia, pa-
sem uma readaptação regular da dose de corticoide inalató- receu semelhante ao uso do sistema Turbuhaler, em doses
rio, esperando-se por um benefício que seja tão clinicamente maiores, budesonida/formoterol 400/12 ~o~-g, duas vezes ao
significativo como em geral tem sido propagado. Ainda não dia. Contudo, o desfecho primário foi o PFE, não havendo
bouve um ensaio clínico com estratificação randomizada poder e tempo suficientes (três meses de seguimento) para
conforme a resposta a uma dose de corticoide inicial e que maiores conclusões.;w O mesmo acontece com outros es-
usasse uma metodologia de escalonamento do tratamento tudos,'o-'2 embora um dado interessante seja a melhora de
semelhante à do estudo GOAL como intervenção, associan- parâmetros relacionados com a hiperinsuflação pulmonar
do-se a terapia SMART. Nesse contexto, a terapia SMART (p. ex., capacidade vital, volume residual, volume de oclu·
ainda não foi testada. são) em pacientes moderados a graves em comparação com
No entanto, a terapia SMART parece ser realmente se- a fluticasona em CFC ou flutieasona/salmeterol em Diskus.
gura e proporciona ao paciente a facilidade de utilizar um No entanto, nada pode ser inferido sobre o impacto clinico
único inalador para manutenção e para a crise. Jamais deve futuro desse efeito.
ser usada como substituta da avaliação do grau de controle e
da adesão pelo médico ao colocar no paciente a maior parte
da responsabilidade para o ajuste da medicação conforme
sua percepção.
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37. Gentile DA, Skoner DP. New asthma drugs: small molecule inha- redução do trabalho respiratório.
led corticostcroids. Curr Opin Pharmacol. 2010;10(3):26()..5. A indicação de cntubação é baseada em critérios clíni-
cos. Marcadores da deterioração incluem exaustão (fadiga
38. Kanazawa H, Kyoh S, Asai K. H irata K. Validity of mcasurement progressiva), depressão do sensório, instabilidade bemodinã-
of two spccilie biomarkers for the asscssmcnt of small airways in-
Oammation in asthma. J Asthma. 2010;47(4):400-6.
mica e hipoxemia refratária. A enrubação oral deve ser pre-
ferida, e o médico mais experiente deve ser destacado para
39. Papi A, Pa&giaro PL, Nicolini G, V1g110la AM, Fabbri l.M; lnha- fazê-la, uma vez que a manipulação repetida da via aérea
lcd Combination Asthma Trcatmcnt versus SYmbicort (ICAT pode ser catastrófica. Para fac.i!itar a entubação, a utilização
SY) Study Group. Beclomethasone{formotcrol versus budeso-
da combinação de cetamina e benzodiazepínico tem sido
nidefformoterol combination thcrapy in asthma. Eur Respir J.
sugerida por evitar depressão significativa do sensório e do
2007;29(4):682-9.
estado hemodinâmico. O uso de propofol, etomidato c suc-
40. Papi A, Paggiaro P, Nicolini G, Vignola AM, Fabbri LM; ICAT cinilcolina ainda carece de maior experiência, mas também
SE study group. Beclomctbasoncfformoterol vs Ou tieasoncfsalmc- merece destaque como uma alternativa para entubação rápi-
terol inhalcd combination in moderatc to severe asthma. Nlcrgy. da. A ventilação manual com máscara e Ambu" deve ser exe-
2007;62(10): 1182-8. cutada com baixa frequência respiratória e tempo expira tório
41. Thongngarm T, Silkoff PE, Kossack WS, Nelson HS. Hydro0u- prolongado, para limitar o agravamento da hiperinsuflação.
oroalkane-134A beclomethasonc or chloro.n uorocarbon Out.icaso-
oe: effect on small airways in poorly eontroUed asthma. J Asthma.
2005;42(4):257-63.
Fármacos na entubação
42. Thnon-de-Lara JM, Laurent F, Giraud V, Perez T, Aguila-
niu B, Meziane H , et ai. Air trapping in mild and moderate asth-
ma: cffeet of inhaled eorticosteroids. J AJicrgy Clin Immunol. Cetamina
2007;119(3):583-90. -+ Apresentaçlo: 1 ampola • 1 O ml ~ 500 mg
-+ Oiluiçlo: 10 ml + NaCI a 0,9%240 ml ~ 2.000 j.l~ml
-+ Dose de ataque: 1 a 2 j.tg/kg
-+ Infusão contfnua: 1 O a 30 j.tg/kg/min
nD
Ventilação Não lnvasiva e lnvasiva
Midazolam
na Asma Aguda Grave -+ Ap<Mentaçlo: 1 ampola~ 10 ml ~50 mg
Josué Almeida Victorino -+ Diluição: 50 ml + NaO a 0,9% 200 ml ~ 1 mg/ml
-+ Dose de ataque: 0,1 a 0,3 mglkg
-+ Infusão contfnua: 0,05 a 0,2 mglkglmin
Introdução
A hipolensão pós-entubação deve ser antecipada, e sua
rápida correção exige manejo com administração efetiva de
cristaloides.
Manejo ventilatório
O objetivo tradicional da ventilação mecânica em pacientes
com insuficiência respiratória é fornecer oxigenação adequa-
da com níveis não tóxicos de fração inspirada para obtenção
de tensão de dióxido de carbono e pH arterial normais. No
starus asmaticus, contudo, a tentativa de corrigir a acidose
respiratória pelo aumento do volume-minuto pode levar à
hiperinsuflação pulmonar extrema, com consequente risco fechos mais impactantes, o que faz do uso da VMNI em exa-
de pneumotórax e hipotensão arterial. cerbação de asma uma recomendação de grau 2b.
Por essa razão, há 25 anos foi proposta a hipoventi-
lação controlada com hipercapnia permissiva, que subse-
quentemente obteve larga aceitação. Existem diversas re-
visões c algoritmos recomendando a abordagem inicial de
Heliox
manipulação das variáveis dos ventiladores mecânicos na A mistura de gases hélio-oxigênio (80:20 ou 70:30) tem vis-
asma grave. Os detalhes desta ou de outra abordagem não cosidade semelllante à do ar, porém densidade inferior. Em
são tão cruciais quanto a merecida atenção aos seguintes tese, isso resulta em menor resistência ao fluxo e aumenta o
princípios: fluxo laminar, reduzindo o trabalho respiratório e melhoran-
do a oferta de medicamentos inalados à custa de redução da
• emprego de volumes correntes e frequência respiratória oferta da fração inspirada de oxigênio (FiOJ. Contudo, re-
baixos; visões sistemáticas fornecem evidência do não benefício no
• prolongamento do tempo expiratório tanto quanto pos- uso em asma grave com insuficiência respiratória.
sível;
• redução do tempo inspiratório o quanto possível e mo-
nitoração do desenvolvimento de hiperinsuflação dinâ- Ventilação mecânica invasiva
mica.
Em 2009, Brenner e colaboradores' publicaram um estudo
de revisão da melhor evidência para o uso da entubação e a
prática da ventilação mecânica em pacientes com insuficiên-
cia respiratória por asma. A busca na revisão resultou em 41
estudos randomizados controlados, seis metanálises para en-
tubação, quatro metanálises e cinco estudos randomizados
controlados para ventilação mecânica A maioria das reco-
mendações após análise dos autores no cenário específiCO de
asma gerou indicações de categoria D. Um sumário dessas
recomendações é apresentado a seguir.
rm
Asma de Difícil Controle
A adesão ao tratamento e um seguimento por um período
longo são fundamentais na determinação do diagnóstico de
ADC, além da avaliação de comorbidades, principalmente
doença do refluxo gastresofágio (DRGE), rinossinusites e
Adalberto Sperb Rubin transtornos psiquiátricos que podem contribuir para a au-
sência de controle da asma.
Definição
[I] ATENÇÃO
[I] ATENÇÃO Um dos principais fatores que levam a um controle
ruim~ a falta de adesao ao tratamento, e alguns ca-
Entre a população asmática, existe um subgrupo de sos acabam sendo erroneamente considerados casos
pacientes com a chamada asma de difidl controle deAOC.
(ADC), os quais, a despeito de tratAmento adequado
e tratamento por especialista, persistem sintomáti-
cos. Tal apresentação representa cerca de 10% dos
casos de asma, por~m ~ nesse grupo que se obser-
vam maior mortalidade e maior consumo de recur- Fatores agravantes (comorbidades)
sos relativos à doença.' Diversas condições podem causar sintomas respiratórios e co-
existir com asma, provocando confusão diagnóstica com resis-
tência ao tratamento. No QUADRO 45.7.2 estão descritas as co-
Diversos fatores determinam pouca resposta à terapêuti- morbidades mais encontradas em portadores de asma diflcil e
ca, incluindo-se uma avaliação diagnóstica incorreta e a não que podem ser úteis no diagnóstico diferencial dessa entidade.
exclusão de doenças concomitantes. A definição mais utiliza-
da para asma difícil é a da American Thoracic Society- ATS
(QUADRO 45.7.1)_2
Vários fatores estão envolvidos na gênese da ADC, den-
Tratamento
tre eles fatores genéticos, ambientais, alterações estruturais O tratamento inicial do paciente asmático com ADC segue
de vias aéreas e a própria existência de diferentes fenótipos as orientações existentes nas diretrizes internacionais (Global
de asma. Existem fenótipos clínicos, inflamatórios e genéti- Initiativc for Asthma- GINA- e National Asthma Education
cos para caracterizar portadores de ADC and Prcvention Program - NAEEP). As etapas de tratamento
Reconsiderar
gravidade
Controle ideal
Pobre controle
Asma difkil
Considerar fenótipos
Novas terapias
Seguimento por longo período FIGURA 45.7.1 -+ Diagnóstico da asma diffcil.
QUADRO 45.7.2-+ Confirmação diagnóstica e avaliação das de exacerbações, impedir a perda funcional, que é mais fre-
comorbidades em asma difícil quente em pacientes graves, e minimizar os efeitos adversos
dos tratamentos utilizados.
Omalizumabe ~~ ~~
11
~ Omalizumabe
11
Masl~tlo
Rinite crônica desde as primeiras semanas de vida, otites recorrentes Discinesia ciliar
Vômitos e/ou regurgitações recorrentes associados à irritabilidade e/ou baixo peso Refluxo gastresofágico
Sibil~ncia persistente após quadro de bronquiolite, ou pneumonia vira! grave Bronquiolite obliterante
Sintomas desde o nascimento, doença neonatalgrave, prematuridade Doença respiratória crônica neonatal
Sibilância persistente sem os fatores acima citados Malformação congênita com compressão de via aérea (anel
vascular e outros)
Estrutu ~a em saúde
RGURA 46.1 7 Relações entre os fatores cognitivos e ambientais que influenciam os desfechos em saúde.
principais indicadores da eficiência de um programa. Outros manejo mais difícil para identificação de fatores insus-
eventos de interesse que também devem ser considerados peitos até para o paciente.
são qualidade de vida (por meio de questionários especí- • Propor um esquema de monitoração e intervenção efe-
ficos e validados), escore de sintomas pelo uso de diários, tiva e precoce para a prevenção e o controle rápido das
frequência de uso de medicações para crises (corticoides exacerbações. Nesse sentido, os modelos propostos são
sistêmicos, broncodilatadores), nível de adesão às medidas baseados na monitoração por sintomas, uso de medica-
farmacológicas e ambientais, bem como função pulmonar. ção broncodilatadora e pico do fluxo. O uso de diário
Os métodos de intervenção em educação em asma ba- e a utilização de um plano por escrito que facilite ao
seiam-se fundamentalmente em dois modelos: paciente classificar o nível de intensidade da exacerba-
ção e as medidas cabíveis para seu controle é um item
• Programas baseados em reuniões isoladas ou estudo de importante. O papel do pico do fluxo em um programa
materiais educacionais como fitas de vídeo, áudio ou ma- de educação em asma ainda não está definido. Poucos
nuais e material impresso. estudos avaliam-no nesse contexto, sendo muitos sem
• Programas educacionais realizados em várias sessões, grupo-controle. Alguns estudos são contraditórios, em-
com seguimento em maior prazo de tempo. bora as metodologias e o enfoque sejam diferentes. No
entanto, para o subgrupo de pacientes com asma grave
Os modelos que demonstraram melhores resultados pa- ou naqueles com percepção ruim dos sintomas, o pico do
recem ser aqueles em que o processo de educação e acom- fluxo parece ser particularmente importante.
panhamento dos pacientes é mais longo. Isso demonstra que
todas as etapas do processo devem ser revisadas de forma
continua e por tempo teoricamente indeterminado.
De qualquer forma, alguns pontos são básicos em um
~ ATENÇÃO
programa de educação em asma e merecem ser citados:
O objetivo de um programa de educação em asma
não é somente a transmissão de informações, mas
• Ensinar ao paciente conceitos fundamentais sobre a
sim uma modificação no comportamento do pa-
doença com uma linguagem apropriada. Isso permite
ciente baseada em condutas que permitam atitudes
ao paciente dimensionar a importância do uso regular
eficazes e positivas frente à doença, incluindo nesse
das medicações e das medidas de controle da doença.
processo familiares e pessoas ligadas diretamente ao
O paciente deve saber diferenciar asma de enfisema
paciente.
pulmonar, bronquite crônica e outras doenças obstru-
tivas.
• Ensinar e revisar continuamente o uso das medicações
inalatórias. A escolha do método de administração do A efetividade de um programa de educação em asma de-
corticoide inalatório e do broncodilatador deve basear- pende dos seguintes fatores:
-se nas características individuais de cada sistema adap-
tadas às peculiaridades do paciente, a fim de proporcio- • Uso regular e contínuo da terapêutica adequada e pro-
nar a melhor adesão possível. Deve ser evitado o uso de posta, medicamentosa e não medicamentosa (adesão).
inaladores de diferentes tipos no mesmo paciente sob • Comportamento baseado em respostas conhecidas que
pena de dificuldade de compreensão e adesão. O ade- se ajustam à solução de um problema ( automanejo ).
quado cuidado com a via aérea superior não deve ser ne-
gligenciado. Na presença de rinossinusopatia, a lavagem Existe uma lista de comportamentos identificados por
nasal apropriada e a correta aplicação do corticoide tó- alguns autores que parecem diferenciar os pacientes com
pico nasal são fatores fundamentais para o controle das melhores resultados obtidos em seu tratamento, conforme
manifestações neste nível. É necessário que o médico en- discriminado a seguir:
sine diretamente o paciente com demonstrações práticas
em ambos, a fun de aumentar a autoeficácia do paciente • Comparecimento rotineiro e correto em consultas agen-
para tais tarefas. dadas.
• Identificar os fatores ambientais que possam colaborar • Rotina na prática de prevenção (ambiental e medica-
para o inadequado controle da doença ou permitir, com mentosa).
seu manejo, uma diminuição quantitativa do uso das • Tratamento adequado dos sintomas (plano escrito).
medicações. Para tanto, um questionário padronizado e • Manutenção do bem-estar geral físico e mental.
mais completo possível auxilia médico e paciente na de-
tecção dos potenciais fatores desencadeantes. Uma vez
discriminados, ao paciente devem ser fornecidos instru-
mentos que permitam sua modificação efetiva. A história
Educação em asma na prática
ocupacional não deve ser esquecida e muitas vezes é fun- A seguir, são abordados diversos aspectos acerca da asma
damental neste processo. A visita domiciliar ou no local na forma de perguntas e respostas sobre questões que cos-
de trabalho é particularmente importante em casos de tumam estar presentes na abordagem desse tema, tanto por
parte dos profJSSionais quanto dos pacientes, e de quem, por ma de tudo, à modificação do comportamento do paciente
diversos moúvos, tenha interesse pelo assunto. É emprega- em relação à sua doença.
da uma linguagem acessível com vistas ao entendimento de Muitos itens podem ser incluídos e individualizados no
pessoas não médicas, com a máxima clare:z.a e consistência processo de educação do paciente asmático, mas os já sa-
técnica, de modo que o médico possa uúli:z.ar esses conteú- bidamente importantes e fundamentais que o médico deve
dos para a educação dos seus pacientes e familiares, seja nas sempre considerar são estes:
consultas ou na interação com grupos educaúvos. Sugere-se
usar tais conceitos e informações também quando houver • ilansmiúr conhecimentos básicos e acessiveis sobre a
oportunidade de comunicação com a população, através da doença: o que é asma, diferença da asma em relação a
imprensa e outros meios. outras doenças respiratórias, manifestações e sintomas,
o que são medicamentos anti-inflamatórios e broneodi·
Qual é a importância de os pacientes com asma latadores, etc.
• Ensinar e revisar, repeúdamente, em cada consulta de
serem informados sobre sua doença? revisão médica, a técnica de uso dos disposiúvos de libe-
O sofrimento dos pacientes com asma continua nos nossos ração das medicações inalatórias.
tempos apesar da disponibilidade de recursos terapêuticos • Aconselhar sobre o controle, ou pelo menos a redução,
modernos, que nada valem se não forem utilizados ou caso dos fatores desencadeantes.
sejam empregados de forma inadequada. Entre os motivos • Treinar o paciente no reconhecimento de uma crise po-
que concorrem para o problema, destacam-se estes: o trata- tencialmente grave.
mento não chega ao paciente em função de retardo no diag- • Treinar o paciente na monitoração de sinais e sintomas
nóstico; a gravidade da doença é subestimada, sendo usado que sinalizam piora da doença.
um tratamento pouco efetivo ou equivocado; o paciente • Fornecer ao paciente um plano, por escrito, sobre como
recebe orientação adequada, mas, por uma variedade de deve proceder em uma situação de agravamento pro-
razões, não adere ao tratamento. Embora nenhum asmáti-
gressivo dos sintomas ou de uma crise grave.
co - ou os pais de uma criança com asma - possa conúnuar
ignorando o que fazer no caso de piora da doença, as evi-
dências sugerem que poucos recebem instruções sobre como Oque é maisimportante em um Programa de
perceber e de que forma proceder quando a doença se agra-
va, situação que pode levar até a risco de mortalidade. Aos
Educação em Asma?
médicos, cabe transmiúr as informações fundamentais, seja Um programa educativo é necessário para auxiliar as pes-
durante as consultas ou a partir de programas específicos de soas a reconhecerem sintomas e buscarem atendimento
educação em asma. quando das crises de asma. Os profissionais de saúde devem
ser treinados uniformemente para que todos os responsáveis
pelo atendimento usem a terapêuúca mais eficiente. Tal pro-
Oque não deve acontecer com o paciente grama também é necessário para auxiliar pacientes e farni·
asmático? liares a aprenderem que os asmáticos podem controlar sua
asma e manter uma vida aúva. Para aúngir esses objetivos,
pode ser necessário remover grandes barreiras. Os clínicos
devem estar preparados não apenas tecnicamente, pois tam-
bém precisam ter urna melhor compreensão das crenças e
dos medos de seus pacientes. Os pacientes devem adquirir
as informações e as habilidades necessárias para prevenir e
controlar a asma, desenvolvendo confiança para usar tais ha-
bilidades apropriadamente.
Oqueéasma?
Define-se asma como uma doença inflamatória crônica das
vias aéreas (brônquios), sendo este o principal mecanismo
que torna os brônquios mais sensíveis aos diversos fatores
desencadeantes das crises. Por ser uma doença de caráter
hereditário, não pode ser curada. 1bdavia, é passível de con-
trole bem-sucedido quando o tratamento é adequado, pos-
sibilitando que o paciente tenha vida normal, inclusive pra-
ticando esportes compeútivos. As crises de asma podem ser
Oque é Educação em Asma? desencadeadas por diversos fatores como infecções virais,
Toda e qualquer intervenção educacional não envolve so- poeira domiciliar, mofos, cheiros fortes, umidade, emoções
mente a simples transmissão de informações, mas visa, aci- e mudanças climáúcas.
ção de peso no tórax) consequentes ao processo inflamatório
~ ATENÇÃO crônico das vias aéreas e às suas flutuações (exacerbações e
remissões) quando das sucessivas exposições.
A asma costuma ser caracterizada clinicamente por
crises de falta de ar, chiado, tosse intensa e sensação
de aperto no peito que variam em intensidade.
~ ATENÇÃO
Ainda não se sabe exatamente por que certos indi-
A asma não é doença de natureza estritamente psicoló- vfduos desenvolvem e outros não este comporta-
gica, e tampouco há evidências de que possa ser controlada mento, nem por que determinantes hereditários e
com eficácia por meio de recursos que atuem de maneira ambientais podem ter ou não o desfecho esperado.
não inteligível ao raciocínio científico.
Por que ocorre a obstrução dos brônquios na Como ainda existem muitas incógnitas, futuramente, di-
versos mecanismos até então desconhecidos serão mais bem
asma? desvendados, e características individuais poderão cont ri-
Os brônquios do paciente asmático, particularmente duran- buir mais para o entendimento da doença.
te as crises, têm algumas alterações características que con-
correm para seu fechamento:
Aasma tem cura?
• Broncospasmo (contratura do músculo liso que circunda A asma, sendo uma doença hereditária, não tem cura. Sem-
a parede brônquica). pre poderá haver predisposição para crises, em qualquer
• Edema da mucosa (acúmulo de líquido). época da vida. Mais da metade das crianças que apresentam
• Infiltração de células inflamatórias (este é o substrato manifestações atribuíveis à asma nos primeiros anos de vida,
mais importante da asma). com o passar do tempo, não terão sintomas. Thlvez, na vigên-
• Acúmulo de secreções (devido ao excesso de produção cia de infecções respiratórias ou por ocasião de exercícios
de muco). intensos, poderão ter limitação respiratória ou tosse mais in-
• Thmpôes mucosas (o dessecamento do muco excessivo tensa e mais prolongada do que pessoas não asmáticas.
pode levar à formação de verdadeiras "rolhas" ou "tam- M uitos asmáticos apresentam crises frequentes, costu-
pões" no interior dos brônquios). mando usar broncodilatador e corticoide nesses períodos. Se
• Hipertrofia da musculatura dos brônquios (devido a um apresentarem sintomas continuados ou crises repetidas, de-
estado de contratura prolongado). verão manter tratamento continuado, pelo menos, com anti-
-inflamatório inalatório. Nos dias de hoje, em que se dispõe
de recursos terapêuticos eficazes, não se justifica que um as-
Asma é a mesma coisa que bronquite asmática? mático fique sujeito a sintomas repetidamente, iniciando tra-
A asma brônquica é também conhecida como "bronquite as- tamento apenas quando em crise franca. O uso judicioso de
mática", "bronquite alérgica" ou simplesmente "bronqu ite", alguns recursos simples possibilita um razoável controle da
particularmente quando se trata de criança. Com o objetivo doença. Portanto, pode-se afirmar que, embora a asma não
de simplificar e uniformizar a nomenclatura, deve-se prefe- tenha cura, com tratamento adequado pode ser controlada.
rir a expressão "asma brônquica" ou simplesmente "asma".
Um especialista não tem dificuldades de confirmar o diag- também pode ser feita pelo exercício ou pela exposiçlo a fatores específicos.
nóstico de asma desde que seja feita a investigação básica,
incluindo-se radiografia de tórax e espirometria. Em certas
ocasiões, as manifestações não são muito claras para asma, Oque desencadeia uma crise de asma?
fazendo-se necessários testes especializados, como o teste Embora os motivos que podem iniciar uma crise sejam va-
de broncoprovocação. riados e geralmente múltiplos, certos pacientes podem ter
fatores desencadeantes peculiares. Deve ser feita uma revi-
Fora da crise de asma, quais são as são metódica sobre eles, pois é comum que o paciente não
lembre ou não dê importância a muitos deles.
manifestações que podem ocorrer? Os desencadeantes mais importantes são alergia (poeira
A asma não se manifesta apenas por forte crise de disp- domiciliar, mofos, pólens), infecções respiratórias (viroses,
neia (falta de ar), tosse intensa e muito desconforto. Mui- gripes), exercícios, clima e estações do ano (ar frio), poluição
tos pacientes apresentam manifestações que podem não atmosférica (fumaças, odores fortes, perfumes), tabagismo
ser reconhecidas como sendo devidas à asma, e isso pode ou mesmo a simples inalação da fumaça ambiental do taba-
dificultar que se institua o melhor tratamento para con- co (tabagismo passivo), medicamentos (p. ex., propranolol,
trole do processo. No QUADRO 46.2 são listadas essas apre- aspirina), alimentos e produtos industriais ( conservantes,
sentações. corantes e antioxidantes), refluxo gastresofágico (passagem
anômala do conteúdo do estômago para o esôfago), além de
fatores psicológicos.
O médico deve ouvir do paciente sobre como costuma
QUADRO 46.1 ~ Critérios para o diagnóstico da asma iniciar a crise e tentar identificar um ou mais fatores que
possam ser desencadeantes do problema. Isso poderá ser
Sintomas fundamental para a prevenção de futuras crises, desde que
Dispneia, sibil~ncia, tosse, "aperto no peito" (isolados ou em possa ser evitada a exposição aos fatores desencadeantes.
combinação)
Padrão Ocontrole de fatores desencadeantes é
Episódico ou variável; piora noturna tipica
importante?
Desencadeantes Hoje, sabe-se que o controle da asma envolve, na maioria
Exercício, inalação de ar frio, exposição a alergênios, infecção vira I dos casos, o uso de medicações preventivas (corticoide ina-
das vias aéreas superiores, ingestão de anti-inflamatórios não latório, associado ou não a beta-adrenérgico de longa ação).
esteroides ou sulfitos Com o tratamento medicamentoso, muitos dos fatores de-
sencadeantes que normalmente exacerbam sintomas em um
Avaliação funcional (espirometria)
Obstrução variável asmático não tratado (variação de temperatura ambiental,
poeira doméstica, emoções, etc.) podem perder sua impor-
Presença de hiper-reatividade brônquica tância no paciente tratado com medicação preventiva regu-
Teste de broncoprovocação positivo lar. No entanto, o controle dos fatores desencadeantes não
pode ser negligenciado. É importante que o médico saiba
Resposta terapêutica quais fatores têm realmente importância individual para o
Melhora dos sintomas e função pulmonar com o uso de corticoide paciente (p. ex., alergia específica a certas substâncias, como
e broncodilatadores tartrazina e outros corantes utilizados em alimentos).
Na anarnnese, é fundamental a busca sistemática de rea- indicados e com a individualização assistencial, sempre será
ções alérgicas na história pregressa, procurando, na presen- possível obter os melhores resultados.
ça delas, identifiCar um possível fator envolvido (ou vários).
Um dado fundamental é a própria atividade profissional do
paciente. Muitos tipos de trabalho envolvem a exposição a
certas substâncias que podem provocar crise e até o apareci- ~ ATENÇÃO
mento de asma em individuo previamente hígido- a deno-
O uso de cortícoíde inalat6rio ~ fundamental 1n o mn·
minada asma ocupacional.
trole da asma. O emprego isolado de qualquer tipo
O uso de certos medicamentos também deve ser ava-
de broncodilatador ~ proibitivo, pois nAo trata o pro·
liado, como os betabloqueadores e o ácido acetilsalicilico 1
0 ATENÇÃO
crise, principalmente bronco dilatador inalatório e corticoide
sistêmico, e, conforme o quadro, comunicar-se com seu mé-
dico e/ou dirigir-se imediatamente a uma emergência.
A associação corticoide inalatório mais broncodilata- O uso de broncodilatador beta-adrenérgico, na forma
dor de longa ação é de uso fundamental nos casos inalatória, seja de ação curta (salbutamol, fenoterol) ou
de asma moderada, asma grave ou asma com sinto- longa (somente o formoterol), possibilita alívio imediato
mas predominantemente noturnos. de sintomas. No caso dos beta-adrenérgicos de curta ação,
deve-se utilizá-los repetidamente, sob a forma de aerossol
(nebulímetro com aerocâmara, ou nebulização) até a me-
lhora dos sintomas. Podem ser usados tanto o fenoterol
Como escolher as medicações para otratamento como o salbutamol, associados ou não ao ipratrópio. Em
da asma? crises mais graves, a associação salbutamol ou fenoterol
A escolha dos medicamentos a serem usados depende do com ipratrópio sob a forma de nebulímetro com aerocâma-
seguinte: ra tem eficácia superior ao uso de fenoterol ou salbutamol
isolados quanto à melhora da função pulmonar e diminui-
• Necessidades individuais do paciente. ção do risco de internação. Enfatiza-se que o ipratrópio
• Experiência do profissional. costuma não apresentar efeito na asma quando utilizado
• Adesão do paciente. isoladamente.
• Gravidade da doença. É importante lembrar que, no tratamento da crise de
• Custeio para uso continuado. asma, o uso das doses corretas das medicações é fundamen-
• Análise crítica de tratamentos anteriores. tal. Em muitos casos, são empregadas subdoses em função
• Preconceitos e tabus do paciente. do receio quanto a possíveis efeitos colaterais no sistema
cardiovascular, o que não é adequado, uma vez que, nas do-
ses recomendadas, os broncodilatadores são totalmente se-
Como obter alívio imediato dos sintomas na guros, não havendo motivos para o clínico temer o seu uso.
crise ("plano de crise")? A utilização de corticoides inalatórios com broncodilatado-
No momento de uma crise, o paciente com asma deve ser res na crise pode ser bastante proveitosa, sobretudo porque
instruído a iniciar logo os medicamentos fundamentais para trata os componentes obstrutivo e inflamatório da doença.
Bombinha faz mal para o coração? Qual o papel do antileucotrieno montelucaste
Os nebuHmctros, também chamados de bombinhas, po- (Singulair) no tratamento da asma?
dem conter basicamente dois tipos de remédios: bronco- Em numerosos estudos, comprovou-se que o antagonista dos
dilatadores e anti-inflamatórios. Portanto, é importante receptores dos leucotrienos "montelucaste" é capaz de blo-
que a pessoa saiba bem qual tipo de bombinha lhe foi quear a broncoconstrição induzida por exercícios, bem como
prescrita. Os anti-inflamatórios esteroides (p. ex., beclo- exercer efeito protetor à resposta da aspirina em pacientes
metasona, budesonida, fluticasona, mometasona) não têm sensíveis. No manejo clinico da asma, o antagonista do leu-
efeito adverso para o coração. Aliás, geralmente podem cotrieno se apresenta como uma alternativa aos corticoides
ser usados com segurança tanto por adultos quanto por inalatórios em baixas doses e como poupador de corticoides
crianças. Os broncodilatadores (p. ex., fenoterol, salbuta· em pacientes que precisem, para seu controle, de cortico-
moi, terbutalina, formoterol e salmcterol) são muito efi- terapia em doses mais altas. Considere-se que esse produto
cientes no controle da dispneia, c sua dose nas bombinhas tem efeitos adversos desprezíveis, sendo administrado por
é muito mais baixa do que nos comprimidos c nos xaropes. via oral e muito bem tolerado.
Também por esse motivo se prefere usá-los por inalação, e
não por via oral.
O uso de bombinha com broncodilatador pode dar Qual o papel do anticorpo monoclonal anti·lgE
sensação de palpitação devido ao aumento da frequência (omalizumabe) no tratamento da asma?
cardíaca, que é um efeito fisiológico desses medicamen- Os eventos mediados pela imunoglobulina E (IgE) exer-
tos. Essa manifestação não representa risco algum e passa cem um importante papel nos processos inflamatórios
rapidamente. Algumas pessoas têm tremores musculares aos quais se atribuem os sintomas da asma alérgica. Os
devido à ação do medicamento nos músculos estriados dos primeiros estudos com esse fármaco evidenciaram uma di·
membros, o que também não apresenta risco algum. O uso minuição nas concentrações séricas da IgE livre, demons-
excessivo de broncodilatador em bombinha deve ser relata- trando-se potencialmente útil no tratamento das doenças
do ao médico, pois em geral constitui um indício de que a alérgicas, não importando quais sejam os alcrgênios es-
asma está malcontrolada, sendo necessário revisar a situa- pecíficos envolvidos. A via de administração mais efetiva
ção com vistas à presença de alguma complicação e reava- para esse fim é a subcutânea. Sabe-se que, sobremaneira
liar o tratamento. nos pacientes com asma moderada a grave, pode ser muito
difícil o controle total da doença na maior parte do tempo,
mesmo com o uso da associação corticoidc inalatório mais
[I] ATENÇÃO beta-adrenérgico de longa ação em dose alta. É justamente
nesse grupo de pacientes que o omalizumabe tem se reve-
O uso excessivo de medicações broncodilatadoras lado mais promissor.
indica asma malcontroladal
Oque é termoplastia brônquica e qual o seu
papel no tratamento da asma?
Cortisona faz mal? A termoplastia brônquica é uma técnica que tem sido tes-
O grupo de medicamentos denominado corticoides ("corti- tada para o tratamento de pacientes cujo controle da asma
sona", em linguagem popular) é muito usado para o trata- está muito dificil e que, apesar do uso das medicações ha-
mento de pacientes com asma brônquica, doenças reumáti- bitualmente eficazes, permanecem bastante sintomáticos.
cas, distúrbios alérgicos, etc. No caso da asma, existem dois Essa modalidade terapêutica continua em estudo, sendo ne-
tipos de corticoides. cessário ainda o preenchimento de algumas exigências dos
Os corticoides inalatórios, introduzidos nas vias respira- órgãos controladores antes da sua liberação para uso clinico.
tórias na forma de aerossol, através de inalação pela boca,
quando usados em doses adequadas, não costumam apre-
sentar efeitos adversos sign ificativos. Seu principal efeito é
Qual é o papel da teofilina (aminofilina) no
anti-inflamatório, sendo este um grande recurso terapêutico tratamento de manutenção da asma?
para o controle da asma. A teofilina foi, há quatro décadas, uma das primeiras opções
Os corticoides sistêmicos, geralmente de uso oral (nas no tratamento preventivo e de manutenção da asma. No
crises, costumam ser usados por via intravenosa), são utili· entanto, com o advento dos corticoides inalatórios e sua as-
zados por curtos perlodos e não causam problemas. Quando sociação com os broncodilatadores beta-agonistas de longa
em uso prolongado e em doses elevadas, podem apresentar ação (CI + BAlA), seu uso tomou-se muito restrito. Uma
efeitos adversos que lhes são inerentes, sendo necessárias opção a considerar é acrescentá-la, no caso de paciente com
muitas precauções. De qualquer maneira, o uso de medica- asma dillcil, ao conjunto de medicamentos do esquema te-
mentos sempre deve ter orientação médica. rapêutico.
Qual é o papel da aminofilina intravenosa na a repercussão dos sintomas da rinite alérgica sobre a qualida-
de de vida do paciente pode ser muitas vezes igual ou supe·
crise de asma? rior à da própria asma. A via aérea superior jamais deve ser
A aminofilina, há várias décadas, não é considerada como esquecida na avaliação e no acompanhamento do asmático.
tratamento de primeira linha na assistência ao paciente as-
mático na emergência. Diversos estudos não demonstraram
eficácia desse (ármaco no tratamento da crise. Seu uso está Otabagismo é importante para os pacientes
muito restrito, podendo ser utilizado naqueles pacientes que asmáticos?
evoluem com insuficiência respiratória grave com indicação Sim, é muito importante. Uma criança normal, se conviver
de internação em unidade de terapia intensiva (lm) e ven- com pais (ou outras pessoas próximas) fumantes, será um
tilação mecânica. Porém, mesmo nessa situação, não há evi- fumante passivo, e nesse caso terá maior chance de desen-
dências de sua eficácia. volver asma. Se uma criança asmática for fumante passivo,
terá crises mais frequentes e graves, bem como maior difi·
Vacinas antialérgicas podem ser feitas para o culdade para controlar a asma. Nesse último caso, a doença
terá pior evolução.
tratamento da asma? Se um asmático fumar, tudo será pior no que se refere à
Os estudos realizados até o momento para avaliar o papel asma, e ainda haverá perda acelerada da função pulmonar.
das vacinas anlialérgicas no tratamento da asma não mos- Na FIGURA 46.2, resumem-se as relações entre tabagismo
traram vantagem significativa em comparação com placebo. e asma.
Portanto, considera-se que tal intervenção não está indicada Estima-se que a eliminação da exposição in utero ao ta-
para o controle da asma. bagismo materno reduz entre 5 e 15% os casos de asma em
crianças. A redução do tabagismo dos pais, durante o cresci-
Oque é rinite alérgica? mento dos filhos, segundo Rothman,'" reduz enormemente
sintomas e exacerbação de doenças broncopulmonares crô-
É a expressão do processo alérgico na mucosa nasal, apre-
nicas nos seus filhos, como é o caso da asma.
sentando·se com coriza, hipersecreção, obstrução nasal e es-
Segundo Strachan e Cook, 11 crianças com asma persis-
pirros. Os sintomas costumam surgir rapidamente logo após
tente cujos pais fumam têm asma mais grave.
a exposição a alergênios, podendo desaparecer também com
Em uma revisão de prontuários ambulatoriais de pacien-
rapidez. A rápida alternância de ter ou não sintomas é uma
tes asmáticos adultos com idade média de 37 anos, entre os
característica da rinite alérgica. Tem alta prevalência na po-
quais 52% eram do gênero feminino, Corrêa da Silva12 verifi-
pulação geral, ao redor de 30%, constituindo um importante
cou os seguintes dados sobre tabagismo: 5% eram fumantes,
problema para a qualidade de vida em função do desconfor-
17%, ex-fumantes e 78%, não fumantes.
to dos sintomas e das consequências (rinossinusite, respira-
Sobre o risco relativo (RR) de mortalidade por asma,
ção bucal, ronco, sfndrome das apoeias obstrutivas do sono).
Ulrik e Frederiksen u encontraram os seguintes dados: não
fumantes, 1,0; fumantes < 20 maços-ano, 2,6; e fumantes >
Qual é a importância da rinite para os pacientes 20 maços-ano, 5,9.
com asma?
Cerca de 80% dos pacientes asmáticos também têm rinite
alérgica, devendo sempre ser enfatizado que o controle da
rinite é muito importante para o controle da asma, uma vez
que existe interdependência de vias aéreas superiores e infe-
riores. Uma das principais consequências da rinite alérgica,
a obstrução nasal, costuma ter efeitos importantes no estado
da asma, pois com a respiração bucal o ar inalado não é ade-
quadamente filtrado, aquecido e umidificado- o resultado
pode ser um aumento da irritação e inflamação das vias aé-
reas inferiores, causando piora da asma.
Otratamento da rinite alérgica é importante no Existe algum esporte específico que auxilie no
controle da asma? tratamento da asma?
Sim. Hoje, na asma, já se admite a existência de uma inter- Nenhum esporte tem especificidade para pacientes asmáti-
-relação importante entre a via aérea superior e a inferior. cos no sentido de concorrer para o controle da asma. Como
O controle do processo inflamatório na via aérea superior qualquer pessoa, o asmático deve fazer exerclcios fisicos ae-
mediante uso principalmente do corticoide tópico nasal pode róbicos, com vistas à promoção da sua saúde e prevenção de
beneficiar o controle da asma de forma indireta. Além disso, doenças, particularmente as cardiocirculatórias.
I
ASMA & TABAGISMO
/ , . . . - - 1- - - - . -- - - - - - - , - , . , .
Fisiologia
Doença
fbroncoconstrição aguda
tdedlnio do VEF, Inflamação nas vias aéreas
FATORES INERENTES
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM ASMA
AO PACIENTE
Atitudes nas crises -----7 Plano de crise individualizado (sintomas e/ou pico do
fluxo)
Sentimentos em
relação à doença
Dessensibilização da resposta emocional (abordagem
individual/ reuniões de grupo)
Fixação de modelos de comportamento efetivo
(encenação ou dramatização de situações de risco)
• Cessação do tabagismo.
• 'Ihltamento do componente reversível da obstrução e
uso adequado das medicações inalatórias e, quando for
o caso, de corticoide inalatório (pacientes mais graves).
• Controle da produção e do acúmulo de secreções respi-
ratórias por fisioterapia e hidratação adequadas.
• 1fatamento e prevenção das infecções das vias aéreas
com utilização de vacinas apropriadas. O paciente deve
estar informado a respeito dos sinais que podem signifi·
ear o inicio de infecção brôoquiea e estar consciente dos
riscos das infecções respiratórias vitais quanto à evolu-
ção para potenciais complicações. O paciente deve ser
orientado a procurar orientação médica nestes easos.
QUADRO 46.7 7 Diferenças e semelhanças entre asma e doença pulmonar obstrutiva crônica
Gatilhos das exacerbaçoo Diversos fatores ambientais: alergênios, Infecções respiratórias, geralmente
infecções virais, mudanças climáticas e outros bacterianas, e outros
Prognóstico Costuma ser bom Nos estágios avançados (111e IV), é reservado
• Controle da hipoxemia (quando foro caso) com uso ade- podem aumentar de forma significativa as taxas de abando-
quado de oxigênio suplementar, adaptando-o às condi- no do tabaco. 16 Um aumento da taxa de abandono do taba-
ções domiciliares e ambulatoriais a fim de obter a me- gismo entre 1 e 3% pode ser esperado se os médicos sim-
lhor adesão possível. A individualização de um sistema plesmente lembrarem em cada visita sobre a importância de
de suplementação adequado com a participação ativa do abandonar o hábito (apenas uma frase). O fornecimento de
paciente e da família em sua escolha é de fundamental um plano escrito com dicas e sugestões sobre como parar
importância. A manutenção de adequada assistência téc- de fumar (p. ex., um panfleto) pode aumentar essas taxas
nica, com pronta resolução dos problemas, e um sistema entre 7 e 12%. O uso de um tempo mais longo, que envolva
de vigilância rotineiro para avaliar necessidades não per- uma negociação mútua entre médico e paciente sobre uma
cebidas pelo próprio paciente sâo igualmente essenciais. data-limite para a cessação do hábito, pode elevar essa taxa
Outra questão é o custo do tratamento. Muitos pacientes para até 15%. Dependendo do contexto do paciente, esses
abandonam o tratamento somente por esse fator. Hoje resultados podem ser ainda melhores (p. ex., no pré-natal,
em dia, alguns convênios e mesmo o sistema público após infarto do miocárdio).
de saúde estão se conscientizando de que o adequado Existem muitos programas para orientar os médicos a
fornecimento de oxigenoterapia acarreta diminuição de abordarem de forma sistemática e sem perda excessiva de
custos, com redução do número de internações e melho- tempo o problema do tabagismo. Um deles, o consenso de
ra da qualidade de vida. 1996 da Agency for Health Care Policy and Research (AHC-
• Evitação de fatores agravantes da doença.
PR),17 é baseado na revisâo abrangente de aproximadamente
• Alívio da ansiedade e da depressão.
3.000 publicações. Consiste em cinco ações: perguntar, acon-
• Para os pacientes com DPOC grave e prejuízo do desem-
selhar, identificar, apoiar, planejar. Cada etapa é planejada
penho social, a entrada em um programa de reabilitação
para durar cerca de três minutos ou menos, dependendo
com equipe multidisciplinar é fundamental. Nesse pro-
da situação. 1àl estratégia se baseia em vários fundamentos
grama, devem estar presentes todas as abordagens edu-
educacionais comentados antes.
cacionais mencionadas antes.
Junto com essa abordagem, o uso de tratamento farma-
cológico também é válido, sobretudo naqueles cujo grau de
Educaçãoe cessação do tabagismo dependência é maior, o que pode ser facilmente identifica-
O sucesso das abordagens terapêuticas para cessar a droga- do por meio do questionário de Fagerstrõm. Em geral, após
dição pela nicotina dependerá de dois fatores cruciais: mo- quatro semanas, as taxas de sucesso estão em tomo de 30 a
tivação do paciente para parar de fumar e manejo dos sinto- 50%, em comparação com 10 a 30% do grupo-placebo. Elas
mas da síndrome de abstinência com reposição de nicotina declinam aproximadamente pela metade após 6 a 12 meses
associada (ou não) à psicofarmacoterapia. de tratamento. Apesar disso, a eficácia em relação ao place-
O papel do médico é fundamental. Breves aconselha- bo ainda é maior e permanece entre diferentes populações,
mentos em cada consulta (fato frequentemente esquecido) niveis de aconselhamento e períodos de seguimento. De to-
das essas abordagens, as mais importantes ainda são a insis- fase inicial, medidas como parar de fumar e evitar a inalação
tência do médico e o nível de motivação do paciente. de fumaças e partículas ambientais nocivas, fazer vacinas anti-
gripais e tratar precocemente as infecções respiratórias desa-
celeram a evolução da doença.
Informações úteis para pacientes e
profissionais Doença pulmonar obstrutiva crônica é a mesma
coisa que enfisema?
A seguir, são abordados diversos aspectos acerca da DPOC na
A DPOC tem dois componentes: bronquite crônica e enfi-
forma de perguntas c respostas sobre questões que costumam
sema pulmonar. A bronquite crônica caracteriza-se por uma
estar presentes na abordagem desse tema por pacientes, fa-
elevação do número de células produtoras de muco e de glân-
miliares e outros interessados no assunto. Sugere-se que este
dulas mucosas, o que leva ao aumento do volume do escarro
material seja utilizado na divulgação para a população leiga
e ao surgimento de tosse crônica ou pigarro, diariamente. No
em geral, através da imprensa c em ocasiões de interação en-
enfisema, ocorre uma degeneração do parênquima pulmonar,
tre universidades, hospitais, clinicas c pessoas da comunidade.
com perda da sua elasticidade, aumento do volume dos alvéo-
los e o consequente aumento de volume do pulmão. Embora
Oque é educação em doença pulmonar o enfisema seja um dos componentes da DPOC, pelo fato de
muitas vezes constituir-se no principal problema da doença,
obstrutiva crônica? confunde-se como se fosse a própria DPOC.
Uma intervenção educacional que propicie informações ao
paciente e, principalmente, resulte na modificação do seu
comportamento em relação à sua doença. O paciente deve
ser conscientizado de que é portador de uma doença crôni-
ca, progressiva, que não tem cura, mas que pode ser contro-
lada na dimensão de sintomas e nas suas consequências para
a qualidade de vida.
FIGURA 46.4 ~ Enfisema pulmonar: dilatação dos espaços aéreos distais ao bronquíolo terminal.
" IRC • onsufoáfOOI re>pirotória a6nico: PaO, < 60 mmHg comou s<m hrperap- Quais são os medicamentos mais eficazes para
NI (P.C01 ~ 50 mmHg) oo nívê do mar, respir•ndo • r •mb~to. doença pulmonar obstrutiva crônica?
Para alívio da dispneia, broncodilatadores. Para diminuição
da tosse e expectoração, anti-inflamatórios. Para redução do
pidamente se persistirem fumando, com uma perda anual de número de exacerbações, tiotrópio, rollumilaste, corticoides
função pulmonar (VEF,) da ordem de 50 a 150 mL. Paran- inalatórios, entre outros. Para controle da hipoxemia, oxigê-
do de fumar, ocorrerá desaceleração da queda funcional, fi- nio. Para tratamento das infecções, antibióticos com eficácia
cando em um paralelismo do que acontece com pessoas que contra os germes colonizantes mais comuns - Pneumococ-
nunca fumaram. cus, Haemophilus, Moraxella - ,sendo recomendada amoxici-
lina (sem ou com clavulanato) ou quinolona. Para casos mais
graves, com inf~s frequentes, particularmente se coloni-
zados por Pseudomonas, pode-se indicar antibióticos de uso
mais restrito. Se necessário, deve-se fazer cultivo do escarro
e teste de sensibilidade aos antimicrobianos.
_..
Rec•pltnte dt 't'Oiumt vtr~.tvtl (10-700 Ml) que •
tnterpót enttt o lt.,l.cktr dollmttrldO ta bocl do
lente aos melhores sistemas de nebulização.
O uso de nebulímetros dosimetrados (FIGURAS 46.9 e
46.10) é mais prático e barato do que a nebulização, pois esLa
implica equ ipamento de maior porte e que exige fonte de
energia elétrica ou gás comprimido. Enquanto o nebuUme-
tro pode ser transportado facilmente pelo paciente, o nebuli-
zador requer condições especiais para uso fora do domicílio.
Os novos inaladores que contêm HFA para substituir aque-
les com CFC apresentam a vantagem de já formarem uma
partícula com tamanho adequado para deposição pulmonar.
As
l
partfculas maiores depositam-se nas suas paredes
partículas carreadoras de lactosc (maiores do que 30 J.Lffi) ou
partículas micronizadas ligadas entre si em agrupamentos
que se dispersam após o esforço inala tório do paciente.
FIGURA 46.8 ~ Vantagens do uso do espaçador para aerossolterapia As vantagens dessa modalidade são o baixo custo, o
com nebulfmetro dosimetrado. fato de não utilizar gás propelente (CFC), não necessitar
Recipiente
Vái11Uia
medidora
Oriffcio do
medidor
Tubo oral
FIGURA 46.9 ~ (A) Nt!bulímt!tro dosimt!trado · componentes. (B) Nebullmetro dosímetrado- pronto para uso.
Instruções de uso
FIGURA 46.1O~ Vista longitudinal de um inalador dosimetrado. 1. Expirar normalmente e colocar o inalador na boca.
2. Inspirar o mais rápido e profundo possível.
3. Fazer pausa pós-inspiratória de 10 segundos.
4. No caso dos inaladores de pó em cápsula, após inalação
do produto, verificar se há resíduos de pó na cápsula. Em
do uso de espaçadores nem de uma coordenação tão efi·
caso positivo, repetir as manobras anteriores.
ciente quanto o nebulímetro. No entanto, seu uso pode não
ser eficaz quando houver dificuldades na realização de uma
força inspiratória mínima para a geração de partículas ina· Nebulizadores
láveis, o que pode ocorrer particularmente em crianças e Podem ser acionados com jato de ar ou ultrassônicos. Nos
idosos. primeiros (FIGURA 46.14), um jato sob alta pressão é canali-
FIGURA 46.11 ~ (A) lnaladores de pó seco (Diskus). (B) Inaladores de pó seco (Diskus). (C) Inala dores de p6 seco (Diskus).
Fragmentadores
Fármaco no
reservatório
t
AGURA46.12 7 Turbuhaler. FIGURA 46.14 7 Nebulizadores.
------------------------- ----------------
partículas maiores, que podem ser inadequadas para a ae-
rossolterapia.
Um nebulizador ultrassônico usa um vibrador de cristal
piezelétrico em alta frequência (acima de 1 MHz) para criar
um aerossol. O transdutor de cristal converte eletricidade
em som. Este é focado no líquido imediatamente acima dele.
Se a frequência é alta o suficiente e a amplitude do sinal for-
te o bastante, a crista da onda de oscilação rompe a superfí-
cie do liquido e cria um gêiser de gotículas.
lns1nlções de uso
1. Colocar no copo do nebulizador a solução (fármaco, me-
dido em gotas associado a 3 a 4 mL de soro fisiológico
em temperatura próxima à corporal).
2. Ajustar a máscara na face.
3. Respirar de forma profunda e lenta, pela boca, durante o
tempo planejado ou até acabar a solução.
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Adalberto Sperb Rubin
Ana Luiza Moreira
47
Geraldo Resin Geyer
lnespedfica
..),
8ronquiolite respiratória
com doenç1 pulmonar Pneumonia em
intentic•aVPneumonia organização
desc1m1t1Va ,J,
Aguda
Histiocitose ,J,
pulmo-.r de células Bronquíolo·
do U.ngerhans c~ntrica
Corticoides:
- Prednisona 0,5 mglkgldia por 4 semanas
- 0,25 mglkgldia por Bsemanas
- 0,125 mglkgldia ou 0,25 mglkg em dias alternados
Azatioprina:
- 2 a 3 mglkgldia (~x. 150 mgldia) ou
- Ciclofosfamida 2 mglkgldia (máx. 150 mgldia)
N-acetilcisteína:
- 600 mg 3x/dia
sona em 1,0 a 1,5 mg/kg/dia, por4 a 8 semanas. Se o paciente que os demais manterão acompanhamento e corticoterapia
estiver estável, ou melhorar, a dose de prednisona é gradual- por tempo indeterminado. Não são raros, no entanto, os re·
mente reduzida para 0,5 a 1,0 mg/kgfdia. latos de pacientes que apresentam persistência do infiltrado,
mesmo após o abandono do tabagismo. Nessas situações,
pode persistir alguma alteração funcional, determinando,
Pneumonia intersticial descamativa em casos mais graves, sintomas clínicos persistentes.
A pneumonia intersticial descamativa (PIO) é uma das
doenças intersticiais consideradas tabaco-dependentes, em-
bora também ~ssa, raramente, estar associada a exposições Pneumonia de hipersensibilidade
ocupacionais. Os achados histológicos mais comuns são o A pneumonia de hipersensibilidade (PH) envolve um gru-
espessamento alveolar septal difuso, a hiperplasia dos pneu- po de doenças pubnonares causadas pela inalação de vários
mócitos do tipo II e o acúmulo intra-alveolar intenso de ma- materiais antigênicos que são geralmente orgânicos.9 As três
crófagos. Hipocratismo ocorre em 25 a 50% dos pacientes. maiores categorias de antígenos que causam PH são agen-
Opacidades em vidro fosco estão invariavebnente presentes tes microbianos, proteínas animais e substâncias químicas
na PIO, e são bilaterais, simétricas e predominantes nas re- de baixo peso molecular .l-4 Dentre os agentes microbianos,
giões basais e periféricas na metade dos casos (FIGURA 47.6). citam-se as bactérias, os fungos e as amebas. Embora a PH
A evolução para fibrose não ocorre na doença pubnonar seja classicamente associada à exposição a antígenos, a ina-
intersticial associada à bronquiolite respiratória (BR-OPI), lação de alguns compostos químicos de baixo peso molecular
mas não é incomum na PIO. O infiltrado reticular é basal, também pode provocar a doença, possivelmente após con-
associado à distorção anatõmica, bronquiectasias de tração jugação com proteínas humanas. Na história, é importante
e pequenos cistos periféricos. Na PIO, o LBA mostra, além avaliar se o paciente é fumante - o fumo protege contra o
dos macrófagos pigmentados, linfócitos ou neutrófilos au- desenvolvimento de PH.
mentados, com ou sem eosinófilos. As alterações funcionais A apresentação clínica pode ser aguda, subaguda ou crô·
são, em geral, mais importantes do que as observadas na BR- nica, de acordo com as características biológicas do agente
·DPI.1 A OCO está geralmente reduzida.9 inalado, a intensidade e a frequência da exposição, a inten-
Um diagnóstico definitivo de doença pulmonar inters- sidade da resposta imunológica do paciente e as seque las da
ticial pode ser estabelecido apenas por biópsia pulmonar reação inflamatória. A forma aguda é semelhante a um qua-
cirúrgica, já que, quando há predominância de vidro fosco dro gripa!. Os sintomas se iniciam dentro de 4 a 8 horas após
em lobos inferiores, não é possível distinguir de maneira a exposição em indivíduos sensibilizados e incluem febre,
confiável a PIO da pneumonia intersticial não específica ou mialgias, cefaleia, mal-estar, tosse e dispneia.
da BR-DPI grave por critérios clínicos radiológicos e bron- Ao exame físico, estertores bilaterais podem ser detecta-
coscópicos, ou mesmo da pneumonia de hipersensibilidade dos. Os achados laboratoriais são de pouco auxilio. Os acha-
em fumantes. dos radiológicos têm correlação pobre com a intensidade
A PIO apresenta um prognóstico muito superior ao das dos sintomas e com as alterações funcionais e de troca ga-
outras pneumonias intersticiais. A sobrevida em 10 anos é sosa. Frequentemente, essas são extensas apesar de poucos
de cerca de 70%, com muitos casos apresentando remissão achados radiológicos aparentes ou mesmo alterações radio-
espontânea, mesmo sem tratamento. Uma resposta inicial lógicas inexistentes. O acbado tomográfico mais comum são
à corticoterapia é observada em quase todos os pacientes. alterações em vidro fosco (até 75% dos casos).
Uma grande parcela entra em remissão da doença, sendo
A forma subaguda resulta de uma exposição menos in- da, para todas as formas dessa doença, é prednisona 0,5 a
tensa, mas contínua a antígenos inalados, em geral, no am- 1,0 mglkg de peso ideal (não ultrapassar 60 mg/dia). A dose
biente doméstico, como exposição a pássaros e mofo. Os é mantida por uma a duas semanas, sendo, em seguida, re-
principais sintomas são dispneia aos esforços, fadiga, tosse duzida e retirada lentamente nas próximas duas a quatro
com expecklração mucoide, anorexia, mal-estar e perda de semanas.
peso. A TC de alta resolução mostra nódulos centrolobula- Se as anormalidades pulmonares recorrem ou pioram
res esparsos, opacidades em vidro fosco e aprisionamento de durante a fase de redução da dose do corticoide, o tratamen-
ar lobular (mais bem evidenciado em expiração). Opacida- to deve ser mantido indefinidamente. Sempre é necessário
des em vidro fosco e nódulos costumam indicar lesões rever- investigar se o paciente está mantendo exposição ao agen-
síveis. A extensão do aprisionamento de ar correlaciona-se te causal. Uma piora, entretanto, pode ser observada após
diretamente com o VR, expressão da bronquiolite, e a ex- a retirada do corticoide em pacientes que se afastaram da
tensão das áreas de vidro fosco correlaciona-se diretamente exposição. Os pacientes com PH em fase fibrosante podem
com a CVF e com a extensão da pneumonia intersticial. ser tratados com imunossupressor, associado ao corticoide,
Na forma crônica, o principal sintoma é a dispneia de em regime semelhante ao utilizado na FPI, com aparente
exercício. Pode-se encontrar bipocratismo digital, o que su- estabilidade; porém, excetuando-se os casos com padrão
gere progressão, mesmo afastada a exposição. Na TC de alta de pneumonia inespecífica, respostas objetivas não são ob-
resolução, os achados podem ser superponíveis aos encon· servadas. Na PH em geral, em pacientes com achados cll-
trados na fibrose pulmonar idiopática. Porém, a possibilida- nicos indicativos de hiper-responsividade brônquica, o uso
de de PH deve ser considerada na presença de acometimen- de broncodilatadores associados a corticoides inalados pode
to preferencial de lobos superiores, ou em terços médios, estar indicado (FIGURA 47.7).
achados associados de nódulos centrolobulares, ou áreas de
vidro fosco fora das regiões de fibrose ou diversas áreas de
aprisionamento de ar lobular e presença peribrônquica de
fibrose ou vidro fosco.
Na forma clássica, a biópsia pulmonar mostra inflamação
intersticial crônica com infiltração de células plasmáticas,
mastócitos, histiócitos e linfócitos em geral com granulomas
não necrosantes malformados. A pneumonia intersticial se
apresenta como uma pneumonia inespecífica, com aparên-
cia temporal uniforme, inicialmente se distribuindo nas re-
giões peribronquiolares. A fibrose intersticial, com frequên-
cia, está presente em extensão variável.
A descrição dos três achados bistológicos adiante pode
ser considerada diagnóstica desta entidade, mesmo na au-
sência de uma exposição conhecida:
b. De pequenas opacidades irregulares nar causada pela poeira de silica. Até o primeiro quano do
I. Tipo s- diâmetro de até 1,5 mm. século XX, doença ocupacional era praticamente sinônimo
2. Tipo t- diâmetro entre 1,5 e 3,0 mm. de silicose. 23
3. Tipo u- diâmetro entre 3,0 e 10,0 mm. Com o desenvolvimento da radiologia, com a execução
Obs.: Os graus de profusão são 1/1, 212, etc. de maior número de exames anatomopatológicos e com a
realização de estudos epidemiológioos e experimentais, ou-
/1. PNEUMOCONIOSE COMPLICADA (opacidades com tras causas de doença foram sendo mais bem caracterizadas
mais de 1,0 em de diâmetro): e identificadas em indivíduos envolvidos nas atividades do
a. Categoria A - opacidades com diâmetro de 1,0 a 5,0 crescente progresso industrial. Paralelamente, surgiu a ne-
em. cessidade de o termo "pneumoconiose" ser redefinido, o
que foi feito em 1971, como sendo "o acúmulo de poeira nos
b. Categoria B- opacidades com mais de 5,0 em de diâ-
pulmões e a reação tecidual à sua presença", com "poeira"
metro e menos de um terço do pulmão.
significando "um aerossol composto de partículas sólidas
c. Categoria C- opacidades com área maior do que um inanimadas".
terço de um pulmão. As pneumoconioses mais comuns são a pneumoconio-
se dos mineiros de carvão, a silicose e a asbestose. Outras,
O exame anatomopatológico, embora seja em muitos ca- menos frequentes, são a baritose, a siderose, a caulinose, a
sos o exame comprobatório da doença, não costuma estar talcose e a beriliosc.
incluído na investigação de rotina das doenças ocupacionais.
Entretanto, acaba sendo executado quando há dúvida diag-
nóstica ou falta de coerência entre os demais achados. Pneumoconiose dos mineiros de carvão
A avaliação do ambiente de trabalho, no que conccrne Resulta da exposição à poeira "respirável" proveniente do
à potencialidade de o agente inalado causar doenças respi- carvão mineral, desprendida durante a mineração. Dos qua-
ratórias, é efetuada mediante análises qualitativa e quan- tro tipos de carvão - lignito, subbetuminoso, betuminoso e
titativa dos contaminantes do ar que está sendo inalado antracito - este último é o que encerra maior quantidade
pelos indivíduos que atuam no ambiente. Existem técnicas de energia, sendo também responsável pelo maior número
de coleta e de análise especiais para cada tipo de poluente de casos de doença e de doença progressiva, especialmente
doar. quando minerado no subsolo. Quanto maiores forem a in-
Uma vez identificada a presença de um agente nocivo e tensidade e a duração da exposição, maiores serão as chan-
dete.rm.inada sua concentração, os achados são, então, com- ces de desenvolvimento da doença, ocorrendo ela mais vezes
parados com dados previamente fiXados, denominados "li- nos operários de "frente de trabalho", como os perfuradores
mites permissíveis de exposição" ou "limites de tolerância" e carregadores com mais de 10 anos de trabalho."' As múlti-
para aqueles agentes. plas pequenas lesões nodulares da pneumoooniose não com-
Os gases como o dióxido de nitrogênio são recolhidos do plicada, visualizadas radiologicamente, representam sobre-
ambiente através de tubos coletores c analisados por meio tudo focos de fibrose no nível de bronquíolos respiratórios,
de processos cromatográficos, cspectrofotométricos, entre circundados por enfisema focal.
outros, e os resultados encontrados costumam ser expressos Cerca de 1 a 2% dos indivíduos ponadores de pneumo-
em "panes por milhão" (ppm), ou em "mg/m3 ". Quando o coniose simples desenvolvem "fibrose pulmonar maciça"
agente se apresenta sob a forma de partículas em suspen- a cada ano que passa. Essa pneumoconiose complicada
são no ar, como o caso da sllica, a caracterização da fração caracteriza-se pela presença de grandes massas fibróticas
respirável pode ser feita pela contagem, utilizando-se um predominando nos lobos superiores de ambos os pulmões
confmetro, com os resultados expressos em "número de e que podem até escavar. Algumas teorias tentam explicar a
partículas por ml", ou pela pesagem, empregando-se um co- ocorrência dessas massas conglomeradas. Evidências clíni-
letor gravimétrioo seletivo, exprimindo-se os resultados em cas e experimentais em animais sugerem que micobactérias,
"mg por m3". A difração de raios X, a espectrofotomctria de incluindo as atípicas, poderiam estar envolvidas em sua pa-
infravermelho e a colorimetria são técnicas utilizadas para togênese. Do ponto de vista clínico, a pneumoconiose dos
identificar a natureza da partícula. mineiros de carvão não complicada não oostuma determinar
manifestações significativas, bem como do ponto de vista
funcional respiratório, em que se observa, via de regra, um
padrão obstrutivo. Entretanto, quando a pneumoeoniose é
Pneumoconioses complicada, sintomas importantes como dispneia podem
O termo "pneumoconiose" foi criado por Zenker, em 1866, surgir, indicando a grave perturbação funcional subjacente.
para designar um grupo de doenças pulmonares decorrentes A pneumoconiose reumatoide, ou síndrome de Caplan,
de exposição a poeiras fibrosantes. Kussmaul, em 1867, de- foi descrita em 1953 em mineiros de carvão ponadores de
monstrou ser a silica o oomponente mais imponante dessas doença reumatoide, ou que apresentavam títulos séricos
poeiras, como agente cau.s ador das doenças, o que já havia elevados de fator reumatoide. Caracteriza-se pelo rápido
sido previamente registrado por Ramazzini. O termo "silico- desenvolvimento de nódulos circunscritos, de até 5,0 em de
se", entretanto, foi empregado pela primeira vez por Viscon- diâmetro, com ou sem evidência adicional de uma pneu-
ti, em 1870, indicando de forma especffica a doença pulmo- moconiose simples. Os nódulos exibem anéis ooncêntrioos
de inflamação ativa, necrose e poeira de carvão. Há dados (dois anos, por exemplo). Neste caso, em geral, representam
sugerindo a presença de um fator imunológico humoral no formas graves, rapidamente progressivas, de silicose aguda.
doente reumatoide que, em interação com a poeira no pul- Thnto a forma aguda da silicose - mais rara - como a
mão, levaria ao surgimento da lesão nodular. A sindrome de forma crônica - mais comum -, uma vez instaladas, geral-
Caplan tem sido verificada também em outras pneumoco- mente progridem, mesmo que as pessoas acometidas sejam
nioses.25 afastadas de oontato ulterior com a poeira. A nodularidade
As pessoas envolvidas na indústria do carvão mineral de- da pneumoconiose não complicada costuma distribuir-se
vem ser submetidas a um exame médico pré-admissão, que igualmente por ambos os pulmões, mas sua densidade pode
inclua radiografia de tórax e avaliação funcional respirató- ser modificada pela presença de infecção e de outras poei-
ria, o que deve ser repetido pelo menos a cada cinco anos ras. Cerca de 20 a 30% dos indivíduos portadores de silicose
enquanto durar a exposição. Detectada a pneumoconiose simples acabam desenvolvendo a doença complicada, com
simples, o trabalhador deve ser afastado do contato com a fibrose pulmonar grave.
poeira. Existem evidências de que, se tal conduta for segui- Calcificações "em casca de ovo" de gãnglios mediastino-
da, a progressão para fibrose pulmonar maciça pode ser evi- pulmonares (FIGURA 49.3) são virtualmente patognomônicas
tada. de silicose. O rápido desenvolvimento das lesões pulmona-
Com relação à concentração de poeira respirável do car- res, em particular se delas fizerem parte cavitações, deve
vão mineral, é desejável que, nos ambientes de trabalho, ela levar à suspeita da ooexistência de tuberculose. É reconhe-
não ultrapasse 2,0 mgfm3. Os locais identificados como de cido que a silicose pode favorecer o desenvolvimento de tu-
alto risco, nos quais a concentração é elevada, exigem a ado- berculose, e a incidência de tuberculose pulmonar tem sido
ção de medidas efetivas para redução dos teores de poeira, registrada como maior em silicóticos do que na população
especialmente através de ventilação adequada. geral.'Cl.l'
A silicose simples em geral é assintomática, não costu-
mando determinar perturbação funcional detectável pelos
Silicose testes de uso rotineiro. Na doença complicada, surge disp-
É a pneumoconiose resultante da exposição à poeira de sfli- neia de esforço, progressiva, e, com a evolução da fibrose
ca. Tem sido a mais amplamente estudada de todas as doen- pulmonar maciça, a hipertensão arterial pulmonar se evi-
ças profissionais." O dióxido de silício (Si02) é de ocorrên- dencia, acabando pela instalação de cor pulmonale. O curso
cia comum, constituindo-se no mais frequente componente clínico na silicose aguda é fulminante, em geral muito curto
da crosta terrestre, onde se apresenta sob três variedades e com início abrupto dos sintomas.
cristalinas principais: quar120, tridimita e cristobalita. A exposição à sflica, em intensidade suficiente para resul-
A inalação das pequenas partículas insolúveis de sílica tar na pneumoconiose, ooorre em diversas ocupações, entre
cristalina e a permanência delas nos pulmões acabam deter- as quais se destacam mineração, fundição, indústria de cerâ-
minando a doença, caracterizada pela presença de múltiplos mica, oonstruções de estradas, pontes e túneis, trabalhos com
nódulos fibrosos discretos, em geral com diâmetro de 2,0 a jatos de areia, em pedreiras e manufatura de sabões abrasivos.
6,0 mm, distribuídos bilateralmente. Esses nódulos podem, Quanto mais próxima das vias respiratórias estiver a fonte das
entretanto, coalescer, formando massas conglomeradas
de tecido fibroso. Histologicamente, o nódulo silicótico é
formado por um centro avascular, relativamente acelular,
constituído por fibras de reticulina hialinizadas concentri-
camente, misturadas com fibras colágenas situadas mais na
periferia.
As partículas de sflica, responsáveis pela reação, podem
ser visualizadas usando-se luz polarizada, uma vez que são
birrefringentes. A identificação da silica no pulmão pode
ser feita pela difração de raios X, ou pela análise química
da cinza proveniente do órgão incinerado. O início do pro-
cesso lesional parece ocorrer a partir do momento em que
os macrófagos carregados de poeira morrem, com liberação
de silica, que estimula a atividade fibroblástica. No colágeno
hialinizado, identifica-se um material proteico rico em ga-
maglobulina, fato este que sugere fortemente a atuação de
algum mecanismo imunológico responsável pela propagação
da fibrose.26
Radiologicamente, a evidência da pneumoconiose cos-
tuma surgir em indivíduos com 10 a 20 anos de exposição à
poeira. Há indicações sugerindo uma fase humor a! da silico-
se, precedendo por vários anos os achados radiográficos. Por
vezes, entretanto, quando a exposição é intensa, as lesões ra- FIGURA 49.3 -7 Calcificações ganglionares "em casca de ovo" (setas).
diológicas podem se manifestar em um período muito curto Aspecto tomogrMico. Caso de silicose.
paitículas ou quanto mais concentradas estiverem tais partí- têxtil, em dispositivos isolantes, em tintas, em plásticos, em
culas - o que é muito mais comum em ambientes fechados - , lonas de freio de automóveis, entre outros. O risco de expo-
maiores serão os riscos de desenvolvimento da doença. sição ao asbesto existe desde a obtenção do mineral, em seu
A determinação do LT {limite de tolerância) para a Stlica transporte, em seus usos, e até na destruição daquilo que foi
leva em conta múltiplas variáveis, como a patogenicidade dos usado, como é o caso das demolições.
diversos tipos de sOica, o efeito da exposição concomitante às O uso do asbesto, cada vez mais amplo em todo o mun-
outras poeiras, a variabilidade da resposta individual, entre ou- do, tem levado ao aumento do número de pessoas expostas,
tras. Para partículas de quartzo, o valor do Ll; no Brasil, para onrn a consequente maior quantidade de casos de asbestose
48 horas semanais de trabalho, é dado pela seguinte fórmula: notificados anualmente. No Brasil, em 2001, uma revisão
sobre os sroblemas causados pelo asbesto foi efetuada por
Mendes.
8 Em geral, as evidências radiológicas ou clinicas de asbes-
LT =
3
(em mgfm )
% Si01 + 2 tose não aparecem antes de 20 anos de exposição. Contudo,
exposições tão curtas como 2 a 6 meses podem desencadear
a doença, a qual se manifesta 20 a 30 anos mais tarde.
A determinação da "% SiOt é feita pela difração de A patogenia da asbcstose não é conhecida de modo pre-
raios X ou pela espectrofotometria de infravermelbo na ciso. Pensa-se que possa haver lenta liberação de ácido siH-
amostra de poeira total colhida por método gravimétrico. cico, ou uma reação imunológica, com a partícula inalada
Para as variedades mais patogênicas de sílica cristalina- cris- servindo como antígeno. A fibra de asbesto, em geral com
tobalita c tridimita - , o LT é calculado pela mesma fórmula menos de 3 ~m de diâmetro, mas com comprimento de 20
utilizada para o quartzo, mas com o resultado expresso como J.Lm ou até mais de 100 J.Lm, é capaz de penetrar profunda-
a metade do valor encontrado. mente no trato respiratório inferior. O edema das células
Uma vez reconhecida a presença de sflica respirável no alveolares parece ser a resposta inicial do pulmão à presença
ambiente de trabalbo, medidas gerais, objetivando manter da fibra. Seguem-se uma alveolite descamativa e o espessa-
os teores de poeira em nfveis aceitáveis, devem se.r tomadas, mento das paredes alveolares com tecido colágeno, e, por
com ventilação adequada e umidificação. Nos locais em que fim, obliterações de alguns alvéolos por feixes de colágeno.
a concentração persiste elevada, como nas situações de cons- A reação fibrótica é relativamente acelular, com ocasionais
trução de túneis ou aplicação de jato de areia, a proteção linfócitos e células plasmáticas, em especial junto à pleura.
efetiva ao trabalbador pode ser obtida isolando-o da poeira, Os corpos de asbesto (corpos ferruginosos), que apaie-
suprindo-o de ar proveniente de fonte exterior ao ambiente. cem como fibras de coloração marrom ou negra, medindo
Quando possível, a sílica deve ser substituída por outro ma- até 100 pm de onmprimento, costumam ser encontrados em
terial, como o p6 de aluminio, o qual tem sido atualmente grupos tanto no tecido conjuntivo fibroso como nos espaços
empregado no polimento de peças de cerâmica. alveolaies adjacentes às áreas de fibrose, podendo ser identi-
Os indivíduos expostos à sílica devem, periodicamente, ficados no lavado brononalveolar. Apresentam as extremida-
ser submetidos a uma avaliação médica que inclua radio- des mais espessas (AGURA 49.4) e são formados por uma fibra
grafia de tórax. Detectada anormalidade compatível com em posição central, envolvida por urna camada proteica con-
a doença, a pessoa acometida deve ser afastada do contato tendo grãnulos de ferritina. Há evidências de que os corpos
com a poeira c orientada quanto aos cuidados médicos c di- de asbesto constituam uma reação dos tecidos no sentido de
reitos que a legislação lhe faculta. Uma vez estabelecida, a atenuai os efeitos fibrogênicos da fibra inalada. Além das le-
doença não tem tratamento medicamentoso.
Asbestose
Esta pneumoeoniose é consequência da exposição ao asbes-
to. Asbesto é um termo geral usado para descrever seis va-
riedades distintas de silicatos minerais fibrosos. A crisotila
(asbesto branco), cujas fibras se apresentam sob forma de
serpentina, é constituída por um silicato hidratado de mag-
nésio; representa cerca de 95% da produção mundial do mi-
neral, tendo-se o Canadá como principal produtor. A croci-
dolita (asbesto azul), aamosita (asbesto marrom), aantofilita
e a tremo/ira formam a famnia dos anfibolos, cujas fibras têm
configuração retilfnea, incluem ferro em sua composição e
perfazem os 5% restantes da produção. A crocidolita e a
amosita são encontradas na África do Sul e na União Sovié-
tica; a antofilita e a tremolita, na Fin.lãndia.
A grande resistência à destruição por agentes físicos e
químicos faz do asbesto material de escolha para um grande FIGURA 49.4 ~ Corpo de asbesto. Note as extremidades mais espessas.
número de aplicações, como na construção civil, na indústria Corte histológico.
sões pulmonares, são frequentes as placas de fibrose pleural, aéreas, e, desse modo, não serão detectados pelos testes roti-
que podem calcificar (FIGURA 49.5). neiros de função pulmonar. As anormalidades radiográficas
Radiologicamente, espessamento e placas pleurais são as podem ser extensas, sem a correspondente perturbação fun-
anormalidades mais detectadas na asbestose. Em geral são bi- cional demonstrável. Testes mais sensíveis, por outro lado,
laterais e podem conter significativas quantidades de cálcio. podem evidenciar redução na capacidade de difusão e au-
As lesões de fibrose pulmonar intersticial, visualizáveis em mento do gradiente alveoloarterial do oxigênío em pacientes
50% dos casos, seguem o padrão reticular e costumam iniciar- que não apresentam tradução clínica da doença. Nos casos
-se pelas metades inferiores dos pulmões. A adenopatia hilar mais avançados, um padrão restritivo se exterioriza.
não constitui achado proeminente, mas às vezes pode ser ma- A associação de mesotelioma pleural e de carcinoma
ciça, mesmo na ausência de tumor. Derrame pleural pode es- brõn~uico com a exposição ao asbesto é bem documenta-
tar presente, seja unilateral ou bilateralmente. Em uma sêrie da,19' e há indicações de que o contato com esse mineral
de 133 indivíduos adultos (131 do sexo masculino), os quais aumenta o risco de desenvolvimento de outras neoplasias,
haviam sido expostos ao asbesto e que eram portadores de como carcinoma de estômago, colo, ovário e laringe. Habi-
doença não neoplásica, 80% apresentaram achados de fibrose tualmente, o período de latência desde o início da exposição
pulmonar e 85%, espessamento pleural difuso à tomografia até a detecção do tumor é longo - em geral superior a 20
computadorizada de alta resolução. 29 anos. A crocidolita (asbesto azul) é a variedade que mantém
As manifestações iniciais mais comuns na asbestose são a mais estreita correlação com o aparecimento de mesotelio-
dispneia e tosse improdutiva irritante que surgem, via de re- ma, o qual costuma ser do tipo maligno difuso (FIGURA 49.6).
gra, somente após 20 a 30 anos de exposição. À medida que Thmbém em relação ao risco de surgimento de carcinoma
a doença evolui, essas manifestações progridem, estertores brônquico - que pode ser de qualquer tipo histológico - , pa-
subcrepitantes finos de bases pulmonares podem ser auscul- rece que a crocidolita e a amosita oferecem maior perigo do
tados e, nos estágios avançados, cianose e hipocratismo di- que a crisotila e a antofilita.
gital podem se manifestar. Quando há derrame pleural, dor A avaliação do risco ambiental ao asbesto é efetuada
torácica do tipo ventilatório-dependente é referida. coletando-se uma determinada quantidade de ar sobre uma
Existem evidências de que os primeiros efeitos da expo- membrana de filtro e contando-se as fibras por meio de um
sição ao asbesto se fazem sentir no nível das pequenas vias microscópio de contraste de fase em ampliação de 400 a
Bronquiolite
QUADRO 49.1 ~ causas comuns de doença ocupacional de vias - Acetaldeldo - Amônia
aéreas superiores
- Gás dotínico - Hidrogênio
- Dióxido de - Fosgênio
Rinite e laringite nitrogênio
- Poeira de confeitaria - Poeira de animais e gramíneas
- Etilenodiamina - lAtex Asma
- Polens - Protelnas de cobaias - Ácido anfdrico - Aldeldo - Acrilatos
- Ác.ido anldrico - Amônia - Proteínas animais - Cobalto - Poeira de gr~os e
- Ácido hipoclorldrico - Metais pesados - Poeira de madeira - Etilenodiamina farinhas
- Dióxido sulfúrico - Solventes e tlner - lsocianatos - lAtex - Formaldeldo e
- Ácidos fortes - Alvejantes glutaraldeldo
Rinorreia - Gísclorlnico
- Ar frio - Pesticidas
DPOC
Úlcera nasal - úrvão - Sílica - Algodão
- Arsênico - Ácido crOmico e cromatos - Cádmio - Tolueno
- Poeira de gaiolas diisocianato
A asma ocupacional, que se caracteriza por limitação va- Carcinoma brônquico
riável ao fluxo e/ou hiper-reatividade das vias aéreas devido
Existem diversas substâncias com reconhecido potencial
a condições presentes em determinados ambientes de traba-
carcinogênico nos ambientes de trabalho (QUADRO 49.3).
lho, pode significar exacerbação de asma subclínica ou em
Estima-se que em tomo de 5% dos casos de câncer de pul-
remissão, início de asma previamente em latência ou asma
mão possam ser devidos à exposição a tais substâncias, que
devida exclusivamente a um potente irritante respiratório.
podem, por exemplo, fazer parte da composição de tintas
Cerca de 5 a 15% dos casos novos de asma em trabalhadores
diversas, aumentando o risco dessa neoplasia em pintores. 39
podem estar relacionados com exposição ocupacional.
A exacerbação de um processo de asma subclínica cos-
tuma ser causada pela irritação de vias aéreas por poeiras
e substâncias químicas. O desencadeamento das crises por Profilaxia -tratamento
exposição a proteínas de alto peso molecular (partículas de
madeira, de fibras têxteis, grãos ou crustáceos), que estimu-
lam a produção de IgE especffica, é mais observado em in-
0 ATENÇÃO
divfduos atópicos. Já as crises provocadas por substâncias de
As medidas mais importantes no mane;o das doen-
baixo peso molecular (isocianatos) podem ocorrer tanto em
ças ocupadonais s.io as profiláticas.
a tópicos como em não a tópicos.
O diagnóstico de asma ocupacional fundamenta-se, em
geral, no quadro clínico do paciente: piora ou surgimento
dos sintomas durante a exposição ambiental e melhora ou O objetivo que deve ser sempre perseguido é a máxima
desaparecimento deles quando de seu afastamento do am- diminuição dos riscos, reduzindo-se a concentração do fator
biente. A conftrmação diagnóstica pode ser realizada a par- nocivo presente, ou eliminando tal fator nos ambientes de
tir da dosagem de IgE especffica para a substância em estu- trabalho. A existência de normas efetivas de fiscalização e
do, ou, de modo mais simples, pela medida da variação do de controle é essencial para que isso se cumpra.' Os proces-
pico de fluxo no ambiente de trabalho. sos de ventilação e de umidificação, bem como protetores
faciais, devem ser adequados e testados periodicamente me-
diante determinações da concentração ambiental de poeiras
Broncopneumonia de hipersensibilidade e/ou gases, que não deverão ultrapassar seus respectivos li-
As pneumonias por hipersensibilidade (alveolites alérgicas mites de tolerância. Havendo possibilidade de contato com
extrínsecas) podem ocorrer nos ambientes de trabalho, se- substância altamente tóxica, como é o caso de alguns gases, a
cundárias à exposição a substâncias orgânicas e microrganis- prevenção deve ser rigorosa, sendo necessário ter-se sempre
8
mos sensibilizantes.' O afastamento do contato e o uso de à mão condições para cuidados médicos imediatos.
corticoterapia estão indicados em tais casos. O berfiio, além Quando não for possível a redução do teor dos poluentes
de causar doença granulomatosa crônica, também poderia para níveis seguros, fontes de ar exteriores aos ambientes de
levar a manifestações de hipersensibilidadc. trabalho deverão ser providenciadas. A substituição de uma
substância potencialmente nociva por outra inócua - como
a troca de areia por pó de alurninio em polimentos - é algo
Doença granulomatosa crônica sempre desejável.
Esse tipo de envolvimento pulmonar, praticamente indistin- Para a doença pulmonar ocupacional estabelecida, em
guível da sarcoidose, do ponto de vista anatomopatológico, geral não existe tratamento específico. Deve-se evitar ulte-
é causado pela inalação de poeiras ou fumaça de berilio, um rior contato do individuo acometido com o agente causal, e,
metal de amplo uso sobretudo em indústrias de alta tecno- dependendo do dano funcional ocorrido, os cuidados médi·
logia, como aeroespacial, eletrônica, nuclear e de computa- cos gerais apropriados deverão ser tomados - podendo va-
dores.JS Formas agudas de uma pneumonite qulmica e mani- riar desde a simples sedaçáo de uma tosse improdutiva, caso
festações iniciais de hipersensibilidade poderiam anteceder
a forma crônica da doença.:J6J1
QUADRO 49.3 ~ Causas ocupacionais de carcinoma brõnquico
Doença pulmonar obstrutiva crônica
O tabagismo é o principal fator externo envolvido em casos
de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), mas gases
IWJ M!:t;t tUo@t3t •!.\IWIJ" mW!!@t t1
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Luiz Carlos Corrêa da Silva
50
O diagnóstico da sarcoidose é feito, essencialmente, por
Introdução exclusão: isto é, outras causas de doença granulomatosa de-
A sarcoidose é uma doença multissistêmica, granulomatosa, vem ser afastadas. A decisão de tratar ou não com corticote-
com atividade imunocelular aumentada - particularmente rapia sistêmica dependerá da presença de sintomas, altera-
de células CD4 e macrófagos - de causa desconhecida. Em- ções funcionais, comprometimento de setores importantes
bora possa afetar qualquer parte do organismo, pulmões e do organismo e, enfim, da evolução da doença.
gânglios intratorácicos são os locais preferidos. Avaliações epidemiológicas realizadas em regiões distin-
Mecanismos imunes são importantes na patogenia, tas demonstraram diferenças consideráveis na prevalência,
presumindo-se que diversos gatilhos possam desencadear sazonalidade e apresentação clínica da sarcoidose. A doença
a sequência de eventos imunológicos e inflamatórios que costuma acometer adultos entre 20 e 50 anos, ocorrendo
caracterizam a doença. Fatores genéticos também podem igualmente em homens e mulheres. Em alguns países, como
determinar maior suscetibilidade à sarcoidose. Antes de ser Suécia e Japão, há um segundo pico na meia-idade, sobretu-
uma única doença com uma única causa, é possível que di- do em mulheres. Nos Estados Unidos, a sarcoidose é mais
versos fatores genéticos e ambientais ou infecciosos possam frequente em negros do que em brancos, com uma incidência
estimular uma resposta imune que resulte no desencadea- anual ajustada de 35,5 e 10,9/100.000, respectivamente. Em
mento da sarcoidose. termos mundiais, entretanto, cerca de 80% dos pacientes são
Em geral, os primeiros achados que levantam suspeita de brancos. O eritema nodoso é comum em pacientes escandi-
sarcoidose são vistos em uma radiografia do tórax: adenopa- navos e britânicos, mas raro em afro-americanos e japoneses.
tias bilares bilaterais e simétricas e adenopatias mediastino- O envolvimento cardíaco e ocular é particularmente comum
pulmonares (principalmente paratraqueais direitas e subcari- no Japão. Em países onde a tuberculose e outras doenças
nais), acompanhadas ou não de infiltração pulmonar difusa. granulomatosas infecciosas têm alta prevalência, como no
Winterbauer e colaboradores} chamaram a atenção para o Brasil, a frequência da doença é mais baixa do que em países
fato de que "o achado radiológico de adenopatias hilares bi- desenvolvidos. Nessas regiões, há dificuldade de determinar
laterais e paratraqueais, em indivíduo assintomático, é especí- a frequência real da sarcoidose por causa da ausência de pro-
fico para sarcoidose". A presença de granuloma não caseoso, gramas de rastreamento e da falta de notificação. Sem dúvi-
sem causa conhecida, e evidências de comprometimento mul- da, a sarcoidose é uma doença subdiagnosticada.
tissistêmico característico, como eritema nodoso, alterações Estudos sobre a imunopatogênese da sarcoidose indi-
oculares, aumento das parótidas e hipercalciúria, favorecem cam que uma sequência de eventos nos locais de atividade
esse diagnóstico. O achado histopatológico de granuloma exi- da doença pode explicar por que a resposta das células Thl
ge sempre que se considerem doenças de causa conhecida e de ou Th2 é importante para os mecanismos envolvidos na for-
alta prevalência em nosso meio, como tuberculose e micoses. mação do granuloma e no remodelamento dos tecidos. Na
resposta Thl, observa-se a participação de IL-2 e do IFN-g eritema nodoso, adenopatias superficiais, alterações oculares,
para a formação do granuloma sarcoide (este último supri- hepatomegalia e esplenomegalia podem ser observadas.
me a atividade fibroblástica e a produção de colágeno). Um
desvio para Th2 favorece a atividade da IL-4 que, aumentan-
do a atividade fibroblástica e a produção de colágeno, resul-
ta no desenvolvimento de fibrose.
Exames de imagem
Adenopatias hilares bilaterais simétricas, com envolvimen-
to das cadeias paratraqueal direita e subcarinal, em asso-
Principais características da sarcoidose ciação ou não com infiltração pulmonar difusa, íntersticial,
-+ Doença granulomatosa e multissistêmica micronodular, junto aos feixes broncovasculares, aos septos
-+ Causa desconhecida interlobulares e às regiões subpleurais, predominando nas
-+ Atividade imunocelular aumentada metades superiores dos pulmões, são achados radiológicos e
-+ Preferência por adultos jovens, frequentemente as- tomográficos característicos de sarcoidose (FIGURAS 50.1 , 50.2
sintomáticos e 50.3). Em pacientes com sarcoidose, as avaliações radioló-
-+ Critérios diagnósticos: gica e tomográfica da gravidade da doença mostram correla-
- Sfndrome clfnica compatfveVsugestiva ção similar com os dados clínicos e funcionais.
- Achados radiológicos consistentes Podem ocorrer apresentações radiológicas atípicas como
- Granulomas não caseosos de células epitelioides adenopatias intratorácicas unilaterais, calcificações ganglio-
- Exclusão de outras causas de doença granuloma- nares, lesões pulmonares acinares, nodulares e mesmo es-
tosa (tuberculose/micose) cavadas, infiltração pulmonar unilateral, broncostenose, ate-
-+ Estadiamento: lectasias, derrame pleural, pneurnotórax e, ainda, alterações
- Doença pulmonar evolutiva? sugestivas de hipertensão arterial pulmonar e de comprome-
- Doença extrapulmonar? timento cardíaco. Tais achados atípicos são mais frequentes
-+ Tratamento: Corticoterapia/observação em pacientes acima dos 50 anos.
-+ Prognóstico: Geralmente favorável A tomografia computadorizada de alta resolução deve
ser realizada, particularmente quando os achados clínicos
não são típicos, quando existe suspeita clínica de sarcoidose
com raio X de tórax normal e quando há suspeita de compli-
cações ou infecções superpostas.
Clínica As alterações radiológicas do tórax na sarcoidose são
Os sintomas da sarcoidose variam consideravelmente e depen- classificadas conforme o Consenso de Sarcoidose da Ame-
dem de características do paciente, como HLA e etnia, além rican Thoracic Society (ATS), European Respiratory Society
da gravidade da doença. Pode ocorrer uma síndrome clínica (ERS), World Association of Sarcoidosis and Other Granu-
característica com adenopatias hilares bilaterais e eritema lomatous Disorders (WASOGi (QUADRO 50.1).
nodoso, frequentemente com febre e artralgias (síndrome de Na prática, consideram-se apenas os tipos radiológicos
Lõfgren). Cerca de metade dos pacientes, na ocasião do diag- I, ll e III, pois o tipo Osignifica raio X de tórax normal (um
nóstico, são assintomáticos ou têm manifestações de pequena achado raro e que pouco acrescenta na avaliação do pacien-
íntensidade. Sintomas torácicos como tosse e dispneia são fre- te) e o tipo radiológico IV (correspondendo à fase fibrótica
quentes, c síntomas ínespecíficos como febre, emagrecimen- em que a doença está curada e inativa) só pode ser conside-
to e fadiga também podem estar presentes. Lesões cutâneas, rado quando as lesões são estáveis em controles sucessivos.
Síndrome clínica
Alterações radiológicas
Biópsia:
- Granuloma de células epitelioides
- Ausência de necrose
- Ausência de microrganismos (BAAR e fungos) e de cristais
Tratamento
O tratamento visa ao controle dos sintomas, à recuperação
Segundo a experiência da maior clínica de sarcoidose da funcional e à regressão das lesões. Como regra, pacientes
Itália (Milão), ocorre envolvimento cxtratorácico em cerca assintornáticos devem ser observados e não precisam de tra-
de 30% dos pacientes com sarcoidose. Segundo a experiên· tamento. A corticoterapia sistêmica tem se firmado nas últi·
cia de Rizzato:3 12% dos pacientes tinham sarcoidose com mas décadas como a melhor terapêutica para pacientes tan·
manifestações apenas extrapulmonares; calculose renal foi a to com doença crõnica quanto em períodos de exacerbação,
forma de apresentação da doença em 3,6% dos casos; uveíte sendo indicada em cerca de 60% dos casos, na experiência
associada a sarcoidose ocorreu em 1,5% dos casos, preceden- do Serviço de Pneumologia, Pavilhão Pereira Filho, Comple-
do o diagnóstico da doença em até 11 anos, às vezes devido xo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre.4
à inadequada investigação inicial; adenomegalias periféricas Considerando os tipos radiológicos, recebem corticoide
foram observadas em 11,7% dos casos, sendo um achado de quase todos os pacientes do tipo lll, muitos do tipo II e pou-
apresentação da doença em metade desses pacientes. No en· cos do tipo I. Costuma-se usar 40 mg, em dias alternados,
tanto, tais dados têm limitações, uma vez que, como regra, são durante os primeiros três meses. Havendo resposta favorá·
retrospectivos; além disso, todos os pacientes são brancos e a vel, reduz-se 10 mg a cada três meses, mantendo 10 a 20 mg
população assistida naquele centro de referência é provavel· durante 12 a 24 meses. Quando a doença pulmonar é grave
mente constituída de casos mais graves da doença. ou há comprometimento extrapulmonar em "órgão nobre"
(p. ex., SNC, coração, olho), inicia-se com 1 mglkg/dia de
prednisona, até o controle da doença, continuando-se em
[E ATENÇÃO dias alternados e com redução conforme recém-sugerido.
O uso de outros anti-inflamatórios inespeclficos - como
A sarcoidose- por ser uma doença sistêmica -pode metotrexato, azatioprina, ciclofosramida, talidomida, etc. -
apresentar-se nas formas mais variadas, devendo fre- pode ser uma alternativa à corticoterapia. Novas estratégias
quentemente ser inclufda no diagnóstico diferencial. imunossupressoras vêm sendo estudadas, mas ainda não têm
impacto na prática assistencial. Segundo Baughman e cola-
boradoresS, pentoxifilina, talidomida, inflixirnab, etanercept
O envolvimento sistêmico da sarcoidose e o achado de e remicade têm sido úteis em casos selecionados, sendo sua
alterações em diversas partes do organismo variam confor· efetividade devida ao bloqueio do fator de necrose tumoral
me as regiões e as características dos centros de referência: (TNF), especialmente no tratamento da sarcoidose crônica.
Anti-inflamatórios não esteroides podem ser usados
• Fígado e baço: órgãos frequentemente comprometidos para artralgias, hidroxicloroquina para lesões tegumentares
pelas lesões granulomatosas, raras vezes com repercus- e corticoides inalatórios quando a tosse é problema, visando
são clínica. ao controle da biper-reatividade das vias aéreas.
Como a remissão espontânea da doença é muito comum, ~ Situação 11: Paciente com alta suspeita de sarcoidose,
as principais questões quanto ao tratamento são: "quem tipo radiológico I, sem envolvimento extratorácico.
deve ser Lratado?", "quando?", "como?" e "por quanto tem-
po?". A experiência do profissional e a individualização dos Pergunta: Precisa ser tratado com CS?
cuidados assistenciais são sempre fundamentais na tomada Resposta : Em principio, não. Deve ficar em observação
de decisões. e ser submetido a controles a cada 3 a 6 meses. Como
regra, ocorre remissão espontânea .2
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José da Silva Moreira
Ana Luiza Moreira
51
Lilian Scussel Lonzetti
Tatiana Freitas Tourinho
~ ATENÇÃO
O envolvimento pulmonar na ES - que varia de 70 a
1OOo/o em estudos post-mortem e ocorre em até 80%
dos casos em séries dfnicas- manifesta-se predomi-
nantemente como fibrose intersticial difusa, o que
contribui de forma significativa para a morbimorta-
lidade.
FIGURA 51.1 ~ lúpus eritematoso sistêmico em paciente do sexo fe- A fibrose pulmonar é praticamente indistinguível daque-
minino, 36 anos. Derrame pleural à esquerda, elevação da terço inferior la que ocorre na fibrose intersticial de tipo usual, inclusive no
do pulmão direito e pericardite. que se refere a achados do lavado broncoalveolar (LBA)t
entretanto, há dados sugerindo que os pacientes com fibrose de do estágio da doença, com os melhores resultados obser-
pulmonar e ES são mais jovens e apresentam hipocratismo vados quando o diagnóstico de infiltração pulmonar é mais
digital clínico com menos frequência. 15 precoce, condição sugerida pelo LBA com maior número de
Cerca de 30 a 50% dos pacientes com ES apresentam linfócitos ou mesmo de eosinófllos em relação ao de neutró-
hipertensão arterial pulmonar relacionada com processo fi. filos e pela TC de alta resolução mostrando atenuação tipo
broproliferativo primário vascular, o qual pode coexistir com "vidro fosco" em vez de faveolamento (FIGURA 51.3).
as lesões intersticiais. O envolvimento pleural significativo A hipertensão arterial pulmonar (HAP) é definida como
detectado in vivo na ES é incomum e costuma estar associa- elevação na pressão média da artéria pulmonar maior do que
do a anormalidades parenquimatosas do pulmão. 25 mmHg no repouso. Ocorre nas formas cutâneas limitada
O quadro mais encontrado é o de um paciente com diag- e difusa, apresentando alta mortalidade. A HAP resultante
nóstico estabelecido de ES, com tosse improdutiva, dispneia de alterações fibroproliferativas na vasculatura intrinseca
e infiltração intersticial difusa, atualmente mais bem docu- pulmonar, patologicamente indistinguível da idiopática, é a
mentada pela tomografia computadorizada (TC) de alta re- mais comum, com uma prevalência de cerca de 10 a 15%. O
solução - atenuação com aspectos de "vidro fosco", reticu- segundo padrão de HAP ocorre em associação com fibrose
laridade subpleural ou faveolamento.' 6 Todavia, é incomum intersticial por destruição do leito vascular pulmonar pela
existirem manifestações clinicorradiológicas pulmonares hipoxemia.
precedendo os demais sintomas da doença. O tratamento da HAP envolve anticoagulação oral, espi-
nata-se provavelmente da doença que mais apresenta ronolactona e suplementação de oxigênio, como terapia de
alveolite ou bronquiolite obliterante (BOOP), com dissemi- suporte. 11-atamentos específicos para HAP devem ser ini-
nação do processo inflamatório vascular, clúúca dramática e ciados apenas para doença avançada (classe funcional III ou
prognóstico muito reservado. Com o advento dos inibidores IV): o tratamento para classe Ill inclui bloqueador de recep-
da enzima conversora de angiotensina, o qual promoveu o tor de endotelina-1 oral (bosentan) e inibidor de fosfodies-
controle da manifestação renal da doença, o envolvimento terase (sildenaftl). Thrapias alternativas incluem análogos de
pulmonar é a principal causa de óbito desses pacientes. prostaciclina inalatória e subcutânea. Agentes intravenosos
A presença de dilatação no terço inferior do esôfago, são reservados para pacientes com HAP grave ou avançada.
com diminuição do peristaltismo, pode ser verificada em cer·
ca de 90% dos pacientes com ES (FIGURA 51.2) - desde que
usadas técnicas radiográficas com contraste ou outras mais
sensiveis (cintilografia e manometria esofágicas). A altera-
Artrite reumatoide
ção nem sempre é acompanhada de sintomas de disfagia ou A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crôni-
decorrentes de refluxo gastresofágico, ou o paciente pouco ca de causa desconhecida que envolve diversos sistemas, na
se queixa, a menos que seja questionado. 11 qual predomina o comprometimento poliarticular simétrico,
O tratamento do paciente comES e envolvimento pulmo- caracterizado por uma sinovite inflamatória persistente. A
nar progressivo se fundamenta no uso de glicocorticoides em inflamação leva à destruição de sinóvia, partes moles, car-
doses baixas e ciclofosfamida em infusões intravenosas regu- tilagens e erosões ósseas com desarranjo da integridade das
lares, geralmente mensais, seguidas de azatioprina. 18 Doses articulações. Outras estruturas extra-articulares também po-
altas de glicocorticoides em pacientes com ES de inicio difuso dem ser acometidas, como a pele, os vasos sanguíneos, os
podem desencadear crise renal esclerodérmica. 19 pulmões e a pleura, o pericárdio, o sistema nervoso e mais
A resposta terapêutica - semelhante à que ocorre na raramente o olho. Ocorre em indivíduos de todas as raças,
pneumonia intersticial fibrosante (de tipo usual)- depen- com uma prevalência entre 0,5 e 1,0% dos adultos.
É três vezes mais frequente em mulheres, e sua inci- ves, com elevados títulos de fator reumatoide.23 Além disso,
dência aumenta com a idade. Aproximadamente 10% dos doença intersticial pulmonar, pleurite e ocasionalmente bron-
parentes em primeiro grau de um portador de AR também quiolite obliterativa podem se apresentar como a primeira
apresentam a doença, e gêmeos univitelinos são acometidos manifestação da doença, algumas vezes até mesmo em indiví-
três vezes mais do que os diz~óticos, indicando predisposi- duos sem fator reumatoide positivo.24 Embora a AR seja mais
ção genética para a condição. frequente em mulheres, suas manifestações pleuropulmona-
Recentemente, os critérios foram redefinidos pelo Ame- res são mais prevalentes entre os homens (FIGURA 51 .4).
rican College of Rheumatology para a classificação diagnós- Em séries de necropsia, encontra-se pleurite com ou sem
tica da AR (QUADRO 51.1), focalizando sobretudo os achados derrame em até 40% dos pacientes com AR; entretanto, o
mais precoces e progressivos da doença,'' os quais se relacio- envolvimento pleural é clinicamente aparente em torno de
nam com a presença de anticorpos a peptídeos e/ou proteí- 20% deles, mais em homens, e em 80% das vezes em casos
nas contendo citrulina, aminoácido formado pela remoção já com a doença articular avançada e/ ou com presença de
de aminogrupos da arginina, o que parece ocorrer muito nódulos subcutâneos. Em 75% dos casos, o derrame pleural
cedo na evolução da AR.22 é unilateral, podendo alternar o lado afetado.
Um escore 2: 6/10 das categorias de A a D é necessário À análise do líquido, costumam ser observados exsudato
para que se conclua por definida artrite reumatoide. com celularidade mista, pH baixo (inferior a 7,32), glicose
O envolvimento pleuropulmonar na AR ocorre em mais geralmente bastante baixa, complemento diminuído, desidro-
de 50% dos casos, geralmente quando a doença se encontra genase láctica (DHL) elevada e altos títulos de fator reuma-
bem definida: pleurite com ou sem derrame, doença intersti- toide. Em cerca de três quartos dos casos, ocorre reabsorção
cial pulmonar, nódulos necrobióticos, não pneumoeonióticos espontânea do derrame em um período de três meses, mas há
ou pneumoconi6ticos (sindrome de Caplan), doença vascular recorrência em um a cada três deles. Nos casos em que o der-
pulmonar e doença das vias aéreas - sobretudo nos pacien- rame persiste por longos períodos (dois anos ou mais), é co-
tes em que os sintomas articulares se apresentam mais gra- mum a presença de cristais de colesterol.25 O uso de oorticos-
QUADRO 51.1 ~ Critérios para classificação da artrite reumatoide O alívio sintomático significativo pode ser obtido com
glicocorticoides e, eventualmente, com imunossupressores,
fazendo parte do conjunto de medidas adotado no manejo
da doença.27 Mais recentemente, outros recursos terapêuti-
A. 1 grande articulação o cos têm sido testados, mas ainda sem clara definição de re-
sultados. 28
2·1Ograndes articulações
QUADRO 51.2 ~ Critérios de definição de miopatia inflamatória A presença do autoanticorpo miosite-específico (MAS)
idiopática Anti-Jol, mais encontrado em jovens e com polimiosite,
associa-se com frequência elevada a fibrose pulmonar, as-
- Fraqueza da musculatura proximal simétrica dos membros e dos sim como o anticorpo miosite associado (MAA) Anti-PM/
múS<ulos flexores anteriores do peS<oço, com ou sem disfagia. Sei, que caracteriza a slndrome de superposição de esclerose
- Elevação sérica de enzimas dos múS<ulos esqueléticos, sistêmica e polimiosite.
especialmente creatinofosfoquinase (a mais sensivel) e aldolase (a
mais especifiCa).
- Alteraç6es eletromiográficas caracteóSbeas com moopatia
inllamatóna.
- Biópsia muscular evidenciando necrose de fibras. fagocitose
e regeneração; variação no tamanho das fibras; exsudato
inflamatório.•
- Lesões cutâneas caracteósticas:••
- Lesões de Gottrón: pápulas ou placas eritematodeS<amativas
nas articulações dos quirodáctilos.
- Sinal de Gottrõn: pá pulas hiperemiadas evidentes na região
periarticular das articulações interfal3ngicas proximais e
metacarpofal3ngicas, periungueal, cotovelos, joelhos, colo,
malar e glabela.
Heliotropo: pálpebras purpúricas.
Quatro dos critérios indicam doença definida; trh , provável; O tratamento das complicações pulmonares da PM-DM
dois, possfvel.
fundamenta-se no uso de corticoides e imunossupressores.
•,q dtmlltC>tnio1nt. hi também presença de ouolio ponfosoculor. A ciclofosfamida administrada em infusões mensais pode ser
"A .,,ftstaçjo artinN ó concição fundaiTlf<ltol poro o d~nôsbQ). empregada para os casos mais graves de acometimento pul-
monar. Nos casos refratários, pode-se usar imunoglobulina
humana via intravenosa.l2 Havendo infecção, administram-
-se, concomitantemente, antibióticos e fisioterapia respira-
Áreas subsegmentares ou segmentares de consolidação 33
tória com manobras de drenagem postural.
unilateral ou bilateral nas porções pendentes dos pulmões
e atelectasias laminares são achados radiográficos usuais,
encontrados em até 50% dos casos. Doença intcrsticial,
semelhante à da fibrose pulmonar usual, apresentando-se
Doença mista do tecido conjuntivo
como infiltração reticulonodular até a presença de áreas de A doença mista do tecido conjuntivo (DMTC) é uma entida-
faveolamento bem estabelecido, manifesta-se em 5 a 30% de nosológica identificada em 1971 por Sharp,"' cuja condi-
dos pacientes, com estertores crepitantes, padrão funcio- ção diagnóstica é a presença do autoanticorpo anti-Ul-RNP
nal restritivo e difusão de monóxido de carbono diminuída. (antígeno nuclear) e reação positiva na análise do fator an-
Thmbém são referidos casos de BOOP e de dano alveolar di- tinuclear (FAN).
fuso, mais comumente em pacientes com polimiosite aguda Os pacientes - mais comumente do sexo feminino -
ou subaguda. li apresentam manifestações de LES, PM e ES, sendo usuais
fenômeno de Raynaud, edema de dedos ou mãos e envolvi-
mento esofágico. O acometimento pleuropulmonar ocorre
entre 20 e 80% dos casos.15
~ ATENÇÃO
Achados radíográfiCos de broncopneumonia de aspi-
ração, BOOP. infiltração intersticial com ou sem evi-
dência de fibrose, HAP e pleurite podem ser encon-
trados em pacientes com DMTC.'" 'Funcionalmente,
em gera~ as manifestações traduzem um padrão res- Os achados radiográficos intratorácicos mais expressivos
tritivo com ·redução da difusão, e os ,achados anato- são os de um coração aumentado de tamanho, sinais de ede-
mopatol6gicos coincidem com aqueles das doenças ma pulmonar com áreas de consolidação e derrame pleural
a que se encontram associadas. (FIGURA 51.5).
Espondiloartrites
As espondiloartrites são doenças inflamatórias crônicas, ca-
racterizadas por dor lombar e comprometimento das articu-
lações sacroillacas, com ou sem artrite periférica. Há forte
associação com o antígeno leucocitário humano HI.A-B27.J7
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José da Silva Moreira
Nelson Porto
52
Em 1936, Wegener' identificou um tipo de angüte em
Introdução que predominavam formação de granulomas e áreas de
Kussmaul e Maier,' em 1866, descreveram a anatomia pa- necrose nos pulmões, nas vias aéreas superiores e nos rins;
tológica do que denominaram periarterite nodosa (PAN): em 1951, Churg e Strauss 5 descreveram a granulomatose
"presença de numerosas formações nodulares ao longo de alérgica, que incluía achados de asma grave e pronunciada
pequenas artérias (musculares), generalizadamente distri- eosinofilia. Zeek/ em 1952, sugeriu que todas essas lesões
buídas pelo corpo". This lesões originavam-se na camada vasculares, arteriais ou venosas, caracterizadas por necrose
média ou na advenúcia dessas artérias, e consistiam no acú- fibrinoide e inflamação envolvendo as três camadas da pa-
mulo de células inflamatórias e conjuntivas em focos de de- rede dos vasos, poderiam ser convenientemente englobadas
generação. pela designação genérica de angiites necrosantes, ficando aí
Clinicamente, o quadro caracterizava-se por manifes- incluídas - mas em separado - as angütes de hipersensibili-
tações urinárias, gastrintestinais, febre, comprometimento dade e as poliarterites.
progressivo da musculatura voluntária, ocorrendo o óbito As poliarterites, com seus achados anatomopatológicos
em um período de cinco semanas. 1 A partir dessa descrição específicos, poderiam ser sistêmicas de início (PAN clássica),
inicial, alguns outros casos semelhantes foram sendo rela- ou então iniciar pelo pulmão, generalizando-se posterior-
tados, com lesões arteriais disseminadas por todo o corpo, mente. Rose e Spencer,' todavia, mostraram em 1952 que
exceto nos pulmões e no cérebro. nem sempre as poliarterites que iniciavam pelo pulmão exi-
Mõnckeberg,Z em 1905, descreveu um caso incomum, no biam à anatomia patológica lesões típicas nesse órgão, e em
qual encontrou as lesões da PAN predominantemente nos alguns casos surgiam lesões na boca ( estomatite ou glossite)
pulmões de um paciente masculino jovem, e outro caso se- no decorrer da doença.
melhante a esse foi relatado, em 1923, por Ophüls,l em que As angiites (ou vasculites) necrosantes são, assim, proces-
também havia o envolvimento das artérias pulmonares. Es- sos clinicopatológicos caracterizados por inflamação e necro-
ses dois casos eram diferentes dos quase 70 outros de PAN se de paredes de vasos de qualquer tamanho, tipo ou locali-
até então descritos, uma vez que neles as lesões no pulmão é zação, levando a consequências que podem incluir alterações
que se mostravam proeminentes. isquêmicas dos tecidos supridos pelos vasos acometidos. Ar-
A partir de 1925, aproximadamente, o número de casos térias musculares grandes, de médio e pequeno tamanho, e
registrados de PAN aumentara muito, mas era também evi- arteriolas, vênulas, veias e capilares podem ser envolvidos.8 A
dente que o termo foi adquirindo um significado mais am- condição pode se constituir em um processo primário, ou ser
plo, englobando lesões vasculares de natureza alérgica, rea- um componente de outra situação subjacente, como doença
ções de hipersensibilidade a diversos agentes - infecciosos infecciosa, sugerido-se que a medida quantitativa de CD64
ou não - e até mesmo lesões da febre reumática. pode auxiliar na distinção entre essas duas condições.9
A deposição de imunocomplexos circulantes (formados Áreas localizadas ou difusas de consolidação também
na presença de excesso de antígeno) nas paredes dos vasos é podem ser encontradas, correspondendo à ocorrência de
atualmente considerada o principal evento imunopatológico hemorragia, infarto pulmonar ou pneumonia. À tomografia
inicial associado à maioria das sindromes que se apresentam computadorizada (TC), um maior número de lesões e de es-
sob forma de angüte. Seguem-se a ativação de vários compo- cavações é identificado, ocasionalmente podendo-se visuali-
nentes do complemento, especialmente o C5a, a infiltração zar a relação do nódulo ou da massa com a eX1remidade de
17
das paredes dos vasos por neutrófilos e a subsequente lesão um vaso sanguíneo.
delas por enzimas, como colagenase e elastase liberadas por Os sintomas respiratórios mais frequentemente encon-
esses leucócitos. trados em pacientes com granulomatose de Wegener são
A inflamação granulomatosa em tomo dos vasos sanguí- referentes às vias aéreas superiores, tosse, hemoptise, disp-
neos que ocorre em algumas das vasculites costuma envol- neia e dor torácica. Manifestações sistêmicas como astenia,
ver mecanismos de hipersensibilidade de tipo tardio, mas anorexia, perda de peso e febre encontram-se quase sempre
os imunocomplexos também podem, por si só, desencade- presentes. A identificação do c-ANCA no sangue ou no lava-
ar a formação de granulomas. '0 Thm sido mostrado que as do broncoalveolar de indivíduos com quadro clinicorradioló-
paredes dos vasos, ao mesmo tempo em que são sítios da gico compatível faz aumentar significativamente as chances
deposição dos imunocomplexos, participam de forma ativa do diagnóstico. 18
do processo inflamatório, produzindo localmente citocinas Espessamentos da mucosa ou submucosa da traqueia e
pró-inflamatórias, as quais atraem células diversas, inclusive dos brônquios podem ser detectados pela TC, com estrei-
aquelas que são envolvidas na imunidade celular. A possível tamentos dessas vias e eventual presença de calcificações.
participação de algum microrganismo na patogenia das vas- Comprometimentos pleural e ganglionar mediastinal são
culites primárias vem sendo considerada; entretanto, além infrequentes na granulomatose de Wegener. Os achados
do que se sabe sobre associações das hepatites por vírus B ou radiográficos em vias aéreas superiores são em geral os de
C com síndromes vasculíticas, permanece a especulação.' '·' 2 uma rinite com envolvimento do septo nasal cartilaginoso
e sinusite, sobretudo maxilar. Infecções secundárias dessas
estruturas comprometidas não são incomuns, principal-
~ATENÇÃO
mente por Staphylococcus aureus, ao qual tem sido impu-
tada uma participação mais estreita na própria patogenia
das lesões. '9
As angiites podem ser classificadas em grupos, de
Os achados anatomopatológicos mais encontrados em
acordo com suas características clinicopatológicas tecidos pulmonares são os de um quadro inflamatório ines-
preponderantes ou com o tamanho dos vasos envol-
pecífico de fundo; uma vasculite podendo envolver artérias,
vidos. As que mais frequentemente comprometem
veias ou capilares do septo alveolar; e inflamação granulo-
o pulmão são as vasculites de pequenos vasos as-
matosa com necrose. 20 A hemorragia alveolar que ocasio-
sociadas a anticorpo citoplasmático antineutrófilo
nalmente ocorre na granulomatose de Wegener é, em geral,
(ANCA): granulomatose de Wegener, granulomatose
indistinguível de outras hemorragias alveolares; no entanto,
de Churg-Strauss e poliangiite microscópica, cujas
em alguns casos, a presença de lesões granulomatosas e ne-
apresentações clínica e radiológica, e achados histo-
cróticas pode auxiliar na diferenciação.2 '
patológicos, em conjunto, apontam para o diagnós-
tico."·'•
~ATENÇÃO
O diagnóstico diferencial da granulomatose de
Granulomatose de Wegener Wegener deve ser feito com as outras vasculites,
A granulomatose de Wegener é uma angüte granulomatosa síndrome de Goodpasture, lúpus eritematoso sistê-
(c-ANCA associada) que, em sua apresentação plena, envol- mico, granulomatose linfomatoide, infecções prin-
ve pulmões, trato respiratório superior e rins, levando a uma cipalmente por micobactérias e fungos e neoplasia
glomerulonefrite necrosante, mostrando-se com prevalência maligna.
entre 24 e 157 casos por milhão de habitantes, em países
europeus, sendo mais frequente em mulheres brancas, com
pico de incidência entre 45 e 65 anos." ·'• Formas incomple- A associação de corticoide com ciclofosfamida constitui-
tas da doença também existem, nas quais pode faltar algum -se no tratamento de escolha utilizado em pacientes com
dos componentes. Os pulmões, todavia, quase sempre se en- granulomatose de Wegener, levando à remissão em 75% e
contram comprometidos, especialmente sob a forma de múl- melhora em 90% dos casos.= Entretanto, as recidivas são
tiplos nódulos ou massas, sem predominãncia de localização, comuns, podendo ocorrer dentro de meses ou anos após a
podendo haver escavação com paredes espessas em cerca de suspensão do fármaco citotóxico. Esquemas terapêuticos
50% das vezes (FIGURA 52.1). Entretanto, em 25% dos casos a alternativos têm sido empregados usando metotrexato, aza-
lesão pulmonar circunscrita pode ser única. tioprina, ciclosporina e imunoglobulinas, e ainda há outros
FIGURA 52.1 -+ Granulomatose de Wegener. Aspectos radiográficos. (A) Lesão tumescente em lobo superior do pulmão direito; (B) sofrendo proces·
so de necrose e alastrando·se caudal mente. Paciente masculino, 48 anos, branco, com febre, dor torácica, hemoptises, manifestações de vias aéreas
superiores (sinusopatia) e urinárias (glomerulonefrite).
sendo testados.2A Mais recentemente, em casos refratários consolidações parenquirnatosas com áreas de necrose po-
da doença, o emprego de anticorpo monoclonal, anti-CD20 dem ser observadas.29
(rituximabe), tem-se mostrado promissor.2S.26 Clinicamente, manifestações ocorrem por conta dos di-
versos sistemas envolvidos, sendo mais comuns sobretudo
as respiratórias (episódios de tosse, sibilância e dispneia,
caracterizando asma difícil), as neurológicas especialmente
Granulomatose alérgica periféricas e as cutâneas (nódulos subcutâneos em faces ex-
de Churg·Strauss tensoras dos membros, petéquias e infartos).
Os achados radiográficos nos pulmões são variáveis, com
A granulomatose alérgica de Churg-Strauss é urna síndro- baixa especificidade, podendo existir infiltrados irregulares,
me angiítica (p-ANCA associada) caracterizada por acha- áreas de consolidação sugestivas de pneumonia eosinofílica
dos de asma grave, febre e hipereosinofilia. A presença de e, por vezes, múltiplos pequenos nódulos imprecisos não
marcada eosinofilia sanguínea ou de infiltração eosinofí- escavados. Nos casos em que há hemorragia alveolar, pode
lica dos tecidos constitui condição inicial essencial para o haver um infiltrado pulmonar difuso bilateral.17 A presença
diagnóstico, o que não deixa de existir mesmo nas formas de rinite e sinusite não é incomum (FIGURA 52.3). Funcional-
limitadas ou frustas da doença.27'28 Encontram-se vasculite mente, o padrão respiratório encontrado é obstrutivo, com
de pequenas artérias e veias, necrose tecidual e formação resposta aos broncodilatadores.
de granulomas extravasculares (FIGURA 52.2). A presença O tratamento fundamenta•se no uso de conicoides e
de uma diátese alérgica parece ser um fator complementar irnunossupressores, em especial ciclofosfamida, e de fárma-
importante. No pulmão, além da infiltração eosinoffiica e cos broncodi!atadores, com os quais os sintomas se atenuam,
das alterações na mucosa brônquica compatíveis com asma, a infiltração eosinoffiica dos tecidos diminui e os útulos de
FIGURA 52.2-+ Granulomatose de Chu rg·Strauss. Achados histopatológicos de biópsia pulmonar. (A) Periarterite; (B) célula gigante; (C) granuloma.
Paciente masculino, 62 anos, com asma, sinusopatia e leucocitose (66% de eosinófilos).
AGURA 52.3-+ Granulomatose alérgica de Churg·Strauss. Lesões pulmonares bilaterais. (A) Radiografia simples; (B) TC de tórax. (C) e (O) Sinais de
rinossinusite à TC de seios paranasais. Mesmo caso da Figura 52.2.
p-ANCA se reduzem.28 A variação dos títulos desse anticor- são achados comuns nesse tipo de doença. :l().lt Os princípios
po pode ser utilizada como marcador indicativo do curso da do tratamento são semelhantes aos das demais vasculites
doença. A taxa de sobrevida em cinco anos situa-se em tomo ANCA-associadas, fundamentando-se no uso de corticoides
de 60% dos pacientes tratados com corticoides.21 Um curto e imunossupressores.
intervalo entre o inicio da asma e o sur gimento da vasculite
implica pior prognóstico, e o envolvimento cardíaco associa-
-se à maior mortalidade.
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José da Silva Moreira
Geraldo Resin Geyer
53
Bruno Hochhegger
José J. Camargo
receptores para nicotina, podendo, assim, este alcaloi- A sobrevida global, para todos os casos, situa-se hoje
de também desempenhar algum papel na patogêncse da em torno de 12 a 15%, maior do que se observava
doença. A exposição ao asbesto tem definida correlação 30 a 40 anos atrás, quando era de apenas 8%. Essa
com o surgimento de mesoteliomas em plcura e peritônio, mudança é atribu!da principalmente à evolução da
mas sabe-se, além disso, que este silicato atua como pode- tera~utica, com combinações de modalidades (ci·
roso potencializador dos agentes carcinógcnos - presentes rurgia, radioterapia e quimioterapia com fármacos
na fumaça do cigarro - na gênese do carcinoma brônquico, mais modernos), nos casos em que a neoplasia já se
aumentando em 20 a 30% o risco de desenvolvimento dessa apresenta com alguma extensão mediastinal. Os efei·
neoplasia." Estudos que levam em conta fatores de confu- tos da luta antitabagismo, como medida preventiva,
são atribuem à poluição atmosférica 3 a 7% dos casos de fazem-.s e sentir de modo mais lento, mas é provável
câncer de pulmão.12 que os beneficios também já estejam aparecendo,
O câncer de pulmão não é considerado doença genéti- pelo menos entre os Individuas do sexo masculino.
ca no sentido de expressar-se com claro padrão de herança
mendeliana, mas é sabido que- controlando-se para o hábi-
to do fumo - descendentes em primeiro grau de indivíduos Espera-se para um futuro próximo que o conjunto de
que tiveram esse tumor têm duas a três vezes mais chances medidas, como a continuidade da educaçáo antifumo, o
de tê-lo também, o que indica posslvel existência de al~ma diagnóstico de lesões em fases mais precoces e o emprego
suscet.ibilidade familiar aumentada para essa condição. l Por de novas abordagens terapêuticas com associações mais po·
outro lado, diversas lesões gênicas adquiridas se encontram tentes e específicas,11' 18 consiga controlar de forma mais efi-
presentes no DNA de células do carcinoma brOnquico em ciente a doença, diminuindo sua ocorrência e beneficiando
indivíduos expostos ao tabaco, levando à ativação de oncoge- um maior número dos já acometidos. Aguarda-se para um
14
nes dominantes e à inativação de genes supressores. pouco mais adiante que progressos na terapia gênica possam
Nos oncogenes dominantes, verificam-se mutações ser explorados e aplicados com eficácia e segurança nesta
por ponto em regiões codificadoras da famnia K-ras, par- área da oncologia.
ticularmente no adenocarcinoma. Amplificação, perda do Na atualidade, o que se tem de melhor para enfrentar
controle transericional de membros da famflia myc e hipe- a doença já presente são a busca de casos precoces, o esta-
rexpressão de bc/-2, Her-2/neu e gene da telomerase são belecimento do diagnóstico histológico, o judicioso estadia·
alterações também encontradas tanto nos carcinomas não menta e a aplicaçáo do tratamento corretamente indicado,
de pequenas células como nos de pequenas células. Tumo- tendo-se a preocupação de manter os cuidados de suporte
res não de pequenas células, em especial adcnoearcinomas, adequados para cada caso.
com mutações em genes K-ras, e de pequenas células com
amplificação de c-myc costumam apresentar-se com prog-
nóstico pior. u Nos genes supressores, ocorrem deleções
envolvendo diversas regiões cromossômicas, como llp13
Incidência
no gene rb, I 5q e 17p13 no p53, entre outras. Esses dois ge- Estima-se que, em todo o mundo, cerca de 1.500.000 casos
nes (rb e p53) encontram-se modificados em mais de 90% novos de câncer de pulmão sejam atualmente diagnosticados
dos casos de carcinomas de pequenas células, ao passo que, a cada ano, t.r ês quartos deles em homens e 30% na China e
em 50% dos carcinomas não de pequenas células, somen- nos Estados Unidos. 19;o Cerca de 85% são carcinomas não
te o p53 apresenta-se alterado (ROBLES A1 et ai., 2002). de pequenas células. Nos Estados Unidos, no ano de 2010,
A mutação em somente um dos alelos é requerida para a ocorreram 222.000 casos - 116.000 em bomens e 106.000 em
transformação maligna de oncogenes dominantes, enquan- mulheres - , correspondendo a 14,6% dos casos novos de ne-
to em genes supressores parece ser necessária a perda ho- oplasia em homens e 14,3% em mulheres, levando ao óbito
2
mozigótica.9 cerca de 72% dos acometidos.
No momento do diagnóstico, somente 20% dos pacien- O câncer de pulmão nas diversas regiões do Brasil apre-
tes com câncer de pulmão apresentam-se com doença loca- senta incidência e mortalidade semelhantes, com exceção da
lizada; em aproximadamente 25% dos casos, a neoplasia se Região Sul, onde são significativamente superiores às das
encontra também nos linfonodos regionais, e em 55% ou demais, em ambos os sexos, mas ainda inferiores ao que é
mais das vezes, o tumor já se mostra com extensão intratorá- verificado em países desenvolvidos do H emisfério Norte. O
cica maior ou com metástases à distância. Mesmo quando a número de casos novos estimados para o Brasil em 2010 foi
doença é considerada loealizada, a taxa média de sobrevida de aproximadamente 18.000 entre homens e 10.000 entre
dos pacientes, em cinco anos, fica em tomo de 50%, poden- mulheres, correspondendo a um risco estimado de 18 casos
do subir para 70% em casos muito especiais de lesões oodu- novos para cada 100.000 homens e de 10 para cada 100.000
lares periféricas pequenas (de detecção incomum). Havendo mulheres.11 Na Região Sul do Brasil, dentre todas as neo-
extensão regional, a sobrevida em cinco anos cai para menos plasias, é a que causa o maior número de óbitos entre os bo-
16 mens; nos Estados Unidos, é a primeira em ambos os sexos.
de 20%.
Classificação QUADRO 53.1 -+ Classificação histo16gica dos tumores de pulmão,
OMS
Diversas classificações do carcinoma brônquico surgiram na
literatura nas últimas décadas, e todas elas sofreram modifi-
cações à medida que novos conhecimentos foram emergin-
do, em especial no que se refere às caracterfsticas biológicas Carcinoma de células escamosas (carcinoma epidermoide)
do tumor, aos achados morfológicos e ao comportamento Papilar
frente à terapêutica. D e modo geral, entretanto, a divisão De células claras
inicial do câncer de pulmão em quatro grupos principais tem De pequenas células
sido mantida: carcinoma escamoso, carcinoma de pequenas Basaloide
células, adenocarcinoma e carcinoma de grandes células.
A classificação da Organização Mundial da Saúde Carcinoma de pequenas ci/ulas
(OMS), elaborada em bases histológicas e publicada pela Carcinoma de pequenas células combinado
primeira vez em 1967, tem sido reeditada e amplamente uti- Adenocarcinoma
lizada. O QUADRO 53.1 traz a seção de tumores pulmonares Adenocarcinoma, subtipo misto
epiteliais malignos da última edição da OMS.u Adenocarcinoma acinar
O carcinoma escamoso é o tipo histológico que tem mos- Adenocarcinoma papilar
trado ocorrência mais frequente entre os carcinomas brôn-
Carcinoma bronquioloalveolar
quicos, perfazendo, em diversas séries, 40 a 50% de todos os
Nãomucinoso
casos. O adenocarcinoma, que até há alguns anos represen-
Mucinoso
tava cerca de 20% dos cânceres de pu lmão, agora responde
Misto n~o mucinoso e mucinoso ou indeterminado
por porcentagem significativamente maior. Isso ocorre, em
Adenocarcinoma sólido com produç~o de mucina
parte, porque sua incidência está de fato aumentando, e em
Variantes
parte porque casos antes classificados como indiferenciados
de grandes células, por força de alteração de critérios com o Adenocarcinoma fetal
desenvolvimento das ferramentas de identificação, são hoje Carcinoma mutinoso ("coloide")
rotulados como adenocarcinomas. O QUADRO 53.2 mostra a Cistoadenocarconoma mucinoso
distribuição dos principais tipos histológicos encontrada em Adenocarcinoma muc•noso
uma série estudada no Sul do Brasil. Adenocarcinoma de células em anel de sinete
A precisão diagnóstica na definição do tipo histológico Adenocarcinoma de cé4ulas daras
do câncer de pulmão situa-se em tomo de 95%. Sabe-se que
Carcinoma de grandes células
tal definição nem sempre é possível, em especial quando o
Carcinoma neuroendócrino de grandes células
material enviado ao patologista for fragmento obtido por
Carcinoma neuroendócrino de grandes células combinado
biópsia, frequentemente exíguo e sofrendo a ação de arte-
Carc.inoma basaloide
fatos.l3
Carcinoma linfoepitelioma·slmile
São resum idos, a seguir, os principais aspectos dos dife-
Carcinoma de células claras
rentes tipos histológicos de carcinoma brônquico.u
O carcinoma escamoso (FIGURA 53.1) caracteriza-se por Carcinoma de grandes células com fenótipo rabdoide
massas, trabéculas e/ou pequenos aglomerados de células Carcinoma adenoescamoso
Carcinoma sarcomaroide
Carcinoma pleomótfico
Carcinoma de células fuSJformes
Carcinoma de células gigantes
Carcinossarcoma
Blastoma pulmonar
Tumor carcinoide
Típico
Atlpico
FIGURA 53.2 -+ Carcinoma de pequenas células. Células redondas com FIGURA 53.3 -+ Adenocarcinoma. Acinos formados por cflulas prismá-
núdeos densos, sem nucléolos aparentes. Citoplasma escasso ou ina- ticas polimorfas, com tliperaomatismo nuclear. Secreçjo mucosa em
parente (HE, 400x). algumas luz~ atinares. Estroma mot~ado nM!e campo (HE, 100x).
Nos carcinomas sarcomatoides, pode haver positividade
de diferentes células neoplásicas ou coexpressão de cito-
queratinas, vimentina, CEA e marcadores de músculo liso.
Há dificuldades na diferenciação com sarcomas quando um
carcinoma totalmente constituído por células fusiformes não
expressar marcadores epiteliais.
Enquanto a imuno·histoquímica costuma ter pouca utili-
dade no diagnóstico diferencial entre carcinomas escamosos
primários e metastáticos, pode ser de grande valia quando
se trata de um adenocarcinoma. Com essa finalidade, além
das diferentes combinações de resultados frente às citoque-
ratinas 7 e 20, uma série de marcadores direc:iona a investi-
gação de sítio primário de forma bastante especifica, como
FIGURA 53.4 ~ Carànoma de células gigantes. Volumosas células ana· GCDFP-15 (mama), mamoglobulina (mama), vilina (colo
plásicas. algumas gigantes. pouco coesas, com grandes núdeos vesiculo- e reto), CDX2 (colo e reto), HepPar-1 (bepatocarcinoma),
sos e pleomórficos. e núcleos proeminentes. Estroma escasso (HE. 100>1).
TIF-1 (pulmão e tireoide), WT-1 (carcinoma seroso de ová-
rio), PSA (próstata), PAP (próstata), surfactante A (pulmão)
e tireoglobulina (tireoide).
riadas, sendo exigido que o componente minoritário repre- Menos especificas, outros marcadores contribuem para
sente pelo menos 10% da massa tumoral. a pesquisa de sítio primário, principalmente quando associa-
À imuno-histoqufmica, a quase totalidade (cerca de dos a outros anticorpos, como é o caso dos receptores de
99%) dos carcinomas de células escamosas expressa citoque- estrógeno (RE) e de progesterona (RP), no diagnóstico dife-
ratinas de alto peso molecular (34betaE12) c citoqueratina rencial entre carcinoma de mama e de pulmão. RE e RP são
5 (CKS/6), e muitos expressam antlgeno carcinoembriônico expressos em cerca de dois terços dos carcinomas de mama,
(CEA) e c:itoqueratina de baixo peso molecular. Muito pou- mas raras vezes nos de pulmão.
cos são positivos para o fator 1 de transcrição da tireoide
(TfF-1), c:itoqueratina 7 (CK7), surfactanteA e marcadores
neuroendócrinos, como cromogranina e sinaptofisina.., Comportamento biológico
Cerca de 90% dos carcinomas de pequenas células são
positivos para TIF-1, até 97% são positivos para NCAM É incomum que o câncer de pulmão dê origem a algum sin-
(CD56), e a maioria expressa cromogranina, sinaptofisina toma antes de atingir 1 a 2 em de diãmetro, com peso de 1 a
e. bombesina. Menos de 10% desses carcinomas são nega- 2 gramas - quando já sofreu 30 duplicações de volume e já
tivos para todos os marcadores neuroendócrinos. A maioria cursou cerca de seis sétimos de sua evolução no hospedei-
expressa citoqueratina de baixo peso molecular e CEA. Os ro.211 Thmbém é incomum que a radiografia simples de tórax
carcinomas de pequenas células puros são negativos para o detecte antes que ele tenha 1 em de diâmetro, e é pouco
surfactante A. provável que o citologista ou o patologista tenham a chance
A maioria dos adenocarcinomas pulmonares é positiva de examinar material colhido de indivíduos assintomáticos.
para citoqueratina 7 (CK7) e negativa para citoqueratina Além disso, como não existe até agora um marcador con-
20 (CK20). Cerca de 75% são positivos para TIF-1, e um fiável indicativo da doença em evolução, é forçoso que seu
menor número expressa surfactante A. Os adenocarc:inomas diagnóstico seja quase sempre tardio, na maioria das vezes
muc:inosos, especialmente os carcinomas bronquioloalveola- quando a massa neoplásiea se encontra próxima das 40 du-
res mucinosos, apresentam perfil imuno-histoquimico diver- plicações de volume, pesando 1 kg, e já com metástases à
so dos demais adenocarcinomas, sendo muitas vezes negati- distância, as quais, quando pequenas, dificilmente são deu»
vos para TIF-1 e positivos tanto para CK7 como para CK20, ta das pelos métodos hoje disponíveis.
e 100% deles são positivos para CEA-P. Uma vez iniciada a proliferação da célula maligna, após
Para o diagnóstico de carcinoma neuroendócrino de ela ter se livrado dos mecanismos moleculares controlado-
grandes células (CNGC), é necessária a expressão de marca- res e da vigilância imunológica do hospedeiro, o aumento
dores neuroendócrinos, como cromogranina, sinaptofisina e da massa tu moral segue seu curso exponencial por longo pe-
NCAM (CD56). Um marcador positivo é suficiente, desde ríodo de tempo, até que fatores restritivos (insuficiência de
que a coloração seja nítida. Cerca de 50% dos CNGCS são estroma, falta de nutrição, morte celular) comecem também
positivos para TIF-1 e mais de 50% para CEA. Geralmente a operar, atenuando-se, então, sua velocidade de crescimen-
são negativos para 34betaE12, ao contrário de outros carci- to. Uma função gompertziana seria a forma de traduzir de
nomas oão de pequenas células. modo mais apropriado o comportamento do crescimento
Os carcinomas adenoescamosos expressam citoquerati- tu moral, cuja expressão é dada por
nas de pesos moleculares variados, incluindo CK7, mas em
geral são negativos para CK20. A positividade para TIF-1
costuma estar restrita ao componente glandular.
onde V é o tamanho do tumor em qualquer tempo t conside- tomas clínicos, apresentação radiográfica e o método a ser
rado, V0 é seu volume inicial, A e B são constantes e "e " é o escolhido para a colheita de material comprobatório depen-
número 2,71418 ..., base dos logaritmos naturais. dem em grande pane da situação central ou periférica da
Para o cálculo do tempo de duplicação de volume dos tu- neoplasia.
mores sólidos, têm sido empregadas fórmulas mais simples, O carcinoma brônquko ce~~tral manifesta-se de modo
como a de Schwanz/ 7 que exploram variações de diâmetro mais frequente por tosse, escarros he!Mticos e pneumonias
da lesão observada em radiografias efetuadas em diferentes de repetição no mesmo local, pela lesão da mucosa brõn-
momentos. A fórmula de Sehwanz é esta: quica com a estenose que acaba determinando (AGURA 53.5).
Se o paciente já era portador de algum grau de doença pul-
monar obstrutiva crônica (DPOC) - o que é frequente em
TD = t {log 2) / 3 (log 02/D1), fumantes na faixa etãria dos 50 aos 70 anos -, mudança do
caráter da tosse e surgimento ou agravamento da dispneia
são achados comuns quando surge a neoplasia. À ausculta,
onde TD é o tempo de duplicação de volume do tumor, I é o podem-se detectar sibilãncia ou roncos localizados indican-
tempo transcorrido entre duas observações, D1 é o diâmetro do o sítio da obstrução da via respiratória.
inicial eD1 é o diâmetro fmal da lesão medidos em radiogra- Radiologicamente, o tumor central costuma apresen-
fias obtidas com o mesmo grau de ampliação. tar-se corno uma massa tumescentc junto ao hilo pulmo-
O tempo médio de duplicação de volume do adenocar- nar com ou sem indícios de complicação obstrutiva, corno
cinoma é de 183 dias, do carcinoma escamoso, de 100 a 120 pneumonia e/ou atelectasia (FIGURA 53.6); às vezes, entre-
dias, do carcinoma de grandes células, de 90 a 100 dias, e do tanto, ele pode se desenvolver alastrando-se pela superficie
carcinoma de pequenas células, de 33 dias. Neoplasias com da mucosa, formando um "manguito" que diminui o lúrnen
tempos de duplicação curtos costumam ser mais agressivas. do brônquio sem contudo ocluf-lo completamente. Nes-
A ocorrência de regressão espontânea de algumas neo- te caso, a visualização à radiografia simples se torna mais
plasias sólidas, especialmente carcinoma de rim e metano- difícil, mas uma radiografia penetrada de mcdiastino, ou
ma, tem sido registrada na literatura; entretanto, em câncer em especial a tomografia, pode tornar evidente tal forma
de pulmão, este fato é muüo raro. 28 de apresentação da lesão. Os carcinomas centrais (FIGU RA
53 .7) sáo de fácil acesso à biópsia endoscópica c também,
em um número elevado de casos, têm suas células csfolia-
Diagnóstico das identificadas no escarro.
O carcinoma brônquico periférico, por ter sua origem
O carcinoma brônquico costuma ser diagnosticado "em indi- nas vias aéreas de pequeno calibre, não costuma provocar
víduos com mais de 50 anos de idade, grandes fumantes, que sintomas respiratórios significativos. Ele cresce no seio do
vêm apresentando há poucos meses ou há algumas semanas parênquima pulmonar, mostrando-se ao exame macroscópi-
sintomas torácicos, em geral acompanhados por manifesta-
ções sistêmicas, mas sem febre persistente". O diagnóstico,
sugerido por dados clmicos e indicado por achados radiográ-
ficos, deverá ser comprovado pela descoberta de células es-
foliadas (escarro, lavados ou aspirados) ou por exame histo-
patológico de fragmento da lesão obtido por biópsia através
de fibrobroncoseopia, punção transcutãnea ou por excisão.29
O exame citopatológico de escarro, usando a coloração
de Papanicolau, efetuado em três amostras adequadamente
colhidas, mostra uma sensibilidade de cerca de 65% e espe-
cificidade superior a 99%; além disso, é destituído de qual-
quer risco para o paciente. Em lesões centrais, a sensibilida-
de sobe para mais de 80%, decrescendo para menos de 50%
nos tumores periféricos do pulmão.30 O exame citológico de
espécimes colhidos por meio de punções aspirativas com
agulha de pequeno calibre (pulmonares, pleurais, ganglio-
nares, ósseas, hepáticas) tem sido cada vez mais utilizado,
devido à relativa facilidade de execução do procedimento, à
elevada correlação com a histopatologia e aos mmimos ris-
cos que acarreta. Pacientes com pequenos nódulos pulmona-
res periféricos isolados, cuja natureza neoplásica não pode
ser excluída, têm o diagnóstico geralmente estabelecido à
videotoracoseopia ou à toracotomia.J•
O câncer de pulmão pode originar-se em brônquios de
grosso calibre (pré-segmentares), em brônquios menores
mais periféricos, ou no próprio companirnento alveolar. Sin-
____
FIGURA 53.5 -+ Estenose odusiva em br6nquio pr~segmentar (seta)
com doença supurativa distai ~ obslluç~. ~ cirúrgica
...:_ .
com mamelões intracavitários, sobretudo se for de tipo es-
camoso (FIGURA 53.9). Invasões diretas, por contiguidade, da
parede torácica (FIGURA 53.1O) e do medias tino são comuns,
determinando o surgimento de manifestações como dor, dis-
fonia, síndrome de veia cava superior e paralisia frênica. A
extensão para o diafragma é menos frequente, mas quando
ocorre pode levar ao aparecimento de soluços. Um tumor pe-
riférico pode "centralizar-se", isto é, ao invadir um brônquio
de grosso calibre, comportar-se como uma lesão central.
O tumor de Pancoast (via de regra, um carcinoma não
de pequenas células) localiza-se perifericamente no extremo
terço superior do pulmão, de onde invade as estruturas con-
tíguas, configurando a sindrome de mesmo nome.31 A sin-
drome de Pancoast apresenta-se com três componentes: a)
síndrome de Tobias-Claude Bemard-Horner, decorrente de
AGURA 53.6 ~ Peça cirúrgica de pneumonectomia. Massa tumescente, invasão do simpático cervical (gânglio estrelado), exteriori-
bosselada no lobo superior do pulmão direito. Adenocarcinoma. zando-se por miose, enoftalmia e ptose palpebral do mes-
mo lado da neoplasia pulmonar; b) síndrome de Déjérine-
-Kiümpke, que se deve ao envolvimento de ramos inferiores
do plexo braquial (Tl ), provocando dor na face mediai e
co sob forma de massa grosseiramente circunscrita de con- impotência funcional do membro superior homolateral; e c)
tornos crenados, com frequência exibindo um halo de infil- erosão ou destruição de arco posterior de costela superior,
tração periférica (FIGURA 53.8). Pode apresentar-se escavado, levando à "dor no ombro" do mesmo lado da lesão pulmo-
AGURA 53.7 ~ Carcinomas brônquicos centrais. (A) De tipo escamoso, na região hilar do pulmão direito. (8) De tipo pequenas células, determinao·
do atelectasia dos lobos inferior e médio à direita e com volumosas adenopatias mediastinais.
AGURA 53.8 ~ (A) Aspecto tomográfico: tumor periférico (adenocarcinoma) no lobo superior do pulmão esquerdo. Massa grosseiramente circuns-
crita, bosselada. com halo de infiltração periférica. (B) e (Q Reconstrução: situação do tumor dentro da caixa torácica.
FIGURA 53.9 -+ úrcinoma de tipo es<:amoso, escavado, em lobo superior do pulmão direito, com paredes espessas e irregulares, e adenomegalias
paratraqueais do mesmo lado. (A) Aspectos radiográficos; (8) aspectos tomográficos.
nar (FIGURA 53.11). A síndrome de Pancoast, na maioria das altas porcentagens de cura, superiores a 60%. Assim, uma le-
vezes, se deve a câncer de pulmão; ocasionalmente, entre- são pulmonar isolada, circunscrita, com densidade de partes
tanto, ela pode ter outras causas. moles, sem calcificações em seu interior, ou que tenha sofrido
A apresentação do câncer periférico sob a forma de alguma modificação radiológica em um período de dois anos,
"nódulo isolado, ou solitário, do pulmão", com menos de deve ser ressecada, uma vez que pode tratar-se de um carcino-
3 em de diâmetro (FIGURA 53.12), reveste-se de especial in- ma brônquico em fase de maior probabilidade de cura.
teresse, pois é nesse tipo de apresentação que se observam Calcificação central ou calcificações múltiplas parecem
os melhores resultados do tratamento cirúrgico, com as mais ser critérios mais seguros de benignidade do que a inalte-
baixa especificidade na diferenciação entre malignidade e
benignidade das lesões.
Lesão pulmonar única localizada em segmento anterior
do pulmão muito provavelmente deve ser neoplásica, uma
vez que é incomum a ocorrência de lesões de outras natu-
rezas, sobretudo infecciosas, nesse segmento. Thmbém uma
lesão situada na zona "medular" do pulmão (distante de su-
perfície pleural) tem maior probabilidade de ser neoplãsica.,
pois dificilmente algum mecanismo patogênico explicaria
o surgimento de doença inflamatória sem envolver a zona
mais cortical do órgão.
O carcinoma bronquioloalveolar pode tanto apresentar-
-se como pequena lesão nodular periférica como assumir o
aspecto de extensas lesões pulmonares, uni ou bilaterais, sob
forma de consolidação alveoloductal (FIGURA 53.13), podendo
ser confundido com pneumonia.ll Achados à TC de alta re-
solução podem auxiliar na diferenciação de lesões nodulares
devidas a carcinoma bronquioloalveolar de outras lesões. 36
FIGURA 53.12 ~ Nódulo solitário de pulmão (adenocarcinoma). (A) TC com reconstrução axial; (B) TC de tórax com reconstruçAo sagital; (C) TC
locada no nódulo que tem áreas de broncograma aéreo no seu inte<ior, o que suge<e padrão de crescimento lep!dico.
sensibilidade e especificidade, como provas funcionais hepá-
ticas, ultrassonografia (sobremaneira nas lesões do abdome),
cintilografia óssea, TC e RNM, têm sido bastante utilizados,
com apreciável rendimento para demonstrar a presença
de tais lesões; todavia, a prova definitiva para a tomada da
decisão terapêutica é em geral bistopatológica. O uso mais
recente da tomografia com emissão de pósitrons (PET-CT),
que evidencia o metabolismo celular aumentado da glicose
pelas células malignas, ainda que não totalmente específico,
tem contribuído de forma significativa para o rastreamento
das metástases do câncer de pulmão.:l8
Sintomas sistêmicos como astenia, anorexia, perda de
FIGURA 53.13 -+ Carcinoma bronquioloalveolar. Extensas lesões pulmo- peso e diminuição da libido são comuns em pacientes com
nares bilaterais, de aspecto consolidativo, observando-se o achado de carcinoma brônquico. A febre, embora também de ocorrên-
"broncograma aéreo". cia comum, se deve, em geral, à complicação broncopneu -
mônica de um tumor central, não se constituindo, portanto,
em manifestação primária da neoplasia.
Metástases bemáticas do carcinoma brônquico para o
pulmão são menos frequentes do que para os outros órgãos,
mas podem ocorrer, especialmente seguindo-se invasão de
artéria pulmonar ou veia brônquica pelo tumor.
Síndromes paraneoplásicas
São conjuntos de sinais e sintomas que se manifestam à
distância de uma neoplasia da qual dependem; instalam-
-se e persistem por meio de mecanismos até o momento
pouco entendidos, e costumam desaparecer após o trata-
mento efetivo do tumor, podendo retomar com a recidiva
da doença.
As sindromes paraneoplásicas (SPNs) se apresentam em
cerca de um terço dos pacientes com câncer de pulmão (QUA-
DRO 53.3). Dentre elas, as slndromes osteoarticulares (hipo-
cratismo digital e osteoartropatia hipertrófica - OAPH) são
mais prevalentes em pacientes portadores de carcinomas
FIGURA 53.14-+ Carcinoma de pequenas células. Extenso envolvimen- escamosos ou adenocarcinomas, ao passo que as endócrino-
to ganglionar mediastinal. -metabólicas e neuromusculares ocorrem principalmente
associadas a carcinomas de pequenas células.
A síndrome de OAPH, na verdade, quase nunca é ob-
servada junto com carcinoma de pequenas células, provavel-
didas pelo tumor, e são constituídos por várias células- um
mente porque não haja tempo suficiente para que ela se de-
verdadeiro fragmento neoplásico."
senvolva.)9 Dentre todas as manifestações paraneoplásicas,
Os sintomas decorrentes do envolvimento hepático -
o bipocratismo digital é a mais registrada, verificando-se em
aumento de tamanho do órgão, irregularidade de sua super-
tomo de um quarto dos pacientes com câncer de pulmão (FI-
fície, dor e icterícia - são em geral tardios. A dor causada GURA 53.15). Já a frequência de manifestações cutâneas no
pela metástase óssea, ao contrário, costuma manifestar-se cãncer brônquico é baixa. A presença de sintoma sistêmico
precocemente, com frequência antecedendo o achado ra- e/ou de SPN costuma significar mau prognóstico.
diológico, embora raras vezes deixe de ser precedida pela Um número cada vez maior de substâncias tem sido
alteração cintilográfica. As manifestações mais comuns das identificado no tumor, no sangue circulante e nos tecidos
metástases cerebrais - perda motora, alteração de condu- de indivíduos portadores de neoplasias malignas diversas,
ta, cefaleia, convulsões - podem ser facilmente detectáveis algumas delas envolvidas na patogenia de SPNs. Tais subs-
se pesquisadas com atenção pela semiologia neurológica. tâncias poderiam, de certo modo, conferir algum grau de
O comprometimento metastático das suprarrenais, como especificidade di agnóstica ou prognóstiea quanto ao tipo de
regra unilateral, costuma ser assintomático, a não ser que tumor ao qual estão associadas. No que se refere ao câncer
haja invasão de estruturas contíguas, quando então poderá de pulmão, entretanto, tal grau de especificidade não tem
ocorrer dor. se mostrado tão significativo a ponto de criar normas que
Pelo fato de as metástases extratorácicas do cãncer de sejam conclusivas para a adoção de condutas terapêuticas;
pulmão muitas vezes não se expressarem clinicamente de todavia, pode auxiliar trazendo subsídios a outros dados
maneira tão evidente, procedimentos outros com maiores que formam o lastro para o manejo do caso.
QUADRO 53.3 ~ Síndromes paraneoplásicas associadas a câncer
de pulmão
Osteoconjuntivas
- Hipocratismo digital
- Osteoartropatia hipertrófica
Endócrino-metabólicas
- Produção ectópica de hormônio adrenocorticotrófico- ACTH
(síndrome de Cushing)
- Secreção inapropriada de hormônio antidiurético- HAO (síndrome
de Schwatz-Barter)
- Síndrome carcinoide
- Hipercalcemia
- Ginecomastia
Neuromusculares
- Encefalopatia cerebral
Degeneração cerebelar cortical
Mielopatia necrosante
Neuropatias periféricas
Miastenia-símile (síndrome de Eaton-Lambert)
Polimiosite
Cardiovasculares
- Tromboflebite migratória (síndrome de Trousseau) FIGURA 53.15 -+ Osteoartropatia hipertrófica. (A) Hipocratismo em
- Endocardite trombótica não bacteriana dedo da mão; (8) periostite embainhante (setas) em fêmur. Paciente
com adenocarcinoma periférico de pulmão.
Hematológicas
- Coagulação intravascular
- Trombocitose
- Púrpura O estado clínico do paciente, suas condições funcionais,
- Reação leucemoide
em especial cardiorrespiratórias, o tipo histológico e a exten-
- Eosinofilia
são do tumor são os fatores mais importantes para a tomada
Cut~neas da decisão terapêutica.
- Acantose negra O estado clínico do paciente pode ser avaliado segundo a
- Penfigoide opinião do médico em bom, regular ou mau, ou preferencial-
Dermatose psoriasiforme (síndrome de Basexl mente pelo uso de escalas de Karnofsky ou de Zubrod, que
Hipertricose lanuginosa adquirida traduzem a condição de desempenho (Performance Status -
Oermatomiosite PS), com implicações prognósticas (QUADRO 53.4).
Esclerodermia A cirurgia de ressecção pulmonar (lobectomia ou pneu-
Herpes zóster
monectomia) é a modalidade terapêutica de escolha para
pacientes portadores de carcinoma não de pequenas células,
alcançando índice médio de cura (sobrevida em cinco anos)
em tomo de 35% dos casos, podendo, todavia, lograr índices
Tratamento superiores a 70% em pequenas lesões nodulares. 16 Sabe-se
todavia que, no momento atual, dentro do universo de pa·
0 ATENÇÃO
cientes com câncer de pulmão, somente cerca de 20% deles
têm indicação correta de cirurgia e, destes, raros são os casos
em que a doença se encontra em fases mais precoces.
O tratamento do câncer de pulmão deve, em primei-
Aproximadamente 30 a 40% dos doentes apresentam
ro lugar, visar à cura do paciente acometido e, em
indicação de radioterapia como principal modalidade de tra-
segundo, prolongar-lhe a vida com a melhor quali-
tamento, logrando índice de cura, a partir do momento em
dade possível. O conhecimento da doença e o do-
que têm sua doença diagnosticada, entre 5 e 10%.40 Consi·
mínio das intervenções a serem utilizadas (cirurgia,
derando-se o universo dos pacientes com câncer de pulmão,
radioterapia e quimioterapia), com seus rendimentos
em tomo da metade deles já se encontra impossibilitada de
e limitações- e emprego correto em cada caso- são
se beneficiar de alguma dessas intervenções potencialmente
premissas fundamentais no manejo dessa neoplasia
curativas quando a doença é descoberta.
de morbimortalidade tão elevada.
Diversos fatores concorrem para o baixo rendimento
global do tratamento deste tumor no que diz respeito à cura
dos pacientes. Dentre eles, encontram-se o insuficiente en-
QUADRO 53.4 ~ Escala Zubrod (ECOG) para a condição de desempenho e sua correspondência (K) com a escala de Karnofsky
O Paciente apto a desempenhar todas as atividades que efetuava antes de adoecer, sem restrição (K 90·1 00).
Paciente ambulatorial, com restrição para desempenhar atividades físicas extenuantes, mas capaz de executar trabalhos leves ou de
natureza sedentária (K70-80).
Paciente ambulatorial, capaz de cuidar-se, mas incapaz de realizar qualquer outro tipo de trabalho; fica fora do leito por mais de 50% de
seu tempo de vigília (K50·60).
Paciente capaz de cuidar·se, mas com limitações; confinado ao leito por mais de 50% de seu tempo de vigília (K 50·60).
4 Paciente totalmente incapacitado, náo podendo movimentar-se por si mesmo; permanentemente confinado ao leito ou cadeira (K 10·20).
tendimento do comportamento biológico da neoplasia, as di- I-A (TINaMo) e 1-B (T2NoMo) e II-A (TlNlMo) e II-2
ficuldades para estabelecer seu diagnóstico precoce, a falta (T2N1Mo e T3NoMo) depois que foi demonstrado que a
de abrangência e especificidade dos métodos terapêuticos e expectativa de vida em cinco anos é comparável nos gru-
a idade avançada de muitos dos pacientes, frequentemente pos T2N1Mo e T3NoMo (24 e 22%, respectivamente).
portadores de outras doenças concomitantes (DPOC, car- As outras formas de T3 associadas a Nl ou N2 (T3N1Mo
diopatia, doença neurológica, etc.). Contudo, o surgimento e T3N2Mo) seguem como estágio lli·A, c os casos mais avan-
de fármacos de ação mais eficiente, e sua associação com çados, porém ainda sem metástases à distância (T4 com qual·
cirurgia e/ou radioterapia, tem trazido alguma contribuição quer N, ou N3 com qualquer T), caracterizam o estágio III-B.
para o conjunto de medidas objetivando um melhor contra· Também passou a ser incluída no estágio T4 a presença de
!e da doença. O emprego de novas estratégias, explorando nódulo neoplásico satélite no mesmo lobo.
mecanismos controladores de fatores de crescimento celular O estágio IV é formado por todas as formas de Ml (es-
e da angiogênese, associadas a modalidades já conhecidas, pecificar o local).
poderá contribuir com vantagens adicionais. Vê-se, pela estrutura da classificação TNM, a especial
importância que tem a avaliação do mediastino em pacien-
tes com carcinoma não de pequenas células, sendo o com-
Estadiamento partimento que costuma oferecer as maiores dificuldades no
O estadiamento oncológico inclui a aplicação de um con- estadiamento. Muitas vezes- após excluir-se a presença de
junto de processos diagnósticos e de conhecimentos acerca metástases extratorácicas -e em razão do que for nele en-
de comportamento, grau de evolução da neoplasia e expe· contrado, a decisão sobre o emprego ou não de tratamento
riência prévia acumulada sobre seu manejo, objetivando cirúrgico será tomada, e o prognóstico quanto à probabili-
indicar a modalidade atual de tratamento que seja a mais dade de cura do paciente poderá ser presumido. Os estu·
adequada, devendo-se levar em conta sintomas, estado dos de imagem, principalmente TC com reforço de meio de
clínico-funcional e eventuais comorbidades presentes, po· contraste (FIGURA 53.16) ou RNM, têm mostrado ser de gran-
rém mantendo-se como foco principal a probabilidade de de valia para localizar as anormalidades no mediastino, em
cura do paciente. Os critérios utilizados no estadiamento especiallinfonodos aumentados de tamanho. Esses exames,
têm sofrido modificações com o tempo, evoluindo à medida todavia, não conseguem decidir sobre a natureza da lesão -
que novos progressos diagnósticos e conquistas terapêuti· se neoplásica ou não.
cas vão surgindo. Não é incomum que adenomegalias reacionais ou infla·
No que se refere ao cãncer de pulmão, o estadiamento, matórias mediastinopulmonares coexistam com um carcino-
desde que foi instituído, sofreu algumas alterações, a última ma brônquico central (mais vezes de tipo escamoso) causando
delas ocorrendo em 2009, 41 quando foram adotadas pela In- broncopneumonia obstrutiva. A sensibilidade e a especificida·
ternational Association for Study of Lung Cancer proposi- de da TC, ao considerar como neoplásicos linfonodos com seu
ções de modificações noTe no M da classificação antcrior,'2 maior diâmetro superior a 1,5 em, não são elevadas, ficando
mais detalhadas especialmente para casos de carcinoma não em geral abaixo de 75%. Já o emprego da PET·CT aumenta
de pequenas células (QUADROS 53.5 e 53.6). Também no car- a especificidade e a sensibilidade da avaliação por imagem,
cinoma de pequenas células, antes classificado em doença com uma acurácia acima de 90%.:18 Entretanto, também esse
limitada ou extensa, tem sido empregado o mesmo sistema exame, que se baseia em metabolismo celular, pode apresen-
TNM, ainda que, na maioria das vezes, esse tipo de tumor tar resultados falso-positivos em lesões benignas com intensa
acabe sendo encaminhado para tratamento combinado qui- reação inflamatória, como linfonodos mediastinais reacionais
mioterápico e radioterápico. à pneumonia obstrutiva de um tumor central.
As modificações no sistema TNM propostas por Como o envolvimento mediastinal tem um enorme im-
Mountain em 1997 visaram atualizá-lo, criando os estágios pacto na terapêutica e no prognóstico do paciente portador
QUADRO 53.5 ~ Definições para o estadiamento do câncer de pulmão não de pequenas células (2009)
Tumor primário tn
Tx. Tumor diagnosticado pelo achado de células malignas no escarro, mas não visualizado radiológica ou endoS<opicamente.
T1 s. Carcinoma in situ.
T1. Tumor com 3 em ou menos no maior diâmetro, envolto por parênquima pulmonar ou pleura visceral, e não visualizável na endoS<opia (os
tumores superficiais, pouco invasivos, situados em brônquios calibrosos, também são classificados como T1, independentemente do tamanho).
Na proposta atual, o T1 foi desmembrado em T1 -A (até 2 em) e T1-8 (entre 2 e 3 em).
T2. Tumor com mais de 3 em no maior diâmetro, ou tumor de qualquer tamanho que invade a pleura víscera!, ou tumor situado a mais de 2 em
da carina da traqueia, ou que está associado a atelectasia ou pneumonia obstrutiva que comprometa menos que todo o pulmão. Na revisão atual
do TNM, o T2 foi dividido em dois subgrupos:
- T2a (> 3 em a S Sem ou T2 por outro fator e S 5 em).
- T2b (> 5 em a$ 7 em). Reclassificar os tumores T2 > 7 em como B .
B . Tumor de qualquer tamanho com extensão direta para parede torácica (incluindo tumor de Pancoast), diafragma, pleura mediastinal,
pericárdio, sem invasão do coração. grandes vasos, traqueia, esôfago, corpo vertebral. Tumor situado a menos de 2 em da carina da traqueia, sem
invadi·la.
Na revisão atual, o nódulo tu moral dentro do mesmo lobo, anteriormente classificado como T4, passará a ser considerado como T3.
T4. Tumor de qualquer tamanho com invasão de estrutura irressecável (media.stino, coração, grandes vasos, traqueia, esôfago, corpo vertebral ou
carina da traqueia). Os nódulos satélites em outro lobo do mesmo pulmão anteriormente classificados como M1 serão considerados como T4.
Recla.ssificar disseminação pleural (derrame pleural ou pericárdico maligno e nódulos pleurais) como M1.
T4qqNMo
Estágio 111·8
FIGURA 53.17 ~ Nódulo pulmonar justacissural à esquerda (A) com captação na PET.(T (B) e em três gânglios mediastinais (SUV 7.5). Mediastinos-
copia cervical: adenocarcinoma (T2N2).
prometimento do figado e de suprarrenal (normalmente uni- com maior sensibilidade para pequenas lesões (FIGURA 53.20),
lateral) em geral não causa manifestações clínicas sugestivas sobremaneira se empregando contraste com gadolfnio, não
de sua localização. Em todos esses locais, todavia, há indica- parece oferecer vantagens significativas em relação à tomo-
ção de estudo por imagem (cintilografia óssea, ecografia ou grafia, mas seu uso nesse tipo de investigação tem aumenta-
TC de abdome, TC ou RNM do crânio), especialmente em do de forma progressiva.
pacientes candidatos à cirurgia de ressecção pulmonar. As metástases hepáticas, em geral também múltiplas,
Lesão em suprarrenal com diâmetro maior do que 3 em mais comumente se manifestam do ponto de vista clínico por
pode indicar a presença de metástase, pois os adenomas des- um aumento de tamanho do fígado, porém tornam-se evi-
sa glândula- que podem ocorrer em até 9% da população dentes pelo uso da TC (FIGURA 53.20).
geral - não costumam ultrapassar esse tamanho. Moderna- A ressonância magnética de corpo inteiro pode auxiliar
mente, a PET-CT é considerada o método de eleição para na busca de metástases (FIGURA 53.21).
identificação de metástases adrenais (FIGURA 53.18). As metástases ósseas do carcinoma brônquico em geral
As metástases cerebrais do câncer de pulmão geralmente causam dor e, ao exame radiográfico, na maioria das vezes
são múltiplas e sintomáticas, mas podem ser silenciosas em são osteolfticas. O esqueleto do tronco é o mais envolvido
até cerca de 10% dos casos, ou mesmo solitárias. A TC com (coluna, costelas, bacia). A cintilografJa óssea (FIGURA 53.22)
reforço de contraste tem sido o método mais empregado faz um mapeamento do envolvimento do esqueleto, mas não
na busca dessas metástases (FIGURA 53.19). A RNM, embora é absolutamente específica para lesão neoplásica, podendo
mostrar-se anormal em doenças benignas. A PET-CT pode
fornecer subsídios no sentido de melhorar a especificidade
da investigação.
Indicações terapêuticas
A cirurgia de resseoção pulmonar é formalmente indicada
em pacientes portadores de carcinoma não de pequenas
células, nos estádios I a llla (ou seja, sem extensão me-
diastinal ou parietal), e que se encontram em boas condi-
ções clínico-funcionais para suportá-la. O preceito básico
da cirurgia é a retirada completa da doença com máxima
preservação da função do órgão. Prefere-se, assim, efetu-
ar a lobectomia; não sendo ela possível, em razão da ex-
tensão ou localização da lesão, opta-se pela pneumonec-
tomia. Naqueles pacientes com baixa reserva funcional
(volume expiratório forçado no primeiro segundo- VEF1
< 1,5 L), em geral mais idosos, ressecções menores de
lesões pequenas podem ser feitas, ainda com bons resul-
tados. Com o desenvolvimento da cirurgia videoassistida,
lesões periféricas circunscritas (T,N0) tém sido excisadas
FIGURA 53.18 ~ Adenocarcinoma de 6 em do lobo superior direito
por meio de ressecção em cunha ou mesmo por segmen-
(SUV 12.5) com metástase volumosa e aparentemente isolada em adre-
nal homolateral (SUV 1t .0).
tectomias. Tal procedimento, iniciado no final dos anos de
1990, e visto nos seus primórdios com alguma desconfiao-
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54
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Introdução sem crescimento autônomo. Trata-se, portanto, de malfor-
Excetuando-se o carcinoma brônquico, os outros tumores mação tumoroide, que só cresce enquanto o individuo bioló-
representam apenas 10% das neoplasias pulmonares e cons- gico portador da lesão crescer. Chamar um condroadenoma
tituem variada e complexa gama de lesões com grande diver- de hamartoma constitui, portanto, erro conceitual, pois em
sidade de manifestações clínicas, mas comportamento quase verdade se trata de neoplasia genuína, e não uma malforma-
permanentemente benigno. ção tumoroide.
Quando de localização endobrônquica, central, apresen- O condroadenoma é, verdadeiramente, um tumor misto,
tam sintomas sugestivos de infecção respiratória renitente e constituído por elementos próprios do pulmão, com cresci-
reeidivante, característicos da chamada sfndrome de obstrução mento autônomo e continuado, de surgimento mais frequen-
brônquica. O crescimento lento de uma lesão tumoral em um te na sexta década de vida, desconhecido na Jactância e com
brônquio de grande calibre provoca, a principio, pouca reper- apenas três casos referidos na infãncia, e que tem sido diag-
cussão clfnica; entretanto, a dificuldade crescente na remoção nosticado em pacientes com radiografias prévias normais.
de secreções favorece infecções locais repetidas que resultam Willis,1 ao preferir considerá-lo um tumor misto da parede
em broncopneumonias obstrutivas, bronquiectasias e absces- brônquica, acentuou seu caráter neoplásico, e Adams,l ao
sos que representam, junto com a atelectasia, etapas evolutivas chamá-lo de condroadenorna, deu o nome apropriado a essa
dessa slndrome que pode culminar na destruição do parênqui- lesão. Por outro lado, a malformação adenomatoidoclstica
ma pulmonar a jusante da referida broncostenose. parece representar o melhor equivalente pulmonar da lesão
Algumas vezes, a ocorrência de sangramento, devido ao inicialmente descrita por Albrecht' no figado e rim, e por ele
pânico que suscita, ou ocasionalmente o surgimento de si- denominada hamartoma.
bilância localizada ou a queixa de tosse irritativa conduzem O condroadenoma representa cerca de 8% dos nódulos
a uma investigação mais acurada, permitindo o reconheci- pulmonares solitários e é o tumor benigno de pulmão mais
mento precoce da lesão, com possibilidades de terapêuticas frequente. Em aproximadamente 90% dos casos, a lesão
cirúrgicas mais conservadoras. é intrapulmonar, apresentando-se à radiologia como um
nódulo cortical, quase sempre assintomático. A lesão en-
dobrônquica que representa menos de 10% dos casos res-
Condroadenoma (hamartoma, tantes seria, segundo alguns, um condroma com inclusão
epitelial. A presença de condroadenoma endobrônquico é
hamartoma condromatoso} uma situação rara,' mas tivemos a oportunidade de operar
O termo "hamartoma" foi empregado pela primeira vez por três casos nos últimos anos, dois dos quais tratados com res-
Albrecht,' em 1904, para descrever uma lesão localizada, secção e broncoplastia, e outro com lobectomia.
Na maior parte das vezes, o condroadenoma se apresen- fundamental para que se proceda à manobra de enucleação
ta à radiologia como um nódulo periférico, arredondado ou do tumor e se evite uma ressecção pulmonar mais extensa e
levemente ovoide, de limites precisos, com leve bosselamen- desnecessária. Atualmente, a ressecção é procedida por vi-
to, sem micronódulos satélites, contendo calcificações em deotoracoscopia na maioria dos casos.
cerca de um terço dos casos e sem indicio de infiltração dos Há relatos de malignização a partir de condroadeno-
brônquios adjacentes. Na série de Bateson eAbbott,S apenas mas,' o que tem levado alguns a sugerirem ressecções mais
18% das lesões tinham mais de 5 em de diâmetro, e a pre- radicais nesses tumores, porém tais relatos são tão anedóti-
sença de calcificação foi nitidamente mais frequente a partir cos que essa recomendação não vem encontrando respaldo
de 3 em de diâmetro, ocorrendo em 75% das lesões maiores na literatura.
do que4,5 em. Essas calcificações são típicas e classicamente Por outro lado, uma série europeia que revisou 65 pa-
descritas como calcificações "pipoca símile" (FIGURA 54.1). cientes operados,8 a maioria dos quais tratados com enucle-
A confirmação diagnóstica sem toracotomia, naqueles ação, e os comparou com um grupo-controle da mesma faixa
casos em que o tratamento cirúrgico é considerado desa- etária, verificou que a probabilidade de desenvolvimento de
conselhável ou de risco proibitivo, pode ser obtida pela to- carcinoma neste grupo é maior do que na população geral.
mografia de alta resolução, que revela uma lesão de limites Esses autores recomendaram que os pacientes operados de
precisos e com densidade heterogênea atribuível ao compo- condroadenoma sejam acompanhados a longo prazo.
nente lipídico desses tumores. Entretanto, a maior série da literatura de uma única ins-
A importância da comprovação diagnóstica pré-decisão tituição,9que descreveu 215 pacientes operados em 17 anos,
terapêutica por meio da biópsia ou de achados da tomogra- mostrou uma relação homem:mulher de 2:1, com predomínio
fia computadorizada (TC) tem sido exaltada por autores que de idade na sétima década, e a maioria absoluta (208 pacien-
defendem uma atitude conservadora nesses tumores, sobre- tes) era assintomática e foi encaminhada para tratamento ci-
tudo quando menores do que 2,5 em, como recomendam rúrgico de provável carcinoma brônquico. O tamanho médio
Siegelman e colaboradores.• das lesões foi de 1,5 em (variando de 0,2 a 6,0 em). Sessenta e
O risco potencial de malignização sugerido por alguns três pacientes (29,3%) tinham uma neoplasia concomitante,
autores e principalmente o crescimento continuado desses geralmente um carcinoma brônquico, cujo tratamento cirúr-
tumores, tantas vezes documentado, têm mantido a indica- gico permitiu acesso a um nódulo pulmonar associado que se
ção cirúrgica como a melhor opção terapêutica. A exérese comprovou tratar-se de um condroadenoma. Esses autores
é na maioria dos casos feita por enucleação, ficando a res- não encontraram casos de malignização de condroadenoma.
secção como alternativa muito esporádica para as lesões si-
tuadas mais profundamente no parênquima pulmonar. Nos
poucos casos em que o diagnóstico pré-operatório não foi
cogitado, a palpação de um nódulo de consistência pétrea
Adenomas brônquicos
deve alertar o cirurgião para a possibilidade de condroade- Esta denominação abrange neoplasia de origem e apresen-
noma. Essa cogitação diagnóstica durante o ato cirúrgico é tação as mais diversas, de comportamento menos agressivo
FIGURA 54.4 ~ (A) Tomografia comput adorizada helicoidal ilustrando a oclusão do brônquio princ.ipal direito por massa polilobada. (B) Esquema
da ressecção que incluiu a carinectomia com anastomose do brônquio direito na traqueia distai e o implante do brônquio esquerdo no brônquio
intermediário. (Q A tomografia helicoidal pós-operatória mostra a reconstrução da via aérea central.
Forces Institute of Pathology,19 foram avaliados 41 pacientes
Tumor mucoepidermoide com tumor de baixo grau e 13 pacientes com tumor de alto
Sua localização preferencial assemelha-se à do tumor carci- grau, com sobrevidas em cinco anos de 95% no primeiro gru-
noide. A história clínica arrastada, a presença de uma lesão po e 69% no segundo. A terapêutica cirúrgica é a de eleição.
brônquica de superficie lisa, endoscopicamente semelhante
ao tumor carcinoide, e um laudo anatomopatológico equivo-
cado de carcinoma epidermoide constituem um relato fre-
quente em casos desse tumor. Adenoma de glândulas mucosas
O carcinoma mucoepidermoide é uma neoplasia rara brônquicas
que representa O,1 a 0,2% de todos os tumores do pulmão.
Ocorre em geral na quinta década de vida, embora já tenha É o mais raro dos adenomas brônquicos, com apenas 25 ca-
sido descrito em pacientes com 10 a 75 anos de idade, e não sos relatados na literatura até 1988, e tem origem nas glân-
apresenta predileção por gênero. dulas mucosas brônquicas. Mantém-se confinado à parede
Sua etiologia é indeterminada, mas supõe-se que es- brônquica, sem ultrapassar a camada cartilaginosa ou provo-
ses tumores sejam originados das glândulas brônquicas. car erosões na mucosa que o reveste. Desprovida da capaci-
Os locais mais acometidos são os brônquios principais e a dade de metastatizar, essa lesão é considerada o verdadeiro
traqueia. Histologicamente, são compostos de células esca- adenoma brônquico e passível de tratamento cirúrgico cura·
mosas, mucosas e intermediárias e, dependendo do índice tivo. Dos 25 casos relatados, 23 situavam-se em brônquios
mitótico e do pleomorfismo nuclear, classificados em alto pré-segmentares, um envolvia a traqueia e um tinha locali-
e baixo grau. Os tumores de baixo grau apresentam grande zação periférica. A ressecção é a mais econômica possível,
número de células mucosas, enquanto naqueles de alto grau devendo, se factível, restringir-se à broncotomia. A possibi-
a proporção de células escamosas é maior. lidade de ressecção endoscópica, com ou sem a utilização de
Nos 29 casos relatados por Reichle e Rosemond,' 8 em raios laser, deve ser cogitada nos casos em que não houver
1966, 20 tumores estavam localizados em brônquios lobares, doença supurativa associada.
oito em brônquios principais e em um caso a lesão compro-
metia a porção dista! da traqueia. A experiência de nosso
serviço é de 10 pacientes, todos com tumores situados em
brônquios lobares. Pneumonectomia (duas), lobectomia
Granuloma de células plasmáticas
convencional (três) e lobectomia com broncoplastia (cinco) A denominação granuloma de células plasmáticas, sugerida
foram os procedimentos cirúrgicos empregados nesses 10 ca- por Lane e colaboradores20 em 1955 e definida por Liebow' 1
sos (FIGURA 54.5). em 1973, pretende substituir a de pseudotumor inflamató-
A maioria dos tumores é de baixa malignidade, e a pre- rio ou de tumor pós-inflamatório. Essa lesão é constituída
visão do comportamento biológico dessa neoplasia depende por uma proliferação localizada, composta predominante-
do grau de diferenciação hlstológica. Nos tumores bem dife- mente por células plasmáticas maduras, com corpúsculos de
renciados (low grade), o prognóstico é tão bom quanto o do Russel, células reticuloendoteliais e formas intermediárias e
tumor carcinoide típico. sustentada por um estroma de tecido de granulação. Outros
Com relação aos indices de sobrevida, na série da Mayo elementos celulares, incluindo linfócitos e células mononu-
Clinic com um total de 12 pacientes, a sobrevida em 5 e 10 cleares grandes, podem estar presentes e coexistir com as
anos foi de 56% e 43%, respectivamente. Na série do Armed células plasmát icas. As células mononucleares grandes po-
FIGURA 54.5 ~ (A) Tomografia computadorizada de tórax mostrando lesão obstrutiva do brônquio loba r superior esquerdo. (B) Tomografia helicoi-
dal evidenciando invasão das estruturas hilares que determinaram a necessidade de pneumonectomia (T3NoMo).
dem apresentar abundante componente citoplasmático de seis, ressecção de parede em dois, segmentectomia em um e
gordura, donde a denominação xantoma ou fibroxantoma, bilobectomia em um. A sobrevida em cinco anos foi de 91 %.
utilizada por alguns. Houve recidiva em três dos cinco pacientes com ressecção
As clCpressões tumor pós-inflamatório ou pseudotumor incompleta e dois desses tiveram nova ressecção e curaram.
inflamatório do pulmão são ambíguas ou abrangentes, refe- Um relato de Bando e colaboradores23 descreveu a in-
rindo-se ora ao granuloma de células plasmáticas isoladamen- teressante experiência do uso de corticoide (prednisona,
te, ora ao conjunto desta lesão, do hemangioma esclerosante 30 mg!dia) com resposta completa e sem recidiva em dois
e do pscudolinfoma. Tal inconveniente ditou o abandono des- pacientes que tinham o diagnóstico prévio confirmado por
sas expressões para categorização diagnóstica mais precisa. biópsia. Embora tal indicação não tenha ainda recebido con-
Essas lesões são em geral assintomáücas ou acompa- firmação na literatura, ela se anuncia como uma alternativa
nhadas de história clinica bastante inexpressiva. Na maioria em tumores irressecáveis e nas recidivas.
dos casos, são reconhecidas casualmente como nódulos ou
massas pulmonares isoladas, periféricas, circunscritas. Em
pequeno percentual de casos, apresentam-se como lesões
infiltraüvas imprecisas ou com nódulos satélites, ou como
Hemangioma esclerosante
lesões polipoides intrabrônquicas associadas então a quadro Este é um tumor benigno raro, descrito por Liebow e Hub-
clinico de obstrução brônquica. Raras vezes apresentam cal- bell,'" e se apresenta como uma lesão circunscrita, redonda
cificações granulares. ou ovoide, comprometendo em geral mulheres de meia-ida-
São lesões estáücas ou de crescimento muito lento, diag- de, assintomáticas. Na série de Sugio, de 1992, representou
nosticadas em pacientes de 11 meses a 65 anos de idade, com o segundo tumor benigno mais frequente, depois do condro-
mais de dois terços dos casos reconhecidos antes dos 30 anos adenoma. As lesões têm entre 1,3 e 8 em de diãmetro e po-
c que constituem destacada hipótese no diagnóstico diferen- dem exibir calcificações. Na série de Im e colaboradores, de
cial de massas pulmonares em crianças. Essa entidade é duas 1994, de oito pacientes revisados e que tiveram os elementos
vezes mais comum em mulheres. da TC relacionados com os achados cirúrgicos, sete eram
A estabilidade radiológica de uma lesão circunscrita e a mulheres, todas assintomáticas, sendo os tumores achados
cura com a exérese cirúrgica - aliadas ao achado anatomo- radiológicos casuais. Segundo esses autores, uma massa justa
patológico de fibrose de permeio com uma celularidade sem pleural bem definida, com marcado acréscimo de densidade
mitoses - reforçam a hipótese de que essa lesão seria mais depois da injeção de contraste na TC, e que mostra áreas de
um granuloma reparativo ou uma cicatriz de um processo baixa atenuação adjacentes a focos de calcificação, represen-
infeccioso prévio do que neoplasia verdadeira. Muitas vezes, ta o modelo de diagnóstico na TC de tórax, especialmente
no entanto, não há o antecedente de infecção pulmonar pré- quando encontrada em mulheres assintomáücas.
via que pudesse explicar o surgimento ulterior de tal lesão. Segundo estudos imuno-histoquimicos, a célula de ori-
O tratamento é cirúrgico, com ressecções tão econômi- gem seria uma célula epitelial respiratória primitiva, e não
cas quanto possível, em geral seguidas de cura, sem recidi- uma célula mesenquimal. Por essa razão, talvez esse tumor
vas. Raramente tem sido descrita invasão do mediastino ou devesse ser chamado, mais adequadamente, de plasmocito-
da coluna vertebral e, por vezes, o surgimento de uma lesão ma alveolar. O tratamento cirúrgico é curativo.
semelhante homo ou contralateral em pacientes tratados
com cirurgia. Nossa experiência é constituída por 11 casos,
em pacientes com 4 a 45 anos, todos tratados por cirurgia.
Em um dos casos, a lesão compromeüa apenas a pleura, ten- Tumores de origem mesenquimal
do sido removida por descorticação e de inicio considerada São tumores em geral benignos e raríssimos.
um neurofibrossarcoma, um equívoco anatomopatológico
suscitado pela semelhança histológica com tumores dessa li-
nhagem. Outro caso foi diagnosticado em um paciente de 33 Fibroma
anos, portador de grande massa periférica do lobo superior São tumores mesenquimais menos raros, benignos, ainda
esquerdo, tratado por lobectomia. que a diferenciação maligna possa ocorrer ( fibrossarco-
Os demais casos eram adultos jovens com massas pulmo- ma). Na maioria dos casos, localizam-se nas paredes dos
nares irregulares, sem adenopatias regionais ou envolvimen- brônquios ou da lraqueia, onde podem dar todos os sinais e
to brônquico. sintomas resultantes da broncostenose. Podem, no entanto,
Um paciente apresentou lesão contralateral dois anos situar-se na periferia do pulmão, onde se apresentam como
depois da primeira ressecção. A segunda lesão foi tratada nódulos sem caracterlsticas radiológicas peculiares, ou ainda
por segrnentectomia e o paciente permanece bem 20 anos na superflcie pleural (mesotelioma fibroso), dificultando a
depois. determinação exata do local de origem. Em alguns casos, a
Em uma revisão da Mayo Cliniczz de 23 pacientes com lesão endobrônquica tem sido tratada com êxito por meio de
pseudotumor inflamatório, seis pacientes tinham menos de ressecção endoscópica, mas via de regra a exérese cirúrgica é
18 anos de idade (26%). Ressecção em cunha foi realizada exigida, seja por broncotomia, seja pela ressecção pulmonar
em sete pacientes, lobectomia em seis, pneumonectomia em econômica.
Tem sido descrita a presença de condrossarcoma no
Neurilemoma
pulmão. Nos tumores de localização parenquimatosa, há
O neurilemoma traqueal é uma neoplasia benigna deriva-
disseminação precoce, enquanto nos de localização endo-
da das células de Schwann, podendo ser também chama-
brônquica, ocorre uma propagação local por continuidade,
do de schwanoma. Costuma acometer o terço inferior da
à semelhança do condrossarcoma da laringe.
traqueia, de aspecto séssil ou pcdunculado, geralmente
encapsulado. O schwanoma representa 2,2% dos tumores
benignos de vias aéreas, havendo somente 29 casos na li- Lipoma
teratura até 1983. Na maioria dos casos, acomete homens Embora possa ocorrer em situação subpleural, este tumor,
com menos de 50 anos. muito raro, é de localização geralmente endobrônquica, com
O tratamento clássico consiste na ressecção do segmento os sinais clínicos decorrentes de eventual obstrução. É lesão
de via aérea que serviu de pé de implantação da lesão, com de crescimento lento, que compromete mais os homens do
margem econômica, considerando-se a benignidade da lesão que as mulheres, na proporção de 5:1. Com origem no tecido
(RGURA 54.6). gorduroso em geral presente na parede brônquica, é tumor
O tratamento endoscópico já foi descrito com sucesso praticamente avascular, podendo ser tratado com resseoção
em algumas séries de casos, embora haja risco de recidiva endoscópica. O uso de laser nesses casos representa uma ex-
local.s. 26 celente indicação.
27
Uma revisão mais recente descreve a experiência com
16 pacientes, 14 dos quais do sexo masculino. Na maioria
Condroma dos casos (14 de 16), os tumores eram brônquicos centrais e
É neoplasia rara, constituída exclusivamente de cartilagem foram tratados com ressecção endoscópica a laser. Apenas as
madura revestida por epitélio sem os outros elementos da lesões periféricas foram operadas por via convencional. Os
parede brônquica. Os condromas verdadeiros são tumo- autores concluem que a ressecção endoscópica é o método
res muitas vezes diagnosticados como condroadenomas de tratamento recomendado, com exceção dos tumores peri-
(hamartomas) de localização brônquica central. O estudo féricos, os que se acompanham de destruição do parênquima
microscópico cuidadoso das peças cirúrgicas pode surpre- por supuração crônica, os que apresentam extensão extra-
27
ender uma conexão entre os elementos brônquicos contidos brônquica e aqueles em que há suspeita de malignidade.
no tumor e o epitélio que o reveste, caracterizando uma in- O envolvimento traqueal pode ocorrer, e nesses casos o
clusão epitelial. Confirmada tal ideia, os condroadenomas crescimento lento da lesão tem favorecido o equívoco diag-
seriam tumores de localização exclusivamente periférica. nóstico de asma brônquica, ainda que nos tumores traqueais
Os condromas se localizam em brônquios de grande ca- a ausculta de sibilos e roncos predominem na região ester-
libre, e os sintomas dependem da presença ou não de bron- na!, ao contrário da asma, cuja sibilância predomina na pe-
costenose. riferia. Um de nossos pacientes foi tratado como asmático
Um de nossos casos, uma paciente de 26 anos, com tosse durante meses antes do diagnóstico correto (FIGURA 54.7).
crônica, apresentava uma lesão nodular, de bordas bem defi- Outro caso diagnosticado em nosso serviço era - con-
nidas, no lobo inferior, tratada com lobectomia. trariando a probabilidade estatística - o de uma mulher de
RGURA 54.6 ~ (A) Corte tomográfko da ttaqueia na ttansição cervicomediastinal mostrando uma obstrução de cerca de 90% da luz ltaqueal por
uma lesão tu moral. O resu1tado da biópsia evidenoou schwanorna. (8) Peça da ressecção cirúrgica incluindo um anel traqueal que representava a
base de implantação do tumor na membranosa.
AGURA 54.7 7 (A) A tomografia computadorizada mostra lesão intratraqueal com densidade de gordura e extensão mediastinal. (B) Peça operatória
com segmento de traqueia contendo o lipoma que determinava suboclusão da luz, e uma grande extensão extratraqueal do tumor.
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Ana luiza Moreira
lilian Rech Pasin
55
Rodrigo Moreira Bello
José da Silva Moreira
Iam.'tn~M1.n%1iiit. !J
- Cirurgia abdominal ou pélvica de grande porte - Doenças cardíacas congênitas
- Prótese de quadril ou joelho - Insuficiência cardíaca congestiva
- Necessidade de unidade de terapia intensiva no pós~peratório - Idade
- Politraumatismo/trauma medular - Tromboflebite superficiaVvarizes
- Cateter venoso central
- Gravidez a termo
- Parto cesáreo - Anticoncepcional oral
- Puerpério - Terapia de reposição hormonal
- fratura com paralisia de membros - Heterozigose para fator V de Leiden
- Acidente vascular cerebral com paralisia de membros - Heterozigose para mutação do gene da protrombina
- Hiper-homocisteinemia
- Neoplasia abdominal ou pélvica
- Doença avançadalmetastática - Exacerbação de doença pulmonar obstrutiva crônica (OPOC)
- Quimioterapia - Deficiências neurológicas
- Doença maligna oculta
- Hospitalização - Viagens prolongadas
- lnstitucionalização
- Obesidade
Deficiência de antitrombina - Cirurgia por laparoscopía (p. ex., colecistectomía)
- Deficiência de proteína C
- Deficiência de proteína S
- Síndrome antifosfolipídeo
- Homozigose para fator V de leiden
- Homozigose para mutação do gene da protrombina
- Evento embólico prévio
órgão (vascularização arterial dupla e via aérea). Aparen- metimento do fluxo arterial brônquico ou da permeabili-
temente, é necessário que duas das três fontes estejam dade da via aérea.
comprometidas antes que o infarto se desenvolva. Ocorre A completa resolução é incomum, e cerca de 50% dos
em cerca de 20% dos pacientes com doença cardíaca ou pacientes apresentam alguma obstrução residual após seis
pulmonar significativa, sobretudo naqueles com compro- meses do evento embóiioo.'
Diagnóstico I
Suspeita de TEP (sem
O diagnóstico baseia-se no grau de suspeição clínica e na choq ue ou hipotensão)
prevalência dos achados de várias séries de casos de TEP
(TABElA 55.1).
Dortoráciu 74% 59% 47% 49% preende o grande passo para tal diagnóstico. A suspeita de
TEP deve ser levantada frente às seguintes situações:
Tosse 53% 43% 43% 20%
• Sintomas torácicos agudos na presença de fatores de ris-
Hemoptise 30% 16% 6% 7%
co para TEV atual ou prévio: sincope, TEP prévio, pós-
Estertores 58% 55% 21% -operatório, periparto ou puerpério.
crepitantes • Politraumatismo ou doenças graves.
• Taquiarritmias súbitas e inexplicáveis (principalmente se
Edema em 31% 29% associadas a fatores de risco para TEV).
membros • Arritmias crônicas com descompensação súbita da
inferiores doença de base.
Dor em 27% 23%
membros
inferiores ' Se a sensibilidade do teste 0 -dfmeros ror moderada, seu uso deve
ser restrito a pacientes com baixa probabilidade clínica. 1Cm uso li-
Febre 13% 7% 2% mitado em pacientes internados com suspeita de TEP.
" Se a TC não ror multidetectores e o resultado ror negativo, uma
Fontt: Adaptada do Ttn•·filho • Mtnno·Barrtto,• StM,' Stt1n t colobo<odores,' eoografia de membros inferiores deve ser realiuda para excluir o
Goldhober • colabo<odom.' Tht I'IOPEO lnves~~on.,. diagnóstico com segurança.
Possibilidade imediata de
realizar a angiotomografia
Não Sim
l l
r
Sem disfunção
Ecocardiograma
1
Com disfunção
r
Positiva
Angiotomografta
1
Negativa
l Procurar outra
causa
Com possibilidadê de
angiotomografia e
paciente estabilizado
Resvltado
Positivo
L Ttomb61ise ou
endarterectomia
~m possibilidade* ou
instabilidade
• Exacerbação de DPOC ou insuficiência cardíaca sem fa- Quanto à TVP, menos da metade dos pacientes com a
tor desencadeador aparente. doença apresentam sintomas. Em casos de TVP proximal
• Parada cardiorrespiratória. sintomática, cerca de 50% dos pacientes têm TEP assinto-
mático, definido somente em exames de imagem.8 Febre é
A tríade descrita - dispneia, dor torácica e hemoptise - um sinal comumente encontrado em pacientes que apresen-
está presente em 20% dos pacientes. O sintoma mais fre- tam infarto pulmonar, como os portadores de doença car-
quentemente associado ao TEP é a dispneia de início súbito. díaca prévia, sobretudo naqueles que apresentam insuficiên-
O sinal, a taquipneia inexplicada, é encontrado em cerca de cia cardíaca. 1
70% dos pacientes com embolia.' A presença de síncope, Pela dificuldade que cerca o diagnóstico de EP, instru-
cianose e hipoxemia costuma indicar TEP extenso.'.s mentos com escores/pontuações foram criados e incorpo-
rados para facilitar decisões iniciais e em emergências, os
quais, conforme probabilidades pré-teste, possibilitam a es-
•Sem possibilidade de realizar angiotomografia, ecografia de mem- tratificação dos riscos e contribuem indicando o manejo. O
bros inferiores ou ccocardiograma transcsofágioo. escore de Wells é um exemplo (TABELA 55.2).
TABELA 55.2 -+ Critérios de Wells ser complementados com exame ecocardiográfico para
afastar rusfunção de VD. São comumente utilizados na
estratificação de risco de pacientes com TEP estabeleci-
do (QUADRO 55.3).
• D -dimeros. As evidências indicam que as análises de D-
Sinaise sintomas de TVP -dfmeros - especialmente dosados por EUSA - têm um
papel importante na exclusão de TEP (pelo alto VPN)
Outro diagnóstico~ menos provável que TEP
e que, por outro lado, níveis elevados de D-dfmeros
Frequfnda cardíaca > 100 bpm 1,5 não corroboram a presença de 1EP (especificidade bai-
xa- entre 30 e 40%). São frequentemente encontrados
lmobdização ou cirurgia nas últimas quatro ~manas 1,5 em pacientes hospitalizados (costumam elevar-se em
eventos obstétricos, doença vascular periférica, câncer,
Episódios prNios de TtV (TVP ou TEP) 1,5
doença inflamatória e com o aumento da idade). Um
Hemop~~ 1,0 teste negativo (de alta sensibilidade) exclui TEP em pa-
cientes com probabilidade clínica baixa a intermediária,
Oncet (em tratamento, tratamento nos últimos ~is 1,0 enquanto testes de sensibilidade moderada somente ex-
meses ou sob cuidados pafiativos) cluem a doença em pacientes com baixa probabilidade
clinica. Embora tal estratégia seja recomendada por vá-
eROBASILIDADE CLfNICA
rias diretrizes, os médicos costumam ser muito influen-
BAIXA 0- 2 ciados por um resultado normal desse exame. Quando
não se leva a probabilidade clínica em consideração e
INTERMEDIÁRIA 3-6 confia-se somente nesse teste, corre-se um risco inaceitá-
vel. Em trabalho recente, demonstrou-se que, se os nlveis
ALTA ~6 de D -dímeros são normais, no seguimento de pacientes
ffi®ABILIDAPE PJCOIÓMICA que completaram o Lratamento com anticoagulação, a
ESC.Q&E
possibilidade de recorrência de TEV é incomum.' ·"
TEP improv~vel S4 • Eletrocardiograma (ECG). As alterações no ECG não
são específicas para TEP. O maior valor é no diagnóstico
TEPprov~ >4 diferencial com outras condições, como infarto agudo do
miocârdio e pericarrute. As alterações mais específicas
Fontt. Adopto.U de W.ls • colaboradores."
na EP são aquelas em que estão presentes sinais da so-
brecarga aguda do VD {bloqueio do ramo direito, desvio
do eixo elétrico para a direita, padrão S1Q3T3 e a inver-
Testes diagnósticos e exames são da onda T nas derivações precordiais de Vl a V4).
Pode ser encontrada apenas taquicardia sinusal, conside-
complementares rada a alteração mais frequente. Arritrias atriais, como
• Hemograma (para excluir outras causas de taquicardia flutter e fibrilação, são mais comuns em pacientes porta·
e taquipneia). Modesta leucocitose pode acompanhar o dores de doença cardiopulmonar preexistente."·'s
quadro de 1EP (raramente excede 20.000Jmml).12 • Ecodoppler venoso de membros inferiores. É um exce-
• Gasomelria arterial. Anormalidades gasomélricas, como lente método ruagnóstico para a avaliação de TVP isola-
hipoxemja e hipocapnia, têm um valor predüjvo negati- damente, sem o risco adicional do uso de contrastes. Thm
vo (VPN) entre 65 e 68%, sendo insuficientes para afas-
12
tarem o ruagnóstico de TEP. Quando associadas aos
achados de alcalose respiratória e aumento da diferença -+
QUADRO 55.3 Principais marcadores utilizados na estratificaçao
alveoloarterial (gradiente A-a), deve-se pensar em em- de risco de pacientes com TEP agudo
bolia maciça. É importante lembrar que pode não haver
alterações mesmo na presença de TEP. 2 Marcadores clínicos
• Marcadores de lesão riocárdica. Os biomarcadores car- - Choque
- Hipotensão (PA5 < 90 mmHg)
díacos, incluindo a troponina e os peptfdeos natriuréticos
(BNP c pró-BNP NT-termjoaJ), são marcadores sensí- -------------------
Marcadores de disfunç.!o de VD
veis da função ventricular direita. O peptfdeo natriuré- - Dilatação, hipocinesia ou sobrecarga de pressão de VD (ECG)
tico cerebral (BNP), já sabidamente útil em auxiliar no - Dilatação de VD na TC helicoidal
diagnóstico e preruzer o prognóstico de pacientes com - Elevaç.!o de BNP ou pró-BNP
insuficiência carruaca congestiva, associa-se à disfunção - Elevação da pressao de VO no cateterismo de coração direito
do ventrículo direito (VD) no TEP.u São marcadores
Marcadores de injílria mioc.!rd~ca
acurados para identificar pacientes de baixo risco para
- Elevação de troponina cardíaca T ou I
TEP, tendo um VPN alto para morte intra-hospitalar
consequente à EP. Níveis elevados de BNP necessitariam Fonte: Adaptado dt Totbicki t col•boradores.'
sensibilidade e especificidade superiores a 90% para guimento da investigação. Da mesma forma, apesar de
trombose venosa proximal. Sua acurácia para o diagnós· menos validada, a combinação de uma cintilografia não
tico de TVP é de 99% para trombos acima do joelho e diagnóstica em paciente com baixa probabilidade clínica
90% abaixo do joelho. A detecção de TVP assintomáti· é um critério aceitável para a exclusão da doença. Em to·
ca auxilia no diagnóstico de TEP. Entretanto, resultados das as outras combinações de resultados de V/Q e proba-
normais não excluem EP se o nível de suspeição clínica bilidade clínica, testes adicionais devem ser realizados. '·' 0
for moderado ou alto. • Angiografia pulmonar. Embora tenha sido considerada
• Ecocardiograma. Tem valor na avaliação prognóstica e o padrão-ouro para o diagnóstico de TEP, a técnica tem
na estratificação de risco dos pacientes com TEP. O eco- sido usada com pouca frequência, especialmente após
cardiograma tem a capacidade de visualizar êmbolos em o advento da angiotomografia. É um método invasivo,
câmaras direitas ou artérias pulmonares centrais, bem com 5 a 6% de riscos de complicações cardíacas e pul·
como de mostrar alterações hemodinãmicas sobretudo monares e mortalidade de 0,2% (IC 95% 0-03). Seu uso
de VD que, indiretamente, podem sugerir TEP. O modo é reservado para um pequeno subgrupo de pacientes no
transesofágico possui acurácia diagnóstica superior ao qual o diagnóstico de embolia não foi estabelecido com
transtorácico para a visualização de êmbolo na artéria métodos menos invasivos. Resultados de estudos prévios
pulmonar. Em paciente com instabilidade hemodinâmi· têm demonstrado que, quando a angiografia pulmonar
ca, a ausência de sinais de sobrecarga ou de disfunção de foi usada para detectar êmbolos subsegmentares, a con-
15 16
VD praticamente exclui o diagnóstico de TEP. • O sinal cordância entre observadores foi limitada.
de McConneU, específico para TEP (disfunção de VD • TC de tórax com multidetectores ou multis/ice (angio·
com hipocinesia da parede livre desse ventrículo),' é um tomografia). Desde a introdução deste exame, com alta
fator preditor independente para morte precoce em EP resolução espacial, temporal e qualidade de opacificação
aguda quando presente. Não é indicado como rotina no arterial, ele tem sido o método de imagem de escolha
diagnóstico de EP, mas demonstra evidências indiretas para visualizar a vasculatura pulmonar em indivíduos
deste diagnóstico em cerca de 80% dos pacientes com com suspeita de TEP.' É um método seguro, menos inva-
embolia maciça. O estudo I CO PE R demonstrou a pre- sivo, acurado e custo-efetivo, com a vantagem adicional
sença de disfunção de VD em 40% dos pacientes avalia· de avaliar a aorta, o parênquirna pulmonar, o medias·
dos, achado que se associou a um aumento de duas vezes tino, a caixa torácica e o espaço pleural, o que permite
na incidência de trombos em 14 dias e 1,5 vez em três estabelecer diagnósticos alternativos ou concomitantes
meses de seguimento dos pacientes analisados. (FIGURAS 55.1 e 55.2). A angiotomografia permite a visua·
• Radiografia de tórax. A radiografia de tórax é um exa- lização de artérias pulmonares, pelo menos, até o nível
me não específico e com baixa sensibilidade para TEP subsegmentar com sensibilidade e especificidade acima
(especificidade de 59% e sensibilidade de 33%), porém de 90%, VPP alto (96%) em pacientes com alta pro·
essencial para detectar outras doenças pulmonares, auxi· babilidade clínica e VPN alto (97%) em pacientes com
liando no diagnóstico diferencial e excluindo outras con· baixa probabilidade clínica, resultados semelhantes aos
dições que podem simular as manifestações clinicas agu· encontrados no estudo PIOPED. 10 Utilizando a TC he·
das, como pneumotórax. Mesmo em pacientes com risco licoidal com equipamentos com multidetectores (cortes
iminente de morte por EP, a radiografia de tórax pode mais finos), há aumento da acurácia para o diagnóstico
ser considerada normal. ' As principais alterações rela· de EP em ramos subsegmentares (até então, a sensibi·
cionadas com a embolia são áreas de hipoperfusão pul- lidade do método era baixa para êmbolos nessa loca-
monar (sinal de Westmark- a mais específica), imagens lização) - colimação de 1 ou 2 mrn. 10•17 Além disso, na
cuneiformes (corcova ou giba de Hampton), dilatação da reconstrução, pode-se mensurar a relação de dimensões
artéria pulmonar (sinal de Palia), atelectasia, derrame ventriculares: uma relação D/E > 0,9 identifica pacien-
pleural e elevação da hemicúpula diafragmática. Tam· tes com risco aumentado de morte prematura. O VPP
bém é fundamental no subgrupo de pacientes que serão de uma angiotomografia positiva foi elevado (92 a 96%)
submetidos à cintilografia pulmonar de ventilação/perfu- em pacientes com probabilidade clínica intermediária
são para a interpretação do mapeamento pulmonar. ou alta Não é necessário realizar investigação adicional
• Cintilografia pulmonar de ventilação/perfusão (V/ Q). ou tratamento para TEP em pacientes que apresentam
'nata-se de um método simples e não invasivo, útil no angiotomografia mu/tislice negativa (evidência A). Os
diagnóstico de TEP agudo. Impl ica baixa dose de ra· dados de estudos que analisaram a acurácia da angioto·
diação e é um exame diagnóstico alternativo se houver mografia usando desfechos clínicos e comparação com
contraindicação à angiotomografia ou quando esta não é angiografia convencional permitem descontinuar a anti-
disponíveL Em casos de alta probabilidade clínica e exa- coagulação quando o TEP foi excluído por angiotomo·
me com alta probabilidade de EP, o valor preditivo posi· grafia (somente 0,2% dos pacientes que apresentavam
tivo (VPP) é alto (92-99%), confirmando o diagnóstico.' angiotomografia negativa desenvolveram TEP nos três
Da mesma forma, um exame normal de perfusão é muito meses subsequentes).
seguro para exclusão de EP (VPN alto de 97% ). Quando • Ressonância magnética (RM). A possibilidade da visua·
o resultado é definido como baixa probabilidade de TEP lização das artérias pulmonares sem a necessidade da
em um paciente com alta suspeita clínica, pode ocorrer utilização de contraste iodado e sem exposição à radia-
TEP em até 40% dos casos, sendo obrigatório o prosse· ção é a principal vantagem da RM. Em um estudo com·
parativo com a tomografia helicoidal, avaliado por cinco de uso. Uma metanálise publicada em 2004 demonstrou
observadores, a RM mostrou sensibilidade de 46% e es- igual eficácia e segurança da HBPM quando comparada à
pecificidade de 90%. HNF intravenosa. Outras publicações mostraram resultados
favoráveis para a HBPM quanto à menor mortalidade e à
diminuição da ocorrência de sangrarnentos graves em com-
paração com a HNF,' permitindo sua indicação como fárma-
Tratamento co de primeira escolha em pacientes com TEP não maciço
Suportes hemodinâmico e respiratório fazem parte da ou hemodinamicamente estáveis (TABElA 55.3). É importante
abordagem inicial, com o objetivo de estabilização clínica e lembrar que as HBPM são excretadas pelos rins. Assim, a
hemodinâmica. Os pacientes instáveis clinicamente devem HNF torna-se o fármaco de escolha para pacientes com cle-
ser admitidos em unidades de terapia intensiva (FIGURAS arance de creatinina inferior a 30 mUmin. '·'
55.3 e 55.4). Os anticoagulantes orais (ACO) inibem os fatores da
coagulação dependentes da vitamina K (fatores 11, VII, IX
e X) e também reduzem a síntese de fatores anticoagulantes
Anticoagulação na fase aguda naturais, proteína C e S, fato que pode promover eventos
Em pacientes com probabilidade clínica alta ou interme- trombóticos paradoxais no início do tratamento, enquanto a
diária para TEP, o manejo com anticoagulantes (heparinas) anticoagulação não for plena. São monitorados pelo tempo
deve ser iniciado o mais cedo possível, enquanto se aguarda de protrombina (TP). Podem ser iniciados no primeiro dia
a confirmação diagnóstica. Entretanto, o início de anticoa- de tratamento, em associação com a heparina, que deve ser
gulantes orais só é justificado após a confirmação diagnósti- descontinuada quando a razão normalizada internacional
ca, devido aos riscos inerentes à terapêutica.'.' (RNI) estiver entre 2,0-3,0 por pelo menos 24 horas. A dose
A heparina niio fracionada (HNF) é efetiva no manejo da inicial de varfarina é de 5 mg!dia. Doses superiores mostra-
EP, levando-se em conta seu risco-beneficio e contraindica- ram pequena redução no tempo para se obter a RNI ade-
ções para cada paciente em particular, e deve ser utilizada quada, tendo, entretanto, aumentado significativamente os
preferencialmente em regime de infusão continua intrave- casos de sangramento. A femprocumona, outro ACO, possui
nosa: O controle plasmático é feito pela dosagem de KTfP/ um tempo de meia-vida mais longo. Os pacientes devem ser
TIPa e deve ser atingido o intervalo entre 2,5 e 3,5 vezes o orientados a manter uma dieta pobre em alimentos que con-
seu valor de base (TABElA 55.3). tenham vitamina K (o que levaria à diminuição dos níveis da
Pode ocorrer resistência à heparina, que é definida como medicação).
a necessidade diária de HNF (infusão contínua IV) acima de Pacientes hemodinarnicamente instáveis são candidatos
40.000 UI/dia (deve-se realizar dosagem, quando possível, a um tratamento mais agressivo, como a trombólise farma-
do antifator Xa, diminuindo, dessa forma, aumentos adicio- cológica e mecânica. Essa opção terapêutica é justificada
nais da dose de HNF). pela alta taxa de óbito entre esses pacientes e pela resolu-
As heparinas de baixo peso molecular (HBPM), como ção mais rápida da obstrução tromboembólica com a trom-
Enoxaparina, Fondaparinux, Nadroparina e Dalteparina, bólise do que com a terapia anticoagulante. A mortalidade
são preferidas em relação à HNF em função da facilidade pode chegar a 60% em pacientes não tratados e pode ser
':.:.rm
Aminorex Cocal na Anfetaminas Cont<Keptlws orais
Dexfenfluramina
--------------------------
Erva-de-~o-joão Metanfetaminas Tabagismo
a longo prazo sugerem que o prognóstico desses pacientes é Hipertensão arterial pulmonar associada a doença
significativamente pior do que o dos pacientes com HAPI, cardíaca congênita
apesar do uso de terapias modernas. É importante lembrar
Uma proporção significativa de pacientes com doença
que a HAP não representa a única causa de hipertensão pul- cardíaca congênita (DCC), em particular aqueles com de-
monar na esclerose sistêmica: hipertensão por fibrose pul· rivaçóes sistêmico-pulmonares, vão desenvolver HAP se
monar também é frequente, e disfunção diastólica do cora- a DCC não for tratada. A exposição permanente da vas-
ção esquerdo não é incomum. culatura pulmonar ao fluxo sangu(nco aumentado, assim
Na ausência de doença pulmonar fibrótica, a HAP tem como o aumento da pressão, podem resultar em arterio-
sido raramente relatada em outras doenças do tecido con· patia pulmonar obstrutiva, o que leva ao aumento da re-
juntivo como lúpus eritematoso sistêmico, doença mista do sistência vascular pulmonar (RVP) e à inversão de shunt
tecido conjuntivo, sfndrome de Sjõgren, polintiosite e artrite (direito-esquerdo). Esse quadro caracteriza a síndrome
reumatoide. de Eisenmenger, presente em aproximadamente 8% dessa
população.
Hipertensão arterial pulmonar associada ao HIV
A HAP é urna complicação rara mas bem estabelecida da in- Hipertensão arterial pulmonar associada a
fecção pelo HJV. Dados epidemiológicos do início de 1990/ esquistossomose
época em que a terapia antirretroviral altamente ativa ainda Na nova classificação de Dana Point, a HP associada à es-
não estava disponfve~ indicaram uma prevalência de 0,5%. quistossomose foi incluída no grupo t.' Nas anteriores, essa
A HAP associada ao HIV apresenta características clínicas, modalidade estava no grupo IV (HP por doença trombótica
histológicas e hemodinãmicas semelhantes às observadas na e/ou embólica crônica) em função do achado anterior de que
HAPI. Curiosamente, em um número substancial de casos, a embolia de ovos na circulação pulmonar era o mecanismo
a normalização da hemodinãmica vascular pulmonar pode exclusivo na gênese dessa doença Contudo, evidências mais
ser obtida com o tratamento indicado de HAP, o que é muito recentes indicam que a apresentação clínica de tal doença é
raro na HAPJ. semelhante à da HAPI no que se refere aos achados histo-
lógicos, incluindo o desenvolvimento de lesões plexiformes.
Hipertensão arterial pulmonar associada a hipertensão Esta representa uma forma frequente de HAP, especialmen-
te nos países em que a infecção é endêmica, como o Brasil.
portopulmonar
Estima-se que mais de 200 milhões de pessoas estejam infec-
O desenvolvimento de HAP em associação com a pressão tadas com qualquer uma das três espécies de esquistossoma
elevada na circulação portal é conhecido como hipertensão e que 4 a 8% dos pacientes desenvolverão a forma hepato-
portopulmonar. A hipertensão portal, e não a presença de esplênica crônica.
doença hepática subjacente, é o principal fator de risco de-
terminante para o desenvolvimento de hipertensão porto·
pulmonar. Estudos hemodinãmicos mostraram que 2 a 6% Hipertensão arterial pulmonar associada a anemia
dos pacientes com hipertensão portal têm HP. O cateterismo hemolítica crônica
é absolutamente obrigatório para o diagnootico definitivo da As anemias hemolfticas crônicas representam uma nova sub-
hipertensão portopulmonar, pois vários fatores podem au· categoria de HAP, outrora classificada em "Outros", como
mentar a pressão arterial pulmonar (PAP) na presença de as condiçóes associadas ao desenvolvimento da HAP. Desde
doença hepática avançada, como fluxos elevados associados Veneza, há uma crescente evidência de que a HAP é uma
ao estado hiperdinâmico circulatório e pressão capilar pul- complicação de anemias hemolíticas crônicas hereditárias e
monar aumentada pela sobrecarga de fluidos e/ou disfunção adquiridas, incluindo doença falciforme, talassemia, esfero·
diastólica. citose hereditária e anemia hemolítica microangiopática.
Grupo 1: Doença pulmonar veno-oclusiva (DPVO) Grupo 4: Hipertensão pulmonar tromboembólica
e hemangiomatose capilar (HCP) crônica (HPTC)
Estas duas entidades apresentam características bistoló- A HPTC representa causa frequente de HP e pode ocorrer
gicas tlpicas de HAP, associadas a uma venopatia oclusiva em até 4% dos pacientes após embolia pulmonar aguda. Na
(DPVO) ou a uma microvasculopatia (HCP), e também classificação de Veneza, a HPTC foi dividida em dois sub-
exibem achados de hlpertensão venosa pulmonar, como be- grupos: HPTC proximal (acessível à tromboendarterecto-
mossiderose pulmonar, edema intersticial e dilatação dos mia) e HPCT distai (não acessível a cirurgia). Hoje, não há
linfáticos. Com tais características bastante peculiares, a mais consenso entre os especialistas sobre as definições de
resposta ao tratamento medicamentoso e o prognóstico des- HPTC proximal e distai. Assim, foi decidido manter no Gru-
sas duas entidades são piores do que os da HAP. Diante das po 4 apenas uma categoria única de HPTC, para enfocar a
evidências atuais, detemúnou-se que DPVO/HCP deve estar necessidade de encaminhamento desses pacientes a centros
em categoria distinta, mas não completamente separada da especializados, a fim de que seja avaliada de forma adequa-
HAP. Po.r isso, na classificação atual, DPOV/HCP é designa- da a possibilidade de realização de tromboendarterectomia
da como Grupo 1'. pulmonar, sendo esta a única forma potencialmente curável
deHP.
Grupo 3: Hipertensão pulmonar associada a Os sintomas da HAP são inespecfficos e incluem falta
de ar, fadiga, fraqueza, dor no peito, tonturas, slnco-
doenças pulmonares e/ou hipoxemia pe e distensAo abdominal. Os sintomas em repouso
Nesta categoria, a causa predominante da HP é a hipoxia são relatados apenas nos casos muito avançados. AIJ
alveolar como resultado de doença pulmonar, déficit de con- exame flsico, podem ser observados acentuado com·
trole da ventilação e permanência ou residência em grandes ponente pulmonar da segunda bulha, sopro halos-
altitudes. A prevalência da HP em todas essas condições ain- sistólico de regurgitaçlo tricúspide, sopro diastólico
da permanece desconhecida. Na classificação atual, a princi- de insuficiência pulmonar e sinais de insuficiência
pal modificação nesse grupo foi adiciona.r uma categoria de cardlaca direita CX>mo dístensAo das veias jugulares,
doença pulmonar caracterizada por uma mistura de padrão hepatomegalia, ·e dema periférico, ascite e extremi·
restritivo e obstrutivo. Esse novo subgrupo inclui bronquiec- dades frias.
tasias crônicas, fibrose cística e uma nova síndrome marcada
pela combinação de fibrose pulmonar, principalmente nas
zonas inferiores do pulmão, e enfisema nas zonas superio-
O exame também pode fornecer pistas sobre a causa da
res, chegando a uma prevalência de HP de quase 50%. Em
HP, como presença de telangiectasia digital, ulceração e es-
pacientes com doença parenquimatosa pulmonar, a HP cos-
clerodactilia sugerindo esclerodermia; crepitações inspirató-
tuma ser modesta (média da PAP de 25 a 35 mmHg). No
rias apontando para doença intersticial pulmonar; aranhas
entanto, em alguns pacientes, as elevações da PAP podem
vasculares, atrofia testicular e eritema palmar caracterizan-
ser mais importantes (PAP média de 35 a 50 mmHg). Em do doença hepática.
tais pacientes, essa HP é considerada "fora do padrão", em
especial quando o comprometimento funcional e estrutural
pulmonar é moderado. Em recente estudo retrospectivo de Eletrocardiograma
998 pacientes com doença pulmo.n ar obstrutiva crônica sub- O eletrocardiograma (ECG) pode fornecer evidências su-
metidos ao cateterismo cardíaco direito, somente 1% teve gestivas de HP ao demonstrar hlpertrofia e sobrecarga de
PAP > 40 mmHg. ventrfculo direito (VD), dilatação do átrio direito (AO) e
Fi•u.mn:tll~•·mr"*"'·''''··!.l:fla
Ecoc:ardiograma transtorácico
bidimensional: dilatação deVO
e aumento de pressão sistólica
na artéria pulmonar
1
Sinais de doença cardíaca
esquerda? Estudo bidimensional:
Cardiopatia esquerda,
dilatação deVO e aumento de -----7 valvar
pressão sistólica na artéria
pulmonar
1
Sinais de shunt intracard...,.co -----7 Cardiopatia congfnita
1
Oximetria de pulso noturna I
..
"C
.!!!
-----7 Distúrbios do sono
~
polissonografia
1
Cintilografia V/Q Tromboembolismo
o
'::3.
~o
angiotomografia de tórax
-----7 pulmonar crônico u
1
FAN, FR, ANCA -----7
Lúpus, esclerodermia,
doença reumatoide,
vasculites
1
HIV. sorologias para hepatite -----7
AIOS,
hepatite B
1
Função hepática
Hipertensão porto
PPF I biópsia reta I
-----7 pulmonar
Esquistossomose
1
Hipertensão arterial pulmonar idiopática
desvio do eixo QRS para a direita. A hipertrofia de VD no damente reduzidos. Dessa forma, os testes de função pul-
E CO está presente em 87% dos pacientes com hiperten- monar podem auxiliar no diagnóstico etiológico da HP.
são pulmonar idiopática, e o desvio direito do eixo para Na presença de obstrução irreversível com aumento do
direita, em 79% deles. Arritmias ventriculares são raras. volume residual e da redução da capacidade de difusão de
Arritmias supraventriculares podem estar presentes em monóxido de carbono, é possível supor que se trata de HP
estágios avançados, em particular fibrilação arriai e flutter associada a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
atrial. A diminuição nos volumes pulmonares e na capacidade de
difusão de monóxido de carbono indica a possibilidade de
doença pulmonar intersticial.
Testes de função pulmonar O Teste da Caminhada dos 6 Minutos é o que mais se
Pacientes com HAP em geral têm uma capacidade de di- presta para avaliar os eventuais efeitos das intervenções
fusão pulmonar de monóxido de carbono na faixa de 40 terapêuticas (ver Capítulo "Avaliação Funcional Pulmo-
a 80% do previsto e volumes pulmonares leve a modera- nar")
Ecocardiograma
O eccx:ardiograma bidünensional transtorácico com Dop-
pler é um método sensível, não invasivo e atualmente reco-
mendado para avaliação inicial de pacientes com suspeita de
HAP. Dentre as vantagens adicionais, destacam-se a ausên-
cia de efeitos colaterais, sua reprodutibilidade, baixo custo e,
principalmente, sua mobilidade, permitindo a realização de
exames à beira do leito, embora o catetcrismo cardíaco per-
maneça sendo o padrão-ouro para o diagnóstico definitivo.
É importante também para a exclusão de causas cardíacas
secundárias de HP como cardiopatias congênitas, disfunção
ventricular esquerda e doenças valvulares.
Os achados ao ccocardiograma modo-M são qualitativos
e estão relacionados com as modificações da movimentação
da válvula pulmonar decorrentes da elevação da pressão na
circulação pulmonar: dllninuição da onda A pulmonar, ho-
rizontalização do segmento E-F pulmonar, incisura mesas- FIGURA 56.3 -+ Modo bidimensional, corte paraesternal transversal
sistólica pulmonar e prolongamento do perfodo pré-ejeção/ mostrando aumento de VO e septo interventricular retificado por so-
encurtamento do perfodo de ejeção pulmonar. brecarga pressórica ventricular direita.
No estudo bidimensional, a presença de dilatação de ca- --------
vidades direitas (FIGURA 56.2), hipertrofia de VD (espessura :2:
5 mm), septo interventricular retificado ou com convexidade
sistólica para o ventrfculo esquerdo (FIGURA 56.3) e dilatação permite o cálculo do gradiente sistólico VD-AD (t.Svo.AO)
da artéria pulmonar está relacionada com a elevada pressão a partir da equação simplificada de Bernoulli, onde t.SVD.AO
sistólica do VD. Derrame pericárdico também pode ser ob- é igual a 4V'Kf2 (FIGURA 56.4). O valor do gradiente sistólico
servado, e sua presença relaciona-se com a dificuldade de (l!Svo...o), somado à pressão de átrio direito (PAD), fornece
drenagem para o AO, que apresenta pressão elevada. o valor da pressão sistólica ventricular direita (PSVD), que
O desenvolvimento da ecocardiografm com Doppler per- na ausência de obstrução ao fluxo entre o VD e a artéria pul-
mitiu avaliar de forma não invasiva, confiável e quantitativa monar representará a pressão sistólica na artéria pulmonar
os valores das pressões pulmonares e da função vent.ricular (PSAP). Existe uma boa correlação nos registros obtidos por
direita. A estimativa da pressão sistólica na artéria pulmonar Doppler e cateterismo, não sendo afetados por variações de
pela ecocardiografia está baseada na identificação do refluxo débito cardíaco. A PAD utilizada para o cálculo da PSAP
tricúspidc (RI') pelo mapeamento de fluxo em cores e na pode ser obtida diretamente, sendo que a PAD é igual à
medida da velocidade máxima deste jato regurgitante (V ~rr) pressão venosa central, ou estimada pela análise do calibre e
com o Doppler continuo. A velocidade máxima do refluxo da variação respiratória da veia cava inferior, observados no
ecocardiograma bidimensional pela via subcostal em pacien-
te sem ventilação mecânica (TABELA 56. t ).
A pressão média da artéria pulmonar (PMAP) pode ser pressão diastólico final entre a artéria pulmonar e o VD.
estimada de duas maneiras pelo Doppler. Na primeira, com Pela soma do gradiente diastólico final e da PAD, é obtido
a identificação e o registro do refluxo pulmonar com o Do- o valor da pressão diastólica pulmonar (PDAP = PAD +
ppler colorido, mede-se a velocidade inicial da curva e apli- IDAP.VD r...,)·
ca-se a equação de Bernoulli simplificada, sendo a PMAP Estudos recentes enfatizam a importância da função
2
fornecida diretamente ( 4V 1,.1c1" 1. ) (FIGURA 56.5). A medida ventricular direita no prognóstico de várias doenças cardio-
da PMAP pelo Doppler utilizando a equação de Bernoulli, pulmonares, e a busca por métodos semiquantitativos ou
quando comparada com as obtidas pelo cateterismo, mostra quantitativos que permitam avaliação com melhor acurá-
correlação de O, 92. cia tem sido constante. Dentre eles, salienta-se a mudança
A segunda maneira de obter a PMAP é utilizando o Do- fracionai da área do VD, a velocidade de deslocamento do
ppler pulsado: estando a amostra volume localizada ao nível anel tricúspide, a medida da velocidade sistólica pelo Dop-
da válvula pulmonar, centralmente e logo antes da abertura pler tecidual no anel tricúspide e o índice de desempenho
das cúspides valvulares, identifica-se o tempo de aceleração miocárdico.
(TAc) do fluxo sistólico pulmonar, sendo que ele se apre- A mudança fracionai da área do VD, medida pelo plano
senta encurtado na presença de PAP elevada. A equação de apical de quatro câmaras, apresenta boa correlação com a
Mahan permite o cálculo da pressão média pulmonar, onde fração de ejeção medida pela RM (r= 0,88) e tem sido rela-
79 e 0,45 são constantes. O valor é dado pela fórmula PMAP cionada com prognóstico, sendo um preditor independente
= 79 - 0,45 (TAc) (FIGURA 56.6). de insuficiência cardíaca, morte súbita, acidente vascular ce-
A estimativa da pressão diastólica na artéria pulmonar rebral e/ou mortalidade em estudos de pacientes após embo-
(PDAP) depende da identüicação do refluxo pulmonar ao lia pulmonar e infarto.
Doppler colorido e da medida de velocidade final deste A função sistólica também pode ser avaliada pela ve-
jato regurgitante (V F1N,u). Utilizando-se a equação sim- locidade do deslocamento do anel tricúspide. Durante a
2
plüicada de Bernoulli, 4VF1NAL , calcula-se o gradiente de sístole, devido ao encurtamento sistólico longitudinal do
FIGURA 56.5 7 Medida da veloódade e gradiente entre VD e artéria FIGURA 56.6 7 Medida do tempo de aceleração (TAc) definido como
pulmonar pelo refluxo pulmonar. Gradiente inicial de 99 mmHg (velo- sendo o intervalo de tempo entre o inicio da curva de fluxo (I) e sua
cidade inicial de 4,98 m/s) e gradiente final de 56 mmHg (velocidade velocidade de pico (P). TAc no caso de 50 ms e pressão média pulmonar
final de 3,7 4m/s). estimada em 56 mmHg.
VD, que reflete a integridade da contratilidade do sep- INDICE DE TEI • -(a.b b)
-
to interventricular e da parede livre do VD, ocorre des-
locamento do anel tricúspide em direção ao ápice. Essa
medida é obtida por meio da análise do deslocamento do
anel da valva tricúspide, durante a sístole e a diástole, ao
longo de uma linha reta, através do registro do modo-M
a partir de um corte a picai quatro câmaras com o cursor
passando pelo anel lateral da válvula tricúspide, no ponto
de junção com a parede livre do VD (FIGURA 56.7). Uma
FluxoVSVD
excursão anular menor do que 1,6 em tem sido associada a
disfunção ventricular e pior prognóstico em várias doenças FIGURA 56.8 7 Esquema do cálculo do lndice de desempenho mio-
cardiovasculares. cárdico. O intervalo •a• corresponde ao tempo entre a abertura e o
Essa movimentação do aneltricúspide descrita anterior- fechamento da válvula tricúspide; o intervalo "b" (tempo de ejeç.\o -
mente também pode ser avaliada pelo Doppler teeidual, a TE) corresponde ao tempo entre a abertura e o fechamento da válvula
partir da medida da velocidade da onda sistólica (S'). = =
pulmonar. ICT intervalo de contração isovolumétrica; IRT intervalo
de relaxamento osovolum~rico.
O índice de desempenho miocárdico (índice de TE!)
permite a avaliação da função sistólica global do VD (FIGURA
--------
56.8). Com a amostra de volume do Doppler pulsado ao nível
da válvula tricúspide e na via de saída do VD, obtêm-se o de deformação de qualquer segmento utilizando um software
tempo entre a abertura e o fechamento da válvula tricúspide específico. O valor normal para ventrículo direito é superior
("tempo a") e o tempo de ejeção ("tempo b"), respectiva- al6%.
mente. O lndice de desempenho miocárdico é calculado pela Recentemente, o ccocardiograma tridimensional (3D)
equação descrita a seguir. com transdutores de terceira geração e imagens em tempo
real foi validado, comparando-se à RM na avaliação da fun·
ção do VD. O aprimoramento dos aparelhos e o desenvol·
Índice de desempenho = (a - b) I b vimento de novos métodos e modalidades ecocardiográficas
têm proporcionado maior confJabilidade e reprodutibilidade
dos seus resultados. O prognóstico da HAP, mesmo para os
O valor normal é 0,28 ± 0,04. Um índice de TEI aumen- pacientes tratados com terapia moderna, permanece ruim e
tado, maior do que 0,40, é um marcador sensível e específico
com elevada mortalidade. Os fatores preditivos de pior prog·
de HP e disfunção ventricular direita e também correlacio-
nóstico ao ecocardiograma são aumento de AD e VD, redu·
na·se com sobrevida. ção da função sistólica do VD, aumento do índice de TEI,
O Strain bidimensional (Strain 2D), utilizando a técnica
diminuição do deslocamento do aneltricúspide e surgimento
do speckeltracking também tem se mostrado promissor na
de derrame pericárdico.
avaliação da função ventricular direita, com relatos de exce-
lente correlação com a RM. A técnica do Strain 2D baseia-se
em um processamento de imagens obtidas no ecocardiogra- Avaliação hemodinâmica:cateterismo cardiaco
ma bidimensional, fazendo-se o rastreamento dos speckles,
ou pontos brilhantes causados pela reflexão natural do ui·
direito
O cateterismo cardíaco direito é considerado o padrão-ouro
trassom para avaliar o strain do miocárdio, ou seja, a taxa
para o diagnóstico definitivo de HP e também é utilizado
para avaliar a gravidade do déficit hemodinâmico e testar
a vasorreatividade da circulação pulmonar. Sempre devem
ser verificados, durante o exame, os seguintes parãmetros:
PAD, PAP sistólica, diastóliea e média, pressão de cunha ca-
pilar pulmonar (PCP), débito e índice cardíaco (DC e IC),
RVP, resistência vascular sistêmica (RVS), pressão arterial
e saturação de oxigênio venoso misto e arterial (FIGURAS 56.9
e 56.10).
Estabelece-se a presença de HAP quando há uma ele·
vação sustentada da PAP média igual ou maior do que 25
mmHg em repouso, com uma pressão de cunha capilar
pulmonar média ou pressão diastólica final ventricular
esquerda (PD 2 de VE) menor do que 15 mmHg e RVP
maior ou igual a 3 unidades wood. A resposta de vasorre·
atividade positiva é defmida como uma redução na PAP
média maior ou igual a 10 mmHg para atingir um valor ab-
AGURA 56.7 7 Deslocamento do anel tricúspide de 2,1 em. soluto menor ou igual a 40 mmHg com manutenção ou au-
Cateterismo cardíaco direito
~'·
AR VR AP PCP
Veia cava 20
superior
Átrio
direito Válvula
Válvula
inferior Ventrfculo
direito
1111
FIGURA 56.10 7 Curvas caracteristicas durante o cateterismo cardiaco direito.
mento do débito cardíaco. Essa resposta positiva é obtida lulas endoteliais e, neste local, sua ativação conduz à libera-
em apenas 10 a 15% dos pacientes, e tem-se resposta sus- ção de vasodilatadores c substâncias antiproliferativas como
tentada em um percentual menor ainda (menos de 7%). óxido nítrico e prostaciclina, o que pode contrabalançar os
efeitos deletérios da endotelina-1.
Tratamento
A despeito dos grandes avanços terapêuticos que ocorreram
~ ATENÇÃO
nos últimos 10 anos, nenhum tratamento atual é curativo
A terapia de pacientes com HAP não pode ser con-
para essa doença tão devastadora, de prognóstico tão ruim e siderada uma mera prescrição de fármacos, mas ca-
com cerca de 50% de mortalidade em cinco anos. Contudo, racterizada por uma estratégia complexa, que inclui
a partir do melhor entendimento dos mecanismos fisiopa- avaliação da gravidade da doença, medidas gerais,
tológicos e do desenvolvimento de novos medicamentos, é avaliação da reatividade pulmonar e combinação de
possível trocar a falta de esperança pelo otimismo ao obter diferentes fármacos, entre outras intervenções tera-
um prolongamento da sobrevida e uma melhora significativa pêuticas. Em qualquer uma dessas etapas, o conhe-
na qualidade de vida de nossos doentes. cimento e a experiência do centro de tratamento são
Três vias têm sido o alvo mais importante de interven- fundamentais para otimizar os recursos disponíveis.
ção terapêutica da HAP (FIGURA 56.11): a via da prostacicli-
na, cujos análogos, que imitam os efeitos desta, estimulam
a vasodilatação do leito arterial pulmonar e inibem a agre-
gação plaquetária; a do óxido nítrico, onde os inibidores de Medidas gerais
fosfodiesterase-5 (PDE-5) atuam a fim de otimizar a vaso- Pacientes com HP devem receber conselhos sensatos sobre
dilatação óxido nítrico-mediada; e a terceira, da endotelina, as atividades gerais da vida diária e a necessidade de adap-
o principal membro de uma família de potentes peptldeos tar-se à incerteza associada a uma doença crônica grave com
vasoconstritores com papel importante na patogênese e pro- risco de vida. Geralmente o diagnóstico confere um grau de
gressão da HAP, atuando por meio da ligação a dois distintos isolamento social do paciente. O incentivo dos seus familia-
receptores das células musculares lisas da vasculatura pul- res para participar de grupos de apoio pode ter efeitos posi-
monar: receptores A (ETA) e receptores B (ETB) (FIGURA tivos no enfrentamento, na confiança e nas perspectivas em
56.11). Os receptores ETB também estão presentes nas cé- relação à sua doença.
l
Resposta
B
SitaxSêntan, Tadalafil Sitaxsentan. Tadalafil,
Treprostinil SC
lloprost IN
1 Sim
E!B
E/C
lloprost EV. Treprostinil lloprost EV, Treprostinil
EV
EV, terapia combinada
inicial (ver abaixo)
Ambrisentan, Bosentart
Arniodipina. diltiazem, nifedipi na
(B)
Sildenafil, Sitaxsentan,
Tadalafil
Não recomendado TreprostiniiiN TreprostiniiiN
TABELA 56.2 7 Critérios para determinar o grau de risco dos pacientes com HAP
vo,m., > 14,5 mVmin!kg Teste de esforço cardiopulmonar vo,...., < 12 mVmin/kg
Mini ma disfunção do VD TAPSE > 2,0 em Achados ecocardiográficos Derrame pericárdico, disfunção de VD e TAPSE < t ,5 em
FIGURA 56.13 -+ (A) Tomografia com reconstrução axial demonstrando o tronco da artéria pulmonar em paciente com hipertensão pulmonar idiopáti-
ca. Compare o diâmetro do tronco pulmonar com a aorta ascendente, fornecendo um índice artéria pulmonar/aorta ascendente de quase 2. (8) Note o
aumento volumétrico do ventrículo direito com espessamento parietal. Aparede anterior do ventrículo direito é de 0,9 em (normal até 0.4 em).
hipertrofia das artérias brônquicas (FIGURA 56.14). As artérias não está esclarecida, mas tem sido demonstrado que uma
brônquicas fazem a irrigação sangulnea das paredes das ár- pequena coleção liquida no recesso anterior e cranial peri·
vores brõnquicas e das artérias pulmonares principais. Sua cárdico é mais comumente encontrada em pacientes com
anatomia é altamente variável, mas muitas vezes a emergên- HAP do que em pacientes normais. ~importante salientar
cia das artérias brônquicas se dá na porção prOlÔmal da aorta que este não é um achado especifico para o diagnóstico
descendente no nível de TS a T6. A definição do que cons- deHAP.
titui hipertrofias das artérias brônquicas é ainda subjetiva,
mas existem estudos mostrando que um diâmetro superior
a 1,5 mm desses vasos é fortemente indicativo de hipertrofia Achados parenquimatosos da
deles." Como essas artérias são raras vezes visualizadas em
pacientes normais, a identificação delas já deve lembrar a hipertensão arterial pulmonar
possibilidade deste diagnóstico. A avaliação dos achados pulmonares na HAP é de funda-
mental importância tanto para a suspeita diagnóstica como
para a avaliação de doenças pulmonares, que sAo a gênese
Achados cardíacos da hipertensão da doença.
O padrão de atenuação em mosaico é um achado bem
arterial pulmonar difundido e associado à HAP por embolia pulmonar crônica.
O padrão de atenuação em mosaico é definido como áreas
A avaliação dos aspectos cardiológicos da HAP é de grande
geográficas de redução da atenuação do parênquima pulmo·
importância, tendo em vista que eles denotam aumento da
nar . E ssas áreas de diminuição da atenuação pulmonar no
gravidade e possíveis danos irreversíveis ao miocárdio. Exis-
padrão de atenuação em mosaico são explicadas patologica-
te um consenso na literatura de que um aumento no maior
mente como déficits perfusionais devido à embolia crônica
diâmetro do eixo curto do ventrículo direito em comparação (FIGURA 56.15).
ao do esquerdo sugere aumento da pressão arterial pulmo- Os pacientes com padrão de perfusão em mosaico têm
nar. Outro fator de importante avaliação é o septo interven- pior evolução após tromboendarterectomia pulmonar por-
tricular, que em geral se apresenta levemente convexo para a que ele reflete a obliteração microvascular. Entretanto,
direita: quando ele está retificado e côncavo para a direita, é deve-se ressaltar que tal padrão é inespecífico e também
forte indicativo de HAP. relatado em pacientes com doença de pequena via aérea,
A espessura parietal do ventrículo direito é um critério especialmente os asmáticos, existindo inclusive estudos que
aceito para o diagnóstico de hipertrofia deste, e o critério não demonstram relação da HAP ocasionada por embolia
mais amplamente utilizado é uma espessuta superior a 4 mm pulmonar crônica com esse achado.l:l
da parede anterior do ventrículo direito pré-estemal. Tem sido descrito que o aumento nos niveis de endo-
Outro critério de diagnóstico útil para a HAP é o refluxo telina 1, um potente broncoconstritor, pode influenciar no
de contraste do átrio direito para a veia cava inferior. Isso aparecimento desse achado em contraposição às alterações
ocorre devido a uma regurgitação tricúspide secundária à vasculares previamente relatadas. 11 A frequência e o signifi-
HAP e apresenta sensibilidade de 90% e especificidade de cado desse padrão em outras causas que não a embolia crô-
100% para este diagnóstico. Deve-se estar atento ao fato de nica ainda são pouco estudados, mas há relatos desse mesmo
que, em aparelhos nos quais é possível injetar contraste a achado em pacientes com HAP idiopática.
altas velocidades(> 3 mUs), pode-se ocasionar um falso- Outro achado bastante frequente em pacientes com
-positivo desse achado. HAP são nódulos centrolobulares com padrão de atenua·
Tem-se descrito uma correlação entre as anormalida· ção em vidro fosco. Os nódulos centrolobulares têm sido
des pericárdicas e a HAP. A patogenia desse achado ainda descritos em até 40% dos pacientes com HAP idiopáti-
ca. Esse achado, apesar de amplamente descrito, ainda é 3. De Navazqucz S. Thc cxcrction of ha::moglobin, with spc-
pouco entendido. V árias explicações etiológicas foram cial rcferencc to thc "transfusion" kidney. J Pathol Bacteriol.
demonstradas nas correlações histopatológicas, porém a 1940;51 (3):413-25.
mais prevalente é a de neoformaçáo vascular por hipoxia 4. Humbcrt M, Sitbon O, Cbaouat A, Bcrtocchi M, Habib G, Grcs-
pulmonar. sin V, et ai. Pulmonary arterial bypcrtension in F rance: rcsults from
Opacidades periféricas subpleurais também podem ser a national rcgistry. Am J Respír Crit Care Med. 2006;173(9):1023·
evidenciadas em pacientes com HAP, especialmente na HAP 30.
secundária à embolia crônica. This achados são correlacioná-
5. Hatano S, Strasscr T. World Health Organization 1975: primary
veis com áreas de infarto pulmonar e, em sua totalidade, têm pulmonary bypcrtcnsion. Geneva: WHO; 1975.
base pleura!. Outrossim, esses achados têm sido demonstra·
dos como sendo preditores de mortalidade em pacientes que 6. Sirnonncau G, Galie N, Rubin U, Langleben D, Secgcr W, Domc-
se submeteram a endarterectomia. nigbetti G, et ai. Clinicai classification of pulrnonary hypertension. J
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O uso, mesmo que incipiente, da ressonância magnética ten-
8. Pcacock AJ, Murpby NF, McMurray JJ, Caballero L, Stewart S.
de a trazer melhores resultados no estudo dessa doença e An cpidemiological study of pulmonary arterial hypertension. Eu r
pode ser um preditor mais seguro de resposta ao tratamento. Rcspír J . 2007;30(1):104-9.
Apesar de apresentarem ainda uma acurácia não ótima, os
achados de imagem podem indicar com segurança a presen- 9. Humbert M, Sitbon O, Simonncau G. Trcatrnent of pulmonary
ça de HAP, em especial quando associada a refluxo do meio arterial bypcrtension. N Engl J Med. 2004;351(14):1425-36.
de contraste para a veia cava inferior e uma dilatação do 10. Rich S, Scidlitz M, Dodin E, Osimani D,Judd D, Genthncr D, ct
tronco da artéria pulmonar maior do que 2,9 em. ai. The short-term cffeets of digoxin in patients with right ventricular
A tomografia usada em conjunto com outros testes, so· dysfunction frorn pulmonary hypertcnsion. Chcst. 1998;114(3):787-
bretudo a ecocardiografia, tem grande utilidade no acompa- 92.
nhamento terapêutico dos pacientes com HAP, diminuindo 11. Rich S, Kaufmann E, Lcry PS. The effcct of higb doses of caJ.
a necessidade de uso de métodos invasivos como cateterismo cium-channel blockcrs on survival in primary pulmonary hyperten-
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Tiago Noguchi Machuca
José J. Camargo
57
Rodrigo Moreira Bello
~ ATENÇÃO
municação artéria brónquica-artéria pulmonar com poste-
rior recanalização do shunt. 13
A embolização foi utilizada pela primeira vez como
medida terapêutica em 1977. Com relação à cirur- Cirurgia
gia, apresenta as vantagens de ser um procedimento
minimamente invasivo e de não ocasionar perda de ~ATENÇÃO
parênquima funcionante. Hoje, os materiais mais uti·
lizados são os coils metálicos e os plugs autoexpan- A ressecção pulmonar é reservada para casos de
sfveis de nitinol. lesões grandes e centrais não passfveis de emboli-
zação, quando esse tratamento apresentou falha
(dificuldade técnica de acesso com cateter, recanali-
O procedimento é realizado por meio de cateterismo da zação) ou não está disponfvel.
veia femoral para acesso à circulação pulmonar. Pode ser
realizado com anestesia local e em regime ambulatorial. O
índice de sucesso com a embolização é alto, entre 95 e 100%. O tratamento cirúrgico moderno índica a utilização de
Complicações precoces podem ocorrer, mas em geral se li- ressecções preservadoras de parênquima (FIGURA 57.2), ide-
Paciente de 19 anos, com d ispneia aos médios esforços. 8. Martincz-Jimcnez S, Heyncman LE, McAdams HP, Jasinowo-
Tem o diagnóstico de malformação arteriovenosa pulmo- dolinski O, Rossi SE, Restrepo CS, et ai. Nonsurgical extracardiac
nar desde a infância . Nega dor torácica ou hemoptise. vascular shunts in the thorax: clinicai and imaging characteristics.
Radiographics. 2010;30(5):e41.
Apresenta marcado hipocratismo d igital.
A espirometria é normal. Teste da caminhada: 640 9. Lawler LP, Cor! FM, Fishman EK. Multi-detector row and vo-
metros, com saturaçao de hemoglobina caindo de 90 lumc-rcndcred cr of thc normal and accessory flow pathways
para 84%. of the thoracie systemic and pulmonary veios. Radiographics.
2002;22(Spcc n.):S45-60.
A exploração cirúrgica identificou a presença de le-
são vascular com dilatações arteriais e venosas pulsáteis 10. Zylak CJ, Eyler WR, Spizamy DL, Stone CH. Developmental
e visíveis na superfície pleural. A veia pulmonar inferior lung anomalics in thc adult: radiologic-pathologic eorrclation. Ra-
apresentava calibre de cerca de três vezes o normal. Foi diographics. 2002;22(Spcc n.):S25-43.
realizada a segmentectomia superior esquerda regrada. 11. Hughes JMB. Pulmonary arteriovenous malformation in herc-
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LuizCarlosCorrêa da Silva
José daSilva Moreira
58
Introdução e fisiopatogenia PHSC = pressão hidrostática no sangue dos capilares sangulneos
da superflcie pleural;
Normalmente, a cavidade pleural não contém ar, mas exis- PHLP = pressão hidrostá tica no líquido pleural;
te em seu interior mínima quantidade de liquido, resultante POSC = pressão oncótica no sangue capilar;
do equillbrio entre seus mecanismos de formação e de rea- POLP = pressão oncótiea no liquido pleural ;
bsorção. Essa película líquida, cujo maior componente é a K = grau de permeabilidade dos capilares sanguíneos da su-
água, facilita, por um lado, o deslizamento de um dos folhe- perffcie pleural.
tos plcurais sobre o outro, mas dificulta a separação entre
eles, em razão das propriedades moleculares (elevada ten- Os valores numéricos médios normais da PF para a pleura
são superficial) do líquido pleural como um todo. Quando par ietal situam-se em tomo de +9 cm~O, e para a pleura
a quantidade de liquido aumenta, anormalmente, acima de visoera~ por volta de -lO c~O. Pode-se ver, assim, que o fo-
100 a 300 roL, como consequência de um ou mais fatores que lheto parietal "empurra" líquido para dentro do espaço pleu-
favorecem seu acúmulo na cavidade, tem-se a presença de ral, enquanto o visceral o "aspira". Em condições normais, a
derrame pleuraL maior diferença ocorre entre as pressões hidrostáticas médias
O liquido pleural é formado a partir dos capilares sanguí- dos folhetos parietal (32 c~O) c visoeral (13 c~O).
neos da pleura parictal - com elevada pressão hidrostática O estado da circulação linfática (CL), com suas vias
(circulação sistêmica). Sua reabsorção se dá por dois mecanis- patentes, desde sua comunicação inicial com "lacunas" ou
mos: um, náo seletivo, através dos linfáticos (especialmente os "estornas" existentes entre as células mesoteliais, por onde
da pleura parictal), c outro, que é seletivo para água c peque- penetr am água, pequenas e gr andes moléculas (proteí-
nas moléculas, pelos capilares sanguíneos da pleura visceral nas) , é igualmen te importante dentro de toda a continua
- com baixa pressão hidrostática (circulação pulmonar). Este dinâm ica do liquido no esp aço pleural. Além disso , deve
llltimo mecanismo de reabsorção obedeoe às leis de Starling, ser lembr ado q ue pode ocorrer passagem de fluido por fo-
que regem as trocas dos Uquidos intersticiais: rames e linfáticos que comunicam os esp aços pcritoncal c
pleural.
O aumento da PHSC no folheto visceral, como ocorre
PF = K((PHSC - PHLP)-(POSC - POLP)) na insuficiência cardíaca, a redução da POSC (hipoprotcine-
mia), o aumento do valor de K (processos inflamatórios ou
infecciosos) e a obstrução da CL (neoplasias malignas me-
onde
tastáticas) são os mecanismos mais frequentes que levam ao
PF • pressão de filuação; acúmulo de líquido pleural (FIGURA 58.1).
PINro porienlal Espaço pleurol ,...,. viS«AI Qual é a importância de se fazer a distinção entre Lran-
sudato ou exsudato? 'Itansudatos são causados por insufi-
K~ N
ciência cardíaca ou cirrose ou outra causa que já esteja em
@ ---7 ~
tratamento ou vai ser tratada, a seguir. Exsudatos, em geral,
N Normal ---7 N devem ter sua causa esclarecida pelos exames de material
pleural, e o lralamento poderá depender estritamente da in-
Dl• N~f- vestigação pleural.
Na avaliação dos pacientes, o primeiro passo é estabele-
Pc t JJ,---7Insuficiência card,aca ...) Pc f cer a presença de derrame pleural, o que costuma ficar ca-
DL .I. ...,f -
racterizado por dados clínicos (dor ventilatório-dependente
Po J. Jl---7
...,f-
Hipoprotoln• -) Po.l. e macioez à percussão da parede torácica) e pelas imagens
radiológicas:
~~ K- Inflamação f-"
OI
• opacidade homogênea que, devido à ação da gravidade,
JJ,---7 Kt
OL J. ...,f-
Neoplasía f- Oui para as porções mais declives da cavidade pleural,
impedindo a visualização do seio costofrênico;
~~ ---7
Passage<n • imagem em menisco na interfaoe derrame-pulmão, com
Transdiafragmático bordos bem nltidos;
i • desvio contralateral do mediastino se o derrame for vo-
FIGURA 58.1-+ Mecanismos de formação e reabsorç3o do liquido lumoso.
pleural.
PC • Pressão hidrostática capilar O segundo passo é a determinação da causa do derrame
PO ~ Press3o oncótica capilar ou do mecanismo fisiopatológico envolvido. Se houver pistas
DL • Drenagem linfática consistentes que expliquem a ocorrência de derrame pleural,
pode não ser neoessária a investigação pleural (toracooen-
tese e biópsia). Por exemplo, em um caso de insuficiência
cardíaca, observa-se a evolução e acompanha-se a resolução
O estado da permeabilidade da membrana pleurocapi- do derrame.
lar (K) é importante fator determinante da compo5ição do
liquido pleural. Se muito alterado (aumentado), elementos
contidos no sangue poderão passar com mais facilidade para
o espaço pleural, e o líquido conterá ma.i or quantidade de Duas questões são prioritárias e devem ser
protelnas (<!: 3,0 g%), marcadores inflamatórios bioqufmicos respondidas, inicialmente
e células, constitu indo o denominado exsudato . Se normal --+ O derrame pode ser maligno? Se confirmada essa hi-
ou pouco alterado, sendo o principal mecanismo a alteração pótese, a situaçAo implica extrema gravidade e mau
das pressões hidrostática ou oncótica, a taxa proteica será prognóstico. Portanto, tal diagnóstico precisa ser de
inferior a 2,5 g%, os marcadores inflamatórios e as células certeza, por dado patológico (cito e/ou histopatoló-
serão normais, carac.terizando-se o transudato. gico).
Light e colaboradores estabeleceram, em 1972, critérios --+ Será necessário examinar o líquido pleural e fazer
para a distinção entre transudatos e exsudatos, considerando punçao-biópsia pleural? Se a conduta depender
não apenas a taxa de proteínas no líquido pleural, mas ain- desses resultados, deve-se proceder à investigaç.\o
da uma variável que interfere diretamente na taxa proteica pleural.
pleural (a taxa proteica sé rica) e outra que se altera na pro-
porção em que ocorra lesão oelular (a desidrogenase láclica
- DHL), sérica e pleuraL' Em serviços de pneumologia, são vistos com major fre-
quência:
RGURA 58.2 -+ Derrame pleural com imagem em menisco. FIGURA 58.3 -+ Derrame pleural septado.
a
RGURA 58.4 -+ Derrame pleural subpulmonar. (A) raio X convencional (ortostatismo); (8) raio X em decúbito lateral, com raios horizontais.
Diagnóstico
O diagnóstico do derrame pleural pode ser desdobrado em
duas etapas: em um primeiro momento, a partir de dados
clínicos, particularmente do exame físico e do exame radio·
lógico, detecta-se sua presença, o que costuma ser simples
e feito na primeira consulta. A seguir, cabe determinar sua
causa ou mecanismo, por meio da demonstração do agen·
te causal ou de um conjunto de dados clínicos, radiológicos,
exames bioquímicos do sangue, exames do líquido pleural
(aspecto, alterações bioquímicas e citológicas) e exames de
fragmentos de pleura parietal. Thl etapa exige experiência
e treinamento específicos, sendo geralmente realizada pelo
pneumologista ou cirurgião torácico. A existência de trauma FIGURA 58.5 -+ Derrame pleural em imagem tomográfica tfpica, com
algumas septações.
~
.:r'- '~
. . 1
' v••·>'
-- - - ~--
FIGURA 58.6-+ Casos em que dados radiológicos auxiliaram no diagnóstico diferencial. (A) derrame pleural à direita + aumento da área cardíaca:
insuficiência cardíaca. (8) volumoso derrame pleural + níveis aéreos + retração do hemitórax: empiema. (C e D) tomografia computadorizada do
caso B. onde se confirmam os achados. (E) tomografia computadorizada demonstrando grande tumor no terço superior do pulmão esquerdo. (F)
derrame pleural: neoplasia. (G) tomografia computadorizada com volumoso derrame pleural à esquerda, onde se observa material denso depositado
nas porções pendentes dos pulmões: derrame pleural hemorrágico- neoplasia ou trauma . (H) tomografia tridimensional do caso G: várias fraturas à
esquerda confirmando a origem traumática. (I) tomografia computadorizada com derrame pleural à esquerda + lesão necrótica parenquimatosa +
pequena calcificação (seta): origem granulomatosa. provavelmente tuberculosa.
recente deve levar à suspeita de hemotórax, podendo consti- • Células LE presentes e/ou FAN com título elevado: lú-
tuir uma emergência. pus eritematoso sistêmico.
Dados que auxiliam na elaboração do diagnóstico dife- • Derrame quilüorme com triglicerídeos elevados e/ou
rencial dos derrames pleurais incluem idade, modo de início presença de quilomicra: quilotórax.
(agudo ou insidioso), presença de dor ventilatório-depen- • Taxa de adenosina deaminase (ADA) superior a 40 Ul/L:
dente, febre, contato com tuberculose, história de tumor ma- aponta fortemente para tuberculose.
ligno atual ou pregresso, rápida recorrência após drenagem, • pH abaixo de 7,2 em paciente com derrame pleural pa-
cirurgia abdominal ou torácica recente, radioterapia, lesão rapneumônico: pode significar empiema. Para uma ade-
do miocárdio (infarto ou cirurgia recente), doença abdo- quada determinação do pH, são necessários os seguintes
minal (cirrose, pancreatite, abscesso subfrênico e abscesso cuidados: colher o lfquido em seringa heparinizada, ve-
hepático). dada de contato com o ar, e enviar o material rapida-
mente para o labo.r atório ou mantê-lo em baixa tempera-
tura até a execução do exame.
• Achado de eosinofilia (> 10%) no líquido pleural: pode
Decisão de fazer (ou não) investigação ser secundário à presença de sangue na cavidade pleu-
pleural ral, como por hemorragia pós-punção, ou à existência de
anormalidades imunoalérgicas sistêmicas.
Quando a causa é óbvia e a conduta independerá de exames
pleurais (lfquido pleural ou fragmentos pleurais), geralmen-
te obtidos por punção ou biópsia transcutânea, estes pode- Punção-biópsia pleural (agulha de Cope)
rão ser dispensados. Exemplifique-se com algumas situa- Ver a técnica da biópsia pleural no Capítulo "Thracocentcse
ções: insuficiência cardíaca, h.ipoproteinemia, concomitância e Punção-biópsia Pleural".
de tuberculose no parênquima pulmonar.
Quando há indícios de que a causa do derrame seja in-
fecciosa, como na vigência de tuberculose pulmonar com-
Exames no fragmento de pleura parietal
provada ou de pneumonia, a toracocentese poderá ser ne- No exame anatomopatológico, dois achados definem o diag-
cessária, pelo menos, para excluir ou conftm~ar a presença nóstico: neoplasia maligna, em geral carcinoma metastático
de empiema, situação em que deverá ser realizada a drena- ou linfoma; ou granuloma, sem/com oecrose, caseosa ou
gem pleural. não. A presença de granuloma na pleura costuma ser sufi-
ciente para onnftrntar o diagnóstioo de tuberculose, uma vez
que as outras causas de doença granulomatosa raramente se
Punção do líquido pleural (toracocentese) acompanham de derrame pleural.
Ver a técnica da toracocentese no Capítulo "1bracoceotese e Sempre que o patologista identifica lesão granulomato-
Punção-biópsia Pleural". sa, é realizada a pesquisa de BAAR e de fungos no material
(e, no paciente HIV-positivo, mesmo sem granuloma).
Exames do líquido pleural e o possível/provável
significado dos seus resultado(» Pleuroscopia
Aspecto amarelado: é o mais comum; não há relação com A pleuroscopia está indicada quando se julga que não have-
nenhuma causa em especial rá vantagem na execução de uma nova punção-biópsia, ou
quando se planeja realizar imediatamente a pleurodese. A
• Aspecto purulento e/ou presença de germes e/ou pH bai- pleuroscopia possibilita fazer-se biópsia dirigida e descorti-
xo: empiema. cação endoscópica no caso de empiema.
• Aspecto hemorrágico: acidente de punção, trauma ou Ver a técnica da pleuroseopia no Capítulo "Medias tinos-
neoplasia maligna; não costuma ocorrer na tuberculo- copia, Thraooscopia e Toracotomia Mínima".
se.
• Thxa de proteínas muito elevada: tuberculose ou outro Toracotomia exploradora
exsudato oom intensa resposta inflamatória.
A toracotomia exploradora está indicada apenas em situa-
• Citológico diferencial com linfocitose e ausência de célu-
ções excepcionais, quando:
las mesoteliais: tuberculose.
• Citopatológico com a presença de células malignas: der- • os procedimentos habituais (punção, biópsia, pleurosco-
rame neoplásico. pia) não foram efetivos e a principal suspeita for neo-
• Pesquisa de bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR) po- plasia;
sitiva ou anatomopatológico demonstrando granuloma: • há probabilidade de mesotelioma pleural;
tuberculose. • existe necessidade de deseorticaçãolpleurectomia;
• há necessidade de ressecção pulmonar; QUADRO 58.1 ? Derrames de causas determinadas e critérios
• ocorrem acidentes durante a pleuroscopia; utilizados
• há hemorragia pós-traumática grave.
acima de 4,0 g% +
- Linfocitose: com pouCI/nenhuma c~ula + Quando não se deve prosseguir na investigação
mesotefial pleural
É possível não prosseguir na investigação invasiva e reali-
com muitas c~ulas + zar teste terapêutico ou deixar o paciente em observaçAo
mesotefiais quando:
(+) i 1'<"""1" do fotor hVOfOC. UINI dos duas >rt~ (Df'T OU DPN). -+ houver melhora cllnica e regressão do derrame pleu·
tOnto: Cooh elo Silvo.u ral;
-+ existir doença sist~mica capaz de explocar o derrame
e seu tratamento será iniciado;
7 o diagnóstico de derrame pleural tuberculoso for
muito provável, o paciente não estiver eroticamente
Re<omendaçóes para o manejo de derrames enfermo e não houver riscos signifocativos para a in·
pleurais de causa ainda indeterminada dicação de tratamento antituberculoso, como a pre-
-+ Reunir todas as informações de onteresse (clinicas, ra- sença de hepatopatia.
diológicas e laboratoriais) e reavaliâ-las, em consulto-
ria com pneumologista experiente em pleura.
-+ Procurar condiçAo, prévia ou atual, que explique a
presença de derrame pleural.
-+ Avaliar se a doença está em euolução, estável ou em Tratamento
resolução.
-+ Considerar o perfil do paciente, os recursos d isponí- O tratamento do derrame pleural visa ao controle dos sin-
veis e a experiência do serviço. tomas e da causa determinante do acúmulo do liquido. Os
-+ Considerar causas raras apenas quando esgotadas as transudatos são controlados pela correção do mecanismo
possibilidades mais frequentes. fisiopatológico, ou seja, pela normalização das pressões hi-
drostática ou oncótica; os exsudatos infecciosos, por agentes
antimicrobianos e, quando indicado, drenagem pleural; por
fim, os derrames neoplásicos, por quimioterápieos e bloque-
A FIGURA 58.7 apresenta um Ouxograma para orientar o adores de receptores (no caso de carcinoma de mama), e, se
diagnóstico dos derrames pleurais. recidivantes e volumosos, por pleu.rodese.
OP associado a uma doença ~rrame pleur•l
sistêmica j' diagnosticada sem pista diagn65tk• ou
ou a uma condição evidente que precisa confirmação
1 1
Torac:octntMe +
Tratamento ou punçlo-boópsoa:
observação ogrMs do líquido e
de fr~rMnlo pleur.>l
±
OOA9n6stKo de Sem FIGURA 58.7 -+ Fluxograma para o diagnóstico dos
probabolodade diagnóstKo
derrames pleurais.
FIGURA 58.8 ~ Ca.so 1: derrame pleural tuberculoso. FIGURA 58.9 ~ Caso 2: derrame pleural neoplásico.
-----
Punção p leural: líquido hemorrágico; proteínas = 3,5 8. Diretrizes na Abordagem Diagnóstiea c Terapêutica das Doenças
g%; linfócitos = 60%; neutrófilos = 1 O%; células meso- Plcurais. J Bras Pneumol. 2006;32 Supi4:S163-S216.
=
teliais 30%. 9. Ligbt RW. Parapneumonie cffusions and infcctions of tbe pleural
Punção-biópsia pleural (A-P): adenocarcinoma, pouco spaee. In: Ught RW. Pleural diseascs. Philadelphia: Lca & Fcbiger;
diferenciado. 1983. p. 101 -18, eap. 9.
Diag nóstico definitivo: derrame pleural neoplásico.
Tratamento: avaliar reinício de quimioterapia, manter
inibidor estrogênico; se não houver controle do derrame Leituras recomendadas
pleural, avaliar indicação de talcagem pleural. Camargo J. Ttatamento do derrame pleural ncoplásico. In: Corrêa
da Silva LC. Compêndio de pneumologia. 2. ed. São Paulo: Fundo
Editorial BYK; 1991. p. 904-10.
3. üght RW. Pleural discase.In: Gibson PG, editor. Evidenee-bascd Rich AR. Patogenia de la tubcrculosis. Buenos Aires: Alfa; 1946.
respiratory medicine. Malden: Blackwell; 2005. p. 521-36. p. 132,762.
4. Light RW. Pleural discasc. 4th cd. Philadelphia: Lippincott Spriggs AI, Boddington MM. Abscncc of mesotbelial cclls from tu-
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5. Corrêa da Silva LC. Derrame pleural: estado atual do tema (1 1 Spriggs AI, Boddington MM. Tbe cytology of effusions. 2nd ed.
parte). J Pncumol. 1977:3(1):19-27. London: Heinemann; 1968.
6. Corrêa da Silva LC. Derrame pleural: estado atual do tema (21 Vargas FS, Thixeira LR, Marchi E. Derrame plcural. São Paulo:
parte). J Pneumol. 1977; 3(2):23-30. Roca; 2004.
7. Colliee GL, Curtis A, Deslauriers J, Heffner J, Light R, Litten- Wang NS. The pcrformed stomas connccting tbe pleural cavi-
berg B, et ai. Medicai and surgieal treatment of parapneumonic ty and the lymphatics in the parietal pleura. Am Rev Rcspir Ois.
effusions: an evidenee-bascd guideline. Cbest. 2000;118(4): 1158-71. 1975;111:12-4.
Tratamento
Cirúrgico do
Derrame Pleural
Neoplásico
Spencer Marcantonio Camargo
FabíolaAdéliaPerin
59
de aspecto leitoso, com dosagem de triglicerideos acima de
Introdução 110 mg/dL, dissociado de cirurgia ou trauma recente, leva à
O envolvimento da pleura por doenças malignas é uma das suspeita de um linfoma.
causas mais frequentes de derrame pleural exsudativo, per-
dendo apenas para os derrames secundários a pneumonias.
Entre as neoplasias, o câncer de pulmão, o câncer de mama
e os linfomas são responsáveis por cerca de dois terços dos
Anamnese e exame físico
derrames pleurais neoplâsicos, mas estima-se que aproxima-
damente metade das neoplasias avançadas apresente derra- ~ ATENÇÃO
me pleural em algum momento do seu curso.
O mecanismo de formação do derrame pleural nas neo- Na avaliação de um paciente com derrame pleural e
plasias ainda não é completamente compreendido. A inftl- história de neoplasia, é importante que os passos da
tração neoplásica dos linfáticos era considerada o principal semiologia sejam seguidos. Não é porque existe um
mecanismo, mas entendendo-se que a formação diária de diagnóstico prévio de neoplasia que se vai considerar
líquido pleural é muito pequena, a simples obstrução na ab- que um derrame pleural neste paciente também seja
sorção faria da formação do derrame pleural neoplâsico um neoplásico. Pacientes no curso de uma neoplasia cos-
processo muito lento, contrariando a situação muitas vezes tumam estar com a imunidade baixa, tanto pela neo-
observada nesse tipo de derrame, em que, poucos dias após plasia como pelo tratamento quimioterápico. Não é
um procedimento para retirada de líquido pleural, ocorre o incomum que tais pacientes desenvolvam derrames
reacúmulo de um grande volume de líquido. pleurais parapneumõnicos ou mesmo tuberculosos.
Dessa forma, a observação recente de que a infiltração
pleural neoplásica estimula a formação de um fator de cres-
cimento vascular endotelial - um dos mais potentes agentes Na anamnese, deve-se investigar presença de febre,
responsáveis pelo aumento da permeabilidade capilar - cor- perda de peso e astenia . Em geral, o derrame pleural neo-
robora a ideia de que o aumento da permeabilidade pleural plásico não costuma ser acompanhado de febre importante.
seja o principal fator responsável pelo acúmulo de líquido. Um derrame pleural volumoso desacompanhado de febre
Em algumas situações, a ocorréncia de derrame pleural em um paciente que não esteja apresentando um quadro
está relacionada diretamente com o envolvimento tumoral de insuficiência cardíaca ou renal é bastante sugestivo de
(como no caso dos linfomas ), que provoca obstrução e rup- neoplasia.
tura do dueto torácico, levando à formação de um derrame A presença de dor ventilatório-dependente é mais fre-
pleural de aspecto quiloso. O achado de um derrame pleural quente nos derrames pleurais inflamatórios, mas uma dor
de forte intensidade, não relacionada diretamente com a
venti.lação, pode ser representaúva de compromeúmento
tumoral da pleura parietal ou de estruturas da parede to-
rácica.
Radiologia
A radiografia do tórax em duas incidências é, em geral, o
primeiro exame realizado na suspeita de um derrame pleu-
ral. Como o volume do derrame pleural é variável, pode-se
deparar com radiografias praúeamente normais até uma
opacidade completa de um hemitórax, provocando desvio
do mediasúno para o lado oposto (FIGURAS 59.1 e 59.2). A
presença de um derrame volumoso sem que o mediastino
esteja desviado passa uma informação importante de que o FIGURA 59.2 -+ Derrame pleural à direita em uma paciente com neo-
mediasúno está fiXO, seja por comprometimento dos linfono- plasia de mama. Observa·se o comprometimento do pui!No contraia·
teral. Não houve desvio do mediastino.
dos ou espessamento da pleura.
O derrame pleural neoplásico é uma das principais cau-
----------------------
sas de derrame pleural unilateral volumoso, principalmente
se desacompanhado de sinais clínicos de insuficiência car- Em geral, os pacientes com exame radiológico anor-
dlaca. Nas situações em que a formação de derrame se deu mal são submetidos a uma tomografia computadorizada
de forma lenta, o paciente pode estar habituado a essa nova do tórax para maior detalhamento dos achados. Uma boa
situação, relatando poucos sintomas mesmo com derrames conduta nessa situação é a realização de toracocentcse
moderados. de alivio antes da tomografia, o que, além de melhorar a
condição respiratória do paciente, fornecerá material para
análise bioqu1mica e citológica. A reúrada do liquido tam-
bém é importante por permitir a expansão do pulmão, fa-
vorecendo uma melhor interpretação pelo radiologista dos
achados de imagem.
Nos casos de derrames pleurais pequenos, a ecografia
pode ser úti.l para orientar a punção diagnóstica e minimizar
o risco de complicações.
Investigação pleural
A quase totalidade dos derrames pleurais malignos carac-
teriza-se como exsudato, com nlveis altos de proteína e
desidrogenase láctica (LO H). O aspecto macroscópico do
derrame é hemáúco em cerca de 50% dos casos. A citolo-
gia diferencial mostra aproximadamente 45% de linfócitos,
40% de células mononucleares e cerca de 15% de polimor-
fonucleares.
A presença de mais de 10% de eosinófilos no liquido
pleural foi considerada por algum tempo como de baixa pro-
babi.lidade de neoplasia, mas, quando não relacionada com a
presença de ar ou sangue na cavidade, uma doença neoplási-
ca não pode ser afastada.
A dosagem da glicose no líquido pleural geralmente está
normal, mas a presença de um nlvel de glicose abaixo de
60 mgldL sugere neoplasia com extenso comprometimen-
to pleural e pior prognóstico, o mesmo ocorrendo com pH
abaixo de 7,3.
A positividade da citopatologia no liquido pleunl va-
FIGURA 59.1 -+ Derrame pleural volumoso com desvio do mediastino
ria entre 40 e 80%, dependendo da origem da neoplasia
em paciente com neoplasia de pulmão e envolvimento pleural.
primária.
Uma biópsia às cegas com agulha de Abrams ou de Cope
pode ser realizada no momento da toracocentese, tendo
uma positividade diagnóstica em cerca de 50% dos casos.
Nas situações em que um derrame pleural com caracte-
rísticas de exsudato permanece sem diagnóstico após a reali-
zação de toracocentese e biópsia pleural, é importante pros-
seguir a investigação. A toracoscopia é o procedimento de
escolha para este fim, permitindo nova colheita de líquido,
inspeção visual da cavidade pleural e realização de biópsia
orientada para achados anormais, com uma positividade de
cerca de 95%. Outra vantagem da toracoscopia é a possibi-
lidade de um procedimento terapêutico no mesmo procedi- FIGURA 59.4 ~ Imagem de um derrame pleural e implantes neoplá-
mento (FIGURAS 59.3 e 59.4). sicos.
Rodrfgucz-Panadero F, López Mcjlas J. Low glueose and pH le- Teixeira LR, Pinto JAF, Marchi E. Derrame pleural neoplásieo. J
veis in malignanl pleural effusions: diagnostie significance and Bras Pncumol. 2006;32{Supl4):Sl82-9.
Spencer MarcantonioCamargo
José J. Camargo
60
riável de 18 a 28 casos por 100.000 habitantes/ano entre os
Conceito homens e de 1,2 a 6 casos entre as mulheres.
O pneumotórax é caracterizado pela presença de ar no es- No pneumotórax espontâneo primário, apesar da ausência
paço pleural - normalmente este é virtual e compreendido de pneumopatias prévias, estudos mostram que alterações ana-
entre as pleuras visceral e parietal. A entrada de ar pode tômicas como pequenas bolhas subpleurais (b/ebs) são identifi-
ocorrer a partir de uma lesão pulmonar que provoque uma cadas nas tomografias e toracoscopias nos terços superiores pul-
solução de continuidade na pleura visceral, causando ruptu- monares de cerca de 80 a 90% desses pacientes (FIGURA 60.1).
ra alveolar e extravasamento de ar para a cavidade pleural, Essas blebs têm paredes muito ftnas e escassa comunica-
ou através de uma solução de continuidade, traumática ou ção com os alvéolos adjacentes, o que explica a tendência à
não, da parede torácica (pneumotórax aberto). resolução espontânea quando a eventual drenagem da câ-
Quando a quantidade de ar no espaço pleural é pequena, mara de ar assegura a reexpansão pulmonar com aposição
o pneumotórax pode ser assintomático, mas quando ocorre dos folhetos pleurais.
entrada de grande quantidade de ar ou se houver uma doença Embora não exista uma causa conhecida que justifique a
pulmonar associada, pode ser bastante sintomático, levando presença dessas b/ebs e, em função da ruptura delas, a ocor-
até mesmo a uma situação de risco à vida do paciente. rência de pneumotórax espontâneo, alguns fatores de risco
Quanto à classificação, o pneumotórax pode ser espontâ- são reconhecidos, sendo que o tabagismo é o principal de-
neo, traumático ou iatrogênico. O pneumotórax espontâneo les, estando associado tanto à incidência quanto à chance de
divide-se em pneumotórax espontâneo primário, quando recorrência dos episódios de pneumotórax. Estudos1'2 mos-
não existe uma doença pulmonar preexistente, ou secundá- tram que fumantes, tanto homens quanto mulheres, apre-
rio, nos casos em que há o reconhecimento clínico ou radio- sentam risco aumentado que varia de acordo com o número
lógico de uma doença pulmonar preestabelecida. de cigarros fumados, podendo elevar em até 20 vezes o risco
de ocorrência de pneumotórax espontâneo primário em re-
lação às pessoas que não fumam. Além disso, parece muito
seguro afirmar que um paciente fumante com antecedente
Pneumotórax espontâneo primário de pneumotórax na juventude tem maior vulnerabilidade
O pneumotórax espontâneo é denominado primário quan- para o desenvolvimento ulterior de enfisema.
do não decorre de nenhum evento traumático conhecido e Homens jovens, saudáveis, altos e magros parecem ter
também não há história clínica ou sinais radiológicos de uma uma predisposição para a ocorrência de pneumotórax es-
doença pulmonar preexistente. É uma doença frequente e pontâneo primário, embora a razão para isso não esteja
de ocorrência universal, que afeta cerca de três vezes mais completamente entendida. Uma das teorias para explicar a
homens do que mulheres, e tem uma incidência global va- ruptura de bolhas preexistentes se apoia no fato de que a
oi
negatividade pleural é menor na base do tórax e maior nos brio ventila tório, interferindo na troca de gases e levando es-
ápices, sendo portanto ainda maior nos ápices das caixas to- ses pacientes a apresentarem síntomas respiratórios graves.
rácicas de indivíduos longilineos. Isso não explica a existên- Também costuma afetar mais os homens do que as mu-
cia de bolhas, mas, na presença delas, a maior negatividade lheres, na proporção de 3:1.
pleural justificaria a sua ruptura. A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) costu-
A história familiar de pneumotórax também parece ser um ma ser a principal causa de pneumotórax espontâneo se-
risco para sua ocorrência, e inúmeras propostas relacionando cundário, mas várias doenças - como fibrose cística, asma,
fatores genéticos autossômicos dominantes e recessivos, fato- granuloma eosinoffiico, sarcoidose, linfangioliomiomatose
res poligenéticos e associados ao cromossomo X vêm sendo e algumas outras doenças pulmonares - podem cursar com
estudadas. Mais de 10% dos pacientes que apresentam episó- pneumotórax.
dios de pneumotórax espontâneo referem história familiar. A Entre as doenças infecciosas, a pneumonia por
ocorrência aumentada de pneumotórax espontâneo primário Pneumocystis jirovecii e a tuberculose são as principais cau-
em indivíduos com síndrome de Marfan é bem conhecida. sas de pneumotórax secundário. A ocorrência de pneumotó-
As imagens da FIGURA 60.2 ilustram bem a condição de rax no paciente com DPOC está relacionada com a ruptura
pneumotórax espontâneo primário. de bolhas apicais. Existe uma relação direta entre o grau de
severidade da doença e a ocorrência de pneumotórax, com
30% dos episódios acontecendo nos pacientes que apresen-
tam um volume expiratório forçado no primeiro segundo
Pneumotórax espontâneo secundário (VEF1) abaixo de um litro.
O pneumotórax espontâneo secundário é aquele que ocorre Os pacientes com pneumonia por P. jirovecü e que apre-
em sobreposição a uma doença pulmonar preexistente. Cos- sentam um episódio de pneumotórax têm mau prognóstico,
tuma ser mais grave, pois os pacientes já apresentam uma com alta taxa de mortalidade hospitalar. O pneumotórax
função pulmonar comprometida, de modo que mesmo um ocorre em função da ruptura de grandes bolhas devido à ne-
pneumotórax bastante pequeno pode causar um desequill- crose do tecido parenquirnatoso subpleural.
Pneumotórax hipertensivo
Pneumotórax traumático A instalação de um mecanismo valvular ao nível da ruptu-
O pneumotórax traumático decorre de um trauma torácico ra da via aérea periférica ou no sítio de laceração da pleura
direto, aberto ou fechado. Nas lesões torácicas penetrantes, visceral pode resultar em pneumotórax bipertensivo, uma
todas as camadas da parede torácica são rompidas, permitin- das poucas condições potencialmente fatais em pneumo-
do a entrada de ar no espaço pleural. Quando a solução de tórax. Na maioria dos casos, o pneumotórax hipertensivo é
continuidade na parede torácica tiver um diâmetro maior do traumático, e seu significado patogênico é mais danoso se
instalado no hemitórax direito. Essa diferença se deve ao
fato de que as estruturas vasculares mediastinais desse lado
são predominantemente venosas e, portanto, mais fáceis de
serem comprimidas. Por outro lado, sabe-se que, quando a
pressão intratorácica excede 20 cmHzO, já bá uma redução
significativa do retomo venoso.
A manifestação clínica do pneumotórax hipertensivo é
muito chamativa: o paciente apresenta uma síndrome para-
doxal, com hipotensão arterial e hipertensão venosa. Essa
combinação clínica só tem equivalente no tamponamento
cardíaco, e o diagnóstico diferencial entre essas duas urgên-
cias médicas é feito a partir de outros elementos, como:
AGURA 60.4 ~ (A) trauma torácico grave provocado pelo cinto de segurança. (8) tomografia mostrando grande enfisema de mediastino de-
pois de drenagem pleural bilateral. (C) a broncoscopia virtual identificou a laceração na junção da traqueia com o brônquio principal direito.
(D) imagem da toracotomia direita mostrando a laceração traqueal onde se reconhece o balonete do tubo orotraqueal. Defeito facilmente
reparado.
l•a·t·Jiwll@.t·l
Punção transtorácica 24 Diagnóstico
Punção venosa central (subclávia) 22 A ocorrência de dor torácica de início súbito em pacientes
jovens, principalmente se homens altos e magros, deve levar
Toracocentese 19 à suspeita de pneumotórax.
Nos casos de pneumotórax volumoso, a ausculta pulmo-
Biópsia transbrônquica 10 nar vai mostrar diminuição do murmúrio vesicular homo·
lateral, podendo haver também taquicardia, hipotensão e
Biópsia pleural
dispneia. A ocorrência de pneumotórax de tensão com risco
Ventilação com pressão positiva à vida é incomum no pneumotórax espontâneo primário.
A apresentação do pneumotórax secundário costuma
Punção venosa supraclavicular ser mais exuberante do ponto de vista dos sintomas, que po-
dem ser importantes a despeito de um pneumotórax míni-
Bloqueio de nervo mo, mas o exame físico costuma ser menos esclarecedor. A
Fonte: Adaptado de Light.' hiperdistensão da cavidade torácica presente nos pacientes
com doenças pulmonares crônicas dificulta a avaliação de cogitar a possibilidade de que esse líquido seja sangue. Isso
mobilidade torácica, e a ausculta pulmonar também é fator pode ocorrer pela ruptura de uma aderência pleural no mo-
de confusão, pois é comum que esses pacientes tenham um mento em que o pulmão se afasta da parede pela presen-
murmúrio vesicular bastante diminuído pela presença de bo- ça do pneumotórax. Como essas aderências costumam ser
lhas e rarefação do parênquima pulmonar normal. vascularizadas pela circulação intercostal, tendo, portanto,
A radiografia de tórax deve mostrar a presença de uma pressão da circulação sistêmica, o sangramento pode ter um
linha pleural, correspondendo à imagem da pleura visce- volume importante, levando à necessidade de um procedi-
ral afastada da pleura parietal. Novamente, a presença de mento pleural imediato. Essa condição é suspeitada quando,
doença pulmonar bolhosa e cistos pulmonares e a perda da na drenagem do pneumotórax, houver saída de sangue vivo
capacidade elástica pulmonar com áreas hiperdistendidas (FIGURA 60.9 ).
dificultam, muitas vezes, a identificação de uma linha pleu-
ral que caracterize o pneumotórax. Quando há dúvidas em
relação ao diagnóstico de uma área de hipertransparência, a
tomografia é um exame bastante útil, facilitando a distinção
Volume do pneumotórax
entre o pneumotórax e uma bolha de enfiSema. A definição do volume do pneumotórax é importante para
Alguns autores afirmam que a realização de exames em que se tenha uma forma objetiva de quantificação, o que
expiração não demonstra maior sensibilidade no diagnóstico ajudará na escolha do tratamento a ser empregado. Existem
do pneumotórax espontãneo em relação à radiografia de tó- vários cálculos elaborados para definir o volume do pneu-
rax convencional em duas incidências, mas isso com certeza motórax, mas duas formas simples, uma adotada pela British
não é o que se observa em pacientes com pequenas câmaras Thoracic Society (BTS) e outra pelo American College of
e pulmão normal, que é justamente o que mais desinsufla na Chest Physicians (ACCP), podem fornecer dados adequados
expiração forçada, tornando a câmara de pneumotórax, que de um modo objetivo, claro e fácil de memorizar.
parecia apenas laminar, uma grande câmara de pneumotó- A BTS considera o espaço de ar entre a linha da pleura
rax (FIGURA 60.7). visceral e a parede torácica lateral na altura do hilo pulmo-
nar: uma distância de menos de 1 em caracteriza um pneu-
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial entre pneumotórax e uma lesão
cistoide pode ser muito dificil ou impossível. A presença do
pulmão colabado contra o hilo, o aspecto do ângulo costo-
frênico e a ausência de septos na zona de hipertransparên-
cia do tórax são elementos importantes para o diagnóstico
diferencial entre as lesões mais comuns: enfisema lobar
congênito, enfisema intersticial, cistos e pneumatoceles (FI-
GURA 60.8).
AGURA 60.9 ~ (A) imagem de um pneumotórax à direita acompanhado de derrame pleural- observe o barramento do seio costofrênico à direita,
sugerindo a presença de liquido. (8) imagem de uma aderência no ápice da cavidade responsável pelo hemotórax associado.
motórax pequeno; uma distância de 1 a 2 em, um pneumo- A cessação do tabagismo diminui bastante a chance de
tórax moderado; e uma distância maior do que 2 em, um ocorrência de um segundo episódio. Não parece haver rela-
pneumotórax grande.• O ACCP considera a distância entre ção entre o tamanho do primeiro episódio e a ocorrência de
o ápice da cavidade pleural e a cúpula do pneumotórax: um novo. Quando ocorre um segundo episódio de pneumo-
quando essa distância for de 3 em ou mais, o pneumotórax é tórax, a chance de um terceiro é de mais de 60%.
considerado volumoso.' Em relação ao pneumotórax secundário, os índices de
recorrência parecem ser aínda mais elevados do que no
pneumotórax primário.
A realização de tomografia computadorizada nos pa-
Medida adotada pela BTS
cientes que apresentam o primeiro episódio de pneumotó-
Distância > 2 em = pneumotórax volumoso
rax ajudou a identificar aqueles que apresentam mais bolhas
Medida adotada pelo ACCP apicais, mas não conseguiu estabelecer uma relação com o
Distância > 3 em = pneumotórax volumoso risco de recorrência.
Recorrência
A recorrência de um segundo ou terceiro episódio de
pneumotórax espontâneo primário é um fato bastante
FIGURA 60.10 ~ Paciente com DPOC grave, vitima de várias fraturas
conhecido. Muitos estudos6.7 buscam a identificação de costais à esquerda, com pneumotórax hipertensivo deste lado (abai-
fatores que levem à recorrência para, assim, orientar a xamento da hernicúpula frênica, desvio do mediastino, ampliação dos
terapêutica a ser adotada. A ocorrência de um segundo espaços intercostais) e, ainda assim, com colapso pulmonar apenas
episódio é descrita em diversos trabalhos com um índice parcial, visto que as bolhas enfisematosas não se desin.suflam. Punção
variável de 20 a 54%. descompressiva: saída ruidosa de ar da cavidade pleural deste lado.
expansão do pulmão com a punção pleural por agulha, o mé-
Tratamento todo não deve ser repetido, devendo-se optar pela drenagem
A despeito dos diversos estudos acerca do tratamento do pleural fechada ou por uma videotoracoscopia. Nos casos de
pneumotórax, não existe um consenso estabelecido, havendo sucesso na expansão do pulmão, se não houver contraindica-
diferentes abordagens para o manejo inicial do pneumotórax ção, o paciente pode ser liberado para casa com orientações
espontâneo, tanto primário como secundário, e para a pre- semelhantes às dadas para os pacientes tratados com obser-
venção da recorrência. vação.
Dependendo do quadro clínico da apresentação ini- É importante considerar que os pacientes que apresen-
cial, do tamanho do pneumotórax e da presença ou não de tam pneumotórax secundário devem ser sempre tratados
doença preexistente, o manejo pode variar da observação com um olhar mais atento, estando indicada a internação
ambulatorial à internação até um procedimento cirúrgico hospitalar para observação clínica, com uso de oxigênio su-
(QUADRO 60.2). plementar mesmo nos casos em que o pneumotórax é peque-
no e o indivíduo está assintomático. A apresentação típica
do paciente com pneumotórax secundário é a de uma des-
Observação proporção clinicorradiológica, com necessidade de drena-
A observação está indicada nos pacientes jovens, assintomá- gem mesmo nos pneumotóraces pequenos.
ticos e com pneumotóraces espontâneos primários pequenos A presença de pneumotórax associado ao trauma e/ou
(menos de 3 em da cúpula do pulmão até o ápice da cavida- no paciente em ventilação mecânica também não deve ser
de). Alguns estudos mostram que o índice de recorrência é tratada de forma conservadora.
menor quando comparado com o de pacientes tratados com
drenagem pleural.
Quando a opção for pelo tratamento conservador, é Drenagem pleural fechada
importante certificar-se de que os pacientes estejam de- A drenagem pleural fechada está indicada para o tratamento
vidamente esclarecidos a respeito do seu problema e dos inicial do pneumotórax espontâneo primário ou secundário
sintomas decorrentes de um agravamento do quadro. Esses no paciente sintomático, nos casos de pneumotóraces volu-
pacientes também devem ter possibilidade de acesso imedia- mosos (distância medida da parede lateral à linha da pleura
to a um serviço de emergência, caso necessário. Antes de > 2 em), quando houver derrame pleural associado ao pneu-
liberá-los para casa, é recomendado que uma radiografia de motórax e no pneumotórax hipertensivo, que é um procedi-
tórax seja repetida seis horas após a primeira, sem demons- mento de urgência.
trar aumento no tamanho da câmara de pneumotórax. A drenagem pleural clássica é realizada através de uma
Uma nova consulta deve ser agendada dentro de 48 ho- pequena incisão de cerca de 2 em na altura do quarto ou
ras com outro exame de imagem. A estimativa da velocidade quinto espaço intercostal, na linha axilar média. Um dreno
de absorção do ar da cavidade pleural é de 1,25% do tama- pleural de calibre 22 a 28 Fr é utilizado na maioria dos ca-
nho do pneumotórax a cada 24 horas. Nos casos em que a sos. O procedimento é feito sob anestesia local. O bloqueio
observação se dá em ambiente hospitalar, o uso de oxigênio anestésico do espaço intercostal com bupivacaina antes da
suplementar através de cateter nasal acelera essa absorção inserção do dreno, além da anestesia com lidocaína, alivia
em até quatro vezes. bastante o desconforto provocado pela passagem do dreno.
Atualmente, alguns sistemas de drenagem fornecidos em
forma de kits permitem que o dreno seja introduzido de for-
Aspiração por agulha ma transcutânea, pela técnica de Seldinger.
A aspiração por agulha tem se mostrado, em alguns estudos, É importante observar que, ao drenar um pneumotórax
tão eficaz quanto a drenagem pleural no manejo do episódio grande ou um pneumotórax presente há alguns dias, a reex-
inicial, tendo a seu favor a simplicidade e a diminuição da pansão do pulmão deve ser feita de forma lenta. Isso ajuda a
necessidade de internação hospitalar. Quando não houver evitar a ocorrência do edema pulmonar de reexpansão. Esse
edema tem sido atribuído, hoje em dia, à injúria de reperfu-
são com liberação de radicais livres de oxigênio e representa
uma complicação potencialmente grave, podendo se asso-
QUADRO 60.2 ~ Opções de tratamento no pneumotórax ciar a uma mortalidade de até 20% naqueles pacientes que
ficam sintomáticos logo depois da reexpansão pulmonar.
- Observação A utilização da válvula unidirecional de Heimlich tam-
- Aspiração por agulha bém tem se mostrado uma opção no tratamento de pacientes
- Drenagem percutânea que exijam drenagem pelas dimensões e/ou repercussão clí-
- Válvula de Heimlich nica do pneumotórax. Estudos comparando o uso da válvula
- Cateter pleural de Heimlich com a drenagem em selo d'águas.9 mostraram
- Drenagem por toracostomia
efetividade semelhante, com a vantagem de permitir que al-
- Selo d'água
- Drenagem por toracostomia e pleurodese química
guns pacientes sejam tratados de forma ambulatorial com a
- Videotoracoscopia válvula.
- Toracotomia O uso da drenagem pleural fechada associado a um siste-
ma de aspiração não está indicado de rotina, ficando reser-
..
vado para os casos em que ocorre fuga aérea persistente e com técnicas que apresentem a menor morbimortalidade
não há expansão adequada do pulmão após 48 horas da co- possível. As indicações para o tratamento cirúrgico são apre-
locação do dreno pleural. Embora não existam dados cien- sentadas no QUADRO 60.3.
tlficos que comprovem a eficácia da aspiração, a explicação O tratamento cirúrgico por meio de uma toracotomia
de que a sucção acelera a saída do ar da cavidade pleural e lateral com pleurodese abrasiva foi o primeiro método des-
permite que os folhetos pleurais fiquem em contato, favore- crito no tratamento do pneumotórax. Na sequência, houve
cendo a cicatrização da fístula alveolar, faz com que muitos a recomendação de pleurectomia e ressecção das blebs sub-
cirurgiões queiram utilizá-la. pleurais, procedimentos que apresentavam um risco muito
Um estudo com pacientes tratados por drenagem pleural baixo de recorrência (cerca de 1%), mas uma morbidade
fechada 10 mostrou que 80% dos casos se resolvem com sete expressiva, com perda sanguínea importante e dor significa-
dias de drenagem e que o tempo médio de drenagem foi de tiva. Posteriormente, o uso de uma minitoracotomia axilar
cinco dias, sendo que a maioria dos pacientes foi manejada com ressecção das bltbs e pleurodese abrasiva mostrou um
com drenagem em aspiração. resultado similar com menos morbidade.
A chegada da videotoracoscopia, permitindo a realização
do procedimento por pequenas incisões de não mais de 2 em,
Pleurodese química praticamente do mesmo tamanho da incisão utilizada para a
A administração de um agente esclerosante pelo dreno de colocação de um dreno plcural, estimulou os cirurgiões a in·
tórax, com objetivo de provocar adesão pleural e com isso dicarem a cirurgia torácica videoassistida de forma cada vez
minimizar as chances de recorrência do pneumotórax, deve mais precoce no tratamento do pneumotórax, buscando dimi-
ser reservada aos pacientes que apresentam contraindicação nuir o tempo de internação c a chance de recorrência.
para o tratamento cirúrgico, já que os resultados são infe· A vidcotoracoscopia permite a inspeção do pulmão em
riores aos das outras técnicas de tratamento, com indices de busca de bolhas subpleurais e a ressecção delas com uso de
recorrência de cerca de 20%. grampeadores endoscópicos, além da realização de pleurec-
Dentre os agentes estudados, a tetraciclina tem se mos-
tomia apical ou pleurodese abrasiva.
trado um dos mais efetivos e com menos efeitos colaterais.
Hoje, embora alguns estudos ainda sugiram que a tora-
Um dos problemas relatados na administração da tetracicli·
cotomia com pleurectomia seja o procedimento com menor
na é a dor, que pode ser amenizada com o uso de lidocaína índice de recorrência (cerca de 1%), 12 a associação de resul-
misturada à tetraciclina.
tados- dor pós-operatória, tempo de permanência hospita·
O talco é outro agente bastante estudado para a reali-
lar e perda de função pulmonar - faz da videotoracoscopia
zação de pleurodese, principalmente no tratamento do der-
com bulectomia e pleurodese o procedimento de escolha no
rame pleural maligno. Embora seja bastante efetivo, o uso
tratamento cirúrgico do pneumotórax espontâneo primário.
em pacientes jovens com pneumotórax espontâneo não é
Uma questão controversa diz respeito ao melhor mo-
recomendado.
mento para indicar a profilaxia da recorrência. A maioria
A pleurodese química com objetivo de diminuir o tempo
dos cirurgiões é historicamente favorável à indicação de pro-
de escape aéreo também é utilizada, embora os estudos rea-
cedimento cirúrgico depois do segundo episódio, quando a
lizados sejam controversos em relação a essa prática.
chance de novas recorrências é maior.
Há, mais modemamente, uma corrente que defende a
Tratamento cirúrgico inspeção da cavidade pleural com videocirurgia já no primei-
O momento ideal para indicação do tratamento cirúrgico é ro episódio se, pelo volume da câmara ou pela repercussão
motivo de bastante controvérsia na literatura. Um estudo clinica, existir indicação de drenagem pleural. Em vez de
de pacientes com episódios de pneumotóraces espontâneos uma drenagem convencional, pela mesma minúscula inci-
primários tratados com drenagem pleural fechada e que per· são, seria inserida uma cámera de vídeo para inspecionar a
maneciam com escape aéreo no sétimo dia" mostrou que cavidade pleural. Na presença de blebs apicais, proceder-se-
em todos houve resolução do escape em 14 dias. Entre os
pacientes com pneumotórax secundário, a resolução se deu
em 79% dos casos. Em geral, admite-se que os pacientes QUADRO 60.3 -+ Indicações de tratamento cirúrgico no
com escape aéreo por mais de três dias sejam avaliados com pneumotórax
vistas ao tratamento cirúrgico.
O tratamento cirúrgico pode ser realizado por meio de - Segundo episódio do mesmo lado
uma minitoracotomia axilar, por uma videotoracoscopia ou - Pneumotórax contralaterat
mesmo por uma toracotomia lateral. A toracotomia lateral - Pneumotórax bilateral
é reservada, em geral, para os pacientes com pneumotórax - Não expansão pulmonar
secundário ou no caso de recorrência após tratamento cirúr- - Fuga a«ea persistente por mais de S a 7 dias
- Hemotórax assooado
gico utilizando outras vias. - Profissões de risc:o (mergulhadores, pilotos)
O objetivo do tratamento cirúrgico é tratar a fistula pleu- - Primeiro episódio em pacieflte distante de recursos médicos
ral, abreviar o tempo de internação e prevenir a recorrência,
-ia à ressecção delas com a pleurodese subsequente, que as-
seguraria a resolução definitiva do problema já no primeiro
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José Carlos Felicetti
61
Tiago Noguchi Machuca
Ao - derrame mlnimo (<1 cm), livre na caVIdade Radiograf,. decúboto Radiografia decúbito
A, - derrame > 1 em, porém < 50% do hemitórax lateral ou uhrauom lateraJ ou uttrassom
A,- derrame > 50% do hemitórax OU derrame loculado OU < 10mm > 10mm
derrame com espessamento da pleura parietal
ou pus
MKrobiolog10 -
81- presença de pus no aspirado pleural
TC sem evidência de
septações e sem TC com evidência TC com evidênóa de
encarceramento de sept..;ões encarceramento pulmonar
pulmonar
l l J;
Paciente com
'L
Paciente sem
Drenagem torácica Pleuroscopia
condições condições
fechada clínicas e clínicas ou
parênquima parênquima
viável dest,-uído
l l
Decorticação Pleurostomia FI GURA 61 .2 ~ Abordagem cirúrgica do derrame
pleural complicado.
realizada por uma toracotomia lateral e, pela dificuldade na Em pacientes com empiema precoce, a apresentação
remoção de toda a carapaça pleural, pode haver sangramen- clínica é marcada por disfunção respiratória e expectoração
to moderado. Portanto, as condições clinicas do paciente de- de secreção sero-hemática. Nesse momento, a prioridade é a
vem ser cuidadosamente avaliadas no pré-operatório. preservação do pulmão remanescente, evitando a sua inun-
Os objetivos da decorticação são controle do foco infec- dação. Portanto, o paciente deve ser posicionado em decú-
cioso e recuperação da função pulmonar. Para que se obte- bito lateral sobre o lado da pneumonectomia. A conduta a
nha o segundo objetivo, é fundamental que exista expansão seguir consiste em drenagem torácica fechada (uma vez que
pulmonar adequada pós-procedimento. na maioria dos casos ainda não existe fixação do medias tino)
Em um estudo focado na função pulmonar pós-operató- e fibrobroncoscopia para avaliar o status do coto brônquico.
ria de 26 pacientes com empiema submetidos a decorticação, Caso se confirme a presença de fístula broncopleural
mostrou-se uma melhora tanto no volume expiratório força- (o que ocorre na maioria das vezes), a boa evolução do pa-
do no primeiro segundo- VEF, (de 50% do previsto para ciente dependerá da resolução da fístula. Para a obtenção
69% do previsto no pós-operatório) quanto na capacidade desse objetivo, o paciente deve ser submetido à toracotomia
vital - CV (de 62 para 79% do previsto no pós-operatório). 11 com debridamento do coto brônquico e ressutura. A fim de
Mais recentemente, autores da Duke University realiza- proporcionar vascularização e reforço adequados para a ci-
ram estudo comparativo entre a decorticação via toracoto- catrização do coto brônquico, podem ser utilizados retalhos
mia formal e a decorticação por videotoracoscopia. 12 Em 420 musculares (intercostal, serrátil anterior ou grande dorsal),
pacientes analisados, o tempo de permanência hospitalar e pleurais ou pericárdicos.
o índice de complicações pós-operatórias como escape aé- Em pacientes com empiema pós-pneumonectomia tar-
reo prolongado, reentubação e necessidade de ventilação dio, já existe fixação das estruturas mediastinais, com a pos-
mecãnica foram menores no grupo da videocirurgia. Com sibilidade de drenagem aberta. O status do coto brônquico
o avanço das técnicas minimamente invasivas, a tendência é também deve ser avaliado, e este deve ser reabordado em
que a decorticação por videotoracoscopia seja cada vez mais casos de fístula. Pelo fato de o processo ser crônico, o acesso
empregada. ao coto brônquico por toracotomia do lado da pneumonec-
Uma última alternativa para pacientes com derrame tomia nem sempre é possível. Alternativas descritas são o
parapneumônico em fase Ill que apresentem comprometi- acesso transestemal transpericárdico, o acesso por toracoto-
mento extenso do parênquima pulmonar ou que não tenham mia contralateral e, mais recentemente, o fechamento com
condições clínicas de tolerar uma cirurgia aberta com de- grampeador por acesso cervical e o uso de sei antes/dispositi-
corticação (cuja mortalidade fica em tomo de 10 a 15%) é a vos por broncoscopia.u·"
drenagem aberta. Nesse caso, o objetivo primário toma-se o
controle do foco infeocioso por meio de drenagem adequada.
Pode-se realizar a secção do dreno de tórax junto à pele,
ou ainda uma pleurostomia formal, com ressecção de cos-
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um volume de drenagem > 1.600 ml por dia por sete ciados com procedimentos de pleurodese e derivação pleu-
d ias. roperitoneal do qui!otórax.'
A tomografia computadorizada de tórax revelou ade- A embolização também pode oferecer uma alternativa
nopatias mediastinais, e a mediastinoscopia confirmou a paliativa, com resultados favoráveis no relato da experiência
suspeita diagnóstica de linfoma. com 109 pacientes.'
Foi então indicada a ligadura do dueto torácico, logo A população pediátrica apresenta peculiaridades pró-
acima do diafragma, no espaço entre a aorta torácica e a prias da idade e das causas relacionadas com o quilotórax,
veia ázigo, contra a superfície da vértebra. sendo que 80% dos pacientes respondem ao tratamento con-
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Spencer Marcantonio Camargo
63
• Aos paàentes Idosos, portadores da variante sar-
comatosa e com envolvimento mediastinal, deve
ser reservado apenas o melhor suporte dfnico
possfvel.
• O tratamento moderno tende a ser multidiscipli·
nar, sendo a cirurgia um adjuvante de terapias
sistêmicas como a quimioterapia, a radioterapia
e a terapia gênica.
Introdução
Os mesoteliomas são neoplasias oriundas das superfícies se-
rosas que possuem revestimento mesotelial, e em 80% dos
casos se originam no espaço pleural, mas podem oonrrer no
pericárdio, no peritônio, na túnica vaginal, entre outros.
Em 1931, Klemperer e Rabin propuseram o termo
mesotelioma para designar o tumor primitivo da pleura.1
Em 1941, Stou t e Himadi, em estudos com cultura de teci-
dos, documentaram a origem mesotelial desses tumores, e
CampbeU propôs os critérios para o diagnóstico de meso-
telioma.2 Selikoff e colaboradores/ em 1964, estabeleceram
a relação entre a exposição ao asbesto e o desenvolvimento
ulterior de mesotelioma difuso. O conceito de mesotelioma
difuso maligno foi proposto por McCaughey,' em 1958.
Wagner, em 1960, descreveu a associação dos mesotelio-
mas com a exposição permanente ao asbesto, tanto nas pes-
soas que trabalhavam com este elemento como naquelas que
moravam perto das minas de extração de asbesto (exposição
paraocupacional).' Em 30% dos casos de mesotelioma não A imagem radiológica mais sugestiva é a de uma mas-
há nenhuma história de exposição ao asbesto. sa arredondada, de bordas lisas, muitas vezes pedunculada,
Por asbestos entendem-se seis tipos de silicatos: criso- que na mudança de decúbito se mobiliza no espaço pleural,
lita, crocidolita, amosita, antofilita, tremolita e actinolita. o que sugere fortemente o verdadeiro diagnóstico. Radiolo-
Somente três são utilizados como isolantes na indústria (cri- gicamente, não há evidências de invasão de estruturas adja-
solita, crocidolita e amosita); os outros são contaminantes. centes e pode se apresentar com ou sem derrame pleural. A
A crocidolita - o asbesto de Cape Blue (amphibole fi- propósito, o derrame pleural nessa situação representa um
ben) - é a forma mais carcinogênica, associando·se a 90% dos raros exemplos de derrame hemorrágico em doença be-
dos tumores pleurais e peritoneais, e parece ser um fator de nigna. Em geral são tumores pediculados na pleura visceral
grande risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão, {75 a 80%), medindo de 1 a 36 em de diãmetro e pesando
em particular em fumantes. A potencialidade oncogênica entre 100 e 2.000 g.
das fibras de asbesto tem relação com sua forma e tamanho; A maioria dos pacientes com mesotelioma localizado be-
assim, as fibras da crocidolita, por serem cristais retos e pon- nigno é assintomática, podendo surgir manifestações clínicas
tudos, mais facilmente penetram a árvore brõnquica e se alo- atribuíveis às dimensões gigantes do tumor, quando então a
jam no espaço subpleural, onde se produz a carcinogênese. tosse (33% ), a dor torácica (23%) e a dispneia {19%) são os
Oínica e anatomopatologicamente, os mesoteliomas se sintomas mais frequentes.
apresentam sob três formas: O modelo clínico é o representado por um paciente com
idade entre 50 e 60 anos, com pouco ou nenhum sintoma,
• Localizado benigno (tumor fibroso isolado da pleura) uma volumosa massa no tórax e intenso hipocratismo digital
• Mesotelioma localizado maligno (FIGURA 63.1).
• Mesotelioma difuso maligno O diagnóstico sugerido por esses elementos geralmente
é confirmado durante a cirurgia, que será ao mesmo tempo
O mesotelioma pleural maligno é a neoplasia primária terapêutica, mas, em casos de risco cirúrgico, recomenda-se
mais comum da cavidade pleural, muitas vezes fatal, que ain- a coleta de material por punção transtorácica, a ser analisa-
da não tem uma abordagem terapêutica consensual. do pela imuno-histoquímica.
Com raras exceções, esses tumores são curados pela ci-
rurgia e, quando recidívam, sempre o fazem localmente, reco-
mendando-se nova resseoção com limites cirúrgicos ampliados.
Tumor fibroso solitário de pleura É importante estabelecer com segurança o diagnóstico
Este tumor foi, durante décadas, chamado de mesotelioma de benignidade com base na quantidade de mitoses e no ple-
localizado benigno, a partir de uma observação equivocada omorfismo celular, considerando-se que as formas malignas
de Stout e Himadi/ que o considerou originário da superfí- localizadas frequentemente recidivam, levando à morte em
cie mesotelial, quando na verdade é uma neoplasia que cres- menos de dois anos.
ce a partir do tecido conjuntivo subpleural, sendo moderna- A recidiva, apesar de rara {10%), está relacionada com
mente denominado tumor solitário de pleura margem cirúrgica insuficiente. Por outro lado, cerca de 10%
Representa 85 a 90% dos tumores pleurais localizados desses tumores podem sofrer uma transformação maligna
e 5 a 10% de todas as neoplasias que envolvem a pleura. Na com mau prognóstico. Embora seja uma neoplasia benigna,
série da Mayo Oinic, a incidência dos tumores fibrosos be- é recomendado o seguimento radiológico anual para detec-
nignos de pleura é 2,8 casos por 100.000 habitantes.6 Opa- ção precoce de eventual recidiva.
drão histológico mais característico é o celular misto (células Na grande experiência da Mayo Oinic, a sobrevida em
como fibroblastos e teádo conectivo), com atividade mitóti- cinco anos foi de 88,9% nas variantes benignas e 45,5% nas
ca nula ou muito rara. variantes malignas.' Nessa série de 84 pacientes, foram des-
O tumor origina-se no tecido submesotelial da pleura, critas duas recorrências entre 73 portadores de lesões benig-
fato que o diferencia do mesotelioma difuso, que tem sua nas e seis recorrências entre 11 pacientes com lesões malig-
origem na capa superficial da pleura parietal. Não tem rela- nas. 1bdas as reá divas foram tratadas com novas ressecções.
ção com a exposição ao asbesto e ocorre mais em mulheres
(2:1 ), podendo acompanhar-se de manifestações paraneo-
plásicas (hipocratismo digital, hipoglieemia, secreção ina-
dequada de hormônio antidiurético, galactorreia, etc.), das
Mesotelioma localizado maligno
quais a osteoartropatia é a mais frequente, especialmente Entre 10 e 20% dos mesoteliomas localizados são malig-
em tumores gigantes. nos, com frequência de baixo grau e ressecáveis. Podem se
Os tumores mesenquimais, e entre eles o tumor fibroso apresentar como grandes massas, com sinais tomográficos
solitário de pleura, podem produzir uma subsiAncia insulina- de invasão de estruturas da parede torácica, e algumas vezes
-sfmile, o que explica o achado de hipoglicemia em cerca de acompanhados de derrame.
5% desses pacientes, podendo apresentar inclusive episó- São tumores sarcomatosos, eventualmente acompanha-
dios de coma. Os sintomas desaparecem totalmente quando dos de derrame pleural. Na expeóência do Memorial Hos-
é feita a ressecção do tumor, e costumam recair na eventual pital de New York, cerca de 10% dos pacientes com a forma
recidiva. fibrossarcomatosa apresentam históóa de exposição ao as-
FIGURA 63.1 ~ Tumor solitário de pleura -(A) grande massa no hemit6rax direito compri-
mindo o mediastino e desviando o esôfago. (B) imagem da massa arredondada no perfil.
Pequeno derrame pleural. (C) hipocratismo digital. (O) grande massa com cerca de 2.550
g e estreito pedfculo do lobo médio. (E) radiografia normal dois anos depois da ressecção.
besto. 8 Esses tumores também podem ser do tipo lipossarco- O tratamento de escolha desses tumores continua sendo
ma ou hemangiopericitoma. a cirurgia, cuja efetividade depende, à semelhança do que
As manifestações paraneoplásicas são raras, sendo mais ocorre com os sarcomas em geral, do quanto a ressecção
comuns sintomas como dor torácica, dispneia, tosse, hemop- consiga ser radical, com margens tão amplas quanto pos-
tise e derrame pleural. sível. Muitas vezes a proximidade com a coluna vertebral
Os métodos utilizados para o diagnóstico incluem a limita a obtenção de margem adequada, reduzindo a chance
punção aspirativa, que demonstra a presença de células fu- de cura.
siformes que os distinguem dos carcinomas (FIGURA 63.2), e A extensão da ressecção pode incluir pulmão, parede
a tomografia computadorizada (TC) de tórax, que tem um torácica e até pele para conseguir um tratamento curativo.
papel relevante na determinação da extensão do processo e A sobrevida está diretamente relacionada com uma margem
sua ressecabilidade. cirúrgica livre de doença. São considerados fatores prognós-
FIGURA 63.2 ~ (A e 8) massa na topografia da lfngula aderente à parede anterior do tórax. com 6 em de diâmetro. A punção revelou neoplasia
maligna indiferenciada, de células fusiformes. (C) peça operatória da ressecção com margem ampla. Mesotelioma sarcomatoso localizado.
tico ressecção completa, tamanho do tumor, número de mi- vista principalmente como complicação do tratamento da
toses, polimorfismo e necrose tu moral. doença de Hodgkin e do càncer de mama.9
A radioterapia, a quimioterapia ou ambas têm sido uti- O SV40, um vírus com ação no DNA e que foi identifi-
lizadas esporadicamente como terapia adjuvante p<\5-opera- cado como contaminante de milhares de doses de vacinas
tória, mas não há dados definitivos que confirmem o benefí- antipoliomielite nos Estados Unidos nas décadas de 1960
cio de tal associação. A radioterapia é indicada em casos de a 1970, tem sido reconhecido atualmente como uma possí-
recidiva, porém os resultados são pobres. vel causa do MDM.'0 As sequências de DNA do SV40 têm
sido detectadas com uma frequência significativa em peças
cirúrgicas de MDM em humanos. Embora esse vírus não
Mesotelioma difuso maligno pareça estar relacionado com todos os mesoteliomas, pode
atuar como um cocarcinógeno, potencializando os efeitos
O mesotelioma difuso maligno (MDM) representa o tipo do asbesto.
mais importante, não só pela maior frequência como tam- Outros possíveis agentes incluem infecções pulmonares
bém pela definida associação com a exposição ao asbesto. É crõnicas, pleurite tuberculosa e algumas fibras minerais.
a neoplasia primária maligna mais comum da cavidade pleu- Existem três tipos histológicos de MDM:
ral, muitas vezes fatal, que ainda não tem uma abordagem
terapêutica consensual. • Epitelial
'Il'ês principais problemas justificam uma investigação • Sarcomatoso
contínua do MDM: a dificuldade do diagnóstico, as devas- • Misto
tadoras consequências da evolução e o desconhecimento do
mecanismo de ação das fibras do asbesto. O tipo epitelial é o de melhor prognóstico em relação à
É um tumor com um longo período de latência (20 a 30 sobrevida.
anos) entre a exposição e o diagnóstico da doença. O tempo O pico de incidência da maioria dos indivíduos que de-
de exposição como elemento de risco é variável, existindo senvolvem MDM é na sexta década de vída. 'Il'ata-se de uma
relatos de casos com exposição de poucas semanas. doença principalmente de pessoas adultas pelo longo pe-
É mais frequente no sexo masculino (3:1), e cerca de 60 ríodo de latência, mas por vezes acomete crianças.
a 80% dos homens e 5 a 60% das mulheres com MDM pos-
suem história de exposição ao asbesto. Aproximadamente
2.300 novos casos de MDM são diagnosticados por ano nos Doença e imuno·histoquímica
Estados Unidos. O MDM se origina de células mesoteHais ou subserosas, que
Apesar das investigações contínuas, a patogenia dessa podem desenvolver tumores mesoteliais ou sarcomatosos.
doença ainda não está bem clara. A crocidolita é a forma que Em contraste com os tumores fibrosos da pleura, os MDM
mais claramente se associa ao MDM. Ela faz parte de 97% sempre têm um componente epitelial, mas exibem uma am-
do asbesto do mundo, sendo encontrada, sobretudo, nas pla gama de padrões b.istológicos (QUADRO 63.1). Em uma re-
montanhas da Rússia, no Canadá, no Zimbábue, na África visão de 819 casos, 50% foram de tipo epitelial, 34% mistos
do Sul e nos Alpes italianos. e 16% de tipo sarcomatoso. 11
Existem outras causas menos comuns de MDM. A ex- No exame anatomopatológico em parafina, a aparência
posição à radiação por períodos de 1Oa 30 anos antes do histológica do MDM é facilmente confundida com outros ti-
desenvolvimento da doença é uma causa bem documentada, pos de tumores, sobretudo com o adenocarcinoma.
QUADRO 63.1 -+ Oassificação histológica do mesotetioma pleural de e comprime as estruturas adjacentes e limita a expansão
maligno pulmonar.
Quando a parede torácica e os nervos intercostais são
- Epitelial invadidos pelo tumor, a dor se intensifica, indicando que a
- Tubulopapilar doença está em uma fase avançada.
- Epitelioide Síndromes paraneoplásicas são raras, mas pode-se ob·
- Glandular serva r anemia hemolltica autoimune, hipercalcemia, hipo·
- C~lulas grandes/Células gigantes glicemia, síndrome de secreção inapropriada de hormônio
- Pequenas c~lulas antidiurético, tromboembolismo pulmonar e hipercoagula·
- Adenodstko bilidade. A tromboeitose (40% dos casos) é um dado relati·
- Anel de sinete
- Sarcomatoide (fibroso. sarcomatoso, mesenquimal) vamente comum e pode assoei ar-se a um mau prognóstico.
- Mosto e,litetial-sarcomatoide (bifásico) Em várias séries, demonstrou-se que uma quantidade de
- Transicional plaquetas maior do que 400.000/,.L parece ter um impacto
- Oermoplástko negativo na sobrevida dos pacientes com MDM. Os indi·
- Mesotetioma fibroso localizado cadores de mau prognóstico são tipo bistológico (misto ou
sarcomatoso ), tromboeitose, febre de origem desconhecida,
Fonto: Adap"do de H•mmar • Bolon.''
idade acima de 65 anos e um índice de Karnofsky baixo.
O prognóstico mais favorável está associado ao tipo bis·
tológico epitelial, sem metástases ganglionares, sem dor to·
Na fase inicial, identificam-se nódulos isolados ou lesões rácica e com início dos sintomas nos últimos seis meses.
em forma de placas que tendem a coalescer e que produzem Um valor elevado de ácido hialurônico no derrame plcu-
aderência dos folhetos parietal e víscera!, com formação de ral é caracterlstico de mesotelioma, mas pode ser encontra·
uma carapaça que pode ter até vários centímetros de espes- do em outros tumores ou derrames inflamatórios (p. ex.,
sura, o que determina uma redução de volume da cavidade tuberculose).
pleural. A imuno-histoqufmica e a microscopia eletrônica são
As metástases linfáticas e bemáticas ocorrem tardiamen- atualmente os métodos padrão-ouro para o diagnóstico. A
te. Cerca de dois terços dos casos apresentam envolvimento imuno-histoquím.ica inclui anticorpos para citoqueratina, vi-
12
ganglionar à necropsia. mentina, ACE e calretinina.
Os achados da microscopia eletrônica, altamente carac- Em alguns casos com derrame pleural, a diferenciação
terísticos em mesotelioma, são suas numerosas microvilosi- entre pleurites (células mesoteliais reativas), mesotelioma
dades compridas e ondulantes, que o diferenciam do adeno- e adenoearcinoma (principalmente do tipo tubulopapilar)
carcinoma.13 pode ser muito dificil.
A imuno-histoquímica inclui anticorpos como a citoque- Marcadores tumorais como ACE, Leu·l e mucina po·
ratina, a vimentina, o antígeno carcinoembriônico (ACE) e dem ser úteis no diagnóstico, uma vez que frequentemente
a calretinina. Ao contrário do que acontece no carcinoma de são positivos no adenoearcinoma (50 a 90%) e raras vezes
pulmão, anormalidade em p53 e Rb são incomuns. são encontrados nos mesoteliomas. A vimentina e a calreti·
nina identificam o mesotelioma (QUADRO 63.2).
Apresentação clínica e diagnóstico
Não há dúvida de que o mesotelioma pleural é uma doença Métodos de imagem
subdiagnosticada em nosso meio. O erro mais frequen- Os métodos de imagem ajudam a determinar o estágio do
te é aceitar, sem contestação, o diagnóstico de derrame tumor e a orientar a conduta terapêutica
ncoplásico por adenocarcinoma em um paciente que não A aparência radiológica do MDM é variável. Nos está·
tem antecedente de neoplasia extratorácica e que apre- gios iniciais, o tumor está confinado à pleura parietal e um
senta um espessamento pleural que caracteristicamente volumoso derrame pleural (50% dos casos) é o único sinal
também envolve a pleura mediastinal. Esse diagnóstico predominante da doença. Na sequência, o tumor cresce, en·
deve ser sempre cogitado quando um paciente apresenta volve a pleura visceral, tornando-se loeulado, e finalmente
derrame com espessamento pleural, em especial se acom- ocupa todo o espaço pleural. Nos derrames pleurais volu·
panhado de dor torácica. mosos, a ultrassonografia pode ser útil na demonstração de
A apresentação clínica é de inicio insidioso e com sin- lesões sólidas de permeio com a coleção líquida.
tomas poucos específicos, e o intervalo entre o começo dos A TC é mais senslvel na detecção de lesões pequenas na
sintomas e o diagnóstico é de 3 a 6 meses. Os sintomas mais fase inicial, mas que podem corresponder a outras doenças,
frequentes são dispneia e dor torácica (90% dos casos) e como espessamento pleural benigno, carcinoma brônquico
perda de peso (30%). Outros sintomas como tosse, febre, com atelectasia, entre outras.
anorexia, astenia, bemoptise e disfagia, slndrome de Homer O espessamento pleural marnelooado, que costuma ser
e poeumotórax espontãneo são menos comuns. desproporcional ao derrame, é muito característico de me-
A dispneia costuma ser causada pelo derrame pleural sotelioma pelo envolvimento também da pleura mediastinal
que eventualmente evolui para um padrão loeulado, mas (RGURA 63.3), o que é raro em espessamentos pleurais infla-
logo o espaço pleural é preenchido pelo tumor, o qual inva- matórios ou secundários a neoplasias metastáticas.
QUADRO 63.2 ~ Métodos de histoquímica e imuno·histoquímica usados na diferenciação entre mesotel ioma e adenocarcinoma
Histo química
Calretinina +
CKS/6 +
WT·1 +
Trombomodulina +
HBME-1 +
N·caderina +
ACE +
MOC-31 +
Ber EP4 +
872.3 +
leuM1 (CD15) +
E-caderina +
lewisy (BGB) +
FIGURA 63.6 ~ Depois de uma pleuropneumonectomia radical, o diafragma esquerdo foi substituído por uma tela de Marlex e o hemipericárdio,
por pericárdio bovino.
FIGURA 63.7 ~ (A) massa ocu-
pando a metade inferior da
cavidade pleural esquerda e se
estendendo pela parede late-
ral até o ápice. (B) tomografia
computadorizada de tórax com
os achados característicos. (C)
rad iografia de tórax mostrando
atrofia das costelas submetidas
à "ressecção em gaiola" durante
a pleurectomia. (O) a tomografia
confirma ausência de lesão em
controle realizado oito anos mais
tarde.
intrapleural e sistêmica e quimioterapia adjuvante em con- res de tipo epitelial e linfonodos negativos, com uma sobrevida
junto com radioterapia. de 74 e 39% em dois e cinco anos, respectivamente.21
Como a maior probabilidade de recorrência tumoral está Um estudo de fase ll do Memorial Sloan-Kettering Can-
relacionada com a recidiva local, inúmeras formas de trata- cer Center tratou os pacientes com MDM com uma dose de
mento têm sido testadas com a perspectiva de aumentar o cisplatina intrapleural e rnitornicina no final da pleurectornia,
controle local da doença. Dentre elas, a terapia fotodinâmi- e um mês depois da cirurgia foram administrados dois ciclos
ca pós-ressecção tem sido recomendada, com a ideia de eli- de quimioterapia sistêmica com cisplatina e mitomicina. 36
minar, pelo calor, eventuais focos remanescentes do tumor No Dana-Farber Cancer Institute, 183 pacientes foram
na superfície pleural. A terapia fotodinârnica com emprego tratados com quimioterapia adjuvante (CAP = ciclofosfa-
reconhecido em outras áreas ainda é considerada experi- rnida, doxorrubicina e cisplatina) e radioterapia do hemitó-
mental no manejo do mesotelioma pleural. rax, após pleuropneurnonectornia. Esse estudo confirmou a
importância do tipo histológico epitelial, de metástases lín-
Além da terapia fotodinâmica, o tratamento visando au-
fonodais e de uma completa ressecção no prognóstico dos
mentar o controle local da doença adiciona radioterapia e
pacientes com MDM.37
terapia gênica à ressecção cirúrgica.
A terapia combinada avaliada no Dana-Farber Cancer
Institute/Brigham e no Women's Hospital Thoracic Oncolo-
gy Program incluiu a análise retrospectiva de 120 pacientes, • CASO CLÍNICO
de 1980 a 1995, com diagnóstico de MDM tratados com te- Paciente do sexo masculino, 60 anos, bom estado geral,
rapia combinada (pleuropneurnonectornia + quimioterapia e apresentando dor torácica e dispneia. Derrame pleural e
radioterapia), observando-se um índice de sobrevida em dois massa polilobada sugestiva de mesotelioma, envolven-
e cinco anos de 45 e 22%, respectivamente. Os índices de so- do a cavidade pleural esquerda. O espessamento pleural
brevida foram de 65 e 27%, respectivamente, em dois e cinco mediastinal é considerado característico desse tumor.
anos para pacientes com tipo histológico epitelial. Pacientes VEF, de 77% do previsto. A biópsia indica mesotelioma
com tumores de tipo fibrossarcornatoso ou misto tiveram urna epitelioide. Mediastinoscopia cervical negativa. O envol-
sobrevida em dois e cinco anos de 20 e 0%, respectivamente. vimento grosseiro da pleura visceral exigiu a realização
Os índices de melhor prognóstico são em pacientes com turno- de pleuropneumonectomia esquerda (FIGURA 63.8).
FIGURA 63.8 -+
(A) radiografia
de tórax mostrando derrame
e espessamento irrt9ular à es-
querda. (B) tomografia de tórax
evidendando massa tumescente
na metade inferior do hemit6rax
esquerdo, com extens.'lo ao longo
da superffde pleural, incluindo a
pleura mediastinal. (C) controle
radiológico imediato p6s-pleu-
ropneumonectomia radical à es-
querda. (O) controle radiológico
tardio, sem sinal de rec.idiva ou
metástase seis anos depois.
I
mur!f.~N~mmm W!li!Y.íl/!mm lffllol;lo!!l! mw l•HIIIo!ll!i?J I
Quadro clínico Agudo Subagudo ou crônico Agudo Subagudo ou crônico
Tabagismo Sem relação Sem relação Frequente, início recente Sem relação
Pred ileção por sexo Não Mulheres 2:1 Não Homens 7:1
[l•t!olil!b
Eosinofilia no sangue Elevada, transitória Leve a moderada Rara Elevada, persistente
lw 1!IJ•IJ!M !@I
Padrão radiológico Infiltrado periférico, Infiltrado periférico, Alveolares e/ou Alveolares ou intersticiais, focais
migratório imagem negativa do EAP intersticiais, difusos ou difusos
Iti;IV1.\@j,J
Tratamento Parasito se Corticoide Corticoide Corticoide
Diagnóstico
Para o diagnóstico, é necessária a presença dos seguintes Evolução e prognóstico
critérios: eosinofilia persistente com contagem absoluta su- Atualmente, o prognóstico da SHE depende de dois
perior a 1.500{mm1 em sangue periférico por mais de seis principais aspectos: o envolvimento cardíaco e o risco de
meses; ausência de outras causas aparentes para eosinofilia; desenvolvimento de neoplasia hematológica (leucemia
e sinais e sintomas de envolvimento de múltiplos órgãos.38 mieloide aguda, leucemia eosinofflica aguda e Jinfoma de
células T). Outros fatores considerados de melhor prog- 16. Minakuebi M, Niimi A, Matsumoto H, Amitani R, Misbima M.
nóstico incluem rápida resposta cllnica com redução da Chronic eosinophilic pneumonia: treatment with inhaled eorúcoste-
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Adalberto Sperb Rubin
Suzana Zelmanovitz
65
Introdução Aspectos epidemiológicos
Estima-se que a LAM corresponda a 1% de todos os casos de
doenças difusas pulmonares; em razão dessa baixa prevalên-
cia, há dificuldade de se obter informações fidedignas a res-
peito dos dados epidemiológicos. Pode-se afirmar que a LAM
é uma doença quase exclusiva de indivíduos do sexo feminino,
havendo apenas poucos relatos da doença em homens, sendo
que nesses casos existia associação com esclerose tuberosa.
Exames de imagem
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Eduardo Garcia
Fernanda Waltrick Martins
67
mento microvascular pulmonar, estejam envolvidos na
Introdução predisposição para essa complicação.
A síndrome hepatopulmonar (SHP) é definida pela tríade
clínica composta de doença hepática, dilatações vasculares
intrapulmonares (DVIPs) e alterações de gases arteriais, ca-
racterizadas por diferença alvéolo-arterial de oxigênio (PA-
Fisiopatologia
-a02) 2: 15 mmHg (2: 20 mmHg se idade > 64 anos) ou Pa02 O diâmetro normal dos capilares pulmonares é de aproxima-
< 80 mmHg. Considerada uma complicação frequente da damente 8 a 15 JLm, podendo chegar a 500 JLm nos pacientes
cirrose, sabe-se que a SHP também pode acometer pacien- com SHP (FIGURA67.1).
tes não cirróticos com hipertensão portal, como em casos de O mecanismo da hipoxemia na SHP é representado por
esquistossomose hepatoesplênica. uma combinação de fatores: vasodilataçâo intrapulmonar,
Essa síndrome pode ocorrer na vigência de doença hepáti- desproporção ventilaçâo/perfusão (VA/Q) em áreas com
ca crônica ou aguda, embora seja mais comumente associada à baixas relações VA/Q e desequilíbrio de difusão do oxigê-
doença crônica. Há descrição de sua ocorrência entre 4 e 32% nio induzido por vasodilatação intrapulmonar disseminada,
dos pacientes cirróticos candidatos a transplante hepático, sen- mesmo em parênquimas pulmonares normais (FIGURA 67.2).
do essa variação dada pela deftnição recente, em 2004, dos cri- Embora a patogênese da vasodilatação intrapulmonar
térios diagnósticos da síndrome. A causa da cirrose não parece ainda não esteja completamente elucidada, diversas são as
estar relacionada com o aumento do risco de desenvolvimento hipóteses para explicar a patogênese da SHP. No entanto,
da SHP. Em pacientes não cirróticos com hipertensão portal, a essas teorias permanecem especulativas enquanto vários es-
prevalência é mais baixa, com taxas entre 8 e 9,7%. tudos experimentais vêm sendo realizados.
Está estabelecido que pacientes com SHP têm mais do Acredita-se que a falência hepática possa determinar
que o dobro do risco de morte quando comparados com pa- prejuízo na síntese ou no metabolismo de substâncias vaso-
cientes sem SHP, o que não foi explicado pelas diferenças ativas pulmonares, levando à perda do tônus vascular carac-
entre os grupos demográficos, pelas comorbidades associa- terizada por pouca ou nenhuma reatividade vascular à hipo-
das, pelo tipo ou pela gravidade da doença hepática e função xia. Entretanto, a causa da vasodilatação não foi atribuída a
cardiopulmonar. Dados obtidos por estudos retrospectivos nenhuma substância em particular. A endotelina-1 (ET-1) e
demonstraram mortalidade em pacientes com SHP de 41% o óxido nítrico (NO) têm recebido destaque devido ao seu
em até 2,5 anos após o diagnóstico. envolvimento direto com a microvasculatura pulmonar:
A etiopatogenia da SHP ainda não está definida. Es- Em condições normais, a ET-1, produzida pelo fígado,
pecula-se que fatores genéticos, bem como o desequilíbrio tem a função de regular o tônus vascular pulmonar. Quando
na resposta dos receptores de endotelina e o remodela- se liga aos receptores localizados no tecido do músculo liso
FIGURA 67.1 7 Dilatações vasculares intrapulmonares.
vascular (ETA), a ET-1 produz vasoconstrição. No entanto, A presença de cianose periférica, aranhas vasculares e
quando se liga aos receptores localizados no endotélio vas- bipocratismo digital ao exame físico evidencia SHP avança-
cular pulmonar (ETB), produz vasodilatação devido à sín- da, embora tais achados não sejam específicos.
tese de NO mediante estimulação da óxido nítrico sintase As comorbidades pulmonares crônicas - especialmente
endotelial ( eNOS). Assim, a ET-1 equilibra seu efeito vaso- doença pu lmonar obstrutiva crônica (DPOC), asma brôn-
constritor e ajuda a manter a ventilação pulmonar/perfusão quica e fibrose pulmonar idiopática - coexistem em cerca
dentro dos parâmetros normais (FIGURA 67.3). de um terço dos pacientes com SHP, o que também pode
Quando ocorre dano hepático, a endotelina chega à ocasionar esses achados clínicos. Portanto, a avaliação com-
circulação pulmonar e, preferencialmente, parece interagir plementar é sempre imprescindível.
com o receptor ETB, promovendo vasodilatação pulmonar. Um estudo angiográfico com pequeno número de pa-
Na cirrose, há aumento dos níveis do fator de necrose cientes com SHP demonstrou dois modelos de comunica-
tumoral alfa (TNF-a), o qual contribui para o acúmulo de ções arteriovenosas, o que permitiu a classificação da SHP
macrófagos no lúmen dos vasos pulmonares. Esses macró- em tipo I (ou difuso) e tipo II (ou focal) com base em acha-
fagos estimulam a produção de outra enzima produtora de dos angiográficos e na oxigenação arterial.
NO (induced nilric oxide synthase - iNOS), desencadeando
vasodilatação pulmonar. • Tipo 1: Dilatações pré-capilares que apresentam resposta
satisfatória à administração de oxigênio a 100% (Pa02 >
400mmHg).
Clínica • Tipo 11: Vasodilatações pequenas e localizadas, seme-
lhantes às malformações arteriovenosas, que apresentam
resposta ruim ao oxigênio a 100%; menos comum do que
~ ATENÇÃO o tipo I (FIGURA 67.4).
Sangue arterial
oxigenado
Perfusão uniforme
Sangue
venoso misto
...
•• e • ME 7 R
S.ngue
art.,...l
h1poxfmKO
FIGURA 67.2 ~ Na parte superior, pulmao normal; na parte inferior, pulmAo com síndrome hepatopulmonar.
1
VASOCONSTRIÇÃO
1 NO
VASOOIIATAÇÃO
suplementação de oxigênio (Pa02 < 100 mmHg) deve le-
vantar suspeita de shunt intracardiaco ou intrapulmonar. É
recomendado que pacientes com respostas inferiores a 300
mmHg sejam submetidos à arteriografia com o intuito de
FIGURA 67.3 ~ fisiopatología da slndrome hepatopulmonar.
determinar a presença do tipo li e, em casos selecionados,
realizar terapêutica com embolização.
Exames de imagem
Ecocardiograma transtorácico com contraste
Exame sensível, considerado o método não invasivo de esco-
lha para detecção de dilatações vasculares intrapulmonares.
Utilizam-se como contraste 10 mL de solução salina agita-
da manualmente, resultando em microbolhas ( ~ 90 p.m de
diâmetro), injetados em uma veia do membro superior. As
microbolbas são fisiologicamente presas e absorvidas por
alvéolos normais e não devem aparecer na aurícula esquer-
da. Após a aparição de microbolbas no átrio direito, a sua
visualização no átrio esquerdo em menos de três ciclos car-
díacos sugere uma comunicação intra-atrial da direita para
a esquerda, enquanto a visualização de microbolhas após o
quarto batimento implica dilatações vasculares intrapulmo-
nares. A ecocardiografia transesofágica com contraste pode
aumentar a sensibilidade de detecção de vasodilatação in·
trapulmonar em relação à ecocardiografia transtorácica.
Entretanto, é um método menos utilizado por ser invasivo e
dispendioso (FIGURA 67.5).
FIGURA 67.4 -+ Síndrome hepatopulmonar tipo 11.
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Adalberto Sperb Rubin
Beatriz Gehm Moraes
68
sobretudo, também alteram a arquitetura alveolar, causando
Introdução uma série de doenças pulmonares. Anormalidades estrutu-
A proteinose alveolar pulmonar (PAP) é uma síndrome ca- rais incluem danificação de macrófagos alveolares tipo II,
racterizada pelo acúmulo de surfactante nos alvéolos pul- hiperplasia de células epiteliais e fibrose, o que resulta em
monares, resultando em prejuízo no consumo de oxigênio, espessamento da parede alveolar e distorção do parênquima
distúrbio nas trocas gasosas e, em casos graves, insuficiência pulmonar. Essas anormalidades diferem muito da anormali-
respiratória.' Diversas entidades clinicas determinam altera- dade primária em pacientes com PAP autoimune, que con-
ção no fator estimulante de colônias de granulócitos e ma- siste essencialmente no simples preenchimento dos alvéolos
crófagos (GM-CSF), que é a causa primária da PAP, uma vez com surfactante, sendo este recheado de macrófagos alveo-
que ele está intrinsecamente ligado à manutenção dos níveis lares, em geral sem anormalidades da parede alveolar ou do
do surfactante pulmonar. Neste capítulo, aborda-se a PAP parênquima pulmonar.
causada pela interrupção da produção do GM-CSF.
Epidemiologia
Patogênese A PAP autoimune é a forma clínica mais comum, represen-
O surfactante pulmonar é vital para a função pulmonar, tando 90% dos casos.3 Um estudo de âmbito nacional, com
atuando na interface ar-tecido líquido para reduzir a tensão base nos registros do Japão, relatou a incidência e a preva-
superficial, evitando assim o colapso alveolar e a transuda- lência da PAP como sendo de 0,49 e 6,2 por milhão da po-
ção de líquido capilar para o lúmen alveolar. A quantidade pulação em geral. A doença foi duas vezes mais comum em
de surfactante é regulada pela secreção equilibrada e remo- homens, em geral se manifestando na terceira década e mais
ção da superfície alveolar. A PAP seria causada por uma de- comumente em indivíduos fumantes com uma variedade de
ficiência do GM-CSF - genética ou adquirida - que poderia exposições pulmonares maldefinidas. A PAP secundária cos-
ser a responsável pela estabilidade dos níveis de surfactante. tuma estar associada a malignidade hematológica subjacente
Existe uma forma congênita de PAP associada a anomalias ou disfunção das células míeloides.
recessivas.2
A PAP pode se desenvolver nos indivíduos em associação
com diferentes distúrbios hematológicos, de imunodeficiên-
cia e mesmo neoplásicos.
Apresentação clínica
As mutações genéticas que alteram a composição do sur- A PAP geralmente se apresenta como dispneia progressi-
factante perturbam a sua homeostase em graus variados e, va de início insidioso em adultos entre a terceira e a sexta
décadas.' Pode haver história de tabagismo ou exposição a
outras substâncias inaláveis. Cerca de um terço dos casos
é diagnosticados em radiografia de tórax de rotina, sendo
assintomático. A tosse está presente em um quarto dos pa-
cientes e, embora em geral não produtiva, é ocasionalmente
acompanhada por expectoração esbranquiçada. Febre e he-
moptise não costumam ocorrer, a menos que também haja
infecção. O exame físico costuma ser normal ou pode revelar
estertores inspiratórios. Apesar de descrito na literatura, o
hipocralismo digital é raro na PAP.
Tratamento
São objetivos do tratamento na discinesia ciliar:
AGURA 69.4 -+ Microsco~ e!etr6nica de transmissão de o1ios do epi·
télio respiratório. Cllios compostos nos quais uma única membrana ce- • Melhorar a eliminação de secreções de vias aéreas altas
lular envolve vArios conjuntos de microtúbulos. e baixas.
• Acompanhar a colonização das vias aéreas por agentes
patogênicos importantes, como Sraphy/ococcus aureus e
Pseudo17U)nas aernginosa.
• Tratar exacerbações infecciosas agudas.
• Acompanhar a evolução da função pulmonar por meio
de exames de função pulmonar e oximetria.
• Combater a obstrução brônquica.
• Retardar o máximo possível a instalação de cor pu/mona/e,
utilizando, se todas as outras medidas falharem, oxigenote-
rapia domiciliar prolongada.
• Intervir nas complicações com as medidas terapêuticas
necessárias.
~ ATENÇÃO
Como o problema básico na discinesia ciliar é o
transporte mucociliar deficiente, medidas como
a estimulação da tosse e a fisioterapia respiratória
continua são absolutamente fundamentais. A ftuidi-
AGURA 69.5-+ Microscopia e4etr6nica de transmi55ão de cnios do epi- ficação de secreções com agentes farmacológicos s6
télio respiratório. Cllios em corte transversal nos quais se notam micro- está indicada se for notada a eliminaçjo de catarro
rubulos em número maior do que os nove pares esperados. muito espesso.
FIGURA 69.7 ~ Microscopia eletrônica de transmissao de cilios do epitélio respiratório. (A) e (8) cilios em corte transversal. de dois pacientes di·
ferentes, nos quais se nota o desarranjo da disposiçlo normal dos pares periféricos de microtúbulos, indicando um defeito dos filamentos radiais.
Culturas semiquantitativas periódicas de escarro são suflação tem boa resposta ao emprego de beta2-adrenérgicos
recomendáveis para se acompanhar a composição da flora de longa duração.
bacteriana nesses pacientes. A técnica da semeadura por Corticoides inalatórios têm seu lugar estabelecido no
esgotamento (distribuição do material na placa em trés di· tratamento da bronquite crônica tabágica grave, por já exis-
reções diferentes, com ãngulos de 90" entre elas e sempre tirem evidências de que são capazes de melhorar a qualidade
com flambagem da alça entre os deslizamentos) consegue de vida dos indivíduos acometidos e também de diminuir o
fornecer uma ideia aproximada da representatividade dos número de exacerbações. Na maioria das vezes, tais exacer-
microrganismos isolados na constituição da flora patológica bações acontecem por supercresámento da flora bacteriana
nesses indivíduos cronicamente colonizados. anormal que esses indivíduos abrigam em suas vias aéreas.
Episódios de exacerbação infecciosa devem ser tra· Por paradoxal que possa parecer, o uso prolongado de este·
tados com antibióticos capazes de eliminar Streptococcus roides inalados diminui a frequência de agudizaçõcs infeccio-
pneumoniae, Haemophilus injluenzae e Moraxella catar· sas, talvez pelo fato de minorarem a lesão epitelial produzida
rhalis, a menos que culturas prévias tenham demonstrado pela intensa inflamação que as bactérias desencadeiam. Ape-
a presença de S. aureus e/ou P. aeruginosa, situação que sar de faltarem estudos prospectivos que indiquem o emprego
exige antibióticos mais potentes e específicos. O período desses fármacos em pacientes bronquiectásicos, vários traba·
mínimo de antibioticoterapia é de 10 a 14 dias. lhos publicados demonstram que esta é uma conduta comum.
Pacientes que apresentem infecções graves muito fre- Nos quadros infecciosos agudos que cursam com insu·
quentes devem ser considerados para um programa de an- ficiência respiratória grave, a corticoterapia parenteral de
tibioticoterapia inalatória. Os agentes mais usados por essa curta duração pode trazer beneficios.
via são gcntamicina, amicacina, colistina c tobramicina, por As complicações onmo empiema, hemoptise e outras de·
períodos prolongados. O emprego de antibioticoterapia inala- vem ser tratadas da maneira preconizada, levando-se sempre
tória parece espaçar as crises de infecção c está especialmente em consideração que o paciente pode ter condições basais
indicado nos casos de colonização crônica por P. aeruginosa. 11 muito ruin.s.
O aonmpanhamento da função pulmonar por meio de Deve ser enfatizado que os pacientes com discincsia ciliar
testes espirométricos e oximetria e/ou gasometria arterial não apresentam somente problemas pulmonares e, às vezes,
é importante para se avaliar a velocidade de progressão da para serem conduzidos de maneira adequada, exigem o con-
doença e a eficácia das medidas terapêuticas empregadas. A curso de vários especialistas. Papel fundamental tem o otorri·
nolaringologista, já que as infecções crônicas de vias aéreas su-
queda da pressão parcial de oxigênio para nlvcis inferiores a
periores (sinusites, otites) são muito comuns nesses pacientes c
60 mmHg indica gravidade da doença e torna necessário o
uso de suplementação de oxigênio por longos períodos (18
é fato estabelecido a inter-relação dessas infecções com a ma·
nutençáo e exacerbação de quadros infecciosos pulmonares.
a 24 horas por dia), única terapêutica capaz de retardar a
instalação do cor pu/mona/e.
O uso de broncodilatadores é sempre recomendável,
mesmo que não se comprove a reversibilidade da obstrução Referências
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70
EID feriores são uma evidmcia antiga. real e pertinente
Interação entre as Vias Aéreas da necessidade de um atendimento médico integral,
multidisciplinar e humanizado dos pacientes. incluin-
Inferiores e Su eriores do a atençJo de pneumologistas, otorrinolaringolo-
Mara Rúbia AndréAlves de Lima gistas, alergistas, gastrenterologistas, radiologistas e
imunologistas, entre outros.
'~os médicos cabe a responsabilidade de estarem
acostumados a analisar tanto as vias aéreas superiores
quanto as vias aéreas inferiores. Os pacientes com rinite Por um lado, várias doenças diagnosticadas em vias aé-
devem ser observados cuidadosamente quanto ao de- reas superiores e em vias aéreas inferiores compartilham
senvolvimento ou à coexistência de asma. E nos pacien- epidemiologia, semiologia, fisiopatologia e imunologia,
tes com asma, deve ser considerada a presença de rinite além das suas ligações anatômicas. Por outro, as alternativas
ou rinossinusite."' terapêuticas e preventivas indicadas para o tratamento de
doenças das vias aéreas superiores frequentemente são usa-
das também para doenças das vias aéreas inferiores, como
os anti-inflamatórios inalados, orais ou nasais, e os cuidados
ambientais para evitar a exposição aos desencadeantes de
crises de asma ou de rinite alérgica.
D o ponto de vista da estru tura anatômica, o nariz re-
presenta a principal porta de entrada por meio da qual
o meio ambiente externo se comunica e interage com as
vias respir atórias inferiores, representando uma área de
intersecção entre várias especialidades médicas. Do ponto
de vista semiológico, a tosse crônica representa o elo entre
diversas especialidades médicas e é um sinal de alerta para
a presença de uma possível doença não só broncopulmo-
nar, mas que também pode estar relacionada com as vias
aéreas superiores, em especial atenção ao diagnóstico das
rinossinusites crônicas.
Além da constatação objetiva das interações entre as vias doenças das vias aéreas superiores às das vias aéreas infe-
aéreas que devem ser avaliadas na sua totalidade pelo médi· riores, a história mostra que essa observação data de apro·
co, também devem ser consideradas as decisões tomadas pe- ximadamente 2.000 anos. No século 11, Galeno já elaborara
los próprios pacientes, antes de procurarem o cuidado para a hipótese de que a doença rinossinusal provocava doenças
seus problemas de saúde. Os pacientes que apresentam tosse pulmonares a partir de uma ligação direta anatômica, não le·
crônica, em geral, associam esse sintoma a alguma alteração vando em consideração a função da glote. Galeno acreditava
pulmonar, procurando, portanto, um especialista da área que as secreções das fossas nasais e das vias aéreas inferiores
pneumológica. Porém, em alguns casos, a tosse crônica se eram provenientes de um mesmo local, o cérebro. No século
acompanha de ausência de outros sintomas das vias aéreas XVII, ficou estabelecido que não existia um pertuito anatômi-
inferiores e tanto o exame físico quanto os exames de ima- co entre o cérebro e as fossas nasais.2
gem do tórax são normais. O pneumologista deve estar capa· No século XIX, em 1870, Kratchmer demonstrou que
citado a fazer o diagnóstico diferencial e o encaminhamento o estímulo das vias aéreas superiores (nariz, nasofaringe
adequado para o paciente que for procurá-lo com queiJCa de e seios paranasais) de gatos e coelhos com gases irritantes
tosse crônica cuja causa poderá estar além da sua especiali- (dióxido de enxofre, cigarro, gás carbônico) levava a taqui-
dade restrita. cardia e apoeia, as quais eram abolidas com a ressecção do
Com o avanço do conhecimento médico e o aumento nervo trigêmeo e, além disso, também aumentavam a resis-
exponencial da quantidade de informações acerca das diver- tência das vias aéreas inferiores com o surgimento de bron-
sas doenças que acometem o ser humano, as especialidades coconstrição?
médicas foram se tomando cada vez mais necessárias. Cada No começo do século XX, em 1919, Sluder• publicou
especialista se responsabiliza principalmente pelo conhe- um artigo sobre a asma como um reflexo nasal e, em 1929,
cimento aprofundado em uma determinada área médica e Quinn e Meyer5 estudaram a relação entre sinusite e bron-
concentra a sua experiência de cuidador médico neste cam- quiectasias. Em 1924, Blumgart6 publicou um estudo sobre
po. Em paralelo com o exercício clínico das especialidades os mecanismos de absorção de substâncias da nasofaringe.
7
médicas, também os eventos científicos, as pesquisas e as pu- E, logo em seguida, em 1925, Gottlieb postulou, em seu ar-
blicações médicas foram se fragmentando em compartimen- tigo sobre a relação das doenças dos seios intranasais com
tos separados. Porém, para um cuidado integral, continua a produção de asma, os mecanismos que relacionariam a
sendo necessário que cada paciente seja abordado na sua doença nasal e a asma.
totalidade de ser humano. Para isso, a comunicação entre Gottlieb1 preconizava que haveria quatro mecanismos
as especialidades é condição sine qua non. Os especialistas, relacionando doença nasal e asma. Esses mecanismos in-
compartilhando os conhecimentos mais aprofundados aos cluíam: 1) o gotejamento de material mucopurulento na
quais se dedicam nos seus respectivos campos de expertise, faringe, produzindo infecção na faringe e na traqueia; 2) a
podem colaborar para que os pacientes recebam um cuidado absorção de produtos tóxicos pela corrente sanguínea e lin-
completo e multidisciplinar. fática, produzindo reação alérgica nas vias aéreas inferiores;
Neste capítulo são abordados aspectos mais relevantes 3) a respiração bucal de ar frio devido à obstrução nasal
das interações entre as vias aéreas superiores e inferiores, in- (secundária à presença de pólipos e cometos aumentados)
cluindo-se dados históricos gerais e as interações entre asma, combinada com material infectado, na superfície das vias
rinite e rinossinusite, com suas características epidemiológi· aéreas, desencadeando asma; e 4) o reflexo nasobrônquico
cas, embriológicas, histológicas, fisiopatológicas e imunopa- devido à irritação do gânglio nasal causando asma.
tológicas. 'Iàmbém são discutidas as interações entre doença Após a década de 1930, outros estudos continuaram a ser
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e vias aéreas superio- publicados de forma esporádica, mas foi principalmente nos
res, finalizando-se com tópicos gerais das interações entre últimos 30 anos que voltou a crescer o interesse científico
tosse crônica e acometimento das vias aéreas superiores ob- por esse tema.8• 11 Em 1974, Slavin12 chama a atenção para a
servadas na sindrome do gotejamento pós-nasal (atualmente asma brônquica produzida por sinusite paranasal. No Brasil,
denominada sindrome da tosse das vias aéreas superiores). enquanto, em 1970, Benevides13 publica artigo sobre o tra-
tamento das sinusobronquites, Flores e Moreira," em 1978,
publicam seus estudos acerca das manifestações broncopul·
monares das infecções das vias aéreas superiores, e também
Histórico Palombini e Alves 15 incentivam linha de pesquisa sobre a re-
Até hoje, os mecanismos precisos que conectam as afecções levância das vias aéreas superiores para a pneumologia.
das vias aéreas superiores e inferiores ainda carecem de me- Atualmente, o enfoque antes colocado nos aspectos in-
lhor averiguação e esclarecimento. Porém, atualmente, com fecciosos bacterianos da fisiopatologia do acometimento
sofisticados recursos diagnósticos de imagem e de endoscopia, simultâneo de vias aéreas superiores e inferiores estâ redi·
que empregam tecnologia digital, e com o amparo de análises recionado para a tentativa de entendimento dos mecanismos
imunopatológicas e de ferramentas estatísticas avançadas, é inflamatórios sistêmicos dessas doenças. Mais recentemente,
possível estudar de modo mais objetivo as interações entre as as funções da medula óssea e o papel antigênico de enteroto·
vias aéreas como um todo, oferecendo assim mais alternativas xinas do estafilococo também passam a ser objeto de pesqui-
para o manejo terapêutico adequado do paciente. sas. Porém, apesar dos avanços, várias questões sem resposta
Apesar de algumas das publicações do século XXI des- definitiva ainda permanecerão motivando mais discussões
creverem como fatos novos as constatações que associam as sobre esse assunto. 1.,.19
De acordo com outro estudo retrospectivo,24 pacientes
Asma, rinite e rinossinusite com asma induzida por aspirina têm doença rinossinusal
mais extensa do que aqueles sem asma induzida por aspirina.
Epidemiologia A cirurgia endoscópica da cavidade rinossinusal melhorou
Os estudos epidemiológicos que correlacionam as vias aére-
significativamente os resultados em ambos os grupos, po-
as enfrentam desafios operacionais decorrentes da necessi-
rém, naqueles pacientes com sensibilidade à aspirina, houve
dade de métodos diagnósticos invasivos e/ou muito onerosos
melhora menos significativa na tomografia computadorizada
e não disponibilizados amplamente para comprovar a pre-
pós-operatória do que no grupo de pacientes sem sensibili-
sença dessas doenças. Além disso, observações feitas a partir
dade à aspirina.
de estudos com acompanhamento a longo prazo e com gru-
Entre os pacientes com pólipos nasais, 27 a 51 % têm
pos-controle adequados também são onerosas. Apesar de
asma que costuma ser mais grave. Em um estudo prospecti-
ainda existir espaço para evidências adicionais que melho-
vo'lS com 68 pacientes com asma induzida por aspirina e poli-
rem a compreensão sobre as interações entre as doenças das pose nasal, a cirurgia endoscópica melhorou a pontuação de
vias aéreas superiores e inferiores, vários estudos relevantes
sintomas de asma, os resultados das medidas de pico de flu-
já foram realizados. xo expira tório e também os parâmetros de avaliação do olfa-
O lnternational Study of Asthma and AUergies (ISA- to. Outro estudo» em 116 doentes com polipose nasal grave
AC)'//J mostrou que a correlação entre asma e rinite chega a
mostrou que a recuperação do olfato após a cirurgia sinusal
80%, sendo que os pacientes com asma apresentam sintomas endosoópica funcional foi significativamente prejudicada
nasais de difícil controle. A rinite alérgica está presente em pela concomitância de doença respiratória exacerbada pela
60 a 78% dos pacientes asmáticos e representa um fator de
aspirina, que foi por isso considerada fator preditivo impor-
risco para o aparecimento de asma em cerca de 20 a 38% tante para pior resultado em relação à recuperação olfativa.
dos casos. Outro estudo demonstrou que a rinite alérgica au- Em mais um estudo retrospectivo27 com 91 pacientes as-
menta em quatro vezes o risco do aparecimento de asma em máticos adultos e com rinossinusite crônica e polipose nasal,
adultos. Um estudo multicêntrico longitudinal de base popu- foi demonstrada melhora na avaliação da asma durante um
lacional revelou que a rinite, mesmo na ausência de atopia, período de 6 a 12 meses após a cirurgia endoscópica. Em-
21
é um preditor de asma nos adultos. A asma é diagnosticada bora essa melhora tenha sido observada tanto em pacientes
em até 58% dos pacientes com rinite, e 92% dos pacientes asmáticos com asma induzida por aspirina quanto em asmá-
com asma ocupacional têm sintomas de rinite., ticos que toleravam a aspirina, nos pacientes asmáticos com
A prevalência de rinossinusite variou de 0,8 a 14,9% en- sensibilidade à aspirina foram observadas diferenças mais
tre crianças de 6 a 7 anos e de 1,4 a 39,7% entre pacientes de significativas estatisticamente no que se refere à gravidade
13 a 14 anos que apresentam asma, de acordo com os resul- da asma e à redução da dose de corticoide inalatório.
27
tados do estudo ISAAC.10 De um total de 90.478 adultos en-
tre 20 e 44 anos de idade estudados em 31 países da Europa,
dos Estados Unidos e da Oceania, 10.210 indivíduos partici- Embriologia e histologia
param de uma pesquisa para identificar asma e rinossinusite, Do ponto de vista embriológico das vias aéreas, enquanto o
que ficou caracterizada como o fator preditivo isolado mais nariz tem uma origem ectodérmica, os brônquios possuem
importante para o aparecimento de asma. Mais de 30% dos urna origem endodérmica. Contudo, apesar das origens dis-
pacientes que tiveram sinusite também tinham asma, e entre tintas, o desenvolvimento embriológico das vias aéreas supe-
30 e 70% dos pacientes com asma apresentaram rinossinusi- riores é semelhante quanto à cronologia, sendo que ambas
te pelo menos uma vez.3 começam a se formar durante a quarta semana de gestação e
Assim como os pacientes asmáticos costumam apresen- continuam o seu desenvolvimento durante alguns anos após
tar um quadro clinico de controle mais difícil quando tive- o nascimento.
rem rinossinusite associada, também os pacientes com rinos- O sistema respiratório origina-se a partir da separação da
si.nusite, inclusive aqueles tratados com cirurgia, apresentam parte caudal do sulco longitudinal localizado na face ventral
um prognóstico mais reservado se tiverem concomitante- do intestino cefálico, na porção terminal da região faringea.
mente asma brônquica.12 Portanto, a associação de asma e Inicialmente, forma-se o canal traqueobrõnquico. A porção
rinossinusite exige cuidados médicos redobrados, tanto do cranial do canal traqueobrônquico dá o rigem à laringe, a
ponto de vista pneumológico quanto do ponto de vista otor- porção média formará a traqueia e a porção caudal cresce e
rinolaringológico. se bifurca em dois brotos que originarão os brônquios princi-
Em outro estudo prospectivo23 com 106 pacientes, foi pais e as dema.is ramificações da árvore respiratória.
encontrada urna relação entre a gravidade da rinossinusite As fossas nasais apresentam três regiões: o vesúbulo, a
crônica e a da asma A presença de asma, mais do que a ato- ãrea respiratória e a ãrea olfatória. Em relação à estrutura
pia, representou um fator preditivo de aheração radiográfica histológica, em indivíduos hfgidos, o vestíbulo nasal apresen-
mais grave da cavidade paranasal e de rinossinusite crônica ta uma mucosa formada por epitélio plano estratificado não
com polipose nasal. Esses resultados sugerem que a rinossi- queratinizado e por uma lâmina própria de tecido conjunti-
nusite crônica é urna doença inflamatória que ocorre inde- vo denso. Nesse loeal, existem pelos e glândulas cutâneas,
pendentemente de uma imunopatogenia sistêmica mediada que constituem urna primeira barreira à entrada de particu-
por imunoglobulina E {IgE). las grosseiras de pó nas vias aéreas.
A mucosa da área respiratória nasal, dos seios paranasais fisiopatológjco único com a asma, enquanto a rinossinusite
e das vias aéreas inferiores é constituída por epitélio pseu- sem polipose e sem inflamação eosinofílica atua como um
doestratificado colunar ciliado, com muitas células calicifor- desencadeante direto para a asma. 3
mes, chamado de epitélio respiratório, que repousa sobre a Tentando esclarecer a fisiopatologia, os estudos de
lâmina basal, a lâmina própria fibrosa rica em glândulas do Huxley30 empregando lndium-111 demonstraram a ocorrên-
tipo misto e no periósteo subjacente. O epitélio respiratório cia de aspiração faringea de material das vias aéreas superio-
típico consiste em seis tipos celulares constituídos por célu- res no sentido das vias aéreas inferiores em 70% dos pacien-
la colunar ciliada, células caliciformes, células em escova, tes com depressão da consciência e em 45% dos indivíduos
células basais e célula granular. Deve-se ressaltar que, nas hígidos durante o sono profundo. Os indivíduos hígidos que
áreas mais expostas ao ar, o epitélio apresenta-se mais alto e não aspiraram apresentavam um sono superficial. Já nos es-
com maior número de células caliciformes. A mucosa nasal tudos de Simons/ 8 embora a aspiração faríngea tenha sido
possui capilares subepiteliais, sistemas arteriais e sinusoides mostrada em indivíduos com diminuição da consciência, não
venosos cavernosos em abundância. O músculo esquelético foi possível demonstrar essa aspiração naqueles sem depres-
está presente na nasofaringe e na laringe, e a musculatura são do sensório, nem mesmo naqueles com rinossinusite.
lisa é encontrada desde a traqueia até os bronquíolos ..l.23 Além dos possíveis mecanismos da associação entre a
rinossinusite e a asma citados antes, encontra-se também a
alternativa de um reflexo nasofaringobrônquico estudado
Fisiopatologia em pacientes com nevralgia do trigêmeo e que foram subme-
Se alguns estudos epidemiológicos que correlacionam as tidos a ressecção desse nervo. A broncoconstrição desenca-
doenças das vias aéreas superiores - principalmente a riDos- deada pela inalação de ar frio representa uma resposta que
sinusite -com as doenças das vias aéreas inferiores - sobre- pode ser abolida pela supressão do reflexo nasopulmonar
tudo a asma - podem apresentar resultados aparentemente por meio de anestesia local ou do uso de um antagonista
conflitantes, os mecanismos fisiopatológicos subjacentes à colinérgico. Além disso, a semeadura de processos inflama-
associação dessas doenças apresentam aspectos ainda mais tórios na faringe a partir do gotejamento pós-nasal e da as-
difíceis de serem comprovados com exatidão. Contudo, em piração faríngea de mediadores inflamatórios e de material
vez de frear o interesse científico pela área, esses obstáculos infectado dos seios paranasais poderia desencadear um re-
solidificam a sua importância, servem de exemplo concreto flexo faringobrônquico.31
para a necessidade do cuidado multidisciplinar dos pacientes Em um estudo prospectivo, foram comparadas amostras
e avanços vão sendo registrados. de tecidos rinossinusais de pacientes com os seguintes fenó-
O nariz representa a porta de entrada mais importante tipos: 1) pacientes com rinossinusite crônica, polipose nasal
para o ar inspirado, desempenhando funções de aquecimen- e asma desencadeada por aspirina; 2) pacientes com riDos-
to, umidificação e filtragem das partículas inaladas. Na rinite sinusite crônica, polipose nasal e sem sensibilidade à aspiri-
alérgica acompanhada de obstrução nasal e respiração bucal, na; e 3) indivíduos-controle saudáveis. Foram identificados
os pacientes ficam privados dessas funções nasais protetoras. cinco genes que, provavelmente, desempenham um papel na
Os alérgenos, o ar frio e também outros irritantes físicos ou patogênese dos pólipos associados com rinossinusite crôni-
químicos, ao serem inalados, são capazes de provocar reação ca e asma desencadeada por aspirina. A análise dos perfis
nasal e broncoconstrição. de expressão genética como ferramenta para compreender
Thstes de provocação nasal com histamina ou com meta- a fisiopatologia da rinossinusite crônica e a asma sensível à
colina podem se acompanhar de resposta broncoconstritora. aspirina, considerando os genes envolvidos no crescimento,
Pacientes que apresentam rinite alérgica, mas não manifes- desenvolvimento, função imune e expressão de citocinas,
tam sintomas de asma, podem apresentar testes positivos pode trazer uma melhor compreensão dessa patogênese e
para hiper-responsividade brõnquica provocada com exercí- possibilidades de novas modalidades terapêuticas. n.n
cio, com histamina ou com metacolina, principalmente du-
rante os períodos de exacerbação da rinite alérgica.
Outro exemplo das interações entre o nariz e as vias lmunopatologia
aéreas inferiores é o efeito que as infecções virais do trato Apesar de existirem algumas diferenças nos aspectos imu-
respiratório superior exercem sobre a asma, frequentemente nopatológicos da asma e da rínite alérgica, em ambas as
acompanhando ou precedendo o atendimento de pacientes situações se reconhece uma resposta alérgica inicial e uma
asmáticos em salas de emergência. Durante a infecção vira! resposta crônica semelhantes, sendo que as células inflama-
do trato respiratório superior, também o trato respiratório tórias envolvidas são as mesmas, incluindo mastócitos, eosi-
inferior fica mais responsivo à histamina e à inalação de alér- n6filos, bas6filos e linfócitos T he/per 2 (Th2). Em pacientes
genos. '·2.29 com rinite alérgica e asma, na avaliação clinicolaboratorial,
No início do século XX, o papel das infecções bacteria- é frequente a presença de eosinofilia no sangue periférico e
nas também era considerado de grande importância nesta também nas secreções nasais e no escarro.
fisiopatologia. Atualmente, os aspectos inflamatórios e imu- Em um estudo observacional de 201 pacientes asmáticos,
nopatológicos se destacam entre os mecanismos que susten- foi demonstrado que os níveis de eosin6filos no sangue e no
tam as interações entre vias aéreas superiores e inferiores. escarro se correlacionaram com o espessamento da mucosa
Alguns autores sugerem que a rinossinusite associada à poli- sinusal e estavam associados a osteíte?' Em revisão publica-
pose e à inflamação eosinofílica compartilha um mecanismo da por Ibiapina e colaboradores, 3 foi salientado que na asma
a inflamação brônquica é mediada principalmente pelo lin- rinossinusite parece acompanhar os quadros clínicos respira-
fócito Th2, o qual se relaciona com citocinas envolvidas na tórios mais graves, nos quais ocorram complicações bronco-
inflamação alérgica e com estimuladores de linfócito B, que pulmonares supurativas crônicas e exacerbações infecciosas
produzem IgE e outros anticorpos. Os linfócitos Th2 são ini- de repetição.
bidos pelos linfócitos T helper 1 (Thl) e vice-versa, sendo Estudos epidemiológicos sugerem que até 75% dos pa-
que um desequilíbrio entre essas células poderia contribuir cientes com DPOC apresentam sintomas nasais concomitan-
para a fisiopatologia da asma.3 tes e que mais de um terço dos pacientes com rinossinusite
Considerando a população de pacientes que apresentam tem sintomas das vias aéreas inferiores relacionados com
asma e/ou rinossinusite e concomitantemente manifestaçóes asma ou DPOC.lS
a tópicas, postula-se que os acometimentos de vias aéreas su- Muitos trabalhos 5·2..27 tentam fazer uma transposição
periores e inferiores sejam manifestaçóes localizadas de um das hipóteses de mecanismos que ligam as doenças nasais e
mesmo acometimento sistêmico inflamatório alérgico. rinossinusais à asma para a sua identificação nos pacientes
Mecanismos imunopatológicos com a participação da com DPOC. Mas os mecanismos subjacentes às interações
medula óssea foram adicionados como hipóteses que tentam entre a rinossinusite e a DPOC são de comprovação ainda
entender as interações entre as vias aéreas superiores e infe- mais complexa do que na associação entre rinossinusite e
riores como componentes de uma doença sistêmica única. A asma. Apesar de existirem evidências sugerindo aumento
mucosa inflamada dos seios paranasais produziria localmen- da inflamação em pacientes com DPOC, as relações entre
te mediadores inflamatórios (citocinas) que seriam liberados vias aéreas superiores, vias aéreas inferiores e inflamação
e estimulariam os progenitores de basófilos/eosinófilos da sistêmica ainda carecem de melhor averiguação nesses in-
medula óssea. A medula óssea, interagindo com sinais he- divíduos.
matopoiéticos teciduais, liberaria células inflamatórias para Em um estudo36 realizado com 47 pacientes com DPOC,
migrarem para o pulmão e desencadear inflamação crônica não foi possível demonstrar que o grau de inflamação das
das vias aéreas inferiores. vias aéreas superiores correspondera ao grau de inflama-
Estudos experimentais em animais sugerem a existência ção das vias aéreas inferiores, nem que houvesse associa-
de uma ligação direta entre pulmão e medula óssea nos pro- ções subjacentes ao deslocamento de bactérias e à resposta
cessos inflamatórios alérgicos das vias aéreas. Essa possível inflamatória sistêmica. Mas foi sugerido que a DPOC está
ligação entre medula óssea e pulmão, além de ajudar no associada a aumento da concentração nasal de interleucinas
esclarecimento da fisiopatologia da asma e da rinite como 8 (JL-8) e que a colonização bacteriana das vias aéreas infe-
uma doença única das vias aéreas, também pode trazer mais riores, o gotejamento pós-nasal e o aumento na população
alternativas de busca de tratamentos? bacteriana nasal estejam relacionados.36
Anticorpos lgE para enterotoxinas podem ser encontra- Do ponto de vista prático, nas exacerbações da DPOC
dos na maioria dos pacientes com alergia à aspirina, polipose associadas a infecção bacteriana das vias aéreas inferiores,
nasal e asma grave. O Staphylococcus aureus tem a capaci- a avaliação otorrinolaringológica, abrangendo seios para-
dade de liberar enterotoxinas com atividade antigênica e nasais, rinofaringe e fossas nasais, está indicada para um
modificar as funçóes dos linfócitos T e linfócitos B, dos eo- manejo terapêutico adequado. Os pacientes com DPOC
sinófilos e de outras células. Esse estímulo relacionado com exacerbada referem dispneia, tosse produtiva crônica com
as enterotoxinas estafilocócicas pode levar a uma inflamação expectoração que se tornou purulenta após a piora do qua-
eosinoffiica polarizada pela célula tipo linfócito T helper e a dro clínico obstrutivo broncopulmonar ou expectoração que
uma produção de IgE, agravando as doenças das vias aéreas, já era purulenta e aumentou de volume ou se tomou mais
tanto no trato superior quanto no inferior. purulenta ainda. A avaliação otorrinolaringológica nesses
pacientes, principalmente quando relatarem gotejamento
pós-nasal e aspiração faríngea, tem a finalidade de descartar
a possibilidade da presença concomitante de secreções na
Doença pulmonar obstrutiva crônica e faringe e rinossinusite como fator agravante da DPOC, além
de outras eventuais anormalidades na faringe e nas fossas
vias aéreas superiores nasais, como hipertrofia de adenoides, desvio de septo nasal
As interações entre as vias aéreas inferiores e superiores são ou cornetos nasais aumentados. Na ausência da abordagem
importantes nos pacientes que apresentam rinite, sinusite e diagnóstica e do manejo terapêutico dessas comorbidades,
asma, sejam eles atópicos ou não. Contudo, em grupos de caso estejam presentes, a resolução do quadro exacerbado
pacientes com diagnósticos reconhecidos de outras pneumo- de DPOC ficará comprometida.
37
patias, essas interaçóes também são observadas. Em pacien- Foi realizado um estudo retrospectivo em 99 pacientes
tes com DPOC, sobretudo nos episódios de exacerbação, o internados por exacerbação de DPOC em um hospital espe-
manejo adequado deve incluir a investigação de rinossinusite. cializado em doenças pulmonares, ao longo de um mesmo
Além disso, pacientes com diagnóstico de bronquiecta- ano (FIGURA 70.1.1). Esse estudo buscou averiguar se a pre-
sias, fibrose cística, discinesia ciliar, aspergilose broncopul- sença concomitante de rinossinusite fizera parte das hipóte-
monar alérgica ou deficiências imunológicas relacionadas ses diagnósticas operacionais aventadas pelos pneumologis-
com níveis séricos insuficientes de IgG, lgM ou lgA frequen- tas que cuidaram desses pacientes.
temente apresentam rinossinusite como doença concomi- Constatou-se que, dos 99 indivíduos estudados, 34 pa-
tante. Neste último grupo de pacientes, a concomitância de cientes (34,3%) realizaram avaliação de vias aéreas supe-
Radiografia alterada
76,5%
' Fez
radsografia
34,3'1'.
(N = 99)
N = 34: alteração radiológica suge-stiva de sinusite em pacientes
hospitalizados com exacerbação de DPOC
Radiografia
normal
8,0'Yo
FIGURA 70.1.1 ~ Investigação de seios para nasais em pacientes hospitalizados com exacerbação de DPOC.
Fonte: André-Alves e colaboradores."
ri ores, sendo que, nesse subgrupo, em 26 pacientes (76,5%) va com duração de mais de oito semanas e já tinham efetua-
foram detectadas alterações radiológicas sugestivas de do pelo menos um tratamento clinico prévio sem sucesso, ou
rinossinusite. Nesse mesmo estudo, considerando-se o nú- seja, que não fora capaz de controlar a tosse.
mero total de 99 pacientes hospitalizados por exacerbação No grupo dos 99 pacientes com diagnóstico de rinossi-
de DPOC e assumindo-se hipoteticamente que, dentre os nusite, foram identificados possíveis condicionamentos sis-
pacientes não investigados para rinossinusite, de fato ne- têmicos para o quadro em 92 pacientes. Em 75% dos casos,
nhum apresentasse rinossinusite, ainda assim seria possível esse condicionamento sistêmico subjacente era representa-
constatar que, em mais de um quarto do total dos pacientes, do pela presença exclusiva de atopia. Nos demais pacientes,
a possibilidade de acometimento simultâneo de vias aéreas a atopia estava ausente ou vinha associada a outros fatores
superiores deveria ser considerada?7 predisponentes sistêmicos, como deficiência seletiva de IgA,
fibrose cística ou síndrome da discinesia ciliar. Em apenas
6% dos pacientes dessa população com tosse e rinossinusite
Tosse crônica e vias aéreas superiores não foi possível reconhecer um substrato sistêmico que pu-
desse condicionar o acometimento crônico das vias aéreas
A tosse crônica, principalmente quando acompanhada de
superiores (FIGURA 70.1.2).
cxpectoração, costuma levar o paciente a procurar os cui·
dados do pneumologista. A epidemiologia e a presença de
tabagismo são dados importantes na caracterização da tos-
se crônica, impondo o diagnóstico diferencial com a tuber- Sindrome da tosse das vias
culose e o carcinoma brônquico, entre outros. Em alguns
pacientes com tosse crônica, nos quais outros diagnósticos aéreas superiores ou síndrome
tenham sido excluídos, em particular nos indivíduos não do gotejamento pós-nasal
fumantes c que apresentam sintomas associados de vias
aéreas superiores, como aspiração faríngea, gotejamento Segundo as diretrizes para o diagnóstico e o manejo da tosse
pós-nasal ou obstrução nasal, a presença de rinossinusitc do American College of Chest Physicians (ACCP),«~ a possi·
deve ser insistentemente considerada no diagnóstico dife- bilidade do diagnóstico da síndrome do gotejamento pós-na-
rencial.38 sal (atualmente denominada síndr ome da tosse crônica das
Em um estudo clinico sobre a etiopatogenia da tosse per· vias aéreas superiores secundária a doenças rinossinusais),
sistente crônica produtiva,39 foram identificados 99 casos de em pacientes não fumantes com 15 anos de idade ou mais
rinossinusite na população total de 11Opacientes analisados. velhos, deve ser insistentemente considerada na investigação
Todos os pacientes desse estudo apresentavam tosse produ ti- da tosse com mais de oito semanas de duração, sobretudo se
Não associada
I Associada a sinusite: 99 a sinusite:11
ICondicionamento sistêmico presente-: 92 o
Atopia ausente ou associada ·"'~~ ~
-g ..,"'
a outros condicionamentos .õí & ~t: .,.:Q "'c:
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sistªmicos: 1O o"'
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N 82 8
Amostra
total 75 6
FIGURA 70.1.2 ~ Etiopatogenia da tosse persistente crônica pro-
*Entre os pacientes com deficiência seletiva de lgA. alguns representaram
dutiva em 110 pacientes ambulatoriais.
evidências de participação de atopia.
for produtiva e quando outros diagnóstioos, como tuberculo- jamento pós-nasal ou impossibilidade de detectar o go-
se pulmonar, carcinoma brônquico, DPOC e tosse desenca- tejamento pós-nasal silencioso seguidas de irritação e/ou
deada pelo uso de medicamentos, forem excluídos. inflamação da mucosa das vias aéreas superiores e tosse
Nessa síndrome, a tosse crônica pode estar associada ou (FIGURA 70.1.3).
não a outros sintomas de vias aéreas superiores, principal- Irwin e oolaboradores,41 em um estudo prospectivo, oom-
mente ao gotejamento pós-nasal, definido como a drenagem pararam achados histopatológioos das vias aéreas em três
de secreções do nariz ou dos seios paranasais através da fa- grupos oonstituídos por pacientes com tosse secundária a
ringe. Mas alguns estudos indicam que até 20% dos pacien- doença pulmonar, tosse secundária a doença extrapulmonar
tes oom tosse crônica relacionada oom gotejamento pós-na- e tosse sem causa identificada e um grupo-oontrole forma-
sal podem não perceber ou não associar essa drenagem de do por indivíduos não fumantes e assintomáticos. Os três
secreções à tosse que apresentam. O diagnóstioo diferencial grupos de tossidores crônicos apresentaram similaridades
da síndrome do gotejamento pós-nasal inclui a tosse crônica na aparência morfológica e na contagem das células infla-
associada à asma, à bronquite eosinofilica não asmática e ao matórias coradas com hematoxilina/eosina, sugerindo aos
refluxo gastresofágioo. autores que as alteraçôes inflamatórias podem ser devidas
A patogênese da tosse na síndrome da tosse crônica das ao próprio trauma da tosse, independentemente da causa
vias aéreas superiores pode ser entendida a partir das se- subjacente. Por esse motivo, esses investigadores reoomen-
guintes hipóteses: 1) estímulo mecànioo do reflexo da tosse dam cautela antes de atribuir papel patogênioo aos achados
nas vias aéreas superiores; 2) gotejamento de secreçôes das inflamatórios observados nas vias aéreas de pacientes que
vias aéreas superiores estimulando receptores da tosse na tossem cronicamente.
hipofaringe ou na laringe; 3) aumento da sensibilidade do
reflexo da tosse nas vias aéreas superiores; 4) irritação di-
reta física ou quimica do limbo aferente do reflexo da tosse,
estimulando perifericamente e levando a um aumento da re-
Considerações finais
atividade central; e 5) aspiração de secreçôes das vias aéreas Pacientes oom asma e outros diagnósticos pneumológioos
superiores, estimulando receptores da tosse localizados nas veem aumentada a probabilidade de ter suas manifestaçôes
vias aéreas inferiores. mais bem oontroladas, mediante conduta terapêutica ade-
A síndrome da tosse crônica das vias aéreas superio- quada, se forem oontemplados cuidados médioos das vias aé-
res se refere a várias doenças, como infecções do trato reas oomo um todo. Mesmo especialistas, seguem os médi-
respiratório superior (causadas principalmente por vírus, cos oom a responsabilidade de, em vez de fragmentar, fazer
Mycoplasma, Ch/amydia pneumoniae eBordetel/a pertussis) , uma leitura completa e em profundidade de todas as mani-
rinite alérgica, rinite não alérgica perene ( rinite vasomoto- festaçôes clínicas averiguadas nos pacientes que buscam os
ra e rinite não alérgica com eosinofilia), sinusite bacteria- seus cuidados, ainda que dentro de um oontexto específico.
na, sinusite alérgica fúngica, rinite secundária a alteraçôes O exercício do raciocínio diagnóstico associado a experiên-
anatômicas, rinite por irritantes ffsioo-químicos, rinite ocu- cias multidisciplinares compartilhadas nas mais diversas
pacional, rinite medicamentosa e rinite da gestação. Essas condiçôes ambientais e culturais do planeta deve estimular
doenças podem levar ao aparecimento da tosse a partir de uma melhor qualidade de vida e ressaltar a importância da
mecanismos distintos. humanização como uma característica inerente da medicina
Tais mecanismos incluem as seguintes possibilidades: de todas as épocas.
1) presença de gotejamento pós-nasal provocando irrita- Durante muito tempo, devido à estrutura anatômica oom-
ção e/ou inflamação da mucosa das vias aéreas superiores plexa, à área reduzida e à proximidade oom as meninges e o
c, então, desencadeando a tosse; ou 2) ausência de gote- encéfalo, os seios paranasais e a rinofaringe eram estudados
Sindrome da tosse crônica das vias aéreas superiores secundária a doenças rinossinusais
(ex-sindrome do gotejamento pós-nasal)
r l
• Rinite por alterações anatômic.a.s
• Rinite por irritantes físico..qufmicos
• Rinite ocupacional
• Rinite medicamentosa
• Rinite da gestação
l l
Irritação e/ou inflamação da mucosa das vias
c
aéreas superiores
TOSSE
)
FIGURA 70.1.3 ~ Posslveis mecanismos para entender a presença de tosse na sfndrome do gotejamento pós-nasal.
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fZ!IJ o Rinossinusite subaguda (RSSA) é aquela com duração
de mais de quatro e menos de 12 semanas.
Rinossinusite o Rinossinusite crônica (RSC) se refere àquela com dura·
ção de mais de 12 semanas.
Elisabeth Araújo
A rinossinusitc 6 recorrente (RSR) quando o pacien·
te refere quatro ou ma is episódios de RSA no intervalo
Introdução de um ano, com resolução completa dos sintomas entre
eles,' ao passo que, na rinossinusite crônica com perfo·
A rinossinusite (RS), caracterizada pela inflamação da mu· dos de agudização (RSCA), a duração do quadro clinico
cosa do nariz e dos seios paranasais,1 devido à sua alta pre- é superior a 12 semanas com sintomas leves e períodos de
valência e à apresentação clínica que envolve manifestações intensificação.'
variadas, é tratada na prática por um grande número de Uma forma prática de se avaliar a intensidade da doença
médicos além dos otorrinolaringologistas, incluindo desde é utilizando uma escala visual analógica (EVA), conforme
generalistas até pediatras, pneumologistas e alergologistas. a FIGURA 70.2.1. A doença é considerada leve quando o pa·
A RS está relacionada com processos infecciosos virais, ciente atribui níveis entre Oe 4 ao desconforto que os sinais
bacterianos e fúngicos, podendo estar associada a alergia, e sintomas lhe provocam, sendo que zero seria considerado
polipose nasossinusal e disfunção vasomotora da mucosa.2 O a ausência de desconforto. A RS é classificada como mode-
termo rinossinusite de forma isolada costuma se referir aos rada ou grave quando o desconforto atinge os níveis entre 5
quadros infecciosos bacterianos, e a utilização da nomencla· c 10, sendo que 10 corresponde ao maior desconforto ima·
tura rinossinusitc vira!, rinossinusitc fúngica c rinossinusitc ginávei.4.S
alérgica pode ajudar a esclarecer essa terminologia. A classificação proposta no QUADRO 70.2.1 assemelha-se
A RS vira! é a mais prevalente. Estima-se que o adulto àquela desenvolvida pelo r"po de trabalho em rinite e seu
tenha em média 2 a 5 resfriados por ano, enquanto a criança impacto na asma (ARIA).
apresenta de 6 a 10 desses epis6dios.2 Entretanto, a maioria
dos pacient.es com viroses das vias aéreas superiores, princi-
palmente gripes e resfriados, não procura assistência médi·
ca. Desses episódios virais, cerca de 0,5 a 10% evoluem para Anatomia e fisiopatologia
infecções bacterianas. A cavidade do nariz e os seios paranasais constituem-se em
uma coleção de espaços aéreos situados na região anterior
do crânio. Os seios para nasais se comunicam com a cavidade
Definição
ARS é definida como um processo inflamatório o 10
da mucosa do narize dos seios paranasais com as
seguintes características:
Ausência de sintomas
-+ presença de dois ou mais dos sintomas de obstrução
nasal, rinorreia anterior ou postenor, dor ou pressão
facial, redução ou perda do olfato; FIGURA 70.2.1 ~ Gravidade dos sintomas de rinossinusite de acordo
-+ presença de um ou ma1s achados endoscópicos de com a escala visual analógica (EVA).
pólipos, secreção mucopurulenta drenando do me- --~---------------
ato médio, edema obstrutivo da mucosa no meato
médio; e/ou
-+ presença de alterações de mucosa do complexo os- QUADRO 70.2.1 ~ Classificação das rinossinusites
tiomeatal ou dos seios paranasais visualizadas na to·
mografia computadorizada., 1 Rinossinusite aguda/intermitente Sintomas com até 12
semanas de duraç~o
Rinossinusite crônica/persistente Sintomas com mais de 12
Rinossinusite crônica sem polipose semanas de duração
Classificação Rinossinusite crônica com poli pose
A classificação mais comum de RS se baseia no tempo de Rinossinusite aguda recorrente Quatro ou mais episódiOS
evolução das manifestações e na frequência de seu apare- anuais de rinossinusite aguda
cimento:
Rinossinusite leve Escores de Oa 4 na EVA
o Rinossinusite aguda (RSA) é aquela cujas manifestações Rinossinusite moderada/acentuada Escores de 5 a 1Ona EVA
têm duração de até quatro semanas.
nasal por meio de óstios de ventilação e drenagem. Sua mu- QUADRO 70.2.2 ~ Fatores predisponentes e associados
cosa de revestimento apresenta epitélio colunar pseudoes-
tratificado ciliado, contendo células glandulares e globosas, - Infecções virais das vias aéreas superiores
o que permite a produção de secreção mucinoide de tal for- - Rinite alérgica
ma que possibilite o transporte mucociliar, ou seja, partícu- - Alterações estMurais
las antigênicas podem ser aprisionadas e transportadas para - Corpo estranho
o sistema digestivo. - Barotrauma
- Alteração do transporte mucociliar
A região constituída pelos óstios dos seios maxilares,
- Asma
pelas células etmoidais anteriores e seus óstios, pelo infun- - Doença do refluxo gastresofágico
díbulo etmoidal, pelo hiato semilunar e pelo meato médio - Estado imunológico
é denominada complexo ostiomeatal. Na RSA, alterações - Fatores ambientais
obstrutivas no nível do complexo ostiomeatal exercem um - Fatores iatrogênicos
papel preponderante na sua fisiopatologia.
O termo RSC engloba um grupo heterogêneo de doen-
---------------------
ças que acometem o nariz e os seios para nasais, abrangendo
Anormalidades anatômicas do septo nasal e/ou das es-
células e mediadores químicos que levam à formação de um
truturas do meato médio representadas pela presença de
processo inflamatório crônico. A estase de secreções, dimi-
concha média bolhosa, hipertrofia do processo uncinado e
nuindo a ventilação e exacerbando processos inflamatórios,
bolha etmoidal, concha média paradoxal e presença de cé-
eventualmente pode gerar um círculo vicioso e favorecer
lula de Haller podem provocar estreitamentos nos óstios de
a cronificação de um processo infeccioso. Além disso, na
drenagem dos seios, sendo consideradas fatores predispo-
maioria das vezes a RSC é entendida como uma doença mul-
nentes na origem de RS.
ti fatorial. Dentre os múltiplos fatores mais conhecidos no
A presença de corpos estranhos na cavidade nasal propi-
desenvolvimento da RSC, incluem-se doenças mucociliares,
infecção bacteriana, alergia respiratória e edema da mucosa cia a retenção de secreções e a infecção bacteriana secundá-
devido a causas não obstrutivas.6 ria. A suspeita de corpo estranho deve ocorrer na presença
A RSC pode ser classificada em RSCsPN (sem polipose de RS com secreção fétida unilateral em paciente com histó-
ria clínica compatível.'-'
nasal) e RSCcPN (com polipose nasal). Ainda não se sabe
se a RSCcPN é resultado de um conrinuum de rinossinusites Nos casos de barotrauma sinusal (p. ex., viagem de avião,
agudas recorrentes, que evoluem com a formação de pólipos mergulho), há acúmulo de sangue nos seios associado a pro-
nasais, ou se estes têm fisiopatogenias distintas e desenvol- cesso inflamatório decorrente da lesão de mucosa. 'Ilüs fato-
vem-se independentemente. res podem causar um quadro de RS bacteriana subsequente.
As mudanças histopatológicas da mucosa nasossinusal Pacientes com diagnóstico de discinesias ciliares primá-
na RSC caracterizam-se por alterações do epitélio pseudo- rias, como síndrome de Kartagener, ou pacientes com fibro-
estratificado colunar ciliado, que mostra hiperplasia de célu- se cística (FC) c viscosidade do muco aumentada apresen-
las caliciformes, perda dos cílios, metaplasia epitelial, edema tam quadros crônicos de RS.6
subepitelial, infiltrado celular mononuclear, espessamento RS e asma frequentemente coexistem, sendo que o Ira-
da membrana basal, hiperplasia de glândulas submucosas e lamento clínico e/ou cirúrgico da RSC diminui a necessida-
presença de fibrose. de de medicações para a asma,5 mas a fisiopatogenia dessa
inter-relação ainda precisa ser mais bem elucidada.
A influência do refluxo ácido na patogênese da RS bac-
teriana ainda é controversa, porém, devido à possibilidade
Fatores predisponentes e associados de causar diminuição da atividade ciliar, o refluxo também
A RS pode estar relacionada com múltiplos fatores locais deve ser considerado como um fator predisponente em po-
ou sistêmicos cujo reconhecimento é importante para tencial para a RS.8
o tratamento adequado e o controle da doença (QUADRO A presença de imunodeficiência congênita ou adquirida
70.2.2). pode favorecer a RSC, sendo que alguns estudos relatam
Os mecanismos pelos quais a infecção vira! predispõe à uma alta taxa de pacientes imunodeficientes com RSC de
infecção bacteriana estão relacionados com lesão do epitélio difícil tratamento. A imunodcficiência comum variável ocor-
nasal pelos vírus influenza e adenovírus, aumento de ade- re em 10% desses pacientes, enquanto a deficiência seleliva
rência de bactérias potencialmente patogênicas da rinofarin- de imunoglobulina A (IgA) ocorre em 6%. Alguns autores
ge, aumento na produção de histamina, bradicinina e várias observaram que a RS pode ser considerada uma das doenças
citocinas e efeito vira! supressor da função de neutrófilos, mais prevalentes em indivíduos com síndrome da imunode-
macrófagos e leucócitos. •.s.? ficiência adquirida (AIDS).
A rinite alérgica pode causar edema da mucosa nasal, Dentre os fatores ambientais mais frequentemente rela-
principalment.e ao redor dos óstios de drenagem, liberação cionados com a RSC, incluem-se tabagismo e baixa condição
de mediadores pelos mastócitos e exposição dos sítios de li- socioeconõmica. Não existem evidências científicas demons-
gação do Streptococcus pneu17U)niae pelos mediadores infla- trando que poluentes, como o ozônio, possam atuar como
matórios sccretados pelos cosinófilos. fatores de risco para o desenvolvimento da RSC.S.T
Bacteriologia é classicamente em peso, não pulsãtil e piora com a inclina-
ção da cabeça para a frente. Pode haver dor dentária referida
Na RSA, em adultos e crianças, os agentes etiológicos mrus na mastigação. A dor facial é um sintoma pouco frequente na
comuns, correspondendo a mais de 70% dos casos, são RSC e, quando presente, sugere um episódio de reagudização.
S. pneumoniae e Haemophilus injluenzae; os menos fre- Alterações olfatórias podem ocorrer, sobretudo pela
quentes são Mora.xe/la cata" halis, Staphylococcus aureus e presença de secreções patológicas, tanto nas infecções virais
Streptococcus beta-hemolítico. O tratamento antimkrobiano co mo nas bacterianas, que podem causar lesões d iretas no
deve, portanto, obri\atoriamente ser eficaz contra pneumo- e pitélio olfatório.8
3
coco e H. influenzae. O utros sintomas gerais e que podem variar individual-
O real papel das bactérias no desenvolvimento e na ma- mente incluem irritação faríngea, laríngea e traqueal, dor de
nutenção dos quadros crôrucos de RS ainda é muito contro- garganta, disfonia e tosse, mal-estar e febre.'
verso. Os mcrorganismos mais frequentemente isolados são A tosse é uma manifestação comum, sobretudo em
S. aureus (36% ), Staphylococcus coagulase-negativos (20%) crianças, e costuma ser improdutiva. Por vezes, pode ser o
e S. pneumoniae (17%). As culturas de mcato médio e seio único sintoma presente em casos de RSC. Apresenta pe-
maxilar apresentam os mesmos patógenos em 80% dos ca- rfodos de exacerbação à noite e está associada à rinorreia
sos. Alguns autores sugerem que, à medida que a cronicida- retronasal que provoca inflamação secundária da faringe.
de se desenvolve, as floras aeróbica e facultativa são substi- A tosse também pode decorrer da liberação de mediadores
tuídas por anaeróbios.s-' inflamatór ios na mucosa nasossinusal inflamada, q ue esti-
O bioffime bacteriano é uma estrutura tridimensional de mulam a mucosa traqueobrô nquica e os reflexos nasopu l-
bactérias agregadas que têm propriedades especiais de resis- monares.
tência aos antibióticos. Os sinais sugestivos de RS bacteriana estão apresentados
no QUADRO 70.2.3.
Na RS bacteriana, a rinoscopia anterior permite visua-
lizar edema e hiperema de conchas, além da presença de
Quadro clínico e diagnóstico secreção na região do meato médio ou nas fossas nasais.
Adicionalmente, a endoscopia nasal permjte examinar todas
Manifestações as porções da cavidade nasal e possibilita a análise da mu -
Assim como nos quadros agudos, o diagnóstico subjetivo de cosa nasal, identificando eritema, edema, pólipos, crostas,
RSC tem como base as manifestações. O principal diferen- sinéquias, cicatrizes, o aspecto do muco nasal e a presença
cial entre os quadros de rinossinusites agudas c crôrucas é em de mucopus ou secreção francamente purulenta em qual-
relação à duração das manifestações (mais de 12 semanas). quer parte da cavidade nasal ou rinofaringe. A endoscopia
Os sintomas mais frequentes na RS são: nasal é considerada um exame obrigatório na avaliação e no
tr atamento de pacientes com manifestações persistentes, re-
• Obstrução e congestão nasal correntes ou crônicos e, além de auxiliar no diagnóstico, a
• Rinorreia anterior e/ou posterior técnica permite a obtenção de material para exames bacte-
• Pressão ou dor facial o u cefaleia riológicos de forma não invasiva.
• Redução ou perda de olfato
I'@iif!lüN1
Amoxicilina 1,5·4 g/dia a cada 8 ou 12 h 45·90 mg/lcg/dia
Amoxicilina + inibido r de betalactamase 1,5·4 g/250 mg/dia a cada 8 ou 12 h 45·90 mg/6,4 mg/lcg/dia
Lavagem nasal com soluções salinas* RSA; profilaxia da RSA recorrente; RSC sem poli pose; RSC com poli pose; pós·operatório de
RSC (individualizar a indicação de soluções isotônica ou hipertônica; orientar adequadamente
se soluç.lo caseira; observar necessidade de hidrataç.lo ou higienizaç.lo)
Nível de evidência em literatura nacional e intetnacional: *, baixo; ... muito baixo; .... ausente.
QUADRO 70.2.7 7 Fatores que influenciam o resultado da cirurgia
nasossinusal
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máticos do que em não asmáticos. 7. Araujo E, Palombini BC, Cantarclli V, Pereira A, Mariantc A. Mi·
Pacientes com intolerância aos salicilatos apresentam crobiology o( middlc mcatus in chronic rhinosinusitis. Am J Rhinol.
beneficio com o tratamento cir\Jrgico, porém geralmente 2003;17(1):9-15.
em menor grau. Esses pacientes estão mais propensos à
8, Wmstcad W. Rhinosinusitis. Prim Care. 2003;30(1):137-54.
reGidiva da doença sinusal e à necessidade de procedimen-
tos revisionais.'• A cirurgia para o tratamento da RSC em 9. Ragab SM, Lund VJ, Seadding G. Evaluation ofthe medicai and
idosos com mrus de 65 anos está associada a maiores ris- surgicaltrcatment of ehronie rbinosinusitis: a prospectivc, randomi·
cos de complicações de acordo com algumas publicações, sed, c:ontrolled trial. Laryngosoope. 2004;114{5):923-30.
embora os resultados sejam semelhantes aos dos grupos 10. Smith TL, Batra PS, Sciden M>'l, Hannlcy M. Evidenoe suppor·
mais jovens. Portadores de FC muitas vezes apresentam ting endoscopie sinus surgery in tbe management of aduh ehron.ic
maior morbidade cirúrgica associada a maior prevalência rbinosinusitis: a systcmatie revicw. Am J Rhinol. 2005;19(6):537-43.
de coagulopatia e pneumopatia. A cirurgia endoscópica 11. Bbattaeharyya N. Oinieal outoomes after rcvision endosoopiesi-
nasossinusal associada ao uso tópico de antim icrobianos nus surgery. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;130(8):975·8.
demonstrou ser efetiva para o tratamento da RSC e para a
prevenção das infecções pulmonares. Em pacientes soropo- 12. Richtsmcier WJ. 1bp 10 rcasons for endosoopic maxillary sinus
surgery failurc. Laryngosoopc. 2001;111(11 Pt1):1952-6.
sitivos para o vírus da imunodeficiôncia adquirida (HIV),
em tres séries de casos refratários ao tratamento médico, 13. 1bffel PH. Securc endosoopie sinus surgcry with partia! midd·
ficou sugerido efeito benéfico com a cirurgia sinusa.L Em le turbinatc modification: a 16-ycar long-term outcomc repor!
pacientes com sinusite antes ou depois de transplante de and literaturc review. CUrr Opin Otolaryngol Hcad Ncck Surg.
medula óssea e em síndromes de imunodeficiência não ad- 2003;11(1):13-8.
quirida, os dados aturus são runda insuficientes para se ava- 14. SclivanOYa O, Kuchnemund M, Mano WJ, Amedee RG. Compa·
liar o papel da cirurgia sinusal.1.,15 rison of c:onventional instrumcnts and mcehanical dcbridcrs for sur-
A consistência dos resultados obtidos em um grande nú- geryof paticnts with chroniesinusitis. Am J Rhinol. 2003;17(4):197·
mero de pacientes sugere que em indivfduos seleGionados 202.
com RSC, com ou sem polipose, espera-se resultado benéfi- 15. Musy PY, Kountakis SE. Anatomic findings in paticnts un-
co da cirurgia nasossinusal, a qual representa uma modalida· dcrgoing rcvision cndoscopic sinus surgery. Am J Otolaryngol.
de terapêutica segura. 2004;25(6):418-22.
Paulo F. Guerreiro Cardoso
Mirna da Mota Machado
71
ldilio Zamin Junior
Rene Jacobsen Eilers
porém com anastomose terminolateral da traqueia proximal ção inicial é a sensação descrita como o "trancar súbito da
com o esôfago e traqueostomia dista! (FIGURA 71 .4). deglutição", seguido ou não de regurgitação do alimento.
Outra doença neuromuscular com comprometimento This manifestações são caracteristicamente agravadas pela
frequente da deglutição é a miastenia grave, na qual a dis- tensão emocional, fato este que, no passado, sugeria a pos·
fagia decorre do acometimento bulbar e da musculatura sibilidade de etiologia neuropsíquica para a entidade, a qual
mastigatória, seguido da faringe e, finalmente, por distúrbio não foi confirmada. lA
motor esofágico inespecífico. Tais pacientes exibem fatiga- Os pacientes portadores de divertículo de pulsão cricofa·
bilidade da musculatura mastigatória e retenção de alimen· ríngeo (Zenker) (FIGURA 71 .5) são geralmente idosos,:!.S com
to na faringe, o que causa tosse e aspirações frequentes. A sintomas que se iniciam com disfagia orofar íngea. Com o
disfagia pode melhorar com anticolinesterásicos, corticoides aumento do diâmetro da bolsa diverticular, observa-se pro-
e/ou tratamento cirúrgico da doença básica. gressão para regurgitações de alimento não digerido e pneu·
mopatia aspirativa em até 65% dos casos.26
A história pregressa de cirurgia na região cervical com
Disfunção motora do músculo cricofaríngeo
subsequente disfagia é achado frequente dentre pacientes
Nos casos de disfunção idiopática do músculo cricofaríngeo,
acometidos de disfunção faringoesofágica. Nos pacientes
a disfagia é sempre cervical e de início insidioso. As regur-
traqueostomizados, a causa habitual de disfagia é a fixa-
gitações por via oral ou nasal são frequentes, e a manifesta-
asma (12% ), pneumopatias de repetição (3%) e apoeia obs- tomo de 6 a 10% dos casos,39 atingindo 21% quando da in-
trutiva do sono (2,7%)." A adição de outros métodos de in- corporação da pHmetria esofágica ambulatorial de 24 horas
0
vestigação pode levar a um aumento substancial destes per- na investigação.' No Brasil, em fins da década de 1990, um
centuais. Assim sendo, o refinamento da investigação com a estudo prospectivo com 78 pacientes não fumantes portado-
introdução de novos métodos, tanto morfológicos (p.ex., ra- res de tosse crônica revelou que 41% apresentavam RGE
diologia, endoscopia) quanto fisiológicos (p. ex., esofagoma- ácido patológico à pHmetria."
nometria, pHmetria convencional e impedâncio-pHmetria,
cintilografia), resulta em investigação sistemática mais ade-
Laringopatias
quada desses pacientes. A despeito de tais esforços, em mais
de um terço desses indivíduos a associação entre manifes- A "laringite de refluxo" compreende o conjunto de achados
tações respiratórias e RGE passa despercebida por longos clínicos e endoseópicos, sendo o mais comum a laringite pos-
períodos, até que a suspeição diagnóstica seja feita, quando terior (AGURA 71 .7). Ocorre em adultos de todas as idades,
já se observa a cronificação das manifestações ou o apareci- tendo sido observada com maior frequência nos profissio-
mento de complicações. nais de voz, nos quais o impacto dos sintomas na atividade
Esta seção do presente capítulo tem por objetivo abor- profissional finda por levã-los a procurar auxilio médico.
2
dar o binômio doença respiratória e refluxo, com ênfase em Sataloff e colaboradores' relataram uma incidência de 45%
prevalência, fisiopatologia, aspectos clínicos relevantes e de laringite de refluxo dentre 583 profissionais da voz ava-
métodos diagnósticos. liados, enquanto outros autores descreveram a presença de
RGE patológico em até 78% dos portadores de rouquidão
crônica. Em estudo clínico de 225 pacientes portadores de
Prevalência de refluxo gastresofágico nas sintomas ou doenças laríngeas, Koufman') relatou que ape-
manifestações respiratórias
Asma
A prevalência de RGE oscila entre 33 e 90% na população
de adultos e entre 47 e 64% nas crianças.34 Nos indivíduos
asmáticos, a prevalência de RG E patológico situa-se entre
30 e 80%. Essa grande variabilidade se deve à inclusão de
casos de asma de diferentes graus de severidade e variações
entre os critérios de normalidade da pHmetria, diferentes
dos estipulados por DeMeester.J.S.» O efeito somatório des-
ses fatores finda por subestimar a associação entre asma e
DRGE. Uma revisão sistemática dos estudos de prevalência
de DRGE em asma revelou uma razão de chances (odds ra-
tio) de 2,26 para a presença de asma em pacientes portado-
res de DRGE. Quando os pacientes asmáticos apresentavam
sintomas de refluxo, essa razão chegou a 5,5. 37
FIGURA 71 .7-+ Paciente portador de pirose e tosse crônica com dis-
Tosse cr6nica fonia matinal frequente. A laringoscopia revelou laringite posterior ca-
A associação de DRGE e tosse crônica pode chegar até a racterística do refluxo gastresofágico. Nota-se eden~a e hiperemia das
40%.li Na década de 1980, essa prevalência situava-se em aritenoides (setas).
nas 43% dos pacientes apresentavam sintomas de RGE e, de doença respiratória, uma vez que as alterações de rea-
no entanto, 62% dos pacientes apresentavam pHmetria eso- tividade e inflamação brônquieas são detectáveis e quan·
fágica anormal, sendo que 30% demonstraram episódios de tifieáveis.
refluxo que atingiam a faringe. Embora a prevalência real de A teoria da aspiração, denominada "mecanismo de re-
sintomas laringeos devidos ao RGE não seja conhecida em fluxo", é respaldada em observações de que a infusão in·
fu nção das dificuldades inerentes ao seu diagnóstico, estima- tratraqueal de ácido em animais produz broncoconstrição.
·Se que seja maior do que aparenta, apontando para a neces- Kahrilas e colaboradores'~ mostraram que, em condições
sidade de avaliação prospectiva desses pacientes. normais, o esfrncter esofágico superior reduz seu tônus fi.
siologicamente de 40 mmHg para 8 mmHg durante o sono,
fato que pode facilitar a aspiração de material refluído do
Doença pulmonar obstnrtiva aônica estômago para o esófago. Descreveu-se também o achado de
A correlação entre DPOC e DRGE tem sido extensamente partículas alimentares nos pulmões de pacientes asmáticos,
investigada. Um estudo longitudinal investigou o risco rela- sugerindo a possibilidade de aspiração como mecanismo ad·
tivo de DRGE em pacientes com DPOC e mostrou que, em juvante da manifestação respiratória."'
pacientes com diagnóstico de DPOC, o risco de DRGE é Esse mecanismo ganhou reconhecimento na população
maior do que em pacientes sem DPOC." O mesmo estudo pediátrica, onde o binômio refluxo-aspiração é um problema
também concluiu que a presença de DPOC predispõe o seu clinico usual. Um estudo com crianças bronqultieas, avalia-
portador à DRGE, e não o contrário. Outro estudo mais re· das por esofagomanometria e cioerradiografia, evidenciou
cente revelou que indivíduos com DPOC têm uma chance RGE patológico em 60% dos casos.s' Euler e colaborado·
2,1 vezes maior de apresentar DRGE, e esses pacientes pos- ress2 utilizaram a pHmetria de 24 horas como recurso diag·
suem o dobro da probabilidade de apresentarem exacerba· nóstico na investigação, tendo detectado 63% de RGE em
ções da DPOC em relação aos demais.<.! A despeito da corre- crianças portadoras de asma e pneumopatias de repetição.
lação causa-efeito aparentemente inequívoca, o tratamento Em adultos, um estudo utilizando pHmetria intratraqueal
da DRGE não parece altera.r a evolução da DPOC. simultânea com pHmetria esofágica de 24 horas demonstrou
que, nos portadores de asma e RGE sintomático, quando o
eletrodo iotratraqueal detectava acidificação, ocorria uma
Doença pulmonar avançada e doença intersticial queda concomitante de 84% no pico do fluxo, comparada a
Nas doenças pulmonares avançadas e em estágio terminal, uma redução de apenas 8% naqueles em que não se detecta-
a prevalência de RGE também tem sido averiguada. Em um ra declínio do pH intratraqueal.n
grupo de 78 pacientes candidatos a transplante pulmonar, os
O outro mecanismo, chamado de "mecanismo reflexo",
sintomas típicos de RGE foram encontrados em 63% dos ca- refere-se ao reflexo vagai esõfago-brônquico determinan-
sos. Nesse mesmo estudo, a avaliação funcional esofágica re- do broncoconstrição e refluxo, resultando em aumento da
velou hipotonia do esfíncter esofágico inferior em 72% dos reatividade brõnquica. Estudos clínicos-"·ss e em animais56
casos e dismotilidade do corpo esofágico em um terço dos demonstraram a broncoconstrição como resposta à aeidi·
46
pacientes. Os pacientes portadores de fibrose pulmonar ficação do esôfago distai. Outro estudo clinico utilizando
idiopática também apresentam uma correlação positiva com a pHmetria esofágica57 revelou uma frequência de 44% de
RGE. Demonstramos, recentemente, em estudo prospectivo asma em pacientes com RGE no esôfago distai.
que a prevalência de DRGE foi de 35,7% neste grupo de É interessante observar que, segundo dados da literatu·
pacientes. 41 ra, a DRGE pode ser encontrada em 30 a 80% dos pacien-
No que tange às doenças intersticiais, a associação en- tes portadores de asma, mas, por outro lado, pacientes com
tre esclerodermia e doença iotersticial pulmonar possui esofagite são mais propensos a apresentarem asma do que
interesse, uma vez que a incidência de comprometimento pacientes sem esofagite.ss Assim, a asma brônquica pode ser,
pulmonar nesses casos oscila entre 50 e 86% dos casos..- A por si própria, um fator desencadeante do refluxo. Para esta,
DRGE é muito frequente em tais pacientes, pois a escle· três fatores foram propostos: 1) a hiperinsuflação pulmonar
rodermia causa hipotonia do esfíncter esofágico inferior e contribui para a disfunção diafragrnátiea; 2) a broncoconstri-
hipomotilidade do esôfago devido ao comprometimento da ção determina um aumento da pressão pleural negativa, al·
musculatura lisa. terando o gradiente de pressão toracoabdominal; e 3) o uso
frequente de broncodilatadores pode diminuir a pressão do
38
esfincter esofágico inferior.
Fisiopatologia A associação entre asma e refluxo tem sido investigada
Asma e refluxo gastresofágico também pelo prisma terapêutico. O tratamento do refluxo
A primeira correlação entre asma e RGE foi feita possivel- em asmáticos tem se relacionado com a melhora da asma
mente por Heberden em 1802, observando alterações na res- sem impacto sigoiiieativo na função pulmonar.59 Harding e
piração de alguns pacientes após as refeições. Mais tarde, colaboradores"' mostraram que o tratamento do RGE com
Wüliam Osler descreveu os "paroxismos de asma induzidos bloqueador de bomba protônica melhorou os sintomas e a
pela distensão gástrica causada por certos alimentos". função pulmonar em 73% dos tratados por três meses. Em
A asma há muito tem sido utilizada como modelo de nosso meio, empreendemos um estudo prospectivo, rando-
estudo sobre os mecanismos fisiopatológicos que envol- mizado, placebo controlado e duplo<ego com o tratamento
vem o RGE, seja como adjuvante ou como causa primária de pacientes asmáticos portadores de RGE patológico doeu·
mentado por pHmetria. Observamos que os pacientes que Manifestaçõesdínicas frequentes e sua associação com
receberam pantoprazol (40 mg/dia por três meses) apresen· refluxo gastresofágico
taram melhora significativa da qualidade de vida e do índice As queixas digestivas de pacientes asmáticos com sintomas
de manifestações sem, no entanto, haver alteração significa- de DRGE associada são geralmente as mesmas daqueles
tiva dos parâmetros funcionais respiratórios.'' com RGE isolado: pirose, regurgitação e disfagia.
A DRGE dita silenciosa é aquela desacompanhada de
Tosse e manifestações laringeas do refluxo sintomas digestivos. Esta é particularmente importante nos
gastresofágico asmáticos, sobretudo nos de dificil controle. Nesses casos, a
suspeição diagnóstica de DRGE subjacente à asma deve ser
À semelhança da asma, a tosse pode ser causada pela
aventada sempre nas seguintes situações: presença de asma
DRGE por dois mecanismos: a presença de ácido reflui·
em indivíduo que apresenta tosse noturna; na crise asmáti·
do para o esôfago distai estimulando o reflexo de tosse por
ca desencadeada frequentemente após ltbação alimentar ou
mediação vagai; e a micro ou rnacroaspiração direta do
alcoólica; na presença de asma relacionada com decúbito;
conteúdo esofãgico para a laringe e árvore traqueobrôn·
nas instâncias em que a asma não é responsiva à terapia con·
quica. Este último caso pode ser responsável por 10 a 15%
vencional com broncodilatadores ou esteroides; quando a
dos casos de tosse crônica inexplicada. Isso resulta da aspi·
primeira manifestação da asma ocorre já na idade adulta.
ração de pequenos volumes de material reflufdo, produrin·
Na presença de infecção respiratória de repetição asso-
do inflamação da mucosa laríngea, com ou sem inflamação
ciada a sinusopatia crônica de difícil resolução e rceidivan·
brônquica. A injúria da mucosa leva à tosse e disfonia nes-
te, a despeito de tratamento clínico adequado ou cirúrgico,
ses pacientes, podendo ser desacompanhadas dos sintomas deve-se averiguar a possibilidade de RGE associado. Geral·
clássicos de DRGE.38.57 mente a sinusopatia vem associada a outras manifestações
As causas mais comuns de tosse crônica são gotejamento respiratórias, como asma, tosse crônica e pneumopatia de
pós-nasal, asma e DRGE. Dado o caráter multifatorial da repetição (FIGURA 71 .8}. Em estudo retrospectivo realizado
tosse, para urna investigação mais assertiva, utilizam-se cri- no Laboratório de Motilidade Digestiva da Santa Casa de
térios para predizer a origem gastrintestinal da tosse, como Porto Alegre com 622 pacientes submetidos a avaliação Cun·
pacientes não fumantes, que não fazem uso de medicações cional esofágjca com esofagomanometria e pHmetria de 24
bloqueadores da eorima de conversão do angjotensinogênio, horas, a pHmetria foi considerada anormal em 38% dos ca-
com radiografia de tórax normal, com teste de broncopro- sos, com predomínio de RGE durante o período noturno em
vocação para asma negativo, e que apresentam tosse per- posição supina. Nesses pacientes, a sinusopatia era a queixa
sistente, mesmo após tratamento adequado para síndrome principal em 10% dos casos.65
p6s-nasal.J8 Como dito antes, as exacerbações da DPOC podem ter o
Algumas dessas observações devem-se à constatação RGE como coadjuvante, que deve ser reconhecido, quantifi-
de que, em pacientes com RGE patológico c doença res- cado e tratado. Rascon-Aguilar e colaboradores66 avaliaram
piratória, a pHmetria revela que há predominância de re· as exacerbações da DPOC e sua correlação com a DRGE.
fluxo no perfodo noturno {decúbito}, podendo coincidir Observaram que 37% dos pacientes com DPOC possulam
com os episódios de agravamento dos sintomas respirató- RGE patológico, e que o volume expiratório forçado no pri-
rios. Um estudo utilizando pHmetria de 24 horas em 13 meiro segundo (VEF,) previsto não diferiu entre os pacien-
pacientes com sintomas respiratórios revelou que cinco tes com e sem RGE. Entretanto, nos pacientes com RGE
pacientes apresentavam sensação de sufocação noturna, sintomático, o número de exacerbações foi o dobro em rela-
cujos episódios coincidiam com os episódios de refluxo ção aos pacientes sem RGE.
63
documentados pelo exame. 62 Outro estudo revelou que Jonhson e colaboradores61 avaliaram um grupo de 30 pa·
72% de 189 pacientes asmáticos sofriam de pirose e 18% cientes portadores de esclerose sistêmica progressiva quanto
apresentavam desconforto laríngeo e regurgitações ácidas à possibilidade da DRGE ser um fator patogênico contri·
no perlodo noturno. buintc para a doença pulmonar. A análise incluiu endosco·
Embora evidências apontem para a presença de refluxo pia, avaliação otorrinolaringológica, cintilografia com tecoé-
noturno como fator coadjuvante importante nas lariogopa· cio99 para pesquisa de aspiração, teste de função pulmonar
tias associadas a refluxo, outras têm apontado para o reflu- (incluindo teste de capacidade de difusão do monóxido de
xo em posição ortostática como mais importante, sobretudo carbono) e pHmetria de dois canais. Os resultados eviden-
quando na presença de esofagite péptica associada.'"' A des- ciaram RGE proxirnal e aspiração na maioria dos pacientes,
peito dessas contradições, a associação entre laringopatias e com clara correlação entre a severidade do refluxo e a gravi-
RGE deve ser lembrada sempre como possibilidade de inte- dade da doença pulmonar.
ração entre doença digestiva e respiratória, principalmente A avaliação funcional esofágica sistemática em pacientes
em pacientes sem sintomas digestivos aparentes e com acha- com manifestações respiratórias mostra que subestimamos a
dos endoscópicos sugestivos de comprometimento da laringe prevalência de refluxo como coadjuvante nesta população.
pelo RGE (FIGURA 71 .7}. O emprego da pHmetria com dois Realizamos um estudo com esofagomanometria e pHmetria
eletrodos nos pacientes com manifestações extrapulmonares de 24 horas em 1.170 pacientes portadores de manifestações
exclusivas pode fornecer subsídios complementares relevan- respiratórias, associadas ou não a manifestações digestivas
tes para o diagnóstico definitivo. = =
{602 51,5% e 568 48,5%, respectivamente). A asma es-
FIGURA 71 .8 -+ Paciente masculino de 45
anos, com pirose eventual e infecções respi-
ratórias de repetição associadas a sinusopatia
crônica maxilar esquerda (A). Evoluiu com
abscesso pulmonar no segmento superior do
lobo inferior direito (zona de drenagem gra·
vitacional) (8). Após o tratamento do absces-
so, uma pHmettia de 24 horas revelou refluxo
gastresofágico noturno (supino) significativo,
com deficiência de clareamento ácido no esô-
fago distai (C). O tratamento cirúrgico do re-
fluxo gastresofágico foi indicado com resolu-
ção subsequente das infecções rinossinusais e
das pneumopatias.
teve presente em um terço (33,4%) dos pacientes no gru- os sintomas asmáticos, reduzindo também a quantidade de
po com manifestações digestivas e em um quarto (25%) no medicamentos utilizados, porém sem impacto detectável na
grupo sem quaisquer manifestações digestivas associadas. função pulmonar. Nas instâncias recém-descritas, o trata-
A esofagomanometria mostrou anormalidades em 41% dos mento do RGE deverá ser concomitante às medidas tera-
casos, sendo que a hipotonia do esfmcter esofágico inferior pêuticas orientadas para a doença respiratória, para que se
foi a alteração preponderante em ambos os grupos (40% dos possam controlar os sintomas respiratórios. Não raro, a ne-
pacientes com sintomas digestivos e respiratórios, e 30% nos gligência a este princípio simples pode resultar em insucesso
pacientes com sintomas respiratórios apenas), correlacio- terapêutico. Ademais, o tratamento clínico da DRGE possui
nando-se com DRGE. algumas particularidades nos pacientes com manifestações
O perfil da pHmetria mostrou DRGE mais frequente e respiratórias, que em geral demandam ablação ácida farma-
com parâmetros mais alterados nos pacientes com queixas cológica prolongada (seis meses ou mais), em dose alta e em
digestivas associadas. O período em decúbito foi o de maior dose dobrada para proteção noturna.
exposição do esôfago distai ao ácido refluído em todos os Nos transplantes pulmonares, a sobrevida de 95% no pe-
grupos analisados. Cerca de um a cada três pacientes com ríodo pós-operatório imediato reduz-se para 70 a 75% no
queixas respiratórias e sem sintomas digestivos apresenta- primeiro ano pós-transplante e para 50% em cinco anos. A
ram RGE patológico à pHmetria (DRGE silenciosa). Essa mortalidade tardia dos receptores de transplante pulmonar
comprovação é particularmente importante, pois sugere a está relacionada principalmente com a bronquiolite oblite-
possibilidade da DRGE como causa extrapulmonar de sin- rante, a qual pode ser descrita como uma deterioração pro-
tomas respiratórios crônicos, de origem indeterminada e não gressiva e irreversível da função pulmonar pós-transplante,
responsivos à terapêutica convencional. 68 não explicada por estenose da anastomose brônquica, infec-
Uma extensa revisão crítica da literatura foi realizada ção ou rejeição aguda. A despeito de várias causas propostas
por Field e Sutherland,59 que concluíram que há evidên- para essa entidade, algumas possuem associações bem esta-
cias de que o tratamento antirrefluxo é capaz de melhorar belecidas, como pneumonite por citomegalovírus, número
e precocidade dos episódios de rejeição aguda e antigenici- dãncio-pHmelria tem sido recomendada para a investigação
dade contra HI.A. Entre outras causas, a determinação de e orientação do tratamento."'
relação causal entre a bronquiolite obliterante e o RGE tem
recebido muita atenção. Estudos clínicos sugerem que a as-
piração de material duodenogástrico refluldo para o esôfago
pode promover bronquiolite obliterante por meio de proces-
~ ATENÇÃO
so inflamatório causado pelos ácidos biliares.69•10
O binômio RGE-doença respiratória é hoje parte in·
Outros estudos têm demonstrado a melhora da função
tegrante da prática cllnica diária do pneumologista.
pulmonar em pacientes com bronquiolite obliterante subme-
A suspeição diagn6stica de interação entre doença
tidos a fundoplicatura, reiterando a possibilidade do RGE
respiratória e digestiva exige conhecimento dos me-
como agente causal. Análises retrospectivas de receptores
canismos fisiopatológicos, bem como dos principias
de transplante pulmonar mostraram que, evolutivamente, a
básicos da Investigação para o manejo adequado
função pulmonar dos recepto.res era melhor do nos que não
desses pacientes.
apresentavam RGE, ou naqueles com refluxo tratado preco-
cemente, se comparados com os transplantados que perma-
neciam com RGE após o transplante!' Os autores descre-
veram que os receptores de órgãos que não tinham refluxo A integração multidisciplinar entre pneumologista, ci-
patológico ou que haviam sido submetidos ao tratamento rurgião e gastrenterologista tem papel fundamental não
precoce do RGE apresentaram mortalidade em cinco anos somente no diagnóstico, mas também na perspectiva de
semelhante à dos receptores de transplante cardíaco e renal. sucesso terapêutico deste grupo seleto de pacientes. A pos-
Investigamos a prevalência do RGE e de alterações ma- sibilidade de RGE como coadjuvante à doença respiratória
nométricas na população de pacientes com doença pulmo- deve ser lembrada e investigada objetivamente.
nar avançada candidatos a transplante pulmonar, para pos-
teriormente avaliarmos o impacto do RGE no desempenho
tardio do enxerto pós-transplante pulmonar. A conclusão foi
de que a prevalência de RGE ácido nos candidatos a trans-
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plante pulmonar foi superior à da população geral, sendo
liquids dueto oral•phal)'llgcal dysphagia: ACCP cvidenoe-bascd cli·
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nical practiceguidelines. Chest2006;129(1 Supp1):154S-68S.
pouco de alterações na esofagomanometria, e, ainda, que a
maior prevalência de RGE ocorreu em pacientes com bron- 2. Terada K, Muro S. Obara T, Kudo M, Ogawa E, Hosbino Y, ct
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Os portadores de fibrose pulmonar idiopática também 2010;137(2):326-32.
apresentam uma correlação positiva com RGE. Ao avaliar- 3. Ouranccau A. Pharyngcal and cricopbaryngeal disorders. In: Pc-
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observamos que um terço possuía pHmctria csofágica anor- tone; 1995. p. 391.
mal, sendo que em 80% dos casos o refluxo ocorreu predo-
4. Cardoso P, Felicctti J. Papel da avaliação funcional oa disfagia
minantemente na posição supina. Neste grupo estudado, faringoesofágica. In: Jacobi J, Levy O, Corrêa da Silva L, editores.
77% dos pacientes possuíam sintomas tlpicos de DRGE. Oisfagia: avaliação e tratamento. Rio de Janeiro: Rcvinter; 2003. p.
Dentre os pacientes com pHmetria anormal, a hipotonia do 3t4-31.
esfmcter inferior e a dismotilidade do corpo esofágico estão
presentes em metade dos casos." Novamente, o efeito soma- 5. Preiksaitis HG, Mills CA. Coordinaúoo of brealhing and swallo-
tório de dismotilidade esofágica e pHmet.r ia anormal com wing: effects of bolus consistcncy aod prescotaúoo in normal aduhs.
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um predomínio de refluxo em decúbito segue o perfil que
se encontra em outras manifestações respiratórias, podendo 6. Meadows J. Dysphagia in unilateral ccrebrallcsions. J Neurol
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A identificação de RGE ácido e não ácido tem sido iden- MedJ.1987;295:411-4.
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brose) associada a esclerodermia. Isso se fundamentou no 8. Lim SH, Lieu PK, Phua SY, Scshadri R, Venketasubramanian N,
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73 fibcroptic cndoscopic cxaminatioo of swallowing (FEES) in detcr-
desses pacientes.69' A esclerodermia está relacionada com a
mining the risk of aspiration in acute stroke patients. Dysphagia.
DGRE em mais de 80% dos casos, cujo mecanismo está li-
2001;16(1):1-6.
gado à presença de distúrbio motor esofágico. Os portadores
de esclerodermia possuem um comprometimento motor sin- 9. Cardoso P, Millcr L, Oiamaot N. The effect of calhe ter diameter
crônico com a evolução da doença, acometendo inicialmente on upper esophageal sphinctcr pressure measuremcnts in normal
o esôfago distai (esfíncter inferior), progredindo então em subject.s. Gullct. 1992;2(4):145-8.
sentido cranial em paralelo à evolução da colagenose. Este é 10. Gross RO, Atwood CW Jr, Ross SB, Ols2ewslc.i .1\Y, Eic!thom KA.
motivo pelo qual a esofagomanometria tem sido usada como Thc coordinalion ofbrealhing aod swaUowing in chronic obstructivc
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Dayse Carneiro Alt
lana Oliveira eSilva Ribeiro
72
Maria Carolina M. A. Gouveia
Carlos Villanova
-+
to da tosse com o tratamento.
Deve ser levada em consideraçlo a cirurgia em caso Asma
-------------------
29 a 59%
de falha terapêutica clfnica.
Refluxo gastresofági<o 2t a 51%
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LucianoMüller Corrêada Silva
DaniloCortozi Berton
73
dispneia é resultante da interação de múltiplos fatores fisio-
Introdução lógicos, psicológicos, sociais, além de poder ind uzir respos-
Dispneia é o termo usado para caracterizar uma experiência tas fisiológicas e comportamentais secundárias.'
subjetiva de desconforto respiratório que engloba distintas Pacientes com doença cardiopulmonar são geralmente
sensações qualitativas que variam em intensidade. O ato de limitados em suas atividades por desconforto respiratório.
respirar é único entre todas as funções vitais na medida em Redução na capacidade funcional, na qualidade de vida e
que não somente é regulado pelos centros involuntários lo- incapacidade são consequências frequentes desse sintoma.
calizados no tronco encefálico, mas também por sinais vo- A dispneia é responsável por substancial disfunção e incapa-
luntários iniciados no córtex cerebral. cidade, além de inúmeras consultas a cada ano.
Assim como um indivíduo pode ter algum controle sobre
sua ventilação, sensações provenientes da atividade respi-
ratória afetam a taxa e o padrão de ventilação, bem como
a capacidade funcional individual. Desarranjos nos centros
Mecanismos da dispneia
controladores da respiração, na bomba toracopulmonar ou A compreensão dos mecanismos fisiológicos que levam à
nas áreas de trocas gasosas podem gerar sensação descon- dispneia pode permitir melhor assistência ao paciente e me-
fortável ao respirar. Por outro lado, fatores psicológicos e lhor tratamento desse sintoma debilitante.
culturais podem influenciar a reação à sensação de dispneia, A dispneia é frequentemente associada a condições nas
isto é, um indivíduo mais rude pode negligenciar um descon- quais o estímulo (drive) respiratório está aumentado ou o
forto respiratório e ir além das limitações experimentadas sistema respiratório está sobrecarregado do ponto de vista
por outra pessoa mais sensível às mensagens corporais. mecânico. Além disso, a intensidade da dispneia pode ser
O contexto no qual uma sensação ocorre pode também modificada pelo desequilíbrio entre o comando respiratório
ter impacto sobre a percepção de um evento. A sensação motor (sinal originado no sistema nervoso central - SNC) e
percebida durante um exercício intenso evoca reações muito a retroalimentação aferente originária dos vários receptores
diferentes do que as mesmas sensações ocorrendo em re- do sistema respiratório. Esses conceitos embasam o modelo
pouso. Durante o exercício, essa sensação pode ser perce- neurofisiológico: receptor -t impulso aferente -t integra-
bida como normal, enquanto no repouso pode causar gran- ção/processamento no SNC -t impulso eferente -t dispneia.
de ansiedade se interpretada como sinal de uma condição Embora os sinais aferentes associados à dispneia sejam
patológica. Desse modo, pode-se fazer uma distinção entre recebidos, integrados e processados no SNC, pouco é real-
"sensação", a ativação neuronal resultante de um estímulo mente conhecido acerca dessas atividades neuronais. A sen-
proveniente de receptores periféricos, e "percepção", a re- sação de esforço muscular é dada pela percepção consciente
ação individual de uma pessoa a essa sensação. Portanto, a da ativação muscular esquelética. As evidências disponíveis
sugerem que essa sensação surge da ativação simultânea
(proveniente do córtex motor e/ou dos neurônios do centro
Descritores da dispneia
respiratório no tronco cerebral) do córtex cerebral senso- A dispneia abrange diversas sensações distintas em termos
rial no momento em que os músculos são sinalizados para qualitativos que provavelmente se originam de diferentes
contrair. A sensação de esforço é relacionada com a relação mecanismos fisiopatológicos. Uma grande variedade de
entre a pressão gerada pela musculatura respiratória e a má- estudos tem demonstrado que pacientes com diferentes do-
xima capacidade de gerar pressão dessa musculatura. enças respiratórias relatam descritores específicos da sua
A sensação de esforço ventilatório aumenta quando o doença. Utilizando uma análise por grupamentos, Mabler e
comando central motor dos músculos respiratórios precisa colaboradores3 constataram que a descrição " trabalho/esfor-
aumentar, ou seja, quando a carga que a musculatura tem de ço" foi comum a diferentes grupos de pacientes que tinham
sobrepujar está aumentada ou quando a musculatura respi- várias doenças cardiopulmonares. Entretanto, cada diagnós-
ratória está enfraquecida por fadiga, paralisia ou aumento tico foi associado a um único conjunto de descritores. Por
dos volumes pulmonares (situação em que o diafragma fica exemplo, asma foi associada a "trabalbo/esforço" e "aperto",
em posição de desvantagem mecânica). doença pulmonar intersticial a "trabalbo/esforço" e "respi-
Decorre daí o conceito de relação tensão-comprimento ração rápida". Além disso, pacientes com DPOC relataram
inapropriada dos músculos respiratórios, segundo o qual a que sua dispneia foi percebida mais frequentemente durante
dispneia surge de um distúrbio na relação entre a força ge- a inspiração do que durante a expiração. 3
45
rada pelos músculos respiratórios e a alteração resultante Em dois outros estudos que avaliaram a dispneia cau-
no comprimento dos músculos ou nos volumes pulmonares. sada por diversas doenças cardiopulmonares, indivíduos
Essa teoria tem sido refinada ao incorporar o conceito de portadores da mesma condição selecionaram combinações
descompasso entre o sinal motor para os músculos respirató- únicas de frases q ualificadoras que caracterizavam seu des-
rios e a informação aferente recebida no SNC? conforto respiratório (QUADRO 73.1).
Com base nesses princípios, surgiram os termos "disso- Infelizmente, a atual compreensão da dispneia não per-
4
ciação neuromecãnica" 3 e "dissociação eferente-reaferente" nüte, de forma conclusiva, associar uma doença especifica a
para expressar o desequilíbrio entre a informação aferente um mecanismo fisiopatológico ou um grupamento de des-
para o SNC e o comando motor eferente disparado para os critores qualitativos específicos. Ademais, na maioria das
músculos respiratórios. Nessa " teoria do desequilíbrio" en- doenças, a dispneia é provavelmente associada a mais de um
tre atividade neuronal e subsequente débito ventilatório, o mecanismo e compartilha descritores qualitativos comuns.
cérebro anteciparia ou esperaria uma determinada resposta
ventilatória, de acordo com a informação aferente recebida,
que acaba por não acontecer. 2
Entretanto, outros mecanismos além da sensação de
Mensuração da dispneia
esforço da musculatura ventilatória são aventados para Os objetivos de se mensurar a dispneia são discriminar a in-
explicar observações clínicas e experimentais de dispneia. tensidade do sintoma entre pacientes e determinar se a disp-
Para um dado nível e padrão de ventilação, tanto pacientes neia mudou ao longo do tempo ou como resultado de uma
quanto indivíduos normais têm mais dispneia em situação de intervenção. Métodos psicofísicos e escalas clínicas têm sido
hipercapnia, mesmo que o esforço ventilatório seja o mes- usados para avaliar essa manifestação. Métodos clinicas me-
mo quando comparado com uma situação de normocapnia. dem a magnitude da tarefa física que evoca o sintoma. Thstes
Igualmente, se a ventilação é suprimida abaixo dos níveis di- psicofísicos se baseiam na medida da dispneia em resposta a
tados pelo drive químico, um grande aumento na dispneia cargas de trabalho aplicadas externamente.
é observado, mesmo que os índices de esforço ventilatório
diminuam 5 ·6
A hipoxia tem sido considerada outro mecanismo que Instrumentos clínicos
poderia ser causador de desconforto ventilatório indepen- Nos últimos anos, vários questionários foram desenvolvidos
dentemente do nível de ventilação. Indivíduos normais são para avaliar a intensidade da dispneia com base nas ativida-
mais dispneicos ao exercício quando estão respirando uma des diárias. Essa abordagem depende da lembrança do pa-
mistura de gás hipóxico e menos dispneicos quando respi- ciente e descrição de suas atividades diárias, da capacidade
ram uma mistura com 100% de Olcigênio. Em pacientes com funcional, bem como do tempo e esforço para cumprir uma
doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), a administra- atividade. Um dos questionários originais e mais tradicional-
ção de oxigênio melhora a dispneia em parte pela redução mente empregado é a escala de cinco pontos desenvolvida
oxigênio-induzida nos níveis de ventilação, mas também pa- em 1959 por Fletcher e colaboradores6 considerando uma
rece haver um efeito direto, independente de qualquer al- única dimensão, ou seja, associar tarefas físicas (como cami-
teração na ventilação. Apesar dessas observações, a hipoxia nhar determinada distância no plano ou subindo ladeiras)
parece ter um papel limitado como causa direta de dispneia que causam dispneia. Sete anos após o seu desenvolvimento,
em pacientes com doença cardiopulmonar. Alguns pacientes o Conselho de Pesquisa Médica britânico (Medicai Research
com hipoxia não têm dispneia, ao passo que muitos pacien- Council - MRC) 1 propôs uma escala similar que tem sido
tes com dispneia não têm hipoxia, ou, para aqueles que têm extensivamente usada em estudos epidemiológicos, avalia-
hipoxia, frequentemente uma pequena melhora do sintoma ção da história natural de doenças, avaliação diagnóstica e
é observada após correção dos níveis de oxigênio.2 ensaios clínicos (QUADRO 73.2).
QUADRO 73.1 7 Sensações de dispneia associadas a diferentes condições
lm:mm
Respiração rápida X X
hpiração incompleta X
Respiração superficial X X
Esforço aumentado X X X X
Sufocação X X
Fome de ar X X X
Aperto torácico X
Respiração pesada X
DPOC • doença pulmonar obstrutiva crônica; ICC • insufid~ncia cardiaca congestiva; DPI • doença pulmonar intenticial; ONM • doença neuromuscular; DVP • doença
vascular pulmonar.
QUADRO 73.2 7 Escala e IDT são somadas para formar um resultado basal (O a 12)
e de transição ( -9 a +9).
O. Oispneia a exerdcios intensos.
1. Oispneia andando rápido no plano ou subindo ladeiras leves.
2. Caminha mais lentamente do que pessoas da mesma idade devido Instrumentos psicofísicos durante teste de
à dispneia ou precisa parar para respirar andando normalmente no
plano.
exercício
3. Para para respirar após caminhar 90 metros ou alguns minutos no Graduar a intensidade da dispneia por meio de escalas en-
plano. quanto o paciente realiza exercício físico em um ergômetro
4. Não sai de casa devido à dispneia. (esteira ou cicloergômetro) é outra abordagem utilizada
para quantificar a dispneia. Esses instrumentos visam esti-
Fonte: Modificado de Medicai Research Council.'
mar a experiência individual desenvolvida durante atividade
física. Tipicamente, o individuo classifica sua dispneia du-
rante o exercício em uma escala de percepção de dispneia
A escala do MRC tem mostrado ser um excelente instru- com variação categórica de O a 10 desenvolvida por Borg10
mento para categorizar pacientes conforme a gravidade de ou em uma escala analógica visual (VAS)."
sua dispneia, bem como para predizer sobrevida em pacien-
A VAS consiste em uma linha de 10 em, representando
tes com DPOC. 8 Entretanto, é limitada como instrumento ausência de dispneia no inicio e dispneia extrema ao final. O
de avaliação da dispneia pelo fato de suas amplas gradua-
paciente marca um ponto na escala que correlaciona com o
ções tornarem difícil detectar pequenas porém importantes
grau de dispneia experimentado. O escore é obtido medin-
mudanças na dispneia com intervenções e não fornecerem
do-se do início ao ponto marcado.
adequada informação sobre o esforço necessário para reali-
zar uma determinada tarefa (p. ex., um paciente pode obter A escala de Borg, apresentada no QUADRO 73 .3, é am-
substancial melhora de sua dispneia durante uma tarefa es- plamente usada para quantificar a dispneia experimentada
pecifica mudando o esforço empregado nessa tarefa, como durante testes de exercício. Apresenta duas vantagens: a
reduzindo a velocidade da caminhada). presença de descritores da dispneia que permite comparar
Dessa forma, instrumentos clinicos multidimensionais individues na medida em que esses definidores têm signifi-
foram desenvolvidos para fornecer uma avaliação mais cados semelhantes para diferentes indivfduos, além de os
abrangente da gravidade da dispneia. Os instrumentos mul- valores da escala de Oa 10 poderem ser usados como alvo
tidimensionais mais utilizados são os Índices de Dispneia para ancorar a intensidade de prescrição de treinamento
Basal (IDB) e 'Il'ansicional (IDT), desenvolvidos por Mahler físico.' 2
e colaboradores,9 em 1984, considerando três componentes:
comprometimento funcional, magnitude de trabalho e mag-
nitude de esforço. Para o IDB, a cada componente é atri-
buído um valor de O(dispneia grave) a 4 (sem dispneia), en-
Abordagem diagnóstica da dispneia
quanto o IDTvaria de -3 (maior deterioração) a +3 (maior O primeiro passo no diagnóstico diferencial da dispneia é
melhora). As notas para cada um dos três domínios do IDB classificá-la como aguda ou crônica.
QUADRO 73.3 ~ Escala categórica de Borg para pefcepçáo da Muitas vezes, os próprios sintomas e sinais do paciente já
dispneia durante atividade física definem de forma mais direta a causa da dispneia aguda: por
exemplo, do.r anginosa aguda típica no infarto do miocárdio·
O. Ntnhuma sinais claros de edema pulmonar na insuficiência cardfaca;
0.5 Muito, muito leve fatores de risco e/ou sinais de trombose venosa profunda
1. Muito leve na embolia pulmonar; hipotensão, !urgência venosa e aba-
2. leve famento de bulhas no tamponamento cardíaco; histórico de
3. Moderada
doença re_spiratória crônica e sibilãncia na broncoconstrição;
4. Pouco intensa
5. Intensa dor toráctca aguda em pontada, ventilatório-dependente, e
6. com redução unilateral do murmtírio vesicular no pneumo-
7. Muito intensa tórax; tosse e febre na infecção respiratória; história clmica
8. clara de engasgo e tosse com corpo estranho na obstrução de
9. via aérea alta).
10. Muito, muito intensa
- M.!xima
Suporte hemodtnâmtco l l
8NP Tratamento
Acompanhar evoluçóo
Oxunetri1 ,j;
Solicitar eumes pertinentes
>500 < 500
:J,
Considerar ecocardiografta com ou sem
Tratar como insuficiência tomografia computadorizada de t6ra.x com FIGURA 73.1 7 Algoritmo para dispneía
cardfaca contraste aguda.
Dispneia crônica
Pontos-chave na dispneia aguda A dispneia crônica é definida como dispneia que dura mais
~ A pat~ncia da via aérea deve ser a p roo rodade. do que um mês. Em aproximadamente dois terços dos pa-
~ Medir de forma acurada os sonais vitais . cientes que se apresentam com essa forma de dispneia, a
~ Sempre monitorar, constantemente, os sinais clfnicos causa é cardiopulmonar. Um grupo significativo de pacien-
que indiquem insufid~nda respiratória grave. tes apresenta a dispneia como único sintoma, e há signifi-
~ Nunca confiar em demasia em um único achado (exa· cativa desproporção entre o sintoma e variáveis fisiológicas.
me flsico ou exame complementar) .
Além disso, a história cllnica só identifica as causas corre-
~ Nunca se precipitar no d iagnóstico. tas de dispneia em 66% dos casos. os Nessa situação, asma,
~ Sempre acompanhar a evoluçlo do paciente. Muitas DPOC, doença pulmonar intersticial e cardiomiopatia são as
vezes, o diagnóstico define-se na evoluçlo (observa- principais causas. Outras causas q ue não podem ser despre-
çlo e verificação de resposta ao trata mento) e não na
zadas são descondicionamento físico (diagnóstico de exclu-
apresentaçlo inicial.
são) e anemia. Uma lista mais completa pode ser visualizada
~ Na falta de um d iagnóstico alternativo após história
dlnica, exame físico e exames inociaos (rad iografia de no QUADRO 73 .5.
tórax. eletrocardiograma, oximetria, hemograma e O primeiro passo na avaliação da dispneia crônica con-
outros). sempre considerar a possibilidade de embo- siste em estabelecer qual é o sistema envolvido: cardíaco,
loa pulmonar. respiratório, ou ambos. Em cerca de um terço dos pacientes,
~ Taquipneia nem sempre é sinal de doença pulmonar a causa da dispneia é multifatorial.
(considerar causas metabólicas e neurológicas). Para pacientes que já estejam com um tratamento ade-
-+ Jamais deixar um paciente com padrão respiratório liml- quado da causa da dispneia, o descondicionamento físico
trofe longe da sala de observação (p. ex., sem acompa- deve ser considerado. O descondicionamento físico em pa-
nhamento médico em uma sala de raios X) ou encaminhá· cientes com doença cardiopulmonar frequentemente é uma
-lo para internação em enfermaria. das principa is causas de dispneia refratária ao tratamento
~ Nunca liberar um paciente da emergência, quando medicamentoso, ou comportamental. Muitas vezes, o t rata-
for o caso, sem encaminhamento e instruções claras mento da dispneia depende muito mais de uma reabilitação
a respeito do seu problema. cardiopulmonar bem planejada e executada do que propria·
mente de mudanças no esquema medicamentoso instituído.
Na avaliação clínica, a história e o exame físico podem
determinar o provável diagnóstico da dispneia crônica em
pelo menos metade dos pacientes. No QUADRO 73.6, estão
QUADRO 73.5 ~ Diagnóstico diferencial de dispneia crônica Na FIGURA 73.2, é proposto um algoritmo para maior sim-
plicidade e direcionamento na investigação. Obviamente,
Causas cardíacas nem todos os testes de cada nível precisam ser realizados.
- Insuficiência cardíaca congestiva À medida que testes menos complexos são executados e o
- Doença arterial coronariana acompanhamento do paciente revela novos dados, um dire-
- Arritmias cionamento diagnóstico cada vez maior pode ser alcançado.
- Doenças pericMdicas
O algoritmo apenas fornece uma ideia bem clara de que
- Doenças cardíacas valvulares
existe um nível de complexidade crescente na investigação
Causas pulmonares que deve ser respeitado.
- DPOC
-Asma
- Doença pulmonar intersticial
- Derrame pleural Tratamento da dispneia como sintoma
- Neoplasias malignas
- Bronquiectasias extensas
isolado
Outras causas (menos comuns) ~ATENÇÃO
- Doença tromboembólica
- Dispneia psicogênica (diagnóstico de exclusão) O tratamento da dispneia sempre deve ser direciona-
- Descondicionamento do para a sua causa. No entanto, em muitos casos,
- Hipertensão arterial pulmonar
mesmo com o tratamento da causa subjacente, é
- Obesidade mórbida
- Anemia severa necessário o tratamento do sintoma, principalmente
- Doença do refluxo gastresofágico em pacientes com doença avançada (câncer, doença
- Condições metabólicas (acidose, uremia) cardiaca ou pulmonar).
- Cirrose hepática
- Tireoidopatias
- Doenças neuromusculares
- Deformidades da parede torkica Quanto ao uso de fármacos, os opioides são os mais efi-
- Obstrução de via aérea superior (estenose traqueal, doença cazes. Devem ser reservados, exclusivamente, para aqueles
laríngea) pacientes com doença avançada e intratável, quando todas
as medidas possíveis de tratamento da doença de base já fo-
ram contempladas. O esquema a seguir16 resume o uso de
opioides na dispneia intratável em pacientes com doença
discriminadas informações da história e do exame físico que avançada que necessitam de medidas paliativas adicionais
podem auxiliar no diagnóstico diferencial da dispneia crôni- (QUADRO 73.7).
ca. No entanto, por mais claros que sejam os sinais e sinto- Conforme se observa, devem ser preferidas as prepara-
mas, é fundamental a realização de exames complementares ções de curta ação e evitadas as formulações de liberação
para a confirmação diagnóstica. lenta, que são menos efetivas para alívio da dispneia e cau-
Por exemplo, no caso da DPOC, casos moderados muitas sam mais efeitos colaterais. Para efeitos adversos como náu-
vezes são somente identificados pela espirometria. Mesmo sea e tontura, há tolerância com o tempo de uso e com uma
para casos mais graves de DPOC, uma avaliação médica glo- titulação adequada para a grande maioria dos pacientes,
bal apresenta uma razão de verossimilhança positiva muito conforme mencionado no quadro. Provavelmente, o efeito
baixa. mais indesejável seja a constipação. Nesse caso, medidas
Para insuficiência cardíaca, os melhores indicadores de preventivas devem ser tomadas (uso de laxativos, supositó-
disfunção ventricular esquerda são presença de terceira bu- rios, enemas, pró-cinéticos), mas em um grande número de
lha, impulso apical alterado e distensão jugular. A presença casos há limitações de eficácia. Recentemente, um novo fár-
dessas três variáveis praticamente confirma o diagnóstico de maco (metilnaltrexona)" começou a ser testado para o alívio
insuficiência cardíaca. da constipação associada ao uso de opioides.
Para asma, um alto nfvel de suspeição deve ser mantido. O uso de benzodiazepínico como fármaco isolado não é
Um padrão com sintomas respiratórios episódicos associa- útil para o tratamento da dispneia. O uso isolado de opioides
dos a possíveis fatores desencadeantes é muito sugestivo de é suficiente na grande maioria dos casos. No entanto, há si-
asma. Nesse caso, 68% dos pacientes com um padrão inter- tuações em que transtornos de ansiedade podem aumentar a
mitente de dispneia têm asma, ou síndrome de hiperventila- sensação de dispneia. Nesses casos, o uso de benzodiazepínico
ção.15 O diagnóstico de asma é confirmado com espirometria em um curto espaço de tempo pode ser útil. Contudo, para pa-
demonstrando reversibilidade com uso de broncodilatador, cientes com transtornos de ansiedade, o encaminhamento ao
ou corticoides (sistêmico ou inala tório). Thstes de bronco- psiquiatra é necessário para que fármaeos mais específicos se-
provocação (metacolina e exercício) também são utilizados. jam utilizados. O uso a longo prazo de benzodiazepínieos deve
QUADRO 73.6 ~ Dados da história clínica, sinais e sintomas que podem auxiliar no diagnóstico diferencial da dispneia crônica
Dispneia importante, fatores de gatilho, rinite alérgica, polipose nasal, expiraçAo Asma
prolongada, sibilância, melhora parcial ou total com broncodilatadores
Tabagismo > 20 anos-maço, idade > 40 anos, tosse e expectoração crônicas, expiração DPOC
prolongada, sibilância, dispneia a esforços, tórax em barril, uso de pontos de ancoragem
História de hipertensão arterial sistêmica, coronariopatia, diabetes melito, ortopneia, Insuficiência cardíaca
dispneia paroxfstica noturna, edema de membros inferiores, turgência jugular, terceira
bulha (B3), crepitações ou sibilância
hposição ~ poeira inorgânica, asbesto, ou a substâncias voláteis Pneumoconiose, silicose, beriliose, asbestose
Hiperfonese de B2 em foco pulmonar, sopro pansistólico tricúspide, terceira bulha, Hipertensão pulmonar
edema periférico, !urgência jugular, extremidades frias, ascite
Ruídos (estridores) inspiratórios e expiratórios auscuhados na traqueia Obstrução central de vias aéreas, paralisia de prega
vocal, estenose traqueal, tumores
Crepitantes teleinspiratórios, hipocratismo digital, infiltrado pulmonar intersticial Pneumonia intersiticial fibrosante
característico na radiografia de tórax
QUADRO 73.7 ~ Tratamento da dispneia intratável em pacientes ser evitado. A buspirona é útil para o alívio dos sintomas de an-
com doença avançada siedade, com a vantagem de não ter efeito sedativo importante.
Quanto ao oxigênio, é útil somente para o alívio da
Pacientes sem uso prévio de opioides dispneia associada à hipoxemia. Para os pacientes sem hi-
- Dispneia leve poxemia, o efeito parece ser, principalmente, secundário ao
- Codeina 30 mg via oral de 4/4 horas. Metade da dose pode ser fluxo de ar pelas narinas.'8 Logo, o uso de ar comprimido
repetida de 1/1 ou 2/2 horas. em pacientes sem hipoxemia para alívio da dispneia é mais
Dispneia grave custo-efetivo.
- Sulfato de morfina 5 mg de 4/4 horas. A mesma dose pode O tratamento cogrutivo-comportamental também tem
ser repetida de 1/1 ou 2/2 horas, conforme a necessidade. A
importãncia. O suporte psicossocial, o uso de técnicas de re-
titulação da dose pode ser realizada mediante aumentos de 50
a 100% da dose anterior a cada 24 horas. Para pacientes com laxamento e o ensino de manobras e técnicas para economia
DPOC, iniciar com metade da dose e titular com aumentos de de energia nas atividades diárias apresentam efeito relevante
25% a cada 24 horas. na modulação da intensidade da dispneia, com melhora da
Pacientes com uso prévio crônico de opioides qualidade de vida.
- Iniciar com uma dose 25 a 50% maior e titulá·la de acordo com o
recém~xposto.
Paciente com dispneia crônica
l
Diagnósticos possíveis (p. ex.): Solicitar testes do nfvel 2
Asma
Diagnóstico Evidente?
DPOC
j, Não
Insuficiência cardíaca congestiva Sim Realizar testes de nível 3
Derrame pleural j,
Diagnóstico Evidente?
Anemia
Cifoe-scoliose Sim I
Diagnósticos possíveis (p. ex.): Diagnósticos possíveis Considerar
Tromboembolismo pulmonar
crônico
Nfv..l1 Nlvel2
Hemograma
Hemograma
Pró-BNP
Perfil metabólico
Espirometria com volumes e difusão (Dlco)
Radiografia de tórax
Ga.s ometria arterial
Ecocardiograma de repouso
Tomografia computadorizada de tórax de alta
Espirometria com broncodilatador
resolução
Oximetria digital não..invasiva
Holter de 24 horas
Cintilografia perlusionaVventilat6fia
Nfvel3
Cintilogfafia miocáfdica
Cateterismo card!aco
Fibfobfoncoscopia
pH esofógico de 24 horas
FIGURA 73.2 7 Algoritmo de investigação sistematizada para
Bi6psia pulmonaf dispneia crônica.
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Dorvaldo Paulo Tarasconi
74
Tiago Noguchi Machuca
Guilherme Loureiro Fracasso
As referidas artérias costumam originar-se da aorta ao nível da ou deve ser realizada com cuidados técnicos refinados,
de T5 e T6, sendo consideradas anômalas as originadas em a exemplo de uso de microcateter com a extremidade po-
outros níveis. sicionada além do ponto de origem da artéria medular. A
As artérias brônquicas anômalas originam-se mais fre- embolização acidental da artéria de Adamkiewicz pode cau-
quentemente no arco aórtico, podendo também ter origem sar isquemia medular e sua consequência mais dramática, a
variada, sobretudo em artérias subclávias, tronco arterial paraplegia. A embolização de artéria rad icular não acarreta
braquiocefálico, artéria mamária interna, tronco tireocervi- maior risco de complicação neurológica.3·'
cal e artéria frênica inferior. A frequência relatada de arté-
rias anômalas varia de 8,3 a 35% .2
Fisiopatologia
~ATENÇÃO A fonte da hemoptise é, na grande maioria das vezes, uma
área pulmonar hipervascularizada, sede de inflamação crôni-
No estudo angiográfico prévio à embolização, é de ca, nutrida pela circulação arterial brônquica. Com frequên-
extrema importância identificar artérias que nutrem cia, artérias sistêmicas não brônquicas participam da irrigação
a medula espinal, quando passfveis de serem opaci- dessas lesões hipervasculares. Entretanto, muito raramente a
ficadas, sobretudo as artérias medulares anteriores. hemoptise é causada por lesão da artéria pulmonar.2
A inflamação pulmonar crônica pode levar à obstrução
do Jeito distai da artéria pulmonar e à consequente hiper-
trofia compensadora da circulação brônquica local. Pode
Essas artérias raramente se opacificam na arteriografia.
também desencadear neoangiogênese com vasos de paredes
Dois tipos de artérias destinadas à medula espinal podem ser
frágeis e propensos a sangrar. O aumento da pressão nesses
identificados: as artérias radiculares e as artérias medulares
vasos ou a erosão de suas paredes pelo processo inflamatório
anteriores. Estas últimas, cerca de oito, são as mais impor-
crônico podem desencadear hemoptise. '·2
tantes e reforçam o suprimento sanguíneo da artéria espinal
anterior.
Principais causas
~ATENÇÃO Entre as doenças inflamatórias mais frequentemente asso-
ciadas à hemoptise, destacam-se a tuberculose, a aspergilose,
A artéria de Adamkiewicz, ou artéria medular ante- as bronquiectasias e a fibrose clstica. A neoplasia de pulmão
rior maior, irriga a porção lombossacral da medula também responde por número considerável de casos e mere-
espinal e apresenta uma tfpica configuração na ar- ce consideração. A realidade brasileira também segue essas
teriografia descrita como "em grampo de cabelo" tendências. Em estudo realizado em Recife com 50 pacientes
(hairpin).' admitidos por hemoptise, a causa diagnosticada foi tuberculo-
se pulmonar ativa em 8%, neoplasia de pulmão em 10%, bola
fúngica em 16% e bronquiectasias em 38% dos casos.5
Quando, na arteriografía, essa artéria for identificada A fatalidade da hemoptise associada à tuberculose foi
originando-se da artéria que se pretende embolizar, seja destacada por Rasmussen em 1868, em um relato de 11 óbi-
intercostal ou brônquica, a embolização está contraindica- tos por hemoptise, com oito deles decorrentes de cavernas
tuberculosas.6 Desde então, os falsos aneurismas observados A radiografia de tórax pode fornecer informações cru-
em cavernas tuberculosas recebem o nome de aneurismas de ciais na conduta do caso e, de acordo com diferentes estu-
Rasmussen. dos, pode esclarecer o local do sangramento entre 33 e 82%
A colonização secundária da caverna tuberculosa por dos casos. Uma vez que a maioria dos casos está associada
outros agentes, principalmente oAspergillus sp., contribui de a doenças inflamatórias/infecciosas ou neoplásicas, o acha·
forma substancial para a ocorrência de hemoptise. Dentre do de infiltrado pulmonar, massa ou escavação é frequen-
as hipóteses para esse fenômeno, destacam-se a fricção do te. Ao médico intervencionista, que tratará a hemoptise por
conglomerado fúngico com a parede brônquica hipervas- embolização, intere.ssa saber onde se situa a lesão pulmonar
cularizada, a liberação de enzimas pelo fungo ou, ainda, o potencialmente sangrante ou, pelo menos, em qual pulmão
desenvolvimento de infecção ftíngica localizada. Nos casos está situada.
de aspergiloma, a hemoptise é um dos principais sintomas e A tomografia computadorizada com contraste (angioto-
ocorre em 50 a 80% dos pacientes. mografia), realizada de preferência com equipamento com
Reforçando a associação com bronquiectasias, na série multidetectores, é o exame de maior utilidade para o radio-
de 170 pacientes com essa afecção avaliados no Pavilhão logista intervenciooista, pois não apenas demonstra as lesões
Pereira Filho da Santa Casa de Porto Alegre, 41% apresen- pulmonares, como fornece um "mapa" das circulações brôn-
tavam hemoptise.7 A fJSiopatologia é semelhante à da tuber- quica e não brônquica do tórax. Entretanto, a gravidade da
culose, com hipervascularização brônquica e anastomose en- situação nem sempre permite sua realização antes de uma
tre as circulações sistêmica e pulmonar devido ao processo intervenção hemostática.
inflamatório. A endoscopia respiratória assumiu papel crucial no diag-
A hemoptise é uma complicação comum em pacientes nóstico e manejo da hemoptise. Embora a fibrobroncoscopia
com fibrose cística e merece atenção especial não somente seja frequentemente diagnóstica e terapêutica, o seu canal
pela sua gravidade, mas também pelo fato de conferir piora de aspiração pode não ser suficiente em casos de sangra-
no prognóstico a longo prazo.8 mente muito volumoso. Nessas circunstâncias, associa-se a
Neoplasias pulmonares também merecem destaque broncoscopia rígida. Em casos de hemoptise maciça, o ren-
como frequente causa de hemoptise. Lesões primárias cen- dimento diagnóstico da fibrobroncoscopia é elevado, entre
trais (principalmente tumores vegetantes de histologia esca- 73e93%.
mosa) ou metástases endobrônquicas (sítio primário renal
ou colônico) fazem parte do diagnóstico diferencial. Thmo·
res carcinoides, devido à sua predileção pela árvore brôn·
quica oentral, também podem se manifestar clinicamente na
Conduta terapêutica
forma de hemoptise. Em estudo recente envolvendo 126 pa-
cientes com tumores carcinoides operados no Pavilhão Pe· [I] ATENÇÃO
reira Filho, 11,9% apresentavam hemoptise.9 Além disso, o
sangramento pode ocorrer como complicação do tratamento Lembre-se: o paciente com hemoptise maciça morre
medicamentoso do câncer de pulmão. Essa situação peculiar por asfixia, e não por choque hemorrágico. Portanto,
está associada ao uso de inibidores da angiogênese, como o o objetivo inicial deve ser garantir a perviedade da
anticorpo monoclonal inibidor do fator de crescimento do via aérea.
endotélio vascular.
~ ATENÇÃO
O álcool pode desencadear necrose severa de teci-
dos, e as molas podem produzir embolização muito
proximal, geralmente ineficaz, impedindo ulterior
embolização se for necessária.'
RGURA 74.4 ~ Paciente jovem com hemoptise maciça. A arteriografia
demonstra área intensamente hipervascular nutrida por artéria brôn·
quica hipertrofiada (ponta de seta) no terço médio do pulmão direito.
Há shunt broncopulmonar venoso (seta). Diagnóstico: bronquiectasias. Resultados da embolização
É de se esperar cessação imediata da hemoptise na maioria
dos casos adequadamente tratados (76 a 98%).' A recidiva
cular (FIGURA 74.4), extravasamento do meio de contraste oscila em tomo de 20%, o que pode se dever a fatores téc-
e pseudoaneurisma arterial (FIGURA 74.5). A opacificação nicos do procedimento ou à progressão da doença. A recor-
brônquica por extravasamento do meio de contraste é rara· rência é frequente na aspergilose intracavitãria ("bola fúngi-
mente vista (FIGURA 74.6).1 A decisão sobre quais artérias se· ca") e na fibrose cística (FIGURA 74.7).
rão embolizadas é baseada na combinação dos achados da Não havendo controle imediato da hemoptise, a fonte de
tomografia computadorizada, da broncoscopia e do estudo sangramento deverá ser procurada em artéria sistêmica não
angiogrãfico. brônquica ou na artéria pulmonar. Em aproximadamente
O melhor material embolizante no tratamento da 5% dos casos, a hemoptise origina-se na artéria pulmonar,
hemoptise são as micropartículas ou microesferas cali· sobretudo em lesões devidas à tuberculose (FIGURAS 74.8 e
bradas de polivinil·álcool (PVA), não absorvíveis e que 74.9). Nessas situações, a origem do sangrarnento costuma
podem ser escolhidas pelo tamanho mais adequado. As ser um aneurisma de Rassmussen, que é um pseudoaneu-
partículas que proporcionam maior segurança quanto às risma de ramo periférico da artéria pulmonar erodido em
complicações têm diâmetro superior a 325 Jk, uma vez que processo de inflamação crônica, como visto em urna cavida-
partículas menores podem ultrapassar anastomoses arte- de tuberculosa. Tal situação, assim como os raros casos de
riovenosas, produzindo infarto pulmonar ou embolização hemoptise originada de ruptura de malformação arteriove-
sistêmica à distância, além de embolizar artérias de peque- nosa (ou ffstula arteriovenosa) pulmonar, também pode ser
no calibre, não patológicas, que devem ser preservadas. As tratada por embolização, porém com técnica diferente da
partículas mais usadas têm diâmetro de 350 a 500 JJ-/ po- anteriormente relatada.
~ATENÇÃO
A complicação mais temida decorre da embolização
FIGURA 74.6 ~ Tronco arterial comum para artérias brônquicas direi- acidental de artéria importante na irrigação da medu-
ta e esquerda. Hemoptise originada da artéria brônquica esquerda .
Bronquiectasias opacificadas por extravasamento endobrônquico do
la espinal, em especial da artéria de Adamkiewicz."
contraste.
FIGURA 74.7 ~ Fibrose dstica . Episódios de hemoptise recorrente. Tratamento por embolização em um dos episódios. (A e B) prHmbolização. (C e
O) pós-embolização com microesferas de PVA. (A e B) identificam-se áreas hipervasculares bilaterais.
FIGURA 74.8-+ Sequela de tuberculose com
bronquiectasias no lobo superior direito. He-
moptise maciça tratada com embolização
com microesferas de PVA. Uma lobectomia
eletiva foi realizada após cessação da he-
moptise por embol ização. (A) imagem sem
subtração digital. (8) imagem com subtração
digital, demonstrando hipervascularizaçáo na
lesão.
A prevalência de isquemia da medula espinal após aérea. A avaliação de comorbidades e a otimização clinica
embolização está relatada na literatura, variando de 1,4 a também ficam prejudicadas.
6,5%.2 Contudo, com os materiais de cateterismo e embo- Frente a esses dois cenários, fica clara a ideia de que,
lização atualmente disponíveis e os procedimentos execu- sempre que possível, o paciente deve ser submetido a medi-
tados com técnica correta, é provável que as complicações das menos invasivas de controle do sangramento para então
neurológicas estejam hoje bem abaixo dos percentuais re- ser estudada a necessidade de tratamento cirúrgico. Um re-
latados. cente estudo asiático ilustra bem os benefícios dessa sequên-
cia. Em análise de 120 pacientes tratados entre 1995 e 2005,
os resultados foram muito melhores para aqueles tratados
nos últimos cinco anos do estudo (mortalidade 0% vs. 15%
Tratamento cirúrgico e morbidade 18% vs. 30% ), quando instituído um protocolo
O tratamento cirúrgico pode ser empregado em duas si- que, sempre que possível, posterga a cirurgia nas primeiras
tuações muito distintas. A primeira é a do paciente com 48 horas e favorece o uso de embolização.' 2
controle adequado do sangramento por broncoscopia ou A presença de anestesista com experiência em cirurgia
embolização, ou até mesmo espontaneamente, porém com torácica é fundamental. Sempre que possível, deve-se priori-
episódios recorrentes ou um episódio de grande risco. Nes- zar o uso de tubo de duplo lúmen, para ventilação monopul-
te caso, as funções vitais do paciente estão estabilizadas, monar e isolamento do lado da hemoptise para proteção do
pode-se fazer uma avaliação pré-operatória e otimizar con- pulmão contralateral. Quanto ao procedimento de escolha,
dições associadas ao tratamento clínico. Na segunda situa- o armamentário cirúrgico conta com técnicas que vão desde
ção, encontra-se um cenário muito mais dramático e com a ressecção pulmonar formal (incluindo a pneumonectomia)
risco muito maior. O procedimento é realizado em caráter até técnicas com preservação de parênquima, como a caver-
emergencial, quando as outras medidas menos invasivas nostomia e a ligadura da artéria brônquica ou de colaterais
falharam e o paciente já possui comprometimento da via para a parede torácica.
A decisão por uma ou outra técnica depende de parâ- 3. Yu-Tang Gob P, Un M, 'Tho N, En Sben Wong O. Embolization
metros como quadro clínico do paciente, sua condição res- for hemoptysis: a six-year review. Cardiovasc lntervent Radiol.
piratória de base, as condições do parênquima pulmonar 2002;25(1):17-25.
subjacente e sua capacidade de ocupar toda a cavidade to- 4. Wong ML, Szkup P, Hopley MJ. Pcreutaneous embolotherapy for
rácica, caso uma ressecção formal seja realizada, e o grau life-thrcatcning hemoptysis. Chcst. 2002;121(1):95-102.
de aderências pleuropulmonares. Achados de tomografia
5. Lundgrcn FL, Costa AM, Figueiredo LC, Borba PC. Hcmop·
computadorizada e reconstrução em três dimensões ajudam tysis in a rcfcrral hosppital for pulmonology. J Bras Pncumol.
muito no planejamento cirúrgico, devendo este exame ser 2010;36(3):320-24.
realizado sempre que a gravidade do paciente permitir.
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Leituras recomendadas
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Paulo Renato Petersen Behar
MarfliaMaria dos Santos Severo
75
ou a presença de uma doença definidora de AIDS. A lista de
Introdução doenças definidoras pode ser encontrada em Brasil. 1 Feito o
A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS)• corres- diagnóstico de AIDS, fica indicado o tratamento antirretrovi-
ponde à fase avançada da infecção pelo vírus da imunode- ral salvo exceções a serem consideradas a seguir, no contexto
ficiência humana (HIV). O diagnóstico laboratorial dessa de sfndrome inflamatória de reconstituição imune (IRIS).
infecção é baseado na detecção de anticorpos contra o HIV Neste capítulo, são apresentadas apenas as doenças de-
ou na detecção de antígenos. O teste-padrão é um exame finidoras de AIDS que podem comprometer os pulmões. As
enzimático de imunoabsorbância (ElA), seguido de um teste pneumopatias relacionadas com a AIDS, assim como as de-
westem-blot confirmatório, caso o primeiro seja positivo. O mais complicações associadas a essa doença, causam ainda
ElA é também conhecido como enzyme-linked immunosor- impacto importante na morbidade e na mortalidade, apesar
ben! assay (EUSA). da sua menor incidência na atual era da terapia antirretrovi-
De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil,'.2 as ral (TARV). E são, muitas vezes, o evento-sentinela que leva
amostras reagentes ao ElA devem ser submetidas a um se- uma pessoa com status desconhecido de infecção pelo HIV à
gundo imunoensaio com princípio metodológico diferente procura de atendimento médico.
ou antígeno distinto do primeiro imunoensaio utilizado. Contudo, uma parcela significativa dos pacientes portado-
É importante, ainda, conhecer os fatores de risco e os da- res de pneumopatias relacionadas com a AIDS se apresenta
dos epidemiológicos e clínicos do paciente que está sendo aos serviços médicos já sabedores do seu diagnóstico de in-
investigado, assim como a estimativa do período de janela fecção pelo HIV ou do diagnóstico de AIDS. Estes últimos,
imunológica, se aplicável no caso específico. É necessária a na vasta maioria das vezes, estão com a doença pelo HIV não
aprovação do paciente para a realização de tais testes. controlada por falta de adesão completa ou parcial ao acompa-
No Brasil, o Ministério da Saúde adota dois critérios para nhamento médico e à TARV. Muitos desses pacientes acabam
a definição de caso de AIDS em pessoas maiores de 13 anos tendo múltiplas hospitalizações, à semelhança do que aconte·
de idade, mais para fins epidemiológicos: o critério do Cen- ce com pacientes portadores de outras doenças crônicas.
ters for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Essa noção epidemiológica tem importância prática,
Unidos, modificado, e o critério Rio de Janeiro/ Caracas.' Em uma vez que influi na ordem das hipóteses e no diagnósti-
ambos os critérios, são necessários testes sorológicos positivos co diferencial tanto das doenças como das causas. Certa-
para o HIV. Atualmente, no país, é suficiente para o diagnós- mente, o cenário clinico de um paciente que não se sabia
tico a contagem de CD4 igual ou inferior a 350 células/mm3 anti-HIV positivo e que se apresenta pela primeira vez
com uma pneumopatia é bastante diverso daquele com
hospitalizações repetidas por falta de adesão ao tratamen-
• AIDS é a expressão consagrada internacionalmente, sendo usada
em lugar de SIDA - que seria a expressão literal em português. to antirretroviral. Esta última situação acontece mais fre·
quentcmente em pacientes de baixo nível social, cultural e por citomegalovfrus (CMV), Aspergillus, criptococo e v!rus
econômico, às vezes em associação também com transtor- herpes simples.
nos psicológicos ou psiquiátricos. As doenças pulmonares que constam na lista de defini-
doras de AIDS segundo o critério modificado do CDC são
m ATENÇÃO
infecção disseminada por CMV, criptococose pulmonar, his-
toplasmose disseminada,linfoma não de Hodg)tin de células
B, de células grandes ou pequenas não clivadas ou de células
grandes, imunoblástico, sarcoma de Kaposi em pacientes
Ao ler textos sobre AIDS, é essencial considerar se
com menos de 60 anos, micobacteriose (não tuberculosa),
o estudo precedeu a disponibilidade de utilizaçAo
sepse recorrente por Salmonella não tifoide, pneumoeistose
de inibidores da protease e o amplo uso de terapia
e pneumonias bacterianas recorrentes (mais de dois episó-
antirretroviral de tripla combinaçAo. A atual terapia
dios em 12 meses).
antirretroviral modificou muito o amo natural da
Segundo o Critério Rio de Janeiro/Caracas, são inclui-
infecçAo pelo HIV. Da mesma forma, é importante
das tuberculose disseminada/extrapulmonar/pulmonar não
considerar se a informaçAo precedeu ou incluiu a era
cavitária, atribuindo-se 10 pontos a essa categoria e cinco
da profilaxia contra a pneumonia por Pneumocystis
pontos para tuberculose pulmonar cavitária ou não especifi-
Frovecíí (previamente Pneumocystls carinil) na roti-
cada. Esse critério atribui dois pontos à linfonodopatia igual
na do atendimento ou do estudo. Desconsiderar tais
ou superior a 1 em, igual ou superior a dois sítios extrain-
itens pode levar a interpretações equivocadas sobre
guinais, por um perfodo igual ou superior a um mês.'.l No
AIDS, podendo resultar em problemas no manejo e
contexto deste capitulo, essa condição é útil no atendimento
no acompanhamento do paciente. Outro filtro de
de pacientes com adenopatia hilar e mediastinal. São tam-
leitura importante é considerar a origem do texto
no que se refere às causas, pois a epidemiologia das bém atribuidos dois pontos a tosse persistente ou a qualquer
doenças infecciosas sofre variações de acordo com a pneumonia (exceto tuberculose).
Não somente as doenças definidoras, mas outras que
geografia e o clima, nos diferentes estados do pais e
nas diferentes regiões do planeta. podem ser diagnosticadas frequentemente no contexto de
imunodeficiência do HIV são apresentadas na literatura
de acordo com os niveis de linfócitos CD4. São esperadas
pneumonias bacte.rianas na faixa de contagem de linfócitos
A TARV, apesar de essencial para o tratamento de pa- T CD4 de 300 a 400, apesar de poderem acontecer também
cientes com AIDS e para o tratamento de pneumopatias com contagens mais baixas, como explicado posteriormente.
causadas pelo Hiv, como a pneumonia intersticiallinfocíti- Na faixa entre 200 e 300, esperam-se linfoma de H odg)tin e
ca, não é abordada aqui por extrapolar o objetivo específico pneumonite intersticiallinfocitica. Entre 100 e 200, pneumo-
deste capitulo. Thxto complementar em Brasil.' cistose, histoplasmose disseminada, tuberculose dissemina-
da e !infamas não de Hodgkin; entre 50 e 100, criptococose;
e para contagens menores do que 50, infecções disseminadas
[~J ATENÇÃO por CMV eMycobacterium avium .
Fúngicas
------------------
- Pneumocystis jirovecii
- Histoplasma capsulatum
- Ctyptococcus neoformans
- Aspergillus spp.
Virais
- Citomegalovirus
- Víru.s herpes simples
- lnfluenza
- Adenovirus
- Víru.s parainfluenza
- Vírus sincicial respirat6rio
Radiografia normal
- P. jirovecii
- M. tubercu/osis
---------------------------
pneumocistose são suficientes para a exclusão desses pató-
genos primários das hipóteses etiológicas. Assim sendo, o
tratamento empírico de pneumonia bacteriana deve levar
em consideração tais possibilidades.
A maioria dos pacientes responde prontamente ao tra- Atualmente, a resistência bacteriana aos antibióticos
tamento, sendo o prognóstico semelhante ao dos pacientes está muito dinâmica e leva a mudanças frequentes dessas di-
sem HJV. O agente etiológico mais identificado é o S. pneu- retrizes. Para obter a visão mais ampla do que a do cenário
moniae, seguido do Haemophilus influenz.ae. Embora esses especifico deste capítulo, consulte o Capitulo "Pneumonias".
renquimatosas sutis. Nesta era de crescente resistência aos
Tuberculose
tuberculostáticos, é recomendado tentar ao máximo isolar
Como a doença é aprofundada no Capitulo "Micobacterio-
o M. tuberculosis e prooeder ao teste de sensibilidade aos tu-
ses" são apresentados aqui apenas aspectos relacionados
berculostáticos. O Ministério da Saúde preconiza solicitação
com' a AIDS. Há, nos últimos anos, um recrudescimento de
de cultura • identificação da espécie6 e teste de sensibilidade
tuberculose no Estado do Rio Grande do Sul segundo a Se-
em todos os casos de retratamento.
cretaria Estadual de Saúde, sobretudo na Grande Porto Ale-
O esquema básico alua! de tratamento da tuberculose no
gre, por questões de administração de saúde pública.5 Para-
Brasil, segundo a Nota técnica sobre as mudanças no trata;
lelamente, a infecção pelo HIV, em qualquer lugar, aumenta
mento da tuberculose no Brasil para adultos e adolescentes,
de forma notável o risco de desenvolvimento de tuberculose,
versão 2, de 22 de outubro de 2009, do Programa Nacional
tanto como progressão da doença primária como na sua rea-
de Controle da Thberculose, é RHZE (R, rifampicina; H,
tivação, sendo esta última provavelmente mais frequente no
Brasil, devido à alta prevalência de tuberculose-infecção no
z.
isoniazida; pirazinamida e E, etarnbutol), como apresen-
tado DO QUADRO 75.3.
país.
O Ministério da Saúde6 reafirma que permanecem as re-
No contexto de AIDS, a apresentação cUnica da tuber-
comendações de supervisionar o tratamento e de oferecer a
culose depende do grau de imunossupressão. Pacientes com
testagem anti-HJV para todos os pacientes com tuberculo-
contagem de CD4 maior do que 400 célulaslmml apresen-
se. Os outros esquemas de tratamento da tuberculose estáo
tam um quadro clínico semelhante ao dos pacientes sem
apresentados no Capitulo " Micobacterioses".
H rv, com doença cavitãria no lobo superior e com b~ixo ris-
co de disseminação extrapulmonar. A presença de smtomas
constitucionais é variável, uma vez que, nos estágios mais Micobacterioses atipicas
avançados, os pacientes tendem a ter doença disseminada Quando acontece, é geralmente uma doença dissemina-
com sintomas constitucionais proeminentes e manifestações da com sintomas constitucionais. Dentre as micobactérias
pulmonares menos comuns, como adenopatia mediastinal- não tuberculosas, o complexo M. avium e o Mycobacterium
-hilar, consolidações nos lobos inferiores e inftltrados inters- kansasii são os mais associados à doença pulmonar na
ticiais difusos, assim como derrame plural, como pode ser AIDS na sua fase avançada. Cursam de modo subagudo
observado nas FIGURAS 75.1 e 75.2. ou crÔnico com tosse, alterações à radiografia de tórax in-
A pesquisa de bacilos ãlcool-ácido resistentes (BAAR) cluindo infiltrados, cavitações e nódulos. O isolamento e
nestes casos é mais frequentemente negativa, e métodos a identificação da micobactéria a partir do escarro ou do
diagnósticos secundários podem ser necessários, como pes- lavado broncoalveolar são fundamentais para diferenciar
quisa, cultivo e teste de sensibilidade aos tuberc~lostátic;<>~· a doença de tuberculose, que é muito mais frequente e
assim como estudo anatomopatológico de espéc1mes chru- pode ter quadro cl(nico supcrponivel. Outra consequência
cos obtidos por biópsia dos loca.is comprometidos: pulmão, essencial do diagnóstico etiológico é permitir o tratamento
linfonodo, medula óssea, fígado, etc. Mesmo em casos d.e apropriado.
pesquisa e cultivo para BAAR negativos em secreções respi- O tratamento de escolha é claritromicina mais etambu-
ratórias como escarro e lavado broncoalveolar, esses exames tol. A azitromicina pode ser uma alternativa à claritromici-
podem ser positivos, inclusive na presença de alterações pa- na. Outra possibilidade é claritromicina mais etambutol mais
I11:1i•t·\•l#di •l• ti J
2RHZEFase intensiva RHZE 150175/400/275 mg (comprimido 20 a 35 kg 2 comprimidos
em dose fix.J combinada)
>50 kg 4 comprimidos
rifabutina. Ciprofloxacina ou ofloxacina podem substituir a pode apresentar-se ao médico em diversos tempos e graus
rifabutina na ausência desta rifocina. As doses para adultos de doença.
são estas: claritromicina 500 mg 2x/dia via oral (VO); etam-
butol 15 mg/kg/dia; azitromicina 500 mg/dia VO; ofloxacina
400 mg de 12/12 horas e ciprofloxacina 750 mg de 12/12 ho-
ras. A duração do tratamento é indefinida na ausência de
~ATENÇÃO
reconstituição imunológica, podendo este ser interrompido Em vista disso, o profissional pode, em um momen-
após um ano com contagem de CD4 maior do que 100 célu-
to, estar diante de um paciente com dispneia, hipo-
laslmm' por mais de três meses. xemia leve e radiografia de tórax normal; em outro
momento, diante de um paciente com dispneia,
Pneumocistose hipoxemia moderada e infiltrado intersticial difuso
bilateral e, em outro, ainda, diante de alguém em
A pneumonia por R jiroveci (previamente carinii) ou pneu-
franca insuficiência ventilat6ria e com um padrão
mocistose é outra doença definidora de AIDS. Na pneu-
misto de infiltrado intersticial e múltiplos focos con-
mocistose, costuma ocorrer hipoxemia e dispneia mais
fluentes de consolidação. Apesar de quadros cllnicos
marcadas do que os achados radiográficos, dentro de um
de intensidade tão diversa, todos são compatfveis
contexto de imunodeficiência grave. É importante também
com pneumocistose.
saber que se trata de uma doença infecciosa que pode evo-
luir rapidamente após a chegada do paciente ao atendi-
mento médico e que tem elevado risco de óbito. É fatal se
não for tratada. Constituem-se fatores de mau prognóstico hipoxemia,
O quadro clínico consiste em tosse improdutiva, febre comprometimento bilateral extenso, infecções pulmonares
e dispneia evoluindo há mais de duas ou quatro semanas. concomitantes, pneumocistose recorrente, níveis elevados
Em outros contextos de imunodeficiência que não a AIDS, de LDH e gradiente alvéolo-arterial (A-a) maior do que
o tempo de doença é menor, podendo ser de 5 a 14 dias. 30 mmHg. O uso de corticoides, quando a pressão parcial
A radiografia de tórax mostra infiltrado intersticial bilate- de oxigênio (PO,) é menor do que 70 mmHg ou quando o
ral difuso, porém, no início da doença, o exame pode ser gradiente A-a é maior do que 35 mmHg, diminui o risco de
normal. Neste caso, as alterações podem ser demonstra- falência respiratória e de óbito. Neste caso, deve-se ficar
das na tomografia de tórax. Há hipoxemia ou dessaturação atento à possibilidade de infecção concomitante como tu-
de oxigênio ao exercício, elevação de lactato desidroge- berculose e infecção por CMV:
nase (LDH) e contagem de CD4 menor do que 250/mm3 Idade avançada, tratamento de segunda escolha para a
(AIDS). pneumocistose, contagem de CD4 menor do que 50 células/
Dependendo da condição pulmonar prévia, de aspec- mm' , presença concomitante de CMV e longo tempo decor-
tos psicológicos como o grau de aceitação da doença pelo rido até o início do tratamento são outros fatores de mau
HIV, entre outros, como a percepção do paciente em relação prognóstico.
ao seu estado de saúde, de doenças psiquiátricas, do nível Como não é prático o cultivo de R jirovecii em labora-
social e cultural, além de outras possibilidades, o paciente tórios clínicos, o diagnóstico definitivo é dado pela visua-
lização de cistos nas secreções respiratórias, corno escarro em geral quando a contagem de CD4 é menor do que 100
induzido ou lavado broncoalveolar, cuja sensibilidade é células/mm3• Em caso de neutropenia associada ao HIV, há
de 95 a 100%. Há novas técnicas em investigação, corno mais risco de comprometimento pulmonar por Aspergilius
a reação em cadeia da polimerase (PCR) da saliva ou do spp. Os três fungos são inalados e chegam ao pulmão, onde
escarro, os nfveis de S-adenosilmetionina e de ~-glucano podem causar os sintomas iniciais. É comum, entretanto,
no sangue. que se disseminem nos pacientes com AIDS.
O tratamento de escolha consiste em sulfametoxazol!tri- A histoplasmose pulmonar costuma estar limitada a
metoprim (cotrimoxazol), 75 a 100 mg de sulfametoxazol/15 áreas geográficas endêmicas. Na AIDS, a histoplasmose é
a 20 mg de trimetoprim/kgfdia por via intravenosa (IV) ad- frequentemente uma doença disseminada cursando com fe-
ministrados de 6/6 horas ou de 8/8 horas, podendo a via ser bre, adenopatias, diarreia e lesões de mucosas e pele acom-
modificada para VO após melhora clinica. O tempo de tra- panhando o processo pulmonar caracterizado por tosse e
tamento é de 21 dias. dispneia e infiltrado intersticial difuso ou reticulonodular,
A alternativa, de acordo com a disponibilidade em nosso como nas FIGURAS 75.3 e 75.4. A presença de adenopatia
meio, é primaquina 15 a 30 mg (base) VO por dia mais clin- hilar ou mediastinal, no diagnóstico diferencial entre his-
darnicina 600 a 900 mg IV a cada 6 ou 8 horas ou clindarnici- toplasmose e pneumocistose, favorece a primeira hipótese.
na 300 a 450 mg VO a cada 6 ou 8 horas. Com a falta de dis- A detecção do antígeno de polissacarídeo do histoplasma
ponibilidade atual de pentarnidina injetável e por inalação na urina tem sensibilidade de 93% e, no sangue, de 89%.
através de Respigard 11, que seria a primeira alternativa à Hemoculturas que utilizam lisecentrifugação e lavado bron-
sulfa, o arsenal terapêutico para tratamento de pneumocis- coalveolar são geralmente positivas para histoplasmose nos
tose grave está comprometido. Alternativas não comerciali- pacientes com AIDS.
zadas no Brasil não são aqui apresentadas.
A prednisona para pacientes com P02 < 70 mmHg pode
ser utilizada do seguinte modo: 40 mg de 12/12 horas nos
primeiros cinco dias, depois 40 mg lx/dia por mais cinco dias
~ATENÇÃO
e 20 mgldia por mais 11 dias, ou seja, até completar 21 dias.
O exame micológico de lesões de pele, obtida por
biópsia, mostra frequentemente crescimento do his-
Histoplasmose, criptococose e aspergilose toplasma, o que facilita o manejo diagnóstico etioló-
Outros fungos além de R jirovecii podem causar pneumonia gico, como no caso demonstrado nas FIGURAS 75.5
em pacientes com AIDS. Os mais comuns são Histoplasma e75.6.
capsulatum, um fungo endêmico, Cryptococcus neoformans e,
mais raramente, Aspergilius fumigatus. Eles causam doença
Pneumonia viral
Pacientes com AIDS têm risco aumentado para pneumo-
nite vira!, mas essas condições são pouco diagnosticadas.
A suspeita ellnica acontece em pacientes com contagem de
CD4 menor do que 50 células/mm3, infiltrado intersticial
e falta de alternativa diagnóstica. Nesses casos, é provável
que CMV seja o patógeno. O diagnóstico é confirmado pela
histopatologia mostrando inclusões intracelulares típicas de
CMV. A imunoistoquimica é igualmente útil. O ganciclovir
está indicado para casos confirmados ou suspeitos. As FIGU·
RAS 75.7 a 75.1O mostram um caso de pneumonia por CMY,
que exemplifica o texto descrito.
De acordo com a sazonalidade de influenza ou, como
recentemente, em períodos de pandemia, a gripe é urna
possibilidade nos casos com dado epidemiológico e quadro
clínico compatíveis. No entanto, a pneumonia por influenza
em pacientes com AIDS é incomum.
Pneumonia parasitária
É menos comum, mas pode ocorrer disseminação de Stron·
gyloides stercoralis e de outras doenças parasitárias para o FIGURA 75.8-+ Radiografia de tórax (projeção de perfil), paciente da
pulmão, como toxoplasmosc, criptosporidiose e microspo- Fig. 75.7.
ridiosc. Ainda se pode observar a sfndrome de hiperinfec-
ção por estrongiloides particularmente se também estive-
rem presentes os seus fatores clássicos de risco, como uso
prévio de corticoides, síndrome de consumo importante A toxoplasmose pulmonar é uma forma grave c rara de
e coinfecção pelo vírus linfotrópico de células T humano pneumonia, também em pacientes com marcada depres-
tipo I (HTLV-1). Na estrongiloidiase, além dos fatores de são da função imune. No Brasil, é apropriado pensar em
risco recém-citados, há pneurnonite, sepse por gram-nega- doença de Chagas disseminada, com diversos sítios com-
tivos e eventualmente meningite. A identificação de larvas prometidos, em casos de AJDS avançada, em pacientes
de cstrongiloides no lavado broncoalveolar é diagnóstica, com encefalite sem etiologia definida e associada a doença
ao passo que a presença de eosinofilia é variável. disseminada.
FIGURA 75.9 ~ Exame anatomopatológico de tecido pulmonar do FIGURA 75.10 ~ Exame de imunoistoqufmica de tecido pulmonar do
paciente das Figuras 75.7 e 75.8, coloração de hematoxicilina-eosina, paciente das Figuras 75.7 a 75.9 positivo para CMV. aumento de 400
aumento de 200 vezes, mostrando inclusões intracelulares compatíveis vezes.
com CMV.
l•w3;1•i;!<f1@.\l·l
Histoplasma capsulatum Em áreas endêmicas, evitar situações de risco, como entrar em cavernas, limpar galinheiros. Evitar exposição a
fezes de pássaros silvestres.
Pneumocystis jirovecii Evitar contato direto com pessoas com pneumonia por P. jirovecii (evitar internação em quarto conjunto).
Citomegalovírus Evitar transfusão de sangue de doador lgG positivo para CMV, caso o receptor seja soronegativo.
Criptococcus spp. Evitar situações de risco, como entrar em cavernas, limpar galinheiros. Evitar exposição a fezes de pássaros.
Toxoplasma gondii Evitar carne vermelha mal passada e contato com gatos que se alimentam na rua. Evitar limpar caixas de areia de
gatos. Lavar as máos após jardinagem e antes das refeições.
QUADRO 75.6 ~ Critérios para interrupção e reinício da profilaxia de infecções oportunistas como compl icações pulmonares na AIDS
Toxopla.smose secundária 200 Seis meses após o fim do tratamento < 200
na ausência de sintomas
Em
Fibrose Cística Diagnóstico
Helena Teresinha Mocelin A idade ao diagnóstico é variável, podendo ocorrer desde
Gilberto Bueno Fischer o período pré-natal até a idade adulta. Em 2008, foram pu-
blicadas as Guidelines for Oiagnosis of Cystic Fibrosis in
Newboms through Older Adults: CysticFibrosis Foundation
Consensus Report,2 que determinam que o diagnóstico de
Introdução FC deve ser baseado na presença de uma ou mais manifes-
Embora a fibrose cística (FC) seja uma doença complexa e tações clínicas, história de FC em um irmão ou um teste de
com evolução desfavorável a longo prazo, avanços significa- triagem neonatal positivo ~ evidência laboratorial de
tivos no diagnóstico e tratamento ocorreram nas últimas dé- anormalidade do gene ou da proteína de condutância trans-
cadas. A seguir, é apresentada uma sfntese sobre os aspectos membrana (cystic fibrosis tronsmembrone conductance regu-
de diagnóstico e manejo de crianças com FC com base nos lator - CFfR).
consensos utilizados atualmente.
QUADRO 76.1.1 ~ Achados fenotípicos que sugerem o diagnóstico de fibrose cística
QUADRO 76.1 .2 ~ Quadro clínico de fibrose cística de acordo com peso, em geral não apresentam manifestações clínicas carac-
a idade e aproximadamente em ordem de frequência terísticas da doença.
Os protocolos de triagem têm como objetivo a identifi-
lrrn,M1 cação de lactentes com FC, que apresentam altos níveis san·
guíneos de tripsina imunorreativa (TIR), na primeira semana
Déficit de crescimento de vida, de acordo com os pontos de corte determinados pelo
Esteatorreia laboratório que realiza o teste. Se um valor anormal de TIR
Infecções respiratórias de repetição incluindo bronquiolite/bronquite é identificado, a maioria dos programas realiza teste de DNA
ileo meconial para identificar a mutação genética conhecida de CFfR (es-
Prolapso reta!
tratégia TIR/DNA). Outros programas repetem a TIR em
Edem<Vhipoproteinemia
Pneumonia grave/empiema duas semanas (estratégia TIR/TIR). Ambas as estratégias
Slndrome de depleção de sal têm boa sensibilidade (90 a 95%), porém baixa especificidade.
Icterícia neonatal prolongada As crianças identificadas pelo teste de triagem devem
Deficiência de vitamina K ter seu diagnóstico confirmado por um teste diagnóstico di·
reto, como a dosagem de eletrólitos no suor. O diagnóstico
lrt.m1M1 de FC a partir do TIN demonstra benefícios no estado nu-
tricional, tem um potencial para a melhora dos desfechos
Infecção respiratória recorrente ou •asma• pulmonares e parece ter menor custo em relação ao diag-
Baqueteamento digital e bronquiectasias •idiopáticas• nóstico convencional.
Esteatorreia
Pólipo nasal e sinusite
Obstrução intestinal crônica, intussuscepção Dosagem de eletrólitos no suor
Hiponatremia com calor
O padrão-ouro para confirmar o diagnóstico de FC é a dosa-
Diagnóstico de fibrose dstica em familiar
gem de eletrólitos no suor, independentemente do teste de
Fonte: Adaptado de Hodson e colaboradores.' triagem, embora tanto testes falso-positivos quanto falso-ne·
gativos possam ocorrer. Para crianças assintomáticas iden-
tificadas por teste de triagem, pode ser realizado após duas
semanas de vida e com peso> 2 kg, mas, se o recém-nascido
Teste de triagem neonatal for sintomático, pode-se realizá-lo após 48 horas de vida.
Em locais onde o teste de triagem neonatal (TIN) está dis- Os níveis encontrados podem variar de acordo com a
ponível, a maioria dos casos de FC é diagnosticada a partir idade da criança no momento em que o exame é realizado
da triagem neonatal, embora alguns casos atípicos possam e devem ser muito valorizados na interpretação dos resul-
não ser diagnosticados. Alguns Estados no Brasil já imple· tados, sendo que algumas vezes determinam a repetição do
mentaram o programa de triagem. teste para um diagnóstico acurado. O diagnóstico de FC é
Diferentemente dos indivíduos diagnosticados porque baseado na dosagem de cloro no suor, com no mínimo 75
apresentam sintomas clínicos sugestivos de FC, os lactentes mg de suor obtidos pelo método de Gibson e Cooke ou no
identificados por TTN positivo, embora possam ter baixo mínimo 15 ,..L pelo método Macroduct.
Valoresde referência de doro no suor para o diagnóstico
de fibrose cística emcrianças [I] ATENÇÃO
Em crianças menores de seis meses com valores de cloro no
A chave para o diagnóstico de FC é ter um alto nfvel
suor S 29 mmoi/L, o diagnóstico de FC é improvável. Na-
de suspeição. O erro mais comum é não considerar
quelas com valores entre 30 e 59 mmoi/L, há probabilida-
FC em um paciente que está aparentemente bem,
de intermediária. Por fim, nas que apresentam valores ~ 60
não tem sintomas digestivos e não é de cor branca.
mmoVL, esse resultado é indicativo de FC.
As crianças que apresentam resultados intermediários
precisam repetir o exame e devem ser encaminhadas a um
centro com experiência em FC pediátrica, onde serão sub-
metidas a uma avaliação clínica detalhada, análise de mu-
Tratamento
tações e repetição da dosagem de eletrólitos a cada 6 a 12 O tratamento adequado melhora a qualidade e a expectativa
meses até o esclarecimento do diagnóstico. de vida em pacientes com Fc, c o prognóstico e a sobrevida
Em crianças maiores de seis meses com cloro s 39 são melhores quando realizado em centros especializados na
mmoi/L, o diagnóstico é improvável. Naquelas com valores doença. Portanto, todo paciente com diagnóstico de FC deve
entre 40 c 59 mmoi/L, é pouco provável. Por fim, nas que ser encaminhado a um centro de referência.
apresentam valores~ 60 mmoi/L, tal resultado é indicativo Várias intervençóes têm demonstrado benefícios nos
deFC. desfechos da doença, e diversos consensos internacionais so-
Um teste com cloro~ 60 mmoVL faz o diagnóstico, mas bre o manejo da FC abordam os diferentes aspectos:•s
um segundo teste confirmatório é necessário para compro- As crianças assintomáticas com diagnóstico de FC pré-
var a doença. -natal pelo TI'N ou investigação de irmão de paciente fibro-
cístico recebem tratamento diferente daquelas sintomáticas,
diagnosticadas a partir da investigação clínica. A maioria
Análise de mutação genética dos lacteotes diagnosticados pelo TIN está em risco de
Para individuas com valores de cloro intermediá.r ios, a desenvolver complicações da doença, incluindo alterações
análise do DNA pode auxiliar a estabelecer o diagnóstico. hidreletrolíticas, insuficiência pancreática e doença pulmo-
Não se faz o diagnóstico pela presença de duas mutações nar. Nessas crianças, o objetivo do tratamento é manter o
em CFTR; é neccssãrio que essas duas mutações causem creseimento normal e retardar o desenvolvimento da doença
perda funcional suficiente para resultar em um fenótipo pulmonar e das complicações nutricionais, devendo ser en-
deFC. caminhadas, imediatamente, a um centro pediátrico de tra-
tamento de FC para iniciarem o tratamento.
Atualmente, para o tratamento da FC, a maioria dos
Avaliação de insuficiência pancreática centros segue as orientações do Cystic Fibrosis Foundation
Existem vários testes disponíveis, mas com limitações no uso. Evidenee-Bascd Guidelines for Management of lnfants with
A dosagem de elasta se fecal tem sido indicada para diagnos- Cystic Fibrosis publicado em 2009/ que se baseia no seguinte:
ticar e monitorar a insuficiência pancreática. Valores < 100
1-'F/g após 2 a 3 anos de idade são indicativos de insuficiência • Educação continuada do paciente e dos familiares.
pancreática. • Recomendaçócs nutricionais, com avaliação da função
pancreática e reposição de enzimas, orientações dietéticas
e reposição de vitaminas (A, O, E e K) e micronutrientes.
Diferença de potencial nasal • Orientações sobre o manejo da doença respiratória com
1àJ exame pode ser benéfico em pacientes com dosagem de base na desobstrução das vias aéreas indicado desde os
eletrólitos inconclusiva, mas o teste exige cooperação do pa- primeiros meses de vida.
ciente pediátrico e é diffcil de ser realizado sem sedação em • Detecção precoce e controle de infecções pulmonares, in -
crianças menores. cluindo a busca da identificação de colonização bacteria-
Nos casos atípicos, é necessário complementar a in- na, especialmente por Pseudomonas aeruginosa, para ins-
vestigação. Se permanecem dúvidas quanto ao diagnósti- tituição o mais precoce possível da terapia de erradicação.
co, o paciente deve ser mantido em acompanhamento até • Monitoramento da progressão da doença e das compli-
a confirmação diagnóstica. Apesar da disponibilidade de cações.
exames mais sofisticados para se chegar ao diagnóstico de • Prevenção de infecções virais. Atualmente, não se uti-
FC, este deve ser clínico. A criança com teste positivo mas liza terapia profilática para prevenção de infecção por
sem sintomas deve ser acompanhada cuidadosamente para Staphylococcus aureus.
a detecção imediata deles quando surgirem. Na criança
com quadro clínico sugestivo mas exames negativos, deve- O QUADRO 76.1.3 resume as recomendações atuais para o
-se ampliar a investigação, revisar as técnicas de realização tratamento das manifestações pulmonares.
de exames, excluir outras doenças e tratar como FC até a O diagnóstico de FC deve ser considerado em todos os
dcfuúção do caso. pacientes com sintomatologia respiratória crônica, indepen-
dentemente de apresentarem o conjunto dos sintomas clás- 2. FarreU PM, Rosenstein BJ, White TB, Aeeurso FJ, CasteUani C,
sicos. Uma suspeição precoce pode levar a um diagnóstico Cutting GR, et ai. Guidelines for diagnosis of cystic fibrosis in new-
antes que a progressão da doença ocorra. boms through oldcr adults: Cystic Fibrosis Foundation eonscnsus
O manejo da FC deve incluir uma equipe multidiscipli- report. J Pediatr. 2008;153(2):$4-14.
nar altamente motivada. 3. Borowitz O, Robinson KA, Rosenfeld M, Oavis SO, Sabadosa
A transição para a clínica de adultos deve ser feita de KA, Spear S, et ai. Cystic Fibrosis Foundation cvidenec-bascd gui-
forma progressiva e levando em consideração as diversas delines for management of infants with cystic fibrosis. J Pediatr.
mudanças que caracterizam essa faixa etária. Deve-se buscar 2009;155(6 Suppl):$73-93.
a manutenção do relacionamento com a equipe e a criação 4. Flumc PA, O'Sullivan BP, Robinson KA, Goss CH, Mogayzcl PJ
de novos vínculos. Jr, Willey-Courand OB, ct ai. Cystic fibrosis pulmonary guidclines:
chronic medications for maintenanec of lung health. Am J Respir
Crit Carc Med. 2007;176(10):957-69.
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London: Hodder Arnold; 2007. ment of pulmonary exacerbations. Am J Respir Crit Care Mcd.
2009;180(9):8~8.2
Antibiótico Contraindicado o
profilático antiestafilococos
Antileucotrienos
A • fortemente recomendada; 8 • recomendada; C • não h' recomendação nem conllaindicação; O • contraindicação; I • sem evidências suficientes.
Fonte: Adaptado de Flume e colaboradores.'
EI!J
Bronquiolite Obliterante
Pós-Infecciosa
Gilberto Bueno Fischer
Helena Teresinha Mocelin
Paulo camargos
Diagnóstico
Referências Aspectos clínicos e radiológicos
I. Castro-Rodrigucz JA, Oaszenies C, Garcia M, Meycr R, Oon- O quadro clínico da TB é inespecrfico na criança e está pre-
zales R. Adcnovirus pneumonia in infants and factors for dcvclo- sente em menos de 30% dos casos de infecção primária. Nos
ping bronchiotitis oblitcrans: a 5-year follow-up. Pcdiatr Pulmonol. lactentes pequenos, a apresentação pode ser mais grave e
2006;41(10}:947-53. com maior risco de progressão. No adolescente, a manifesta-
2. Matticllo R, Sarria EE, Stein R, Fischer 00, Mocelin HT, Barre- ção é semelhante à do adulto, com tosse prolongada, perda
to SS, ct ai. Functional capaciry asscssmcnt in childrcn and adolcs- de peso e suores noturnos (QUADRO 76.3.1).6
ccnts with post-infcctious bronchiolit~ obtiterans. J Pcdiatr (Rio J). Deve-se salientar que, na criança, a apresentação clf-
2008;84(4}:337-43. nica pode ser confundida com os inúmeros quadros de in-
3. Colom AJ, Thpcr AM. Clinicai prcdiction rulc to diagnosc post- fecções, principalmente vitais, muito comuns nessa faixa
·infcctious broncbiolitis oblitcrans in children. Pcdiatt Pulmonol. etária. Tal apresentação, além da precariedade do atendi-
2009;44(11 }:1065-9. mento à saúde em algumas comunidades, pode retardar o
QUADRO 76.3.1 -? Frequência de manifestações da tuberculose
m!'l"!!'ffl thi·l!l134.'·i!1
Febre Comum Incomum Comum
diagnóstico, fazendo com que muitas crianças venham a complexidade por exigir hospitalização, além de ser um
ser diagnosticadas em ambiente hospitalar no momento de exame invasivo.
apresentações mais graves. Em pacientes pediátricos com quadros pu lmonares de
evolução arrastada nos quais existe suspeita de TB, a coleta
de material de via aérea e pulmão por broncoscopia tem
~ ATENÇÃO possibilitado o diagnóstico em vários casos. Deve-se con-
siderar seu uso em pequeno número de casos em razão de
seu caráter altamente invasivo e da necessidade de hospital
O achado radiológico mais caracterrstico na TB pri-
especializado. Em pacientes com doença pleural, a biópsia
mária é a linfadenomegalia, observada em mais de
por pleuroscopia com análise anatomopatológica do mate-
80% dos casos. Ela costuma ser unilateral, sendo as
rial para identificação do granuloma caseoso é o exame de
regiões hilar e paratraqueal as mais afetadas. A con-
eleição. A determinação da adenosina deaminase (ADA)
solidação parenquimatosa é um achado associado
no líquido pleural pode ser utilizada em derrames pleurais
comum, porém a adenomegalia é mais comumente
de pacientes com história de contato com TB, pois apre-
o único achado radiológico.'·'.
senta alta sensibilidade e especificidade para TB, além de
baixo custo.9
Mais recentemente, em crianças com apresentação atí-
Em algumas ocasiões, a adenomegalia é pequena e não pica ou extrapulmonar, o uso da biologia molecular com a
visível na radiografia simples e, quando a suspeita clínica é reação em cadeia da polimerase (PCR) tem permitido au-
alta, a tomografia de tórax pode identificar pequenas adeno- mentar a acurácia do diagnóstico.
megalias (menores de 2 em). A cavitação é um achado radio- Frente às limitações do diagnóstico microbiológico na
lógico incomum na criança e característico de TB pós-pri- criança, tem sido proposto - principalmente para comuni-
mária. Em determinadas situações, a TB pode apresentar-se dades de países em desenvolvimento - o uso de escores clí-
à radiografia de tórax como padrão miliar de pequenos nó- nicos. O Ministério da Saúde preconiza o uso de um sistema
dulos. Ela pode ocorrer na TB primária ou pós-primária e é que mostrou valores adequados de sensibilidade e especifi-
mais comum no lactente menor de dois anos ou no paciente cidade em pacientes ambulatoriais, sobretudo em comuni-
imunocomprometido. O pleuris tuberculoso é considerado dades com baixa taxa de coinfecção TB-vírus da imunodefi-
uma complicação da TB primária, sendo mais comum em ciência humana (HIV).9
adolescentes. Geralmente é unilateral e sem comprometi- O teste tuberculínico vem sendo extensivamente utiliza-
mento parenquimatoso adjacente. 7 do para identificar indivíduos que tenham sido infectados
pelo Mycobacterium tuberculosis e que apresentem maior
risco de estarem doentes ou se beneficiam de tratamento
Exames complementares para infecção latente. O teste pode ser interpretado como
A natureza paucibacilífera da TB na criança faz com que sugestivo de infecção quando superior a 10 mm em crianças
a tentativa de identificação do bacilo em materiais bioló- não vacinadas ou vacinadas há mais de dois anos, ou quan-
gicos tenha baixa rentabilidade. O exame direto de escar- do superior a 15 mm em crianças vacinadas há menos de
ro tem apresentado posit ividade de 10 a 15%, e a cultura dois anos. A tendência atual é considerá-lo positivo quan-
desse material pode obter valores um pouco mais eleva- do maior do que 10 mm mesmo em crianças vacinadas com
dos.8 Na criança, a coleta por aspirado gástrico apresenta bacilo de Calmette-Guérin (BCG) em qualquer época que
resultados mais elevados na cultura, porém impõe maior refiram ou tenham contato com adulto bacilífero.
As limitações do teste tuberculínico, além da interpreta- ses e R e H nos quatro meses seguintes. A identificação
ção em pacientes previamente vacinados, relaciona•se com do aumento da resistência primãria à isoniazida isolada ou
sua complexidade de aplicação e especificidade na leitura. associada à rifampicina- observada no ll Inquérito Nacio-
O derivado proteico purificado (PPD) deve ser aplicado por nal sobre resistências aos fãrmacos anti-TB -levou o Minis-
via intradérmica, e a leitura, realizada em 48 a 72 horas com tério da Saúde a introduzir o etambutol na fase intensiva
medida transversal da induração. (dois mesesJ do esquema básico para pacientes com mais
de l Oanos.'
História de contato
A história de contato com adulto bacilífero ou não deve ser
muito valorizada na criança até a idade escolar em função do Vacinação
maior tempo de exposição. Familiares da criança, em especial 11
A OMS recomenda a vacinação com BCG em dose única
os pais, seguem como os potenciais contagiantes principais.' A para todas as crianças ao nascimento. Essa recomendação
investigação das crianças que são contatos de adulto com TB é baseia-se na efetividade elevada da vacina contra formas
importante para se detectar novos casos ou identificar aquelas graves da TB nessa faixa etária (TB miliar e meningea ). O
que se beneficiarão da quimioprofilaxia (FIGURA 76.3.1). Ministério da Saúde reromenda os seguintes grupos: 12
Reator
_i Trata: ento
Quimioprofi/axia
• Crianças sintomáticas para infecção pelo HIV
• Imunodeficiências congênitas
[I] ATENÇÃO
Não reator
A revacinação está indicada apenas para lactentes
vacinados ao nascimento e que não apresentem ci-
Repetir o teste após 8 semanas
catriz vacina! após seis meses de idade. Não existem
AGURA 76.3.1 ~ Investigação de contato de adulto bacilífero com me- recomendações atuais para revacinação de escolares.
nos de 15 anos.
bacillferos. A isoniazida é administrada por três meses e, 12. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
após, faz-se a prova tuberculínica. Se a criança for reata- Nota técnica nO 1WDEVEP/SVSIMS: atualização da indicação da
ra, o fármaco é mantido por mais três meses. Se for não vacina BCG-10. Brasllia: Ministério da Saúde; 2010.
reatara, interrompe-se o uso e vacina-se com BCG.
• Secundária: realizada por seis meses com isoniazi-
da em menores de 15 anos que tenh am contato com
adulto bacilffero, sem sinais de doença e com prova tu-
berculínica maior do que 10 mm se não vacinados ou 11!1
maior do que 15 mm se vacinados. Também realizada
em crianças HIV-positivas comunicantes de adultos ba-
Bronquiectasias
cilíferos independentemente da prova tuberculinica o u Gilberto Bueno Fischer
assintomáticos com teste t ubercuHnico reator (5 mm Cristiano Feijó Andrade
ou mais).
Introdução
Referências As bronquiectasias em crianças estão relacionadas princi-
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palmente com algumas condições clinicas como doenças de
R, Thlbot EA, et ai. The global tuberculosis situation. Progress and
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Não se pode estimar sua prevalência real, pois ao longo
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S. Uma JAB, leaza EES, Mcnegotto BG, Fiseher GB, Barreto SSM.
sarampo diminuíram de forma eJq>ressiva.'
Características clínicas e epidemiológicas do adulto eootagiante da Por outro lado, a epidemia da smdrome da imunodefi-
criança eom tuberculose. J Bras Pneu moi. 2004;30(3):243-52.
ciência adquirida (AIDS) que predominou em países po-
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2007;8(2):124-33.
~ ATENÇÃO
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2004;30(Supi1}:S2-56. estado geral, escarro purulento (em crianças com
10. Brasil. Minist~rio da Saúde. Secretaria de Vigilãncia em Saúde. mais de quatro anos que fá podem escarrar), auscul-
Programa Nacional de Controle da Thberculose. Nota t~ica sobre ta com crepitações localizadas nas áreas atingidas e
as mudanças no tratamento da tuberculose no Brasil para adultos e hipocratismo digital são os principais achados .
adolescentes [Internet). Brasllia: Minist~rio da Saúde, [2009 eaptu·
Em alguns casos, existe a necessidade de fibrobronoosco- A fisioterapia deve ser feita com a intensa participação
pia para avaliação das vias aéreas e exclusão de outras causas da família e do paciente. Equipamentos com uso de pressão
de bronquiectasias, como presença de corpo estranho ou al- expiratória positiva podem auxiliar. Quando não ocorre a
terações anatômicas.' mudança do quadro clínico durante o período de tratamen-
to, considera·se o quadro como irreversível. Nesses casos, a
cirurgia de segmento ou do lobo afetado está indicada.... Em
Diagnóstico por imagem doença difusa, algumas vezes podem ser ressecadas as áreas
Embora a radiografia de tórax seja o exame mais acessíve~ mais afetadas para reduzir a exacerbação dos sintomas. Ra-
o diagnóstico por meio dela é muito tardio, uma vez que os ramente há necessidade de pneumonectomias.
achados típicos a partir desse exame somente são percebidos O transplante pulmonar está indicado naqueles pacien-
quando a doença se encontra avançada. tes com doença difusa, sem indicação de ressecção pulmonar
A tomografia computadorizada de tórax permite o diag- e com progressão importante dos sintomas.
nóstico com grande precisão e precocidade, sendo o méto-
do de escolha para o diagnóstico dessa condição, bem como
para o acompanhamento das alterações pulmonares.
A cintilografia pulmonar não é solicitada de rotina, mas Referências
pode ser importante em pacientes com bronquiectasias difu- 1. Marostica PJC, Fischer GB. Non·cystie-fibrosis bronchiec-
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sis: still a problcm. Pediatr Pulmonol. 2001 ;32(2): 175-8.
Tratamento
3. CaUahan CW, Rcdding OJ. Oronchiectasis in children: orphan
O manejo das bronquiectasias depende da sua extensão, diseasc or persistent problem? Pcdiatr Pulmonol. 2002;33(6):492-6.
localização e da doença de base, podendo ser clínico ou ci-
4. Hacübrahimoglu G, Fazlioglu M, Olcmen A, Ourses A, Bedirhan
rúrgico. O manejo das bronquiectasias associadas à fibrose
MA Surgical managemcnt of cbildhood bronehiectasis dueto infec-
cfstica é abordado em capítulos específicos deste livro. tious diseasc. J Thorac Cardiovase Surg. 2004;127(5):1361·5.
Inicialmente, bronquiectasias restritas a um lobo ou
segmento são tratadas com fisioterapia intensiva e contro- 5. F'ascber GB, Moeelin HT, Ranzi L, Weozel O, Moraes R. Surgery
le de infecções bacterianas até que se julgue irreversível o for bronchicetasis in childreo. Eur Respir J. 2000;16: 124s.
processo ou que não haja controle adequado da produção 6. Melo IA. Tratamento cirúrgico das bronquicetasias que não-fi·
de escarro e das infecções pulmonares.''5 Em nosso servi- brose cística em pacientes pedi6tricos [dissenação]. Pono Alegre:
ço, o tratamento clínico é realizado por 6 a 12 meses, sendo Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2010.
então definido se há necessidade de intervenção cirúrgica.
Deve haver cautela quanto à decisão cirúrgica, pois em al-
guns casos, principalmente naqueles de atelectasia lobar ou
segmentar, a imagem pode ser confundida com aquelas de
Leituras recomendadas
Ashour M. Hemodynamic alterations in bronehieaasis: a base for
atelectasia persistente das bronquiectasias irreversíveis. a new subelassifieation of tbe disease. J Tborae Cardiovasc Surg.
Os antibióticos são util.i zados de acordo com o cres- 1996;112{2):328-34.
cimento resultante do exame bacteriológico da secreção
(escarro, material obtido na fisioterapia ou na fibrobron- King P. Pathogenesis of bronehiectasis. Paediatr Respir Rev.
coscopia). Geralmente as bactérias identificadas são as co- 2011;12(2):104·10.
muns do trato respiratório (Pneumococcus, Haemophilus e Redding OJ. Update on trcatment or ehildhood broncbiectasis unrc-
Bramhanella catharralis). lated to cystic-fibrosis. Paediatr Respir Rev. 2011;12{2):119-23.
Tratamento
Cirúrgico
de Afecções
Pneu mo lógicas
em Pediatria
José Carlos Felicetti
Tiago Noguchi Machuca
77
Introdução Corpo estranho
Apesar de unificar conhecimentos e práticas comuns tanto à O corpo estranho na via aérea pode ser uma situação dramá-
cirurgia torácica quanto à cirurgia pediátrica, a abordagem tica, com obstrução respiratória aguda e risco de óbito. No
do paciente pediátrico com afecção pneumológica cirúrgica outro extremo desse espectro, pode apresentar-se de forma
é bastante complexa e exige treinamento específico. Por ve- mais insidiosa, tornando-se um foco crônico para infecções
zes, o paciente requer procedimentos endoscópicos ou mes- de repetição com evolução para bronquiectasias e supuração
mo cirúrgicos que não fazem parte do cotidiano do cirurgião crônica.
pediátrico, assim como o manejo do paciente pediátrico não Devido a questões relacionadas com o desenvolvimento e
faz parte do dia a dia do cirurgião torácico. em razão da tendência constante de colocar objetos na boca,
Dessa forma, a capacitação de profissionais com treina- crianças entre 1 e 3 anos apresentam o maior risco. Outro
mento focado em afec:ções torácicas na infância é muito im- ponto essencial é a educação dos pais: a maioria dos corpos
portante para que os melhores resultados sejam alcançados. estranhos da via aérea são orgânicos e não infrequentemente
Pelo fato de contar com cirurgiões experientes nessa área, fornecidos por adultos. Dentre os mais comuns, destacam-se
além de uma equipe de pneumologia pediátrica altamente o amendoim e o milho de pipoca. Esses alimentos não devem
dedicada e referência regional, desde 2008, o Hospital da ser fornecidos para crianças com menos de 4 anos de idade.
Criança Santo Antônio disponibiliza um estágio formal para
cirurgiões torácicos com foco em pacientes pediátricos.
~ ATENÇÃO
~ ATENÇÃO Uma vez aspirado, o corpo estranho pode se alojar
em qualquer segmento ao longo do trato respirató-
Dentre as afecções pneumológicas mais frequentes rio. A localização na laringe e na traqueia é incomum
em crianças e que exigem tratamento intervencionis- e de alto risco, uma vez que facilmente pode oca-
ta/cirúrgico, destacam-se corpo estranho, derrame sionar obstrução completa da via aérea. Os sinais e
pleural, malformações congênitas e bronquiectasias. manifestações são obstrutivos: estridor, cornagem,
dispneia, disfonia e sibilancia.
O quadro mais encontrado é o do corpo estranho aloja- investigação deve prosseguir com broncoscopia flexivel, in-
do na árvore brônquica; entretanto, ao contrário do que se dependentemente de a radiografia ser normal.
observa em adultos, em crianças não existe uma predileção O diagnóstico definitivo é dado pela identificação do
clara pelo alojamento do corpo estranho no lado direito. Os corpo estranho no exame endoscópico. Em caso de eleva-
sinais e manifestações mais usuais são tosse, dispneia, engas- da suspeição nos exames de imagem, realiza-se diretamente
gos e sibilância. Pode haver hemoptise e até mesmo episó- a broncoscopia rígida com retirada do corpo estranho. Na
dios de cianose (FIGURA 77.1). ausência de confirmação pré-endoscopia, opta-se pela reali-
O elemento mais importante para o diagnóstico é a his- zação da broncoscopia flexível com inventário do trato respi-
tória clínica. Muitas vezes, o paciente e seu familiar não re- ratório bilateralmente.
latam o quadro, mas, quando perguntados especificamente, Na presença do corpo estranho, realiza-se a broncosco-
conseguem se lembrar do momento em que ocorreu a aspi- pia rígida no mesmo tempo anestésico. No caso de material
ração. O exame f'JSico fornece dados importantes, sobretudo orgânico (em especial o amendoim), pode haver importan-
no caso de sibilância unilateral. te edema da parede brônquica com impactação do corpo
A avaliação radiológica também pode mostrar sinais su- estranho. Nessa situação, todo o cuidado deve ser tomado
gestivos do corpo estranho, entre eles hiperinsuflação, ate- no sentido de não fragmentar o objeto, o que invariavel-
lectasia, consolidação ou mesmo a identificação do próprio mente ocasionaria sua disseminação distai. O uso de um ca-
corpo estranho. A detecção de hiperinsuflação é mais fácil teter de Fogarty com insuflação do balonete distalmente ao
com a radiografia em expiração, com aprisionamento de ar corpo estranho pode auxiliar na desimpactação e remoção
no lado do corpo estranho e desvio contralateral do medias- completa.
tino. Entretanto, o exame radiológico normal não afasta a A maioria dos pacientes é encaminhada para a sala de
possibilidade de corpo estranho. Se a história e o quadro recuperação e recebe alta no dia seguinte ao do procedimen-
clínico forem sugestivos de aspiração de corpo estranho, a to. Nos casos de diagnóstico mais tardio, com sinais clinico-
FIGURA 77.1 ~ Paciente de 12 anos com quadro de hemoptise. Fibrobroncoscopia sem evidência de corpo estranho. Toda a investigação para
doenças associadas a bronquiectasias foi negativa. Pela presença de doença localizada e com complicação, foi indicada cirurgia. (A e B) tomografia
de tórax com bronquiectasias na pirâmide basal direita, mais concentradas no segmento basal mediai. (C) corte coronal mostrando a dilatação dos
brônquios até a periferia do parênquima pulmonar. O paciente foi submetido à piramidectomia direita, tendo sido encontrado o corpo eS1ranho no
momento da abertura da peça (D). O corpo estranho localizava-se distalmente aos segmentos de alcance do broncoscópio.
-endoscópicos de infecção, o paciente recebe tratamento Inicialmente se utilizava como ponto de corte para con-
com antibióticos, tendo alta na sequência, para continuar o siderar o derrame como complicado o pH < 7,0. Entretanto,
curso ambulatorialmente. Em casos crônicos, já complicados a tendência mais atual, inclusive corroborada por um estudo
com a formação de bronquiectasias, a conduta ideal é não local realizado por Mocelin e Fischer/ é a utilização do pon-
remover o corpo estranho, evitando-se a inundação da via to de corte como pH < 7,2, aumentando a sensibilidade do
aérea com o conteúdo purulento da pneumonia obstrutiva. exame sem perda importante da especificidade. Outro parâ-
Nesse caso, o grau de destruição do parênquima pulmonar metro que pode ser utilizado é a glicose, sendo que um nível
deve ser avaliado, procedendo-se à ressecção pulmonar na < 40 mg/dL geralmente indica necessidade de intervenção.2
maioria das vezes. A partir da definjção de derrame parapneumônico com-
Em estudo ilustrando as características em nosso meio, plicado, o procedimento terapêutico de escolha a seguir
Lima e colaboradores' avaliaram 44 pacientes pediátricos será guiado pelos achados da ultrassonografia. No caso de
com corpo estranho na via aérea. A idade média foi de 3,2 derrame livre, a drenagem pleural fechada continua sendo
anos, e em 77% dos casos o corpo estranho era do tipo um procedimento simples e com elevada resolutibilidade.
orgânico. As alterações radiológicas mais comuns foram Entretanto, ela será pouco efetiva na presença de múltiplas
consolidação ou colapso e hiperinsuflação, mas em 7% dos loculações e septações. Nesses casos, a indicação é de video-
casos a radiografia de tórax foi considerada normal. Outro toracoscopia (ou, ainda, a drenagem fechada com instilação
achado importante do estudo foi o risco de perda funcional, de fibrinolíticos, uma modalidade pouco difundida no Brasil,
analisado pela cintilografia de perfusão pulmonar, signifi- porém com boa aceitação em países como a Inglaterra).
cativamente maior em pacientes com mais de sete dias de Em nosso meio, prefere-se a videotoracoscopia ou a
aspiração. pleuroscopia com uso do mediastinoscópio, um procedi-
mento minimamente invasivo, com a vantagem de ampla
visualização da cavidade pleural e liberação de aderências
e remoção de conteúdo fibrinoso. No caso de espessamento
Derrame pleural pleural, ela ainda pode permitir a descorticação do parên-
O derrame pleural é uma complicação frequente de infec- quima pulmonar (embora seja tecnicamente muito mais difí-
ções respiratórias em crianças. Ao contrário de adultos, cil do que a descorticação por toracotomia lateral). A incisão
quando o derrame pleural complicado costuma estar asso- ainda pode ser utilizada para lavagem da cavidade pleural
ciado a comorbidades ou hábitos de vida do paciente, em com soro fisiológico aquecido. Ao final do procedimento,
pediatria essa condição ocorre em crianças previamente hf- um dreno tubular é introduzido por outra incisão mais infe-
gidas. O prognóstico é excelente e o índice de resolução com rior e posicionado sob visão direita.
medidas menos invasivas está diretamente relacionado com Uma situação peculiar é o derrame pleural parapneumô-
a precocidade do diagnóstico e da intervenção. nico em pacientes com pneumonia necrosante. Não é inco-
As fases de evolução do derrame pleural parapneumô- mum que esses pacientes apresentem fístula broncopleural,
nico em crianças seguem a mesma sequência que em adul- com difícil manejo caso não seja realizada uma abordagem
tos, descrita no Capítulo "Empiema Pleural". A abordagem cirúrgica aberta. Nesses casos, nossa escolha é pela realiza-
diagnóstica também está fundamentada na toracocentese, ção de " necrosectomia", com remoção do tecido desvitali-
mas a ultrassonografia torácica tem um papel muito impor- zado e sutura das áreas de escape aéreo. Dificilmente esses
tante na tomada de decisões e é bem mais utilizada em crian- pacientes necessitam de ressecção formal, como lobectomia,
ças do que em adultos. devendo-se sempre balancear o controle da infecção e do
escape aéreo com a preservação de parênquima pulmonar
(FIGURA 77 .2).
desenvolve. Os alvéolos continuam se desenvolvendo mes- cação da árvore brônquica. A atresia do segmento brônquico
mo após o nascimento, com a formação de estruturas mais ou da sua vasculatura seria responsável pelo crescimento
numerosas e mais complexas. de tecido anômalo, caracterizado pela sua natureza cística
e adenomatosa nos bronquíolos terminais. A classificação
de Stocker, descrita por esse autor em 1977 e atualizada em
Anomalias do desenvolvimento do broto 2002, compreende cinco tipos de malformação de acordo
pulmonar com o tamanho dos cistos e o tipo celular presente (QUADRO
As anomalias do desenvolvimento do broto pulmonar in- 77.1)?
cluem agenesia, aplasia e hipoplasia. Dentre os diversos tipos de MACs, o tipo I é o mais fre-
A agenesia pulmonar consiste na ausência de desenvolvi- quente (65%), acompanhado pelo tipo li (20%), sendo que
mento do broto pulmonar. Quando bilateral, é incompatível os demais são raros. A apresentação clínica varia em um
com a vida. Quando unilateral, em geral existe crescimento espectro amplo, que vai desde quadro assintomático até as
vicariante do pulmão contralateral; entretanto, o prognósti- formas graves com insuficiência respiratória aguda. No caso
co é ruim pelo grande número de malformaçóes associadas. de lesões volumosas, pode ocorrer desvio do mediastino
A aplasia pulmonar comporta-se funcionalmente como com repercussão hemodinãmica na forma de hidropsia fetal.
a agenesia, porém a sua diferença reside na presença de um Uma peculiaridade da MAC tipo li é a sua forte associação
coto brônquico do lado afetado. com outras malformações congênitas, principalmente dos
A fisiopatologia da hipoplasia pulmonar envolve um de- tratos gastrintestinal e urinário.
feito primário do desenvolvimento do broto pulmonar ou,
como ocorre na maioria dos casos, existe uma causa secun-
dária que impede esse fenômeno, principalmente por ocupar
um espaço considerável da cavidade torácica. O principal QUADRO 77.1 ~ Malformações adenomatoides císticas segundo
exemplo dessa ocorrência é a hérnia diafragmática congê- Stocker
nita.
Cisto broncogênico
O cisto broncogênico pode ter duas apresentações bem dis-
tintas: mais frequentemente na topografia mediastinal, em
particular na região subcarinal; ou na topografia do parên-
quima pulmonar.
Os pacientes podem apresentar sintomas em decorrên- O diagnóstico é confirmado com exames de imagem. A
cia de complicação infecciosa ou de compressão das estru- radiografia de tórax pode mostrar dilatação brônquica, mas é
turas adjacentes ao cisto. O cisto também pode ser achado a tomografia computadorizada que fornece dados mais pre-
inc.idental de exame de imagem. Histologicamente, o cisto cisos. Ela define com exatidão a enensão da doença, assim
broncogênico se caracteriza pelo epitélio escamoso ou co- como o tipo de bronquiectasias (cilíndrica, varicosa ousa-
lunar ciliado com conteúdo líquido, geralmente mucoide. O cular). Achados característicos são a manutenção do calibre
cisto de localização intraparenquimatosa pode ter contato brônquico dilatado até a periferia; a presença de brônquios
direto com a via aérea, apresentando nível hidroaéreo no de calibre interno maior do que da sua artéria adjacente e
seu interior. o faveolamento do parênquima no caso de lesões saculares.
O tratamento do cisto broncogênico consiste na sua res- Após uma investigação minuciosa para elucidar a causa
secção cirúrgica. Essa conduta se justifica pelo elevado ín- da doença, o tratamento clínico das bronquiectasias envolve
dice de pacientes inicialmente assintomáticos que evoluem o controle de exacerbações com anbbióticos e a manutenção
com sintomas respiratórios e complicações infecciosas. O da higiene da via aérea com fisioterapia. A fibrobroncosco-
cisto broncogênico mediastinal representa uma excelente pia é um exame que aurilia na definição da anatomia da via
indicação para videotoracoscopia. Já o cisto intraparenqui- aérea, exclui a presença de corpo estranho e ainda permite
matoso requer resseeção do parênquirna pulmonar circunja- a coleta de lavado broncoalveolar para defmição de agente
cente, na forma de resseeção pulmonar regrada. infeccioso ativo ou colonizante.
A indicação de ressecção cirúrgica é uma decisão delica- Em relação aos cuidados anestésicos, o mais importante
da e deve considerar uma série de fatores: 11 deles reside na necessidade de isolamento do lado doente
para evitar, a todo custo, a contaminação do pulmão contra-
• Anatomia: as bronquiectasias devem ser localizadas, ide- lateral. Como não existe tubo de duplo lúmen para ventila-
almente removidas em sua totalidade com uma ressec- ção monopulmonar em crianças pequenas, o uso de bloque-
ção regrada. adores endobrônquicos tem grande valor nesses casos.
• Refratariedade ao tratamento clínico otimizado: o pa- I dealmente, deve-se ressecar todo o parênquima
ciente deve apresentar infecções de repetição ou proces- doente e preservar ao máximo o parênquima sadio. Para
so crônico, a despeito do tratamento clínico máximo. atingir esses objetivos, a segmentectomia é bastante útil
• Sintomas: a simples presença de bronquiectasias loca- no sentido de preservar segmentos sadios. Quando o lobo
lizadas não representa indicação cirúrgica. Elas devem inteiro está comprometido, obviamente a lobectomia é a
apresentar importante repercussão na vida do paciente resseeção de escolha. A dissecção do hilo pulmonar ou dos
(p. ex., infecções respiratórias de repetição, déficit de vasos e brônquios segmentares pode ser dificultada por hi-
crescimento ou hemoptise). perplasia linfonodal e aderências pleuropulmonares. Cui-
• Aspectos sociais: especialmente nos países em desen- dado especial deve ser dedicado às artérias brônquicas,
volvimento, pacientes cujas Camnias demonstram pouca que podem estar hipertrofiadas e apresentar sangramento
aderência a programa de fisioterapia e diffcil seguimen- volumoso. Os resultados com o tratamento cirúrgico de
to clfnico devem ser considerados para terapêutica ci- bronquiectasias em crianças são excelentes, com mínima
rúrgica. morbidade e curto tempo de internação- geralmente 4 a
5 dias (FIGURA 77.5).
Referências
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derrames pleurais parapneumônioos em crianças. J Pncumol.
2001;27(4):177-84.
FIGURA 77.5 ~ Paciente de 13 anos com infecções respiratórias de repetiç~o desde os 3 anos de
idade. Não foi realizado tratamento cirúrgico anteriormente em funçlo da "idade" do paciente.
O paciente nos foi encaminhado apresentando destruição total do parênquima pulmonar à es-
querda por bronquiectasias saculares e com enorme pulmão direito vicariante. inclusive atraves-
sando a linha média (A e B), tendo sido submetido a pneumonectomia esquerda. (Q peça cirúr-
gica evidenciando clara dilatação brônquica até a periferia do parênquima pulmonar. Excelente
evolução, alt.l hospitalar no terceiro dia pós-operatório. (0) retorno ambulatorial, com cicatriz de
toracotomia posterior com preservação muscular total (incisão escolhida em raz~o da distorção
anatõmica pelo processo crônico).
3. Kitaichi M, Yousem S. Symposium 24: Non-ncoplastic lung disca· 9. Fischer GB, Sarria EE, Matticllo R, Mocclin HT, castro-Rodri-
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Eduardo Garcia
Taiane Francieli Rebelatto
78
As doenças do aparelho respiratório são a segunda prin-
Introdução cipal causa de internação em idosos, perdendo apenas para
O crescente desenvolvimento da medicina e das técnicas doenças do aparelho circulatório. Segundo o DATASUS/
diagnósticas e o constante aprimoramento do arsenal tera- em 2008 as doenças do aparelho respiratório foram respon-
pêutico mundial, aliados à melhoria das condições socioeco- sáveis por 13% das intemaçóes em idosos entre 60 e 69 anos
nômicas e culturais de grande parte do planeta, têm elevado e por 18,9% das intemaçóes em idosos de 70 anos ou mais.
a expectativa de vida ao nascer e ampliado o manejo e a pre- As doenças respiratórias também têm grande peso na taxa de
venção de inúmeras doenças ligadas ao envelhecimento. mortalidade dos idosos, contribuindo com 14,2% das mortes,
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),1 idoso conforme levantamento desse banco de dados em 2007.
é o indivíduo com mais de 65 anos em países desenvolvidos, Para mais detalhes, sugere-se a leitura de diversos capi·
e com idade acima de 60 anos em países não industrializados. tulos desta obra, como complemento a este texto.
Tal diferença se deve a diversos fatores socioeconômicos, mas
principalmente à perspectiva de vida mais alta em países de-
senvolvidos em detrimento dos não desenvolvidos.
No final do século XX, ocorreu intenso crescimento da
[I] ATENÇÃO
população idosa brasileira, de maneira que a faixa etária de
Com a idade, o sistema respiratório sofre várias al-
60 anos e mais foi a que proporcionalmente mais cresceu.
terações estruturais, fisiológicas e imunológicas que
Segundo o IBGE/ OMS, a expectativa para o Brasil é de que
são próprias do processo do envelhecimento e que
em 2050 existam mais idosos do que indivíduos com menos
não devem ser consideradas como fator isolado.
de 15 anos.
Entretanto, diversos fatores podem contribuir para
Conforme estimativas do DATASUS/ em 2008 as pes-
um maior acometimento da função pulmonar, como
soas com mais de 60 anos no Brasil representavam 9,9% da
exposição à poluição ambiental, exposição ocupacio-
população, perfazendo um total de 18.761.039 indivíduos. A
nal, tabagismo e história de doenças pulmonares. A
proporção destas tem tendência ascendente, sobretudo em
presença de outras doenças crônicas, como insufi-
função da redução dos níveis de fecundidade e do aumento
ciência cardfaca, osteoporose, artrose, entre outras,
da expectativa de vida (conforme esse banco de dados, em
o que é comum nessa faixa etária, também contribui
1991, a expectativa de vida no Brasil era de 66,9 anos e, em
para a diminuição da função pulmonar.
2008, jã chegava a 73 anos).
Alterações pulmonares anatômicas e
fisiológicas do idoso
Com o envelhecimento, ocorre enrijecimento na estrutura
torácica e acentuação da cifose fisiológica, resultando em
redução da complacência torácica e aumento do diâmetro
torácico anteroposterior. Problemas comuns do idoso, como
osteoporose, cifose, cifoescoliose, calcificações das cartila-
gens costais e das superfícies articulares das costelas, tam·
bém contribuem para o aumento da rigidez da caixa torácica.
Os músculos respiratórios, assim como os demais mús-
culos do corpo, também perdem gradualmente sua força de
contratilidade, sobretudo devido à substituição do tecido
muscular por tecido gorduroso. O diafragma, importante
músculo agonista da inspiração, diminui sua força de contra-
tilidade e sofre atrofia de suas fibras.
Os músculos respiratórios também podem sofrer fadiga
ligada à atrofia muscular, sendo os principais riscos, associa-
FIGURA 78.1 ~ Envelhecimento do arcabouço ósseo.
dos à condição de idade avançada, a desnutrição, a obesida-
de, o sedentarismo, a presença de doenças neuromusculares
ou pulmonares e os músculos hipoperfundidos ou atrofiados.
Já nos pulmões, ocorrem alterações em nivcl tissular, com atividade antibaeteriana, culminando em maior frequência c
perda do tecido de suporte pela degeneração homogênea das gravidade de infecções no trato respiratório em idosos.
fibras elásticas. Essa degeneração inicia-se por volta dos 50 O clearanct mucociliar, realizado pelas estruturas cilia-
anos de idade. Tal modificação na arquitetura pulmonar pro- res do epitélio de revestimento brônquico, tende a sofrer re-
picia, durante a respiração normal, o fechamento prematuro dução devido à diminuição do número e da atividade dessas
das pequenas vias aêreas, com coosequente aprisionamento células, o que provoca ma.ior dificuldade na limpeza das vias
de ar, gerando a conhecida hiperinsuflação seniL Também aéreas, predispondo a maior incidência de infecções.
ocorrem mudanças no setor alveolar, como diminuição da O mecanismo de defesa da tosse também se encontra
proporção de capilares por alvéolos, diminuição no número reduzido de modo proporcional à idade biológica, prova-
de alvêolos e aumento do diâmetro, resultando em menor velmente em razão da redução da força dos músculos res-
superffcie para trocas gasosas e aumento do espaço morto. piratórios e da perda dos reflexos protetores das vias aéreas
inferiores. O prejuízo é maior em pacientes com disfunções
no sistema nervoso central, como aqueles com doença de AI·
01 ATENÇÃO
zheimer e acidente vascular cerebral, assim como em pacien-
tes polimcdicados, sobretudo com medicamentos de ação
depressora do sistema nervoso central, contribuindo para
Em suma, a redução da mobilidade torácica e dia- aspirações da orofaringe. 1àl mecanismo contribui para a po-
fragmática somada às alterações tissulares pulmona- sição que a pneumonia ocupa - de ser a maior causa de mor-
res gera menor capacidade de expiração e inspira~ bidade e mortalidade de pacientes com essas caraeteristicas.
e maior volume residual, pela dificuldade de esvazia-
mento dos pulmões. Na FIGURA 78.1, observam-se
as alterações da estrutura óssea que Ilustram bem a
perda de mobilidade e modificações estruturais que
ocorrem no envelhecimento (acentuação da cifose e
aumento do diâmetro anteroposterior).
11·)1 @@jBil•l
Ronco primário O ronco é um evento acústico produzido por vibrações da coluna aérea e dos tecidos moles devido a fluxo
turbulento nas vias aéreas superiores. Oíndice apneia/hipopneia (IAH) é inferior a 5/hora; a saturação da
oxiemoglobina está dentro da normalidade; não prenche critérios para sindrome do aumento da resistência
das vias aéreas (5ARVAS).
Síndrome do aumento da Sem critérios para síndrome da apneia obstrutiva do sono- SAOS (IAH inferior a 5/hora); aumento
resistência das vias aéreas de despertares e microdespertares associados a esforço ventila tório (avaliado por balão esofágico) na
(SARVAS) polissonogratia; sem dessaturação importante da oxiemoglobina; os sintomas são os mesmos da SAOS.
Síndrome de apoeia central do Episódios recorrentes de apoeias no sono(> 5 apoeias ou hipopneias centrais/hora), sem evidência de
sono (SACC) obstrução e normocarbia (níveis de co, normais) durante a vigflia.
Respiração de Cheyne·Stokes Padrão ciclico de apoeias centrais com volume em crescendo-decrescendo, frequentemente associado a
insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral.
Síndrome de hipoventilação Hipercapnia e hipoxemia durante o sono, relacionadas com hipoventilação central; não relacionada com
alveolar obstrução de vias aéreas superiores; hipercapnia diurna está frequentemente presente.
países asiáticos apresentam prevalência semelhante à des- QUADRO 79.2 ~ Condições associadas a aumento de risco para
crita em países com predomínio de raça branca, apesar do síndrome da apneia obstrutiva do sono
menor IMC. Esses resultados indicam que variações na es-
trutura craniofacial são importantes como fatores de risco. - Gênero masculino
A prevalência da SAOS aumenta progressivamente com - Obesidade
o IMC e outros marcadores de obesidade, como circunfe- - Idade
rência cervical e relação cintura-quadril. Estima-se que cer- - Uso de álcool
- Tabagismo
ca de 70% dos portadores de SAOS apresentem peso acima
- Obstrução nasal
da normalidade. Por outro lado, em torno de 58% dos casos Edema ou fibrose de tecidos de vias aéreas superiores
moderados a graves de SAOS estão associados a IMC ~ 25 Macroglossia
kg/m2. Hipertrofia de tonsilas ou adenoides
Anormalidades craniofaciais e de tecidos moles das vias Hipertrofia de úvula
aéreas superiores aumentam a chance de desenvolvimento Anormalidades craniofaciais (micrognatia, retrognatia, palato em
de SAOS. Exemplos são h.ipertrofia tonsilar, posição ou ta- ogiva)
manho anormal da maxila ou da mandíbula, h.ipertrofia de Hipotireoidismo
Acromegalia
adenoides e diminuição da luz das cavidades nasais. O fator
Slndrome de Cushing
mais comum (em geral o único presente) de limitação do flu- Slndromes genéticas (p. ex., síndrome de Down, sequência de
xo aéreo em crianças com SAOS é o aumento das tonsilas e Pierre-Robin)
das adenoides. Há um aumento de cerca de duas vezes na Síndrome pós-pólio
prevalência de SAOS entre pacientes com congestão nasal Insuficiência cardíaca congestiva
crônica, em comparação com os controles, independente- Acidente vascular cerebral
mente da causa da obstrução nasal.
Diversos estudos mostram prevalência de menos de 3%
de pacientes com hipotireoidismo entre os portadores de
SAOS. Já a prevalência da SAOS entre aqueles portadores treitamento na faringe, sendo a região retropalatal o local
de h.ipotireoidismo é elevada, superior a 25%.' A SAOS é mais comum. Ocorrem alterações mecânicas como redução
cerca de três vezes mais prevalente entre diabéticos quando no tamanho da faringe, assim como alteração na sua forma,
comparados com a população geral. Estima-se que fumantes ou seja, circular em vez de elíptica, em função do aumento
ativos tenham risco cerca de três vezes maior para SAOS do do tecido adiposo das paredes laterais ou mesmo do espes-
que não fumantes. samento destas. Ainda existe um aumento da possibilidade
O QUADRO 79.2 relaciona as condições mais frequente- de colapso da faringe devido a uma diminuição da eferência
mente associadas à SAOS. motora dos músculos dilatadores, além de aumento do volu-
me sanguíneo nessa região e da aderência entre as superfí-
cies da mucosa.
Fisiopatologia O volume pulmonar é outro fator determinante do ca-
Vários fatores atuam na fisiopatologia da SAOS. Em torno libre, da resistência e da complacência das vias aéreas su-
de 75% dos pacientes apresentam mais de um local de es- periores. Um pequeno volume pulmonar, seja por aumento
do volume abdominal, da gordura torácica ou diafragmática,
resulta em diminuição da área da faringe, aumento da possi-
bilidade de colapso dela e resistência.
[I] ATENÇÃO
O colapso das vias aéreas superiores ocorre quando a Ronco é a queixa mais comum dos pacientes com
pressão extraluminal exagerada da faringe, aumentada na SAOS, sendo verificado em até 95% dos casos. En-
obesidade pelo aumento dos tecidos moles nesta região, tretanto. como é uma queixa bastante prevalente na
associa-se a uma pressão intraluminal negativa gerada pela população geral ( > 60% dos homens e 40% das mu-
caixa torácica durante a inspiração. lheres com idade entre 41 e 65 anos). tem um valor
Embora o colapso da faringe seja o evento primário na preditivo muito baixo para o diagnóstico de SAOS.
SAOS, a presença de dessaturação da oxiemoglobina duran- Por outro lado, o diagnóstico de SAOS na ausência
te os eventos respiratórios depende de outros fatores, como de ronco é bastante improvável.
estes:
• Duração do evento respiratório. Outra queixa comum que motiva a consulta é a ocorrên-
• Tipo do evento obstrutivo (hipopneia ou apneia): quanto àa de períodos de pausas ventilatórias durante o sono, as ap-
maior o esforço respiratório, maior o consumo de oxi- neias testemunhadas. Embora tenham uma boa correlação
gênio. com diagnóstico de SAOS, elas não predizem a gravidade da
• Reserva pulmonar de oxigênio que é proporcional ao vo- doença. Deve-se considerar, no seu diagnóstico diferencial,
lume pulmonar e concentração alveolar de oxigênio, ou condições associadas a dispneia noturna, como dispneia pa-
seja, pequenos volumes pulmonares associam-se a maio- roxística noturna, asma ou laringospasmo.
res dessaturações. A sonolência diurna excessiva é uma das manifestações
• Saturação venosa mista: quanto menor, mais rápida será mais frequentes da SAOS. Contudo, a sua presença pode
a queda da saturação da oxiemoglobina arterial. não ser percebida ou seu significado pode não ser adequa-
• Saturação basal de oxigênio: valores baixos estão mais damente considerado em decorrência da instalação insicliosa
próximos do ângulo da curva de dissociação da hemo- ou da sua cronicidade. O paciente poderá não definir o seu
globina e pequenas quedas na Pa02 resultam em grandes sintoma como sonolência, mas como cansaço e fadiga. Uma
dessa tu rações. avaliação mais cuidadosa permitirá o reconhecimento de so-
nolência em situações mais tediosas, monótonas e passivas.
Quadro clínico Para a quantificação do grau de sonolência diurna, é fun-
O paciente úpico com SAOS é homem, com sobrepeso ou damental o uso de escalas, como a escala de sonolência de
obeso, queixando-se de roncos, engasgos durante a noite, Epworth (QUADRO 79.4).
noctúria, sonolência excessiva diurna e comprometimento
cognitivo leve (esquecimentos, dificuldade de concentra- Exame físico
ção), com episódios de apneia testemunhada durante o sono. O exame físico deve incluir medidas antropométricas (lMC),
No entanto, a SAOS é uma condição bastante heterogênea, circunferência do pescoço, pressão arterial e avaliação da ca-
de forma que mesmo um paciente com quadro grave poderá vidade nasal e orofaringe. IMC acima de 30, circunferência
se queixar de poucos sintomas (QUADRO 79.3). cervical acima de 42 em nos homens e 38 em nas mulheres e
hipertensão arterial sistêmica são variáveis do exame !Isico
de alto valor preditivo para SAOS.
QUADRO 79.3 7 Sinais e sintomas de sindrome da apoeia Além disso, deve-se avaliar alterações da morfologia
obstrutiva do sono craniofacial, uma vez que alterações da oclusão dentária
(mordida cruzada, morclida aberta, má oclusão), presença
[mm:.m:mtr.m de palato ogiva! e alterações do desenvolvimento da maxila
(hipoplasia) e mandlbula (retroposição) predispõem à obs-
- Sonolênciil excessiva - Apneias testemunhadas trução das vias aéreas (QUADRO 79.5).
- Sensação de sono não - Ronco res.suscitativo O exame da cavidade oral e da orofaringe deve incluir
reparador - Sono agitado descrição da proporção relativa da língua, do palato (classi-
- Boca seca ao despertar - Engasgos noturnos ficação de Mallampati modificada, FIGURA 79.1), das tons i! as,
- Cefaleia ao despertar - Pirose e regurgitaçao
- Alterações de humor - Sede durante o sono da úvula e das paredes faríngeas (FIGURA 79.2) em relação ao
- Dificuldade de concentração e - CongMtao na.sal espaço da via aérea.
de memória - Salivaç~o excHsiva durante
- Diminuição da libido ou o sono Consequências
impotência - DespertarH frequentes
- Despertar comangina A SAOS em adultos, sobretudo nos obesos, é inclicativa de
- Cansaço
pectoris uma doença sistêmica e não exclusivamente de obstrução
- Sudorese excessova anatõmica de vias aéreas superiores. Há evidências concre-
- Noctúria tas de que a SAOS contribui, de forma independente, para
- Insônia doenças neuroendóerinas e cardiovaseulares.
QUADRO 79.4 ? Escala de sonolência de Epworth
Sentado. lendo
Como passageiro de Onibus, trem ou carro, por FIGURA 79.1 ~ fndice de Mallampati modificado. Classe I - visualiza·
periodo de uma hora ·se toda a parede posterior da orofaringe, incluindo o polo inferior das
tonsilas palatinas. Classe 11 - visualiza·se parte da parede posterior da
Deitado para descansar à tarde, quando M orofaringe. Classe 111 - visualiza·se a inserçao da iivula e o palato mole.
possibilidade Não é possível visualizar a parede posterior da orofaringe. Classe IV -
visualiza-se somente parte do palato mole e do palato duro.
Sentado após almoço, sem álcool Fonte: Coslil e colaboradores.'
Sentado, conversando com alguém
--_,------------------~J Resultados
Existem estudos mostrando que a terapia de pressão posi-
tiva reduz a frequência de eventos respiratórios durante o
sono, diminui a sonolência diurna e melhora a qualidade de
vida. O efeito na qualidade de vida é mais bem observado
em pacientes jovens e mais sonolentos. O efeito na redução
Fluxo
da pressão arterial também já foi demonstrado, com maior
redução nos níveis pressórieos em pacientes com SAOS gra-
ve. 1àmbém tem sido mostrada redução da mortalidade em
Pes pacientes com SAOS grave tratados com CPAP.
O desfecho favorável dependerá da adesão à terapêutica
com pressão positiva. Entretanto, existem limitações no seu
uso devido aos efeitos colaterais e à intolerância por alguns
FIGURA 79.4 ~ Modelo respiratório baseado no principio de Sta~ing,
mostrando a aç.!o da pressão posi1iva na via aérea. O uso de CPAP au· pacientes. Estima-se que 20 a 40% dos pacientes não utili-
menta a press.\o intraluminal evitando o colapso da via aérea superior. zam seu aparelho e muitos não o fazem durante toda a noite,
Ptr • pressão intratraqueal; PN = pressão nasal; ~ • pressão esofágica. não atingindo o mlnimo de uso de pelo menos 5 a 6 horas
Fon~: Hoffsten.' por noite para um resultado satisfatório. As causas da má
adesão ao tratamento são descritas no QUADRO 79.8. Apesar
dos efeitos colaterais, a adesão ao uso de CPAP fica em tor-
no de 65 a 80%, pois menos de 1% dos pacientes não obser-
A titulação da pressão deve ser ajustada durante uma vam melhora clínica após seu uso.
noite de polissonografia, sendo necessário o acompanha·
mento técn.i co e ajuste da pressão ótima que corrige os Acompanhamento
eventos respiratórios, ronco, limitação do fluxo aéreo e Os pacientes que iniciam o uso de CPAP devem ser avaliados
dessaturação da oxiemoglobina, principalmente durante com frequência, em especial durante as primeiras semanas
a posição supina e o sono REM. Podem ser utilizados os de tratamento. O objetivo é identificar e solucionar rapida-
aparelhos automáticos para titulação, desde que se conhe- mente quaisquer efeitos colaterais, pois isso pode afetar a
ça a qualidade do software utilizado, pois alguns aparelhos adesão a longo prazo.
confundem os eventos respiratórios em casos de tosse, es- Uma vez que o paciente aderiu ao tratamento, uma ava·
pirros, abertura bucal e elevam a pressão acima dos nfveis liação objetiva do sono é geralmente desnecessária se os sin-
desejados. tomas da SAOS tiverem se resolvido. Todavia, a repetição do
A eficácia da abertura da via aérea é ilustrada pela tomo- teste é indicada para pacientes que não melhoram ou que
grafia da faringe de um paciente durante o sono, observando apresentam sintomas persistentes ou recorrentes, como SO·
a abertura da via aérea quando se utiliza CPAP (FIGURA 79.6). nolência diurna.
FIGURA 79.5 -7 Tipos de máscaras. (A) máscara nasal co-
locada sobre o nariz, sem envolver a boca. É o modelo
mais usado e mais indicado quando pressões mais altas
devem ser empregadas. (B) pillow nasal: tamanhos me-
nores e com pequeno contato na face são mais aceitos
em pacientes com claustrofobia, porém causam maior
desconforto quando é necessário o uso de pressões altas.
(C) máscara oronasal ou facial cobrindo a boca e o nariz.
Costumam ser usadas em pacientes com vazamento da
pressão pela boca. (O) máscara híbrida: combina o pillow
nasal com a interface oral. Podem ser utilizadas em pa-
cientes com indicação de máscara oronasal, porém com
dificuldade de adaptar as máscaras maiores.
Fonte: Adaptada de Silber e colaboradores'
IIWMJ hi'U;M1
Rinite Uso de corticoide inalatório, antialérgico
Vazamentos, lesões na pele, barulho, conjuntivite Mudança e ajuste da máscara, tamanho adequado
Queixe ira para evitar vazamentos
Outros: dor torácica ou abdominal, aerofagia, sensação de pressão ou Explicação sobre o fato de a maior parte dos sintomas ser transitória,
arfrio utilização de rampa, umidificador aquecido
Raros: problemas maxilares, dentais, sinusais, de ouvido Avaliação de outros diagnósticos
ta
\. \ ~
B v
ô FIGURA 79.6 ~ Tomografia computadorizada
da via aérea superior, durante o sono, em pa-
\ ~
ciente com apneia obstrutiva do sono. (A) e
(B) paciente respirando espontaneamente sem
CPAP. (C) e (O) os mesmos cortes no paciente
Possíveis causas da falha do tratamento incluem má ade- lamento da narcolepsia. Ele promove a facilitação da libe-
são, ganho de peso, nível inadequado de pressão positiva ração de monoarninas e aumenta os níveis de histarnina no
ou um transtorno adicional causando sonolência (p. ex., a hipotálamo, agindo na promoção da vigília.
narcolepsia), que podem exigir alterações no esquema tera- O modafinil melhora, de forma subjetiva e objetiva, a
pêutico. sonolência, a vigilância e a qualidade de vida em pacientes
Logo que o tratamento com pressão positiva foi otimiza- com SAOS tratados com CPAP. Contudo, ele não reduz a
do e os sintomas desapareceram, deve ser estabelecido um obstrução e o colapso das vias aéreas superiores, motivo pelo
acompanhamento a longo prazo para avaliar e monitorar o qual não tem efeito no tratamento das apoeias e não apre-
uso de CPAP, novos efeitos colaterais, vazamento de ar, re- senta melhora da sonolência em pacientes com uso irregular
corrência da doença e as flutuações no peso corporal. deCPAP.
1-.j ~Wil~.m 1:
Estágio 1
(80,6%)
1, 2 3, 4
lm!IU
< 40
obesidade, hipercapnia e hipoxemia diurnas, sonolência
excessiva, policitemia e insuficiência ventricular direita.
Posteriormente, este grupo de pacientes passou então a ser
denominado portadores da sindrome da obesidade e hipo·
ventilação (SOH).
A definição de SOH consiste na combinação de uma hi-
poventilação alveolar crõnica diurna (PaC0 2 > 45 mmHg)
Estágio 2 1, 2, 3,4 1, 2, 3, 4 < 40 em um paciente obeso (IMC > 30 kg/m2) sem outra causa
(37,9%) de hipoventilação identificada, como doenças pulmonares,
neuromusculares, esqueléticas e metabólicas.
Estágio 3 3, 4 1, 2 < 40 Em geral, os pacientes com SOH são homens, com 40 a
(8, 1%) 50 anos e extremamente obesos. Sua prevalência na popula-
ção geral é desconhecida, mas entre os obesos é em torno de
Estágio 4 1, 2, 3, 4 1, 2,3,4 > 40 1%. Já em pacientes obesos com SAOS, perto de 10 a 20%
Fonte: Friedman e colaboradore~' apresentam SOH, sendo maior a prevalência em pacientes
FIGURA 79.7 ~ Diferentes tipos de aparelho
intraoral para tratamento da SAOS.
Fonte: Montserrat e colaboradores."
com IMC > 40. Cerca de 90% dos casos de SOH apresen-
tam apoeia obstrutiva do sono associada, sugerindo uma
sobreposição entre os distúrbios respiratórios associados à
obesidade, porém sem relação causal estabeleada entre as
doenças.
A patogênese da doença é multifatorial, envolvendo pa-
rede torácica, músculos respiratórios e cont.role ventila tório,
sendo a grande maioria das teorias baseada nos efeitos da
obesidade na mecânica pulmonar. A obesidade atua como
uma sobrecarga no sistema respiratório, resultando em re-
dução da complacência pulmonar, desacoplamento da ex-
citação/contração dos músculos inspiratórios, sendo neces-
sário maior drive ventilatório para alcançar níveis normais de
ventilação. A presença desse estímulo ventilatório aumen-
tado com incremento concomitante da ventilação tem sido
demonstrada nos obesos eucápnicos, enquanto obesos com
SOH apresentam redução da sensibilidade aos estimulos de
hipercapnia e hipoxemia devido a uma atenuação da respos-
ta neural, resultando na ventilação superficial.
Outro mecanismo proposto na patogênese da SOH de- AGURA 79.8 ~ Avanço maJàlomandibular realizado a partir de oste-
ve-se às consequências metabólicas da obesidade e seu efeito otomia maxilar e osteotomia sagital da mandíbula com intuito de au-
no controle ventilatório. A Jeptina, uma proteína produzida mentar o espaço aéfeo posterolateral.
pelo tecido adiposo, aumenta em proporção direta com o Fonte: Marrone e Vtcini.'
grau de obesidade e age no bipotálamo inibindo o apetite. inclusive em unidades de terapia intensiva (6% vs. 40%, res·
Em ratos com deficiência de leptina, observa-se obesidade pectivamente) e maior necessidade de ventilação mecânica
grave, hipoventilação e redução da resposta ventilatória à hi- (0% vs. 6%). A hipertensão pulmonar é mais comum (50%
percapnia, os quais são revertidos com a infusão de leptina. vs. 15%, respectivamente) e mais grave em pacientes com
Em contraste, humanos obesos apresentam níveis séricos de SOH do que em pacientes com SAOS.
leptina muito elevados, sugerindo que a obesidade humana A perda de peso é um tratamento essencial, visto que
é um estado de resistência à leptina. Os valores séricos de a redução de 10 a 15% do peso corporal pode resultar em
leptina decrescem quando a SOH é tratada com ventilação uma queda importante da PaC02 • Infelizmente, apenas die·
não invasiva. ta para redução do peso é um método difícil e pouco du-
As principais características clinicas são a bipoventilação radouro nesses pacientes, sendo necessário muitas vezes a
e a hipoxemia, caracterizadas pela presença de dispneia e cirurgia bariátrica, com bons resultados na queda de PaC02•
saturação de oxigênio baixa em oximetria de pulso (SpOJ . Entretanto, a mortalidade desses indivíduos é maior do que
Porém, outros sinais e sintomas são encontrados, como so· nos eucápnicos (4% vs. 0,2%), assim como as complicações
nolência diurna excessiva, fragmentação do sono, cefaleia perioperatórias.
e náuseas matinais, sintomas depressivos e, em casos mais Quando a SOH encontra-se associada à SAOS, o tra-
avançados, policitemia e sinais de hipertensão pulmonar ou tamento pode ser feito tanto com CPAP como BPAP. Mui·
corpu/mona/e. tos pacientes respondem bem ao uso de CPAP, corrigindo
Pacientes obesos com SAOS que apresentam Sp02 baixa a PaC0 2 e hipoxemia. Porém, nos casos em que a PaC02
e bicarbonato sérico elevado, refletindo uma compensação persiste elevada após 1 a 2 meses, é necessário a utilização
metabólica de um quadro de acidose respiratória crônica, de BPAP. A última modalidade tem a vantagem de fornecer
devem ser avaliados com gasometria arterial para confirmar suporte ventilatório, sendo o tratamento de escolha nos ca-
a presença e a gravidade da hipercapnia. Quando existe hi· sos de SOH sem SAOS. O tratamento desses pacientes com
percapnia, devem ser realizadas provas de função pulmonar pressão positiva nas vias aéreas est.á associado a redução da
e radiografia de tórax para exclusão de outras causas, assim morbidade e mortalidade a longo prazo, assim como menor
como provas tireoidianas para descartar hipotireoidismo se· número de internações hospitalares.
vero e hemograma para avaliação de eritrocitose. A polis- A oxigeno terapia não deve ser utilizada como monotera-
sonografia é um exame importante nesses pacientes para a pia, sendo tratamento adjuvante à pressão positiva em casos
avaliação de SAOS associada (FIGURA 79.9). de SOH em que o suporte ventilatório não é suficiente para
Os pacientes com SOH, quando comparados a pacientes corrigir a hipoxemia.
com SAOS eucápnicos, apresentam pior qualidade de vida,
maiores gastos no sistema de saúde e maior risco de hiper·
tensão pulmonar. Mesmo pacientes com SOH leve (PaC0 2 Doença neuromuscular e hipoventilação
entre 46 e 50 mmHg) são mais sonolentos e apresentam pior Pacientes com doença neuromuscular ou da parede torácica
qualidade de vida do que pacientes com SAOS pareados por geralmente têm problemas respiratórios resultantes de uma
idade, IMC e função pulmonar. Comparados a pacientes combinação de disfunção dos músculos respiratórios (inspi·
com o mesmo grau de obesidade, sem hipoventilação, aque- ratórios, expiratórios e de vias aéreas superiores) e diminui-
les com SOH apresentam maior número de internações, ção da complacência pulmonar e da parede torácica. Esses
fatores contribuem para a dificuldade de remoção das secre·
ções das vias aéreas (atelectasias e pneumonias), alterações
de ventilação e perfusão e hipoventilação alveolar. A instala·
SAOS (IAH :!: 5) e ção da hipoventilação costuma ser lenta e progressiva e não
IMC:!: 30 Kglm' é diagnosticada nem tratada até que aconteça um episódio
de insuficiência respiratória aguda. Distrofias musculares,
neuropatias e doenças da placa mioneural, quando acome·
HCO, sérico ~ 27 mEq/l
tem a musculatura da respiração, evoluem em surtos ou com
HCO, "'rico < 27 mEq/l
3%com SOH 50% com SOH piora progressiva, em velocidade variável.
A presença de sintomas como sonolência diurna, cefa·
leia matinal, sono agitado, despertares noturnos, insônia,
apoeias testemunhadas e ronco indica a realização de po·
Menor saturação de oxigênio Menor saturação de oxigênio lissonografia.
durante o sono > 60% ou durante o sono < 60% ou
IAH < 100 IAH > 100
Mesmo em pacientes com disfunção pulmonar grave,
36%com SOH 76%com SOH raramente é referida dispneia, pois sua capacidade de exer·
cício é limitada pelo envolvimento dos músculos não respira-
FIGURA 79.9 ~ Algoritmo de triagem para SOH em pacientes com tórios. Alguns indivíduos não apresentam sintomas, mas têm
SAOS (IAH ~ 5 e IMC > 30 kg/m2) SOH = síndrome da obesidade e parâmetros fisiológicos sugestivos de hipoventilação, como
hipoventilaçáo; SAOS = sindrome da apneia obstrutiva do sono; IAH = restrição severa nos testes de função pulmonar, presença de
índice de apneia-hipopneia; IMC = índice de massa corporal; HC03 = hipercapnia diurna ou infecções respiratórias de repetição.
bicarbonato. Tais pacientes devem ser avaliados com gasometria arterial e
Fonte: Modificada de Mokhlesi e Tulaimat." polissonografia de noite inteira.
Pacientes com comprometimento inicial do tronco e da 4. Amcric:an Academy of Slecp Mcdicine. Tbe intemational classi-
musculatura respiratória, particularmente com escoliose as- fieation of slccp disordcrs: diagnostic and coding manual. 2nd ed.
sociada ou paralisia das pregas vocais, são mais propensos West: Ameriean Academy of Slcep Medicine, 2005.
a desenvolver anormalidades das trocas gasosas durante o S. Kushida CA, ünner MR, Hirshkowitz M, Morgentbaler TI, Ales-
sono. A cifoescoliose está associada a hipovcntilação notur- si CA, Bailcy D, ct ai. Practicc paramctcrs for Lhe use of continuous
na e apoeia obstrutiva do sono, mas a dessaturação noturna and bilcvcl positivo airway prcssurc dcviccs to trcat adult paticnts
não está diretamente relacionada com o grau de escoliose ou with sleep-rclatcd brcatning disorders. Sleep. 2006;29(3):375-80.
com os volumes pulmonares.
6. Marronc O, Vicini C Upper airway surgery in OSA. Eu r Rcsp
A espirometria, a oximetria de pulso, a capnografia, me- Mon. 2010;50:286-301.
didas de pico de fluxo da tosse, pressão inspiratória máxima
(Pimáx) e pressão expiratória máxima (Pemáx) permitem 7. Hoffstcin V. Rcview of oral apptianccs for treatment of slecp-
prever quais pacientes necessitam de tosse assistida e supor- -disordercd breathing. Slccp Breatb. 2007;11(1):1-22.
te ventilatório. 8. Silber MH, Krahn LE, Morgcnthalcr TI. Sleep mcdicine in clini-
A capacidade vital pode permanecer normal ainda que cai practice. 2nd cd. New York: Informa Hcaltbcare; 2010.
haja comprometimento grave da força muscular, o qual deve
9. Friedman M, Vtdyasagar R, Bliznikas O, Joscpb N. Does scvcriry
ser detectado pelas medidas de pressões estáticas máximas. of obstructivc slccp apnea/hypopnca syndrome prcdict uvulopala-
Pacientes com Pimáx abaixo de 50% do previsto, ou capaci- topharyngoplasty outcome? Laryngoscopc. 2005;115(12):2109-13.
dade vital forçada (CVF) abaixo de 40 a 50% do previsto,
apresentam alta probabilidade de hipoventilação noturna. 10. Bickelmann AO, Burwell CS, Robin ED, Wbaley RD. Extreme
obesity associatcd with alveolar hypoventilation: a Pickwickian syn-
Esses pacientes devem realizar gasometria arterial na vigflia,
dromc. Am J Mcd. 1956;21(5):811-8.
mesmo que assintomáticos. Pacientes com queda da CVF >
20% quando avaliados em duas posições (sentado e supino) 11 . Montscrrat JM, Navajas D, Parra O, Farré R. Cnntinuous positi-
devem realizar uma polissonografia para avaliação precoce ve airway pressurc treatmcnt in paticnts witb OSA. Eur Rcspir Mon.
2010;50:~.
de dessaturação noturna.
A tosse deve ser avaliada pelo pico de fluxo expiratório. 12. Mokhlesi B, 1\Jiaimat A. Rcccnt advanoes in obesity hypoventila-
Valores abaixo de 160 Umin estão associados a inefetividade tion syndrome. O.est. 2007;132(4):1322-36.
de tosse e acúmulo de secreção. Entretanto, para garantir a
limpeza adequada das vias aéreas, considera-se que um valor
abaixo de 270 Umin é suficiente para iniciar manobras de
tosse assistida. Da mesma forma, uma Pemáx S 45 cmH20
Leituras recomendadas
está relacionada com tosse ineficaz. Aurora RN, Cascy KR, Kristo D, Aucrbach S, Bista SR, Cho-
wdburi S, et ai. Practicc paramctcrs for tbe surgical modifications
Outros distúrbios associados, como apneia obstrutiva do
of tbe upper airway for obstructive sleep apnea in adults. Slcep.
sono, asma e distúrbios da deglutição devem ser avaliados 2010;33(10):1408-13.
sempre que houver sintomas de engasgo ou sufocação.
Após o diagnóstico de hipoventilação noturna, o trata- Bonsignorc MR, Battaglia S, Zito A, Lombardi C, Parati O. Slccp
mento com BPAP ou ventilador mecânico convencional deve apnoea and systcmic hipcncnsion. Eur Resp Mon. 2010;50:150-73.
ser iniciado, podendo ser ajustado durante a polissonografia Chang CL, Marshall NS, Yee BJ, Orunstein RR. Weight-loss tre-
ou mediante monitoração dos volumes pulmonares à beira atmcnt for OSA: medicai and surgieal options. Eur Rcspir Mon.
do leito. Sempre deve ser ajustada a frequêneia respiratória 2010;50:302-20.
na modalidade controlada, caso o paciente apresente pausas Fleetham JA, Almeida FR. Oral appliances. Eur Rcsp Mon.
durante o sono. O oxigênio nunca poderá ser usado sem um 201()-,50:267-85.
suporte ventilatório em pacientes com doenças neuromus-
culares. Hcdner J, Zou O. Pharmacological managemcnt of slccp-disorde-
rcd brcatbing. Eur Rcsp Mon. 2010;50:321-39.
O suporte ventilatório não invasivo durante a noite pode
aumentar a sobrevida e melhorar os sintomas e a qualidade lranzo A. Excessivo daytiimc slccpiness in OSA. Eur Rcsp Mon.
do sono, melhorar os gases sanguíneos durante o dia e dimi- 2010;50:17-30.
nuir a taxa de declínio da função pulmonar. Kaneko Y, Floras, JS, Usui K, Plante J, Tkacova R, Kubo T, ct ai.
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Danilo Cortozi Berton
J. Alberto Neder
80
A mitocôndria pode produzir ATP por meio desse pro-
Princípios fisiológicos do exercício cesso somente se houver oxigênio disponfvel para servir
como aceptor final dos elétrons (oxidativo) que passaram
Bioenergética celular pela cadeia transportadora de elétrons e, juntamente com o
O aumento da atividade muscular durante o exercfcio físico
hidrogênio que os forneceu, redundar na formação de água
dinâmico é um componente essencial da condição humana. (H,O). Esse processo de fosforilação oxidativa é a grande
A contração muscular é um mecanismo complexo que envol- fonte de ATP para a contração muscular e demais ativida-
ve a interação das proteínas contráteis actina e miosina na des celulares (36 moléculas de ATP/molécula de glicose são
presença de cálcio. formadas na mitocôndria durante esse processo).
As moléculas de trifosfato de adenosina {ATP), principal Em altas intensidades de exercício, entretanto, a de-
fonte de energia para a contração muscular, são produzidas manda corporal total de oxigênio pode exceder a capacida-
majoritariamente pela fosforilação oxidativa. O principal de dos sistemas fisiológicos em fornecê-lo. 'fradicionalmen-
combustível para esse processo são os carboidratos (glicogê- te, glicólise " anaeróbia" tem sido o termo empregado para
nio e glicose) e os ácidos graxos livres (embora aminoácidos descrever a síntese de ATP a partir de glicose nessa condi-
possam ser usados em situações de jejum prolongado). ção. Nesse caso, a glicólise ocorre no citoplasma da mesma
A fosforilação oxidativa inicialmente envolve uma forma que antes descrito para o metabolismo aeróbio até
série de eventos que ocorrem no citoplasma. O glicogê- a formação de piruvato. Contudo, o piruvato não entra na
nio e a glicose são metabolizados a piruvato por meio de mitocôndria e acaba sendo convertido a ácido láctico. A rá-
reações q ufmicas sequenciais denominadas glicólise. Se pida difusão de lactato proveniente das células inibe a pró-
houver oxigênio (0 2) disponfvel, o piruvato passa do ci- pria glicólise. Assim, a glicólise "anaeróbia" é ineficiente
toplasma à mitocôndria e é oxidado a um composto cha- {duas moléculas de ATP/molécula de glicose são formadas
mado acetii-CoA, que entra em uma sucessão de reações nesse processo).
qufmicas cfclicas conhecidas como ciclo de Krebs. Os sub- O metabolismo oxidativo é, portanto, a via metabólica
produtos do ciclo de Krebs são o gás carbônico (CO,) e o de maior eficiência do organismo na conversão de energia.
hidrogênio. Os elétrons provenientes desses hidrogênios Porém, para manter o funcionamento dessa via, é indispen-
são transportados para a cadeia transportadora de elé- sável a presença de oxigênio, utilizado como agente oxidante
trons, fornecendo energia para acoplar fosfato (fosforila- no final da cadeia de transporte de elétrons, formando 002
ção) , formando ATP. eH20.
Ajustes metabólicos
[I] ATENÇÃO A expressão metabolismo é também usada como sinônimo
de inte~câmbio gasoso sistêm_ico, uma vez que 0 2 é consu·
O exercfcio flsico, portanto, requer a interação dos mido (VOJ e C02liberado (VCOJ, como consequência da
mecanismos de controle fisiológicos de forma a per· aceleração da atividade metabólica, sobremaneira a da mus-
mitir o adequado acoplamento dos sistemas cardio· cular esquelética. O exercício fisico envolve, inevitavelmen-
circulatório e ventilatório na execução de sua função te, um aumento das necessidades orgânicas de suprimento
comum, ou seja, suprir a demanda metabólica do de energia para a contração muscular. Como o organismo
músculo em contração. dispõe de ATP estocado para apenas algumas poucas con·
trações, é necessário regenerá-lo de modo contínuo. Embora
algum "novo" ATP possa ser inicialmente obtido pela que-
Assim, ambos os sistemas são estressados durante o bra da reserva de fosfato muscular (denominada fosfocreati-
exercício para satisfazer as crescentes necessidades de 0 2 e na ou PCr), após algum tempo (cerca de 20 a 30 segundos),
remover o C0 2 produzido. Existem quatro processos princi- o organismo precisa recorrer ao metabolismo anaeróbio (gli-
pais para efetivar essa troca gasosa: cólise anaeróbia) e/ou ao metabolismo aeróbio ou oxidativo
(ciclo de Krebs e cadeia do transporte de elétrons).
• Ventilação pulmonar, ou movimento de ar para dentro e Esquematicamente, portanto, existe alguma hierarquia
fora dos pulmões. cronológica na sequência de obtenção de ATP (i. e., ATP
• Difusão pulmonar, ou troca de 0 2 e C0 2 entre os alvéo- armazenado -+ sistema PCr -+ glicólise anaeróbia e/ou me-
los pulmonares e o sangue. tabolismo oxidativo ). Contudo, convém lembrar que, em um
• 'Iransporte de 0 2e co2 no sangue. dado momento, é provável que todas as vias metabólicas es-
• 'Iroca gasosa nos capilares sistêmicos, ou troca de 0 2 e tejam ativas; assim sendo, quando o termo aeróbio ou anae-
C0 2 entre os capilares sanguíneos sistêmicos e os mús- róbio é utilizado, significa que um tipo de metabolismo está
culos em atividade. predominando.
A grande vantagem do metabolismo anaeróbio é que
Dessa forma, estudando a "respiração externa" (troca ele independe do aporte de 0 2 à mitocôndria e, portanto,
gasosa mensurada na boca) em resposta ao exercício, é pos· do funcionamento rápido e adequado do complexo siste·
sivel avaliar a adequação funcional dos sistemas orgânicos ma de captação, transporte e oferta de 0 2• De fato, logo na
que acoplam a "respiração externa" à respiração celular. A transição entre o repouso e o exercício, existe certo atraso
análise das características das trocas gasosas constitui o ali- no início do metabolismo aeróbio -um verdadeiro "déficit
cerce para o entendimento das adaptações fisiológicas en· de Ot - sendo este suprido pelos depósitos locais de 0 2
volvidas no exercício dinâmico, a mais comum situação de (ligado à mioglobina, por exemplo), pela PCr e por algu-
estresse fisiológico. ma glicólise anaeróbia. Logo, no início do exercício, haverá
Diversas modificações, especialmente nos sistemas car- uma geração temporária, não sustentada, de ácido láctico.
diovascular e respiratório, são encontradas durante o exer- Após algum tempo - que será mais curto em indivíduos
cício fisico visando aumentar a oferta de 0 2 necessário para mais treinados - as necessidades aeróbias são quase total·
a manutenção do metabolismo oxidativo e eliminar o C0 2 mente supridas e o organismo passa a depender de modo
produzido. Os ajustes produzidos englobam, sobretudo, o crucial da integridade dos ajustes "cardiorrespiratórios"
aumento do débito cardíaco, a dilatação e o recrutamento delineados na FIGURA 80.1.
de vasos sanguíneos no tecido periférico e pulmonar e o au- Caso a intensidade do exercício seja aumentada pro-
mento da ventilação (FIGURA 80.1 ). gressivamente (exercício incrementai), observa-se que o V
Os ajustes fisiológicos aos desafios trazidos pelo exercí- 0 2 também aumenta de forma linear com a carga aplicada
cio podem ser estratificados, para fins didáticos, em respos- (FIGURA 80.2). Isso ocorre até certo ponto, muito próximo à
tas metabólicas, ventilatórias e cardiocirculatórias. tolerância máxima de exercício, a partir do qual, por mais
2,0
o Vomàx
~ ............. t. .......... ··:.······· ·~
.;. 1,5
'R
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.g o' 1,0
u
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E 0,5
~
Vo,L·min '
carga d• trabalho (!N) FIGURA 80.3 -+ Respostas nas trocas gasosas com exerckio di~mico
FIGURA 80.2 -+ Diferença conceitual entre con.sumo de oxigênio má· incrementai. Note que em determinado ponto do exercido ocorre uma
ximo (Vo,máx) e de pico (VO,pico), obtido em um teste de exercido inflexão abrupta na linearidade da rei.Jç~o VCO,·Vo,, correspondente~ li·
com carga incrementai: enquanto o primeiro é caracterizado pelo de- beração adicional de co,. As evidências atuais indicam que a fonte princi·
senvolvimento de um platô na linha de ascens.\o do vo,a despeito de pai desse "extra-CO," resulta da dissocia~o do ácido carbônico, fa<mado
incremento na carga de exerddo, o último corresponde ao maior valor a partir do tamponamento pelo bicarbonato sangulneo do lactato resul·
observado de V02, independentemente da presença de platô. tante da glicólise anaeróbia. Esse •extra-co,· adiciona-se ao que já está
sendo produzido aerobicamente. Aanálise desse gráfico representa uma
das técnicas (V.slope) utilizadas para a estimativa ~o invasiva do limiar
anaeróbio (LA) em um teste cardiopulmonar de exercido incrementai.
que a carga seja aumentada, o vol se estabiliza: tal fenôme-
no caracteriza o chamado consumo máximo de oxigênio ou
V02 máx. Embora, por d~finição, a existência de um platô
na linha de ascensão do V0 2 seja o que realmente defina o
Ajustes ventilatórios
V0 2máx, esse achado raras vezes é visto em individues se- A função primordial do sistema respiratório é manter a ho-
dentários normais - e muito menos em pacientes. Neste con- meostase (constância relativa) dos gases sanguineos arte·
texto, o mais correto é denominar esse valor como represen· riais. Embora seja intuitivo considerar que tal controle fosse
tativo do vo,~ de pico; o V02PiCO, embora fisiologicamente particularmente sensível ao 0 2- afinal este é o gás funda-
distinto do VO~áx, pode, nas circunstâncias adequadas, mental para a respiração celular - o organismo controla com
apresentar a mesma importância prática. mais rigor o CO,. É provável que isso ocorra porque peque-
nas variações da pressão anerial de C02 (PaCOJ podem ter
Outro fenômeno bastante relevante na resposta metabó-
dramáticas consequências no pH sistêmico com repercus-
lica ao exerclcio progressivo é a ocorrência de uma modill·
cação, relativam_ente abrupta, da relação entre as taxas de sões em toda a atividade enzimática corporal.
Portanto, a resposta ventilatória ao exercício (volume
incremento do V02 e da VC02• Simplificando, ocorre, em
minuto - VE) guarda intima relação com os próprios de-
algum ponto do exercício incrementai, uma liberação adicio-
terminantes da PaC02: (i) a taxa metabólica muscular, uma
nal de C02 (FIGURA 80.3). A fonte principal desse "extra-CO{
vez que o aumento do volume de co2vindo dos músculos
resulta da dissociação do ácido carbônico (H 2COJ), formado
aumentará a VC0 2; (ii) o ponto médio em que a PaC02 é
a partir do tamponarnento do ácido láctico pelo bicarbonato
ajustada pelos centros respiratórios (ponto de ajuste): quan-
sanguíneo (HCOJ} Esse "extra-COz" é adicionado ao C02
to mais baixa for a PaC021 maior será a ventilação alveolar
que está sendo produzido pela respiração celular: no exercí-
necessária para mantê-la reduzida; e (iü) a fração do volume
cio intenso, por exemplo, o C02 advindo do tamponamento
de ar inspirado (volume corrente - Vf) que é "desperdiça·
do Jactato aumenta a VC0 2 em relação ao exercício pura-
da" no espaço morto pulmonar (VD), isto é, da relação VD/
mente aeróbio, em um fator de até 2,5 vezes.
Embora não consensual, a hipótese mais provável é a de
v.. Logo, pode-se dizer que:
que a falta relativa de 0 2 no final da cadeia de transporte
de elétrons desequilibre o potencial redox do citosol- cuja
correção seria tentada pela formação de lactato a partir do
piruvato. Como essa modificação do metabolismo predo-
minantemente oxidativo para o progressivamente anaeró· Essa equação demonstra, simplesmente, que a ventila·
bio parece ter "limiar" de surgimento (limiar de Jactato), a ção pulmonar será maior quanto maior for a taxa de pro·
denominação de limiar anaeróbio (LA) também costuma dução periférica de col, menor o ponto de ajuste do col e
ser utilizada. Independentemente do mecanismo exato, no maior o espaço morto como fração do volume corrente.
entanto, esse "extra·CO:" constitui um importante estímulo A resposta ventilatória não parece ser o principal fator
ventila tório - que pode ser utilizado para detectar de manei· limitante à capacidade de exercício em indivíduos normais
ra não invasiva o lA (ou limiar de Jactato). Por essa razão, a -pelo menos em indivíduos não atléticos exercitando-se em
expressão limiar ventilatório também é usada como sinôni- baixas altitudes. Diversas linhas de evidência corroboram tal
mo desse marco fisiológico. raciocínio: por exemplo, a relação entre a ventilação máxima
que é atingida no esforço progressivo (VEmáx) costuma ser desproporcional da f e discreta redução do VT. O aumento
menor do que a maior ventilação que, teoricamente, o indiví· da/faz-se principalmente pela diminuição do tempo expira·
duo é capaz de gerar (ventilação voluntária máxima- VVM) tório (Te), com o tempo inspiratório (Ti) tendo um compor-
( FIGURA 80.4, painel A). Além disso, os limites máximos de tamento variável. Em linhas gerais, a relação entre o tempo
fluxo e volume em geral não são atingidos no exercício (FIGU· total do ciclo respiratório (TTOT) e o Ti (Ti!ITOT ou ciclo
RA 80.5) e, quando solicitados, indivíduos normais costumam de serviço) costuma aumentar levemente durante o exercício
ser capazes de aumentar volitivamente o VE - mesmo no progressivo (cerca de 0,4 a 0,5).
exercício máximo extenuante. O aumento do VT faz-se em ambas as direções, isto
No intuito de atender as demandas ventilatórias do exer- é, tanto pela redução dos volumes de reserva inspiratório
cício, a bomba ventilatória pode, teoricamente, utilizar inú· quanto expiratório (FIGURA 80.6) . Dessa forma, o volume
meras combinações entre frequência respiratória (f) e VT. inspiratório final pode atingir até 75 a 85% da capacidade
Na prática, entretanto, em condições de exercício máximo, pulmonar total (CPT) e o volume expiratório final até 40%
a combinação escolhida aproxima-se de 50 a 60 incursões da CPT. De fato, a regulação do volume pulmonar expira-
respiratórias por minuto (irpm) a 50 a 60% da capacidade tório final (VPEF) possui importância crítica no exercício.
vital (FIGURA 80.4). A escolha de tal padrão se constitui em Frequentemente, observa-se uma redução do VPEF (até O,7
um compromisso entre os componentes de estresse fluxo· a 1 L em indivíduos jovens) por ação ativa da musculatura
-resistivo e voloelástico, de tal forma que o trabalho respira- expiratória (com consequente aumento da capacidade ins-
tório total é minimizado dentro dos limites da máxima alça piratória- Cl): tal redução otimizao comprimento diafrag-
fluxo-volume (FIGURA 80.5). mático para o desenvolvimento de força e acumula alguma
De forma esquemática, duas a três fases podem ser iden- energia elástica que será providencial para assistir a próxima
tificadas no padrão de resposta ventilatória ao exercício in- inspiração. Além disso, a redução do VPEF auxilia a manter
crementai (FIGURA 80.4). Na fase inicial, o moderado incre- os volumes pulmonares operantes dentro da porção linear
mento do VE faz-se fundamentalmente por um aumento da relação pressão-volume do sistema respiratório (FIGURA
linear do VT até próximo de 70 a 80% da capacidade ins- 80.7), com consequente diminuição do trabalho elástico.
piratória. Este é um ajuste importante, porque a demanda A capacidade de difusão pulmonar aumenta substancial·
ventilatória é minimizada pela redução hiperbólica da re- mente com o exercício, devido, sobretudo, à ampliação da
lação VDIVT, ou seja, a resposta ventilatória torna-se mais área total da membrana alveolocapilar (aumento da perfusão
"eficiente" no exercício (FIGURA 80.6). Thl fenômeno ocorre e da ventilação) e do incremento do gradiente pressórico fa·
basicamente pelo incremento do VT e, de modo secundário, vorável à passagem do 0 2 do alvéolo para o capilar (redução
pela diminuição do VD fisiológico (melhor distribuição to- da pressão venosa mista de O:z). Todavia, o incremento do dé-
pográfica da relação ventilação-perfusão). Esses dois fatores bito cardíaco implica um menor tempo de contato da hemácia
compensam bastante o leve aumento do VD anatômico, de- com o ar alveolar (tempo de trânsito): tal fenômeno tende a
corrente da distensão das vias aéreas com o aumento do VT. promover um desequilíbrio difusivo. Felizmente, ocorre um
Em uma fase posterior, o VT atinge um relativo platô notável aumento do volume capilar operante - seja pelo re·
com consequente incremento da f. Em alguns indivíduos, crutamento de novas unidades ou pela distensão das unidades
uma terceira fase pode ser ainda evidenciada, com aumento já perfundidas - minimizando tal desequilíbrio potencial em
... Y~~~~~.S~~.~~~~~~~~!~.~~~i-~~
...
o
Re-se-rva
ventilat6ria 1 .~ ·~
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FIGURA 80.4 -+ Principais ajustes ventilatórios
<Q.I
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~~ respiratória (painel 8). Com o progredir do exer-
o
~~
G/
gs cício, em função do aumento da eficiência venti-
latória e redução do componente volu ntário da
w~
ventilação, há progressiva redução do volume
ventilado no espaço morto em relação ao volu·
ri Intensidade do exercício m Intensidade do exercício me corrente (painel C).
8 150
J. , lâa ]·
i~~
~ 100
~ o.
li:
v
l1 CPT VR
~ o ~
~
·2 g" 50
4 o
Volume(l)
·30 o 30
FIGURA 80.5 -+ Análise das alças fluxo-volume demonstrando os efei-
tos do exercício no volume corrente em um individuo saudável. A maior
alça sólida representa os limites máximos teóricos dos fluxos e volumes, FIGURA 80.7 -+ Relação pressão-volume (P·V) do pulmão (P,), pa rede
e a alça sólida interna menor representa o volume corrente em repouso. torácica (P.) e sistema respiratório total (P.,) em indivfduos saudáveis.
A linha pontilhada representa a manobra de capacidade inspiratória A alça ovoide representa o volume corrente (VT) em repouso (menor
(CI) até a capacidade pulmonar total (CPD para ancorar a alça fluxo· sólida) e no pico do exercício (maior aberta). Repare que a expansão
-volume dentro da respectiva máxima alça. Assim, é possivel avaliar os do volume corrente em indivfduos saudáveis ocorre em direção à capa-
volumes pulmonares operantes durante o exercicio (faixa de volumes cidade pulmonar total (CPD e ao volume residual, mantendo a alça na
pulmonares utilizados no exercício). A alça tracejada representa aquela porção intermediária mais inclinada, e, portanto, mais complacente, da
obtida no pico do exerdcio. lndividuos saudáveis aumentam seu volu- relação P-V do sistema toracopulmonar.
me corrente durante o exercido em direção tanto ao volume residual /l.CI = variação da capacidade inspiratória; Vr = ponto de relaxamento
(VR) quanto à CPT, em razão da reserva disponível para aumentar seus do sistema toracopulmonar; CPT = capacidade pulmonar total; VR =
fluxos inspiratórios e expiratórios. volume residual; VPIF = volume pulmonar inspiratório final.
120
CPT
Ajustes cardiocirculatórios
i 100 O débito cardíaco [DC =volume sistólico (VS) vs. frequên·
-~ VPIF cia cardíaca (FC)) aumenta com o exercício para bancar as
,_o. 80 crescentes demandas metabólicas teci duais. O entendimento
C>.
v Cl
da equação descrita pelo fisiologista alemão Adolph Fick é
Vt
i. 60 de crucial importância para a compreensão dos fatores de-
o~ Vr terminantes da capacidade de exercício:
~o. 40 VPEF
..
E 20 VR
~"
0>+---,----r---r---r--~
o 20 40 60 80 100 onde C(a-v)02 representa a diferença entre os conteúdos
Ventilação (l/min) arterial e venoso misto de 0 2, ou seja, a extração tecidual
FIGURA 80.6 -+ Volumes pulmonares operantes durante exercido incre- de 0 2• Essa relação ilustra o importante conceito de que o
mentai em um indivíduo saudável. Normalmente, observa-se uma redu· VO~áx está diretamente relacionado com a magnitude dos
ção do volume pulmonar expiratório final (VPEF) por ação da musculatura ajustes cardiovasculares: são eles, e não os ajustes pulmona-
expiratória. Assim, ocorre aumento do volume corrente (VT) tanto à custa res, que efetivamente limitam a capacidade de exercício em
do volume de reserva expiratório (VRE) quanto inspiratório (VRI), permi· seres humanos saudáveis.
tindo um aumento da capacidade inspiratória (CI) durante o exercício. O incremento linear do DC durante o exercício dinâmico
Vr = ponto de relaxamento do sistema toracopulmonar; CPT = capaci· (de 5 a 6 Umin no repouso para 20 a 25 Umin no exercí·
=
dade pulmonar total; VR volume residual; VPIF volume pulmonar = cio máximo) (FIGURA 80.8) é proporcional às necessidades de
inspiratório final.
perfusão muscular. A FC aumenta quase linearmente com
o V0 2, embora próximo ao VO~áx alguns indivíduos apre-
sentem um pseudoplatô. A redução do tônus vagai no início
indivíduos normais. Logo, apesar de haver um alargamento do exercício é capaz de, sozinha, elevar a FC até próximo de
variável da diferença alvéolo-arterial de Ü z, o exercício é ca- 100 bpm. Acima dessa frequência, a contribuição da estimu-
racterizado pela ausência de hipoxemia- pelo menos em indi- lação P2-adrenérgica aumenta linearmente e a contribuição
víduos não atléticos exercitando-se em baixas altitudes. vagai declina de modo exponencial - FCs acima de 150 bpm
,,
a D
Previsto FIGURA 80.8 ~ Respostas cardiodrculatórias ao
exerdcio din3mico incrementai e os efeitos do
~v
após o treinamento (painel A) se associa a um
incremento do volume de ejeç3o sistólico (pai-
/
nel 8); logo. uma menor frequência cardlaca é
observada para uma determinada intensidade
Oianólica de exercido (painel O). Reduções na press3o ar-
Intensidade do exerdcio I:J Intensidade do exerc:ício terial sistêmica podem também ser observadas
B para um mesmo nlvel de exerckio (painel C).
são produzidas fundamentalmente pelas catecolaminas cir· A AF regular aumenta a capacidade física e a aptidão
culantes. cardiorrespiratória, o que geralmente leva a muitos benefi-
O ajuste do VS costuma ser bifásico, com uma fase de rá- cios de saúde.
pido incremento até cerca de 30 a 40% do VO~áx, seguido
por um platô, ou ligeiro incremento - mas fisiologicamente
importante - em indivíduos treinados (FIGURA 80.8). O retor·
no venoso é um importante determinante do VS, regulando 0 ATENÇÃO
o volume diastólico final e a obtenção da distensibilidade
miocárdica ideal para a eficiência de ejeção (princípio de A quantificaçAo acurada da AF e capacidade de exer-
Frank-Starling). dcio é essencial para a avaliaçao de desfechos de
Os efeitos combinados das bombas muscular periférica e saúde e efetividade de intervenç6es terapêuticas.
abdominotorácica, o incremento da pressão arterial e a veno-
constrição (notadamente esplãncnica) ajudam a manter um
retomo venoso adequado. Paralelamente, a estimulação sim· Há três estratégias de avaliação da AF: métodos-padrão,
patoadrenérgica aumenta o inotropismo cardíaco, reduzindo objetivos e subjetivos. Métodos-padrão como água dupla-
o volume sistólico final e elevando a fração de ejeção. mente marcada, ealorimetria indireta e observação direta
Como seria de se esperar, o nuxo sanguineo, no exer- são os instrumentos mais confiáveis e válidos para compara-
cício, deve ser redirecionado dos territórios esplãncnico- ção e validação de outros métodos de avaliação da AF; mas
·viscerais para os tecidos prementes (i. e., músculo estriado apresentam significativas desvantagens, sobretudo por sua
periférico e cardíaco, além da pele, envolvida na termorre-
pouca praticidade. Os métodos de avaliação direta incluem
gulação); todavia, tal redirecionamento deve ocorrer sem monitores de atividade (pedômetros e aeelerometros) e mo-
prejuízo do nuxo sanguíneo cerebral. Portanto, a brutal
nitorização da FC. Por fim, questionários e diários de ativi-
redução da resistência vascular arteriolar muscular com o
dades são considerados métodos subjetivos.
exercício deve ser contrabalançada pela vasoconstrição sim·
Para avaliação da aptidão cardiorrespiratória/eapacida-
pática em outros sítios. Assim, a pressão arterial sistólica no
de funcional de exercfcio, os testes são classificados em tes-
exercício máximo eleva-se linearmente até valores próximos
de 180 a 200 mmHg, enquanto a pressão diastólica mantém· tes de campo ou em laboratório.
-se estável- ou mesmo declina discretamente (FIGURA 80.8). Thstes em laboratório são considerados o padrão-ouro
para tal avaliação. Por motivos práticos (custo dos equipa-
mentos, suporte técnico para conduzir e interpretar os re-
Avaliação do exercício sultados), nem sempre estão disponfveis. Como alternativa,
A atividade ffsica (AF) pode ser considerada como qualquer testes de campo foram desenvolvidos.
movimento corporal produzido por uma contração muscular Os testes de campo são baseados sobretudo no ato de
que resulta em gasto energético, enquanto o exercício fisico é caminhar, uma atividade comum e aceitável para a maioria
caracterizado como qualquer atividade repetida e estruturada dos indivíduos. Entretanto, são essencialmente usados para
que visa obter a manutenção ou melhora da aptidão física. avaliação de pacientes (com doenças cardfaeas e/ou pu!mo-
nares) que apresentam queixa de intolerância ao exercício, ção com o aprimoramento tecnológico. A FIGURA 80.9 apre-
sendo uma estratégia de exercício que pode ser considerada senta uma classificação que, embora um tanto esquemática,
intensa para esses indivíduos. Em tais casos, são delineados apresenta interesse didático.
para avaliar a capacidade de exercício individual e a resposta Nesse esquema, o estágio Oé representado pela ergome-
a uma intervenção. Thmbém, idealmente, deveriam permitir tria convencional (análise eletrocardiográfica e pressão ar-
a prescrição de exercício, embora, em geral, não tenham o terial). Os estágios I e TI constituem o teste cardiopulmonar
poder de detectar se um indivíduo está seguro para ser sub- de exercício (TCPE). A capacidade de exercício é preferen-
metido a uma intervenção (como reabilitação pulmonar), cialmente avaliada pelo TCPE incrementai, uma ferramenta
uma vez que o nível de monitoramento é bem menor do que bem estabelecida que fornece uma abundância de informa-
os testes em laboratório. ções clínicas diagnósticas e prognósticas. O consumo máxi-
A quantidade de dados fisiológicos pode ser aumentada mo de oxigênio ou de pico é o padrão-ouro para avaliação
com o uso de monitores de saturação de oxiemoglobina e de aptidão cardiorrespiratória e tolerância ao exercício. Em
telemetria cardíaca. O teste de campo mais usado é o teste breves palavras, o TCPE oferece a oportunidade única de se
da caminhada dos seis minutos, que apresenta um protoco- estudar as respostas dos sistemas cardiovascular, ventilatório
lo autorregulado (selfpaceá) com o paciente selecionando a e celular (metabolismo do músculo em contração) de forma
velocidade de caminhada que melhor o ajuda a cumprir os simultânea, sob precisas condições de estresse metabólico.
objetivos do teste (caminhar a maior distância possível du- Ele permite distinguir entre estado saudável e doente, gra-
rante seis minutos). duar a adequação dos mecanismos fisiológicos que susten-
Nos últimos anos, testes de campo com protocolos ex- tam o exercício, avaliar o efeito de intervenções terapêuticas
ternamente regulados (ou seja, velocidade de caminhada sobre sistemas fisiológicos alterados, bem como a progres-
determinada de forma protocolar) foram desenvolvidos e são de doenças (ver Subcapítulo "Teste Cardiopulmonar de
considerados apropriados para a avaliação de pacientes. Os Exercício").
shuJtle walking test incrementai e de resistência exigem que Os estágios III e IV envolvem medidas invasivas, com
o paciente caminhe ao redor de um percurso de 10 metros punção e/ou canulação arterial (IIIA e IIIB, respectiva-
com velocidade previamente determinada até o limite de mente) ou, em casos selecionados, a inserção de um cateter
sua tolerância. No teste incrementai, a velocidade deve au- central de artéria pulmonar, com medidas hemodinârnicas
mentar a cada minuto para garantir um desempenho máxi- diretas por termodiluição (IV).
mo, enquanto a velocidade no teste de resistência é calcula-
da para representar uma porcentagem da maior velocidade
alcançada em um teste shutt/e incrementai (em geral cerca
de80%).
Referência
Por fim, em relação aos testes de campo, o "Eurofit Phy- 1. Neder JA, Nery LE. Fisiologia clínica do exerdcio: teoria e práti-
ca. São Paulo: Artes Médicas; 2003.
sical Fitness Thst Battery" para adultos é uma bateria de
testes destinada a avaliar aptidão relacionada com a saúde
de indivíduos e coletividades. É especialmente usado para
investigar o componente morfológico, muscular, motor e Leituras recomendadas
cardiorrespiratório. American Thoracic Society, American CoUege of Chcst Physicians.
No laboratório, existe uma hierarquia no grau de com- ATS/ACCP statemcnt on cardiopulmonary excrcisc tcsting. Am J
plexidade dos testes de exercício, que guardam íntima reJa- Rcspir Crit Carc Med. 2003;167(2):211·77.
r ESTÁGIO IV
+
C.teteriuçóo central
r
1118 - C.nulaçóo arterial
ESTÁGIO 111 IIIA - Punção arterial
r
IIB - Estimativas não invasivas de DC
ESTÁGIO 11 liA - Alça fluxo.vofume corrente
AGURA 80.9-+ Esquematização da complexidade hierárqui-
Medidas seriadas de Cl
ca dos testes de exercicio clinicos. Observe que os degraus
+ crescentes de complexidade implie<~m adição sequencial de
Trocas gasosas (metabolismo) diversos procedimentos. A ergometria convencional (eletro-
r
ESTÁGIO I Ventilação card iografia no esforço) representa o procedimento opera-
cional menos complexo (estágio O). O teste cardiopulmonar
de exercfcio (TCPE) não invasivo relaciona·se com os estágios
+ I e 11. Os estágios 111e IV exigem procedimentos com grau
ESTÁGIO O Ergomettia convencional crescente de invasividade.
ATS statement: guidclines for thc six-minutc walk test. Am J Rcspir Roca J, Rabinovich R. Clinicai excrcise testing. Eur Respir Mon.
Crit Care Mcd. 2002;166(1):111-7. 2005;31:146-65.
Oja P, Thxworth B. Eurofit for adults: asscssmcnt o f health-rclated Singh SJ, Morgan MO, Seott S, Waltcrs O, Hardman AE. Ocvelo-
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durancc capacity in chronic obstructive pulmonary diseasc. Thorax.
1999;54(3):213-22.
Dagoberto Vanoni de Godoy
Rossane Frizzo de Godoy
81
QUADRO 81.1 ~ Principais causas de doença pulmonar avançada
Introdução distribuídas em categorias
Doença pulmonar avançada (O PA) pode ser definida como
qualquer distúrbio crônico pulmonar que limite as atividades Doenças pulmonares obstrutivas
da vida diária, reduza a qualidade de vida relacionada com a - Doença pulmonar obstrutiva crônica secundária ao tabagismo
saúde e determine uma deterioração progressiva da função - Enfisema por deficiência de antiproteases
respiratória, geralmente causando mortalidade precoce. - Bronquiectasias
Existem quatro categorias principais de OPA: doenças - Fibrose cística
- Asma brônquica
obstrutivas, doenças restritivas, doenças vasculares e doen-
ças neuromusculares (QUADRO 81 .1). Por uma questão de Doenças pulmonares restritivas
convenção, no termo OPA não estão inclufdas as doenças - Fibrose pulmonar idiopática
neoplásicas.' No entanto, grande parte dos princípios de ma- - Sequelas de tuberculose
nejo clínico da OPA é aplicável à estratégia de suporte tera- - Colagenoses
pêutico de indivíduos com neoplasias avançadas de pulmão.' - Sarcoidose
No quadro clínico de pacientes com OPA, predomina - Pneumoconioses
um conjunto de sintomas e sinais que se agravam progres-
Doenças da vasculatura pulmonar
sivamente à medida que a história natural da doença se
- Hipertensão pulmonar idiopática, familial ou secundária a outras
desenvolve: dispneia, hipoxemia, hipercapnia, desnutrição,
doenças
ansiedade e depressão. Outros achados agregam-se a es-
ses descritos, conforme a natureza da doença de base e das Doenças neuromusculares
doenças coexistentes. - Esclerose lateral amiotrófica
Com a gradual deterioração funcional imposta pela en- - Distrofia muscular de Duchenne
fermidade, os indivíduos com OPA passam a apresentar per-
1
das nas mais variadas áreas de suas vidas. Atividades de lazer Fonte: Modificado de Hofer.
e de convívio social tomam-se muito restritas e pessoas ati-
vas profissionalmente precisam parar de trabalhar, fato mui-
to difícil de ser suportado e aceito por elas. A aposentadoria ral, o cumprimento desse objetivo só é factível se uma equi-
precoce dá ensejo ao surgimento do estigma da invalidez.' pe multiprofissional ocupar-se dos cuidados do paciente e de
O principal objetivo no manejo de pacientes com OPA é seus familiares (FIGURA 81 .1).
restaurar a qualidade de vida ao nível mais próximo de uma À semelhança do funcionamento de um grupo de rea-
existência que preserve sua dignidade e autonomia. Em ge- bilitação pulmonar, os diferentes especialistas integram-se
-·~
~ mobolodlde
e fisooter,pocas
MedoCtnl
Enferm1gem
Nutriçlo
P5icok>gia
SeMÇo social fiSIOterapia
Ter~pia Eduaçlo fosica
ocupacional
\ f
Anistência Asststênc1a
jurfdica espiritual
Oeretrlzes
avançadas FIGURA 81 .1 ~ Equipe multiprofissional envolvi-
~Vldl da no suporte ao portador de doença pulmonar
avançada.
para tentar suprir as necessidades do paciente e seus fami- lar mais do que ouvir, comportamento desencadeado pela
liares de maneira organizada, humanizada, temporalmente situação ansiogênica enfrentada pelo clinico. A escuta aten-
adequada e custo-efetiva. O estabelecimento de uma equipe ta das queixas e preocupações do paciente e seus familiares
multiprofissional para o tratamento de OPA é viável econo- transmite-lhes um sentimento de estarem sendo acolhidos e
micamente, pois cerca de 50% dos gastos com saúde na OPA apoiados em um momento de muito sofrimento. A percep-
ocorrem durante as hospitalizações decorrentes de deseom- ção de como a realidade está sendo entendida permite o pla-
pensação da doença de base. Um exemplo bastante comum nejamento estratégico dos cuidados a serem administrados,
é a insuficiência respiratória crônica agudizada do indivíduo de acordo com as expectativas do paciente e seus familiares.
com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) a partir O segundo erro é proferir a frase "não há mais nada a
de uma exacerbação infecciosa? ser feito", pois ela não existe no contexto dos cuidados palia-
O atendimento multiprofissional, sob forma de uma tivos. Mesmo após a morte do paciente, é papel do médico
equipe capacitada e dotada de rotinas adequadas para OPA, auxiliar seus familiares a superarem a perda dele.•
permite equacionar os procedimentos diagnósticos e tera- Assim como out.r os pacientes com doença avançada ,
pêuticos, de modo a reduzir os gastos e maximizar a eficácia principalmente se hospitalizados, os indivíduos com OPA
e eficiência de todo o processo de cuidado.
exibem com frequência dor, náuseas, ansiedade e depressão
O presente capítulo concentra-se nas condutas de cui-
{TABElA81 .1).5
dados paliativos na OPA, privilegiando o manejo clinico dos
É frequente a subutilização de recursos terapêuticos no
pacientes mais graves nesse grupo. Os cuidados não paliati-
paciente com doença avançada. Dispneia, excesso de produ-
vos para cada doença específica são discutidos nos capítu-
ção de secreções, anorexia, gastroparesia, confusão mental,
los sobre micobacterioses, bronquiectasias, fibrose cística,
constipação, fadiga, depressão, ansiedade podem ser relega-
DPOC, pneumonias intersticiais difusas, pncumopatias ocu-
dos a um segundo plano no tratamento, mas isso não deve-
pacionais e avaliação de incapacidade, sarcoidose, colageno-
ses, hipertensão arterial pulmonar, linfangioliomiomatose, ria ocorrer. O paciente tem de ser entendido e socorrido em
reabilitação pulmonar, educação c assistência multidiscipli- tudo o que lhe causa desconforto.
nar do pneumopata crônico, oxigenoterapia, ventilação me-
cânica e transplante de pulmão . Dor
O enfrentamento da dor passa por algumas rotinas básicas:
1) acreditar na queixa de dor; 2) avaliar as características de
Tratamento clínico cada dor (localização, padrão, fatores de agravo e alívio); 3)
Diante do paciente com OPA, dois equívocos não podem ser listar e prioriza.r cada dor; 4) avaliar as respostas anteriores
praticados pelo médico assistente. O primeiro trata-se de fa- e atuais aos analgésicos; 5) avaliar o nível de funcionalidade
-+
TABELA 81.1 Sintomas comuns em pacientes hospitalizados de quadro doloroso, a solicitação de eutanásia não é man-
gravemente enfermos tida.
Depressão e ansiedade são detectadas com grande íre-
quência em portadores de OPA No entanto, essas condições
comórbidas são subdiagnosticadas e subtratadas, pois os
médicos atuais estão mais bem preparados para identificar e
Dor 51 23 manejar achados objetivos do que perturbações psicológicas
e sentimentos alterados em seus pacientes. Essa abordagem
Dospnei.l 49 23 parcial de pacientes com OPA pode conduzi-los a um grau
Ansiedade 47 16 de sofrimento intenso, capaz de interferir muito negativa-
mente na qualidade de vida e nos desfechos clínicos desses
Depressão 45 14 indivíduos.
Em pacientes asmáticos, em uma análise ajustada para
condições socioeconômico-ambientais e gerais de saúde, a
depressão (como estado comórbido) teve um impacto nega-
real no trabalho e na vida familiar; 6) utilizar uma escala de tivo sobre o estado de saúde muito maior do que a presença
avaliação de dor simples e reprodut!vel; e 7) avaliar as condi- de angina pectoris, artrite reumatoide ou diabetes melito.'
ções psicológicas do paciente. A depressão é muito comum em DPOC, embora, algumas
A fonte da dor define a abordagem farmacológica inicial. vezes, possa ser considerada desprovida de importância.
Dores originadas de lesões viscerais ou osteomusculares po- Não obstante, distúrbios depressivos estão presentes em 27
dem ser tratadas inicialmente com analgésicos simples como a 79% desses indivíduos. A ansiedade tem sido identificada
paracetamol ou dipirona, acrescidos de anti-inflamatórios em pacientes com DPOC em taxas variando de 21 a 96%. A
não esteroides quando necessário. Opiáceos podem ser a ansiedade no paciente com DPOC costuma surgir como con-
primeira escolha em casos de dor moderada a intensa ou se sequência da doença, associada a sintomas ffsicos, sobretudo
não houver alívio da dor com analgésicos simples. relacionada com a intensa dispneia. A prevalência de trans"
Se, no entanto, a dor é proveniente de sistema nervoso tomo do pânico em portadores de DPOC é cerca de 10 vezes
central ou periférico, a abordagem inicial é diferente. A dor superior à da população gera1.8 Recentemente, demonstrou-
neuropática é mais bem tratada com antidepressivos tricí- -se que a sensibilidade a cargas inspiratórias aumentadas
clicos, gabapentina ou carbamazepina, com o acréscimo ou está exacerbada em portadores de DPOC e crises de pânico.
não de opiáceos. Para a dor de origem multissomatomórfi- É necessãrio que o pneumologista que se proponha a
ca (fibromialgia, fadiga), devem ser usados antidepressivos tratar de pessoas com OPA desenvolva a aptidão para detec-
inibidores da recaptação da serotonina, terapia cognitivo- tar e tratar os distúrbios psicossociais mais prevalentes nesse
-comportamental e, quando possível, exercícios aeróbicos.6 grupo de pacientes, bem como saiba valer-se do aporte de
outros profissionais, como psicólogos, assistentes sociais e
terapeutas ocupacionais.
) ATEH~ O tratamento para indivíduos com OPA e depressão, an"
siedade ou ataque de pânico inclui aconselhamento psicoló-
· A constipaçAo decorrente ido 1uso de opiâceos é um gico acompanhado ou não de manejo farmacológico. Para
-paraefeito para o qual.rilo Q(;Orn!t!>ler3ncia, ou seja, depressão, podem ser utilizados antidepressivos inibidores
vai estar quase inexoravelmente presente' êoiri ó u5o " da recaptação da serotonina, triclclicos, ou metilfenidato
crônico desses fârmacos. Portanto, !l axantes devem (quando o alívio tem de ser rápido e o paciente não está an-
ser prescritos com regularidade para padentes que sioso). A ansiedade pode ser abordada com benzodiazepini-
.eS!eiarT'! utilizando _o piáceos de forrna .5ontlnu~, : · cos ou buspirona, sendo que esta última tem a vantagem de
não deprimir os centros respirat.órios. O fármaco de escolha
para o tratamento de ataques de pânico é a sertralina. O ha-
loperidol é uma excelente alternativa para as situações de
Ansiedade e depressão agitação e delirio.
Sujeitos com OPA geralmente deparam-se com os seguintes
problemas: isolamento, solidão, medo, ansiedade, depres-
são, sensação de vulnerabilidade, alteração da imagem cor- Dispneia
poral, incapacidade para realizar atividades da vida diária, O tratamento da dispneia deve ser obrigatoriamente focado
preocupação sobre o futuro dos seus dependentes e redução nas alterações psicológicas e fisiopatológicas apresentadas
da autoestima. O complexo quadro psicológico vivido por pelo paciente. Assim como na abordagem da dor, o efeito
essas pessoas pode, frequentemente, despertar-lhes o desejo do tratamento deve ser aferido com o uso de instrumentos
de morte para que o sofrimento cesse. Ao contrário do senso unidimensionais (Escala Visual Analógica de Borg ou Es-
comum, em portadores de doença grave terminal, não é a cala do Medicai Research Council), já que os instrumentos
dor que leva os pacientes a solicitarem a eutanásia ao médi- multidimensionais costumam demandar mais tempo e maior
co assistente, mas sim a depressão e a desespe.rança. Após o esforço para serem respondidos pelo paciente. A proposta
tratamento do quadro depressivo, mesmo com a persistência terapêutica deve contemplar a redução do senso de esforço
respiratório e melhorar a função respiratória, reduzir o es- QUADRO 81.3-+ Escalonamento terapêutico para dispneia
timulo respiratório e alterar o significado da percepção da
dispneia pelo sistema nervoso central (QUADRO 81 .2).9
O QUADRO 81 .3 apresenta o escalonamento de medidas
para tratamento da dispneia sugerido pela American Tho- Tratar doença Tratar doença Tratar doença
racic Society. 6 subjacente subjacente subjacente
6. Lankcn PN, Tcrry PB, Oelisser HM, Fahy BF, Hanscn-Fiasehcn J, 10. RegoS, Palácios M, Siqueira-Batista R. Bioética para profissio-
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and clinicai illncsses. Am J Respir Cri! Care Med. 2008;177(8):912·
27.
Leitura recomendada
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Oepression, chronic discases, and dccrcments in health: results from Ausicllo O, editors. Cccil mcdicinc. 23rd ed. Philadelphia: Saunders
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Juliessa Florian
Fabrício Farias da Fontoura
82
principais técnicas e instrumentos utilizados pelos fisiotera-
Introdução peutas para poder orientar e encaminhar o paciente a um
A fisioterapia respiratória pode atuar tanto na prevenção tratamento integral.
quanto no tratamento das doenças respiratórias, fazendo
uso de diversas técnicas e procedimentos terapêuticos, seja
no nível ambulatorial, hospitalar ou de terapia intensiva.
Seu objetivo é estabelecer ou restabelecer um padrão respi-
Técnicas de higiene brônquica
ratório funcional para reduzir gastos energéticos durante o A eliminação normal das secreções broncopulmonares exi-
processo de ventilação, capacitando o indivíduo a realizar as ge transporte mucociliar e tosse eficazes. Quando um desses
mais diferentes atividades da vida diária sem promover gran- mecanismos não funciona adequadamente, as secreções se
des transtornos e repercussões negativas em seu organismo, acumulam, o que pode provocar aumento do trabalho res-
melhorando assim sua qualidade de vida. piratório, aprisionamento aéreo, piora do equilíbrio ventila-
A fisioterapia respiratória deve ser oferecida para pa- ção/perfusão, áreas de atelectasias, aumentando, além disso,
cientes com doenças pulmonares agudas ou crônicas, ob- a incidência de infecções pulmonares. A remoção de secre-
jetivando manejo da falta de ar, desobstrução brônquica e ções mucopurulentas pode diminuir a ação das enzimas pro-
orientações para melhora da capacidade funcional.' teolíticas responsáveis pela destruição do tecido pulmonar
em pacientes com doenças pulmonares crônicas.
Para auxiliar a mobilização e a remoção dessas secre-
~ATENÇÃO ções, é utilizada a terapia de higiene brônquica, que envol-
ve o uso de técnicas não invasivas de desobstrução das vías
aéreas, com o objetivo principal de melhorar a troca gasosa
A busca por evidências em fisioterapia respiratória
e reduzir o trabalho respiratório. O crescente número de no-
teve um grande crescimento nos últimos anos, crian-
vas evidências e a constante descoberta de técnicas cada vez
do-se diretrizes sobre técnicas e tratamento para
mais eficientes oferecem ao fisioterapeuta alternativas para
uma prática baseada em evidências.
um tratamento mais eficaz.
Posição 3:
Lobos superiores, segmentos anteriores
~~
Posição 4: Posição 5:
Ungula lobo médio
.. .!.
'•
Posição 6: Posição 7:
Lobos inferiores, lobos inferiores.
segmentos segmentos
basais anteriores basais inferiores
Posições 8 e 9:
Lobos inferiores,
segmentos
laterais basais
AGURA 82.1 7 Posições de drenagem postura!. Posição 1: paciente inclinado 30° para trás; posição 2: paciente inclinado 30° para a frente; posição
3: paciente deitado em superfície plana; posições 4 e 5: paciente com a cabeça inclinada 15° para baixo e cerca de um quarto do tronco rotado; posi-
ção 6: paciente com a cabeça inclinada cerca de 30• para baixo, em decúbito lateral; posiçao 7: paciente com a cabeça 30• para baixo, em pronação;
posições 8 e 9: paciente com cabeça 30° para baixo, rotado a um quarto; posição 1O: paciente em pronação, com leito em posição neutra (plano).
Fonte: Deturk e Cahalin.'
seguidos por um período de relaxamento. As secreções são A TEF foi introduzida como uma alternativa para a tos-
mobilizadas das vias aéreas periféricas para as vias aéreas se. Enquanto um huff de baixo volume pulmonar move se-
centrais, de onde serão expectoradas, e então o processo é creções periféricas, um "huff' de alto volume remove muco
repetido.' das vias aéreas mais proximais. 11
A TEF tem se m05trado bastante eficaz na lllgiene brôn- para as vias aéreas centrais, é solicitado que o paciente rea-
quica de pacientes com tendência ao colapso das vias aéreas lize mais de um huffing com tosse. A drenagem autógena é
durante a tosse normal. Vários estudos demonstram os be- indicada para pacientes colaboradores, sendo recomendada
neficios da TEF na limpeza das vias aéreas e na melhora da para pacientes com mais de oito anos e que tenham um bom
função pulmonar. Quando associada à drenagem postura], controle da respiração.9 É necessãrio que o fisioterapeuta
a TEF demonstrou ser mais efetiva do que a percussão e vi- ofereça um feedback para o paciente até que ele assimile
bração na remoção de secreções das vias aéreas. Além de a técnica e perceba a limpeza das vias aéreas. Essa técnica
promover aumento da quantidade de secreção expectorada, também pode ser usada durante algumas atividades da vida
levou ao aumento significativo de alguns parâmetr05 da fun- diária, e deve ser constantemente revisada com o fisiotera-
ção pulmonar, como volume expiratório forçado no primeiro peuta.s.s.to
segundo (VEF1) e capacidade vital forçada (CVF).l 1àJ técnica foi modificada na Alemanha, não estando
Em pacientes portadores de DPOC e fibrose cística, o dividida em três fases, uma vez que 05 pacientes acharam
huffmg deve ser ensinado como adjunto a outras técnicas de desconfortável respirar a baixos volumes pulmonares. A
higiene brônquica.12 entáo drenagem autógena modificada consiste em inspi-
rar pelo nariz, contendo a inspiração por 2 a 3 segundos,
Cido ativo da respiração e expirar pela boca com a glote aberta, a princípio de for-
ma passiva e rápida e em seguida ativa e lentamente com a
O ciclo ativo das técnicas de respiração é usado com o ob-
jetivo de mobilizar o excesso de secreções brônquicas, sen- ajuda dos músculos expiratórios. A duração da expiração é
determinada pela quantidade e localização das secreções
do eficaz na sua eliminação e melhora da função pulmonar,
sem causar aumento da hipoxemia ou da obstrução ao fluxo nas vias aéreas, ou seja, quanto mais periférica a secreção,
aéreo. O ciclo é um método flexivel de tratamento e pode maior o tempo cxpiratório. A técnica geralmente é execu -
ser usado em pacientes clínicos ou cirúrgicos n05 quais exista tada com o paciente sentado de forma relaxada. Deve-se
excesso de secreções brônquicas.1 controlar o movimento diafragmático e do tórax superior,
A técnica consiste em realizar o controle respiratório com colocando-se as mãos na região epigástrica e superior do
exerclcios de expansão torácica que são inspirações profun- tórax. A tosse deve ser evitada até que as secreções che-
das, seguidas de expiração relaxada e lenta. Esse controle é li- guem à laringe, quando devem ser expectoradas. A técnica
mitado a 3 a 4 cicl05 profundos, a fim de evitar fadiga c hiper- deve ser usada durante aproximadamente 20 a 30 minut05,
ventilação. Ao final do ciclo, realiza-se o hufftng e/ou t05SC.' no mínimo duas vezes ao dia. •
Essa técnica é amplamente utilizada por pacientes por- Em pacientes portadores de fibrose cística, a drenagem
tadores de fibrose cística e deve ser ensinada para otimizar a autógena deve ser ensinada como um adjunto à drenagem
higiene brônquica independente.' postura! como método de higiene brônquica, pois tem a van-
tagem de ser realizada sem assistência e em uma posição.'
Existem muitas outras técnicas e manobras que o fisio-
Drenagem autógena terapeuta pode utilizar em associação às recém-descritas
A drenagem autógena é uma técnica de desobstrução brôn- com o objetivo de mobilizar secreções e realizar higiene
quica, autoadministrável e com controle da respiração que brônquica eficiente. Além disso, nos últimos anos, houve
mobiliza secreções de diferentes ramos brônquicos da peri- um grande avanço na criação de novos aparelhos que per-
feria para o centro, por meio da maior variação possível do mitissem mais conforto e maior independência ao paciente,
fluxo expiratório, sem a compressão dinâmica das vias aé- alguns dos quais são descrit05 a seguir.
reas. O desprendimento das secreções, desde a periferia do
pulmão, ocorre porque uma inspiração direta e aumentada,
seguida de uma expiração profunda, leva a uma diminuição
do volume corrente médio até o volume de reserva expira-
Aparelhos para Fisioterapia Respiratória
tório. Com isso, as secreções das regiões pulmonares peri- Muit05 aparelhos têm sido investigad05 na tentativa de au-
féricas se mobilizam pela compressão d05 duetos alveolares mentar os efeitos benéficos da fisioterapia convencional ou
periféricos.9 assistida e também de promover a independência dos pa·
A drenagem autógena é dividida em três fases: despren- cientes.'
dimento, coleta e expulsão. A primeira fase 6 feita por meio Existem diferentes dispositivos que geram pressão posi-
de inspiração nasal, que otimizao aquecimento e a umidifi- tiva por meio de válvulas e resistores, os quais podem ser
cação enquanto diminui o fluxo turbulento e lento, em bai- usados com diversos componentes. 1àis dispositivos geram
xos volumes pulmonares, para a mobilização de muco peri- pressão expiratória positiva (PEP) com o princípio de au-
9
férico. A fase de coleta é feita com respirações no nfvel do mentar a pressão transpulmonar por meio do aumento da
volume corrente para a mobilização do muco presente nas pressão intratorácica, melhorando a ventilação colateral.
vias aéreas médias. A fase de expulsão é realizada por meio Eles visam também à mobilização de secreções e impedem
de respirações com volumes pulmonares mais altos, para o o colapso das vias aéreas durante a expiração. u A American
deslocamento de secreções das vias aéreas centrais. Association for Respiratory Care recomenda uma pressão
Cada fase dura de 2 a 3 minutos, e um ciclo completo de 10 a 20 cmH10.' A seguir, são descrit05 alguns tipos de
leva cerca de 6 a 9 minutos. Quando a secreção for deslocada aparelh05 que geram PEP.
Pressão positiva expiratória nas vias aéreas piratório diminui e a pressão também 1 5 Deve ser realizada
A pressão positiva expiratória nas vias aéreas (EPAP) é um com um clipe nasal a fim de se evitar o escape aéreo.
A PEP gerada por selo d'água foi amplamente utiliza-
dispositivo utilizado para se obter uma resistência linear até
da durante a última década na Suécia em pacientes pneu-
o final da expiração, gerando pressões de S a 20 cmH20 .
mopatas, sendo muito difundida no Brasil devido ao baixo
Consiste em uma máscara acoplada a uma válvula unidire-
custo. 16 Neste sistema, a expiração é realizada através de
cional com resistência por mola (spring-loaá).
um tubo (traqueia) submerso na água, e o paciente expira
Neste sistema, a fase inspiratória é realizada sem ne-
estabelecendo uma pressão na via aérea através do tubo. O
nhuma ajuda externa, sem fluxo adicional, ou seja, por uma
tamanho do tubo abaíxo da superfície da água determina a
pressão negativa subatmosférica, como na respiração espon-
pressão necessária para forçar o gás através dele. Uma vez
tânea. A expiração é realizada contra o resistor de mola,
que a pressão no tubo é suficiente para superar o peso da
mantendo a pressão positiva estável. coluna de água, o limiar é atingido, e a pressão vaí diminuin·
A EPAP objetiva a redução do aprisionamento de ar, a do até o fmal da expiração. Existem poucas evidências que
mobilização das secreções e a reversão de atelectasias, ou ain- sustentem o uso dessa técnica, pois não há um padrão para
da pode ser usada durante a aerossolterapia medicamentosa. sua realização.••
A técnica deve ser realizada com o paciente sentado, com os
braços em repouso sobre a mesa e o corpo inclinado forman-
do um ângulo de 45 a 60 graus. Ela é indicada para pacientes Pressão positiva por dispositivos oscilatórios
com fibrose c-ística com objetivo de higiene brônquica. 1 O Flutter• ou o Sbaker"' (FIGURA 82.3) são aparelhos em for-
A PEP com orifício consiste em uma válvula unidire- ma de cachimbo que possuem um tubo com um bocal em
cional conectada a uma saída com um pequeno orifício que uma extremidade e uma tampa perfurada na outra, e em seu
retarda o movimento do ar para fora, gerando uma pressão interior uma esfera de aço inoxidável de alta densidade re-
positiva expiratória fluxo-dependente, ou seja, o fluxo ex- pousa em um cone.
VR
B
FIGURA 82.2 7 (A) Drenagem autogênica (DA) versus (8) ciclo ativo da respiração (CAR), ambos de espirometria de indivíduos normais. DA: fase
1= deslocamento periférico de muco; fase 2= coleta de muco em grande via aérea; fase 3= transporte do muco até a boca. CAR: CR = controle da
respiração, TEF= técnica de expiração forçada.
Fonte: Oeturk e Cahalin.5
o
FIGURA 82.3 ~ (A) Shaker•
pronto para uso. (8) Imagem
do Shaker" desmontado, mos-
trando seus componentes.
Expirando através do dispositivo, criam-se oscilações de em direção cefálica, aumentando o transporte da secreção
fluxo de ar e pressão positiva nas vias aéreas produzidas pela facilitado pela pressão positiva gerada na via aérea. 12
esfera. A frequência pode ser modulada conforme a inclina- Se a tosse for ineficaz ou caso o paciente seja incapaz de
ção do aparelho. realizá-la, o fisioterapeuta pode fazer a aspiração das vias aé-
O paciente deve ser orientado a encaixar bem o apare- reas quando necessário, porém ela não deve ser usada como
lho na boca, realizar uma inspiração profunda e depois uma rotina. A técnica deve ser realizada de maneira asséptica, com
expiração suficiente para movimentar a esfera. O aparelho duração de menos de 15 segundos; o sistema de aspiração
está indicado para desobstrução e higiene brônquica, estan- pode ser aberto ou fechado. Algumas técnicas para gerar flu-
do contraindicado na presença de hemoptise e pneumotó- xo turbulento e aumentar o volume inspiratório para promo-
rax.1 ~17 ver o deslocamento de secreções brônquicas são hiperinsufla-
A Acapella40 (FIGURA 82.4) é outro instrumento que com- ção manual associada à vibração e compressão torácica, entre
bina os princípios da oscilação de alta frequência com a outras.'·" Esses instrumentos são indicados principalmente
PEP por atração magnética. O equ ipamento, leve e portátil, para pacientes hipersecretivos e com fibrose cística.'
possui um bocal e na outra extremidade um dispositivo que
regula a proximidade de duas peças magnéticas que fazem
resistência ao fluxo de ar, permitindo alterações na frequên- Espirômetros de incentivo
cia, amplitude e pressão impostas ao sistema respiratório. O Esses instrumentos terapêuticos são muito utilizados para
paciente realiza a expiração no bocal de forma que não haja produzir uma inspiração máxima sustentada. Existem hoje
escape de ar; a oscilação e a PEP são geradas independen- diferentes aparelhos de várias marcas que podem ser usados
temente da gravidade e do posicionamento do aparelho.•z.•s de acordo com o nivel de volume a ser atingido durante a
Existe o modelo azul para fluxo expirat6rio menor do inspiração. A espirometria de incentivo tem como objetivo
que 15 Umin e o verde para fluxo expiratório maior do que estimular inspirações profundas através de feedback visual a
15Umin. fim de recrutar alvéolos colapsados, induzindo maior venti-
As vantagens teóricas das oscilações têm sido descritas lação. •s.as.a9
como uma possível redução na viscoelasticidade do muco Os espirômetros de incentivo são portáteis e de fácil
gerada pelo Flutter40 (11,3 Hz) e pela Acapella" (13,5 Hz), manuseio, podendo ser orientados por volume ou fluxo. Os
sendo próximas da frequência ideal para deslocamento do aparelhos orientados por volume possibilitam um maior con-
muco. A frequência natural do batimento ciliar é de 11 a 15 trole do volume de ar inspirado do que os de fluxo, permi-
Hz e, se o fluxo aéreo oscilar em frequência semelhante, tal tindo ainda o controle da estabilidade do fluxo expirat6rio
ressonãncia pode aumentar a amplitude do batimento ciliar lento.
Outros instrumentos
Cough Assist'
Conhecido também como "máquina da tosse", o Cough
Assist" é um equipamento não invasivo, com capacidade
para aumentar ou restabelecer a remoção das secreções
brõnquicas via insuflação/desinsuflação mecãnica mediante
aplicação gradual de pressão positiva com uma rápida mu-
dança para pressão negativa.
A mudança brusca de pressões gera um fluxo exalatório
rápido e turbulento, simulando o processo da tosse, deven-
do-se evitar altas pressões sempre que possfvel. Encerra-se a
O espirõmetro deve ser usado na posição sentada ou sessão de tratamento com uma insuflação para minimizar o
semissentada, solicitando-se que o pac.iente realize uma ex- colapso das vias aéreas.21
piração máxima, depois inspire profundamente de forma E indicado para uso em crianças, adultos e idosos que
lenta através do aparelho, e em seguida faça uma pausa ins- não possuem efetividade da tosse, devendo ser considerado
piratória com duração média de três segundos. Na presença para pacientes com lesão medular e combinado com mano-
de broncospasmo, não é recomendável que seja utilizado. bras de tosse assistida?-'
Deve-se observar ainda a presença de fadiga muscular."·'93 '
Oscilação de alta frequência da parede torácica
Threshold' Essa técnica utiliza um colete inflável conectado a um gera-
O Thresbold• (FIGURA 82.5) é um instrumento utilizado para dor de alta frequência (6 a 19 Hz). O princípio do sistema
o treinamento dos músculos ventilatórios que oferece uma são compressões e oscilações torácicas enquanto o paciente
resist~ncia à inspiração por meio de um sistema de mola é orientado a realizar inspirações e expirações. Com a alte-
com válvula unidirecional. O paciente inspira por meio de ração da consistência do muco, promove-se sua depuração
bocal ou de máscara facial. Durante a expiração, não há re- independentemente do decúbito.'-4.15
sistência, pois a válvula se abre; já na inspiração, ocorre o
fechamento da válvula, produzindo resistência. É indicado
para o paciente que possui perda de força e resistência dos
músculos ventilatórios. 19
Para iniciar o treinamento com o Threshold• , é neces-
sário definir a resistência a ser aplicada em cmHzO, que será
determinada pela análise da força muscular inspiratória, por
meio de manovacuometria. Deve-se respeitar os princípios
do treinamento físico, como progressividade, especificidade,
sobrecarga, entre outros. Existe a modalidade Thresbold
PEP•, que gera carga linear que se mantém constante, inde-
pendentemente do fluxo gerado pelo paciente.11.:u
l•·mm:m
Treinamento de membros inferiores Melhora a tolerância ao exercício; é recomendado como parte do PRP A
Treinamento de membros superiores Treinamento de força e resistência melhora a função; deveria fazer parte do PRP 8
Treinamento da musculatura Evidências científicas não sustentam o uso rotineiro em um PRP; pode ser considerado em 8
respiratória pacientes selecionados com redução da força muscular e dispnéia
Componentes psicossociais, Evidências não sustentam intervenções psicossociais de curta duração como modalidade 8
comportamentais e educacionais terapêutica isolada; intervenções de longa duração podem ser benéfica.s; a opinião de
especialistas dá suporte às inclusões de intervenções educacionais e psicossociais num PRP
Grupo de Autoajuda
FIGURA 83.1 ~ Composição do grupo multiprofissional para a execução de um programa de reabilitação pulmonar.
tes. Um exemplo são os portadores de bronquiectasias, que fermeiros dinamizam o programa. A criação de grupos de
demandam, além do programa de reabilitação tradicional, autoajuda pelos próprios pacientes, sob supervisão do grupo
um atendimento fisioterápico adicional. técnico, deve ser estimulada.
O fisioterapeuta planeja e executa os métodos que me- A duração de um programa de reabilitação pulmonar é,
lhoram a limpeza de secreções das vias aéreas, o treinamen- em geral, de 8 a 12 semanas. Neste período, o paciente e seus
to de exercícios respiratórios e posturas, bem como atitudes familiares reoeberão cuidados nos seguintes campos:
adaptativas e técnicas de conservação de energia. Além dis-
so, elabora - com o auxílio ou não do educador físico - o • Educação: orientação sobre anatomia e fisiologia respi-
programa de condicionamento físico geral mediante exer- ratórias e sobre a maneira como a doença de base as al-
cícios físicos selecionados. Nesta etapa, a participação do tera, conservação de energia, alimentação adequada, uso
pneumologista nas análises dos resultados dos testes de exer- dos dispositivos inalatórios.
cício cardiopulmonar máximo e submáximo fornece maiores • Treinamento respiratório: reeducação dos movimentos
subsídios para a elaboração do treino fisico. Quando o teste respiratórios, posturas adaptativas, técnicas de limpeza
de exercício cardiopulmonar não está disponível, o teste da brõnquica.
caminhada de seis minutos pode auxiliar na elaboração do • Condicionamento físico: recuperação das condições
treinamento físico. musculoesqueléticas e cardiovasculares.
As atribuições do psicólogo/psiquiatra vão desde a ava- • Terapêutica farmacológica: adequação dos fármacos atu-
liação da capacidade de compreensão do que será transmiti- antes no aparelho respiratório para cada paciente espe-
do ao paciente durante o programa até a realização de testes cificamente.
diagnósticos dos distúrbios frequentes, como depressão e • Interrupção do tabagismo: medidas de apoio às sindro-
ansiedade, ou outros transtornos que possam estar presen- mes de abstinência física e psíquica.
tes e interferindo negativamente em sua qualidade de vida. • Oxigenoterapia domiciliar: estabelecimento de sua real
Além disso, a realização de testes vocacionais visando à rein- necessidade e apoio logístico caso ela exista.
trodução vantajosa do paciente no mercado de trabalho é • Grupos de autoajuda: cada paciente deve ter a oportu-
uma estratégia com grande potencial de contribuição. O psi- nidade de integrar-se a um grupo destes ao final do pro-
cólogo/psiquiatra também estuda as relações doente-tabaco grama.
e doente-família, de modo a conseguir a máxima adesão na
manutenção do programa fora do ambiente da clínica. Deve haver flexibilidade na execução do programa, de
Thdos os profissionais se envolvem na educação dos pa- modo que ele se adapte a cada paciente, e não o contrário.
cientes quando cada um aborda os principais aspectos das O objetivo delineado no inicio do tratamento deve ser alcan-
doenças. Esta parte educativa pode ser coordenada pelo en- çado no ritmo do doente e, por esse motivo, a reavaliação
fermeiro quando este compuser o grupo ou, então, por qual- de cada caso precisa ser constante. Em geral, os pacientes
quer um dos profissionais integrantes. compareoem à RP três vezes por semana, com sessões de até
Se houver capacidade econômica para manutenção de duas horas.
um grupo maior de profissionais, as colaborações de assis- A FIGURA 83.2 apresenta um fluxograma para um progra-
tentes sociais, educadores fisicos, assistentes religiosos e en- madeRP.
Avaliação do candidato à reabilitação
pulmonar
Pneumologosta P>icólogo Prol. de Ed. Flsica F1siotoroP4'uta A RP está indicada para pacientes com DPOC que se enqua-
Nutricionista Enfermeira drem nos critérios dos estágios II, III e IV (segundo o Global
Initiative .chronic Obstructive Lung Disease - GOLD) 1 e
nas demats doenças respiratórias crônicas quando o pacien-
Diagnóstico te se torna consciente de sua incapacidade e tolera menos a
execução das atividades da vida diária.
Em geral, programas de RP não são planejados para pa-
Proposição de ob,etivos cientes incapazes de deambular, quer por problemas orto-
pédicos ou por deficiência neurológica. Em alguns pacientes
com dificuldade de deambular, o treino pode ser iniciado
em uma bicicleta ergométrica horizontal, se disponlvcl, e à
Edu~âo Fármacos Tre'ln.ameonto resptrat6no
lnterrupç.io do tabagismo Condicionamento ffsKo geral
medida que o paciente progride, passa a ser realizado na
Acompanhamento psiCológiCo esteira.
Eventos adversos durante a realização de um programa
de RP são raros. Frequentemente, portadores de DPOC
também são cardiopatas isquêmicos, com risco aumentado
Avaliação
de infarto agudo do miocárdio, arritmias cardíacas ou morte
súbita. Desse modo, a avaliação do risco cardíovascular deve
preceder o início dos exercícios ffsicos.
Egressos As lesões musculoesqueléticas são minimizadas com
o uso de calçados apropriados e a supervisão direta do pa-
FIGURA 83.2 -+ Exemplo de fluxograma de um programa de reabilita· ciente pelo profissional responsável pelo treinamento (lsico.
çáo pulmonar.
---------------- Quando o teste de exercício cardiopulmonar estiver disponí-
vel e a avaliação da ocorrência de hiperinsuflação dinâmica
for possível, aqueles pacientes portadores de DPOC com
A RP é desenvolvida ordinariamente em caráter ambu- hiperinsuflação deverão receber broncodilatadores antes do
latorial, sendo o atendimento hospitalar uma exceção, como treinamento. Caso tal avaliação não esteja disponível, todo
no tratamento de pacientes com exacerbações da doença e portador de DPOC deverá estar com sua medicação bron-
no atendimento a transplantados pulmonares. codilatadora otimizada, e o uso de broncodilatador de curta
O equipamento mínimo necessário consiste em fonte duração antes do exercício estará indicado. É importante
portátil de oxigênio, oxímetro de pulso c um recinto que que indivíduos com hiper-reatividade brônquica façam uso
comporte atividades físicas em grupo. Com exceção dosam- de broncodilatadores antes do início dos exercícios para evi-
bientes amplos que permitiriam caminhadas, a esteira e/ou a tar o espasmo brõnquico secundário ao resfriamento e resse-
bicicleta ergométrica são necessários para o treino aeróbico. camento da mucosa. Pacientes significativamente hipoxêmi-
A esses equipamentos, podem ser adicionados monitores cos (SHbO, S 88%) devem realizar os exercícios recebendo
cardíacos, uma estação para exercícios de força e aparelhos oxigenoterapia suplementar.
para a realização de fisioterapia (FIGURA 83.3A e B). A avaliação básica deve incluir anamnese e exame flsico
espirometria, avaliação de dispneia, avaliação da capacidad~
FIGURA 83.3 7 (A) Treirtamento de força e aeróbico. (B) Treinamento de força com pesos.
de realizar exercício físico, avaliação psicológica, avaliação QUADRO 83.3 7 lndice de dispneia modificado do Medicai
nutricional e avaliação de qualidade de vida. Research Council
A capacidade de realização de exercicio íisico pode ser
aferida por testes incrementais ou de carga constante reali- o. Tenho falta de ar ao realizar exercício intenso.
zados em esteira ou bicicleta para a determinação dos fato- 1. Tenho falta de ar quando apresso o meu passo, ou quando subo
res limitantes ventilatórios e/ou cardiovasculares: consumo es<:adas ou ladeira.
máximo de oxigênio (V02.w), consumo de oxigênio de pico 2. Preciso parar algumas vezes quando ando no meu passo, ou ando
mais devagar do que outras pessoas de minha idade.
(V0 2P.J e limiar anaeróbico (LA). A prova mais utilizada
3. Pre<:iso parar muitas vezes devido à falta de ar quando ando perto
na rotina diária é o teste da caminhada de seis minutos, que de 100 metros, ou poucos minutos de caminhada no plano.
apresenta boa correlação com oVO_,. A distância peroor- 4. Sinto tanta falta de ar que não saio de casa, ou preciso de ajuda
rida nesse teste é um preditor de mortalidade mais impor- para me vestir ou tomar banho sozinho.
tante do que idade, volume expiratório forçado no primeiro
segundo (VEF,), índice de massa corporal (IM C) ou presen- Fontr. Wedll<ho tcolobotodorn.'
ça de comorbidades. O teste Shuttle é classificado como in-
crementai e com excelente reprodutibilidade.
A ansiedade e a depressão são as principais alterações feriores realizados com intensidade alta propiciam maiores
observadas em pacientes portadores de DPOC. A ansiedade benefícios fisiológicos, mas exercícios realizados com baixa
geralmente surge como consequência da doença, estando, intensidade também são eficazes em portadores de DPOC.
portanto, associada aos sintomas físicos, sobretudo à intensa Uma parte da sessão de treinamento deve ser dedicada a
dispneia. exercícios com os membros superiores não sustentados, vi-
Quanto à avaliação da qualidade de vida, o St. Georges sando aumentar a resistência aos esforços da musculatura
Respiratory Questionnaire é o instrumento mais utilizado. dos membros superiores. Exercícios para obtenção de for-
Os três dominios desse instrumento (sintomas, atividades e ça muscular são muito úteis e podem resultar em ganho de
impacto) recebem pontuação de zero (saúde perfeita) até massa muscular (FIGURA 83.5).
100 (pior estado possivel), sendo que alterações de quatro É importante que o programa de treinamento fisico não
pontos são consideradas clinicamente significativas. tenha menos de seis semanas de duração. No entanto, os
A dispneia pode ser avaliada em tempo real ou por re- melhores resultados são obtidos com programas mais longos
cordação. Os instrumentos mais utilizados em tempo real -de 12 a 16 semanas. Estratégias para a manutenção do con-
sã.o a eseala de Borg (FIGURA 83.4)2 e a eseala visual analógica. dicionamento físico adquirido devem ser disponibilizadas
Na avaliação por recordação, as ferramentas mais comu- aos pacientes, pois, caso contrário, os beneficios declinam
mente empregadas são o índice basal de dispneia e o índice gradualmente em um prazo de 12 a 18 meses.
modificado do Medica! Research Council (QUADRO 83.3).3 A administração de oxigenoterapia suplementar para pa-
cientes muito hipoxêmicos durante a execução do programa
de treinamento fisico proporciona ganhos de desempenho.
Estratégias específicas em reabilitação
pulmonar
Condicionamento cardiovascular e
musculoesquelético
Um programa de treinamento da musculatura da deambula-
ção é componente mandatário. Exercícios para membros in-
o Ne-nhuma
0,5 Mt.uto, muito leve
Muito leve
Leve
Moderada
4 Pouc.o intensa
5 In te~
6
Multo intensa
8
9 Murto. muito intensa
10 Má>umo
IA± IA±
Disposição para
alteração IV
comportamental
Motivação
alta ou baixa
Apoio familiar e CaMa CbMb
social
E/OU
·USO de questionários
-Contagem de doses
·Avaliação da técnica
de uso dos inaladores
_j IA1' IA-J..
Intenção de adesão
Avaliação Planejamento e
facilitação
CbMb = conhecimento baixO/motjvação baixa
CbMa • conhecimento baixo/motivação alta
CaMb = conhecimento alto/motivação baixa FIGURA 84.2 ~ Proposta de algoritmo para
CaMa = conhe-cimento alto/motivação alta avaliação e melhora da adesão.
Fonte: Adaptada de Case Management Socie-
IA :;;:; intenção de adesão ty of America.'
Uma entrevista motivacional é um método de com uni· rece impossível abordar outras questões. No entanto, com
cação centrado no paciente, com o objetivo de aumentar a uma abordagem sistematizada, é possível, em uma consulta
automotivação interna para alterar um comportamento. A de até 30 minutos, tratar de múltiplas questões relacionadas
técnica é diretiva por natureza e delineada para facilitar a com a própria pneumopatia e os principais problemas que
análise e a resolução das razões que envolvem a ambivalên- podem influenciar a saúde do paciente, utilizando-se os prin-
cia e a resistência para mudar.9 Os cinco princípios da en- cípios comentados antes. Obviamente, na maioria das vezes,
trevista motivacional são lidar com a resistência, expressar é necessária mais de uma visita para a implementação de um
empatia, evitar argumentação, desenvolver discrepância cuidado adequado.
e dissonância, e apoiar a autoeficácia. É uma metodologia Os itens fundamentais no processo de assistência são es-
que todo profissional na área da saúde deve estar preparado tes:
para aplicar, pois cria no paciente a necessidade de mudança
por meio de uma decisão fundamentada em suas reais ne- • Estabelecimento de adequada relação médico-paciente.
cessidades. • Avaliação diagnóstica adequada.
• Avaliação do impacto da doença na qualidade de vida
do paciente.
• Identificação de limitações cognitivas, culturais, finan-
Aplicação do modelo de gerenciamento ceiras e alterações comportamentais que possam interfe-
centrado no paciente na rotina do rir signíficativamente na adesão ao tratamento.
• Avaliação do estágio de mudança comportamental do
pneumologista paciente.
Após a identificação de um diagnóstico específico relacio- • Identificação de fatores que interfiram na adesão ao tra-
nado com as queixas do paciente, o pneumologista pode tamento e estabelecimento de abordagens que os mini·
limitar-se somente à prescrição medicamentosa e às reco- mizem.
mendações gerais do problema que aparentemente gerou • Direcionamento motivacional para os aspectos mais im-
o atendimento. Devido ao limitado tempo da consulta, pa- portantes do tratamento.
• Estabelecimento de um plano claro e por escrito sobre • Riscos: questionar o paciente sobre as consequências
cada passo a ser tomado no processo de diagnóstico e negativas de fumar.
tratamento, utilizando figuras ou ilustrações, se neces- • Recompensa: determinar as vantagens que o paciente
sário. percebe em fumar e em não fumar.
• Encaminhamento correto e coordenado aos diferentes • Restrições: identificar as barreiras que impedem o
profiSSionais. paciente de parar de fumar, ou de iniciar um trata-
• Reavaliação periódica dos resultados terapêuticos e mento para parar de fumar. Identificar se o cônjuge
adaptação das intervenções que garantam a continuida- ou os familiares fumam.
de do tratamento a longo prazo. • Repetição: em todas as visitas subsequentes, motivar
o paciente sobre a oessação, mas sem fazer acusações
ou gerar medo. Deve-se usar um método motivacio-
nal. O paciente deve ser conscientizado de que parar
Exemplo de gerenciamento baseado de fumar não é necessariamente conseguido na pri-
no paciente aplicado a pacientes com meira tentativa.
• Avaliação das exacerbações: pesquisar se houve atendi-
doença pulmonar obstrutiva crônica mentos em emergências e hospitalizações, uso prévio de
A seguir, é fornecido um exemplo de uma abordagem oti- antibióticos, impacto na vida do paciente durante e após
mizada c sistematizada para diagnóstico de tratamento de cada exacerbação.
pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) • Realização de cspirometria e demais procedimentos:
utilizando o método do gerenciamento baseado no paciente. todo pneumologista deve incluir espirometria e oxime-
A presente discussão não esgota aquilo que possa ser avalia- tria na consulta como se fosse parte do exame ffsico. Para
do e tratado, mas serve como um guia sobre itens fundamen- ganhar tempo, após a primeira abordagem, realiza-se o
tais para a obtenção de resultados custo-efetivos. teste pré-broncodilatador. Na administração do bronco-
A primeira atitude é certifica.r-se de que o paciente não dilatador, já se pode utilizar e testar o inalador que se
se encontra em exacerbação aguda da doença. Se for o caso, pretende prescrever, otimizando dessa forma o tempo da
deve-se determinar a possibilidade de tratamento ambula- consulta. Enquanto se aguardam os 10 minutos do teste
torial ou hospitalização. Se for possível realizar tratamento do broncodilatador, realiza-se exame fisico pertinente e
ambulatorial, pode-se seguir esta avaliação: abordam-se outras questões de relevância para a doença,
como presença de doença cardiovascular, sintomas de
• Queixa principal do paciente: costuma ser dispneia. depressão, motivação para iniciar um tratamento e co-
Deve•se graduar a dispneia, preferencialmente usando nhecimento sobre a doença, bem como questionamento
uma escala padronizada {MRCmodificado). O paciente sobre outros itens que preocupam o paciente. Após o
é questionado quanto aos seguintes itens: tempo de espera do efeito do broncodilatador, demons-
• Que atividades você deixa de fazer por causa da disp- tram-se ao paciente os resultados da espirometria. Se
neia? houver evidência de obstrução, pode ser reforçada a ne-
• Que atividades você faz com dificuldade por causa da cessidade de cessação do tabagismo, sempre utilizando a
dispneia? abordagem motivacional.
• Que atitudes ou ações você faz para tentar aliviar a • 1hltamento: é importante que o paciente seja estimulado
dispneia? a monitorar as manifestações que indiquem o início de
• Como a dispneia limita a sua vida? uma exacerbação. Thsse, alteração do caráter da cxpec-
toração (mucoide para purulenta, aumento da viscosida-
Deve-se abordar, igualmente, a intensidade, a frequência de), intensidade da dispneia para realizar as atividades
e o caráter da tosse c cxpectoração, utilizando as mesmas habituais, aperto no peito, sibilância, febre. Sintomas
perguntas anteriores para avaliar o impacto da doença. gerais como fadiga, insônia, depressão, episódios de con-
fusão mental, redução da tolerância ao exercício devem
• Avaliação de atividades o u exposições, além do tabaco, ser alertados ao paciente e familiares, principalmente em
que determinam potencial agravamento da doença. pacientes mais graves ou idosos. Um plano por escrito
• Avaliação do tabagismo: deve-se questionar o indivíduo deve ser fornecido sempre, indicando as manifestações
sobre tempo e consumo diário. Se o paciente parou de que caracterizam uma exacerbação, as medidas a serem
fumar há mais de um ano, pode ser considerado ex- tomadas e uma clara identificação do médico com seus
-fumante. Nesse caso, o tabagismo passivo deve ser ava- telefones para contato.
liado. Se parou há menos de um ano, é preciso avaliar
se existe risco de recidiva ou lapso. Se o paciente fuma, O contato e o encaminhamento para outros profissionais
aplicar os cinco R, utilizando a entrevista motivacional: devem ser sempre direcionados para as necessidades do pa-
• Relevância: avaliar o grau de motivação para parar ciente, devendo ser negociados. Considerando os objetivos
de fumar. Conscientizar o paciente de que parar de do tratamento da DPOC, é fundamental que todo paciente
fumar é a intervenção de maior impacto no tratamen- faça algum tipo de atividade fisica, preferencialmente orien-
todaDPOC. tada por um profissional de fiSioterapia.
O ensinamento de técnicas de conservação de energia, mais especializados, devendo adaptar os recursos de que dis-
a adaptação do domicílio às necessidades e às dificuldades põe e utilizá-los com a máxima eficiência. Em última instân-
IIsicas do paciente, a drenagem de secreções respiratórias, o cia e sempre que julgar necessário, haverá encaminhamento
treinamento muscular e cardiopulmonar, o auxílio na adap- para um centro de referência.
tação à ventilação não invasiva são funções que um fisiote- Nessa abordagem, o atendimento multidisciplinar é en-
rapeuta treinado pode muito bem exercer sob a supervisão focado com a suposição de que o médico c o paciente pode-
do pncumologista. Não é necessário, para isso, estar em um rão contar com esse tipo de aporte, direta ou indiretamente,
ambiente acadêmico ou em um centro de referência. Fa- seja por meio da rede pública, seja por intermédio de um
lando em termos práticos, o fisioterapeuta é o profissional plano de saúde privado, o que costuma facilitar a assistência,
mais importante no dia a dia de um pneumologista que trata ou mesmo às expensas do próprio paciente.
pacientes com DPOC. Todo pneumologista deve estar asso-
ciado a um grupo de fisioterapia e estabelecer uma ampla
comunicação com ele, não somente no sentido de tratar, mas
também de monitorar um paciente.
Outro profissional que pode ser acionado é o fonoau-
diólogo, para tratamento e acompanhamento de pacientes
com disfagia. Sobretudo em pacientes mais graves, é relati-
vamente comum a incoordenação pneumofonoarticulatória
com dificuldades de deglutição. O questionamento sobre
esse aspecto da vida do paciente é importante, pois a disfagia
orofar(ngea pode resultar em aspiração e consequente piora
dos sintomas.
Psiquiatra ou psicólogo também auxiliam no que se re-
fere ao encaminhamento de questões relacionadas, princi-
palmente, com transtorno depressivo, muito comum nesse
grupo de pacientes.
O nutricionista igualmente auxilia no sentido de for-
necer ao paciente uma suplementação calórico-proteica A consultoria técnica multidisciplinar pode ser feita di-
adequada às suas necessidades alimentares. Todo esse retamente entre os médicos, por meio de questões objetivas
atendimento pode e deve ser integrado e centralizado pelo sobre a situação de determinado paciente, mesmo que este
pneumologista. não esteja envolvido de forma direta nesta interação. No Pa-
vilhão Pereira Filho, como rotina praticada há cinco déca-
das, os pneumologistas discutem seus casos com radiologis-
tas e cirurgiões torácicos nas reuniões semanais do Serviço,
Ocontexto da abordagem ou nos consultórios e até mesmo nos corredores do hospital.
multidisciplinar E as vantagens têm sido imensas para todos, muito particu-
larmente para os pacientes.
Nas últimas décadas, houve grande diversificação de recur-
É uma prática habitual, nas últimas décadas, a de o médi-
sos e intervenções, criando-se centros de referência e clíni-
co fazer um contato com um colega sobre uma determinada
cas específicas de modo que, com frcquência, até dentro de
situação clínica e rapidamente encaminhar-se uma solução
uma mesma especialidade, surgiram subespecialidades.
para o caso do seu paciente. Não apenas no ambiente uni-
Muitos pneumologistas passaram a se dedicar apenas ou
versitário, mas em qualquer circunstância de trabalho isso se
preferencialmente a um setor da pneumologia, como endos-
copia, função pulmonar, reabilitação pulmonar, intensivis- faz cada vez mais necessário. Todos ganham!
mo, pré-operatório, sono, ou mesmo a uma só doença, como
é o caso da hipertensão arterial pulmonar, DPOC, asma,
câncer de pulmão, fibrose cística e fibrose pulmonar. Afinal, quem é o meu doutor?
Esses "subespecialistas" são consultores e participam da
assistência de pacientes que, frequentemente, mantêm-se Essa é uma pergunta preocupante, cada vez mais pensada,
vinculados aos seus respectivos pneumologistas de origem, com frequência pouco ou mal expressada, mas que pode
qualificando e auxiliando muito na condução dos casos. atordoar sobretudo os idosos que têm múltiplos problemas
As condições de trabalho do médico são bastante diver- de saúde e são assistidos por diversos especialistas. Em ge-
sificadas, podendo contar com toda uma estrutura favorável ral, o próprio paciente serve como elo entre os vários pro-
para seu exercício profiSSional, com ambulatório, hospital, fissionais, mas isso pode ser particularmente dificil se for
e recursos para diagnóstico e terapêutica especializados, e portador de limitações comuns dessa faixa etária, como difi-
também com o apoio de diversos especialistas. Essas condi- culdade para locomoção, deficiência de memória, restrição
ções existem no hospital-escola, durante o periodo da gra- financeira e, ainda, se não tiver apoio familiar consistente.
duação e da residência médica No entanto, na maioria das As dificuldades serão ai.n da maiores se ocorrerem interações
vezes, o médico não conta com o pronto acesso a recursos de medicações e discordâncias de condutas.
O mais eficaz, embora os órgãos intermediários do sis-
tema de saúde não o incentivem, é que um médico centrali-
Como escolher um profissional para
ze a assislência e sirva como o primeiro contato, como con- coatendimento de pacientes
selheiro, seja aquele que primeiro avalia e, se necessário,
Alguns itens merecem especial consideração para que o tra-
indica qual especialista deverá ser procurado para deter-
balho conjunto dos especialistas de diferentes áreas tenha a
minada situação. Esta é a figura do "médico de família",
máxima eficácia e não haja contratempos:
que precisa ser resgatada sob pena de a assistencia médica
multidisciplinar ser menos eficaz, mais onerosa e plena de
o Formação ético-profissional adequada
retrabalho.
o Bom perfil na relação médico-paciente.
A formação médica, cada vez mais especializada, preci-
o Acessibilidade.
sa ser também direcionada para a formação de profissionais o Mesmo tipo de vínculo no que se refere aos honorários
com visão abrangente e capazes de organizar a assistência
profissionais.
multidisciplinar, particularmente para pacientes idosos, pois o Parceria (bilateral idade).
seu número está em franco crescimento e já ocupa uma im-
o Preferencialmente, trabalho na mesma instituição.
portante fatia no mercado da assistência à saúde. Este será o Uma forma de bem indicar para seu paciente outro pro-
um bom desafio para os próximos anos: que os convênios, fissional é perguntar-se a si mesmo se consultaria com
seguradoras de saúde e cooperativas incentivem e valorizem este colega e se o indicaria para assistir um familiar ou
um modelo assistencial multidisciplinar organizado. O pneu- um amigo.
mologista, pelo caráter dos problemas que trata c enfrenta,
deve estar apto a ser um centralizador de cuidados para seus
pacientes.
Quando o pneumologista pode solicitar
parecer de outro especialista
Organização da assistência Costumeiramente, nas condutas para intervenção dos seus
multidisciplinar pacientes, o pneumologista, mesmo em se tratando de de-
mandas de outra especialidade, desde que tenha experiên-
Para promover a atuação multidisciplinar, existem itens que cia, pode tomar decisões de ordem diagnóstica e terapêutica
são comuns a todas as áreas no que diz respeito aos encami- sem a participação de outros especialistas, desde que se sinta
nhamentos: seguro. No entanto, dada a enorme quantidade de situações
referentes a outras especialidades e ao pouco tempo que
o Thr sempre à disposição nomes de profissionais com os o pneumologista tem para informar-se dos outros setores,
respectivos contatos. costuma recorrer à consultoria de outros profissionais, con-
o Previamente ao encaminhamento, saber da disponibili- forme circunstâncias e oportunidades. A seguir, citam-se si-
dade e do interesse do colega para esta parceria. tuações comuns:
o Enviar pelo próprio paciente ou diretamente (p. ex., in-
ternet) dados do paciente e os pontos que deseja esclare- o Quando um sintoma respiratório pode ser causado ou
cer com o colega. Se houver exames de imagem, instruir piorado por medicação de outro setor, como nos seguin-
o paciente a levá-los consigo quando da consulta com o tes exemplos:
especialista indicado. a) Paciente com tosse crônica em uso de inibidor da enzi-
o Instruir o paciente a trazer consigo sempre uma relação ma converso.ra da angiotensina, oomo enalapril.
escrita de todos os medicamentos em uso, preferencial- b) Paciente com asma em uso de betabloqueador.
mente a própria prescrição médica. Se houver relatórios
(nota de alta, documento de setor de emergência, ou Nestas situações, sugere-se ao clinico ou cardiologista ou
outro), juntar com seus exames e prescrições. Deve-se oftalmologista a suspensão ou substituição do medicamen-
constituir um prontuário simples com todos esses docu- to. Se necessário, o próprio pneumologista pode fazer essa
mentos. intervenção, sempre com o conhecimento do outro profis-
o Orientar o paciente para que sempre tenha em mãos, sional.
por ocasião de uma consulta médica, as prescrições em
uso, particularmente a mais recente. o É comum que o paciente com DPOC tenha outras co-
o Solicitar ao paciente que, logo após a avaliação com co- morbidades, o que costuma exigir a atenção de diversos
lega de outra área, volte a entrar em contato para conhe- especialistas, pa.r ticularmente quando das exacerbações.
cimento de conduta Não é recomendável que o pneumologista que disponha
o Deixar bem claro ao paciente qual o objetivo do encami- de uma rede de colegas de outras áreas assista seu pa-
nhamento ao especialista indicado e de que hã interesse ciente apenas individualmente. É impossível acompa-
em ter um retomo a respeito da conduta por ele reco- nhar os avanços que vêm ocorrendo nas diversas especia-
mendada. lidades. Exemplos:
a) Quando na revisão de exames bioqulmicos, for ob- nal cuja relação mtdico-paciente esteja adequada Alguns
servada elevação do antígeno prostático especifico exemplos:
(PSA), deve-se encaminhar o paciente ao urologista
• Pacientes com flbrose cística: se houver acesso a um es-
imediatamente.
pecialista de um centro de referência, sem dúvida haverá
b) Quando na revisão bioquímica constatar-se glicemia
acima de 110 mg%, pode-se repetir o teste para con- benefícios para os pacientes, pois ficarão vinculados a
um grupo de profissionais sempre atualizado e com me-
firmação e solicitar outros exames para esclarecimen-
to, como o teste de tolerância à glicose. Se confirmada lhores condições de beneficiá-los.
• Pacientes com sarcoidose: por serem portadores de uma
a elevação, o ideal será encaminhar o paciente ao en-
doença com a qual poucos têm experiência, necessitam
docrinologista.
pelo menos de consultoria ou uma "segunda opinião"
para receberem a conduta mais apropriada. Poderão ser
acompanhados rotineiramente pelo pneumologista da
Quando o pneumologista encaminha sua primeira escolha e fazer revisões com o especialista
da doença em largos intervalos.
seus pacientes a outro especialista • Pacientes com fibrose pulmonar: por ser doença mui·
{exemplos frequentes) tas vezes progressiva e fatal, tais pacientes devem ser
encaminhados a um pneumologista que se dedique es-
• Pacientes do sexo masculino com mais de 50 anos que pecificamente a essa área, em centro de referência que
não fizeram avaliação urológica no último ano; esse limi- também tenha condições de selecionar candidatos para
te de faixa etária diminui para 40 anos se houver caso(s) transplante.
de carcinoma de próstata entre familiares diretos. • Pacientes com hipertensão arterial pulmonar: estes pre-
• Pacientes do sexo feminino que referem não fazer avalia- cisam ingressar em protocolo, uma vez que as interven-
ção ginecológica há mais de um ano. ções - particularmente o desenvolvimento de fármacos
• Pacientes com mais de 50 anos que não fiZeram colonos- -para seu controle são uma constante.
copia há mais de cinco anos; se tiverem familiar direto • Pacientes com probabilidade de beneficiar-se de trans-
com história de carcinoma de cólon, este tempo se reduz plante pulmonar: estes devem ser referidos a um centro
att para um ano, conforme a situação. de transplante para avaliação da possibilidade de entrar
• Pacientes com sintomas de depressão ou transtorno de em lista de espera.
ansiedade (comuns em asma) devem ser enca.minhados
ao psiquiatra
• Pacientes com obesidade, hiperglicemia, dislipidemia Aassistência ao paciente com câncer de
devem ser encaminhados ao endocrinologista e cardiolo-
gista. Pacientes com DPOC com esse perfil apresentam pulmão deve ser multidisciplinar
mortalidade cardiovascular até maior do que por causa O paciente com câncer de pulmão exige do pneumologista,
respiratória. Os pacientes devem ser conscientizados so- em cada fase assistencial, dedicação, argúcia técnica e bom-
bre isso. ·senso que só podem ser bem desempenhados com a partici-
• Pacientes com DPOC com sinais de desnutrição têm pação de outros especialistas:
maior risco de mortalidade respiratória c devem ser en-
caminhados imediatamente ao nutrólogo ou nutricionis- • O radiologista auxilia na fase de diagnóstico pela de-
ta. monstração de locais que possam estar comprometidos
• Pacientes com diagnóstico de carcinoma de pulmão: se e pela obtenção de material de biópsia aspirativa ou lan-
eles apresentarem outras comorbidades, principalmente cetante de lesões pulmonares; na fase de estadiamento,
por doença respiratória, uma consultoria com oncolo- pelo estudo do mediastino e de outros setores extrapul-
gista deve ser realizada, mas não t recomendado que o monares potencialmente comprometidos; e, na fase pós-
pneumologista deixe de acompanhá-los. -intervenção, pelos exames de controle que permitem o
melhor acompanhamento do paciente.
• O patologista e o citologista possibilitam a melhor quali-
ficação para a confirmação do diagnóstico.
Quando o pneumologista encaminha • O cirurgião torácico pode atuar desde a fase de diagnós-
seus pacientes a outro pneumologista tico e estadiamento, e, sobretudo, na conduta terapêuti-
ca quando o caso é cirúrgico.
Cada vez mais o pneumologista se vê frente a determinadas • O oncologista contribui muito com sua experiência, sem-
situações que, embora sejam da própria área da pneumo- pre atualizada, muito particularmente no manejo dos
logia, seja pela gravidade, complexidade ou exigência de protocolos de quimioterapia.
conhecimentos específicos, poderão ser mais bem avalia- • O radioterapeuta será acionado para o tratamento local
das por outros profissionais que trabalhem em centros de do tumor, especialmente quando o mediastino estiver
referência. Todavia, deve ser considerado que uma consul- envolvido ou houver metástases e possibilidade de bene-
toria não impede que o paciente siga com aquele proftssio- ficio com o tratamento radioterápico.
Aética do atendimento multidisciplinar Iras abertas para a comunidade sobre educação em asma,
inclusive disponibilizando-se um manual sobre o tema.
Quando diversos médicos atendem o mesmo paciente, cada
um em disciplina diferente, fazem-se necessários alguns re-
paros, de modo a não ocorrer problemas de relacionamento
nem invasão de áreas de atuação, de parte a parte:
Assistência ambulatorial
Idealmente, o paciente deve eleger um profissional que seja
• Deve-se evitar fazer comentários que possam ser inter- sua referência para todas as questões de saúde e que possa
pretados pelo paciente como crítica ao trabalho do outro organizar sua assistência global. Quem seria este médico? Se
colega. Se houver discordâncias, o melhor é conversar houver uma doença crônica de maior relevância, o especia-
diretamente. lista dessa área será o mais indicado. Por vezes, a empatia e
• Deve-se ter conhecimento mútuo do que se passa nos di- a disposição do médico ajudam nessa escolha. A gravidade
versos setores de coatendimento. da doença, quando se trata de uma pneumopatia, costuma
• Deve comunicar-se, sempre que necessário, quando hou- exigir do pneumologista esse papel.
ver alteração de alguma conduta em outra área que pre- No caso de paciente com grande impacto de sintomas
cise ser reaüzada de forma mais urgente. respiratórios devido à DPOC, um programa de reabilitação
• Uma regra que pode ser considerada é pensar sempre na pulmonar toma necessário que a centralização assistencial
bilateralidade das circunstâncias. seja provida pelo pneumologista, com o auxílio do fisiote-
rapeuta. Na constituição dessa equipe multidisciplinar, são
incluídos outros especialistas, conforme as demandas do
programa.
Asegunda opinião na assistência médica Quando a asma é problema de grande impacto, de difícil
Aqui não se trata propriamente de multidisciplinaridade na controle, pode ser necessária a atuação do otorrinolaringo-
assistência médica, mas da necessidade de verificar se a con- logista - se houver rinossinusopatia crônica, muitas vezes,
duta de diferentes especialistas da mesma área é coincidente uma melhor solução para a asma poderá depender direta-
ou divergente. Essa é uma situação cada vez mais comum, mente da melhor solução para os problemas das vias aéreas
dado que os pacientes têm mais fontes de informação e po- superiores. No caso do refluxo gastresofágico ou da disfagia,
dem ficar inseguros quando se trata da indicação de uma in- o gastrenterologista terá de participar da assistência e, se
tervenção com potencialidade significativa de complicações indicado, o cirurgião torácico ou do aparelho digestivo tam·
ou maus resultados. bém será integrado à equipe.
Recomenda-se que o profissional procurado para uma A assistência de pacientes com câncer de pulmão sempre
segunda opinião restrinja-se a esclarecer as questões técnicas deve ser multidisciplinar, sendo fundamental a coparticipa-
do caso, realize um parecer eminentemente técnico e evite a ção do radiologista na etapa do diagnóstico e do estadiamen-
emissão de críticas aos colegas que o precederam, mesmo to, do oncologista no planejamento e no desenvolvimento do
que discorde da sua conduta. Nesta situação, o melhor é ma- programa terapêutico, e do cirurgião torácico com experiên·
nifestar que "minha conduta no caso é a seguinte..." . cia no setor.
Quando o paciente decide seguir a conduta do profis- Problemas do sono, particularmente insônia e apneias,
sional procurado para a segunda opinião, deve, em primeiro serão mais bem resolvidos pela atuação do especialista em
lugar, desvincular-se do profissional precedente. A partir medicina do sono. Nos últimos anos, muitas manifestações e
daí, a assistência poderá ser assumida dentro dos preceitos agravos para a qualidade de vida têm sido associados a dis-
éticos. túrbios relacionados com o sono.
Leitura recomendada
Referências ABL\t Foundation. American Board of Internai Medicine; ACP-
I. Case Management Soeiety of America. Standards of practke for ·ASlM Foundation. American CoUcge of Physicians-American So-
case management, revised 2010 (lntcmct). Littlc Rock: CMSA; 2010 cicty of lotem ai Medicine; European Fedcration of Internai Medi-
(capturado em 08 jul. 2011 ). Disponível em: http://www.cmsa.org/ cinc. Medicai professionalism in the new millennium: a physician
ponals.WpdC/mcmberonly/StandardsOf Practicc.pdf. charter. Ann lotem Med. 2002;136(3):243-6.
Paulo José Zimermann Teixeira
Danilo Cortozi Berton
85
Introdução urbanos e está exposta a esses poluentes ambientais; o res-
-------------------------- tante que vive nas áreas rurais utiliza a queima de biomassa
para preparação dos alimentos ou para se aquecere, aumen-
tando muito a poluição intradomiciliar.
l!·'•l!@uf1
Poluente aéreo primário
- Amônia (NH,)
- Ozônio (OJ Formado por reações fotoquímicas na presença de poluentes como óxido nítrico, NO, e
compostos orgânicos voláteis
Queima de fogos de artifício
- Material particulado (MP) Emissão de centrais de energia, escapamento de veículos automotores (especialmente diesel),
poeira das estradas de rodagens e outras fontes antropogênicas
I~
Partículas totais em suspensão
m:4lifl·lJ 'M·fUZ!rl4M
24 hora.s• 240 I SO Amestrador de grandes volumes
MGA 80 60
ic.:n ••l·t1.: 1
Boa o-so o-5o o-ao o-4.5 o-too o-ao
maior do ponto de vista de saúde pública do que exposições Na inativação de um agente oxidante, ocorre produ-
curtas. Essas exposições crônicas ocorrem repetidamente ção oxidante da glutationa reduzida (GSSG) e depleção
durante um longo perlodo de tempo, até vários anos. de GSH. Em situações em que o sistema de oxidorredução
está íntegro, haverá recuperação da GSH. Entretanto, sob
condições de excesso de agentes oxidantes e/ou deficiência
do sistema protetor, haverá desequilibrio entre o consumo
Como a poluição lesa o pulmão de GSH e a produção de GSSG, caracterizando o estresse
O principal efeito que a poluição causa no pulmão ocorre pela oxidativo, podendo a razão GSSG/ GSH ser o ponto de mo-
indução de espécies reativas de oxigênio (ERO) que aumen- nitoração. Dessa forma, poluentes ambientais do ar causam
tam o estresse oxidativo, gerando uma resposta inflamatória não somente o estresse oxidativo induzido pela inflamação
que, ao ganhar a corrente sangulnea, afeta também outros das vias aéreas, mas também uma resposta inflamatória sis-
órgãos. Foi demonstrado que a exposição de voluntários nor- têmica pela estimulação da medula óssea para liberar células
mais a um único perlodo de aproximadamente uma hora em inflamatórias na corrente sangulnea.
áreas de tráfego pesado, com abundante exaustão de diese~ O organismo humano oferece resistência a essa resposta
aumenta o número de ncutróftlos, linfócitos Te mastócitos na na dependência da quantidade de defesa ant.ioxidante, que
mucosa das vias aéreas, sendo também acompanhada por au- compreende GSH, vitamina C, vitamina A, ácido úrico e
mento dos mediadores inflamatórios no pulmão (histamina, CO. Dentre esses, a GSH é o mais potente antioxidante que
fibronectina, intcrlcueina 8 e oncogene-a), além de uma res- protege o pulmão dos efeitos da poluição.
posta inflamatória sistêmica associada ao aumento dos níveis Mutações nos genes responsáveis pela slntese de GSH
de neutrófilos circulantes c plaquetas no sangue periférico. reduzida têm mostrado associação com grandes reduções
Os sistemas biológicos são continuamente expostos aos na função pulmonar após a exposição ao Ov grande respos-
oxidantes, em geral por meio de reações metabólicas endó- ta alérgica e redução da função pulmonar após a exposição a
genas ou exógenas (poluentes no ar ou cigarro). O aumento partículas de escapamento de diesel. A mutação da g)utationa
da produção das ERO tem ligação direta com oxidação pro- S-transferase (GSMTl), que está associada a uma diminuição
teica, DNA e lip!deos, que causam doenças pulmonares ou na produção de GSSG, é vista em aproximadamente 50% da
induzem a uma série de respostas celulares através do me- população global e varia de 25 a 75% em diferentes países.
tabolismo das espécies reativas. As ERO podem alterar o Parece que individuas com esse tipo de mutação são mais
remodelamento da matriz extracelular, a apoptose e a respi- suscetíveis aos efeitos dos poluentes. Polimorfismos entre os
ração mitocondrial, a proliferação celular, a manutenção do genes adenina nicotinamida dinucleotldeo fosfato (NADPH)
surfactanle, a defesa antiprotease, a efetividade de resposta e quinina oxidorredutasc 1 (NQOl) têm demonstrado modifi-
de reparo alveolar e a modulação imune no pulmão. car os sintomas respiratórios, a função pulmonar e o risco de
O sistema de defesa antioxidante (primeira linha de de- asma em resposta ao 0 3 e particulas de escapamento de die-
fesa contra as ERO) é essencial para o equilibrio entre os sel. Esses e outros estudos experimentais indicam que o dano
agentes oxidorredutores (como as ERO) nos sistemas aeró- causado pelos poluentes pode ser determinado geneticamente.
bios. Para se proteger, a célula possui um sistema de defesa
que pode atuar em duas linhas. Uma delas atua como deto-
xificadora do agente antes que ele cause lesão, sendo cons-
tituída por glutationa (GSH), necessária para a síntese de Impacto da poluição ambiental na saúde
DNA, prote!nas e algumas prostaglandinas, superóxido-dis-
mutase (SOD), catalase, glutationa-peroxidase (GSH-Px) e
respiratória
vitamina E. A outra linha atua reparando a lesão ocorrida, É possível observar que, ao longo dos últimos anos, vem cres-
sendo constituída por ácido ascórbico, g)utationa-redutase cendo a preocupação da população acerca dos possiveis efei-
(GSH-Rd) e GSH-Px, entre outros. tos adversos sobre a saúde causados pela exposição à poluição
do ar, particularmente nos grandes centros urbanos. Na pri- Nesse mesmo estudo, as hospitalizações por pneumonia
meira metade do século XX, episódios de alta concentração de também estavam associadas a esses poluentes, porém com
poluentes - como os observados no Vale do Mosa na Bélgica menor magnítude, e as internações por doença pulmonar
em 1930, em Donora na Pensilvânia em 1948 e em Londres no obstrutiva crônica (DPOC) nos idosos apresentavam maior
inverno de 1952-53 - iniciam os alertas das autoridades para o RR Foi também observado um aumento de 8% de mortes
grave problema da poluição do ar sobre a saúde humana. em DPOC e de 13% de mortes por pneumonias em idosos
No Brasil, alguns estudos investigatórios dos efeitos da em decorrência do aumento desses poluentes.
poluição do ar sobre a saúde humana encontraram associa- O aumento de partículas finas e ultrafinas tem sido asso-
ções estatisticamente significativas com mortalidade infantil, ciado às exacerbações de asma em adolescentes e, também, à
mortalidade em idosos, e internações hospitalares em crian- patogênese da asma nos primeiros oito anos de vida (QUADRO
ças e adultos por causas respiratórias. 85.2 e TABELA 85.3).
Um desses estudos avaliou o RR para mortes ou inter- Um estudo demonstrou que a redução importante dos
nações correspondentes ao aumento de 10 p.g/m3 nos níveis níveis de poluição do ar diminuiria as visitas por asma na
dos poluentes, e os autores observaram que tanto as mortes emergência de 22% para 6%, a prevalência de bronquite, de
quanto as internações de crianças e idosos devido a doenças 40% para 20%, o absenteísmo na escola por asma reduzi-
respiratórias e do aparelho circulatório mostraram associa- ria em dois terços e novos casos de asma em crianças que
ções com PM,O> CO e S02" O aumento percentual de inter- residem em áreas muito poluídas diminuiriam 75%. Dessa
nações em crianças por doença respiratória foi de 1,8% e forma, é importante a participação cada vez maior dos médi-
6,7% para PM10 e S02 e, em idosos, foi de 10,8%. O aumen- cos nos sistemas governamentais de saúde, bem como a mo-
to no percentual de mortalidade por doenças respiratórias bilização das associações médicas no sentido de buscar uma
foi de 0,9% para PM 10> 13,7% para CO e de 5,3% para S02 • melhor qualidade do ar, especialmente nos centros urbanos.
Traqueia e brônquios Irritação das mucosas, inflamação local, alteração nos componentes do muco, migração de células inflamatórias e
células de defesa.
Alteração da atividade ciliar, redução da depuração mucociliar.
Constrição dos brônquios por espasmo da musculatura lisa e edema da mucosa.
Circulação Inflamação do endotélio dos vasos sanguíneos, aumento da formação de placas, coagulação e trombose.
Regular 51-100 Pessoas de grupos sensíveis (crianças, idosos e portadores de doenças respiratórias e cardíacas) podem
apresentar sintomas como tosse seca e cansaço. Apopulação, em geral, não é afetada.
Inadequada 101 -1 99 Toda a população pode apresentar sintomas como tosse seca, cansaço, ardor nos olhos, nariz e garganta.
Pessoas de grupos sensíveis (crianças, idosos e portadores de doenças respiratórias e cardíacas) podem
apresentar efeitos mais sérios na saúde.
Má 200-299 Toda a população pode apresentar agravamento dos sintomas como tosse seca, cansaço, ardor nos olhos, nariz
e garganta, além de falta de ar e respiração ofegante. Efeitos ainda mais graves à saúde ocorrem em grupos
sensíveis (crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias e cardíacas).
Péssima >299 Toda a população pode apresentar sérios riscos de manifestações de doenças respiratórias e cardiovasculares.
Há aumento de mortes prematuras em pessoas de grupos sensíveis.
0 ATENÇÃO
a) pressão parcial de C0 2 (PaCO~ maior do que 45 mmHg
para os pacientes sem envolvimento respiratório crônico
prévio; b) PaC02 >50 mmHg ou aumento maior do que 10
Insuficiência respiratória é, dessa forma, um desequi-
mmHg sobre a PaC0 2 basal, com pH < 7,30 nas situações
lfbrio funcional que acontece devido à incapacidade
de envolvimento respiratório crônico prévio. Embora arbi-
de manutenção da adequada oxigenação dos teci- trária, tal definição tem utilidade clínica, pois denota uma
dos e consequente eliminação do dióxido de carbo-
anormalidade funcional grave que acarreta risco à vida e
no produzido no organismo.
exige intervenção imediata. Além disso, a caracterização do
tipo de insuficiência respiratória facilita a busca diagnóstica
da causa especifica, bem como proporciona manejo prático
Quanto à duração e à rapidez com que se instala, a insu- imediato.
ficiência respiratória pode ser dividida em aguda e crônica . Outra maneira de entender a insuficiência respiratória
Constituem exemplos de insuficiência respiratória aguda a é pelas etapas do ciclo pulmonar. Essa divisão esquemáti-
crise asmática, a lesão pulmonar aguda ou a síndrome da ca auxilia na compreensão dos diversos mecanismos pelos
distrição respiratória do adulto (SDRA), a bronquiolite vi- quais as doenças que acometem os pulmões determinam a
ra! aguda da criança, entre outras. A bronquite crônica, o insuficiência respiratória, facilitando o reconhecimento de
enfisema pulmonar e as fibroses pulmonares são exemplos situações em que certa doença apresenta mecanismo fisiopa-
togênico simultâneo. Assim, é possível dividir a insuficiência Nos quadros de disfunção do dril't respiratório, na maio-
respiratória em l'tnlilatória e all'tolocapilar. ria dos casos, há necessidade de entubação orotraqueal e
Na insuficiência ventilatória, ocorre uma incapacidade ventilação mecânica, para compensar a depressão respira-
dos pulmões de movimentar o ar entre o meio ambiente e tória, enquanto se afastam as causas determinantes como
os alvéolos. Na alveolocapilar, existe uma incapacidade dos fãrmaoos sedativos e alcalose metaból.ica.
pulmões de assegurar adequada mobilização gasosa entre os As disfunções neuromusculares decorrentes de trauma-
alvéolos e o fluxo sangufneo capilar. O QUADRO 86.1 demons- tismo raquimedular, as polineuropatias, polirradiculoneuri-
tra os tipos de insuficiência respiratória. te, entre outras, exigem uma abordagem diagnóstica etioló-
gica para tomar a terapêutica adequada.
Correção da hipoxemia arterial e ventilação Carvalho CRR de, Franca SA, Okamoto VN, organizadores. IIl
A maioria dos pacientes com insuficiência respiratória pre- Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. J Bras Pncumol.
2007;33(Sup12):S51-150.
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José Augusto Santos Pellegrini
Moreno Calcagnotto dos Santos
87
Patrícia Schwa rz
Paula Pinheiro Berto
ai : Somar os pontos dos escores edividir pelo número de parâmetros utilizados (SDRA = USS > l .S).
Fonte: Murray ecolaboradores.'
SDRA de 2,3%, com taxas de mortalidade durante a inter- res. A presença de membranas hialinas, que preenchem os
nação na unidade de terapia intensiva (UTI) e no hospital de alvéolos e as paredes dos duetos alveolares, geralmente é
44 e 48%, respectivamente. 5 A mortalidade associada à LPN vista após 48 horas.
SDRA, embora tenha diminuído nos últimos anos, permane- A fase fibroproliferativa ocorre ao redor da segunda se-
ce elevada, variando de 31 a 74%, sendo a principal causa de mana e é uma reação reparadora do tecido pulmonar que so-
morte a falência múltipla de órgãos. freu a lesão. Caracteriza-se por proliferação de pneumócitos
do tipo li, proliferação fibroblástica e fragmentos de mem-
branas hialinas. Os miofibroblastos do interstício migram
para dentro do alvéolo e aderem à superfície da membrana
Fisiopatologia basal danificada. Nesta fase, o processo pode regredir sem
A LPNSDRA é associada a dano alveolar difuso e lesão do deixar sequelas no parênquíma pulmonar.
endotélio capilar pulmonar. A LPNSDRA precoce é earac- Se, no entanto, os miofibroblastos se tornarem mais ati-
terizada por aumento da permeabilidade da barreira alveolo- vados e produzirem colágeno, a fibroproliferação e a deposi-
capilar. Essa barreira é formada pelo endotélio microvascular ção de colágeno determinarão um remodelamento da estru-
e pela camada epitelial dos alvéolos, e insultos em qualquer tura parenquimatosa. Os septos alveolares apresentarão um
uma dessas estruturas pode resultar em LPNSDRA. espessamento denso. Os espaços aéreos estarão irregulares
A lesão do endotélio capilar pulmonar resulta em au- e alargados, em consequência do processo de reestruturação
mento da permeabilidade capilar e entrada de fluido rico em fibrótica, resultando em microcistos, mais proeminentes nas
proteínas plasmáticas no espaço alveolar. Ocorre ativação zonas subpleurais.
endotelial, resultando em liberação de citocinas pró-infla-
matórias, sequestro e ativação plaquetária e intensa reação
inflamatória aguda. Essa resposta é seguida por apoptose e Causas
necrose celular e recrutamento de neutrófilos. A liberação
de fatores de crescimento e pró-fibróticos pode levar a cura Os fatores de risco para o desenvolvimento da SDRA são
divididos em lesão direta e indireta pelo fato de causarem
e/ou remodelamento. 6
respostas diferentes na mecânica respiratória e por apresen-
A alteração na troca gasosa deve-se ao desequilíbrio entre
tarem desfechos diferentes. 6 Sepse é a causa mais comum de
ventilação e perfusão. O preenchimento alveolar e a perda da
SDRA e a que tem pior prognóstico, enquanto contusão pul-
função surfactante levam à redução da complacência pulmo-
monar é a que apresenta menor mortalidade. As principais
nar. Já a elevação da pressão arterial pulmonar é causada por
causas estão citadas no QUADRO 87 .3.
vasoconstrição hipóxica, compressão vascular pela pressão
positiva na via aérea, destruição do parênquíma pulmonar ou
colapso da via aérea, hipercapnia e vasoeonstritores pulmona-
res. Normalização da pressão arterial pulmonar oeorre quan- Estratégias terapêuticas
do há resolução da sindrome. O desenvolvimento de hiper-
tensão pulmonar progressiva é associado a pior prognóstico. Estratégias ventilatórias
Refinamentos nas técnicas de ventilação mecânica e no cui-
dado do paciente crítico levaram à redução na mortalidade
Estágios clinicopatológicos da LPAISDRA atribuível a SDRA nas primeiras décadas da sua história. Na
A fase exsudativa compreende as primeiras 24 a 96 horas década de 1990 houve estabilização desses índices, e desde
após o insulto. Caracteriza-se por edema intersticial e alveo- então a busca por melhorias neste sentido tem sido intensa,
lar, degeneração epitelial e congestão das paredes alveola- ainda que com resultados modestos em sua maioria.
QUADRO 87.3 ~ Causas de SDRA Volume corrente
IID!9•H.•3f \
O volume corrente (VC) em indivíduos em repouso varia
entre 5 e 7 miJkg.
O advento da tomografia computadorizada revelou que
Causas comuns Causas comuns o dano alveolar é heterogêneo, predominante nas porções
- Pneumonia - Sepse
- Aspiraç~o de conteúdo dependentes dos pulmões, em oposição a porções aeradas,
- Politrauma graYl!
gástrico minimamente danificadas. A essa porção de parênquima
pulmonar relativamente preservada deu-se o nome de baby
Causas incomuns Causas incomuns lung. 1
- Contusão pulmonar - Pancreatite aguda Durante a inspiração em pacientes com SDRA, o VC se
- Lesão pulmonar induzida pelo - Transfu~ de hemoderivados distribui de maneira heterogênea, tendendo a deslocar-se
wnti ador (VIU) - Circulaç&o mracOtpórea para insuflação do baby lung, pela menor resistência encon-
- Embo~a gOtdurosa - Drogas trada. Resulta dai híperinsuflação e estiramento das unida-
- Quase-afogamento
des alveolares preservadas.
- lnjúna por inalação
- Injúria de reperlusão após Embora o termo barotrauma tenha sido o primeiro a
transplante pulmonar ou ser relacionado com VI LI, existem evídências que indicam
embolectomia que o grau de insuOação pulmonar é mais importante para
o dano alveolar do que propriamente a pressão aplicada.3
Tais achados ressaltam a importãncía do VC c do canse-
quente volutrauma na fisiopatologia da SDRA e da VIL!,
Lesão pulmonar induzida pelo ventilador e substanciam o conceito de que a pressão de pico na via
A ventilação mecânica é fundamen tal no tralamento dos aérea possui menor contribuição no desenvolvimento de
pacientes com insuficiência respiratória aguda; entretanto, dano induzido pela ventilação mecânica. Mesmo com base
pode resultar em lesão pulmonar induzida pelo ventilador em evidências experimentais, o American CoUege of Chest
(VIL!). O reconhecimento da indução de dano estrutural Pbysicians publicou em 1993 recomendações para o manejo
ao parênquima pulmonar causado pela ventilação mecânica da ventilação mecânica em pacientes com SDRA que in-
com pressão positiva - ou negaúva - foi essencial para me- cluíam a redução do VC caso a pressão de platô excedesse
lhor compreensão e tratamento da SDRA. 35cmH 2 o.•
Dessa forma, é possível considerar que o dano induzido Quatro ensaios clinicas foram delineados no fmal dos
pela ventilação mecânica pode ser exercido por meio de qua- anos de 1990 para testar a hipótese de que ventilação com
tro mecanismos básicos: VC reduzido (p. ex., 6 ml/kg) seria benéfica para pacientes
com SDRA, em comparação com estratégias ditas "tradicio-
o Barotrauma: aplicação de pressão transpulmonar exces- nais" (VC de 10 a 15 mUk~J· Somente o estudo conduzido
siva, resultando em pneumotórax, pneumomediastino, por Amato e colaboradores demonstraram redução signifi-
enfisema subcutâneo. cativa da mortalidade em 28 dias em comparação com uma
o Volutrauma: aplicação de volume corrente excessivo so- estratégia controle com VC de 12 mUkg.
bre a unidade alveolar. Como forma de responder mais consistentemente à
• Atelectrauma: esúramento repetido durante abertura e questão, o Acute Respiratory Distress Syndrome Network
fechamento dos alvéolos. - ARDSNet, filiado ao NIH, desenvolveu o ARMA trial
• Biotrauma: resposta inflamatória desencadeada pela (Respiratory Management in ALIJARDS). 11 Comparou -
deformação das células alveolares, resultando em danos -se, em 861 pacientes, uma estratégia tradicional (VC de
à distância. Ocorre pela liberação de mediadores infla- 12 mUkg, pressão de platô até 50 c~O) com uma es-
matórios na circulação sistêmica, podendo explicar por tratégia protetora (VC de 6 mlJkg, pressão de platô até
que os indivíduos portadores de SDRA frequentemente 30 cmHp), com pressão positiva ao final da expiração
evoluem para disfunção mulúorgânica e óbito. (PEEP) e Fi0 2 predeterminados por uma escala arbitrá-
ria. Verificou-se uma redução absoluta de mortalidade de
Esses mecanismos, em conjunto com a heterogeneidade 9% (40 vs. 31% ), com um aumento no número de dias fora
do dano alveolar inerente à SDRA, à dcficiencia de surfactan- de ventilação c redução das taxas de falência orgânica cx-
tc e ao uso de altas frações inspiradas de oxigênio, são respon- trapulmonar.
sáveis pelo espectro de alterações compreendidas por VIU. No ensaio clfníco mais recente, ARIES, os investigado-
res verificaram uma redução significativa na mortalidade em
UTI (53 vs. 32% ), na mortalidade hospitalar e no tempo de
~ ATENÇÃO ventilação mecãnica,12 sugerindo um efeito sinergístíco entre
redução de VC e aplicação de PEEP elevada.
A5 estratégias ventilatórias para tratamento da SDRA A aceitação desses resultados não tem sido uniforme na
utilizam em sua essência formas de antagonizar ou comunidade científica. Entretanto, parece claro que um VC
atenuar a lesão pulmonar induzida pelo ventilador, como 10 a 12 ml.Jkg resulta em efeitos deletérios, especial-
o que tem sido denominado •ventilação protetora•. mente pela resultante elevação da pressão de platô.
Titulação da PEEP
~ ATENÇÃO Entre os estudos que avaliaram a efetividade da PEEP, exis-
te significativa variabilidade na metodologia de seleção da
De acordo com as recomendações do terceiro Con- PEEP. Talvez a resposta a esta incongruência seja que cada
senso Brasileiro de Ventilação Mecânica, 13 "altos vo- indivíduo possui uma mecânica ventilatória própria e uma
lumes correntes, associados a altas pressões de platô distribuição diferente do dano alveolar. Sendo assim, a de-
(... ), devem ser evitados em pacientes com SORA, e terminação arbitrária de um valor de PEEP a um grupo
volume corrente baixo (menor ou igual a 6 ml/kg de heterogêneo de pacientes não deve resultar em benefícios
peso corporal predito) e manutenção da pressão de significativos.
platô abaixo de 30 cmH,O são recomendados - Re- Nos últimos anos, técnicas complementares de imagem
comendação Grau A". 16
têm atraído interesse. Gattinoni e colaboradores, por meio
da avaliação tomográfica, encontraram ampla variabilidade
na porcentagem de parênquima pulmonar passível de recru-
tamento, sendo que este valor foi diretamente relacionado
Modo ventilatório com a responsividade à PEEP.
Não há estudos avaliando o modo ventilatório em relação No manejo do paciente à beira do leito, afirmamos que
a desfechos na SDRA. Os principais ensaios clínicos em a evidência disponível não é suficiente para determinar qual
SDRA utilizaram como modo ventilatório o modo assistido a melhor forma de selecionar a PEEP para pacientes com
controlado a volume, pois permite um controle direto do VC SDRA. A utilização de PEEP de 10 a 15 cmHzO parece ser
e monitoração direta da pressão de platô, importantes no apropriada na maioria dos indivíduos.
manejo da SDRA. Níveis mais elevados podem ser necessários e devem ser
aplicados quando um maior potencial para recrutamento
Aplicação da PEEP puder ser demonstrado por algum método de imagem.
A estratégia de ventilação protetora visa reduzir a distensão
alveolar bem como a pressurização excessiva da via aérea. A Fração inspirada de oxig~nio
contrapartida destas medidas é a promoção à ocorrência de Integra as recomendações-padrão para a ventilação mecâ-
áreas de atelectasia por hipoventilação, deteriorando ainda nica de pacientes portadores de SDRA' 3 a recomendação
mais a relação ventilação-perfusão. Grau D de que a Fi02 deve ser mantida abaixo de 60% sem-
A utilização de PEEP tem como objetivo manter estas pre que possível, mantendo uma Pa02 acima de 60 mmHg e
porções alveolares aeradas ao término da fase expiratória, Sa02 acima de 90%, tendo em vista os potenciais riscos de
minimizando a lesão de abertura e fechamento alveolar, o atelectasia de reabsorção e de indução de espécies reativas
atelectrauma. O resultado dessa intervenção pode ocasionar de oxigênio.
melhora da aeração e consequente melhora da relação venti-
lação-perfusão. Porém, pode causar hiperdistensão alveolar,
resultando em piora da complacência pulmonar e acidose Hipercapnia permissiva
respiratória. Em paralelo com o desenvolvimento de ventilação proteto-
Em 2004, o ARDSNet publicou os resultados do protoco- ra, tomou-se necessária a tolerância à hipoventilação alveo-
lo ALVEO LI. " Pacientes portadores de SDRA ou LPA foram lar, retenção de C02 e acidose respiratória, que recebeu a
randomizados para um grupo intervenção (PEEP elevada) alcunha de hipercapnia permissiva.
ou para o grupo-controle (PEEP baixa), ambos obedecendo Muitos são os efeitos fisiológicos da hipercapnia, incluin-
a uma tabela de adequação da PEEP à Fi02 necessária Todos do estimulação da ventilação-minuto, sensação de dispneia
os pacientes receberam VC de 6 mUkg. Os pacientes do gru- e desconforto, frequentemente exigindo sedação ou parali-
po intervenção apresentaram melhora de oxigenação, porém sia farmacológica, aumento do débito cardíaco, resistência
não houve diferença de mortalidade hospitalar. a vasopressores, depressão miocárdica e aumento do fluxo
Em 2010, publicou-se uma metanálise 15 avaliando o uso saguíneo cerebral, podendo resultar em hipertensão intra-
de PEEP em pacientes com SDRA. No grupo com PEEP craniana, herniação e hemorragia cerebral.
elevada e relação PaOJFi0 2 abaixo de 200 mmHg, houve Alguns estudos clínicos que utilizaram hipercapnia" pre-
redução de mortalidade na UTI, mas não na mortalidade viam a administração de bicarbonato de sódio no intuito de
hospitalar. antagonizar a acidose resultante. A fundamentação teórica
Em suma, a aplicação de PE EP elevada para o tratamen- desta abordagem tem sido questionada. A hipercapnia na vi-
to de pacientes com SDRA possui efeito significativo em gência de pH normalizado farmacologicamente também está
oxigenação e variáveis fisiológicas reproduzidas em diversos associada a aumento da indução de apoptose, disfunção de
estudos. Essa intervenção parece conferir benefício em mor- surfactante e acidose intracelular.
talidade, ainda que de pequena monta e apenas no espectro O Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica gradua
de pacientes com diagnóstico preciso de SDRA, não agre- como "/!C a recomendação de que" ... hipercapnia permissiva
gando efeitos benéficos em pacientes com LPA, podendo, pode ser tolerada em pacientes com SDRA, se necessário,
inclusive, ser deletéria. para minimizar a pressão de platô e o VC". 13
Recrutamento alveolar frações inspiradas de oxigênio. Parece haver benefício nos
No contexto de ventilação protetora se insere a proposta de casos de hipoxemia grave, definida por Pa0/fi02 abaixo de
recrutamento alveolar como forma de atenuar ou mesmo 100, embora sugira-se que mesmo uma relação de 140 possa
reverter o colapso de unidades alveolares característico da obter melhora de sobrevida.
SDRA, por meio de manobras que elevem transitoriamente
a pressão transpulmonar.'Il:ata-sc de urna insuflação profun- Ventilação mecânica não invasiva
da c sustentada, com o intuito de abrir - ou recrutar- áreas O uso de ventilação mecânica não iovasiva (VMNI) na
pulmonares sob risco de colapso, mantendo-as abertas na SDRA não está recomendado de forma corriqueira. Caso
sequência por meio da aplicação de PEEP. seja considerado uma opção, deve ser restrito a casos sele·
Em metanálise de 40 estudos, 17 verifica-se de fato melho- ciooados em que se deseja evitar a via aérea invasiva, como
ra significativa, embora efêmera, da oxigenação. Hipotensão no contexto de imunossupressão, mantendo cautelosa mo-
(12%) e dessaturação (8%) foram os efeitos adversos mais nitoração.
frequentes. A mortalidade foi de 38%, sirnila.r à da popula-
ção de pacientes com lPA.
O uso rotineiro das manobras de recrutamento não está Ventilação espontânea
recomendado no tratamento da SDRA. lbdavia, por tratar--se A utilização de ventilação mecânica controlada no trata·
de uma intervenção razoavelmente segura, c pelo fato de al- menta da SDRA tem com tradicional objetivo promover
guns pacientes apresentarem melhora de hipoxemia após sua repouso à musculatura respiratória, reduzindo o consumo
aplicação, pode ser considerada. A manobra deve ser seguida de oxigênio e o trabalho respiratório. Embora este racio-
de titulação de PEEP para manter seus resultados por mais cínio permaneça válido, ao menos nas fases mais agudas,
tempo, conforme as recomendações do Consenso Brasileiro crescente atenção tem sido dada aos métodos veotilatórios
de Ventilação Mecânica, recomendação Grau B. que permitem a manutenção do drive respiratório. A venti·
Diversas são as manobras que podem ser utilizadas, não lação controlada está associada a maior necessidade de se-
havendo evidência suficiente para definir a manobra supe· dação, com seus paraefeitos associados. Com base nos pou-
rior. Em situações de hipoxemia refratá.ria, sugere-se a rea- cos dados disponlvcis, pode-se sugerir que as ventilações
lização da manobra descrita no Consenso Brasileiro de Ven- espontãneas devam ser liberadas tão cedo quanto posslvel,
tilação Mecãnica. u mesmo na presença de disfunção ventilatória moderada a
grave.
Posição prona
A heterogeneidade da injúria pulmonar na SDRA, compre- Ventilação oscilatória de alta frequência
dileção do acometimento de porções dependentes, faz da A ventilação oscilatória de alla frequêocia permite uma es-
posição prona uma opção terapêutica. tratégia protetora por utilizar VCs extremamente baixos (1
Em situações de lesão pulmonar, na posição supina, as a 4 ml./kg). A rápida frequência respiratória (entre 60 e 900
pressões intrapleurais das porções dorsais dependentes po· respirações/minuto) garante a adequada troca gasosa, o bai-
dem exceder o zero, contribuindo para colapso da via aé- xo VC evita a hiperdistensão pulmonar e a constante pressão
rea e promoção de atelectasia regional. O VC será desviado média na via aérea mantém o recrutamento alveolar. Apesar
para porções anteriores, não dependentes. A perfusão, no de poder melhorar a oxigenação, não há benefício em redu·
entanto, direciona-se posteriormente, resultando no com- ção de mortalidade e, portanto, não pode ser recomendada
prometimento da relação ventilação-perfusão. em adultos com LPAISDRA.
Na posição prona, o gradiente de pressão pleural se dá
de forma menos acentuada. A ventilação das regiões dorsais
é facilitada pela retirada do peso que o coração e os órgãos
Ventilação parcial líquida e SDRA
abdominais impunham sobre os pulmões. A pressão trans- Na ventilação parcial liquida, os pulmões são parcialmente
pulmonar transmite-se de maneira mais uniforme, resultan- preenchidos com perfluorcarbono (PFC), um liquido inerte, e
do em melhora da relação ventilação-perfusão. ventilados com respiradores-padrão. Em um estudo randomi·
A ventilação prooa é usada no tratamento da hipoxemia zado em SDRA, os resultados foram oegativos.18 Ocorreu tem·
refratária. Observa-se também redução do C02 • Estudos po maior de ventilação mecânica e complicações no grupo de
clínicos sugerem que a posição prooa pode retardar a pro- tratamento. Considerando tais resultados, a ventilação parcial
gressão de VIU e atenuar a resposta inflamatória sistêmica líquida não é recomendada para pacientes adultos com SDRA.
associada.
A posição prooa tem riscos próprios: edema facial, úlce-
ras de pressão anteriores, deslocamento de cateteres veno-
Estratégias farmacológicas
sos ou tubo endotraqueal. Embora infrequeotes, devem ser Corticoides
considerados, urna vez que seus beneficios não estão consis- Em razão de tratar-se de uma entidade com desenvolvimen-
tentemente documentados. to relacionado com resposta inflamatória sistêmica, tem ha·
Esta medida pode ser considerada naqueles pacientes vido interesse no potencial benéfico dos corticoides no tra·
graves, com hipoxemia refratária a PEEP elevada e altas lamento da SDRA.
Prevenção da SDRA Apesar da ausência de evidência de que o NO melhore a
Thndo como substrato o uso de corticoide na prevenção de sobrevida, ele pode ser ulilizado como terapia de resgate nos
SDRA associada à embolia gordurosa, tomou-se atrativo o casos de bipoxemia refratária. Uma melhora na oxigenação
estudo de estratégia semelhante em pacientes clínicos, no clinicamente relevante após o início da terapia com NO deve
contexto de sepse grave e choque séptico. Porém, os ensaios ser observada para justificar seu uso continuado. Estudos so-
não mostraram beneficio do uso de corticoide na prevenção bre dose de NOll.2 1 sugerem que o pico da oxigenação acon-
daSDRA. tece com uma dose de NO menor ou igual a 20 ppm.
oxigenoterapia
O oxigênio, como qualquer outro fármaco, deve ser prescrito
em uma dose adequada, a qual deve levar em conta o flu-
xo de oxigênio (em Umin), o dispositivo fornecedor do gás,
[I] ATENÇÃO
como cateter nasal, óculos nasal e máscara (simples, de Ven- Na IR hipox!mica, há aumento do gradiente (A-a)01 •
turi, com reservatório), e o tempo de utilização para atingir-
A IR hipercápnica é caracterizada pela falência ventila- 1,34 = capacidade de earreameoto de O, da hemoglobina a
tória com a consequente elevação da PaC02• Existem três 37"C,emmUg
mecanismos causais da IR hipercápnica: 1) estímulo neural Sat0 1 = % de hemoglobina saturada de 0 1
insuficiente diante da demanda; 2) anormalidade mecânica Pa01 = pressão parcial de oxigênio anerial, em mmHg
na parede torácica; e 3) carga inspiratória e xcessiva. 0,0031 = coeficiente de solubilidade do oxigênio no plasma
onde:
OC = débito eardfaco, em mUminlm'
QUADRO 88.1 ~ Indicações para oxigenoterapia em situações agudas QUADRO 88.2 ~ Indicações para oxigenoterapia a longo prazo
em situações crónicas
Absolutas
- Hipoxemia aguda (PaO, < 60 mmHg; Sat01 < 90%) Absoluta
- Parada cardiorrespiratória - Pa02 S 55 mmHg ou Sat02 S 88%
- Hipotensão arterial (pressão sistólica < 90 e/ou pressão diastólica
< 60 mmHg) Relativas
- Débito cardíaco reduzido e acidose metabólica (bicarbonato < 18 - Presença de cor pu/mona/e
mmolll) - Pa02 de 55 a 59 mmHg ou Sat0 2 s 89%
- Esforço respiratório aumentado (frequência respiratória > 24 - Evidência de onda p "pulmonale" no eletrocardiograma
mrpm) - Hematócrito > 55%
- Insuficiência cardíaca congestiva
Relativas - Somente em situações especificas (Pa02 ~ 60 mmHg ou Sat02 ~
- Infarto do miocárdio não complicado 90%)
- Angina pectoris - Com doença pulmonar e dessaturação noturna não corrigível
- Dispneia sem hipoxemia com pressão positiva contínua nas vias aérea.s (CPAP)
- Anemia de células falciformes - Com dessaturação ao exercício (Pa01 S 55 mmHg)
f<lnte: Modificado de ACCP·NHlBI National Conferente on Oxigen Therapy.' Fonte: Modificado de Kim e Criner. 3
QUADRO 88.3 7 Sistemas para administração de oxigenoterapia
• CASO CLÍNICO 4. Rivcrs EP, Kruse JA, Jaeobsen G, Shah K, Loomba M, Otero
R, ct ai. The influence of early hcmodynamie optimization on bio-
Paciente com DPOC grave e cor pu/mona/e está inter· marker patterns of scvere sepsis aod septic shock. Crit Care Med.
nado há alguns dias para compensação do quadro de 2007;35(9):2016-24.
IR. Como parte dos cuidados terapêuticos, encontra-se
5. ACCP-NHLBI National Confercnce on Oxygen Therapy. Chcst.
recebendo diurético, broncodilatadores, corticoide e
1984;86(2):234-47.
antibiótico. Há 24 horas, sua dispneia aumenta progres-
sivamente. No momento, está em franca insuficiência 6. Long term domiciliary oxygen therapy in chronic hypoxic cor pul-
ventilatória, com esforço muscular respiratório aumen· monalc eomplicating chronic bronchitis and emphysema. Lance!.
tado, hipotensão arterial sistêmica, má perfusão peri· 1981;317(8222):681-6.
férica e saturação da hemoglobina arterial baixa (88%). 7. Gorccka O, Gorzelak K, Sliwinski P, Thbiasz M, Ziclinski J. Effcct
O ecocardiograma realizado à beira do leito demonstra of long-term oxygen therapy on survival in paticnts with chronic
ventrículo direito de tamanho normal, quando todos os obstructive pulmonary discasc witb moderate hypoxaemia. Thorax.
exames prévios demonstravam aumento desta cavidade. 1997;52(8):674-9.
Aumentar a oferta de oxigênio seria o melhor trata· 8. Continuous or nocturnal oxygen therapy in hypoxemic chronic
mento para este paciente? obstructive lung diseasc: a clinicai trial. Nocturnal Oxygcn Thcrapy
Nesta situação, provavelmente não. O que a ava lia- Trial Group. Ann Intern Med. 1980;93(3):391-8.
ção hemod inâmica à beira do leito sugere é a presen-
ça de hipovolemia, com redução do débito cardíaco, e
a consequente redução da DO,. Em um paciente com
OPOC grave, que necessita de um aporte ma ior de 0 2 Leituras complementares
para a musculatura respiratória mesmo em estados de Aubicr M, Murciano O, Fournier M, Milio-Emili J, Pariente R, Oe-
repouso devido ao maior trabalho respiratório, uma re- renne JP. Central respiratory drive in acute respiratory failure of pa-
dução do débito cardíaco como esta pode levar ao dese- ticnts with chronic obstructive pulmonary discase. Am Rev Rcspir
Ois. 1980;122(2):191-9.
quilíbrio ventilatório e à insuficiência ventilatória crônica
agudizada, mimetizando hipoxemia secundária à redu- Marino PL. Oxygen inhalation therapy. In: Marino PL. The lCU
ção do Ca0 2• Contudo, a prioridade aqui é a correção Book. 3rd ed. Philadclphia: Lippineon Williams & Wilkins; 2007.
do débito cardíaco, provavelmente mediante reposição p.403-18.
volêmica. Robinson TD, Freiberg DB, Regnis JA, Young IH. Tbe role of hypo-
ventilation and ventilation-pcrfusion redistribution in oxygen-indu-
ccd hypereapnia during acute cxacerbations of chronic obstructive
Referências pulmonary diseasc. Am J Rcspir Crit Care Med. 2000;161(5):1524-9.
1. Small D, Ouha A, Wicskopf B, Oajczman E, Laporta O, Krcisman Sociedade Brasileira de Pncumologia c Tísiologia. Oxigcnotcrapia
H, et ai. Uses and misuscs of oxygen in hospitalized patients. Am J domiciliar prolongada (OOP). J Pncumol. 2000;26(6):341-50.
Med. 1992;92(6):591-5.
Tiep BL, Carter R. Therapeutic oxygen. In: Hodgkin JE, Celli BR,
2. Longo E, Silva CTB da, Lótici KM, Saggin R. Custo das inter- Connors GL. Pulmonary rehabilitation: guidelincs to sueccss. 4th
nações hospitalares pelo Sistema Único de Saúde (SUS) do Hos- ed. St. Louis: Mosby-Elsevicr; 2009. p. 115-28.
Princípios da
Ventilação
Mecânica
lnvasiva e
Não lnvasiva
Cassiano Teixeira
Jorge Amilton Hoher
89
Paulo José Zimermann Teixeira
1o:r:fl\!Ui·l
Concentração de 0 2 Fi01 0,21-1,0 (2 1-100%)
Fluxo inspiratório (velocidade com que o ar é Selecionado diretamente por ajustes de fluxo (lJmin) ou ajustes da relação l:E
administrado) (tempo inspiratório:tempo expiratório)
Frequência respiratória (número de ciclos FR Definida pelo paciente (ventilação assistida) de acordo com suas necessidades
respiratórios que os pacientes realizam em metabólicas ou pela programação do aparelho (ventilação controlada)
um minuto)
Pressão de platô Ppl Medida pela pausa inspiratória; representa a pressão real ofertada às vias
aéreas (define o risco de barotrauma)
Pico de pressão Ppi Consequência do ajuste dos demais parâmetros; ajuste conforme o volume
corrente, em função da resistência e complacência
Pressão média das vias aéreas Pvas Consequência do ajuste dos demais parâmetros
Volume corrente VT Selecionado nos regimes volumétricos e consequência nos regimes pressóricos
PEEP intrínseca (auto-PEEP) Medida pela pausa expiratória; representa o alçaponamento de ar nas vias
aéreas (broncospasmo)
3. Fase expiratória: momento posterior ao fechamento Pre..io ouociada Pressão de distensão
da válvula inspiratória e abertura da válvula expirató· 10 fluxo
pulmonar
ria, permitindo que a pressão do sistema respiratório
equilibre-se com a pressão positiva ao final da expiração
(PEEP) determinada no ventilador.
4. Mudança da fase expiratória para a fase inspiratória Pressão • O
(disparo): fase em que termina a expiração e ocorre o
disparo (abertura da válvula inspiratória) do ventilador,
iniciando nova fase inspiratória. Ppi • Pres + ~
Pres • R x V (ou stjo. produto da resistªnà• pelo flu xo)
~ • VT I C (ou ..,.. diVIsão do VT pela compladncia)
Análise gráfica
Curvas de fluxo (V} FIGURA 89.3 7 Componentes da pressão inspiratótia. (1) Representa
O fluxo costuma ser medido diretamente pelo ventilador, o pico de pressAo (Ppi) nas vias aéreas, que sofre interferência tanto
através de sensores de pressão posicionados entre a cânula do fluxo (PI'es = pressão resistiva) como da variação de volume (~ •
endotraqueal e o "Y" do circuito do ventilador. pressão elástica). (2) Corresponde ao momento de interrupção do fluxo
Nos modos controlados, após o início do ciclo, o fluxo inspiratório (pausa inspiratória) e determina a pressão de plat6 (Ppl).
aumenta até atingir um valor prefixado, chamado de pico de Este momento representa a pressão de equilíbrio do sistema respira!().
rio; já que não existe fluxo, n.lo Mo componente de resistência das vias
fluxo. O fluxo, nessa modalidade, vai definir o tempo em que
aéreas. somente o componente elástico do sistema respiratório.
a válvula inspiratória permanecerá aberta (TI), de acordo
com o VT estabelecido. As formas de curva de fluxo mais
utilizadas na prática clínica são a quadrada (que permite a
realização da monitoração da mecânica respiratória) e a des· Curvas de volume
cendente (que proporciona uma melhor distribuição do ar O gráfico de volume representa o volume pulmonar inspira-
inspirado) (FIGURA 89.2). do (curva ascendente) e o volume pulmonar expirado (cur-
Quando o fluxo inspiratório se encerra, fecha-se a váJ. va descendente). Os volumes são iguais, exceto nos casos de
vula inspiratória e abre-se a válwla expiratória do aparelbo, vazamento do sistema de ventilação {traqueia do respirador
começando então o fluxo expiratório. perfurada ou balonete do tubo endotraqueal desinsuflado),
Nos modos assistidos, as características da curva de fluxo desconexão do cireuito ou aprisionamento aéreo (FIGURA 89.4).
nos modos espontâneos (pico e duração) são determinadas
pela demanda do paciente.
Disparo do respirador
Curvas de pressão Durante a VM, uma variável de disparo predeterminada
A pressão em geral é medida diretamente pelo ventilador, necessariamente deve ser alcançada para se iniciar a inspi·
através de um sensor instalado próximo ao tubo endotra· ração. Nos modos controlados, essa variável é o tempo e é
queal {"Y" do circuito do ventilador). independente do esforço do paciente. Nos modos assistidos
Na inspiração, ocorre um aumento progressivo das pres· ou espontâneos, a inspiração começa quando se alcança um
sões dentro da via aérea (curva ascendente). À medida que o nível de pressão ou fluxo predeterminado (sensibilidade ou
fluxo de ar entra no sistema respiratório, a pressão inspirató· trigger). Nestes casos, o disparo do respirador pode ocorrer
ria se eleva. Para isso, ela deve vencer os dois componentes por pressão ou por fluxo.
intrínsecos das vias aéreas: o componente resistivo, isto é, Quando não há disparo do ciclo inspiratório (a pressão
a resistência ao fluxo de ar passando pelas vias aéreas, e o negativa não ult.r apassa o limiar determinado, ajustado no
componente elástico, ou seja, a distensão dos pulmões e da aparelbo), ocorre somente aumento do trabalbo respiratório
parede torácica. Esses dois componentes são demonstrados e, como consequência, a "dissincronía" ventilatória, o que
na curva pressão-tempo (FIGURA 89.3). geralmente é conhecido como "briga ou competição com o
Na expiração, ao contrário, como a pressão no sistema respirador" e exige intervenção, por tratar-se de um quadro
está elevada, a abertura da válvula expiratória promoverá a ameaçador à vida do paciente.
sarda passiva do VT.
Descendente Volume • O
Quadrada As<:e~nte Sinusoide
quadr.oda
Tempo
Curvas de volume O
Curvas de fluxo O
Curvas de ptessão 5
Tempo
AGURA 89.5 ~ Curvas ventilatórias em função do tempo nos modos controlados a volume, assistido e espontãneo.
PCV Pressão T
PCV·A T- P- f T
PSV P-f
T • tempo; P• pressio; f • fluxo; v • volume; CMV • ~!ilação mandat6ria contínua com volume controlado - modo controlado; ACV • ventilação mandat6ria continua
com volume controlado - modo assistido-<ontrolado; IMV • ventilaçio mandat6ria int~mitente; PCV • ventilação mandat6ria contínua com pressão controlada - modo con·
trolado; PCV·A • ventilação mandat6ria contínua com pressão controlada - modo assistido-controlado; PSV • ventilação com pressão de suporte.
ro ocorrerá a cada seis segundos). O disparo é por tempo e Ventilação com pressão de suporte (PSV)
não existe a possibilidade de o esforço do paciente disparar É um modo espontâneo de VM, ou seja, disparado e ciciado
o respirador mecânico. A transição entre a inspiração e a pelo paciente. O ventilador assiste à ventilação mediante a
expiração (ciclagem) ocorre depois de o VTpreestabelecido manutenção de uma pressão positiva predeterminada du-
ter sido alcançado. O tempo que demora para se alcançar o rante a inspiração até que o fluxo inspiratório do paciente
VT predefinido depende da velocidade do fluxo inspiratório reduza-se a um nível crítico (em geral 25% do pico de fluxo
ajustado no respirador. inspiratório atingido). Thl modo ventilatório permite que o
Este tipo de ventilação pode ocorrer com volume contro- paciente controle a FR, o TI e o VT. O VT é totalmente de-
lado (os ciclos mandatórios têm como variável de controle pendente do esforço inspira tório do paciente (pressão mus-
o volume, são limitados a fluxo e ciciados a volume) ou com cular), da pressão de suporte preestabelecida e da mecânica
pressão controlada (os ciclos mandatórios têm como variável do sistema respiratório. Cabe ressaltar que esse modo ven-
de controle a pressão, são limitados a pressão e ciciados a tilatório funciona apenas quando o paciente apresenta dri-
tempo). ve respiratório e traz risco de hiperventilação aos pacientes
(desenvolvimento de hipocapnia).
Ventilação mandatória contínua com volume controlado- modo
assistido-controlado (ACV)
Neste modo, a FR pode variar de acordo com o disparo de- Desmame da ventilação mecânica
corrente do esforço inspiratório do paciente. São mantidos A retirada da VM constitui o período mais conturbado do
fixos o VT e a velocidade do fluxo inspiratório. Caso o pa- paciente durante sua dependência do suporte ventilatório
ciente não atinja o valor predeterminado de sensibilidade invasivo. Esse período pode ocupar até 40% do tempo total
para disparar o aparelho, este manterá ciclos ventilatórios de VM, e a aplicação de protocolos que visam à identificação
de acordo com a FR minima ajustada no respirador (venti- diária dos pacientes em condições de interromper o suporte
lação de back-up). ventilatório reduz significativamente sua duração. Já a apli-
cação de índices fisiológicos ainda não demonstrou resulta-
Ventilação mandatória contínua com pressão controlada - modo dos confiáveis.
controlado (PCV) O desmame é o processo de transição da ventilação arti-
Neste modo, são fixados a FR, a relação I:E (tempo de ficial para a ventilação espontânea. O sucesso no desmame é
inspiração:tempo de expiração- substituto da velocidade de a não necessidade do retorno à ventilação artificial durante
fluxo inspiratório) e o limite de pressão inspiratória (Ppi). O pelo menos 48 horas após a extubação. O fracasso ou falên-
disparo é predeterminado pela FR. A ciclagem acontece de cia no desmame é o retomo à ventilação artificial antes des-
acordo com o tempo inspiratório ou com a relação I:E, e não sas 48 horas.
a volume ou fluxo conforme os regimes volumétricos. O VT A interrupção da ventilação mectlnica é a tolerância, por
é dependente da pressão inspiratória preestabelecida, do TI parte do paciente, ao teste de ventilação espontânea (QUA-
(tempo inspiratório) selecionado pelo operador e das condi- DRO 89.5). O teste de ventilação espontânea (TVE) é a téc-
ções de impedância do sistema respiratório. nica mais simples e eficaz de desmame da VM. É realizado
permitindo-se que o paciente ventile espontaneamente atra-
Ventilação mandatória contínua com pressão controlada - modo vés do tubo endotraqueal, conectado a uma peça em forrna
assistido-controlado (PCV-A) de "T", com uma fonte enriquecida de oxigênio (teste com
No modo assistido-controlado, os ciclos assistidos ocorrem tubo T), recebendo pressão positiva contínua em vias aére-
conforme o esforço do paciente ultrapassa a sensibilidade. as (CPAP) de 5 a 7 cmHzÜ ou com ventilação com pressão
O VT obtido também é dependente desse esforço. Os ciclos de suporte (PSV) de 5 a 7 cmHzO. Um TVE bem-sucedido
controlados seguem o padrão da PCV. define o sucesso da interrupção da VM. Os pacientes que
obtiverem sucesso no TVE devem ser avaliados quanto à
indicação de retirada da via aérea .artificial, visando à extu-
Ventilação mandatária intermitente (IMV) bação. Os pacientes que fracassarem no TVE devem receber
Neste modo, o ventilador fornece ciclos mandatórios a suporte ventilatório que promova repouso da musculatura
uma frequência predeterminada, porém permite que ci- durante 24 horas, revisão protocolar das possíveis causas do
clos espontâneos (disparados pelo paciente) ocorram en- fracasso e planejamento da estratégia a ser adotada a seguir
tre eles. Quando o ventilador permite que o disparo dos - nova tentativa de interrupção da VM ou uso de técnicas de
ciclos mandatórios ocorra em sincronia com o esforço do desmame gradual.
paciente, trata-se de ventilação mandatória intermitente A extubação é a retirada da via aérea artificial. Nos pa-
sincronizada (SIMV- synchronized intennittent mandatory cientes traqueostomizados, utiliza-se o termo decanulação.
ventilation), podendo também esses ciclos assistidos ser Denomina-se reentubação (fracasso de extubação) a necessi-
pressurizados pela pressão de suporte (PSV). Os ciclos dade de reínstituir a via aérea artificial.
mandatórios podem ocorrer com volume controlado ou O QUADRO 89.6 apresenta parâmetros recomendados
com pressão controlada. para VM em situações especificas.
QUADRO 89.5 ~ Passos para o desmame da ventilação mecânica
1rtM' rtro
Interrupção di~ria da sedação A
PEEP Ajuste para manter Sat. 0 1 > 90% e Ajuste para manter Sat. 0 1 > 90% e Ajuste pela curva:
Fi01 < 0,6 Fi0 2 < 0,6 pxv
SDRA • slndrome da distriç.io respiratória do adulto.
Alterações hemodinâmicas são resultantes de aumento da
Complicações da ventilação mecânica
pressão intratorácica, diminuição do retomo venoso e bipo-
Complica~es relacionadas com a via aérea artificial tensão, sobretudo nos pacientes bipovolêrnicos e sépticos. A
As complicações mais precoces da VM estão ligadas à difi· hiperdistensão gera ruptura alveolar e enfisema intersticial,
culdade de inserção do tubo na traqueia, podendo determi- que irá dissecar a trama vascular e os septos interlobares. É
nar agitação, vômitos e aspiração de conteúdo gástrico. A o que se denomina volutrauma, que causa pneumomediasti·
entubação traumática pode levar a perda de peças dentárias, no e pneumotórax. O volutrauma manifesta-se clinicamente
lesão das vias aéreas superiores, edema de glote, laringos- por aumento das pressões de pico e de platô, agitação, assin·
pasmo, edema de cordas vocais e sangramento. Quando o cronia com o respirador e choque.
paciente não está bem oxigenado durante o procedimento, A radiografia de tórax mostra ruperinsullação, pneumo-
advém a rupoxia e suas consequências, como arritmias, para- mediastino e pneumotórax. A distensão da parede alveolar,
da cardiorrespiratória e lesão encefálica. a redução do surfactante, o aumento da permeabilidade ca-
Para evitar tais complicações, o procedimento deve ser pilar e o aumento da filtração microva.scular com extravasa-
realizado por mãos experientes, com sedação, relaxamento mento líquido para o interstício são as alterações que ocor-
adequado e anestesia local com lidocaína. Antes de se ini- rem na lesão pulmonar induzida pela ventilação mecânica
ciar o procedimento, o paciente deve ser oxigenado com (VIL!). Na microscopia, o que se observa é dano alveolar
máscara, monitorando-se a saturação arterial de oxigênio difuso, hemorragia, infiltração de neutrófilos e fibroblastos.
continuamente; em caso de dificuldade ou dessaturação, o Há uma piora da resposta inflamatória sistêrnica, queda da
procedimento precisa ser interrompido para reoxigenação função pulmonar e aumento da disfunção múltipla de ór-
do paciente com máscara. gãos. Com a estratégica VM protetora, a incidência de VIU
O tubo deve ser escolhido de acordo com o tamanho diminui significativamente.
do paciente, e o seu posicionamento deve ser testado para
evitar localização esofágica ou entubação seletiva, em geral
no brônquio fonte direito, e consequente hipoventilação e
atelectasia. A contar da arcada dentária, uma boa referência Ventilação mecânica não invasiva com
para a localização do tubo traqueal é a marca dos 22 em. É pressão positiva
importante o controle radiológico do tórax. Na entubação
nasotraqueal, o aquecimento do tubo e a boa lubrificação Definições
podem prevenir sangramento nasal. A ventilação não invasiva (VNI) com pressão positiva consis-
Na ent ubação nasotraqueal, as complicações tardias te na oferta da pressão positiva ao paciente através de uma
mais frequentes são necrose nasal e sinusite. No caso de interface, em vez de via tubo traqueal ou traqueostomia. A
traqueostomia, pode ocorrer sangramento, pneumotórax, interface pode ser por máscara nasal, máscara facial, más·
hemoptise e enfisema subcutâneo e, tardiamente, estenose, cara facial total ou capacete. O QUADRO 89.7 faz uma com-
traqueomalácia e fístula traqueoesofágica. As complicações paração das caracterlsticas dos diferentes tipos de máscara
traqueais são na maioria das vezes decorrentes do excesso de utilizados para VNI e a FIGURA 89.6 demonstra os diferentes
pressão do balonete (cuff), que deve ser monitorada e não tipos de interfaces.
ultrapassar 20 a 25 mmHg.
A pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV) é a
complicação infecciosa mais usual. A partir da entubação, a Vantagens
barreira glótica de defesa das vias aéreas inferiores fica su- O emprego da VNI apresenta duas vantagens clinicamente
plantada pelo tubo traqueal. Através do tubo traqueal, ger· importantes em comparação ao uso da VM invasiva: preser-
mes que colonizam o ambiente de unidade de terapia inten- vação das funções fiSiológicas como tosse, deglutição, ali·
siva (UTI) chegam às vias aéreas inferiores desenvolvendo mentação e fala; e redução das complicações associadas à
quadro pneu mônico. A incidência chega a 52%, dependendo VM, como lesão traqueal pelo ato da entubação e PAV. As
do tipo de UTI, da população estudada e principalmente dos indicações e contraindicações para o uso da VNI são descri·
critérios diagnósticos utilizados. tas no QUADRO 89.8, e o grau de recomendação para o uso da
VNI é descrito no QUADRO 89.9.
Complicações relacionadas com o respirador mecânico A VNI pode ser ofertada por pressão positiva contínua
nas vias aéreas (CPAP) ou Bilevel, pressão inspiratória sepa-
Falhas potenciais do respirador enquanto máquina são com-
rada da pressão expiratória, limitada a pressão ou a volume.
plicações previsíveis que incluem problemas no alarme, des-
Os ventiladores mecânicos para a liberação da VNI po-
ligamento involuntário do aparelho, falha na nebulização,
dem ser os mesmos ventiladores utilizados em UTI para o
umidificação e aquecimento, falta de sincronia e contamina-
suporte ventilatório invasivo (ventiladores convencionais)
ção bacteriana dos diversos componentes do aparelho.
ou ventiladores especificamente delineados para o suporte
ventilatório não invasivo. Apesar das vantagens e limitações
Complica~es relacionadas com a assistência ventilatória inerentes a cada um dos dois tipos de ventiladores mecâni-
As complicações clínicas incluem lllpoventilação e hiper- cos, as taxas de sucesso com a utilização de um ou de outro
ventilação e os consequentes desequilíbrios acidobásicos. sistema são comparáveis.
QUADRO 89.7 > Comparação entre os diferentes tipos de máscaras utilizadas na ventilação não invasiva
jiW·ll"tOO
Sensação de dispneia ou FR ~ 25 ipm Hipoxemia muito grave (PaOj Fi01 S 75) Intolerância~ ~seara ou aderência ruim
Paco, ~ 45mmHg ou pH s 7,35 Acidemia grave Falha na melhora da hipoxemia (Pa0jfi01 s 146 ou
s 175 com SDRA) após 1 hora de VNI
PaOj Fi01 S 200 Obstrução alta de vias aéreas falha na melhora do eslado menlal após 30
minutos de VNI
Paciente consciente e cooperativo Paciente inconsciente ou não cooperativo Instabilidade hemodinâmica, arritmias cardíacas ou
isquemia cardíaca
Fixação adequada da máscara Fixação inadequada da máscara Dificuldade no manejo das secreções respiratórias
Instabilidade hemodinâmica
QUADRO 89.9 ~ Recomendações para uso da ventilação não invasiva: nível de evidência
Vários estudos randomizados e metanálises Mais de um estudo randomizado, estudos de Somente série de casos ou dados conflitantes
coorte e estudos de casos e controles dos estudos clínicos
- Exacerbação de doença pulmonar obstrutiva - Insuficiência respiratória no pós·operatório - Asma aguda grave
crônica (DPOC)
- Edema pulmonar cardiogênico - Melhorar oxigenação antes da entubação - Pneumonia comu nitária grave
Vários modos de liberação de VN1 têm sido usados, com quência respiratória, a dispneia e o uso de músculos acessórios
benefícios clínicos e fisiológicos significativos. Na insuficiên- da ventilação. No edema pulmonar cardiogênico, a máscara
cia respiratória aguda secundária à DPOC descompensada, de CPAP reduz a frequência respiratória, corrige a acidose
VNC, PSV e PAV todas resultaram em melhora em volume- respiratória e melhora a hemodinámica. Outros modos ven-
-minuto, frequência respiratória e gases sanguíneos arteriais, tilatórios, incluindo PSV, são igualmente eficientes em reduzir
ao mesmo tempo em que reduziram o trabalho dos músculos o trabalho respiratório e melhorar as variáveis fisiológicas no
ventilatórios e diminuíram o desconforto respiratório. Assim edema agudo de pulmão de causa cardiogênica, porém podem
como na VM ínvasiva, a adição da PEEP extrinseca compen- estar associados a efeitos hemodinârnicos adversos.
sa os efeitos da PEEP intrínseca, reduzindo o esforço ins- Modos ventilatórios que permitem o estabelecimento de
piratório necessário para o disparo do ciclo ventilatório e o uma frequência respiratória de base {VNC, PNC) podem
consumo de oxigênio. ser preferíveis para pacientes que apresentam desconforto
Na insuficiência respiratória Júpoxêmica de diferentes cau- respiratório grave, mecânica respiratória ou drive ventilató-
sas, a VN1 pode melhorar os gases sanguíneos arteriais, a fre- rio instáveis, episódios de apoeia ou de hipoventilação; nas
outras situações, modalidades espontâneas, com ou sem as- Hill NS. Noninvasive positive pressure ventilation. In: Thbin MJ.
sistência do ventilador (PSV e CPA.P, respectivamente), po- Principies and practiee of meehanieal ventilation. 2nd ed. New York:
dem ser implementadas com segurança. McGraw·Hill Medicai; 2006. p. 433-72.
~\ 1
Roduçio da ~pacidodo rosidual funcional
Dosunrfomudodo ""ntilação/pflfusão
Aumonto do trabalho
1 1 Hipoxemia
1Retonção de secreções
respiratório colonização da orofaringe
Complicações precoces
lnfecçõos
Complicação tardia
FIGURA 90.1 ~ Alterações funcionais respiratórias secundárias ao ato cirúrgico e seu papel na gênese de complicações.
Fonte: Modificada de Wernly e De Meester.'
---------------------------------------------------
doenças. Perguntas sobre eventuais limitações por dispneia Espirometria
nas atividades diárias, como subir escadas, varrer a casa e
Os parâmetros espirométricos mais importantes para a ava-
caminhar no plano, fornecem estimativas razoáveis da capa-
liação pré-operatória são o volume ClCpiratório forçado no
cidade cardiopulmonar do paciente sem restrições musculo-
esqueléticas. primeiro segundo (VEF,), a capacidade vital forçada (CVF)
Portadores de doenças pulmonares, junto com indiví- e a relação VEF,!CVF. Em princípio, o paciente que apre-
duos que so(rem de distúrbios ventilatórios não relacionados sente um VEF, igual ou maior a 80% do previsto pode ser
com o parênquima pulmonar, c aqueles que sofrerão cirur- considerado apto, do ponto de vista funcional, para qualquer
gia de andar superior do abdome devem ter uma avaliação tipo de ressecção pulmonar, inclusive pneumonectomia. Um
pré-operatória especifica de seu aparelho respiratório. A VEF, superior a 60% do previsto permite a execução com
avaliação mínima da função respiratória inclui a realização segurança de lobectomia. Um VEF,(%) pré-operatório su-
de uma espirometria e de uma análise dos gases arteriais perior a 80% ocasiona uma taxa de mortalidade pós-opera-
em repouso. Se a cirurgia incluir ressecção de parênquima, tória inferior a 5%.
é desejável que haja um teste de capacidade de difusão do Se os resultados desses testes forem anormais, uma in-
monóxido de carbono (0 '-co)- tervenção clinica agressiva com suspensão do fumo, uso de
antibióticos, broncodilatadores e fisioterapia respiratória em duas a três vezes, ao passo que menor do que 60% do
pode minimizar ou reverter a disfunção. predito está associada a aumento da mortalidade.
Gasometria arterial
Embora a gasometria arterial faça parte da avaliação funcio- ~ATENÇÃO
nal global, seu poder discriminatório isoladamente é baixo.
Se VEF, e Dlco forem superiores a 80% do previsto,
Estudos recentes não conseguiram demonstrar que tanto a
não há necessidade de prosseguir-se a avaliação fun-
hipercapnia (PaC0 2 > 45 mmHg) como a hipoxemia (Pa02
cional respiratória, mesmo que a cirurgia inclua res-
< 55 mmHg) se constituam em fatores de risco independen-
secção parenquimatosa pulmonar, visto ser baixo o
tes para complicações. Apesar de controvérsias sobre o valor risco de complicações.
como preditor isolado para o desenvolvimento de compli-
cações pós-operatórias, a PaC0 2 é o melhor indicador da
ventilação alveolar. A presença de hipercapnia denota dis-
Nesse momento da avaliação pré-operatória, cabe com-
função significativa no sistema de trocas gasosas e, em geral,
plementá-la com a aplicação de uma escala multifatorial para
indica risco elevado para procedimentos cirúrgicos torácicos,
complicações pulmonares pós-operatórias (QUADRO 90.1).2
mas em casos selecionados não deve ser tomada como con-
traindicação absoluta à cirurgia.
Procedimentos adicionais à avaliação inicial
Capacidade de difusão do monóxido de carbono Nesta situação, estão incluídos os indivíduos portadores de
um ou mais fatores de risco para complicações e morte pós-
As anormalidades na Dlro costumam resultar da perda do
-operatória.
leito capilar pulmonar em decorrência de enfisema pulmo-
nar, hipertensão pulmonar e doenças intersticiais. A Dlro é
altamente preditiva para avaliar-se a possibilidade de com- Função respiratória reduzida
plicações, superando o VEF,. Uma Dlro inferior a 80% do Fumantes têm um risco aumentado de desenvolvimento de
previsto aumenta o risco de complicações pós-operatórias atelectasias e pneumonia devido a acúmulo de secreções res-
11#\loi;I•IJ;I@I
CVF <50%
VEF.jCVF 65 a 75%
VEF.jCVF 50 a 65%
Obesidade
Doença pulmonar
Sintomas respiratórios
1
Dispnéia
inexpltcada ou
pneumopatia
intersticialem
RXouTC
Não Sim
1
> 80% do pr<!'llisto ~ < 80% do pr<!'llisto f--------')
Estimar
VEF, eDt..o
p6s-
ope:ratórios
1
Teste de exercido
cardiopulmonar
V01'". > 1s
i
vo,_ 1oa > 15 VO,.... < 10
ml/l<glmin mVKglmin ml/Kglmin
Risco aceitável
1 1
Risco elevado
1
Risco proibitivo
AGURA 90.2 -+ Algoritmo para avaliação funcional respiratória de candidatos à cirurgia de ressecção parenquimatosa pulmonar.
1. História
- Idade > 70 anos 5
- IAM nos seis meses anteriores 10
2. wme físico
- Galope com 83 ou turgência jugular 11
- Estenose aórtica 3
3. ECG
- Ritmo n~o sinusal ou extras.sistoles supraventriculares (ESSV)
- Mais de 5 extrasslstoles ventriculares (5 ESV)
4. Estado geral
- Pa02 < 60 mmHg ou PaC0 2 > 50 mmHg K < 3 mEq/1., HCO, < 20 mEq/1., TGO anormal,
hepatopatia crônica, restrição ao leito por causa não cardíaca
5. Cirurgia
- lntra·abdominal, intrator~cica ou aórtica
- Emergência 4
TOTAL 53
().5 0,2%
6-12 2,0%
111 13·25 2,0%
IV > 26 56%
Fonte: Goklman e colaboradores.'
lmrürrm1
Idade > 70 anos Cirurgia intratorácica, intrape.-itoneal ou vascular
infrainguinal
IAM há menos de seis meses 10
História de doença cardíaca isquêmica
IAM há mais de seis meses
História de insuficiência cardíaca congestiva
Suspeita de estenose aórtica crítica 20
Diabete melito insulino-dependente
Ritmo não si nu sal ou extrassístoles atriais no ECG
pré-operatório imediato Creatinina > 2 mg/dl
Mais de cinco e)((rassístoles ventriculares/minem
qualquer momento pré-operatório História de doença cerebrovascular
3. Smith TP, Kinasewitz GT, Tucker WY, Spillers WP, George RB.
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Artur Burlamaque
FábioAmaral Ribas
91
labado entra nas vias aéreas do pulmão contralateral e é
Introdução devolvido na inspiração. Esse fenômeno se acompanha de
O conhecimento da avaliação pré-operatória para as res- hipercarbia e hipoxemia.'
secções pulmonares, da fisiopatologia do tórax aberto, das O leitor pode se perguntar quais são os aspectos práticos
técnicas de isolamento pulmonar, da ventilação monopul- que derivam da descrição desses fenômenos fisiopatológicos.
monar e das técnicas de analgesia pós-operatória constitui Diversas decisões anestésicas têm como base o conhecimen-
a base para a anestesia torácica. Tais temas são abordados to recém-descrito. Procedimentos sobre cavidades pleurais
neste capítulo com uma ênfase prática, com exceção da que não permitem o pneumotórax, por estarem fixas devido
avaliação pré-operatória, apresentada no Capítulo "Ava- a processos patológicos crônicos, podem ser realizados sob
liação do Risco Cirúrgico e Conduta Preparatória para ventilação espontânea. Alguns procedimentos com peque-
Cirurgia". E m seguida, são descritos certos detalhes de nas aberturas no tórax e de curta duração também podem
importância para alguns dos procedimentos específicos da ser feitos da mesma forma. De fato, mesmo as lobectomias
especialidade. videoassistidas estão sendo realizadas com sucesso em ven-
tilação espontânea e anestesia peridural torácica em alguns
centros.
Por outro lado, as grandes aberturas no tórax geral-
Tórax aberto mente implicam ventilação com pressão positiva e aneste-
Como se sabe, a abertura do tórax é mal tolerada quando o
paciente encontra-se em ventilação espontânea. Dois fenô-
menos se estabelecem à medida que isso acontece: o balanço
do mediastino e a ventilação paradoxal (FIGURAS 91.1 e 91.2).
O balanço do mediastino acontece porque o ar entra no
tórax aberto quando o paciente realiza o esforço inspira-
tório, o que, associado à pressão negativa no tórax contra-
lateral, empurra o coração e os grandes vasos para aquele
lado. Durante a expiração, o ar sai rapidamente da cavidade
aberta e o medias tino tende para o lado aberto. Esse balanço
tem consequências hemodinâmicas e pode se acompanhar
de hipotensão, baixo débito e bradicardia. Inspiração Expiração
Por sua vez, a ventilação paradoxal acontece porque,
durante a expiração, o gás proveniente do pulmão não co- FIGURA 91 .1 7 Balanço do mediastino.
Descrição dos dispositivos
Os dispositivos capazes de realizar o isolamento pulmonar
são os bloqueadores brônquicos, os tubos endobrônquicos
e os tubos de duplo lúmen. No QUADRO 91.2 estão listados
alguns tipos desses dispositivos. Os tubos de duplo lúmen
são os mais utilizados em adultos, disponíveis na forma des-
cartável e reutilizável, a partir da numeração 26 até 41 (FIGU·
RAS 91.3 e 91.4). Os tubos hoje comercializados têm algumas
diferenças dos descritos originalmente, tendo sido descarac-
lnspiraç3o Expiraçilo terizados de modo gradual e inclusive recebendo outras de-
FIGURA 91.2 ~ Ventilação paradoxal. nominações conforme o seu fabricante.
Em pediatria, os bloqueadores brônquicos são os mais
usados, em associação com os tubos simples traqueais. Hoje
são comercializados bloqueadores brônquicos especificas
sia geral. 'làmbém nessa situação existem cuidados impor-
tantes a serem tomados, como não permitir que o paciente
assuma a ventilação espontãnea antes que o tórax esteja
fechado, o pulmão expandido e o dreno de tórax em selo QUADRO 91.2 ~ Dispositivos para as várias técnicas de isolamento
d'água ao final da cirurgia. Enfim, estes são apenas alguns
exemplos da necessidade de se ter os conhecimentos aqui 1. Bloqueadores br6nquicos
mencionados. - Maguill
- Fogarty
- Foley
- Bloqueador do tubo de Univent
Isolamento pulmonar - Uniblocker
- Arndt
As indicações para o uso de dispositivos para o isolamento - Cohen
pulmonar estão listadas no QUADRO 91.1. Com exceção das
ressecções pulmonares videoassistidas, todas relacionadas 2. Tubos endobr6nquKos de lúmen simples
no item de exposição cirúrgica são indicações relativas. A - Macintosh·leatherdale (esquerdo)
utilização cada vez mais abrangente tem sido a regra. Isso - Gordon-Green (direito)
se deve a vários fatores, entre eles a facilitação para cirurgia,
3. Tubos endobr6nquicos de duplo lúmen
com a diminuição do tempo e trauma cirúrgicos, e o baixo - Carlens (esquerdo)
lndice de complicações graves decorrentes do emprego des- - White (direito)
ses dispositivos por pessoal experiente. 2"" - Robertshaw (esquerdo e direito)
- Modelos e nomenclaturas especificas de cada fabricante
(esquerdos e direitos)
------ ---------------
QUADRO 91.1 ~ Indicações para a anestesia monopulmonar
1. Controle de secreções
- AbKesSO
- Bronquiectasias
- Hemoptise
- Cisto hidático
2. Controle da via aérea
- Flstula broncopleural
- Ressecç.lo brônquica sem coto
3. E.xposiçlo árúrgica
- Ressecç.lo pulmonar
- Cirurgia esofágica
- Cirurgia a6rtica
- ToracoKopia
- Ressecç.lo pulmonar videoassistida
4. Procedimentos especiais
- Llvagem pulmonar
- Ventilação independente FIGURA 91.3 ~ Tubo de Carlens.
------------------
~ ATENÇÃO
Os tubos de Carlens números 39 e 41 são adequa-
dos para a maioria dos homens, ao passo que os
números 35 e 37, para a maioria das mulheres.
Complicações
Como já foi dito, a escolha correta do tamanho do tubo é
essencial para a profilaxia de complicações. Além disso, a
experiência do anestesiologista sem dúvida contribui para
FIGURA 91 .4 ~ Tubos de duplo lúmen sem gancho carinal, de PVC e diminuir o número de complicações. Estas são:
diferentes fabricantes. Modelo esquerdo acima e direito abaixo.
• Ruptura brônquica
• Lesão isquêmica da mucosa respiratória
para este fim, como os bloqueadores de Arndl, de Cohen e o • Hipoxemia
bloqueador do tubo de Univent, inclusive com numerações • Disfonia pós-operatória
pediátricas. Seus balonetes têm um formato mais adequado • Odinofagia pós-<>peratória
para o uso brônquico e, portanto, devem ser preferidos ao • Lesões de dentes e partes moles orais
tradicional cateter de Fogarty. • Lesão esofágica
tttt.fi.1i:l·l·l·li·l!J
>18 > 12,2 41fr 10,6
2. PACO, ~ \I
U 8. FÁRMACOS
3. FtO, ANEffiSICOS
-- ~
4. FÁRMACOS ~ t ~~ 7. CPAP
VASOCONSTlUTORES ~ ~~
5. PVP 6. PVP
metidos a determinadas técnicas analgésicas eficazes e os que QUADRO 91.3 ~ Soluções para analgesia peridural contínua após
não o são. as toracotomias
Após uma toracotomia, as fontes de dor e as vias aferen-
tes que a conduzem são diversas. Os nervos intercostais de Soluções para uso com o cateter peridural tor~cico:
4 a 6 conduzem os estlmulos referentes à incisão. Os inter-
costais de 5 a 8 conduzem os estímulos dos drenas toráci- Bupivacaina a 0,5% 50 ml
cos. As vias aferentes do nervo vago conduzem os estímulos
Fentanil sem conser;antes 10 ml
provenientes da pleura mediastinal, e as aferentes do nervo
frênico conduzem os estimulos provenientes da pleura dia- Soro fisiológico a 0,9% 140ml
fragmática central. Por essa razão, a técnica analgésica pre-
conizada para as toracotomias é multimodal e geralmente ou
envolve uma combinação de duas categorias de técnicas:
Ropivacaína 7,5 mg/ml SOml
• Analgesia regional : epidura~ paravenebral, espinhal (ra- Fentanil sem conservantes 10 ml
quidiana) e intercostal, associadas ou não.
• Analgesia sistêmica com anti-inflamatórios e outros Soro fisiológico a 0,9% 140ml
analgésicos.
Infundir no cateter peridural, com bomba de infu~. na taxa entre 5
e 10 mllh.
Atualmente, a analgesia epidural torácica feita com
anestésicos locais e opioides é considerada o padrão-ouro da
analgesia torácica e é sempre o parâmetro de comparação a
que todas as outras novas técnicas são submetidas. "·llO sistêmica, hipertensão intracraniana, recusa do paciente, doen-
A analgesia cpidurallombar com opioides recentemen- ças neurológicas preexistentes c apresentação prévia de efeito
te deixou de ser recomendada, pois foi associada ao aumen- colateral grave com a técnica. làis contraindicações podem ser
to do número de pacientes com falha de cxtubação e neces- relativas ou absolutas conforme a individualização do caso.
21
sidade de suporte ventilatório após a cirurgia.
Em estudos recentes, foi demonstrado que o bloqueio
paravertebral continuo lambém é capaz de diminuir as com- Efeitos colaterais dos anestésicos locais
plicações respiratórias pós-operatórias, sendo atualmente peridurais
considerado a técnica de escolha quando a periduraltorá-
cica não puder ser utilizada 19 No QUADRO 91 .3, estão listados
Hipotensáo
exemplos de soluções para o uso peridural torácico. A FIGU- É o efeito colateral mais comum, devendo-se ao bloqueio
RA 91 .7 apresenta um algoritmo para a escolha da técnica re- das fibras nervosas simpáticas da cadeia torácica. Com a in-
gional de analgesia. 19 fusão continua de até 10 mUh da solução de analgesia, a hi-
potensão é facilmente controlada por uma infusão de nora-
drenalina em baixa dosagem. Se for preciso administrar dose
Contraindicações elevada de noradrenalina, deve-se suspeitar d e outras causas
As contraindicações para a analgesia peridural e espinhal in- de bipotensão, como necessidade de infusão de fluidos ou
cluem distúrbios da coagulação, infecção do local de punção ou infecção/sepse.
,., ,,,• .,,,.!.lijfitfi
J
Técni-ca analg~ica
regional alternativa se a
Recomendada técnica regional para analgesia
ana~esia epidural torácica e o bloqueio
Utilizar uma das duas técnicas a seguir
paravertebral não forem possíveis
1
Pré-operatório
Peridural torácica
Anestésico local + opioide
Dose em bo/us
Bloqueio p: ravertebral
Anestésico local
Oo"'embo/us
j Opioide espinhal (raquidiano)
1
Peridural torácica
l
Bloqueio paravertebral Bloqueio intercostal
Transopêrat6rio Anestésico local + opioide Anestésico local Analg~sico local
Infusão contínua Infusão contínua Infusão contínua
1
Peridural torácica
l
Bloqueio paravertebral
1
Bloqueio intercostal
PóS·Operat6rio Anest~sico local + opioide Anestésico local Analg~sico local
Infusão contínua Infusão contínua Infusão contínua
RGURA 91 .7 7 Algoritmo de conduta para a escolha da té<:nica analgésica principal para as toracotomias. Dados de PROSPECT working group.
Fonte: Joshi e colaboradores."
· Entr.da later.ol
• Remoção de corpo estranho
do broncoscópto
• Manejo da hemoptise
Dilatação de estenose traqueal
Auxílio na colocação de próteses em T (Montgomery) Con«tor \ (
flexfvel ----,. ... •• ..···············..
...... ···············...
.........;...···"""""
O procedimento exige anestesia geral com boa qualidade
de relaxamento muscular, o que permite maior facilidade de ··············........
realização com menor trauma ao paciente. Como a maioria
dos procedimentos é rápida, existe a preferência por fárma- -~~
cos que permitam uma recuperação acelerada.
O relaxamento promovido naturalmente implica a ne- Q~ ~
cessidade de ventilação do paciente. Os broncoscópios rígi- -~;J·.
dos possuem uma entrada lateral que permite a adaptação
aos sistemas ventilatórios. Pode-se ventilar o paciente de
StsterN orcular de •neste:wa
~ . . .s::· . . . . ..
forma convencional ou utilizar ventilação de alta frequência.
Há sempre um escape de gás de intensidade variável entre FIGURA 91 .8 ~ Ventilaçlo através do broncoscópio rígido.
as paredes do instrumento e as da traqueia, o que pode ser
compensado com altos fluxos de admissão ao circuito anes-
tésico. A FIGURA 91.8 ilustra um broncoscópio rígido devida-
mente adaptado ao sistema ventila tório anestésico. de uma neoplasia, podendo ter acesso cervical ou paraester-
Para a realização de biópsia, aspiração ou captura do corpo nal. As contraindicações à sua realização incluem:
estranho, há necessidade da retirada da peça de visualização
que oelui o orifício de entrada. O anestesiologista e o cirurgião • Mediastinoscopia prévia
integram-se neste momento na função de administrar os perío- • Síndrome de veia cava superior
dos de apoeia necessários. Esses períodos podem ser bastante • Desvio severo da traqueia
reduzidos em pacientes obesos, pneumopatas c crianças. • Doença cerebrovascular
As complicações decorrentes têm frequência variável de- • Aneurisma de aorta torácica
pendendo da experiência do cirurgião. Elas incluem:
Estas contraindicações podem ser relativas conforme a
• Fraturas de dentes individualização do caso.
• Reações vasovagais com a hiperextensão do pescoço A técnica anestésica preferida para esse procedimento é
• Hemorragia maciça a geral, a fim de facilitar a dissecção, obter melhor controle
• Ruptura traqueal das complicações e oferecer maior conforto para o paciente.
• Hipoxemia e hipercarbia graves Existe o relato da possibilidade de realização da mediasti-
• Arritmias noscopia com anestesia local. Benumof sugeriu a anestesia
local nos pacientes com doença cerebrovascular para o con-
O anestesiologista deve estar preparado para a ocorrên- trole do estado neurológico.
cia delas. Não há necessidade de fármacos anestésicos específicos
Ao fmal do procedimento aguarda-se a recuperação do ao procedimento, mas é essencial que o paciente seja man-
paciente com ventilação através de uma máscara, um tubo tido relaxado, para evitar a tosse pelo estimulo traqueal e
simples ou uma cânula em T colocada. manter a completa imobilidade, fator importante na redução
das complicações. Estas são:
Mediastinoscopia • Hemorragia
A mediastinoscopia costuma ser realizada previamente à • Pneumotórax
toracotomia para estabelecer diagnóstico e/ou estadiamento • Embolia aérea
• Compressão da aorta ( arritmias) ça do cirurgião e do material cirúrgico pronto para interven-
• Compressão da artéria inominada (hemiparesia e perda ções emergenciais é vital. O anestesiologista deve ter dispo-
do pulso radial direito) nível, junto a todo material de instrumentação da via aérea,
• Compressão da traqueia uma ampla variedade de diâmetros de tubos traqueais.
• Lesão do nervo laríngeo recorrente Na indução, um relaxante de curta latência e duração é
• Lesão do nervo frênico aconselhável, pois a ventilação sob máscara pode tornar-se
• Lesão do esôfago difícil e, na impossibilidade de entubação, o paciente rapi-
damente se recupera e volta a ventilar de modo espontâneo.
Durante o procedimento, o anestesiologista tem sua Alguns pacientes têm posições de agravamento da obstrução
atenção voltada para o diagnóstico e o tratamento de even- traqueal, as quais devem ser evitadas na indução da anestesia.
tuais complicações. Um cateter de grosso calibre em uma O estabelecimento da via aérea pode ser feito de diver-
veia periférica deve ser instalado para reposição rápida de sas formas após a indução, incluindo:
volume e sangue. O sangue deve estar previamente dispo-
nível para utilização imediata no caso de hemorragia aguda. • Colocação de um tubo simples com extremidade cranial
A correção cirúrgica da hemorragia grave se dá por meio de à estenose.
uma toracotomia transestemal ou lateral. O suporte da vole- • Dilatação com broncoscópio rígido e colocação de um
mia pode ser realizado com infusão de cristaloides, coloides tubo simples com extremidade caudal à estenose.
ou até mesmo cloreto de sódio concentrado. • Colocação de um tubo fino com extremidade caudal à
Os derivados sanguíneos são usados para a manutenção estenose sem dilatação prévia.
do hematôcrito e da capacidade de transporte do oxigênio,
assim como para a correção de distúrbios da coagulação no Dentre as técnicas descritas para manutenção da ventila-
paciente politransfundido. nansitoriamente, podem ser ne- ção e oxigenação durante a ressecção, encontram-se:
cessários vasopressores para a manutenção da pressão arte-
rial. Roberts e Gissen22 citam a possibilidade da realização
• Tubo orotraqueal padrão.
de hipotensão controlada para o sangramento arterial até a
• Inserção de um tubo na traqueia aberta.
hemostasia cirúrgica. Nas lesões de cava superior, é neces-
• Ventilação de alta frequência com tubo fino através da
sária a cateterização emergencial de veia para reposição em
estenose.
membro inferior.
• Bypass cardiopulmonar.
A utilização de um tubo simples com extremidade distai
próxima à carina ou de um tubo de duplo lúmen minimiza a
Na FIGURA 91 .9, estão ilustrados os passos progressivos da
possibilidade de compressão traqueal e orienta o cirurgião
ressecção com uma técnica bastante empregada. A traqueia
na dissecção.
é aberta, um tubo é colocado distalmente para ventilação, a
Deve-se ter o cuidado de colocar pelo menos um moni-
tor, oxfmetro ou pressão arterial invasiva no membro supe- ressecção completa é realizada e a sutura posterior é feita,
avançando-se o tubo orotraqueal e completando-se a anas-
rior direito para detecção da compressão da artéria inomina-
da e, portanto, diminuição do fluxo para a carótida direita. A tomose. Períodos de apoeia eventualmente são realizados,
oximetria é um monitor menos eficiente neste caso, pois é ne- sobretudo na realização da sutura posterior. Nas ressecções
cessário apenas um pequeno fluxo para o seu funcionamento. próximas ou na carina da traqueia, é necessário um tubo dis-
tai no brônquio com ventilação monopulmonar.
A existência de períodos de apoeia contraio dica o uso do
Ressecção traqueal óxido nitroso para a manutenção da anestesia. A utilização
A resseeção traqueal geralmente é realizada em pacientes de Fi02 de 100% aumenta os tempos de tolerância às ap-
com estenose da traqueia, que pode ter diversas causas, oeias. A manutenção do paciente relaxado durante a cirurgia
como tumores da via aérea, sequelas de processos inflamató- evita o reflexo de tosse que ocorre pela manipulação da via
rios e sequelas de entubações traqueais. O acesso cirúrgico aérea e diminui a necessidade de anestésicos.
pode ser feito por cervicotomia, estemotomia ou ainda tora- No final do procedimento, o paciente deve ser mantido
cotomia lateral. com a cabeça fletida para evitar a tensão sobre a anastomo-
Na monitorização, são usadas a oximetria e a capnome- se. A extubação precoce é altamente desejável. Se for ne-
tria para controle indireto mas instantâneo dos gases arte- cessária a manutenção do tubo traqueal no pós-operatório,
riais, a eletrocardioscopia e uma linha de pressão arterial este deve ser posicionado de forma que o balonete não fique
invasiva para controle contínuo da pressão e eventuais ga- sobre a linha da anastomose.
sometrias arteriais.
É prudente a utilização de um acesso venoso de grosso
calibre (16 ou 14) para eventuais sangramentos. O acesso ve- Ressecção pulmonar
noso central é vantajoso para a infusão de agentes de anes- As ressecções pulmonares (segmentectomias, lobectomias e
tesia venosa total, fármacos de ação hemodinâmica e para o pneumonectomias) são realizadas para uma grande varieda-
pós-operatório. de de doenças. Os processos reparadores e diagnósticos das
Antes da indução da anestesia, a posição, o tipo e o grau neoplasias e das alterações inflamatórias são a sua maioria.
da estenose são fatores que devem ser conhecidos. A presen- Os pacientes com frequência são idosos, apresentam pato-
-7
~ ~
c::::> -7
~
-7
----..
-o'
~
/ \
/\ FIGURA 91.9 ~ Passos seguidos na ressecção traqueal (A·O).
Fonte: Modificada de Benumof.9
A 8 c o
logias pulmonares prévias e as alterações cardiovasculares posteriorização e a extensão do membro superior. Além dis-
concomitantes são comuns. so, a incorreção do eixo da cabeça com o eixo das colunas
A monitorização utilizada consiste em eletrocardiosco- torácica e cervical no plano horizontal é fator predisponente
pia, oximetria, capnografia, pressão arterial invasiva, pressão para a mesma lesão. O suporte de apoio do braço superior
endotraqueal e tennometria. com frequência causa lesão por compressão do plexo. As re·
Os acessos venosos consistem em uma veia periférica giões com maior frequência de queimaduras estão localiza-
de grosso calibre (cateter extra-agulha 14 ou 16) e uma veia das no membro inferior, que fica flexionado e próximo das
central. A veia periférica, bem como a punção arterial, ficam bordas descobertas da mesa metálica. O coxim na axila infe-
mais bem posicionada no membro contralateral à cirurgia. A rior evita a compressão do membro sobre a mesa e assegura
punção de veia central no lado da toracotomia evita os riscos fluxo sanguíneo adequado para ele.
de um eventual pneumotórax contralateral. A integração do anestesiologista com o cirurgião nos
Os fánnacos anestésicos são individualizados à condição diversos tempos cirúrgicos, com a visualização direta do
clínica do paciente. campo e eventual ventilação manual, é fundamental. A
A via aérea geralmente é mantida com um tubo de duplo ventilação espontánea e a extubação são desejáveis ao fi-
lúmen, o que facilita o campo operatório e diminui o trauma nal do procedimento. Caso seja necessário suporte ven-
e o tempo cirúrgicos. Para maiores detalhes sobre o isola- tilatório, o tubo de duplo lúmen é trocado por um tubo
mento pulmonar e a ventilação monopulmonar, ver as se· simples.
ções correspondentes neste capítulo. As complicações pós-operatórias incluem:
A maioria das ressecções pulmonares é realizada por to·
racotomias laterais. A posição adotada exige cuidados para • Doraguda
evitar algumas lesões prevalentes, incluindo: • Hérnia cardíaca
• Hemorragia maior
• Lesão do plexo braquial • Fístula brônquica
• Lesão do nervo tibial anterior • Insuficiência respiratória
• Lesão peniana • Insuficiência cardíaca direita
• Lesão do membro superior, comprimido contra a mesa • Shunt através de foram e oval patente
cirúrgica • Arritmias
• Queimaduras em diversos locais • Lesões nervosas
A possibilidade de dano por estiramento do plexo bra- Thdas também são de interesse do anestesiologista, que
quial é maior quanto maior for a supinação, a abdução, a deve estar familiarizado com seus detalhes.
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José Carlos Felicetti
Tiago Noguchi Machuca
92
1
Introdução Aspectos históricos
[I] ATENÇÃO O primeiro caso de simpatectomia foi realizado em 1889 na
tentativa de tratamento da epilepsia. Na sequência, esse pro-
cedimento também foi empregado para glaucoma (1899) e
A hiperidrose é uma condição caracterizada pela su- para condições vasoespásticas (1913). Em 1920, foi realizada
dorese excessiva e acomete cerca de 1 a 2% da popu- a primeira simpatectomia para tratamento específico da hi-
lação. Apesar de subdiagnosticada por muito tempo, peridrose localizada. O acesso foi supraclavicular à direita.
o advento do tratamento minimamente invasivo fez D urante as décadas de 1930 a 1950, alguns centros isolados
com que cada vez mais pacientes procurassem ava- adquiriram experiência considerável com a simpatectomia
liação médica para essa afecção. para o tratamento da hiperidrose. Nesse mesmo período,
também foi realizado o primeiro procedimento por toracos-
copia (1942).
Dependendo da sua causa, a hiperidrose pode ser classi- Entretanto, a ampla disponibilização da simpatectomia
ficada como primária/essencial, quando existe hiperativida- só foi impulsionada na década de 1990, com o refinamen-
de do sistema sudomotor sem outra anormalidade aparente, to técnico da videotoracoscopia. Com o aumento da expe-
ou secundária, quando existe outra condição de base respon- riência com essa técnica, as incisões foram diminuindo em
sável pelo suor excessivo. tamanho e em número, até o método atual, que pode ser
A hiperidrose essencial é transmitida como herança realizado com um ou dois trocartes de 5 mm de cada lado,
au tossômica dominante com penetrância variável, sendo sem drenagem torácica e em regime ambulatorial.
que estimativas sugerem que exista 25% de chance de uma
criança apresentar hiperidrose caso um de seus pais tenha
essa condição. Dentre as causas secundárias, destacam-se
tuberculose, tumores funcionantes (como carcinoides e fe-
Fisiopatologia
ocromocitomas) e distúrbios endocrinológicos (como hiper- Existem dois tipos de glândulas sudoríparas no corpo huma-
tireoidismo). no. As glândulas écrinas estão presentes em maior quantida-
Com relação à topografia, a hiperidrose pode ser gene- de, distribuídas ao longo das palmas das mãos e plantas dos
ralizada ou localizada. A localizada é mais frequente e tam· pés, e seu estímulo é feito pela acetilcolina. O suor produzi-
bém a forma passível de tratamento cirúrgico pela simpa- do por essas glândulas é mais fluido e sem odor. Já as glân-
tectomia. Dentre os locais mais acometidos, destacam-se a dulas apócrinas, muito menos numerosas, concentram-se ao
palma das mãos, a axila, os pés e a face. longo das axilas e dos órgãos genitais, são controladas pelo
transmissor noradrenalina e produzem um suor mais viscoso definir a hiperidrose como sem repercussão, com pouca
e com odor característico. repercussão, com repercussão frequente ou ainda com re-
O mecanismo proposto para hiperidrose primária envol- percussão constante sobre as atividades diárias do paciente.
ve hiperatividade neurogênica de circuitos que controlam Pacientes pertencentes aos dois últimos grupos dificilmente
a função das glândulas sudoríparas écrinas, principalmente terão êxito com tratamento não cirúrgico e devem ser consi-
os centros termorreguladores do hipotálamo. As glândulas derados para simpatectomia torácica.
apócrinas têm pouca relevância na biperidrose essencial.
Além disso, tanto as glândulas sudoríparas quanto os gân-
glios e nervos simpáticos são histologicamente normais na
hiperidrose essencial.
Tratamento não cirúrgico
Os agentes tópicos podem apresentar algum beneficio para
pacientes com hiperidrose com pouca repercussão. Dentre
os disponíveis, o cloreto de alumínio é o mais utilizado. Na
Diagnóstico verdade, a maioria dos antitranspirantes convencionais con-
A história C·línica é importante, uma vez que fornece os prin- tém uma dosagem baixa desse composto. Seu mecanismo de
cipais dados diagnósticos quanto à sudorese excessiva. ação baseia-se na obstrução dos poros das glândulas écrinas.
A hiperidrose essencial geralmente se manifesta logo Entretanto, seu benefício é apenas momentâneo e depende
na infância e é sempre simétrica. O paciente costuma re- de reaplicações periódicas. Além disso, a formulação pode
ferir que na infância existia dificuldade de interação com ser bastante irritativa para alguns pacientes?
os colegas e problemas nas atividades de escrita, sobretu- Apesar da ampla disponibilidade de agentes anticolinér-
do provas escolares. Muitos pacientes chegaram inclusive gicos via oral, sua aplicabilidade em pacientes com hiperi-
a fazer uso diário de uma toalha específica para secar as drose é limitada por seus efeitos colaterais, mais especifica-
mãos. Já na vida adulta, referem persistência da dificulda- mente visão borrada, hipotensão postura!, retenção urinária,
de de interação social, principalmente ao cumprimentar palpitações, cefaleia e xerostornia.
com aperto de mão. Outra dificuldade relatada refere-se Em nosso meio, o medicamento mais utilizado é a oxi-
ao manuseio de instrumentos musicais com cordas. Em al- butinína. Essas medicações são reservadas sobretudo para
guns pacientes, além do suor excessivo, existe um mau odor casos não passíveis de tratamento cirúrgico (hiperidrose
associado (bromidrose). generalizada) ou em casos de pacientes com sudorese com-
No caso de pacientes com hiperidrose axilar, é frequente pensatória pós-simpatectomia de grau acentuado. Em aná-
a queixa de desconforto com as roupas invariavelmente mar- lise de 14 pacientes com hiperidrose generalizada (portanto
cadas nas axilas, inclusive com a necessidade de troca das sem indicação de cirurgia), autores holandeses mostraram
vestimentas várias vezes ao longo do dia. Pacientes com hi- que um tratamento com 2,5 mg de oxibutinina três vezes ao
peridrose plantar associada referem extrema dificuldade em dia por 30 dias foi eficaz para controle da maioria dos ca-
utilizar calçados abertos e meias frequentemente molhadas. sos, com poucos efeitos adversos' Apesar da avaliação dos
Alguns critérios diagnósticos foram validados e ajudam na autores ter se limitado ao período sob uso da oxibutinina, o
prática clínica diária (QUADRO 92.1). grande problema dessa terapêutica refere-se ao retorno dos
Durante a avaliação do paciente com hiperidrose, as cau- sintomas após a cessação do tratamento.
sas secundárias devem ser levadas em consideração, sobre- A iontoforese consiste na passagem de corrente elétri-
maneira nos casos que fogem às características da hiperidro- ca através da pele submersa na água. Pela necessidade de
se essencial ( sudorese generalizada, inicio na vida adulta). submersão, essa terapêutica fica comprometida em casos de
Outra questão que deve ser avaliada com cuidado diz hiperidrose axilar e craniofacial. Apesar de alguns resultados
respeito à severidade da sudorese, mensurada por sua re- satisfatórios, a técnica exige múltiplas sessões de tratamento
percussão nas atividades diárias do paciente. Apesar de não e os resultados têm duração limitada a poucos meses. Efei-
exigir o uso de uma escala formal, o médico idealmente deve tos colaterais podem ocorrer, especialmente irritação local,
eritema ou erupção cutânea.
A última forma de tratamento não cirúrgico consiste no
QUADRO 92.1 ~ Critérios diagnósticos para hiperidrose localizada emprego da toxina botulínica. O mecanismo de ação dessa
primária medicação, popularizada pelo tratamento de distúrbios neu-
romusculares, consiste no bloqueio da liberação da acetilco-
Suor excessivo sem causa secundária com duração de pelo menos seis lina na placa motora. No âmbito específico da hiperidrose,
meses associado a pelo menos duas das características a seguir: o bloqueio da acetilcolina impede o estímulo p6s-sináptico
1. Sudorese excessiva bilateral e simétrica das glândulas sudoríparas écrinas. Nos Estados Unidos, o
2. Pelo menos um episódio de sudorese excessiva por semana uso da toxina botulínica é aprovado pela Food and Drug Ad-
3. Repercussão sobre as atividades diárias rninistration (FDA) para o tratamento da hiperidrose axilar.
4. Início em idade inferior a 25 anos Entretanto, independentemente da topografia acometida, o
S. História familiar positiva efeito da medicação não é imediato e sua duração é limita-
6. Cessação da sudorese excessiva durante o sono da a uma média de seis meses. Ademais, contraindicações
devem ser lembradas quando se considera o uso dessa neu-
fonte: Hombfrger e colaboradores. 2 rotoxina.
Apesar de representarem estratégias não invasivas para • Acesso supraclavicular por incisão bilateral junto à ela·
o tratamento da hiperidrose, todas essas formas de tra· vicula com dissecção profunda do escaleno anterior e da
tamento não se equiparam aos resultados obtidos com a pleura parietal, com campo operatório extremamente
simpatectomia torácica por videocirurgia em centros espe- restrito e elevado risco de síndrome de Homer.
cializados. Esse conceito é reforçado por dois estudos pros· • Acesso transtorácico anterior, com necessidade de tora-
pectivos recentemente publicados. cotomia anterior ampla e suas consequentes repercus-
No primeiro estudo, pesquisadores americanos anali· sões pós-<>peratórias.
saram 47 pacientes com hiperidrose palmoplantar tratados • Acesso por via axilar, aparentemente o menos invasivo
com cloreto de alumínio tópico (46), anticolinérgicos (40) e dos acessos abertos, porém também com necessidade de
iontoforese ( 6). Com apenas dois casos de sucesso com trata· uma toracotomia axilar com afastamento de costelas.
mento não cirúrgico (1 com cloreto de alumínio e 1 com an·
ticolinérgicos), todos os demais pacientes foram submetidos Contabilizando todos os aspectos negativos do trata-
à simpatectomia torácica.5 O índice de sucesso do tratamen- mento cirúrgico aberto para uma condição até certo ponto
to cirúrgico nesses 45 pacientes foi de 100%. Para reforçar "suportável", fica fácil entender o pequeno avanço dessa te·
esses achados, no mesmo artigo relata-se a experiência com rapêutica no período pré-videotoracoscopia.
mais 145 pacientes analisados retrospectivamente. Desses, Apesar da existência de variações técnicas, a simpatecto·
89 foram submetidos a tratamento com cloreto de alumínio, mia videotoracoscópica bilateral (FIGURAS 92.1 e 92.2) atual·
38 com anticolinérgicos, 31 com iontoforese e 8 com toxina mente é realizada da seguinte forma pelos autores:
botulinica. Apenas um paciente tratado com anticolinérgico
obteve resultado satisfatório, com falha em todos os demais. • O procedimento é ambulatorial, geralmente realizado
Esses pacientes foram então submetidos à simpatectomia, pela manhã.
com índice de sucesso de 99,3%. • O paciente é submetido à anestesia geral com entubação
No segundo estudo, autores italianos compararam 68 pa- com tubo de duplo lúmen para ventilação monopulmonar.
cientes submetidos à simpatectomia torácica com 86 pacien-
tes tratados com toxina botulínica por hiperidrose palmar. 6
Na análise objetiva da melhora pós-tratamento, observaram
melhor índice de redução do suor aos seis meses nos pacien-
tes submetidos à cirurgia (94% vs. 63%) e clara piora dos
resultados com toxina botulínica no seguimento de 12 meses
(94% de redução do suor com cirurgia vs. 30% com toxina
botulínica).
Tratamento cirúrgico
~ ATENÇÃO
Durante a avaliação clfnica, a opção pelo tratamento FIGURA 92.1 ~ lntraoperatório da simpatectomia torácica direita por
cirúrgico deve ser oferecida para pacientes com hipe- videocirurgia, com identificação de cadeia simpática, costelas e veia
ridrose palmar (ou palmoplantar) com repercussão cava superior.
frequente ou constante sobre as atividades diárias.
a
FIGURA 93.1 ~ Granuloma - (A) nódulo densamente calcificado no lobo superior direito. (B) nódulo escavado com cavidade apontada para o brôn·
qui o de drenagem. (0 nódulos densos e múhiplos de distribuiçáo unilateral em paciente jovem.
a
FIGURA 93.2 ~ Carcinoma brõnquico - (A) nódulo de 1,8
em em lobo superior direito com extenso halo de infiltraçAo
periférica e estria pleural marcada (adenocarcinoma). (8)
nódulo de 1 em na língula com halo de infiltração periférica
(adenocarcinoma). (Q nódulo de 18 mm em situaçAo peri·
férica em segmento apiooposterior, com estria pleural gros·
seira. (O) nódulo de 2,8 em, com extenso halo de infiltraçAo
periférica e escavação central, com densidade heterogênea,
áreas mais densas e outras em "vidro fosco·. A biópsia com
vídeo mostrou carcinoma bronquioloalveolar em mais de
80% do nódulo ressecado. (E) nódulo de 13 mm com áreas
de densidade variável. A biópsia excisional aponta adeno-
carcinoma com padrJo de carcinoma bronquioloalveolar
em 60% da ~a operatória.
Tumor carcinoide
O tumor careinoide faz parte dos tumores chamados de neu-
roendócrinos, um amplo espectro neoplásico que contém
no seu extremo menos agressivo o tumor carcinoide típico
e, no outro, o mais maligno, o carcinoma indiferenciado de
pequenas células. O tumor carcinoide atípico e o carcinoma
diferenciado de pequenas células completam o espectro.
• História clínica
• Métodos de imagem
• Exames de escarro
• Punção pulmonar
• Fibrobroncoscopia orientada
• Videotoracoscopia
• Toracotomia exploradora
FIGURA 93.9 -7 (A) nódulo com borda irre9ular em situação medular no lobo superior direito (adenocarcinoma). (B) nódulo medular com estria
pleural em lobo médio (carcinoma bronquioloalveolar).
FIGURA 93.11 ~ (A) tipos de bordas das lesões pulmo-
nares nodulares. (B) lesão dstica (cisto hidático) peri f~
rica do lobo inferior esquerdo. limites lisos e bem defi·
nidos. Bordas de tipo I. (C) lesão sólida (carcinoma) do
lobo inferior esquerdo. com limites anfractuosos, mas
bem nitidos. Bordas de tipo 11. (O) lesão sólida (histoplas·
morna) com limites alternadamente precisos e impreci·
sos. Bordas de tipo 111. (E) lesão sólida (adenocarcinoma)
com extenso halo de infiltração periférica. Bordas de
tipo IV.
imagem em umbelicadura da pleura visceral, que é bastante Por outro lado, é tão incomum que uma metástase pul·
sugestiva de carcinoma brônquico periférico na inspeção da monar de carcinoma se dissemine para os gânglios regionais
superffcie pulmonar na toracotomia o u, mais modernamen- que, diante desse achado, o cirurgião deve considerar muito
te, na videotoracoscopia. mais provável que se trate de um segundo primário, agora
Ainda que alguns nódulos de natureza fúngica possam pulmonar, e com metástases ganglionares.
ser acompanhados de adenomegalias regionais, este achado Um dos elementos radiológicos mais utilizados na ava-
radiológico costuma estar associado à neoplasia primária de liação tomográfica de um nódulo é a impregnação de con-
pulmão. A neoplasia pulmonar que mais precocemente se traste. Partindo do princípio de que as lesões neoplásicas são
dissemina por via linfática é o carcinoma indiferenciado de mais perfundidas do que os nódulos cicatriciais, o grupo da
pequenas células, e a grande desproporção entre o tumor Mayo Clinic" propôs a comparação da densidade das lesões,
primário e as adenomegalias mediastinopulmonares é sua antes e depois da injeção de contraste, como um parâmetro
principal característica (FIGURA 93.15). distintivo. Em uma revisão de 171 nódulos malignos e 185
sugestivo de malignidade (FIGURA 93.16), o que permitiu clas-
sificar corretamente 167 de 171 tumores malignos (sensibi-
lidade de 98%).
A avaliação dos nódulos pulmonares a partir de sua
condição metabólica na PET representou, sem dúvida, o
grande avanço propedêutico da virada do século. Inicial-
mente utilizado com um exame isolado, a PET já demons-
trou uma alta sensibilidade (95%) e razoável especificida-
de (80%) em uma publicação de Dewan e colaboradores,' 5
que descreveu o diagnóstico correto em 27/30 nódulos
pulmonares. Houve um falso-negativo (adenocarcinoma
em cicatriz) e dois falso-positivos (ambos granulomas por
histoplasma). O índice de captação da fluorodeoxiglicose
(FDG) e o standard uptake va/ue (SUV) têm relevância
AGURA 93.13 ~ (A) lesão medular em lobo inferior esquerdo com 4,5 na avaliação diagnóstica do nódulo pulmonar. O valor de
em de diâmetro, cavilação central e halo de infiltração periférica. A SUV acima de 2,5 é considerado sugestivo de neoplasia
punção aspirativa foi negativa pa ra células malignas. (B) controle radio-
(FIGURA 93.17).
lógico cinco meses depois, com lesão reduzida para 3 em de diâmetro. 16
Foi indicada a ressecção por persistência de escarro hem~tico (adeno-
Em uma publicação de Veronesi e colaboradores, que
carcinoma). realizaram um estudo de rastreamento de cãncer de pulmão
na população de risco, é descrita uma captação (SUV) acima
de 2,0 em 51 dos 58 casos de cãncer comprovados cirurgica-
mente. Isso significou uma sensibilidade de 88%, e que al-
benignos, os autores demonstraram que o aumento de den- cançou os 100% em um subgrupo no qual os nódulos tinham
sidade foi de 38 UH para as lesões malignas e 10 UH para mais de 10 mm. Os autores concluíram que o método é útil
as benignas. Um aumento superior a 15 UH foi considerado na seleção de casos que mereçam ulterior investigação e su-
FIGURA 93.14 ~ (A) adenocarcinoma do lobo superior esquerdo com estrias pleurais grosseiras. (B) adenocarcinoma de 7 mm no lobo superior
direito, com retração da pleura cissural (T2). (C) adenocarcinoma de 2 em com uma retração muito sutil da pleura cissural (T2).
FIGURA 93.17-+ (A) nódulo de 2,5 em em segmento posterior direito, com leve retração da pleura cissural e estrias cicatriciais satélites. (8) PET com
alto fndice de captaç~o (SUV 5,5). Adenocarcinoma.
FIGURA 93.18-+ (A), nódulo de 2,2 em, com bordas ir·
regulares em paciente grande fumante. (B) acentuada
captação na PET (SUV 5,5) no n6dulo e em gânglio ~
diastinal. A mediastinoscopia mostrou lesão granuloma·
tosa e a ressecçâo do n6dulo com cirurgia tor~cica video-
·assistída (CTVA) : histoplasmoma.
gs e colaboradores.13 Com base nas variáveis reconhecidas QUADRO 93.3 -+ Modelo para câlculo da taxa de probabilidade
como de risco para neoplasia, estes autores est abeleceram (TP) de carcinoma brônquico
um modelo de cálculo da probabilidade de que uma de-
terminada lesão corresponda a um carcinoma brônquico
(QUADRO 93.3). Os dois primeiros itens são idade do pa- I~
ciente c diâmetro da lesão. Depois, história de tabagismo, < 3()..0,11 0,75·0,32
bordas da lesão e densitometria na tomografia computa-
dorizada. 30·0,30 1,00·0,50
A FIGURA 93.19 mostra um caso clínico com aplicação do 35·0,38 1.25·0,60
modelo para cálculo da taxa de probabilidade de carcinoma
brônquico. 40-0,60 1,5Q-{),9
O uso desse modelo de fácil aplicação deve servir pelo
menos para aumentar o nível de angústia de médicos que 45·0,87 1,75·1,20
frequentemente recomendam conduta contemplativa em 2,00·1,60
50·1,30
nódulos cujo potencial neoplásico desconhecem.
55·1,70 2,70·2,80
60-2,40 3,00·3,10
65-3,20 3,25·3,50
70·4,40 3,50-3,90
75·5,80 3,75·4,30
8()..7,80 4,0()..4,80
Imm1:;n •·IJ;'',:.w
Nunca fumou 0,15
Fumante
Probabilidade de câncer= 0,66x 1,7 x 1,6x0,58x 2,0 x 2,15 = 4,48, - 4-6anos 0,50
ou seja,
- 7-12 anos 0,10
Probabilidade de câncer = 4,4a/1 + 4,48 = 0,82 x 100 = 82%
----- - >13anos 0,10
TP
A conduta modemamente recomendada leva em consi-
Bordas da lesJo X
deração elementos clinicos e radiológicos e pode ser sinteti-
Tipo I: 0,21
zada conforme o QUADRO 93.4.
Tipo li : 0.58
Tipolll: 5,00 Com a realização frequente de rastreamentos para diag-
Tipo IV: 14.00 nóstion mais precoce de câncer de pulmão na população de
risco e a indicação mais amiúde de exames de imagem no
tórax, tomou-se onrriqueiro o achado de nódulos e micro-
nódulos, em geral responsáveis por gJ"ande ansiedade, face
a uma lesão de potencial indefinido e agJ"CSSividade inoerta.
Na tentativa de orientar a onnduta, a Fleiscbner Societ?
TlpoiV
propôs o protocolo descrito oo QUADRO 93.5, que vem sendo
universalmente seguido.
Densltometrla na TC x TP
C.lcilicoçio 0,02 QUADRO 93.4-+ Conduta recomendada para nódulos pulmonares
Sem calcificaçio 2,1 5
Não medida 1,00 GRUPO 1: Les.lo benigna ou muito provavelmente benigna
(calcificação central ou difusa, ou de tamanho inalterado nos últimos
FIGURA 93.20 -+ Referenciais para o c~lculo da probabilidade de um dois anos)
nódulo ser carcinoma brOnquico (borda e calcificação)" - CONDUTA: Observar, acompanhando com radiografia anual.
Thsse irritativa.
Desproporção entre o que parece que o paciente tem de
secreçáo e o que ele expectora_
o Dispneia crescente aos esforços.
o Roncos e sibilos na região estemal.
A radiografia penetrada pode dar uma ideia da localiza-
O ruído indicativo de grande quantidade de secreção ção da estenose, sobremaneira em incidências oblíquas.
traqueal que desaparece com a eliminação de um simples A traqueografia, usada com frequência no passado, foi
escarro é um dado altamente sugestivo em pacientes com praticamente abandonada em favor de técnicas de imagem
antecedente de entubação prolongada. não invasivas. Além disso, nas estenoses muito acentuadas,
A ausculta também é caracterfstica porque os sibilos a presença do contraste, ainda que bem dilufdo, em geral
predominam na região esternal e decrescem em direção à determinava um agravamento da dispneia.
periferia, exatamente o contrário do que ocorre em doenças Modemamente, a TC helicoidal, pelo recurso da recons-
pulmonares obstrutivas. A propósito, surpreende o número trução tridimensional e da broncoscopia virtual, representa
de pacientes com antecedentes de entubação e sem história o mais avançado instrumento de diagnóstico de estenose
de asma que são rotulados como asmáticos, ignorando•se as traqueal, permitindo não apenas a demonstração precisa do
pistas diagnósticas de estenose traqueal e remetendo o caso local e da extensão da estenose, mas também antecipando os
para uma dramática situação de pré-oclusão traqueal no fu- achados endoscópicos.
turo próximo. Apesar dos avanços imagéticos da TC helicoidal, a fibro-
Essa primeira fase pode durar semanas ou meses e impli- broncoscopia, associada ou não aos benefícios de arquivo da
videobroncoscopia, é um exame absolutamente indispensá-
ca a redução do calibre da traq ueia em 85 a 90%. A partir de
vel. E isso por três motivos: a necessidade de se excluir a
então, a queixa de dispneia se acentua e surge um elemento
eventual coexistência de uma lesão supraglótica, glótica ou
novo e precipitador da evolução: a comagem. Quando a fen-
subglótica; a verificação da dinâmica traqueal identificando
da traqueal é tão estreita a ponto de aparecer comagem, há
ocasionais distúrbios decorrentes de malácia; e a constata-
um novo fator de agressão da mucosa traqueal com agrava-
ção do estado de maturidade da lesão traqueal, impondo-se
mento do edema: a turbulência do ar.
a postergação do tratamento cirúrgico sempre que a endos-
Esse novo agressor da mucosa traqueal é tão importan-
copia constatar a presença de granulomas que denunciam a
te que uma obstrução, antes arrastada de estenose traqueal,
existência de um processo inflamatório em atividade.
costuma se completar em horas ou poucos dias depois do
A utilização dos diferentes métodos para diagnóstico
surgimento de comagem.
depende basicamente da gravidade do quadro clínico. Nas
Por essa razão, constitui-se erro grosseiro manter fora do estenoses moderadas ou leves, os métodos de imagem, em
hospital um paciente com estenose traqueal que iniciou com especial a TC helicoidal, podem ser empregados com tran-
respiração ruidosa. quilidade na avaliação da estenose. Nas estenoses graves,
A segunda fase, a da suboclusão troqueal, é uma das ur- com quadro de suboclusão traqueal, a endoscopia, rígida ou
gências médicas mais dramáticas, com angústia extrema, cia- de fibra óptica, é a única forma de comprovação diagnóstica
nose, sudorese, agitação e estridor traqueal intenso. possível, e que imediatamente se acompanhará de um proce-
Um dano traqueal mais raro que pode decorrer de en- dimento dilatador da traqueia.
tubação prolongada é a traqueomalácia localizada, na qual
a compressão do balonete determinou uma desestruturação
do arcabouço cartilaginoso, resultando em um segmento flá- Tratamento
cido e colapsável da traqueia durante as manobras expirató-
rias forçadas. Na urgência
Nos últimos anos, têm sido publicados uma série de ca-
sos de estenoses idiopáticas, a maioria delas afetando a re-
gião subglótica e geralmente comprometendo mulheres de
~ ATENÇÃO
meia-idade. A possibilidade de que pelo menos alguns des- Na suboclusão traqueal, a prioridade f! o restabeleci-
ses casos decorram de refluxo gastresofágico crônico, com mento da via af!rea por meio de entubaçAo traqueal
aspiraçôes traqueais repetidas, deve ser considerada. com dilataçAo. Quase todas as estenoses traqueais
pós-entubação são dilatáveis, por não serem unifor-
memente rfgidas. A porçbo mais externa do anel este-
Diagnóstico nótico costuma ser fibrosa, mas o seu miolo, de cons-
tituição mais recente, em geral é formado por tecido
A história clínica de entubação prévia, não necessariamente de granulação e edema, sendo portanto fadlmente
prolongada, é fundamental para a suspeição diagnóstica. dilatável.
A dilatação pode ser feita com broncosc6pio rígido, sob • O procedimento envolve contaminação da ferida opera-
visão direta, ou às cegas, com o tubo traqueal fino armado tória, de tal maneira que um paciente traqueostomizado
com uma guia metálica. Ainda que a primeira alternativa não poderá ser encaminhado para a traqueoplastia defi-
seja obviamente a mais segura, ela nem sempre está dispo- nitiva antes que o traqueostoma esteja cicatrizado, den-
nível com a premência exigida, de tal forma que a dilatação tro de 3 a 4 semanas.
com o próprio tubo é a mais usada. • A menos que a traqueostomia tenha sido casualmente
Quando se planeja fazer a dilatação com broncoscópio feita sobre o segmento estenótico, o que é raro, a área do
rígido, a estenose é visuali2ada e um aspirador metálico é traqueostoma deverá ser ulteriormente incluída na res-
introdutido para transpô-la e servir de guia aos movimentos secção traqueal, aumentando a extensão da ressecção e
giratórios do broncoscópio durante o procedimento, toman- as dificuldades técnicas decorrentes disso.
do-o mais seguro.
Na dilatação às cegas com um tubo traqueal, existe o
risco de ruptura da parede da traqueia se ele for inadequa- Tratamento eletivo
damente forçado contra a junção da estenose e a parede Obtido o controle da situação de urgência com a dilatação
normal. Para reduzir tal risco, um pequeno artitlcio faz essa traqueal, o paciente recebe tratamento clinico da infecção,
dilatação menos temerária: montado o tubo traqueal fino sendo observado em regime ambulatorial durante 4 a 6 se-
(6,5 ou 7,0) com uma guia metálica rígida (o fio de Kirchner manas, com a recomendação de que volte imediatamente ao
é uma boa alternativa), procede-se uma pequena inversão hospital se surgir comagem. Por vezes a dilatação traqueal
da curvatura da ponta do tubo, dando-lhe uma configura- precisa ser repetida visando manter uma ventilação adequa-
ção semelhante à do bico do Concorde. Esse recurso simples da até o momento mais apropriado para a solução cirúrgica
evita a pressão que o tubo com a curvatura usual faz inva- definitiva.
riavelmente na junção da traqueia normal com a estenose, A reavaliação cndoscópica depois desse período deve
e que pode eventualmente provocar a ruptura da traqueia mostrar um esfriamento da reação inflamatória da parede
nesse nível. da traqueia, com desaparecimento dos granulomas e evidên-
Com a ponta curva, o tubo pode ser pressionado com um cias de um processo mais fibroso, circunferencial, mais ou
movimento giratório sobre o seu próprio eixo, que se mante- menos rígido.
rá paralelo ao eixo da traqueia.
Ultrapassada a estenose, insufla-se o balonete traqueal,
e com ele inflado traciona-se o tubo de volta, procedendo-
-se a dilatação de baixo para cima com toda a segurança. A
seguir, a manobra pode ser repetida com um tubo traqueal
mais calibroso.
Recomenda-se cuidado especial com os pacientes idosos,
nos quais a cifose muda o eixo da traqueia, e com os pacien-
tes anestesiados muito superficialmente que, ao reagirem à
presença do tubo, podem favorecer a ruptura da traqueia
durante a tentativa de dilatação, o que seria reconhecido
pelo aparecimento abrupto de enfisema subcutâneo. O sucesso do tratamento cirúrgico depende da obediên-
Resolvida a urgência, a traqueia é inspecionada para ve- cia a alguns princípios técnicos inflexíveis:
rificar a maturidade da reação inflamatória na sua parede e
também para colher amostras de secreção traqueobrônquica • Não operar na fase de traqueíte aguda.
para exame bacteriológico. A dificuldade de remoção de es- • Evitar dissecções excessivas, especialmente das paredes
carro, inerente à estenose traqueal, justifica o achado quase laterais da traqueia por onde entra a circulação da pare-
constante de infecção brônquica, a ser tratada antes da ope- de, o que implicaria risco aumentado de deiscência.
ração definitiva. • Identificar com precisão a zona estenótica, antes de abrir
Por outro lado, a identificação de granulomas, típicos de a traqueia. A incisão abaixo ou acima do ponto ideal im-
um processo inflamatório ativo, protela a indicação cirúrgi- plica a necessidade de ressecar-se mais traqueia do que
ca, dada a elevada incidência de reestenose quando a anasto- seria originalmente necessário, com consequente aumen-
mose traqueal é reali2ada extemporaneamente. to da tensão na anastomose. Quando a zona estcnótica
A traqueostomia seria reservada às raríssimas estenoses não é facilmente identificável por inspeção ou palpação,
não dilatáveis e, quando excepcionalmente indicada, deveria recomenda-se a introdução de um fibrobroncoscópio
situar-se sobre o segmento estenosado, o que nem sempre é através do tubo traque.al e a identificação do ponto exato
possível. A indicação de traqueostomia como primeira atitu- da estenose, mediante punção da parede traqueal com
de em paciente com obstrução de via aérea é um dos erros agulha fma. Na indisponibilidade desse recurso endoscó-
mais grosseiros e frequentes no manejo de indivíduos com pico, a colocação de dois pontos de seda abaixo e acima
estenose traqueal de qualquer causa. da zona presumível da estenose, e a tração cranial dos
A indicação equivocada de traqueostomia nesses casos pontos inferiores e distai dos superiores, vai determinar
traz duas coosequências danosas para a solução definitiva do um sanfonamento da traqueia com uma nítida angulação
caso: do segmento estenótico, muito menos elástico.
• Evitar anastomoses tensas, que envolvem dois riscos: perextensão cervical. O uso de coxim subescapular, inflável
deiscência e reestenose. Para isso, é essencial a liberação ou não, é providencial para melhor expor a traqueia me-
proxúnal e distai da traqueia, fundamentalmente da sua diastinal.
parede anterior.
• Não ser demasiado econômico na amputação da parede
doente, o que invariavelmente evolui para reestenose na
fase de cicatrização.
Ventilação
• Não ressecar mais do que o necessário, reduzindo ao mí- A familiaridade do anestesista com a cirurgia da traqueia é
nimo a tensão da anastomose. fundamental para a sua execução sem sobressaltos. A iden-
• Operar o paciente em leve posição de 'frendelenburg, di- tificação da extensão, do grau e da localização da estenose é
ficultando com isso a migração de secreção hemática do indispensável para uma planificação segura da indução anes-
campo operatório para a via aérea distai. tésica e da ventilação intraoperatória. Praticamente não há
• Manter oxigenação satisfatória e uniforme. O uso de dificuldade na indução do paciente traqueostomizado, mas é
oxúnetria de pulso facilita o controle de uma ventilação indispensável a disponibilidade de material de endoscopia,
adequada, alternando períodos de hiperventilação com incluindo broncoscópio rígido infantil, naqueles casos em
apoeia. A retomada da ventilação quando a oximetria que a presença de uma estenose importante antecipa dificul-
mostra valores abaixo de 94% evita a ocorrência de hi- dades de entubação. A dilatação feita sob visão direta ofere-
poxemia indesejável. ce menor risco de ruptura da parede traqueal. A dilatação
• Proteger a anastomose com algum tecido viável da re- pré-entubação é modernamente feita sob anestesia venosa
gião. A musculatura pré-tireóidea e a gordura tímica são de ação rápida (propofol).
os tecidos mais facilmente disponíveis. Entubado o paciente, inicia-se a anestesia com gases ha-
• Evitar trações abruptas da anastomose no pós-operató- logenados e sem relaxantes musculares, o que permite a ven-
rio. Para isso, muitos cirurgiões prendem o mento à pele tilação espontânea em tempos ulteriores do procedimento.
do manúbrio do esterno com grossos fios de sutura. Te- No momento em que o cirurgião abre a traqueia depois
mos dispensado o aspecto medieval desta medida sutu- de tê-la dissecado previamente, uma estratégia inteligente
rando a musculatura cervical (pré-tireóidea) na parede é a passagem de um fio de sutura na extremidade distai do
anterior da traqueia distalmente à anastomose, garan- tubo traqueal que poderá ser tracionado pelo anestesista
tindo com isso dois beneficios: separar a anastomose do para a cavidade oral, desobstruindo o campo cirúrgico, e
contato direto com o tronco inominado e ancorar a tra- posteriormente tracionado pelo cirurgião para a luz traqueal
queia abaixo da anastomose à musculatura cervical, de quando a anastomose das paredes posterior e lateral já es-
maneira que as extensões da cabeça tracionem a traqueia tiver completada. Com essa sequência, evita-se nova mani-
distai e não a linha de sutura. pulação da cavidade oral para a entubação e a indesejável
hiperextensão da cabeça.
Durante a ressecção e a anastomose, é frequente a ne-
cessidade de retirada do tubo traqueal para ampliação do
Vias de acesso campo cirúrgico, o que toma imperiosa a alternância de pe-
A cervicotomia em colar é a via de acesso mais usada em ríodos de hiperventilação com apoeia, uma estratégia que
cirurgia traqueal porque através dela são operadas as le- atualmente pode ser feita com toda a segurança depois da
sões cervicais e a maioria das mediastinais, reservando-se disponibilização rotineira da oximetria de pulso. Como a
a toracotomia direita para as lesões justacarinais. A cervi- maioria desses pacientes tem pulmões normais, é comum
coesternotomia parcial é uma via de acesso que tende a ser que, depois de um período de hiperventilação de 2 a 3 mi-
empregada muito raramente na medida em que cresce a ex- nutos, o paciente tolere outros 10 minutos de apoeia sem
periência do grupo cirúrgico. Em nossa opinião, a esterno- baixar a saturação de 90%.
tomia deve ser evitada sempre que possível, reduzindo-se a A recomendação é que se retome a ventilação mecânica,
morbidade do procedimento e evitando o risco de osteomie- geralmente por meio de cânulas esterilizadas introduzidas
lite de esterno, uma complicação muito mais frequente em no campo cirúrgico, sempre que a oxúnetria revelar uma
cirurgia de traqueia do que em outras cirurgias que exigem queda progressiva da satur ação da hemoglobina (SatHb)
esternotomia. atingindo índices de 94 a 93%.
As maiores dificuldades técnicas relacionadas com a ex- Completada a cirurgia, é recomendável a passagem do
posição do campo cirúrgico têm sido observadas nos pacien- fibrobroncoscópio, que terá duas utilidades: inspecionar a
tes brevilíneos, obesos e de pescoço curto. Os pacientes ido- anastomose e promover uma limpeza da via aérea, removen-
sos, com cifose da coluna cervicotorácica, também oferecem do secreções e sobretudo coágulos decorrentes de sangra-
dificuldades de exposição de estenoses mais baixas devido à mento intraoperatório.
menor distensibilidade da traqueia. Na maioria dos casos, a extubação é precoce. As exce-
No extremo oposto, pela facilidade, estão os pacien- ções são pacientes com anastomoses subglóticas, que alguns
tes jovens, longilíneos e de pescoço longo e em especial preferem manter entu bados por via nasal durante 24 a 48
as crianças, nas quais é possível abordar lesões próximas à horas para ter certeza de que o edema inicial não vai com-
carina da traqueia através de cervicotomia associada a hi- prometer o calibre traqueal.
Essas extubações tardias devem ser feitas em ambiente onde entram os nervos laríngeos inferiores que não podem
adequado com disponibilidade de fibrobroncoseópio e ma- ser lesados. 1
terial de entubação. Como a amputação traqueal é feita muito perto das cor-
das voc;ajs, sobre a membrana cricotireóidea, é comum que a
anastomose não te oba a consistência desejável para garantir
uma permeação confiável da via aérea a esse nível, e mui-
Técnica cirúrgica tos cirurgiões concluem o procedimento com a colocação
A técnica cirúrgica é variável, dependendo muito da locali- de uma cânula de Montgomery cuja extremidade proximal
zação da estenose. ultrapassa minimamente a fenda glótica.
Desde 2007, e em 28 casos consecutivos, temos usado
uma técnica em que se amputa a zona estenótica com pre-
Estenose subglótica (Figura 94.1) servação do anel cricóideo, que é esculpido círcunferencial-
Esta é a estenose de solução mais complexa porque envolve mente para criar uma boca anastomótica proximal ampla e
o restabelecimento não apenas da ventilação, mas também rígida (FIGURA 94.3).
da fonação e da deglutição. Os princípios técnicos da cricoidoplastia são os seguintes:
A estenose subglótica geralmente é decorrente de trau-
ma provocado pelo próprio tubo. A enorme variedade de • Usar parte da estenosc como forma de preservar a "ar-
técnicas propostas não somente dá uma ideia da complexi- madura" da região subglótica.
dade, mas também expressa a necessidade de adequação da • Esculpir a zona de fibrose com bisturi lâmina 11, res-
abordagem operatória ao achado cirúrgico. secando a porção fibrosa da cartilagem cricóidea, pre-
A técnica mais famosa é a de Pearson (FIGURA 94.2), que servando a mucosa e uma lâmina externa de carlilagem
propõe a ressecção da região subglótica com uma amputa- (FIG URA 94.4).
ção em diagonal que remove os dois terços anteriores da • Distender a mucosa por meio da colocação de um tubo
cartilagem cricóidea, poupando os seus cornos posteriores caudocranial e manter o balonete insuflado durante 30
segundos para distender a mucosa e depois suturá-la
com pontos separados de fio PDS na lâmina de cartila-
gem remanescente (FIGURA 94.5).
• Proceder a anastomose terminoterminal, sem necessida-
de de próteses (FIGURA 94.6).
era causado, muito provavelmente, devido a hematoma sub- próteses ele é tão somente rechaçado, voltando à posição
mucoso na zona da cricoidoplastia, os pacientes passaram a original depois de poucas horas ou dias.
ser mantidos entubados, por via nasotraqueal, nas primeiras
24 horas do pós-operatório, e não ocorreu mais essa com-
plicação. Estenose cervicomediastinal
Os resultados nitidamente superiores aos do uso de pró- Esta é a estenose verdadeira atribuível à compressão susten-
teses, autoexpansíveis ou não, devem-se a um princípio lógi- tada e isquemiante do balonete traqueal. A correção cirúr-
co: na cricoidoplastia, o tecido fibroso resultante da reação gica é mais simples e os resultados, mais previsíveis e satisfa-
inflamatória (FIGURA 94.7) é removido, enquanto que com as tórios (FIGURA 94.8).
FIGURA 94.8 7 (A) uma estenose ceNicomediastinal de cerca de 2 em de extensão documentada por tomografia helicoidal, o método de imagem
mais moderno. (B) imagem do campo cirúrgico com a traqueia aberta na zona da estenose e uma cânula distai mantendo a ventilação.
FIGURA 94.9 ~ (A) anasto·
mose com sutura contfnua da
parede membranosa da tra-
queia. (8) completada a parede
posterior.
quer extensão intempestiva da cabeça implicará tração ape- siado alta para ser abordada por toracotomia direita e de-
nas da traqueia distai à anastomose. masiado baixa para ser operada por via cervical. Nesses
A drenagem do mediastino com dreno do tipo Penrose casos, uma cervicoesternotomia pode ser a melhor opção
é rotina. (FIGURA 94.11 ).
• Uso muito cuidadoso e limitado de eletrocauterização. Grillo HC, Oonahuc OM. Postintubation trachcal stcnosis. Cbest
Surg Clin N Am. 1996;6(4):725-31.
• Dissecção restrita ao plano traqueal, especialmente na
intersecção traqueoesofágica. Grillo HC, Oonabue OM, Mathisen OJ, Wain JC, Wright CO. Pos-
tintubation trachcal stenosis: trcatmcnt and rcsults. J Thorac Car-
A incoordenação para deglutir pode estar associada à diovasc Surg. 1995;109(3):486-92.
tensão exagerada da anastomose ou ao rebaixamento da la- Grillo HC, Mathiscn OJ. Primary tracheal tumors: treatment and
ringe pela técnica de Montgomery, que propõe a secção da results. Ann ThoracSurg. 1990;49(1):69-77.
musculatura supratireóidea.
Macchiarini P. Primary trachcal tumours. Lancei Oncol.
A dificuldade de expectoração por problemas neurológi-
2006;7(1):83-91.
cos também representa um fator de risco em pós-operatório
imediato, caracterizando, em nossa opinião, uma contrain- Maccbiarini P, Chapelier A, Lenot B, Cerrina J , Oartcvellc P. La-
dicação, pelo menos relativa, à traqueoplastia em pacientes ryngotrachcal rescction and reconstruction for postintubation
com estenose traqueal em que se planeja a retirada do tra- subglottic stcnosis. Lessons lea.rned. Eur J Cardiothorac Surg.
1993;7(6):300-5.
queostoma, mas que apresentam sequelas neurológicas gra-
ves e definitivas do traumatismo craniano grave que motivou Wain JCJr. Postintubation tracbeal stenosis. Semin Thorac Cardio-
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José J. Camargo
Tiago Noguchi Machuca
95
Bruno Hochhegger
Apresentação clínica
A maioria dos tumores do mcdiastino é assintomática.
Em cerca de um terço dos casos, o paciente refere algu-
ma queixa. Os sintomas geralmente são ocasionados pela
compressão local. A compressão da via aérea pode cau-
sar dispneia, estridor ou tosse. Tumores do mediastino
anterior e médio podem causar obstrução venosa com
sindrome de veia cava superior, compressão dos nervos
frênico ou laringeo recorrente, com paralisia diafragmáti-
ca e rouquidão, respectivamente. Thmorcs do mediastino
posterior podem se manifestar com dor ou sindrome de
Claude-Bernard-Horner (ptose palpebral, miose e anidro- A perda da definição das linhas que separam o pulmão
se ipsilaterais ao tumor por acometimento do gânglio es- das estruturas mediastinais é um bom indicativo de doença
trelado do feixe simpático). ou anormalidade. Todavia, além de situa.r a massa dentro
de um dos compartimentos mediastinais arbitrariamente QUADRO 95.2 -+ Distribuiç.\o anatômica e radiológica das lesões
defmidos e talvez evidenciar densidades düerenciais (p. ex., mediastinais
calcificações dentro da massa), raras vezes a radiografia de
-~~'#ltlol
tórax determinará o diagnóstico exato da lesão. Paradoxal-
mente, quanto maior a tumoração (e, portanto, mais óbvia
na radiografia frontal), mais difícil será determinar o sítio
exato de sua origem, assim como o diagnóstico diferencial, Anterior/Superior - Timoma: massa única, densidade de partes
que é em grande parte determinado pela localização do tu- moles, bem delimitada
mor dentro do mediastino (QUADRO 95.1). - Unfoma: massa única, múltiplos nódulos,
raramente necrosa, sem realce pelo meio
de contraste
- ~minativo: grande massa, necrose e
calcificação são comuns
AGURA 95.2 ~ (A) massa mediastinal superior com deslocamento da traqueia mediastinal para a direita. (B) massa mediastinal alta, com dissociação
da traqueia e do esôfago, um dado altamente sugestivo de bócio mergulhante.
que também estão associadas aos timomas são a aplasia de trada patologicamente (estágio 11), o uso de radioterapia
células vermelhas e a hipogamaglobulinemia (incidentes em adjuvante é aconselhado. 1
cerca de 5% dos casos cada}. Por se tratar de um grupo muito heterogêneo, é dificil
Existem duas classificações bem aceitas para os limo- estabelecer uma conduta uniforme nesta situação.
mas, ambas com valor prognóstico. A primeira corresponde Entretanto, fatores de mau prognóstico como invasão
ao estadiamento proposto por Masaoka e colaboradores• em macroscópica da gordura mediast.inal, tipo histológico B ou
1981 (QUADRO 95.3). A segunda é bistológica e preconizada C, assim como lesões maiores do que 5 em, são fortes indX:a-
pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (QUADRO 95.4).' dores da necessidade de terapia adjuvante.•
O tratamento multidisciplinar, tendo a ressecção cirúrgica No caso de tumores em estágio 111, os órgãos adjacentes
como principal pilar, apresenta excelentes resultados mesmo mais acometidos são pulmão, pericãrdio, grandes vasos da
para pacientes com tumores localmente avançados. Para tanto, base e veia cava superior. O risco elevado de recidiva, asso-
deve-se sempre priorizar a ressecção completa, sem evidência ciado à boa resposta a quimioterapia c radioterapia, indica o
de doença residual macroscópica ou microscópica, mesmo que emprego de terapia multidisciplinar no caso de timomas em
seja necessãria a remoção em bloco de estruturas adjacentes estágio III com sinais sugestivos de irressecabilidade. Utili-
como o pcricãrdio ou até mesmo a veia cava superior. zando um esquema de ncoadjuvãncia com ciclofosfamida,
No caso dos timomas em estágio I, a ressecção comple- doxorrubicina e cisplatina, seguido de cirurgia com intuito
ta é facilmente obtida e a sobrevida em cinco anos chega a curativo e quimioterapia (80% das doses das três medicações
90%. Nenhum tratamento adjuvante provou benefício até o utilizadas na ncoadjuvãncia) c radioterapia (variando entre
momento para essas lesões iniciais. 50 e 60 Gy) adjuvantes, o grupo do M.D. Anderson Cancer
No caso de pacientes que apresentam timomas com in- Center obteve resultados muito favorávcis. 10
vasão capsular encontrada durante a operação ou demons- Em um total de 22 pacientes (todos com timoma Ma-
saoka lll ou IV considerados irressecáveis com indicação
de neoadjuvância), conseguiram ressecção comp leta em
76% dos casos, com resposta patológica completa em 14%.
QUADRO 95.3 ~ Estadiamento de timomas
Apesar da doença avançada e da toxicidade do tratamento,
a sobrevida em cinco anos foi de 95%. Embora haja alguma
'""' ,,,rna.:"\1 controvérsia, aceita-se como indicação de neoadjuvãncia os
timomas em estágio m com sinais radiológicos de invasão
Tumor enupsulado
dos tecidos adjacentes no mediastino anterior.
lia Invasão microscópica da cápsula A possibilidade de ressecção deve ser considerada de-
---------------- pois de boa resposta da terapia neoadjuvante, ainda que a
llb Invasão macroscópica da cápsula até gordura operação inclua, por exemplo, a ressecção da veia cava su -
pericárdoca/pleura mediastlnal perior (FIGURA 95.3).
111
------------------
Invasão~ ór9àos adjactntes
Tunomas em estágio lVII representam doença dissemina-
da, mas há evidência de que, caso possível, o paciente deve
ser incluído em protocolo de tratamento multidisciplinar se-
IVa Oissemonaçjo pleuro~ridrdiu
IVb
----------------
OisseminaçJo linf~tica ou hematogroica
melhante ao de timomas em estágio 111 irressecáveis. Com
essa abordagem, existem estudos mostrando bons resultados
com a ressecção do tumor associada a pleurectomia ou até
Fontr. Mosaob t ccllbofode<".' mesmo a opção mais radical de pleuropneumonectomia. Em
recente estudo do Memorial Sloan-Kettering Cancer Cen-
ter com 18 pacientes, a ressecção completa foi alcançada em
QUADRO 95.4 ~ Classificaçao da Organização Mundial da Saúde 67% e a sobrevida em cinco anos foi de 78%. 11
para os timomas
AB
------------
Misto, tipo Acom infiltrados linfodticos
ca inespecffica. lnvestigaçao por imagem com achado de
lesão < 5 em no medias tino anterior (FIGURA 95.4).
------------
81 Predomin3ncia de linfócitos
Tumores de células germinativas
82 Cortical Os tumores de células germinativas representam um grupo
de tumores bastante heterogêneos, com estratégias terapêu-
83 Células com atipia, wcinoma bem diferenciado ticas e prognóstico variáveis, incluindo desde tumores benig-
C Carcinoma timico nos até tumores com elevada agressividade biológica. Sua
origem é motivo de debate, com teorias que sugerem desde a
Fon'*: Ro,.. t Sobon.' degeneração de células túnicas mulLipotentes até a histogê-
nese a partir de células germinativas com migração errônea
FIGURA 95.3 ~ (A) massa mediastinal anterior com envolvimento da veia cava superior, encaminhada para terapia neoadjuvante. (B) tom09rafia
computadorizada mostrando resposta moderada. (C) angiotomografia evidenciando persistente envolvimento da veia cava, com presença de trom-
bo que se estende ao Atrio direito. (O) imagem do mediastino anterior onde se reconhece a invasão grosseira da veia cava superior pela lesAo tu moral
que poupa suas extremidades. (E) segmento de cava superior substituído por uma prótese vascular. (F) tomografia computadorizada de tórax em
pós-operatório tardio (seis meses) mostrando a prótese venosa perfeitamente pérvia .
RGURA 95.6 ? (A) paciente ele 43 anos com dor torácica~ dire;ta, com radiografia de t6r.u mostrando achado de l~o ovoide bem delimitada no
se;o cardiofrênico direito. (B) a tomografia de tór.u confirmou a natureza dstica da lesão. A paciente foi submetida ~ ressec~Ao por videotoracos-
copia.
volvimento de complicações ao longo do seguimento (que
é superior a 50%). Elementos histológicos que auxiliam no
Tumores da goteira costovertebral
diagnóstico incluem o epitélio ciliado pseudoestratificado ou Tumores neurogênicos
colunar e a presença de glândulas brônquicas. Mais uma vez, Ao contrário da população pediátrica, os tumores neuro·
o acesso ideal é a videotoracoscopia, porém, pelo processo gênicos em adultos são benignos na sua grande maioria.
inflamatório crônico, aderências firmes podem dificultar o A topografia mais frequente é a goteira costovertebral, e
procedimento por essa via. histologicamente as lesões são originárias da bainha ner-
vosa (schwanomas/neurilemomas ou neurofibromas). A
Cistos de duplicação esofágica maior parte dos casos constitui achado de exame de ima-
gem, porém sintomas como dor torácica podem ocorrer
Os cistos de duplicação esofágica são lesões congênitas que
(FIGURA 95.8).
contêm epitélio gastrintestinal e apresentam intimo contato
Os métodos de imagem, especialmente a TC helicoidal
com o esôfago (na maior parte dos casos circundados pelas
e a RM, devem excluir invasão do canal raquidiano. Na pre·
camadas musculares e sem contato com a mucosa) (FIGURA
sença dessa extensão tumoral, a cirurgia torácica deve ser
95.7). Existe predileção pelo sexo masculino (2:1) e pelo ter-
conjugada com a neurocirurgia.
ço inferior do esôfago. A maioria dos casos é assintomática.
Os sintomas mais frequentes são dor torácica e disfagia. A
exemplo dos cistos broncogênicos, complicações podem
ocorrer. Dentre elas, destacam-se a infecção do cisto ou o
• CASO CLÍNICO V
sangramento, com posterior ruptura para o esôfago (hema- Paciente do sexo masculino, de 9 anos, com dor torácica
têmese) ou para o brônquio (hemoptise). leve. Massa na goteira costovertebral determinando de-
O tratamento cirúrgico é oferecido para pacientes sinto· formidade do quarto arco costa l direito. Sem sintomas
máticos. Pelo risco de complicações e pela baixa morbidade sistêmicos.
do procedimento, pacientes assintomáticos com boas con-
dições clinicas também podem ser submetidos à cirurgia. A Pacientes com neurofibromatose apresentam risco ele-
via de escolha novamente é a videotoracoscopia. Aderências vado de tumores neurogênicos tanto benignos quanto malig-
firmes podem dificultar o procedimento. Como a lesão se nos (neurofibrossarcoma).
localiza entre a musculatura esofágica, sua dissecção deve A partir do achado de imagem, a ressecção cirúrgica
ser cuidadosa e evitar a lesão da mucosa. fornece material para definição histopatológica da lesão e
confere o tratamento definitivo. A videotoracoscopia é co-
mumente utilizada. Atenção especial deve ser dedicada para
• CASO CLÍNICO IV tumores próximos ao canal vertebral, demandando avaliação
neurocirúrgica e muitas vezes um procedimento conjunto.
Paciente de 66 anos com achado de lesão na transição
do mediastino superior, médio e posterior, inicialmente
investigada para a hipótese de aneurisma da aorta. Tumores do esôfago
Pela heterogeneidade e enorme abrangência do tema, será
abordado apenas o liomioma, que dentre os tumores esofági-
FIGURA 95.7 -+ (A) exames contrastados mostraram posteriormente ausência de atenuação. (B) presença de limites precisos com os grandes vasos.
O paciente foi submetido à ressecção por videotoracoscopia.
RGURA 95.8 ~ (A e B) massa ocupando o quadrante posterossuperior direito, com deformidade da quarta costela desse lado, próximo da junção
costovertebral. Deformidade do forame de conjugação sugerindo extensão intrarraquidiana . (C) peça cirúrgica, com grande massa de superfície lisa
(intrator~cica) e pequena punção do tumor ressecado do canal raquidiano por hemilaminectomia.
ros é o mais referido como "tumor do mediastino". O liomio- 2. Date H. Diagnostic strategics for mcdiastinal tumors and cysts.
ma é o tumor benigno mais frequente do esôfago e se localiza Tborac Surg Clin. 2009;19(1):29-35.
caracteristicamente no seu terço médio. A maioria das lesões 3. Yasufuku K, Nakajima T, Fujiwara T, Yoshino I, Kesbavjee S. Uti-
é intramural e assintomática. Em razão de sua localização, os lity of endobronchial ultrasound-guidcd transbronchial needlc aspi·
sintomas mais romuns são disfagia e dor torácica. ration in tbc diagnosis of mcdiastinal masscs of unknown ctiology.
Uma ferramenta diagnóstica recente é a ecoendosco- Ann Thorac Surg. 2011;91(3):831-6.
pia, que permite a definição adequada da lesão e vem sendo 4. Arici C, Dertsiz L, Altunbas H, Oemirean A, Emek K. Operativc
utilizada no seguimento de pacientes não submetidos a ci- managcmcnt of substcrnal goitcr: analysis of 52 paticnts. lnt Surg.
rurgia. A ressecção cirúrgica é indicada em casos de dúvida 2001;86(4):220-4.
diagnóstica, em pacientes sintomáticos e em pacientes assin- 5. Agarwal A, Misbra AK, Gupta SK, Arsbad F, Agarwal A, ll'i-
tomátiros com lesões maiores que 4 em. O tratamento de pa- pathi M, ct ai. High incidcncc of trachcomalacia in longstanding
cientes com lesões pequenas ( < 4 em) ainda é controverso, e goitcrs: expcricncc from an cndcmic goitcr region. World J Surg.
existem autores que defendem o seu seguimento, idealmente 2007;31(4):832-7.
rom ecoendosropia anual. A estratégia cirúrgica consiste na
6. Masaoka A, Mondcn Y, Nakahara K, Thnioka T. Follow·up study
enucleação da lesão, e a via de acesso preferencial é a vide- of thymomas with spccial rcfcrcncc to thcir clinicai stagcs. Canccr.
otoracoscopia. 1981;48(11 ):2485-92.
7. Rosai J, Sobin L. Histologieal typing of tumours of tbe tbymus.
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Lesões que podem ser confundidas com tumores 8. Ogawa K, Uno T, Toita T, Onisbi H, Yosbida H, Kakinohana Y, et
do mediastino e sem localização preferencial: ai. Postopcrativc radiotherapy for patients witb completely resccted
~ Adenomegalias thymoma: a multi-institutional, retrospcctivc rcview of 103 paticnts.
Cancer. 2002;94(5):1405-13.
~ Aneurismas vasculares
9. Venuta F, Rendina EA, Coloni GF. Multimodality trcatmcnt of
thymic tumors. ThoracSurg Clin. 2009;19(1):71 -81.
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José J. Camargo
Tiago Noguchi Machuca
96
Sadi Marcelo Schio
Spencer Marcantonio Camargo
Introdução Indicações
O primeiro transplante pulmonar em humanos foi realizado O trariSplante de pulmão se frrmou como opção terapêutica
em 15 de junho de 1963 pela equipe da Universidade de Mis- para uma grande variedade de pneumopatias avançadas. De
sissippi, liderada por James Hardy. O grupo fez o transplante acordo com o registro da International Society for Heart and
em um paciente enfJSematoso com neoplasia endobrônquica Lung Transplantation (ISHLT), 1 as principais indicações são
causando pneumonia pós-obstrutiva. Apesar do óbito no 19° a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e a fibrose
dia pós-operatório por complicações renais, a experiência pulmonar intersticial, contribuindo com 35,8 e 20,8%, res-
inicial mostrou que o procedimento era tecnicamente viável. pectivamente, dos transplantes realizados em nível mundial
Após uma série de insucessos decorrentes de disfunção entre 1995 e 2008.
primária do enxerto, complicações infecciosas, imunológicas
e da anastomose brônquica, o grupo de Toronto, liderado por
Joel Cooper, realizou o primeiro transplante pulmonar bem-
-sucedido em 1983. Seguindo essa experiência, o primeiro
~ATENÇÃO
transplante da América Latina foi realizado na Santa Casa de
O candidato ideal para o transplante de pulmáo
Porto Alegre em 1989, em um paciente com fibrose intersti-
deve ter menos de 65 anos, possuir uma pneumo-
cial com sobrevida pós-transplante de 10 anos. A experiência
patia avançada refratária a tratamento clinico oti-
atual da instituição alcança 370 trariSplantes, 27 deles com do-
mizado (com dispneia classe 111 ou IV da New York
adores vivos. A era moderna do transplante pulmonar, com
Heart Association - NYHA), com um perfil psicosso-
resultados animadores e muitas vezes chegando a 90% de so-
cial adequado e sem comorbidades limitantes em ór-
brevi da em um ano, deve-se principalmente a três avanços:
gãos-chave. Em função do beneficio conferido pelo
• Estabelecimento de rígidos critérios de seleção para os transplante, o paciente deve apresentar expectativa
candidatos. de vida inferior a dois anos, além de vontade de vi-
• Qualificação do manejo perioperatório, com sensível ver e disposição compatlveis com a complexidade do
melhora no desempenho funcional precoce do órgão procedimento.
transplantado.
• Implantação de rotinas de seguimento pós-operatório tar-
dio, com reconhecimento mais precoce e tratamento mais Os critérios de indicação específicos para cada doença
efetivo das complicações, em especial as relacionadas com estão dispostos no QUADRO 96.1.
infecção por citomegalovírus e rejeição crônica.
Contraindicações • Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HlV)
• Hepatite C com dano hepático comprovado anatomopa-
Estão listadas a seguir as contraindicações absolutas ao tologicamente
transplante pulmonar: • Coronariopatia intratável (em casos muito bem sele·
cionados, pode ser considerado o transplante coração-
• Instabilidade cUnica grave ·pulmão)
• Infecção extrapulmonar ativa • Thbagismo ativo
• Disfunção de órgãos-alvo, especialmente rim e fígado, • Ausência de adequada estrutura social e familiar de
que serão agredidos pelos fármacos imunossupressores apoio
• Neoplasia tratada há menos de dois anos (exceção dos
carcinomas escamoso e basocelular de pele)
A escolha do doador
A avaliação do potencial doador é feita com base em idade,
histórico de tabagismo, radiografia de tórax, parãmetros ga.
QUADRO 96.1 7 Indicações de transplante pulmonar por doença
sométricos, tempo de entubação e achados broncoscópicos.
O QUADRO 96.2 lista os critérios que definem um doador
Doença pulmonar obstrutiva crônica
ideal.
- Pacientes com um índice de BODE 7 a 1Oe pelo menos um dos
seguintes achados: O maior problema na seleção do doador é que raras ve·
- História de hospitalização por exacerbação associada a hipercapnia zes eles preenchem todos os requisitos para serem definidos
(PCO, > 50 mmHg) como ideais. Em geral, pelo menos um dos critérios não é
- Hipertensão pulmonar ou cor pu/mona/e a desp!ito de preenchido, principalmente pela presença de algum infiltra·
oxigenoterapia do pulmonar (que pode ser secundário a alterações decor·
- VEF, < 20% e DLCO < 20% ou enfisema de distribuição rentes do processo de morte cerebral) ou pela presença de
homogênea alguma secreção na via aérea (na maioria das vezes na sua
porção central).
FobfOS! pulmonar íntemíóal
Na tentativa de aumentar o número de doadores dispo-
- Evidênóa histológica ou radiológica de p~monite íntemocial
usual e um dos seguintes achados: níveis, vários grupos vêm usando doadores marginais. Entre·
- OlCO < 39% do previsto tanto, estudos recentes apontam para a necessidade de cui-
- Uma queda~ 10% na CVF durante um seguimento de seis meses dado especial quando da utilização de doadores marginais:
- DessaturaçAo s 88% durante o teste da caminhada dos seis 1) os receptores podem apresentar mortalidade maior em 30
minutos dias (17,5 vs. 6,2% na casuística do Thronto Lung Transplant
- Faveolamento na tomografia de alta resolução Program); 2) os receptores podem apresentar mortalidades
semelhantes, porém maior permanência em unidade de te·
Fibrose dstica rapia intensiva (UTI) e pior função do enxerto em um ano
- VEF, < 30% ou rápida deterioração da função pulmonar após o transplante. 2
- Necessidade crescente de oxigenoterapía
- Hipercapnia
- Hipertensão arterial pulmonar
Sarcoidose
- Classe funcional NYHA 111ou IV e um dos seguintes achados:
- Hipoxemia em repouso QUADRO 96.2 ~ Critérios que definem um doador ideal
- Hipertensão arterial pulmonar
- Pressão atrial direita > 15 mmHg - O doador ideal deve apresentar TODOS os seguintes critérios:
- Idade < 55 anos
Unfangioliomiomatose - Pa01 > 300 mmHg (Fo01 de 100%; PEEP de 5 cmH 10)
- Hipoxemia em repouso - Tabagismo < 20 anos·maço
- Comprometimento importante da função pulmonar ou capacidade - Radiografia de tórax normal
deexerdcio - Broncoscopia sem secreção purulenta
- Ausência de trauma toráaco ou órurgia torácica prévia
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Transplante unilateral versus transplante receptor. O enfisema difuso por longo tempo foi tratado
com transplante unilateral, mas estudos recentes mostraram
bilateral que o transplante bilateral para essa indicação confere maior
0 ATENÇÃO
sobrevida (53 vs. 41% em cinco anos) e melhor resultado
funcional (espirometria e teste da caminhada dos seis minu-
tos) do que o unilateral, devendo ser indicado sempre que as
Existem duas situações bem definidas e que raras condições do receptor permitirem e houver disponibilidade
vezes geram dúvidas na seleção do procedimento: a de doadores com dois pulmões aproveitáveis. Na presença
fibrose pulmonar idiopática ou secundária, uma vez de enfisema com bolhas grandes, também se recomenda o
que a eficáda do transplante unilateral (FIGURA 96.1) transplante duplo, uma vez que a hiperinsuflação do pulmão
está suficientemente testada, e a doença pulmonar nativo pode acarretar repercussões hemodinâmicas e venti-
supurativa, em que há necessidade de remoção do latórias desfavoráveis (principalmente quando este se locali-
foco infeccioso e a indicação do transplante bilateral za do lado direito).
é inquestionável (FIGURA 96.2). Em pacientes com hipertensão pulmonar primária, ape-
sar da experiência inicial com transplante unilateral, que
se mostrou efetivo na reversão de cor pu/mona/e e na boa
Nas outras situações, a escolha do procedimento requer qualidade de vida do transplantado, a transferência de pra-
uma minuciosa análise das circunstâncias peculiares a cada ticamente toda a perfusão para o pulmão transplantado, em
AGURA 96.1 ~ (A) radiografia de paciente feminina de 34 anos, com pulmões extremamente reduzidos de tamanho por fobrose pulmona r grave,
dependente de oxigênio há três anos. (8) peça cirúrgica da pneumonectomia esquerda com cavidades cistoides colonizadas por Aspergillus. (C)
excelente adequação espacial de um pulmão esquerdo maior do que a cavidade.
AGURA 96.2 ~ (A) radiografia de tórax com acentuada destruição do pulmão direito de paciente de 20 anos, portadora de fibrose cística em fase
terminal. (8) radiografia de tórax 60 dias depois do transplante bilateral, com excelente evolução. (C) tomografia computadorizada helicoidal pós-
-operatória com boa expansão pulmonar e dificuldade de se identificar as anastomoses brônquicas.
razão da extraordinária resistência vascular do pulmão na- tre os portadores de fibrose cística, o transplante bilobar, a
tivo, acarreta dessaturação severa na presença de qualquer partir de doadores familiares, apresentou-se como uma pro-
disfunção no órgão recém-transplantado. Na tentativa de posta ousada e inteligente.3
diminuir o índice de complicações e melhorar a sobrevida,
tem-se apontado para uma forte tendência ao transplante
duplo (FIGURA 96.3). Com o decorrer do tempo, a experiência consagrou
duas observações:
Transplante cardiopulmonar -+ O transplante deve ser bilobar. poos um lobo apenas
A substituição simultânea dos pulmões c do coração em não oferece parênquima suficiente para suportar as
bloco foi considerada, no inicio da década de 1980, a exigências do pós-operatório e eventuaos perdas fun-
cionais relacionadas com comphcaçoo frequentes
técnica mais adequada para tratar pneumopatias termi-
como injúria de reperfuslo, rejetçlo aguda e infec·
nais, muitas vezes associadas a algum grau de disfunção ção.
cardíaca. Por outro lado, a técnica de biópsia miocárdica
recém-desenvolvida se apresentava como uma modalidade
-+ Os episódios de rejeiçlo aguda slo frequentes por·
que os jovens têm um mecanismo imunológico
segura de reconhecimento precoce de rejeição do enxer- muito ativo. Por outro lado, a rejeiçlo nesses casos
to. A experiência, no entanto, demonstrou que se estava é unilateral em quase três quartos dos casos, por se
partindo de premissas falsas: as rejeições raramente eram tratarem de doadores diferentes. A rejeiçlo cr6nica,
sincrônicas, sendo muito mais frequentes no pulmão do entretanto, é menos frequente, e tal diferença funda·
que no coração, e a morbimortalidade no transplante car- mental se deve à similitude imunológica decorrente
diopulmonar era maior do que a observada no transplante do parentesco entre receptor e doadores (pais, ir-
pulmonar isolado. mlos e tios têm sido os doadores preferenciais para
este grupo).
This observações, somadas à constatação de que as even-
tuais alterações cardíacas presentes no pré-transplante eram
reversíveis a curto prazo, somaram-se à escassez de doado-
res de órgãos, para mudar a orientação inicial. Não parecia A técnica proposta por Stames utiliza os lobos inferiores,
coerente desperdiçar os escassos corações disponíveis em direito e esquerdo, removidos de doadores diferentes (pai e
receptores nos quais a substituição do coração fosse desne- mãe, na maioria das vezes), para substituir, respectivamen-
cessária. te, um e outro pulmão.3 As semelhanças anatômicas do lobo
Atualmente, o transplante cardiopulmonar tem sido re- inferior com o pulmão correspondente facilitam muito a téc-
servado a uma diminuta população representada por porta- nica do transplante lobar.
dores de síndrome de Eisenmenger incorrigível por cirurgia, A tolerância imunológica favorecida pelo parentesco an-
coronariopatas graves e pacientes com miocardiopatia dila- tecipava resultados tardios superiores e, em uma publicaçã.o
tada associada a hipertensão pulmonar grave. inicial, os números eram francamente favoráveis na compa-
ração com receptores de órgãos de doadores cadavéricos
(sobrevida em cinco anos de 75 vs. 50% em doadores cada-
Transplante bilobar com doadores vivos véricos). Esses dados favoráveis levaram o grupo de Stames
A experiência pioneira de Stames em 1994 buscou solucio- a considerar, inicialmente, o transplante bilobar com doa-
nar uma dificuldade importante: a de obter órgãos de ta- dores vivos o transplante ideal para crianças e adolescentes.
manho adequado para receptores muito pequenos. Como o Quando, no entanto, este grupo revisou a experiência de
doador pediátrico é ainda mais raro e havia uma demanda 10 anos/ ainda que os números continuassem favoráveis ao
crescente de receptores em estado crítico, especialmente en- transplante com doadores vivos, nenhum dos elementos ana-