C.W.LEADBEATER
***
PREFÁCIO
Só há uma razão pela qual eu escreveria este Prefácio para o livro escrito por
meu honrado colega. Ele fala de muitas coisas que até agora têm sido
estudadas e discutidas apenas dentro de um círculo relativamente reduzido,
consistindo de estudantes bem versados no conhecimento Teosófico e
capacitados para estudar declarações relativas a regiões que eles ainda não
podem penetrar por si mesmos, mas esperam entrar mais adiante e então
verificar por conta própria as declarações feitas por seus predecessores. As
rápidas mudanças no mundo do pensamento, surgindo pela proximidade do
Advento do Instrutor do Mundo, tornam úteis algumas informações sobre a
parte do mundo em que Ele vive, informações que podem, talvez, em alguma
extensão preparar a mente do público para Seus ensinamentos.
Seja como for, desejo me associar às declarações feitas neste livro, por cuja
exatidão eu posso pessoalmente dar fé em quase tudo, e também quero dizer
em nome de meu colega, bem como no meu próprio, que este livro é publicado
como um relato de observações feitas cuidadosamente e cuidadosamente
registradas, mas que não reivindicam nenhuma autoridade, nem exigem
qualquer aceitação. Tampouco alegam ser fruto de inspiração, mas são apenas
um relato honesto de coisas vistas pelo escritor.
Annie Besant
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ÍNDICE
PREFÁCIO
PARTE I: OS MESTRES
CAPÍTULO 5: A ACEITAÇÃO
Relato de uma Aceitação. A União com o Mestre. A Atitude do Discípulo. A
Distribuição de Força. A Transmissão de Mensagens. Sensitividade,
Mediunidade e Poderes Psíquicos. Mensagens dos Adeptos. A Equação
Pessoal. Testando o Pensamento. Relaxamento. Calma e Equilíbrio. Os
Poderes Tenebrosos. A Certeza do Sucesso.
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PARTE III: AS GRANDES INICIAÇÕES
CAPÍTULO 8: O EGO
O Nascimento do Ego. A Mônada e o Ego. A Comunicação com a
Personalidade. Em Seu Próprio Mundo. Seu Interesse na Personalidade. A
Atitude da Personalidade. A Percepção da Unidade.
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PARTE I: OS MESTRES
Considerações Gerais
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homens exatamente como os Adeptos ou Super-Homens a quem alguns de
nós têm tido o inestimável privilégio de encontrar?
Por trás da forma em evolução resplende sempre a Vida eterna, a Vida Divina.
Esta Vida de Deus permeia toda a Natureza, a qual não passa do manto
multicor que Ele veste; é Ele quem vive na beleza da flor, na força da árvore,
na agilidade e graça do animal, assim como no coração e na alma do homem.
É porque Sua vontade é evolução que toda a vida em toda parte está
pressionando para frente e para cima, e é por isso que a existência dos
Homens Perfeitos no fim desta linha de poder e sabedoria e amor eternamente
em desdobramento é a coisa mais natural do mundo. E até mesmo além d'Eles
- além de nossa visão e de nossa compreensão - se estende um panorama de
glória ainda maior, da qual procuraremos dar mais adiante algumas pinceladas,
mas seria inútil falar disso agora.
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galáxia de Rishis, Santos, Mestres, e estes Grandes Seres tinham interesse
não só em despertar a natureza espiritual dos homens, mas também em todos
os assuntos que contribuíam para seu bem-estar na Terra. Todos os que
pertencem ao mundo Cristão sabem muito, ou deviam saber, sobre a grande
sucessão de profetas e instrutores e santos em sua própria dispensação, e que
de algum modo (talvez não claramente entendido) seu Instrutor Supremo, o
próprio Cristo, era e é Homem, assim como é Deus. E todas as antigas
religiões (decadentes como algumas possam estar entre a decadência das
nações), até aquelas das tribos de homens primitivos, mostram como
característica marcante a existência de Super-Homens que auxiliam de todas
as maneiras o povo infantil com quem conviveram. Uma enumeração deles, por
mais valiosa e interessante que pudesse ser, nos levaria para longe demais de
nosso atual propósito, de modo que eu prefiro remeter o leitor ao excelente
livro de W. Williamson, The Great Law.
Evidência Recente
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que lhes apareceram vieram de um modo sobrenatural e então
desapareceram; assim, como vocês sabem que Eles de fato eram quem vocês
supõem que Eles sejam?"
Há uns poucos casos em que tanto o Adepto quanto a pessoa que O viu
estavam em seus corpos físicos. Isso aconteceu com Madame Blavatsky, eu a
ouvi testemunhar que vivera durante certo tempo em um mosteiro no Nepal,
onde constantemente via três de nossos Mestres em seus veículos físicos.
Alguns d'Eles mais de uma vez desceram de Seus retiros na montanha para a
Índia em Seus corpos físicos. O Coronel Olcott disse ter visto dois d'Eles em
tais ocasiões; ele encontrou o Mestre Morya e também o Mestre Kuthumi.
Damodar K. Mavalankar, a quem eu conheci em 1884, havia encontrado o
Mestre Kuthumi em Seu corpo físico. Houve o caso de S. Ramaswami Iyer, um
cavalheiro a quem conheci bem naqueles tempos, que teve a experiência de
encontrar o Mestre Morya fisicamente, e escreveu um relato sobre este
encontro que mais tarde eu citarei; e houve o caso de W. T. Brown, da Loja
Londrina, que também teve o privilégio de encontrar um destes Grandes Seres
sob condições similares. Existe ainda uma vasta quantidade de testemunhos
indianos que jamais foram compilados e examinados, principalmente porque
àqueles a quem ocorreram tais experiências estavam tão completamente
convencidos da existência de Super-Homens e da possibilidade de encontrá-
Los que não consideravam qualquer caso individual digno de registro.
Experiência Pessoal
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Tenho visto outros membros da Fraternidade sob várias circunstâncias. Meu
primeiro encontro com um d'Eles foi em um hotel no Cairo; eu estava a
caminho da Índia com Madame Blavatsky e alguns outros, e paramos naquela
cidade por algum tempo. Todos nós costumávamos nos reunir nos aposentos
de Madame Blavatsky para trabalhar, e eu estava sentado no chão, cortando e
reunindo para ela uma porção de artigos de jornal que ela queria. Ela estava
sentada à mesa bem perto, de fato meu braço esquerdo roçava seu vestido. A
porta estava bem à vista, e certamente ela não se abriu; mas subitamente, sem
qualquer preparação, apareceu um homem quase entre eu e Madame
Blavatsky, ao alcance de ambos. Isso me assustou muito, e eu saltei em pé
bastante confuso; Madame Blavatsky achou muita graça e disse: "Se você não
sabe o bastante para não se assustar com tamanha trivialidade não irá muito
longe neste trabalho oculto". Eu fui então apresentado ao visitante, que na
ocasião ainda não era um Adepto, mas um Arhat, que é um grau abaixo
daquele estado; mais tarde Ele se tornou o Mestre Djwal Kul.
Alguns meses depois disso o Mestre Morya nos apareceu, certo dia,
exatamente como se estivesse em um corpo físico; Ele caminhou através da
sala onde eu estava para se comunicar com Madame Blavatsky, que estava
em seu quarto. Esta foi a primeira vez que eu O vi clara e nitidamente, pois
então eu ainda não havia desenvolvido meus sentidos latentes o bastante para
lembrar o que via em meu corpo sutil. Eu vi o Mestre Kuthumi em condições
semelhantes sobre o teto de nossa Sede em Adyar; Ele estava caminhando
sobre uma balaustrada como se recém tivesse se materializado do ar no outro
lado. Também muitas vezes vi o Mestre Djwal Kul naquele teto da mesma
maneira.
Suponho que isso talvez seja considerado uma evidência menos garantida,
uma vez que os Adeptos vêm como aparições; mas como desde então eu
aprendi como usar livremente meus veículos superiores e visitar estes Grandes
Seres desta forma, posso atestar que Aqueles que nos primeiros anos da
Sociedade vieram e Se materializaram para nós são os mesmos Homens que
desde então eu tenho visto vivendo em Suas próprias casas. As pessoas têm
sugerido que eu e outros que tiveram a mesma experiência podemos ter
estado apenas sonhando, uma vez que estas visitas acontecem durante o sono
do corpo; só posso responder que então este é um sonho notavelmente
persistente, em meu caso durando mais de quarenta anos, e que tem sido
sonhado simultaneamente por grande número de pessoas.
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intitulado Hints on Esoteric Theosophy. Hume, que era um cético anglo-indiano
de mente jurídica, envolveu-se na questão da existência dos Irmãos (como são
também são chamados os Mestre, uma vez que Eles pertencem a uma grande
Fraternidade e também porque Eles são os Irmãos Primogênitos da
humanidade), e mesmo naqueles primeiros tempos ele chegou à conclusão de
que possuía testemunhos mais do que suficientes de que Eles existiam, e têm
se acumulado muitas evidências adicionais desde que aquele livro foi escrito.
A Evolução da Vida
Até onde podemos ver, esta Mônada, que é uma centelha do Fogo Divino, não
pode descer até nosso nível atual, não pode chegar diretamente neste plano
físico em que estamos agora pensando e trabalhando - provavelmente porque
as freqüências de sua vibração e as da matéria física diferem em demasia, de
modo que deve haver estados e condições intermediárias. Não sabemos em
que plano da Natureza originalmente existe aquela centelha divina, pois ela
está muito acima de nosso alcance. A sua manifestação mais inferior, que
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poderia ser chamada de um reflexo seu, desce até o mais baixo dos Planos
Cósmicos, como é descrito em Um Manual de Teosofia.
O Espírito Divino tão acima de nós meramente paira sobre nós; a Alma, que é
uma representação pequena e parcial dele (é como se a Mônada introduzisse
abaixo um dedo de fogo, e a ponta deste dedo seria a Alma), não pode descer
abaixo da parte superior do plano mental (que é o quinto plano a contar de
cima para baixo, sendo o físico o sétimo e derradeiro); e, a fim de que ela
possa alcançar um nível ainda mais inferior, a Alma deve por sua vez fazer
descer uma pequena porção de si mesma, que se torna a personalidade que
conhecemos. Assim esta personalidade, que as pessoas comuns pensam ser
elas mesmas, em verdade é apenas um fragmento de um fragmento.
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que anteriormente era a alma animal agora se torna o corpo causal de um
homem, e o ar injetado nela se torna o ego de que falei antes - a alma humana
que é apenas uma manifestação parcial do Espírito Divino. Esta descida do
ego é simbolizada na mitologia antiga pela idéia grega da krater ou Cálice, e
pela lenda medieval do Santo Graal, pois o Graal ou Cálice é o resultado
perfeito de toda esta evolução, onde é derramado o Vinho da Vida Divina, de
modo que a alma do homem possa nascer. Assim, como dissemos, aquilo que
antes foi a alma animal se torna, no caso do homem, o que é chamado seu
corpo causal, que existe na parte superior do plano mental como veículo
permanente ocupado pelo ego ou alma humana, e tudo o que foi aprendido em
sua evolução é transferido para este novo centro de vida.
A evolução desta alma consiste no seu gradual retorno ao nível mais elevado
no plano imediatamente abaixo do Monádico, levando consigo o resultado de
sua descida sob forma de experiências obtidas e qualidades adquiridas. O
corpo físico em todos nós está plenamente desenvolvido, e por causa disso
supostamente já o dominamos, mas ele deve estar sob completo controle da
alma. Entre as raças mais evoluídas da humanidade nos dias de hoje
usualmente isso é o que acontece, embora ele possa ocasionalmente se
rebelar e desgovernar. O corpo astral também está todo desenvolvido, mas
inda não está de modo algum sob perfeito controle; mesmo entre as raças a
que pertencemos há muitas pessoas que são vítimas de suas próprias
emoções. Em vez de serem capazes de governá-las com perfeição,
demasiadas vezes permitem serem governadas por elas. Elas deixam suas
emoções as conduzir, assim como um cavalo selvagem pode fugir carregando
seu cavaleiro com ele e levá-lo a lugares onde ele não deseja ir.
Podemos porém dizer que em todos os melhores homens das raças mais
avançadas atuais o corpo físico está plenamente desenvolvido e bem sob
controle; o corpo astral também está completamente desenvolvido mas de
forma alguma sob controle perfeito; o corpo mental ainda está em processo de
desenvolvimento, mas seu crescimento está muito longe de estar completo.
Eles têm ainda um longo caminho à frente antes que estes três corpos, o físico,
o astral e o mental, estejam inteiramente subordinados à alma. Quando isso
acontecer o eu inferior terá sido absorvido no eu superior, e a alma, o ego, terá
dominado o homem. Embora o homem ainda não esteja ali perfeito, os
diferentes veículos estarão tão harmonizados que terão todos apenas um só
anelo.
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A Vida Super-Humana
Somente agora, pela primeira vez, ele começa sua vida real, pois todo este
estupendo processo de evolução (através de todos os reinos inferiores e
depois através do reino humano até o atingimento do Adeptado) é apenas uma
preparação para esta vida verdadeira do Espírito, que começa somente quando
o homem se torna mais do que homem. A humanidade é a classe final da
escola do mundo, e quando um homem acaba de ser treinado ali ele passa
para a vida real, a vida do Espírito glorificado, a vida do Cristo. Até agora só
sabemos pouca coisa a respeito do que seja isso, embora vejamos alguns
d'Aqueles que dela participam. Ela tem uma glória e esplendor que estão além
de qualquer comparação, além de nossa compreensão, e mesmo assim é um
fato vívido e vivo, e seu atingimento por cada um de nós é uma certeza
absoluta, da qual não podemos escapar mesmo se quiséssemos. Se atuamos
com egoísmo, se nos colocamos contra a corrente de evolução, podemos
atrasar nosso progresso, mas por fim não poderemos impedí-lo.
A Fraternidade de Adeptos
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Como explicaremos mais tarde, existem sete tipos de pessoas, pois cada um
pertence a um dos sete Raios em que a grande onda de vida em evolução
nitidamente se divide. Parece que um Adepto de cada um dos Raios está
encarregado de atender ao treinamento dos iniciantes, e todos os que
pertencem a este Raio de evolução em particular passam por Suas mãos.
Os Poderes do Adepto
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CAPÍTULO 2: OS CORPOS FÍSICOS DOS MESTRES
Seu Aspecto
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Um Desfiladeiro no Tibete
Um Desfiladeiro no Tibete
O Mestre Djwal Kul, a pedido de Madame Blavatsky, uma vez fez para ela uma
pintura precipitada [imagem feita com tinta materializada sobre um suporte pré-
existente - NT] representando o início daquele desfiladeiro, e a ilustração dada
aqui é uma reprodução de uma foto dela. O original, que foi precipitado sobre
seda, está preservado no santuário da Sede da Sociedade Teosófica em
Adyar. À esquerda da pintura o Mestre Morya é visto a cavalo perto da porta de
Sua casa. A morada do Mestre Kuthumi não aparece na imagem, estando mais
acima no vale, contornando a curva à direita. Madame Blavatsky pediu que o
Mestre Djwal Kul se colocasse também na pintura; Ele a princípio recusou, mas
por fim acrescentou-Se como uma pequena figura de pé dentro d'água
segurando um cajado, mas de costas para o espectador! O original é colorido
suavemente em azul, verde e preto. Leva a assinatura do artista - o apelido de
Gai Ben-Jamin, que ele usava em Sua juventude nos primeiros dias da
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Sociedade, muito antes de atingir o Adeptado (A assinatura está na margem
inferior do quadro, fora da pintura, e por isso não aparece na reprodução). A
cena é evidentemente figurada de manhã cedo, já que as brumas matutinas
ainda estão sobre as encostas.
O acervo deste museu é do caráter mais variado. Parece que ele se destina a
ser um tipo de ilustração de todo o processo de evolução. Por exemplo, há
imagens de aspecto vivíssimo de todos os tipos de homem que já existiram
neste planeta desde a sua origem - desde os gigantes desajeitados da Lemúria
até os diminutos remanescentes de raças ainda anteriores e menos humanas.
Modelos em alto relevo mostram todas as variações da superfície da Terra - as
condições antes e depois dos grandes cataclismos que a modificaram tão
profundamente. Imensos diagramas ilustram as migrações das diferentes raças
do mundo, e mostram exatamente até onde se espalharam a partir de suas
respectivas origens. Outros diagramas semelhantes são dedicados à influência
das várias religiões do mundo, mostrando onde cada uma foi praticada em sua
pureza original, e onde se mesclaram com remanescentes de outras religiões e
se desvirtuaram.
Todas as estátuas e modelos são coloridos tão viva e exatamente como eram
os originais, e podemos notar que a coleção foi disposta cronologicamente a
fim de representar para a posteridade os estágios exatos através dos quais
estavam passando a evolução ou a civilização da época, de modo que em vez
de fragmentos incompletos, como nossos museus tão amiúde nos apresentam,
em todos os casos temos aqui uma série intencionalmente didática de
apresentações. Encontramos ainda modelos de todos os tipos de máquinas
que foram desenvolvidas pelas diferentes civilizações, e também há elaboradas
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e abundantes ilustrações de todos os tipos de magia em uso nos vários
períodos da história.
No vestíbulo que conduz a estes vastos salões são mantidas as imagens vivas
dos discípulos dos Mestres Morya e Kuthumi que estão na ocasião em período
probacional, como descreverei mais adiante. Estas imagens estão ordenadas
ao longo das paredes como estátuas, e são representações perfeitas dos
respectivos discípulos. Contudo, não é provável que sejam visíveis aos olhos
físicos, pois a matéria mais densa que entra em sua composição é a etérica.
A casa do Mestre Kuthumi é dividida em duas partes por uma passagem reta.
Como se vê no Diagrama 1, que mostra a planta-baixa da metade sul da casa,
na passagem de entrada a primeira porta à direita leva à sala principal da casa,
onde nosso Mestre costumeiramente vai sentar. É grande (cerca de 15 x 9 m) e
alta, e em muitas coisas se parece mais com um salão do que com uma sala, e
ocupa toda a frente da casa deste lado da passagem. Atrás desta grande sala
há duas outras peças quase quadradas, uma delas usada como biblioteca e
outra como quarto de dormir. Isso completa esta metade da casa, que
aparentemente é reservada para o uso pessoal do Mestre, e é rodeada de uma
ampla varanda. O outro lado da casa, à esquerda da passagem de entrada,
parece ser dividido em peças menores e escritórios de vários tipos; não
tivemos a oportunidade de examiná-las de perto, mas notamos que do lado
oposto da passagem, na direção do quarto de dormir, existe um banheiro bem
aparelhado.
O salão é tão bem suprido de janelas, tanto ao longo da frente como do outro
lado, que ao entrarmos temos a impressão de um espaço quase aberto, e sob
as janelas corre um comprido banco. Há também uma característica um tanto
incomum para este país, uma grande lareira aberta no meio da parede oposta
à das janelas frontais. Ela é disposta de modo a aquecer as três peças, e tem
uma curiosa cobertura de ferro martelado, que segundo me disseram é única
no Tibete. Sobre a boca da lareira há um lintel, e perto dali fica a cadeira de
braços do Mestre, muito antiga, entalhada em madeira e escavada para
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acomodar anatomicamente o usuário, de modo que não são necessárias
almofadas. Espalhados pelo ambiente há mesas e sofás, a maioria sem
encosto, e em um dos cantos está o teclado do órgão do Mestre. O teto fica a
talvez 6 m de altura é muito belo, com traves finamente esculpidas que, onde
se cruzam, descem em pontas ornamentais, dividindo o teto em seções
oblongas. Uma abertura em arco com um pilar no centro, em estilo semelhante
ao gótico, mas sem vidros, se abre para o estúdio, e uma janela parecida se
abre para o quarto de dormir. Este é mobiliado com muita simplicidade. Há uma
cama comum, suspensa como uma rede entre dois suportes de madeira
lavrada fixos na parede (um deles imita a cabeça de um leão, e o outro tem a
figura de uma cabeça de elefante), e quando a cama não está em uso fica
dobrada de encontro à parede.
Diagrama 1
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Da família do Mestre sei muito pouco. Há uma senhora, evidentemente uma
discípula, a quem Ele chama de "irmã". Se ela é de fato Sua irmã eu não sei,
possivelmente pode ser uma prima ou sobrinha. Ela parece ser muito mais
velha do que Ele, mas isso não torna o parentesco improvável, já que Ele
aparenta manter a mesma idade há muito tempo. Ela se parece um pouco com
Ele, e uma ou duas vezes quando houve reuniões ela veio participar, embora
seu trabalho principal pareça ser cuidar da casa e dos empregados. Entre
estes há um ancião e sua esposa, que há muito tempo servem o Mestre. Eles
não sabem de nada sobre a verdadeira dignidade do seu empregador, mas O
consideram um patrão muito indulgente e gracioso, e naturalmente se
beneficiam muito de estarem a Seu serviço.
As Atividades do Mestre
O Mestre tem um grande jardim só Seu. Ele possui também algumas terras e
emprega trabalhadores para cultivá-las. Perto da casa há arbustos floridos e
touceiras de flores crescendo livres, com samambaias entre elas. Através do
jardim corre um regato, que forma uma pequena cachoeira, onde se construiu
uma pontezinha. Aqui Ele muitas vezes Se assenta quando está a enviar
correntes de pensamentos e bênçãos sobre Seu povo; sem dúvida pareceria
ao observador casual que Ele estaria ali observando ociosamente a Natureza,
e ouvindo descuidado o canto da passarada e o murmúrio da água. Às vezes,
ainda, Ele descansa em Sua grande cadeira de braços, e quando as pessoas
O vêem assim já sabem que não devem importuná-Lo; elas não sabem
exatamente o que Ele está fazendo, mas supõem que esteja em samadhi. O
fato de que as pessoas no Oriente entendem este tipo de meditação e o
respeitam pode ser uma das razões pelas quais os Adeptos preferem viver lá e
não no Ocidente.
Deste modo resulta que o Mestre passa considerável parte do dia sentado
quietamente e, diríamos, a meditar; mas enquanto Ele está aparentemente
descansando com tanta calma, na realidade Ele está engajado todo o tempo no
mais estrênuo trabalho nos planos superiores, manipulando várias forças
naturais e derramando influências das mais variadas espécies sobre milhares
de almas ao mesmo tempo, pois os Adeptos são as pessoas mais ocupadas do
mundo. O Mestre, contudo, também faz muito trabalho no plano físico; Ele tem
composto alguma música, e tem escrito notas e documentos para várias
finalidades. Ele também é muito interessado no progresso da ciência física,
embora este seja o departamento especial de um dos outros grandes Mestres
de Sabedoria.
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Às vezes o Mestre toca o órgão que está na grande sala de Sua casa. Ele foi
feito no Tibete sob Sua orientação, e de fato é uma combinação de piano e
órgão, com um teclado como os que temos no Ocidente, e onde Ele pode tocar
qualquer de nossas músicas Ocidentais. Ele não se parece com nenhum outro
instrumento que eu conheça, pois de certa forma tem duas frentes, já que pode
ser tocado tanto da sala quanto da biblioteca. O teclado principal (ou antes os
três teclados - grande órgão, plenum e coro) está na sala, ao passo que o
teclado do piano está na biblioteca; e todos estes teclados podem ser usados
ou juntos ou separados. O órgão completo com seus pedais pode ser tocado
do modo usual na sala, mas manejando uma alavanca semelhante a um
registro, o mecanismo do piano pode ser ligado ao órgão, de forma que tudo
soa simultaneamente. Deste ponto de vista, de fato, o piano é tratado como um
registro adicional do órgão.
O canto dos Devas está sempre sendo cantado no mundo, está sempre
ressoando nos ouvidos dos homens, mas eles não atendem à sua beleza. Há o
profundo bordão do mar, o suspiro do vento nas árvores, o troar da torrente
montesa, a música do córrego, do rio e da cachoeira, que juntos com muitos
outros fazem a grandiosa canção da Natureza viva. Isso porém é apenas um
eco no mundo físico de um som muito mais majestoso, o do Ser dos Devas.
Como é dito em Light on the Path:
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pequena palestra; mais freqüentemente Ele continua Seu trabalho e não Lhes
dá atenção outra além de um sorriso amistoso, com o qual eles parecem se
contentar da mesma maneira. Evidentemente eles vêm para se sentar dentro
de Sua aura e venerá-Lo. Às vezes Ele come em sua presença, sentado na
varanda, com esta multidão de tibetanos e outros ao Seu redor; mas
geralmente Ele come sozinho em uma mesa em Seu quarto. É possível que
Ele siga a regra dos monges Budistas e não coma nada após o meio-dia, pois
não lembro de jamais tê-Lo visto comer à noite; é mesmo possível que Ele não
precise comer todos os dias. Mais provavelmente, quando Lhe apetece Ele
pede a comida que deseja, e não come em horas predeterminadas. Eu O vi
comendo pequenos bolos redondos, marrons e doces, feitos de trigo, açúcar e
manteiga, do tipo usualmente feito em casa, assados por Sua irmã. Ele
também come curry e arroz, sendo o curry ingerido na forma de sopa, como o
dhal. Ele usa uma curiosa e bela colher de ouro, com uma refinada imagem de
um elefante na extremidade do cabo, e cuja concha está disposta em um
ângulo incomum em relação à haste. Trata-se de uma herança de família,
muito antiga e provavelmente de grande valor. Ele de costume veste roupas
brancas, mas não lembro de tê-Lo visto usando qualquer chapéu, exceto nos
raros casos em que enverga o manto amarelo da seita ou clã Gelupga, que
inclui um gorro parecido a um elmo romano. O Mestre Morya, porém,
geralmente usa um turbante.
Outras Casas
A casa do Mestre Morya está no lado oposto do vale, mas muito mais abaixo -
bem perto, de fato, do pequeno templo e da entrada das cavernas. É de um
estilo bem diverso de arquitetura, tendo pelo menos dois pisos, e a fachada
defronte à estrada tem varandas nos dois níveis que são quase totalmente
envidraçadas. O método e arranjo de Sua vida são bem semelhantes aos já
descritos no caso do Mestre Kuthumi.
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Qualquer homem que possua em um grau muito incomum as qualidades que o
capacitam a dominar as pessoas e guiá-las suavemente ao longo do rumo que
ele deseja provavelmente é uma pessoa do Primeiro Raio ou alguém que
esteja tendendo a ele.
Uma figura régia deste tipo é o Senhor Vaivasvata Manu, o Regente da quinta
Raça Raiz, que é o mais alto de todos os Adeptos, com quase 2 metros de
altura, e de proporções perfeitas. Ele é o Homem Modelar de nossa Raça, o
seu protótipo, e todos os membros desta Raça descendem diretamente d'Ele.
O Manu tem uma face impressionante, de grande poder, com um nariz aquilino,
uma barba castanha cheia e ondulante, olhos castanhos, e uma magnificente
cabeça de porte leonino. "Ele é alto", diz nossa Presidente, "e de régia
majestade, com olhos penetrantes como os de uma águia, trigueiros e
brilhantes com fulgores dourados". Atualmente Ele vive nos Himalaias, não
distante da casa de Seu grande Irmão, o Senhor Maitreya.
Madame Blavatsky muitas vezes nos contava como ela encontrou o Mestre
Morya no Hyde Park de Londres, no ano de 1851, quando Ele veio junto com
um grupo de outros Príncipes indianos para visitar a grande Exposição
Internacional. O estranho é que também eu, então uma criança de quatro anos,
também O vi, mas sem saber de quem se tratava. Lembro de ter sido levado
para ver um esplêndido desfile, onde entre outras maravilhas estava um grupo
de cavaleiros indianos ricamente ataviados. Eram cavaleiros magníficos,
montando os cavalos mais belos que se poderia imaginar, e naturalmente
meus olhos infantis se fixaram neles com grande deleite, e para mim eles eram
a melhor coisa daquele espetáculo maravilhoso e feérico. E enquanto eu os via
passar, ainda segurando a mão de meu pai, um dos mais altos dentre aqueles
heróis me fixou com seus faiscantes olhos negros, o que em parte me
amedrontou e ao mesmo tempo me encheu de indescritível felicidade e
exaltação. Ele passou com os outros e não O vi mais, embora muitas vezes a
visão daqueles olhos fulgurantes voltasse à minha memória infantil.
É claro que eu não fazia a menor idéia de quem Ele era, e jamais O teria
identificado se não fosse uma graciosa observação que Ele me dirigiu muitos
anos depois. Falando certo dia em Sua presença, a respeito dos primeiros dias
da Sociedade, aconteceu de eu dizer que tivera o privilégio de vê-Lo em forma
materializada pela primeira vez em uma ocasião em que Ele veio até o quarto
de Madame Blavatsky em Adyar, com o intuito de dar-lhe forças e algumas
orientações. Ele próprio, que estava envolvido na conversa com alguns outros
Adeptos, voltou-Se de súbito para mim e disse: "Não, aquela não foi a primeira
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vez. Tu já me havias visto antes em meu corpo físico. Não lembras, quando
ainda criancinha, observando o cortejo de cavaleiros indianos passando por
Hyde Park, e não percebeste como eu te distingui então com um olhar?"
Instantaneamente lembrei, é claro, e disse: "Oh Mestre, éreis vós? Eu deveria
tê-lo sabido!" Eu não cito este incidente entre as ocasiões em que encontrei e
falei com um Mestre, estando ambos em corpos físicos, porque naquela
ocasião eu não sabia que o grande cavaleiro era um Mestre, e porque a
evidência de uma criança tão pequena poderia muito bem ser duvidosa ou
negligenciável.
"Eu estava seguindo pela estrada que vai até a vila, por onde, segundo
me garantiram as pessoas que encontrei no caminho, eu poderia com
facilidade penetrar no Tibete em meus trajes de peregrino, quando
subitamente vi um cavaleiro solitário galopando em minha direção. Pela
sua alta estatura e habilidade sobre o cavalo pensei que se tratasse de
algum oficial militar do Rajá de Sikkhim. Quando ele se aproximou,
deteve-se. Olhei para ele e o reconheci imediatamente. Eu estava na
impressionante presença dele, do mesmo Mahatma, meu venerado
Guru, a quem eu havia visto antes em seu corpo astral sobre a
balaustrada da Sede Teosófica. Era ele, o Irmão do Himalaia da
memorável noite de dezembro passado, que havia tão gentilmente
precipitado uma carta em resposta a outra que eu havia dado uma hora
antes em um envelope selado para Madame Blavatsky, a quem jamais
perdi de vista durante este intervalo. No mesmo instante prostrei-me no
solo a seus pés. Ergui-me a seu comando e, calmamente olhando sua
face, esqueci de mim mesmo por completo, abandonado à
contemplação da imagem que eu conhecia tão bem, tendo visto seu
retrato (aquele de posse do Coronel Olcott) vezes sem conta. Eu não
sabia o que dizer; alegria e reverência atavam minha língua. A
majestade de seu semblante, que me parecia a encarnação do poder e
da inteligência, mantinham-me em um rapto de assombro. Enfim eu
estava face a face com o Mahatma do Himavat, e ele não era mito, não
era uma criação da imaginação de algum médium, como alguns cépticos
sugeriam. Não era um sonho noturno, era entre nove e dez hora da
manhã. O sol brilhante e silencioso testemunhava de cima toda a cena.
Eu o vi diante de mim em carne e osso, e ele me falava com gentileza e
amabilidade. O que mais eu poderia querer? Meu excesso de felicidade
me deixava mudo. Não foi senão depois de passar algum tempo que
pude pronunciar algumas palavras, encorajado por sua fala e modos
gentis. Sua compleição não é tão bela como a do Mahatma Kuthumi,
mas eu jamais vi um semblante mais formoso, uma estatura tão
imponente e majestosa. Como em seu retrato, ele usa uma barba escura
e curta, e um longo cabelo negro pende sobre o peito; apenas sua roupa
era diferente. Em vez de uma túnica branca e solta, ele usava um manto
amarelo orlado de peles, e em sua cabeça, em vez do turbante, havia o
capuz amarelo tibetano, como aqueles que eu vi alguns butaneses
usarem em seu país. Quando os primeiros momentos de enlevo e
23
surpresa passaram, e compreendi calmamente a situação, tive então
uma longa conversa com ele" (Five Years of Theosophy, 2ª edição, p.
284).
Uma outra figura régia é o Senhor Manu Chakshusha, o Manu da quarta Raça
Raiz, que é chinês de nascimento, e de casta muito elevada. Ele tem os
malares salientes dos mongóis, e Sua face parece ser delicadamente esculpida
em marfim antigo. Ele de hábito usa magníficas túnicas de um flutuante tecido
de ouro. Via de regra não entramos em contato com Ele em nosso trabalho
ordinário, exceto quando acontece de termos de lidar com um discípulo
pertencente à Sua Raça Raiz.
24
substituirá em Seu alto Ofício, e assumirá o cetro de Mestre do Mundo, e se
tornará o Bodhisattva da sexta Raça Raiz.
Outros Raios
O Mestre Hilarion é grego e, salvo pelo Seu nariz levemente aquilino, é do tipo
dos gregos antigos. Sua testa é baixa e larga, e se assemelha à do Hermes de
Praxíteles. Também Ele é maravilhosamente belo, e aparenta ser muito mais
jovem que a maioria dos Adeptos.
Aquele que antigamente foi o discípulo Jesus hoje usa um corpo sírio. Tem a
pele trigueira, olhos escuros e a barba negra dos árabes, e geralmente usa
túnicas brancas e um turbante. Ele é o Mestre dos devotos, e a tônica de Sua
Presença é uma intensa pureza, e um tipo ardente de devoção que
desconhece obstáculos. Vive Ele entre os drusos do Monte Líbano.
25
sobre quem o Coronel Olcott escreveu tantas vezes, e a quem é associado o
nome Júpiter no livro Man: Whence, How and Whither. Ele é mais baixo do que
a maioria dos membros da Fraternidade, e é o único dentre todos, até onde sei,
cujos cabelos mostram mechas grisalhas. Ele se porta com muito prumo e se
movimenta com uma atenção e exatidão militares. Ele é um proprietário de
terras, e durante a visita que Lhe fiz com Swami T. Subba Row, O vi diversas
vezes tratando de negócios com pessoas que pareciam seus agentes,
trazendo-Lhe informes e recebendo instruções. O outro é o Mestre Djwal Kul,
que ainda usa o mesmo corpo em que apenas há poucos anos atingiu o
Adeptado. Talvez por esta razão ainda não tenha sido possível tornar aquele
corpo uma reprodução perfeita do Augoeides. Sua face à nitidamente tibetana
em feições, com malares salientes, e a pele é um tanto enrugada, revelando
sinais da idade.
26
O caso de um Adepto é muito diferente disso. Como já não existe mau karma a
ser esgotado, não há nenhum elemental artificial trabalhando, e o próprio ego
fica responsável por todo o trabalho de desenvolver o corpo desde o início,
sendo limitado apenas por sua hereditariedade. Isso possibilita que seja
produzido um instrumento muito mais refinado e delicado, mas também
envolve mais trabalho para o ego, e requer durante alguns anos uma
considerável quantidade de tempo e energia. Daí que, sem dúvida também por
outras razões, um Adepto prefere não repetir o processo mais do que seja
estritamente necessário, e portanto Ele faz Seu corpo físico durar o quanto for
possível. Nossos corpos envelhecem e morrem por várias razões, desde
fraquezas herdadas, doenças, acidentes e negligência, preocupações e
excesso de trabalho. Mas no caso de um Adepto nenhuma destas causas está
presente, embora devamos lembrar, é claro, que Seu corpo é capaz de
trabalhar e durar imensamente mais do que os das pessoas comuns.
27
Veículos Emprestados
28
discípulo anseia por ter a honra de ceder seu corpo para seu Mestre, mas de
fato só poucos são puros o bastante para isso.
A questão que muitas vezes se levanta é por que um Adepto, cujo trabalho
parece estar quase todo nos planos superiores, precisa de fato de um corpo
físico. Isso realmente não nos diz respeito, mas não sendo irreverente a
especulação, várias sugestões aparecem por si mesmas. O Adepto passa
muito do Seu tempo projetando correntes de influência, e mesmo que, até onde
foi observado, elas ocorram mais freqüentemente no plano mental superior, ou
no plano acima deste, é provável que às vezes possam haver correntes
etéricas, e para sua manipulação a posse de um corpo físico sem dúvida é uma
vantagem. Ainda, a maioria dos Mestres que conheço tem alguns discípulos ou
assistentes a viver com Eles ou em Sua proximidade no plano físico, e um
corpo físico pode ser necessário por causa deles. Mas podemos estar certos
de que se um Adepto tem o trabalho de manter um tal corpo Ele deve ter boas
razões para isso, pois sabemos o bastante sobre Seus métodos de trabalho
para percebermos que Eles fazem tudo da melhor forma possível e através dos
meios que envolvam o menor gasto de energia.
A Entrada na Senda
A Senda está aberta para aqueles que desejam saber mais e chegar mais
perto. Mas o homem que aspira se aproximar dos Mestres só pode alcançá-Los
tornando-se ele mesmo altruísta como Eles são, aprendendo a esquecer do eu
pessoal, e devotando-se completamente ao serviço da humanidade assim
como Eles fazem. Em seu artigo Occultism versus Occult Arts Madame
Blavatsky expressou esta necessidade em sua linguagem caracteristicamente
vigorosa:
29
"O verdadeiro Ocultismo ou Teosofia é a grande renúncia do eu,
incondicional e absoluta, tanto em pensamento como em ação. Significa
altruísmo, e tira quem o pratica dentre o número dos vivos. Ele não
viverá para si, mas para o mundo, assim que se lançar ao trabalho.
Durante os primeiros anos de provação muito é perdoado. Mas tão logo
ele seja aceito sua personalidade deve desaparecer, e ele tem de se
tornar meramente uma força beneficente na Natureza... Só quando
morrer totalmente o poder das paixões, e quando elas tiverem sido
esmagadas e aniquiladas na retorta da vontade inabalável, quando não
só os desejos e inclinações da carne estiverem mortos, mas também
morto o reconhecimento de um eu pessoal, e por conseqüência o astral
tiver sido reduzido a um fragmento, é que pode ter lugar a união com o
Eu Superior. Então, quando o astral refletir somente o homem vencido -
a personalidade ainda viva mas já não desejosa e egoísta - então o
brilhante Augoeides, o Eu divino, poderá vibrar em harmonia consciente
com os dois pólos da entidade humana - o homem de matéria purificada
e a sempre pura Alma Espiritual - e poderá entrar na presença do Eu
Mestre, do Christos dos místicos Gnósticos, fundido, mergulhado nele e
a ele uno para sempre... O aspirante deve fazer uma escolha definitiva
entre a vida do mundo e a vida do Ocultismo. É inútil e vão tentar unir as
duas, pois ninguém pode servir a dois senhores e satisfazer a ambos".
O ponto de vista dos Mestres é tão radicalmente diverso do nosso que de início
nos é difícil compreendê-lo. Eles têm suas afeições particulares assim como
nós, e com certeza Eles amam algumas pessoas mais do que outras, mas Eles
jamais deixarão que tais sentimentos influenciem, em mínimo grau sequer, Sua
atitude quando o trabalho está em causa. Eles aceitarão muito trabalho por
causa de uma pessoa se perceberem que ela tem as sementes de uma futura
grandeza, e se avaliarem que ela se revelará um bom investimento em relação
à quantidade de tempo e força despendidos com ela. Não há a menor
possibilidade de qualquer favoritismo nas mentes destes Grandes Seres. Eles
consideram única e exclusivamente o trabalho que tem de ser feito, o trabalho
da evolução, e o valor da pessoa em relação a isso; e se nos aprontarmos para
tomar parte nele nosso progresso será rápido.
A Magnitude da Empreitada
30
Todos os que ousam pedir para se tornarem discípulos deveriam tentar
compreender o caráter estupendo das forças e do trabalho, e a magnitude dos
Seres com quem se propõem a entrar em contato. O mais ligeiro entendimento
da grandeza de tudo isso tornará claro o motivo de os Adeptos não gastarem
Sua energia com um discípulo a menos que Eles tenham evidências de que em
um tempo razoável ele acrescentará uma forte corrente de força e poder na
direção correta em prol do mundo. Eles só vivem para realizar o trabalho do
Logos do sistema, e aqueles dentre nós que desejam se aproximar d'Eles deve
aprender a fazer o mesmo, e a viver somente para o trabalho. Os que fizerem
isso com certeza atrairão a atenção dos Santos, e serão treinados por Eles
para ajudar e abençoar o mundo.
A Importância do Trabalho
Quem quer que ouça falar dos Mestres e de Seu ensino, se tiver qualquer
compreensão de tudo o que isso significa e envolve, deve instantaneamente
ser arrebatado por um intensíssimo desejo de entendê-Los e entrar em Seu
serviço; quanto mais aprender mais se tornará cheio da maravilha e beleza e
glória do plano de Deus, e mais ansioso ficará para tomar parte no trabalho.
Tendo uma vez percebido que Deus tem um plano, passa a desejar ser um
colaborador Seu, e possivelmente nada mais lhe poderá dar satisfação.
Então ele começa a se perguntar: "O que devo fazer agora?", e a resposta é:
"Trabalhe. Faça o que puder para ajudar o progresso da humanidade ao modo
do Mestre. Comece com o que você tiver oportunidade de fazer e faça-o como
puder, o que de início pode ser qualquer pequena coisa externa, e logo, à
medida que você adquirir as qualidades de caráter necessárias, será levado
para o lado superior de tudo isso, até que, esforçando-se para ser e fazer o
melhor, se encontre de posse das qualificações que o admitirão à Iniciação e a
se tornar membro da própria Grande Fraternidade Branca". Quando eu tive o
privilégio de pela primeira vez entrar em contato um pouco mais íntimo com o
Mestre, perguntei-lhe por carta o que eu deveria fazer. Ele respondeu assim:
"Deves encontrar trabalho por ti mesmo; tu sabes o que fazemos. Começa a
trabalhar de qualquer modo que puder. Se eu te der um trabalho definido tu o
31
realizarias, mas neste caso o karma do que foi feito seria meu, pois eu te
mandei fazê-lo. Tu só terias o karma da pronta obediência, que obviamente é
muito bom, mas não é o karma de iniciar por si mesmo uma linha de ação
frutífera. Desejo que inicies por ti mesmo um trabalho, porque então o karma
da boa ação voltará para ti".
Imagino que todos podemos tomar isso para nós mesmos. Devemos perceber
que nossa tarefa não é esperar até que sejamos solicitados a fazer qualquer
coisa, mas sim nos lançarmos ao trabalho. Há muito trabalho muito humilde
que pode ser feito em relação à Teosofia. Muitas vezes, talvez, alguns de nós
prefeririam a parte mais espetacular; gostaríamos de ficar em evidência e
proferir palestras a grandes audiências. Geralmente encontramos pessoas que
querem se oferecer para fazer isso, mas há uma grande quantidade de
trabalho rotineiro de escritório a ser feito em relação à nossa Sociedade, e não
encontramos sempre muitos voluntários para tal. A reverência e o amor por
nossos Mestres nos levará a desejar fazer qualquer coisa em Seu serviço,
mesmo que humilde, e podemos estar certos de que estaremos trabalhando
em Seu serviço quando ajudarmos a Sociedade que foi fundada por dois
d'Eles.
As Regras Antigas
32
ouçamos falar raramente de alguém que tem uma extraordinária
capacidade inata para aquisição de conhecimento e poder Ocultos,
mesmo este tem de passar pelos mesmos testes e provações pessoais,
e tem de submeter-se ao mesmo treinamento pessoal que os outros
aspirantes menos dotados. Neste assunto é a mais pura verdade que
não existe uma 'estrada real' por onde possam passar favoritos.
"Estas têm sido as recomendações básicas para quem quer que aspire
ao perfeito Discipulado. Com a única exceção da primeira, que em casos
muito raros e excepcionais pode ter sido modificada, cada um destes
pontos tem sido invariavelmente enfatizado, e todos devem ter sido mais
ou menos desenvolvidos na natureza interna através dos esforços
individuais do Chela, antes que ele possa de fato ser testado.
33
por isso tornou-se o mestre) de seu 1: Sharira (corpo); 2: Indriya
(sentidos); 3: Dosha (faltas); 4: Dukkha (dor); e está pronto para se
tornar um com seu Manas (mente), Buddhi (intelecto ou inteligência
espiritual) e Atma (alma superior, ou seja, o espírito); quando ele estiver
pronto para isso e, ainda, para reconhecer no Atma o mais elevado
regente no mundo das percepções, e na vontade a mais elevada energia
executiva (poder) - então ele poderá, seguindo as venerandas leis, ser
tomado pela mão por um dos Iniciados. Então ele poderá conhecer o
caminho misterioso em cujo longínquo fim é obtido o infalível
discernimento de Phala, ou os frutos produzidos pelas causas, e
conseguir os meios de atingir Apavarga - a emancipação da miséria dos
repetidos nascimentos, Pretyabhava, em cuja determinação o ignorante
não tem qualquer poder" (Five Years of Theosophy, 2ª ed., pp 31-32).
O segundo conjunto de regras que ela nos deu está em seu livro Practical
Occultism. São doze ao todo, mas ela nos diz que elas foram tiradas de uma
lista de setenta e três, cuja enumeração seria inútil e sem sentido no ocidente,
embora ela diga que todo instrutor no oriente está a par delas. As explicações
entre parênteses são da própria Madame Blavatsky. Assim:
"O lugar selecionado para receber instrução deve ser arranjado de modo
a não distrair a mente, e repleto de objetos emanadores de influência
(magnéticos). As cinco cores sagradas reunidas em um círculo devem
estar ali, entre outras coisas. O local deve ser livre de qualquer influência
maligna pairando no ar.
"(O local deve ser reservado para somente este uso. As cinco cores
sagradas são tons do espectro arranjados em uma ordem determinada,
já que estas cores são muito magnéticas. Por influências malignas
queremos dizer quaisquer distúrbios causados por brigas, discussões,
maus sentimentos, etc, já que se diz que eles se impregnam
imediatamente na luz astral, isto é, na atmosfera do local, e pairam em
torno. Esta primeira condição parece fácil de conseguir, mas, avaliando-
se melhor, é uma das mais difíceis).
34
as palavras da Sabedoria e da Boa Lei serão perdidas e dispersas pelos
ventos.
"Os co-discípulos devem ser afinados pelo guru como as cordas da vina
(um alaúde), cada um diferente dos outros, embora cada qual emitindo
sons em harmonia com todos. Coletivamente eles devem formar um
teclado que em todas as suas partes responde ao mais ligeiro toque (o
toque do Mestre). Assim suas mentes se abrirão às harmonias da
Sabedoria, para vibrar como conhecimento através de cada um e de
todos, resultando em um efeito agradável aos deuses (tutelares, ou
anjos patronos) e útil ao Lanoo. Assim a Sabedoria será impressa para
sempre em seus corações e a harmonia da lei jamais será quebrada.
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"Um Lanoo (discípulo) deve permanecer à parte de influências vivas
externas (emanações magnéticas de criaturas vivas). Por esta razão, ao
mesmo tempo em que ele permanece uno a tudo em sua natureza
interna, ele deve cuidar de manter separado seu corpo externo de toda
influência estranha: ninguém deve beber ou comer com seus utensílios
senão ele mesmo. Ele deve evitar contato corpóreo (tocar ou ser tocado)
com seres humanos ou animais.
"Nenhum alimento animal de qualquer tipo, nada que tenha vida em si,
deve ser ingerido pelo discípulo. Nenhum vinho, nenhuma bebida
espirituosa ou ópio devem ser usados, pois eles são como os Lhamayin
(maus espíritos) que se apoderam dos incautos; eles devoram o
entendimento. (O vinho e bebidas espirituosas supostamente contêm o
mau magnetismo de todas as pessoas que ajudaram em sua fabricação;
a carne de cada animal preserva as características psíquicas de sua
raça).
"Apenas com a observação estrita das regras acima é que o Lanoo pode
esperar adquirir no devido tempo os Siddhis dos Arhats, cujo
desenvolvimento o torna gradualmente Um com o Todo Universal".
O segundo conjunto obviamente está em uma classe muito diferente. Elas são
claramente formuladas para estudantes orientais, e mesmo entre eles
principalmente para aqueles que são capazes de devotar todas suas vidas ao
seu estudo e viver separados do mundo em um mosteiro ou comunidade
oculta. O mero fato de que há sessenta e uma regras que nada significariam
para discípulos ocidentais mostra que elas não foram dirigidas a todos e nem
são necessárias para o progresso na Senda, uma vez que muitos têm trilhado
a Senda sem conhecê-las. Não obstante elas são de grande interesse e valor
como recomendações. As obrigações morais e éticas são familiares a todos
nós, e o mesmo quanto à insistência na necessidade de perfeita harmonia e
entendimento mútuo entre os discípulos que têm de aprender e trabalhar
36
juntos. É para este último objetivo que a maioria das regras citadas aqui são
direcionadas, e no caso de um grupo de estudantes sua importância
dificilmente pode ser exagerada. Na vida ocidental temos insistido tanto no
individualismo, e no indiscutido direito de cada pessoa de viver sua própria vida
até onde não incomode a outrem, que em grande medida esquecemos da
possibilidade de uma união realmente íntima. Em vez de sermos unidos como
os dedos de uma mão, vivemos juntos como um punhado de bolinhas em um
saco, o que do ponto de vista interno está bem longe do ideal.
37
como, por exemplo, podendo abandonar seu trabalho e começar outro em
algum país estrangeiro, o que dificilmente poderia ser feito se ele tivesse as
responsabilidades de uma esposa e família - não devemos esquecer que o
homem casado tem a oportunidade de servir à Causa de um modo bem outro,
provendo veículos adequados e ambiente favorável para muitos egos
avançados que esperam descer à encarnação. Ambos os tipos de trabalho são
necessários, e há espaço em todos os escalões de discípulos tanto para
casados como para solteiros. Não encontramos uma condenação do estado
marital em nenhum dos três grandes manuais que nos foram dados para
iluminar nosso caminho. O último e mais simples deles é o maravilhoso livreto
de J.Krishnamurti intitulado Aos Pés do Mestre.
38
ele alcançou dezenas de milhares de outros, e os ajudou em um grau
imensurável.
A história de como este livreto veio a ser escrito é relativamente simples. Todas
as noites eu tinha de levar este menino em seu corpo astral até a casa do
Mestre para que lhe fosse dada instrução. O Mestre devotava talvez quinze
minutos a cada noite para falar com ele, mas ao fim de cada conversa Ele
sempre reunia os pontos principais do que acabara de dizer em uma única
frase, ou algumas poucas frases, formando assim um resumo fácil que era
repetido pelo menino, de forma que ele o aprendia de cor. Na manhã seguinte
ele lembrava deste resumo e o escrevia. O livro consiste destas frases, do
epítome do ensinamento do Mestre, feito por Ele mesmo, e em Suas palavras.
O garoto as escrevia com certa dificuldade, porque naquela altura seu inglês
não era tão bom. Ele sabia todas aquelas coisas de cor e não se preocupava
muito com as anotações que fazia. Um pouco mais adiante ele foi para
Benares com nossa Presidente. Enquanto estava lá ele me escreveu, estando
eu em Adyar, e pediu-me para da melhor maneira que eu pudesse eu reunisse
e lhe enviasse todas as anotações que havia feito do que o Mestre dissera. Eu
reuni suas notas o melhor que pude e as datilografei.
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on the Path nos foram dados com este propósito, e os maravilhosos livros de
nossa Presidente, In the Outer Court e The Path of Discipleship, também são
do mais alto valor. Desde que a primeira edição deste livro foi publicada, a
Presidente e eu lançamos em conjunto um volume chamado Talks on the Path
of Occultism, que é um comentário aos três clássicos mencionados acima.
A Atitude do Discípulo
Tendo diante de si estes três livros já não cabem dúvidas ao discípulo sobre o
que ele deve fazer. Obviamente ele deve esforçar-se ao longo de duas linhas
em especial - o desenvolvimento de seu próprio caráter, e o empenho em
realizar um trabalho definido para os outros. Claramente o que se apresenta
para ele neste ensinamento implica uma atitude completamente diversa em
relação à vida em geral; isso foi expresso por um dos Mestres na seguinte
frase: "Aquele que deseja trabalhar conosco deve deixar seu próprio mundo e
entrar no nosso". Isso não significa, como usualmente poderia ser imaginado
pelos estudantes da literatura oriental, que o discípulo deva abandonar o
mundo comum da vida e assuntos físicos, e se retirar para uma floresta, uma
caverna ou uma montanha. Mas quer dizer que ele deve abandonar toda a
atitude mental mundana e adotar em seu lugar a atitude do Mestre.
As Três Portas
Há sempre estas três vias; uma pessoa pode chegar aos pés do Mestre
através de estudo profundo, pois neste caminho ela vem a saber e a sentir, e
certamente Ele pode ser alcançado através de uma profunda devoção
longamente continuada, pela constante elevação da alma até Ele. E existe
ainda o método de lançar-se a alguma atividade definida por Ele. Mas isso
40
deve ser algo definidamente feito por Ele com o seguinte pensamento na
mente: "Se houver crédito ou glória por trabalho não os desejo; faço isso em
nome do Mestre, e para Ele vão a glória e o louvor". O poema acima citado
também diz: "Pode haver aquele que nem reza nem estuda, mas porém pode
trabalhar muito bem". E isso é verdade. Existem pessoas que não conseguem
muito em meditação e quando tentam estudar acham muito difícil. Elas
deveriam continuar ambas as coisas, pois devemos desenvolver todos os lados
de nossa natureza, mas principalmente elas deveriam se lançar ao trabalho e
fazer algo por seus semelhantes.
Este é o mais garantido de todos os apelos - fazer algo em Seu nome, fazer
uma boa ação pensando n'Ele, lembrando que Ele é muito mais sensível ao
pensamento do que as pessoas comuns. Se uma pessoa lembra de um amigo
distante, seu pensamento vai até o amigo e o influencia, de modo que o amigo
pensa naquele que enviou o pensamento, a menos que sua mente esteja muito
envolvida com outra coisa naquele momento. Mas por mais ocupada que esteja
a mente de um Mestre, um pensamento dirigido a Ele causa alguma
impressão, e embora talvez naquele exato momento Ele possa não perceber,
mesmo assim o toque está lá, e Ele saberá e enviará Seu amor e energia em
resposta.
O Trabalho do Mestre
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O trabalho do Mestre não é algo especial e à parte de nossos semelhantes.
Constituir uma boa família que no futuro há de serví-Lo, acumular riqueza para
usá-la a Seu serviço, obter poder para ajudá-Lo com ele - tudo isso pode ser
parte do trabalho; mas fazendo todas estas coisas o discípulo deve
permanecer sempre em guarda contra o auto-engano, deve analisar se não
estará vestindo com a santidade do nome do Mestre uma coisa que por baixo é
um desejo egoísta de acumular poder ou lidar com dinheiro. O discípulo do
Mestre tem de olhar em torno e ver o que existe para ser feito que esteja dentro
de seu alcance. Ele não deve menosprezar uma tarefa humilde, pensando:
"Sou bom demais para isso". No trabalho do Mestre nenhuma parte é mais
importante do que outra, embora algumas partes sejam mais difíceis do que
outras, e portanto requeiram um treinamento especial ou faculdades ou
habilidades incomuns.
Também pode ser feito muito em maneiras não institucionais. Por exemplo, a
influência da beleza na vida humana é imensamente elevadora, pois a beleza é
a manifestação de Deus na Natureza; assim - para dar só um exemplo - os
jardins ao longo das ruas, de todos aqueles que estão se esforçando ao longo
destas linhas, devem ser notados por sua beleza e limpeza. Muitas pessoas
são descuidadas nestes assuntos menores; não são asseadas; deixam lixo
atrás de si; mas tudo isso indica um caráter muito distante do espírito do
Mestre.
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d'Ele tanto em pensamento como em atividade, e fazendo isso logo atrairemos
Sua atenção, pois todo o tempo Ele está observando o mundo a fim de
encontrar aqueles que podem ser de valia em Seu trabalho. Quando Ele nos
notar, logo nos levará para mais perto d'Ele para uma observação ainda mais
próxima e mais detalhada. Isso é feito usualmente encaminhando-nos para
entrarmos em contato com alguém que já seja Seu discípulo. Por isso é
perfeitamente desnecessário qualquer pessoa fazer qualquer esforço direto
para atrair Sua atenção.
Criando o Elo
Madame Blavatsky nos disse que sempre que uma pessoa ingressa na
Sociedade Teosófica o Mestre a observa, além disso ela disse que em muitos
casos os Grandes Seres guiaram pessoas para que se filiassem à Sociedade
por causa de suas vidas passadas. Assim, parece que Eles de costume sabem
muito mais sobre nós antes que saibamos qualquer coisa sobre Eles. O Adepto
jamais esquece de qualquer coisa. Ele parece estar sempre plenamente
inteirado de tudo o que Lhe aconteceu, e deste modo se Ele lança mesmo um
olhar casual a uma pessoa Ele jamais a esquecerá. Quando uma pessoa
ingressa na Escola Interna é criado um elo definitivo, não embora com um
Adepto, mas primeiro de tudo com a Líder Externa da Escola (na ocasião,
Madame Blavatsky), e através dela com o Mestre, que é o Líder Interno.
O elo criado desta forma com a Líder Externa é alargado e fortalecido a cada
passo adiante dentro da Escola. Nos estágios introdutórios há apenas uma leve
conexão; algo muito mais definido sucede quando são proferidos os votos da
Escola, e aqueles que proferem os votos dos graus superiores são levados
para ainda mais perto. Isso se mostra principalmente com um alargamento da
linha de comunicação, pois há uma linha de pensamento ligando cada membro
da Escola à Líder Externa, porque ele constantemente pensa nela em sua
meditação. Isso mantém o elo brilhante e forte.
De sua parte, ela já se tornou una com seu Mestre. Portanto uma conexão com
ela neste sentido é uma conexão com Ele. Todos os que pertencem à Escola
Interna estão, assim, em contato com o seu Mestre, o Mestre Morya, embora
muitas vezes estejam trabalhando em linhas diferentes da d'Ele, e se tornarão
discípulos de outros Mestres quando estiverem na etapa probacionária. Sob
tais circunstâncias, contudo, eles receberão a influência de seus próprios
Mestres futuros através destes canais, porque os Adeptos, embora vivam muito
afastados fisicamente, têm uma ligação entre si tão estreita que estar em
contato com um d'Eles é na verdade estar ligado a todos. Parece-nos como
uma conexão abrangente, mas isso é muito menos do que podemos pensar
aqui embaixo, por causa da prodigiosa unidade íntima entre os Grandes Seres
nos planos superiores.
Mesmo no estágio inicial deste elo indireto através da Líder Externa, o Mestre
pode atuar em certa medida através de qualquer um, se assim desejar. É um
pouco fora do Seu hábito enviar Sua força através de um canal não
especialmente preparado, de modo que usualmente Ele não o faz. Mas Ele tem
uma espécie de consciência a respeito de todos que estão em Sua Escola, o
43
que às vezes se manifesta na forma de enviar um pensamento auxiliador
quando eles estão fazendo algum trabalho por Ele. Sei que Ele já utilizou um
membro da Escola que estava dando uma palestra, a fim de apresentar um
ponto de vista novo ao público. É claro que Ele faz isso muito mais amiúde com
Seus discípulos, mas com certeza isso tem sido feito com os outros também.
Ninguém é Esquecido
Quando um estudante entende tudo isso já não mais perguntará o que deve
fazer para atrair a atenção do Mestre. Ele saberá que é completamente
desnecessário tentar fazê-lo, e não restará o menor medo de alguém ser
negligenciado.
"Ah, não precisas ter medo de que teu amigo esteja sendo esquecido;
ninguém pode ser esquecido, mas neste caso ainda resta algum karma
a ser esgotado, o que torna impossível aceitarmos tua sugestão por
enquanto. Logo teu amigo passará do plano físico, e logo retornará a
ele, e então a expiação terá se completado, e o que desejas para ele se
tornará possível".
"Agora vês", disse o Mestre, "o quão completamente impossível é que alguém
seja esquecido, mesmo sendo alguém que esteja a considerável distância da
possibilidade de ser aceito como probacionário".
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De nossa parte não podemos senão trabalhar constantemente no
aperfeiçoamento de nosso caráter, e tentar de todas as formas possíveis, pelo
estudo de obras Teosóficas, pelo autodesenvolvimento, e pelo altruísmo de
nossa devoção aos interesses alheios, nos prepararmos para a honra que
desejamos, mantendo em nossas mentes a completa certeza de que assim que
estivermos prontos o reconhecimento seguramente virá. Mas antes de
podermos ser usados com economia - ou seja, antes que a força gasta
conosco produza, através de nossas ações, pelo menos tantos frutos quantos
seriam produzidos se gasta de outra maneira, seria uma violação do dever de
parte do Mestre nos levar a uma relação mais íntima com Ele.
Isso em todo caso não difere em nada de nossa prática (ou o que deveria ser
nossa prática) no plano físico. Estão sendo feitas constantemente novas
descobertas ao longo de linhas científicas, e as usamos e adaptamos nossas
vidas a elas. Por que não deveríamos fazer o mesmo quando as descobertas
pertencem a planos superiores e estão ligadas à vida interior? Entender as leis
da Natureza e viver em harmonia com elas é o caminho do conforto, saúde e
progresso, tanto físicos como psíquicos.
A Responsabilidade do Mestre
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"Há um fato importante que o estudante deve conhecer, qual seja, a
enorme, quase ilimitada responsabilidade assumida pelo Mestre em
nome do discípulo. Desde os Gurus do oriente que ensinam aberta ou
secretamente, até os poucos Kabalistas em terras ocidentais que
resolvem ensinar os rudimentos da Ciência Sagrada a seus discípulos -
sendo estes Hierofantes ocidentais muitas vezes ignorantes do perigo
em que incorrem - um e todos estes Instrutores estão sujeitos à mesma
lei inviolável. Desde o momento em que realmente começam a ensinar,
desde o instante em que eles conferem qualquer poder - seja psíquico,
mental ou físico - a seus pupilos, eles assumem sobre si mesmos todos
os pecados daquele discípulo que forem cometidos em relação às
Ciências Ocultas, seja por omissão ou comissão, até o momento em que
a iniciação torna o discípulo um Mestre e, por sua vez, responsável...
Assim fica claro o motivo de os Mestres serem tão reticentes, e o porquê
de os chelas precisarem servir sete anos de teste para provar sua
aptidão e desenvolver as qualidades necessárias à segurança tanto do
Mestre como do discípulo" (Practical Occultism, p. 4, et seq.).
Se a vítima realmente tiver aquela qualidade indesejável que ele lhe atribui, o
potente pensamento do discípulo a intensificaria; se a qualidade não existir, a
mesma forma-pensamento a sugeriria, e poderia facilmente ser despertada se
estivesse latente - poderia mesmo plantar suas sementes se ainda não
houvesse nenhum sinal dela. Às vezes a mente de um ser humano está em
uma condição de equilíbrio entre um rumo bom e um mau; e quando o caso é
este o impacto de uma vívida forma-pensamento vinda de fora pode ser o que
basta para desequilibrar a balança, e pode fazer com que o irmão mais fraco
embarque em uma linha de ação cujo resultado, para o bem ou para o mal,
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pode se estender por muitas encarnações. Quão cuidadoso deve ser então o
discípulo ao constatar que o poder aumentado de pensamento, que se tornou
possível por causa de sua ligação com o Mestre, deve ser usado sempre para
fortalecer e jamais para enfraquecer aqueles para quem for dirigido!
Idéias Errôneas
Tem sido dito que um homem honesto é a mais nobre obra de Deus, e o
Coronel Ingersoll uma vez parodiou o provérbio invertendo-o, e dizendo que um
Deus honesto era a mais nobre obra do homem - pelo que ele queria dizer que
cada pessoa chega à sua concepção de Deus personificando aquelas
qualidades de si mesmo que ele considera as mais dignas de admiração, e
então elevando-as à enésima potência. Assim, se uma pessoa tem uma
concepção nobre de Deus, isso demonstra que há muita nobreza em sua
própria natureza, mesmo que ela possa nem sempre viver à altura de seu ideal.
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Mas uma concepção errônea de Deus é um dos mais sérios impedimentos que
alguém pode sofrer. A idéia do Jeová do Antigo Testamento, sedento de
sangue, ciumento, mesquinho e cruel, tem sido responsável por uma
quantidade de prejuízo ao mundo que não pode ser facilmente avaliada.
Qualquer pensamento sobre Deus que inclua medo d'Ele é absolutamente
desastroso, e bloqueia toda esperança de progresso real; isso encerra a
pessoa na mais escura das prisões em vez de levá-la para cima e para frente
em direção à glória da luz solar. Isso atrai para em torno da pessoa uma hoste
de elementais da classe que se deleita com o medo, regozija-se nele e o
intensifica por todos os meios que encontra em seu poder. Quando uma
pessoa se encontra nesta pungente situação é de todo impossível ajudá-la;
portanto, ensinar a alguém (ainda mais a uma criança) tal doutrina blasfema é
um dos piores crimes que alguém pode cometer. O discípulo deve estar
completamente livre de todas as superstições limitadoras deste tipo.
O Efeito da Meditação
Lembremos também que quem medita sobre o Mestre cria uma ligação
definida com Ele, que se apresenta à visão clarividente como uma espécie de
linha de luz. O Mestre, subconscientemente, sempre sente o toque desta linha,
e envia em resposta uma firme corrente de magnetismo que continua a atuar
muito depois de terminada a meditação. A prática metódica desta meditação e
concentração é por isso da mais alta valia para o aspirante, e a regularidade é
um dos fatores mais importantes na produção do resultado. Ela deve ser feita
diariamente à mesma hora, e devemos perseverar constantes nela, mesmo
que nenhum efeito óbvio possa ser notado. Quando não aparecem resultados
devemos ficar especialmente em guarda contra a depressão, porque isso torna
mais difícil que a influência do Mestre atue sobre nós, e isso também
demonstra que estaremos pensando mais em nós do que n'Ele.
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Obstáculos Comuns
Pode haver muitas razões pelas quais Ele não o faz. Às vezes uma pessoa,
pedindo isso, tem alguma falha importante em si mesma que é razão suficiente.
Não infreqüentemente, lamento dizer, a falha é o orgulho. Uma pessoa pode ter
um conceito tão elevado de si mesma que não é passível de ser ensinada,
embora pense que seja. Muitas vezes nesta nossa civilização a falha é a
irritabilidade. Uma pessoa boa e digna por ter seus nervos à flor da pele, de
forma que seria impossível que fosse levada a um contato mais íntimo e
constante com o Mestre. Às vezes o impedimento é a curiosidade. Alguns se
surpreendem de ouvir que esta é uma falha séria, mas com certeza é - a
curiosidade acerca dos assuntos alheios, e especialmente sobre sua situação
ou desenvolvimento ocultos. Seria de todo impossível que um Mestre levasse
para perto de Si alguém que tivesse esta falha.
Muitas pessoas que fazem aquela pergunta têm falhas deste tipo, e não
gostam que elas lhes sejam apontadas. Elas geralmente não acreditam que as
possuem, e imaginam que estamos equivocados; mas em raros casos elas se
dispõem a tirar proveito da observação. Lembro muito bem de uma senhora
que veio a mim em uma cidade americana perguntando: "Qual é o problema
comigo? Por que eu não posso me aproximar do Mestre?" "Eu perguntei: "Quer
realmente saber?" Sim, certamente, ela realmente queria saber. Ela solicitou
que eu a observasse ocultamente, ou pela clarividência, ou por qualquer meio
que eu desejasse, e pesquisasse por todos os seus veículos e suas vidas
passadas, e definisse a sua situação. Eu fiz o que ela pediu e disse; "Bem, se a
senhora realmente deseja saber, o fato é que há muito ego em seu universo. A
senhora pensa muito em si mesma e não o bastante no trabalho".
É claro que ela ficou terrivelmente ofendida; disparou para fora da sala e disse
que não acreditava muito em minha clarividência; mas esta senhora teve a
coragem de voltar dois anos depois e dizer: "O que o senhor me disse estava
absolutamente certo, e eu vou consertar isso trabalhando duro nesta questão".
Esta história tem se repetido muitas vezes, exceto que este foi o único caso em
que a pessoa voltou e reconheceu a falha. Sem dúvida o discípulo que deseja
ver a si mesmo como os outros o vêem pode aprender muito que o ajudará a
progredir. Lembro que um dos Mestres uma vez observou que o primeiro dever
do chela é ouvir sem ressentimento qualquer coisa que o Guru possa dizer. Ele
deve ser ávido por mudar a si mesmo, por livrar-se de seus defeitos. Madame
Blavatsky disse: "O discipulado foi definido por um Mestre como um solvente
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psíquico, que dissolve toda a escória e deixa apenas o ouro puro" (Five Years
of Theosophy, 2ª Ed., p. 36).
O autocentramento é apenas uma outra forma de orgulho, mas que hoje em dia
é muito proeminente. A personalidade que temos construído ao longo de
milhares de anos se tornou forte e auto-assertiva, e é uma das tarefas mais
árduas reverter esta atitude e obrigá-la a adquirir o hábito de ver as coisas do
ponto de vista dos outros. A pessoa com certeza deve sair do centro de seu
próprio círculo, como expliquei em The Inner Life, se deseja chegar ao Mestre.
Às vezes acontece, contudo, que aqueles que fazem a pergunta não têm
nenhum defeito especialmente importante, e quando os observamos só
podemos dizer: "Não vejo nenhuma razão definida, nenhuma falha que lhe
esteja retardando, mas você ainda precisa crescer um pouco mais de modo
geral". Isso é uma coisa bem desagradável para termos de dizer a uma pessoa,
mas é o fato; elas ainda não são grandes o bastante, e devem crescer antes de
ser tornarem dignas.
"Por outro lado, se ela for boa, generosa, casta e abstêmia, ou tiver
qualquer virtude latente e oculta em si mesma, ela virá à luz tão
desimpedida como o resto... Esta é uma lei imutável nos domínios do
oculto" (The Secret Doctrine, vol. 5, p. 417).
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porque jamais foram postas à prova... Quem decide tentar o discipulado por
este mesmo ato desperta... qualquer paixão adormecida de sua natureza
animal... O chela é chamado a enfrentar não apenas as más tendências
latentes de sua natureza, mas em acréscimo o conjunto das forças maléficas
acumuladas pela comunidade e nação a que pertence... Se ele se contenta em
seguir com seus vizinhos e ser quase como eles são - talvez um pouco melhor
ou pior do que a média - ninguém prestará atenção nele. Mas seja sabido que
ele se tornou capaz de detectar a farsa vazia da vida social, sua hipocrisia,
egoísmo, sensualidade, cupidez e outras más características, e que se dispôs
a se elevar a um nível superior, de imediato ele passa a ser odiado, e todas as
naturezas malignas, intolerantes ou maliciosas lhe enviam uma corrente de
poder de vontade contra ele" (Five Years of Theosophy, 2ª Ed., p. 35).
Aqueles que se deixam levar pela corrente da evolução, e que por isso
atingirão este estágio no longínquo futuro, acharão tudo muito mais fácil, pois a
opinião pública naquela altura estará em harmonia com estes ideais. Agora,
porém, temos de resistir ao que o Cristão chama de tentação, a constante
pressão da opinião externa de milhões de pessoas ao nosso redor pensando
pensamentos personalistas. Colocar-se contra isso requer um esforço real,
uma verdadeira coragem e perseverança. Devemos nos agarrar a esta tarefa, e
embora possamos falhar mil vezes não devemos esmorecer, mas sim
perseverar e prosseguir.
Não pode haver meias-medidas nesta Senda. Muitas pessoas estão na mesma
posição que os tão mal-falados Ananias e Safira. Lembremos como eles
quiseram (de um modo de todo natural e sem merecer condenação) guardar
um pouco para uma eventualidade, como se não estivessem certos de que o
novo movimento Cristão seria um sucesso. Eles eram muito entusiastas, e
quiseram dar tudo o que pudessem, mas sentiram que seria sábio manter uma
certa reserva em caso de o movimento falhar. Eles não deveriam ser
condenados por isso absolutamente, mas o que eles de fato fizeram, que foi
completamente errado e impróprio, foi que, embora guardando um pouco, não
admitiram o fato, mas alegaram ter dado tudo. Há muitos hoje em dia que
seguem seu exemplo; espero que a história não seja verídica, pois o Apóstolo
certamente foi bem severo com eles.
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Nós não damos tudo, mas mantemos um pouco de nós mesmos - não quero
dizer em termos de dinheiro, mas de sentimentos pessoais lá no fundo, o que
nos puxa para longe dos pés do Mestre. Em ocultismo isso não deve
acontecer. Seguimos o Mestre sem reservas, não dizendo para nós mesmos
"Seguirei o Mestre enquanto Ele não me fizer trabalhar com tais e tais pessoas;
seguirei o Mestre enquanto tudo o que eu fizer for reconhecido e mencionado
nos documentos"! Não devemos estabelecer condições. Não quero dizer que
devemos abandonar nossos deveres comuns no plano físico, mas
simplesmente que todo nosso ser deve estar à disposição do Mestre. Devemos
estar preparados para conceder tudo, ir a qualquer lugar - não como um teste,
mas porque o amor ao trabalho é a maior coisa em nossas vidas.
Às vezes as pessoas perguntam: "Se eu fizer todas estas coisas quanto tempo
levará para que o Mestre me ponha à prova?" Não haverá demora nenhuma,
mas aqui a palavra "se" é o problema. Não é tão fácil assim fazê-lo
perfeitamente, e tendo-o feito isso teria acontecido sem dúvida bem antes de
podermos anelar pelo discipulado. Mas um dos Mestres disse: "Quem faz o
melhor de si, para nós faz o bastante". Se a pessoa não tem alegria no trabalho
em si mesmo, mas espera apenas recompensa ou reconhecimento oculto,
realmente não captou o espírito correto. Se ela possuir a atitude correta se
lançará incansável na boa obra, deixando que o Mestre anuncie Sua aprovação
quando e como Lhe aprouver.
Nossos irmãos hindus têm uma tradição bem consistente a respeito disso. Eles
dizem: "Vinte ou trinta anos de serviço não são nada; há muitos na Índia que
têm servido por todas suas vidas sem qualquer reconhecimento externo,
embora internamente estejam sendo guiados por um Mestre". Deparei-me com
um exemplo semelhante há poucos anos; eu havia feito uma pergunta neste
sentido a respeito de alguns irmãos hindus, e a resposta do Mestre foi: "Ao
longo de quarenta anos tenho mantido aquelas pessoas sob observação. Que
se contentem com isso" E de fato eles ficaram mais do que contentes. Depois
desta ocasião, devo dizer, eles receberam reconhecimento e se tornaram
Iniciados. Nossos irmãos hindus sabem intimamente que o Mestre está a par
do seu serviço; mas o discípulo não se importa se Ele decide dar algum
reconhecimento externo ou não. Com certeza ele ficaria extraordinariamente
feliz se o Mestre o notasse, mas se isso não acontece ele continua exatamente
como antes.
CAPÍTULO 4: PROVAÇÃO
A Imagem Viva
O Mestre em muitas ocasiões escolhe Seus discípulos fora das fileiras dos
estudantes e trabalhadores sérios do tipo que eu já descrevi. Mas antes que
Ele os aceite Ele toma precauções especiais para Se assegurar de que eles
são realmente o tipo de pessoa que Ele poderia atrair para um contato mais
íntimo consigo, e este é o objetivo do estágio chamado Provação. Quando Ele
pensa que uma pessoa é um possível discípulo, Ele usualmente pede que
alguém que já esteja intimamente ligado a Ele que Lhe traga o candidato em
corpo astral. Geralmente não há muita cerimônia associada a esta etapa, o
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Mestre dá umas poucas palavras de conselho, diz ao novo discípulo o que se
espera dele, e muitas vezes, de Seu modo gracioso, pode encontrar alguma
razão para congratulá-lo pelo trabalho que já realizou.
Então Ele cria uma imagem viva do discípulo - quer dizer, Ele modela a partir
de matéria mental, astral e etérica uma réplica exata dos corpos causal,
mental, astral e etérico do neófito, e mantém esta imagem à mão, de modo que
Ele possa observá-la periodicamente. Cada imagem é magneticamente ligada
à pessoa que representa, e assim toda variação de pensamento e sentimento
nela é reproduzida na imagem por vibração simpática, e deste modo com uma
simples olhadela na imagem o Mestre pode ver de imediato se desde o
momento em que a olhou da última vez ocorreu algum tipo de distúrbio nos
corpos representados - se a pessoa perdeu o controle, ou se permitiu ser presa
de sentimentos impuros, preocupação, depressão, ou qualquer coisa deste
gênero. É só depois que Ele verifica que ao longo de um considerável período
de tempo não ocorreu nenhuma excitação séria nos veículos representados
pela imagem que Ele admite o discípulo a uma relação mais estreita consigo.
Quando o discípulo é aceito ele deve ser levado a uma unidade com seu
Mestre muito mais íntima do que qualquer coisa que possamos imaginar ou
entender; o Mestre deseja fundir sua aura com a Sua própria, de modo que
através disso Suas forças possam estar constantemente atuando sem uma
atenção especial de Sua parte. Mas uma relação tão íntima como esta não
pode funcionar só em uma direção; se entre as vibrações do discípulo houver
alguma que cause perturbação nos corpos astral e mental do Adepto ao
reagirem sobre Ele, tal união seria impossível. O futuro discípulo teria de
esperar até conseguir eliminar de si mesmo estas vibrações. Um discípulo
probacionário não é necessariamente melhor do que as outras pessoas que
não estão em provação; apenas ele é de certas maneiras mais adequado para
o trabalho do Mestre, e assim seria aconselhável submetê-lo ao teste do
tempo, pois muitas pessoas, elevadas pelo entusiasmo, parecem de início ser
as mais promissoras e ávidas por servir, mas infelizmente depois de algum
tempo cansam e retornam ao que eram. O candidato deve vencer quaisquer
falhas emocionais que possa ter, e continuar firme no trabalho até que se torne
suficientemente calmo e puro. Quando por um longo tempo não tiver
acontecido nenhuma perturbação séria na imagem viva, o Mestre sente que
chegou o tempo de trazer o discípulo, com proveito, para mais perto d'Ele.
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Se um discípulo em provação faz alguma coisa extraordinariamente boa, o
Mestre por um momento lhe dá um pouco mais de atenção, e se Ele achar
adequado pode enviar uma onda de encorajamento de algum tipo, ou pode
colocar algum trabalho no caminho do discípulo e ver como ele o desempenha.
Geralmente, contudo, ele delega esta tarefa a algum de Seus discípulos mais
antigos. Espera-se que ofereçamos oportunidades ao candidato, mas fazer isso
é uma séria responsabilidade. Se a pessoa usa a oportunidade, tudo está bem,
mas se ela não o faz, isso conta como um ponto desfavorável. Muitas vezes
gostaríamos de oferecer oportunidades às pessoas, mas hesitamos, porque se
elas as aceitam isso lhes faria muito bem, mas se elas perdem a chance será
um pouco mais difícil repetir a oferta na próxima vez.
Vemos, então, que o elo entre o discípulo em provação e seu Mestre destina-
se principalmente à observação e talvez a um uso ocasional do discípulo. Não
é hábito dos Adeptos empregarem testes especiais ou sensacionais, e em
geral, quando é um adulto quem está em provação, ele é deixado a seguir o
curso comum de sua vida, e o modo como a imagem viva reproduz sua
resposta aos desafios e problemas do dia dá uma indicação suficiente a
respeito de seu caráter e progresso. Quando com estas informações o Mestre
conclui que a pessoa constituirá um discípulo satisfatório, Ele a levará para
mais perto de Si e a aceitará. Às vezes bastam umas poucas semanas para
decidir o caso, às vezes o período se estende ao longo de anos.
Probacionários Jovens
Porque esta é uma época excepcional, muitos jovens estão sendo postos em
provação nos últimos anos, e seus pais e membros mais velhos da Sociedade
às vezes se admiram com este fato; não obstante seus próprios sinceros
sacrifícios e labores, muitas vezes se estendendo ao longo de vinte, trinta ou
quarenta anos, eles são preteridos e os jovens são aceitos. A explicação é
simples.
Todo esse tempo tem sido karma destes pais preparar a si mesmos e o
caminho para a vinda do Mestre do Mundo, e exatamente porque eles são
membros bons e antigos atraíram algumas almas que se adiantaram até um
alto nível de desenvolvimento em encarnações anteriores, de modo que
nasceram agora deles como crianças, e não devem se surpreender se algumas
vezes descobrirem que aqueles que em seu corpo físico são seus filhos em
mundos outros e superiores são muitíssimo mais desenvolvidos do que eles
mesmos. Se um menino ou menina subitamente entra em estreita relação com
um Mestre - relações tais como eles jamais se aventuraram a imaginar para si
mesmos, mesmo após muitos anos de meditação e trabalho duro - não se
espantem. Seu filho pode ser capaz de se elevar muito acima deles, mas é
exatamente porque ele tem esta capacidade que seu nascimento e educação
lhes foram confiados, pois ao longo de seu estudo eles têm aprendido a serem
os pais ideais - o tipo de pais requeridos para o corpo de um ego avançado.
Em vez de ficarem perplexos ou surpresos, eles deveriam se rejubilar com
inexcedível alegria por terem sido considerados dignos de guiar os passos
físicos de alguém que vai ser um dos Salvadores do mundo.
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Podemos, talvez, nos admirar como meras crianças podem desfrutar da honra
que lhes advém, como podem compreender o esplendor e glória disso tudo.
Não esqueçam que é o ego quem é iniciado, é o ego quem é aceito como
discípulo. Na verdade, ele deve obter um controle tal sobre seus veículos
inferiores de forma que eles não constituam um estorvo no trabalho que tem de
ser feito; mas é ele, o ego, que tem de fazer o trabalho e fazer este
desenvolvimento, e não sabemos o quanto eles já podem ter conseguido em
encarnações anteriores. Muitos daqueles que estão vindo à encarnação agora
são almas altamente evoluídas; é precisamente de egos assim avançados que
o grande grupo de discípulos que há de cercar o Mestre do Mundo deve ser
constituído. Aqueles que se tornam discípulos em tenra idade podem muito
bem ter sido discípulos por muitos anos em uma vida anterior, e o maior
privilégio que nós, os mais velhos, podemos ter é nos vermos associados com
estes jovens, pois através deles podemos adiantar a obra do Senhor na Terra
treinando-os para a realizarem com maior perfeição.
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em plenitude pode alcançar o Adeptado na mesma vida. Este era o destino que
esperávamos para ti, para que como um grande Adepto pudesses ficar a meu
lado quando eu for ao teu plano físico; mas aqueles a quem te confiei (porque
eles te ofereceram ao meu serviço mesmo antes de nasceres) permitiram que
caísses nas mãos desta pessoa, que era de todo indigna de tal confiança. Esta
era a tua aura antes que a geada de sua maldade caísse sobre ti. Agora vê o
que sua crueldade fez de ti".
Quando o candidato viu esta aura deformada e endurecida, quando viu todas
suas belas expectativas impiedosamente destruídas pela brutalidade deste
homem, ele sentiu novamente por um momento o que em grande parte havia
esquecido - a agonia do menininho enviado para longe de casa, o medo e
humilhação sempre pairando no ar, o inacreditável horror, o sentimento de
ardente ultraje de onde não havia escapatória ou alívio, o malsão sentimento
de completo desespero nas garras de um tirano cruel, o apaixonado
ressentimento diante desta injustiça maldosa, sem qualquer esperança, sem
nenhum chão neste abismo, nenhum Deus para quem apelar; e vendo isso em
sua mente, eu, que observava, entendi um pouco sobre a terrível tragédia
daquela infância, e o porquê de seus efeitos terem tão longo alcance.
Eu nunca havia ouvido falar, antes da ocasião mencionada acima, que a última
vida em que é alcançado o Adeptado deve ter na infância um ambiente
absolutamente perfeito, mas a propriedade da idéia é óbvia quando se nos é
apresentada. Esta é provavelmente uma razão pela qual tão poucos
estudantes obtêm o Adeptado em corpos europeus, pois estamos muito atrás
do resto do mundo neste particular. De qualquer modo é nitidamente claro que
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nada senão males podem suceder a este medonho costume da crueldade.
Nossos membros deveriam certamente trabalhar onde possível para sua
supressão, e deveriam, como eu disse no início, ser especialmente cuidadosos
em se certificarem de que nenhuma criança por quem de qualquer modo
fossem responsáveis estivesse sob a menor ameaça desta forma especial de
crime.
Seu braço direito em todo esse trabalho maravilhoso é Seu assistente e futuro
sucessor, o Mestre Kuthumi, assim como o assistente e futuro sucessor do
Senhor Manu Vaivasvata é o Mestre Morya. E porque o Mestre Kuthumi é o
Professor Ideal, é para Ele que devemos levar aqueles que serão postos em
provação ou aceitos em tenra idade. Pode ser que mais tarde na vida eles
sejam usados por outros Mestres para outras áreas do trabalho; mas de
qualquer modo todos eles (ou quase todos) começam sob a tutela do Mestre
Kuthumi. Ao longo de muitos anos tem sido parte de minha tarefa tentar treinar
ao longo das linhas corretas qualquer jovem que o Mestre considere promissor;
Ele os encaminha para entrarem em contato comigo no plano físico e
usualmente dá breves indicações sobre quais qualidades Ele deseja que
desenvolvam, e quais instruções que devem lhes ser dadas. Naturalmente Ele,
em Sua infinita sabedoria, não lida com estes jovens cérebros e corpos
exatamente da mesma forma como o faz com os mais velhos. Deixem-me citar
um relato de uma entrada em provação de três jovens, cerca de dez anos
atrás:
Entrando em Provação
"Eu vos recebo com especial prazer; todos vós trabalhastes comigo no
passado, e espero que agora trabalheis novamente. Quero que sejais
dos nossos antes da vinda do Senhor, e por isso estou começando
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convosco bastante cedo. Lembrai que o que desejais realizar é a mais
gloriosa de todas as tarefas, mas não é coisa fácil, porque deveis obter
completo controle sobre vossos pequenos corpos; deveis esquecer
inteiramente de vós mesmos e viver apenas para serdes uma bênção
para os outros, e para fazerdes o trabalho que nos for dado".
Colocando Sua mão sob o queixo do primeiro jovem que ajoelhara, Ele
perguntou com um luminoso sorriso: "Podeis fazer isso?"
Então Ele trouxe o primeiro menino para Sua frente, e colocou Suas duas mãos
sobre sua cabeça, e o menino mais uma vez ajoelhou. O Mestre disse:
Mas, sorrindo, o Mestre replicou: "Só tu podes fazer isto, meu caro menino;
mas minha ajuda e bênção estarão sempre contigo".
Então Ele tomou os outros e realizou a mesma cerimônia com cada um deles,
e suas auras também cresceram e ficaram mais firmes e constantes à medida
que brilhavam em resposta do modo mais maravilhoso.
Todos nós nos encaminhamos ao longo da trilha descendente até a ponte que
cruza o rio. Ele nos levou para dentro da caverna, e mostrou aos meninos as
imagens vivas de todos os discípulos probacionários. Então Ele disse: "Agora
vou fazer imagens vossas". E Ele as materializou diante de seus olhos, e
naturalmente eles ficaram tremendamente interessados. Um deles disse com
voz assombrada: "Eu sou assim?"
"Eu não sei", respondeu o garoto; mas acho que ele adivinhou, pois este era o
resultado de uma tensão emocional na noite anterior. O Mestre apontou várias
cores e padrões nas auras, e lhes disse o que significavam e o que Ele
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desejava que fosse mudado. E lhes disse que verificaria estas imagens todos
os dias para ver como eles estariam se saindo, e que esperava que eles as
modificassem de modo que se tornassem agradáveis de se olhar. Então Ele
lhes deu Sua bênção final.
___________
Conselhos do Mestre
"Sei que teu único objetivo na vida é servir a Fraternidade, mesmo assim
não esqueças de que há degraus mais altos à tua frente, e que
progresso na Senda significa vigilância incessante. Não deves estar
apenas sempre pronto para servir, deves estar sempre procurando
oportunidades - ou melhor, deves criar as oportunidades de ser útil nas
pequenas coisas, a fim de que quando o trabalho maior chegar não
deixes de percebê-lo".
"Jamais esqueças por um só momento tua relação oculta, ela deve ser
uma inspiração permanente para ti - não só como um escudo contra os
pensamentos enganosos que flutuam em nosso redor, mas como um
constante estímulo à atividade espiritual. A vacuidade e mesquinhez da
vida comum deve nos ser impossível, embora não esteja fora de nossa
compreensão e compaixão. A felicidade inefável do Adeptado ainda não
é tua, mas lembra que os discípulos já são unos com Aqueles que vivem
esta vida superior; vós sois dispensadores de Sua luz solar neste mundo
inferior, de modo que também vós, em vosso nível, deveis ser sóis
radiantes de amor e alegria. O mundo pode não apreciar nem
compreender, mas vosso dever é brilhar.
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a qual todas as outras qualidades são como água tentando fertilizar
areia estéril.
"Teu objetivo deve ser o serviço definido, e não a mera diversão; pensa
não no que desejas fazer, mas no que podes fazer para ajudar alguém
mais; esquece de ti mesmo, e pensa nos outros. Um discípulo deve ser
invariavelmente gentil, prestativo, auxiliador - não só ocasionalmente,
mas o tempo todo. Lembra, todo o tempo que não é gasto no serviço (ou
se preparando para ele) para nós é tempo perdido.
***
"Tens trabalhado bem, mas quero que trabalhes ainda melhor. Tenho te
testado dando-te oportunidades de ajudar, e até agora tens te
desempenhado nobremente. Portanto agora te darei oportunidades em
maior número e importância, e teu progresso depende de as reconhecer
e aproveitar. Lembra que a recompensa para o trabalho bem feito é
sempre o aparecimento de mais trabalho, e a fidelidade no que te
parecem pequenas coisas leva à sua aplicação em assuntos de maior
importância. Espero que logo te aproximes de mim, e assim fazendo
ajudes teus irmãos ao longo da Senda que leva aos pés do Rei. Sê
agradecido por teres um grande poder de amar, por saberes como
inundar teu mundo de luz, como te derramares com prodigalidade régia,
como doar à larga como um rei; isso é realmente bom, mas cuida que no
coração desta grande flor de amor não haja o menor toque de orgulho,
que poderia se espalhar como uma quase imperceptível mancha de
corrupção até que contaminasse e apodrecesse toda a flor. Lembra o
que escreveu nosso Grande Irmão: 'Se atingiste a sabedoria sê humilde,
sê humilde mesmo quando a tiveres dominado'. Cultiva a olorosa planta
da humildade até que seu doce aroma penetre cada fibra de teu ser.
"Quando te esforças pela unidade, não basta atrair os outros para dentro
de ti mesmo, envolvê-los com tua aura, fazer a eles unos contigo.
Conseguir isso já é uma grande coisa, mas deves ir além, e tornares a ti
60
mesmo uno com eles; deves entrar nos próprios corações de teus
irmãos e entendê-los; jamais por curiosidade, pois o coração de um
irmão é um lugar secreto e santo; ninguém deve ali penetrar para
prejudicá-lo ou questioná-lo, mas sim para com reverência tentar
compreender, simpatizar, ajudar. É fácil criticar os outros a partir de seu
próprio ponto de vista; mais difícil é conhecê-los e amá-los, mas esta é a
única maneira de levá-los contigo. Quero que te desenvolvas rápido para
que eu possa te usar na Grande Obra, e para te ajudar nisso te dou a
minha bênção".
***
"Filha, tens feito bem exercendo tua influência para civilizar até onde
possível os elementos mais rudes em teu redor, e para ajudar uma outra
alma pura em seu caminho até mim. Isso será sempre uma estrela em
tua coroa de glória; continua a ajudá-la, e vê se não existem outras
estrelas que possas bem logo acrescentar a esta coroa. Esta tua boa
obra tem me permitido te trazer para mais perto de mim muito mais cedo
do que de outra forma seria possível. Não há método mais certo de
progredir rapidamente do que devotar-se a ajudar os outros na Senda
ascendente. Tiveste a boa fortuna, ainda, de encontrar um velho
camarada, pois dois que podem realmente trabalhar juntos são mais
eficientes do que se aplicassem a mesma quantidade de força em
separado. Começaste bem; continua a te mover na mesma linha com
desenvoltura e segurança".
***
***
"Estou satisfeito contigo, mas quero que faças ainda mais. Pois tu, meu
filho, tens a capacidade de fazer progresso rápido, e quero que coloques
isso diante de ti como um objetivo que te determines alcançar a qualquer
custo. Alguns dos obstáculos que foste instruído a superar te parecem
pouco importantes, mas em realidade não é assim, pois eles são as
indicações superficiais de uma condição interna que deve ser alterada
se desejas ser de utilidade para Nosso Senhor quando Ele vier. Isso
61
significa uma mudança radical que não te é fácil fazer, mas o esforço
vale a pena. As regras que desejo que estabeleças para ti mesmo são:
"5. Lembra que ainda tens muito a aprender, e portanto podes muitas
vezes estar em erro; assim, fala com maior modéstia.
Muitos dos que lêem estas instruções podem ficar surpresos com sua extrema
simplicidade. Elas podem mesmo ser desprezadas como sendo pouco
adequadas para guiar e ajudar as pessoas na imensa complexidade de nossa
civilização moderna. Mas quem pensa assim esquece que é da essência da
vida do discípulo que ele deixe de lado toda essa complexidade, que ele, como
disse o Mestre, "saia de seu mundo e entre no nosso", entre em um mundo de
pensamento onde a vida é simples e só tem um objetivo, onde o certo e o
errado novamente se tornam bem definidos, onde as demandas sobre nós são
claras e inteligíveis. Esta é a vida simples que o discípulo deve viver; é a
própria simplicidade que lhe torna possível o progresso superior. Temos feito
de nossas vidas um emaranhado e uma incerteza, uma massa de confusão,
uma tempestade de forças em choque, onde os fracos fracassam e naufragam;
mas o discípulo do Mestre deve ser forte e sadio, deve agarrar sua vida com
suas próprias mãos, e torná-la simples com uma simplicidade divina. Sua
mente deve descartar todas estas confusões e ilusões feitas pelo homem e
voar direto para a frente como uma flecha em direção ao alvo. "A menos que
vos convertais, e vos torneis como criancinhas, não entrareis no reino dos
céus". E o reino dos céus, lembremos, é a Grande Fraternidade Branca dos
Adeptos (Vide The Hidden Side of Christian Festivals, pp. 12, 446).
62
A partir destes excertos vemos o quão elevado é o ideal que o Mestre coloca
diante de Seus discípulos, e talvez isso possa parecer a alguns deles como o
que em teologia chamamos de conselho de perfeição - ou seja, uma meta ou
condição ainda impossível de ser atingida com perfeição, mas ainda uma pela
qual devemos anelar constantemente. Mas todos os aspirantes estão anelando
alto, e nenhum deles pode ainda alcançar o que anela; de outra forma ele não
precisaria de modo algum estar ainda em encarnação física. Estamos muito
longe de ser perfeitos, mas os jovens que podem ser levados para perto dos
Grandes Seres tem a mais maravilhosa das oportunidades por causa de sua
juventude e maleabilidade. É muito mais fácil para eles eliminar aquelas coisas
que não são o que deveriam ser do que para as pessoas mais velhas. Se eles
puderem cultivar o hábito de tomar o ponto de vista certo, de agir pelas razões
corretas ao longo de todas suas vidas, logo eles chegarão mais e mais perto do
ideal dos Mestres. Se o discípulo que foi posto em provação pudesse ver,
enquanto ainda em corpo físico, as imagens vivas que o Mestre faz, ele
entenderia muito mais plenamente a importância daquilo que pode parecer
apenas detalhes menores.
Os Efeitos da Irritabilidade
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astral ou mental, de forma que um método melhor é tentarmos desenvolver a
consideração pelos outros, baseada é claro fundamentalmente no amor por
eles. Uma pessoa que seja cheia de amor e consideração não se permitirá falar
ou mesmo pensar com irritação em relação aos outros. Se pudermos nos
encher com esta idéia o mesmo resultado será alcançado sem excitarmos a
oposição dos elementais.
Egoísmo
Assim em toda boa ação o discípulo deve sempre pensar no benefício que isso
resultará para os outros e na oportunidade de servir o Mestre nestes assuntos -
que mesmo quando são materialmente pequenos são grandes em valor
espiritual - e não no bom karma que resultará para si mesmo, o que seria
apenas uma outra e bem sutil forma de autocentramento. Lembremos o que
Cristo disse: "O que quer que fizerdes ao menor destes meus irmãos, o tereis
feito para mim".
Outros efeitos sutis do mesmo tipo são vistos na depressão e no ciúme, e nas
afirmações agressivas dos próprios direitos. Um Adepto disse: "Pensa menos
nos teus direitos e mais em teus deveres". Há algumas ocasiões, ao lidarmos
com o mundo externo, em que o discípulo pode considerar necessário
estabelecer gentilmente o que ele precisa, mas entre seus companheiros de
discipulado não existem tais coisas como direitos, mas apenas oportunidades.
Se uma pessoa se sente aborrecida, começa a projetar de si sentimentos
agressivos; ela pode não chegar ao ponto do ódio, mas está criando um brilho
fosco em seu corpo astral e afetando também o corpo mental.
Preocupações
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como uma tempestade em seu corpo mental. Devido à extrema velocidade das
vibrações neste nível, a palavra tempestade só em parte expressa a realidade;
de certo modo chegamos mais perto do efeito produzido se o imaginarmos
como uma úlcera no corpo mental, como uma irritação produzida pela fricção.
Às vezes encontramos pessoas argumentativas, pessoas que discutem sobre
tudo, e aparentemente amam tanto este exercício que pouco se importam de
que lado do debate estão engajados. Uma pessoa deste tipo tem seu corpo
mental em uma condição de inflamação perpétua, e à menor provocação a
inflamação tende a transformar-se em uma chaga aberta. Para este tipo de
pessoa não há esperança de qualquer tipo de progresso oculto antes de ele
desenvolver o equilíbrio e o bom senso para curar esta condição doentia.
Para nossa sorte as boas emoções persistem muito mais do que as más,
porque atuam na parte mais refinada do corpo astral; o efeito do sentimento de
forte amor ou devoção permanece no corpo astral muito depois que a ocasião
que o originou foi esquecida. É possível, embora incomum, ter dois tipos de
vibração atuando poderosamente no corpo astral ao mesmo tempo - por
exemplo, amor e raiva. No momento de sentir raiva intensa uma pessoa
provavelmente não terá nenhum sentimento afetuoso forte, a menos que a
raiva seja por causa de uma nobre indignação; neste caso os resultados
posteriores se desenvolveriam paralelamente, mas um em um nível muito mais
alto do que o outro, e por isso persistindo mais.
O Riso
Às vezes há uma tendência para as troças fúteis, que devem ser evitada a todo
custo, pois têm um efeito muito ruim sobre o corpo astral. Elas tecem em torno
dele uma rede de faixas cinza-amarronzadas, muito desagradáveis de se ver, e
que formam uma camada que impede a entrada de boas influências. Este é um
perigo contra o qual os jovens devem se guardar cuidadosamente. Sejam tão
felizes e alegres quanto puderem; o Mestre gosta disso, e é útil em seu
caminho. Mas jamais por um só momento deixem que a jovialidade seja tingida
de qualquer laivo de grosseria ou rudeza, jamais permitam que o riso se torne
uma gargalhada turbulenta; jamais permitam, por outro lado, que degenere em
troça tola.
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Há uma clara linha de separação nisso, assim como em outros assuntos, entre
o que é inofensivo e o que pode facilmente se tornar daninho. O método mais
seguro de discriminar é considerar se o divertimento ultrapassa o ponto da
delicadeza e do bom gosto. No momento em que o riso vai além - no momento
em que nele surge o menor toque de descontrole, no momento em que ele
deixa de ser perfeito em seu refinamento, estamos passando para um terreno
perigoso. O lado interno desta distinção é que enquanto o ego está plenamente
no controle de seu corpo astral tudo está bem; assim que ele perde o controle,
o riso se torna vazio e sem sentido - o cavalo, por assim dizer, está correndo
solto sem seu cavaleiro. Um corpo astral desgovernado como este fica à mercê
de qualquer influência que passe, e pode facilmente ser afetado pelos mais
indesejáveis pensamentos e sentimentos. Cuidem que suas mentes sejam
sempre puras e limpas - jamais tintas por um momento sequer do malicioso
deleite pelo sofrimento ou desconforto alheio. Se um acidente constrangedor
suceder a alguém, não fiquemos lá rindo à toa pelo ridículo do incidente, mas
corramos prestes para ajudar e consolar. Uma gentileza amável e prestativa
deve ser sempre nossa característica mais proeminente.
Palavras Ociosas
Um clarividente que pode ver o efeito sobre os corpos superiores das várias
emoções indesejáveis não encontrará dificuldade em entender o quão
importante é mantê-las sob controle. Mas porque a maioria de nós não pode
ver os resultados ficamos sujeitos a esquecer disso, e a nos permitirmos ser
descuidados. O mesmo vale para o efeito produzido pelas observações casuais
ou impensadas. Cristo, em Sua última encarnação na Terra, aparentemente
disse que a pessoa daria contas no dia do Juízo sobre todas as palavras fúteis
que disse. Isso soa como uma coisa cruel para se dizer, e se a visão ortodoxa
sobre o Juízo estivesse correta isso seria realmente injusto e abominável. De
forma alguma Ele quis dizer que cada palavra ociosa condenaria uma pessoa à
tortura eterna - não existe isso; mas sabemos que toda palavra e todo
pensamento gera seu karma, seu resultado, e quando coisas tolas são
repetidas mais e mais, elas criam uma atmosfera em torno da pessoa que
exclui as boas influências. Para evitarmos isso é necessária uma atenção
constante. Seria um ideal super-humano esperar que uma pessoa jamais
esquecesse disso por um só momento; mas os discípulos estão no fim das
contas tentando ser super-homens, porque o Mestre está além dos homens. Se
o discípulo pudesse viver a vida perfeita ele já seria um Adepto; ele não pode
sê-lo ainda, mas se lembrar constantemente deste ideal ele se aproximará
muito mais dele. Toda palavra vã que ele pronuncia por certo afeta durante
algum tempo suas relações com o Mestre; assim, que ele vigie suas palavras
com o maior cuidado (Vide ainda o capítulo XIV, Sobre a Fala Correta).
O discípulo deveria vigiar o modo de sua fala, bem como seu conteúdo, de
forma que sejam graciosos, belo e corretos, e livres de desleixo ou exagero.
Suas palavras devem ser bem escolhidas e bem pronunciadas. Muitas pessoas
pensam que na vida diária não é preciso nos preocuparmos em falar
claramente; isso importa muito mais do que imaginam, porque todo o tempo
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estamos construindo nosso próprio ambiente, e ele reage sobre nós.
Enchemos nossas salas e casas com nossos próprios pensamentos, e depois
temos de viver ali. Se, por exemplo, uma pessoa se permite ser assolada pela
depressão, seu quarto se torna carregado com esta qualidade, e qualquer
pessoa sensível entrando ali se tornaria consciente de certa diminuição da
vitalidade, de um rebaixamento do tom. E muito mais a própria pessoa, que
vive neste aposento todo o tempo, é perpetuamente afetada pela depressão, e
não pode com facilidade livrar-se dela. Do mesmo modo a pessoa que se cerca
de formas sonoras desagradáveis por causa da fala descuidada e inculta
produz uma atmosfera em que estas formas constantemente reagem sobre ela.
Por causa desta perpétua pressão a pessoa provavelmente reproduzirá estas
formas desagradáveis, e se não for cuidadoso se verá adquirindo o hábito de
falar rude e grosseiramente.
Cada palavra que é pronunciada cria uma pequena forma na matéria etérica,
assim como na matéria mental. Algumas destas palavras são completamente
impróprias. A palavra "ódio", por exemplo, produz uma forma horrível, tanto
que, tendo visto sua forma, jamais a emprego. Podemos dizer que não
gostamos de alguma coisa, ou que não nos importamos com ela, mas jamais
deveríamos usar a palavra "ódio", a não ser quando absolutamente necessário,
pois meramente ver a forma que ela cria nos transmite um agudo desconforto.
Há outras palavras, por outro lado, que produzem formas belas, palavras que é
bom dizer. Tudo isso poderia ser aprofundado cientificamente, e o será um dia,
não tenho dúvida, quando as pessoas tiverem tempo para isso. Podemos dizer,
contudo, que em geral as palavras que estão ligadas a qualidades desejáveis
produzem formas agradáveis, e aquelas que estão associadas às más
qualidades produzem formas feias.
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Tais formas verbais não são determinadas pelo pensamento que acompanha
as palavras, o pensamento constrói sua própria forma em um tipo superior de
matéria. Por exemplo, a palavra "ódio" é freqüentemente empregada sem
qualquer ódio real associado, quando queremos dizer, por exemplo, que não
apreciamos algum tipo de comida; este é um uso perfeitamente desnecessário
para a palavra, e obviamente não veicula nenhuma emoção séria, de modo que
a forma-ódio astral não é produzida, mas a feia forma sonora etérica aparece
como se a pessoa que fala realmente quisesse transmitir o verdadeiro
significado dela. Assim claramente a palavra em si mesma não é boa. O
mesmo vale para os impropérios, juramentos e palavras obscenas tão comuns
entre pessoas sem educação e cultura; as formas produzidas por algumas
destas palavras são de natureza peculiarmente horrenda quando vistas pela
visão clarividente. Mas é impensável que alguém aspirando ao discipulado
polua seus lábios com elas. Muitas vezes ouvimos pessoas usando todo tipo
de frases desconexas em gíria que realmente não possuem significado ou
derivação legítimos. É importante que tudo isso seja evitado pelo estudante do
ocultismo.
Sempre que falamos ou rimos criamos cores, bem como sons. Se é o tipo certo
de riso, caloroso e gentil, tem um efeito muito agradável, e espalha um
sentimento de jovialidade em toda volta. Mas se for um riso irônico ou
sarcástico, uma rude gargalhada, risinhos de mofa ou zombaria, o resultado é
muito diverso, e excessivamente desagradável. É notável o quão de perto
todas as nuanças de pensamento e sentimento se espelham mutuamente nos
outros planos. Isso é evidente quando passamos de um país para outro, e
encontramos o ar cheio de efeitos sonoros bem diferentes. Se cruzamos o
Canal da Mancha indo da Inglaterra para a França, de imediato vemos que as
formas sonoras criadas pela língua francesa são muito diferentes daquelas
produzidas pelo inglês. Isso é especialmente perceptível a respeito de certos
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sons, porque toda língua tem alguns sons que lhe são peculiares, e são eles a
característica principal que distinguem o aspecto de um idioma de outro.
A cor das formas depende mais do espírito com que são faladas. Duas
pessoas podem falar as mesmas palavras, e assim criar formas mais ou menos
iguais, mas as formas podem ter um espírito bem diferente por trás. Quando
nos despedimos de alguém dizemos "adeus". Estas palavras podem ser
acompanhadas de uma verdadeira efusão de sentimento amistoso, mas se
dizemos "adeus" de modo casual, sem qualquer pensamento ou sentimento
especiais por trás, isso produz um efeito de todo distinto nos planos superiores.
Aqui se produz apenas um lampejo, significando pouco, fazendo pouco; lá
existe uma definida efusão que oferecemos ao nosso amigo. É bom
lembrarmos que a expressão significa "esteja com Deus", portanto o que
estamos dando é uma bênção. Em francês dizemos "adieu", que quer dizer o
mesmo. Se pensarmos no significado destas palavras sempre que as
dissermos, faremos muito mais bem do que o habitual, pois então nossa
vontade e nosso pensamento condirão com as palavras, e a bênção será uma
verdadeira ajuda e não meramente um aceno casual.
Agitação
Quando é estabelecida uma regra de que nada rude ou crítico deve ser dito
sobre outrem, isso quer dizer exatamente isso - não que quando acontecer de
considerarmos isso devamos diminuir um pouco o número de coisas rudes ou
críticas que dizemos todos os dias, mas sim que elas devem cessar
completamente. Somos tão habituados a ouvir várias instruções éticas que
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ninguém tenta seriamente colocar em prática que temos o costume de que uma
aplicação superficial de uma idéia, ou um vago esforço ocasional de realizá-la,
é tudo o que a religião requer de nós. Devemos eliminar por completo esse
modo de pensar e entender que é exigida uma obediência exata e literal
quando é dada instrução oculta, seja por um Mestre ou por Seu discípulo (Para
instruções adicionais sobre este assunto o leitor deve consultar Talks on the
Path of Occultism).
O Valor da Associação
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mantenha correspondência com algum estudante mais velho, que possa
responder suas perguntas e o aconselhe a respeito de leituras, e assim pode-
se poupar muito tempo e seu caminho pode ser suavizado.
CAPÍTULO 5: ACEITAÇÃO
Embora quando o Mestre aceita o discípulo isso produza uma diferença tão
grande na vida deste, o cerimonial externo associado é apenas um pouco mais
elaborado do que na ocasião da provação. O seguinte relato da aceitação de
alguns jovens é dado para comparação com o correspondente relato de uma
provação no capítulo anterior:
Nesta ocasião nosso Mestre sorriu amavelmente para ele e disse: "Decidiste
finalmente trabalhar comigo e devotares-te ao serviço da humanidade?" O
menino respondeu muito sério que sim, e nosso Mestre continuou: "Estou muito
satisfeito com os esforços que tens feito, e espero que não os relaxes. Não
esqueças sob estas novas condições o que te disse há poucos meses. Teu
trabalho e determinação me possibilitaram abreviar o período de tua Provação,
e agrada-me que tenhas escolhido de todas a mais curta das linhas de
progresso, a de trazeres outros contigo ao longo da Senda. O mais forte poder
no mundo é o amor absolutamente altruísta, mas há poucos que podem mantê-
lo livre de exigências ou ciúme, mesmo quando ele se dirige apenas a um
objeto. Teu avanço é devido a teu sucesso em manteres esta chama ardendo
simultaneamente por vários objetos. Fizeste muito para desenvolver força, mas
ainda precisas mais dela. Deves adquirir discriminação e prontidão, de modo
que percebas o que é preciso naquele exato momento, em vez de só dez
minutos mais tarde. Antes de falares ou agires, pensa com cuidado nas
conseqüências. Mas tens atuado notavelmente bem, e isso me agrada muito".
Então o Mestre colocou Sua mão sobre a cabeça de cada um dos candidatos
separadamente, dizendo: "Eu te aceito como meu chela segundo o antigo rito".
Ele os levou individualmente para dentro de Sua aura, de forma que por um
momento o discípulo desapareceu n'Ele, e então emergiu de volta parecendo
inexprimivelmente feliz e nobre, expressando as características peculiares do
Mestre como jamais o fizera antes. Quando tudo isso acabou nosso Mestre
disse a cada um: "Eu te dou a minha bênção". E então, falando a todos em
conjunto: "Vinde comigo, agora devo vos apresentar em vossa nova condição
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para o reconhecimento e registro oficiais". Então Ele os levou até o
Mahachohan, que os observou atentamente, e disse: "Vós sois muito jovens.
Congratulo-me convosco por alcançardes tal posição tão cedo. Cuideis de viver
em concordância com o nível que atingistes". E Ele registrou seus nomes no
registro imperecível, mostrando-lhes as colunas opostas à de seus nomes, que
ainda deviam ser preenchidas, e expressando a esperança de logo poder
inscrever outros nomes em virtude de seu trabalho.
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para cima, são como uma taça ou funil, aberto acima mas fechado nos lados, e
praticamente imunes a influências externas nos níveis inferiores.
Sabemos que o longo de todo este processo o Mestre não fica dando Sua
plena atenção a cada discípulo individualmente, mas atua sobre milhares de
pessoas simultaneamente, e faz ao mesmo tempo muito trabalho nos níveis
superiores - como se estivesse jogando um imenso jogo de xadrez com as
nações do mundo e com todos os tipos de poderes, dos Anjos e dos homens,
como se fossem as peças no tabuleiro. Contudo, o efeito é como se Ele
estivesse velando pelo Seu discípulo sem pensar em mais ninguém, pois a
atenção que Ele pode dar a um só entre milhares é maior que a nossa quando
a concentramos inteiramente sobre uma só pessoa. O Mestre freqüentemente
deixa que algum de Seus antigos discípulos faça o trabalho de afinar os corpos
inferiores do noviço, embora Ele próprio permita um constante fluxo entre Seus
veículos e os do discípulo. É deste modo que Ele atua em prol de Seus
discípulos, sem que eles necessariamente saibam qualquer coisa a respeito.
73
algum distúrbio sério nos corpos inferiores do discípulo isso também afetará os
do Mestre; e, como estas vibrações interfeririram no trabalho do Adepto nos
planos superiores, quando isso infelizmente ocorre Ele tem de lançar um véu
que isole o discípulo de Si até que esta tempestade acalme.
É claro que isso é uma coisa triste para o discípulo, ver-se isolado desta
maneira, mas é culpa exclusivamente sua, e ele pode desfazer a separação
imediatamente assim que puder controlar seus pensamentos e sentimentos.
Usualmente um incidente infausto deste tipo não dura mais de quarenta e oito
horas, mas sei de casos muito piores, onde o isolamento perdurou por anos
inteiros, e mesmo por todo o resto daquela encarnação. Mas estes são casos
extremos, e muito raros, pois é pouco provável que uma pessoa capaz de tal
deserção fosse recebida como discípulo.
A Atitude do Discípulo
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estudante, ao caminhar nos campos e nas florestas, ou quando navega sobre
as águas, pode convidar tais criaturas para acompanhá-lo - pode até mesmo
atraí-los para dentro de sua aura e os levar consigo. E então, quando chegar a
uma cidade, e começar a projetar bons pensamentos sobre as pessoas que
encontra, pode animar cada forma-pensamento com um destes pequenos
auxiliares. Fazendo isso ele propicia uma grande alegria e alguma evolução ao
seu amigo espírito da natureza, e também prolonga muito a vida e atividade de
sua forma-pensamento.
Distribuição de Força
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fogo vivo está correndo através dele e inundando as redondezas. Com uma
atenção um pouco mais cuidadosa ele logo poderá saber em que direção ele
está indo, e um pouco mais tarde se tornará capaz de seguir com sua
consciência este fluxo do poder do Mestre, e poderá de fato rastreá-lo até as
próprias pessoas que estão sendo afetadas e ajudadas por ele. Ele mesmo,
contudo, não pode dirigí-lo, ele está sendo simplesmente usado como um
canal, mas ao mesmo tempo está aprendendo a cooperar na distribuição da
força. Mais adiante chegará um tempo em que o Mestre, em vez de derramar
força no discípulo pretendendo alcançar uma pessoa à distância, lhe dirá para
procurá-la e então dar-lhe alguma força, pois isso economizará alguma energia
do Mestre. Sempre e onde quer que um discípulo possa fazer um pouco do
trabalho do Mestre este sempre o incumbirá dele, e à medida que o discípulo
aumentar sua utilidade, mais e mais trabalho será posto em suas mãos, a fim
de aliviar, mesmo que minimamente, a tensão sobre o Mestre. Pensamos
muito, e com razão, sobre o trabalho que podemos fazer aqui embaixo, mas
tudo o que podemos imaginar e fazer é como nada comparado ao que Ele faz
através de nós. Há sempre uma suave radiação através do discípulo, mesmo
que este possa não estar consciente disso, porém o mesmo discípulo sentirá
nitidamente sempre que uma quantidade incomum de força estiver sendo
enviada.
Esta efusão é física, bem como também astral, mental e búdica, e no plano
físico ela sai principalmente através das mãos e dos pés. Por causa disso -
bem como por razões gerais - deve se ter muito cuidado com a limpeza. Se o
corpo físico da pessoa escolhida for deficiente neste importante aspecto o
Mestre poderá não utilizá-la, pois ela não seria um canal adequado. Seria como
derramar água pura através de um cano sujo - ela seria poluída no caminho.
Portanto os que estão em contato íntimo com o Mestre são extremamente
vigilantes a respeito da perfeita limpeza do corpo. Cuidemos então de estarmos
preparados neste aspecto caso sejamos necessários.
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todo o corpo do discípulo e extravasar pelas extremidades, mas onde hábitos
anti-higiênicos no tocante aos pés produziram deformações permanentes o
Adepto só podia utilizar a metade superior do corpo, e isso impunha sobre Ele
o trabalho adicional de construir a cada vez um espécie de barreira ou represa
temporária na altura do diafragma do discípulo, e assim inevitavelmente
conclui-se que outros que estão livres desta desfiguração são empregados
muito mais freqüentemente.
A Transmissão de Mensagens
Contudo, é raro que uma mensagem seja dada desta forma. Parece haver
muitas idéias equívocas sobre este assunto, assim é útil explicar exatamente
como as mensagens usualmente são transmitidas dos planos superiores até os
inferiores. Entenderemos isso mais facilmente se considerarmos a relação
entre os planos, as dificuldades de comunicação entre eles, e os vários
métodos pelos quais estas dificuldades são superadas.
No homem comum do mundo, que não fez nenhum estudo especial destes
assuntos e nenhum esforço de desenvolver os poderes da alma, estes planos
são mundos separados, e não ocorre nenhuma comunicação consciente entre
eles. Quando ele é o que se chama de "desperto", sua consciência funciona
através de seu cérebro físico, e quando seu corpo está dormindo ela atua
através de seu veículo astral. Se, portanto, um homem morto ou um kamadeva
desejar se comunicar com este homem, há dois modos em que pode fazê-lo.
Ele pode encontrar o homem frente a frente no mundo astral e conversar com
ele exatamente como se ambos estivessem na vida física; ou ele pode de
diversas formas se manifestar sobre o plano físico, e estabelecer ali algum tipo
de comunicação.
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O primeiro método é ao mesmo tempo mais fácil e mais satisfatório, mas sua
dificuldade é que o homem comum não consegue trazer nenhuma lembrança
confiável de sua vida astral para a sua vida física; assim, os esforços para
inspirá-lo e guiá-lo usualmente são apenas em parte bem sucedidos. Todas as
pessoas encontram seus amigos astrais todas as noites de sua vida, e
acontecem conversas e discussões entre eles precisamente como se eles as
tivessem durante o dia neste mundo mais denso; o homem "vivo" raramente se
lembra disso em sua consciência desperta, mas seus pensamentos e atos
podem ser, e muitas vezes são, consideravelmente influenciados pelos
conselhos dados e pelas sugestões feitas deste modo, embora quando
acordado ele permaneça absolutamente ignorante a respeito de sua fonte, e
suponha que as idéias que assim se apresentam à sua mente são suas.
Uma outra forma, menos tosca e tediosa, mas um pouco mais perigosa para o
participante físico, é o uso pela entidade astral de alguns dos órgãos de seu
amigo deste plano. Ele pode se apoderar das cordas vocais deste último, e
falar através dele; ele pode usar a mão do homem "vivo" para escrever
mensagens ou fazer desenhos sobre os quais seu instrumento físico não sabe
nada. Quando o homem "morto" fala através do "vivo", este de costume se
encontra em um estado de transe, mas a mão pode ser usada para escrever ou
desenhar enquanto seu legítimo dono está plenamente acordado, lendo um
livro ou conversando com seus amigos.
Não são todas as pessoas que podem ser usadas assim pelas entidades
astrais - somente aquelas que são especialmente suscetíveis a tais influências.
Tais pessoas são muitas vezes descritas como psíquicas, médiuns ou
sensitivas; talvez o último destes nomes seja o mais adequado nos casos que
estamos analisando. Mas por mais sensitiva que uma pessoa possa ser a
influências de outro plano, ela tem uma personalidade própria fortemente
definida que usualmente não pode ser inteiramente reprimida. Há muitos graus
de sensitividade a influências dos planos superiores. Algumas pessoas nascem
com esta qualidade, outras a adquirem pelo esforço; em ambos os casos ela
pode ser desenvolvida e intensificada pela prática. Isso é o que usualmente os
círculos Espíritas querem dizer com "sentar-se para desenvolver"; alguém que
por natureza é facilmente impressionável é aconselhado a tornar-se o mais
passivo possível, a sentar-se dia após dia durante horas em tal atitude.
Naturalmente ele se torna mais e mais impressionável, e se alguma entidade
astral chega e atua sobre ele dia após dia, eles se tornam acostumados um ao
outro, e a transferência de idéias é grandemente facilitada.
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Em certo estágio deste processo o corpo físico da vítima é usualmente posto
em transe - o que significa que o ego já não controla seus veículos, mas
durante este tempo os empresta à influência astral. Os veículos, contudo, ainda
mantêm a forte marca do ego, de modo que, embora a inteligência que os
utilize seja bem outra, não obstante em grande parte eles se moverão ao longo
de seus caminhos costumeiros. Os sentimentos da entidade comunicante
podem ser do tipo mais exaltado, mas se acontecer de o sensitivo ser inculto,
ter a linguagem pobre ou de gíria, a expressão destes sentimentos exaltados
no plano físico provavelmente será fortemente tingida por estas características.
Quando ouvimos um Júlio César ou um Shakespeare ou o Apóstolo São João
se manifestando em uma sessão, geralmente notamos que eles decaíram
muitíssimo desde o tempo de sua última vida terrena, e naturalmente e com
razão concluímos que estes grandes homens de antigamente em absoluto não
estão presentes, mas que tudo não passa de desavergonhada impostura. Sem
dúvida esta é uma conclusão perfeitamente justa, mas o que às vezes
esquecemos é que, mesmo se tal comunicação fosse genuína, em 99% dos
casos ela estaria sujeita às mesmas limitações.
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Um outro e bem diferente tipo de desenvolvimento é o que podemos chamar
legitimamente de psíquico, pois em grego psyche significa "alma". A alma tem
seus poderes, assim como o corpo, embora talvez fosse mais exato dizermos
que todos os poderes que um homem possui são poderes da alma, embora se
manifestem em diferentes planos. No fim das contas não é o corpo que vê ou
ouve, que escreve ou pinta, é sempre o próprio homem atuando através do
corpo. E quando um homem desenvolve estes poderes psíquicos isso
realmente apenas significa que ele aprendeu a funcionar através de veículos
outros além do físico e em certa medida pode trazer o resultado para sua
consciência desperta.
É geralmente deste modo que estes poderes nascem nos discípulos dos
Mestres, e embora eles não estejam isentos de seus perigos peculiares, em
seu conjunto eles são com certeza muito úteis e valiosos. Mas é necessário
que aqueles em quem eles surgem tentem entendê-los, tentem compreender
algo de seu funcionamento; os recipientes não devem supor que, mesmo se os
poderes lhes surgirem como resultado de um avanço genérico, estejam com
isso livres das leis comuns sob as quais funcionam estas faculdades. Há
muitas dificuldades associadas à obtenção de uma lembrança nítida, e isso
ocorre tanto para eles como para o sensitivo Espírita, embora nosso longo e
cuidadoso estudo deva nos preparar para recebê-los e entendê-los melhor do
que o Espírita.
Acima de tudo, não devemos esquecer que também nós temos nossas
personalidades, que provavelmente serão bem mais fortes do que aquelas de
nossos vizinhos, exatamente porque temos tentado desenvolver força e
definição de caráter. É claro, temos durante anos tentado dominar a
personalidade através da individualidade, mas isso não altera o fato de que
provavelmente sejamos pessoas coloridas com características definidas, e que
tudo o que passar através de nós estará sujeito a ser modificado por estas
mesmas características.
Deixem-me tentar ilustrar o que quero dizer citando um ou dois exemplos que
observei pessoalmente. Lembro de uma senhora que era uma clarividente
extraordinariamente boa, capaz de ver o passado e descrever eventos
históricos com grande exatidão e riqueza de detalhes. Ela era uma Cristã mui
devota, e imagino que nunca foi capaz de sentir que qualquer religião pudesse
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ser uma exposição tão completa da verdade quanto a sua. Poderíamos dizer
que ela (sem qualquer sentido depreciativo) tinha um forte preconceito a favor
do Cristianismo. O resultado disso sobre sua clarividência era notável - de fato,
algumas vezes até mesmo divertido. Ela poderia descrever, digamos, uma
cena da Roma antiga; enquanto qualquer coisa que visse não fosse
diretamente ligada à religião a sua descrição seria muito precisa, mas no
momento em que na cena aparecia um personagem Cristão ela imediatamente
mostrava uma inclinação notavelmente forte a seu favor. Nada do que ele
dissesse ou fizesse poderia ser errado, ao passo que qualquer coisa que
alguém dissesse ou fizesse contra ele seria sempre um sinal da maior
maldade. Quando este fator aparecia sua clarividência se tornava
completamente indigna de confiança. Podemos supor que ela deva ter visto os
fatos como eles aconteceram, mas o relato que ela dava e a sua interpretação
deles certamente não eram verdadeiros.
Uma outra senhora que conheci tinha uma brilhante imaginação poética, que
na conversa a induzia a magnificar qualquer coisa que ela contasse -
absolutamente não com o intuito de falsificá-la, mas simplesmente para
adorná-la e torná-la de todas as formas maior e mais bela do que a coisa de
fato era - uma atitude mental de vários modos mui feliz, é claro, mas um tanto
fatal para a observação científica. A mesma coisa acontecia a respeito de sua
lembrança e descrição de cenas de outros planos, fossem elas
contemporâneas ou da história passada. Uma cerimônia pequena e simples no
plano físico, assistida talvez por alguns devas amigáveis e uns poucos
conhecidos dos protagonistas, em seu relato seria ampliada para uma
tremenda iniciação assistida por todos os grandes Adeptos e pela maioria dos
maiores personagens da história, e abençoada pela presença de todo um
exército de Arcanjos.
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para níveis mais altos, mais e mais destes aspectos adicionais indescritíveis
aparecem, e ela se descobre cada vez menos capaz de transmitir mesmo a
mais leve idéia de suas experiências, e mesmo aquilo que ela é capaz de
trazer com certeza será colorido com suas próprias idiossincrasias.
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e frases, tampouco expressas tais coisas em uma sucessão de pensamentos.
Ele não parece pensar sobre um assunto no sentido que damos a esta palavra,
ele jamais o analisa e chega a uma conclusão como fazemos aqui embaixo.
Quando um assunto lhe chega ele o vê e sabe tudo a seu respeito; se ele
deseja veicular uma idéia para outrem é como se ele lhe jogasse um tipo de
bola que de alguma forma une tanto conhecimento como inferências.
Tampouco ele se limita a projetar uma única idéia. O pensamento de um
Adepto derrama sobre o discípulo uma espécie de chuva de lindas esférulas,
cada uma sendo uma idéia, e com suas relações mútuas claramente
apresentadas; mas se o discípulo é afortunado o bastante para lembrar e
inteligente o bastante para traduzir tal chuva, provavelmente ele vai descobrir
que pode precisar de vinte páginas escritas para expressar o dilúvio que durou
apenas um instante, e mesmo assim, é claro, a expressão necessariamente
será imperfeita.
Além disso, ele tem de reconhecer que não foram dadas nenhumas palavras,
mas apenas idéias, e portanto ele deve necessariamente expressá-las em sua
própria língua. As idéias são do Mestre, se ele for afortunado o bastante para
captá-las e interpretá-las com exatidão, mas a forma de expressão será toda
sua. Portanto, suas idiossincrasias certamente aparecerão, e as pessoas que
lerem a mensagem dirão: "Mas por certo este é o estilo de Fulano", referindo-
se ao intermediário a quem a mensagem foi confiada. Ao dizerem isso estão
muito certas, mas não devem permitir que este fato óbvio as cegue para o
espírito ou para a importância da mensagem.
"De fato mal uma dentre cem das cartas ocultas são escritas pelas próprias
mãos do Mestre em cujo nome são enviadas, já que os Mestres não têm nem a
necessidade nem o tempo para escrevê-las; e quando um Mestre diz 'eu
escrevi aquela carta', isso significa apenas que ele ditou cada palavra e ela foi
transcrita sob sua supervisão direta. Geralmente eles fazem que seu chela,
esteja ele perto ou distante, as escreva (ou materialize), imprimindo sobre sua
mente as idéias que eles desejam expressar, e se necessário ajudando-o no
processo de materialização. Isso depende inteiramente do grau de
desenvolvimento do chela, do quão acuradamente as idéias podem ser
transmitidas e o modelo escrito, imitado" (Lucifer, vol. III, p. 93).
83
sentido é exato e que a forma de sua expressão é a melhor que pode ser
obtida neste plano.
A Equação Pessoal
Para aqueles de nós que ainda não atingiram tal nível é certo de que a
equação pessoal se introduzirá. Infelizmente, isso acontece não só quanto ao
estilo da comunicação (que, no fim das contas, não é tão importante, e pode
facilmente ser descontado), mas também a respeito de sua substância. Para
entendermos como e porque isso é assim, devemos considerar por um
momento a constituição e desenvolvimento da pessoa através de quem a
mensagem chega.
Nossos estudantes mais antigos lembrarão que no livro Man Visible and
Invisible dei algumas ilustrações dos corpos astral e mental de pessoas em
vários graus de desenvolvimento. Estas ilustrações, contudo, só dão a
aparência exterior destes corpos - a parte de cada veículo que está sempre em
relação com o mundo astral ou mental em torno da pessoa, e portanto se
mantém em uma condição de considerável e constante atividade. Devemos
lembrar que estes ovóides de matéria astral e mental só estão vitalizados
superficialmente, e que no caso do homem comum a camada superficial que é
afetada é usualmente mui fina. Há sempre uma grande porção em cada veículo
que ainda não foi vivificada - um núcleo pesado que quase não toma parte nas
atividades externas do veículo, e de fato é mui pouco mobilizada por elas. Mas
embora esta massa de matéria relativamente inerte seja pouco influenciada
pela porção mais desperta, mesmo assim aquela é muito capaz de atuar sobre
esta, de certas formas.
84
egotismo. Os pensamentos e impressões gerados por este núcleo indolente
amiúde são de autoglorificação e elogio próprio, e também de autopreservação
instintiva em presença de qualquer perigo, real ou imaginário. Antes de
atingirmos as glórias refulgentes do homem desenvolvido (vide Man, Visible
and Invisible, figura XXI) há um longo período de lento desdobramento, durante
o qual este núcleo é gradualmente penetrado pela luz, sendo aquecido e
iluminado em brilhante resposta. Mas escapar desta sutil dominação da
personalidade é um processo lento. É claro que isso será paulatinamente
eliminado à medida que a pessoa assumir o controle de toda sua natureza,
mas enquanto isso ele seria sábio em duvidar seriamente de qualquer
comunicação que glorifique a personalidade, ou lhe sugira que só ele foi eleito
entre toda a humanidade para receber alguma revelação estupenda que há de
revolucionar o mundo.
85
de fraqueza, pode em verdade ser usada pelo sábio para ajudá-lo em seu
caminho ascendente.
Testando o Pensamento
Deve-se tomar cuidado, contudo, para que este maravilhoso privilégio não seja
mal utilizado. Ele nos é dado como um poder de referência derradeira em
questões de grande dificuldade, ou em casos onde não temos bases
suficientes para julgamento mas mesmo assim temos de tomar uma decisão;
mas de modo algum isso nos deve poupar o trabalho de pensar, ou ser
aplicado na decisão de questões comuns do dia a dia que somos perfeitamente
competentes para resolver por nós mesmos.
86
Aqueles que meditam longamente sobre um Mestre e formam uma forte
imagem-pensamento d'Ele, como o fazem os membros da Escola Esotérica,
logo verão que esta imagem-pensamento é definitivamente vivificada por
aquele Mestre, de modo que eles recebem através dela um inequívoco influxo
de forca espiritual. Isso é como deveria ser, é exatamente este o objetivo desta
meditação, e através dela o discípulo vem a conhecer a influência tão bem que
sempre pode reconhecê-la. Tem havido casos, embora felizmente raros, em
que uma entidade maligna personifica um Mestre a fim de enganar o
estudante, mas isso só pode acontecer se nele houver alguma fraqueza oculta,
como orgulho, ambição, inveja ou egoísmo, que um tentador insidioso pode
despertar e fortalecer até que se torne um entrave fatal ao progresso espiritual.
A menos que as raízes de tais qualidades sejam férrea e completamente
eliminadas o aspirante jamais estará livre da possibilidade de engano, mas se
ele for realmente humilde e altruísta ele não precisa temer.
Relaxamento
87
envolvida crueldade, qualquer um em que possa haver ferimento a pessoas ou
animais - tudo isso deve ser absolutamente barrado.
Calma e Equilíbrio
Em todo trabalho que o discípulo tiver de fazer ele deve ser cuidadoso em
preservar a calma e o equilíbrio, e de duas maneiras. Excesso de trabalho, o
que não é incomum entre os jovens e entusiastas, demonstra falta de
sabedoria. Cada um de nós deve fazer o que puder, mas há um limite que não
é sábio ultrapassarmos. Tenho ouvido nossa grande Presidente dizer: "O que
eu não tenho tempo de fazer não é meu trabalho". Mesmo assim ninguém
trabalha mais estrênua e incessantemente do que ela. Se usamos
razoavelmente nossa força para a tarefa de hoje, devemos estar mais fortes
para enfrentar os deveres que o amanhã trará; sobrecarregarmo-nos hoje de
modo que amanhã estejamos inúteis realmente não é um serviço inteligente,
pois roubamos nosso poder para trabalho futuro a fim de gratificar o
entusiasmo desequilibrado de hoje. É claro que ocasionalmente surgem
emergências onde se pode deixar a prudência de lado a fim de terminar certo
trabalho a tempo, mas o trabalhador sábio tentará organizar-se com
antecipação suficiente para evitar crises desnecessárias deste tipo.
O segundo modo em que o discípulo deve tentar manter sua calma e equilíbrio
é em relação à sua própria atitude interior. Alguma flutuação nos seus
sentimentos é inevitável, mas ele deve tentar minimizá-la. Todo tipo de
influências externas estão sempre atuando sobre nós - algumas astrais ou
mentais, algumas puramente físicas; e embora estejamos usualmente
inconscientes delas, não obstante elas nos afetam, mais ou menos. No plano
físico a temperatura, o estado do tempo, a quantidade de umidade na
atmosfera, o excesso de fadiga, as condições dos nossos órgãos digestivos -
todas estas coisas e muitas mais são fatores que afetam nosso sentimento de
bem-estar geral. E este sentimento por sua vez afeta não só nossa felicidade,
mas também nossa capacidade de trabalhar.
88
O elemental astral aprecia imensamente alternâncias violentas de sentimento,
e faz tudo o que pode para incentivá-las; mas o discípulo não deve permitir-se
ser a arena de todos esses humores cambiantes. Ele deve tentar manter um
nível constante de jovial serenidade, inabalado por agitações passageiras.
Às vezes ele terá o bom karma de receber algum grande encorajamento, algum
estímulo definido para seu progresso, como os que foram proporcionados, por
exemplo, pela oportunidade de assistir à magnífica Convenção do Jubileu em
Adyar. Esta foi de fato uma ocasião a ser lembrada por causa do extraordinário
estímulo e ajuda que deu a todos os que abriram seus corações à sua
influência. Um tal evento pode muito bem constituir um marco na senda
ascendente do estudante, a partir do qual ele pode assinalar a abertura de um
poder adicional, o sucesso em obter uma compreensão mais plena do que
realmente representa a fraternidade.
Contudo, ele fará bem em lembrar que depois de uma tal esplêndida efusão, de
uma elevação incomum deste tipo, necessariamente sucede uma reação. Não
há nada de alarmante ou antinatural nisso. É a manifestação de uma lei da
Natureza, da qual vemos constantemente exemplos na vida diária. Muitos de
nós, por exemplo, vivem uma vida muito sedentária, fazendo muito trabalho de
leitura e escrita; provavelmente a maioria de nós não dá ao nosso corpo físico
exercícios suficientes - não tanto como ele precisaria. E então subitamente tal
fato nos acontece, e fazemos um grande esforço. Jogamos jogos violentos,
talvez, ou fazemos uma longa caminhada. Se não nos excedemos isso é muito
bom. Mas depois de termos jogado ou caminhado, vem-nos uma sensação de
lassidão, e queremos apenas sentar e descansar. Novamente, isso é
perfeitamente correto e natural. Talvez tenhamos esforçado um pouco demais
alguns músculos que geralmente não usamos, ou pelo menos não os usamos
tão violentamente, e por isso eles estão cansados e precisam de repouso.
Portanto, nos sentimos lânguidos; sentamos ou deitamos, e depois de meia
hora ou uma hora de descanso, sob condições normais, estamos novamente
bem.
89
tentação casual, que geralmente não teria qualquer efeito sobre nós,
possivelmente pode nos pegar desprevenidos. Esta é uma das possibilidades
contra as quais devemos nos manter em guarda - alguma pequena tentação
que usualmente mal notaríamos. Nesta leve reação de fadiga podemos nos
sentir um pouco mais auto-indulgentes do que normalmente deveríamos ser, e
com isso podemos cometer algum erro bem tolo que comumente não
deveríamos cometer.
Os Poderes Tenebrosos
Não desejo reservar muito espaço a estas pessoas neste livro. Já escrevi mais
longamente sobre elas em Talks on the Path of Occultism, pp. 632-5. Tenho
pouco a acrescentar ao que já disse lá, salvo que há uma teoria, pela qual
justificam seus atos espantosos, de que o Logos de fato não deseja a união -
que Sua intenção na evolução é o desenvolvimento de cada indivíduo até o
mais alto nível possível (Notemos, a propósito - embora eles jamais o admitam
- que este nível no fim das contas não é muito alto, porque seu esquema os
mantém agindo no fortalecimento do ego, e não os leva até os planos búdico e
nirvânico, que são os planos de união). Eles dizem: "Vocês pensam que vêem
ao seu redor sinais de evolução rumo à união; vocês pensam que esta é a
vontade do Logos. Ao contrário, esta é uma tentação que o Logos coloca em
seu caminho. Em vez de querer que vocês se tornem um, Ele quer que
afirmem suas individualidades a despeito de tudo o que os tenta a ser
absorvidos em uma unidade indiferenciável".
90
As pessoas que realmente crêem nisso se encontram em conflito conosco e
com nossos Mestres em todos os pontos e extensão do caminho; nós
seguimos nossos próprios Mestres, que sabem muito mais sobre a Vontade do
Logos do que qualquer um que tome aquela linha errada pode jamais vir a
saber, pois nossos Mestres podem atingir a união com o Logos, coisa que,
para os advogados da separatividade, é inexeqüível.
Portanto, sucede que estes homens se opõem a nós; eles tentam conseguir
recrutas; como todos os demais, eles desejam converter os outros às suas
próprias opiniões, e se de algumas formas estamos nos desenvolvendo e
refinando um pouco mais do que o homem comum, somos exatamente as
pessoas que eles querem dominar. Muitos dos mais intelectuais dentre eles
são tão pouco imersos na materialidade quanto qualquer grande asceta. Eles
concordam que o homem deve colocar de lado as coisas inferiores e almejar as
superiores; mas anelam por uma individualidade intensificada que no fim só
pode levar à dor. Assim, mui provavelmente eles tentarão nos influenciar,
intensificar a individualidade em nós, despertar um orgulho sutil em nós.
Lembremos que é parte de seu credo serem completamente inescrupulosos;
para eles os escrúpulos parecem uma tolice e fraqueza desprezíveis, e assim
eles nos armarão as mais vis armadilhas.
Nossa força contra estes Poderes Tenebrosos é nossa união com nossos
Mestres e nosso poder de nos mantermos na atitude d'Eles - sempre abertos
para as influências de cima, mas resolutamente fechados contra todos os
agentes de separatividade que possam tentar nos influenciar. Tudo o que tenda
a incentivar a separatividade simplesmente é uma arma manejada pelas mãos
do inimigo, e isso é verdade tanto nas coisas pequenas como nas que
imaginamos grandes. Assim, devemos colocar de lado todos os pequenos
ciúmes e animosidades; cada vez que cedemos a eles nos tornamos pontos
fracos na cidadela Teosófica, brechas em suas defesas; toda vez que cedemos
à nossa natureza inferior permitindo que ela goze em uma pequena orgia de
orgulho e despeito, ao nos sentirmos ofendidos por algum irmão perfeitamente
inocente, nesta mesma extensão seremos traidores de nossos Mestres.
Poderíamos pensar: "Com certeza nossos Mestres nos salvarão de uma queda
como esta". Eles não o farão, porque não podem interferir em nossa liberdade;
devemos aprender a governar a nós mesmos. Além disso, não queremos dar a
nossos Mestres o trabalho de velarem sobre nós como uma babá vigia uma
criancinha vacilante. Os Adeptos são as pessoas mais ocupadas do mundo;
Eles lidam com egos em blocos, lidam com almas aos milhões, e não com
personalidades uma a uma. Mesmo assim, se em um caso realmente extremo
alguém invocar um Mestre, certamente virá uma resposta. Devíamos ficar
muito tristes por causar ao Mestre até mesmo este problema momentâneo se
91
pudéssemos evitá-lo, mas quando realmente necessário a ajuda seguramente
virá.
Nos primeiros tempos desta Sociedade, quando Madame Blavatsky ainda era
viva, tivemos um membro que de muitas maneiras era um homem de tremendo
poder. Se ele tivesse escolhido se tornar um Mago Negro ele teria sido um
exemplar muito eficiente. Às vezes ele era ligeiramente inescrupuloso; ele tinha
uma paixão pelo conhecimento; ele faria quase tudo - mesmo coisas um tanto
sombrias - para obter mais informações. Ele era médico, e ao atender uma de
nosos membros, descobriu ser ela uma clarividente de mui raros poderes em
determinadas linhas. Descobrindo isso, quando ela estava convalescendo, ele
pediu-lhe que se associasse a ele em certas experiências. Ele lhe falou
claramente, no plano físico: "A senhora possui um poder realmente
maravilhoso; se me permitir mesmerizá-la, para colocá-la em transe, estou
certo de que poderá atingir alturas que eu mesmo jamais poderia tocar, e desta
forma obteremos muito conhecimento que até agora esteve fora de nosso
alcance". A senhora recusou - creio que com toda razão, pois este tipo de
dominação é coisa das mais perigosas, e certamente não deve ser levada a
cabo salvo sob condições excepcionais e com elaboradas salvaguardas.
Seja como for, ela recusou terminantemente. O doutor ficou muito aborrecido e
recusou-se a aceitar um "não" como resposta; mas por ora seguiu seu rumo.
Na mesma noite ele se materializou no quarto dela e começou a tentar passes
mesméricos. Naturalmente ela ficou intensamente enraivecida; ela sentiu-se
grandemente ultrajada por ele ousar a intrusão, por ele tentar forçá-la ao que
ela havia negado definitivamente após a devida ponderação; e ela pôs-se a
lutar contra a sua influência com toda a sua força. Mas ela prestes reconheceu
que seu próprio poder mental era como nada comparado ao dele, que sua
vontade estava lenta mas seguramente sendo sobrepujada; assim, sabendo
que lutava uma batalha perdida, ela invocou seu Mestre (o Mestre Kuthumi) em
busca de ajuda.
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A Certeza do Sucesso
As pessoas às vezes dizem: "Posso lidar com as coisas do plano físico, mas
nos planos astral e mental só consigo pouco; é tão difícil!" Este é o inverso da
verdade. Elas não estão acostumadas a pensar e a trabalhar naquela matéria
mais sutil, e assim crêem que não conseguem. Mas assim que sua vontade se
afirma, descobrem que as coisas seguem a direção desta vontade de um modo
impossível no mundo físico.
Os Mestres e a Fraternidade
Todo este tempo o Adepto, além de fazer de Seu discípulo um aprendiz, o tem
estado preparando para apresentá-lo à Grande Fraternidade Branca, a fim de
iniciá-lo. Todo o objetivo da existência desta Fraternidade é promover a obra da
evolução, e o Mestre sabe que quando o discípulo estiver pronto para a
estupenda honra de ser recebido como um membro ele será de muito mais
utilidade no mundo do que antes. Portanto, Sua vontade é elevar o discípulo
até aquele nível o quanto antes. Nos livros orientais sobre o assunto, escritos
há milhares de anos, são encontrados muitos relatos sobre este período
93
preparatório de instrução, e quando na primeira literatura Teosófica se fazia
referência a isso chamou-se-lhe de Senda Probacionária - o termo se referindo
não só a alguém ser posto em provação por qualquer Adepto individual, mas
também a um curso de treinamento geral preparatório para a Iniciação. Eu
mesmo usei esta expressão em Invisible Helpers, mas depois o evitei por
causa da confusão causada pelo uso do mesmo termo em dois sentidos
diferentes.
94
As Quatro Vias para a Senda
Dos livros ficamos sabendo que existem quatro vias, qualquer uma delas
podendo levar uma pessoa ao começo da Senda do desenvolvimento. A
primeira é entrar em contato e familiarizar-se com aqueles que já estejam
engajados nesta linha, e vir a conhecê-la através deles. Alguns de nós, por
exemplo, podem ter sido monges ou monjas na Idade Média. Podemos ter
entrado em contato naquela vida com algum abade ou abadessa que tivesse
profunda experiência do mundo interior - uma pessoa como Santa Teresa.
Podemos, olhando para este líder, ter desejado ardentemente que esta
experiência também fosse nossa, e nosso desejo por ela pode ter sido bastante
altruísta. Pode ser que não tenhamos pensado na importância de que seríamos
revestidos, ou na satisfação da conquista, mas simplesmente na alegria de
ajudar os outros, assim como vimos o abade sendo capaz de ajudar os outros
com seu discernimento mais profundo. Um tal sentimento naquela vida
certamente nos levaria, na encarnação seguinte, a entrar em contato com
ensinamentos a respeito deste assunto.
Ocorre que, nas terras em que predomina a cultura européia, quase que a
única maneira de termos o ensinamento interno claramente apresentado é
entrando na Sociedade Teosófica, ou lendo livros Teosóficos. Têm surgido
obras místicas ou Espíritas que têm dado alguma informação bastante
avançada, mas não há nenhuma, até onde sei, que apresente o caso tão clara
e cientificamente como a literatura Teosófica tem feito. Não conheço nenhum
outro livro que contenha tanta informação quanto A Doutrina Secreta.
Deste modo, uma das vias de aproximação da Senda é conviver com aqueles
que já a estão trilhando. Uma outra via é lendo ou ouvindo falar sobre ela.
Deparei-me com todo este ensinamento em 1882, através do livro do Sr.
Sinnett, The Occult World, e imediatamente após li seu segundo livro, Esoteric
Buddhism. De imediato eu soube instintivamente que aquilo que estava escrito
era verdade, e a aceitei, e lendo e ouvindo sobre ela instantaneamente me
incendiaram o desejo e a determinação de saber mais, de aprender tudo o que
eu pudesse sobre o assunto, de procurá-lo por todo o mundo se necessário,
95
até achar. Logo depois disso eu renunciei ao meu cargo na Igreja da Inglaterra
e fui para a Índia, porque me pareceu que se poderia fazer mais por lá.
Estas são duas vias por onde as pessoas podem ser levadas até a Senda -
lendo e ouvindo sobre ela, e estando em estreito contato com alguém que já a
esteja percorrendo. A terceira via que é mencionada nos livros orientais é
através do desenvolvimento intelectual; com a penetrante força do pensamento
profundo uma pessoa pode chegar a compreender alguns destes princípios,
embora eu imagine que este seja um método raro. Além disso, nos falam de
uma quarta via - a de que por uma longa prática na virtude as pessoas podem
chegar até o início da Senda - desenvolvendo a alma pela constante prática do
bem até onde elas conhecerem, isso eventualmente fará com que mais e mais
luz se abra diante delas.
A Classificação Budista
Há quarenta anos atrás, quando pela primeira vez tomei conhecimento das
Qualificações para a Senda do ponto de vista Budista Esotérico, elas foram
dadas da seguinte maneira: a primeira delas, Discriminação, chamada pelos
hindus de Viveka, era descrita como Manodvaravajjana, que significa a
abertura das portas da mente, ou, talvez, escape pela porta da mente. Este é
um interessante modo de descrever, uma vez que a Discriminação surge do
fato de que nossas mentes se abriram de tal forma que podemos entender o
que é real e o que é irreal, o que é desejável e o que é indesejável, e podemos
distinguir entre os pares de opostos.
96
Damo (subjugação) - um domínio similar e, portanto, pureza, sobre os atos e
palavras - uma qualidade que novamente segue necessariamente de sua
anterior.
Yoga Hindu
97
Training of the Hindus, e mostrou como cada uma delas pertence a um dos
sete Raios, de modo que elas devem ser considerados como métodos
complementares, e não como rivais. Cada grande Instrutor expôs um método
adequado a um certo tipo de ego - um fato conhecido tão bem pelos Hindus
que eles são sempre liberais e tolerantes em seu pensamento, e consideram
perfeitamente correto que cada um siga o método que seja mais adequado ao
seu temperamento.
Este livro explica que em cada escola há certas características similares às que
prevalecem no ensinamento de nossos Mestres; há sempre um treinamento
preliminar - acompanhado pela exigência de se possuir uma moral elevada -
antes que o candidato possa entrar na Senda propriamente dita, e, alcançando
a Senda, ele é sempre aconselhado a procurar um mestre ou guru. Na escola
de Patanjali, por exemplo, que é a primeira a ser tratada, já que é a mais antiga
de que se tem qualquer registro escrito, há dez mandamentos: os cinco
primeiros sendo negativos (proibindo o fazer mal aos outros, a mentira, o
roubo, a incontinência e a ambição) e os outros cinco são positivos
(recomendando limpeza, contentamento, esforço, estudo e devoção).
98
dirigido aos homens e aos outros seres como karma yoga (o yoga da ação ou
do trabalho) e a Deus como bhakti yoga (o yoga da devoção).
Mais uma vez são dados três ensinamentos preliminares. Para atingir o amor-
sabedoria um candidato deve praticar a devoção ou reverência, a busca ou
investigação, e o serviço - o primeiro envolvendo a emoção correta, o segundo
o pensamento e o entendimento corretos, e o terceiro o correto uso da vontade
na vida prática - que novamente são comparados às nossas três primeiras
qualificações. É particularmente interessante notar que o Instrutor diz que
quando o candidato se preparou deste tríplice modo "os Sábios, que conhecem
a essência das coisas, lhe ensinarão a Sabedoria" - em outras palavras, que o
aspirante encontrará os Mestres.
99
orientais vivem; para os outros elas não só provavelmente não terão sucesso,
mas serão claramente perigosas à saúde e mesmo à vida. Já soube de muitos
tristes casos de doença ou loucura como resultados de tentativas ao longo
destas linhas, especialmente na América.
Mantras
100
O Efeito da Fé
A primeira classe produz seu efeito simplesmente por causa da forte convicção
do operador de que o efeito deve acontecer, e por causa da fé da pessoa sobre
quem o mantra está operando. Se ambas as pessoas estão absolutamente
seguras de que algo vai acontecer - digamos, a cura de uma ferida ou de uma
doença - então isso realmente acontece, e em alguns casos a fé de apenas um
dos envolvidos parece ser suficiente. Na Inglaterra, e na verdade entre os
camponeses de todos os países, são usados muitos destes encantamentos em
localidades interioranas. As pessoas usam pequenas fórmulas verbais,
geralmente de caráter semi-religioso, que lhes têm sido transmitidas por seus
ancestrais, as quais se supõe que produzam resultados definidos. As fórmulas
muitas vezes parecem ser mera tolice, o palavreado freqüentemente sequer
tem coerência. Provavelmente sejam mesmo corruptelas de certas expressões,
seja portuguesas ou em alguns casos latinas, ou mesmo derivadas de outras
línguas. Elas não funcionam por causa do som, pois carecem da sonoridade
indispensável ao verdadeiro mantra, mas quando recitadas sobre pacientes
sob certas condições às vezes são indiscutivelmente eficazes. Em tais casos
deve ser a fé na antiga fórmula que produz o resultado.
101
Associação de Pensamento
Há mantras que atuam por associação. Certas formas de palavras trazem com
elas idéias definidas, e alteram drasticamente a corrente de nossos
pensamentos e sentimentos. Um exemplo disso é o Hino Nacional. A melodia é
simples e forte, mas dificilmente de alto nível musical; as palavras,
considerando sua qualidade poética, não têm um grande mérito especial [O
Autor trata nesta passagem especificamente do Hino Nacional da Inglaterra,
mas seguramente é produzido um efeito similar no caso dos hinos de
quaisquer países - NT]. Se ela fosse apenas mais uma canção dentre outras
que ouvíssemos provavelmente ela atrairia apenas pouca atenção. Mas nossa
associação com ela é de lealdade para com o Rei, e, através dele, para com o
Rei Espiritual de Quem ele é o representante; e tão poderosa é esta
associação que assim que ouvimos a melodia instintivamente nos aprumamos
e derramamos nossa lealdade e boa vontade em direção ao Governante da
nação. E isso evoca uma resposta definida, pois, de acordo com a lei, uma
força derramada assim altruisticamente deve atrair uma descida de poder
correspondente do alto. Esta resposta vem através de certos tipos de Anjos
ligados ao trabalho do primeiro Raio, e a sua atenção é atraída sempre que é
cantado o Hino Nacional, e eles derramam suas bênçãos sobre e através das
pessoas cuja lealdade foi assim estimulada.
Cooperação Angélica
Há certos mantras que atuam por acordos ou alianças. A maioria das religiões
parece ter alguns exemplos deste tipo. O grande chamado Islâmico de cima
dos minaretes participa deste caráter, embora também tenha algo do tipo que
acabamos de considerar. Ele é uma declaração de fé: "Não há Deus senão
Deus" (ou, como também foi traduzido: "Não há nada senão Deus", o que é
uma verdade eterna) "e Maomé é Profeta de Deus". É interessante ver o efeito
que estas palavras produzem no povo. É muito mais do que o mero
pensamento em seu significado, pois elas despertam naqueles que as ouvem
uma fé ardente, uma fanática efusão de devoção, que é belíssima à sua
maneira, e muito característica do Islamismo. Este poderia ser um mero caso
de associação, mas de fato o chamado também invoca alguns Anjos de certo
tipo, e é sua atuação que suscita muito do entusiasmo que é exibido.
102
Talvez seja na religião Cristã que encontremos os melhores exemplos deste
terceiro tipo de mantra, como logo perceberão aqueles que sabem alguma
coisa dos Serviços da Igreja. O maior deles é o Hoc est Corpus Meum (Este é
o Meu Corpo); pois o próprio Cristo fez uma aliança com Sua Igreja, de que
sempre que estas palavras fossem pronunciadas, em qualquer língua, por um
de Seus Sacerdotes devidamente ordenados, Ele imediatamente responderia.
Mas este poder é dado sob condições, é dado somente àqueles que foram
preparados para recebê-lo por um outro mantra do mesmo tipo - também um
mantra prescrito pelo próprio Cristo - as palavras "Recebei o Espírito Santo".
O poder que Ele deu aos Seus discípulos com estas palavras logo antes de
deixá-los tem sido transmitido com as mesmas palavras em uma corrente
ininterrupta ao longo que mais de dois mil anos, e constitui o que se chama de
Sucessão Apostólica. Sempre que um Sacerdote que foi devidamente
ordenado nesta Sucessão pronuncia intencionalmente as palavras "Este é o
Meu Corpo", certa mudança maravilhosa é produzida no pão sobre o qual elas
são pronunciadas, de forma que embora seu aspecto exterior permaneça o
mesmo, seus princípios superiores ou contrapartes são substituídos pela vida
do próprio Cristo, e assim o pão se torna tão Seu veículo como o foi o corpo
que Ele usou na Palestina.
Não há dúvidas sobre a eficácia deste mantra "Este é o Meu Corpo", pois sua
ação pode ser vista até hoje por aqueles que têm olhos para ver. Lord
Tennyson nos fala, em The Idylls of the King, que Galahad, descrevendo a
celebração da Eucaristia, disse:
103
O Efeito da Repetição
Agora passamos a uma classe de mantras que atuam por virtude do significado
das palavras repetidas. Uma pessoa recita certa fórmula de palavras com firme
confiança vezes sem conta, de modo que seu significado se impinge
fortemente sobre seu cérebro e seu corpo mental; e se ela estiver tentando, por
exemplo, fazer certo trabalho oculto, tal repetição fortalecerá muito sua
vontade. Tais mantras podem ser usados de muitas formas diferentes. No
tocante à pessoa envolvida, o efeito pode ser ou fortalecer sua vontade para
fazer o que estiver tentando fazer, ou imprimir-lhe uma convicção absoluta de
que será feito. Mantras deste tipo aparecem nas meditações diárias prescritas
para os Hindus, e na maioria das escolas ocultas; a repetição de certas
sentenças em horas invariáveis ao longo do dia tende a imprimir fortemente
sobre a mente as idéias que contêm. "Mais radiante que o Sol, mais puro que a
Neve, mais sutil que o Éter é o Eu, o Espírito em meu coração. Eu sou este Eu,
este Eu sou eu" é um bom exemplo deste tipo de mantra, e é claro que ele é
tão eficaz quando pensado como quando falado.
Bênçãos
Sob este título devem ser incluídos os vários tipos de bênçãos como as dadas
na Igreja, na Francomaçonaria, e pelos discípulos dos Mestres. As bênçãos
podem ser distribuídas em duas seções - as que uma pessoa dá por si mesma,
e as que são dadas por um poder superior através dela, que serve como um
oficial. O primeiro tipo de bênção é meramente uma expressão de um forte
bom desejo. Um exemplo típico disso é a bênção que às vezes um pai dá a seu
filho, seja no leito de morte do primeiro, seja quando o último vai iniciar alguma
longa e potencialmente perigosa viagem. A bênção do Isaac moribundo a seus
filhos Esaú e Jacó é uma boa ilustração, embora neste caso em especial
algumas complicações tenham sido acrescentadas pela escandalosa fraude de
Jacó. Os leitores do relato das Escrituras lembrarão que Isaac estava
plenamente persuadido da eficácia de sua bênção, e quando ele descobriu o
engodo que se lhe havia sido impingido ele foi incapaz de reverter o voto que
havia expressado.
O segundo tipo de bênção é aquele que é dado por um oficial indicado para
este propósito, através de quem o poder flui a partir de alguma fonte superior.
Um bom exemplo disso é a bênção que encerra a maioria dos serviços da
Igreja. Ela não pode ser dada por ninguém cujo grau eclesiástico seja inferior
104
ao de Sacerdote, e neste aspecto a bênção pode ser dita ter o caráter dos
mantras da terceira espécie, uma vez que o poder de dar uma bênção definida
é um dos que o Sacerdote recebe na sua ordenação. Neste caso ele é
simplesmente um canal para o poder do alto, e se infelizmente acontecer de
ele a dizer de modo meramente formal e como parte do ritual, isso não fará a
menor diferença no que diz respeito ao poder espiritual derramado.
Já vimos que alguém que foi aceito como discípulo de um Mestre por causa
disso se tornou um canal para Sua influência, e mesmo que esta influência
esteja sempre fluindo através dele, ele certamente pode dirigir a força
momentaneamente sobre qualquer pessoa, como desejar. Da mesma forma,
alguém que é um Iniciado pode dar a bênção da Fraternidade, que na verdade
é bênção do Rei que está à sua Testa.
O Poder do Som
Podemos agora considerar o tipo de mantra que atua somente através de seu
som. A vibração que o som põe em movimento atinge os vários corpos dos
homens, e tende a levá-los a uma harmonia consigo mesma. Em primeiro lugar
um som é uma ondulação no ar, e todo som musical tem um número de
sobretons que também são postos em movimento. Na música são detectados e
reconhecidos quatro, cinco ou mais sobretons, mas as vibrações se estendem
muito além do que o ouvido pode captar. Ondas correspondentes são
estabelecidas também nas matérias superiores e mais sutis, e portanto a
entonação de uma nota ou de uma série de notas produz efeitos nos veículos
superiores. Há sobretons (suponho que ainda os deva chamar de sons) que
são altos demais para afetarem o ar; não obstante eles põem em movimento a
matéria etérica, e esta matéria etérica comunica suas vibrações ao homem que
recita o mantra, e também às outras pessoas em seu redor, e se ele estiver
dirigindo sua vontade para qualquer pessoa em particular a vibração
certamente irá para ela. Assim os mantras que atuam pelo som produzem
resultados definidamente materiais no plano físico, embora haja ondas outras,
e mais altas, emitidas ao mesmo tempo, que podem afetar os veículos
superiores.
105
Um mantra deste tipo usualmente consiste de diversos sons ordenados, de
caráter muito ressonante e cheio. Às vezes é usada uma única sílaba, como na
Palavra Sagrada OM, mas há várias formas de pronunciá-la, e cada forma
produz um resultado bem diverso, de acordo com as notas com que são
cantadas as sílabas e do modo como são pronunciadas. Para alguns
propósitos enfatizamos e prolongamos o som aberto, combinamos A e U num
O, reforçamos isso e o fazemos durar talvez até a metade do tempo da
recitação, e então mudamos o som para M. Mas para outros fins o O deve ser
bem curto, e o murmúrio dirigido para dentro da cabeça e para os centros, que
é um som muito poderoso, deve ser prolongado. Os resultados destes dois
métodos diferem grandemente. Quando prolongamos o O estamos afetando os
outros e ao mundo em torno, mas com o M longo quase todo o efeito produzido
age sobre nós mesmos. Às vezes as três letras A, U e M são recitadas em
separado. Novamente, elas podem ser ditas em várias notas diferentes em
sucessão, em um tipo de harpejo. Ouvi dizer que de acordo com livros indianos
supõe-se que haja cerca de cento e setenta modos de pronunciar aquela
mesma Palavra, cada um com um efeito diverso, e considera-se que este seja
o mais poderoso dos mantras.
106
Não sei se podemos esperar obter qualquer entendimento, neste mundo cá de
baixo, do que significa esta Palavra Criadora. "Ele falou, e foi feito". Deus disse:
"Haja luz, e a luz foi feita". Esta foi a primeira Expressão da Deidade; o
Pensamento Eterno oculto nas trevas emerge como a Palavra Criadora. Talvez
por causa desta grande Verdade, palavras cantadas ou faladas aqui embaixo
invocam um poder superior - um poder desproporcional em relação ao nível ao
qual elas pertencem por si mesmas. Estou certo de que há um outro lado em
toda esta questão do som que nossas mentes hoje ainda não conseguem
captar, e podemos apenas vagamente imaginar. Mas pelo menos podemos ver
que o poder do som é coisa muito grande e maravilhosa.
Nossa relação com os mantras será apenas com aqueles de natureza benéfica
e amável, e jamais com os maléficos. Mas tanto os bons como os maus agem
da mesma forma; todos eles pretendem produzir vibrações nos corpos sutis,
seja nos do recitante, seja nos daqueles a quem o mantra se destina. Às vezes
eles pretendem impor freqüências vibratórias inteiramente novas. As mentes
ocidentais ficam perplexas por pessoas serem instruídas a recitar um mantra
três mil vezes. Nossa primeira reação é: Como conseguiremos tempo para
isso? Nós dizemos que tempo é dinheiro; o oriental diz que tempo é nada; é
uma diferença de pontos de vista. Os métodos e idéias orientais são amiúde
inadequados para as vidas ocidentais; mas não obstante eles têm seu valor
para aqueles a quem se destinam. Alguns têm sentido que o estudo e a
meditação prescritos para os membros de nossa Escola Esotérica são uma
carga pesada demais para os que não estão acostumados a tais exercícios,
mas nenhum oriental jamais pensaria assim.
107
O Brâmane passa praticamente toda a sua vida em récitas religiosas, pois todo
ato que ele executa ao longo de todo o dia é sempre acompanhado por algum
texto ou pensamento piedoso. É uma vida vivida completamente na religião, ou
pelo menos deveria ser. Hoje em dia, em muitos casos o que subsiste é
apenas a forma externa, uma espécie de casca vazia; mas as pessoas ainda
recitam as palavras, mesmo que elas possam não mais colocar a antiga vida e
energia nelas. Eles têm muito tempo livre, e podem muito bem se permitirm
repetir uma frase cento e oito vezes ao dia, e seu objetivo com isso é
perfeitamente claro.
Diz-se que Cristo advertiu Seus discípulos para não usarem repetições vãs
quando rezassem, como faziam os gentios, e disso se deduziu que todas as
repetições são inúteis. Seguramente o seriam em uma invocação endereçada à
Deidade, pois isso implicaria que Ela não teria ouvido a primeira petição! Elas
seriam (ou deveriam ser) desnecessárias para discípulos - para pessoas que já
fizeram algum progresso ao longo da senda de desenvolvimento; para eles
seria suficiente formular uma intenção com clareza e expressá-la com vigor
uma só vez. Mas o homem comum do mundo de modo algum atingiu este
estágio, ele freqüentemente necessita de um longo e contínuo martelar para
imprimir uma nova vibração em si, e assim para ele as repetições estão longe
de serem inúteis, pois elas são deliberadamente planejadas para produzir
resultados definidos. O constante impacto destes sons (e das várias vibrações
que eles estabelecem) sobre os diferentes veículos de fato tende a levá-los
firmemente a uma harmonia com um conjunto particular de idéias.
108
qualquer significado especial, são pouco mais que uma mera coleção de
vogais. No Pistis Sophia, o conhecido tratado Gnóstico, há alguns destes
mantras sem significado, assinalados de um modo que deve indicar terem sido
cantados.
Lembro que Madame Blavatsky nos disse que um mantra não poderia de forma
alguma ser recitado para a própria pessoa, mas sim especialmente para
outrem, a quem se imagina que o mantra possa ajudar. Deste modo podemos
recitar a Palavra Sagrada ou o Gayatri, ou qualquer um dos belos mantras
Budistas que fluem com tanta doçura, pensando fortemente em uma pessoa
em particular e projetando para ela a força do mantra. Mas ela aconselhou que
usássemos tais coisas com cuidado. Além disso, ela advertiu que ninguém
usasse um mantra que fosse muito elevado para si. Nenhum destes nos seria
dado por nossos professores; mas devo dizer, como advertência aos neófitos,
que se a récita mesmo da Palavra Sagrada de qualquer maneira provocar dor
de cabeça ou uma sensação de náusea ou fraqueza, ela deve ser
imediatamente interrompida. Devemos então continuar no desenvolvimento de
nosso caráter, e tentarmos novamente depois de alguns meses. Ao usarmos a
Palavra estamos invocando grandes forças, e se ainda não estivermos bem à
sua altura elas podem não ser harmoniosas, e o resultado pode não ser
sempre bom.
Além deste efeito da vibração do som cantado, muitos destes mantras parecem
pertencer ao terceiro tipo, por terem outros poderes a eles associados. Por
exemplo, certos Anjos estão conectados ao Gayatri e ao Tisarana, embora
estes pertençam a tipos muito diferentes.
Talvez o Gayatri seja o maior e o mais belo de todos os mantras antigos. Ele
tem sido cantado em toda a Índia desde um tempo imemorial, e o reino dos
Devas aprendeu a entendê-lo e a responder-lhe de um modo muito
impressionante - um modo que é em si mesmo muito significativo, como para
mostrar que, em uma antigüidade tão remota que até mesmo sua própria
origem foi esquecida, o uso altruísta de tais mantras já era plenamente
109
compreendido e praticado. Ele começa sempre com a palavra sagrada OM, e
com a enumeração dos planos em que se deseja que atue - os três mundos
onde vive o homem: o físico, o astral e o mental; e à medida que cada plano é
mencionado, os Devas que pertencem a ele se agrupam em torno do cantor
com um entusiasmo jubiloso a fim de realizar o trabalho que está para lhes ser
confiado através da récita do mantra. Os estudantes lembrarão que na Índia às
vezes Shiva é chamado de Nilakantha, o Garganta Azul, e existe uma lenda
associada a este título. É interessante notar que alguns dos Anjos que
respondem quando o Gayatri é cantado possuem esta característica da
garganta azul, e pertencem claramente ao primeiro Raio.
Uma outra característica notável é que estes sete raios não se irradiam em
círculo em todas as direções, mas apenas em um semicírculo voltado para a
direção que o recitante tem frente a si. Além disso, estes raios têm o curioso
aspecto de irem se solidificando à medida que se estreitam, até que terminam
em uma ponta de luz ofuscante. E um fenômeno ainda mais curioso é que
estes pontos atuam como se estivessem vivos; se acontecer de uma pessoa
passar à sua frente, esta ponta se curva com incrível rapidez e toca seu
coração e seu cérebro, fazendo com que brilhem momentaneamente em
resposta. Cada raio parece ser capaz de produzir este resultado em um
número indefinido de pessoas em seqüência; testando-o sobre uma multidão
densamente agrupada descobrimos que os raios aparentemente dividem entre
si a multidão, cada um atuando sobre a seção que estiver à sua frente, e não
interferindo em nenhuma outra parte.
110
tempos isso veio a significar muito mais para o devoto Hindu do que sugerem
as simples palavras). A récita da mesma coisa em sânscrito com a mesma
intenção produz um resultado idêntico, mas, além dele, em torno dos raios, é
construída uma forma sonora que se assemelha a uma espécie de moldura de
madeira, de talha maravilhosamente intrincada, que fornece algo que poderia
ser imaginado como uma arma sétupla de onde os raios são disparados. Esta
forma sonora se estende apenas por uma curta distância, e não parece fazer
qualquer diferença no que diz respeito ao poder ou tamanho dos raios.
Essa é toda a história por trás deste tipo de prece e resposta. Temos apenas
que pensar fortemente em uma idéia, e aquilo que a anima ou representa se
manifestará para nós. Qualquer pensamento forte de devoção traz uma
resposta instantânea; o Universo estaria morto se não fosse assim. Está dentro
da lei natural que a resposta deva vir; o apelo e a resposta são como o frente e
o verso de uma moeda; a resposta é apenas o outro lado do pedido, assim
como dizemos do karma que o efeito é o outro lado da causa. Há uma unidade
maravilhosa na Natureza, mas as pessoas se encasulam tão densamente em
suas personalidades que não sabem nada sobre isso. É apenas uma questão
de nos abrirmos. Podemos ver facilmente que quando somos capazes de ceder
à Natureza, podemos praticamente comandá-la, pois com esta atitude
podemos invocar suas forças, e tudo trabalha conosco. Isso é claramente
explicado em Light on the Path. Devemos reconhecer as forças da Natureza, e
nos abrir a elas; e porque estes poderes estão fluindo conosco, tudo que antes
era difícil se torna muito mais fácil.
111
Existe ainda toda uma outra faceta no assunto dos mantras, da qual tenho
apenas pouca informação. Há o poder não só do som mas também das
palavras como tais, dos números, e mesmo das letras. Não nos ocupamos
atualmente com estas coisas, mas nos alfabetos sânscrito e mesmo no hebreu
cada letra tem um valor próprio, não só numérico, mas também um poder e cor
específicos. Sei de clarividentes que vêem as letras romanas comuns
impressas em nossos livros como tendo cada uma uma cor diferente, sendo,
digamos, o A sempre vermelho, o B sempre azul, o C amarelo, o D verde, e
assim por diante. Jamais tive qualquer experiência pessoal neste sentido,
suponho que minha mente não atue desta forma. De modo semelhante, há
psíquicos que vêem sempre os dias da semana como cores diferentes. Isso
não é da minha experiência, não sou sensitivo desta forma tampouco, e não
entendo o que significa. Talvez isso esteja ligado a influências astrológicas, não
sei. Este aspecto das coisas também está ligado aos mantras, e há uma escola
de mantristas que atribui a cada letra um valor numérico, de todo independente
de sua posição no alfabeto, e eles lhe dirão que se somarem os valores que
atribuem às letras de uma certa palavra ou frase, com isso chegando a
determinado total, e se o mesmo total puder ser obtido somando-se as letras
de uma outra palavra ou grupo de palavras, as duas frases produzirão o
mesmo efeito mântrico. Mas sobre isso nada sei.
112
Desta comparação dos diferentes sistemas veremos que as qualificações que o
aspirante deve desenvolver, em preparação à primeira grande Iniciação, são
fundamentalmente as mesmas, por mais que possam parecer diferentes à
primeira vista. Por certo ao longo de vinte e cinco séculos, e provavelmente por
um longo tempo antes, tem sido seguido este procedimento assaz sistemático
para promover a evolução destas pessoas especiais que persistem lutando à
frente, e, embora em certas épocas (e a atual é uma delas) as circunstâncias
sejam mais favoráveis à Iniciação do que em outras, os requisitos permanecem
os mesmos, e devemos cuidar de não cairmos no pensamento errôneo de que
as qualificações tenham sido de qualquer forma minimizadas. Vemos, assim,
que todas aquelas linhas diferentes nos levam ao mesmo ponto: a Iniciação.
O Iniciador Único
Quando pensa na Iniciação, a maioria das pessoas a imagina como sendo uma
etapa a ser vencida por si mesmas. Elas pensam no Iniciado como um homem
que se desenvolveu muito e se tornou, quando comparado ao homem do
mundo externo, uma figura grande e gloriosa. Isso é verdade; mas toda a
questão será melhor entendida se tentarmos analisá-la de um ponto de vista
superior. A importância da Iniciação não reside na exaltação de um indivíduo,
mas no fato de que ele agora terá se tornado definitivamente uno com a grande
Ordem, a Comunhão dos Santos, como se diz belamente na Igreja Cristã,
embora poucos prestem atenção ao real significado destas palavras.
113
Só há Um Iniciador em todo o mundo, mas no caso da primeira e segunda
Iniciações Ele pode delegar a algum outro Adepto a realização da cerimônia
em Seu lugar, embora mesmo nestes casos o Oficial se volte e invoque o
Senhor no momento crítico de conferir o grau. Este é um momento realmente
maravilhoso na vida espiritual do candidato, como explicou o Mestre Kuthumi
quando aceitou um discípulo, há não muito tempo atrás. Ele lhe disse:
"Pensa, então, com que imenso cuidado deve ser abordado tão maravilhoso
evento. Tenhas assim sempre em mente sua beleza e sua glória, para que
possas viver à luz de seus ideais. Teu corpo é jovem para tão magno esforço,
mas tens agora uma rara e esplêndida oportunidade; desejo que a aproveites
em plenitude".
A Fraternidade
114
Devemos lembrar que de forma alguma todos na Fraternidade fazem o mesmo
trabalho que nossos Mestres. Muitos d'Eles estão envolvidos em outras tarefas
que requerem a mais extrema concentração e a mais perfeita calma, e se
algum dos jovens membros algumas vezes esquecer seu chamado superior e
causar ondas de agitação que perturbam a Fraternidade, isso afetará o
trabalho daqueles Grandes Seres. Nossos próprios Mestres podem talvez não
dar importância a isso, e podem voluntariamente suportar algum problema
deste tipo em prol do futuro, quando o novo membro faria realmente um belo
uso dos poderes da Fraternidade; mas podemos perfeitamente entender que
Aqueles que não têm nada a ver com o treinamento de indivíduos possam
dizer: "Nosso trabalho está sendo perturbado, e será melhor que aqueles que
têm personalidades ainda tão imaturas fiquem de fora". Eles diriam que nada
seria perdido, que o progresso poderia ser feito igualmente bem do lado de
fora, e que os discípulos devem prosseguir tornando-se melhores e mais fortes
e mais sábios antes de receberem a Iniciação.
Quando mais confiança tiver o novo Iniciado, maior será o fluxo da força
através dele. Se ele sentir a menor hesitação, ou for oprimido pela
responsabilidade de permitir tamanho poder fluir através de si mesmo, ele não
será capaz de usar este maravilhoso dom em plenitude; mas se ele tem a
qualidade de Shraddha - uma perfeita confiança em seu Mestre e na
Fraternidade, e a mais completa certeza de que, porque ele é uno com Eles,
todas as coisas lhe são possíveis - ele poderá ir pelo mundo como um
verdadeiro anjo de luz, semeando alegria e bênção ao longo de seu caminho.
115
apenas no plano nirvânico, onde a Fraternidade existe primariamente, embora
tenha sua manifestação nos planos inferiores, até mesmo aqui no mundo físico.
Fracassos
Em uma organização como esta por certo não deveria haver possibilidade de
fracasso ou problema de qualquer tipo; mesmo assim, porque a humanidade é
frágil, e porque ainda nem todos os membros desta grande Fraternidade são
Super-Homens, às vezes ocorrem fracassos, embora sejam muito raros.
"Grandes Seres recuam até mesmo no portal, incapazes de suportar o peso de
sua responsabilidade, incapazes de prosseguir", como é dito em Light on the
Path, e somente o atingimento do Adeptado garante segurança perfeita. O
Iniciador diz ao candidato que agora que ele entrou na corrente ele está salvo
para sempre; mas embora isso seja verdade, ainda é possível para ele atrasar
mui seriamente seu progresso se ceder a qualquer das tentações que ainda
encontrar em seu caminho. Ser salvo para sempre usualmente é tomado como
116
garantia da certeza de passar adiante com a presente onda de vida - de não
ser deixado para trás no "dia do juízo" que acontecerá no meio da quinta
Ronda, quando Cristo, descendo à matéria, decidirá quais almas podem e
quais não podem ser levadas à meta final ainda nesta cadeia de mundos. Não
existe uma condenação eterna; ela é, como disse Cristo, apenas por uma era;
alguns não poderão continuar nesta era ou dispensação, mas prosseguirão na
próxima, exatamente como uma criança que é por demais subdesenvolvida
para passar em determinado ano terá confortavelmente sucesso no próximo, e
então provavelmente estará até mesmo à frente de todos.
"A Voz do Silêncio permanece com ele, e embora ele possa abandonar
completamente a Senda, ainda assim ela soará de novo algum dia, e o
renderá, e separará suas paixões de suas possibilidades divinas. Então,
com dor e gritos desesperados do eu inferior abandonado, ele voltará"
(Light on the Path, Parte I, Regra 21).
Há outros que caem durante breve período apenas, através de alguma erupção
de sentimentos impossíveis de serem suportados pela Fraternidade. Então,
assim como o Mestre pode lançar um véu temporário entre Si mesmo e o
discípulo errante, da mesma forma a Fraternidade conclui ser necessário criar
por algum tempo uma espécie de concha em torno de um de seus membros
que fracassa. Toda a força da Fraternidade se volta para quem estiver caindo
assim, de modo que, se for de qualquer forma possível, Eles evitam que ele
ultrapasse os limites. Mas às vezes, mesmo a despeito de toda a força que a
lei do karma permite à Fraternidade usar, um membro ainda declina em desistir
de sua atitude pessoal mesquinha de suposto ultraje, ou ofensa, ou o que seja;
então Eles devem isolá-lo por algum tempo até que aprenda mais.
117
candidato já realizou, e algumas vezes aqueles que foram ajudados por ele são
convidados a prestar testemunho. Abaixo acrescento um relato da cerimônia.
Uma grande hoste de Anjos flutuava acima do grupo, enchendo o ar com uma
suave linha melódica, a qual, de uma forma estranha e sutil, parecia derivar
uma intrincada trama de som do acorde pessoal do candidato, que expressava
suas qualidades e possibilidades; ao longo de toda a cerimônia eles
permaneceram cantando, apoiando delicadamente todas as palavras que eram
ditas, não as perturbando mais do que a suave risada de um regato interrompe
a música gorgeante dos pássaros, mas desenvolvendo um clímax triunfante em
determinados pontos do ritual. A melodia fazia toda a atmosfera cantar -
enriquecendo, e não abafando, as vozes dos protagonistas. Em todos os casos
a música é baseada no acorde especial de cada candidato, e tece variações e
fugas sobre ele, expressando, de um modo que aqui embaixo não podemos
compreender, tudo o que ele é e tudo o que há de ser.
118
quando fez a pergunta que abre o ritual:
E a resposta costumeira:
"Garanto".
"Nossa regra requer que dois dos Irmãos mais avançados avalizem cada
candidato; há algum outro Irmão preparado para referendar esta
solicitação?"
O Iniciador perguntou:
"Desta vez o candidato é muito jovem, mas ele já tem muitas boas ações
em seu crédito, e está começando a fazer nosso trabalho no mundo.
Também em sua vida na Grécia ele fez muito para disseminar minha
filosofia e melhorar o país em que viveu".
"Ao longo de duas vidas onde teve uma vasta influência ele, paciente,
fez meu trabalho, corrigindo os erros e introduzindo um nobre ideal em
sua vida como governante, e espalhando longe o ensinamento de amor
e pureza e transcendência em sua encarnação como monge. Por estas
razões eu fico a seu lado agora".
119
Então o Senhor, sorrindo para o jovem, disse:
"O corpo deste candidato é o mais jovem que jamais foi apresentado a
nós para a honra da recepção na Fraternidade; algum membro de nossa
Fraternidade que ainda viva no mundo externo está pronto para dar-lhe,
em nosso nome, a ajuda e conselho que seu jovem corpo físico possam
precisar?"
Sirius se adiantou dentre um grupo de discípulos que estava atrás dele e disse:
"Senhor, até onde eu for capaz, e enquanto seu corpo estiver ao meu
alcance, com muita felicidade farei por ele tudo o que eu puder".
"Tu, de tua parte, amas este irmão a ponto de aceitar de boa vontade
ser ajudado por ele quando necessário?"
E o jovem respondeu:
"Em verdade sim, com todo o meu coração, pois sem ele eu não poderia
estar aqui agora".
O jovem respondeu:
120
ajudaria cada um, e ele respondeu da melhor forma quer pôde. No final Ele
sorriu e disse que as respostas eram satisfatórias.
Cada Irmão que vive no mundo deve lembrar que ele é um centro através do
qual a força do Rei pode ser enviada para auxílio daqueles que estão em
necessidade, e que qualquer Irmão mais velho pode a qualquer hora usá-lo
como canal para Sua bênção. Portanto, cada Irmão mais jovem deveria estar
sempre pronto para ser usado a qualquer momento, pois ele jamais pode
prever quando seus serviços poderão ser requeridos. A vida do Irmão deve ser
uma vida de inteira devoção aos outros; ele deve vigiar ávida e
incessantemente por toda oportunidade de prestar serviço, e fazer com que
este serviço seja sua mais profunda alegria. Ele deve lembrar que a honra da
Fraternidade está em suas mãos, e ele deve cuidar que nenhuma palavra ou
ato seus jamais a conspurquem aos olhos dos homens, ou os faça pensar nela
nem um pouco que seja com menos alta consideração.
Não devemos pensar que porque ele entrou na corrente cessarão para ele as
provações e lutas; ao contrário, ele terá de fazer ainda maiores esforços, mas
terá maior força para fazê-los. Seu poder será muito maior do que era antes:
mas exatamente na mesma proporção sua responsabilidade também será
maior. Ele deve lembrar que não é ele, um eu separado, quem venceu um
degrau que o elevou acima de seus companheiros; antes ele deveria se
rejubilar por a humanidade, através dele, ter-se libertado de suas cadeias nesta
pequena extensão, por ela ter entrado um pouco mais na posse do que lhe
pertence. A bênção da Fraternidade está sempre com ele. Mas ela descerá
exatamente na mesma medida em que ele a transmitir para outros, pois esta é
a lei eterna.
121
Esta é a parte da Ordenação que é comum a todos. Como uma admoestação
privada para este candidato o Iniciador acrescentou:
122
"Em nome do Iniciador Único, cuja Estrela brilha sobre nós, eu te recebo
na Fraternidade da Vida Eterna. Cuida de seres dela um membro digno
e útil. Agora estás salvo para sempre, entraste na Corrente: que possas
em breve chegar à outra margem!"
123
Assim encerrou a esplêndida cerimônia, e os Mestres se reuniram em torno do
novo Irmão e deram-lhe calorosas congratulações, enquanto desaparecia a
Estrela Resplandecente.
"Fizeste bem, meu filho, e estou satisfeito contigo; assim, chamei-te para
cá para te dizer isso. Vai e faz ainda melhor, pois espero que
desempenhes um grande papel no futuro de minha nova Sub-Raça.
Minha estrela brilhou sobre ti visivelmente algumas horas atrás; lembra
que ela paira sempre sobre ti, de maneira igualmente real, mesmo
quando não a puderes ver; e onde ela brilha haverá sempre o poder, a
pureza e a paz".
Então o Senhor Buda, colocando Sua mão sobre a cabeça do neófito, falou:
Os Três Kumaras que estavam atrás também sorriram para o jovem que
ajoelhava, emudecido, mas que resplendia de amor e adoração. O Rei ergueu
Sua mão em bênção, enquanto nós todos nos prostrávamos, e então partimos.
A Extensão da Cerimônia
124
Iniciador sabe que o candidato já tem algum desenvolvimento búdico, deixa-se
muitas vezes que os discípulos mais antigos o conduzam ao longo das
experiências búdicas na noite seguinte, ou na ocasião que for propícia.
Filiação
Já falamos sobre a íntima relação entre um discípulo aceito e seu Mestre; esta
intimidade cresce todo o tempo, constantemente, e de hábito acontece que
quando o discípulo está se aproximando do portal da Iniciação o Mestre
considera que é chegada a hora de Ele atrair o chela para uma união ainda
mais profunda. Então ele passa a se chamar Filho do Mestre, e o elo é de tal
natureza que não só a mente inferior, mas também o ego no corpo causal do
discípulo, são englobados pelos do Adepto, e este já não pode lançar um véu
para isolar o neófito.
Disse uma vez um francês sábio: "Em todos os amores, há um que ama e um
que se deixa amar". Isso é uma profunda verdade em nove entre dez casos,
quando tratamos do amor humano. Freqüentemente a razão para isso é que
uma das duas almas envolvidas é maior e mais desenvolvida que a outra, e
portanto é capaz de um amor mais profundo; a alma mais jovem aprecia esta
pletora de afeto, e o devolve na medida de sua capacidade, mas seus
melhores esforços ficam muito aquém do maravilhoso dom derramado tão fácil
e naturalmente pela mais velha. Este deve ser sempre o caso a respeito do
Mestre e Seu discípulo.
Desta natureza é o amor de Deus por seu mundo, desta natureza também
deve ser o amor do Mestre por aqueles a quem Ele concede o privilégio
inefável da Filiação. Ele confia neles plenamente; por vontade própria Ele
renuncia ao poder de Se separar deles, porque só através desta união
125
completa e inquebrantável Ele se torna capaz de compartilhar com eles Sua
própria natureza até a máxima capacidade de seus poderes de resposta -
apenas com este sacrifício de Si mesmo Ele pode dar-lhes o máximo que um
discípulo pode receber de um Mestre.
126
O Nível da Iniciação
127
primeira pode não obstante já possuir uma quantidade considerável das
qualificações necessárias para a segunda, portanto o intervalo entre as duas
será para ele incomumente curto. Por outro lado, um candidato que conseguiu
força apenas suficiente em todas as direções para capacitá-lo a passar pela
primeira teria que desenvolver lentamente em si mesmo todas as faculdades e
conhecimentos adicionais necessários para a segunda, de forma que o
intervalo provavelmente seria longo.
A Oportunidade Atual
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Jovens Iniciados
Daí que, exceto mui raramente, têm-se iniciado pessoas somente depois que
seus corpos físicos chegaram à idade madura, e depois que elas provaram por
suas atividades na vida que seus corações estão empenhados na obra do
Logos. Durante os últimos anos, contudo, certos egos, cujos corpos ainda são
jovens, têm recebido o privilégio da Iniciação, e entendemos que isso tem sido
feito a fim de que quando o Senhor vier Ele possa encontrar um grupo de
jovens obreiros prontos para serví-Lo. Em Sua chegada o Mestre do Mundo
trará a maravilhosa consciência da Fraternidade, e quanto mais ajudantes
vivendo em corpos físicos Ele puder reunir em Seu redor em qualquer local
dado, mais Sua obra será facilitada. Ele pode usar os serviços de qualquer
homem comum do mundo na medida da capacidade daquele homem, mas um
que já é um discípulo aceito de um Mestre Lhe será em muitas direções de
utilidade muito maior do que o homem do mundo jamais poderia ser, e de uma
utilidade infinitamente maior seria alguém que já passou do portal da Iniciação
e despertou todos os múltiplos elos que mantêm unidos os membros da
Fraternidade. É sempre o ego quem é iniciado; a idade do corpo físico que
acontece de ele estar usando em um dado momento tem pouco a ver com a
situação.
Cada um deveria lembrar sempre que foi iniciado porque em vidas passadas, e
talvez na atual, ajudou o mundo em determinado nível exigido, e espera-se que
continue neste caminho e se torne um canal ainda mais amplo para a vida do
Logos. É por causa da probabilidade de sua utilidade aumentada que ele é
admitido na Iniciação, e na cerimônia ele faz os votos, não só como ego, mas
também como Mônada, de que fará como obra de sua vida o derramar-se em
bênçãos, assim como o Logos derrama Seu amor continuamente. Portanto, ele
deve todos os dias e horas manter este voto em mente e subordinar todas as
coisas a ele. Seu karma de vidas passadas lhe deu várias características e
impulsos pessoais: ele deve cuidar de que eles não o levem a pensar em si
mesmo e em seu próprio bem-estar mais do que no eu maior e no bem do
mundo.
Antes que possa iniciar o trabalho maior que o espera, o jovem Iniciado muitas
vezes tem de se preparar através de um treinamento comum em uma escola e
uma universidade. Neste caso ele será lançado em circunstâncias de vigorosa
atividade e muitos interesses autocentrados. A vida o rodeia de muitas
tentações, e com ocasiões que tenderão a fazê-lo esquecer de seu voto à
Fraternidade. Em tudo isso ele deve manter uma atitude claramente definida, a
de que ele está aqui em prol dos objetivos da Fraternidade. Nesta vida do
129
mundo, em todas as ocasiões, seja de estudo, recreação ou diversão, ele deve
manter definidamente o pensamento: "O que estou fazendo me tornará mais
bem equipado para o trabalho do Mestre, ou um canal melhor para disseminar
amor e felicidade?"
É seu dever derramar amor e bênção, de modo que todo lugar em que
acontecer de ele estar seja mais feliz por causa de sua presença. Portanto, ele
deve constantemente estar voltado para fora. Doravante não lhe interessa que
julgamento o mundo dará sobre suas ações, mas apenas o julgamento que dá
a Fraternidade. Se ele é popular ou impopular no mundo isso absolutamente
não importa, se através de toda sua conduta ele permanecer leal aos ideais
colocados diante dele. Alguns membros mais antigos da Fraternidade podem
desejar usá-lo a qualquer momento, onde quer que esteja, e às vezes sem o
seu conhecimento consciente, mas ele não poderá ser usado se, no momento
em que for necessário, for encontrado pensando em seus próprios assuntos e
voltado para dentro, e não para fora, para o mundo. Para ele a necessidade
suprema é a construção do caráter, de modo que, quando o Mestre olhar para
ele, o encontre pensando no bem do mundo, e não se este mundo está lhe
dando felicidade ou miséria.
130
CAPÍTULO 8: O EGO
O Nascimento do Ego
DIAGRAMA 2
131
Nesta matéria assim vivificada chega a Segunda Efusão, a partir do círculo
ilustrando Deus Filho, e a Vida Divina em que consiste esta Efusão modela a
matéria em formas que pode habitar, e assim encarna e faz corpos ou veículos
para si mesma. Em seu nível mais baixo de materialidade esta Vida anima o
reino mineral, e à medida que o faz evoluir gradualmente se torna definida o
bastante para animar o reino vegetal e, ainda mais tarde, o animal. Quando
chega ao nível mais alto do reino animal ocorre uma mudança mui notável, e é
introduzido um fator inteiramente novo - o da Terceira Efusão, que desce do
círculo superior, o Primeiro Aspecto do Logos, comumente chamado de Deus
Pai.
Esta força que até então foi animante agora por sua vez se torna animada, e a
nova força da Primeira Pessoa toma o que antes havia sido a alma do animal e
verdadeiramente faza dela um corpo para si mesma, embora um corpo de
matéria tão extraordinariamente refinada a ponto de ser completamente
imperceptível para nossos sentidos físicos. Assim nasce o ego em seu corpo
causal, e de imediato ele toma para si mesmo o resultado de todas as
experiências que foram obtidas por aquela alma animal em todos os éons de
seu desenvolvimento anterior, de modo que não se perde nada das qualidades
que foram adquiridas no curso de sua evolução.
A Mônada e o Ego
O que é, então, esta maravilhosa força que emana do Aspecto mais elevado do
Logos Solar de que temos conhecimento? Em verdade é a Vida do próprio
Deus. Poderíamos dizer o mesmo sobre a Primeira e a Segunda Efusão. Isso é
bem verdade, mas elas desceram lenta e gradualmente através de todos os
subplanos, atraindo em seu redor a matéria de cada um deles, e mesclando-se
tão profundamente a eles que dificilmente fica possível distinguí-las pelo que
são, e reconhecê-las de qualquer forma como Vida Divina. Mas esta Terceira
Efusão fulgura diretamente a partir de sua fonte sem misturar-se de modo
algum na matéria intermédia. É a pura luz branca, impoluta por qualquer coisa
pela qual tenha passado.
132
Mônada faz descer um pequeno fragmento de Si mesma que se torna o ego, e
também neste caso a limitação aumenta enormemente. A mesmíssima coisa
acontece mais uma vez quando o ego repete a operação e projeta uma
diminuta porção de si mesmo nos corpos mental, astral e físico do homem - um
fragmento que chamamos de personalidade.
133
O homem absolutamente destreinado não tem praticamente nenhuma
comunicação com o ego; o Iniciado tem comunicação plena;
conseqüentemente vemos (como seria de esperar) que entre nós há homens
em todos os estágios entre estes dois extremos. Devemos lembrar que o
próprio ego está também ele ainda em desenvolvimento, e que, portanto,
temos de lidar com egos em vários estágios de progresso. Em todos os casos
um ego é de todas as formas uma coisa enormemente maior do que uma
personalidade jamais poderia ser. Porém, como dissemos, sendo ele apenas
um fragmento da Mônada, é mesmo assim completo como um ego em seu
corpo causal, mesmo quando seus poderes não estão desenvolvidos, donde se
conclui que na personalidade existe apenas um toque de sua vida.
Também é verdade que a vida no seu nível é infinitamente mais vasta e mais
vívida do que o que conhecemos como vida aqui embaixo. Assim como para a
personalidade a evolução consiste em aprender a expressar o ego mais
plenamente, para o ego, igualmente, evoluir é aprender a expressar a Mônada
mais plenamente. Uma personalidade subdesenvolvida esquece tudo sobre
sua ligação com o ego, e sente a si mesma como perfeitamente independente.
Dificilmente poderia ser possível para um ego, em seu nível muito superior, não
estar consciente de seu elo com a Mônada; certamente alguns egos estão
muito mais despertos para as necessidades de sua evolução do que outros - o
que é apenas um outro modo de dizer que há egos velhos e egos jovens, e que
os velhos estão tentando com mais empenho do que os jovens desdobrar suas
possibilidades latentes.
Mas tudo isso, por maravilhoso que seja, é apenas um lado de seu
desenvolvimento. Ele tem linhas bem outras de progresso, sobre as quais não
sabemos nada aqui embaixo; ele está vivendo uma vida própria entre seus
pares, entre os grandes Arupadevas, entre todos os tipos de Anjos
esplêndidos, em um mundo muito além de nosso alcance. O ego jovem
provavelmente esteja ainda pouco desperto para toda esta vida gloriosa, assim
como um bebê de colo conhece pouco dos interesses do mundo que o rodeia;
mas à medida que sua consciência gradualmente se desdobra, ele desperta
134
para toda esta magnificência, e se torna fascinando por sua vivacidade e
beleza.
Ao mesmo tempo ele próprio vai se tornando um objeto glorioso, e nos dá pela
primeira vez uma idéia do que Deus pretende que o homem seja. Entre tais
seres os pensamentos já não assumem uma forma e flutuam pelo ambiente
como nos níveis inferiores, mas são transmitidos de um para outro como
lampejos fulgurantes. Aqui não temos veículos recém-adquiridos, gradualmente
sendo controlados e aprendendo por etapas a expressar mais ou menos
vagamente a alma em seu interior, mas estamos em face de um corpo mais
antigo que as colinas, uma verdadeira expressão da Glória Divina que está
sempre por trás dele, e reluz mais e mais através dele no gradual
desdobramento de seus poderes.
135
Há pouco interesse para o ego na vida física comum do homem do mundo, e é
só ocasionalmente que acontece algo de real importância, que possa por um
momento atrair sua atenção e disso ele extrair tudo o que valha a pena. O
homem comum vive fragmentariamente; mais do que a metade do tempo ele
não está de modo algum consciente para a vida real e superior. Alguns de nós
ficamos inclinados a lamentar por nossos egos tomarem tão pouco
conhecimento de nós, mas pergunto: o quanto nós mesmos nos interessamos
por eles? Quantas vezes, por exemplo, em qualquer dia dado, teremos alguma
vez pensado no ego? Se desejamos atrair sua atenção devemos tornar a
personalidade útil para ele. Assim que começarmos a devotar a maior parte de
nosso pensamento às coisas superiores (e isso é o mesmo que dizer assim
que começarmos a viver realmente), o ego provavelmente prestará um pouco
mais de atenção em nós.
O ego sabe que certas partes necessárias de sua evolução só podem ser
atingidas através da personalidade, e em seus corpos mental, astral e físico;
ele sabe, portanto, que em algum momento deverá fazer isso, deverá tomá-la
em suas mãos e controlá-la. Mas podemos muito bem entender que esta tarefa
pode muitas vezes parecer pouco convidativa, que uma dada personalidade
pode parecer qualquer coisa, menos atraente ou promissora. Se observarmos
muitas personalidades ao nosso redor - com seus corpos envenenados pela
carne, álcool e tabaco, com seus corpos astrais enegrecidos pela cobiça e
sensualidade, e seus corpos mentais não tendo outros interesses além de
negócios, ou talvez corridas de cavalos ou lutas de boxeadores - não é difícil
vermos o motivo pelo qual um ego, observando isso de suas excelsas alturas,
possa decidir protelar seus esforços mais sérios para uma outra encarnação,
na esperança de que o próximo conjunto de veículos possa ser mais suscetível
de influência do que aqueles em que seu olhar horrorizado pousou. Podemos
imaginá-lo dizendo a si mesmo: "Não posso fazer nada com isso; espero que
da próxima vez eu consiga algo melhor; dificilmente será pior, e enquanto isso
tenho coisas muito mais importantes a fazer aqui em cima".
Tal decisão pode nos parecer pouco sábia, porque se o ego negligencia sua
atual personalidade é improvável que a próxima seja melhor, e se ele permite
que o corpo infantil se desenvolva sem a sua influência, as qualidades
indesejáveis que se manifestaram podem mui possivelmente ficar mais fortes
136
em vez de desaparecer. Mas dificilmente estamos em posição de julgar, uma
vez que nosso conhecimento do problema é muito imperfeito, e não podemos
saber nada dos assuntos superiores a que ele está se devotando.
Quando o ego realmente decide dirigir toda a força de sua energia sobre a
personalidade, a mudança que ele pode produzir é maravilhosa. Ninguém que
não tenha investigado pessoalmente o assunto pode imaginar quão
maravilhosa, quão rápida, quão radical tal mudança pode ser quando as
condições são favoráveis - isto é, quando o ego é razoavelmente forte e a
personalidade não é incuravelmente viciosa - e mais especialmente quando a
própria personalidade faz, por sua conta, um esforço determinado para se
tornar uma expressão perfeita do ego e tornar-se atraente para ele.
A Atitude da Personalidade
137
fizermos uma tentativa de esforço, e quando ele colocar em nós seu dedo
exploratório, recebamo-lo com entusiasmo e nos apressemos em obedecer
suas instâncias, para que ele possa tomar posse de nossas mentes cada vez
mais, e assim entrar na posse de sua herança até onde diz respeito a estes
planos inferiores. Desta forma nos conduziremos cada vez mais para perto da
meta que desejamos atingir, assim colocaremos nosso pé na Senda que
conduz diretamente à primeira Iniciação, onde os eus inferior e Superior se
tornam um só, ou, antes, o maior absorve o menor, de modo que não haja
nada na personalidade que não seja uma representação do ego, sendo o
inferior agora apenas uma expressão do superior.
A Percepção da Unidade
138
que inclui em si mesmo também muitas outras manifestações. Se aqui e agora
cem de nós pudessem ao mesmo tempo elevar suas consciências até o mundo
intuicional, seriam todos uma só consciência, mas para cada pessoa ela
pareceria ser a sua consciência, absolutamente inalterada, salvo que agora ela
incluiria a de todos os outros também.
Porém não devemos supor que quando alguém entra na subdivisão inferior do
mundo intuicional ele de imediato se torne plenamente cônscio de sua unidade
com tudo o que vive. A perfeição deste sentimento só vem como resultado de
muito trabalho e tribulação, quando ele tiver chegado à mais elevada
subdivisão deste reino de unidade. Entrar completamente neste plano é
experimentar uma enorme expansão de consciência, é entender a si mesmo
como uno com muitos outros; mas antes há um tempo de esforço, de
autodesenvolvimento, análogo naquele nível ao que nós aqui embaixo
despendemos quando, através da meditação, tentamos abrir nossas
consciências ao plano que nos está acima. O aspirante deve abrir seu caminho
passo a passo, subplano após subplano, pois mesmo naquele nível é
necessário esforço se há de acontecer progresso.
139
CAPÍTULO 9: A SEGUNDA E A TERCEIRA INICIAÇÃO
Sakkayaditthi - a ilusão do eu
Silabbataparamasa - superstição
140
apenas com sua conquista da compreensão, baseada no raciocínio ou na
experiência, de que as declarações contidas na tabuada são verdadeiras. Ela
acredita que dois vezes dois é quatro, não meramente porque lhe disseram,
mas porque isso se tornou para ela um fato auto-evidente. E exatamente este é
o método, e o único método, de dirimir as dúvidas relacionadas ao Ocultismo.
A terceira cadeia, superstição, tem sido descrita como incluindo todos os tipos
de crenças irracionais ou errôneas, e toda a dependência de ritos e cerimônias
exteriores para purificar o coração. Ele vê que todos os métodos de ajuda
oferecidos a nós pelas grandes religiões - preces, sacramentos, peregrinações,
jejuns e a observação de múltiplos ritos e cerimônias - são uma ajuda e nada
mais, que o homem sábio adotará os que considerar de utilidade para ele, mas
jamais se apegará a nenhum deles como único suficiente para a salvação. Ele
sabe definitivamente que a libertação deve ser buscada dentro de si mesmo, e
que por maior valor que estas ajudas possam ter no desenvolvimento de sua
vontade, sua sabedoria e seu amor, jamais porém tomarão o lugar do esforço
pessoal, através do qual somente ele pode ter sucesso. O homem que eliminou
esta cadeia compreende que não existe nenhuma forma de religião que seja
imprescindível para todas as pessoas igualmente, mas que através de qualquer
uma e de todas, e mesmo fora delas, pode ser encontrado o caminho para o
mais alto.
Estas três cadeias estão numa ordem coerente. Sendo plenamente entendida a
diferença entre a individualidade e a personalidade, é então possível em
alguma extensão apreciar o verdadeiro curso da reencarnação, e assim
dissipar toda dúvida sobre este assunto. Feito isso, o conhecimento da
permanência espiritual do ego verdadeiro traz confiança em sua própria força
espiritual, e assim afugenta a superstição.
141
Para que o candidato possa se tornar Gotrabhu, vemos que é absolutamente
essencial uma inteira e completa liberdade das cadeias relativas a este estágio
da Senda. Antes que o homem possa avançar para a segunda Iniciação, o
Iniciador escolhido pelo Rei solicita evidências de como o candidato tem usado
os poderes adquiridos por ele na primeira Iniciação, e uma das mais belas
características da cerimônia é a parte quando aqueles que foram ajudados pelo
candidato se apresentam para dar seu testemunho. Também é uma exigência
para esta Iniciação que o candidato tenha desenvolvido o poder de atuar
livremente em seu corpo mental, pois embora a cerimônia da primeira Iniciação
seja realizada no plano astral, a da segunda tem lugar no plano mental inferior.
Seguindo o esquema dos capítulos anteriores, mais uma vez dou um relato da
cerimônia.
Foi recebida a notícia de que haveria uma grande reunião de Adeptos na casa
do Senhor Maitreya na noite da lua cheia do mês de Chaitra, e que seria tirado
proveito da ocorrência desta augusta assembléia para admitir-se alguns
candidatos à Iniciação Sakridagamin logo após, quando fosse conveniente. O
Mestre Morya desejava que os guardiães dos jovens se apresentassem não
mais tarde do que as dez horas.
Nesta noite muitos amigos da Índia estavam por ali, e quando os candidatos e
seus guardiães foram para a casa do Mestre Kuthumi, eles os seguiram
discretamente e aguardaram a uma distância respeitosa. Logo depois que eles
chegaram à casa, entrou o Mestre Morya. Os dois Mestres saíram quase
imediatamente para a casa do Senhor Maitreya, seguidos dos discípulos, que
permaneceram no jardim enquanto os Mestres entravam na casa.
Este jardim fica em uma encosta sul dos Himalaias, sobranceira a uma vasta
extensão das planícies da Índia, que se estende até o horizonte longínquo. Ele
é abrigado, estando em uma reentrância, e é protegido por trás por um pinhal
que continua para a direita. Além desta mata, e um pouco ao leste, fica a
antiqüíssima casa de pedra, com uma larga varanda com colunas, onde mora o
Manu da Raça, o grande Senhor Vaivasvata. O jardim do Senhor Maitreya
142
estava inundado com a argêntea luz da lua cheia, que caía sobre as grandes
touceiras de rododendros e as flores primaveris em plena florada, e brilhava de
modo deslumbrante sobre o assento marmóreo que fica em torno à grande
árvore, o lugar de repouso favorito do Senhor Maitreya, onde Ele agora
assumiu Seu posto ao sair da casa. Os Mestres Se agruparam em um
semicírculo no terraço gramado logo abaixo do Seu assento, tomando Seus
lugares à Sua direita e esquerda.
O Mestre respondeu:
"Sim, continuarei".
O Senhor disse:
"Nossa regra requer que dois dos Irmãos mais avançados afiancem
cada candidato que se apresente para a segunda Senda. Algum outro
Irmão apóia sua solicitação?"
143
O Mestre Djwal Kul respondeu:
"Eu apóio".
Eles responderam:
O Senhor perguntou:
"Vosso amor por ele ainda é tão forte de modo que o trabalho seja
agradável e fácil?"
Eles responderam:
"Nosso amor por ele é ainda mais profundo do que quando iniciamos
nossa feliz tarefa; ele é fácil de guiar e ávido por aprender".
"E teu coração é também cheio de amor por estes dois Irmãos, e
continuarás alegremente a te submeteres à sua orientação, não
permitindo que nada se interponha entre teu coração e o deles?"
Ele respondeu:
"Eu o farei alegremente, pois amo-os com ternura, e sou-lhes grato por
seus cuidados".
Eles responderam:
O Bodhisattva disse:
144
um poder só é um poder quando é usado para ajudar os outros,
pergunto, pois, quem testemunhará pelos serviços prestados por estes
candidatos desde a última vez que estiveram diante de nós e foram
admitidos à Fraternidade, que trabalho definido de ensino realizaram? A
quem eles ajudaram?"
145
trazido para suas vidas. Em nome do candidato mais jovem testemunho
que eu mesmo tenho visto evidência do maravilhoso amor e devoção
que ele tem inspirado nos membros de sua Ordem, tanto em Adyar
quanto em Benares, e da mudança que tem se produzido neles.
Também tenho recebido muitas cartas em que os signatários declaram
dever uma nova concepção de vida ao livro que ele escreveu".
"Usarei".
146
O Senhor Maitreya continuou:
"Sim".
"Jamais esqueçais que não há treva exceto aquela que é criada pela
ignorância e pela ilusão. Foi dito bem que 'Todo dom perfeito e bom vem
de cima, e desce do Pai das Luzes, em Quem não existe variação, nem
sombra de mudança'. N'Ele não existe treva nenhuma, mas os homens
voltam suas costas para Sua Luz, e então caminham em suas próprias
sombras, lamentando que elas sejam escuras".
147
Bodhisattva colocava Suas mãos sobre as cabeças dos dois ajoelhados, e
todos se curvaram profundamente em reverente homenagem diante dos
Grandes Seres, e fez-se silêncio.
"Tomai agora este novo poder que vos dou, e confiai-vos a ele sem
receio. Estabelecei em vossos veículos inferiores uma ordem e uma
responsividade tais que ele possa passar livre através deles até vosso
cérebro físico, a fim de que ele guie infalivelmente vossa conduta. Assim
ele deverá brilhar sobre o caminho que está à vossa frente, e vos
preparará para entrardes na terceira Senda".
Desenvolvimento Mental
148
Até a altura da primeira Iniciação o homem trabalha à noite em seu corpo
astral, mas assim que este fica sob perfeito controle e ele é capaz de usá-lo
plenamente, começa o trabalho no corpo mental. Quando este corpo, por sua
vez, está completamente organizado, torna-se um veículo de longe muito mais
versátil do que o corpo astral, e muito do que é impossível no plano astral pode
ser realizado nele. Com o poder de criar o mayavi-rupa, o homem torna-se
capaz de passar instantaneamente do plano mental para o astral e vice-versa,
e de usar todo o tempo o grande poder e os sentidos mais aguçados do plano
mental, e só o que é preciso é formar a materialização astral quando ele
desejar se tornar visível às pessoas no mundo astral. É necessário que
primeiro o Mestre ensine ao discípulo como criar o mayavi-rupa, depois do que,
embora isso não seja a princípio uma coisa fácil, ele poderá fazê-lo por si
mesmo.
O Ponto Perigoso
Quando conhecemos estas coisas por detrás, descobrimos que uma súbita e
curiosa iluminação é lançada sobre vários textos da Bíblia. Este ponto perigoso
na vida do Iniciado é indicado, na narrativa do Evangelho, pela tentação no
deserto que se seguiu ao Batismo de Cristo por João. Os quarenta dias no
deserto simbolizam o período durante o qual a expansão do corpo mental dada
na segunda Iniciação está atuando sobre o cérebro físico, embora para o
candidato comum não quarenta dias, mas bem quarenta anos, podem ser
necessários para a completude do processo. Na vida de Jesus foi o período
quando Seu cérebro estava se adaptando ao Cristo que penetrava. Então o
149
demônio, que no simbolismo representa a natureza inferior, chega para tentar o
Iniciado, primeiro para que use seus poderes para a satisfação de suas
próprias necessidades: "Se és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se
transformem em pão". Depois Ele é tentado a se lançar de um pináculo do
templo, realizando assim um milagre que assombraria o povo. E por fim lhe são
mostrados todos os reinos do mundo e a sua glória, e o diabo diz: "Dar-te-ei
todas estas coisas, se te prostrares e me adorares" - ele é tentado a usar os
seus poderes para gratificar sua própria ambição. Cada uma destas tentações
representa uma diferente forma de orgulho.
A Terceira Iniciação
150
mesma encarnação. O nome Hindu para este estágio é Hamsa, que quer dizer
"cisne", mas a palavra também é considerada uma forma alternativa da frase
So-ham, "Eu sou Aquilo". Há uma tradição, ainda, de que o cisne é capaz de
separar o leite misturado à água, e o sábio é igualmente capaz de discernir o
verdadeiro valor dos seres vivos dos fenômenos da vida.
151
que são chamadas as cadeias quarta e quinta, kamaraga e patigha, ou seja, o
apego ao desfrute das sensações, tipificadas pelo amor terreno, e toda
possibilidade de raiva ou ódio. O aspirante deve livrar-se da possibilidade de
ser escravizado de qualquer forma pelas coisas externas. Não significa, em
absoluto, que ele não sentirá a atração do que é agradável ou belo ou limpo,
nem a repulsa dos opostos destas coisas, mas que ele não deixará que elas
constituam um fator decisivo no que tange ao seu dever, e as afastará
completamente em emergências, quando isso for necessário para seu trabalho.
Tampouco devemos supor, sequer por um momento, que ao obter este amplo
afeto por todos ele perca o amor especial por seus amigos mais íntimos. O elo
invulgarmente perfeito entre Ananda e o Senhor Buda, assim como aquele
entre São João e Cristo, são provas de que, ao contrário, ele é enormemente
intensificado, e o elo entre Mestre e discípulo é mais forte do que qualquer laço
terreno. Pois o afeto que floresce ao longo da Senda de Santidade é um afeto
entre egos, e não meramente entre personalidades, e, portanto, ele é forte e
perene, desconhecendo o medo de diminuição ou flutuação, pois ele é aquele
"amor perfeito que afasta o medo".
O Arhat
152
Simbologia Cristã
Todos estes detalhes do drama Crístico têm relação com o que realmente
acontece em associação à quarta Iniciação. Cristo fez uma coisa incomum e
maravilhosa ao reviver Lázaro no sábado, e em grande parte foi em
conseqüência disto que Ele desfrutou de Seu único triunfo terreno logo após,
pois todas as pessoas se reuniram quando souberam da ressuscitação de um
morto. Eles esperaram por Ele, e quando Ele saiu da casa e encaminhou-Se
para Jerusalém, todos O receberam com uma ovação e uma grande
demonstração de afeto, e O trataram como no oriente ainda tratam qualquer
pessoa que considerem santa; assim, Ele foi escoltado pelo povo com grande
entusiasmo até Jerusalém e, tendo recebido este pequeno reconhecimento
terreno, naturalmente Ele aproveitou a oportunidade para ensiná-los, e fez os
sermões no Templo, para os quais se reuniram grandes multidões a fim de vê-
Lo e ouví-Lo. Isto é simbólico do que realmente acontece. O Iniciado atrai
alguma atenção, e obtém algum grau de popularidade e reconhecimento. Então
há sempre o traidor para voltar contra ele e distorcer o que ele disse e fez, de
modo que pareça maligno; como Ruysbroeck diz:
"Às vezes estes infelizes são privados das boas coisas da Terra, de seus
amigos e relações, e são abandonados por todas as criaturas; sua
santidade é objeto de desconfiança e desprezo, as pessoas denigrem
todas as obras de sua vida, e eles são rejeitados e escarnecidos por
todos aqueles que os rodeiam; e às vezes são afligidos com diversas
doenças".
Assim, segue-se uma chuva de vilipêndios e abusos, e vem a sua rejeição pelo
mundo. Depois vem a cena no jardim de Getsêmani, quando Cristo sente-Se
completamente abandonado, e depois Ele é sofre o escárnio e é crucificado.
Finalmente, surge o clamor na cruz: "Deus, meu Deus, por que me
abandonaste?"
153
daquelas palavras é "Deus, meu Deus, como me glorificas!". Não sei qual das
duas traduções é a mais exata, mas há uma grande verdade em ambas. É uma
das características da quarta Iniciação que o homem seja deixado inteiramente
sozinho. Primeiro ele tem de ficar solitário no plano físico; todos os seus
amigos se voltam contra ele por causa de algum mal-entendido; tudo vai bem
logo depois, mas durante este tempo a pessoa é deixada com o sentimento de
que todo o mundo está contra ela.
Talvez esta não seja uma provação assim tão severa, mas há um outro lado,
interno, dela, pois ele tem ainda de experimentar por um momento a condição
chamada de Avichi, que significa "sem ondas", ou seja, sem vibração. O estado
de Avichi não é, como popularmente se supõe, algum tipo de inferno, mas uma
condição em que a pessoa fica absolutamente sozinha no espaço, e sente-se
separada de toda vida, mesmo a do Logos; e, sem dúvida, esta é a mais
terrificante experiência possível para qualquer ser humano enfrentar. Diz-se
que ela dura apenas um momento, mas para aqueles que sentiram seu horror
supremo ela parece uma eternidade, pois naquele nível o tempo e o espaço
não existem. Esta acabrunhante provação tem, imagino, dois propósitos -
primeiro, de que o candidato possa ser capaz de simpatizar plenamente com
aqueles para quem Avichi advém como resultado de suas ações, e, segundo,
para que ele possa aprender a ficar completamente à parte de tudo que for
externo, triunfante em sua absoluta certeza de que ele é uno com o Logos, e
que esta opressiva consternação, causada pela sensação de isolamento d'Ele,
não passa de uma ilusão e uma tentação. Alguns colapsaram diante deste
teste terrível, e tiveram de voltar atrás e fazer o percurso novamente até esta
Iniciação superior; mas para o homem que pode enfrentar com firmeza este
pesadelo pavoroso ele constitui na verdade uma experiência maravilhosa,
formidável mesmo, de modo que embora possa ser aplicável para o teste em si
a interpretação "Por que me abandonaste?", a versão "Como me glorificas!"
expressaria melhor o sentimento do homem que sai dele vitorioso.
154
A Crucificação e a Ressurreição que simbolizam a verdadeira Iniciação são
descritas da seguinte maneira em uma antiga fórmula egípcia:
Há um antigo provérbio que diz "Não há coroa sem cruz", que pode ser tomado
para significar que sem a descida do homem à matéria, sem seu ligamento à
cruz da matéria, ser-lhe-ia impossível obter a ressurreição e receber a coroa da
glória; mas através da limitação e da tristeza e da aflição ele obtém a vitória. É-
nos impossível descrever esta ressurreição, todas as palavras que poderíamos
empregar perecem empanar seu esplendor, e toda tentativa de descrição
parece quase uma blasfêmia, mas pode ser dito que é conquistado um triunfo
completo sobre todas as dores, penas e dificuldades, tentações e provas, e que
ele é seu para sempre, porque ele o ganhou com seu conhecimento e força
interior. Podemos lembrar como o Senhor Buda proclamou Sua libertação:
Nirvana
155
Esta entrada é absolutamente arrebatadora, e tem como sua primeira
sensação a intensa vividez daquela vida, surpreendente mesmo para ele, que
estava acostumado com o plano búdico. Esta surpresa ocorreu antes, embora
em medida menor, sempre que ele passava pela primeira vez de um plano
para outro acima. Mesmo quando passamos pela primeira vez em consciência
plena e clara do plano físico para o astral, achamos que a nova vida é muito
mais vasta do que qualquer uma que tivermos conhecido até então, de forma
que exclamamos: "Eu pensei que sabia o que era a vida, mas jamais a conheci
antes!" Quando passamos para o plano mental, temos este mesmo sentimento
redobrado; o astral era maravilhoso, mas torna-se como nada comparado ao
mundo mental. Quando passamos para o plano mental superior, temos
novamente a mesma experiência. A cada degrau recorre a mesma surpresa, e
nenhum pensamento prévio pode nos preparar para ela, porque é sempre
muito mais estupenda do que qualquer coisa que possamos imaginar, e a vida
em todos estes planos superiores é de uma intensidade de beatitude para a
qual não existem palavras.
156
Madame Blavatsky freqüentemente falava de uma consciência que tem seu
centro em toda parte e sua circunferência em parte alguma, uma frase
profundamente sugestiva, atribuída ora a Pascal, ora ao Cardeal de Cusa ou
ao Zohar, mas que de direito pertence ao Livro de Hermes. Em verdade esta
consciência está longe da aniquilação; o Iniciado que a atinge não perde em
absoluto o senso de que ele é ele mesmo; sua memória é perfeitamente
contínua; ele é o mesmo homem, embora seja também tudo isso, e ele pode
realmente dizer agora que "Eu sou eu", sabendo o que de fato significa "Eu".
Isso foi expresso maravilhosamente bem por Sir Edwin Arnold em The Light of
Asia:
"Sem vida" não no sentido de estar morto, pois o Nirvana é o próprio exemplo e
a vera expressão da mais intensa vida imaginável; sem vida porque ele está
além tanto da vida quanto da morte, livre do samsara [literalmente "rotação", ou
seja, o ciclo de encarnações sucessivas, e por extensão significa os mundos
inferiores das formas - NT] para sempre. O inferno tem sido definido como
tempo sem Deus, e o céu como Deus sem tempo; seguramente esta última
descrição é ainda mais aplicável ao Nirvana.
157
"Minha primeira lembrança é a de ver o Mestre K.H. com um aspecto
que eu jamais vira antes. Radiante Ele é sempre, sumamente radiante,
mas agora Ele era mais do que radiante, e não posso encontrar uma
palavra daqui de baixo para descrevê-Lo na glória em que eu O percebia
ao primeiro fulgor da consciência Nirvânica. Majestoso e radiante são
palavras pobres - ofuscante talvez o expresse melhor, pois por um
momento eu fiquei estarrecido. Quase quis velar minha face da Sua
visão, porém não podia tirar meus olhos d'Ele, tão insondavelmente
esplendoroso Ele parecia - menos glorioso apenas que o Rei, como
depois percebi, embora naquele instante eu não pudesse conceber
glória maior.
"Mas hoje parece-me que o Mestre é alguém que jamais conheci antes,
ataviado nas glórias de um Reino em que entro como uma criancinha. A
nova consciência me envolve, e num instante meu mundo se torna cheio
de valores novos, estranhos e gloriosos. Tudo é diferente,
supremamente diferente, embora permaneça o mesmo. Uma nova
Divindade se desvenda diante de meus olhos, e revela para meu olhar
um novo significado, um novo propósito. É a unidade Búdica
transcendida, glorificada - uma unidade mais maravilhosa; de alguma
forma admirável ela imerge numa condição mais vasta e mais tremenda.
Existe uma coisa ainda mais verdadeira do que a unidade, algo ainda
mais real. Parece impossível, mas assim é.
”Qual é a natureza daquilo para o que até mesmo a glória Búdica não
passa de uma limitação? Sou compelido a usar palavras, mas elas soam
como um terrível anticlímax. Posso apenas dizer que é a Glória de uma
Luz Transcendente, um mundo de Luz que é a imagem da própria
Eternidade de Deus. Estou frente a frente com um espelho imaculado de
Seu Poder e com uma imagem de Sua Bondade. E o espelho, a
imagem, são um infinito oceano de Luz, do qual eu me torno parte
(embora em um sentido eu já o fosse) por uma apoteose de todas as
158
transcendências [at-one-ments no original, literalmente "reparações" ou
"reconciliações", porém a palavra tem um significado de compensação
após uma ofensa, em vez de veicular o sentido de substituições
sucessivas de condições mais limitadas por outras cada vez mais
plenas, que é o que está sendo desejado aqui - NT] de planos após
planos abaixo. Fraternidade no mundo exterior; unidade no mundo
Búdico; luz transcendente no Nirvana.
"A Luz transcendente está mais próxima do Real até mesmo que a
Unidade Búdica, que até então me parecia o fato mais estupendo do
mundo todo. Luz o início; Luz o caminho; Luz o futuro; disse Deus: 'Que
haja Luz', e ela surgiu, e é uma Luz indescritível. Bela como é a luz do
mundo, ainda assim ela não passa de uma imagem pálida e tênue da
Luz Triunfante - o adjetivo me parece de alguma forma adequado -
destas regiões do Real. É a Luz do Sol antes que ela se torne as formas
em que a conhecemos. É a Luz purificada de formas. É a Luz que é a
vida das formas. É uma sempre presente 'sugestão de imortalidade', um
futuro dentro do Agora, e porém Eterno. É uma - não diria a - apoteose e
essência da luz que conhecemos. Toda a glória do mais deslumbrante
amanhecer (e sente-se que nada pode ser mais belo do que uma
perfeita aurora oriental) é levada a uma fruição gloriosa e a uma
perfeição esplêndida no meio-dia que é o Nirvana.
"Deus é Luz; Luz é Deus; o Homem é Luz; tudo é Luz - um novo sentido
para as antigas exortações Egípcias: 'Busca a Luz! Segue a Luz!
Percebe e aprende a ser uno com a Luz de Deus em todas as coisas!'
Olho para o mundo. Vejo o mundo em termos de Luz. Deus-Luz em
manifestação no homem-luz, na rocha-luz, na árvore-luz, na criatura-luz.
Tudo é luz - uma glória ofuscante no centro, traduzida em cor à medida
que irradia para sua circunferência. Uma glória cegante em toda parte -
o Deus-Luz - a brilhante semente do futuro em cada coisa individual em
todos os reinos. E a semente-luz rompe sua alvura (a palavra parece
errada, mas 'relampagosidade' é pior) nas cores do espectro.
159
se a Luz'. E a Luz surgiu em toda parte. 'Sua Luz brilha mesmo em
nossa escuridão'.
"O que é Nirvana? Luz Divina. Toco, quiçá por um momento apenas,
seus limites inferiores, suas camadas mais densas. Aqui embaixo não
posso sequer conceber sua Glória, mas ela deixa em mim, quando
retorno à Terra, uma nova percepção da Realidade. Dei um passo para
mais perto do Real. Há no mundo, agora, uma camaradagem maior do
que eu imaginara - uma identidade mais profunda, uma origem mais
gloriosa, um caminho mais glorioso, e uma meta mais gloriosa. Em torno
de tudo e a todo momento estão os Mensageiros da Luz de Deus. Cada
cor fala Sua Palavra e Sua Voz. Cada forma exala Seu propósito. Eu, pó
diante da Luz Solar, também sou parte dela, e olhando para o Sol vejo o
sinal de minha própria Divindade, e a promessa corporificada de minha
vitória última. Seremos todos como é nosso Senhor o Sol, pois Ele assim
o quis.
"Os filósofos falam no Ser Puro. Parece-me ser capaz de sentir o que
deve ser o Ser puro, não porque eu o tenha contatado, mas porque
contatei aquilo que, de todos os estados de consciência que já
experimentei até então, fica mais perto do Ser Puro.
160
"Oh, pudesse eu contar, e vós seguramente acreditaríeis!
Apenas faço justiça ao distinto autor ao dizer que a citação dada acima é
apenas parte de uma série de excertos descontínuos; recomendo fortemente
aos meus leitores que estudem com cuidado o livro de onde eles foram tirados;
ele pode ser encontrado através de The Theosophical Publishing House,
Adyar.
O monge Budista Ananda M., em seu livro The Wisdom of the Aryas, escreve
sobre o Nirvana da seguinte forma:
161
Altruísta na vida e na morte - não buscando recompensa, mas apenas o
serviço da vida maior, não esperando nenhum céu além, nenhuma felicidade
eterna, mas somente crescer altruísta - esta é a lição que domina tanto a vida
como o ensinamento do Mestre, e que ela possa enfim trazer a Paz para toda a
vida!
"A pessoa que uma vez penetrou nesta maravilhosa unidade jamais
pode esquecê-la, jamais poderá ser exatamente o que era antes, por
mais densamente que possa velar a si mesma nos veículos inferiores a
fim de ajudar e salvar os outros, por mais estreitamente que estiver
atada à cruz da matéria, pregada, enterrada, confinada, ela jamais
poderá esquecer que seus olhos viram o Rei em Sua Formosura, que
pisou na terra que está muito distante - muito longe, porém muito perto,
dentro de nós o tempo todo, se apenas pudermos percebê-lo, pois para
atingirmos o Nirvana não precisamos ir para algum céu longínquo, mas
apenas basta abrirmos nossa consciência à sua glória. Como disse há
muito tempo o Senhor Buda: 'Não vos lamenteis, nem choreis, nem
oreis, mas abrí vossos olhos e vêde, pois a luz está em toda vossa volta,
e ela é tão maravilhosa, tão bela, tão além de qualquer coisa que os
homens tenham jamais sonhado, por que tenham jamais orado, e existe
para todo o sempre' ".
"A terra que está muito distante" é uma citação do profeta Isaías, mas
estranhamente trata-se de uma tradução equívoca. Isaías não falava da terra
que está muito distante, mas da terra das distâncias imensas, o que é uma
idéia bem outra, e também de grande beleza. Isso sugere que o Profeta tinha
162
alguma experiência destes planos superiores, e estava comparando, em seu
pensamento, o esplendor dos campos estrelados do céu com as apertadas
catacumbas através das quais rastejamos na Terra, pois isso é o que esta vida
é se comparada com aquela outra superior - um cego rastejar através de trevas
e caminhos tortuosos, quando comparada com uma vida esplêndida e cheia de
propósito, uma completa realização da Vontade Divina a animar e atuar através
das vontades daqueles que lá vivem.
A Obra do Arhat
Ruparaga - desejo por beleza de forma ou por existência física em uma forma,
incluindo mesmo aquelas do mundo celeste.
Mano - orgulho.
Avijja - ignorância.
A Quinta Iniciação
163
do corpo Ele ascende ainda mais alto, até o plano Monádico, que está além
não só de nossas palavras, mas também de nosso pensamento. Novamente
ouçamos o Senhor Buda:
Além do Adeptado
Embora o que eu recém tenha dito seja absolutamente exato - que ninguém de
nós pode ver o fim daquela escada, e que o trabalho d'Aqueles que estão nos
degraus superiores da Hierarquia é quase incompreensível - ainda desejo
deixar perfeitamente claro que Sua existência e trabalho são tão reais e
definidos quanto qualquer coisa no mundo - até mais - e que não existe a
menor vagueza a respeito de nossa visão daqueles Grandes Seres. Embora eu
saiba apenas mui pouco sobre a parte superior de Seu trabalho, ao longo de
muitos anos tenho visto o Bodhisattva constantemente, quase diariamente,
envolvido naquele trabalho, e muitíssimas vezes tenho visto o Senhor do
Mundo em Sua maravilhosa e incompreensível existência, de modo que para
164
mim Eles são pessoas tão reais quanto qualquer outra que eu conheço, e estou
tão certo quanto possível a respeito de Sua existência e de algo do papel que
Eles desempenham no mundo.
"O que existia desde o princípio, sobre o que temos ouvido, que temos
visto com nossos próprios olhos, que temos contemplado, que temos
tocado com nossas próprias mãos... isso que temos visto e ouvido,
declaramos a vós" (I João, I, 3).
165
As Sete Sendas
166
Grandes Seres as conservam afastadas, mas não é assim de forma
alguma, pois todos os problemas do mundo provêm daqueles que sob
eles padecem. Cada pessoa é o seu próprio legislador, que decreta sua
própria danação ou recompensa, mas o dever do Nirmanakaya é
fornecer uma grande quantidade de força espiritual para ajudar os
homens. Eles geram esta força o tempo todo, não ficando com nada
para Si, mas colocando-a toda a serviço da Fraternidade, para Seu uso
no alívio do pesado fardo do mundo".
Um Sumário
167
casos de necessidade. No mundo físico, Eles observam as tendências
dos acontecimentos, corrigem e neutralizam, até onde permita a lei, os
eventos funestos, constantemente equilibram as forças que atuam pró e
contra a evolução, fortalecendo o bem, enfraquecendo do mal. Eles
também trabalham em associação com os Anjos das Nações, guiando
as forças espirituais assim como outros guiam as materiais.
As Paróquias
Da forma como o mundo está hoje dividido, pode-se dizer que um grande
Adepto está encarregado da Europa, e outro vela pela Índia; e todo o mundo é
distribuído semelhantemente. As paróquias não seguem nossas fronteiras
políticas ou geográficas, mas dentro do Seu território o Adepto tem de cuidar
de todos os diferentes níveis e formas da evolução - não só a nossa, mas
também o grande reino dos Anjos, as várias classes de espíritos da Natureza,
os animais, vegetais e minerais abaixo de nós, os reinos da essência
elemental, e muitos outros de que até agora nada sabe a humanidade;
portanto, há uma inimaginável quantidade de trabalho a ser feito. Em
acréscimo à proteção dos Adeptos, cada raça ou país conta ainda com a
assistência de um Espírito da Raça, um Deva ou Anjo Guardião, que vela sobre
ele e o ajuda a guiar seu crescimento, e corresponde de muitas formas à antiga
concepção de uma Deidade tribal, embora esteja em um nível
consideravelmente superior. A Palas Atena dos antigos gregos é um bom
exemplo desta categoria.
168
alguma espécie de controle; e o grande problema em livrar-se da tirania é
como fazê-lo sem perder a estabilidade social e o autocontrole. Quando isso
acontece, muitas pessoas deixam de manter a sua humanidade como guia de
suas personalidades, a paixão se acende, as multidões se rebelam, e o povo
se torna passível de obsessão por grandes ondas de influências indesejáveis.
O Anjo nacional tenta guiar os sentimentos do povo; ele está interessado neles
como uma grande massa, e quando necessário os instiga a grandes atos de
patriotismo e heroísmo, assim como um general poderia encorajar seus
homens a avançar no campo de batalha; mas ele jamais é descuidado das
vidas sob seu encargo ou negligencia seus sofrimentos mais do que um
general sábio o faria.
Distribuição de Força
Cada um dos Adeptos que assumiu este trabalho específico irradia sobre um
número enorme de pessoas, que chega a muitos milhões simultaneamente;
mesmo assim, tal é a maravilhosa qualidade deste poder que Ele derrama, que
ele se adapta a cada um dos indivíduos destes milhões como se ele fosse o
169
único objeto de sua influência, e parece como se a atenção dada a cada um
fosse plena e exclusiva.
É difícil explicar, no plano físico, como pode ser assim - mas isso deriva do fato
de que a consciência nirvânica do Mestre é um tipo de ponto que ainda inclui
todo o plano. Ele pode levar este ponto para diversos planos abaixo e expandí-
lo como se fosse uma espécie de bolha vastíssima. No exterior desta imensa
esfera estão todos os corpos mentais que Ele deseja afetar, e Ele, enchendo a
esfera, aparece inteiro a cada indivíduo. Deste modo Ele enche com Sua vida
os ideais de milhões de pessoas, e para elas Ele constitui respectivamente o
Cristo ideal, o Rama ideal, o Krishna ideal, um Anjo ou talvez um Espírito-guia.
O Uso da Devoção
170
erro de ignorar o valor da imensa quantidade de energia produzida pelas
pessoas ignorantes e mesmo fanáticas. Os membros da Fraternidade têm uma
maravilhosa faculdade de separar o mal do bem, ou antes, de retirar até a
última gota daquilo que pode ser usado para o bem, mesmo dentre uma grande
quantidade que é má.
171
merece. A suposta relíquia é meramente um ponto sobre o qual a devoção se
focaliza, e um ponto imaginário funcionará para isso tão bem quanto qualquer
outro.
As pessoas por vezes perguntam, por exemplo, por que estes Grandes Seres
não escrevem livros. Elas esquecem que os Adeptos estão promovendo a
evolução de todo o mundo; dificilmente Eles poderiam largá-la a fim de dar às
pessoas informações a respeito de apenas alguma parte dela. É verdade que
se um destes Grandes Seres tivesse tempo de escrever um livro, se Sua
energia não pudesse ser empregada melhor, este livro seria de longe superior
a qualquer um dos que temos. Mas se o plano das coisas fosse que todos os
trabalhos fossem feitos por aqueles que já podem fazê-los com perfeição, não
haveria espaço para o exercício de nossas faculdades, e seria difícil vermos
qualquer utilidade para a nossa existência neste mundo.
172
antigas, quando grandes famílias e clãs eram a regra, talvez relativamente
poucas pessoas se vissem sem um amigo, quando necessitassem, no outro
lado da morte. Leitores da literatura oriental lembrarão o quanto é dito nos
livros religiosos Hindus sobre a importância dos laços e deveres familiares, que
se estendiam até as regiões invisíveis além do véu da morte. Além disso, as
condições lá eram um pouco como um país sem hospitais ou escolas ou
agências de informações públicas, onde muitos podiam sofrer, e em tempos
especiais de calamidade ou guerra o problema era amiúde muito sério.
173
Mestre, para doravante serví-Los com todas as suas forças e seus corações
para o bem da humanidade.
As Raças
Em seu trabalho para o mundo a Fraternidade lida não só com o presente, mas
mira longe no futuro, e prepara, para a evolução, novas raças e nações onde
as qualidades da humanidade se desenvolvam em seqüência harmoniosa.
Como veremos no Capítulo 13, o progresso da humanidade não acontece
aleatoriamente, mas a formação das raças, com suas características especiais
físicas, emocionais e mentais (servindo como classes na grande escola do
mundo, para o desenvolvimento de qualidades especiais) é tão exata e definida
como o currículo e cronograma de qualquer colégio moderno.
A grande raça Ariana, a qual, embora ainda não em seu zênite, domina hoje o
mundo com seu dom maior do intelecto, seguiu a raça Atlante, cujo povo ainda
forma a maioria da humanidade e ocupa uma grande área da superfície de
nossa Terra.
O Advento
Uma vez que o Senhor Maitreya decidiu anunciar Sua vinda ao mundo através
de nossa Presidente, imagino que se justifica presumirmos que Seus
ensinamentos serão de alguma forma semelhantes aos ideais que ela tem
promulgado com tão maravilhosa eloqüência ao longo destes últimos trinta e
sete anos. Algumas seitas Cristãs ainda pendem para a superstição de que Ele
virá para julgar e destruir a Terra, de modo que há um grande elemento de
medo e incerteza associado às suas crenças. Mas todo o medo de Deus
provém da má compreensão.
174
O Advento do Cristo está de fato relacionado a um fim - não ao fim do mundo,
mas ao fim de uma era ou dispensação. A palavra grega para isso é aion, que
equivale a éon em português, e assim como Cristo dissera há dois mil anos
que a dispensação da lei Judaica havia chegado a um fim, porque Ele viera
para fundar uma nova, a do evangelho, da mesma forma a era do evangelho
encontrará seu fim quando Ele retornar e fundar uma outra. Ele dará o mesmo
grande ensinamento; o ensinamento deve ser o mesmo, pois só existe uma
Verdade, embora talvez Ele possa apresentá-la com um pouco mais de clareza
para nós, pois já sabemos um pouquinho mais. Ela será promulgada em
alguma roupagem nova, quiçá com alguma beleza de expressão que seja
exatamente adequada a nós nos dias de hoje, e quem sabe haja alguma
declaração que apele a um número maior de pessoas.
Todos eles nos dizem que um homem deve ser caridoso, veraz, amável,
honrado, solícito para com os pobres; todos eles nos dizem que um homem
rude e ambicioso e cruel, falso e desonrado, não faz progresso algum, e não
tem chances de ter sucesso antes de mudar suas maneiras. Como pessoas
práticas, devemos reconhecer que as coisas de importância real em qualquer
religião não são as vagas especulações metafísicas sobre assuntos de que
ninguém pode saber nada ao certo, pois eles não influem em nossa conduta;
as coisas importantes são os preceitos que afetam nossas vidas diárias, que
nos fazem este ou aquele tipo de pessoa em nossas relações com nossos
semelhantes. Estes preceitos são os mesmos em todas as religiões existentes,
e serão os mesmos no novo ensinamento, seja qual for a forma que ele
assumir.
Talvez possamos ir um pouco mais longe e predizermos o que Ele vai ensinar.
Com certeza a grande verdade central que Ele há de enfatizar é que os males
do mundo vêm da falta de amor e fraternidade - que se o homem aprender a
amar e a adotar a atitude fraterna, todo o mal se extinguirá e a idade de ouro
raiará sobre nós. Não de imediato - não podemos esperar por isso, mas pelo
menos as pessoas começarão a ver por si mesmas, e a entender o quanto
mais há de ser ganho ao longo desta linha do que da outra.
A Sexta Sub-Raça
175
agindo nos planos internos, modificando até o tipo físico das crianças da nova
era, onde quer que elas possam ser susceptíveis a tal, e alguns dos membros
mais jovens da Fraternidade, atuando no mundo externo, têm instruções de
prover para elas, quando possível, a educação e o treinamento que beneficie a
nova raça. Este trabalho ainda é de pequena monta, mas está destinado a se
desdobrar em proporções gigantescas, até que dentro de poucos séculos a
sexta sub-raça se apresentará no novo mundo distinta e admirável em sua
juventude, enquanto que o velho mundo continuará a desenvolver a quinta sub-
raça até sua maturidade e perfeição. E talvez mais tarde a sexta sub-raça,
radiante e gloriosa em sua maturidade, irradie suas bênçãos sobre a quinta, de
modo que pela primeira vez uma raça terá um declínio digno para uma velhice
frutífera e venerável. Esta pode ser a recompensa de seus serviços presentes
e futuros para com a raça infante, e de suas lutas, cheias de sacrifício, mas
triunfante, contra os poderes das trevas, abrindo possibilidades tais para o
homem como a raça jamais conheceu antes.
Uma asserção mais exata seria mais ou menos assim: "A parece possuir cerca
de 25% das características da nova sub-raça; B talvez tenha 50%; C tem uma
grande porção - talvez 75%; em D não posso ver nada faltando; até onde
posso afirmar este é um exemplar plenamente desenvolvido". E devemos
entender que as crianças comuns que imaginamos promissores serão como
um A ou um B, pois mesmo estes ainda são muito raros no mundo, e como C e
D praticamente são inexistentes, exceto dentro de nosso próprio pequeno
círculo. Lembremos ainda que os desenvolvimentos são muito desiguais; um
garoto pode ter feito uma considerável quantidade de progresso astral ou
mental antes de apresentar muito no seu corpo físico; e, por outro lado, através
de uma boa hereditariedade, ele pode ter um corpo físico capaz de expressar
avanços maiores nos planos superiores do que ele já tenha atingido de fato.
Muito poucos podem esperar mostrar desde já todos os sinais, e podem ficar
satisfeitos se apresentarem um ou dois.
Nem mesmo em seu apogeu ela será uniforme; por exemplo, ela é em linhas
gerais uma raça dolicocéfala, mas sempre terá ramos braquicéfalos; conterá
pessoas de cabelos louros e morenos, pessoas com olhos azuis e pessoas
com olhos castanhos. Naturalmente os traços astrais e mentais são os mais
importantes, mas na maioria dos casos é só através do aspecto físico que
poderemos fazer uma avaliação. A tônica será o altruísmo, e a dominante será
um vivo entusiasmo pelo serviço, e estas devem ser acompanhadas por uma
176
gentileza ativa e um coração largamente tolerante. Aquele que esquece de seu
próprio prazer e pensa apenas em como pode ajudar os outros já se adiantou
muito na estrada. O discernimento e o bom senso também serão
características marcantes.
No ano anterior apareceu um longo artigo em The Los Angeles Sunday Times,
devotado ao assunto da nova raça emergente na Califórnia e Nova Zelândia.
Depois de referir-se a algumas características mentais e físicas atribuídas às
crianças da nova raça, ele assinalou particularmente suas qualidades de
equilíbrio e intuição excepcionais.
177
longas eras, o Mestre Kuthumi, que será o Bodhisattva da sexta Raça-Raiz. Já
escrevemos sobre esta comunidade em Man: Whence, How and Whither.
Embora isso esteja ainda a centenas de anos no futuro, o que não obstante é
um tempo bem exíguo na vida de um homem, todos nós perceberemos, ao
buscarmos descobrir seus antecedentes, que já estão sendo feitos preparativos
para isso, e neles a Sociedade Teosófica está tendo uma parte nada pequena.
Os Chohans
178
Raios são claramente distinguíveis na Hierarquia. O primeiro, ou Raio do
Poder, é governado pelo Senhor do Mundo; à testa do Segundo Raio está o
Senhor Buda, e abaixo destes vêm, respectivamente, o Manu e o Bodhisattva
da Raça Raiz que na ocasião predominar no mundo. Em nível igual a estes
está o Mahachohan, que supervisiona todos os outros cinco Raios, tendo cada
um, não obstante, um Dirigente próprio. No meu próximo capítulo explicarei o
que puder destes degraus mais altos da Hierarquia, tentando fazer um relato
sobre trabalho dos Dirigentes dos Raios Três a Sete, e do dos Mestres Morya e
Kuthumi, que, em Seu nível, respondem pelos Raios Primeiro e Segundo.
O título de Chohan é dado aos Adeptos que receberam a sexta Iniciação, mas
a mesma palavra também é empregada para os Regentes dos Raios Três a
Sete, que têm cargos muito definidos e elevados dentro da Hierarquia.
Disseram-nos que o significado da palavra Chohan é simplesmente "Senhor", e
que ela é usada tanto genérica como especificamente, de modo muito
semelhante ao uso da palavra em português. Chamamos um homem comum
de "senhor" por questão de cortesia, mas o significado é bem diverso quando
aplicamos este apelativo a um Ministro ou um Governador de Estado, por
exemplo. O termo aparece ainda combinado, como Dhyan Chohan, que ocorre
na Doutrina Secreta e em outros lugares, e nestes casos ele se refere a Seres
da mais excelsa dignidade, muito acima da Hierarquia Oculta de nosso planeta.
Neste ponto é necessário, para que se entenda esta parte do trabalho dos
Mestres, fazermos uma breve digressão para dizermos alguma coisa do que
significam os Sete Raios. Este é um assunto bastante difícil. Há muito tempo
eu recebi alguma informação, com certeza muito incompleta, porém muito
valiosa, sobre estes Raios. Lembro-me bem da ocasião em que ela nos foi
dada. O Sr. Cooper-Oakley e eu e um irmão Hindu estávamos sentados no
terraço em Adyar naqueles primeiros tempos, quando só havia o prédio da
sede e vinte e nove acres de bosques atrás de nós; e ali mesmo subitamente
nos apareceu o Mestre Djwal Kul, que naquela época era o principal discípulo
do Mestre Kuthumi. Naqueles dias ele nos dava muitos ensinamentos, e era
sempre muito amável e paciente, e enquanto Ele sentava e nos falava naquele
dia, a questão dos Raios ocorreu ao Sr. Cooper-Oakley e, em sua maneira
peculiar, disse: "Oh Mestre, por favor, havei de nos contar tudo sobre os
Raios?"
Nosso Mestre piscou um olho enquanto dizia: "Bem, não posso vos dizer tudo
sobre eles antes que vós tenhais chegado a uma Iniciação muito alta.
Recebereis o que eu posso vos dizer, sabendo que será parcial e
inevitavelmente confuso, ou esperareis até que possais ouvir tudo?"
Naturalmente pensamos que aquela meia fatia de pão era melhor do que pão
nenhum, de modo que dissemos que aceitaríamos o que Ele nos desse, mas
muito nos foi incompreensível, como Ele previu. Ele disse: "Não vos posso
revelar nada mais do que isso, pois me impedem certos votos; mas se vossa
intuição puder ir além eu vos direi se estais certos". Mesmo aquela informação
fragmentária foi do maior valor para nós.
179
O Diagrama 4 que segue é a tabela dos Raios e suas características como Ele
no-la deu naquela ocasião.
Foi explicado que a religião mencionada em relação a cada Raio não deve ser
tomada necessariamente como uma perfeita exposição dele, mas que
simplesmente é o que restou na Terra como relíquia da última ocasião em que
aquele Raio exerceu a influência dominante no mundo. A Magia do Primeiro
Raio e as características do Sétimo não nos foram dadas, mas podemos
imaginar que a primeira seja kriyashakti e a segunda seja a cooperação com o
reino Dévico. O significado do Nascimento de Hórus não pôde ser explicado,
mas foi-nos dito que uma das características do Quarto Raio é o uso das forças
de ação e reação - as forças masculinas e femininas da Natureza, por assim
dizer. Sempre que nas diversas religiões ocorre o falicismo, isso sempre se
deve à materialização e má compreensão de alguns dos segredos ligados a
este Raio. O verdadeiro desenvolvimento do Sétimo Raio seria a comunicação
com os Devas superiores e recebimento de instruções deles.
DIAGRAMA 4
Depois do que eu disse acima deve ter ficado claro que a informação que já
nos chegou sobre os Raios é fragmentária. Não só é um relato incompleto
sobre o assunto, mas tampouco é um esboço perfeito, pois foi-nos dito
claramente que havia grandes hiatos na descrição fornecida, os quais
possivelmente não poderiam ser preenchidos senão muito mais tarde. Assim,
até onde sabemos, muito pouco já foi escrito sobre este assunto, e este pouco
é expresso de forma restrita, de modo a não ser prontamente inteligível, e os
instrutores ocultos são assinaladamente reticentes quando questionados a
respeito (Enquanto esta edição ia para o prelo apareceu um importante livro
sobre o tema - The Seven Rays, do Professor Ernest Wood. O material que ele
apresenta é iluminador e é apresentado de um ângulo bastante novo).
180
A Divisão Sétupla
Este Logos Solar contém em Si Sete Logoi Planetários, que são como que
centros de força em Seu interior, canais por onde Ele verte sua força para fora.
Porém, em outro sentido, pode-se dizer que eles O constituem. A matéria que
acabamos de descrever como compondo Seus veículos também compõe os
deles, pois não há nenhuma partícula de matéria em qualquer parte do sistema
que não seja parte de um ou outro deles.Tudo isso vale para todos os planos;
mas por um momento tomemos o plano astral como exemplo, porque sua
matéria é fluida o bastante para atender aos propósitos de nossa pesquisa, e o
mesmo tempo é próxima o bastante do plano físico para não estar
completamente além do alcance de nossa compreensão física.
181
Os Sete Espíritos
Na tradição Cristã estes sete grandes Seres são encontrados na visão de São
João Evangelista, que disse: "E havia sete grandes lâmpadas ardendo diante
do trono, que são os sete Espíritos de Deus" (Apocalipse, IV, 5). Eles são os
Sete Místicos, os grandes Logoi Planetários, que são centros de vida dentro de
próprio Logos Solar. Eles são os verdadeiros Regentes dos nossos Raios - os
Regentes para todo o sistema solar, e não só para o nosso mundo. Cada um
de nós deve ter provindo de um ou outro destes grandiosos Seres, alguns
através de um, outros através de outro.
Todos nós estamos sempre em presença do Logos Solar, pois não existe um
só lugar em Seu sistema onde Ele não esteja, e tudo o que existe é parte d'Ele.
Mas estes Sete Espíritos são em um sentido muito especial parte d'Ele,
manifestações d'Ele, quase qualidades Suas - centros em Seu interior através
dos quais extravasa Seu Poder. Podemos ter uma indicação disso nos nomes
que Lhes são atribuídos pelos Judeus. O primeiro deles é sempre Miguel, "o
Seu Príncipe", como é chamado, e este nome significa "A Força de Deus", ou,
como algumas vezes é interpretado, "Aquele que se assemelha a Deus em
força". El, em hebraico, significa Deus; encontramos esta palavra em Betel, que
quer dizer "Casa de Deus"; e Elohim é a palavra usada para significar "Deus"
no primeiro versículo da Bíblia. Esta palavra El aparece como terminação no
nome de cada um dos Sete Espíritos. Gabriel significa "A Onisciência de
Deus", e algumas vezes Ele é chamado de Herói de Deus. Ele está ligado ao
planeta Mercúrio, assim como Miguel está a Marte. Rafael significa "O Poder
182
Curativo de Deus", e está associado ao Sol, que é o grande doador de saúde
para o plano físico. Uriel é "A Luz ou Fogo de Deus"; Zadquiel é "A
Benevolência de Deus", e está ligado ao planeta Júpiter. Os outros Arcanjos
são usualmente denominados de Camuel e Jofiel, mas no momento não
recordo de seus significados ou de seus planetas.
Ainda não foram feitas pesquisas sobre quais animais e vegetais pertencem a
cada Raio, mas tive motivos para investigar há alguns anos as pedras
preciosas, e descobri que cada Raio tem suas representantes, através das
quais a força do Raio atua mais prontamente do que através de outra qualquer.
Mostro aqui a tabela que aparece em The Science of the Sacraments, na qual
183
é apresentada a jóia no topo de cada Raio, e outras que estão no mesmo Raio
e portanto possuem o mesmo tipo de força, embora em menor grau.
A partir de tudo o que eu disse antes segue-se que estes sete tipos são visíveis
entre os homens, e que cada um de nós deve pertencer a um ou outro Raio.
Sempre têm sido reconhecidas na raça humana diferenças fundamentais desse
tipo; há um século atrás as pessoas eram descritas como de temperamento
linfático ou sangüíneo, colérico ou fleumático, e os astrólogos nos classificam
sob o nome dos planetas, como pessoas de Júpiter, de Marte, de Vênus ou de
Saturno, e assim por diante. Presumo que estes sejam apenas métodos
diferentes de dizer que as distinções básicas de disposição devem-se ao canal
pelo qual aconteceu de provirmos, ou antes, por aquele que nos foi ordenado
que passássemos.
Contudo, de forma alguma é coisa fácil descobrir a que Raio pertence uma
pessoa comum, pois ela envolveu-se demais na matéria e gerou grande
variedade de karma, alguma parte do qual pode ser de um tipo que domine e
obscureça seu tipo essencial, mesmo às vezes ao longo de toda uma
encarnação; mas a pessoa que está se aproximando da Senda já deve estar
mostrando em si um impulso diretor ou poder propulsor definido, que tem o
caráter do Raio a que ela pertence, e que tende a levá-la ao tipo de trabalho
que distingue aquele Raio, e também a levará aos pés de um dos Mestres que
também pertencem a ele, de forma que ela se matricula, por assim dizer, na
Universidade em que o Chohan do Raio pode ser considerado o Reitor.
184
Raio também agiria pela força de vontade, mas com a plena compreensão dos
vários métodos possíveis e com o direcionamento consciente de sua vontade
para o canal que fosse mais adequado; para a pessoa do Terceiro Raio seria
mais natural usar as forças do plano mental, observando cuidadosamente a
ocasião em que as influências fossem mais favoráveis ao seu sucesso; a
pessoa do Quarto Raio empregaria para o mesmo propósito as forças sutis do
éter, enquanto seu irmão do Quinto Raio mais provavelmente colocaria em
ação as correntes do que se pode chamar de luz astral; o devoto do Sexto Raio
conseguiria seu resultado pela força de sua fé ardente na sua Deidade
particular e na eficácia da prece a Ela, ao passo que a pessoa do Sétimo Raio
usaria uma elaborada magia cerimonial, e provavelmente invocaria se possível
a assistência de espíritos não-humanos.
Devemos entender que aqui só podemos dar um mero esboço das qualidades
que são agrupadas sob cada Raio, e apenas um fragmento do trabalho que os
Adeptos daqueles Raios estão fazendo, e devemos tomar cuidado ainda para
perceber que a plena posse das qualidades de um Raio em nenhum caso
implica a falta das qualidades dos outros Raios. Se falarmos em um dos
Adeptos como preeminente em força, por exemplo, também será verdadeiro
que Ele obteve nada menos do que a perfeição humana na devoção e no amor
e em todas as outras qualidades também.
185
Já falei um pouco sobre o Mestre Morya, que é o representante do Primeiro
Raio no nível da Iniciação Chohan. Ele permanece com toda a inabalável e
serena força de Seu Raio, tomando uma grande parte no trabalho de guiar
povos e formar nações, sobre o que devo falar mais extensamente no próximo
capítulo. Neste Raio, ainda, está o Mestre a que chamamos Júpiter, atuando
como Guardião da Índia para a Hierarquia, Guardião daquela nação que ao
longo de toda a longa vida da quinta Raça nutriu as sementes de todas as suas
possibilidades e as enviou no devido tempo a cada sub-raça, para que
pudessem crescer e amadurecer e frutificar. Ele também tem um profundo
conhecimento sobre as abstrusas ciências das quais a química e a astronomia
são as cascas exteriores, e neste sentido Seu trabalho é um exemplo da
variedade que pode existir dentro dos limites de um único Raio.
O Quarto Raio está sob os cuidados do Mestre Serápis. Nos primeiros dias da
Sociedade Teosófica costumávamos ouvir falar muito a Seu respeito, por causa
do fato de que Ele em certo período assumiu o treinamento do Coronel Olcott,
quando Seu próprio Mestre, o Mestre Morya, estava temporariamente
envolvido em outros assuntos. Tal intercâmbio de discípulos entre os Mestres,
com fins especiais e temporários, não é raro. A linha especial deste Chohan é a
harmonia e a beleza, e as pessoas que pertencem a este tipo são sempre
infelizes a menos que possam introduzir harmonia em seu ambiente, pois é ao
longo desta linha que fazem a maior parte de seu trabalho. A arte conta muito
neste Raio, e muitos artistas pertencem a ele.
186
Na chefia do Quinto Raio está o Mestre Hilarion, com Sua esplêndida qualidade
de exatidão científica. Noutros tempos Ele foi Jâmblico, da escola
Neoplatônica, e nos deu, através de M.C., as obras Light on the Path e The
Idyll of the White Lotus, sendo Ele, como disse nossa Presidente, um "hábil
artista na prosa poética em inglês e na expressão melodiosa". Sua influência
paira sobre a maior parte dos grandes cientistas do mundo, e as pessoas
avançadas neste Raio são notáveis por sua habilidade em fazer observações
acuradas, e serem absolutamente confiáveis até onde estiver envolvida a
investigação científica. A ciência do Mestre se estende, é claro, muito além do
que usualmente recebe este nome, e Ele conhece e atua com muitas das
forças que a Natureza introduz na vida das pessoas.
187
trabalho já foram definidamente planejados há dois mil anos atrás, e foram
feitos arranjos até mesmo no plano físico para prepará-lo.
O que segue é um sumário das características dos Chohans e Seus Raios, que
incluí em The Science of the Sacraments, com os pensamentos que devem ser
mantidos por aqueles que desejam servir ao longo de Suas respectivas linhas:
Força:
Sabedoria:
Adaptabilidade ou Tato:
188
Beleza e Harmonia:
"Até onde eu puder, trarei beleza e harmonia para minha vida e meu
ambiente, para que eles possam ser mais dignos d'Ele; aprenderei a ver
a beleza em toda Natureza, para que eu possa serví-Lo melhor".
Devoção:
Serviço Ordenado:
Mudanças Cíclicas
189
que nenhum destes Logoi Planetários pode de qualquer forma mudar
astralmente sem com isso afetar os corpos astrais de todas as pessoas do
mundo, embora, é claro, mais especialmente daquelas em que haja uma
preponderância da matéria que O expressa. Se lembrarmos que tomamos o
plano astral meramente como um exemplo, e que exatamente a mesma coisa é
válida para todos os outros planos, então começaremos a ter alguma idéia da
importância para nós das emoções e pensamentos destes Espíritos
Planetários.
O que quer que aconteça, isso é visível na longa história das raças humanas
como mudanças cíclicas no temperamento dos povos e no conseqüente
caráter de suas civilizações. Colocando de lado o pensamento sobre períodos
mundiais e considerando apenas o período de uma única Raça-Raiz,
descobrimos que nela os Sete Raios predominam em turnos alternados (talvez
mais de uma vez cada um), mas no período da predominância de cada Raio
haverá sete subciclos de influência, seguindo uma curiosa regra que exige
alguma explicação.
O Reinado da Devoção
190
O advento do Espiritismo moderno e da devoção ao culto elemental, o qual é
tantas vezes uma característica de suas formas degradadas, podem ser
considerados como uma premonição da influência do Sétimo Raio que está
para chegar, ainda mais que aquele movimento foi originado por uma
sociedade secreta que existe no mundo desde o último período em que o
Sétimo Raio predominou na Atlântida.
191
máximo as condições em que cada pessoa se encontrasse. Se ela o fizesse,
estas condições melhorariam a cada novo nascimento. Não obstante, eles
sempre diziam que a porta para Deus estava aberta para as pessoas de
qualquer casta, se vivessem corretamente, não buscando lutar para melhorar
suas oportunidades, mas cumprindo seu Dharma até o fim no estado de vida
em que Deus as colocara.
Para a mente muito devocional isso pareceria frio e científico, e talvez o fosse;
mas quando o Raio devocional começou a influenciar o mundo houve uma
grande mudança, e o culto da Segunda Pessoa da Trindade, Vishnu,
encarnado como Shri Krishna, veio para o primeiro plano. Então a devoção
irrompeu sem restrições; foi tão extrema que se tornou de muitas maneiras
uma mera orgia de emoções, e é provável que nos dias de hoje exista ainda
maior devoção lá entre os seguidores de Vishnu do que a que poderia ser
encontrada mesmo entre os Cristãos, cuja religião é confessadamente
devocional. A emoção é tão intensa que sua expressão é freqüentemente
desconfortável para nós, de raças mais frias, observar. Tenho visto duros
homens de negócios se lançarem em êxtases de devoção, que os levam a
prorromper em lágrimas e aparentemente se transfigurar e mudar inteiramente
à simples menção do nome do Menino Krishna. Tudo o que foi sentido pelo
Menino Jesus entre as nações ocidentais, é sentido pelo Menino Krishna entre
os Hindus.
Este foi o efeito da devoção sobre uma religião que em si mesma não tinha
nenhum caráter devocional. O Budismo igualmente mal pode ser chamado de
uma fé devocional. A religião Budista foi um presente do Hinduísmo à grande
Quarta Raça, e o ciclo devocional para esta raça não necessariamente coincide
com o nosso. Esta religião não prega a necessidade de preces; ela diz a seu
povo, até onde reconhece a existência de Deus, que Ele conhece Seu trabalho
muito mais do que jamais eles poderiam conhecer; que é completamente inútil
rogar para Ele, ou tentar influenciá-Lo, pois Ele já faz melhor do que as
pessoas podem imaginar. Em Burma os Budistas diriam: "Existe a Luz infinita,
mas ela não é para nós. Algum dia a alcançaremos; por enquanto, nosso
trabalho é seguir o ensinamento de nosso Senhor, e procurar fazer as coisas
que Ele gostaria que fizéssemos".
Não é que eles deixem de acreditar em um Deus, mas que eles colocam Deus
muito longe - infinitamente longe - acima de nós; eles estão tão certos d'Ele
que O tomam como coisa garantida. Os missionários dizem que eles são ateus.
Eu já vivi entre eles e os conheço com mais intimidade do que o missionário
comum, e minha impressão é de que eles não têm nada de ateus em espírito,
mas que sua reverência é grande demais para se colocarem em relações de
familiaridade com Deus, ou, como fazem muitos no ocidente, para falar com
Ele com intimidade como se soubessem com exatidão o que Ele vai fazer e
tudo sobre Sua obra. Isso chocaria o oriental como sendo uma atitude muito
irreverente.
192
O próprio Budismo também foi tocado por este fogo da devoção, e em Burma
eles adoram o Senhor Buda quase como um Deus. Eu percebi isso quando tive
de escrever um catecismo para as crianças Budistas. O Coronel Olcott
escrevera o primeiro catecismo de Budismo, imaginado para o uso das
crianças, mas ele apresentou respostas difíceis de entender mesmo por
pessoas adultas. Consideramos necessário escrever uma introdução para as
crianças, e reservar este catecismo, que era um trabalho esplêndido, para
estudantes mais adiantados. Naquele catecismo ele perguntava: "Buda é um
Deus?", e a resposta era: "Não, não é um Deus, mas um homem como nós,
exceto pelo fato de ser mais avançado". Isso foi plenamente aceito no Ceilão e
no Sião, mas quando chegamos a Burma eles objetaram à resposta negativa,
dizendo: "Ele é maior do que qualquer Deus de que conheçamos qualquer
coisa". A palavra sânscrita para Deus é "Deva", e os Hindus jamais usam
"Deus" no sentido que o fazemos, a menos que estejam falando de Ishvara, ou
da Trindade, Shiva, Vishnu e Brahma.
Quando os missionários falam dos Hinduístas como tendo trinta e três milhões
de deuses (ou trezentos e trinta milhões), a palavra que eles traduzem como
deus é "deva", cujo significado inclui, contudo, uma profusão de seres - anjos,
espíritos da Natureza e outros - mas os Hinduístas não os adoram mais do que
nós o faríamos. Eles sabem que eles existem e simplesmente os catalogam.
Em Burma descobrimos que a devoção se originou daquela forma no seu
Budismo, mas no Ceilão, onde as pessoas são em sua maioria descendentes
de imigrantes Hinduístas, elas lhe dirão, se forem perguntadas por que fazem
oferendas para o Senhor Buda, que é por causa da gratidão pelo que Ele fez
por elas. Quando perguntamos se elas pensavam que Ele sabia disso e ficava
satisfeito, elas disseram: "Oh não! Ele já passou para o Paranirvana, não
esperamos que Ele saiba nada sobre isso, mas devemos a Ele este
conhecimento da Lei que Ele nos ensinou, e por isso perpetuamos o Seu
Nome, e fazemos nossas oferendas por gratidão".
Agora está tendo lugar uma dupla mudança, pois além da troca do Raio de
influência, há também o início da sexta sub-raça, que traz intuição e sabedoria,
mesclando o que de melhor há da inteligência da quinta sub-raça com a
emoção da quarta.
193
O Advento do Cerimonial
O Raio que agora está ganhando força é em grande parte um Raio cerimonial.
Houve muito disso na Idade Média, mas foi principalmente devido à influência
do sétimo sub-raio do Sexto Raio, enquanto que agora se deve ao primeiro
sub-raio do Sétimo; assim ele não será considerado do ponto de vista de seu
efeito devocional, mas antes de sua utilidade em conexão com a grande
evolução Dévica. Ele será mais benéfico quando as pessoas procurarem
entender, até onde possível, o que está se passando.
Na religião moderna o cerimonial está tendo uma parte mais importante a cada
ano que passa. Na metade do século passado (XIX) as igrejas e catedrais na
Inglaterra tinham muito pouca vida própria. As igrejas do interior em geral eram
pouco diferentes de uma capela dissidente; não havia vestes especiais,
nenhum vitral ou decoração de qualquer espécie, e tudo era tão pouco
ornamentado quanto poderia ser. Não se prestava atenção nenhuma em fazer-
se as coisas belas e reverentes e dignas de Deus e de Seu serviço; a pregação
recebia uma atenção maior do que todo o resto, e mesmo ela era elaborada
principalmente de um ponto de vista prático. Se fôssemos entrar hoje nas
mesmas igrejas, dificilmente encontraríamos uma paróquia em semelhantes
condições. O antigo descaso foi substituído pela reverência; as igrejas em
muitos casos foram belamente decoradas, e em muitas delas, especialmente
nas catedrais, as cerimônias são realizadas com minúcia e reverência. Toda a
concepção do serviço eclesiástico mudou.
A Trindade Divina
Sabemos que o Logos de nosso sistema solar - que é aquilo que a maioria das
pessoas têm em mente quando falam de Deus - é uma Trindade; Ele tem, ou
antes é, Três Pessoas; Ele atua através de Três Aspectos. Estes são
chamados de diferentes nomes nas diversas religiões, mas não são
considerados sempre da mesma forma, pois este grandioso esquema da
Trindade tem tantos aspectos que nenhuma religião jamais conseguiu
194
simbolizar toda a verdade. Em algumas crenças temos uma Trindade de Pai,
Mãe e Filho, a qual pelo menos nos é compreensível quando pensamos nos
métodos de geração e interação. Deste tipo temos a de Osíris, Ísis e Hórus no
ensinamento egípcio, e na mitologia escandinava temos Odin, Freya e Thor. Os
assírios e fenícios acreditavam em uma Trindade cujas Pessoas eram Anu, Ea
e Bel. Os druidas chamavam-Nas de Taulac, Fan e Mollac. No Budismo do
Norte nos falam de Amitabha, Avalokiteshvara e Manjushri. Na Kabala dos
Judeus as Três são Kether, Binah e Chokma, e na religião de Zoroastro estão
Ahuramazda, Asha e Vohumano, ou às vezes Ahuramazda, Mithra e Ahriman.
Em todos os lugares é reconhecido o princípio da Trindade, embora as
manifestações difiram.
195
DIAGRAMA 6
196
O trabalho deste departamento é especialmente cuidar das mães do mundo.
Do ponto de vista oculto a maior glória da mulher não é se tornar uma líder na
sociedade, nem conseguir um alto título acadêmico e viver em um apartamento
num insolente isolamento, mas providenciar veículos para os egos que estão a
ponto de encarnar. E isso não é considerado uma coisa para se esconder e
menosprezar, algo de que se deva envergonhar, mas sim como a maior glória
da encarnação feminina, a grande oportunidade que as mulheres têm e os
homens não. Os homens têm outras oportunidades, mas o privilégio realmente
maravilhoso da maternidade não é deles. É a mulher quem faz este grande
trabalho para a ajuda do mundo, para a continuidade da raça, e o faz à custa
de um sofrimento do qual os homens não têm a menor idéia.
Por causa disso, do grande trabalho e do terrível sofrimento que ele acarreta, é
que existe este departamento especial do governo do mundo, e o dever de
seus oficiais é cuidar de cada mulher no tempo de seu sofrimento, e dar-lhe
toda ajuda e força quantas permitam seu karma. Como dissemos, a Mãe do
Mundo tem sob Seu comando vastas hostes de seres angélicos, e no
nascimento de cada criança um deles está presente como Seu representante.
Em cada celebração da Santa Eucaristia acorre um Anjo da Presença, que em
efeito é uma forma-pensamento do próprio Cristo - a forma através da qual Ele
endossa e ratifica o ato de consagração efetuado pelo Sacerdote; assim, é
absolutamente verdadeiro que embora o Cristo seja um e indivisível, não
obstante Ele está presente simultaneamente sobre muitos milhares de altares.
De uma forma um pouco similar, embora, é claro, em um nível muito abaixo, a
própria Mãe do Mundo está, em Seu representante e através dele, presente ao
pé da cama de toda parturiente. Muitas mulheres A têm visto em tais
condições, e muitas que não tiveram o privilégio de vê-La, contudo sentiram a
ajuda e a força que Ela derrama.
É o mais intenso anelo da Mãe do Mundo que cada mulher em sua hora de
provação tenha o melhor ambiente possível - que ela seja envolta no mais
profundo e verdadeiro afeto, que ela seja cheia dos mais santos e nobres
pensamentos, de modo que apenas as mais elevadas influências possam atuar
sobre a criança que está para nascer, de modo que ela tenha um começo de
vida realmente favorável. Não deve esperá-la senão o mais puro e nobre
magnetismo, e é imperativamente necessário que seja observada a mais
escrupulosa limpeza física em todos os detalhes. Somente através da mais
estrita atenção às regras da higiene tais condições favoráveis podem ser
obtidas, que permitam o nascimento de um corpo nobre e saudável, próprio
para a habitação de um ego exaltado.
197
sexo lhes concede, as mulheres desejam ficar livres dos laços do matrimônio a
fim de poderem imitar as vidas e atos dos homens, em vez de tirar proveito de
seus privilégios peculiares. Uma tal linha de pensamento e ação obviamente é
desastrosa para o futuro da raça, pois significa que a maioria dos pais das
classes mais favorecidas não tomam parte em sua perpetuação, mas a deixam
de todo entregue nas mãos dos egos mais indesejáveis e subdesenvolvidos.
Esta é a verdade por trás da doutrina Católica Romana da Assunção; não que
Ela tenha sido levada para o céu entre os Anjos em Seu corpo físico, mas que
quando deixou aquele corpo Ela tomou um lugar entre os Anjos, e sendo
indicada a seguir para o cargo de Mãe do Mundo Ela Se tornou em verdade
uma Rainha entre eles, como a Igreja diz tão poeticamente. Um grande Deva
não necessita de um corpo físico, mas enquanto estiver em Seu posto atual Ela
sempre aparecerá sob forma feminina, o mesmo fazendo os Adeptos que
escolheram ajudá-La em Seu trabalho.
198
serviço que escolheu. Por menos que as pessoas saibam, elas têm derramado
a Seus pés uma pletora de amor tão esplêndida não porque Ela uma vez foi a
mãe de Jesus, mas porque agora Ela é a Mãe de todos os seres vivos.
Não devemos pensar que este conhecimento sobre a Mãe do Mundo seja
posse exclusiva do Cristianismo; Ela é claramente reconhecida na Índia como
Jagat-Amba, e na China como Kwan-Yin, a Mãe da Misericórdia e do
Conhecimento. Ela é essencialmente a imagem, o protótipo e a essência do
amor, da devoção e da pureza; também da sabedoria celestial, de fato, mas
acima de tudo Ela é a Consollatrix Afflictorum, a Consoladora, a Confortadora,
o Adjutório de todos que estão em aflição, na tristeza, na doença ou em
qualquer outra adversidade.
DIAGRAMA 7
Existe ainda uma Trindade similar no caso dos grandes Logoi mais elevados, e
muito além e por trás de tudo que podemos saber ou imaginar há o Absoluto,
cuja representação é também uma Trindade. No outro extremo da escala
encontramos uma Trindade no homem: seu Espírito, sua Intuição e sua
Inteligência, que representam as tríplices qualidades de vontade, sabedoria e
atividade. Esta Trindade no homem é uma imagem daquela outra Trindade
maior, porém é muito mais do que uma imagem. Não só ela simboliza as Três
Pessoas do Logos, mas de algum modo impossível de entender na consciência
199
física, é também uma expressão verdadeira e uma manifestação real daquelas
Três Pessoas neste nível mais baixo.
O Triângulo de Agentes
200
DIAGRAMA 9
Esta última expressão não é uma mera figura retórica, mas descreve um fato
literal, pois no término de cada ciclo de uma Raça-Raiz aqueles que atingiram o
Adeptado dentro dele formam um poderoso organismo, o Homem Celeste, que
em um sentido muito real é uno, e em quem, como no homem terreno, existem
sete grandes centros, cada um dos quais é um grande Adepto. O Manu e o
Bodhisattva ocuparão neste grande Ser o lugar dos centros do cérebro e do
coração, e n'Eles, e como parte d'Eles, gloriosamente unos com Eles, estarão
Seus servos, e a totalidade esplêndida prosseguirá em sua evolução futura até
se tornar um Ministro de alguma futura Deidade Solar. Porém tão
transcendente a toda compreensão é a maravilha disso tudo que esta união
com outros não tolhe a liberdade de nenhum Adepto integrante do Homem
Celeste, nem impede sua atuação bem além de seu escopo.
Até recentemente não era uma regra que o ofício de Mahachohan fosse
ocupado por um Adepto permanente deste grau. Era comum que cada um dos
Chohans, em revezamento, fosse indicado como Líder sobre os outros cinco
Raios, embora fosse obrigado a receber a Iniciação de Mahachohan antes de
201
ocupar aquela posição. No presente, contudo, temos um Chohan a cargo de
cada um dos cinco Raios, e também um Mahachohan em separado para o
conjunto - um desvio do que entendemos ser o método usual que pode ser
devido principalmente ao Advento próximo do Mestre do Mundo.
Nos Raios Três a Sete a mais alta Iniciação que se pode receber em nosso
globo é a de Mahachohan, mas é possível ir além nos Raios Um e Dois, como
indicado na seguinte tabela de Iniciações, onde se pode ver que a Iniciação de
Buda é possível nos Raios Um e Dois, e o Adepto pode ir ainda mais além no
Primeiro Raio.
DIAGRAMA 10
Para que não pareça haver neste fato uma injustiça, deve ficar claro que o
Nirvana é atingível tanto no Primeiro Raio quanto nos outros: qualquer pessoa
chegando ao nível Asekha fica imediatamente livre para entrar nesta condição
de beatitude por um período que nos pareceria uma eternidade; mas ela só
penetra em seu primeiro estágio, o qual, embora exaltado infinitamente além de
nossa compreensão como é, ainda está muito abaixo dos estágios mais
elevados alcançáveis para respectivamente o Chohan e o Mahachohan, ao
passo que estes, por sua vez, empalidecem diante da glória daquelas
subdivisões do estado Nirvânico que atingem aqueles Adeptos que fazem o
tremendo esforço necessário para receber durante a vida terrena as Iniciações
ainda mais altas dos Raios Um e Dois. Também é possível um progresso
ulterior nos outros cinco Raios para aqueles que seguem outras linhas de
trabalho fora de nossa Hierarquia.
Mudança de Raio
202
muito difícil de realizar na prática. Se um estudante pertencente ao Sexto Raio,
ou devocional, desejar transferir-se para o Segundo Raio, o da sabedoria, deve
primeiro tentar colocar-se sob a influência da segunda subdivisão do seu
próprio Sexto Raio. Então ele tentará, perseverante, intensificar a influência
deste sub-raio em sua vida, até que por fim ela se torne dominante. Então, em
vez de estar na segunda subdivisão do Sexto Raio ele se verá na sexta
subdivisão do Segundo Raio; em uma palavra, ele terá temperado sua devoção
pelo aumento do conhecimento até que ela se torne uma devoção à Sabedoria
Divina. Daí ele poderá, se quiser, com um esforço suficientemente intenso e
continuado, transferir-se mais além, para alguma outra subdivisão do Segundo
Raio.
A Perfeita Unidade
A maravilhosa unidade dos membros destes Triângulos com o Logos pode ser
bem ilustrada através do exemplo do Bodhisattva. Vimos que a união do
discípulo com o Mestre é mais íntima do que qualquer outra imaginável na
Terra; ainda mais íntima, pois se dava em um nível ainda mais elevado, era a
união entre o Mestre Kuthumi e Seu Instrutor, o Mestre Dhruva, que por Sua
vez era discípulo do Senhor Maitreya, durante a época em que Este aceitava
discípulos. Portanto o Mestre Kuthumi se tornou também uno com o Senhor
Maitreya, e como naqueles níveis a unidade é ainda mais perfeita, o Mestre
Kuthumi é uno com o Bodhisattva de uma forma mui maravilhosa.
Os Adeptos parecem estar tão acima de nós que mal podemos discernir
qualquer diferença de glória entre os níveis inferiores e superiores. Todos Eles
Se parecem como estrelas acima de nós, apesar de Eles falarem de Si
mesmos como sendo apenas pó sob os pés do Senhor Maitreya. Deve haver
uma enorme diferença lá, mesmo que não possamos percebê-la. Olhamos
para aquelas alturas estupendas e tudo parece ser uma glória ofuscante, onde
não podemos presumir distinguir um como maior que o outro, salvo que pelo
tamanho de Suas auras vemos que deve haver diferenças. Mas pelo menos
podemos compreender que a unidade do Mestre Kuthumi com o Senhor
Maitreya deve ser uma união muito maior e mais real do que qualquer coisa
imaginável nos níveis inferiores.
203
Cristo - um, não pela conversão da Divindade em carne, mas pela elevação da
humanidade até Deus".
O Buda
204
consideram não haver elogio alto demais, nem devoção profunda demais, e
assim como eles consideram estes Mestres a quem contemplamos como não
sendo senão todos divinos em bondade e sabedoria, em consideração ainda
maior eles têm o Buda. Nosso Buda atual foi o primeiro filho de nossa própria
humanidade a atingir aquela altura estupenda, tendo os Budas anteriores sido
produto de outras evoluções, e foi necessário um esforço muito especial de
Sua parte para preparar-Se para esta excelsa função, um esforço tão
estupendo que é constantemente mencionado pelos Budistas como sendo o
Mahabhinishkramana, ou seja, o Grande Sacrifício.
205
não muito agradável. O grande sacrifício que Ele fez foi ter passado milhares
de anos qualificando-Se para ser o primeiro homem de nossa humanidade que
haveria de ajudar seus irmãos ensinando-os a Sabedoria que é vida eterna.
De uma forma que ainda não podemos esperar entender, por causa da grande
tensão destas muitas eras de esforço houve certos aspectos no trabalho do
Senhor Buda que Ele talvez não tenha tido tempo de terminar com perfeição. É
impossível que em tal nível haja qualquer coisa semelhante a um fracasso ou
falha, mas talvez a tensão do passado tenha sido grande demais até mesmo
para um poder como o d'Ele. Não sabemos, mas permanece o fato de que
houve certos assuntos menores a que Ele não pôde dar uma atenção
completa, e portanto Sua vida além-túmulo não foi exatamente a mesma que a
de Seus Predecessores. É comum, como já disse, para um Bodhisattva,
quando Ele viveu Sua vida final e Se tornou Buda - quando Ele entra na glória,
levando sua seara consigo, como se diz nas Escrituras Cristãs - transmitir Seu
trabalho externo inteiramente para as mãos de Seu Sucessor, passando a
devotar-Se aos trabalhos pela humanidade nos níveis mais altos. Quaisquer
que possam ser estas atividades múltiplas de um Dhyani Buda, elas não o
trazem de novo a um nascimento na Terra; mas por causa das circunstâncias
especiais que rodearam a vida do Senhor Gautama, ocorreram duas
diferenças, e foram executados dois atos suplementares.
Os Atos Suplementares
O primeiro foi o envio, por parte do Senhor do Mundo, o Grande Rei, o Iniciador
Único, de um de Seus três Discípulos, todos Eles Senhores da Chama vindos
de Vênus, para que encarnasse quase imediatamente após a conquista do
Budado pelo Senhor Gautama, a fim de que em uma curta vida viajando pela
Índia Ele pudesse estabelecer ali certos centros de religião chamados mathas.
Seu nome nesta encarnação foi Shankaracharya - não aquele que escreveu os
comentários, mas o grande Fundador desta linha, que viveu há mais de dois
mil anos.
206
sistema formalista. Shri Shankaracharya foi também grandemente responsável
pelo desaparecimento dos sacrifícios animais; embora tais sacrifícios ainda
sejam oferecidos na Índia, eles são poucos, e em escala bem reduzida. Além
de Seu ensinamento no plano físico, Shri Shankaracharya realizou certos
trabalhos ocultos relacionados aos planos superiores da natureza que seriam
de grande importância para a vida ulterior da Índia.
O segundo ato suplementar a que me referi foi realizado pelo próprio Senhor
Gautama. Em vez de Se devotar completamente a um trabalho diferente e
superior, Ele permaneceu em contato com este Seu mundo o bastante para ser
alcançado pela invocação de Seu Sucessor quando necessário, de modo que
Seu conselho e ajuda ainda possam ser obtidos em caso de qualquer grande
emergência. Ele também prometeu voltar ao mundo uma vez por ano, no
aniversário de Sua morte, e derramar sobre nós uma torrente de bênçãos.
O Senhor Buda possui o Seu tipo especial de força, que Ele derrama quando
dá Sua bênção ao mundo, e esta bênção é uma coisa única e muito
maravilhosa, pois por causa de Sua autoridade e posição um Buda tem acesso
a planos da natureza completamente além de nosso alcance, e por isso Ele
pode transmutar e transmitir para nosso próprio nível as forças peculiares
àqueles planos. Sem a mediação do Buda estas forças não teriam uso algum
para nós na vida física; suas vibrações são tão tremendas, tão incrivelmente
rápidas, que passariam por nós sem serem percebidas em qualquer dos níveis
que podemos alcançar, e jamais saberíamos de sua existência. Mas através
d'Ele a força da bênção é espalhada por todo o mundo, e ela instantaneamente
encontra para si mesma canais através dos quais possa se derramar (assim
como a água ao encontrar um cano aberto), com isso fortalecendo toda boa
obra e trazendo paz aos corações daqueles que são capazes de recebê-la.
O Festival de Wesak
A ocasião escolhida para esta efusão maravilhosa é a lua cheia do mês indiano
de Vaisakh (chamado no Ceilão de Wesak, e que usualmente corresponde a
maio), que assinala o aniversário de todos os eventos momentosos de Sua
última vida terrena - Seu nascimento, o atingimento do Budado, e Sua partida
do corpo físico.
207
esforço para limitar o número de espectadores, embora seja verdade que se
ouvem histórias sobre grupos de peregrinos que perambularam por anos sem
serem capazes de encontrar o lugar.
O Vale
208
DIAGRAMA 11
209
condescendem em conversar nesta oportunidade com Seus discípulos e outras
pessoas ali presentes. Enquanto isso, aqueles que são especialmente
indicados preparam o altar para a cerimônia cobrindo-o de belas flores, e uma
grande grinalda, tramada com o lótus sagrado, é colocada em cada canto. No
centro é posta uma preciosa taça de ouro trabalhado, cheia de água, e diante
dela fica aberto um espaço sem flores.
A Cerimônia
210
DIAGRAMA 12
DIAGRAMA 13
212
ensinados pelo próprio Senhor Buda, durante Sua vida terrena, para o menino
Chatta:
"O senhor Buda, o Sábio dos Sakyas, é o melhor Mestre dentre toda a
humanidade. Ele cumpriu o que devia ser cumprido, e cruzou para a
outra margem (Nirvana). Ele é cheio de força e energia; a Ele, o Bendito,
eu tomo como meu guia.
"O que for dado aos oito tipos de Nobres Seres, que aos pares formam
os quatro graus, e que conhecem a verdade, verdadeiramente traz
recompensas; a esta Fraternidade de Nobres Seres eu tomo como meu
guia".
213
"Dar esmolas e viver retamente,
ajudar o necessitado,
agir de forma impecável,
esta é a maior das bênçãos;
"Reverência e humildade,
contentamento e gratidão,
ouvir a Lei nas ocasiões prescritas,
esta é a maior das bênçãos;
"Autocontrole e pureza,
o conhecimento das Quatro Grandes Verdades,
a realização do Nirvana,
esta é a maior das bênçãos;
A figura que flutua a cima das colinas tem um tamanho enorme, mas reproduz
com exatidão a forma e as características do corpo em que o Senhor passou
Sua última vida na Terra. Ele aparece sentado, de pernas cruzadas, com as
mãos em atitude de prece, vestido com o manto amarelo de monge Budista,
mas deixando o braço direito desnudo. Nenhuma descrição é capaz de
transmitir uma idéia de Sua face - uma face verdadeiramente divinal, pois
combina a calma com o poder, a sabedoria com o amor, em uma expressão
contendo tudo o que nossas mentes possam imaginar sobre o Divino.
Podemos dizer que sua tez é clara, branco-amarelada, e as feições nitidamente
delineadas; que a testa é ampla e nobre; os olhos, largos, luminosos e de um
azul escuro e profundo; o nariz é levemente aquilino; os lábios, vermelhos e
firmes; mas tudo isso nos apresenta apenas a máscara exterior e permite
termos somente uma vaga noção do conjunto vivo. O cabelo é negro - quase
azeviche - e ondeado; curiosamente, não é nem longo como no costume
214
indiano, nem raspado como os monges orientais, mas é cortado logo antes de
tocar os ombros, repartido ao meio e jogado para trás a partir da testa. Diz-nos
a história que quando o Príncipe Siddartha deixou sua casa para buscar a
verdade, pegou seu cabelo e o puxou para acima de sua cabeça, e o cortou
com um golpe de sua espada, e depois disso ele o manteve do mesmo
comprimento.
Estas cores, exatamente nesta ordem, são descritas nas antigas Escrituras
Budistas como constituindo a aura do Senhor; e quando em 1885 considerou-
se desejável criar uma bandeira especial para os Budistas do Ceilão, nosso
Presidente-Fundador, o Coronel Olcott, consultando nossos irmãos Cingaleses
em Colombo, desenvolveu a idéia de utilizar para ela o mesmo significativo
grupo de cores. O Coronel nos conta (Old Diary Leaves, vol. III, p. 353) que ele
soube, alguns anos mais tarde, pelo Embaixador tibetano junto ao Vice-Rei da
Índia, a quem encontrara em Darjeeling, que estas cores são as mesmas que
as encontradas na bandeira do Dalai Lama. A idéia deste estandarte simbólico
parece ter sido largamente aceita; eu mesmo já o vi em templos Budistas de
lugares tão distantes entre si como Rangun, na Birmânia, e Sacramento, na
Califórnia.
215
destas qualidades por causa do Seu longo trabalho de autodesenvolvimento a
que me referi antes.
Seu núcleo é de uma luz branca ofuscante, assim como no caso do Arhat;
então, eliminando o amarelo, que o oval rosa permaneça em seu lugar, mas
recue para dentro até tocar a borda do branco. Para fora do rosa então
coloquemos o amarelo em vez do azul; por fora do verde um anel de azul, e
por fora deste o violeta, como no livro, mas por fora do violeta novamente uma
faixa larga do mais glorioso rosa pálido, onde se mescla suavemente o violeta.
Por fora de tudo vêm a radiação de cores mescladas, assim como no livro. Os
raios de luz branca irradiam da mesma forma, mas parecem levemente tingidos
com o onipresente rosado. Toda a aura dá a impressão de ser banhada do
rosa mais delicado e brilhante, semelhante à prancha XI em Man Visible and
Invisible.
Um ponto que parece digno de nota é que nesta aura as cores aparecem
exatamente na mesma ordem do espectro solar, embora estejam omitidos o
laranja e o índigo. Primeiro o rosa (que é uma forma de vermelho), então o
amarelo, tornando para verde, azul e violeta, sucessivamente. E então passa
para ultravioleta, mesclando-se a rosa - o espectro reiniciando em uma oitava
mais alta, assim como o astral mais baixo segue o físico mais alto.
É claro que esta descrição é muito pobre, mas parece ser a melhor que
podemos fazer. Deve ser entendido que a aura existe em muitas dimensões
além das que podemos representar graficamente. A fim de dar essa descrição
tentei fazer algo semelhante a uma secção tridimensional. Mas é sábio
lembrarmos que é absolutamente possível fazermos uma outra secção em
ângulo ligeiramente diferente, o que nos mostraria resultados um pouco
divergentes, mas mesmo assim verdadeiros. É inútil tentarmos explicar no
plano físico as realidades dos mundos superiores.
216
Quando isso termina, brilha em Sua face um sorriso de amor inefável, e Ele
ergue Sua mão direita em atitude de bênção, enquanto uma grande chuva de
flores cai sobre o povo. Novamente os membros da Fraternidade se ajoelham.
Novamente a multidão se prostra, e a figura lentamente se dissipa no céu,
enquanto a multidão se levanta gritando de alegria e louvor. Os membros da
Fraternidade se aproximam do Senhor Maitreya na ordem de sua admissão, e
cada um prova da água da taça, e o povo faz o mesmo com a sua, guardando
o resto para levar para casa em seus odres como uma água benta para afastar
todas as más influências de seus lares, ou talvez para curar os doentes. Então
a grande multidão se despede com cumprimentos mútuos, e o povo leva para
suas longínquas moradas a lembrança imorredoura da maravilhosa cerimônia
de que participaram.
Os Predecessores de Buda
Quem tem o privilégio de ver isso - e, lembremos, todos nós, um dia, o teremos
- o faz de acordo com o ponto de vista especial de sua própria crença. Portanto
São João viu o que esperava ver, os vinte e quatro Anciãos da tradição
Judaica. Este número, vinte e quatro, assinala a data em que a cena foi vista
pela primeira vez, ou antes, a data em que a idéia Judaica desta glória foi
formulada pela primeira vez. Se pudéssemos hoje nos elevar em Espírito, e
pudéssemos ver esta glória inefável, veríamos não vinte e quatro, mas vinte e
cinco Anciãos, pois um outro Buda apareceu depois que a visão se cristalizou
no esquema Judaico de pensamento superior. Pois aqueles Anciãos são os
grandes Mestres que ensinaram os mundos nesta nossa Ronda. Há sete
Budas para cada mundo; isso perfaz vinte e um para os três mundos que já
passamos, e então o Senhor Gautama tornou-Se o quarto Buda deste mundo.
Portanto, eram vinte e quatro os Anciãos naquele tempo, mas se hoje Os
pudéssemos ver novamente seriam vinte e cinco.
Lembro que quando criança eu ficava maravilhado de como isso podia ser.
Parecia-me uma coisa estranha que aqueles homens estivessem
constantemente a lançar suas coroas, e que ainda tivessem coroas para
continuar lançando. Eu não podia entender isso, e ficava perplexo sobre de que
forma que as coroas voltariam para as suas cabeças, para que pudesse jogá-
las de novo. Tais idéias ligeiramente ridículas talvez não sejam antinaturais em
uma criança, mas elas desaparecem quando chega o entendimento. Se já
vimos imagens do Senhor Buda devemos ter notado que por cima do topo de
217
Sua cabeça usualmente há uma pequena projeção ou cone. É como uma
coroa, de cor dourada, que representa a efusão de força espiritual a partir do
chamado chakra sahasrara, o centro no topo da cabeça humana - o lótus de
mil pétalas, como é poeticamente denominado nos livros orientais (Vide The
Chakras, deste autor, publicado por The Theosophical Publishing House,
Adyar, Madras).
O Bodhisattva Maitreya
Ele próprio apareceu duas vezes - como Krishna nas planícies indianas, e
como Cristo nas colinas da Palestina. Na encarnação como Krishna a grande
característica foi sempre o amor; o Menino Krishna atraiu em Seu redor
pessoas que sentiam por Ele o mais profundo e intenso afeto. Novamente, em
Seu nascimento na Palestina, o amor foi a característica central de Seu
ensinamento. Ele disse: "Agora vos dou um novo mandamento, que vos ameis
uns aos outros como eu vos tenho amado". Ele quis que Seus discípulos
pudessem ser unos com Ele assim como Ele era uno com o Pai. Seu discípulo
mais íntimo, São João, insistiu fortemente sobre o mesmo ponto: "Aquele que
não ama não conhece Deus, pois Deus é amor".
218
Os leitores do Bhagavad Gita também lembrarão do ensinamento de amor e
devoção de que ele está repleto. O Bodhisattva também ocupou
ocasionalmente o corpo de Tsong-ka-pa, o grande reformador religioso
tibetano, e ao longo dos séculos Ele enviou uma sucessão de discípulos Seus,
incluindo Nagarjuna, Aryasanga, Ramanujacharya, Madhavacharya, e muitos
outros, que fundaram novas seitas ou lançaram novas luzes sobre os mistérios
da religião, e entre estes Seus discípulos estava aquele que fundou a religião
Muçulmana.
Ele virá para a Terra muitas vezes mais durante o progresso da Raça Raiz,
fundando muitas religiões novas, e cada vez atraindo ao Seu redor homens de
todas as raças que estejam preparados para seguí-Lo, e dentre estes Ele
escolherá alguns que possa atrair para uma relação ainda mais íntima, alguns
que são discípulos em um sentido muito profundo. Então, perto do final da
Raça, quando esta já tiver ultrapassado seu zênite e uma nova estiver
começando a dominar o mundo, Ele arranjará que todos os Seus discípulos
especiais, que O seguiram em encarnações anteriores, nasçam no mesmo
período de Sua última vida terrena.
Nesta vida Ele atingirá a grande Iniciação de Buda, e assim obterá uma
iluminação perfeita; a esta altura estes discípulos Seus, sem lembrarem d'Ele
fisicamente, serão todos fortemente atraídos para Ele, e sob Sua influência
grande número deles entrará na Senda, e muitos avançarão para estágios
superiores, tendo já em encarnações prévias feito progressos consideráveis.
De início pensamos que os relatos deixados nos livros Budistas, a respeito o
grande número de pessoas que obtiveram o Arhatado instantaneamente
quando o Senhor Gautama se tornou Buda, estavam além dos limites do
possível; mas em um exame mais cuidadoso descobrimos a verdade que jazia
por trás destes relatos. É possível que os números tenham sido exagerados,
mas sem dúvida é fato que muitos discípulos subitamente atingiram estes altos
níveis simplesmente em virtude impulso gerado pelo imenso magnetismo e
poder do Buda.
219
O Festival de Asala
Além do grande Festival de Wesak, há uma outra ocasião anual quando todos
os membros da Fraternidade se reúnem oficialmente. Neste caso o encontro
acontece usualmente na residência particular do Senhor Maitreya, situada
também nos Himalaias, mas no flanco sul em vez de no flanco norte. Nesta
ocasião nenhum peregrino está presente em corpo físico, mas todos os
visitantes astrais que sabem da celebração são bem-vindos para assistí-la. Ela
se dá na lua cheia do mês de Asala (Asâdha em sânscrito), usualmente
correspondendo ao nosso mês de julho.
Em Seu amor por Seu grande Predecessor, o Senhor Maitreya ordenou que
sempre que chegasse o aniversário desta primeira prédica o mesmo sermão
deveria ser recitado em presença da Fraternidade reunida, e Ele, via de regra,
acrescenta uma pequena mensagem própria, expondo-o e aplicando-o. A récita
do sermão começa no momento da lua cheia, e a leitura e os comentários
adicionais usualmente encerram ao fim de meia hora. O Senhor Maitreya
geralmente assume Seu lugar no assento de mármore que está colocado na
beira do terraço do adorável jardim que fica bem em frente à Sua casa. Os
Oficiais mais graduados se sentam ao Seu redor, enquanto que os demais se
agrupam no jardim, poucos metros abaixo. Nesta ocasião, assim como na
outra, há muitas vezes oportunidade para agradáveis conversas, e os Mestres
distribuem amáveis cumprimentos e bênçãos entre Seus discípulos e aqueles
que aspiram a ser Seus discípulos.
Pode ser útil fazer uma descrição da cerimônia e do que usualmente é dito
nestes Festivais, embora seja, é claro, completamente impossível reproduzir a
maravilha e a beleza da eloqüência das palavras do senhor Maitreya em tais
ocasiões. O relato que segue não tenta reproduzir nenhum discurso específico,
é antes uma combinação de, receio, fragmentos imperfeitamente relembrados,
alguns dos quais já tendo aparecido em outros lugares; mas para aqueles que
não os ouviram antes darei uma idéia da linha geralmente seguida
220
temos a impressão de que ele foi construído com um propósito especial - para
que pudesse ser facilmente lembrado. Seus pontos são arranjados de forma
seqüencial, de modo que quando um ponto é mencionado ele já leva ao
seguinte, num jogo mnemônico eficiente, e para os Budistas cada uma destas
palavras separadas sugere todo um corpo de idéias relacionadas, e assim o
sermão, curto e simples como é, contém uma explicação e toda uma regra de
vida.
Poderíamos pensar que tudo que pode ser dito sobre o sermão já foi dito
muitas vezes; porém o Senhor, com Sua maravilhosa eloqüência, e da forma
que Ele o apresenta, a cada ano traz ao sermão uma nota nova, e cada pessoa
sente sua mensagem como se fora especialmente endereçada a ela. Nesta
ocasião, assim como na pregação original, repete-se o milagre Pentecostal. O
Senhor fala no sonoro páli original, mas todos os presentes o ouvem "na língua
em que nasceram", como se diz no Ato dos Apóstolos.
A Tristeza ou Sofrimento
A Causa da Tristeza
221
mesmo vale para a Mônada do homem; ela sem dúvida faz um grande
sacrifício quando entra em contato com a matéria inferior, quando paira sobre
ela pelas longas eras de seu desenvolvimento até o nível humano, quando ela
desce um pequeno fragmento de si mesma (como que a ponta de um dedo) e
com isso forma um ego, ou alma individual.
Há um outro sentido em que a vida é muitas vezes uma tristeza, mas um tipo
de tristeza que pode ser inteiramente evitado. O homem que vive a vida
comum do mundo muitas vezes se encontra aflito de várias maneiras. Não
seria verídico dizer que ele está sempre triste, mas que freqüentemente está
ansioso, e que está propenso a cair a qualquer momento em grande tristeza ou
ansiedade. A razão para isso é que ele está cheio de desejos inferiores de
vários tipos, não todos necessariamente maus, mas desejos por coisas baixas,
e por causa destes desejos ele permanece atado e confinado aqui embaixo.
Ele está constantemente tentando obter alguma coisa que não possui, e fica
cheio de ansiedade sobre se a obterá ou não, e quando a consegue, fica
ansioso temendo perdê-la. Isso vale não só para o dinheiro, mas também para
posição e poder, fama e progresso social. Todos estes desejos causam
problemas incessantes de muitas formas diferentes. Não é só a ansiedade
individual do homem que tem ou não algum objeto de desejo geral, temos de
levar em conta ainda toda a inveja e ciúme e maus sentimentos causados nos
corações dos outros que estão lutando pelo mesmo objeto.
222
de ocultismo deve tentar ascender um pouco acima do nível do homem comum
- doutra forma como ele poderia ajudá-lo? Devemos ascender acima daquele
nível a fim de podermos estender-lhe uma mão auxiliadora. Não devemos
anelar pelo natural (no sentido de comum), mas pelo sobrenatural.
Vimos que a Causa da Tristeza é sempre o desejo. Se uma pessoa não tem
desejos, se não está lutando por uma posição, poder ou riqueza, então estará
tranqüila quando a riqueza ou posição vierem e quando se forem. Permanece
inabalada e serena porque não se importa. Sendo humana, obviamente
desejará isso ou aquilo, mas sempre com suavidade e gentileza, para que não
se permita ser perturbada. Sabemos, por exemplo, quantas vezes as pessoas
ficam prostradas pela tristeza quando perdem aqueles a quem amam por
causa da morte. Mas se seu afeto estiver no nível mais elevado, se amarem
seu amigo e não o corpo do seu amigo, não poderá haver sentimento de
separação, e por conseguinte não haverá tristeza. Se estiverem cheios de
desejo por contato corporal com aquele amigo no plano físico, então de
imediato aquele desejo causará tristeza. Mas se elas puserem de lado este
desejo e viverem na comunhão da vida superior, a dor desvanecerá.
223
aqueles torvelinhos, que poderiam fazer os outros cair, passarem suavemente,
mantendo-nos calmos e contentes. Se levarmos esta vida inferior com filosofia
veremos que para nós terminam quase todas as tristezas.
Pode haver alguns que considerem esta atitude inatingível. Não é assim, pois
se o fosse o Senhor Buda jamais a teria aconselhado para nós. Todos nós
podemos conquistá-la, e deveríamos fazê-lo, pois somente quando a
conquistarmos poderemos real e efetivamente ajudar nossos irmãos.
O Caminho que leva à Fuga da Tristeza. Ele nos é exposto no que é chamado
a Nobre Senda Óctupla - outra daquelas maravilhosas classificações ou
categorizações do Senhor Buda. É uma apresentação muito bela, pois pode
ser aplicada a todos os níveis. O homem do mundo, mesmo o inculto, pode
tomar seus aspectos inferiores e encontrar um caminho para a paz e o conforto
através dela. E mesmo o mais erudito filósofo pode também aceitá-la e
interpretá-la no seu nível e aprender muito com ela.
Um destes pontos é a eterna Lei de Causa e Efeito. Se uma pessoa vive sob a
ilusão de que pode fazer tudo o que quiser, e que os efeitos de suas ações
jamais voltarão para ela, certamente descobrirá que algumas destas ações
eventualmente a envolverão em infelicidade e sofrimento. Se, ainda, ela não
entende que o objetivo da vida é o progresso, que a Vontade de Deus para ela
é que ela cresça para ser algo melhor do que é agora, então ela atrairá
infelicidade e sofrimento para si mesma, pois provavelmente viverá apenas o
lado inferior da vida, e este lado jamais pode, em última análise, satisfazer o
homem interno. Então segue-se que ela deva conhecer pelo menos um pouco
destas grandes leis da Natureza, e se não puder ainda verificá-las por si
mesma será bom que acredite nelas. Mais tarde, e em um nível superior, antes
que a segunda Iniciação possa ser obtida, dizem-nos que devemos eliminar
toda a dúvida.
224
ela passa por muitas vidas, ascendendo gradualmente cada vez mais, e que há
uma Lei de Justiça Eterna à qual todas as coisas estão sujeitas". Neste estágio
a pessoa deve eliminar toda a dúvida, e deve completa e internamente
convencer-se destas coisas; mas para o homem do mundo é bom que ele pelo
menos acredite nelas, pois se não tomá-las como guia para a vida não poderá
chegar muito longe.
225
pensamento sobre estas pessoas não é Reto Pensamento, não só porque não
é caridoso, mas também porque não é verdadeiro. Estamos olhando só para
um lado da pessoa e ignoramos o outro lado. Além disso, fixando nossa
atenção no lado mau em vez de no lado bom, fortalecemos e encorajamos este
mal, ao passo que pelo Reto Pensamento poderíamos dar exatamente o
mesmo encorajamento para o lado bom da natureza das pessoas.
Além disso, a fala deve ser gentil, e deve ser direta e conveniente, jamais tola.
Uma grande parte do mundo vive sob a ilusão de que deve manter
conversações, que é excêntrico ou descortês não estar perpetuamente
tagarelando. A idéia parece ser de que quando encontramos um amigo
devemos ficar o tempo todo conversando, senão o amigo se ofenderá.
Lembremos que quando Cristo andou pela Terra, deixou um mandamento
bastante claro de que a pessoa seria responsabilizada por toda palavra ociosa
que proferisse. A palavra ociosa muitas vezes é maldosa, mas bem além disso,
mesmo palavras ociosas inocentes envolvem perda de tempo; se devemos
falar, pelo menos digamos algo útil e proveitoso. Algumas pessoas, desejando
parecer espertas, mantêm uma constante corrente de conversa mais ou menos
jocosa ou irônica. Ficam sempre zombando do que os outros dizem. Parecem
estar sempre mostrando as coisas sob seu aspecto ridículo ou engraçado.
Certamente tudo isso se alinha sob a classificação de palavras ociosas, e sem
dúvida é seriamente necessário que exerçamos uma extraordinária vigilância
neste assunto da Reta Fala (NOTA - A respeito da Reta Fala o estudante pode
consultar ainda o Eclesiástico, capítulo XXIX, 6-17).
O próximo passo é a Reta Ação. De imediato vemos que estes três passos
necessariamente seguem-se um ao outro. Se pensamos sempre coisas boas,
certamente não falaremos coisas más, pois falamos o que existe em nossas
mentes, e se nosso pensamento e fala são bons, então a ação que segue será
boa também. A ação deve ser rápida, mas ao mesmo tempo ponderada. Todos
nós conhecemos alguma pessoa que, quando surge uma emergência, parece
ficar perplexa; perde a iniciativa e não sabe o que fazer, e ainda fica no
226
caminho daqueles que têm cérebros funcionando melhor. Outros se lançam em
uma ação impulsiva sem o menor pensamento a respeito. Aprendamos a
pensar agilmente e a agir com presteza, mas sempre ponderadamente. Acima
de tudo, que a ação seja sempre altruísta, que jamais tenha como móvel a
menor das considerações pessoais. Isso é muito difícil para a maioria das
pessoas, mas é um poder que deve ser adquirido. Nós que tentamos viver para
o Mestre temos muitas oportunidades, em nosso trabalho, de colocar em
prática esta idéia. Devemos todos pensar apenas no que é melhor para o
trabalho e no que podemos fazer para ajudar os outros, e devemos colocar de
lado quaisquer considerações pessoais. Não devemos pensar em que parte do
trabalho gostaríamos de atuar, mas devemos fazer o melhor possível na parte
que nos for delegada.
Hoje em dia poucas pessoas vivem por espontânea vontade como os monges
e eremitas costumavam viver. Vivemos entre outros, de modo que o que
pensarmos ou dissermos ou fizermos necessariamente afetará muitas pessoas.
Devemos ter sempre em mente que nosso pensamento, nossa fala e nossa
ação não são meras qualidades, mas sim poderes - poderes dados a nós para
uso, uso pelo qual somos os responsáveis diretos. Todos devem ser
empregados no serviço, e usá-los de outra forma seria falhar em nosso dever.
Esta idéia vai ainda mais longe. Tomemos o caso do mercador que no
desempenho de seu ofício é desonesto. Isso não é um Reto Meio de Vida, pois
seu comércio não é justo e ele engana as pessoas. Se um mercador negocia
com justiça, comprando artigos por atacado e vendendo a varejo com um lucro
razoável, isso seria um Reto Meio de Vida; mas no momento em que ele
começa a fraudar as pessoas e vender artigos inferiores como sendo bons ele
as está enganando. Um meio de vida reto pode ser tornar errado se tratado de
forma errada. Devemos negociar com as pessoas tão honestamente quanto
gostaríamos que negociassem conosco. Se a pessoa comercia certo tipo de
gêneros, ela deve ter um conhecimento específico sobre esta área. O cliente
confia no vendedor, porque ele mesmo não possui aquele conhecimento
especial. Quando nos confiamos a um médico ou advogado, esperamos ser
tratados com honestidade. Da mesmíssima forma um cliente chega ao
vendedor, e portanto este último deveria ser tão honesto com o seu cliente
quanto o médico ou o advogado são com os deles. Quando uma pessoa confia
em nós desta maneira, é nosso dever de honra fazer o melhor por ela. Temos o
direito de tirar um lucro razoável no decurso do negócio, mas devemos também
cuidar de nosso dever.
227
O sexto passo é Reto Esforço ou Reto Empenho, e é bem importante. Não
devemos nos contentar em sermos negativamente bons. O que é desejado de
nós não é a mera ausência de mal, mas a positiva prática do bem. Quando o
Senhor Buda fez aquela maravilhosa e curta apresentação de sua doutrina em
um único verso, Ele começou dizendo: "Cessa de fazer o mal", mas a seguir
ajuntou: "Aprende a fazer o bem". Não é bastante sermos passivamente bons.
Há muitas pessoas boas que mesmo assim não conquistam nada.
Cada pessoa tem uma determinada quantidade de força, não só física, mas
também mental. Quando temos à nossa frente um dia de trabalho, sabemos
que devemos reservar nossa força para ele, e por isso antes de começarmos
não devemos empreender nada que nos esgote, a fim de que o trabalho do dia
possa ser feito a contento. Da mesma forma, temos uma certa quantidade de
força de vontade e da mente, e podemos realizar apenas uma certa quantidade
de trabalho nestes níveis, portanto devemos cuidar como gastamos este poder.
Há outros poderes também. Cada pessoa tem uma certa influência entre seus
amigos e conhecidos. Esta influência significa poder, e somos responsáveis por
fazermos um bom uso deste poder. Em nosso redor encontramos crianças,
conhecidos, secretários, trabalhadores, servos, e sobre todos estes temos
certa influência, pelo menos através do exemplo; devemos cuidar do que
fazemos e dizemos, pois os outros nos imitarão.
Reto Esforço significa colocarmos nosso trabalho ao longo de linhas úteis, sem
desperdiçá-lo. Há muitas coisas que podem ser feitas, mas algumas delas são
imediatas e mais urgentes que as outras. Devemos olhar em torno e procurar
onde nosso esforço seja mais útil. Não é bom que todos façam a mesma coisa,
é mais sábio que o trabalho seja dividido entre nós de modo que possa ser
perfeitamente equilibrado e não deixado em uma condição unilateral. Em todos
estes assuntos devemos usar nossa razão e bom senso.
228
continuaria a dizer que tal pessoa lhe tratou mal; isso se agravará em sua
mente. Mas que bem lhe trará? Obviamente nenhum, só a aborrecerá e
manterá vivo em sua mente um mau pensamento. Certamente isso não é Reta
Memória. Devemos imediatamente esquecer e perdoar o mal que nos fazem,
mas devemos manter sempre na mente a gentileza que recebemos, pois isso
encherá nossa mente de amor e gratidão. Com certeza todos havemos de ter
cometido muitos erros, é bom lembrarmos deles para que não os repitamos,
mas ir além disso e os ficar remoendo, sempre enchendo nossa mente de
remorso e tristeza por sua causa não é Reta Memória.
O ensinamento dado acima sobre a Reta Memória foi muito bem ilustrado em
alguns versos de S.E.G., que seguem abaixo:
229
estou certo de que uma declaração destas, feita sem reservas, seja
inteiramente verdadeira. Não podemos manter nossas consciências sempre
fora do plano físico, lá nos níveis superiores, porém é possível viver uma vida
de meditação no sentido de que as coisas superiores estejam sempre tão
poderosamente presentes no pano de fundo de nossas mentes que, assim
como eu falei sobre o Reto Pensamento, elas de pronto passem para o
primeiro plano quando a mente não se encontrar ocupada com outra coisa.
Nossa vida então será de fato uma vida de meditação perpétua sobre os
objetos mais nobres e elevados, interrompida aqui e ali pela necessidade de
colocar nossos pensamentos em prática da vida diária.
Este é o ensinamento do Senhor Buda assim como Ele o deu naquele primeiro
Sermão; é sobre este ensinamento que está fundado o Reino universal da
Retidão, cujas Rodas de sua Carruagem Real Ele colocou em marcha pela
primeira vez naquele Festival de Asala há tantos séculos passados.
O Senhor do Mundo
230
todas as outras criaturas ligadas à Terra. Ele, é claro, é inteiramente distinto
daquela grande Entidade chamada de Espírito da Terra, que usa nosso globo
como corpo físico.
231
Uma vez a cada sete anos o Senhor do Mundo conduz em Shamballa uma
grande cerimônia, um pouco semelhante ao evento de Wesak, mas em uma
escala ainda mais grandiosa e de um tipo diverso, quando todos os Adeptos e
mesmo alguns Iniciados abaixo deste grau são convidados, e têm assim a
oportunidade de entrar em contato com Seu grande Líder. Em outras ocasiões
Ele trata apenas com os Chefes da Hierarquia Oficial, salvo quando por razões
especiais Ele convoca outros à Sua presença.
232
"Então, com o espantoso rugido produzido pela vertiginosa descida a
partir de alturas incalculáveis, rodeados de fulgurantes massas de fogo
que encheram o céu de labaredas, irrompeu dos espaços aéreos a
carruagem dos Filhos do Fogo, os Senhores da Chama vindos de
Vênus; ela se deteve, pairando sobre a Ilha Branca, que jazia sorridente
no seio do Mar de Gobi; ela estava verdejante, e brilhava com uma
profusão de flores multicoloridas: era a Terra oferecendo o que tinha de
melhor e mais belo em boas vindas ao seu Rei que chegava. Lá ficou
Ele, 'o Mancebo de dezesseis verões', Sanat Kumara, o 'Eterno Donzel',
o novo Regente da Terra, ao chegar em Seu reino, trazendo consigo
Seus três Discípulos, os Kumaras, e Seus Auxiliares; lá estavam trinta
poderosos Seres, grandes demais para que a Terra os reconhecesse,
em ordem graduada, vestindo corpos gloriosos que haviam criado
através de Kriyashakti, a primeira Hierarquia Oculta, ramos da Árvore
Banyan única, o berçário dos futuros Adeptos, o centro de toda a vida
oculta. Sua morada era e é a imperecível Terra Sagrada, sobre a qual
brilha eterna a Estrela Fulgurante, o símbolo do Monarca Terrestre, o
Pólo imutável em torno do qual gira sempre a vida de nosso planeta"
(op. cit., p. 101).
233
"Foi sob a direta e silente orientação deste Maha-Guru que vieram todos
estes outros Mestres e Instrutores da humanidade menos divinos, desde
o primeiro despertar da consciência humana, como guias da
Humanidade nascente. Foi através destes 'Filhos de Deus' que a
Humanidade infante aprendeu suas primeiras noções de todas as artes
e ciências, bem como do conhecimento espiritual; e foram Eles que
lançaram as primeiras pedras daquelas antigas civilizações que tanto
confundem nossa moderna geração de estudantes e acadêmicos" (op.
cit., 4.ª ed., vol. 1, p. 256).
O passo seguinte, a Iniciação que ninguém pode conferir, mas que cada um
deve tomar por Si mesmo, coloca o Adepto no nível de Senhor do Mundo, um
Posto que Ele assume pela primeira vez por um período mais curto, como
Primeiro ou Segundo Senhor de um Mundo, e quando este encerra, passa para
a responsabilidade maior de Terceiro Senhor do Mundo em um outro globo.
Mesmo estando muito acima de nós como está todo o esplendor destas
grandes alturas, vale a pena elevarmos nosso pensamento para elas e
tentarmos compreendê-las um pouco. Elas mostram a meta para todos nós, e
quanto mais clara for nossa visão dela mais rápido e constante será nosso
progresso em sua direção, embora não possamos esperar todos nós realizar o
antigo ideal a este respeito, e voar como uma flecha até o alvo.
234
No curso de todo este grande processo todas as pessoas algum dia chegarão
em plena consciência até o mais elevado destes nossos planos, o plano Divino,
e estarão conscientes simultaneamente em todos os níveis deste plano
Prakrítico Cósmico, e tendo assim em Si mesmas o poder do mais alto, serão
capazes de compreender e atuar no mais baixo, e ajudar onde a ajuda for
necessária. Esta onipotência e onipresença com certeza está à espera de cada
um de nós, e embora esta vida inferior possa não ser digna de ser vivida por
nada que possamos ganhar dela para nós mesmos, ainda assim é
magnificamente digna de ser suportada como um estágio necessário para a
vida verdadeira que está à nossa frente. "O olho não viu, nem percebeu o
ouvido, nem o coração humano chegou a conceber as coisas que Deus
preparou para aqueles que O amam", pois o amor de Deus, a sabedoria de
Deus, o poder de Deus e a glória de Deus ultrapassam todo o entendimento,
assim como a Sua paz.
235