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SĀMKHYA E VEDĀNTA

Sāmkhya e
Vedānta

IGOR LOVATO
bhagavadgita.igor@gmail.com
SĀMKHYA E VEDĀNTA

O Sāmkhya foi o mais antigo sistema filosófico a explicar cientificamente esse segredo: a
imortalidade da alma. Antes de Kapila (lendário expoente desse sistema filosófico,
darśana) isso era um segredo revelado somente para iniciados e seres muitos especiais.
A Vedānta também explica esse mistério. Que eu saiba não existe um trabalho famoso
em sânscrito comparando o vedānta, o sāmkhya e o yoga. Esses sistemas têm vários
pontos de intersecção e na verdade estão ensinando a mesma lição por caminhos
ligeiramente diferentes.
                 
O Vedānta ensina que a última realidade do universo é Brahman, a divindade da qual
nada pode ser predicado, quer dizer: não temos como explicar Deus, pois ele é infinito e
nossa mente é finita. Como podemos por 16 litros numa garrafa de 1 litro? A única coisa
que se pode dizer para as pessoas é que Brahman é sat-chit-ananda, existência
absoluta / inteligência (ou consciência) infinita / e felicidade eterna. Ātma é uma fração
aparentemente individualizada de Brahman, mas essa divisão é só aparente, pois Ātma é
Brahman e Brahman é Ātma. O Sol iluminando uma `gota de orvalho numa pétala de flor`
parece individualizado, mas aquele simples raio ‘É’ o próprio glorioso Sol.
                 
Também não devemos confundir Brahman a divindade impessoal, com Brahma que é a
divindade criadora da trindade. Aliás, essa trindade Brahma, o criador, Vishnu, o
mantenedor e Śiva, o destruidor é uma simplificação enciclopédica para dar uma
‘explicação’ sucinta para ocidentais.
                 
Para o Vedānta, o Ātma é a partícula divina no Ser Humano, é aquilo que nos dá vida, é a
vida mesmo, é a divindade habitando nesse corpo mortal, e todo o trabalho do yoga é ir
retirando os véus e coberturas que ocultam o divino dentro do homem.

O Sāmkhya tem uma cosmologia ligeiramente diferente por isso trabalha com outra
nomenclatura. O Ser vivo e divino é chamado Purusha. Existem incontáveis Purusha(s) em
diferentes estágios evolucionários e todos caminham para libertação desse estágio de
existência condicionada à matéria.
                 
Então no momento da libertação da alma o Ātma se une a Brahman ou Alma Universal,
do qual na verdade ele nunca foi separado nem diferente. Já para o Sāmkhya o Purusha
individual se liberta do ciclo de reencarnações e vive junto ao Purusha Universal,
mantendo sua individualidade preservada de certa forma, mas compartilhando da
existência divina.

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Śrī Ramakrishna explica que uma boneca de sal queria conhecer o mar, mas assim que
ela mergulhou nas águas se fundiu com o oceano, passou a ser um com oceano, porque
sua essência sempre foi a mesma do mar. Essa é a forma Vedānta Advaita (monista) de
explicar. O Sāmkhya explica ligeiramente diferente. Diz assim: uma vela acesa na
presença do Sol não muda nada a luminosidade do local, mas de qualquer maneira a
velinha mantem sua ‘individualidade’ luminosa. Se você somar qualquer número ao
infinito vai dar... infinito. Tem um livro chamado “Introduction to Mathematical Philosophy”
do genial filósofo e matemático Bertrand Russel, ateu declarado e mais puro que muitos e
muitos que se declaram religiosos. Swami Vivekananda fala que é melhor ser um ateu
declarado do que um hipócrita. Nesse livro (Int. Math. Phil.) ele fala (entre outras coisas)
muito sobre a matemática do infinito. Sem perceber, Bertrand Russel, um ateu, dá uma
explicação matemática de Deus.
                 
Nós só saberemos exatamente como isso é de verdade no dia iluminação, e aquele que
atingiu esse estado abençoado não está nem aí para sutilezas acadêmicas, ele sente e
vê tudo claramente... Para que ficar com bobagens teóricas?
                 
O Sāmkhya também tem o mérito de ter resolvido definitivamente a grande questão
metafísica da cosmogênese: O mundo é um pensamento de Deus! Eureka.

O Sāmkhya também explica o funcionamento da mente de uma forma científica que foi
adotado por todo o pensamento Hindu. Assim como o aparelho respiratório toma ar do
ambiente, metaboliza a respiração, e devolve ar ‘respirado’ ao meio ambiente. Assim
também a mente humana. A mente (latu sensu) não trabalha a partir do nada para
produzir pensamentos. Chitta 󰏏च󰊸 é uma palavra que não tem correspondente nas
línguas ocidentais porque nós não tínhamos esse conceito.

Então vamos ter de traduzir chitta por ‘substância mental’, ou seja, o material a partir do
qual construímos nossos pensamentos. A mente humana (manas मनस्) então toma
substância mental do ambiente, processa pensamentos, e devolve chitta, ou substância
mental processada ao meio ambiente.

Quando a gente sabe como isso funciona, nós começamos a observar o seu funcionando
no nosso dia a dia. Quando a gente entra num lugar e sente o clima pesado, um astral
negativo, coisas assim... na verdade a gente está percebendo o astral por conta dos

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fragmentos de chitta (substância mental) carregados de pensamentos negativos, raiva,


inveja e outras vibrações ruins que estão contaminando aquele ambiente. Por isso que
pessoalmente é muito mais fácil (do que por telefone) de perceber aquilo que a pessoa
pensou, mas não falou... a gente capta esses fragmentos de pensamentos liberados
durante o processo de pensar e parece que ‘leu nos olhos’ o que a pessoa pensou, mas
não falou.

Talvez no futuro alguém invente um aparelho para medir e ‘pesar’ e determinar a


qualidade dessas ondas mentais, assim como hoje temos aparelhos que medem
decibéis ou níveis de radiação, o que poderia parecer uma loucura poucas décadas
atrás.

IGOR LOVATO

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