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0 YOGA AS ORIGENS DO YOGA 23
exclusivamente devotado [a seu mestre, ou a seu objetivo csPi- que é comparadaao fogo, que purifica e ilumina. O lapas não
slná-lo io.' possua todas as qualidades necessárias,pode-se en- é absolutamente uma mortificação nascida da depreciação do
corpo, como o é por lvezes a. ascesoem algumas religiões, mas
visa produzir um "calor. psíquico", permitindo atingir um ' nível
de existência.superióil'.'aOs próprios deuses conquistaram suas
hierarquias divinas através do lapas :'." Por isso eles se sentem
ameaçados quandoum mortal procura iguala-lospelo rapas, e se
apressam em enviar sedutoras ninfas celestes ou outras tentações
para distraí-losde sua asceseío.Pois o /apa.sé uma fonte de
poder, em si mesma neutra, da qual se pode abusar como de
qualquer outro poder. Aquele que' irradia 'a energia gerada pela
prática intensa do faWS pode tornar-se um ser temível, um opres-
sor da terra, um demónio, se seus desígnios são egoístas e'des-
truidores, e nessecaso será necessáriauma intervenção heróica
ou divina para vencê-loe libertar a terra. Mas a lei é de alguma
forma impessoal, pois o homem que se aplica arduamente à prá-
tica do /aFãS obtém superioridade e poder, independentemente
do uso que deles venha a fazer.
O rapa, que pode ser definido como uma aplicaçãointensa
e reiterada de forças sobre um determinado ponto, é ritualistica-
mente comparado ao ato de acender o fogo, ato central no ritual
e na simbologia védica:
Nós que pelo lapa acendemoso fogo do espírito.
Possamos ser caros ao Veda eo
O Fogo, Agni, é produzido pela fricção de dois pedaçosde
madeira (aranlD: um bastão mantido verticalmente, e uma base
is 7'aí/rfríya-.BraAmâna,
111. 12. 3.
zo .4r/za/npa-rede,
Vl1, 61, 1.
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24 0 YoCA AS ORIGENS DO YOGA 25
horizontal. O girar do bastão superior, consideradoo pai de Agni, naturezadeve ser inflamada e transmutada pelo Fogo, tornan-
faz brotar no ponto de fricção a faísca que inflama a base, con- do-se combustí\-el o oferenda .
sideradaa mãe de Agni. A manifestaçãodo fogo é portanto o Outro conjunto de símbolos, transponível ao rapas, é o do
resultado de uma fricção entro duas forças opostas,também com- processode fabricação da manteiga. Segundo a visão dos poetas
parada ao processo de obtenção da manteiga, ou ainda ao ato védicos, o leite é um líquido, uma "água", símbolo do elemento
da procriação.
feminino, na qua] estão em suspensãomilhares do minúsculos
Mas o que os Rs/zlsvédicoschamamde Fogo está longe de glóbulos de manteiga. Essa manteiga está presente no leite em
limitar-se apenas ao elemento físico designado por -esse nome. estado difuso, o aparece apenas quando ele é batido. A presença
O Fogo representa o princípio de vida, de calor,'de consciência, da manteigano leite é devidaao sêmendo macho,pois a vaca
oculto em todos os seres:
só dá leite depois de ter sido fecundada, e o leite, símbolo da
Ele permanece oculto ainda que suas chamas sejam bri- maternidade, não passa de manteiga emulsíonada nas águas puras
Ih&ntes2i
da fêmea. Por um esforçoparticular -- a centrifugaçãodo' leite
O Fogo habita escondido na terra, nas plantas, o as águas essa manteiga é separada, isolada da água, e extraída.
o arrastam. O Fogo está nas pedras.Há um Fogo encerrado pro- Ora, .a manteiga possuí uma afinidade com o fogo, já que é
fundamenteno homem,um Fogo nas vacas,um Fogo nos cava- experiênciacomum que, ao se derramar água sobre o fogo, este
os
se apaga, ao passo que, ao se lançar manteiga, o toga. se infla-
Agni está escondido,permanecelatente em cada combustí- ma. Por isso a manteigaé consideradauma forma sólida do
vel. As palavras "madeira" ou "combustível« simbolizam a subs- Fogo
e 2s
tância, como indica a pergunta tradicional: "De que madeira é A Natureza é a Vaca cósmica. O universo é seu leite. Nesse
feito o mundo?" O germe do fogo está presente .em todas as coi- leite está oculto um néctar que deve ser extraído por certas "ma-
sas, animadas e ínanimadas. Para que ele se manifeste, é neces- nipulações", por um processo especial de estimulação e anima-
sário utilizar uma certa força: ção, nesse leite está um Fogo adormecido que, pelo processo
"ó Agni, Atharvan te fez brotar do lótus por fricçãoaa purificador do /afãs, deve ser despertado.
Esseesforçoé o ato viril por excelência, a vírru/s, energia Sem dúvida a tradição do rapas deu lugar, com o passar do
viril que se mede pela capacidadode fazer brotar a chama divina tempo, a deformações e excessos, que restringiram seu valor e
encerrada na matéria. É um ato sacrificial, onde o altar (pedi) fizeram até com que certos sábios o julgassem inútilzo. A neces-
é a mãe,o sacrifícador
o pai; e Agni, que é acesonessealtar, sidadede uma volta aos padrõesiniciais foi sentida pelo À/a/zó-
é o deva ou princípio divino que se torna manifesto o se eleva ó/zcírafa,que confere ao célebre herói Bhisma as palavras:
pela oferenda contínua. O sacrifício em suas múltiplas acepções O que as pessoaschamam de rapam,como jejuar metade do
é o fundamento da civilização védica, que o considera a causa. mês,não passado fato de um mal infligido ao corpoe não é
o eixo do universo, o centro a partir do qual tudo se ordena: considerado como /aras pelas pessoas de bem.
O sacrifício é o umbigo do mundo24." O desapego e a humildad-o, isso sim, ensina-se, é o supremo
Todo esse simbolismo se aplica igualmente ao rapas, que é rapas.Aquele que possui essasduas virtudes está como em jejum
a produção do Fogo interior, por um esforço concentrado,'uma e castidade perpétuos 27."
fricção" que implica a resistênciada naturezaindividual com
seus impulsos, sua dispersão, suas hesitações,suas falhas. Essa 2s Çar&aparAa-Br.
Vl11,4, 1, 41. Taí/r.-Br.1, 1, 9, 6 etc.
i=G O Buddha Çâkyamuni seguiu por algum tempo uma' ascesemuito
zí Rg-P''eda,IV, 7, 6. severa .que consistia em privações corporais, mas a abandonou em se-
=i= .4//larva-Fada.XII. 1. 19-20. guida denunciando..a como. uma .via extrema' c nefasta, que' aqueles' que
como clc seguem .o "caminho do meio" devem rejeitar tanto 'quanto o
za .Rg-Fada, ]V, 16, ]3. O lótus representa aqui as águas cósmicas, ou desleixoe.o abandono.Nada prova, entretanto, que ele não' tenha timdo
então o coração. proveito dessa experiência.
4 Rg-rede, 1, 164, 35. iz'v À/. BA. Xl1,' 221, 4-5.
26 0 YOGA
A Z?/zagavad-Gira é ainda mais categórica:
'Os homens que executam austeridades violentas, não pres-
critas pelos textos sagrados,com arrogância o egoísmo, impulsio-
nadas pela força de seus desejos e paixões, homens insensatos
que atormentamo conjunto de elementosque formam o corpo,
e que tambématormentama Mim [o Princípio divino], que ne]e
resido, saiba que tais homens são demoníacos em suas inten-
e
çOeS28
Porém,ele estabelece
o que é o verdadeirorapa:
'A adoração do divino, do duas-vezes-nascido 20, do guia
espiritual, do sábio, a pureza, a retidão, a continência. a ausência H. As BasesDoutrinaisdo Yoga:
de assassínio
e violência
paracomoutrem,tal é a ascese
do
corda. o Sâmkhya
Uma linguagem que não fira, verídica, amigável e benéfica,
o estudoregulardas Escrituras,tal é a ascese
da palavra."
A serenidadee clareza de espírito, a doçura, o silêncio, o Desde suas mais remotas formulações, nos t/paMsAad; nas
autodomínio,
) a total purificação do caráter, tal é a ascesemen- epopéias, no B/zagavad-Gira, nos roga-Sz2/ra e seus comentários.
tal
a se
o Yoga se apresenta indissoluvelmente ligado a um outro "ponto
Observa-seque a Bãagavad-Giradá uma extensãoindefinida de vista" (dança/la) tradicional, aa Sâmkhya, entretanto não como
à noção de asceso. este aparece codificado durante a época-clássica.nos SámkAya-
No Yoga.clássico,
o elementorapasé conservado
como for- Kórlká de lçvara Krshna, mm as formas mais antigas da mesma
mando uma das cinco disciplinas (níyama) que constituem a se- escola
sco
gunda etapa (anca) do Yoga. Sua importância é grande, posto O Sâmkhya estabelece os princípios sobre os quais o Yoga
que é igualmente considerado como um dos três aspectos do baseiasua prática e define com clareza o objetivo que ela terá
K.rfyá-roga: Yoga da prática, da ação executadacom o intuito como alvo, de modo que todas as disciplinas propostas pelo Yoga
de obter a fixidez do espírito. ficam desprovidas de sentido se não compreendermos a cosmo-
Em Pataõjali, contudo, é bem o sentido original do feras logia, a psicologia e a soteriologia fornecidas pejo#Sâmkhya.
blue aparece:
Sâmkhyae Yoga, que eram tidos como os dois mais antigos en-
Através do rapas, que produz a destruição das impurezas, sinamentos (o À/a/zóó/pára/a os denomina "as duas doutrinas
[obtém-se] a perfeição do corpo e das facu]dades. eternas", sanefa/te dve) , são freqüentemento considerados como
E o comentário de Vyâsa enfatiza: "Sem rapam,um homem os dois aspectos, um teórico e o outro prático, de uma mesma
não pode atingir a perfeiçãoem Yoga." Deve-seobservarque se doutrina. Uma das melhores fontes de 'informação que possuí-
trata aqui de perfeição(sídd/zf)do corpo e dos se-ntidos,
e não mos sobre a situaçãoantiga da doutrina Sâmkhja é constituída
de sua mutilação ou destruição.
pelo próprio comentáriode Vyâsa aos aforismosde Pataíljali, o
roga.-B/zós/zya;essecomentário se conclui ao fim de cada capí-
tulo pelo colofão: "Tal é, no ensinamentodo Yoga de Pataãjali,
na exposição do Sâmkhya, o capítulo do comentário de Vyâsa
que trata de. . .", expressãoque mostra claramenteter sido o
texto compostocom a intenção de elucidar ao mesmotem.poos
28 l?/z. G.. XVII. 5-6. princípios do Sâ/}lkhyae do Yoga. Se ainda tivéssemosdúvidas
t20 O "segundo nascimento' é o da iniciação. sobro as estreitas relações entre essasduas vias, a BAagavad-Gífá
30 BÀ. G., XVl1, 14-16. nos assegura (111, 5-6) :
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28 0 YoCA
AS BASES DOUTRINÁRIAS DO YOGA 29
juventude, fulminados por essa compreensão da precariedade da peto da busca não é dirigido ao exterior, visando a uma m-elho-
condição humana, abandonaram tudo para se porem em busca ria das condições materiais, mas em profundidade, visando a uma
do sentido derradeiro desta vida. O Buddha Câkyamuni é apenas superação de todas as condições, e esse aprofundamento pode
um exemplo entre outros, embora consagradopor uma celebri- fazer-se a partir de qualquer situação dada: o, em resumo, que
dade excepcional.Livres de toda a aflição, de toda a miséria, go- ela seja gloriosa ou humilde, magnífica ou simples,é bem indi-
zando em profusão de todas as alegriasque uma existência refi- ferente do ponto de vista da busca. É como um mergulho nas
nada podia proporcionar, esseskshafríya3anão se puderam ocul- raízesdo ser, para o qual todasas energiassão canalizadase
tar à evidência fundamental: a impermanêncíade todas as expe- recolhidas. Por isso, como o veremos, uma vez preenchidas cer-
tas condições elementares tais como saúde, suficiência alimentar
riências. Não podemosfixar-nos nesta vida como alguém que
constrói sua moradia sobre uma ponte. Nada está ao abrigo do etc., qualquer enriquecimentoda condiçãoexterior é visto como
envelhecimento,da morte, e, o que é ainda pior na visão hindu, uma distraçãoem relaçãoao essencial.Daí a vontade de reduzir
do renascimento, para recomeçar o ciclo, indefinidamente. ao mínimo possívelas necessidades vitais, vontade que se traduz
pela não-possessividade, pela continência e por outras regras de
Apoiar-sesobre o que é fugidio e transitório, como se fosseestá-
vel e permanente, só pode acabar em decepçãoe sofrimento. conduta. Trata-se de aliviar-se ao máximo de tudo o que não for
Mesmo os meios de salvaçãofornecidos pela religião oficial, absolutamenteindispensável,como um explorador que parte para
uma longa e perigosa expedição e leva consigo apenas o estrita-
ritualística e sacrificial, são consideradosinsuficientespelo Sâm-
khya. Pois a "imortalidade" assim obtida, que na realidade con- mente necessário,e evita toda e qualquer carga que só faria es-
torva-lo e retarda-lo.
siste apenas em permanência prolongada em mundos ou estados
paradisíacos, é também impermanente. Uma vez esgotado o. efei-
to dos ates sacrificiais e das açõ.eslouváveis, o homem recai des- Desapego negativo e desapego positivo
sesparaísose devenovamenteentrar numa matriz, para.renascer Esse caráter dinâmico da insatisfação e do desprendimento
numa existência sujeita às limitações corporais, à velhice e. à
morte. vulnerável,subm.ctidaao devir universal. Mesmo as dei- é perfeitamente destacado pelo Sâ/nkhyaao, quando distingue
duas espécies de desprendimento (vírága), literalmente "desape-
dades:+4. embora numa escalade tempo maior que a escalahu-
go" para com todos os objetos dos sentidos.
mana. estão submetidas à transmigração.
Numerosos milhares de Indra (protótipo do soberano dos O primeiro nasce do desgosto experimentado quando s3 con-
deuses) e outros deuses, de era cm sidera-mas fadigas que é preciso suportar para adquiri-los, a in-
) era, passaram com o tempo, quietude em conserva-los, o sofrimento de perdê-los. os perigos
pois o tempo é intransponível3s
que escondem em si, o fato de que, ao possuí-los, outra pessoa
Mas, poder-se-ia objetar, se o Sâ/nkhya se caracteriza por encontra-seprivada de tê-los etc. Essa atitude deve incitar a uma
uma insatisfação não apenas em relação à condição humana,
busca positiva. Se isso não acontece, resultando apenas em al)s-
onde todas as soluções descobertaspara atenuar os mal-esmais tenção, em abstinência, aquele qu.e com isso se satisfaz, acredi-
gritantes não fazem senão camuflar as fissuras do edifício, mas tando ter alcançado a sabedoria, pára no caminho, e essa atitude
em relaçãoao mundo manifestadoem toda a sua extensão,ao
torna-se para ele armadilha que conduz conduz à indolência e que
ponto cm que mesmoa posiçãode soberanodo universo esteja se denuncia como tal.
aquém de sua aspiração,como se explica o fato de que o con- A segunda espéci.ede desapego, mais rara, se produz espon-
tentamento (.çamfo.çha)seja mencionado como uma das impor-
taneamente, bruscamente, sem trabalhosas reflexões s(abre a im-
tantesdisciplinas(níyama) preparatóriasdo Yoga? É que o ím- pernlanência
do mundo.Nascede uma ardentesedede libera-
Mcnlbro da citsta real ou nobre ção, de uma saudadeintensa do estadoincondicionado.É como
!4 Os mundos celestes (SParga-lota) são habitados pelos deuses .(devam um pressentimentode uma realidade maior, que faz perder todo
quc, como os anjos do cristianismo,apesarde estarem no cume da hie-
rarquia dos seres, pertencem ainda ao cosmos manifestado.
Comentário (]o (]alidapada, Sam]{/!ya-K(]rika, 2.
3n Comentário de Gaudapâda aos Sómk/zya-KãrfÊá,XXllT
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ILB
há destruição, mas um retorno ao estado não-manifestado.
uma Realidade, o Pares/za, que efetivamente escapa às condições apenas existe em relação à manifestação, representa a primeira
da existência. divsiãodo Um comvista a produzir a multiplicidadedo mundo
Mas sejaqual for o métodopelo qual nos convencemos
da manifestado. Essa polarização do Ser principal é descrita poeti-
lpresença do Purusha, não se deve esquecerque este nunca pode- camente nas Z,eisde À/anu: "Dividindo seu próprio corpo, o se-
rá ser objeto de percepçãoou de conhecimento.É, ao contrário, nhor tornou-se metade masculino, metade feminino 4õ."
"aquilo que não se poderia ver, mas pelo qual as visões são vis- Considera-sefreqüentemente o Sâmkhya dualista porque em
tas", "aquilo que o pensamentonão poderia pensar, mas graças sua exposição cosmológica não vaí além da dualidade original
ao qual o pensamento pensa"", "aquilo pelo qual tudo se mani- do gurus/za o da Prakrfi. É uma conclusão muito prematura:
festa e que por nada é manifestado' mesmo em sua formulação clássica, o Sâmkhya não pretende
absolutamenteque a Pra&rfí seja um princípio independentedo
A "influência" do Purusha Partis/za'o, ao contrário, afirma repetidamenteque toda a ativi- }
gestação são frequentemente comparadas48 ao movimento de À/a/zaf é por vezesidentificado com Brahmâ, o Demiurgo,
ou Hiranyagarbha, "o Embrião de Ouro 40, e reencontramos aí
uma tartaruga que põe para fora e retrai os seus membros,ou a ideia upanichádicado que o Espírito Supremo,impessoal,rea-
a uma aranha que tece e depoisreabsorvesua teia. Mas, ao parece como o primeiro nascido da criação, tomando forma a
mesmotempo, todo o processoé estabelecidono interior da pró- partir da Substância Primordialso. É o Intelecto divino numa
pria CausaPrimeira e não pode ultrapassar seuslimites. Tudo propensão criadora; por isso À/aha/ é também chamado Z?udd/zí:
o que evolui permaneceno interior da causae dela nunca se des- inteligência pura e informal, supra-individual e supra-racional.
prende verdadeiramente,ainda que dela se diferencie na qualida- Substratode toda intelecçãoe de toda compreensão.Bzzdd/zíé a
de de efeito. O desenvolvimentoda manifestação consiste na apa- baseda inteligência de todos os seres, comparada, por causa da
rição do díferençado no interior do indiferençado, do determi- sua predominânciaem safava,a um infinito céu luminoso. Diz-se
nado no interior do indeterminado,do específicono interior do que está"repartida entre todos os seres",porque todos a pos-
indistinto suem. Mas ainda que pertença a todos os seres,está além da
O Purlzs/za, que é Consciência, assiste como testemunha a individualidade.
cada uma das etapasda manifestação,que não deriva dele, mas No ser individual, Z?udd/zise manifesta em particular como
unicamente da Prakr/f. a única a transformar-se e modificar-se. discernimento, como aquilo que reconhece, determina e decide.
Isso explica por que a cosmogoniaé expostado ponto de vista Enquanto o termo À4a/zafexprime o aspectocósmico dessalaffva,
do PurusAa, que é apenas o seu espectador; isto é, a emergência o sinónimo Z?udd/zise refere ao aspecto microcósmico, relativo :
a cada indivíduo.
dos mundos é descrita tal qual aparece à consciência, que é a
sua testemunha . A segundaproduçãode Prakrrí, que procedediretamentede
2?uddAI.
é a/zamkára:
o fator de individuação,
ou noçãodo "eu",
O estudo dos /a//va é essencialao nossoassuntoporque essas
mesmas etapas da manifestação cósmica devem ser revividas na que tem por efeito individualizar o princípio intelectual. .Áham-
kóra é definido como a presunção de ser uma entidade separada,
mesma ordem, mas em sentido inverso, pelo yogin. Este, poder- um "eu agente". Ele introduz na consciência a oposição entro
se-ia dizer, deve ascender à corrente criativa e, partindo dos sujeito e objeto, e, decorrente dessecontraste, nasce a convicção
faf/va inferiores, realizar cada princípio sucessivamente,
um por de que "a mim as coisasexternas e internas dizem respeito". O
um ou grupo por grupo, até a sua completareabsorçãono não- princípio de individuação é aquele que impele ao erro fundamen-
manifestado. Nessesentido os faffva são para ele uma gradação tal; a confusão entre a Natureza (r'ra#rrí) e o Espírito ( Pzzru-
de níveis na prática do Yoga. sha), enquanto Buda/zi possui a faculdade de discrimina-los.
A partir daí, assistimosa uma espéciede bifurcação do pro-
Os tattva cesso evolutivo. Este se divide em duas correntes que vão for-
mar, uma o universo subjetivo, e a outra o universo objetivo,
estando ambas estreitamente correlacionadas. Essa desdobramen-
Na origemda manifestação,
por rupturado equilíbriodos
gana devida à "proximidade" do Purzzsha, o glzna sa/fva torna-se to resulta naturalmente da divisão criada par aham#ára entre
predominante em Pra#r/í, e a manifestação procede por graus um "eu agente" e um "isso". Do princípio de índividuação do-
do mais sutil ao mais grosseiro.
minado pelo glzna saf/va emanam as onze faculdades ( indrlya),
formando o mundo subjetivo; e do princípio de individuação do-
A primeira produçãoda Pra#rrí é À/a/zaf: "o Grande [Prín- minado pelo gzznaramas emanam as cinco qualidades sensíveis
cípiol". É denominado "Grande" porque não há outro princípio (/anmó/ras), tias quais procedem em seguida os cinco elementos
manifestado quc o supere; é de ordem universal, co-extensivo à
manifestação em sua totalidade. 40 Representação
místicada sementedo universo,do ponto centrale
não-dimensionar
(bínduJ,
a partir do qualse desenvolveu;
do Germeem
que estácontida e determinadatoda a criação.
À/a/iã/)/zórara. XTI, 253 etc. 60 Rg-Fada. X, 12, 1; M.B/z., Xl1, 311, 3; ráyiz-Pi/r., IV etc.
44 0 YOGA AS BASES DOUT'BINÁRIAS DO YOGA 45
grosseiros,formando o mundo objetivo. Num e noutro caso, o des sensíveismanifestadasnos elementos.As primeiras são os
duna raias só entra em jogo para ativar a emergência.
órgãos de captação (graça) e as segundas são os aspectos da
As onze faculdades individuais (í/zdriya) compreendem: realidade captada (arigra/ia)'a
e Cinco "faculdades cognitivas" (jnórzendriya) : a audição, Assim como os fa/lva constituem o domínio subjetivo, as
o tato, a visão, a gustação e o alfaia, tendo por sede os órgãos diferentes modalidades do mundo objetivo (cada elemento e sua
correspondentes, respectivamente: os ouvidos, a pele, os olhos, a qualidade sensível inerente) são potencialmcnto reconvertíveis
língua e o nariz. uma na outra no sentido inverso de sua originação. Essa é es-
e Cinco "faculdades do ação" (karma/zdr®a): a palavra, a sencialmentea empresado Yoga, que visa fazer retomar cada
preensão,a locomoção,a excreçãoe a procriação,tendo por sede princípio ao princípio do qual saiu.
os órgãos correspondentes,respectivamente:a voz, as mãos, os
pés, o ânus e o sexo. DWERENTES ESTÁGIOS DA MANWESTAÇÃO A PAR'I'IR
e O /na/zas, décima primeira faculdade, que é a faculdade DE Pr(&krff E EM PRESENÇADE Purzzsha
mental, o pensamento.Coordenandoe dirigindo tanto as facul- Praktti Purinha
dadessensoriaiscomo as faculdadesde ação, tem um papel cen- (ou avyak/a)
tralizador. +
Mahat
O maus forma, juntamente com a noção do "eu" (a/zam- (ou BuddAiD
kára), e o intelecto (buda/zí), aquilo que se denomina o "sentido +
.,Ihamkâra
interior" (anrah#arana), em oposição aos dez primeiros índríya, Sâttvika Támasa
Rãjasa
que são "sentidos externos" + +
Esses treze "sentidos", ou melhor "instrumentos psíquicos",
5 faculda. l faculdade 5 faculdades 5 qualidade S elemcn
dos quais três são internos e dez externos, são comparados a três da mental de ação sensíveis tos
sentinelase a dez portas na cidadedo homem (as cinco faculda- sensorIaIS
des sensoriaiscorrespondendoàs portas de entrada, as cinco fa-
culdadesde ação às portas de saída). Mas a ordem pela qual as (jãarzen- (mana) (#armen. (ranmáfra) (bÀúfa)
dríya)
faculdades funcionam é inversa àquela pela qual aparecem; Vâ-
caspati escreve: "Todo homem utiliza primeiro seus sentidos ex- audição palavra sonoro Éter
teriores; depoisconsidera(com o ma/zal); faz a aplicação indi- (ouvido) (voz) (çabda) (âkáça)
vidual, referindo os objetos a sí mesmo (com a/zamkóra); e, fi- tato preensão tangível Ar
nalmente, ele determina (com bzzdd/zí) ':." (pele) (mãos) (sparça) (váyu)
Do lado objetivo, do aspecto temásico de a/zamXóraproce- visão locomoção visível Fogo
dem as cinco qualidadessensíveis,que são delimitações da subs- (olhos) (pés) (rapa) (reles)
tância sutil (fan-marra) em cinco qualidadesfundamentais: so-
nora, tangível, visível (incluindo forma o cor), sápídae olfativa. gustação excreção rápido Agua
(língua) (ânus) (rasa) (ap)
Essescinco fanmófra são os princípios respectivosdos quais
procedem os elementos sensíveisou elementos grosseiros (bhz2fa): olfato gozo olfativa Tara
(nariz) (sexo) (gandAa) (prfAílpiD
o Éter, o Ar, o Fogo, a Água e a Terra. Esses cinco elementos,
combinando seus átomos em proporções variadas, presidem à for-
mação do universo material e do corpo humano. Notar-se-á a Logo, temosno total, a partir da Prakr/í, vinte e quatro
complementará.idadeentre as faculdades sensoriais e as qualida- ra//va que se agrupam assim:
61 7'arfpa-X.aumud1,
23 5z Cf. Z?r/tad-âralzyaka-Up.
111,2, 1
AS BASES DOUTRINÁRIAS DO YOGA
46 0 YOGA 47