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As

Bases
Neurobiológicas
da psicopedagogia
da aprendizagem

Autores
Suzana Portuguez Viñas
Roberto Aguilar Machado Santos Silva

Santo Ângelo, RS
2018
2

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos com:

e-mail: Suzana-vinas@yahoo.com.br
robertoaguilar001@gmail.com

Supervisão editorial: Suzana Portuguez Viñas


Normatização bibliográfica: Tanara Mantovani
Projeto gráfico: Roberto Aguilar Machado Santos Silva
Editoração: Suzana Portuguez Viñas

Capa:. Roberto Aguilar Machado Santos Silva

1ª edição

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP


3

Autores

Suzana Portuguez Viñas


Pedagoga, psicopedagoga,
professora de filosofia e
sociologia, escritora, editora e
agente literária
Suzana_vinas@yahoo.com.br

Roberto Aguilar Machado


Santos Silva, etologista
Médico Veterinário, escritor,
poeta Doutor em Medicina
Veterinária
roberto.aguilarmss@gmail.com
4

Pensamento
Qualquer que seja a crise de sua vida
nunca destruas as flores da esperança
para que possas colher os frutos da fé.
Konrad Lorenz1

1 Konrad Zacharias Lorenz (Viena, 7 de novembro de 1903 — Viena, 27 de


fevereiro de 1989) foi zoólogo, etólogo e ornitólogo austríaco. Agraciado com o
Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1973, por seus estudos sobre o
comportamento animal, a etologia.
5

Apresentação

A psicopedagogia surgiu com o intuito de ajudar as


pessoas com problemas de aprendizagem, e seus ramos de
atuação situam-se, sobretudo, nas ações preventivas em
instituições e na clínica com atendimentos individualizados. A
atuação do Neuropsicopedagogo tem o objetivo de promover uma
educação de qualidade, com foco no trabalho efetivo da educação
inclusiva, bem como o atendimento prioritário às crianças e jovens
com dificuldades de aprendizagem. O livro Bases Neurobiológicas
da psicopedagogia da aprendizagem visa investigar as bases
neurobiológicas da aprendizagem da leitura e escrita como
ferramenta para o entendimento da neuropsicopedagogia da
matemática e da linguagem e contribuir na clínica dos distúrbios
de aprendizagem.
Suzana Portuguez Viñas
Roberto Aguilar Machado Santos Silva

Santiago Ramon y Cajal em sua casa com o microscópio.


Madri, Espanha, 1915
6

In memoriam
Aos que nos antecederam, pelo o que construíram.

Konrad Lorenz2 (a), Ivan Izquierdo3 (b), Humberto Maturana4 (c), António Damásio5
(d), Steven Pinker6 (e), Stanley I. Greenspan7 (f), Santiago Ramón y Caja (g)8

2 Konrad Zacharias Lorenz (Viena, 7 de novembro de 1903 — Viena, 27 de


fevereiro de 1989) foi zoólogo, etólogo e ornitólogo austríaco. Foi agraciado
com o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1973, por seus estudos sobre o
comportamento animal, a etologia.
3 Ivan Antonio Izquierdo (Buenos Aires, 1937) é médico e cientista argentino

naturalizado brasileiro. Construiu sua carreira na Argentina e foi pioneiro no


estudo da neurobiologia da memória e do aprendizado. Destaca-se entre os
cientistas mais citados em todas as áreas do conhecimento.
4 Humberto Maturana (Santiago, Chile, 14 de setembro de 1928) é

neurobiólogo chileno, crítico do realismo matemático e criador da teoria da


autopoiese e da biologia do conhecer, junto a Francisco Varela. É um dos
propositores do pensamento sistêmico e do construtivismo radical.
5 António Rosa Damásio GOSE (Lisboa, 25 de fevereiro de 1944) é médico

neurologista, neurocientista português que trabalha no estudo do cérebro e das


emoções humanas. É professor de neurociência na Universidade do Sul da
Califórnia. Além de ter escrito o grande livro O Erro de Descartes, que mudou a
ideia das pessoas verem a junção "da razão e emoção" na qual por seus
estudos ele "aposta" que o sistema límbico (parte do cérebro que controla as
emoções e ações básicas) e o neocórtex (parte da razão) estão relacionadas
pois trabalham sempre em conjunto. Sua maior frase do famoso livro é "toda e
qualquer expressão racional está baseada em emoções".
6 Steven Arthur Pinker (Montreal, 18 de setembro de 1954) é psicólogo e

linguista canadense naturalizado norte-americano da Universidade Harvard e


escritor de livros de divulgação científica. Durante 21 anos foi professor no
Departamento do Cérebro e Ciências Cognitivas do Massachusetts Institute of
Technology antes de regressar a Harvard em 2003. Pinker completou o
bacharelado em Psicologia da Universidade McGill no ano 1976, e doutorado
7

Sempre me fascina o momento o exato em que,


da plateia, vemos abrir-se a porta que dá para o
palco e um artista sair à luz; ou, de outra
perspectiva, o momento em que um artista que
aguarda na penumbra vê a mesma porta abrir-
se, revelando as luzes, o palco e a plateia.
Percebi há alguns anos que o poder que esse
momento tem de nos emocionar, de qualquer
ponto de vista que examinemos, nasce do fato
de ele personificar um instante de nascimento,
uma passagem de um limiar que separa um
abrigo seguro, mas limitador das possibilidades
e dos riscos de um mundo mais amplo à frente.
António Damásio
Em O mistério da consciência (2000)

em Psicologia Experimental da Universidade de Harvard em 1979. Pinker


escreve sobre a linguagem e as ciências cognitivas em vários níveis, desde
artigos especializados até publicações de divulgação científica.
7 Stanley Greenspan (1 de junho de 1941 - 27 de abril de 2010) foi professor

clínico de Psiquiatria, Ciências Comportamentais e Pediatria na George


Washington University Medical School e um psiquiatra infantil praticante. Ele foi
mais conhecido por desenvolver a influente abordagem para o tratamento de
crianças com transtornos do espectro autista e deficiência de desenvolvimento.
8 Santiago Ramón y Cajal (Petilla de Aragón, 1 de maio de 1852 — Madrid,

17/18 de outubro de 1934) foi médico e histologista espanhol. Considerado o


"pai da neurociência moderna", recebeu o Nobel de Fisiologia ou Medicina de
1906.
8

Sumário

Introdução.......................................................................................9
Preâmbulo ou as Paisagens Neuronais. Uma breve homenagem à
Santiago Ramón y Cajal...............................................................10
Capítulo 1 – A Percepção do corpo da mente..............................14
Capítulo 2 – O Tai chi chuan: filosofia oriental e cognição...........32
Capítulo 3 - Descartes, o Dualismo Clássico, mente-corpo e a
Filosofia da Mente........................................................................36
Capítulo 4 – A filosofia de David Hume e a Teoria da Causalidade
Imaginária.....................................................................................42
Capítulo 5 – A Filosofia da Mente e a Neurociência.....................50
Capítulo 6 – A Introdução à Neurofilosofia: a relação entre a
mente e o corpo............................................................................62
Capítulo 7 - Os primórdios da Neuroantropologia........................70
Capítulo 8 – A Neuroanatomia Funcional.....................................87
Capítulo 9 – A Neurobiologia da memória e esquecimento.......165
Capítulo 10 - Freud, a Neurobiologia e a Psicopatologia...........184
Capítulo 11 - O cérebro, a mente e suas representações..........199
Capítulo 12 – A Neurobiologia da dança e da música................205
Capítulo 13 - A Neurobiologia e a Psicologia Conexionista.......222
Capítulo 14 - A Neurobiologia das emoções..............................238
Epílogo ou a Neurobiologia e a Psicopedagogia da
Aprendizagem.............................................................................256
Bibliografia consultada................................................................258
9

Preâmbulo ou
as Paisagens Neuronais9.
Uma breve homenagem à Santiago
Ramón y Cajal
Si hay algo en nosotros verdaderamente divino, es
la voluntad. Por ella afirmamos la personalidad,
templamos el carácter, desafiamos la adversidad,
reconstruimos el cerebro y nos superamos
diariamente.
Santiago Ramón y Cajal

Conforme Sabbatini (2003), quando Cajal começou a


investigar a estrutura fina do sistema nervoso em 1888, usando
sua técnica de Golgi modificada, ele era praticamente
desconhecido para o resto do mundo, principalmente porque ele
optou por publicar seus resultados em espanhol, em uma revista
que ele mesmo fundou e mantinha com recursos próprios.

Santiago Ramón y Cajal

9Paisajes Neuronales: homenaje a Santiago Ramón y Cajal, é o nome de


uma obra que foi editada pelo Consejo Superior de Investigaciones Científicas
da Espanha em 2006, como ato comemorativo ao Prêmio Nobel de Medicina
ou Fisiologia recebido por Santiago Ramón y Cajal em 1906.
10

Camillo Golgi foi o responsável por inventar uma técnica específica para
corar neurônios, que ele denominou de "la reazione nera" (a reação
negra). Ela consistia em fixar partículas de cromato de prata ao
neurilema (a membrana do neurônio) através de uma reação química
entre nitrato de prata e bicromato de potássio. Isto resultava em um
depósito negro no corpo celular, nos axônios e nos dendritos, formando
uma imagem extremamente clara e detalhada do neurônio e seus
processos, contra um fundo amarelado. Pela primeira vez, portanto, os
neuroanatomistas conseguiam enxergar e seguir onde que estas
complexas ramificações iam e voltavam numa determinada área do
sistema nervoso, e descrever com detalhe precioso a riqueza dessas
ramificações. Uma das razões para isso é que a técnica original de
Golgi era pouco confiável, pois não corava todos os neurônios de uma
preparação, e não era efetiva com axônios mielinizados. Como a
técnica era, por si, incapaz de destacar uma separação clara entre os
neurônios conectados, Golgi naturalmente tornou-se um defensor
ferrenho do reticularismo, o qual ele pensava fazer mais sentido quanto
à maneira que o sistema nervoso operava.

No entanto, logo ele percebeu que esse isolamento iria


manter seu esplendoroso trabalho fora dos olhos de quem
realmente interessava na neuroanatomia daquela época, que
eram os cientistas alemães. Assim, ele traduziu alguns de seus
artigos para o alemão, e passou a frequentar congressos
internacionais a partir de 1889. O seu trabalho brilhante e
audácioso nas conclusões chamou a atenção da comunidade
internacional e logo conquistou vários adeptos, entre os quais os
dois mais importantes: Rudolph Albert von Kölliker and Wilhelm
von Waldeyer. Von Kölliker, que antes tinha sido um tenaz
defensor da hipótese reticularista, converteu-se aos argumentos
de Cajal a favor de neurônios como células independentes e
passou a apoiar sua causa. Ele chegou a aprender espanhol, para
traduzir os trabalhos de Cajal para o alemão. Finalmente, von
Waldeyer escreveu uma revisão extremamente influente em 1891,
na qual dava um fim à hipótese reticularista e declarava os
princípios da doutrina neuronal, baseado nas conclusões de
vários cientistas, como Forel, His e outros. O trabalho pioneiro e
extraordinário de Cajal, no entanto, estava presente em toda a
parte. Particularmente relevantes entre as propostas de Cajal,
11

estava o que ele chamou de Lei da Polaridade Dinâmica, e na


qual que afirmava que a propagação da corrente de ação era
sempre na direção dos dendritos para os axônios, dentro de uma
célula, e do axônio para os dendritos ou o corpo celular, entre
duas células. Esta foi uma contribuição fundamental para a
neurofisiologia, e é a base da organização funcional de todo o
sistema nervoso, pelo menos em vertebrados.
Segundo o mesmo autor, a doutrina neuronal tem quatro
predicados:
1) O neurônio é a unidade estrutural e funcional do sistema
nervoso;
. Os neurônios são células individuais, que não se comunicam
com continuidade protoplasmática com outros neurônios, nem
anatomicamente, nem geneticamente;
2) O neurônio tem três componentes: dendritos, soma (corpo
celular) e axônio.
3) O axônio pode ter várias arborizações, que fazem contato
íntimo com os dendritos e o soma de outros neurônios;
4) A condução do estímulo ocorre do dendritos ao soma ao
axônio, até as suas arborizações finais.
Entre muitas outras coisas, Cajal descobriu estruturas
características em dendritos, aos quais ele denominou de
"espinhas", por causa de sua aparência visual. Bem mais tarde,
estas importantes estruturas foram explicadas como sendo parte
do dispositivo receptor de sinapses dos dendritos, e que elas
podem mudar em número e morfologia em resposta à função.
Cajal foi quase clarividente em propor que o aumento do número
de sinapses poderia ser um dos mecanismos do aprendizado e da
memória. Por suas contribuições, Golgi e Cajal compartilharam o
prêmio Nobel de 1906 (veja os seus discursos de aceitação nas
referências deste artigo). É interessante notar que seu discurso de
aceitação, entretanto, Golgi, curiosamente, optou por ainda
defender a hipótese reticularista, apesar de toda a evidência em
contrário. Golgi estava ainda enganado, ao propor funções
meramente nutritivas para os dendritos. Ele foi imediatamente
contestado em todos esses pontos pelo discurso de Cajal!
Como resultado das extraordinárias contribuições feitas por
Cajal à ciência, ele é colocado por alguns historiadores na mesma
altura de Copérnico, Vesálio, Galileu, Newton e Darwin.
12
13

Capítulo 1
A Percepção do
corpo e da mente

Quando percebo, não penso o mundo,


ele organizasse diante de mim.
Maurice MerleauPonty

Segundo Victorino (2009), o problema mente-corpo se


levanta a partir de questões complexas, porém comuns como "de
onde vem a consciência?" ou "qual a origem dos nossos
pensamentos?"; questões como essas levam a outras perguntas
ainda mais complexas, como se as nossas mentes devem
sobreviver à morte do corpo ou se um computador poderia ser
dotado de uma consciência. As respostas a essas perguntas
podem ser tratadas de duas maneiras distintas: um através dos
pressupostos do dualismo e outra através do monismo. De acordo
com Teixeira (1994), citado pela autora, o monismo é a tese que
sustenta que só existe um tipo de substância no universo (...).
Existem várias formas de monismo, sendo a sua versão mais
frequente o materialismo, que afirma que o que chamamos de
processos e estados mentais são meramente processos e
estados sofisticados de um complexo sistema físico
(Churchland10, 2004, citado pela mesma autora), ou seja, o
mental não é diferente do físico, isto é, do encéfalo; o dualismo
sustenta que há duas substâncias no universo e uma diferença
fundamental e irreconciliável entre elas. No caso, os processos
mentais não poderiam ser explicados a partir de uma causa
material ou que tenha relação com outros fenômenos físicos hoje

10 Churchland, P. M. (2004) Matéria e Consciência, Uma introdução


contemporânea à filosofia da mente. São Paulo, SP, Ed. Unesp.
14

conhecidos. Nunca poderíamos supor que a mente e o cérebro


são a mesma coisa ou que os processos fisiológicos cerebrais
sejam o mesmo fenômeno que os processos mentais.

Percepções do corpo, mente e


conhecimento em Merleau-Ponty
Nobrega (2008), em seu artigo de revisão intitulado Corpo,
percepção e conhecimento em Merleau-Ponty, afirmou que Com
base nos estudos da ciência da sua época, Merleau-Ponty
interroga a respeito das análises sobre o sistema nervoso e os
postulados clássicos sobre a condução do impulso elétrico, sobre
o circuito reflexo, envolvendo estimulação e reação, sobre o
campo perceptivo e sobre a questão da localização cerebral,
sendo insuficiente a correspondência pontual, própria da tradição
atomista11, entre o excitante, o mapa cerebral e a reação. Para a
autora, essa revisão conduziu a uma nova compreensão da
percepção que se aproxima das ciências cognitivas
contemporâneas. Este artigo, fruto de um estudo teórico sobre a
fenomenologia de Merleau-Ponty, tem como objetivo apresentar
essa revisão conceitual sobre a percepção, o diálogo com a arte e
a ciência, configurando noções e conceitos em torno de uma
fenomenologia do conhecimento.
E seu excelente artigo a autora nos brinda com as
seguintes afirmações de que especialmente na obra
Fenomenologia12 da Percepção, Merleau-Ponty (1945/1994)
11 Atomismo (em grego antigo: o que não pode ser cortado, indivisível é uma
filosofia natural que se desenvolveu em várias tradições antigas. Os atomistas
teorizaram que a natureza consiste em dois princípios fundamentais: átomo e
vazio. Ao contrário de seu homônimo científico moderno em teoria atômica, os
átomos filosóficos vêm em uma variedade infinita de formas e tamanhos cada
uma delas sendo indestrutíveis, imutáveis e cercadas por um vazio onde
colidem com os outros ou se reúnem em juntos formando arranjos. O
aglomerado de diferentes formas, arranjos e posições dão origem a várias
substâncias macroscópicas no mundo.
12 Fenomenologia (do grego phainesthai aquilo que se apresenta ou que

mostra e logos explicação, estudo) é uma metodologia e corrente filosófica que


afirma a importância dos fenômenos da consciência, os quais devem ser
estudados em si mesmos – tudo que podemos saber do mundo resume-se a
esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um
designado por uma palavra que representa a sua essência, sua "significação".
15

apresenta uma crítica ampla e rigorosa à compreensão


positivista13 da percepção por meio da revisão do conceito de
sensação, sua relação com o corpo e com o movimento. A
ciência, em sua versão positivista, considera a percepção como
algo distinto da sensação, embora a relacione por meio da
causalidade estímulo-resposta. Nesse sentido, a percepção é o
ato pelo qual a consciência apreende um dado objeto, utilizando
as sensações como instrumento. Uma nova maneira de
compreender a percepção é oferecida pela Gestalt. Segundo essa
teoria, a percepção é compreendida através da noção de campo,
não existindo sensações elementares, nem objetos isolados.
Dessa forma, a percepção não é o conhecimento exaustivo e total
do objeto, mas uma interpretação sempre provisória e incompleta.
A compreensão fenomenológica da percepção será construída
com base no diálogo com a psicologia, em especial com a
Gestalt, mas também com base no diálogo com a arte, sobretudo
com a pintura moderna e os trabalhos de Cézanne14, Matisse,

Os objetos da Fenomenologia são dados absolutos apreendidos em intuição


pura, com o propósito de descobrir estruturas essenciais dos atos (noesis) e as
entidades objetivas que correspondem a elas (noema). Edmund Husserl (1859-
1938) filósofo, matemático e lógico – é o fundador desse método de
investigação filosófica e quem estabeleceu os principais conceitos e métodos
que seriam amplamente usados pelos filósofos desta tradição. Ele, influenciado
por Franz Brentanoseu mestre lutou contra o historicismo e o psicologismo.
Idealizou um recomeço para a filosofia como uma investigação subjetiva e
rigorosa que se iniciaria com os estudos dos fenômenos, como estes
aparentam à mente, para encontrar as verdades da razão. Suas investigações
lógicas influenciaram até mesmo os filósofos e matemáticos da mais forte
corrente oposta, o empirismo lógico. A Fenomenologia representou uma reação
à eliminação da metafísica, pretensão de grande parte dos filósofos e cientistas
do século XIX. Husserl foi professor em Gotinga e Friburgo em Brisgóvia, e
autor de Ficar Sem Estudar – 1906. Contrariamente a todas as tendências no
mundo intelectual de sua época, quis que a filosofia tivesse as bases e
condições de uma ciência rigorosa. Porém, como dar rigor ao raciocínio
filosófico em relação a objetos tão variáveis como as coisas do mundo real?
13 O positivismo é uma corrente filosófica que surgiu na França no começo do

século XIX. Os principais idealizadores do positivismo foram os pensadores


Auguste Comte e John Stuart Mill. Esta escola filosófica ganhou força na
Europa na segunda metade do século XIX e começo do XX. É um conceito que
possui distintos significados, englobando tanto perspectivas filosóficas e
científicas do século XIX quanto outras do século XX.
14 Paul Cézanne (AixenProvence, 19 de janeiro de 1839 —Aixen Provence, 22

de outubro de 1906) foi pintor pós-impressionista francês, cujo trabalho


forneceu as bases da transição das concepções do fazer artístico do século
16

entre outros. Em seu mais conhecido ensaio estético, Merleau-


Ponty reflete sobre a pintura de Cézanne15 como configuração
perceptiva cuja natureza problematiza as dicotomias entre
percepção e pensamento, entre a expressão e o que é expresso.
Cézanne reconhece nas sensações o paradoxo de sua pintura,
assim como “o sensível” será um elemento fundamental para a
compreensão da percepção na obra de Merleau-Ponty,
notadamente sua manifestação na pintura, uma vez que a obra de
arte possibilita a experiência da percepção de modo mais intenso
e vibrante. A compreensão fenomenológica tem influenciado
vários estudos contemporâneos sobre a percepção e suas
relações com o conhecimento, em especial os trabalhos dos
biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela16. A
revisão sobre o funcionamento do sistema nervoso advinda
desses estudos confirma a concepção de Merleau-Ponty. Este
artigo caracteriza-se como um estudo teórico, cujo objetivo é
apresentar a concepção de Merleau-Ponty sobre a percepção,
seu diálogo com a arte e com a ciência; bem como configurar
relações entre corpo, percepção e conhecimento.

A percepção como atitude corpórea

XIX para a arte radicalmente inovadora do século XX. Cézanne pode ser
considerado como a ponte entre o impressionismo do final do século XIX e o
cubismo do início do século XX. A frase atribuída a Matisse e a Picasso, de que
Cézanne "é o pai de
todos nós", deve ser levada em conta.
15 Henri Émile Benoît Matisse (Le Cateau Cambrésis, 31 de dezembro de 1869

— Nice, 3 de novembro de 1954) foi artista francês, conhecido por seu uso da
cor e sua arte de desenhar, fluida e original. Foi um desenhista, gravurista e
escultor, mas é principalmente conhecido como um pintor. Matisse é
considerado, juntamente com Picasso e Marcel Duchamp, como um dos três
artistas seminais do século XX, responsável por uma evolução significativa na
pintura e na escultura.
16 Francisco J. Varela (Santiago do Chile, 7 de setembro de 1946 — Paris, 28

de maio de 2001) foi biólogo e filósofo chileno. Escreveu sobre sistemas vivos
e cognição: autonomia e modelos lógicos. Ph.D. em Biologia (Harvard, 1970),
em 1979 escreveu Príncípios de Autonomia Biológica, um dos textos básicos
da autopoiese, teoria que desenvolveu com Humberto Maturana. Depois de ter
trabalhado nos EUA, mudou-se para a França, onde passou a ser diretor de
pesquisas no CNRS Centro Nacional de Pesquisas Científicas no Laboratório
de Neurociências Cognitivas do Hospital Universitário da Salpêtrière, em Paris,
além de professor da Escola Politécnica, também em Paris.
17

Conforme Nobrega (2008), para compreender a percepção,


a noção de sensação é fundamental. A sensação não é nem um
estado ou uma qualidade, nem a consciência de um estado ou de
uma qualidade, como definiu o empirismo e o intelectualismo. As
sensações são compreendidas em movimento: “A cor, antes de
ser vista, anuncia-se então pela experiência de certa atitude de
corpo que só convém a ela e com determinada precisão”
(Merleau-Ponty, 1945/1994, p. 284). A percepção está
relacionada à atitude corpórea. Essa nova compreensão de
sensação modifica a noção de percepção proposta pelo
pensamento objetivo, fundado no empirismo e no intelectualismo,
cuja descrição da percepção ocorre através da causalidade linear
estímulo-resposta. Na concepção fenomenológica da percepção a
apreensão do sentido ou dos sentidos se faz pelo corpo, tratando-
se de uma expressão criadora, a partir dos diferentes olhares
sobre o mundo. Considerando-se que “das coisas ao pensamento
das coisas, reduz-se a experiência” (Merleau-Ponty), é preciso
enfatizar a experiência do corpo como campo criador de sentidos,
isto porque a percepção não é uma representação mentalista,
mas um acontecimento da corporeidade e, como tal, da
existência.

O desenvolvimento da consciência
Conforme Greenspan e Benderly (1999), a consciência, é
um tema nas fronteiras entre a psicologia e a filosofia, reúne as
perspectivas e tradições de cada disciplina. Nessas duas searas
do saber, a consciência tem se revelado um enigma, por bons
motivos. Ela envolve a estrutura física do cérebro e experiências
subjetivas como a autoconsciência e a contemplação das
emoções e idéias específicas. Não é de admirar que as primeiras
teorias envolviam sugestões tanto dos aspectos físicos ou
objetivos da consciência humana e fenômenos mentais quanto
dos aspectos espirituais ou subjetivos. Para o filósofo Bertrand
Russel17, o dualismo enfoca objetivos materialistas e subjetivos
17 Bertrand Arthur William Russell, 3.º Conde Russell (Ravenscroft, País de
Gales, 18 de maio de 1872 — Penrhyndeudraeth, País de Gales, 2 de fevereiro
de 1970) foi um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos que
viveram no século XX. Em vários momentos na sua vida, ele se considerou um
18

individuais da natureza humana. É um tema sem fim e sem


solução na história do pensamento ocidental; um tema de
importantes implicações sociais e políticas.
Filósofos modernos como Daniel Dennett18, assim como
várias pessoas sensatas, gostariam de acreditar que todos os
fenômenos mentais, incluindo a consciência, devem ser
explicados pela atividade física do cérebro.

A consciência em Daniel Dennett e David Chalmers19


Chalmers e Dennett se encontram em lados opostos da
discussão do problema da consciência. Para Chalmers,
ela é um dado indubitável que não pode ser explicada
em termos de outra coisa. Para Dennett, o que existe
verdadeiramente são múltiplos julgamentos sobre nossa
consciência. Cada um acusa o outro de circularidade.
Isto só é possível porque a diferença entre estas duas
teorias é verdadeiramente uma diferença de princípios. A
mesma oposição que encontramos no aparato teórico
encontramos também em suas pressuposições mais
básicas e fundamentais. Este fato torna extremamente
difícil escolher entre as duas ao mesmo tempo em que
radicaliza a diferença entre elas. De um lado temos que
argumentos podem refutar intuições, de outro temos que
é preciso primeiro sondar nossas intuições para depois
criar argumentos a partir delas. Entre um extremo e outro

liberal, um socialista e um pacifista. Mas, também admitiu que nunca foi


nenhuma dessas coisas em um sentido profundo. Sendo um popularizador da
filosofia, Russell foi respeitado por inúmeras pessoas como uma espécie de
profeta da vida racional e da criatividade. A sua postura em vários temas foi
controversa.
18 Daniel Clement Dennett (Boston, 28 de março de 1942) é proeminente

filósofo norte-americano. As pesquisas de Dennett se prendem principalmente


à filosofia da mente (relacionada à ciência cognitiva) e da biologia. Dennett é
ainda um dos mais proeminentes ateus da actualidade. Para Dennett, os
estados interiores de consciência não existem. Em outras palavras, aquilo que
ele chama de "teatro cartesiano", isto é, um local no cérebro onde se
processaria a consciência, não existe, pois admitir isto seria concordar com
uma noção de intencionalidade intrínseca. Para ele a consciência não se dá em
uma área especifica do cérebro, como já dito, mas em uma sequência de
inputs e outputs que formam uma cadeia por onde a informação se move.
19 David John Chalmers (Sydney, 20 de abril de 1966) é filósofo australiano,

notabilizado por seus estudos em Filosofia da Mente. Chalmers é professor de


filosofia e diretor do centro de estudos da consciência da Universidade
Nacional da Austrália e publica artigos, ensaios e novos livros com
regularidade.
19

nos encontramos com o velho dilema de “o que vem


primeiro? ”. No entanto, mais importante do que escolher
lados é mostrar o quanto é difícil escolher (Leal-Toledo,
2006).

No entanto, conforme já foi observado, o desenvolvimento


do cérebro se dá através de uma interação constante com a
experiência afetiva. Deteriorações nessas interações baseadas na
experiência acarretam danos à consciência. Crianças que não
passam por certos tipos de experiências interativas, como por
exemplo, as oriundas de famílias que apresentam disfunções ou
múltiplos problemas, podem não ter a capacidade de auto-
reflexão, mesmo que o cérebro funcione normalmente.
Analogamente, as que apresentam problemas físicos, afetando o
funcionamento do sistema nervoso, também apresentam danos
na consciência. Crianças com padrões autistas só vão apresentar
algum nível de autoconsciência e auto-reflexão depois de algum
tempo de terapia.

A percepçâo das sensações


corporais através da Eutonia
Gandolfo (2013), discute a percepção das sensações
corporais através da eutonia. Conforme a autora, no inicio do
século XX, no período entre guerras, surgiram vários movimentos
de transformação nas formas de pensar, criar e ensinar, talvez
como reação à própria opressão vivida por aqueles que
enfrentavam as duas guerras e o nazismo. Foi neste contexto que
Gerda Alexander20 criou a eutonia. Considerada um dos primeiros

20 Gerda Alexander (15 de fevereiro de 1908 – 21 de fevereiro de 1994) foi uma


professora e educadora que idealizou um método de autodesenvolvimento
denominado eutonía. Nasceu em Wuppertal, Alemanha, porém se trasladou à
Dinamarca. A criadora da eutonia nasceu na Alemanha, em 1908, e emigrou
para a Dinamarca em 1933, onde desenvolveu seu método e fundou a primeira
escola de formação em eutonia. Seus pais eram apaixonados por artes,
especialmente por música. Ainda menina, Gerda iniciou sua formação musical
com o professor e pesquisador de rítmica Otto Blensdorf. Mais tarde, por
intermédio de Blendsdorf, em Genebra, Gerda Alexander conheceu Emilio
Jaques-Dalcroze, que estava experimentando seu novo método de educação
por meio da música e do movimento. O contato com as ideias de Dalcroze,
20

métodos de educação somática, a eutonia é uma prática


terapêutica e pedagógica que leva em conta as relações entre
mente e corpo a partir da experiência corporal. Conforme a
autora, atualmente, com as novas possibilidades de pesquisa
surgidas nas áreas das neurociências, psicologia, neurologia e
pedagogia, as bases da eutonia têm encontrado fundamentação
científica, proporcionando abertura para novas experiências.
Trata-se de um movimento criativo ascendente para a atual
geração, capaz de construir uma nova etapa nas pesquisas do
corpo e do movimento. Para Gerda Alexander, a atuação
consciente sobre o tônus influencia o ser humano como um todo e
integra corpo e mente. O tônus é onde se reúnem as informações
captadas pelos sentidos, pelo processamento das emoções, pelos
pensamentos e pela atividade biológica. Na prática, através do
estímulo da pele e da percepção dos ossos e do sistema motor, a
eutonia promove novas conexões nervosas e passa a atuar
diretamente na plasticidade neural, vindo a potencializar a
criatividade e propiciando a ampliação da função intelectual e o
contato com o ambiente – elementos essenciais para minimizar as
influências do mecanicismo do estilo de vida contemporâneo.
Na eutonia, o conceito de tônus muscular adquire um
sentido próprio e especialmente relevante.

Cultura, religião e cognição


Budismo e a psicologia ocidental
ou as perspectivas asiáticas das
teorias indianas da mente
Georges Dreyfus21 e Evan Thompson22 (2007), os autores
examinam as visões indianas da mente e consciência, com

relacionadas à natureza de seu método, tiveram grande impacto sobre a


criadora da eutonia,
21 Georges B.J. Dreyfus, nascido em 1950 na Suíça, é acadêmico nos campos de

Tibetologia e Buddologia, com um Interesse particular na filosofia budista indiana.


Em 1985 Ele foi o primeiro ocidental a receber o Geshe Lharampa Grau, o mais
alto disponível dentro do escolástico tibetano tradição. Ele atualmente é Professor
de Religião em Williams
21

particular foco na tradição budista indiana. Para contextualizar as


visões budistas da mente, primeiro fornecem-nos uma breve
apresentação de alguns das mais importantes visões hindus,
particularmente aqueles da escola Sânquia.

Sânquia
Sámkhya, Sankhya, Sāṃkhya, ou Sāṅkhya (em
sânscrito: sāṃkhya) é o sistema filosófico indiano que foi
desenvolvido concomitantemente com o yoga. A palavra
significa "Enumeração" ou "Conta". Muito antigo,
desenvolveu uma psicologia e ontologia sofisticada, que
é a base do sádhana ou prática do yoga. Kapila, que
viveu pouco antes do Buda, revisor deste sistema
filosófico, escreveu os aforismos em que se baseia
grande parte do conhecimento atual sobre este
intrincado sistema de pensamento. A investigação
através do Sámkhya ampara-se estritamente sobre o
conhecimento discriminador, racional, especialmente a
ênfase na causalidade. O caráter teórico especulativo do
Sámkhya vai eventualmente gerar divergências
filosóficas com adeptos do Yoga, este principalmente
prático e experiencial.

College, Massachusetts.
22 Evan Thompson (nascido em 1962) é professor de filosofia na Universidade da

Colúmbia Britânica. Ele escreve sobre ciência cognitiva, fenomenologia, filosofia


da mente e filosofia transcultural, especialmente a filosofia budista em diálogo
com a filosofia ocidental da mente e da ciência cognitiva. Quando criança,
Thompson foi educado em casa na Associação Lindisfarne, um fundado por seu
pai, William Irwin Thompson. Em 1977, Thompson conheceu o fenomenologista
chileno Francisco Varela quando Varela participou de uma conferência de
Lindisfarne organizada por Thompson e Gregory Bateson. Thompson recebeu um
Ph.D. Em Filosofia da Universidade de Toronto em 1990 e A.B. Em estudos
asiáticos do Amherst College em 1983. Thompson ensinou na Universidade de
Toronto, Universidade Concordia, Universidade de Boston e Universidade de
York. Enquanto na Universidade de York, Thompson também era membro do
Center for Vision Research. Thompson realizou compromissos de visita no Center
for Subjetivity Research em Copenhague, e na Universidade do Colorado, em
Boulder. Thompson trabalhou com Francisco Varela no CREA (Centro de
Pesquisa em Epistemologia Aplicada) na Ecole Polytechnique de Paris. Durante
esse período, Varela e Thompson escreveram A mente incorporada: Ciência
cognitiva e experiência humana. O livro de Thompson, Mind in Life: Biology,
Phenomenology e the Sciences of Mind, explora como a vida se relaciona com a
mente. O livro mais recente de Thompson é Waking, Dreaming, Being: Self and
Consciousness in Neuroscience, Meditation, and Philosophy.
22

Enquanto que esta escola assume a existência de “um real


Eu transcendente”, a visão budista é essa atividade mental e
função de consciência Por conta própria sem essa auto. No
fenomenológico e aspecto epistemológico desta visão de não-
auto da mente. Primeiro os mesmos autores discutem o
Abhidharma Budista e sua análise da mente em termos de
consciência e fatores mentais.

Abhidharma (sânscrito) ou Abhidhamma (Pali)


Abhidharma (sânscrito) ou Abhidhamma (Pali23) são
antigos textos budistas (3º século aC e mais tarde) que
contêm reformas detalhadas escolares de material
doutrinal aparecendo nos sutras24 budistas, de acordo
com o esquema de classificações. Os trabalhos de
Abhidhamma não contêm tratados filosóficos
sistemáticos, mas resumos ou resumo e listas
sistemáticas. De acordo com Collett Cox, Abhidhamma
começou como uma elaboração dos ensinamentos dos

23 Língua páli: O páli (transliterado pāḷi; significando "linha" e, por extensão,


"texto", então "língua do texto".) é uma língua litúrgica utilizada na escola
Teravada do budismo. Pertence ao tronco linguístico indo-europeu. É uma
língua antiga indiana, próxima daquela falada pelo Buddha. Pode-se dizer que
o páli é uma forma simplificada de sânscrito. A sua fama advém de ser a língua
na qual foram registradas as escrituras do budismo theravada, conhecidas
como o cânone páli, no Sri Lanka no século I a.C.. A língua teve representação
escrita numa variedade de sistemas de escrita, do brahmi ao devanagari e
outros sistemas de escrita índicos até uma forma romanizada desenvolvida por
T. W. Rhys Davids, da Pali Text Society. Porém, autores dizem que budistas da
escola Teravada acreditam que o páli foi a língua falada por Buda. Foi criada
por Sidarta Gautama, o fundador do budismo, por volta do século V a.C. para
redigir seus sermões a partir do magádi popular, que era uma forma não
erudita (ou prácrito) do magádi utilizada pelas pessoas mais pobres do antigo
Reino de Mágada. Entretanto, é incerto se ela sequer chegou a ser de fato uma
língua falada. Muitos pesquisadores mantêm que era uma língua puramente
literária criada a partir de alguns dialetos hindus, sendo o magádi (língua do
Reino de Mágada) um dos mais prováveis ancestrais.
24 Sutra (em sânscrito) é um substantivo derivado do verbo √siv, que significa

costurar. No budismo, o termo "sutra" se refere de forma geral às escrituras


canônicas, que são tratadas como registros dos ensinamentos orais de Buda
Gautama. Esses ensinamentos estão registrados na segunda parte ("cesto") do
Tripitaka e são chamados de Sutra Pitaka (em Pali, "Tipitaka" e "Sutta Pitaka").
Outros textos também são considerados Sutras, principalmente pelas escolas
Mahayana, embora não façam parte do Tripitaka e de forma geral sejam
atribuídos a outros autores em períodos posteriores. Em páli, a palavra
equivalente é sutta, e é usada exclusivamente para escrituras budistas,
principalmente as do Cânone Pali.
23

suttas, mas depois desenvolvido doutrinas


independentes. A tradução literal do termo Abhidharma
não está clara. Duas possibilidades são mais comuns:
1. Abhi superior, especial ou superior, filosofia, tornando
Abhidharma "Ensinamentos superiores"
2. Abhi sobre Dharma do ensino, traduzindo-o, em vez
disso como "sobre o ensino". O Abidarma (Abhidhamma
Pitaka) é o terceito pitaka ("cesto") do Tipitaka (Pali;
Sânscrito: Tripitaka), o cânone do Budismo Theravada.
Contém comentários aos dois outros pitakas 25 e é
dividido em sete seções:
1. Dhammasangani ("Enumeração dos Fenômenos").
2. Vibhanga (exposição "O Livro dos Tratados").
3. Kathavatthu ("Pontos de Controvérsia").
4. Puggalapannatti ("Descrição de Indivíduos").
5. Dhatukatha ("Discussão com relação aos Elementos").
6. Yamaka ("O Livro dos Pares").
7. Patthana (evolução dos estados éticos "O Livro de
Relações").
Todos os sete volumes foram publicados em Pali
romanizado pela Pali Text Society e traduzidos também
para a língua inglesa. Acredita-se que os textos datem
aproximadamente de 400 AC a 250 BC, sendo o primeiro
volume o mais antigo e o terceiro o mais recente. Textos
similares (geralmente chamados pelo nome sânscrito
"Abhidharma") existem em outras escolas distintas da
Theravada.

25 Tripitaca (do páli tri, "três" e pitaka, "cesto") é uma compilação dos
ensinamentos budistas tradicionais, conforme preservados pela escola
Teravada. Ele também é conhecido como cânone páli, por ter sido
originalmente escrito nesta língua. O compêndio doutrinário é composto por
três grandes grupos ou pitacas:
. Vinaia Pitaca:
Define as regras para a comunidade monástica, tendo um conjunto de regras
para a comunidade masculina (Bicu Sanga) e outro para a comunidade
feminina (Bicuni Sanga).
Suta Pitaca
Contém os discursos proferidos pelo Buda a seus discípulos, admiradores e
adversários.
Abidarma Pitaca:
Uma obra de composição posterior que aprofunda os ensinamentos específicos
da tradição Theravada, detalhando o processo de renascimento, processos
mentais sutis, a prática meditativa, dentre outros assuntos. Encontra-se
algumas pequenas diferenças entre o Tripitaka de acordo com o país onde foi
preservado (Tailândia, Myanmar), mas de maneira geral não são variações
significativas. O cânone páli birmanês, entretanto, inclui o livro As Questões do
Rei Milinda, geralmente considerado como uma produção pós-canônica.
Eruditos acreditam que esta tenha se originado a partir da escola Sarvastivada.
24

O Abhidharma é principalmente fenomenológico; apresenta


uma análise epistemológica da estrutura dos estados mentais e o
caminho que eles se relacionam com seus objetos. Para cobrir
isso o assunto é o Dharmaklrti26, um dos principais epistemólogos
budistas, que oferece uma visão abrangente dos tipos de
cognição e sua relação com seus objetos.

Dharmaklrti

Sobre a mente
Georges Dreyfus e Evan Thompson (2007), afirmaram que
ao falar sobre a mente, é importante definir o termo, pois está
longe de ser inequívoca. Na maioria das tradições indianas, a
mente não é uma estrutura cerebral nem um mecanismo para

26 Dharmakīrti (século XVIII ou VII) foi influente filósofo budista indiano que
trabalhou em Nālandā. Ele foi um dos principais estudiosos da epistemologia
(pramana) em filosofia budista, e está associada ao Yogācāra e as escolas de
Sautrāntika. Ele também foi um dos principais teóricos do atomismo budista.
Seus trabalhos influenciaram estudiosos das escolas Mīmāṃsā, Nyaya e
Shaivism de filosofia hindu e estudiosos do jainismo. Pramāṇavārttika de
Dharmakīrti, seu maior e mais importante trabalho, foi muito influente na Índia e
no Tibete como um texto central sobre pramana ("instrumentos de
conhecimento válidos") e foi amplamente comentado por vários indianos e
tibetanos estudiosos. Os seus textos continuam a fazer parte dos estudos nos
mosteiros do budismo tibetano.
25

tratar a informação. Em vez disso, a mente é concebida como um


processo cognitivo complexo consistindo em uma sucessão de
estados mentais relacionados. Estes estados são pelo menos em
princípio fenomenologicamente disponíveis; Isto é, eles podem
ser observados atendendo ao modo como experimentamos sentir,
perceber, pensar, lembrar, e assim por diante. Os pensadores
indianos descrevem esses estados mentais como cognoscíveis
(jna) ou estão cientes (buddh) de seus objetos. Assim, a mente é
amplamente concebida pelos pensadores indianos tradicionais
como constituídos por uma série de estados mentais que
conhecem seus objetos. Este acordo geral quebra rapidamente,
no entanto, quando tomamos uma análise mais detalhada da
natureza e estrutura da mente, um tópico sobre o qual várias
escolas entretem diferentes pontos de vista. Alguns desses
desentendimentos dizem respeito ao estado ontológico dos
estados mentais e à como eles se relacionam com outros
fenômenos, particularmente os físicos. Tais desentendimentos
são relacionados a ideias bem conhecidas na tradição ocidental,
particularmente o dualismo mente-corpo, que preocupou a
filosofia ocidental desde Descartes. Mas muitos dos pontos de
vista entre os pensadores indianos não são facilmente mapeados
no termo ocidental. A maioria dos pensadores indianos não
considera o status ontológico dos estados mentais como uma
questão particularmente difícil, pois a maioria aceita que existe
uma realidade extra-física.
Conforme os mesmos autores, entre todas as escolas,
apenas a Materialista e a Carviika, reduzem os eventos físicos e
mentais. Para os seus proponentes, os estados mentais não têm
nenhum status ontológico autônomo e podem ser completamente
reduzidos aos processos físicos. Eles são apenas propriedades
do corpo, bem como a propriedade inebriante da cerveja é uma
propriedade da cerveja. A maioria dos outros pensadores rejeitam
esta visão com força e argumentam que a mente não pode ser
eliminada nem reduzida à material. O endosso de uma realidade
extrafísica não é, no entanto, necessariamente equivalente a um
dualismo clássico mente-corpo (do tipo encontrado nas
Meditações de Descartes Ou o Fédon27 de Platão28). Além disso,

27Fédon (ou Fedão; em grego transl. Phaídon) é um dos grandes diálogos de


Platão de seu período médio, juntamente com a A República e O Banquete.
Fédon, que retrata a morte de Sócrates, também é o quarto e último diálogo de
26

embora concordem em rejeitar a visão materialista, eles


discordam fortemente em suas apresentações da mente.

Introdução ao Fédon de Platão


Segundo Joaquim de Carvalho29 (2017), O Fédon é o
mais popular dos diálogos de Platão, o que mais lido,

Platão a detalhar os últimos dias do filósofo depois das obras Eutífron, Apologia
de Sócrates e Críton. O tema da obra Fédon é considerado ser a imortalidade
da alma. O Fédon foi traduzido pela primeira vez do grego para latim por Henry
Aristippus em 1155.
28 Platão (em grego antigo transl. Plátōn, "amplo", Atenas,428/427 – Atenas,

348/347 a.C.) foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia


Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em
Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental.
Juntamente com seu mentor, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles, Platão ajudou
a construir os alicerces da filosofia natural, da ciência e da filosofia ocidental.
Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido Arístocles. Platão era um
racionalista, realista, idealista e dualista e a ele tem sido associado muitas das
ideias que inspiraram essas filosofias mais tarde.
2929 Joaquim de Carvalho: historiador da Filosofia e da Cultura, pensador,

ensaísta, erudito e professor, Joaquim de Carvalho foi, nas quatro décadas que
vão de 1918 a 1958, ano da sua morte, uma das maiores figuras, em Portugal,
dos estudos a que se dedicou, e em todos estes domínios do scibile. Deixou a
marca duradoura da sua personalidade de exceção. Como historiador da
Filosofia e da Cultura, não vejo quem se possa comparar com ele tanto na
vastidão dos conhecimentos como na profundidade e na originalidade com que
os organizou, sempre com o mais escrupuloso respeito das perspetivas
sincrônicas da evolução das ideias e dos fatos culturais. Este respeito rigoroso
pelo caráter histórico do pensamento já levou críticos apressados e superficiais
a sustentar que Joaquim de Carvalho não foi filósofo. Só pela ignorância da
historicidade essencial de todo o pensamento metódico é que seria possível
visar Joaquim de Carvalho para lhe formular um tal reparo. E verdade que ele
se abstinha intencionalmente de perder o seu tempo em jogos estéreis de
categorias, que às vezes não ultrapassam a esfera do psitacismo dialético,
dentro do restrito domínio do hedonismo conceptual. Se ser filósofo quer dizer
comprazer-se no brinco subtil de uma nova escolástica, abstraindo do objeto
humano, pelo esvaziamento de uma antropologia fundamental, Joaquim de
Carvalho não foi filósofo. Mas desde as primícias da sua pesquisa intelectual e
histórico-filosófica, ele demonstrou ser pensador ou investigador de ideias
encarnadas, colhidas da sua própria realidade viva e vital, em qualquer época
da história do pensamento, desde a Idade-Média até ao século XIX, desde o
Renascimento até ao século XX. E em todos os domínios da pesquisa
doutrinária: na evolução da metafísica tradicional e escolástica, na libertação
da reflexão livre do Humanismo, na história da ciência moderna, do
racionalismo cartesiano, da filosofia das Luzes, do idealismo alemão, correntes
de que tinha um conhecimento profundo e amplo, e com as quais sabia
relacionar, de maneira científica (isto é, com ostinato rigore), os autores
27

citado e comentado tem sido, e aquele cujo tema sofreu


menos eclipses na inquietude, nos anelos e na
estimavas das gerações. Tem por protagonistas
Sócrates, por cenário, o cárcere de Atenas, por data, o
derradeiro dia de vida do «melhor, do mais sábio e do
mais justo dos homens», por assistentes e interlocutores,
discípulos e amigos do filósofo, por assunto dominante, a
imortalidade da alma. A ação decorre do amanhecer ao
sol‐posto, até ao momento em que Sócrates bebe a taça
de cicuta e põe termo à vida em cumprimento da
sentença que o condenara à morte. Os personagens são
reais, e o acontecimento verificou‐se, pelo menos nos
episódios relevantes, porque seria ridículo para Platão
deturpar factos conhecidos de toda a gente de Atenas. A
narração é sóbria, apenas o bastante para configurar o
ambiente propício à densidade emotiva e à altitude
intelectual; a exposição das concepções, pelo contrário,
tem quase sempre o desenvolvimento adequado à
fundamentação e ao alcance das ideias, que, embora se
apresentem literariamente sob a forma de uma
conversação, não são de maneira alguma filosofia
dialogada, mais ou menos convencional e postiça, como
os diálogos filosóficos que a renovação do Platonismo no
século XVI pôs de moda e alguns pensadores dos
tempos modernos adotaram como processo de
exposição de ideias. O comportamento de Sócrates
perante a morte é admirável de plácida naturalidade e
desentranha uma lição de edificação moral, que tem sido
ouvida, quase sem interrupção e sempre com respeito,
no decurso dos séculos. Daí a veneração que lhe têm
tributado o anelo religioso, o sentimento de dignidade
pessoal, a meditação, a arte e a poesia; no entanto, mais
impressionante e exemplar que a atitude moral perante a
morte é a lucidez com que o Filósofo discorre até ao
derradeiro alento de vida e a franqueza honrada, sem
sofismas nem subterfúgios, com que acolhe e examina

portugueses que mais amava, de Francisco Sanches a Verney, de Ribeiro


Sanches a Antero de Quental. Já nos seus primeiros trabalhos ele se propõe
dar do pensamento português uma visão histórica harmoniosa, um quadro
histórico que, até ele, não existia. É verdade que Joaquim de Carvalho não
pôde debuxar-nos (transitivo direto tomar a forma de), de maneira orgânica, a
história do pensamento nacional, embora nos tenha deixado trabalhos
importantíssimos para um tal debuxo, que só poderá ser efetivado por um
grupo de estudiosos (historiadores, filósofos, filólogos) da civilização
portuguesa. Se algum dia houver que escrever-se uma história da filosofia em
Portugal, os que se abalançarem a isso encontrarão já, nos trabalhos do
professor de Coimbra, as bases para um tal edifício.
28

as objeções contra a imortalidade da alma, que era o


sustentáculo da sua firmeza de ânimo. Pode pensar ‐se,
e não sem algum fundamento e natural estranheza, no
paradoxo antivital de Sócrates morrer raciocinando,
apetecendo e até justificando a morte; não obstante,
força é reconhecer, como escreveu Theodor Gomperz 30
em Os Pensadores da Grécia, no capítulo consagrado a
este diálogo, que «Platão ofereceu simultaneamente um
preito ao verdadeiro espírito filosófico e um monumento
ao seu mestre tais que outros mais magníficos se não
podem imaginar. Muitos leitores podem duvidar da
excelência das provas do Fédon em favor da
imortalidade da alma, e alguns até poderão experimentar
um sentimento de repulsa pelo ascetismo que impregna
este diálogo; porém, nenhum inimigo do obscurantismo,
ninguém verdadeiramente possuído do amor da verdade
pode ler este evangelho da liberdade ilimitada de pensar
sem dobrar os joelhos em sinal de respeito». Pelo
motivo, pelas circunstâncias e pelo desenlace, o Fédon é
um drama; pelo assunto e pelo seu desenvolvimento
dialético, um debate de ideias. Como drama, é uma peça
indivisível, submetida à unidade de tempo e de lugar;
como debate de ideias, é uma discussão na qual podem
distinguir‐se, para comodidade de leitura, um preâmbulo
e duas partes, na primeira das quais se examina o
problema da preexistência, da sobrevivência e da
natureza da alma, e na segunda se expõem crenças
relativas à vida futura. O Fédon consta de dois diálogos:
o diálogo vivo, inicial, que teve lugar em Flionte e de que
são interlocutores Fédon e Equécrates, e o diálogo
narrado, cujo local foi o cárcere de Atenas e no qual
intervêm Sócrates, Símias, Cebes, Fédon, Apolodoro,
Criton e o comissário dos Onze. A narração não é, pois,
direta. Platão atribui‐a a Fédon de Elis, discípulo
bem‐amado de Sócrates, que assim deu título ao diálogo
e alcançou uma espécie de imortalidade adjacente, que
o seu magistério socrático na terra natal não lhe
granjearia, pois dele tudo se ignora, embora se conjeture
com algum fundamento que o tivesse orientado num
sentido predominantemente dialético, à maneira da
escola31 de Euclides de Mégara32.

30 Theodor Gomperz (29 de março de 1832 - 29 de agosto de 1912), filósofo


austríaco e erudito clássico, nasceu em Brno (Brünn).
31 A escola Megárica de filosofia foi fundada por Euclides de Mégara, que tinha

sido um dos alunos de Sócrates no final do quinto século a.C. Seus


sucessores, como o diretor da escola em Mégara, disseram ter Íctias (metade
do século IV a.C.), e Estilipón (fim do do século IV a.C.). Mas é improvável que
a escola Megárica tenha sido uma instituição genuína e com uma posição
29

Entre o budismo e a ciência:


entre a mente e o corpo
Geoffrey Samuel (2014), escreveu sobre o artigo intitulado
“Entre o budismo e ciência, entre a mente e o corpo” (“Between
Buddhism and Science, Between Mind and Body”) para a revista
Religions, segundo o qual o budismo foi visto, pelo menos desde
os movimentos de reforma Theravāda do final do século XIX e
início do século XX, como particularmente compatível com a
ciência ocidental. A recente explosão de terapias Mindfulness
fortaleceu essa percepção. No entanto, o "Budismo" que está
sendo colocado em relação com a ciência no contexto do
movimento Mindfulness já passou por uma extensa reescrita sob
influências modernistas e muitos dos aspectos mais críticos do
pensamento e da prática budistas são descartados ou ignorados.
Os encontros do Instituto da Mente e da Vida, sob o patrocínio de
Sua Santidade o Dalai Lama33, apresentam um tipo de diálogo

filosófica unificada. Foi dito que os filósofos da escola foram chamados pela
primeira vez de "megáricos", mais tarde foram chamados de eristicos e depois
dialéticos mas é provável que estes nomes designaram grupos dissidentes
distintos da escola Megárica. Além de Íctias, os alunos mais importantes de
Euclides foram Eubulides de Mileto e Clinômaco. Parece ter sido sob
Clinômaco que uma escola dialética separado foi fundada, que colocou grande
ênfase na lógica e dialética e Clinômaco foi dito ter sido "o primeiro a escrever
sobre proposições s e predicados." No entanto, o próprio Euclides ensinou a
lógica, e seu pupilo, Eubulides, que era famoso por empregar paradoxos foi o
professor de vários dialéticos posteriores.
32 Euclides de Mégara foi um filósofo grego natural de Mégara, discípulo de

Sócrates e fundador da escola megárica. Sua vida se deu, aproximadamente,


entre 435 a.C. a 365 a.C. Sua filosofia foi uma mescla entre o pensamento de
Sócrates e o de Parmênides. O Bem é o Uno, e este é concebido segundo as
características eleatas de identidade e igualdade. Tudo o que fosse contrário
ao Bem, era entendido como ilusório ou inexistente.
33
O Dalai Lama é o título de uma linhagem de líderes religiosos da escola
Gelug do budismo tibetano, em se tratando de um monge e lama, é
reconhecido por todas as escolas do budismo tibetano. Também foram os
líderes políticos do Tibete entre os séculos XVII até 1959, residindo em Lhasa.
O Dalai Lama é também o líder oficial do governo tibetano em exílio, ou
Administração Central Tibetana. "Lama" é um termo geral que se refere aos
mestres budistas tibetanos. O atual Dalai Lama é muitas vezes chamado de
"Sua Santidade" por ocidentais, embora este pronome de tratamento não exista
no tibetano, não se tratando de uma tradução. Tibetanos podem referir-se a ele
através de epítetos tais como Gyawa Rinpoche que significa "grande protetor",
30

diferente, no qual um budismo tibetano que só começa a sofrer


reescritura modernista confronta cientistas e estudiosos ocidentais
em termos mais iguais. No entanto, o mundo altamente
sofisticado, mas radicalmente diferente, do pensamento tântrico,
realmente é compatível com a ciência contemporânea? Neste
artigo, examine as áreas problemáticas dentro do diálogo e sugira
que o progresso genuíno seja mais provável se reconhecermos as
diferenças entre o pensamento budista e a ciência
contemporânea e levá-los como uma oportunidade para repensar
os pressupostos científicos.

ou Yeshe Norbu, a "grande joia". Acredita-se que o Dalai Lama seja a


reencarnação de uma longa linha de tulkus, que optaram pela reencarnação, a
fim de esclarecer a humanidade.
31

Capítulo 2
O Tai chi chuan:
filosofia oriental
e cognição
Qualquer sensação exterior se canaliza diretamente até
o nosso corpo através da mente e então, teremos a a
consciência de algo: não unido e sim que separamos. Aí
é que perdemos o mais importante; o instito, a sensação
de estar tranquilo e ao mesmo tempo alerta. O
importante é sentir o segundo de vida que passa, nem
antes e nem depois; em viver cada instante e é onde
teremos poder para cambiar nosso mecânismo de
resposta a qualquer coisa.
Caliz34 (1990)

Conforme Gabani (2014), as teorias mecanicistas que


sustentam a física clássica moldaram o pensamento ocidental nos
últimos séculos; o pensar científico surge com todo o seu
esplendor, rompendo a escuridão de um mundo teocêntrico e
supersticioso, proporcionando à humanidade um progresso em
escala jamais antes vista ou imaginada. O pensamento científico
induz o raciocínio à linearidade, à fragmentação e ao
reducionismo. No entanto, esse entendimento provocou uma
dissociação, desenvolvendo um pensamento que, “dividindo em
dois reinos diferentes a mente e a matéria, tem levado o homem
ocidental a igualar sua identidade apenas à sua mente, em vez de
igualá-la a todo o seu organismo” (CAPRA, 2006, p. 25). A
identificação única com a consciência produz um pensamento
unilateral e perigoso.
Segundo Vianna (2011), até muito recentemente, na
tradição filosófica ocidental era negado ao corpo sua fragilidade,

34CALIZ, I. Tratado Taoista. Tai-Chi Quiqong. Mandala Ediciones:Madrid, 173 p.,


1990.
32

vulnerabilidade e finitude. Nietzsche35 (1844 – 1900) foi um dos


pensadores ocidentais que primeiro questionou o pensamento
vigente com relação ao “existir”, no momento em que uniu o
mundo da essência à existência. No entanto, é Merleau-Ponty36
(1908 – 1961) que vai instituir uma nova ontologia, cuja matriz é o
corpo a partir de uma consciência encarnada no mundo ao qual
estamos sensivelmente ligados, não podendo desprender-nos
inteiramente, como previa a tradição filosófica anterior. Assim,
entre corpo e espírito, encarando a vida humana não só como
espiritual, mas também corpórea, “o século XX restaurou e
aprofundou a questão da carne, isto é, do corpo animado”
(citando Merleau-Ponty apud Courtine37, 2008).
O tai chi chuan, arte marcial chinesa voltada para o cultivo
da energia interior (chi), pode ser compreendida como uma
metáfora psíquica alquímica de unificação da dualidade a partir da

35 Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken, Reino da Prússia, 15 de outubro de


1844 — Weimar, Império Alemão, 25 de agosto de 1900) foi um filósofo,
filólogo, crítico cultural, poeta e compositor prussiano do século XIX, nascido na
atual Alemanha. Ele escreveu vários textos críticos sobre a religião, a moral, a
cultura contemporânea, filosofia e ciência, exibindo uma predileção por
metáfora, ironia e aforismo. Suas ideias-chave incluíam a crítica à dicotomia
apolíneo/dionisíaca, o perspectivismo, a vontade de poder, a "morte de Deus",
o Übermensch (Além Homem, Novo Homem) e eterno retorno. Sua filosofia
central é a ideia de "afirmação da vida", que envolve questionamento de
qualquer doutrina que drene uma expansiva de energias, não importando o
quão socialmente predominantes essas ideias poderiam ser. Seu
questionamento radical do valor e da objetividade da verdade tem sido o foco
de extenso comentário e sua influência continua a ser substancial,
especialmente na tradição filosófica continental compreendendo
existencialismo, pós-modernismo e pós-estruturalismo. Suas ideias de
superação individual e transcendência além da estrutura e contexto tiveram um
impacto profundo sobre pensadores do final do século XIX e início do século
XX, que usaram estes conceitos como pontos de partida para o
desenvolvimento de suas filosofias.
36 Maurice MerleauPonty (RochefortsurMer, 14 de março de 1908 — Paris, 4 de

maio de 1961) foi um filósofo fenomenólogo francês. Structure du


comportement (1942) e Phénoménologie de la perception (1945). Influenciado
pela obra de Edmund Husserl, MerleauPonty procura dar carnalidade à
consciência intencional de seu mestre e precursor, nesse sentido leva a
filosofia de Husserl até as últimas consequências de sua encarnação no mundo
da vida. Em Fenomenologia da percepção, MerleauPonty critica a existência do
homem cartesiana pelo cogito. Para o fenomenólogo o homem se faz presente
pelo seu corpo e este participa do processo cognitivo.
37 COURTINE, J.-J. História do Corpo. Petrópolis, Vozes, 2008.
33

replicação ritualística da cosmogonia chinesa implícita na técnica,


proporcionando a reconexão do praticante com seu self.

Na cosmogonia chinesa não há um criador de todas as


coisas como nas “Religiões do Livro” com um ser divino
criador definido e imutável, onde uma sequência de
actos seus provoca a criação de todas as coisas, tudo
isto registado em livro sagrado. O espectro da
“curiosidade” sobre a origem do cosmos e da
humanidade na cultura chinesa vai desde a aceitação do
status quo sem o questionar, passando pela crença da
existência desde sempre e para sempre do Céu e da
Terra (coincidindo com a visão abstencionista Budista),
ou o Tao como origem na versão do Tao Te Ching, ou o
mito de Pan Ku com variantes, a que se poderão
associar de forma anacrônica dezenas de divindades
contributivas com os seus diferentes papéis criadores.
Uma característica quase única das mitologias chinesas
da criação é o fato de elas terem sido elaboradas, ou
pelo menos criadas, ou absorvidas, pela religião
(Taoismo, Confucionismo e Budismo) muito tardiamente.
A primeira vez que surge a ideia da criação (ou que é
sugerida uma cosmogonia mítica) é já no século IV a.C.
no Tao Te Ching:
Do caminho nasceu a unidade, da unidade nasceu a
dualidade, da dualidade nasceu a trindade, desta nasceu
toda a miríade de criaturas. Talvez mais clara e
perceptível esta versão: Em Tao emergiu o Um (Ser) O
qual se fragmentou em Dois (Yin e Yang) Dos Dois
nasceram Três. E dos Três saíram as dez mil coisas (…)
Para o Taoismo Tao é a origem de todas as coisas
concentrada nos contrários Yin (princípio passivo,
feminino) e Yang (princípio ativo, masculino).
Revista Macau (2017)

O Tai Chi Chuan foi originalmente desenvolvido como uma


arte marcial, mas vem sendo praticado há séculos na China como
atividade física principalmente pela população idosa devido ao
baixo impacto e baixa velocidade. Esta prática milenar consiste
em execuções de movimentos circulares suaves, associadas a
exercícios de respiração, concentração e relaxamento. Uma
variedade de benefícios relacionados ao Tai Chi Chuan tem sido
descrita. Numerosos estudos demonstram um impacto positivo do
Tai Chi Chuan no equilíbrio, força muscular, flexibilidade, controle
postural e, consequentemente, na prevenção de quedas em
idosos. Um estudo publicado recentemente mostrou que o grupo
34

que praticou Tai Chi Chuan teve melhora no aprendizado e


preservação da memória em compara- ção ao Grupo Controle
após um ano. Estes resultados sugerem que o Tai Chi Chuan,
além de melhorar o desempenho na memória, pode retardar suas
alterações com o decorrer do envelhecimento (Kasai e cols,
2010).
Conforme Kasai e cols (2010), estudos envolvendo função
cognitiva e Tai Chi Chuan continuam escassos na literatura. A
maior parte dos estudos relaciona atividade física aeróbia e
cognição na população idosa. Diversos estudos têm classificado o
Tai Chi Chuan como uma atividade física de intensidade
moderada por atingir 60% da frequência cardíaca má- xima e 55%
do consumo máximo de oxigênio. Portanto, os resultados
positivos encontrados no presente estudo provavelmente estão
relacionados ao fato de o Tai Chi Chuan, além de ser considerado
um exercício físico, trabalhar a concentração na realização de
uma sequência longa de movimentos (a sequência de
movimentos deve ser memorizada), mantendo-se o foco na
consciência corporal, relaxamento e respiração. Esta hipótese é
corroborada pela correlação direta encontrada no estudo
executado pelos autores, que reforça a relação direta entre o
desempenho da memória e a prática do Tai Chi Chuan.
35

Capitulo 3
Descartes, o Dualismo
Clássico, mente-corpo e a
Filosofia da Mente
Se quiser buscar realmente a verdade, é preciso que
pelo menos uma vez em sua vida você duvide, ao
máximo que puder, de todas as coisas.
René Descartes

René Descartes (La Haye en Touraine, 31 de março de


1596 – Estocolmo, 11 de fevereiro de 1650) foi um filósofo, físico
e matemático francês. Durante a Idade Moderna, também era
conhecido por seu nome latino Renatus Cartesius. Notabilizou-se
sobretudo por seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência,
mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a
fusão da álgebra com a geometria fato que gerou a geometria
analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome.
Por fim, foi também uma das figuras chave na Revolução
Científica. Descartes, por vezes chamado de "o fundador da
filosofia moderna" e o "pai da matemática moderna", é
considerado um dos pensadores mais importantes e influentes da
História do Pensamento Ocidental. Inspirou contemporâneos e
várias gerações de filósofos posteriores; boa parte da filosofia
escrita a partir de então foi uma reação às suas obras ou a
autores supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas
afirmam que, a partir de Descartes, inaugurou-se o racionalismo
da Idade Moderna. Décadas mais tarde, surgiria nas Ilhas
Britânicas um movimento filosófico que, de certa forma, seria o
seu oposto o empirismo, com John Locke38 e David Hume39.
38John Locke (Wrington, 29 de agosto de 1632 — Harlow, 28 de outubro de
1704) foi um filósofo inglês e ideólogo do liberalismo, sendo considerado o
36

René Descartes:
a distinção mente-corpo

Dualismo e mente

Conforme Janet Broughton e John Carriero (2017), em seu


artigo intitulado Contemporary Reactions to Descartes’ Philosophy
of Mind, (Reações contemporâneas à filosofia da mente de
Descartes), é amplamente assumido que a filosofia da mente de
Descartes é organizada em torno de três compromissos
principais. O primeiro é o dualismo de substância. O segundo é o
individualismo sobre o conteúdo mental. O terceiro é para uma
forma particularmente forte da doutrina do privilégio de acesso de
primeira pessoa. Cada um desses compromissos foi questionado
pelos filósofos da mente contemporâneos. O dualismo da
substância é geralmente considerado como não iniciante, o

principal representante do empirismo britânico e um dos principais teóricos do


contrato social. Locke ficou conhecido como o fundador do empirismo, além de
defender a liberdade e a tolerância religiosa. Como filósofo, pregou a teoria da
tábua rasa, segundo a qual a mente humana era como uma folha em branco,
que se preenchia apenas com a experiência. Essa teoria é uma crítica à
doutrina das ideias inatas de Platão, segundo a qual princípios e noções são
inerentes ao conhecimento humano e existem independentemente da
experiência. Locke escreveu o Ensaio acerca do Entendimento Humano, onde
desenvolve sua teoria sobre a origem e a natureza do conhecimento.
39 David Hume (Edimburgo, 7 de maio (ou 26 de abrilAntigo) de 1711 –

Edimburgo, 25 de agosto de 1776) foi filósofo, historiador e ensaísta britânico


nascido na Escócia que se tornou célebre por seu empirismo radical e seu
ceticismo filosófico. Ao lado de John Locke e George Berkeley, David Hume
compõe a famosa tríade do empirismo britânico, sendo considerado um dos
mais importantes pensadores do chamado iluminismo escocês e da própria
filosofia ocidental. David Hume opôs-se particularmente a Descartes e às
filosofias que consideravam o espírito humano desde um ponto de vista
teológico-metafísico. Assim David Hume abriu caminho à aplicação do método
experimental aos fenômenos mentais. Sua importância no desenvolvimento do
pensamento contemporâneo é considerável. Teve profunda influência sobre
Kant, sobre a filosofia analítica do início do século XX e sobre a fenomenologia.
37

individualismo foi atacado de vários lugares diferentes, e a


doutrina do acesso privilegiado foi diluída ou rejeitada. No
entanto, pelo menos no que diz respeito a questões sobre
conteúdo mental e acesso privilegiado, discussões
contemporâneas ainda abordam o que representam como pontos
de vista de Descartes. Na maioria das vezes, paródias cruas
desses pontos de vista acabam como foco de discussão, mas
críticos mais cuidadosos geralmente estão preparados para
reconhecer que a filosofia de mente de Descartes é mais sutil e
matizada do que as paródias podem levar a supor.
Respostas ao dualismo da substância, a visão de que a
mente e o corpo são substâncias distintas, uma das quais (corpo)
é material e a outra (mente) imaterial, cai em duas categorias
principais. Há aqueles que questionam sua coerência e aqueles
que a rejeitam por motivos empíricos. Resta saber qual a forma
de objeção mais apropriada, mas vale a pena notar que alguns
críticos de substância dualismo foram preparados para endossar
outro tipo de dualismo, um dualismo de propriedades. De acordo
com esta versão do "aspecto duplo" do dualismo, as propriedades
mentais não são idênticas nem são redutíveis às propriedades
físicas, mesmo que as propriedades físicas e mentais sejam
propriedades ou aspectos de uma única substância. Isso não teria
satisfeito Descartes, mas pode ser o melhor que pode ser feito
para o dualismo na filosofia da mente.
O individualismo é aproximadamente o ponto de vista de
que os pensamentos que uma pessoa pode ter não dependem de
suas relações com o ambiente físico ou social. Os pensamentos
de uma pessoa são, neste sentido, "independentes do mundo". O
individualismo sobre o mental, também conhecido como
"internismo", é muitas vezes atribuído a Descartes com base em
uma leitura de suas experiências de pensamento na Primeira
Meditação. Nesta leitura, Descartes está comprometida com o
individualismo porque ele prevê a possibilidade de estarmos
completamente errados sobre a natureza e a existência do mundo
e sobre nossos pensamentos permanecendo assim como estão
nessas circunstâncias. Em resposta, alegou-se que é um erro se
mudar da premissa de que nossos pensamentos sobre o mundo
podem ser radicalmente confundidos com a conclusão de que
eles são individualizados individualmente e que, de qualquer
modo, existem bons argumentos independentes contra o
individualismo. De uma perspectiva anti-individualista, portanto, a
38

concepção de Descartes de conteúdo mental é de interesse


porque traz os defeitos do individualismo no foco mais acentuado
possível.
A doutrina do acesso privilegiado em primeira pessoa diz
que os julgamentos introspectivamente baseados em seus
próprios estados mentais gozam de uma série de privilégios
epistêmicos que os julgamentos sobre a realidade não mental ou
os estados mentais de outros não gostam. Um desses privilégios
é a infalibilidade ou a imunidade ao erro. A imunidade ao erro não
implica imunidade à ignorância, mas as versões mais fortes da
doutrina do acesso privilegiado insistem em ambas as formas de
imunidade. Eles afirmam que os julgamentos introspectivamente
baseados sobre os próprios estados mentais não podem ser
confundidos e que não se pode deixar de saber o que é da própria
mente. Em face dessas duas teses são muito fortes. No entanto,
apesar do fato de que nem a ignorância nem o erro podem ser
descartados em relação a muitos estados de espírito, no entanto,
parece ser algo certo sobre a doutrina do acesso privilegiado. Por
exemplo, pode-se pensar que a base sobre a qual se atribui o
pensamento a si mesmo é diferente da base em que se atribui a
outros e que pelo menos alguns dos julgamentos sobre a própria
mente não podem ser confundidos. Por isso, o desafio é explicar
a autoridade do autoconhecimento sem exagerar sua força ou
alcance.
Além de suscitar questões sobre a relação mente-corpo,
conteúdo mental e acesso privilegiado, a filosofia mental de
Descartes levanta questões sobre a relação entre essas
questões. Alguns críticos materialistas do dualismo argumentaram
que a doutrina do acesso privilegiado implica a falsidade do
materialismo e que argumentos para o materialismo e contra o
dualismo são, portanto, também implicitamente argumentos
contra o acesso privilegiado. Outros comentaristas representaram
Descartes como argumentando para o individualismo com base
em que os julgamentos de alguém sobre os próprios
pensamentos são infalíveis. Isso, por sua vez, provocou um
debate entre aqueles que foram preparados para admitir que o
acesso epistêmico de alguém aos próprios pensamentos não
pode ser privilegiado dessa maneira, a menos que o
individualismo seja verdadeiro e outros que tenham argumentado
que podemos conhecer nossos próprios pensamentos de forma
autorizada. Mesmo se o individualismo for falso.
39

Dualistas na filosofia da mente


Os dualistas na filosofia da mente enfatizam a diferença
radical entre mente e matéria. Todos negam que a mente é o
mesmo que o cérebro, e alguns negam que a mente é totalmente
um produto do cérebro. Este artigo explora as várias maneiras
pelas quais os dualistas tentam explicar essa diferença radical
entre o mundo mental e o mundo físico. Uma ampla gama de
argumentos para e contra as várias opções dualistas são
discutidas.

Dualistas de substâncias
Os dualistas da substância tipicamente argumentam que a
mente e o corpo são compostos de substâncias diferentes e que a
mente é uma coisa pensante que carece dos atributos habituais
dos objetos físicos: tamanho, forma, localização, solidez,
movimento, adesão às leis da física e assim, os dualistas de
substâncias caem em vários campos, dependendo de como eles
pensam que a mente e o corpo estão relacionados.

Interacionistas
Os interacionistas acreditam que as mentes e os corpos se
afetam causalmente. Ocasionalistas e paralelistas, geralmente
motivados por uma preocupação em preservar a integridade da
ciência física, negam isso, atribuindo, em última análise, toda a
aparente interação com Deus.

Epifenomenalistas
Os epifenomenistas oferecem uma teoria de compromisso,
afirmando que os eventos corporais podem ter eventos mentais
como efeitos, ao negar que o inverso é verdadeiro, evitando
qualquer ameaça à lei científica de conservação de energia à
custa da noção de senso comum que agimos por razões.
40

Propriedade dualista
Os dualistas da propriedade argumentam que os estados
mentais são atributos irredutivíveis dos estados cerebrais. Para a
propriedade dualista, os fenômenos mentais são propriedades
não físicas de substâncias físicas.

Consciência
A consciência é talvez o exemplo mais amplamente
reconhecido de uma propriedade não física de substâncias
físicas. Ainda outros dualistas argumentam que estados mentais,
disposições e episódios são estados cerebrais, embora os
estados não possam ser conceitualizados exatamente da mesma
maneira sem perda de significado.

Dualistas
Os dualistas geralmente defendem a distinção de mente e
matéria ao empregar a Lei de Identidade de Leibniz, segundo a
qual duas coisas são idênticas, se, e somente se,
simultaneamente, compartilham exatamente as mesmas
qualidades. O dualista então tenta identificar os atributos da
mente que faltam a matéria (como privacidade ou
intencionalidade) ou vice-versa (como ter uma certa temperatura
ou carga elétrica). Os opositores tipicamente argumentam que o
dualismo é (a) inconsistente com leis conhecidas ou verdades da
ciência (como a lei da termodinâmica acima mencionada), (b)
conceitualmente incoerente (porque as mentes imateriais não
podem ser individualizadas ou porque a interação da mente não é
humanamente concebível) Ou (c) redutível ao absurdo (porque
leva ao solipsismo, a crença epistemológica de que a si mesmo é
a única existência que pode ser verificada e conhecida).
41

Capitulo 4
A filosofia de David Hume
e a Teoria da Causalidade
Imaginária
A beleza das coisas existe no espírito de quem as
contempla.
David Hume

David Hume [Edimburgo, 7 de maio (ou 26 de abril antigo


calendário) de 1711 – Edimburgo, 25 de agosto de 1776], foi
filósofo, historiador e ensaísta britânico nascido na Escócia que se
tornou célebre por seu empirismo radical Locke e seu ceticismo
filosófico. Ao lado de John e George Berkeley, David Hume
compõe a famosa tríade do empirismo britânico, sendo
considerado um dos mais importantes pensadores do chamado
iluminismo escocês e da própria filosofia ocidental. David Hume
opôs-se particularmente a Descartes e às filosofias que
consideravam o espírito humano desde um ponto de vista
teológico-metafísico. Assim, David Hume abriu caminho à
aplicação do método experimental aos fenômenos mentais.
Segundo Maciel (2017), importante filósofo do Empirismo
Britânico, do século XVIII, David Hume é conhecido por sua
posição filosófica baseada no ceticismo, empirismo e naturalismo,
posição esta que desenvolveu como um sistema filosófico
abrangente. Tendo início na obra Tratado da Natureza Humana,
de 1739, na qual Hume procurou examinar a base psicológica da
natureza humana, esta posição o levou a concluir ser o
comportamento humano governado pela paixão e não pela razão,
argumentando contra o racionalismo, ao qual o empirismo se
opunha com veemência. O desenvolvimento desta posição
também o
42

levou a afirmar uma ética sentimentalista, a qual seria baseada


nos sentimentos ou emoções humanas, em oposição a uma ética
baseada em princípios morais abstratos. Uma das principais
inovações conceituais apresentadas por Hume foi a expansão da
distinção de argumentos demonstrativos e prováveis, apresentada
por Locke. De acordo com Hume haveriam três tipos de
argumentos, as demonstrações, as provas e as probabilidades.
Do ponto de vista empírico, as provas seriam o tipo mais
relevante, pois referem-se àqueles argumentos provenientes da
experiência, aos quais não se pode oferecer oposição ou
apresentar dúvida, são auto-evidentes. Por esta posição, Hume
defende que a razão por si mesma não seria capaz de fazer surgir
ideias originais. Hume foi ainda mais longe em sua posição
empirista radical, argumentou que a causalidade não pode ser
justificada racionalmente, sendo nossa crença na existência da
causalidade um mero resultado da conjunção constante de
experiências e do hábito proveniente desta conjunção.

Da origem das idéias


Conforme Chibeni (2017), inicialmente, Hume divide todas
as nossas percepções em impressões, que são as percepções
fortes e vívidas, e idéias (ou pensamentos), que são as
percepções mais fracas. De acordo com o mesmo autor, Hume,
nota, em seguida, que embora nada pareça mais ilimitado do que
o pensamento, seu poder criador está restrito à composição,
transposição, aumento e diminuição dos “materiais” fornecidos
pela experiência (“externa” ou “interna”). Esses materiais são as
impressões. Propõe, assim, como princípio fundamental, que
todas as idéias são cópias de impressões. Para “proválo”, fornece
dois argumentos:
1o. Quando submetemos nossas ideias a análise, vemos que
sempre se compõem de ideias simples que foram copiadas de
uma impressão precedente. (Isso dá conta dos aparentes
contraexemplos de ideias complexas que, como a de uma
montanha de ouro, não foram copiadas prontas de nenhuma
impressão.) Hume transfere ao adversário a tarefa de encontrar
uma ideia cujos elementos não sejam provenientes de
impressões.
43

2o. Quando, devido a um defeito do órgão sensorial ou à falta do


objeto do sentido, alguém nunca teve determinada impressão,
verifica-se que também não possui a idéia correspondente.
Hume reconhece que pode haver uma exceção ao princípio
geral proposto: a formação, pela imaginação, da idéia de
determinada tonalidade de azul (no exemplo considerado) a partir
da impressão da série de todas as demais tonalidades dessa cor.
Acredita, no entanto, que essa exceção seja tão singular, que não
compromete a utilidade geral do princípio.
O autor conclui indicando brevemente um uso importante
de seu princípio: ele permite identificar as palavras sem
significado distinto, responsáveis por grande parte das disputas
em filosofia. Quando suspeitarmos que determinada palavra
inclui-se nessa classe, devemos nos inquirir acerca de que
impressão poderia ter dado origem à ideia supostamente
designada pela palavra. Não sendo possível encontrar nenhuma
tal impressão, a suspeita se confirmará.

Os conceitos de percepção,
experiência e hábito em David Hume
Conforme Vaz (2017), um dos objetivos de Hume é
encontrar os limites do conhecimento humano – os quais vão se
revelar na experiência. A experiência passa a ter lugar central na
filosofia do século XVIII e, principalmente na filosofia de Hume
pelo fato de passar a fundamentar as ciências e, ainda, por ser
reduzida à princípios. A fim de apresentar os princípios do
processo de conhecimento, o filósofo descreve o funcionamento
da mente através de noções como: percepções, impressões,
ideias, hábitos, sensações, emoções, experiência etc. Um dos
princípios mais importantes da ciência da natureza humana de
Hume, apresentada tanto no Tratado da natureza humana e na
Investigação sobre o entendimento humano, é o princípio de que
todo o conhecimento relativo ao mundo se embasa em
percepções, nas experiências. As percepções são definidas como
fenômenos que se dão no espírito humano (mente) através da
sensação interna ou externa. As percepções garantem a
existência do objeto, já que ele só é percebido quando existe. As
percepções são distintas umas das outras e também se ligam
entre si através da relação de semelhança. São consideradas os
44

conteúdos da mente humana e dividem-se em duas classes:


“impressões” e “ideias”. Aquelas são sensações mais vívidas e
fortes advindas da experiência, são emoções e paixões (origem
interna), e sensações (origem externa) percebidas de modo
imediato. Segundo Hume, as impressões são “nossas percepções
mais vívidas, sempre que ouvimos, ou vemos, ou sentimos, ou
amamos, ou odiamos, ou desejamos ou exercemos nossa
vontade (citando Hume, em Investigação sobre o entendimento
humano). Tais impressões podem, ainda, ser de dois tipos:
impressões externas (ligada às sensações) ou impressões
internas (ligadas à reflexão, às emoções e paixões). O termo
“impressão”, segundo o filósofo, significa a própria impressão, o
que restringe sua teoria ao campo fenomênico – por tratar das
percepções, enquanto tais e não questionar como as impressões
são produzidas na mente humana ou espírito. As ideias são
concebidas como cópias das impressões, sendo que as tem como
base e origem. Todavia, são cópias menos vívidas e fortes – por
tal motivo, não podem ser confundidas com as impressões. São
ideias o pensamento e o raciocínio. Distinguem-se em ideias
simples e ideias complexas: as ideias simples são cópias de
alguma impressão e, como tendem a se agregarem entre si,
formam as ideias complexas. Estas, por sua vez, são associações
de ideias simples através dos princípios ou de semelhança, ou
contiguidade no tempo e no espaço ou de causalidade; ou ainda,
são formadas pela imaginação. Os princípios que originam a
associação de ideias na mente também fazem com que a mente
seja transportada de uma ideia a outra.
Para a mesma autora, segundo Hume, estes são os
princípios de coesão, de união entre as ideias simples. Estas, na
imaginação, assumem o lugar de conexão indissolúvel – que as
une na memória. Deve-se ter em mente que a realidade das
ideias, tanto simples quanto complexas, dependem de terem
impressões correspondentes.
Segundo Varela (2009), na vida social, a imaginação
sobrepõe ao fluxo de impressões desconexas, que afetam a
mente, uma totalidade esquemática constituída de modelos
estáveis de meios e fins, de causas e efeitos, padrões de
conjunção constante que simulam regularidade não apenas nas
relações humanas como também nos processos da natureza. O
hábito é uma segunda natureza sob o efeito da qual supomos
tanto a continuidade dos processos gerais da existência social e
45

natural — “as leis de hoje serão válidas amanhã”, “o sol nascerá


amanhã como hoje” — quanto a duração de nossa própria vida.
Em função do hábito, da crença na previsibilidade, podemos
cultivar planos e expectativas.

A natureza das percepções


da mente humana
Afim de explicar a natureza das percepções da mente
humana, e assim oferecer uma base sólida para seu sistema, o
autor estabeleceu que tais percepções constituiriam-se a partir
dos objetos mentais, aos quais também chamou "percepções
mentais". Estes objetos mentais dividiriam-se em duas categorias:
Impressões e Ideias (Maciel, 2017).
Conforme o mesmo autor, comentadores posteriores têm
entendido que esta distinção trata dos conceitos de "sentimento" e
"pensamento" respectivamente, já que Hume distingue as
impressões das ideias devido a sua vivacidade e força, chegando
a afirmar que as impressões seriam a forma original das ideias, o
que hoje é entendido, graças ao trabalho de Don Garret, como
significando que todas as ideias são, em ultima análise, cópias de
impressões originais. Deste modo, nada novo poderia surgir na
mente humana se não por meio da experiência, que geraria
impressões, das quais por sua vez se derivariam as ideias.
Entendido desta forma, a hipótese dos dois tipos de objetos
mentais dá base para a recusa de Hume em aceitar que a mente
humana seria capaz de fazer surgir ideias originais por meio da
razão, explicando sua recusa frente ao racionalismo de autores
como Descartes.

Valadares (2009), em “A teoria da causalidade imaginária


na filosofia de Hume”, segundo o qual Hume inicia o Tratado da
natureza humana com uma proposição conceitual que distingue
as percepções da mente humana em duas classes fundamentais:
impressões e ideias. A rigor, essa distinção não presume uma
dicotomia, nem estabelece entre seus termos diferenças
antagônicas de natureza. A divisão das percepções entre
impressões e ideias é antes intensiva que qualitativa, isto é, diz
respeito às variações de intensidade ou aos respectivos graus de
vividez e força que se devem atribuir a cada tipo de percepção. As
46

impressões são mais vívidas, penetram mais violentamente em


nosso pensamento em sua primeira aparição à alma, e abrangem
as sensações e as paixões. E, como na ordem de aparição das
percepções à mente as impressões sempre antecedem as ideias,
estas, objetos de operação de nosso intelecto, manifestam
apenas as imagens embaciadas e mortiças que nos ficam dessas
impressões distanciadas no espaço e no tempo. Impressões e
ideias concordam em natureza, concernem a uma mesma
percepção, considerada em dois momentos distintos de sua
presença na mente. As ideias derivam das impressões,
compartilham sua substância, refletem-nas e representam-nas:
elas são as marcas dessas impressões dissipadas no fluxo de
percepções que constitui a mente humana. No artigo citado o
autor aborda a concepção de causalidade apresentada pelo fi
lósofo escocês David Hume no Tratado da natureza humana
(TNH) e propõe, como argumento central, que a ideia de relação
causal deriva de uma impressão reflexiva e toma a forma de uma
crença imaginária cujo objeto é uma conjunção constante.
Começando por analisar os conceitos de impressões e ideias,
sobre os quais Hume elabora sua teoria da percepção, o texto
explora, em seguida, os fundamentos do processo de associação
de ideias, do qual a noção de causalidade é um modo.
O mesmo autor argumenta que as ideias, para Hume, são
imagens fracas das impressões, elementos secundários na ordem
das percepções e que, por essa razão, não poderiam ser
consideradas inatas. Para ele, se, por outro lado, se entende por
inato o que é original ou não copiado de nenhuma percepção
anterior, então as impressões podem ser ditas inatas, porque
precedem as ideias no curso habitual das percepções. Desse
ponto de vista, a diferença dos estatutos atribuídos a impressões
e ideias decorre de que, para Hume, o mundo do ser, das
existências, coincide com o mundo das aparências, o mundo tal
como o percebemos. Ademais, como para Berkeley, cuja máxima
“ser é ser percebido” costuma encimar os textos dedicados à sua
obra nos manuais de filosofia, também para Hume a ideia de
existência relaciona-se à percepção:1) Não há impressão ou ideia
que não seja concebida como existente; a ideia de existência é
rigorosamente idêntica à ideia daquilo que concebemos existir, ou
seja, à ideia da própria percepção. Essa identidade é sumarizada
por Hume na forma de uma tautologia: qualquer ideia que
47

quisermos formar será a ideia de um ser, e a ideia de um ser será


qualquer ideia que quisermos formar.
Conforme Varela (2009), na realidade, afirma Hume, jamais
avançamos um passo além de nós mesmos nem podemos
conceber nenhuma existência diversa das percepções que se nos
apresentam dentro dos estreitos limites das sensações. Ideias e
impressões subdividem-se ainda em duas outras modalidades:
. Podem denominar-se simples, se não comportam discrição nem
separação, ou complexas, se é possível distingui-las em partes
menores. A noção de ideias e impressões simples, ou da
indivisibilidade de impressões e ideias, define, segundo a
expressão de Deleuze40, o “atomismo espiritual” de Hume. A
mente, composta de percepções simples, é uma coleção de
átomos, elementos irredutíveis uns aos outros, ideias e
impressões elementares que se correspondem mutuamente, com
predominância das últimas sobre as primeiras. A percepção
complexa de uma maçã, segundo o modelo de Hume, decompõe-
se nas impressões mais simples de seu aroma, seu sabor e sua
cor. Berkeley, na introdução do seu Tratado dos princípios do
conhecimento humano, alude à mesma imagem, notando que
certa cor, forma e consistência, seguidas de certo sabor e aroma
percebidos em conjunto, designam uma coisa singular chamada
“maçã”.

O Tratado sobre os Princípios do


Conhecimento Humano
O Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano
(no original, Treatise Concerning the Principles of Human
Knowledge) é uma obra de 1710 da autoria do filósofo empiricista
angloirlandês George Berkeley. O livro tenta refutar as afirmações
feitas pelo seu contemporâneo John Locke sobre a natureza da
percepção humana. Berkeley defendia que o mundo exterior era
apenas composto por ideias assim como as minhas percepções
deste mundo. Berkeley baseou na concepção de que "as ideias
apenas podem se assemelhar a ideias" as ideias mentais que
possuímos apenas podem se assemelhar a outras ideias (não a

40Gilles Deleuze (Paris, 18 de Janeiro de 1925 — Paris, 4 de Novembro de


1995) foi um filósofo francês.
48

objetos físicos) e, portanto, o mundo independente de nós


consistia não de formas físicas, mas de ideias. A esse mundo era
dada lógica e regularidade, algo continua a existir mesmo se
ninguém o perceber, por causa de uma outra mente constante
que Berkeley concluiu ser Deus.
49

Capítulo 5
A Filosofia da
Mente e a
Neurociência
Paradoxalmente, o fundo de mistério, aquilo que não se
rende a explicações, que acompanha alguns fenômenos
humanos investigados é tradicionalmente ignorado pela
Ciência, perde seu “status” de conhecimento, ou em
outras palavras, sua validade científica. Ou então,
quando abordado pela Ciência, muitas vezes segue
trajetória reducionista e perde seu caráter misterioso.
Ana Cristina Zimmermann
Camila Torriani-Pasin (2011).

Segundo Silveira (2017), o conhecimento é um ato típico de


um ser vivo. Em específico, o homem, ao entrar em contato com a
realidade, se utiliza dos sentidos para ter as primeiras impressões
do meio circundante. Assim, por intermédio dos sentidos, utiliza
de um conjunto de faculdades como a sensação, a percepção, a
imaginação e a memória para se situar no ambiente. Essas
faculdades fornecem imagens dos objetos. Os animais inferiores
também possuem essas faculdades. Sem elas é impossível
perceber a realidade. Contudo, além de uma faculdade sensorial,
o homem possui uma faculdade intelectual que lhe fornece ideias,
conceitos gerais. Ao raciocinar o homem é capaz de atingir
verdades absolutas. Essa faculdade é exclusiva do ser humano, é
o diferencial em relação aos outros seres vivos. A faculdade
intelectiva do homem por milênios foi associada à existência de
uma alma. Filósofos como Platão e Descartes provocaram uma
verdadeira ruptura antropológica ao sustentarem um dualismo
substancial entre alma e corpo. Para o primeiro, o corpo era o
cárcere da alma, e para o segundo a alma era uma substância
pensante. E, sendo a alma distinta do corpo, o único
50

conhecimento verdadeiro seria o conhecimento de origem


racional. Assim, deram prioridade ao sujeito no ato de conhecer. A
ciência do cérebro, apropriando-se da neuroimagem, juntamente
com outras técnicas afins, possibilitou traçar o caminho percorrido
pelas informações captadas pelos órgãos dos sentidos até partes
específicas do cérebro. Para o autor, com isso, tendem de forma
exclusiva a um empirismo. O empirismo é o oposto do
racionalismo. Enquanto o racionalismo defende a origem do
conhecimento na razão, o empirismo enfatiza a experiência,
dando prioridade ao objeto.

John Locke,
filósofo líder do empirismo britânico

Empirismo
O termo "empirismo" vem do grego έμπειρία, cuja tradução para o latim é
experientia, que significa experiência em português. Na filosofia, empirismo foi
uma teoria do conhecimento que afirma que o conhecimento vem apenas, ou
principalmente, a partir da experiência sensorial. O método indutivo, por sua
vez, afirma que a ciência como conhecimento só pode ser derivada a partir dos
dados da experiência. Essa afirmação rigorosa e filosófica acerca da
construção do conhecimento gera o problema da indução. Um dos vários
pontos de vista da epistemologia, o estudo do conhecimento humano,
juntamente com o racionalismo, o idealismo e historicismo, o empirismo
enfatiza o papel da experiência e da evidência, experiência sensorial,
especialmente, na formação de ideias, sobre a noção de ideias inatas ou
tradições; empiristas podem argumentar, porém, que as tradições (ou
costumes) surgem devido às relações de experiências sensoriais anteriores.
51

René Descartes introduziu o racionalismo


na filosofia moderna.

Racionalismo
O racionalismo é a corrente filosófica que iniciou com a definição do raciocínio
como uma operação mental, discursiva e lógica que usa uma ou mais
proposições para extrair conclusões, ou seja, se uma ou outra proposição é
verdadeira, falsa ou provável. Essa era a ideia central comum ao conjunto de
doutrinas conhecidas tradicionalmente como racionalismo. O racionalismo é em
parte, a base da Filosofia, ao priorizar a razão como o caminho para se
alcançar a Verdade. O racionalismo afirma que tudo o que existe tem uma
causa inteligível, mesmo que essa causa não possa ser demonstrada
empiricamente, tal como a causa da origem do Universo. Privilegia a razão em
detrimento da experiência do mundo sensível como via de acesso ao
conhecimento. Considera a dedução como o método superior de investigação
filosófica. René Descartes, Baruch Spinoza e Gottfried Wilhelm Leibniz
introduzem o racionalismo na filosofia moderna. Georg Wilhelm Friedrich
Hegel, por sua vez, identifica o racional com o real, supondo a total
inteligibilidade deste último. O racionalismo é baseado nos princípios da busca
da certeza, pela demonstração e análise, sustentados, segundo Kant, pelo
conhecimento a priori, ou seja, o conhecimento que não é inato nem decorre da
experiência sensível, mas é produzido somente pela razão.

A Filosofia da Mente é um ramo recente, da filosofia, que


compreende uma inter-relação entre saberes de várias ciências
que tratam da interação entre o cérebro e a mente. Bartoszeck e
Bartoszeck (2007), em artigo tratam das contribuições da
52

neurociência para os estudos da Filosofia da Mente, embora não


apenas esse ramo do conhecimento possa ser beneficiado com
essa contribuição. Segundo os mesmos autores, as reflexões
filosóficas estavam intimamente ligadas aos avanços científicos,
de maneira que os filósofos antigos, para fazerem suas
conjecturas, não deixavam de lado a ciência, que tinham a seu
alcance. Da mesma forma, os filósofos modernos podem tirar
proveito das descobertas para elaborar suas teorias sobre bases
sólidas. Desse modo, não apenas filósofos da mente podem se
interessar por neurociência, como também existencialistas podem
obter subsídios para suas categorias existenciais, baseados nos
estudos do self (citando António Damásio, 2000). Até mesmo
correntes filosóficas que pouco se modificaram com o passar dos
anos podem se beneficiar desse intercâmbio, como é o caso dos
estudiosos de Platão, filósofo que, em sua obra intitulada A
República, vislumbrou que uma etapa do aprendizado poderia
estar vinculada à mimese, a qual seria o primeiro estágio de
aprendizado, em que o sujeito repetiria uma ação ou um
conhecimento de outrem. Certamente, Platão ficaria fascinado se
descobrisse que a nova “onda” das pesquisas em neurociência
trata dos “neurônios-espelho”, os quais se ativam quando entram
em contato com a ação alheia, ideia que hoje é considerada o
alicerce de nossa cultura.
Conforme Gonzalez e cols (2012), a disciplina Filosofia da
Mente tem por objetivo investigar os principais problemas
relacionados à natureza da mente – dos eventos, estados,
processos e das funções mentais – bem como sua relação com o
corpo e o meio ambiente. Diferentes tentativas de elucidação
desses problemas são encontradas nas diversas vertentes da
Filosofia da Mente, entre as quais se destacam a abordagem
analítica (anglo-saxã) e a continental, além daquelas que
possuem influência da filosofia oriental.
João de Fernandes Teixeira (2017), em obra que foi
originalmente publicada em 1994 pela Editora Brasiliense na
Coleção Primeiros Passos, sob número 294, afirmou que durante
séculos os filósofos tentaram responder às questões: O que é a
mente? O que caracteriza os fenômenos mentais? O mesmo
ocorre com quase todas as religiões que conhecemos. Todas elas
referem-se à mente às vezes como "espírito" ou como "alma" -
algo que teria propriedades especiais e que continuaria
subsistindo mesmo após a nossa morte. Na verdade, falar de
53

"mente" ou de "fenômenos mentais" ainda é uma coisa que nos


causa tanta estranheza quanto falar de OVNIs ou da existência de
criaturas extraterrestres. A mente sempre foi um enigma, talvez
pelo fato de os fenômenos mentais serem invisíveis e inacessíveis
para nós. A ciência de que dispomos até hoje não parece ter
auxiliado muito na tentativa de encontrar uma resposta para essas
questões. A Psicologia quer fazer uma ciência da mente,
desenvolveu testes e teorias acerca do funcionamento mental do
homem e de alguns animais. Mas os psicólogos nunca chegaram
a um consenso sobre o que é a mente e sobre o que eles estão
falando. Há não muito tempo havia psicólogos que nem sequer
reconheciam a existência da mente ou dos fenômenos mentais,
embora se declarassem estudiosos de Psicologia. Estranhas
criaturas, que nem sequer sabiam que sonhavam! Por outro lado,
nos últimos anos presenciamos um imenso desenvolvimento da
Neurofisiologia e das chamadas "ciências de cérebro". Mas será
que essas ciências podem nos ajudar a encontrar uma resposta
para tais questões? Podemos até imaginar um neurocirurgião
abrindo a cabeça de alguém e examinando seu cérebro:
certamente ele verá muitas células nervosas, mas nunca verá
uma idéia, um sentimento ou uma emoção. Talvez esta seja uma
maneira de caracterizar a natureza dos fenômenos mentais: eles
são invisíveis. Mas será esta uma boa caracterização? Os átomos
também são invisíveis. Entretanto seria difícil dizer que átomos
são fenômenos mentais apenas porque não podemos observá-
los. A diferença estaria no fato de que os átomos são invisíveis,
mas isto não significa que um dia eles não possam ser
observados. Através de um super microscópios eletrônico, que
poderia ser construído no futuro, quem sabe? O mesmo não
ocorreria com os fenômenos mentais.
Segundo Teixeira (2017), o neurofisiólogo ou estudioso das
"ciências do cérebro" poderia objetar: “É claro que eu só observo
células nervosas quando abro a cabeça de alguém. Não posso
observar ideias, sentimentos ou emoções da mesma maneira que
o físico não pode observar a "massa", "aceleração" ou
"gravidade". Isto não quer dizer que o estudo da mente não possa
ser feito a partir do estudo do cérebro. Mas ao fazer esta
afirmação o neurofisiólogo estaria se esquecendo de uma
diferença fundamental: "massa", "aceleração", "gravidade" podem
ser medidas. Não teria sentido dizer que um dia poderemos
54

"medir uma idéia" ou estabelecer a " quantidade de alegria" que


sentimos ao descobrir que nosso bilhete de loteria foi premiado.

Perspectivas contemporâneas
em filosofia da mente
Conforme Cescon (2010), a Filosofia da Mente aborda as
questões epistemológicas que estão por detrás da pesquisa
científica sobre a mente, usando o método especulativo (com
experiências mentais) e levando em consideração os resultados
obtidos na pesquisa empírica. Um dos problemas fundamentais
tratados é o problema mente-cérebro, diante do qual os teóricos
normalmente seguem uma de quatro perspectivas: new
mysterianism, reducionismo, funcionalismo e fenomenologia.

New mysterianism
O New Mysterianism é a posição filosófica segundo a qual
o problema difícil da consciência jamais será explicado. Seria
impossível explicar tal problema a partir da mente humana e do
seu atual estágio de desenvolvimento. Esta posição também é
conhecida como naturalismo anti-construtivo ou naturalismo
transcendental (Cescon, 2010).
Conforme Castilho (2017), o debate entre realismo e anti-
realismo científico pode ser considerado um dos mais importantes
da filosofia da ciência, visto que aborda a atividade científica
como um todo. Segundo a mesma autora, uma das principais
questões referente à Epistemologia ao estudo ou teoria do
conhecimento, diz respeito aos limites do que se pode conhecer,
i.e., questiona-se sobre o que pode ou não ser conhecido. Frente
a tal questionamento podemos destacar duas posições ou
doutrinas filosóficas: o realismo e o anti- realismo que:
A autora, citando Hacking41 (1983) e Plastino42 (1995),
escreveu que maneira simplista, podemos afirmar que o realismo
considera que:
41 HACKING, I. Representing and intervening. Cambridge: Cambridge
University Press, 1983.
42 PLASTINO, C. E. Realismo e anti-realismo acerca da ciência: considerações

filosóficas sobre o valor cognitivo da ciência. São Paulo, 1995. Tese


55

(...) entidades, estados e processos descritos por teorias


corretas existem de fato. Prótons, fótons, campos de
força e buracos negros são tão reais quanto unhas do
pé, turbinas, vórtices e vulcões. As interações fracas de
pequenas partículas físicas são tão reais quanto
apaixonar-se. Teorias acerca da estrutura de moléculas
que carregam códigos genéticos são verdadeiras ou
falsas e uma teoria genuinamente correta seria uma
teoria verdadeira (Hacking, 1983).
(...) há um mundo exterior definido (...) que em
grande parte é independente de nosso conhecimento ou
experiência; a ciência busca
alcançar informação substancial e correta dos
aspectos do mundo, ou seja, apresentar teorias
verdadeiras que representem os elementos e a
estrutura do mundo; é possível o acesso epistêmico ao
mundo e se espera que a ciência, em seu progressivo
desenvolvimento, permita aperfeiçoar nossa capacidade
de obter conhecimento (...) do mundo (Plastino, 1995).

O problema insolúvel é como explicar a existência de


qualia43 (instâncias individuais de experiência subjetiva e
consciente). Em termos das várias escolas de Filosofia da Mente,
o mistério é uma forma de fisicalismo não-produtivo. Alguns
"mistérios" declaram seu caso de forma intransigente (Colin
McGinn disse que a consciência é "um mistério que a inteligência
humana nunca irá desvendar"). Outros acreditam meramente que
a consciência não está no alcance da compreensão humana
presente, mas pode ser compreensível para futuros avanços de
ciência e tecnologia.

(Doutorado em Filosofia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,


Universidade de São Paulo

43Qualia é um termo usado na filosofia que define as qualidades subjetivas das


experiências mentais conscientes. Por exemplo, a vermelhidão do vermelho, ou o
doloroso da dor. Os qualia simbolizam o hiato explicativo que existe entre as
qualidades subjetivas da nossa percepção e o sistema físico a que chamamos
cérebro.
56

“Princípio da Incerteza”
e a Filosofia da Mente
Werner Karl Heisenberg (Würzburg, 5 de dezembro de
1901 — Munique, 1 de fevereiro de 1976) foi um físico teórico
alemão que recebeu o Nobel de Física de 1932, "pela criação da
mecânica quântica, cujas aplicações levaram à descoberta, entre
outras, das formas alotrópicas do hidrogênio". Juntamente com
Max Born e Pascual Jordan, Heisenberg estabeleceu as bases da
formulação matricial da mecânica quântica em 1925. Em 1927,
publicou o artigo Über den anschaulichen Inhalt der
quantentheoretischen Kinematik und Mechanik, em que apresenta
o Princípio da Incerteza. Também fez importantes contribuições
teóricas nos campos da hidrodinâmica de escoamentos
turbulentos, no estudo do núcleo atômico, do ferro-magnetismo,
dos raios cósmicos e das partículas subatômicas. Teve ainda uma
contribuição fundamental no planejamento do primeiro reator
nuclear alemão em Karlsruhe e de um reator de pesquisa em
Munique, em 1957. Muitas controvérsias envolvem o seu trabalho
na pesquisa nuclear durante a Segunda Guerra Mundial
(Wikipédia, 2017).
Conforme Zimmermann e Torriani-Pasin (2011), já na
primeira metade do séc. XX, Heisenberg formula o “Princípio da
Incerteza”, na mecânica quântica, afirmando a impossibilidade de
se determinar com precisão a posição e a velocidade de uma
partícula simultaneamente uma vez que o distúrbio causado pela
observação é comparável aos próprios fenômenos que estão
sendo observados. Entre outras consequências, confirma-se a
dificuldade em ignorar a interação observador-sistema observado.
Este pressuposto, amplamente considerado nas Ciências
Humanas, surpreende em outros campos. A complexidade da
pesquisa mostra-se a cada movimento da Ciência em busca do
desconhecido e do dificilmente mensurável sob diversas óticas.
Na Educação Física, por exemplo, quando tentamos pensar o
movimento humano, esse corpo vivo em relação com o mundo,
por meio de conceitos restritos a uma única área, constata-se a
complexidade deste fenômeno por meio do aparecimento de
lacunas, espaços em que o imponderável se apresenta. A
elaboração de premissas explicativas para o movimento torna-se
57

constantemente expandida para os mais diversos níveis de


análise: celular, neural, mecânico, comportamental, psicológico,
social, histórico, e ainda assim, sempre novas questões
apresentam-se. Tal qual um jogo, movimento é também
provocação, privilégio de um fenômeno que é também convite ao
que está por vir. Paradoxalmente, o fundo de mistério, aquilo que
não se rende a explicações, que acompanha alguns fenômenos
humanos investigados é tradicionalmente ignorado pela Ciência,
perde seu “status” de conhecimento, ou em outras palavras, sua
validade científica. Ou então, quando abordado pela Ciência,
muitas vezes segue trajetória reducionista e perde seu caráter
misterioso. A Ciência é análise, explicação e objetivação de uma
experiência de mundo que, por sua vez, se mostra irredutível.
Entretanto, a Filosofia nos lembra a nossa capacidade de pensar
o próprio pensamento e talvez seja interessante, por alguns
momentos, experimentarmos outras lógicas de questionamento.
Ao invés de buscar respostas em um sistema de explicações e
considerar o que temos a dizer sobre o movimento podemos, por
exemplo, inverter questões: o que o estudo do corpo tem a nos
ensinar? O que a experiência do movimento humano pode nos
indicar? A própria mudança nas perguntas sugere diferentes
abordagens.
De acordo com Zimmermann e Torriani-Pasin (2011),
quando tentamos pensar o movimento humano, esse corpo vivo
em relação com o mundo, por meio de conceitos restritos a uma
única área, constata-se a complexidade deste fenômeno, que se
mostra a cada novo movimento da ciência. Considerando esta
complexidade, retomamos neste ensaio a possibilidade de diálogo
entre Filosofia e Ciência, aqui ocupadas com os estudos sobre
corpo e movimento humano. Recorremos, então, ao
estranhamento entre Neurociência e Filosofia, em especial a
Fenomenologia de Merleau-Ponty, por meio de exemplos clínicos
e reflexões, não no sentido de buscar um sistema de explicações,
forçar uma aproximação ou apontar elementos para fins de
hierarquização, mas com o intuito de extrair deste movimento os
elementos que nos ajudem a pensar nossas certezas e dúvidas
acerca do movimento humano. A Filosofia nos auxilia,
inicialmente, a indagar sobre os pressupostos e consequências
das pesquisas, recolocando questões e restaurando o lugar da
dúvida. A Ciência, por sua vez, abre campos, aguça curiosidades,
e mesmo sem admiti-lo, deixa-se questionar. A separação entre
58

as diferentes formas de pensar a realidade e produzir


conhecimentos não precisa necessariamente ser combatida, às
custas do enfraquecimento de ambas, mas é possível extrair
consequências interessantes de um movimento de aproximação
entre as duas áreas.

Considerações acerca do debate entre


Realismo e Anti-realismo Científico.
Marcos Rodrigues da Silva (1998), em seu trabalho
intitulado “Realismo e Anti-Realismo na Ciência: aspectos
introdutórios de uma discussão sobre a natureza das teorias
escreveu que uma caracterização bastante comum para a
afirmação do realismo científico se coloca na seguinte tese: as
teorias científicas possuem um valor-de-verdade (o verdadeiro ou
o falso), uma vez que os enunciados teóricos referem a entidades
externas à teoria, sendo que estas entidades realmente existem.
O realista mostra-se comprometido com entidades inobserváveis
(externas à teoria, e, principalmente, descobertas pela teoria), e
alega que este compromisso decorre de uma tentativa de
explicação da ciência (e, em alguns casos, de outras modalidades
cognitivas) que se apresenta como mais bem-sucedida do que as
alternativas disponíveis, pois a vantagem de sua concepção
reside no fato de que ele possui um critério externo para a
avaliação do conhecimento. E, somente por isto, podemos ainda
fazer alguma menção à verdade. Esta, por sua vez, seria a
correspondência das nossas proposições com o mundo - uma
proposição é verdadeira quando ela afirma o que realmente
ocorre no mundo, caso contrário, ela é falsa. O mundo externo,
portanto, se estabelece como o tribunal das proposições (e das
teorias). (Entenda-se porém, que mundo aqui não significa
apenas o mundo externo observável, mas também um mundo
constituído por entidades inobserváveis.) Para o realista, o mundo
é considerado, sob o ponto de vista ontológico, como constituído
por propriedades autônomas. Assim, o mundo externo, num
sentido nada trivial - considerando que há aqui uma fonte
considerável de debate entre as posições realista e antirrealista -,
seria independente das teorias científicas. Percebe-se, desta
forma, a reivindicação básica do realismo científico: as leis
científicas são descobertas, ao contrário da posição antirealista,
59

que as postula como invenções (citando van Fraassen44 1989).


Na perspectiva realista, as entidades teóricas existem
(autonomamente); assim, elas são descobertas, e figuram como
constituintes teóricos das explicações científicas.
Conforme o mesmo autor, um bom exemplo disto se
encontra na mecânica newtoniana45, onde as definições das
entidades teóricas ali presentes tornam claro o caráter
independente destas entidades com relação à teoria que está
veiculando-as. Força, inércia, gravidade, não são constructos
mentais, mas entidades realmente existentes, pois elas revelam a
estrutura causal do mundo, e permitem uma explicação em torno
destes mecanismos causais. Como veremos adiante, exatamente
neste ponto incidiu a crítica anti-realista. Um dos adversários mais
brilhantes de Newton, George Berkeley46, recusou-se a aceitar as

44 VAN FRAASSEN, B. (1989) The Scientific Image. Oxford: Clarendon Press.


45 Isaac Newton (WoolsthorpebyColsterworth, 4 de janeiro de 1643 —
Kensington, 31 de março de 1727) foi um astrônomo, alquimista, filósofo
natural, teólogo e cientista inglês, mais reconhecido como físico e matemático.
Sua obra, Princípios Matemáticos da Filosofia Natural é considerada uma das
mais influentes na história da ciência. Publicada em 1687, esta obra descreve a
lei da gravitação universal e as três leis de Newton, que fundamentaram a
mecânica clássica. Ao demonstrar a consistência que havia entre o sistema por
si idealizado e as leis de Kepler do movimento dos planetas, foi o primeiro a
demonstrar que os movimentos de objetos, tanto na Terra como em outros
corpos celestes, são governados pelo mesmo conjunto de leis naturais. O
poder unificador e profético de suas leis era centrado na revolução científica,
no avanço do heliocentrismo e na difundida noção de que a investigação
racional pode revelar o funcionamento mais intrínseco da natureza.
46 George Berkeley (Condado de Kilkenny, 12 de março de 1685 Oxford, a 14

de janeiro de 1753) foi um filósofo idealista irlandês. Estudou no Trinity College


de Dublin, onde se tornou fellow em 1707. Lecionou hebraico, grego e teologia.
Por esta época, dedicou-se ao estudo sistemático da filosofia (em especial
John Locke, Isaac Newton e Malebranche). Dois anos mais tarde, publicou seu
primeiro livro importante: Ensaio para uma nova teoria da visão. Em 1710,
apresentou seu princípio de que ser é ser percebido (esse est percipi) na
primeira parte da obra Tratado sobre os princípios do conhecimento humano.
Em 1712 publicou Três diálogos entre Hilas e Filonous a fim de melhor explicar
as concepções propostas na obra anterior. Ao mesmo tempo, Berkeley era
ministro da Igreja Anglicana e, em Londres, escreveu uma série de artigos no
jornal The Guardian contra os livres-pensadores. Em 1713 abandona essa
atividade e torna-se preceptor de jovens ingleses que desejavam conhecer a
Itália. Viajou para lá, onde permaneceu até 1721. Nesse período, perdeu o
manuscrito da segunda parte dos Princípios, que jamais voltaria a escrever.
Após este período, ele encontrou diversos outros filósofos dos quais ele viria à
criticar algumas posições mais tarde, como Ian Neheelson.
60

consequências realistas de sua mecânica, uma vez que estas não


poderiam ser observadas diretamente por intermédio dos
sentidos. Ao invés disso, Berkeley as entendia como criações
teóricas, sem nenhuma referência externa: força, inércia e
gravidade são categorias explicativas, e não possuem autonomia
ontológica. Elas acomodam, de uma forma bastante razoável, o
material da experiência; não obstante, elas não referem a
entidades extra teóricas. A gravidade seria apenas uma forma de
expressar um tipo de relação entre os corpos - em suma, a
gravidade é uma entidade teórica, concebida e, além disso,
extremamente bem-sucedida para dar conta de uma explicação.
61

Capítulo 6
A Introdução à
Neurofilosofia:
a relação entre a
mente e o corpo
O cansaço físico, mesmo que suportado forçosamente,
não prejudica o corpo, enquanto o conhecimento imposto
à força não pode permanecer na alma por muito tempo.
Platão

Camila Gomes Victorino (2009), em seu artigo intitulado


Uma introdução à neurofilosofia: o problema mente-corpo, afirmou
que:

A Neurofilosofia tenta desvendar os mistérios da


inteligência consciente, aliada a outras ciências como a
neurociência e a inteligência artificial. Apesar do
crescente avanço da neurofisiologia, uma Filosofia da
Mente que se adeque a todos os resultados e eventos
observados das ciências cognitivas ainda não pôde ser
formulada, existindo um enorme desacordo quanto à
origem dos estados mentais. Designado como problema
mente-corpo, ele divide a comunidade filosófica e
científica em dualistas e monistas. Se os primeiros
afirmam que os estados mentais não têm como origem
os estados cerebrais, os segundos afirmam que há uma
correlação entre estados físicos do encéfalo e estados
mentais, sem, no entanto, chegar a um consenso quanto
aos detalhes da correlação entre encéfalo e mente.

Combinando as disciplinas científicas das neurociências


com a filosofia, em 1990 Patricia S. Churchland47, propôs o termo

47Patricia Smith Churchland (nascida em 16 de julho de 1943) é um filósofa


analítica canadense-americana conhecida por contribuições para a
62

“Neurofilosofia” como uma filosofia sobre o ser humano que se


apoia nos conhecimentos que aportem das neurociências.
A Wikipédia (2017), define Neurofilosofia ou Filosofia da
Neurociência como o estudo interdisciplinar da neurociência e
filosofia que explora a relevância dos estudos em neurociência
aos argumentos tradicionalmente classificadas como filosofia da
mente. A filosofia da neurosciência tenta esclarecer os métodos
de neuroscience utilizando o rigor e métodos usados na filosofia
da ciência.
Conforme Victorino (2009), a Neurofilosofia trabalha os
pressupostos empregados nas ciências cognitivas experimentais.
Desde seu surgimento, a Filosofia da Mente se caracterizou como
um novo esforço para retornar aos principais temas clássicos que
atravessaram o pensamento na modernidade. Era preciso fazer
uma nova tentativa no sentido de determinar a natureza última
dos fenômenos mentais (...) sem ignorar os resultados das
pesquisas sobre o cérebro humano (segundo a autora citando a
Teixeira48, 1994). Para se ter uma idéia dos principais temas
estudados pela Neurofilosofia, além do problema mente-corpo
será, o qual não só concerne a própria filosofia da mente, mas
todo o desenvolvimento das outras ciências cognitivas.

Neurofilosofia da racionalidade
A Racionalidade na
Filosofia da Consciência
Conforme Sousa (2017), em Meditações Metafísicas,
Descartes demonstra a distinção real entre a mente e o corpo. É
dele a frase ”penso, logo existo”. Com isto quis dizer que a
consciência implica em existência. Nesta obra estão os
argumentos para provar o dualismo entre mente e corpo quando
explica “...há uma grande diferença entre o espírito e o corpo pelo

neurofilosofia e a filosofia de mente. Ela é professora emérita filosofia na


Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD), onde ensina desde 1984.
48 TEIXEIRA, J. F. (1994). O que é filosofia da mente. Coleção Primeiros

Passos. São Paulo, SP, Ed. Brasiliense


63

fato de o corpo por sua natureza ser sempre divisível e de o


espírito ser inteiramente indivisível”.
De acordo com a mesma autora, John Locke criou um
movimento filosófico - o empirismo - em oposição a Descartes.
Segundo essa teoria, o conhecimento é fruto da experiência
sensorial: “Suponhamos então que a mente seja, como se diz, um
papel em branco, vazio de todos os caracteres, sem quaisquer
ideias. Como chega a recebê-las? De onde obtém esta prodigiosa
abundância de ideias, que a ativa e ilimitada fantasia do homem
nele pintou, com uma variedade quase infinita? De onde tira todos
os materiais da razão e do conhecimento? A isto respondo com
uma só palavra: da experiência. Aí está o fundamento de todo
nosso conhecimento; em última instância daí deriva todo ele. São
as observações que fazemos sobre os objetos exteriores e
sensíveis ou sobre as operações internas da nossa mente, de que
nos apercebemos e sobre as quais nós próprios refletimos, que
fornecem à nossa mente a matéria de todos os seus
pensamentos. Estas são as duas fontes de conhecimento, de
onde brotam todas as ideias que temos ou podemos naturalmente
ter”. O conhecimento que se baseia na identidade e na
coexistência é estreito, mas o que vai além desses acordos, o que
depende de raciocínio e de nossa capacidade de estabelecer
ideias intermediárias é o elo que formam outras ideias.
Para Sousa (2017), a percepção mais o entendimento são
as bases do conhecimento. O conhecimento baseia-se nas ideias,
mas depende de nosso entendimento, do elo entre as ideias que
são os objetos de nosso entendimento. Não depende apenas de
conceitos exteriores, mas de nossa concordância ou discordância
entre nossas ideias. Então, os limites e a validade do
conhecimento serão resultantes da percepção de nossas ideias,
bem como as operações da mente. Se existir conformidade entre
nossas ideias e a realidade das coisas, nosso conhecimento é
real e não imaginação do espírito ou uma simples quimera49.

49 Quimera (em grego transl.: Chímaira) é uma figura mística caracterizada por
uma aparência híbrida de dois ou mais animais e a capacidade de lançar fogo
pelas narinas, sendo portanto, uma fera ou besta mitológica. Oriunda da
Anatólia e cujo tipo surgiu na Grécia durante o século VII a.C., sempre exerceu
atração sobre o imaginário popular. De acordo com a versão mais difundida da
lenda, a quimera era um monstruoso produto da união entre Equidna metade
mulher, metade serpente e o gigantesco Tifão. Outras lendas a fazem filha da
hidra de Lerna e do leão da Nemeia, que foram mortos por Hércules. Criada
64

Segundo Sousa (2017), nos séculos XVI e XVII, houve


modificações na visão do mundo com Descartes e Locke, entre
outros. Assim concepções do conhecimento e da identidade do
sujeito foram substituídas com outras, ambos sendo concebidos
como sendo construída por ele próprio, surgindo a ideia de
autonomia, que é muito importante na educação. A pessoa é
capaz de pensar por si mesma, e de construir sua própria
identidade, o que depende da consciência de cada um. A visão do
mundo não era mais visão cósmica, mas sim um mundo que
possui uma ordem mecânica com base em relações de causa e
efeito, como uma máquina, e compreender o mundo é uma
questão de desvendar os caminhos dessa máquina. Uma grande
metáfora usada nos séculos XVII, XVIII e XIX, era comparar o
mundo a um relógio no qual só vemos a face e a ciência tem o
objetivo de olhar além dessa face para entender como funciona,
sendo assim há uma busca por leis de funcionamento dessa
máquina. No entanto, como seres racionais, estamos à parte
dessa máquina. Assim podemos separar o espírito, o racional e o
emocional que são do individuo que está à parte do corpo,
separando-se a alma do corpo, separando-se o sujeito do objeto.
Começou a pensar a racionalidade como uma faculdade interior,
tentando-se entender como o indivíduo se constrói.
Conforme Sousa (2014), não existe uma Filosofia da
Neurociência capaz de discutir o empreendimento neurocientífico
que analise a plausibilidade e confiabilidade das explicações
neurocientíficas. A neurociência é por sua natureza, uma
atividade reducionista e tem como meta explicar o comportamento
consciente-racional segundo a doutrina neuronal, i.e., a tese de
que o neurônio, uma célula altamente especializada, é a unidade
básica da cognição; entender o comportamento consciente
equivale a entender o funcionamento de mecanismos neuronais.
Para o mesmo autor, agentes racionais tomam decisões
diariamente e os membros de uma comunidade social tentam
entender o comportamento de seus semelhantes na base de
razões e motivos, na esperança de poder “ler” as intenções do
outro, levantando certas perguntas como “por que o agente tomou

pelo rei da Cária, mais tarde assolaria este reino e o de Lícia bafejando fogo
incessantemente, até que o herói Belerofonte, montado no cavalo alado
Pégaso, conseguiu matá-la. Com o passar do tempo, chamou-se
genericamente quimera a todo monstro fantástico empregado na decoração
arquitetônica.
65

tal decisão”, e possíveis respostas citariam razões ou motivos.


Contudo, esta visão parece equivocada, como sugerem recentes
achados neurocientíficos, e, consequentemente, a concepção
clássica de racionalidade deveria ser substituída por uma visão
neurobiológica [o homem neuronal, como afirma Souza (2014)
citando Jean-Pierre Changeux50, 1991]. A imagem que emerge a
partir dos achados empíricos sugere ausência de racionalidade e
consciência plena, como estabelecido pela concepção clássica de
racionalidade. O conceito de agência racional, construído ao
longo dos séculos, parece desencaminhador.
Segundo Gregório (2017), em seu artigo Racionalidade
Filosófica e Racionalidade Científica, afirmou que a capacidade
de instrumentalização do homem foi, ao longo do tempo,
conferindo à Ciência o atributo de racionalidade. O positivismo de
Comte mostra a influência que a epistemologia exerceu sobre a
Filosofia. Neste status quo, temos de ponderar, a fim de não
sermos tragados pelo encantamento das máquinas e da
comprovação científica. O conceito de "racionalidade" tem dupla
significação: filosófica e científica. A racionalidade filosófica
abarca a totalidade do saber, em que o pensamento insere-se
numa Cosmovisão do ser; a racionalidade científica possui visada
restrita, ou seja, limitada aos métodos de análises conceituais e
de experimentos. Kant chama a primeira de Razão e a segunda
de Entendimento. O importante a ressaltar é que o entendimento
científico depende da razão filosófica, e não o contrário. O
problema central da filosofia é combater a idolatria. Somos
fabricantes de falsos deuses, conferindo-lhes poderes salvíficos.
Entre tais deuses, está a ciência e seus derivados, que
açambarcou da filosofia toda a espécie de conhecimento. Neste
sentido, chega-se ao ponto de considerar como saber verdadeiro
somente aquele proveniente de uma comprovação científica. O
instinto monárquico que passou da teologia à filosofia reside hoje
na ciência. A teoria da escolha, elaborada por Vivian Charles
Walsh (Axiomatic Choice Theory, 1971), comporta vários
axiomas, todos intuitivamente plausíveis, parecendo representar o
que poderia ser chamado de comportamento racional. Nessa

50 JeanPierre Changeux (Domont, 6 de abril de 1936) é um neurobiologista


francês. Em 2010 foi eleito membro da Académie royale des sciences, des
lettres et des beauxarts de Belgique.
66

teoria, o indivíduo seria tratado de racional sempre que


escolhesse o estado de coisas A com relação ao estado de coisas
B, não se levando em conta os juízos de valor, ou seja, as
finalidades da ação. Apenas demonstrando coerência de
comportamento, esse indivíduo seria considerado racional. O
mesmo ocorre na área científica, ficando fora de sua alçada tudo
o que pertence à ordem dos fins e dos valores. A Filosofia deve
retomar o seu papel de construtora do saber. Segundo a postura
filosófica, devemos duvidar dos cientistas e dos políticos, como
sendo os principais detentores do conhecimento. É que,
acostumados ao uso de gráficos e cômputos matemáticos,
encastelam-se em suas especializações limitadas e julgam-se os
únicos proclamadores da verdade.
Conforme o mesmo autor, a busca do conhecimento não
é tarefa fácil. Muitas vezes a verdade encontra-se no fundo, mas
nem todos têm o hábito de procurá-la com denodo e
determinação.
De acordo com Sousa (2017), não podemos mais aceitar a
ontologia pré-moderna de um cosmos harmonioso (o ogos ôntico).
Ao mesmo tempo, não podemos mais conceber as ideias da
filosofia do sujeito ou da consciência, em que a racionalidade era
fruto da consciência interior de cada indivíduo, baseada em ideias
transcendentais e uma concepção do sujeito desprendido, livre de
influências (de Descartes a Kant). Por isso, é necessário
desenvolver outra concepção do sujeito e da racionalidade, para
fundamentar uma pedagogia para os dias de hoje.
Sousa (2014), em seu artigo Neurofilosofia da
Racionalidade: críticas e propostas a partir da filosofia e das
neurociências em última instância, o Homo sapiens é um animal
que age segundo razões e intenções motivadoras. A
neurobiologia não consegue explicar a agência racional em
termos físico-químicos. E, mesmo a avaliação da hipótese de que
a neurobiologia é a responsável pela ação racional, requererá o
uso da racionalidade mínima para avaliar a fiabilidade da
hipótese. Ou seja, os neurocientistas que defendem esta
proposição precisam admitir a existência de uma racionalidade
mínima que seja capaz de avaliar criticamente as asserções
científicas, e no fim, este tipo de atividade racional consiste do
oferecimento de razões baseadas em intenções motivadoras. O
convencimento funciona na base da apresentação de razões em
favor ou contra algo. A atribuição de falsidade ou veracidade às
67

asserções neurocientíficas implica na existência de uma


racionalidade mínima, e, portanto, mas uma vez, esta é a prova
cabal de que há racionalidade, mesmo que restrita. Em suma,
segundo o autor, Hempel51 (1962) tem razão: “O homem é de fato
um ser racional: ele pode fornecer razões para qualquer coisa que
ele faça”, e Aristóteles, mutatis mutandis, ainda está certo: a
racionalidade é a marca definidora da natureza humana; Homo
sapiens, zōonlogonechon.

Modelos neurais de consciência


uma análise neurofilosófica
Conforme Sousa (2015), o problema da consciência possui
origem na Filosofia Moderna. Por séculos, o assunto restringiu-se
ao âmbito da filosofia. No entanto, houve uma mudança e,
atualmente, discute-se sobre a possibilidade de uma ciência da
consciência, i.e., como explicá-la cientificamente. A neurociência
assumiu a tarefa de responder à questão de como o cérebro é
capaz de gerar estados conscientes providos de qualidades
singulares. Para tanto, modelos neurais têm sido propostos. A
partir desses modelos, alguns neurocientistas e filósofos visam a
entender como o cérebro produz estados conscientes qualitativos.
Sousa (2015), concluiu que embora existam diversas
tentativas de reduzir a consciência a processos neurais, estes,
contudo, não são suficientes para explicar causalmente a
ocorrência da qualidade subjetiva de saborear a água de coco ou
ouvir a Nona de Beethoven. Considerar somente a explicação
neurobiológica é um erro, porque esta é incapaz de explicar
(indicar causalmente) a emergência da consciência e das
propriedades qualitativas. A neurobiologia é o nível necessário
para se entender como estados qualitativos emergem no cérebro.
Os modelos, apesar da incompletude e limitação, são o estágio
inicial para a compreensão do problema da consciência. É melhor
um modelo limitado do que nenhum, e que os modelos de
consciência servem apenas como representação parcial de um
fenômeno complexo, o qual deve ser investigado sob diversos
ângulos, e não apenas se privilegiando um, como o nível

51HEMPEL, C. G. Rational Action. Proceedings of the American Philosophical


Association Vol. 35, pp. 5-23, 1962.
68

neurobiológico ou cognitivo. Os modelos nos servem como polo


norteador e, como o próprio nome diz, são “modelos” e não
descrições completas de como o cérebro produz consciência. Um
modelo de furacão não é um furacão (uma representação
fidedigna), e representa alguns aspectos do fenômeno, assim
como modelos de consciência não são a consciência; eles
representam alguns aspectos relacionados com o fenômeno. Os
modelos são fundamentais para se entender o funcionamento do
cérebro, mas é imperioso admitir suas limitações inerentes, pois
modelos são representações simplificadas de um fenômeno e
servem como ponto de partida para explicar e compreender algo
geralmente complexo.
Victorino (2009), afirmou que as questões neurofilosóficas
são tão antigas quanto o dia em que o primeiro ser humano se fez
a pergunta de "quem somos nós". A natureza do pensamento e
sua origem perspassou as mentes de grandes filósofos, todavia
sem obter consenso. Atualmente, entretanto, os avanços da
pesquisa em neurociências são um forte argumento a favor das
teorias materialistas, sem que, no entanto, as teorias dualistas
sejam abandonadas, pois a pouca idade das neurociências ainda
não permite a construção de um modelo científico capaz de
explicar completamente estados mentais mais complexos como a
consciência. Se o materialismo se mostrar correto, é fato que
antigas questões de ordem filosófica serão respondidas pelas
ciências cognitivas, porém isso não quer dizer que a neurofilosofia
se tornará obsoleta, já que sempre existirão perguntas para serem
respondidas com relação à natureza da mente e, portanto,
neurofilósofos para definirem pressupostos por trás das diversas
linhas experimentais que irão surgir.
69

Capítulo 7
Os primórdios da
Neuroantropologia
Conhece-te a ti próprio e
conhecerás o Universo e os
Deuses.
Sócrates

De acordo com Gonçalves e cols (2014), como já há mais


de 6 décadas reconhecia Donald Hebb52 (1949), em The
Organization of Behavior, os psicólogos não enfrentam, na sua
demanda epistemológica, uma tarefa simples.
A Teoria Hebbiana
A Teoria Hebbiana descreve um mecanismo básico da
plasticidade sináptica no qual um aumento na eficiência
sináptica surge da estimulação repetida e persistente da
célula póssinápticas. Introduzida por Donald Hebb em
1949, é também chamada de regra de Hebb, postulado
de Hebb, e afirma: vamos assumir que a persistência ou
repetição de uma atividade reverberatória tende a induzir
mudanças celulares duradouras que promovem
estabilidade. (...) quando um axônio da célula A esta
próxima o suficiente para excitar a célula B e
repetidamente ou persistentemente segue fazendo com
que a célula dispare, algum processo de crescimento ou

52 Donald Olding Hebb (1904 – 1985) foi um psicólogo canadense que se


doutorou na Universidade de Harvard nos Estados Unidos em 1936. O nome
de Donald O. Hebb esta ligado às pesquisas psicológicas que determinaram os
efeitos do uso de privação sensorial e outros métodos que mais tarde vieram a
fazer parte das técnicas de tortura desenvolvidas sob supervisão da CIA.Como
Ewen Cameron, Hebb está também ligado à Universidade McGill no Canadá.
Os resultados das pesquisas de Donald Hebb aparecem mais tarde como no
caso das fotos de prisioneiros encapuzados, com óculos escurecidos e luvas
grossas, ou em posições bizarras, na Prisão americana de Guantánamo e
Prisão de Abu Ghraib sob comando americano. Dos estudos de Hebb
resultaram tais técnicas vistas como tortura. Hebb é visto como o precursor dos
estudos que foram feitos no infame Projeto MKULTRA, na Universidade McGill,
Canadá.
70

alteração metabólica ocorre em uma ou ambas as


células, de forma que aumente a eficácia de A, como
uma das células capazes de fazer com que B dispare. A
teoria é frequentemente resumida como "células que
disparam juntas, permanecem conectadas",
apesarmdessa afirmação ser uma simplificação
exagerada do sistema nervoso que não deve ser tomada
literalmente, bem como não representa fielmente a
afirmação original de Hebb sobre as forças de troca na
conectividade celular. A teoria é comumente evocada
para explicar alguns tipos de aprendizagem associativos
no qual a ativação simultânea de células leva a um
crescimento pronunciado na força sináptica. Tal
aprendizado é conhecido como aprendizagem hebbiana.

Segundo os mesmos autores, com efeito, a procura das


leis que possam permitir a validação dos mecanismos de
compreensão, predição e regulação do comportamento e da
atividade mental, é tarefa de grande complexidade. O quesito
afigura-se, por vezes, um verdadeiro trabalho de Sísifo, em que
carregamos penosamente o nosso precioso objeto (i.e., pedra de
mármore) até ao cume da montanha para constatar que,
chegados ao topo, a pedra escorrega novamente pela encosta até
ao ponto de partida.

Sísifo
Na mitologia grega, Sísifo (em grego transl.: Sísyphos),
filho do rei Éolo, da Tessália, e Enarete, era considerado
o mais astuto de todos os mortais. Foi o fundador e
primeiro rei de Éfira, depois chamada Corinto, onde
governou por diversos anos. Casou-se com Mérope, filha
de Atlas, sendo pai de Glauco e avô de Belerofonte.
Mestre da malícia e da felicidade, ele entrou para a
tradição como um dos maiores ofensores dos deuses.
Segundo Higino, ele odiava seu irmão Salmoneu;
perguntando a Apolo como ele poderia matar seu
inimigo, o deus respondeu que ele deveria ter filhos com
Tiro, filha de Salmoneu, que o vingariam. Dois filhos
nasceram, mas Tiro, descobrindo a profecia, os matou.
Sísifo se vingou ... e, por causa disso, ele recebeu como
castigo na terra dos mortos empurrar uma pedra até o
lugar mais alto da montanha, de onde ela rola de volta.
Segundo Pausânias, ele tornou-se rei de Corinto após a
partida de Jasão e Medeia; nesta versão, Medeia não
matou os próprios filhos por vingança, mas escondeu-os
no templo de Hera esperando que, com isso, eles se
tornassem imortais. Sísifo casou-se com Mérope, uma
71

das sete Plêiades, tendo com ela um filho, Glauco. Ele


também teve outros filhos, Ornitião, Tersandro e Almus.
Certa vez, uma grande águia sobrevoou sua cidade,
levando nas garras uma bela jovem. Sísifo reconheceu a
jovem Égina, filha de Asopo, um deusrio. Mais tarde, o
velho Asopo veio perguntarlhe se sabia do rapto de sua
filha e qual seria seu destino. Sísifo logo fez um acordo:
em troca de uma fonte de água para sua cidade, ele
contaria o paradeiro da filha. O acordo foi feito e a fonte
presenteada recebeu o nome de Pirene. Assim, ele
despertou a raiva do grande Zeus, que enviou o deus da
Morte, Tânato, para leva-lo ao mundo subterrâneo.
Porém o esperto Sísifo conseguiu enganar o enviado de
Zeus. Elogiou sua beleza e pediu-lhe para deixa-lo
enfeitar seu pescoço com um colar. O colar, na verdade,
não passava de uma coleira, com a qual Sísifo manteve
a Morte aprisionada e conseguiu driblar seu destino.
Durante um tempo não morreu mais ninguém. Sísifo
soube enganar a Morte, mas arrumou novas encrencas.
Desta vez com Hades, o deus dos mortos, e com Ares, o
deus da guerra, que precisava dos préstimos da Morte
para consumar as batalhas. Tão logo teve conhecimento,
Hades libertou Tânato e ordenou-lhe que trouxesse
Sísifo imediatamente para as mansões da morte.
Quando Sísifo se despediu de sua mulher, teve o
cuidado de pedir secretamente que ela não enterra-sse
seu corpo. Já no inferno, Sísifo reclamou com Hades da
falta de respeito de sua esposa em não o enterrar. Então
suplicou por mais um dia de prazo, para se vingar da
mulher ingrata e cumprir os rituais fúnebres. Hades lhe
concedeu o pedido. Sísifo então retomou seu corpo e
fugiu com a esposa. Havia enganado a Morte pela
segunda vez. Outra história a respeito de Sísifo trata do
ocorrido quando Autólico, o mais esperto e bem-
sucedido ladrão da Grécia (que era filho de Hermes e
vizinho de Sísifo), tentou roubar-lhe o gado. Autólico
mudava a cor dos animais. As reses desapareciam
sistematicamente sem que se encontrasse o menor sinal
do ladrão, porém Sísifo começou a desconfiar de algo,
pois o rebanho de Autólico aumentava à medida que o
seu diminuía. Sísifo, um homem letrado (teria sido um
dos primeiros gregos a dominar a escrita), teve a ideia
de marcar os cascos de seus animais com sinais de
modo que, à medida que a res se afastava do curral,
aparecia no chão a frase "Autólico me roubou".
Posteriormente, Sísifo e Autólico fizeram as pazes e se
tornaram amigos. Sísifo também seduziu Anticleia, filha
de Autólico, que mais tarde se casou com o rei de Ítaca,
Laerte; por este motivo, Odisseu é considerado, por
72

alguns autores, como filho de Sísifo. Sísifo morreu de


velhice e Zeus enviou Hermes para conduzir sua alma a
Hades. No tártaro, Sísifo foi considerado um grande
rebelde e teve um castigo, juntamente com Prometeu,
Tício, Tântalo e Íxion. Sísifo recebeu esta punição: foi
condenado a, por toda a eternidade, rolar uma grande
pedra de mármore com suas mãos até o cume de uma
montanha, sendo que toda vez que ele estava quase
alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha
abaixo até o ponto de partida por meio de uma força
irresistível, invalidando completamente o duro esforço
despendido. Por esse motivo, a expressão "trabalho de
Sísifo", em contextos modernos, é empregada para
denotar qualquer tarefa que envolva esforços longos,
repetitivos e inevitavelmente fadados ao fracasso algo
como um infinito ciclo de esforços que, além de nunca
levarem a nada útil ou proveitoso, também são
totalmente desprovidos de quaisquer opções de
desistência ou recusa em fazêlo. Sísifo tornou-se
conhecido por executar um trabalho rotineiro e cansativo.
Tratava-se de um castigo para mostrar-lhe que os
mortais não têm a liberdade dos deuses. Os mortais têm
a liberdade de escolha, devendo, pois, concentrarse nos
afazeres da vida cotidiana, vivendo-a em sua plenitude,
tornando-se criativos na repetição e na monotonia.

Talvez seja este o nosso castigo por ousar desafiar Zeus53


neste nosso projeto de nos substituirmos aquilo que ao longo dos

53 Zeus (em grego antigo transl. Zeús; em grego moderno transl. Días), é o pai
dos deuses e dos homens, que exercia a autoridade sobre os deuses olímpicos
na antiga religião grega. É o deus dos céus, raios, relâmpago que mantêm a
ordem e justiça na mitologia grega. Seu equivalente romano é Júpiter,
enquanto seu equivalente etrusco é Tinia; alguns autores estabeleceram seu
equivalente hindu como sendo Indra. Filho do titã Cronos e de Reia, Zeus é o
mais novo de seus irmãos; na maior parte das tradições é casado, primeiro
com Métis, engendrando a deusa Atena e, depois, com Hera, embora no
oráculo de Dodona, sua esposa seja Dione, com quem, de acordo com a Ilíada,
ele teria gerado Afrodite. É conhecido por suas aventuras eróticas, que
frequentemente resultavam em descendentes divinos e heroicos, como Atena,
Apolo e Ártemis, Hermes, Perséfone (com Deméter), Dioniso, Perseu,
Héracles, Helena de Troia, Minos, e as Musas (de Mnemosine); com Hera, teria
tido Ares, Ênio, Ilítia, Éris, Hebe e Hefesto. Mesmo os deuses que não são
filhos naturais de Zeus dirigem-se a ele como Pai, e todos os deuses se põem
de pé diante de sua presença. Para os gregos, era o Rei dos Deuses, que
supervisionava o universo. Nas palavras do geógrafo antigo Pausânias, que
Zeus é rei nos céus é um dito comum a todos os homens. Na Teogonia, de
73

milênios foi unicamente desígnio do sagrado. No entanto, tal


como o astuto Sísifo, temos ao longo de século e meio de
existência vindo a driblar o destino de uma morte tantas vezes
anunciada e, frequentemente, exagerada. Um dos modos pelos
quais a psicologia tem procurado sustentar um progresso seguro
até ao cume do conhecimento é recorrendo à parceria científica
transdisciplinar. Foi assim, logo desde a sua constituição, numa
aliança estratégica com a física dos finais do século XIX. Gustav
Fechner sugeria ser possível desenvolver uma nova ciência
assente na formulação de regras “exactas” acerca de relações
entre o mundo físico e o mundo psicológico, “o corpo e a alma”
(1860/1966). Voltou a ser assim quando James Watson
(1913/1994) lançou o seu manifesto defendendo a psicologia
como um ramo experimental das ciências naturais e criticando o
modo como a psicologia se sequestrou na natureza “esotérica”
dos seus métodos (i.e., introspecção). A proposta de Watson é,
sobretudo, uma proposta metodológica de aproximação às outras
ciências da natureza. Trata-se do reconhecimento de que o
esclarecimento da natureza do objecto depende da sofisticação e
rigor de método – nas outras ciências como a física e química,
sustenta, Watson, “uma melhor técnica leva a resultados mais
reprodutíveis”. É precisamente esta sofisticação metodológica ao
permitir aceder, com níveis de maior rigor, aquilo que até aí
poderia ser unicamente inferido, vai conduzir à revolução
cognitiva da psicologia. É esta revolução que vai possibilitar, a
partir dos anos 50, a confluências de várias disciplinas no espaço
transdisciplinar conhecido como as “ciências cognitivas”. George
Miller (2003), vai ao ponto de situar um acontecimento, e até um
dia, para a emergência das ciências cognitivas. No dia 11 de
Setembro de 1956, quando saía de um simpósio organizado pelo
“Special Interest Group in Information Theory” no Massachusetts
Institute of Technology, George Miller confessa ter tido na altura
“a convicção, mais intuitiva que racional, que a psicologia
experimental, a linguística teórica e a simulação computorial dos
processos cognitivos eram partes de um conjunto mais vasto e
que o futuro assistiria a uma elaboração e coordenação
progressiva das suas preocupações comuns” (2003, p. 142). Com
efeito, as décadas seguintes vão testemunhar um crescimento

Hesíodo, Zeus é responsável por delegar a cada um dos deuses suas devidas
funções. Nos Hinos Homéricos ele é referido como o chefe dos deuses.
74

impressionante das ciências cognitivas, sofisticando


consideravelmente a nossa compreensão dos processos
psicológicos até à altura vistos como uma “caixa negra”. No início
dos anos 90 a psicologia enfrentava de novo os desafios de
Sísifo. Por um lado, os novos desenvolvimentos metodológicos
permitiam abordar recantos do funcionamento mental até aí
inacessíveis. No entanto, por outro lado, o modo como estes
processos psicológicos eram determinados e, por sua vez,
determinavam os processos neuronais, permanecia por
esclarecer. Felizmente que, durante este período, assistia-se a
uma evolução paralela, e não menos dramática, de áreas como a
neurofisiologia, neuroanatomia e neurobioquímica. Também aqui,
a emergência de novas metodologias aos níveis genético,
molecular, celular e supracelular, permitiam começar a
descodificar o funcionamento do sistema nervoso. É precisamente
esta confluência disciplinar, resultado de sofisticação
metodológica e tecnológica, que vai dar origem àquilo que hoje
em dia designamos de “neurociências”. No entanto, para a
psicologia, o desafio mais promissor resulta dos caminhos abertos
nos últimos anos pela confluência entre ciências cognitivas e
neurociências, as ciências da mente e as ciências do cérebro,
permitindo o desenvolvimento de um novo projeto transdisciplinar
designado de “neurociências cognitivas” (conforme. Cowan, Hart,
& Kandell, 2000). As neurociências cognitivas, vêm assim dar
corpo ao desígnio central da psicologia. Um projeto que é,
simultaneamente, de esclarecimento dos mecanismos básicos do
funcionamento mental, mas, e não menos importante, das
aplicações destes conhecimentos aos mais diversos domínios do
quotidiano (e.g., neuroeconomia; neuroantropologia;
neuroestética).

O que é a Neuroantropologia?
A neuroantropologia é um novo campo de estudo do
cérebro, do sistema nervoso, e a sua interação na cultura e do
comportamento humano, tendo como principal objetivo
compreender a formação biológica do cérebro, e o sistema
nervoso, e a relação com o sistema social e cultural das pessoas.
Um exemplo didático entre a relação de biologia e cultura no
processo de desenvolvimento do processo humano é a
75

linguagem. A capacidade de se comunicar através da linguagem é


uma característica singular do Homo Sapiens, sendo
desenvolvida ao longo de milhões de anos, mas a língua primaria
que cada individuo aprende, depende inicialmente do meio
cultural e social que nasceu. Assim como aprender novos
idiomas, dependera da interação cultural que cada individuo terá
ao longo de sua vida. Portanto, enquanto a capacidade de falar é
biológica, os idiomas são culturais. A neuroantropologia é um
termo amplo com intenções de cobrir todas as dimensões da
atividade neural humana, incluindo a emoção, percepção,
cognição, coordenação motora, aquisição de talentos, e uma
variedade de outras questões (Wikipédia, 2017).
Conforme Costa (2014), a Neuroantropologia tem como
preocupação principal estudar a neuro-evolução do sistema
nervoso do homem embora não se limite apenhas isso. É uma
ciência multidisciplinar que consiste em estudar as relações do
sistema nervoso humano com os diversos aspectos dos seres
humanos. Envolve estudos de comportamento e sua relação com
o sistema neural, doenças mentais, relações sociais dos doentes
mentais, questões antropológicas de saúde mental e outros
aspectos. A neuroantropologia cognitiva consiste em um dos
ramos da bioantropologia que estuda os mecanismos de evolução
biológica, herança genética, adaptabilidade e variabilidade
humana, primatologia e compila o registro fóssil da evolução do
sistema nervoso humano. A neuroantropologia cognitiva analisa o
processo da evolução biológica do cérebro humano, através de
estudos dos crânios de homens e hominídeos; da adaptabilidade
de populações extintas e realiza sua comparação com as não
extintas; do apontamento da localização de estruturas cerebrais
que existem em fósseis, da primatologia cerebral comparada a
hominídeos e registro de crânios fossilizados. Ainda em primeiro
lugar faz-se necessário definir alguns conceitos de antropologia
tradicional: Antropologia é a ciência reflexão, teoria, sobre a
humanidade e sua cultura, tendo como objetivo o estudo completo
sobre o homem.
76

Neuroantropologia cognitiva
Segundo Costa (2014), a neuroantropologia cognitiva
estuda as relações entre alterações corporais e cerebrais, no
processo da evolução biológica. Tem como objetivo explicar os
processos neurocognitivos do o que é considerado como
propriamente humano tais como compreensão de símbolos,
orientação diferenciada do ser humanos, uso diferenciado de
tecnologia, capacidade de design, de destreza e apontar as
capacidades cerebrais de ascendentes do homem e de outras
habilidades. Visa analisar uma das mais interessantes
manifestações da vida: a cognição humana. Também pode
contribuir com explanações teóricas da psicologia, neurologia,
psiquiatria, ciências cognitivas e neurociência em geral. A
neuroantropologia ganhou destaque nos anos 1970, quando
Oliver Sacks, professor de neurologia da Escola de Medicina
Albert Einstein da Universidade de Nova York, começou a
trabalhar também como neurologista, no Hospital Berth Abraham,
no Bronx, em Nova York, onde trabalhou com pacientes que se
caracterizavam, por estarem há décadas, em estado catatônico,
incapazes de qualquer tipo de movimento (este caso inspirou-o a
escrever, em 1973, o livro Awakenings, retratado no filme Tempo
de Despertar) . Dez anos depois, Oliver Sacks constatou que
esses doentes eram sobreviventes e descendentes de portadores
de uma grande epidemia da doença do sono que assolou o
Alasca, entre 1916 e 1927. Tratou-os então com um medicamento
novo, A L-dopa, que permitiu que eles aos poucos regressassem
a vida normal.
De acordo com Costa (2014), um dos tópicos mais
interessantes da neuroantropologia é o estudo da evolução do
trabalho humano, suas relações com as atividades corporais, o
desenvolvimento cerebral e a evolução das ferramentas
cognitivas tais como a inteligência. Além disso, ainda pode
estudar dentro da sua ampla gama de alcance de outros tópicos
igualmente relevantes, tais como: as influências dos fatores
biológicos, como o desenvolvimento do aparelho neuropalatal e
as aquisições neurais provindas da neotenia; as alterações dos
fatores comportamentais, influenciados pela adoção do
77

bipedalismo; as relações de socialização; a linguagem; a


estratégias de caça e outros.

O Encontro da Neurociência com a


Antropologia: cultura e aprendizagem:
Marília Zaluar P. Guimarães e Alba Zaluar em seu artigo
Cultura e Aprendizagem: a Neurociência encontra a Antropologia
questionaram como separar as influências genéticas da
experiência do indivíduo? O velho dilema nature x nurture
(natureza x criação) há muito intriga antropólogos e
neurobiólogos. Um diálogo entre essas disciplinas é essencial
para compreender o ciclo perverso de pobreza e
subdesenvolvimento do cérebro.

Nature X Nurture
Conforme a Prof. Dr. Paula Moiana da Costa (2017), é
comum encontrarmos pessoas defendendo origens
diferentes para dadas características humanas,
principalmente àquelas subjetivas e/ou que se referem
ao comportamento. Chamamos de “Nature” aquilo que é
inato, determinado biologicamente. Seu oposto, o
“Nurture”, está relacionado com o ambiente, com o que é
determinado cultural ou contingencialmente. Segundo
ela, podemos considerar que o debate Nature X Nurture
tenha sido originado entre os séculos XVI e XVII, com
René Descartes e John Locke, dentro do que chamamos
de “Empirismo X Racionalismo”. Descartes, defensor do
Racionalismo, postulava existirem 3 tipos de ideias: as
adventícias, factícias (produzida artificialmente), e as
inatas. As ideias adventícias seriam as coletadas
diretamente do meio através de nosso sentido. As
factícias seriam uma derivação das adventícias,
78

coincidindo com a própria imaginação, proveniente de


uma interação entre o que foi captado pelos sentidos e o
escrutínio de nossa memória. Já as idéias inatas, as
verdadeiramente polêmicas, tratam-se de essências
verdadeiras, imutáveis e eternas. Seriam idéias
produzidas pela nossa compreensão, mas sem relação
com a experiência. John Locke recusava-se a aceitar a
proposta cartesiana de idéias inatas. Então, dentro do
empirismo, criou o termo “Tábula Rasa54”, para explicar
que o homem é uma página em branco, preenchida
progressivamente pela experiência através da sensação
e da reflexão. Desde a descoberta do DNA, sua estrutura
e correlação com a expressão de proteínas, a tábula
rasa de Locke passou a ser questionada. Com o
progresso da teoria da evolução neo-darwinista e da
biologia molecular, percebemos que o homem não pode
ser um papel em branco. Conforme a mesma autora,
Skinner55 já considerava que o termo “ambiente” poderia
ser pensado como um evento no universo que de
alguma forma afetasse o indivíduo, mas levando-se em
conta que “parte do universo está encerrada dentro da
própria pele de cada um “. Ou seja, existe algo de único
na interação de cada pessoa com o ambiente que o
rodeia. Também a ideia de epigenética56 traz para a

54 Tabula rasa é uma expressão latina que significa literalmente "tábua raspada",
e tem o sentido de "folha de papel em branco". A palavra tábula, neste caso,
refere-se às tábuas cobertas com fina camada de cera, usadas na antiga Roma,
para escrever, fazendo-se incisões sobre a cera com uma espécie de estilete.
55 Burrhus Frederic Skinner (Susquehanna, Pensilvânia, 20 de março de 1904

— Cambridge, 18 de agosto de 1990) foi autor e psicólogo norteamericano.


Conduziu trabalhos pioneiros em psicologia experimental e foi o propositor do
behaviorismo radical, abordagem que busca entender o comportamento em
função das interrelações entre a filogenética, o ambiente (cultura) e a história
de vida do suposto indivíduo. A base do trabalho de Skinner refere-se a
compreensão do comportamento humano através do comportamento operante
(Skinner dizia que o seu interesse era em compreender o comportamento
humano e não o manipular. O trabalho de Skinner é o complemento e o
coroamento de uma escola psicológica. Skinner adotava práticas experimentais
derivadas de física e outras ciências. Outros importantes estudos do autor
referem-se ao comportamento verbal humano e a aprendizagem.
56 Epigenética é um termo usado na biologia para se referir a características de

organismos unicelulares e multicelulares (como as modificações de cromatina e


DNA) que são estáveis ao longo de diversas divisões celulares, mas que não
envolvem mudanças na sequência de DNA do organismo. A herança
epigenética é a transmissão de experiências ocorridas com os pais para os
filhos e que não ocorre através do DNA. De acordo com os conceitos
tradicionais, quando um embrião é formado, seu epigenoma é completamente
apagado, e reescrito a partir das informações que estão no seu DNA. A
79

expressão gênica toda a responsabilidade pelos


comportamentos adquiridos e herdados. Mas se
pensarmos bem, é justamente o contrário: as ciências do
comportamento sabem há muito que estes podem ser
adquiridos e herdados a partir do ambiente – a
epigenética mostra que eles estavam completamente
corretos, demonstrando de forma concreta alterações a
nível molecular decorrentes de experiências com algum
grau de subjetividade. Assim, tudo aponta no sentido de
que qualquer reducionismo não passa de fato de uma
redução superficial da realidade. A perspectiva é que,
em pouco tempo, não haverá mais distinções entre
Nature e Nurture. A ciência enfim está chegando no
ponto em que tudo se interliga, e se constitui variáveis
complexas e, principalmente, interdependentes, que
culminam no ser humano.

Segundo Guimarães e Zaluar (2017), não se pode


desprezar o papel dos genes associados a alguns fenótipos
comportamentais nem da interação entre esses genes e o
ambiente, pois experiências similares podem produzir diferentes
efeitos dependendo da pessoa. Esses efeitos possíveis adicionam
mais um nível de complexidade ao estudo de como o
comportamento é modulado pelas experiências precoces.
Conforme o mesmo autor, na última década, pesquisas apontam
para os efeitos de repetidas e duráveis experiências estressantes
na infância, especialmente as que envolvem a exclusão e a
ameaça ou concretização de violência física, que têm impacto nas
redes neurais devido ao agudo estresse que provocam. Tanto a
má nutrição quando a exposição a poluentes e drogas durante os
períodos pré e pós-natal têm também resultados significativos
para o estudo da pobreza infantil.

exceção é que, para alguns genes, marcas epigenéticas são mantidas, e


passadas de uma geração para a geração seguinte. Estas mudanças
epigenéticas desempenham um importante papel no processo de diferenciação
celular, permitindo que as células mantenham características estáveis
diferentes apesar de conterem o mesmo material genômico. Alguns exemplos
de modificações epigenéticas incluem a permutação, bookmarking, imprinting
genômico, silenciamento de genes, inativação do cromossomo X, position
effect, reprogramação, transvecção, efeito maternos, o progresso de
carcinogênese, muitos efeitos de teratógenos, regulação das modificações de
histona e heterocromatina, e limitações técnicas afetando partenogênese e
clonagem.
80

O estresse crônico provoca


alterações no cérebro
O estresse é um estado mental, envolvendo tanto o cérebro
quanto o corpo, bem como suas interações; difere entre os
indivíduos e reflete não apenas os principais eventos da vida, mas
também os conflitos e pressões da vida cotidiana que alteram os
sistemas fisiológicos para produzir uma carga de estresse crônica
que, por sua vez, é um fator na expressão da doença. Este fardo
reflete o impacto de não apenas experiências de vida, mas
também variações genéticas e comportamentos individuais de
saúde como dieta, atividade física, sono e abuso de substâncias;
também reflete modificações epigenéticas estáveis no
desenvolvimento que estabelecem padrões ao longo da vida de
reatividade e comportamento fisiológico através da incorporação
biológica de ambientes iniciais que interagem com a mudança
cumulativa das experiências ao longo da vida útil. Os hormônios
associados à carga de estresse crônico protegem o corpo no
curto prazo e promovem a adaptação (alostase), mas, a longo
prazo, a carga do estresse crônico provoca alterações no cérebro
e no corpo que podem levar a doenças (carga e sobrecarga
alostática). Os circuitos cerebrais têm plasticidade e são
remodelados pelo estresse para mudar o equilíbrio entre
ansiedade, controle de humor, memória e tomada de decisão.
Essas mudanças podem ter valor adaptativo em contextos
particulares, mas sua persistência e falta de reversibilidade
podem ser inadequadas (McEwen, 2012).
Conforme Guimarães e Zaluar (2017), tais estudos podem
ajudar a desenhar as intervenções para estimular o
desenvolvimento de competências cognitivas, expressivas e
socioemocionais das crianças mais pobres. São necessárias mais
pesquisas sobre como mudar o funcionamento neuronal após a
experiência adversa e o papel da epigenética em dar forma às
redes neurais. Por outro lado, será preciso comparar os diferentes
contextos de interação social e de intervenção: casa, vizinhança e
escola. Portanto nem todas as notícias são más e pessimistas. Há
vários exemplos de intervenções que conseguem eficientemente
81

quebrar esse ciclo. A ideia é que os danos causados pelos vários


fatores relacionados ao baixo status socioeconômico (SSE)
podem, sim, pelo menos em parte, ser revertidos. Programas de
estimulação cognitiva além do horário escolar podem melhorar
muito o desempenho em testes de proficiência escolar, portanto
em aumento de renda. O programa Oportunidades, no México, dá
para famílias pobres uma ajuda em dinheiro condicionada à
presença das crianças na escola e ao comparecimento em
unidades de saúde para check-ups periódicos e complementação
nutricional, entre outras medidas. Em 2008, pesquisadores
avaliaram o impacto sobre as famílias se fosse dobrado o valor
das bolsas. O que eles observaram foram mudanças significativas
nas habilidades cognitivas das crianças, como memória de curto e
longo prazo, além de elas apresentarem indicadores de saúde
melhorados, como altura e índice de massa corporal. Por fim, as
mesmas autoras concluíram que que confiar apenas nos efeitos
macroeconômicos da melhor distribuição de renda que se espalha
por toda a população não é suficiente. Será preciso atacar as
dimensões da pobreza que mais afetam as relações nas famílias
e vizinhanças com estratégia efi ciente para reverter os malefícios
do baixo SSE, que sempre se manifestam em várias dimensões
além da renda familiar. Por exemplo, as intervenções
direcionadas às crianças, como videogames para melhorar
funções executivas, a complementação do horário escolar, assim
como mudanças no currículo escolar para torná-lo menos
esquemático, rígido e desinteressante por não ter a ver com a
vida das crianças e dos jovens. Para elas é inegável que a
pesquisa neurocientífica necessita de certo nível de simplificação
para ser viável e, mais ainda, quantificável.
Segundo o mesmo autor, por outro lado, há um grande
corpo de informações minuciosas nas ciências sociais que nos
revela a extrema riqueza da experiência humana e as sutilezas de
como essas experiências afetam diversamente cada pessoa ou
cada comunidade. Portanto faz-se mister um diálogo entre essas
disciplinas para que se possa compreender ciclo perverso de
baixo SSE e subdesenvolvimento do cérebro e nele interferir mais
eficientemente.
82

A alvorada da mente
Conforme Bartoszeck e Bartoszeck (2007), no alvorecer do
desenvolvimento da vida, a paisagem terrestre não era tão
aprazível, como supõem algumas teorias criacionistas, as quais
entendem que, naquele momento, os animais pareciam tais como
são hoje em dia. Ao contrário disso, o início de tudo compreendia
um ambiente no qual havia extremos de temperatura e de
substâncias químicas, atualmente consideradas tóxicas.
Posteriormente, com o resfriamento, algumas dessas substâncias
conseguiram o prodígio de se autorreplicarem e de se auto-
organizarem, utilizando-se, para isso, tão somente de fragmentos
moleculares presentes em seu círculo imediato de interação. De
acordo com os mesmos autores, em tais condições, o
crescimento populacional desses seres seria compelido pela
disponibilidade da matéria-prima para sua replicação, visto que,
naquele período, os seres eram considerados os mais bem
sucedidos, por serem os que desenvolveram formas de se
protegerem de predadores externos e estratégias químicas para
que substâncias necessárias fossem fabricadas posteriormente,
no interior do ser, sem que fosse preciso uma exposição ao meio
ambiente demasiadamente desnecessária.
Segundo Bartoszeck e Bartoszeck (2007), a resposta dada
a esses problemas pela evolução foi o surgimento da célula. Esse
novo ser é dotado de membranas protetoras, as quais guarnecem
suas miríades de organelas especializadas, atuam em complexas
reações metabólicas em seu interior e transformam estruturas
moleculares externas em substâncias mais simples. Em um lugar
privilegiado no interior da célula há o ácido nucléico DNA, que já
existia em algumas células de bactérias, chamadas de
procariontes, e ainda se encontra disperso. Já aquelas que têm
uma segunda membrana protetora do DNA no interior do núcleo
chamam-se eucariontes. Nós, seres humanos, somos uma
construção sofisticada dessas células eucariontes, pois elas
constituem a vida tal como a conhecemos: com a célula
dominando todos os redutos do planeta, muitas vezes até em
vulcões.
Conforme Costa (2014), pode dar respostas de como o
cérebro evoluiu e as condições que se formaram certas partes do
83

cérebro como o neocórtex frontal, e associar essa área que é


responsável pelas atividades próprias do ser humano
(imaginação, sonho, alucinação, etc.…). Modernas técnicas de
arqueologia podem remodelar um cérebro com alto grau de
certeza utilizando a remodelação a laser que consiste em
sistematizar um modelo de um crânio real achado e através de
ligação entre pontos pode modular com alta precisão os órgãos
que estavam dentro daqueles fósseis, inclusive o cérebro, outra
técnica muito usada é a modelagem computacional tri-
dimensional , que consiste em utilizar de softwares específicos
para modelar órgãos de fósseis. Com tais tecnologias de
modelação é possível levantar a modelagem de áreas que foram
aparecendo a cada passo evolutivo humano e no órgão mais
complexo - o cérebro, seu formato bem como as áreas especificas
de crescimento cerebral através da evolução humana, por
exemplo, datar em que época e condições surgiu a área de Broca,
utilizando essas novas técnicas em cérebros de ancestrais
humanos. Segundo o mesmo autor, hoje em dia com novas
técnicas inicialmente para a arqueologia e antropologia os
neuroantropólogos podem determinar com certo grau de precisão
em que ponto da história evolutiva surgiu certas áreas cerebrais e
ajudar a explicar certos comportamentos e problemas de saúde
dos humanos. Nos primatas superiores, o neocórtex atingirá
proporções gigantescas tais que, para caber na caixa craniana,
terá que se preguear e se desdobrar, gerando, assim, as
circunvoluções. No homem, vai predominar o crescimento dos
lobos frontais e temporais, com o desenvolvimento especial da
área pré-frontal, cujas estruturas fornecem o substrato
anatomobiológico para as funções mais complexas do ser
humano, inclusive algumas que parecem ser da absoluta
exclusividade da espécie, como a destreza para uso e fabricação
de tecnologia, rituais e crença em algo que não estão aparentes
(um suposto mundo espiritual). Ao analisar a evolução cerebral
(dos austrelopithecus ao homo sapiens sapiens) dos ascendentes
do gênero humano, percebe-se um amplo grau de mudança
cerebral enquanto o cérebro dos primeiros austrelopithecus
pesam cerca de 400gr o do homem moderno atinge a marca de
1,4 kg, alem de estruturas como o neo-cortex frontal exclusivo no
homo sapiens sapiens8 , podemos responder algumas das
perguntas que fazemos desde o inicio da filosofia - porque o
homem tem auto - consciência, porque é capaz de linguagem, de
84

construir ferramentas? Dentre outras habilidades cognitivas. Por


exemplo, se hoje podemos observar e conhecer detalhadamente
todo o bipedalismo (processo pelo qual os descendentes do
homem abandonaram as arvores, e ficaram sobre duas pernas) e
sabemos que tal processofoi fundamental para o desenvolvimento
diferenciado da cognição humana, pois ele foi causa do aumento
do cérebro, da sociabilidade e outros fatores que caracterizam a
cognição humana. Essa maneira única de andar, o bipedalismo
apareceu nos primeiros ancestrais humanos do gênero
Australopithecus, há cerca de quatro milhões de anos. A despeito
da postura ereta, os Australopithecus típicos não passavam do
1,2m de altura e seus cérebros não eram muito maiores do que os
dos chimpanzés. Evidências paleontológicas recentes levantaram
a questão sobre qual das várias espécies de Australopithecus
fazia parte da linhagem que levou ao Homo. A expansão mais
significativa do cérebro de adultos e bebês ocorreu depois dos
Australopithecus, em particular no gênero Homo. O fóssil
Noriokotome, do Quênia, de 1,5 milhão de anos de idade, é um
adolescente, frequentemente, chamado de Turkanaboy.
Pesquisadores estimaram que os parentes adultos do garoto,
provavelmente, possuíam cérebros cerca de duas vezes maiores
em relação à dos Australopithecus.
85
86

Capítulo 8
A Neuroanatomia
Funcional
A dor e o prazer não são imagens gêmeas ou simétricas
uma da outra, pelo menos não o são em termos de suas
funções no apoio à sobrevivência. De certa forma, e a
maior parte das vezes, é a informação associada à dor
que nos desvia do perigo iminente, tanto no momento
presente como no futuro antecipado, É difícil imaginar
que os indivíduos e as sociedades que se regem pela
busca do prazer, tanto ou ainda mais que pela fuga à
dor, consigam sobreviver.
António Damásio

O sistema nervoso
O sistema nervoso é a parte do organismo que transmite
sinais entre as diferentes partes do organismo e coordena suas
ações voluntárias e involuntárias. O tecido nervoso surge com os
vermes, cerca de 550 a 600 milhões de anos atrás. Na maioria
das espécies animais, constitui-se de duas partes principais: o
sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico
(SNP).
As questões pertinentes à relação mente-cérebro têm sido
objeto de muitas investigações. Durante a evolução filogenética o
sistema nervoso central, e em especial as estruturas encefálicas,
relacionadas com o comportamento e com as funções cognitivas
e emocionais, se desenvolveram de forma complexa
caracterizando o ser humano e diferenciando-o de seus
ancestrais. É provável que as necessidades adaptativas, geraram
o crescimento do SNC e acarretaram uma maior imbricação de
dobramentos de estruturas encefálicas, dando origem à atual
conformação do mesmo. As estruturas telencenfálicas atuais,
87

originárias de um sistema nervoso primitivo, tiveram um


desenvolvimento com neurônios dispostos nas camadas corticais
do cérebro, o que viabilizou a maior complexidade, sobretudo das
funções cognitivas e intelectuais do ser humano, culminando com
uma rica consciência e com o destacado papel do sistema tálamo-
cortical (Schmidek e Cantos, 2008).

Filogenia do sistema nervoso


Filogenia ó a parte das ciências biológicas que se ocupa do
desenvolvimento dos órgãos e aparelhos através dos sucessivos
estados evolutivos do organismo. A filogenia do sistema nervoso
será, pois, o estudo da evolução deste sistema através das
espécies, desde as mais rudimentares até às mais perfeitas,
desde o organismo mais elementar até ao mais complexo. Por
razões que já vamos ver, ao termo filogenia associa-se logo o
termo ontogenia. Ontogenia é a parte das ciências biológicas que
se ocupa do desenvolvimento dos órgãos e aparelhos através das
sucessivas formas porque que passa um organismo, desde o ovo
até ao seu completo desenvolvimento. A ontogenia do sistema
nervoso do homem será, pois, o estudo das múltipla s e sucessiva
s formas por que passa este sistema, desde o aparecimento das
primeiras células diferenciadas até ao estado adulto. As ideias
expressas de cada um destes termos associam-se bastantes
vezes porque há muito já, a biologia encontrou um paralelismo
fundamental entre a filogenia e a ontogenia, descobrindo que os
diferentes órgãos e aparelhos dum organismo, à medida que se
desenvolvem a partir do ovo, reproduzem aproximadamente, nas
suas linhas gerais, as formas que os mesmos órgãos e aparelhos
apresentavam nos diferentes estados da sua evolução através
das espécies. Este paralelismo é expresso pela lei da patrogonia
que diz: “a ontogenia reproduz a filogenia”. A ontogenia é como
que um resumo, no tempo e no espaço, da filogenia (Universidade
de Évora, 2017).
Segundo Cielo (2004), o cérebro humano, conforme as
modificações originadas da filogênese, aumentou de tamanho em
algumas áreas e se especializou em inúmeras funções. Porém,
manteve sempre um maior ou menor grau de interdependência e
interligação entre as diversas zonas neurológicas. No atual
estágio de desenvolvimento humano, as modificações cerebrais
88

adquiridas durante a filogênese tornaram-se


genéticas/herdadas/inatas – uma estrutura altamente complexa e
muito semelhante para todos os homens em termos das áreas
cerebrais e dos tipos de células e sua organização no sistema.
Isto posto, pode-se considerar a hipótese de que essa
semelhança biológica (genética/herdada/inata) favoreça, em
função de sua própria estrutura orgânica, determinadas
possibilidades e determinados limites de processamento da
informação equivalentes para todos os seres humanos.
Conforme a mesma autora, ao mesmo tempo em que o ser
humano nasce com um programa genético que determina uma
estrutura cerebral comum e limitada em certos aspectos, o seu
cérebro possui uma característica denominada plasticidade
neuronial que se refere ao desenvolvimento do sistema nervoso
central por meio da modificação das ligações entre suas células,
os neurônios (sinapses inter-neuroniais), da criação de novas
conexões (reorganização neuronial), da existência de períodos
críticos e de especializações hemisféricas, havendo interações
que ocorrem em todos os níveis, dos genes ao meio ambiente,
originando formas e comportamento emergentes (perspectiva
Emergentista). Para a aurora, torna-se evidente que o grau de
plasticidade não excede o limite estrutural do substrato biológico,
isto é, as células não poderão se modificar além daquilo que sua
estrutura puder comportar.

Os invertebrados.
Conforme J Francisco Saraiva de Sousa (2017), em seu
blog sobre neurofilosofia, no registo fóssil, as bactérias e as algas
são os primeiros organismos celulares identificados. Existiram há
cerca de 3 000 milhões de anos, são seres procariotas e
constituem o Reino Monera. Seguem-se os organismos
eucariotas unicelulares, representados pelos protozoários, que
constituem o Reino Protista. Além de um núcleo distinto e
definido, estes organismos apresentam outras especializações,
nomeadamente formação dos cromossomas, mecanismos de
replicação e de reprodução da mitose e meiose, organelos
citoplasmáticos (mitocôndrias e retículo endoplasmático), cílios
contendo microtúbulos e capacidades de fagocitose, pinocitose,
movimentos amebóidais e excitabilidade ou irritabilidade. O
89

desenvolvimento destas especializações estruturais e funcionais


levou ao aparecimento dos organismos eucariotas pluricelulares,
representados pelos metazoários, que formam os reinos das
Plantas, dos Fungos e dos Animais. As alterações que explicam o
seu aparecimento ocorrem em três níveis: primeiramente, as
células organizam-se entre si para formar tecidos, posteriormente,
os diversos tecidos combinam-se para formar órgãos e,
finalmente, os diferentes órgãos combinam-se para formar um
organismo integrado.

Sistema nervoso dos invertebrados


Membros do filo dos celenterados57, tais como águas-vivas
e hidras, têm um sistema nervoso simples intitulado de rede
neural. Ela é formada por neurônios, ligados por sinapses ou
conexões celulares. A rede neural é centralizada ao redor da
boca, mas não há um agrupamento anatômico de neurônios.
Algumas águas-vivas possuem neurônios sensoriais conhecidos
como rhopalia (ropálio58), com os quais podem perceber luz,
movimento ou gravidade.

57 Celenterados: Coelenterata, frequentemente aportuguesado para


celenterados, é a denominação de um grupo taxonômico atualmente obsoleto,
mas que embora sem uso nas classificações modernas continua a ser
frequentemente utilizado na linguagem corrente. O táxon inicialmente
compreendia os grupos Cnidaria e Ctenophora, que se consideravam
diblásticos e radiados. Depois, os Ctenophora foram separados e o termo
passou a utilizar-se como sinônimo de cnidária, mas nas classificações
modernas o termo foi abandonado em favor de cnidária. O nome procede do
grego koilos, "oco", referindo-se à sua cavidade interna, e de enteron,
"intestino". Esta cavidade interna é o celêntero ou cavidade gastrovascular.
58 Ropálios são órgãos sensoriais das medusas, principalmente das classes

Scyphozoa e Cubozoa. Os ropálios estão localizados em pequenas


reentrâncias ao longo da margem do disco e são compostos por ocelos,
estatólitos e uma grande aglomeração de terminais nervosas. Os ocelos dos
cubozoários são os mais complexos dos cnidários, com uma estrutura
aproximada aos olhos das lulas, polvos e vertebrados. Algumas espécies
possuem diferentes tipos de olhos.
90

Ropálio em medusas

Platelmintos e nematoides
As planárias, um tipo de platelminto, possuem uma corda
nervosa dupla que percorre todo o comprimento do corpo e se
funde com a cauda. Estas cordas nervosas são conectadas por
nervos transversais, como os degraus de uma escada. Estes
nervos ajudam a coordenar os dois lados do animal. Dois grandes
gânglios na extremidade da cabeça funcionam de modo
semelhante a um cérebro simplificado. Fotorreceptores nos ocelos
desses animais provém informação sensorial sobre luz e
escuridão. Porém, os ocelos não são capazes de formar imagens.

Ocelos das planárias.


91

Os platelmintos foram os primeiros animais na escala


evolutiva a apresentarem um processo de cefalização. A partir
dos platelmintos até os equinodermos, o sistema nervoso é
ganglionar ventral, com exceção dos nematelmintos que possuem
cordão nervoso peri-esofágico. A centralização do sistema
nervoso dos platelmintos representa um avanço em relação aos
cnidários, que têm uma rede nervosa difusa, sem nenhum órgão
integrador das funções nervosas.
Artrópodes

Os artrópodes possuem um sistema nervoso constituído de


uma série de gânglios conectados por uma corda nervosa ventral
feita de conectores paralelos que correm ao longo da barriga.
Tipicamente, cada segmento do corpo possui um gânglio de cada
lado, embora alguns deles se fundam para formar o cérebro e
outros grandes gânglios. O segmento da cabeça contém o
cérebro, também conhecido como gânglio supraesofágico. No
sistema nervoso dos insetos, o cérebro é anatomicamente
dividido em protocérebro, deutocérebro e tritocérebro.
Imediatamente atrás do cérebro está o gânglio supraesofágico
que controla as mandíbulas. Muitos artrópodes possuem órgãos
sensoriais bem desenvolvidos, incluindo olhos compostos para
visão e antenas para olfato e percepção de feromônios. A
informação sensorial destes órgãos é processada pelo cérebro.

Moluscos

A maioria dos Moluscos, tais como bivalvos e lesmas, têm


vários grupos de neurônios intercomunicantes chamados
gânglios. O sistema nervoso da lebre-do-mar (Aplysia) tem sido
utilizado extensamente em experimentos de neurociência por
causa de sua simplicidade e capacidade de aprender associações
simples. Os cefalópodes, tais como lulas e polvos, possuem
cérebros relativamente complexos. Estes animais também
apresentam olhos sofisticados. Como em todos os invertebrados,
os axônios dos cefalópodes carecem de mielina, o isolante que
permite reação rápida nos vertebrados. Para obter uma
velocidade de condução rápida o bastante para controlar
músculos em tentáculos distantes, os axônios dos cefalópodes
92

precisam ter um diâmetro avantajado nas grandes espécies de


cefalópodes. Por este motivo, os axônios da lula são usados por
neurocientistas para trabalhar as propriedades básicas da ação
potencial.

Sistema nervoso dos vertebrados


Os primeiros vertebrados apareceram há mais de 500
milhões de anos (Ma), durante o período Cambriano59, e talvez
lembrassem uma enguia60. Os tubarões apareceram por volta de
450 Ma, anfíbios 400 Ma, répteis por volta de 350 Ma e mamíferos
uns 200 Ma. Não seria correto dizer que qualquer espécie atual é
mais primitiva do que outra, já que todas têm sua história
evolutiva igualmente longas, mas os cérebros dos modernos
peixe-bruxa, lampreias, tubarões, anfíbios, répteis e mamíferos
apresentam uma gradação de tamanho e complexidade que,
59 Período Cambriano: na escala de tempo geológico, o Cambriano ou
Câmbrico é o período da era Paleozoica do éon Fanerozoico que está
compreendido entre 542 milhões e 488 milhões de anos atrás,
aproximadamente. O período Cambriano sucede o período Ediacarano da era
Neoproterozoica ou precambrico do éon Proterozoico e precede o período
Ordoviciano de sua era. Divide-se nas épocas Cambriana Inferior, Cambriana
Média e Cambriana Superior, da mais antiga para a mais recente. O nome
Cambriano vem de Cambria, que é a latinização de Cymru, o nome pelo qual
os povos antigos que habitavam o País de Gales chamavam suas terras, onde
foram encontrados os primeiros estratos rochosos deste período
60 Anguillidae (as enguias) é uma família de peixes actinopterígeos

pertencentes à ordem Anguilliformes. As cerca de 15 espécies descritas


(algumas contestadas) pertencem todas ao género Anguilla.
93

grosso modo, segue a sequência evolutiva. Todos estes cérebros


contêm basicamente o mesmo conjunto de elementos
anatômicos, mas muitos destes são rudimentares, como no peixe-
bruxa, enquanto nos mamíferos as partes frontais são altamente
elaboradas e expandidas (Wikipédia, 2017).

Enguia.

Todos os cérebros vertebrados partilham de uma mesma


forma fundamental, que pode ser apreciada mais facilmente
examinando como eles se desenvolvem, conforme a figura abaixo
(Wikipédia, 2017).
94

Elementos marinhos evoluíram vindo a constituir os


anfíbios e répteis primitivos, que então ousaram sair do mar há
aproximadamente 350 milhões de anos. Sair do oceano constituiu
para esses elementos um desafio de enormes proporções, uma
vez que requereu grandes mudanças necessárias principalmente
para vencer o seu próprio peso, evitar a perda excessiva de
líquidos e mudar a maneira de respirar, o que causou o
desenvolvimento de novos modos de reprodução e de novas
maneiras de perceber e de se relacionar com o mundo externo.
Entre as várias mudanças desencadeadas pelas novas incursões
terrestres, as forças evolutivas causaram no sistema nervoso o
desenvolvimento progressivo dos lobos olfatórios, que fizeram do
olfato a primeira modalidade sensorial de percepção do mundo
externo. Concomitantemente, os desenvolvimentos dos
primórdios das estruturas que vieram a originar o complexo
amigdalóide e o hipocampo, em embricada conjunção com o
hipotálamo, vieram tornar o comportamento destas novas
espécies mais complexo e mais sofisticado. Por se disporem em
torno do topo do segmento que constituía o Sistema Nervoso
Central mais primitivo, essas estruturas foram denominadas
“estruturas límbicas”, uma vez que Limbus, em latim, significa
anel. A amígdala (amêndoa) e o hipocampo (cavalo-marinho)
receberam estes nomes pelas suas conformações finais (Ribas,
2006).

Neurônio
O neurônio é a unidade básica
do cérebro e do sistema nervoso
O neurônio é a célula do sistema nervoso responsável pela
condução do impulso nervoso. Há cerca de 86 bilhões (até 20 de
fevereiro de 2009 se especulava que havia 100 bilhões) de
neurônios no sistema nervoso humano. O neurônio é constituído
pelas seguintes partes: corpo celular, o núcleo celular, dendritos
(prolongamentos numerosos e curtos do corpo celular, receptores
de mensagens), axônio (prolongamento que transmite o impulso
nervoso vindo do corpo celular) e telodendritos. O neurônio pode
95

ser considerado a unidade básica da estrutura do cérebro e do


sistema nervoso. A membrana exterior de um neurônio toma a
forma de vários ramos extensos chamados dendritos, que
recebem sinais elétricos de outros neurônios, e de uma estrutura
a que se chama um axônio que envia sinais elétricos a outros
neurônios. O espaço entre o dendrito de um neurônio e os
telodendritos de outro é o que se chama uma fenda sináptica: os
sinais são transportados através das sinapses por uma variedade
de substâncias químicas chamadas neurotransmissores. O córtex
cerebral é um tecido fino composto essencialmente por uma rede
de neurônios densamente interligados tal que nenhum neurônio
está a mais do que algumas sinapses de distância de qualquer
outro neurônio. Os neurônios recebem continuamente impulsos
nas sinapses de seus dendritos vindos de milhares de outras
células. Os impulsos geram ondas de corrente elétrica (excitatória
ou inibitória, cada uma num sentido diferente) através do corpo da
célula até a uma zona chamada a zona de disparo, no começo do
axônio. É aí que as correntes atravessam a membrana celular
para o espaço extracelular e que a diferença de voltagem que se
forma na membrana determina se o neurônio dispara ou não. Os
neurônios caracterizam-se pelos processos que conduzem
impulsos nervosos para o corpo e do corpo para a célula nervosa.
Os impulsos nervosos são reações físico-químicas que se
verificam nas superfícies dos neurônios e seus processos. A
cromatina nuclear é escassa, enquanto que o nucléolo é muito
proeminente. A substância cromidial no citoplasma é chamada de
substância de Nissl. À microscopia eletrônica mostra-se disposta
em tubos estreitos recobertos de finos grânulos. Estudos
histoquímicos e outros demostraram-na constituída de
nucleoproteínas. Estas nucleoproteínas diminuem durante a
atividade celular intensa e durante a cromatólise que se segue à
secção de axônios (Wikipédia, 2017).
96

Anatomia do neurônio.

Vida e morte dos neurônios


no recém-nascido
Neurônios não se formam só na gestação, mas também
nas primeiras semanas após o nascimento. Ao menos em ratos,
verificaram Fabiana Bandeira, Roberto Lent e Suzana Herculano-
Houzel, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Eles viram
que o córtex cerebral de um rato com uma semana de vida tem 44
milhões de células, quase o dobro de neurônios do animal ao
nascer. Ganhos e perdas são intensos em diferentes regiões do
sistema nervoso central. De 60 a 70% dos neurônios do córtex e
do hipocampo existentes na primeira semana de vida são
eliminados na semana seguinte (PNAS). O número de outras
células também varia. O cérebro de um rato tem 4 milhões de
células não neuronais (6% do total de células) no nascimento e
140 milhões quando adulto (50% do total). O volume final do
cérebro resulta da combinação de perdas e ganhos de neurônios
e outras células e do aumento de tamanho dos neurônios
(Fapesp, 2017)

Neuróglia
As células da glia, geralmente chamadas neuróglia,
nevróglia, gliócitos ou simplesmente glia (em grego, "cola"), são
células não neuronais do sistema nervoso central que
97

proporcionam suporte e nutrição aos neurônios. Geralmente


arredondadas, no cérebro humano as células da glia são,
aproximadamente, 10 vezes mais frequentes que os neurônios no
corpo humano. Ao contrário do neurônio, que é amitótico, nas
células gliais ocorre a mitose. Por décadas, neurocientistas
acreditaram que os neurônios eram os responsáveis por toda a
comunicação no cérebro e sistema nervoso, e que as células
gliais, embora nove vezes mais numerosas que os neurônios,
apenas os alimentavam. Novas técnicas de imagem e
instrumentos de “escuta” mostram que as células gliais se
comunicam com os neurônios e umas com as outras. As células
gliais são capazes de modificar esses sinais nas fendas sinápticas
entre os neurônios e podem até mesmo influenciar o local da
formação das sinapses. Devido a essa proeza, as células gliais
podem ser essenciais para o aprendizado e para a construção de
lembranças, além de importantes na recuperação de lesões
neurológicas. Experiências para provar isso estão em andamento.

Tipos de células gliais


Microglia

Micróglia consiste em macrófagos especializados, capazes


de fagocitar, que protegem os neurônios. São as menores de
todas as células gliais e correspondem a 15% de todas células do
tecido nervoso. Da microglia fazem parte as células ependimárias.

Macroglia
Os tipos de células da macróglia são astrócitos,
oligodendrócitos e células de Schwann, ambos formados a partir
de glioblastos, que são células embrionais de derivação
neuroepitelial. Por volta da quinta semana de vida fetal, ocorre o
fechamento do tubo neural e a formação do sulco neural, a partir
do qual se forma a primitiva medula espinhal, constituída de
epitélio pseudoestratificado (estrato neuroepitelial). Ali, as células
se multiplicam e se diferenciam em neuroblastos (precursores dos
neurônios) e glioblastos. Quando cessa a produção de
neuroblastos, os glioblastos migram pela camada de substância
cinzenta (camada interna da medula espinhal), dando origem aos
98

astrócitos, e pela camada de substância branca (camada


externa), onde se diferenciam em oligodendrócitos.

Funções
As principais funções das células da glia são cercar os
neurônios e mantê-los no seu lugar, fornecer nutrientes e oxigênio
para os neurônios, isolar um neurônio do outro, destruir
patógenos e remover neurônios mortos. Mantêm a homeostase,
formam mielina e participam na transmissão de sinais no sistema
nervoso. As células de glia têm a importante função de produzir
moléculas que modificam o crescimento de dendritos e axônios.
Descobertas recentes no hipocampo e cerebelo indicam que
também participam ativamente nas transmissões sinápticas,
regulando a liberação de neurotransmissores ou liberando-os,
elas mesmas, e liberando ATP que modela funções pré-
sinápticas. São cruciais na reparação de neurônios que sofreram
danos: no sistema nervoso central, a glia impede a reparação (os
astrócitos alargam e proliferam, de modo a produzirem mielina e
moléculas que inibem o crescimento de um axônio lesado); no
99

sistema nervoso periférico, as células de Schwann promovem a


reparação.

Sinapses
Sinapses são zonas ativas de contato entre uma
terminação nervosa e outros neurônios, células musculares ou
células glandulares. Do ponto de vista anatômico e funcional, uma
sinapse é composta por três grandes compartimentos: membrana
da célula pré-sináptica, fenda sináptica e membrana pós-
sináptica. Os principais tipos de contato sináptico são: axo-
somático (entre um axônio e o corpo celular), axo-dendrítico
(entre um axônio e um dendrito), neuro-efetor (entre a terminação
nervosa e a célula efetora, fibra muscular lisa, fibra muscular
cardíaca ou célula glandular), neuromuscular (entre a terminação
nervosa e a fibra muscular esquelética).
100

Classificação morfológica das sinápses


Morfologicamente as sinapses podem ser classificadas em
excitatórias (tipo I), quando apresentam a membrana pós-
sináptica maior e mais espessa, vesículas que armazenam
neurotransmissores redondas e relativamente grandes e uma
fissura para a liberação dos mesmos maior do que a das sinapses
inibitórias (tipo II) que apresentam membrana pré e pós-sináptica
simétricas e vesículas de neurotransmissores menores. Além
disso, o tipo de neurotransmissor fabricado pelos neurônios (a
maior parte ainda desconhecida) atua como excitador ou inibidor
do neurônio pós-sináptico, dependendo do tipo de receptores
presentes na célula pós-sináptica. Alguns neurotransmissores
atuam por até alguns minutos, podendo se propagar em longas
distâncias por meio da corrente sanguínea local. Normalmente,
cada neurônio recebe, pelos dendritos (ramificações para inputs),
milhares de estímulos ao mesmo tempo em que geram a
despolarização da célula, levando, se a energia resultante dessa
despolarização for suficiente, à liberação de neurotransmissor, ou
seja, de um output inibitório ou excitatório. A autora citando, Crick
101

e Asanuma61 (1986), afirma que nenhum axônio ativa sinapses


excitatórias enquanto está com as inibitórias ativadas. Segundo
ela os autores citados anteriormente) observam que a recepção
dos inputs pelos neurônios permite uma “detecção de
características” do estímulo, isto é, determinados neurônios
respondem melhor a um grupo de características do input do que
a outro. Acredita-se que este fato possa estar relacionado com a
saliência perceptual de determinados estímulos para os seres
humanos. Como cada célula apresenta estrutura e propriedades
particulares, a computação que ocorre com os inputs parece ser
sempre diferente, ocorrendo o mesmo com o output que será
diferente em cada sinapse de saída na mesma célula. Os padrões
de atividade químico-elétrica que se formam nos neurônios e se
propagam nas sinapses parecem ser o código cerebral utilizado
para armazenar o conhecimento. Cielo (2004), afirmou que
segundo Young e Concar62 (1992), esse código cerebral para
armazenar o conhecimento pode estar associado ao crescimento
do cérebro nos primeiros anos de vida e possui uma base celular
chamada de potencialização de longa duração que consiste no
fortalecimento daquelas sinapses neuroniais que são ativadas em
paralelo e simultaneamente, mediante a repetição de determinado
estímulo, por meio de uma molécula receptora. Essa molécula
receptora se encontra no neurônio pós-sináptico e exige duas
descargas de neurotransmissor do neurônio pré-sináptico: a
primeira ativa os receptores e a segunda mantém ambos
neurônios ativos ao mesmo tempo para produzir a potencialização
de longa duração e a consequente codificação da informação
(reforço das sinapses). Os demais tipos de descargas neuronais
apresentam apenas uma liberação de neurotransmissor, não
mantendo os neurônios envolvidos ativados ao mesmo tempo –
condição primordial para o reforço das sinapses

61 CRICK, F., ASANUMA, C. Certain aspects of the anatomy and physiology of


the cerebral cortex. Cap. 20, p. 333-371. In: McCLELLAND, J.L., RUMELHART,
D.E. Parallel Distributed Processing – Explorations in the microestruture of
cognition, v. 2. London: MIT’Press, 1986.
62 YOUNG, S., CONCAR, D. These cells were made for learning. New Scientist,

v.136, n.1848, supl.02, p. 2-8, 1992.


102

Classificação das sinápses


103

Neurotransmissores
Neurotransmissores são substâncias químicas produzidas
pelos neurônios (as células nervosas), com a função de
biossinalização. Por meio delas, podem enviar informações a
outras células. Podem também estimular a continuidade de um
impulso ou efetuar a reação final no órgão ou músculo alvo. Os
neurotransmissores agem nas sinapses, que são o ponto de
junção do neurônio com outra célula.

Classificação

Aminas biogênicas:
. Catecolaminas:
. Adrenalina ou epinefrina, noradrenalina ou norepinefrina e
dopamina.

. Indolaminas: Serotonina, melatonina e histamina.


Aminoacidérgicos
. Aminoacidérgicos: GABA, taurina, ergotioneína, glicina, beta-
alanina, glutamato e aspartato.

Neuropeptídeos
Neuropeptídeos: endorfina, encefalina, vasopressina, oxitocina,
orexina, neuropeptídeo Y, substância P, dinorfina A,
somatostatina, colecistoquinina, neurotensina, hormona
luteinizante, gastrina e enteroglucagon.
104

Radicais livres
Radicais Livres: Óxido Nítrico (NO2), monóxido de carbono
(CO), trifosfato de adenosina (ATP) e de ácido araquidônico.

Colinérgico
Colinérgico: Acetilcolina.

Estrutura química dos


neurotransmissores
Na figura a seguir os aminoácidos precurssores de
neurotransmissores e neuromoduladores:
105

Neurotransmissores:
formação e liberação
Na figura a seguir apresentamos a formação e liberação
dos neurotransmissores.
106

Locais de ação
Essas substâncias atuam no encéfalo, na medula espinhal
e nos nervos periféricos e na junção neuromuscular ou placa
motora.

Junção neuromuscular

Quimicamente, os neurotransmissores são moléculas


relativamente pequenas e simples. Diferentes tipos de células
secretam diferentes neurotransmisores. Cada substância química
cerebral funciona em áreas bastante espalhadas, mas muito
específicas do cérebro e podem ter efeitos diferentes dependendo
do local de ativação. Cerca de 60 neurotransmissores foram
identificados e podem ser classificados, em geral em uma das
quatro categorias.

Funções
São aminas biogênicas: a adrenalina, serotonina,
noradrenalina, dopamina, histamina, melatonina e DOPA. O
glutamato e o aspartato são os transmissores excitatórios bem
conhecidos, enquanto que o ácido gama-aminobutírico (GABA), a
glicina e a taurina são neurotransmissores inibidores.
107

Dopamina
Controla a estimulação e os níveis do controle motor.
Quando os níveis estão baixos no mal de Parkinson, os pacientes
não conseguem se mover. Presume-se que a cocaína e a nicotina
atuam liberando uma quantidade maior de dopamina na fenda
sináptica. Porém, existem alguns fármacos que atuam elevando
os níveis de Dopamina, são os Medicamentos Precursores da
Dopamina, agonistas de receptores dopaminérgicos, inibidores
seletivos da MAO-B(monoaminoxidase - b) , inibidores da COMT
(catecol-o-ometil-transferase), Liberadores de dopamina,
bloqueadores de sua recaptação e estimulantes de sua síntese.

Serotonina
Esse neurotransmissor é um dos mais importantes e com
mais receptores e funções diferentes. Possui forte efeito no
humor, memória, aprendizado, alimentação, desejo sexual e sono
reparador. A falta desse neurotransmissor é a causa de
transtornos depressivos, alimentares, sexuais e do sono. Para sua
boa produção é importante o consumo de triptofano, uma boa
rotina de 6 a 8h de sono e exercícios regulares. A maioria dos
antidepressivos são estimuladores de neurotransmissores
(serotonina, dopamina e noradrenalina), mas seus resultados são
questionáveis devido ao fato de algumas pessoas sadias não
apresentarem redução na taxa dos mesmos.

Acetilcolina
A acetilcolina (ACh) é que controla a atividade de áreas
cerebrais relacionadas à atenção, aprendizagem e memória. É
liberada pelos núcleos colinérgicos e é responsável pelo sistema
parassimpático atuando na junção neuromuscular para relaxar
músculos esqueléticos e contrair o sistema digestivo e excretor,
efeito oposto ao da adrenalina. Desse modo é importante para a
boa digestão e relaxamento muscular.

Noradrenalina
108

Principalmente uma substância química que induz a


excitação física e mental e ao bom humor. A produção é centrada
na área do cérebro chamada de locus ceruleus, e atua no centro
de "prazer" do cérebro. Sua falta está associada a transtornos
depressivos.

Glutamato
O principal neurotransmissor excitatório do sistema
nervoso. O glutamato atua em duas classes de receptores: os
ionotrópicos (que quando ativados exibem grande condutividade a
correntes iônicas) e os metabotrópicos (agem ativando vias de
segundos mensageiros). Os receptores ionotrópicos de glutamato
do tipo NMDA são implicados como protagonistas em processos
cognitivos que envolvem a destruição de células.

Aspartato
Também atua como neuromodulador excitatório, de modo
similar ao glutamato.

Glicina
A glicina é um neurotransmissor aminoácido encontrado
em todo o organismo, e atua como neurotransmissor inibitório em
neurônios do sistema nervoso central, principalmente a nível de
tronco cerebral e da medula espinhal. Também atua como anti-
inflamatório, protetor celular e na modulação do sistema imune.

Ácido gama-aminobutírico (GABA)


O GABA é o principal neurotransmissor inibidor no sistema
nervoso central. É sintetizada a partir do glutamato, o principal
excitatório.

Substância P
A substância P é um neuropeptídeo que atua como
neuromodulador. Ela facilita processos inflamatórios como vômito
109

e nocicepção (resposta à dor), e é secretada por macrófagos,


eosinófilos, linfócitos e células dendríticas, além dos nervos
sensitivos específicos. Ela também pode ser responsável pelo
controle da respiração e da regeneração do tecido epitelial e
nervoso, e atua favorecendo a vasodilatação. A substância P
pertence à família das taquicininas (TAC1). Fórmula molecular:
C63H98N18O13S. Peso molar: 1347.63 g/mol.

Neurotensina
A neurotensina é um tridecapeptídeo, encarregado de
regular o hormônio luteinizante e a liberação de prolactina e
interage com o sistema dopaminérgico. Esse neuropeptídio está
distribuído por todo sistema nervoso central, com níveis mais
elevados no hipotálamo, amígdala e núcleo acumbente; no
sistema nervoso periférico, pode ser encontrado nas células
endócrinas no intestino delgado. Dentre os seus papeis
funcionais, destacam-se a regulação da atividade locomotora,
analgésica (diminuição da dor), hipotermia (diminuição da
temperatura corporal), regulação das vias de dopamina, aumento
da produção de glutamato e alterações na pressão arterial.

Opioides
Encefalina, endorfina e dinorfinas são opiáceos que, como
as drogas heroína e morfina, modulam as respostas a dor,
relaxamento muscular e reduzem o estresse. Também estão
envolvidas nos mecanismos de dependência física. Além de seu
envolvimento nas vias de dor, o sistema opioide está largamente
representado em áreas cerebrais envolvidas na resposta à
substâncias psicoativas, como a área tegmental ventral e a
cápsula no núcleo acumbente. Os peptídeos opióides estão
envolvidos em grande variedade de funções, regulando funções
de respostas ao estresse, de alimentação, de humor, de
aprendizado, de memória e imunes, além de apresentar grande
importância na modulação de inúmeras funções sensoriais,
motivacionais, emocionais e funções cognitivas.
110

Melatonina
Causa sono quando está escuro, regulando assim o ciclo
claro-escuro, uma das partes mais importantes para o bom
funcionamento do ciclo circadiano, que prepara o organismo para
a maior ou menor produção de hormônios e enzimas dependendo
do horário do dia.

Histamina
No hipotálamo a histamina regula funções térmicas e
relacionadas ao despertar. No resto do organismo é importante
para regular o fluxo sanguíneo e resposta a inflamação.

Orexígenos e anorexígenos
Orexígenos são responsáveis por causar fome e apetite,
enquanto anorexígenos produzem saciedade. Dentre os principais
orexígenos estão o neuropeptídeo Y, a “proteína relacionada ao
gene do agouti” (AGRP), as orexinas, o hormônio concentrador de
melanina (MCH) e a colecistoquinina (CCK) enquanto dentre os
anorexígenos os principais são o “alfa-hormônio estimulador dos
melanócitos” (aMSH), transcrito regulado pela cocaína e
anfetaminas (CART) e a lisina.

Neuropeptídeos
No início da década de 70, investigações com aminoácidos
evidenciaram seu envolvimento no processo de transmissão
sináptica. Foi descoberto que, além de seu papel metabólico,
certos aminoácidos desempenhavam também o papel de
neurotransmissores. Desde então, foi crescendo o número de
peptídeos caracterizados como neurotransmissores. Os
neuropeptídios são sintetizados de outro modo e tem ações que
são em geral lentas e muito diferentes das dos
neurotransmissores de moléculas menores. Os neuropeptídios
não são sintetizados no citosol dos terminais pré-sinápticos como
neurotransmissores não peptídicos, mas são sintetizados como
grandes moléculas proteicas.
111

Áreas cerebrais reguladoras e neuropeptídeos / transmissores


associados. As cores correspondem a neuropeptídeos / hormônios
específicos da seguinte forma: azul, orexina; Roxo, CCK; Rosa NMU;
Laranja Agrp; Marrom, POMC; Verde, ghrelina; Amarelo, leptina. As áreas
com estas cores indicam o local de síntese (por exemplo, AgRP, POMC e
ARC, orexina, LH), fonte periférica (NMU, grelina, leptina e CCK), áreas
nas quais o neuropeptídeo / hormônio foi injetado e os efeitos sobre SPA
relatados, ou Site (s) de ação proposto (veja o texto). Os sinais de todas
essas áreas têm potencial para influenciar os neurônios premotores
corticais. As áreas do cérebro não estão à escala e as conexões e
neuropeptídeos / transmissores indicados não são inclusivos. O contorno
do cérebro de ratos foi modificado de Paxinos e Watson (Paxinos e
Watson, 1990). Para uma descrição alternativa, veja fig. 2 em Castaneda et
al. (Castaneda et al., 2005). 5HT, serotonina; Agrp, proteína relacionada
com Agouti; ARC, núcleo arqueado hipotalâmico; CCK, colecistoquinina;
CRH, hormona liberadora de corticotropina; DA, dopamina; LC, locus
coeruleus; LH, hipotálamo lateral; MCH, hormônio de concentração de
melanina; NAccSH, concha de núcleos accumbens; NE, norepinefrina;
NMU, neuromedina U; NPY, neuropéptido Y; POMC,
proopiomelanocortina; PVN, núcleo paraventricular hipotalâmico; VTA,
área tegmental ventral; RLH, Rostral LH; SN, substância negra; TMN,
núcleo tuberomamilateral.
112

Etapas na síntese dos neuropeptídeos


Pelos ribossomos situados no corpo celular dos neurônios.
As moléculas proteicas, então entram nos espaços internos do
retículo endoplasmático do corpo celular e logo depois no
aparelho de Golgi, onde passam por duas alterações: primeiro, a
proteína que forma o neuropeptideo é clivada (cortada), por ação
enzimática, em fragmentos menores, sendo alguns deles o
próprio neuropeptídeo ou seu precursor. Segundo, o aparelho de
Golgi empacota o neuropeptídio em vesículas diminutas que são
liberadas no citoplasma. Essas vesículas são transportadas até as
terminações das fibras nervosas pelo fluxo axônico, sendo
transportadas de forma lenta de apenas de alguns centímetros
por dia. No fim, essas vesículas fundem-se com as membranas
dos terminais pré-sinápticos e liberam seus conteúdos na fenda
sináptica em resposta a potenciais de ação da mesma forma que
os neurotransmissores de molécula pequena. As vesículas
passam por autólise, ou seja, as vesículas se autodestroem
espontaneamente, entretanto não são reutilizadas como acontece
com os neurotransmissores não-peptídicos. Devido ao método
trabalhoso da formação desses neuropeptídeos, citados acima,
quantidades bem menores são liberadas desses são normalmente
liberadas em relação aos neurotransmissores de moléculas
pequenas. Só que isto é compensado, pois os neuropeptídeos
possuem em geral uma potência de transmissão de impulsos bem
maior do que dos neurotransmissores não peptídicos. Outra
característica importante dos neuropeptídeos é que eles por
vezes provocam ações prolongadas, por exemplo: alguns desses
efeitos duram dias mas outros podem durar meses ou anos.
113

Síntese de neuropepitíteos

Patologias
A diminuição dessas substâncias
provoca alteração doenças
psiquiátricas como:
. Transtornos do humor
. Transtornos de ansiedade
. Transtornos alimentares
. Transtornos sexuais
. Distúrbios do sono
. Distúrbios de memória e aprendizagem
E doenças neurológicas como:
. Fibromialgia, dor crônica e enxaquecas,
. Demências como parkinson e alzheimer,
. Convulsões e epilepsia,
. Transtornos motores como tremores, rigidez e espasmos.
114

A plasticidade do Sistema Nervoso


Central
A plasticidade do Sistema Nervoso Central repousa nos
neurônios com sua capacidade de crescimento e brotamento de
ramificações destinadas a inputs e a outputs, permitindo que a
mesma célula receba vários estímulos e envie outros tantos por
meio das sinapses. As células nervosas podem ter atividade
excitatória ou inibitória, dependendo das suas condições
estruturais e físico-químicas, liberando os hormônios
(neurotransmissores) que funcionam como output da célula que
os libera e input daquela que os recebe.

Conceitos de plasticidade sináptica

Marilia Baquerizo Sedano e Jhonatan Astucuri Hidalgo


(2012) universidad peruana Cayetano Heredia em seu artigo
Neurobiología de la memoria y procesos neuroquímicos
implicados escreveram que desde o paradigma da evolução, o
aprendizado e a memória atuam como meio principal de
adaptação de seres vivos as modificações incertas do medio
ambiente. Ambos processos têm uma relação e não é possível
distingui-los dentro do circuito neuronal. Conforme os mesmos
autores, presume-se para fins acadêmicos, que a aprendizagem é
o processo de aquisição de informação e memória relaciona-se
com a codificação, armazenamento e recuperação de
informações que foram aprendidas. Assim, entende-se também
que a aprendizagem é uma mudança relativamente permanente
no sistema nervoso resultante da experiência e que por sua vez
provoca mudanças duradouras no comportamento de organismos;
e homólogo, a memória é o fenômeno geralmente inferida a partir
dessas mudanças, o que dá a nossa vida um sentido de
continuidade. Que define o nosso sentido de continuidade
identidade e permite que a informação retida experiências sobre o
passado condicional comportamento futuro. Mas esta informação
armazenada no sistema nervoso, normalmente um formado
instantaneamente e segue um processo de formação que inclui
115

pelo menos dois estágios ou fases subsequentes: memória de


curto prazo e de longo prazo.
Em 1894, durante uma palestra na Royal Society, Santiago
Ramon y Cajal, o pai da moderna neurociência (Prêmio Nobel de
Medicina e Fisiologia em 1906), ele enunciou uma frase que no
nosso tempo dá substrato à células de memória:
"Exercício mental facilita ainda mais o desenvolvimento
de estruturas nervosas em partes do cérebro em uso.
Assim, as ligações pré-existentes entre grupos de
células podem ser melhoradas pela a multiplicação de
terminações nervosas ... "

Quase 50 anos depois, em 1949, Donald Hebb deu uma


definição mais formal de plasticidade sináptica que diz o
postulado:"Quando o axônio da célula A excita células B, e
repetidamente ou persistentemente ocorre ativação de algum tipo
de crescimento ou alteração metabólica em uma ou ambas as
células. Assim a eficácia de uma célula na interação com a outra
age como estimulador do crecimento das sinápses".

Em neurociência, plasticidade sináptica é a capacidade


de sinapses de fortalecer ou enfraquecer ao longo do
tempo, em resposta a aumentos ou diminuições em sua
atividade. Por as memórias serem representadas por
redes vastamente interligadas de sinapses no cérebro, a
plasticidade sináptica é uma das importantes bases
neuroquímicas para o aprendizado e a memória (ver
teoria hebbiana). Mudanças plásticas muitas vezes
resultam da alteração do número de receptores de
neurotransmissores localizados em uma sinapse.
Existem vários mecanismos subjacentes que cooperam
para alcançar a plasticidade sináptica, incluindo
mudanças na quantidade de neurotransmissores
liberados em uma sinapse e mudanças em quão
efetivamente as células vão responder aos
neurotransmissores. A plasticidade sináptica, em ambas
as sinapses excitatórias e inibidoras, foi verificada como
sendo dependente da liberação pós-sináptica de cálcio.
116

É ainda em 1966, que este postulado primeiro demonstrou


experimentalmente a influência do tempo. O norueguês Terje
Lomo63 observou que treinamentos de curta estimulação
incrementavam a eficiência da transmissão em sinapses entre a
via perfurante e as células granulares da circunvolução dentada
do hipocampo, em coelhos anestesiados.

O hipocampo é essencialmente uma faixa curva de


córtex filogeneticamente primitivo (“arquicórtex”), de
aproximadamente quatro centímetros de comprimento,
localizada na porção medial do lobo temporal. Ele
estende-se por todo o comprimento do soalho do corno
inferior (ou temporal) do ventrículo lateral, sendo dividido
no sentido ântero-posterior em três porções: cabeça,
corpo e cauda. A extremidade anterior da cabeça do
hipocampo é dilatada e apresenta sulcos rasos com
elevações dando a aparência de pé – o assim chamado
“pé do hipocampo”, enquanto a extremidade posterior da
cauda do hipocampo continua-se com o fórnix. Medial e
inferiormente, o hipocampo é contíguo ao subículo, o
pré-subículo e o para-subículo, repousando sobre o
córtex entorrinal e giro parahipocampal (Brodal 1997). O
termo “hipocampo” é comumente utilizado para
descrever conjuntamente duas regiões interligadas: o
giro denteado e o hipocampo propriamente dito (“Corno
de Amon”; CA). Ambos possuem uma organização
interna trilaminada, composta por dois tipos de células
principais: as células granulares do giro denteado e as
células piramidais do Corno de Amon, sendo estas
divididas nos setores de CA1, CA2 e CA3. Cada uma
dessas regiões mantém um padrão organizado de
conexões intrínsecas e extrínsecas, sendo que a
principal aferência para o hipocampo origina-se no córtex
entorrinal. As fibras que deixam o córtex entorrinal (CE)
em direção ao hipocampo constituem a chamada “via
perfurante” e inervam os dendritos das células
granulares na região da camada molecular do giro
denteado (GD). Os axônios das células granulares
(“fibras musgosas”) projetam-se para as células
piramidais da região de CA3, que por sua vez emitem
fibras para a região de CA1, constituindo a chamada “via
colateral de Schaffer”. De CA1, as fibras projetam-se
para o complexo subicular e então para as camadas

63Terje Lomo (nascido em 3 de janeiro de 1935) é um fisiologista norueguês


especializado em neurociência.
117

profundas do córtex entorrinal. O circuito CE-GD-CA3-


CA1 é tradicionalmente denominado “via tri-sináptica” e
utiliza o glutamato como principal neurotransmissor
(Silva, 2018).

Alguns anos mais tarde, em 1973, e no mesmo laboratório,


Lomo e britânico Timothy Bliss, eles descobriram que a frequência
de estimulação moderadamente elevada da mesma maneira
produziu aumentos estáveis e duráveis em resposta pós-
sináptica, que é chamado de potenciação de longo prazo (LTP,
por sua sigla em Inglês).
As mesmas autoras concluíram que a memória é um
fenômeno intimamente relacionados à aprendizagem, que é uma
118

mudança no nível comportamental, cognitiva e neural. Seu


processo de formação inclui, pelo menos, duas etapas ou fases
seguintes: a memória de curto prazo e da memória de longo
termo. A principal diferença entre estas duas fases reside na
persistência de alterações que ocorrem sobre as conexões
sinápticas. Os conceitos de plasticidade sináptica e potenciação
de longo prazo - LTP explica o suporte de memória neuroquímica.
Neles segue-se que o cérebro e conexões anatomicamente e
funcionalmente mudam como resultado da experiência.

Capacidade craniana do homem


O homem sempre se orgulhou de suas capacidades
intelectuais e muitas vezes pensou em explicar a razão pela qual
ele sozinho pode, ao contrário do resto do reino animal,
contemplar e se comunicar com os outros. Uma vez que o cérebro
do homem é maior do que outros animais, é natural que o homem
conclua que o cérebro é a marca do homem e a medida deve ser
a chave para a compreensão de sua capacidade intelectual única
(Jue, 2017).

Medição da capacidade intelectual


A medição da capacidade intelectual potencial do homem a
partir de fontes que não sejam observações diretas e testes é
derivada de dados diretos, indiretos e inferenciais. Os dados
diretos são obtidos da medição da capacidade craniana e da
análise de moldes que "expõem" o interior do crânio. A evidência
indireta vem do estudo de tamanhos comparativos de cérebro,
que se baseia no pressuposto de que existe uma correlação entre
tamanho e configuração do cérebro e estudos comportamentais.
Outras evidências indiretas provêm do estudo de restos fósseis de
partes não cranianas que inferem destreza manual e acuidade
visual (Jue, 2017).
119

Medição da capacidade craniana


A capacidade craniana foi medida de várias maneiras. As
sementes de mostarda, milheto ou linho são usadas porque se
aproximam bastante do volume equivalente a um líquido, mas
também são utilizados pequenos fragmentos de chumbo. Se as
sementes de mostarda forem usadas, elas são colocadas no
crânio oco, depois que os pequenos forames são tapados com
algodão através do forame magnum, por meio de um funil e
agitado pela mão ou um instrumento de agitação.

Medição da capacidade craniana

Quando o crânio está suficientemente embalado, o material


é vertido em um copo de medição que é novamente agitado e
embalado. Medições diferentes no mesmo espécime podem ser
feitas dependendo da forma como as sementes são comprimidas,
a velocidade com que as sementes são filmadas e o diâmetro do
pescoço do funil. Uma maneira mais precisa de medir a
capacidade craniana, embora raramente feita, é fazer um molde
endocraneal e medir a quantidade de água que o elenco desloca.
120

Holloway mostrou que as estimativas de capacidade craniana de


muitos fósseis principais de hominídeos diferem quando medidas
pelos outros métodos. Medições indiretas para capacidade
craniana podem ser feitas com diferentes fórmulas dependendo
do sexo (Jue, 2017).

Masculino: 359,34cm3 + 365 x 10-6 (Comprimento x largura x altura auricular)


Feminino: 296.4cm3 + 375 x 10-6 (Comprimento x largura x altura auricular)

As mudanças são feitas em fórmulas dependendo da raça


e da espessura do osso parietal.
Muitas vezes, os homínidos fósseis são encontrados
fragmentados e são reconstruídos por um paradigma de acordo
com a lei de correlação. Jerrison notou a escassez de crania
inteira de australopithecines e habilines e observou que as
estatísticas cranianas parecem estar de acordo com focos de
médias baseadas em algumas reconstruções.

Como a capacidade craniana do homem é tão variável


hoje, mostrou-se que existe uma relação muito pequena entre a
capacidade craniana e a inteligência humana. Várias populações
têm capacidades dentro do alcance do "fóssil". Os livros de texto
mostram a evolução assumida do cérebro do homem (ver figura a
seguir). No entanto, um melanésio com capacidade craniana de
121

790 centímetros cúbicos64 (cc) é o menor gravado em um adulto


normal.5 Harris afirmou que a variabilidade da capacidade
craniana do homem começa em 850 cc. Embora os adultos com
atrasos mentais tenham tido medidas de capacidades cranianas
de 511cc e 519cc, que são iguais a um gorila adulto, seu
comportamento obviamente não foi exibido.

64O centímetro cúbico é uma unidade de medida de volume, que equivale a um


cubo cujas arestas medem 1 cm cada. A representação do centímetro cúbico
no SI é o cm3, e é uma grandeza derivada do m 3. Nas áreas médica e de
engenharia, o cm3 é por vezes representado por cc ou ccm, mas tal notação
vem sendo paulatinamente substituída por mL ou L.
122

Regiões do cérebro e
suas diferentes funções.
O córtex cerebral é dividido em áreas denominadas lobos
cerebrais, cada uma com funções diferenciadas e especializadas.

O córtex cerebral é dividido em áreas


denominadas lobos cerebrais

Regiões do cérebro são especializadas para diferentes


funções.
O sistema nervoso central, que é bilateral e essencialmente
simétrico, consiste de seis partes principais (Kandel, 2017):
1 - A medula espinhal, a parte mais caudal do sistema nervoso
central, recebe informações da pele, articulações e de músculos
do tronco e membros e envia comandos motores para
movimentos, sejam eles reflexos ou voluntários.
2 - O bulbo é a extensão rostral da medula espinhal.
3 - A ponte e o cerebelo (que se localiza atrás da ponte) são
rostrais ao bulbo. O cerebelo está relacionado com a modulação
da força e amplitude do movimento.
4 - O mesencéfalo localiza-se rostralmente à ponte entre o que é
chamado cérebro posterior (bulbo, ponte e cerebelo) e o cérebro
anterior ou prosencéfalo (o diencéfalo e o córtex cerebral).
123

O bulbo, a ponte e o mesencéfalo, referidos coletivamente como


tronco cerebral, mediam uma ampla variedade de funções. O
tronco cerebral contém vários conjuntos de corpos celulares
chamados de núcleos dos nervos cranianos. Alguns destes
núcleos recebem informações da pele e dos músculos da cabeça
e também grande parte da informação dos sentidos especiais, da
audição, equilíbrio e gosto.
Outros núcleos controlam a saída motora para os músculos da
face, pescoço e olhos. Outra estrutura chave no tronco cerebral é
a formação reticular difusa, a qual é importante na determinação
dos níveis de vigília e de alerta.
5 - O diencéfalo contém duas estruturas chave de retransmissão.
Uma delas, o tálamo, processa a maior parte da informação que
chega ao córtex cerebral a partir do resto do sistema nervoso
central. A outra, o hipotálamo, regula a integração autonômica,
endócrina e visceral.
6 - Os hemisférios cerebrais consistem dos gânglios basais e
córtex cerebral circundante. Ambos, o córtex e os gânglios basais
estão relacionados com funções perceptuais, cognitivas e motoras
superiores.

Diferentes regiões do cérebro são especializadas para


diferentes funções.

Cérebro: anatomia e função


A História (conhecida) começa com o médico, cirurgião e
filósofo Galeno65 de Pérgamo, que propôs que o cérebro controla
o movimento do corpo. Como é claro, esta noção fundamental é
hoje inquestionável. Contudo, Galeno propôs também que os
nervos eram como que uns tubos que transportavam um fluído
65 Cláudio Galeno ou Élio Galeno, em latim Claudius Galenus, (Pérgamo, c.
129 – provavelmente Sicília, ca. 217), mais conhecido como Galeno de
Pérgamo foi um proeminente médico e filósofo romano de origem grega, e
provavelmente o mais talentoso médico investigativo do período romano. Suas
teorias dominaram e influenciaram a ciência médica ocidental por mais de um
milênio. Seus relatos de anatomia médica eram baseados em macacos, visto
que a dissecação humana não era permitida no seu tempo, mas foram
insuperáveis até a descrição impressa e ilustrações de dissecções humanas
por Andreas Vesalius em 1543. Desta forma Galeno é também um precursor
da prática da Vivissecção e experimentação com animais.
124

desde o cérebro e medula espinal até à periferia do corpo, uma


interpretação errada que permaneceu até final do século XIX.
Nesta altura, Camillo Golgi66 desenvolveu uma técnica para
observar neurónios e a sua estrutura, com a qual Ramón y Cajal
mostrou pela primeira vez que o tecido neuronal não era uma
“rede” contínua, mas uma estrutura composta por neurônios bem
individualizados (Lopes, 2017).

Anatomia funcional do cérebro


Giro – é uma saliência do córtex cerebral. É geralmente cercado
por um ou mais sulcos.[

Sulco – sulcus (Latin, pl. sulci) is a depression or groove in the


cerebral cortex.
- Sulco Central – divide o Lobo Frontal do Lobó Parietal.

Fissura – sulcos profundos, geralmente dividindo grandes regiões


/ lobos do cérebro
- Fissura Longitudinal - divide os dois Hemisférios
Cerebrais
- Fissura Transversa – separa o Cerebrum do Cerebelo
- Sylvian/Fissura Lateral –divide o Lobo Temporal dos
Lobos Frontais e Parietais.

66 Camillo Golgi (Corteno, 7 de Julho de 1843 — Pavia, 21 de Janeiro de 1926)


foi um médico e histologista italiano.
125

Fissuras, giros e sulco.


126

Lobos do cérebro - Frontal


• O lobo frontal do cérebro está localizado no fundo do osso
frontal do crânio
• Ele desempenha um papel fundamental nas seguintes
funções / ações:
- Formação de memória
- Emoções
- Tomada de decisão / raciocínio
- Personalidade

Lobo frontal - Regiões corticais


• Cortex Motor Primário (Giro Pré-central) – sitio Cortical envolvido
controlando os movimentos do corpo.
• Area de Broca – Controla os neurônios faciais, a fala e a
compreensão da linguagem. Localizado no Lobo Frontal Esquerdo

– Afasia de Broca – Resulta na capacidade de compreender a


fala, mas a diminuição da capacidade motora (ou
incapacidade) para falar e formar palavras.

Afasia
127

A afasia é por si só a perda da capacidade e das


habilidades de linguagem falada e escrita.
A comunicação pela linguagem falada é peculiar aos
seres humanos, sendo diferencialmente localizada no
hemisfério esquerdo e se correlacionando com
assimetrias anatômicas (lobos frontal e temporal). A
afasia é um sintoma comum na neurologia clínica, muitas
vezes como conseqüência de um acidente vascular
cerebral cuja localização geralmente se dá junto à artéria
cerebral média esquerda ou nos ramos junto à região do
cérebro responsável pela linguagem. Outras podem ser
causadas por infecções e manifestações degenerativas
locais comprometendo a área especificada. Existem
peculiaridades que diferenciam as afasias e
proporcionam ao médico uma determinação da
topografia da região afetada, independente da causa,
portanto podemos dividi-las em:
Afasia de Broca
A afasia de Broca caracteriza-se por grande dificuldade
em falar, porém a compreensão da linguagem encontra-
se preservada. Essa síndrome é também dita como
afasia não fluente, de expressão ou motora: os pacientes
conseguem executar normalmente a leitura silenciosa,
mas a escrita está comprometida. Esses pacientes
possuem, ainda, fraqueza na hemiface e membro
superior direito (devido à proximidade das regiões
afetadas pelo distúrbio circulatório). Os pacientes têm
consciência do seu déficit e se deprimem com facilidade
(frustração). Entretanto, o prognóstico é bom quanto à
recuperação de parte da linguagem falada, embora
sejam necessários meses para a realização de uma fala
simples, abreviada, ainda que não fluente.
Afasia deWernicke
A afasia deWernickecaracteriza-se por dificuldade na
compreensão da linguagem, a fala é fluente e faz pouco
sentido. Essa síndrome é também denominada afasia
fluente, de recepção ou sensorial. Diferente dos
pacientes com afasia de Broca, os pacientes com essa
síndrome começam a falar espontaneamente, embora de
modo vago, fugindo do objetivo da conversa. Pode existir
parafasias, isto é, uma palavra substituindo outra, como
chamar uma colher de garfo (parafasia literal), ou um
som substituindo outro, como ao chamar uma colher de
mulher (parafasia verbal); geralmente, não apresentam
fraqueza associada, os pacientes não se dão conta de
seu déficit e a recuperação é mais difícil.
Afasia de Condução
Na afasia de condução, a compreensão está
relativamente preservada e a fala é fluente e
128

espontânea. Existe, entretanto, incapacidade de repetir


palavras corretamente.
Afasia Global
Afasia global é a perda de todas as capacidades de
linguagem: compreensão, fala, leitura e escrita, sendo
causado geralmente por um infarto completo no território
da artéria cerebral média esquerda; os pacientes, sendo
assim, também apresentam geralmente hemiplegia
direita (total perda de força no lado direito do corpo),
além de demência associada; o prognóstico é mais
reservado. (ABC da Saude, 2017)

Cortex Orbitofrontal– sitio de lobotomias67 frontais.


Efeitos Desejados:
- Raiva diminuída
- Diminuição da agressão
- Respostas emocionais pobres
Possíveis efeitos secundários:
- Epilepsia
- Respostas emocionais pobres
- Gestos, ações ou palavras descontrolados

Bulbo olfatório - Cranial Nerve I, Responsável pela sensação


de cheiro.

Lobos do cérebro – Lobo Parietal


67 Lobotomia ou também leucotomia, é uma intervenção cirúrgica no cérebro em
que são seccionadas as vias que ligam os lobos frontais ao tálamo e outras vias
frontais associadas. Foi utilizada no passado em casos graves de esquizofrenia.
129

O lobo parietal do cérebro está localizado no fundo do osso


parietal do crânio.
• It plays a major role in the following functions/actions:
. Senses and integrates sensation(s)
. Spatial awareness and perception
(Proprioception - Awareness of body/ body parts in space and
in relation to each other)

Lobo Parietal - Regiões Corticais

Cortex Somatosensorio Primário


(Giro Pós-central)
Sitio envolvido no processamento de informações tácteis e
proprioceptivas68.

68Propriocepção também denominada como cinestesia, é o termo utilizado


para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua
posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada
parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão.
130

Cortex Somatosensório Associado


Auxilia na integração e interpretação de sensações
relativas à posição e orientação do corpo no espaço. Pode ajudar
com a coordenação visual-motor.

Cortex Gustativo Primário


Sitio primário envolvido com a interpretação da sensação
do gosto.

Lobos do cérebro – Lobo Ocipital


O lobo ocipital do cérebro está localizado no fundo do
osso ocipital do crânio.
Sua principal função é o processamento, integração,
interpretação, etc. da visão e estímulos visuais.

Lobo Ocipital – Regiões Corticais


131

Cortex Visual Primário – esta é a principal área do cérebro


responsável pela visão - reconhecimento de tamanho, cor, luz,
movimento, dimensões, etc.

Area Visual Associada – Interpreta as informações


adquiridas através do córtex visual primário.

Lobos do cérebro – Lobo Temporal

Os lobos temporais estão localizados nos lados do cérebro,


profundamente aos ossos temporais do crânio.
Eles desempenham um papel fundamental nas seguintes
funções:
- Audição
- Organização/Comprensão da linguagem.
- Recuperação da informação (Memoria e formação da
Memoria).

Lobo Temporal – Regiões Corticais


132

Cortex Auditivo Primário – Responsável pela audição

Primary Olfactory Cortex –Interpreta o sentido do cheiro uma


vez que atinge o córtex através dos bulbos olfativos. (Não visível
no córtex superficial)

Area de Wernicke’s– compreenção da linguagem. Localizado no


Lobo Temporal Esquerdo.

Afasia de Wernicke – A compreensão da linguagem é inibida. As


palavras e frases não são claramente compreendidas e a
formação de sentenças pode ser inibida ou não sensível.
133

Fasciculus Arcuate
Um trato de matéria branca que liga a área de Broca e a
área de Wernicke através dos lobos temporais, parietais e
frontais. Permite uma fala coordenada e compreensível. Os danos
podem resultar em:

. Afasia de Condução
Onde a compreensão auditiva e a articulação da fala são
preservadas, mas as pessoas dificilmente repetem a fala ouvida.

As áreas do córtex cerebral


de Korbinian Brodmann
Segundo Gil (2017), as áreas de Brodmann foram definidas
pelo neurologista Korbinian Brodmann69, em seu livro
“Vergleichende Lokalisationslehre der Grosshirnrinde in ihren
Prinzipien dargestellt auf Grund des Zellenbaues”, de 1909. Essas
áreas constituem a base para a localização funcional no córtex
cerebral. Para a demarcação dessas áreas, Brodmann utilizou-se
como critério a organização dos neurônios no córtex cerebral, em
que eram visualizados por meio da técnica de coloração de Nissl.
As áreas de Brodmann tem sido discutida, refinadas e
renomeadas exaustivamente durante quase um século, e

69Korbinian Brodmann (17 de novembro de 1868 - 22 de agosto de 1918) foi


um neurologista alemão que se tornou famoso por sua definição do córtex
cerebral em 52 regiões distintas de suas características histológicas,
conhecidas como áreas de Brodmann.
134

continuam a ser as mais conhecidas e citadas na citoarquitetura


da organização do córtex humano. Portanto, essas áreas
definidas por Brodmann, baseando-se simplesmente na
organização neural, são ainda utilizadas para designar regiões
corticais funcionais. A existência de localizações funcionais e o
seu estudo têm grande importância na compreensão do
funcionamento do cérebro. As áreas funcionais do córtex, de
maneira bem esquemática, foram divididas em área de projeção e
de associação. No caso das áreas de projeções “são as que
recebem ou dão origem as fibras relacionadas diretamente com a
sensibilidade e com a motricidade” (MACHADO, 2000. p. 263), e
as restantes seriam as áreas de associações que, segundo o
autor citado, estão relacionadas com as funções psíquicas
complexas. Portanto, quando há lesões nas áreas de projeções,
essas podem causar paralisias e alterações na sensibilidade,
enquanto que, quando ocorrem lesões na área de associação a
parte motora e sensitiva não é afetada, mas podem ocorrer
alterações psíquicas. Com a contribuição do neuropsicólogo russo
Alexandre R. Luria que, propôs uma divisão funcional do córtex
baseada no seu grau de afinidade com a motricidade e com a
sensibilidade, abriu-se caminho para entender melhor as
conexões do funcionamento cerebral. Desta maneira, as áreas de
projeções, ligadas à motricidade e à sensibilidade, passaram a ser
consideradas por esse neuropsicólogo de áreas primárias, e as
áreas de associações foram subdivididas em secundárias
(unimodais) e terciárias (supramodais). Essa subdivisão deveu-se
a dois motivos. O primeiro, por perceber que existiam funções,
ainda que indiretamente, sensoriais e motoras nas áreas de
associações, desta forma, passou a denominar estas áreas de
secundárias ou unimodais. Segundo, que as áreas terciárias ou
supramodais, não se ocupavam de nenhum processamento motor
ou sensitivo, mas estavam envolvidas com atividades psíquicas
superiores como a memória, os processos simbólicos e o
pensamento abstrato. Dependendo da região do cérebro a
morfologia e a densidade celular das camadas variam, e foi esses
critérios arquitetônicos que permitiram a Brodmann mapear as
áreas corticais numeradas de 1 à 52. Essas áreas podem ser
agrupadas em três tipos mais abrangentes: córtex agranular, com
ausência da camada 4 e uma profusão de células piramidais
(áreas 4 e 6), córtex hipergranular com uma camada granular
desenvolvida e muitas células (áreas sensitivas e sensoriais) e
135

córtex eulaminado, com um equilíbrio entre as seis camadas


(áreas associativas).

Área de Brodmann
Área de Brodmann é uma região do córtex cerebral definida
com base nas suas estruturas citoarquitetonicas e organização de
suas células. Originalmente definidas e numeradas pelo alemão
anatomista Korbinian Brodmann baseadas na organização
citoarquitetural dos neurônios que ele observou no córtex
cerebral. Brodmann publicou seus mapas de áreas corticais em
humanos, macacos e outras espécies, em 1909, junto com muitas
outras descobertas e observações sobre os tipos de células em
geral e a organização laminar do córtex dos mamíferos. O mesmo
número de área de Brodmann em diferentes espécies não indica
necessariamente áreas homólogas. Um mapa cortical similar,
porém, mais pormenorizado, cortical foi publicado por Constantin
von Economo e N. Georg Koskinas em 1925.

Importância na atualidade
136

As Áreas de Brodmann foram discutidas, debatidas,


refinadas, e renomeadas exaustivamente por quase um século, e
continuam a ser a mais conhecida e citada organização
citoarquitetonica do córtex humano. Muitas das áreas de
Brodmann definidas apenas com base na sua organização
neuronal já foram correlacionadas similarmente a diversas
funções corticais. Por exemplo, áreas de Brodmann 1, 2 e 3 são o
córtex somatosensorial primário, área 4 é o córtex motor primário,
área 17 é o córtex visual primário, e áreas de 41 e 42
correspondem ao córtex auditivo primário. Funções de ordem
superior às das áreas corticais de associação também são
consistentemente localizadas nas mesmas áreas de Brodmann
pela imagem funcional neurofisiológica (por exemplo, a
localização consistente da área de Broca, com função de
compreensão da linguagem, nas áreas Brodmann em 44 e 45).
No entanto, imagens funcionais só podem identificar a localização
aproximada de ativações cerebrais em termos de áreas de
Brodmann dado o fato de que os limites reais em qualquer
cérebro individual requerem um exame histológico e ativações
cerebrais em termos de áreas de Brodmann dado o fato de que os
limites reais em qualquer cérebro individual requerem um exame
histológico.

Áreas de Brodmann em
primatas e humanos
Cada área tem mais de uma função, múltiplas áreas são
usadas em cada atividade e um lado frequentemente
tem prevalência sobre o outro (Wikipédia, 2017).
137

Áreas 3, 1 e 2 - córtex somatossensorial primário: processa tatos,


dor e propriocepção);
Área 4 - córtex motor primário: controle de diversos movimentos e
respostas cinestésicas;
Área 5 e 7 - córtex de associação somatossensorial: visão
espacial, uso de ferramentas, memória de trabalho;
Área 6 - córtex pré-motor e córtex motor suplementar (córtex
motor secundário);
Área 8 - inclui campos oculares frontais: associado com o controle
do movimento dos olhos;
Área 9 - córtex dorsolateral pré-frontal: associado com lógica e
cálculos;
Área 10 - córtex pré-frontal anterior (parte mais rostral e superior
do giro frontal meio superior): associado com atenção e alerta;
Área 11 e 12 - área orbito-frontal: associado ao processo
decisório e comportamentos éticos;
Área 13 e área 14 - córtex insular*: associado ao
somatossensorial, memória verbal, motivação;
Área 15 - lobo temporal anterior*;
Área 17 - córtex visual primário (V1);
Área 18 - Área 22 – giro temporal superior (parte da área de
Wernicke);
Área 19 - córtex visual associativo (V3, V4, V5);
Área 20 - giro temporal inferior;
Área 21 - giro temporal médio;
Área 23 – córtex ventral cingulado posterior;
Área 24 – córtex ventral cingulado anterior;
Área 25 – córtex subgenual (parte do córtex ventromedial pré-
frontal);
Área 26 – porção ectosplenial da região retrosplenial do córtex
cerebral;
Área 27 – córtex piriforme;
Área 28 – córtex entorrinal posterior;
Área 29 – córtex retrosplenial cingulado;
Área 30 - Parte do córtex cingulado;
Área 31 – córtex dorsal cingulado posterior;
Área 32 – córtex dorsal cingulado anterior;
Área 33 - parte do córtex cingulado anterior;
Área 34 - córtex entorrinal (no giro parahipocampal);
Área 35 – perirrinal córtex (no giro parahipocampal );
Área 36 – córtex Hipocampal (no giro para-hipocampal );
138

Área 37 - giro fusiforme;


Área 38 - área temporopolar (parte mais rostral do giro temporal
superior e médio): associado com interpretação de emoções;
Área 39 - giro angular (considerado por alguns como parte da
área de Wernicke);
Área 40 - giro supramarginal (considerado por alguns como parte
da área de Wernicke);
Áreas 41 e 42 - córtex primário e de associação auditiva;
Área 43 - córtex gustativo primário;
Área 44 - pares operculares, parte da área de Broca;
Área 45 - pares triangulares área de Broca;
Área 46 - córtex pré-frontal dorsolateral;
Área 47 - giro prefontal inferior;
Área 48 - área retrosubicular (uma pequena parte da superfície
medial do lobo temporal); córtex visual secundário (V2);
Área 49 - parasubiculum área de um roedor;
Área 52 - parainsular área (na junção do lobo temporal e a insula);

(*) Diferente em primatas humanos


(**) Algumas das áreas originais Brodmann foram subdivididas, por exemplo,
"23" e "23b";

Cerebelo
Em 1504, Leonardo da Vinci70 cunhou o termo "
“cerebellum" (latino para "pequeno cérebro") depois de fazer

70 Leonardo di Ser Piero da Vinci, ou simplesmente Leonardo da Vinci


(Anchiano, 15 de abril de 1452[1] — Amboise, 2 de maio de 1519), foi um
polímata nascido na atual Itália, uma das figuras mais importantes do Alto
Renascimento, que se destacou como cientista, matemático, engenheiro,
inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico.
139

fundições de cera do cérebro humano e observando dois


pequenos hemisférios cuidadosamente arrumados sob o "
cerebrum" muito maior (latino para "cérebro").

Em 1504, Leonardo da Vinci nominou o órgão.

O cerebelo é apenas 10 por cento do volume do cérebro71,


mas abriga cerca de 80 por cento dos neurônios totais do seu
cérebro, a maioria das quais são células granulares. Cerebelar é a
palavra da irmã para o cerebral e significa "relacionar-se ou
localizar no cerebelo".

71Capacidade encefálica se refere ao volume encerrado no interior do crânio,


ocupado pelo encéfalo. Nos vertebrados, o aumento dessa capacidade,
observado ao longo da evolução, tem relação com o aumento da inteligência e
complexidade psico-comportamental. O aumento desta capacidade atinge o
seu máximo no ser humano e faz-se à custa de um aumento massivo do córtex
cerebral que fazendo face a um volume não expansível da caixa craniana,
enrugou fazendo sulcos profundos chamados circunvoluções. A área do córtex
chega a atingir mais de 0,22 m² e parece haver uma relação entre o grau de
enrugamento e a inteligência.
140

Durante séculos, o cerebelo foi considerado pela maioria


dos especialistas como o assento de atividades inconscientes
"não pensantes" que não tinham nada a ver com a cognição -
como manter o equilíbrio, ajustar a coordenação motora e a
propriocepção72.

Recentemente, Christopher Bergland (2017) citou no site


Psychology Today, cinco novas funções do cerebelo conforme
ele, nos últimos meses, os avanços revolucionários na tecnologia
de imagens cerebrais e informática permitiram que os
pesquisadores estudassem profundamente os neurônios
densamente compactados do cerebelo de maneiras que antes
eram impossíveis. A última evidência empírica73 com métodos de
última geração sugere que o cerebelo desempenha um papel
complexo e anteriormente subestimado em vários processos
cognitivos envolvendo o córtex cerebral, bem como outras
estruturas subcorticais do cérebro, incluindo os gânglios basais.

Cerebelo

72 Propriocepção também denominada como cinestesia, é o termo utilizado


para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua
posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada
parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão. Este tipo específico
de percepção permite a manutenção do equilíbrio postural e a realização de
diversas atividades práticas. Resulta da interação das fibras musculares que
trabalham para manter o corpo na sua base de sustentação, de informações
táteis e do sistema vestibular, localizado no ouvido interno.
73 Na filosofia, empirismo foi uma teoria do conhecimento que afirma que o

conhecimento vem apenas, ou principalmente, a partir da experiência sensorial.


141

1. Tarefa com a mão direito transfere o


conhecimento motor para o pé direito (“Right
hand task training transfers motor knowledge
to right foot”).
Os neurocientistas da Faculdade de Medicina da
Universidade Johns Hopkins descobriram que o cerebelo pode
transferir a aprendizagem motora baseada em habilidades de uma
parte do corpo para outra. Isso ilustra a plasticidade previamente
desconhecida entre o córtex motor e o cerebelo. Notavelmente, o
córtex motor no hemisfério direito do cérebro controla o lado
esquerdo do corpo; O hemisfério direito do cerebelo controla o
lado direito do corpo (e vice-versa).
O principal objetivo deste estudo foi demonstrar o valor de
uma técnica de estimulação cerebral chamada "inibição cerebelar"
que é usada para investigar como as conexões neurais no
cérebro mudam à medida que as pessoas aprendem novas
habilidades motoras. As descobertas de Johns Hopkins foram
publicadas no Journal of Neuroscience em 1 de março de 2017.
Durante uma parte desta experiência, os pesquisadores
investigaram se as mudanças cerebelares eram exclusivas para
aprender uma nova tarefa. Curiosamente, ao medir a
conectividade entre o córtex motor e o cerebelo, os pesquisadores
descobriram que a atividade cerebelar-cerebral não mudou ao
executar uma tarefa familiar, mas mudou ao aprender uma nova
tarefa.
Em uma declaração, Danny Spampinato, um estudante de
pós-graduação de engenharia biomédica na Johns Hopkins
School of Medicine, disse: "Isso nos mostra que há algo especial
sobre aprender algo novo que muda como as áreas do cérebro
interagem que não acontece quando fazemos um movimento Já
sabíamos como fazer ".
142

2. Ao aprender uma nova tarefa, as células de


grânulos cerebelares exibem níveis
surpreendentes de atividade (“When learning
a new task, cerebellar granule cells display
surprising levels of activity”)
Uma equipe internacional, incluindo pesquisadores do
Princeton Neuroscience Institute e Baylor College of Medicine,
usaram uma tecnologia avançada de imagem cerebral chamada
"microscopia de dois fótons a laser" e algoritmos computacionais
para descriptografar os sinais de células granulares no cerebelo.

As células granulares do cerebelo estão entre os


neurônios mais pequenos do cérebro. (O termo célula de
grânulo é usado para vários tipos de neurônios não
relacionados em várias partes do cérebro). As células de
grânulos cerebelares também são facilmente os
neurônios mais numerosos no cérebro: nos seres
humanos, as estimativas de seu número total em média
em torno de 50 bilhões, o que Significa que eles
constituem cerca de 3/4 dos neurônios do cérebro.

Células granulares (granule cells) do cerebelo.


Os pesquisadores disseram que este é o primeiro estudo a
analisar a atividade neuronal das células dos grânulos
cerebelares nos cérebros dos animais vivos, enquanto eles
estavam aprendendo uma tarefa de forma anteriormente
impossível. Essas descobertas foram publicadas em 20 de março
de 2017 na revista NatureNeuroscience. De acordo com as
teorias históricas prevalecentes sobre células granulares que
remontam aos anos 60, acreditava-se que os padrões de disparo
subjugados desses neurônios transmitem informações para outras
partes do cerebelo, que processou a informação e enviou-a para
143

outras partes do cérebro para mais processamento, ou para os


neurônios motores que disseram ao corpo o que fazer. Mas, isso
parece não ser o caso.
Os pesquisadores ficaram surpresos ao descobrir que muito mais
células de grânulos disparavam simultaneamente para codificar
informações sensoriais, e esses padrões de disparo codificavam a
informação sensorial externa e sinais de outras partes do cérebro.
Em uma declaração a Princeton, Sam Wang, professor de
biologia molecular no Princeton Neuroscience Institute, e um co-
autor sênior no estudo disse:

"As pessoas costumavam pensar que a camada de


entrada de neurônios do cerebelo era apenas
esparsamente ativa e codificava apenas informações
coletadas do mundo externo. Parece que elas se
iluminam como uma árvore de Natal, e elas transmitem
informações tanto do lado de fora do corpo quanto de
Outras áreas dentro do cérebro ... Seu cérebro está
constantemente falando consigo mesmo. Descobrimos
que as células dos grânulos não estão apenas
produzindo a predição, mas também a recebem. Eles
estão em uma conversa contínua, constantemente
processando informações para atualizar momento a
momento A situação, levando a uma conversa dinâmica,
de ida e volta dentro do cérebro ".

O estudo reafirma que o cerebelo - que já se acreditava


que apenas controlava habilidades motoras e movimentos físicos
- é cada vez mais visto pelos líderes do pensamento como
desempenhando um papel complexo em vários processos
cognitivos, tanto na idade adulta quanto ao aprender algo novo.

3. Processo cognitivo em células de grânulos


cerebelares codifica a expectativa de
recompensa “Cognitive process in cerebellar
granule cells encodes the expectation of
reward”)
144

Em uma descoberta serendipitante74, os neurocientistas da


Universidade de Stanford recentemente tropeçavam em funções
cognitivas anteriormente desconhecidas do cerebelo. Em uma
série de experiências complexas de ratos usando uma tecnologia
de imagem cerebral de última geração chamada "imagem de
cálcio de dois fótons", os pesquisadores de Stanford descobriram
que as células de grânulos específicas do cerebelo aprendem e
respondem a recompensas antecipadas ou a falta dela .
O novo estudo do Stanford Neuroscience Institute,
"Cerebellar Granule Cells Encode the Expectation of Reward", foi
publicado em 20 de março on-line antes da impressão no jornal
Nature. Quando Mark Wagner começou esse experimento com
seus colegas em Stanford, ele estava esperando apenas
descobrir que a atividade das células granulares estava
relacionada ao planejamento e execução de movimentos físicos.
Mas em um momento Eureka75!, Wagner et al. Observou que
apenas algumas células granulares dispararam quando um rato
empurrou uma alavanca para receber uma recompensa
açucarada. Surpreendentemente, outras células de grânulos
dispararam quando um rato esperava sua recompensa
açucarada. E, mais um subconjunto de células de grânulos
disparou quando Wagner retirou as recompensas antecipadas. Os
cientistas escreveram no resumo da natureza de seu estudo:

"O rastreamento das mesmas células de grânulos ao


longo de vários dias de aprendizagem revelou que as
células com recompensa - as respostas antecipadas
surgiram daqueles que responderam no início da
aprendizagem para recompensar a entrega, enquanto

74 Serendipidade. Serendiptismo ou ainda Serendipitia, é um anglicismo que se


refere às descobertas afortunadas feitas, aparentemente, por acaso. A história
da ciência está repleta de casos que podem ser classificados como
serendipismo. O conceito original de serendipismo foi muito usado em sua
origem.
75 Eureka!, Eureca!, Heureka! ou Heureca! (em grego"Encontrei!") é uma

famosa exclamação atribuída ao matemático grego Arquimedes de Siracusa


(287–212 a.C.). Eureka é uma interjeição que significa “encontrei” ou
“descobri”, exclamação que ficou famosa mundialmente por Arquimedes de
Siracusa. É normalmente pronunciada por alguém que acaba de encontrar a
solução para um problema difícil. O termo tem a sua origem etimológica na
palavra grega “heúreka”, o pretérito perfeito do indicativo do verbo “heuriskéin”
que significa “achar” ou “descobrir”.
145

que as respostas de omissão-recompensa ficaram mais


fortes à medida que avançava a aprendizagem. A
codificação do sensorimotor em células de grânulos é
uma grande saída da compreensão atual desses
neurônios e enriquece marcadamente a informação
contextual disponível para células de Purkinje pós-
sinápticas, com importantes implicações para o
processamento cognitivo no cerebelo."

Avançando, Wagner e sua equipe em Stanford estão


otimistas de que essa descoberta possa levar a algo muito maior
em termos de compreensão de como o cerebelo está envolvido
na cognição. Wagner quer unificar sua pesquisa cerebelar com
outros estudos que se concentram em regiões cerebrais como o
córtex cerebral.

4. A estimulação do cerebelo da onda Delta


influencia o funcionamento do cortex frontal.
(“Delta-Wave Cerebellum Stimulation
Influences Frontal Cortex Functioning”).
A estimulação não invasiva do cerebelo a uma freqüência
delta normaliza a atividade cerebral no córtex frontal de ratos de
laboratório com distúrbios de pensamento tipo esquizofrenia, de
acordo com um primeiro estudo novo do tipo da Universidade de
Iowa Carver College of Medicine. Essas descobertas foram
publicadas online antes da impressão em 28 de março de 2017,
na revista Molecular Psychiatry.
Nessa experiência, os pesquisadores utilizaram a
optogenética para estimular o cerebelo dos ratos com a
freqüência precisa de onda delta de 2 Hertz, que restaurou a
atividade normal da onda delta no córtex frontal dos ratos e
normalizou o desempenho dos ratos em um teste de
temporização. Essa estimulação cerebelar também melhorou a
capacidade de um animal de laboratório estimar a passagem do
tempo, que é um déficit cognitivo freqüentemente observado em
seres humanos com esquizofrenia.
Esta pesquisa de ponta foi liderada por Krystal Parker, que diz:

"Meu objetivo a longo prazo é entender a contribuição


cerebelar para a cognição".
146

Em um comunicado, Parker, que é professor assistente de


psiquiatria da Universidade de Iowa e o primeiro contratado da
faculdade para o novo Iowa Neuroscience Institute, disse:

"As interações cerebelares com o córtex frontal em


processos cognitivos nunca foram mostradas antes em
modelos animais. Além de mostrar que o sinal viaja do
cerebelo para o córtex frontal, o estudo também mostrou
que o comportamento de temporização normal foi
resgatado quando o sinal foi restaurado. Nós pensamos
que o tempo é uma janela na função cognitiva. Ele nos
permite investigar processos executivos como memória
de trabalho, atenção, planejamento - todas essas coisas
são anormais na esquizofrenia ".

Disfunções ou anormalidades dentro da estrutura do


cerebelo ou conectividade funcional cerebelar atípica com outras
regiões cerebrais - parece estar ligada a distúrbios como
esquizofrenia, distúrbios do espectro do autismo (ASD) e
síndrome de Tourette (TS).
As últimas descobertas da Parker e colegas da
Universidade de Iowa fornecem novos conhecimentos sobre como
o cerebelo influencia as redes neurais nos lobos frontais e o papel
do cerebelo no processamento cognitivo.

5. Síndrome de Tourette "Tics" revela novas


pistas sobre a conectividade do cerebelo
(“Tourette Syndrome Tics Reveal New Clues
About Cerebellum Connectivity”).
Uma equipe internacional de pesquisadores usou simulação
cerebral avançada baseada em computador para identificar que
os tiques motores da síndrome de Tourette podem surgir a partir
da interação entre várias áreas corticais e subcorticais do cérebro;
Em vez de uma única área de disfunção, como se acreditava
anteriormente. Essas descobertas foram publicadas em 30 de
março de 2017, na revista PLOS Computational Biology.
Historicamente, acreditava-se que os tiques motores
involuntários associados à síndrome de Tourette (batendo
palmas, piscar olhos, cheirar, vocalização incontrolável, etc.)
147

resultaram de anormalidades unicamente nos gânglios basais. No


entanto, vários estudos recentes sobre seres humanos, macacos
e ratos sugerem que o cerebelo, córtex cerebral e tálamo também
estão envolvidos na geração desses tiques.
Com base nessa evidência recente, Daniele Caligiore do
Conselho Nacional de Pesquisa na Itália e colegas da
Universidade do Sul da Califórnia em Los Angeles criaram uma
simulação computacional da atividade cerebral que identificou as
disfunções dos quatro gânglios basal-cerebelar-thalamo - sistema
cortical "produz tiques motores na síndrome de Tourette76.
O novo modelo sugere que a atividade anormal da
dopamina nos gânglios basais pode funcionar em conjunto com a
atividade do sistema tálamo-cortical para desencadear um tic
inicial. Além disso, parece que a interação bidirecional entre os
gânglios basais e o cerebelo permite que o cerebelo também
influencie a produção de tic. Em um comunicado, Caligiore disse:

"Este modelo representa a primeira tentativa


computacional de estudar o papel dos links anatômicos
dos cerejantes-gânglios basais descobertos
recentemente".

Os pesquisadores também descobriram que seu novo


modelo computacional pode ser usado para prever o número de
tiques gerados quando existem disfunções nos circuitos neurais
conectando os gânglios basais, tálamo, córtex e cerebelo.

Conforme Bergland (2017), o cerebelo foi ofuscado pelo


tamanho de golias77 do cérebro por muito tempo. Após décadas
de progresso lento, os avanços do século 21 na tecnologia de
computação e neuroimagem estão permitindo que os cientistas

76 A síndrome de Tourette é um transtorno neuropsiquiátrico hereditário que se


manifesta durante a infância, caracterizado por diversos tiques físicos e pelo
menos um tique vocal. Estes tiques têm remissões e recidivas características,
podem ser suprimidos temporariamente e são precedidos por impulsos
premonitórios. A síndrome é definida enquanto parte do espectro dos
transtornos devido a tiques, no qual se incluem tiques transitórios e crónicos.

77 Golias foi um guerreiro de Gate (1 Samuel 17:4), descrito como um homem


medindo 2,90 m (6 covados e 1 palmo). Participou do episódio da batalha entre
os Filisteus e o povo de Israel, que foi defrontado e morto por Davi, segundo
relatos da Bíblia.[
148

compreendam melhor nosso "cérebro pequeno" misterioso e


poderoso. A crescente evidência empírica sobre a dinâmica da
interação "cerebelo-cerebro" está avançando rapidamente e
ganhando ímpeto. Estes são momentos emocionantes para
pesquisas cerebelares pioneiras!
Localizado logo abaixo do cérebro, o cerebelo concentra
mais da metade dos neurônios do encéfalo. Apesar disso, por
muito tempo foi visto com menos atenção pelos cientistas,
concentrados principalmente no estudo de estuturas do cérebro.
Um estudo publicado na revista científica Nature Neuroscience,
em 2107, mostrou que o cerebelo pode ter um papel muito mais
importante para a aprendizagem do que até então se acreditava.
Usando a técnica de microscopia de dois fotóns, que permite
observar o cérebro de animais vivos, os pesquisadores
analisaram a atividade de neurônios muito pequenos, conhecidos
como céluas granulosa, em ratos a estímulos que estavam
aprendendo uma nova tarefa. Acredita-se que essa camada
profunda de neurônios era disparada esporadicamente, em
resposta a estímulos sensoriais que chegavam do mundo exterior,
diz o professor de biologia molecular Samuel Wang78 do Instituto
de Neurociência Princeton, um dos líderes do estudo. Segundo o
mesmo, esses neurônios possivelmente repondem não só a
informações externas, mas também internas, de outras áreas do
encéfalo.
O trabalho do Dr. Wang concluiu que as células dos
grânulos cerebelares, que constituem a metade dos neurônios do
cérebro, fornecem células de Purkinje com informações
contextuais necessárias para o aprendizado motor, mas como
elas codificam essa informação são desconhecidas.

78Samuel "Sam" Sheng-Hung Wang (nascido em 1967) é um professor norte-


americano, neurocientista, psicólogo e autor de livros como Welcome to Your
Brain and Welcome to Your Child's Brain.
149

Dr. Samuel Wang e seu trabalho


revista científica Nature Neuroscience.

As três unidades do cérebro humano


Segundo Amaral e Oliveira (2017), ao longo de sua
evolução, o cérebro humano adquiriu três componentes que foram
surgindo e se superpondo, tal qual em um sítio arqueológico: o
mais antigo, situando-se embaixo, na parte infero-posterior; o
seguinte, em uma posição intermediária e o mais recente,
localizando-se anteriormente e por cima dos outros. São eles,
respectivamente:
1 - O arquipálio ou cérebro primitivo, constituido pelas estruturas
do tronco cerebral - bulbo, cerebelo, ponte e mesencéfalo, pelo
mais antigo núcleo da base - o globo pálido e pelos bulbos
olfatórios. Corresponde ao cérebro dos répteis, também chamado
complexo-R, pelo neurocientista Paul MacLean79.
2 - O paleopálio ou cérebro intermediário (dos velhos mamíferos),
formado pelas estruturas do sistema límbico. Corresponde ao
cérebro dos mamíferos inferiores.
3 - O neopálio, também chamado cérebro superior ou racional
(dos novos mamíferos), compreendendo a maior parte dos
hemisférios cerebrais (formado por um tipo de córtex mais
recente, denominado neocórtex) e alguns grupos neuronais
subcorticais.
79 Paul MacLean (1 m1913 – 26 dezembro 2007) foi um médico e
neurocientista norte-americano que se tornou notório por sua teoria do cérebro
trino. A teoria de MacLean parte do pressuposto que o cérebro humano resulta
da existência de três cérebros em um: o complexo réptil, o sistema límbico e o
neocortex.
150

C
Conforme os mesmos autores, é o cérebro dos mamíferos
superiores, aí incluídos os primatas e, consequentemente, o
homem. Essas três camadas cerebrais foram aparecendo, uma
após a outra, durante o desenvolvimento do embrião e do feto
(ontogenia), recapitulando, cronologicamente, a evolução
(filogenia) das espécies, do lagarto até o homo sapiens. No dizer
de MacLean, elas são três computadores biológicos que, embora
interconectados, conservam, cada um, nas palavras do cientista,
"suas próprias formas peculiares de inteligência, subjetividade,
sentido de tempo e espaço, memória, motricidade e outras
funções menos específicas". Na verdade, são três unidades
cerebrais constituindo um único cérebro. A unidade primitiva é
responsável pela autopreservação. É aí que nascem os
mecanismos de agressão e de comportamento repetitivo. É aí que
acontecem as reações instintivas dos chamados arcos reflexos e
os comandos que possibilitam algumas ações involuntárias e o
controle de certas funções viscerais (cardíaca, pulmonar,
intestinal, etc), indispensáveis à preservação da vida. No curso da
evolução, parte dessas funções reptilianas foram sendo perdidas
ou minimizadas (em humanos, a amígdala e o córtex entorrinal
são as únicas estruturas límbicas que mantêm projeções para o
sistema olfatório). É também aí, no complexo-R, que se esboçam
as primeiras manifestações do fenômeno de ritualismo, através do
qual o animal visa marcar posições hierárquicas no grupo e
estabelecer o próprio espaço em seu nicho ecológico (delimitação
de território).
151

A Teoria do cérebro trino


A Teoria do cérebro trino foi elaborada em 1970 pelo
neurocientista Paul MacLean, apresentada em 1990 no
seu livro “The Triune Brain in evolution: Role in
paleocerebral functions”, discute o fato de que nós,
humanos/primatas, temos o cérebro dividido em três
unidades funcionais diferentes. Cada uma dessas
unidades representa um extrato evolutivo do sistema
nervoso dos vertebrados.
Três divisões
Segundo a teoria de MacLean, o cérebro
humano/primata seria composto pelo:
Cérebro Reptiliano
O Cérebro Reptiliano ou cérebro basal, ou ainda, como o
chamou MacLean, “R-complex”, é formado apenas pela
medula espinhal e pelas porções basais do prosencéfalo.
Esse primeiro nível de organização cerebral é capaz
apenas de promover reflexos simples, o que ocorre em
répteis, por isso o nome; Conhecido como "cérebro
instintivo", tem como característica a sobrevivência,
responsável pelas emoções primárias como, fome, sede
entre outras.
Cérebro dos Mamíferos Inferiores
O Cérebro dos Mamíferos Inferiores: ou cérebro
emocional, ou “Paleommamalian Brain”, é o segundo
nível funcional do sistema nervoso e, além dos
componentes do cérebro reptiliano, conta com os
núcleos da base do telencéfalo, responsáveis pela
motricidade grosseira; pelo Diencéfalo, constituído por
Tálamo, Hipotálamo e Epitálamo; pelo Giro do Cíngulo; e
pelo hipocampo e parahipocampo. Esses últimos
componentes são integrantes do Sistema Límbico, que é
responsável por controlar o comportamento emocional
dos indivíduos, daí o nome de Cérebro Emocional. Esse
nível de organização corresponde ao cérebro da maioria
dos mamíferos;
Cérebro Racional
Conhecido também como neocórtex, é compostos pelo
córtex telencefálico. Esse por sua vez é dividido em
lobos, sendo esses: Frontal: o mais derivado dos lobos
cerebrais, responsável pelas funções executivas;
Parietal: responsável pelas sensações gerais; Temporal:
responsável pela audição e pelo olfato; Occipital:
responsável pela visão;
Insular: responsável pelo paladar e gustação.
152

As hierarquias
neurais e mentais
Gerald Wiest (2012) do Departamento de Neurologia,
Medica Universidade Médica de Viena, Austria (Department of
Neurology, Medical University Vienna), publicou o artigo intitulado
“Neural and mental hierarchies” (“Hierarquias neurais e mentais”),
onde afirmou que a história das ciências do cérebro e da mente
humana tem sido caracterizada desde o início por duas tradições
paralelas. A teoria predominante que ainda influencia a forma
como as técnicas atuais de neuroimagem interpretam a função
cerebral, pode ser rastreada até as teorias clássicas de
localização, que por sua vez retornam às primeiras teorias
frenológicas.

Frenologia
Frenologia (do Grego: phren, "mente"; e logos, "lógica ou
estudo") é uma teoria que reivindica ser capaz de
determinar o caráter, características da personalidade, e
grau de criminalidade pela forma da cabeça (lendo
"caroços ou protuberâncias"). Desenvolvido por médico
alemão Franz Joseph Gall por volta de 1800, e muito
popular no século XIX, está agora desacreditada e
classificada como uma pseudociência. A Frenologia,
contudo, recebeu crédito como uma protociência por
contribuir com a ciência médica com as ideias de que o
cérebro é o órgão da mente e áreas específicas do
cérebro estão relacionadas com determinadas funções
do cérebro humano. Seus princípios eram que o cérebro
é o órgão da mente, e essa mente tem um jogo de
diferentes faculdades mentais e comportamento, cada
sentido em particular tem sua representação em uma
parte diferente do órgão ou cérebro. Estas áreas seriam
proporcionais a cada indivíduo, dadas as propensões e
importância da faculdade mental e personalidade, e o
osso sobrejacente do crânio refletiria estas diferenças. A
Frenologia, que foca a personalidade e o caráter, é
diferente da craniometria, que é o estudo do tamanho do
crânio, peso e forma, e Fisionomia, é o estudo das
características faciais. No entanto, estes campos de
estudo têm tentado reivindicar a suposta capacidade de
predizer características ou inteligência. Este assunto
também é razão de estudo e controvérsias na
antropologia/etnologia e às vezes utilizado
153

"cientificamente" para justificar o racismo. Enquanto no


passado alguns princípios da Frenologia foram
estabelecidos, atualmente a premissa básica de uma
personalidade poder ser determinada em grande parte
pelo formato do crânio é considerada como falsa.

O mapa da Frenologia no século XIX


Fonte: Wikipédia (2017).

Uma definição da Frenologia com mapa da


Webster's Academic Dictionary, por volta de 1895.

A outra abordagem tem suas origens nas teorias


neurológicas hierárquicas de Hughlings-Jackson, que foram
influenciadas pelas concepções filosóficas de Herbert Spencer.
Outra característica da tradição hierárquica, que também é
inerente à metapsicologia psicanalítica, é sua perspectiva
154

profundamente evolutiva, levando em consideração as trajetórias


ontogênicas e filogenéticas.

Teorias neurológicas de
Hughlings-Jackson
O darwinismo e os conceitos de evolução desenvolvidos
no final do século XIX influenciaram muitos
neurologistas. O de maior destaque na Inglaterra foi
John Hughlings Jackson (1835-1911). O
desenvolvimento de uma teoria para as doenças
neurológicas e mentais, baseada em especulações
sobre a observação de casos de epilepsia, alterações de
linguagem e de acidentes vasculares cerebrais, exerceu
grande influência sobre a psiquiatria e a psicologia
continental do século XIX; entretanto, por motivos ainda
obscuros, houve relativamente pouca influência dessas
idéias sobre a própria psiquiatria britânica. Por outro
lado, os historiadores da medicina, da primeira metade
do século XX, consideram determinante a contribuição
de H. Jackson na concepção da denominada neurologia
moderna. Hughlings Jackson publicou cerca de 320
artigos médicos entre 1861 e 1909, nas mais importantes
revistas de medicina em circulação da época, além de
proferir inúmeras palestras e aulas significativas no
desenvolvimento de suas teorias. Seus artigos foram
reunidos e organizados posteriormente. Duas coleções
de seus trabalhos foram editadas por J. Taylor. Tratam-
se do Neurological Fragments of J. Hughlings Jackson
(Londres, 1925) e dos Selected Writings of John
Hughlings Jackson (Londres, 1931, 2 vols.). Em 1878, H.
Jackson foi um dos co-fundadores da revista Brain, a
prestigiosa publicação oficial da Sociedade de
Neurologia de Londres, da qual foi editor por vários anos
(Kurcgant e Pereira, 2003). John Hughlings Jackson
(1835-1911) elaborou as idéias neurológicas que se
tornaram bases da neurologia moderna. Os detalhes
biográficos para ele podem ser encontrados em seus
obituários (John Hughlings Jackson, BMJ 1911, John
Hughlings Jackson, Lancet, 1911), nos esboços
biográficos de seu amigo ao longo da vida Jonathan
Hutchinson (Hutchinson, 1911), seu colega e amanuense
James Taylor (Taylor , 1925) e em uma biografia
moderna (Critchley e Critchley, 1998). Greenblatt
estudou suas influências iniciais (Greenblatt, 1965) e
York e Steinberg fornecem um catálogo razoável de seus
155

escritos publicados (York e Steinberg, 2006). Como um


neurologista praticante, Hughlings Jackson pretendia que
suas idéias fossem tão úteis na cabeceira como no
laboratório. A cultura popular vitoriana em que vivia
considerava a ciência como a sociedade progredia de
maneira material e social, mas a medicina hospitalar em
Londres não era especialmente científica em 1860.
Hughlings Jackson teve um impacto seminal na
neurologia clínica. Parte disso é o resultado de sua
personalidade excepcionalmente atraente, que suscitou
comentários de muitos de seus contemporâneos e
estudantes. Para usar um único exemplo, quando o
espinhoso William Gowers revelou um busto de
Hughlings Jackson no Hospital Nacional, Queen Square,
ele exclamou: "Eis o Mestre!" Hughlings Jackson foi
eleito um Fellow da Royal Society, mas de outra forma
era invisível para o Mundo fora da neurologia. Ele nunca
recebeu o título de cavaleiro da rainha, concedido à
Jonathan Hutchinson, William Gowers, David Ferrier,
Henry Head (1861-1940), Gordon Morgan Holmes (1876-
1965) e Charles Sherrington (1857-1952). Ele recebeu
um diploma honorário da Universidade de Leeds.
Hughlings Jackson não estava envolvido nos confrontos
pessoais e profissionais que caracterizavam a ciência e
a medicina vitoriana. Ele era um agnóstico convencido.
Embora tenha sido batizado e casado na igreja, ele não
acreditava em um Deus pessoal ou em uma vida após a
morte. Seu amigo mais próximo, Jonathan Hutchinson
(1828-1913) escreveu: "Eu não acredito que Jackson
tenha feito alguma mudança em sua fé religiosa. Era
uma das formas mais simples de agnosticismo ... ele era
um absoluto descrente na imortalidade pessoal após a
morte "(Hutchinson, 1911). Sua ciência refletiu essa
crença. No entanto, ele teve o cuidado de renunciar a
qualquer intenção irreligiosa em suas idéias
neurológicas, e foi pessoalmente falso, socialmente
retirado e exteriormente modesto. Ele era, portanto, um
alvo pobre para vitriol, e não há registro de sua crítica
pessoal recebendo por causa de suas idéias. Os escritos
de Hughlings Jackson eram e são famosos e difíceis de
compreender. No entanto, suas idéias permanecem
vivas por sua profundidade e utilidade para o
neurologista praticante. Lendo seus artigos, que datam
do início da neurologia moderna, recompensam o aluno
com novas idéias em pacientes com doença neurológica.
156

Ele pensou cientificamente, e aqueles que agora pensam


da mesma maneira usam idéias jacksonianas. É um
legado útil (York III e Steinberg, 2011).

John Hughlings Jackson

O artigo de Wiest (2012) fornece um esboço sobre os


conceitos hierárquicos nas ciências do cérebro e da mente, que
contrastam com as teorias cognitivistas e não hierárquicas atuais
nas neurociências.

Fundamentos filosófico
e Biologicos
Segundo escreveu Wiest (2012), de acordo com a biologia
moderna, o desenvolvimento das hierarquias distingue o mundo
orgânico do anorganico80 (o autor citando Mayr81, 1997). Herbert
Spencer82 (1820-1903) foi o primeiro que - influenciado pelo

80 Anorgânico: desprovido dos órgãos necessários à vida.


81 MAYR, E. This is Biology. Cambridge: Harvard University Press, 1997.
82 Herbert Spencer (Derby, 27 de abril de 1820 — Brighton, 8 de dezembro de

1903) foi um filósofo inglês e um dos representantes do liberalismo clássico.


Spencer foi um profundo admirador da obra de Charles Darwin. É dele a
expressão "sobrevivência do mais apto", e em sua obra procurou aplicar as leis
157

Lamarckismo83 - forneceu uma teoria coerente sobre a evolução,


estrutura e função do sistema nervoso.
Em seus "Princípios da Psicologia" (“Principles of
Psychology”) (Spencer, 1855), ele postulou que a mente humana
só pode ser plenamente compreendida considerando seu
desenvolvimento filogenético. Na sua opinião, a filogenia da
consciência ilustra um princípio geral da evolução, a saber, o
desenvolvimento de uma homogeneidade simples e
indiferenciada a uma heterogeneidade complexa e diferenciada.
Esta concepção implica que a mente humana evoluiu do mesmo
modo, de uma simples resposta automática em animais inferiores
para processos cognitivos superiores no homem.

As primeiras descrições de redes neurais podem ser


encontradas em Herbert Spencer'sPrinciples of
Psychology, 3rd edition (1872), Theodor Meynert's
Psychiatry (1884), William James' Principles of
Psychology (1890), e o projeto de Sigmund Freud para a
psicologia científica (1895).

Spencer contemplou a mudança evolutiva das estruturas


neurais para uma maior complexidade como um processo de
estratificação ou camadas de formações neurais (figura a seguir).

da evolução a todos os níveis da atividade humana. Spencer teve suas ideias


enormemente distorcidas. Essas distorções lhe renderam a alcunha de "Pai do
Darwinismo Social". Todavia, Spencer jamais utilizou este termo ou defendeu a
morte de indivíduos "mais fracos" assim como foi um notável opositor de
governos militares e autoritários, de qualquer forma de coletivismo, do
colonialismo, do imperialismo e das guerras. Ele estudou o comportamento
humano como um órgão biológico.
83 O lamarquismo ou lamarckismo foi uma teoria proposta no século XIX criada

pelo biólogo francês Jean-Baptiste Lamarck para explicar a evolução das


espécies. Lamarck acreditava que mudanças no ambiente causavam
mudanças nas necessidades dos organismos que ali viviam, causando
mudanças no seu comportamento. O lamarquismo baseia-se em duas leis,
descritas por Lamarck no livro Philosophie zoologique:
"Primeira Lei": Uso e Desuso – órgãos utilizados constantemente tendem a se
desenvolver, enquanto órgãos inutilizados podem sofrer atrofia;
"Segunda Lei": Transmissão dos caracteres adquiridos – as características do
uso e desuso seriam herdadas por gerações seguintes, por exemplo: uma
girafa precisa esticar o pescoço para alcançar as folhas das árvores, o seu
pescoço cresce e os seus
158

O conceito de Herbert Spencer sobre a mudança


evolutiva no sistema nervoso por meio de
superposições (A ') de camadas neurais
exemplificadas em um ganglio neural (A).
Conseqüentemente, a excitação neural não procede
mais de a para b, mas sim segue novas formações
neurais (d, e, f, g). Imagem de Spencer H (The
Principles of Psychology, 1896, Appleton Press).

Assim, cada formação neural do sistema nervoso não


apenas representa impressões e experiências do passado do
indivíduo, mas também as de seus ancestrais. Do ponto de vista
neurológico, isso significaria que uma lesão em um nível cerebral
superior revela funções neurais e mentais a partir de um estágio
evolutivo anterior.

O neurologista britânico John Hughlings Jackson (1834-1911), um dos pais


fundadores da neurologia clínica, ficou intrigado com as correlações entre os
princípios evolutivos propostos do funcionamento neuronal de Spencer e suas
observações clínicas em pacientes com lesões cerebrais focais. Em contraste
com o interesse de Spencer nos aspectos evolutivos da função cerebral,
Jackson estava mais ocupado com o efeito inverso da evolução, que ele
inventou a "dissolução".
159

Na opinião de Jackson, os sintomas neurológicos, como


afasia, hemiparesia ou convulsões epilépticas, representam uma
dissolução, isto é, uma reversão da evolução do sistema nervoso,
causada por uma lesão cerebral. Jackson descobriu que os
centros cerebrais superiores evolutivos inibem os mais baixos e
as lesões desses centros superiores são acompanhados pela
produção de sintomas "negativos" (por exemplo, uma paralisia por
ausência de função) e sintomas "positivos" (p. Ex., Sinais
piramidais), causada por uma liberação funcional dos centros
inferiores.
Para Wiest (2012), os sintomas neurológicos ou
psiquiátricos podem, nesse sentido, dar uma olhada na filogenia
da função neural. Em seu trabalho principal intitulado "Evolução e
dissolução do sistema nervoso" (Taylor, 1931/1932), Jackson
delineou sua teoria da função cerebral, que ainda pertence aos
fundamentos da neurologia. A validade de uma organização
hierárquica do sistema nervoso foi posteriormente confirmada
pela neurologia moderna e neurociência para uma variedade de
sistemas neurais (Kennard, 1989; Swash, 1989; Vallbo, 1989;
Miller e Cohen, 2001; Greene et al., 2004). O conceito
jacksoniano contrasta com os modelos não hierárquicos da
função cerebral, como as teorias de Hebb (Brown e Milner, 2003)
ou Lashley (1958). Estes modelos propõem que a função
cerebral, em particular o processamento cortical, é baseada no
processamento distribuído de conjuntos de células, isto é, de
redes neurais. De acordo com estudos de lesões, Lashley propôs,
por exemplo, que as memórias não estão localizadas, mas
amplamente distribuídas pelo córtex, o que não foi confirmado em
estudos subseqüentes.
Estudos empíricos clássicos e estudos de imagem recentes
- por outro lado - fornecem evidências convincentes de que o eixo
rostro-caudal do lobo frontal pode de fato ser organizado
hierarquicamente

Embora esta designação é considerada obsoleta, às vezes


encontrada a frase "cérebro reptiliano" inspirado pela teoria
do cérebro triuno desenvolvido por Paul MacLean, em 1970,
mas abandonou desde então.
160

Neuroanatomia e função da
medula espinhal

A medula espinhal atende a três funções principais:


1. Condução. A medula espinhal contém feixes de fibras nervosas
que conduzem informações para cima e para baixo, conectando
diferentes níveis do tronco, um com o outro e com o cérebro. Isso
permite informação sensorial para chegar ao cérebro e comandos
motores para alcançar os efetores.

2. Locomoção. Andar envolve repetitivo e contrações


coordenadas de vários grupos musculares nos membros. Os
neurônios motores no cérebro iniciam o andameto e determinam a
sua velocidade, distância e direção. Determinam no músculo
movimentos repetitivos simples que colocam um pé na frente de
outras repetidas vezes, e são coordenadas por grupos de
neurônios chamaram de geradores de padrão central. Esses
circuitos neuronais produzem sequências de saídas para os
músculos extensores e flexores que causam movimentos
alternados das pernas.

3. Reflexos. Reflexos são respostas estereotipadas involuntárias


aos estímulos. Eles envolvem o cérebro, a coluna espinhal e
nervos periféricos.
161

A medula espinhal é dividida em regiões cervical, torácica,


lombares e sacrais. Como pode ser visto na figura a seguir:

Nervos espinhais
São nervos que se originam da medula espinhal,
responsáveis pela inervação do tronco, dos membros superiores e
partes da cabeça. Ao todo, compreendem 31 pares (Portal
Educacao, 2017):
• Oito pares de nervos cervicais, que deixam a coluna na região
cervical.
• Doze pares de nervos torácicos, que deixam a coluna na região
torácica.
• Cinco pares de nervos lombares, que deixam a coluna na região
lombar.
• Cinco pares de nervos sacrais, que deixam a coluna na região
sacral.
•. Um par de nervos coccígeo, que deixa a coluna na região
cocciana
162

Cada nervo espinhal é formado pela união das raízes


dorsal (sensitiva) e ventral (motora), as quais se ligam,
respectivamente, aos sulcos lateral posterior e lateral anterior da
medula através de filamentos radiculares. A raiz ventral emerge
da superfície ventral da medula espinhal como diversas radículas
ou filamentos que em geral se combinam para formar dois feixes
próximo ao forame intervertebral. A raiz dorsal é maior que a raiz
ventral em tamanho e número de radículas; estas prendem-se ao
longo do sulco lateral posterior da medula espinhal e unem-se
para formar dois feixes que penetram no gânglio espinhal. As
raízes ventral e dorsal unem-se imediatamente além do gânglio
espinhal para formar o nervo espinhal, que então emerge através
do forame interespinhal. O gânglio espinhal é um conjunto de
células nervosas na raiz dorsal do nervo espinhal. Tem forma oval
e tamanho proporcional à raiz dorsal na qual se situa. Está
próximo ao forame intervertebral (Nucleovet, 2017).
Na figura abaixo a medula espinhal e nervos.

Desenvolvimento cerebral
163

O cérebro cresce a uma taxa incrível durante o


desenvolvimento. Às vezes, durante o desenvolvimento do
cérebro, 250 mil neurônios são adicionados a cada minuto! No
nascimento, o cérebro de uma pessoa terá quase todos os
neurônios que jamais terá. O cérebro continua a crescer por
alguns anos depois de uma pessoa nascer e, com a idade de 2
anos de idade, o cérebro é de cerca de 80% do tamanho do
adulto. Você pode se perguntar: "Como o cérebro continua a
crescer, se o cérebro tiver a maior parte dos neurônios que
receberá quando você nascer?". A resposta está em células
gliais. A glia continua a dividir e se multiplicar. A glia realiza
muitas funções importantes para a função cerebral normal,
incluindo como isolantes de células nervosas com mielina. Os
neurônios no cérebro também fazem muitas conexões novas após
o nascimento.
164

Capítulo 9
A Neurobiologia
da memória e
esquecimento
Esquecer é uma necessidade.
A vida é uma lousa, em que o destino,
para escrever um novo caso, precisa de
apagar o caso escrito.
Machado de Assis

Conforme Iván Izquierdo (2002), memória é a aquisição, a


formação, a conservação e a evocação de informações. A
aquisição é também chamada de aprendizagem: só se “grava”
aquilo que foi aprendido. A evocação é também chamada de
recordação, lembrança, recuperação. Só lembramos aquilo que
gravamos, aquilo que foi aprendido.
Segundo o mesmo autor:

Podemos afirmar que somos aquilo que recordamos,


literalmente.

Pavão (2017), define a memória pode ser definida como a


capacidade de um organismo alterar seu comportamento em
decorrência de experiências prévias. Do ponto de vista fisiológico,
essa capacidade é resultado de modificações na circuitaria neural
em função da interação do indivíduo com o ambiente.
A aprendizagem e a memória são dois conceitos que estão
fortemente vinculados. Para que ocurra um proceso de
aprendizagem se requer o funcionamento de um sistema de
memória que permita almazenar a informação que será evocada
em situações futuras. Por este motivo, quando falamos das bases
neuroanatômicas ou neurofisiológicas da aprendizagem temos
que falar necessáriamente das bases neuroanatômicas e
neurofisiológicas da memória (Vivas, 2017).
165

Bases neuroanatômicas e
neurofisiológicas da memória
Segundo Vivas (2017), geralmente se reconhecem as
seguintes etapas na formação de uma memória: aquisição,
consolidação e armazenamento. O proceso de aquisição implica
no ingresso da informação ao cérebro através dos órgãos
sensoriais e os cortéx sensoriais primários (visual, auditivo,
somatosensorial) chegando a um primeiro espaço da memória: a
memória de trabalho. A consolidação implica na repetição da
informação e a elaboração de representações robustas no
cérebro. O armazenamento, por sua parte, implica na geração de
traços relativamente estáveis de conhecimento. Estas etapas
ocorrem para a aquisição de diversos tipos de conhecimento (de
episódios, de conceitos, de procedimentos, etc.).
Conforme a mesma autora, cabe ressaltar que estes
processos são dinâmicos e que os traços de memória se podem
reativar e modificar. Cada vez que recordamos um acontecimento
passado la recuperación da informação pode sofrer leves
modificações produto da reinterpretação que fazemos do evento.
Assim mesmo a informação que temos sobre os conceitos se
pode ir completando e modificando apartir da experiência. A
informação sempre ingressa no cérebro desde o meio externo
através das áreas sensoriais primárias, porém o processamento
posterior varia de acordo al tipo de contenido.
166

Classificações dos distintos


tipos de memória
São numerosas as classificações dos distintos tipos de
memória que desenvolvido ao longo dos anos. Entre as mais
destacadas cabe mencionar as propostas de James84 (1890),
quem distinguiu entre uma memória primária (transitória) e uma
secundária (permanente), o modelo de Atkinson e Shiffrin85
(1968), quem propuseram uma multi-estrutura que continha três
instancias (registro sensorial, memória a curto e a longo prazo),
passando pela proposta de Tulving86 (1972) que permitiu
diferenciar dentro da memória a longo prazo entre memória
episódica e semântica, continuando com Baddeley e Hitch 87
(1974), quem elaboraram uma proposta acerca do funcionamento
da memória de trabalho, e, chegando aos modelos mais recentes,
o de Tulving88 (1995) quem propôs a existência de cinco sistemas
de memoria (representación perceptual, memoria procedural,
memoria semântica, memoria episódica, memoria de trabalho).
Os modelos mais reconhecidos sobre os sistemas de memória
são aqueles propostos por Squire (199289, 200490). O motivo é
que estes modelos permitem estabelecer uma correspondência
entre os sistemas de memória que propõe e as estruturas neuro-

84 JAMES, W. Principles of Psychology. New York: Holt, 1890.


85 ATKINSON, R.C.; SHIFFRIN, R.M. Human memory: A proposed system and
its
control processes. Em SPENCE, K.W.; SPENCE, J.T. (Eds.), The psychology
of
learning and motivation: Advances in research and theory. (Vol. 2). (pp. 742-
775).
New York: Academic Press,1968.
86 TULVING, E. Episodic and semantic memory. En E. Tulving & W. Donaldson

(Eds.), Organization of memory, (pp. 381-403). New York: Academic Press, 1972.
87 BADDELEY, A.D.; HITCH, G. Working memory. En G.H. Bower (Ed.), The

psychology of learning and motivation: Advances in research and theory (Vol.


8),
pp. 47-89). New York: Academic Press, 1974.
88 TULVING, E. Organization of memory: Quo vadis? En GAZZANIGA, M. (Ed.).

The Cognitive Neurosciences. Cambridge M.A.: MIT Press, 1995.


89 SQUIRE, L.R. Memory and the hippocampus: a synthesis from findings with

rats, monkeys, and humans. Psychological Review, 99(2), 195-231, 1992.


90 SQUIRE, L.R. Memory systems of the brain: A brief history and current

perspective. Neurobiology of Learning and Memory, 82, 171-177, 2004.


167

anatómicas que servem de base para seu funcionamento. Na


figura a seguir se pode observar o esquema deste modelo.

De acordo com a autora, este modelo propõe una primera


diferenciação entre memória declarativa ou explícita e não
declarativa ou implícita. Na primeira se localizam aqueles tipos de
memórias que podem ser expressadas verbalmente e na segunda
aquelas que não podem expressar-se verbalmente, mas podemos
explicar a sua existência a partir da observação do
comportamento.

Memória declarativa
A memoria declarativa se refere a capacidade consciente
de recuperar a información sobre os fatos e eventos e é o tipo de
memória geralmente afetada na amnésia (Vivas, 2017). A
memoria declarativa permite que o material recuperado seja
comparado e contrastado. Por exemplo, é possível demonstrar
que uma pessoa esteve a semana passada no médico (memoria
episódica) ou que um cão é um animal (memoria semântica). O
formato de armazenamento é representacional (Vivas, 2017).
168

Memória não declarativa


Ao contrário, a memoria não declarativa é disposicional e é
expressada mediante o desempeño mais que mediante a
recuperação da informação. O fato é de se que adquiriu uma
habilidade (memória processual) ou estabeleceu um
condicionamento pode ser encontrando a partir da observação do
comportamento (Vivas, 2017).
De acordo com Vivas (2017), as formas de memoria não
declarativas se manifestam através de modificaciones em nos
sistemas de desempenho especializados.
Na memoria declarativa se encontram a memoria para
fatos, que seriam a memória semántica do modelo de Tulving e a
memória para eventos, que seria a episódica.
O substrato neuroanatomico que permite a adquisição de
ambos tipos de memoria se localiza no lobo temporal medial. A
codificação e recuperação da memória declarativa ocorre através
do hipocampo e as estruturas adjacentes, como o cortex
parahipocampal, a entorrinal e a peririnal. Todos se localizam na
face medial do lobo temporal (como pode ser observado na figura
seguinte).

Mais recentemente, Iván Izquierdo e cols (2013)


examinaram as definições e características gerais dos principais
tipos de memórias de acordo com sua função, conteúdo e
duração, as áreas cerebrais responsáveis por elas e os
mecanismos moleculares sinápticos envolvidos na formação e
extinção dos diversos tipos de memórias nessas áreas. Dando
particular destaque a alguns aspectos de sua biologia, com
alguma ênfase na memória de trabalho, na memória de curta
duração e na memória de extinção, comentando os principais
169

processos fisiológicos responsáveis por sua formação, evocação


e extinção, assim como sobre sua modulação por sistemas
cerebrais e periféricos. Encerrando o artigo com algumas
recomendações para a manutenção das principais formas de
memória.
Iván Izquierdo e cols (2013), classificam as memórias com
relação ao conteúdo, em memórias que podem ser divididas em
dois grandes grupos: as declarativas (eventos, fatos,
conhecimentos) e as de procedimentos ou hábitos, que
adquirimos e evocamos de maneira mais ou menos automática
(andar de bicicleta, usar um teclado).

Memória declarativa
Segundo os mesmos autores, na memória declarativa
participam o hipocampo (uma região cortical filogeneticamente
antiga, como demonstrado na figura a seguir), a amígdala, ambos
localizados no lobo temporal, e várias regiões corticais (pré-
frontal, entorrinal, parietal, etc.), enquanto, nas memórias de
procedimentos ou hábitos, o hipocampo parece estar envolvido
apenas nos primeiros momentos após o aprendizado, sendo elas
dependentes basicamente de circuitos subcorticais que incluem o
núcleo caudato e circuitos cerebelares.
170

Amnésia
Conforme Izquierdo e cols (2013), eenomina-se amnésia, a
perda de memória declarativa, pois as doenças que a provocam
afetam em maior proporção as áreas vinculadas com esse tipo de
memória. A depressão é a causa mais frequente, mas a menos
grave. Em geral não se acompanha de dano neuronal irreversível
e, ao tratá-la, a amnésia desaparece. As demências (de: partícula
privativa; mens: mente) são progressivas e mais graves;
envolvem perda definitiva de neurônios e de funções cerebrais.
De acordo com os mesmoa autores, a demência mais
comum é a doença de Alzheimer, na qual predomina o déficit de
memória. Nela ocorrem lesões nas áreas cerebrais responsáveis
pela memória declarativa (córtex entorrinal, hipocampo), e mais
tarde em outras partes do cérebro. A doença de Parkinson, nos
seus estágios avançados (em que ficam comprometidos circuitos
que ligam o núcleo caudato ao córtex), a dependência crônica do
álcool, da cocaína e outras drogas, as lesões vasculares do
cérebro, o traumatismo craniano repetido (no boxe, por exemplo)
e algumas doenças metabólicas (Síndrome de Creutzfeld-Jacob,
doença de Pick), também causam quadros demenciais.

Duração e função das memórias


De acordo com Izquierdo e cols (2013), todas as memórias
são associativas: se adquirem através da ligação entre um grupo
de estímulos (um livro, uma sala de aula) e outro grupo de
estímulos (o material lido, aquilo que se aprende; algo que causa
prazer ou penúria). O do segundo grupo, que é de maiores
consequências biológicas, chama-se estímulo condicionado ou
reforço.
Para os mesmos autores, em algumas formas de
aprendizado, associa-se um grupo de estímulos com a ausência
do outro ou de qualquer outro. A forma mais simples dessas
formas de “aprendizado negativo” associa um estímulo repetido
(um som, uma cena) com a falta de qualquer consequência; esse
tipo de aprendizado se chama habituação. Permite que seja
possível trabalhar em ambientes cheios de ruídos, ou dormir em
ambientes iluminados, por exemplo. Segundo eles, alguns autores
consideram a habituação uma memória não associativa. Do ponto
171

de vista da função, há um tipo de memória que é crucial tanto no


momento da aquisição como no momento da evocação de toda e
qualquer outra memória, declarativa ou não: a memória de
trabalho. Operacionalmente, representa aquilo que a memória
RAM representa nos computadores: mantém a informação “viva”
durante segundos ou poucos minutos, enquanto ela está sendo
percebida ou processada.

Memória RAM
Segundo Cowan (2017), a capacidade de armazenar
recordações e “filtrá-las” é uma característica específica
de cada indivíduo – uma espécie de “impressão digital”.
Não por acaso, a memória de trabalho (ou de curto
prazo, que nos permite guardar temporariamente um
número limitado de informações, como números de
telefones que usamos com certa freqüência, por
exemplo) varia consideravelmente de uma pessoa para
outra. De acordo com o estudo sobre esse tipo de
memória desenvolvido pelos pesquisadores americanos
Fiona McNab e Torkel Klingberg, o processo de seleção
das lembranças que devem ser guardadas ou
dispensadas pode ser comparado aos dos filtros de
spam do computador. O funcionamento dessas “peneiras
mentais” situadas nos gânglios basais pode
comprometer ou facilitar a lembrança de números,
nomes de pessoas, compromissos etc. Filtros
ineficientes causam, por exemplo, atividades
desnecessárias e excessivas nas regiões cerebrais que
“arquivam” as informações da memória de trabalho – as
áreas parietais posteriores, situadas ao longo do topo do
cérebro em direção ao dorso. Poderíamos dizer que
essas regiões desempenham o papel do disco rígido do
computador, mas quando se trata de memória de
trabalho, é mais adequado afirmar que sua função não é
tanto guardar dados permanentemente, mas sim
armazena-los temporariamente da memória à qual temos
acesso de forma aleatória. É aceitável fazer um paralelo
com a memória RAM (random access memory), já que
as informações são mantidas enquanto estão em uso ou
poderão ser usadas em breve.

Essa forma de memória é sustentada pela atividade elétrica


de neurônios do córtex pré-frontal, em rede via córtex entorrinal
com o hipocampo e a amígdala, durante a percepção, a aquisição
ou a evocação. A memória de trabalho dura segundos e não deixa
traços: depende exclusivamente da atividade neuronal on line.
172

Conforme os autores, um exemplo é a terceira palavra da frase


anterior: durou 2 ou 3 segundos, para dar sentido à frase e
conectá-la com a seguinte, mas já desapareceu de nossa
memória para sempre. Segundo eles, na esquizofrenia há falhas
graves da memória de trabalho, que causam uma percepção
distorcida ou alucinatória da realidade.

Memórias de curta duração


e de longa duração
Memória de curta duração
As memórias que persistem além de segundos
denominam-se memória de curta duração e memória de longa
duração. A primeira dura 0,5-6 horas e utiliza processos
bioquímicos breves no hipocampo e córtex entorrinal (Izquierdo e
cols, 2013).

Memória de longa duração


A memória de longa duração perdura muitas horas, dias
ou anos. Quando dura anos, denomina-se remota. Sua formação
requer uma sequência de passos moleculares que dura de 3 a 6
horas, no hipocampo, nos núcleos amigdalinos, e em outras
áreas, durante as quais é suscetível a numerosas influências. A
memória de curta duração mantém a cognição funcionando
durante as horas que a memória de longa duração leva até
adquirir sua forma definitiva (Izquierdo e cols ,2013).

As sinapses e as memórias
Como reportado por Izquierdo e cols (2013) e no prólogo
desta obra, em fins do século XIX, Santiago Ramón y Cajal,
fundador da neurociência, postulou que as memórias obedecem a
modificações da estrutura e função das sinapses. Segundo
Izquierdo e cols (2013), nos últimos trinta anos se demonstrou
que isso é verdade, e agora conhecemos as alterações
173

moleculares sinápticas que subjazem à formação, persistência e


evocação das memórias em muitas regiões encefálicas.

Neuroquimica da memória
A mente tem sido considerada um mundo complexo, onde
interatuam uma série de fenomenos físicos, biológicos, químicos.
Em relação a esta última parte faremos aqui uma descrição de
neurotransmissores e sua influência sobre o comportamento e
conduta. Estas moléculas químicas conhecidas como
neurotransmissores são responsáveis por mudanças
organizacionais e comportamentais, tal como se manifesta no
comportamento dos seres humanos.

Reconstruindo experiências visuais da


atividade cerebral evocadas por filmes
Segundo Nishimoto e cols (2011), muitas de nossas
experiências visuais são dinâmicas: percepção, imagens visuais,
sonhos e alucinações. Todos mudam continuamente ao longo do
tempo, e essas mudanças são muitas vezes as mais convincentes
e importantes
Aspectos dessas experiências quando obtendo uma compreensão
quantitativa da atividade cerebral subjacente a esses processos
dinâmicos promoveriam nossa compreensão da função visual.
Modelos quantitativos de eventos mentais dinâmicos também
podem ter aplicações importantes como ferramentas para o
diagnóstico psiquiátrico e, como a base de dispositivos de
interface de máquina-cerebro.
Os autores acima citados, são do Departamento de
Psicologia da Universidade da California, em Berkeley, Estados
Unidos da América (EUA) e segundo eles a modelagem
quantitativa da atividade do cérebro humano pode fornecer
informações cruciais sobre cortical representações, e pode formar
a base para dispositivos de decodificação cerebral. Nos estudos
desesenvolvidos por eles as imagens de ressonância magnética
(IRMF) modelaram a atividade do cérebro e mostraram que é
possível reconstruir essas imagens da atividade cerebral de
174

estímulos dinâmicos como filmes. Informações visuais rápidas e


lenta hemodinâmica por componentes separados. Os autores
registraram imagens no córtex visual occipito-temporal de
indivíduos humanos que passivamente assistiram a filmes. Eles
também construiram um decodificador bayesiano, para a
decodificação das imagens de um filme amostrado anteriormente.

Inferência bayesiana
A inferência bayesiana é um tipo de inferência estatística
que descreve as incertezas sobre quantidades invisíveis
de forma probabilística. Incertezas são modificadas
periodicamente após observações de novos dados ou
resultados. A operação que calibra a medida das
incertezas é conhecida como operação bayesiana e é
baseada na fórmula de Bayes. A fórmula de Bayes é
muitas vezes denominada Teorema de Bayes. Inferência
bayesiana deriva a probabilidade posterior como
conseqüência de dois antecedentes, uma probabilidade
anterior e uma "função de verossimilhança" derivado de
um modelo de probabilidade para os dados a serem
observados. A inferência bayesiana calcula a
probabilidade posterior de acordo com a regra de Bayes.
Certamente, entende-se que a regra de bayes faz muito
sentido. Se a evidência não corresponder com a
hipótese, a hipótese deve ser rejeitada. Mas se uma
hipótese é extremamente improvável a priori, deve-se
também rejeitá-la, mesmo que a evidência pareça
corresponder-se.

O decodificador, captura a estrutura espaço-temporal do


filme visto. Esses resultados demonstram que a atividade cerebral
dinâmica medida sob condições naturalistas pode ser
decodificada usando a tecnologia IRMF, conforme a figura abaixo.
175

Os cientistas usam imagens cerebrais para


revelar os filmes em nossa mente.
Como observado na figura acima, os cientistas da
Universidade da Califórnia, Berkeley estão permitindo acessar a
mente de um paciente coma ou assistir o próprio sonho no
YouTube. Com uma mistura de ponte entre a imagem cerebral e
simulação de computador e estão trazendo esses cenários
futuristas ao alcance. Usando a ressonância magnética funcional
e os modelos computacionais, os pesquisadores da UC Berkeley
conseguiram decodificar e reconstruindo as experiências visuais
dinâmicas das pessoas - neste caso, observando trailers de filmes
de Hollywood (Anwar, 2017).
A pesquisa é liderada por Jack Gallant, segundo ele o foco
da pesquisa no seu laboratório é sobre a compreensão da
estrutura e função do sistema visual. A visão é o sentido mais
importante para os seres humanos, e o dano à visão através de
doenças ou acidentes vasculares cerebrais é um problema sério
que afeta milhões de pessoas. O sistema visual humano é
bastante complicado, composto por várias dúzias de módulos
distintos (áreas visuais) dispostos em uma rede altamente
interconectada, hierárquica e paralela. O sistema visual também
está bem integrado com outros subsistemas sensoriais e sistemas
de memória e linguagem. Por causa dessa interconectividade, e
porque o cérebro é construído em princípios modulares, a
pesquisa de visão também tem implicações importantes para a
compreensão de outros sistemas cerebrais.

Jack Gallant, psicólogo da Universidade da Califórnia,


Berkely, EUA, que trabalha com neurociência cognitiva.
176

Aprendizado, memória e
cognição: uma perspectiva
animal
Randolf Menzel (2013) (Freie Universitat Berlin, Institut
Biologie-Neurobiologie, Berlim, Alemanha) no inicio de seu
trabalho intitulado “Learning, Memory, and Cognition: Animal
Perspectives”, nos dá as seguintes definições:

Cognition
Cognition is the integrating process that utilizes many
different forms of memory, creates intemal representations of the
experienced world and provides a reference for expecting the
future of the animal's own actions. It thus allows the animal to
decide between different options in reference to the expected
outcome of its potential actions. All these processes occur as
intrinsic operations of the nervous system, and provide an implicit
form of knowledge for controlling behavior. None of these
processes need to - and certainly will not - become explicit within
the nervous systems of many animal species (in particular
invertebrates and lower vertebrates), but such processes must be
assumed to also exist in these animal species. It is the goal of
comparative animal cognition to relate the complexity of the
nervous system to the level of internal processing.

Neural integration
Neural integration processes are manifold and span a large
range of possibilities all of which can be viewed from an
evolutionary perspective as adaptations to the specific demands
posed by the environment to the particular species. At one
extreme one can find organisms dominated by their inherited
information (phylogenetic memory) developing only minimal
experience-based adaptation. At the other extreme, phylogenetic
memory merely provides a broad framework, and experience-
based memory dominates
177

Filogenética da memória
Phylogenetic memory controls behavior in rather tight
stimUlus-response connections requiring little if . any interna\
processing other than sensory coding and generation of motor
programs. The factors determining the specific combination and
weights of inherited and experience-dependent memories in an
individual are not yet well understood. A short individual lifetime,
few environmental changes during a lifetime, and highly
specialized living conditions will favor the dominance of inherited
information; a longer individuallifetime, less adaptation to particular
environmental niches and rapid environmental changes relative to
the lifespan reduce the value of phylogenetic memory and
increase the role of individualleaming. Social living style also
seems important. Here the species' genome must equip the
individuals for acting under much more variable environmental
conditions because of the society's longer lifetime, and because
the communicative processes within the society demand a larger
range of cognitive processes.
O mesmo autor afirmou que The complexity and size of the
nervous system may be related to the dominance of inherited or
experience-dependent memories, in the sense that individual
learning demands a larger nervous system having greater
complexity. However, the primary parameter determining the size
of the nervous system is body size, and secondary parameters like
richness of the sensory world, abundance of motor patterns and
cognitive capacities, are difficult to relate to brain size, because
such parameters cannot be adequately measured and thus a
comparison based on them is practically impossible between
animals adapted to different environments. Nevertheless, it
appears obvious that animals differ with respect to their sensory,
motor, and cognitive capacities. Individual learning within the
species-specific sensory and motor domains will lead to more
flexible behavior, and thus to more advanced cognitive functions.
Predicting the future will therefore be less constrained, and more
options will enrich the animal's present state. Cognitive
components of behavior are characterized by the following
faculties: (i) rich and cross-linked forms of sensory and motor
processing; (ii) flexibility and experience-dependent plasticity in
178

choice performance; and (iii) long-term (on the timescale of the


respective animal's lifespan) adaptation of behavioral routines.
These three features allow the creation of novel behavior through
different forms of learning and memory processing. Among them,
we can cite: (i) rule learning and causal reasoning; (ii) observatory
learning during communication, imitation, and navigation, and (iii)
recognition of individuals in a society and self-recognition. All
these characteristics are based on implicit forms of knowledge and
do not require any explicit (or conscious) processing. However,
internal processing at the level of working memory (or
representation) as an indication of rudimentary forms of explicit
processing may exist in invertebrates and lower vertebrates within
the context of observatory learning and social communication.
Innate and Learned Behavior Innate and learned behaviors
are intimately connected leading to the concept of preparedness
for learning. Mice associate nausea induced by injection of LiCI or
radioactive irradiation with novel taste and smell but not with light
or sound. Song birds are prepared to learn the species-specific
song, and only some species may be more open to aberrant
songs. The idea that anything can be learned if associativity rules
are followed as put forward by Pavlov (1849-1936) and the
behaviorists like B.E Skinner (1904-1990) is not substantiated, and
many examples have been described for species-specific
constraints in learning. Often similar behaviors are performed by
closely related species, but in one species it involves learning, in
the other it is solely controlled innately. The two species of
braconid wasps Cotesia glomerata and Cotesia jiavipes are stem-
boring parasitoids. While C. jiavipes exhibits innate preference for
its host's odors the larvae of Pieris brassica (Lepidoptera) - the
closely-related C. glomerata learns the varying odor profiles of its
Pieris host larvae, which depend on the plants it feeds on. No
other differences in behavior between these two species were
found, indicating that experience-dependent adjustment and
innate stereotypy are two close strategies and are not related to
any great differences between the neural systems involved. It will
be interesting to search for structures in the brain that differ in
these two species and may be related to these two strategies. A
particularly close connection between innate and learned behavior
is imprinting (see Chap. 25), the programmed forms of learning
described in great detail by ethologists like Konrad Lorenz (1903-
1989) for birds, but fast and stable learning early on in ontogeny is
179

a phenomenon in all animal species. Slave-making ants have


colonies in which two species of social insects coexist, one of
which parasitizes on the other. Slave-making ants invade colonies
of other ant species and transport the pupae back to their own
nest. Adults emerging from these pupae react and work for the
slave-making species as if it were its own species. The basis for
this phenomenon may be olfactory imprinting by which the slave
ants learn to recognize the slavemakers as members of their own
species. The mechanistic basis of olfactory imprinting has been
studied in the fruit fly Drosophila melanogaster. Synaptogenesis in
the antennallobe, the primary olfactory neuropile in the insect brain
(see Chap. 13), starts in late pupae and continues during the first
days of adult life, at the same time as the behavioral response to
odors matures. The antennal lobe is made up of functional units,
the glomeruli. The glomeruli DM6, DM2, and V display specific
growth patterns between days I and 12 of adult life. The
modifications associated with olfactory imprinting take place at the
critical age. Exposure to benzaldehyde at days 2-5 of adult life, but
not at 8-1 I, causes behavioral adaptation as well as structural
changes in DM2 and V glomeruli. These examples show that (i)
animals often exhibit innate preferences for signals allowing to
rapidly and efficiently detect biologically relevant stimuli in their
first encounters with them; (ii) such preferences can but may not
always be modified by the animals' experience. It is still unknown
how these preferences are hardwired in the naIve nervous system,
but since they have been selected through the species'
evolutionary history and thus belong to its phylogenetic memory it
must be assumed that they are programmed by developmental
processes.

A representação simbólica
entre os primatas
O mundo simbólico dos primatas
Conforme Visalberghi (2017), A representação simbólica é
um dos principais atributos cognitivos que viabilizaram a
linguagem humana. Sabe-se que nossos parentes mais próximos,
como chimpanzés e gorilas, são dotados de alguma capacidade
180

nessa área, mas pela primeira vez cientistas demonstraram que


os macacos-prego (Cebus apella), primatas filogeneticamente
mais distantes, de alguma forma também podem compreender o
significado dos símbolos.

Cebus apela.
Fonte: macaco-prego-cebus-apella-nelson-caramico
http://origamicommestrekami.blogspot.com.br/2013_08_01_archive.html

O estudo foi publicado na revista PLoS One e é assinado


pela equipe de uma das mais importantes primatologistas do
mundo, a italiana Elisabeta Visalberghi, do Instituto de Ciências
Cognitivas e Tecnológicas de Roma. O experimento consistiu na
oferta de três tipos de alimentos aos animais, em duas situações:
apresentando o alimento mesmo ou cartões com símbolos que os
animais aprenderam previamente a associar aos respectivos
alimentos. A estratégia foi verificar se as escolhas destes animais
se aplicavam ao conceito de transitividade, segundo o qual se A é
melhor que B e B é melhor que C, então A é necessariamente
melhor que C. Esse foi justamente o raciocínio dos macacos-
prego frente à oferta de alimentos reais (o que já era esperado),
bem como durante a apresentação dos cartões, principal
resultado do estudo. As diferenças quantitativas entre as duas
modalidades de escolha também surpreenderam os
pesquisadores, porque os animais atribuíram maior valor a alguns
alimentos apenas na sua versão simbólica. Exemplo: se na
apresentação real, eles só trocavam um pedaço de queijo A por
dois pedaços de queijo B, no jogo com os cartões, o primeiro só
era equivalente a pelo menos quatro pedaços do segundo. Ainda
que estas diferenças quantitativas não sejam bem compreendidas
pelos pesquisadores, eles vêem os resultados gerais como provas
181

irrefutáveis de que o macaco-prego, maior primata das Américas,


possui os circuitos cognitivos necessários para a representação
mental de símbolos, ainda que estejam longe de expressar essa
capacidade de forma completa. Os estudiosos ressaltam também
que esse tipo de exercício mental provoca uma grande carga
cognitiva nos animais, que se traduz em irritação com a imposição
de repetições exaustivas, o que também é observado em crianças
pequenas submetidas a experimentos semelhantes.
182
183

Capítulo 10
Freud, a Neurobiologia
e a Psicopatologia

Existem momentos na vida da gente, em que as palavras


perdem o sentido ou parecem inúteis, e, por mais que a
gente pense numa forma
de empregá-las elas parecem não servir. Então a gente
não diz, apenas sente.
Sigmund Freud

Sigismund Schlomo Freud (Freiberg in Mähren, 6 de maio


de 1856 — Londres, 23 de setembro de 1939[3]), mais conhecido
como Sigmund Freud, foi um médico neurologista criador da
psicanálise. Freud nasceu em uma família judaica, em Freiberg in
Mähren, na época pertencente ao Império Austríaco (atualmente,
a localidade é denominada Příbor, e pertence à República
Tcheca).

Sigmund Freud.
184

Sigmund Freud iniciou sua prática no campo da


neurobiologia em 1883, quando começou a trabalhar no
laboratório de neurologia de Meynert, seu professor e integrante
da escola alemã de Helmholtz. Correspondem a este período as
primeiras manifestações do interesse de Freud pela
psicopatologia. Ao fim do período em que trabalhou sob a
supervisão de Meynert, Freud solicitou o seu ingresso no
departamento de doenças do sistema nervoso, tendo sido
transferido para a área de doentes de sífilis. Teve, nesse período,
grandes oportunidades de estudar doenças orgânicas
relacionadas ao sistema nervoso, através de exames de
patologia, e acabou sendo considerado um exímio especialista em
diagnosticar os locais da lesão cerebral. O próprio Freud afirmava,
a esse respeito, ser capaz de identificar o ponto de localização de
uma lesão no bulbo raquídeo de forma tão exata que o patologista
nada tinha a acrescentar ao diagnóstico e reconhece que a fama
de seus diagnósticos e de sua confirmação post-mortem, trouxe-
lhe uma afluência de médicos norte-americanos, para os quais
lecionava sobre os pacientes do seu departamento (PUC-Rio,
2017).
Conforme o mesmo autor, em 1885, Freud foi visitar
Charcot, permanecendo em Paris por quatro meses, no hospital
La Salpêtrière. Nesse período, Freud ofereceu-se para traduzir as
conferências de Charcot, e assim teve contato com tudo o que
ocorria na clínica. Quando Freud foi a Paris, ainda se interessava
mais pelas investigações anatômicas do que pelos temas de
clínica, e a princípio tratou de prossegui-las no laboratório de
Salpêtrière. Não se pode negar, portanto, que a influência de
Charcot despertou em Freud um interesse pela psicopatologia.

A consciência em Freud
Freud afi rmou que a consciência é um “fato sem igual, que
resiste a toda explicação ou descrição” (1938, p. 79)3 . Isto pode
nos fazer pensar que sua concepção da consci- ência se
aproxima do que certos autores atuais chamam de “misterismo”
(em inglês, “mysterianism”) (Flanagan, 1992; Chalmers, 1996, p.
379). Segundo esta posição, a consciência é essencialmente um
mistério que não pode ter explicação científi ca. Estaríamos nos
185

enganando, entretanto, se nos prendêssemos a esta citação para


concluir que não há lugar para a explicação da consciência no
pensamento freudiano. Como veremos, apesar de certas
ambigüidades, a consciência tem no seu sistema teórico um lugar
preciso, o de um “órgão sensorial” para a detecção de qualidades
psíquicas e de processos de pensamento. A análise do conjunto
dos textos pertinentes sugere que, quando Freud diz que a
consciência é inexplicável e indescritível, ele está pensando na
consciência segundo a perspectiva da primeira pessoa, isto é, no
fato de estar consciente tal como este se apresenta à nossa
própria consciência. Para cada um de nós, em sua experiência
íntima, o fato de estar consciente é um dado bruto sobre si
mesmo, cuja natureza parece insuscetível a qualquer análise ou
explicação, ou mesmo a qualquer defi nição não circular (Block,
1995a, 1995b). Esta impenetrabilidade da consciência, do ponto
de vista da primeira pessoa, não signifi ca, no entanto, para
Freud, que ela deva ser metodologicamente ignorada (Gomes,
2003).
Então, Gomes (2003), concluiu que, embora Freud não
tenha publicado um trabalho específi co sobre o assunto, as
passagens em que abordou questões relativas à consciência são
sufi cientes para montarmos um quadro bastante nítido de sua
concepção sobre ela. Foi atingido, portanto, o objetivo proposto
no início deste trabalho. Vimos que, para Freud, a consciência é a
função de um sistema específico do aparelho psíquico,
responsável pela percepção do mundo exterior, de sentimentos e
de processos do pré-consciente. Vimos como esses processos de
tomada de consciência se articulam às instâncias do aparelho psí-
quico freudiano, explorando ainda sua relação com a clínica
psicanalítica. Isso nos dá uma base para um novo desafi o, o de
verifi car como essa concepção teórica freudiana pode se
relacionar aos recentes desenvolvimentos da teoria da
consciência, nas áreas da neurociência, da psicologia cognitiva e
da fi losofi a da mente.

Freud, id, ego, superego


e a neurobiologia
186

Com base no relato de pacientes a respeito de suas


fantasias, sintomas neuróticos, lembranças e sonhos, Freud
desenvolveu uma teoria sobre a estrutura da personalidade
humana e a dinâmica de seu funcionamento. Segundo ele, nossa
personalidade é formada por três instâncias: id, ego e superego.

Id
O id é a instância que contém os impulsos inatos, as
inclinações mais elementares do indivíduo. O id é composto por
energias – denominadas por Freud de pulsões – determinadas
biologicamente e determinantes de desejos e necessidades que
não reconhecem qualquer norma socialmente estabelecida. O id
não é socializado, não respeita convenções, e as energias que o
constituem buscam a satisfação incondicional do organismo. Ao
passo que o id é inato, as duas outras partes da personalidade
desenvolvem-se no decorrer da vida da pessoa (Cunha, 2017).

Ego
Conforme o mesmo autor, o ego, que significa literalmente
“eu”, é o setor da personalidade especializado em manter contato
com o ambiente que cerca o indivíduo. Ele é a porção visível de
cada um de nós, convive segundo regras socialmente aceitas,
sofre as pressões imediatas do meio e executa ações destinadas
a equilibrar o convívio da pessoa com os que a cercam.

Superego
O superego, por sua vez, é um depositário das normas e
princípios morais do grupo social a que o indivíduo se vincula.
Nele se concentram as regras e as ordenações da sociedade e da
cultura, representadas, inicialmente, pela família e,
posteriormente, internalizadas pela pessoa (Cunha, 2017).

O conceito jacksoniano não apenas abriu o caminho para o


estabelecimento da neurologia como disciplina científica, também
teve um impacto profundo em Sigmund Freud e no
desenvolvimento da metapsicologia psicanalítica.
187

Id, ego, superego segundo Freud.

Metapsicologia freudiana
Metapsicologia
O termo metapsicologia pode ser encarado como sinônimo
de psicologia metafísica, uma área de estudos da psicologia
dedicada ao estudo de fenômenos dos quais a chamada
psicologia empírica não se propõe a estudar, por não serem
acessíveis ao conhecimento pela experiência e que não pode ser
provado pelo método científico proposto pelo positivismo para as
ciências. O termo metapsicologia, porém, tem também um outro
significado bastante específico, associado à psicanálise. O termo
foi cunhado por Freud em seus estudos sobre as relações entre o
inconsciente e a consciência para designar um conhecimento
psicológico que considere as dimensões tópica, dinâmica e
econômica do psiquismo, que se mostram nessas relações. De
maneira breve e bastante simplificada, o aspecto tópico, dinâmico
e econômico poderiam ser descritos como, respectivamente, uma
teoria dos lugares¹, das forças e da energia psíquicas. Convém
188

observar, porém, que tal teoria dos lugares não corresponde a


uma busca por localizações físicas para os aconteceres
psíquicos, mas sim de delimitar instâncias responsáveis por
diferentes funções- por vezes conflitantes (Wikipédia, 2017).

Moura (2017), afirmou que a metapsicologia freudiana traz


os princípios, os modelos teóricos e os conceitos fundamentais da
clínica psicanalítica.
Segunda a mesma autora, e um método de abordagem de
acordo com o qual todo processo mental é considerado em
relação com três coordenadas: dinâmica, topográfica e
econômica.

Estrutura e funcionamento
do psiquismo
Pouco a pouco o psiquismo se organiza, se estrutura como
um todo complexo, com traços originais que não poderão variar
depois. Essa organização e estruturação do psiquismo individual
começará desde a tenra infância; antes do nascimento em função
da hereditariedade para certos fatores, mas sobretudo do modo
de relação com os pais, desde os primeiros momentos da vida,
das frustrações, dos traumas e dos conflitos encontrados, em
função também das defesas organizadas pelo ego para resistir às
pressões internas e externas, das pulsões do id e da realidade
(Moura, 2017).
Conforme Moura (2017), em seus aportes teóricos Freud
foi levado a elaborar um modelo de funcionamento mental. Desde
cedo ele forjou o termo metapsicologia mental para designar os
aspetos teóricos da Psicanálise. Essa metapsicologia busca dar
conta dos fatos psíquicos em seu conjunto, principalmente de sua
vertente inconsciente. A metapsicologia freudiana traz os
princípios, os modelos teóricos e os conceitos fundamentais da
clínica psicanalítica. Em 1915 fez uma tentativa para produzir uma
‘Metapsicologia. ‘Sobre o Narcisismo’ (1914) ‘As Pulsões e suas
Vicissitudes’ (1915), ‘Repressão’ (1915), ‘O Inconsciente’ (1915),
‘Luto e Melancolia’ (1917) etc. vem fazer parte dessa tentativa.
Com isso queria construir um método de abordagem de acordo
com o qual todo processo mental é considerado em relação com
189

três coordenadas, as quais descreveu como dinâmica, topográfica


e econômica, respectivamente.

Ponto de vista dinâmico

Segundo a autora, o ponto de vista dinâmico explica os


fenômenos mentais como sendo o resultado da interação e de
contra-ação de forças mais ou menos antagônicas. A explicação
dinâmica examina não só os fenômenos, mais também as forças
que produzem os fenômenos. As pulsões são um tipo especial de
fenômeno mental que força no sentido de descarga,
experimentada como uma “energia urgente”. A autora citando
Zimerman91 (1999) define pulsão como necessidades biológicas,
com representações psicológicas que urgem em ser
descarregadas. Para Moura (2017), segundo Freud (1915) as
pulsões são o representante psíquico dos estímulos somáticos.
As pulsões tendem a baixar o nível de tensão através da
descarga de forma imediata, mas existem contra-forças que se
oporão a essa descarga (satisfação da pulsão). E a luta que se
cria constitui a base dos fenômenos mentais. Em Psicopatologia
da Vida Cotidiana Freud (1914) diz que os lapsos de língua, erros,
atos sintomáticos, sonhos são os melhores exemplos de conflitos
que se produzem entre a luta pela descarga das forças que a isso
se opõem. Em Conferências Introdutórias Freud (1916) defende
que o produto do lapso pode ele próprio ter o direito de ser
considerado como ato psíquico inteiramente válido, que persegue
um objetivo próprio. Para Freud os fenômenos lacunares –
sonhos, atos falhos, parapraxias, sintomas constituem um meio –
êxito e um meio – fracasso para cada uma das duas intenções.
Quando as tendências à descarga e as forças repressoras que
inibem essa descarga são igualmente fortes a energia consome-
se em luta interna e oculta; o que se manifesta clinicamente com
sinais de exaustão sem produção de trabalho perceptível.
Ponto de vista econômico

Reportando sobre o ponto de vista econômico, Moura


(2017), considera a energia psíquica sob um ângulo quantitativo.
Esse ponto de vista econômico se esforça em estudar como

91ZIMERMAN, D. E. Fundamentos Psicanalíticos: teoria, técnica e clínica. Porto


Alegre: Artmed, 1999.
190

circula essa energia, como ela é investida e se reparte entre as


diferentes instâncias, os diferentes objetos ou as diferentes
representações. A energia das forças pulsionais e das forças
repressoras que estão por trás dos fenômenos mentais é
deslocável. Algumas pulsões são mais fortes e mais difíceis de
reprimir, mas podem sê-lo se as contra-forças forem igualmente
poderosas. Que quantidade de excitação pode ser suportada sem
descarga é problema econômico. A pulsão é um elemento
quantitativo da economia psíquica. As pulsões são constituídas
pelas representações e pelos afetos que lhes estão ligados. o
termo afeto designa o aspecto qualitativo de uma carga
emocional, mas também, o aspecto quantitativo do investimento
da representação dessa carga.

Energia psíquica
Energia psíquica é um conceito da Psicologia utilizado
nos pensamento e as emoções. O termo é composto
das palavras do idioma grego "alma" e ergos = en-ergo
=energia, trabalho, movimento). O têrmo energia
psíquica é empregado na área da psicologia por teóricos
como Sigmund Freud e Carl Gustav Jung para designar
aspectos mobilizadores da psiquê fundamentais para
suas hipóteses sobre o funcionamento da mente
humana. Por exemplo, os impulsos da libido. A energia
psíquica é um dos pontos de conexão entre as ciências
exatas e a Psicologia, tendo sido largamente utilizado
por Jung e pelos pós-junguianos na descrição do
fenômeno mental, dando origem a uma área de pesquisa
denominada Física e Psicologia. "A Energia Psíquica" é
também o título de um dos livros de Jung "On the
Conception of Psychic Energy and the Nature of
Dreams." 1948 (Wikipédia, 2017).

Investimento

Conforme Moura (2017), o Investimentoé o nome dado à


ação de que uma certa quantidade de energia psíquica esteja
ligada a uma representação mental. Freud diz que investimento
pode ser aumentado, diminuído, deslocado, descarregado e que
se estende sobre as representações, um pouco como uma carga
elétrica na superfície dos corpos.

Teoria Topográfica
191

De acordo com Moura (2017), a concepção tópica do


aparelho psíquico ocorreu progressivamente e desde os primeiros
trabalhos de Freud sobre a histeria. O primeiro esquema
topológico do aparelho psíquico está descrito no capitulo VII da
Interpretação dos Sonhos (1900) e no ensaio sobre O
Inconsciente (1915). É no capítulo VII da Interpretação dos
Sonhos que Freud formula o primeiro grande modelo do aparelho
psíquico (a primeira tópica). Nesse texto Freud teoriza um
psiquismo composto por dois grandes sistemas – inconsciente e
pré-consciente/consciente – que são separados por uma barreira
(a censura) que através do mecanismo de recalque expulsa e
mantêrm certas representações inaceitáveis fora do sistema
consciente. Mas essas representações exercem uma pressão
para tornarem-se conscientes e ativas. Ocorre um jogo de forças,
entre os conteúdos reprimidos e os mecanismos repressores.
Como resultado desses conflitos há a produção das chamadas
formações do inconsciente: sintomas, sonhos, lapsos e chistes.
Essas formações representam o fracasso e o sucesso das duas
forças em conflito, uma espécie de acordo entre elas. A palavra
“aparelho” é usada para caracterizar uma organização psíquica
dividida em sistemas, ou instâncias psíquicas, com funções
especificas para cada uma delas, que estão interligadas entre si.

Aparelho psíquico
Conforme Muniz (2017), Freud (1900) nomeou o
aparelho psíquico, como uma organização psíquica
dividida em sistemas ou instâncias. Cada instância
possui uma localização, uma função e estão interligadas
entre si. Num primeiro momento, Freud designou uma
divisão de lugares virtuais para a mente: Pré-Consciente,
Consciente e Inconsciente. Essa divisão ficou conhecida
como a Primeira Tópica (Topo/em grego = lugar). Num
segundo momento, Freud (1920 a 1923) descreveu a
estrutura das instâncias, seu modo de funcionamento na
estrutura da personalidade e acrescentou os conceitos
de: Id, Ego e Superego. Assim definiu-se a Segunda
Tópica. Juntas, essas instâncias trabalham nas ações e
reações. Porém separadas, possuem papeis específicos
a serem desempenhados na mente.

Consciente
192

Localizado entre o mundo exterior e os sistemas


mnêmicos; é encarregado de registrar as informações oriundas do
exterior e perceber as sensações interiores da série prazer –
desprazer. Recebe informações provenientes do exterior e do
interior que ficam registradas qualitativamente (prazer x
desprazer); mas não tem função de inscrição; não conserva
nenhum traço duradouro das excitações que registra; pois
funciona em registros qualitativos enquanto o resto do aparelho
mental funciona em registros quantitativos. Faz a maior parte das
funções perceptivas, cognitivas e motoras, como a percepção, o
pensamento, juízo critico, evocação, antecipação, atividade
motora.

Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente


Conforme Ballone (2017), Freud inicia seu pensamento
teórico assumindo que não há nenhuma descontinuidade
na vida mental. Ele afirmou que nada ocorre ao acaso e
muito menos os processos mentais. Há uma causa para
cada pensamento, para cada memória revivida,
sentimento ou ação. Cada evento mental é causado pela
intenção consciente ou inconsciente e é determinado
pelos fatos que o precederam. Uma vez que alguns
eventos mentais “parecem” ocorrer espontaneamente,
Freud começou a procurar e descrever os elos ocultos
que ligavam um evento consciente a outro. Segundo
Freud, o consciente é somente uma pequena parte da
mente, incluindo tudo do que estamos cientes num dado
momento. O interesse de Freud era muito maior com
relação às áreas da consciência menos expostas e
exploradas, que ele denominava Pré-Consciente e
Inconsciente. Inconsciente. A premissa inicial de Freud
era de que há conexões entre todos os eventos mentais
e quando um pensamento ou sentimento parece não
estar relacionado aos pensamentos e sentimentos que o
precedem, as conexões estariam no inconsciente. Uma
vez que estes elos inconscientes são descobertos, a
aparente descontinuidade está resolvida. “Denominamos
um processo psíquico inconsciente, cuja existência
somos obrigados a supor – devido a um motivo tal que
inferimos a partir de seus efeitos – mas do qual nada
sabemos” (1933, livro 28, p. 90 na ed. bras.). No
inconsciente estão elementos instintivos não acessíveis
à consciência. Além disso, há também material que foi
excluído da consciência, censurado e reprimido. Este
material não é esquecido nem perdido mas não é
permitido ser lembrado. O pensamento ou a memória
193

ainda afetam a consciência, mas apenas indiretamente.


O inconsciente, por sua vez, não é apático e inerte,
havendo uma vivacidade e imediatismo em seu material.
Memórias muito antigas quando liberadas à consciência,
podem mostrar que não perderam nada de sua força
emocional. “Aprendemos pela experiência que os
processos mentais inconscientes são em si mesmos
intemporais. Isto significa em primeiro lugar que não são
ordenados temporalmente, que o tempo de modo algum
os altera, e que a idéia de tempo não lhes pode ser
aplicada” (1920, livro 13, pp. 41-2 na ed. bras.). Assim
sendo, para Freud a maior parte da consciência é
inconsciente. Ali estão os principais determinantes da
personalidade, as fontes da energia psíquica, as pulsões
e os instintos. Pré-consciente. Estritamente falando, o
Pré-Consciente é uma parte do Inconsciente, uma parte
que pode tornar-se consciente com facilidade. As
porções da memória que nos são facilmente acessíveis
fazem parte do Pré-Consciente. Estas podem incluir
lembranças de ontem, o segundo nome, as ruas onde
moramos, certas datas comemorativas, nossos alimentos
prediletos, o cheiro de certos perfumes e uma grande
quantidade de outras experiências passadas. O Pré-
Consciente é como uma vasta área de posse das
lembranças de que a consciência precisa para
desempenhar suas funções.

Pré-Consciente
O conteúdo do pré-consciente não está presente na consciência,
mas é acessível a ela. Ele pertence ao sistema de traços
mnêmicos e é feito de representações de palavras.
Funciona como um pequeno arquivo de registros (representações
de palavras) que consiste num conjunto de inscrições mnêmicas
de palavras oriundas e de como foram significadas pela criança.
(Zimerman, 1999). A representação da palavra é diferente da
representação da coisa, cujas inscrições não podem ser
nomeadas ou lembradas voluntariamente.

Inconsciente
É a parte do psiquismo mais próxima da fonte pulsional. É
constituído por representantes ideativos das pulsões. Contém as
representações das coisas, as quais consistem em uma sucessão
de inscrições de primitivas experiências e sensações provindas
dos órgãos dos sentidos o que ficaram impressas na mente antes
194

do acesso à linguagem para designá-las. O inconsciente opera


segundo as leis do processo primário e além das pulsões do id,
esse sistema também opera muitas funções do ego, bem como do
superego (Moura, 2017).

Pulsão
Pulsão (al. Trieb, ing. drive) designa em psicanálise um
impulso energético interno que direciona o
comportamento do indivíduo. O comportamento gerado
pelas pulsões diferencia-se daquele gerado por
decisões, por ser aquele gerado por forças internas,
inconscientes, alheias ao processo decisional. A pulsão
distingue-se do instinto, por este ser ligado a
determinadas categorias de comportamentos pre-
estabelecidos e realizados de maneira estereotípica,
enquanto aquela refere-se a uma fonte de energia
psíquica não específica, que pode conduzir a
comportamentos diversos (Wikipédia, 2017).

Teoria psicanalítica das pulsões


Freud, no princípio de sua teoria, distinguia várias
pulsões distintas que, com o aprimoramento da teoria,
foram reduzidas a duas pulsões básicas (al. Urtriebe):
eros, ou pulsão sexual, para a vida, e tânatos, ou pulsão
agressiva, de morte. O autor via como base para essas
pulsões o princípio de atração e repulsão, também
presente na matéria. Todas as outras pulsões
secundárias (desejos, sonhos, enfim, todos os diferentes
tipos de impulsos interiores que guiam a ação humana)
são vistas como frutos da combinação daquelas duas
pulsões. As pulsões são a origem da energia psíquica
que se acumula no interior do ser humano, gerando uma
tensão que exige ser descarregada. O objetivo do
indivíduo seria, assim, atingir um baixo nível de tensão
interna. Nesse processo de descarga de tensões
psíquicas, as três estruturas da mente (id, ego e super
ego) desempenham um papel primordial, determinando a
forma como essa descarga se manifestará. Todos esses
processos se desenvolvem inconscientemente. A
hipótese do comportamento humano ser guiado apenas
pela necessidade de reduzir a tensão gerada pelas
pulsões é considerada ultrapassada pela pesquisa
empírica, uma vez que a falta de estímulos leva o
indivíduo a buscá-los ativamente, aumentando assim a
tensão interna (assim, p. ex., pessoas curiosas ou que
buscam emoções fortes). A teoria de Freud, entanto,
deixou uma influência duradoura sobre a pesquisa da
motivação sobretudo sob dois aspectos: (1) o conceito
195

de projeção, ou seja, de que desejos inconscientes são


capazes de influenciar a percepção consciente e (2) a
ideia de que os objetivos perseguidos pelo
comportamento humano não são necessariamente
conscientes (Wikipédia, 2017).

Tipos de Pulsões
Conforme Alves e cols (2017), Freud agrupou as pulsões
em duas categorias: pulsões de vida e de morte. O
objetivo das pulsões de vida é a sobrevivência da
espécie tentando satisfazer a necessidade de comida,
água, ar e sexo. O instinto de vida manifesta-se como
libido, e é o instinto da vida, pois tem como função unir
os indivíduos em unidade cada vez maiores. Neste
sentido ele age a favor da civilização e da vida
comunitária, mas se opõe a ela quando se faz
necessária uma grande quantidade de energia instintiva,
retirada da sexualidade, para o trabalho. A evolução da
civilização humana pode ser descrita como a luta do
instinto de vida e instinto de morte, é a luta da espécie
humana pela vida. A dinâmica entre instinto de vida e de
morte tem sua expressão na estrutura pulsional do
indivíduo e na base da civilização. O instinto de vida é o
pai da civilização, sua função é unir os indivíduos em
unidades cada vez maiores de vida, primeiro como
famílias e raças, depois como povos e nações. Para que
exista civilização é necessário que os homens estejam
libidinalmente unidos. Instinto de vida é a pulsão de vida.
Em oposição as pulsões de vida, Freud nomeou os
instintos destrutivos ou de morte: todas as coisas vivas
se degeneram e morrem. Um dos componentes de
pulsão de morte é o impulso agressivo sendo um dos
principais componentes do instinto de morte. Segundo
Freud seria a necessidade de aliviar as tensões criadas
a partir da necessidade de realizar desejos
inconscientes, compulsão de destruir, subjulgar e matar.
O que faz as pessoas tão diferentes é a forma como elas
direcionam essa energia psíquica para diferentes
objetos.

Segunda tópica

As primeiras linhas dessa conceituação aparecem em Além


do Princípio do Prazer (1920) e será desenvolvida em o Ego e o
Id (1923). Introduz a existência de três instâncias: o Id, o Ego e
o Superego. Essas três estruturas separadamente têm funções
196

especificas, mas que são indissociadas ente si, interagem


permanentemente e influenciam-se reciprocamente.

Id

O id tem um correspondente quase exato na primeira


tópica: o inconsciente. É o pólo pulsional. Na segunda tópica
pulsão de vida e pulsão de morte pertencem a ele. No id não há
lugar para a negação, nem o princípio da não-contradição, ignora
os juízos de valor, o bem, o mal, a moral.
Em Esboço de Psicanálise Freud (1930) diz que na origem tudo
era id; o ego se desenvolveu a partir do id, sob a influência
persistente do mundo externo.
Sob o ponto de vista econômico, o id é a um só tempo um
reservatório e uma fonte de energia psíquica. Do ponto de vista
funcional ele é regido pelo princípio do prazer; logo, pelo processo
primário. Do ponto de vista da dinâmica psíquica, ele abriga e
interage com as funções do ego e com os objetos, tanto os da
realidade exterior, como aqueles que, introjetados, estão
habitando o superego, com os quais quase sempre entra em
conflito, porém, não raramente, o id estabelece alguma forma de
aliança. (Zimerman, 1999).

Ego

O ego é o pólo defensivo do psiquismo. É um mediador.


Por um lado pode ser considerado como uma diferenciação
progressiva do id, que leva a um continuo aumento do controle
sobre o resto do aparelho psíquico. Por outro ponto de vista, o
ego se forma na seqüência de identificações a objetos externos,
que são incorporados ao ego. De qualquer forma, o ego não é
uma instância que passa a existir repentinamente, é uma
construção.
O ego não é equivalente ao consciente, não se superpõe
ao consciente, nem se confunde com ele. O ego tem raízes no
inconsciente, como é o caso dos mecanismos de defesa, que são
funções do ego, assim como o desenvolvimento da angústia.
A função do ego é mediadora, integradora e harmonizadora entre
as pulsões do id, as exigências e ameaças do superego e as
demandas da realidade exterior.
197

Ao contrário do id, que é fragmentado em tendências


independentes entre si, o Ego surge como uma unidade, e com
instância psíquica que assegura a identidade da pessoa. Também
tem a função de consciência assegura a auto-conservação.

Superego

É o herdeiro do Complexo de Édipo. É estruturado por


processos de identificação. A identificação com o superego dos
pais. Assume três funções: auto-conservação; consciência moral;
função de ideal – ideal de ego.
O superego é constituído pelo precipitado de introjeções e
identificações que a criança faz com aspectos parciais dos pais,
com as proibições, exigências, ameaças, mandamentos, padrões
de conduta e o tipo de relacionamento desses pais entre si.
(Zimerman, 1999).

Pulsões - É necessário distinguir pulsão (trieb) de instinto


(instinkt), que designa explicitamente padrões hereditários de
comportamento animal, típicos de cada espécie. Na Tradução
Brasileira das Obras Completas de Freud pela editora Imago
pulsão foi erroneamente traduzida como instinto (Zimerman,
1999).
198

Capítulo 11
O cérebro, a mente e
suas representações
Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais;
somos também, o que lembramos e aquilo de que nos
esquecemos; somos as palavras que trocamos, os
enganos que cometemos, os impulsos a que
cedemos..."sem querer”.
Sigmund Freud

Sílvio José Lemos Vasconcellos em seu artigo Mente,


cérebro e representações de 2006, cita Imbert92 (1998), diz que
pode-se supor que os processos representacionais teriam, nos
seres humanos, atingido um grau superior de desenvolvimento
em função do surgimento de algumas regiões parietais novas, tais
como o giro angular e supramarginal. Em outras palavras, para
esse autor, modificações estruturais estariam no cerne de uma
maior capacitação funcional para manipular informações sobre o
mundo que nos cerca. Capacitação cujas propriedades essenciais
acabam sendo explicadas de diferentes maneiras no contexto das
Ciências Cognitivas. Para o mesmo autor, se tomarmos o
conceito de representação com base numa ideia mais ampla, em
que a simples capacidade para reunir informações e codificá-las
na memória corresponde ao próprio ato de representar, pode-se
então, mais facilmente, discorrer sobre algumas questões que
envolvem a relação entre mente e cérebro no panorama das
Ciências Cognitivas e de algumas outras abordagens. Nesse
sentido, podemos, por exemplo, fechar os olhos e pensar numa
série de coisas que estão à nossa volta. Podemos, portanto, no
sentido mais flexível do termo, representá-las. Conforme ele, não

92 IMBERT, M. (1998). Neurociências e ciências cognitivas. In D. Andler (Org.).


Introdução às Ciências Cognitivas. São Leopoldo: Editora Unisinos.
199

seria preciso muito esforço para reconhecer que as coisas que


existem em nosso pensamento são, como não poderiam deixar de
ser, distintas das coisas que existem fora dele. Uma
inquestionável prova disso seria o fato de que pensar sobre os
objetos ao nosso redor não depende, por exemplo, de uma ação
direta desses mesmos objetos sobre o nosso pensamento. Basta
ter algumas informações codificadas na memória para que, em
termos de efetividade representacional, as coisas imaginadas
independam completamente de outras tantas coisas que,
porventura, estejam ao nosso redor.

O cérebro e a Linguagem
Conforme os neurobiólogos António Damásio e Hanna
Damásio (2017), estruturas essenciais de mediação coordenam a
atividade dos centros cerebrais. Alguns destes centros são
especializados na elaboração dos conceitos, outros, na de
palavras e frases. Os neuropsicólogos que estudam a linguagem
tentam compreender como utilizamos e combinamos palavras (ou
signos, no caso de uma linguagem gestual) para formar frases e
transmitir os conceitos elaborados pelo cérebro. Investigam
também como compreendemos palavras expressas por outros e
de que forma o cérebro as transforma em conceitos.

O surgimento da linguagem
Conforme Damásio e Damásio (2017), a linguagem surgiu
e se manteve ao longo da evolução porque constitui um meio de
comunicação eficaz, sobretudo para conceitos abstratos. Ela nos
auxilia a estruturar o mundo em conceitos e a reduzir a
complexidade das estruturas abstratas a fim de apreendê-las: é a
propriedade de "compreensão cognitiva". O termo "chave de
fenda", por exemplo, evoca várias representações dessa
ferramenta: as descrições visuais de sua aparência e utilização,
as condições específicas de seu emprego, a sensação que
provoca seu manuseio ou o movimento da mão quando a utiliza.
Da mesma forma, a palavra "democracia" é associada a diversas
representações conceituais. A "economia cognitiva" que a
linguagem autoriza ao reagrupar numerosas noções sob um
200

mesmo símbolo permite-nos elaborar conceitos complexos e


alcançar níveis de abstração elevados. Na aurora da humanidade,
a palavra não existia. A linguagem surgiu quando o homem, e
talvez algumas espécies que o precederam, soube conceber e
organizar ações, elaborar e classificar as representações mentais
de indivíduos, eventos e relações. Da mesma forma, os bebês
concebem e manipulam conceitos e organizam inúmeras ações
bem antes de pronunciar as primeiras palavras e frases.
Entretanto, nem sempre a maturação da linguagem depende da
dos conceitos: algumas crianças têm deficiência dos sistemas
conceituais, mas possuem uma sintaxe correta. Os centros
neuronais que asseguram certas operações sintáticas parecem se
desenvolver de forma autônoma.

A representação simbólica
Segundo Damásio e Damásio (2017), a linguagem surge
como produção humana voltada para o mundo exterior (um
conjunto de símbolos corretamente ordenados, difundido para fora
do organismo) e representação intracerebral destes símbolos e
regras para associá-los. O cérebro representa a linguagem e
qualquer outro objeto da mesma forma. Ao estudar as bases
neuronais da representação de objetos, eventos e suas relações,
os neurologistas esperam descobrir os mecanismos de
representação da linguagem. O cérebro elabora a linguagem
mediante a interação de três conjuntos de estruturas neuronais,
segundo acreditamos. O primeiro, composto de numerosos
sistemas neuronais dos dois hemisférios, representa interações
não linguísticas entre o corpo e seu meio, percebido por diversos
sistemas sensoriais e motores; ele forja uma representação de
tudo o que uma pessoa faz, percebe, pensa ou sente. Além de
decompor essas representações não linguísticas (forma, cor,
sucessão no tempo ou importância emocional), o cérebro cria
representações de nível superior, pelas quais gere os resultados
dessa classificação. Assim ordenamos intelectualmente objetos,
eventos e relações. Os níveis sucessivos de categorias e
representações simbólicas produzidos pelo cérebro gerenciam
nossa capacidade de abstração e de metáfora. O segundo, um
conjunto menor de estruturas neuronais, geralmente situadas no
hemisfério esquerdo, representa os fonemas, suas combinações e
201

as regras sintáticas de ordenação destas palavras em frases.


Quando solicitados pelo cérebro, esses sistemas reúnem palavras
em frases destinadas a ser ditas ou escritas, - se demandados em
reação a um estímulo linguístico externo (uma palavra ouvida ou
um texto lido), asseguram os processamentos iniciais das
palavras e frases percebidas.
Conforme Damásio e Damásio (2017), a linguagem surge
como produção humana voltada para o mundo exterior (um
conjunto de símbolos corretamente ordenados, difundido para fora
do organismo) e representação intracerebral destes símbolos e
regras para associá-los. O cérebro representa a linguagem e
qualquer outro objeto da mesma forma. Ao estudar as bases
neuronais da representação de objetos, eventos e suas relações,
os neurologistas esperam descobrir os mecanismos de
representação da linguagem. O cérebro elabora a linguagem
mediante a interação de três conjuntos de estruturas neuronais,
segundo acreditamos. O primeiro, composto de numerosos
sistemas neuronais dos dois hemisférios, representa interações
não lingüísticas entre o corpo e seu meio, percebido por diversos
sistemas sensoriais e motores; ele forja uma representação de
tudo o que uma pessoa faz, percebe, pensa ou sente. Além de
decompor essas representações não lingüísticas (forma, cor,
sucessão no tempo ou importância emocional), o cérebro cria
representações de nível superior, pelas quais gere os resultados
dessa classificação. Assim ordenamos intelectualmente objetos,
eventos e relações. Os níveis sucessivos de categorias e
representações simbólicas produzidos pelo cérebro gerenciam
nossa capacidade de abstração e de metáfora. O segundo, um
conjunto menor de estruturas neuronais, geralmente situadas no
hemisfério esquerdo, representa os fonemas, suas combinações e
as regras sintáticas de ordenação destas palavras em frases.
Quando solicitados pelo cérebro, esses sistemas reúnem palavras
em frases destinadas a ser ditas ou escritas,- se demandados em
reação a um estímulo lingüístico externo (uma palavra ouvida ou
um texto lido), asseguram os processamentos iniciais das
palavras e frases percebidas.
202
203

Conforme Damásio e Damásio (2017), o terceiro


conjunto, também presente no hemisfério esquerdo,
coordena os dois primeiros. Produz palavras a partir de
um conceito ou conceitos a partir de palavras. Alguns
trabalhos psicolinguísticos já haviam indagado a
existência dessas estruturas mediadoras. Willem Levelt,
do Instituto de Psicolinguística de Nimégue, Holanda,
sugeriu que as palavras e as frases são elaboradas a
partir de conceitos por um elemento mediador chamado
de "lema".
204

Capitulo 12
A Neurobiologia da
dança e da música
A base neural da dança
Muitas atividades sensório-motoras naturais e complexas
envolvem a integração de ritmos, padrões espaciai, sincronização
à estimulos externos e coordenação de todo o corpo. Tais
atividades incluem adaptações evolutivas antigas, como a caça, a
luta e as brincadeiras jogando, bem como mais as recentes, como
o trabalho físico em grupo, marchas, as performances musicais e
esportes. Os estudos de neuroimagem tem examinado alguns
componentes dessas ações complexas, como o arrastar do
movimento para cronometristas externos ou o padrão espacial do
movimento dos membros. No entanto, esta pesquisa tipicamente
estudou processos elementares, como a rotação do tornozelo ou
o toque dos dedos (Brown e cols, 2006).

Dança de Henri Matisse93 (1869-1954).

93 Henri Émile Benoît Matisse (Le CateauCambrésis, 31 de dezembro de 1869


— Nice, 3 de novembro de 1954) foi um artista francês, conhecido por seu uso
da cor e sua arte de desenhar, fluida e original. Foi um desenhista, gravurista e
escultor, mas é principalmente conhecido como um pintor. Matisse é
considerado, juntamente com Picasso e Marcel Duchamp, como um dos três
artistas seminais do século XX, responsável por uma evolução significativa na
pintura e na escultura. Embora fosse inicialmente rotulado de fauvista (uso de
cores puras, sem misturar com outras), na década de 1920 ele foi cada vez
mais aclamado como um defensor da tradição clássica na pintura francesa.
Seu domínio da linguagem expressiva da cor e do desenho, exibido em um
205

Os estudos de neuroimagem examinaram alguns


componentes dessas ações complexas, como os movimentos e
os padrão espaciais dos movimento dos membros. No entanto,
muitas estas pesquisas estudaram processos elementares, como
a rotação do tornozelo ou o toque dos dedos.

Coreografias cerebrais
Steven Brown e Lawrence M. Parsons (2017), escreveram
que o ritmo parece algo tão natural que muitos acreditam ser
automático ouvir música e marcar o compasso com os pés ou
balançar o corpo, às vezes sem nos darmos conta de que
estamos nos movimentando. Essa habilidade, porém, é uma
novidade evolucionária entre os humanos e nada comparável
acontece com qualquer outra espécie animal. Nosso dom para a
sincronização inconsciente nos permite utilizar a confluência de
movimentos, ritmo e representações gestuais – longe da prática
coletiva, mas sincronizados. Dançar exige um tipo de
coordenação interpessoal no espaço e tempo quase inexistente
em outros contextos sociais. E, embora seja uma forma
fundamental de expressão humana, por muito tempo recebeu
pouca atenção dos neurocientistas.
Entretanto, recentemente, pesquisadores realizaram os
primeiros estudos com imageamento do cérebro de dançarinos
amadores e profissionais. Essas investigações esclarecem pontos
intrigantes sobre a complicada coordenação mental necessária
para executar até mesmo os passos aparentemente mais básicos.
Os estudos começaram com a análise de movimentos isolados
como os giros do tornozelo ou o tamborilar dos dedos. Esses
trabalhos revelaram informações sobre como o cérebro coordena
ações simples. Pular com um pé só exige consciência espacial e
equilíbrio, além de intenção e sincronismo (habilidades
ligadas ao sistema sensório motor).
A dança é uma ação sensório-motora complexa: os
processos elementares conhecidos que subjazem os movimentos
simples que aumentam ("scale up") os movimentos de corpo
inteiro ritmicamente cronometrados e espacialmente vistos na

conjunto de obras ao longo de mais de meio século, valeram-lhe o


reconhecimento como uma figura de liderança na arte moderna.
206

dança humana? O objetivo do estudo realizado por Brown e


Parsons (2017), foi explorar essas e questões relacionadas no
contexto da análise pela primeira vez da base neural da dança. A
dança é um comportamento humano universal, um associado a
rituais grupais.

Pinturas ruprestes em cavernas na India.

Nos últimos anos, tem sido descoberta pinturas


rupestres em abrigos na colina de Patni Ki Rahari, perto
de Bari, na estrada Bhopal Bareli. Entre 1981 e 1990,
com a ajuda das tribos locais, foram descobertas quinze
pinturas em rochas nas colinas de Pachmarhi. Na Índia,
mais de 150 locais estão localizados em mais de mil
abrigos que contêm pinturas.

Embora seja retratado na arte da caverna há mais de 20


000 anos, a dança pode ser muito mais antiga do que isso. A
dança pode, na verdade, ser tão antiga quanto as capacidades
humanas para a caminhada e a corrida bípedes, que datam de 2
a 5 milhões de anos.

Neurobiologia dos
movimento na dança
Uma das principais propriedades da dança é que os
movimentos do corpo são organizados em padrões espaciais.
Este padrão de movimento abrange um mapa de trajetória do
corpo no espaço exocêntrico, bem como um mapa cinestésico e
visual do esquema corporal no espaço egocêntrico.
207

Movimentos de dança e corpo


organizados em padrões espaciais

Os padrões de deslocamento da dança podem envolver


qualquer parte do corpo; toda dança pode ser caracterizada pela
identidade e número de suas unidades de movimento
participantes. Além disso, as danças tendem a ser modulares em
organização, sendo composta de seções discretas que são
concatenadas ou intercaladas uma com a outra ciclicamente.
Devido a esta organização combinatória, as danças são passíveis
de análise gramatical e descrição.
O córtex parietal posterior – situado na parte de trás do
cérebro – traduz informações visuais em comandos motores,
enviando sinais para as regiões de planejamento do movimento
no córtex prémotor, na área motora suplementar. Essas
instruções vão para o córtex motor primário onde são gerados
então impulsos neurais que viajam para a medula espinhal e para
os músculos, provocando contrações.
Ao mesmo tempo, os órgãos sensoriais nos músculos
mandam uma resposta ao cérebro, dando a
orientação exata do corpo no espaço por meio de nervos
que passam pela medula espinhal até chegar ao córtex. Os
circuitos sub-corticais do cerebelo e dos gânglios de base também
ajudam a atualizar os comandos motores com base na resposta
sensorial e no ajuste de movimentos. O que permanece sem
resposta é se esses mesmos mecanismos neurais se ampliam
para permitir que essas manobras sejam tão graciosas quanto
uma pirueta, por exemplo. Para responder a essa questão,
realizamos o primeiro estudo de imageamento cerebral dos
movimentos da dança, em conjunto com nosso colega Michael J.
Martinez, do Health Science Center da Universidade do Texas,
em San Antonio, usando dançarinos amadores de tango como
voluntários. Escaneamos o cérebro de cinco homens e cinco
208

mulheres usando a tomografia de emissão de pósitrons, que


registra as mudanças no fluxo sangüíneo cerebral seguidas por
alterações na atividade cerebral. Os pesquisadores interpretam o
aumento no fluxo sangüíneo em uma área específica como sinal
de uma atividade maior entre os neurônios da região. Nossos
voluntários permaneceram parados dentro da máquina de
tomografia, com a cabeça imobilizada, mas movendo as pernas e
deslizando os pés por uma superfície inclinada. Primeiro, pedimos
que fizessem o passo quadrado, derivado do passo básico do
tango argentino chamado salida, sincronizando seus movimentos
no ritmo das músicas que ouviam por fones. Em seguida,
escaneamos o cérebro dos dançarinos enquanto flexionavam os
músculos da perna no ritmo da música, sem de fato moverem
esses membros. Ao subtrair a atividade cerebral obtida por essa
simples flexão daquela registrada enquanto “dançavam”,
focarmos nossa atenção em áreas cerebrais vitais para direcionar
as pernas pelo espaço, gerando padrões específicos de
movimento. Como era esperado, essa comparação eliminou
muitas das áreas motoras básicas do cérebro. Uma área utilizada
foi a parte do lobo parietal que contribui para percepção e
posicionamento do tronco e membros o tempo todo, mesmo com
os olhos fechados, graças aos órgãos sensoriais dos músculos.
Eles graduam a rotação de cada junta e a tensão dos músculos e
retransmitem essas informações para o cérebro que cria uma
representação articulada do corpo como resposta. Mais
especificamente, identificamos ativação no precuneus, região do
lobo parietal muito próxima de onde fica a representação
cinestésica das pernas. Acreditamos que o precuneus contenha
um “mapa” cinestésico que permite uma consciência do
posicionamento do corpo no espaço enquanto as pessoas se
movem à sua volta. Não importa se alguém está dançando uma
valsa ou andando em linha reta: o precuneus ajuda a traçar seu
caminho e assim o faz a partir de uma perspectiva centrada no
corpo. Em seguida, comparamos as tomografias realizadas
durante a dança com aquelas feitas enquanto nossos voluntários
faziam os passos do tango sem música. Ao eliminar as imagens
das regiões do cérebro em comum ativadas pelas ações,
esperávamos identificar áreas críticas para a sincronização dos
movimentos com a música. Novamente, essa subtração removeu
praticamente todas as áreas motoras do cérebro. A diferença
principal estava na parte do cerebelo que recebe informações da
209

medula espinhal. Embora ambas as condições tenham ativado


essa área – o vérmis anterior – os passos de dança sincronizados
com a música geraram significativamente mais fluxo de sangue no
local que a dança autoritmada. Embora preliminares, nossos
resultados nos levam a crer na hipótese de que essa parte do
cerebelo atua como um tipo de maestro, monitorando as
informações em várias regiões do cérebro. O cerebelo como um
todo atende a todos os critérios para um bom metrônomo neural:
recebe uma ampla gama de informações sensoriais dos sistemas
corticais auditivo, visual e somatossensório – uma capacidade
necessária para sincronizar movimentos a diversos estímulos,
desde sons até flashes luminosos e toques; e contém
representações sensóriomotoras para o corpo inteiro.
Inesperadamente, nossa segunda análise também elucida a
tendência dos humanos de mover os pés inconscientemente ao
ritmo de uma música. Ao comparar as imagens dos movimentos
sincronizados com o som às dos movimentos autoritmados,
descobrimos que uma parte inferior da via auditiva, uma estrutura
subcortical chamada núcleo geniculado medial – MGN, na sigla
em inglês –, era ativada apenas durante a primeira ação. No
início, partimos do pressuposto de que esse resultado refletia
meramente a presença de um estímulo auditivo – isto é, a música
– na situação sincronizada, mas outro conjunto de imagens de
controle excluiu essa interpretação: quando nossos voluntários
escutavam música, mas não moviam as pernas, não detectamos
mudança no fluxo sangüíneo do MGN. Assim, concluímos que a
atividade do núcleo referese especificamente à sincronização e
não apenas ao ato de ouvir. Essa descoberta nos levou a admitir
a hipótese de que o sincronismo inconsciente ocorra quando uma
mensagem auditiva neural se projeta diretamente nos circuitos
auditivos e de ritmo presente no cerebelo, desviando-se de áreas
auditivas superiores no córtex cerebral. Outras partes do cérebro
são ativadas quando observamos e aprendemos passos de
dança. Os pesquisadores Beatriz Calvo Merino e Patrick
Haggard, da Universidade College London, e seus colegas
pesquisaram se áreas cerebrais específicas se tornavam ativas
preferencialmente quando as pessoas observavam passos que já
dominavam. Ou seja, será possível que existam áreas cerebrais
que se ativam quando bailarinos assistem a uma apresentação de
balé, mas não, por exemplo, quando assistem a uma
apresentação de capoeira? Para desvendar esse mistério, a
210

equipe fez ressonâncias magnéticas funcionais de dançarinos,


capoeiristas e não praticantes à medida que observavam vídeos
de três segundos de movimentos de balé e capoeira, sem áudio.
Os pesquisadores descobriram que a experiência dos
observadores tinha grande influência no córtex prémotor: a
atividade no local aumentou apenas quando os voluntários
observavam as danças que eles mesmos sabiam executar. Outro
trabalho oferece uma explicação provável. Os cientistas
descobriram que, quando as pessoas observam ações simples,
áreas do córtex prémotor envolvidas na realização dessas ações
se ativam, o que sugere que nós mentalmente ensaiamos o que
vemos – uma prática que pode nos ajudar a aprender e entender
novos movimentos. Os pesquisadores estão avaliando até que
ponto os humanos dependem de circuitos de imitação desse tipo.
Em um trabalho posterior, Calvo Merino comparou o cérebro de
bailarinos de ambos os sexos enquanto observavam vídeos de
dançarinos homens e mulheres praticando passos específicos
para cada gênero. Novamente, os níveis mais altos de atividade
no córtex prémotor eram dos homens que observavam
movimentos apenas masculinos, e de mulheres que observavam
gestos só femininos. Na verdade, a capacidade de ensaiar um
movimento na mente é vital para as habilidades de aprendizado
motor. Em 2006, Emily S. Cross, Scott T. Grafton e seus colegas
do DartmouthCollege avaliaram se os circuitos de imitação no
cérebro aumentam sua atividade à medida que ocorre o
aprendizado. Por várias semanas, a equipe realizou ressonâncias
magnéticas funcionais de dançarinos à medida que aprendiam
uma seqüência complexa de dança moderna. Durante o exame
de imageamento, os voluntários observavam vídeos de cinco
segundos que mostravam algum movimento que já dominavam ou
outros passos diferentes, nãorelacionados ao contexto. Após cada
clipe, os voluntários classificavam sua capacidade de executar
satisfatoriamente os movimentos que observaram. Os resultados
confirmaram a hipótese de Calvo Merino e de seus colegas. A
atividade no córtex prémotor aumentou durante o treinamento e,
de fato, correspondia às avaliações dos voluntários sobre sua
capacidade de realizar um segmento de dança observado.
Conclusão: aprender uma seqüência motora complexa ativa, além
de um sistema motor direto para o controle das contrações dos
músculos, um sistema de planejamento motor que contém
informações sobre a capacidade do corpo de realizar um
211

movimento específico. Quanto mais experiente a pessoa se torna


em um determinado padrão motor, melhor consegue imaginar
qual a sensação de executálo, e assim, fica mais fácil realizálo.
Entretanto, como nossa pesquisa demonstra, a capacidade de
simular uma seqüência de dança – ou fazer um saque no tênis –
não é uma atividade simplesmente visual, também é cinestésica.
Aliás, a verdadeira aptidão exige, de certo modo, a criação de
uma imagem motora nas áreas de planejamento do movimento do
cérebro.

Singularidades da
cognição na dança
Maria Helena Franco de Araujo Bastos (2014) em seu
artigo intitulado “Corpoestados: singularidades da cognição em
dança” aborda o ato de dançar como modo de elaboração de
conceitos, por meios dos quais o artista de dança reinventa o
corpo e potencializa sua existência no mundo. No horizonte de
análise que se adota, ação e cognição dão-se numa mesma
escala temporal, sem distinções entre teoria e prática. A
proposição do conceito de corpoestados é uma das vias de
operação desse modo de conhecer, já que considera as ações
mentais e os atos comportamentais como processos emergentes
e comprometidos com os diversos contextos em que estão
inseridos.
A autora escreveu que Gardner94 (1999) fala de inteligência
corporal e explica que uma grande parte da atividade motora
apresenta interações sutis entre o sistema perceptual e o motor.
Este apresenta um funcionamento extremamente complexo que
exige uma coordenação de uma grande variedade entre
componentes neurais e musculares de uma forma diversificada e
cooperada. Segundo ela, cabe a nós aprendermos com esse
corpo que dança nas suas diversas instâncias e no ambiente que
lhe couber. Nesse sentido, nossa tarefa é tornarmo-nos
inventores de experimentos para descobrir de que somos feitos e
como somos construídos. Precisamos manter vivo um plano de
94 GARDNER, H. Arte, Mente e Cérebro. Tradução: Sandra Costa. Porto
Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
212

construção para nos tornarmos autores do nosso corpo que


dança. Conhecer é construir. Em dança, esse conhecimento se dá
com o movimento no espaço, isto é, caminhos no corpo enquanto
matrizes cinéticas que se fundem no próprio corpo em que todas
as ações estão movidas por um propósito. Na maneira de se criar
uma dança, o coreógrafo cria uma lógica particular na composição
de uma série de movimentos. No tempo, essa lógica pode
detectar um novo padrão. Em tempo, essa lógica transforma-se
em rastros. Rastros de corpos, pedaços de ideias, enfim, misturas
que podem levar a uma nova dança. Cada corpo que dança
possui rastros de muitas danças. São conquistas de momentos,
espaços entre singularidades que dançam.
Conforme Mignac (2017), Lakoff e Johnson propuseram o
conceito de “embodiment” – mente “corponectada”, onde a mente
não é fora do corpo como se acreditava, e a razão nasce da
natureza dos nossos corpos, cérebros e experiência corporal.
Neste sentido a mente é corponectada e a razão é formatada
pelas pecularidades do nosso corpo humano, pelos detalhes da
estrutura neural de nossos cérebros e pela especificidade da
nossa função cotidiana no mundo. Desta forma, segundo estes
autores, a compreensão que podemos ter do mundo só pode
estar estruturada em termos de conceitos moldados pelos nossos
corpos. Assim, toda inferência conceitual é também uma
inferência sensório-motora, o que legitima as artes do corpo como
área de conhecimento, e o corpo como local de cognição.
Conforme a mesma autora, O termo "embodiment" é utilizado por
Lakoff e Johnson para o entendimento da mente/corpo
inseparáveis. Para estes autores o processo de conhecimento se
dá no corpo. É o corpo que conhece. É o corpo que pensa. O
pensamento não se produz na razão, fora do corpo. George
Lakoff é lingüista cognitivo e professor de Lingüística da
Universidade da Califórnia em Berkeley, EUA. Foi um dos
fundadores da Lingüística Gerativa dos anos 60 e da Lingüística
Cognitiva nos anos 70. Em parceria com Mark Jonhson foi autor
dos livros: Metaphors We Live By (1980) e Philosophy in the
Flesh, the embodied mind and its challenge to Western Thought
(1999). Mark Johnson é filósofo cognitivo, professor e
coordenador do Departamento de Filosofia da Universidade de
Oregon. Parceiro de George Lakoff, é bem conhecido por
contribuições no campo da Filosofia, Ciência Cognitiva e
Lingüística Cognitiva.
213

Papel social da dança


Afinal, por que as pessoas dançam? Certamente a música
e a dança estão intimamente relacionadas. Em muitos casos, a
dança gera som. Os danzantes (ou “dançarinos”) astecas da
Cidade do México vestem calças chamadas chachayotes,
bordadas com sementes da árvore ayoyotl, que emitem um som a
cada passo.
Em muitas outras culturas, as pessoas usam objetos que
produzem sons – de metal na sola dos sapatos a castanholas e
guizos – no corpo e nas roupas enquanto dançam. Além disso, os
dançarinos freqüentemente batem palmas e estalam os dedos.
Como resultado, estabelecemos a hipótese da “percussão do
corpo” em que a dança evoluiu inicialmente como um fenômeno
sonoro.
Entretanto, diferentemente da música, a dança é usada
para representar e imitar gestos, o que sugere que também possa
ter atuado como forma primitiva de linguagem. É interessante
observar que durante a execução dos movimentos, em nosso
estudo, identificamos ativação em uma região do hemisfério
direito correspondente à área de Broca (associada à produção da
fala) no hemisfério esquerdo. Nos últimos anos, pesquisas
revelaram que essa região também tem uma representação das
mãos. A descoberta reforça a teoria gestual da evolução da
linguagem. Seus defensores argumentam que a linguagem
evoluiu inicialmente como um sistema de sinais antes de se tornar
vocal. Nosso estudo está entre os primeiros a demonstrar que o
movimento das pernas ativa a área do hemisfério direito
correspondente à área de Broca, o que dá mais sustentação à
idéia de que a dança inicia como uma forma de comunicação
representativa.
Em um estudo de 2003, Marco Iacoboni, da Universidade
da Califórnia em Los Angeles, e seus colegas aplicaram estímulo
magnético no cérebro para interromper o funcionamento da área
de Broca ou de sua homóloga. Em ambos os casos, os
voluntários foram menos capazes de imitar os movimentos dos
dedos com a mão direita. O grupo concluiu que essas áreas são
essenciais para a imitação, um ingredientechave para o
aprendizado e para a difusão da cultura.
214

Também temos outra hipótese. Embora nosso estudo não


envolva exatamente movimentos imitados, tanto dançar tango
quanto imitar movimentos com os dedos exige que o cérebro
ordene séries de ações interdependentes. Da mesma forma que a
área de Broca nos ajuda a combinar corretamente palavras e
frases, sua homóloga pode servir para posicionar unidades de
ações em seqüências contínuas. Essa interação permite que as
pessoas não só contem histórias usando o corpo como também
façam isso ao mesmo tempo que sincronizam seus movimentos
com os de outros, de maneira a estimular a coesão social.

Conceitos chave
A dança é uma forma fundamental da expressão humana
que provavelmente evoluiu junto com a música. A interação
dessas duas formas de expressão permite o surgimento do ritmo
dançar exige habilidades mentais especializadas. Em uma área
do cérebro está representada a orientação do corpo, que ajuda a
direcionar nossos movimentos pelo espaço; outra região funciona
como um tipo de sincronizador, tornando possível combinar os
movimentos ao ritmo da música.
A sincronização inconsciente – o processo que nos faz
marcar o ritmo distraidamente com os pés – é o reflexo de
propensão para dançar. Isso ocorre quando certas regiões
cerebrais subcorticais se comunicam, desviando-se de áreas
auditivas superiores.

Áreas responsáveis
pelo movimento
O planejamento do movimento (esquerda) ocorre no lobo
frontal, onde o córtex pré-frontal na superfície externa (não visível)
e a área motora suplementar analisam os sinais (setas) que
chegam de outras partes no cérebro, indicando essa informação
como uma posição no espaço e lembranças de ações passadas.
Em seguida, essas duas áreas se comunicam com o córtex motor
primário, que determina quais músculos precisam se contrair, e
com qual intensidade, e envia as instruções pela medula espinhal
até os músculos.
215

O ajuste fino (direita) ocorre, em parte, à medida que os


músculos devolvem os sinais para o cérebro. O cerebelo usa essa
resposta muscular para ajudar a manter o equilíbrio e aprimorar
os movimentos. Além disso, o gânglio de base reúne informações
sensoriais das regiões corticais e as transmite por meio do tálamo
até áreas motoras do córtex.

O sofisticado
deslocamento dos pés
Para identificar as áreas do cérebro importantes para a
dança, os autores analisaram dançarinos amadores de tango com
a ajuda de um tomógrafo PET. A cabeça dos dançarinos
permaneceu imóvel no aparelho, e suas pernas, sobre uma
superfície inclinada, enquanto ouviam a música em fones de
ouvido (foto). A máquina escaneou o cérebro em duas condições:
quando os dançarinos flexionavam os músculos da perna no ritmo
da música, sem mover os membros, e quando executavam um
passo básico de tango (destaque) e no ritmo da música. Quando
foi retirada a atividade cerebral provocada pela contração
muscular das obtidas durante o passo restou “acesa” só uma
parte do lobo parietal conhecida como precuneus.

Áreas responsáveis pelo movimento.

Coreografia mental
Vérmis anterior
216

Esta parte do cerebelo recebe informações da


medula espinhal e aparentemente age como se fosse
um metrônomo, ajudando a sincronizar os passos de
dança à música.

Dança no Moulin Rouge95 por Henri de Toulouse-Lautrec96.

95 Moulin Rouge (que em português significa Moinho Vermelho) é um cabaré


tradicional, construído no ano de 1889 por Josep Oller, que já era proprietário
anteriormente do Paris Olympia. Situado na zona de Pigalle no Boulevard de
Clichy, ao pé de Montmartre, em Paris, França. É famoso pela inclusão no
terraço do seu edifício de um grande moinho vermelho. O Moulin Rouge é um
símbolo emblemático da noite parisiense, e tem uma rica história ligada à
boémia da cidade.
96 Henri Marie Raymond de Toulouse-Lautrec Monfa (Albi, 24 de novembro de

1864 — SaintAndréduBois, 9 de setembro de 1901) foi um pintor pós-


impressionista e litógrafo francês, conhecido por pintar a vida boêmia de Paris
do final do século XIX. Sendo ele mesmo um boêmio, faleceu precocemente
aos 36 anos de sífilis e alcoolismo. Trabalhou por menos de vinte anos mas
deixou um legado artístico importantíssimo, tanto no que se refere à qualidade
e quantidade de suas obras, como também no que se refere à popularização e
comercialização da arte. Toulouse-Lautrec revolucionou o design gráfico dos
cartazes publicitários, ajudando a definir o estilo que seria posteriormente
conhecido como Art Nouveau. Filho mais velho do Conde
ToulouseLautrecMonfa, de quem deveria herdar o título, falecendo antes do
pai.
217

Núcleo geniculado medial


Uma interrupção ao longo da via auditiva inferior, esta área
aparentemente ajuda a configurar o metrônomo do cérebro e é
responsável por nossa tendência para tamborilar os dedos
inconscientemente ou balançar o corpo ao ritmo de uma música.
Reagimos inconscientemente, pois a região está conectada ao
cerebelo, comunicando informações sobre o ritmo sem “falar” com
as áreas auditivas superiores no córtex.

Precuneus
Por conter um mapa baseado nos estímulos sensoriais do
próprio corpo, o precuneus ajuda a identificar o trajeto de um
dançarino a partir de uma perspectiva voltada para o corpo, ou
egocêntrica.

Coreografia mental e suas áreas.

Neurobiologia da música
As "emoções básicas" (ver capítulo sobre a neurobiologia
das emoções) referem-se a emoções como a felicidade, tristeza,
raiva e medo. Tais emoções básicas são hoje o foco principal dos
estudos neuropsicológicos, porque as emoções são assumidas
como inatos, reflexos - semelhantes a circuitos que causam um
distinta e reconhecível padrão comportamental e fisiológico.
218

Embora básicas, as emoções podem diferir da maioria das


experiências adultas ao ouvir música. Muitos pesquisadores
acreditam que a música possa induzir a felicidade, tristeza ou
medo. Essas emoções básicas são tipicamente alvo de faixas
sonoras de filmes, especialmente aqueles destinados a crianças.
Além disso, essas emoções básicas estão entre as mais fáceis de
reconhecer e se comunicar na música.
A hipótese de que as emoções musicais básicas exibem
universalidade são importantes desde uma perspectiva
neuropsicológica. Nesta visão, a organização do cérebro para
essas emoções deveria recrutar redes neurais que são fixadas
não apenas entre membros da mesma cultura, mas entre
membros de diferentes culturas. Desde a que ainda não existe um
estudo transcultural dos correlatos neurais das emoções musicais,
vamos concentrar aqui em ouvintes ocidentais e examinaremos
as áreas especificas do cérebro que foram identificados até o
momento no processamento de emoções musicais.

O caminho neural
emocional da música
Conforme (), os dois únicos estudos empíricos que o
reconhecimento das emoções musicais no autismo não relatou
emoções prejudicadas processamento. Em ambos estudos,
crianças autistas e jovens adultos poderiam reconhecer as
emoções básicas da música com a mesma precisão que as
"normais". Pode ainda ser o caso que indivíduos autistas
descodificam emoções musicais de forma qualitativa anômala.
Por exemplo, crianças autistas podem reconhecer e imitar
expressões faciais como fazem os normais, mas nenhum
neurônio espelho. A atividade é observada no giro frontal inferior.
Na verdade, há pouca evidência atual de que todas as
emoções musicais podem ser ():
(1) seletivamente perdida após danos cerebrais ou
(2) nunca adquirida, como consequência, uma desordem
neurogenética.
No entanto, há evidências claras de que emoções
específicas podem ser perdidas após danos cerebrais. Este é o
caso do reconhecimento de músicas "assustadoras" ou até certo
ponto, "triste" após danos à amígdala.
219

Localização da amígdala no cérebro.

Existem dois níveis plausíveis em que a emoção e a


percepção podem se bifurcar no processamento da música: logo
após uma análise acústica rápida da entrada musical, ou mais
tarde, após análise detalhada de características emocionais.
Considere um repentino acorde dissonante ou choque de
címbalos, o que pode provocar uma reação rápida e reflexa na via
subcortical, na ausência de análise detalhada da música. Esse
papel de alerta provavelmente é muitas vezes explorado nas
trilhas sonoras de filmes de terror. Em contraste, a alternância
freqüente entre os modos tonais maiores e menores na música
Klezmer97 é mais provável que seja mediada corticalmente.
A via emocional subcortical classicamente atinge primeiro o sistema
límbico (por exemplo, a amígdala, veja a figura). Este sistema, chamado 'le grand
lobe limbique' de Broca (1878), corresponde a estruturas subcorticais que
surgiram no início da evolução e são semelhantes entre as espécies. O sistema
límbico foi designado como o substrato das emoções por Broca há um século, e
depois também por Papez98 (1937). Desde então, o conceito evoluiu gradualmente
97 Klezmer (através do hebraico kèléy zemer, "instrumentos musicais") é um
gênero de música não-litúrgica judaica, desenvolvido a partir do século XV
pelos asquenazes. A princípio a palavra klezmer (plural klezmorim) designava
apenas os instrumentos musicais, sendo posteriormente estendida aos próprios
músicos - estes vistos com pouco apreço pois em geral não sabiam ler
música e portanto, tocavam melodias de ouvido. Somente na segunda metade
do século XX klezmer passou a identificar um gênero, antes referido
simplesmente como música yiddish .
98 PAPEZ, J. (1937). A proposed mechanism for emotion. Archives of

Neurology and Psychiatry, 38,


220

para incluir muitas outras regiões, tanto corticais quanto subcorticais. Em outras
palavras, as emoções não estão mais confiáveis para o funcionamento do sistema
límbico, embora o sistema límbico mantenha um papel fundamental.

A via emocional subcortical classicamente atinge


primeiro o sistema límbico. Adaptado de Peretz (2017).

725–43.
221

Capítulo 13
A Neurobiologia, a
Inteligência Artificial e
a Psicologia Conexionista
A conexão entre a linguagem que nós
pensamos\programamos e os problemas e soluções que
possamos imaginar é muito forte. Por essa razão,
restringir recursos da linguagem com a intenção de
eliminar erros do programador é, na melhor das
hipóteses, muito perigoso.
Bjarne Stroustrup

“A inteligência humana99 pode ser tão precisamente


descrita que é possível construir uma máquina que a simule”,
acreditava o cientista americano John McCarthy (1927-2011), que
em 1955 cunhou um termo desconcertante: Inteligência Artificial
(Vilicic e Thomas, 2017).
Recentemente o Facebook100 decidiu desligar um
experimento envolvendo chatbots depois que descobriu que o
robô tinha desenvolvido uma linguagem própria para conversar

99 Latim intellectus[3], de intelligere = inteligir, entender, compreender.


Composto de íntus = dentro e lègere = recolher, escolher, ler (cfr. Intendere).
Inteligência tem sido definida popularmente e ao longo da história de muitas
formas diferentes, tal como em termos da capacidade de alguém/algo para
lógica, abstração, memorização, compreensão, autoconhecimento,
comunicação, aprendizado, controle emocional, planejamento e resolução de
problemas. Dentro da psicologia, vários enfoques distintos já foram adotados
para definir inteligência humana. A psicometria é metodologia mais usada e
mais conhecida do público geral, além de ser a mais pesquisada e amplamente
usada. Conforme a definição que se tome, a inteligência pode ser considerada
um dos aspectos da linguagem ou um traço de personalidade.
100 Facebook é uma rede social lançada em 4 de fevereiro de 2004, operado e de

propriedade privada da Facebook Inc.. Em 4 de outubro de 2012, o Facebook


atingiu a marca de 1 bilhão de usuários ativos, sendo por isso a maior rede social
em todo o mundo.
222

com outra inteligência artifcial. Batizados de Alice e Bob, os dois


robôs criados para uma experiência que visava monitorar a
capacidade de negociação entre dois robôs numa conversa. Com
o tempo, os mecanismos de aprendizado das duas inteligências
artificiais começaram a inventar novas frases, criando uma
linguagem fora dos padrões orientados pelos programadores
(Garrett, 2017).
Já em Isaac Asimov101 escreveu na introdução do seu livro
Eu, Robô(1969)102:

Olhei para minhas anotações e não gostei delas.


Passara três dias na U.S. Robôs e bem poderia tê-los
passado em casa, lendo a Enciclopédia Telúrica.

No mesmo livro encontramos:

As Três Leis da Robótica:


1 – Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão,
permitir que um ser humano sofra algum mal.
2 – Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por
seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem
a Primeira Lei.
3 – Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal
proteção não entre em conflito com a Primeira e a Segunda Leis.

Símbolos: a hipótese cognitivista


Conforme Hawerroth (2017), a ciência cognitiva e a
experiência humana são temas abordados de acordo com suas
origens históricas. Afirmam os autores que a formação da ciência
da cognição se deu entre 1943 e 1953, sendo o tema considerado
101 Nascido na Rússia, o Dr. Asimov estudou na Universidade de Columbia,
onde se graduou em 1948; foi professor assistente de Bioquímica na Escola de
Medicina da Universidade de Boston. Em 1958, deixou este cargo para se
dedicar inteiramente à sua atividade de escritor. O nome deste autor tornou-se
familiar no decorrer das últimas décadas, tanto para cientistas como para
leitores de ficção-científica. Escritor de enorme talento e assaz prolífico, ostenta
um impressionante recorde de mais de cinqüenta sucessos literários no
domínio da ficção e da não ficção, incluindo a famosa série “Fundação”.
102 Eu, Robô de Isaac Asimov “Para John W. Campbell, Jr., que apadrinhou os

robôs.” 2ª Edição em português: agosto de 1969 Tradução de Luiz Horácio da


Matta.
223

profundo e difícil. Os seus precursores também entenderam que


se tratava de uma ciência inédita e, assim conferiram-lhe o nome
de cibernética. O objetivo do movimento cibernético foi o de
desenvolver uma ciência da mente. Cibernética é um termo em
desuso e os cientistas da cognição não reconhecem qualquer
relação entre as duas áreas. Isto deu em função da ciência se
voltar a uma tendência mais cognitivista, ampliando desta forma
as suas possibilidades de desenvolvimento.
A cibernética possibilitou extraordinários resultados que ainda
repercutem atualmente, tais como:
1. O uso da lógica matemática para compreensão do sistema
nervoso;
2. A invenção de máquinas de processamento de informação
(ex: computadores digitais) que estabeleceram a base para a
inteligência artificial;
3. O estabelecimento da metadisciplina da teoria de sistemas
que teve e tem uma influência nítida em muitos ramos da ciência;
4. A teoria da informação como uma teoria estatística de
sinais e canais de comunicação;
5. Os primeiros sistemas auto-organizáveis.
Os integrantes do movimento cibernético entendiam que o
desenvolvimento dos fenômenos mentais era um monopólio que
era trabalhado a muito tempo apenas psicólogos e filósofos, alem
do que eles se sentiam aptos a exprimir os processos subjacentes
aos fenômenos mentais em mecanismos explícitos e formalismos
matemáticos.
Esta forma de pensar foi referenciada por um artigo que por sua
vez desencadeou dois fatos primordiais:
1. Inicialmente, a proposta de que a lógica é a disciplina
adequada para compreender o cérebro e a atividade mental;
2. E, em seguida, a afirmação de que o cérebro é um
aparelho que incorpora princípios lógicos nos seus elementos
componentes ou neurônios.
Situação que considera cada neurônio como sendo um
mecanismo de limiar podendo estar ativo ou não, que pode,
ainda, estar ou ser ligado a outros, executando através dessas
interligações o papel de operações lógicas, de contexto no qual o
cérebro podia ser considerado uma máquina dedutiva.
Tais idéias foram essenciais para o desenvolvimento dos
computadores digitais, e isto por sua vez embasou o estudo
224

cientifico da mente que se cristalizaria nos anos seguintes como o


paradigma cognitivista.
Ainda é discutido se a lógica ser ou não suficiente para a
compreensão das ações do cérebro. Varias teorias e modelos
foram desenvolvidos, todavia a maioria ficou estagnada até a
década de 70, quando foram reapresentadas como alternativa
viável a ciência cognitiva.
Do mesmo modo que a cibernética surgiu em 1943, o
cognitivismo nasceu em 1956, através da formulação de novas
idéias, que se tornariam as diretrizes da ciência cognitiva
moderna.
A percepção que traz o cognitivismo é que a inteligência se
assemelha de tal sorte a computação, que a cognição poderia ser
entendida como processos computacionais baseados em
representações simbólicas. Os cognitivistas argumentam que o
comportamento inteligente subentende a capacidade de
representação do mundo de maneira exata.
Todavia, reside o problema de como correlacionar a
atribuição de estados intencionais ou representacionais (crenças,
desejos, intenções, etc.) com as transformações físicas sofridas
por um agente no decorrer de sua ação. Verifica-se que a
hipótese cognitivista implica num forte argumento entre a sintaxe
e a semântica. Para o computador a sintaxe reflete ou codifica a
sua semântica, já para a linguagem humana, não existe a certeza
de que as distinções semânticas relevantes no comportamento
possam ser refletidas sintaticamente.
Vários argumentos filosóficos se opõem a está idéia,
entretanto, não é este o foco pretendido pelos autores. Eles
resumem o programa de investigação cognitivista da seguinte
forma:
1. Cognição é um processamento de informação como
computação simbólica (manipulação de símbolos com base em
regras);
2. A cognição funciona por meio de qualquer instrumento que
possa suportar e manipular elementos funcionais discretos (os
símbolos);
3. Um sistema cognitivo funciona adequadamente quando os
símbolos representam de modo apropriado algum aspecto do
mundo real e o processamento da informação conduz a uma
solução bem sucedida ao problema apresentado ao sistema.
225

A expressão do cognitivismo é verificada na inteligência


artificial que é a interpretação exata da hipótese cognitivista. O
cognitivismo modelou muito do entendimento atual do cérebro. O
pensamento básico é que o cérebro é uma ferramenta de
processamento de informação que responde de maneira seletiva
às características do meio.

A psicologia conexionista
A psicologia conexionista é um campo que se apóia nas
chamadas redes neurais artificiais como veículo para a expressão
matemática dos seus conceitos e teorias. Ela não é o único
campo do conhecimento que faz isso, o que gera certa confusão
entre estudantes iniciantes e leigos em geral que têm dificuldade
em entender que o termo “redes neurais artificiais” pode significar
diferentes coisas em contextos diferentes (Roque, 2017).
Conforme o mesmo autor, por esse motivo, a primeira coisa
que deve ser feita é uma tentativa de mostrar os diferentes
significados do termo “redes neurais artificiais”.
Em ciência da computação e campos relacionados, redes
neurais artificiais (RNAs) são modelos computacionais inspirados
pelo sistema nervoso central de um animal (em particular o
cérebro) que são capazes de realizar o aprendizado de máquina
bem como o reconhecimento de padrões (Wikipédia, 2017).
Redes Neurais Artificiais são técnicas computacionais que
apresentam um modelo matemático inspirado na estrutura neural
de organismos inteligentes e que adquirem conhecimento através
da experiência. Uma grande rede neural artificial pode ter
centenas ou milhares de unidades de processamento; já o
cérebro de um mamífero pode ter muitos bilhões de neurônios.

Breve histórico das Redes Neurais


Um histórico resumido sobre Redes Neurais Artificiais deve
começar por três das mais importantes publicações iniciais,
desenvolvidas por: McCulloch e Pitts (1943), Hebb (1949), e
Rosemblatt (1958). Estas publicações introduziram o primeiro
modelo de redes neurais simulando “máquinas”, o modelo básico
de rede de auto-organização, e o modelo Perceptron de
aprendizado supervisionado, respectivamente. Alguns históricos
226

sobre a área costumam “pular” os anos 60 e 70 e apontar um


reínicio da área com a publicação dos trabalhos de Hopfield
(1982) relatando a utilização de redes simétricas para otimização
e de Rumelhart, Hinton e Williams que introduziram o poderoso
método Backpropagation. Entretanto, para se ter um histórico
completo, devem ser citados alguns pesquisadores que
realizaram, nos anos 60 e 70, importantes trabalhos sobre
modelos de redes neurais em visão, memória, controle e auto-
organização como: Amari, Anderson, Cooper, Cowan, Fukushima,
Grossberg, Kohonen, von der Malsburg, Werbos e Widrow
(ICMC/USP, 2017).

O termo “redes neurais” se sobrepõe a alguns campos


distintos (Roque, 2017):

Redes Neurais Biológicas


(Neurociência Computacional):
Ênfase na biologia: neurociência; − Objetivo: modelar o
processamento de informação nos sistemas neurais biológicos,
com base nas evidências anatômicas, fisiológicas e
comportamentais; − Principais ferramentas: modelos biofísicos
para a membrana neuronal, canais iônicos e contatos sinápticos,
implementados por equações diferenciais resolvidas
numericamente com o auxílio de neuro-simuladores (e.g.,
NEURON, NEST, BRIAN) ou outros programas; modelos
“reduzidos”, tratáveis analítica ou numericamente com o uso de
técnicas de sistemas dinâmicos e mecânica estatística.

Redes Neurais Artificiais


(Subdomínio da Estatística, da
Inteligência Artificial e do Aprendizado
de Máquina):
Ênfase nas aplicações: aprendizado de máquina,
engenharia, processamento de dados e imagens, medicina,
227

finanças, etc; − Objetivo: Resolver problemas de reconhecimento,


classificação e agrupamento de padrões, controle adaptativo e
previsão de séries temporais; − Principais ferramentas: modelos
compostos por elementos (nós ou unidades) inspirados nos
neurônios biológicos e interligados em rede cujos pesos das
conexões são modificados por algoritmos de aprendizado
supervisionado ou não-supervisionado (backpropagation,
aprendizado hebbiano, etc), implementados via pacotes
comerciais ou outros programas; técnicas estatísticas de
processamento e tratamento de dados. − Recentemente, a área
tem sido denominada de “Aprendizagem profunda” (Deep
learning).

Modelos Conexionistas
(Psicologia e Ciência Cognitiva)
Ênfase nos processos mentais: psicologia, ciência
cognitiva, neurociência cognitiva;
− Objetivo: modelar os processos cognitivos e psicológicos
usando modelos inspirados pela arquitetura do cérebro,
representando a informação e os “estados mentais” por padrões
de atividade distribuídos por uma rede de unidades simples ao
invés de por estruturas simbólicas discretas;
− Principais ferramentas: modelos similares aos dos dois
tópicos anteriores; simulações computacionais desses modelos.

O conexionismo
Segundo Psychiatry on line Brasil (2017), o conexionismo é
uma vertente da ciência cognitiva que parte do modelo de redes
neurais artificiais (ou simplesmente “redes neurais”) para explicar
as funções cognitivas humanas. Redes neurais são
processadores que simulam neurônios, interligadas por conexões
que modulam o sinal transmitido na rede. As conexões emulam as
sinapses e suas forças. Tais redes têm a capacidade de aprender
a reconhecer padrões tais como faces, textos, objetos e estrutura
de dados, portanto, não funcionam por programação, mas por
aprendizagem ou autoprogramação. A informação armazena-se
de forma distribuída nas sinapses da rede, formando um padrão,
228

e a ativação desta por inputs completos ou parciais faz emergir


desta distribuição a informação procurada. Sendo o fundamento
do cognitivismo baseado na aprendizagem mediada por sinapses
distribuídas em rede, criou-se o termo conexionismo para
caracterizar este marco conceitual.
Conforme Cielo (2004), em busca da compreensão daquilo
que se interpõe entre o estímulo e a resposta e que era ignorado
pelo paradigma behaviorista, surgiu o Conexionismo, um
paradigma que também parece oferecer plausibilidade de
explicações quanto ao fato de a mente não ser algo com
existência fora da matéria, como supõe o simbolismo. Nessa
abordagem, as descrições cognitivas são construídas por
entidades que são símbolos tanto no sentido semântico de se
referir a objetos externos, quanto no sentido sintático de serem
operadas por manipulação simbólica.
Para a mesma autora O conexionismo, além disso, oferece
provas concretas de que o processamento da linguagem não é
baseado em regras apriorísticas como considera o paradigma
simbólico e provas de como ocorre a percepção do estímulo, sua
análise e transformação em conhecimento, o armazenamento e a
recuperação da informação, sendo essa a grande limitação do
paradigma behaviorista. Apesar de sua emergência datar
aproximadamente da década de 1980, as ideias conexionistas
surgiram juntamente com o inatismo nos anos 50 e 60, tendo sido
abandonadas em
função de óbvias limitações metodológicas, dado o nível técnico-
científico da época.
Na psiquiatria, o conexionismo fundamenta um novo
pensamento em psicopatologia, servindo de substrato a modelos
éticos que possibilitam inferir positivamente na função mental,
ante a impossibilidade de experimentar n vivo em humanos
(Psychiatry on line Brasil, 2017).
Segundo o mesmo autor, a figura abaixo ilustra uma rede
neural artificial típica, com uma camada de neurônios de entrada
(input), que recebem a informação a ser processada; uma
camada de neurônios de saída (output), que fornece a resposta
da informação processada; e os neurônios encobertos ou ocultos,
que formam uma ou mais camadas entre aquelas .
229

.
]
Ao ser estimulada externamente, cada unidade de entrada
emite um valor de ativação a cada uma das unidades das
camadas encobertas à qual está conectada. Cada uma das
unidades encoberta calcula seu próprio valor da ativação,
dependendo dos valores de ativação recebido das unidades de
entrada. Este sinal é então transferido para outras camadas
encobertas (se houver) e daí para as unidades de saída, de modo
que o sinal das unidades de entrada propaga-se por completo na
rede, determinando os valores de ativação em todas as unidades
de saída.
Conforme Cielo (2004), O paradigma conexionista tem
seus fundamentos atuais na neurociência, com as descobertas
sobre a fisiologia do Sistema Nervoso Central. Os modelos
conexionistas, de inspiração neurológica, são computacionais e
se utilizam de “neurocomputadores” ou “redes neuroniais
artificiais”, sendo planejados para tentar desvendar aspectos do
processamento realizado pelo cérebro. Este paradigma assume
que os processos mentais/cerebrais, incluindo aquisição de
conhecimento/aprendizagem e linguagem são resultado da
atividade químico-elétrica inter-sináptica cerebral e que o
comportamento linguístico, apesar de poder ser descrito por
regras, não é governado por elas. Todas as antecipações,
levantamento de possibilidades e conciliações são processados
pelo cérebro/mente em paralelo, mesmo que haja um componente
230

sequencial para poder desempenhá-las. Numa simulação


conexionista, várias unidades de processamento são
massivamente interconectadas em paralelo. Essas unidades
recebem estímulos (valores numéricos) de outras unidades
próximas na rede, conduzindo um novo valor numérico,
computado matematicamente dos valores recebidos, como output.
Existe um limiar, próprio de cada unidade, para a quantidade de
sinais recebidos ativá-la (pesos positivos) e suas conexões se
tornarem excitatórias ou o contrário, o limiar não ser atingido
(pesos negativos) e as conexões se tornarem inibitórias, como
parece ocorrer com o funcionamento do cérebro humano.

Redes neurais e aprendizagem


Segundo a Psychiatry on line Brasil (2017), a ativação do
conjunto da rede é ajustada por “pesos” reguláveis, que
representam a força das conexões entre as unidades. Quando a
rede aprende uma determinada solução, ela armazena
estavelmente o padrão de distribuição de pesos associado àquela
resposta, ou seja, ela cria uma memória. A partir daí a rede
identificará o objeto para a qual foi treinada bastando apresentar-
lhe uma parte deste (memória associativa). A memória de uma
rede, portanto, não está localizada, mas distribuída. Além disso,
ela não processa uma informação de modo sequencial (como os
computadores comuns), mas paralelamente, pois o sinal se
distribui em rede, daí porque este tipo de processamento é
chamado de processamento paralelo distribuído. Percebe-se de
imediato uma das vantagens do processamento paralelo é que se
parte da rede for destruída, não se perde informação significativa,
pois o fluxo de processamento não é interrompido totalmente,
como ocorre no processamento serial.
Os pesos são valores que multiplicam a ativação de uma
conexão e podem ser positivos ou negativos. Maior o valor
absoluto de um peso, mais fortemente excitatória ou inibitória será
a conexão, se os pesos forem positivos ou negativos,
respectivamente. O valor da ativação de cada unidade receptora é
calculado de acordo com uma função de ativação simples. A
função de ativação de cada unidade soma as contribuições
recebidas de todas as unidades emissoras, sendo a contribuição
231

de cada unidade emissora definida como o respectivo valor de


ativação multiplicado pelo peso da conexão entre ela e a unidade
receptora (figura abaixo).

Se o neurônio é do tipo tudo-ou-nada, isto é, de ativação


binária, esta soma é modificada posteriormente de acordo com a
função de Heaviside:

- Se a ≥ 1, dispara um sinal de saída, y


- Se 0 ≤ a < 1, não dispara (não há sinal de saída)

Conforme Psychiatry on line Brasil (2017), os conexionistas


presumem que as bases do funcionamento cognitivo podem ser
explicadas por tais redes. Supondo-se que todas as unidades
possuem a mesma função de ativação simples, a cognição
humana dependeria primariamente da modulação dos pesos das
conexões. Em outras palavras, da facilitação de sinapses em
redes cerebrais formando padrões de distribuição.
Para que uma rede aprenda a executar uma dada tarefa é
necessário ajustar todos os pesos adequadamente. Isto não é
uma coisa fácil e para tal existem algoritmos de aprendizagem
que ajustam os pesos gradualmente até chegar ao conjunto
correto. O algoritmo mais utilizado para tal é o “backprop”, ou
de retropropagação, que parte de um conjunto de treinamento
para uma dada tarefa. Este conjunto consiste em muitos
exemplos de tarefas (entradas) e de suas respectivas soluções
232

(saídas), determinadas por um grupo de especialistas (que


formam uma heurística ou soluções de consenso). Por exemplo,
se a tarefa é distinguir aviões aliados de aviões inimigos, o
conjunto de treinamento pôde conter imagens de diversos tipos de
ambos junto com uma indicação do que a nave representa. Uma
rede capaz de aprender esta tarefa pode ter duas unidades de
saída (indicando as categorias “aliado” e “inimigo”) e muitas
unidades de entrada para cada pixel de imagem. Os pesos da
rede a ser treinada são inicialmente aleatórios, e então as
imagens do conjunto de treinamento são expostas repetidamente
à rede. Os pixels de cada imagem são apresentadas às unidades
de entrada, e a saída fornecida pela rede é comparada com a
resposta desejada a imagem. Se isto não ocorre, um sinal de erro
retorna à rede e todos os pesos da rede são ajustados
ligeiramente, e a operação é repetida milhares de vezes até que o
erro seja o mínimo possível. Por exemplo, quando uma nave
aliada é apresentada às unidades de entrada os pesos são
ajustados de modo que o valor da unidade de saída “aliado” seja
aumentado e o valor da unidade de saída “inimigo” seja
diminuído. Após muitas repetições (chamadas ciclos ou épocas)
deste processo, a rede aprende a produzir a resposta desejada
para cada entrada do conjunto de treinamento. Se o treinamento
foi bem conduzido, a rede aprenderá a reconhecer padrões e
generalizará esta aprendizagem, identificando naves não
apresentadas ou previstas no conjunto treinamento.
De acordo com a Psychiatry on line Brasil (2017), o tipo da
rede ilustrado na primeira figura do assunto (rede feedforward),
não é o mais adequado para se explicar a aprendizagem e os
processos adaptativos, uma vez que a ativação flui das entradas
para as unidades encobertas e daí para as unidades de saída,
sempre neste sentido. Modelos mais realistas deveriam
supostamente incluir muitas camadas encobertas e conexões
recorrentes que retornam os sinais às camadas. Tal recorrência é
necessária para explicar elementos cognitivos tais como a
memória a curto prazo. Além disso, em uma rede feedforward a
repetição da mesma entrada produz sempre a mesma saída, e
sabemos que até mesmo os organismos mais simples habituam-
se (ou aprendem a ignorar) a repetidas apresentações do mesmo
estímulo.
233

Representação no
modelo conexionista
De acordo com Psychiatry on line Brasil (2017), quando
qpensamos em algo, a representação deste algo não está
associada a um neurônio, mas distribuída em uma rede de
neurônios que se espalha por grande parte do cérebro. A noção
de representação distribuída é um paradigma que decorre do
modelo de aprendizagem baseada na formação de sinapses
facilitadas, selecionadas através de estímulos repetidos de
mesma natureza (lei de Hebb).

A teoria hebbiana
A teoria hebbiana descreve um mecanismo básico da plasticidade sináptica no
qual um aumento na eficiência sináptica surge da estimulação repetida e
persistente da célula póssinápticas. Introduzida por Donald Hebb em 1949, é
também chamada de regra de Hebb, postulado de Hebb, e afirma:
Vamos assumir que a persistência ou repetição de uma atividade
reverberatória tende a induzir mudanças celulares duradouras que promovem
estabilidade. (...) quando um axônio da célula A esta próxima o suficiente para
excitar a célula B e repetidamente ou persistentemente segue fazendo com que
a célula dispare, algum processo de crescimento ou alteração metabólica
ocorre em uma ou ambas as células, de forma que aumente a eficácia de A,
como uma das células capazes de fazer com que B dispare.
A teoria é frequentemente resumida como "células que disparam juntas,
permanecem conectadas", apesar dessa afirmação ser uma simplificação
exagerada do sistema nervoso que não deve ser tomada literalmente, bem
como não representa fielmente a afirmação original de Hebb sobre as forças de
troca na conectividade celular. A teoria é comumente evocada para explicar
alguns tipos de aprendizagem associativos no qual a ativação simultânea de
células leva a um crescimento pronunciado na força sináptica. Tal aprendizado
é conhecido como aprendizagem hebbiana.

Além de oferecerem vantagens óbvias sobre as locais,


pois, a informação é preservada quando parte da rede é destruída
ou sobrecarregada, a distribuição da representação em sinapses
da rede, em lugar da formulação de símbolos completos em
neurônios individuais, permite relacionar diferentes
representações por similaridades e diferenças entre esses
padrões. Assim, cada representação conduz informação sobre o
que ela é, o que não é possível se a representação for simbólica.
A representação distribuída oferece uma solução ao enigma
filosófico do significado (Psychiatry on line Brasil, 2017).
234

Deste modo, cada neurônio ativo em uma rede não codifica


símbolo algum. Suas representações são, portanto, sub-
simbólicas, ou seja, não é possível deduzir a partir de um deles o
símbolo ou representação implicado na rede. A natureza sub-
simbólica das representações distribuídas acrescenta uma nova
concepção do modo como o cérebro processa informação.
Suponha que cada neurônio é um código, então a atividade do
cérebro é dada por um extenso vetor de códigos, um para cada
conexão neuronal. Tanto um input sensorial e seu correspondente
output motor podem ser também tratados como vetores do
mesmo tipo.

O paradigma conexionista

O paradigma conexionista apresenta um forte impacto no


campo da cognição porque oferece respostas alternativas a
velhas questões e encontra soluções para problemas ainda não
resolvidos. Naturalmente, é necessário entender o funcionamento
dos modelos conexionistas para alcançar suas reais
possibilidades e predizer seu futuro. A distribuição da informação
nos neurônios e o processamento em paralelo são características
que o distinguem do paradigma simbólico guiado por regras que
combinam os símbolos de forma serial (Poersch, 2004).
Conforme Poersch (2004), a modelagem conexionista no
processamento cognitivo constitui uma atividade altamente
controvertida. Enquanto alguns estudiosos (Plunkett103, 2000;
Seidenberg e Macdonalds104, 1999; Rumelhart e Mcclelland105,
1986) pleiteiam que essa modelagem pode ser entendida em

103 PLUNKETT, K. O conexionismo hoje. In: POERSCH, J. M. (Ed.).


Psicolinguística, ciência e arte. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000. p. 109-122.
104 SEIDENBERG, M. S.; MACDONALDS, M. C. A probalistic constraints

approach to language acquisition e processing. Cognitive Science, n. 23, p.


569-588, 1999.
105 RUMELHART, D. E.; MCCLELLAND, J. L. On learning the past tenses of

English verbs. In: MCCLELLAND, J. L.; RUMELHART, D. E. (Eds.). Parallel


distributed processing. Cambridge, MA: MIT Press, 1986. V.2, p. 216-271.
235

termos conexionistas, outros (Smolensky106, 1988; Pinker e


Prince107, 1988) afirmam que os métodos.
A representação sub-simbólica tem implicações
interessantes para a hipótese clássica de que o cérebro contém
representações simbólicas semelhantes a sentenças de uma
linguagem, ideia conhecida como representação tal como “Maria
almoça todos os dias” contém todos os elementos explícitos da
sentença (as palavras), o que não é aceito pelo cognitivistas.
Conforme o autor, temos aqui dois problemas a considerar.
O primeiro deles é o da sistematicidade. Fodor e Pylyshyn 108
(1988) identificaram na inteligência humana um fator que
chamaram “sistematicidade” e alegaram que o conexionismo não
pode explicá-lo. Este termo refere-se ao fato de que a capacidade
de produzir/compreender/pensar algumas sentenças é
intrinsecamente conectada à capacidade de
produzir/compreender/pensar outras sentenças relacionadas.
Fodor e McLaughlin109 (1990) então argumentaram que o
conexionismo não modela a sistematicidade, pois, uma rede
treinada para reconhecer a expressão “Maria almoça todos os
dias”, não reconhecerá a frase “todos os dias Maria almoça”. Este
argumento, contudo, é uma falácia, pois, é possível desenvolver
modelos de rede neural capazes de processar uma linguagem
com sintaxe recursiva, que reage imediatamente à introdução de
novos itens no léxico.
O segundo problema é o da similaridade semântica. Um
dos pontos importantes da representação distribuída nos modelos
conexionistas é que eles corroboram a teoria da existência de
estados mentais, mais especificamente, da associação entre
significado e funcionalidade de estados cerebrais. Semelhanças e
diferenças entre padrões de ativação em diferentes dimensões
emulam informação semântica, ou seja, a ativação de uma rede

106 SMOLENSKY, P. On the proper treatment of connectionism. Behavioral e


Brain Sciences, n. 23, p. 589-613, 1988.
107 PINKER, S.; PRINCE, A. On language e connectionism: analysis of a

parallel distributed processing model of language acquisition. Cognition, n. 28,


p. 73-193, 1988.
108 FODOR, J. A.; PYLYSHYN, Z. W. Connectionism and cognitive architecture.

Cognition, n. 28, v. 1-2, p. 3-71, 1988.


109 FODOR, J. A.; MCLAUGHLIN, B. P. Connectionism and the problem of

systematicity: Why Smolensky's solution doesn't work


Cognition, n. 35, v.2, p.183-205, 1990.
236

neural tem propriedades intrínsecas que se conformam a um


significado (Psychiatry on line Brasil, 2017).
Cérebros diferentes podem conter arranjos diferentes de
neurônios, não sendo necessário que um mesmo padrão de
conexões (ou ativação) deva ser igual para um mesmo
significado. O mesmo autor citando Laakso and Cottrell110 (2000)
afirmou que eles demostraram que redes com estruturas
radicalmente diferentes treinadas na mesma tarefa desenvolviam
padrões de ativação muito semelhantes. Por exemplo, o conceito
“pai” em dois cérebros diferentes pode ter padrões de ativação
não necessariamente semelhantes se a informação sobre seus
pais (nome, idade, imagem, caráter, etc) forem bem diferentes.
Isto vem sendo uma questão de intensos debates entre filósofos e
conexionistas. Em nota final sobre o assunto o autor afirmou que
o conexionismo é uma abordagem reducionista, porém
necessária. De fato, o cérebro é demasiado complexo para que
possamos entendê-lo com as ferramentas científicas que
possuímos atualmente. O conexionismo é uma abordagem que
nos permite, além de insights sobre estrutura e função,
estabelecer modelos cognitivos para memória, aprendizagem,
raciocínio indutivo, neuromodulação, psicopatologia e outras
coisas. As abordagens das funções superiores da atividade
cerebral são tradicionalmente a mentalista e a biológica. O
conexionismo surge como uma “terceira via” que trata os
processos cognitivos como funções emergentes da organização
neural.

Segundo Poersch (2004) em seu artigo Simulações


conexionistas: a inteligência artificial moderna, o conexionismo é
um paradigma cognitivo baseado nos achados da neurociancia e
não em hipóteses explicativas (o simbolismo hipotetiza a
existência da mente para explicar os processos cognitivos). Todos
os processos cognitivos ocorrem no cérebro; a mente nada mais é
do que o conjunto desses processos. A mente não constitui um
ens in se, é um fenômeno que ocorre, é um ens in altero.

110 LAAKSO, A.; COTTRELL, G. W. Content and cluster analysis: Assessing


representational similarity in neural system. Philosophical Psychology, n.13, v.1,
p. 47-76, 2000.
237

Capítulo 14
A Neurobiologia
das emoções
Preciso despir-me do que aprendi. Desencaixotar minhas
emoções verdadeiras. Desembrulhar-me e ser eu! Uma
aprendizagem de desaprendizagem...
Alberto Caeiro111

A palavra emoção deriva do latim movere, mover, por em


movimento. É essencial compreender que a emoção é um
movimento de dentro para fora, um modo de comunicar os nossos
mais importantes estados e necessidades internas (Barreto e
Silva, 2010).
Há muito tempo a humanidade se preocupa com as bases
biológicas das emoções. Apesar de estarmos longe de um quadro
bem definido, cada vez mais as neurociências obtêm dados
indicando o envolvimento de determinadas estruturas cerebrais na
gênese das emoções. O considerável conhecimento da
organização neural e da fisiologia do cérebro alcançado na
atualidade tem permitido aos investigadores um maior
aprofundamento neste misterioso e intrincado terreno. O estudo
da base neural das emoções, além de colaborar para a
compreensão e tratamento dos distúrbios emocionais, nos oferece
a possibilidade de comprovar cada vez mais a participação do
cérebro em aspectos antes considerados como desvinculados da
atividade cerebral (Troncoso, 2017).
Conforme Esperidião-Antonio e cols. (2008), a tematizacao
das emocoes como questao relativa ao conhecimento e uma
perspectiva bastante arcaica na cultura ocidental. Voltando os
111Alberto Caeiro da Silva[1] (Lisboa, 16 de abril de 1889 ou agosto de 1887 –
Junho de 1915) foi uma personagem ficcional (heterónimo) criada por
Fernando Pessoa, sendo considerado o Mestre Ingénuo dos restantes
heterónimos (Álvaro de Campos e Ricardo Reis) e do seu próprio autor, apesar
de apenas ter feito a instrução primária.
238

olhos ao mundo grego antigo, e possivel encontrar no conceito de


pathós a ideia de paixão, entendida no ambito da filosofia helenica
como raiz dos males e da infelicidade do homem, devendo, pois,
ser moderada e, quiça, dominada. Inscreve-se neste horizonte,
por exemplo, a concepcao platonica de alma tripartida, sendo
mortais as duas porcoes correspondentes as emoções –
concupiscente e irascivel – e imortal (divina) a alma racional.
Assim, pois, a complexa relacao emocao–razão tornou-se mote
recorrente no pensamento de diferentes filósofos, os quais
formularam concepções, as mais variadas, para explicar as
origens e o papel das emoções na condiçãoo humana. Este foi,
precisamente, o caso do pensador frances Rene Descartes, que,
em suas Meditações Metafísicas, chega a concepção de uma
substancia pensante (res cogitans) completamente separada da
“substancia do mundo” (res extensa), facultando, assim, uma
genuina cisao entre corpo e mente. Para Descartes, a res
cogitans pertence a razao e ao pensamento, enquanto ao corpo
(res extensa) pertencem as emocoes, caracterizaveis como
confusas e nao criveis em relação aos conteudos de verdade.

Meditações metafísicas
Meditações metafísicas, ou, em outras
traduções, Meditações sobre a filosofia primeira, que tem
como subtítulo nas quais são demonstradas a existência
de Deus e a distinção real entre a mente e o corpo, é o
nome da obra de René Descartes escrita e publicada
pelo autor pela primeira vez em 1641. Nesta obra
encontra-se o mesmo sistema filosófico cartesiano
introduzido no Discurso do Método. O livro é composto
por seis meditações, nas quais Descartes põe em dúvida
toda crença que não seja absolutamente certa, real,
factível, e a partir daí procura estabelecer o que é
possível saber com segurança. Na primeira meditação
encontram-se quatro situações que podem confundir
suficientemente a percepção, a ponto de invalidarem,
seguramente, uma série de enunciados sobre o
conhecimento. O principal destes quatro argumentos é o
do gênio maligno que tem a capacidade de confundir a
percepção e plantar dúvidas sobre tudo o que podemos
conhecer acerca do mundo e suas propriedades. Porém,
mesmo podendo falsear a percepção, não pode falsear a
crença nas percepções - ou seja, ele pode contra
argumentar contra a percepção, mas não contra a
crença que incide sobre as percepções. Descartes
também conclui que o poder de pensar e existir não
239

podem ser corrompidos pelo gênio maligno. Na Segunda


Meditação encontra-se o argumento de Descartes
acerca da certeza da própria existência, certeza que
prevalece sobre qualquer dúvida: Convenci-me de que
não existe nada no mundo, nem céu, nem terra, nem
mente, nem corpo. Isto implica que também eu não
exista? Não: se existe algo de que eu esteja realmente
convencido é de minha própria existência. Mas existe um
enganador de poder e astúcia supremos, que está
deliberada e constantemente me confundindo. Neste
caso, e mesmo que o enganador me confunda, sem
dúvida eu também devo existir… a proposição "eu sou",
"eu existo", deve ser necessariamente verdadeira para
que eu possa expressá-la, ou para que algo confunda
minha mente. Em outras palavras, a consciência implica
a existência, logo nesse instante ocorre a descoberta do
Cogito (ser pensante) – em uma das réplicas às
objeções que faz no livro, Descartes resumiu a
passagem acima em sua hoje famosa sentença: penso,
logo, existo (em latim: cogito, ergo sum) –, essa é a
primeira certeza, segundo Descartes, clara e distinta que
o permitirá seguir adiante, todavia mesmo encontrando
essa certeza, aparece o problema do solipsismo112, o
qual se emerge no instante em que a única certeza real
que Descartes possui é o ser pensante, logo ele se
encontra só e toda realidade exterior, em um primeiro
instante, poder-se-ia considerar ilusória – mas no
entanto não é pois Descartes prova a veracidade do
mundo exterior a partir do argumento ontológico de
Deus.

112 Solipsismo (do latim "solu-, «só» +ipse, «mesmo» +-ismo".) é a concepção
filosófica de que, além de nós, só existem as nossas experiências. O
solipsismo é a consequência extrema de se acreditar que o conhecimento deve
estar fundado em estados de experiência interiores e pessoais, não se
conseguindo estabelecer uma relação direta entre esses estados e o
conhecimento objetivo de algo para além deles. O "solipsismo do momento
presente" estende este ceticismo aos nossos próprios estados passados, de tal
modo que tudo o que resta é o eu presente. A neoescolástica define solipsismo
uma forma de idealismo, que incorreria no egoísmo pragmático, que insurge
pós proposição cartesiana "cogito, ergo sum"; solipsismo é atribuída por Max
Stirner como uma reação contra Hegel e sua acentuação do universal; o
solipsismo somente tem por certo, inconteste, o ato de pensar e o próprio eu.
Assim, tudo o mais pode ser contestado ou posto em dúvida.
240

Ao contrario, o filosofo Baruch de Spinoza113 concebia que


a “substância pensante e a substância extensa são uma mesma
substância, ora compreendida como um atributo, ora como outro”
(Spinoza, 1997: Livro II, Proposicao VII)5. Nesses termos, razão e
emocao – e, de resto, a propria constituicao orgânica –
pertenceriam a uma mesma natureza (Esperidião-Antonio e cols,
2008)
Segundo os mesmos autores, de um problema
genuinamente filosofico, as relações entre corpo e mente e entre
razao e emoção passaram a ser tambem investigadas no ambito
teórico de outros saberes, como a psicologia, a psicanalise e a
biologia, a partir da segunda metade do seculo XIX e principios do
seculo XX. O que marca esse periodo e o interesse cientifico
voltado para os processos cognitivos, os quais incluem as
atividades mentais relacionadas a aquisiçãoo de conhecimento e
conectadas ao raciocinio e a memoria. Esse anseio elucidativo
explica-se pela maior comensurabilidade da cognicao, levando ao
desenvolvimento da chamada “revolucao cognitiva”. A partir de
entao, realizaram-se inumeras investigacoes, as quais
culminaram na proposicao dos mecanismos envolvidos na
percepcao, atencao e memoria. Ademais, os poucos autores que
se voltavam as emocoes, concebiam-nas de modo “segmentado”,
tratando os “circuitos emocionais” como eventos a parte e
independentes das demais atividades neurais. Mais recentemente
– a partir do desenvolvimento de novas tecnicas especializadas
de pesquisa em neurofisiologia e em neuroimagem –, vem-se
ampliando o interesse pelo estudo das bases neurais dos
processos envolvidos nas emocoes, a partir da caracterizacao e
das investigacoes sobre o sistema limbico (SL). Sabese, com
base em diferentes resultados, que ha uma profunda integracao
entre os processos emocionais, os cognitivos e os homeostaticos,
de modo que sua identificacao sera de grande valia para a melhor
compreensão das respostas fisiologicas do organismo ante as
mais variadas situacoes enfrentadas pelo individuo. Assim,

113Baruch de Espinoza (24 de novembro de 1632, Amsterdã - 21 de fevereiro


de 1677, Haia) foi um dos grandes racionalistas e filósofos do século XVII
dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e
Gottfried Leibniz. Nasceu em Amsterdã, nos Países Baixos, no seio de uma
família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico
moderno.
241

reconhece-se que as areas cerebrais envolvidas no controle


motivacional, na cognicao e na memoria fazem conexoes com
diversos circuitos nervosos, os quais, atraves de seus
neurotransmissores, promovem respostas fisiologicas que
relacionam o organismo ao meio (sistema nervoso somatico) e
tambem a inervação de estruturas viscerais (sistema nervoso
visceral ou da vida vegetativa), importantes a manutencao da
constância do meio interno (homeostasia114).

Segundo Duran e cols (2017), as emoções "são complexos


psicofisiológicos que se caracterizam por súbitas rupturas no
equilíbrio afetivo de curta duração, com repercursões
consecutivas sobre a integridade da consciência e sobre a
atividade funcional de vários órgãos. Sentimentos são estados
afetivos mais estáveis e duráveis, provavelmente provindos de
emoções correlatas que lhe são cronologicamente anteriores.
Conforme os mesmos autores, podemos classificar
emoções e estados emocionais em:
• Emoções primárias: ligadas ao instinto e sobrevivência.
São elas a Emoção de Choque (que representa ameaça ao
indivíduo), Emoção Colérica (anulação de objeto que representa
algum incômodo) e Emoção Afetuosa (inclinação ao prazer). •
Emoções secundárias: estados afetivos mais complexos que as
emoções primárias. Dividem-se em duas formas: Estados Afetivos
Sensoriais (sensações de prazer e dor, relacionado à
sensibilidade corporal) e Estados Afetivos Vitais (mal-estar, bem-
estar, animação, desanimação, relacionado a atitudes internas do
indivíduo).
• Emoções mistas: envolvem misturas de estados afetivos
contrastantes, caracterizando um confliito emocional. Este conflito
114Homeostasia ou homeostase, a partir dos termos gregos homeo, "similar" ou
"igual", e stasis, "estático", é a condição de relativa estabilidade da qual o
organismo necessita para realizar suas funções adequadamente para o
equilíbrio do corpo. É a propriedade de um sistema aberto, especialmente dos
seres vivos, de regular o seu ambiente interno, de modo a manter uma
condição estável mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico, controlados
por mecanismos de regulação inter-relacionados. Este fenomeno foi descrito
pela primeira vez por Claude Bernard e posteriormente foi estudado mais
profundamente por Walter Cannon. O primeiro, em 1859, disse que todos os
mecanismos vitais, por mais variados que sejam, não têm outro objetivo além
da manutenção da estabilidade das condições do meio interno. O segundo, em
1929, chamou essa estabilidade de homeostase.
242

emocional pode ter grande ou pequena repercursão na conduta


individual.
• Sentimentos anímicos e espirituais: sentimentos anímicos
são estados afetivos tidos como qualidades do eu com o mundo
de valores; referem-se a coisas, pessoas ou acontecimentos,
atribuindolhes valores. Exemplos de sentimentos anímicos são
tristeza e alegria, amor e ódio, felicidade e desespero.
Sentimentos espirituais tendem para valores absolutos, como
valores de estética, intelectuais, morais ou religiosos.
Sentimentos são muito mais duradouros que as emoções,
e muito mais numerosos. Desta forma, como um exemplo,
podemos contatar que da emoção primária de choque-pânico,
nascem emoções mistas como espanto, susto, terror, e destas
surgem sentimentos de desconfiança, insegurança ou medo.

Funções das Emoções


Lopes (2017) citou as funções das emoções conforme
Dámasio, Newen e Ballone:
. Para Damásio a emoção tem duas funções biológicas: A
primeira produz uma reação específica para a situação indutora e
a segunda função é de Homeostase, regulando o estado interno
do organismo, visando essa reação especí􀂠ca. Ou seja, as
emoções são a forma que a natureza encontrou para proporcionar
aos organismos comportamentos rápidos e eficazes orientados
para a sua sobrevivência.
. De acordo com Newen, as emoções cumprem funções de
grande importância. Podemos citar quatro delas: Prepara-nos e
motiva-nos para ações; possibilita avaliarmos os estímulos do
ambiente de maneira extremamente rápida, ajuda no controle das
relações sociais; são formas de expressão típicas que indicam
aos outros as próprias intenções (quando alguém sorri para nós,
automaticamente supomos que tem uma postura amigável).
. Segundo Ballone, essas emoções são capazes de mobilizar o
Sistema Nervoso Autônomo, órgãos e sistemas. Para a mesma
autora, conclui-se que, as emoções influenciam a saúde não
apenas em decorrência da psico-neuro-fisiologia, mas também
através de suas propriedades motivacionais, através de condutas
saudáveis, tais como os exercícios físicos, a dieta equilibrada, etc

As bases neurobiológicas das emoções


243

Barreto e Silva (2010) no artigo “Sistema límbico e as


emoções – uma revisão anatômica”, detalharam as bases
neurobiológicas das emoções, como reportamos abaixo. Os
mesmos autores afirmaram que embora não se tenha uma
definição precisa dos circuitos neuronais envolvidos no complexo
”sistema das emoções”, podem ser descritas, de modo didático,
algumas vias neuronais, sem perder de vista que elas estão, em
última análise, integradas funcionalmente.

Prazer e recompensa
As emoções mais ”primitivas” e bem estudadas pelos
neurofisiologistas, com a finalidade de estabelecer suas relações
com o funcionamento cerebral, são a sensação de recompensa
(prazer, satisfação) e de puni- ção (desgosto, aversão), tendo sido
caracterizado, para cada uma delas, um circuito encefálico
específico. O ”centro de recompensa” está relacionado,
principalmente, ao feixe prosencefálico medial, nos núcleos lateral
e ventro-medial do hipotálamo, havendo conexões com o septo, a
amígdala, algumas áreas do tálamo e os gânglios da base.

Centro de punição
O ”centro de punição” é descrito com localização na área
cinzenta central que rodeia o aqueduto cerebral de Sylvius, no
mesencéfalo, estendendo-se às zonas periventriculares do
hipotálamo e tálamo, estando relacionado à amígdala e ao
hipocampo e, também, às porções mediais do hipotálamo e às
porções laterais da área tegmental do mesencéfalo.

Sensação de prazer
Para alguns pesquisadores, a sensação de prazer pode ser
distinguida pelas expressões faciais e atitudes do animal após sua
exposição a um estímulo hedônico; tais expressões são mantidas
mesmo em indivíduos anencefálicos, sugerindo que o ”centro de
recompensa” deva se estender até o tronco cerebral. Acredita-se
que emissões aferentes do núcleo acumbens em direção ao
244

hipotálamo lateral e ventral, globo pálido e estruturas conectadas


nessa mesma região cerebral estejam envolvidas nos circuitos
cerebrais hedônicos. Demonstrou-se, em animais de
experimentação (ratos), que estímulos na área septal, controlados
pelo animal, acarretavam uma situação de deflagração recorrente
do estímulo, indicando uma possível correlação com o
desencadeamento de prazer. Estudos posteriores realizados em
símios demonstraram a participação do feixe prosencefálico
medial nos estímulos apetitivos, sendo possível caracterizar,
inclusive, uma certa expectativa de prazer. Esse feixe e as
regiões por ele integradas (área tegmentar ventral, hipotálamo,
núcleo acumbens, córtex cingulado anterior e córtex pré-frontal)
compõem o circuito denominado sistema mesolímbico.

Alegria
A indução de alegria, resposta à identificação de
expressões faciais de felicidade, à visualização de imagens
agradáveis e/ou à indução de recordações de felicidade, prazer
sexual e estimulação competitiva bem-sucedida, provocou a
ativação dos gânglios basais, incluindo o estriado ventral e o
putâmen27. Além disso, vale relembrar que os gânglios basais
recebem uma rica inervação de neurônios dopaminérgicos do
sistema mesolímbico, intimamente relacionados à geração do
prazer, e do sistema dopaminérgico do núcleo estriado ventral. A
dopamina age de modo independente, utilizando receptores
opióides e gabaérgicos no estriado ventral, na amígdala e no
córtex órbito-frontal, algo relacionado a estados afetivos (como
prazer sensorial), enquanto outros neuropeptídeos estão
envolvidos na geração da sensação de satisfação por meio de
mecanismos homeostáticos. Descrições neuroanatômicas de
lesões das vias cérebro-pontocerebelares em indivíduos com riso
e choro patológicos sugerem que o cerebelo seja uma estrutura
envolvida na associação entre a execução do riso e do choro e o
contexto cognitivo e situacional em questão; de fato, quando tal
estrutura está lesionada, há transição incompleta das
informações, provocando um comportamento inadequado ao seu
contexto.

Medo
245

As relações entre a amígdala e o hipotálamo estão


intimamente ligadas às sensações de medo e raiva. A amígdala é
responsável pela detecção, geração e manutenção das emoções
relacionadas ao medo, bem como pelo reconhecimento de
expressões faciais de medo e coordenação de respostas
apropriadas à ameaça e ao perigo. A lesão da amígdala em
humanos produz redução da emotividade e da capacidade de
reconhecer o medo. Por outro lado, a estimulação da amígdala
pode levar a um estado de vigilância ou aten- ção aumentada,
ansiedade e medo24,31. Desde as descrições iniciais do SL,
realizadas por Papez, acreditava-se que o hipotálamo exercia
papel crucial entre as estruturas subcorticais envolvidas no
processamento das emoções. Atualmente, se reconhece que
projeções da amígdala para o córtex contribuem para o
reconhecimento da vivência do medo e outros aspectos cognitivos
do processo emocional18. A amígdala é uma estrutura que exerce
ligação essencial entre as áreas do córtex cerebral, recebendo
informações de todos os sistemas sensoriais. Estas, por sua vez,
projetam-se de forma específica aos núcleos amigdalianos,
permitindo a integração da informa- ção proveniente das diversas
áreas cerebrais, através de conexões excitatórias e inibitórias a
partir de vias corticais e subcorticais32. Os núcleos basolaterais
são as principais portas de entrada da amígdala, recebendo
informações sensoriais e auditivas; já a via amigdalofugal ventral
e a estria terminal estabelecem conexão com o hipotálamo,
permitindo o desencadeamento do medo24. A estria terminal está
relacionada à liberação dos hormônios de estresse das glândulas
hipófise e supra-renal durante o condicionamento18. Para o
aprendizado do condicionamento do medo, as vias que
transmitem a informação do estímulo convergem no núcleo lateral
da amígdala, de onde parte a informação para o núcleo central.
Este, por sua vez, estabelece conexão com o hipotálamo e
substância cinzenta periaquedutal no tronco cefálico, evocando,
por fim, respostas motoras somáticas24,25.

Raiva
Uma das primeiras estruturas associadas à raiva foi o
hipotálamo, em decorrência de estudos realizados na década de
246

1920, nos quais se descreveram manifestações de raiva em


situações não condizentes, após a remoção total do telencéfalo.
Entretanto, esse mesmo comportamento não era observado
quando a lesão se estendia até a metade posterior do hipotálamo,
levando à conclusão de que o hipotálamo posterior estaria
envolvido com a expressão de raiva e agressividade, enquanto o
telencéfalo mediaria efeitos inibitórios sobre esse
comportamento24. A raiva é manifestada basicamente por
comportamentos agressivos, os quais dependem do envolvimento
de diversas estruturas e sistemas orgânicos para serem
expressos. Além disso, esse comportamento também admite
variações de acordo com o estímulo que o evoca. No século XX,
Flynn (1960) identificou que esses comportamentos agressivos
eram provocados pela estimulação de áreas específicas do
hipotálamo localizadas no hipotálamo lateral e medial,
respectivamente33. A raiva, assim como o medo, é uma emoção
relacionada às funções da amígdala, em decorrência de conexões
com o hipotálamo e outras estruturas24.

Reações de luta-fuga
A conexão direta entre o hipotálamo e o SNA se dá,
possivelmente, mediante projeções hipotalâmicas para regiões do
tronco encefálico, destacando-se o núcleo do trato solitário. Além
dessas vias eferentes, o Nervo Craniano (NC) vago, décimo par
craniano (X), um dos principais elementos do SNA (porção
parassimpática), representa ainda um importante componente
aferente, ativando áreas cerebrais superiores. Suas projeções
aferentes ascendem ao prosencéfalo através do núcleo
parabraquial e locus ceruleus, conectando-se diretamente com
todos os níveis do prosencéfalo (hipotálamo, amígdala e regiões
talâmicas que controlam a ínsula e o córtex órbito-frontal e pré-
frontal)34. O SNA está diretamente envolvido nas denominadas
“situações de luta e/ou fuga” e imobilização. Tais ocorrências
estão intrinsecamente relacionadas a um mecanismo de
neurocepção, que se caracteriza pela capacidade de o indivíduo
agir conforme sua percepção de segurança ou ameaça a respeito
do meio onde ele se encontra. Essa percepção pode ser dada,
por exemplo, pelo tom da voz ou pelos movimentos e expressões
faciais da pessoa ou do animal com quem ele interage35. Toda
247

vez que a pessoa percebe o meio ambiente como “seguro”, ela


dispõe de mecanismos inibitórios que atuam sobre as estruturas
límbicas que controlam comportamentos de luta-fuga, como as
regiões lateral e dorsomedial da substância cinzenta
periaquedutal. Dessa forma, a amígdala não exerce seu papel
normal, ou seja, a estimulação dessas vias na substância cinzenta
periaquedutal36. Concomitantemente, após o processamento de
todas as informações, o córtex motor (onde se destacam as áreas
frontais) comanda a ativação de vias corticobulbares na medula
(núcleos primários dos pares cranianos V, VII, IX, X e XI), que
ativam os componentes somatomotor (músculos da face e da
cabeça) e visceromotor (coração, árvore brônquica) dos
mecanismos fisiológicos para o contato social. Ao contrário, toda
vez que a pessoa percebe o meio ambiente como “ameaçador”, a
amígdala estará livre para desencadear estímulos excitatórios
sobre a região lateral e dorsolateral da substância cinzenta
periaquedutal, que então estimula as vias do trato piramidal,
produzindo respostas de luta e/ou fuga. Além disso, há casos em
que a pessoa responde a tais situa- ções como se estivesse
paralisada; essa resposta decorre da estimulação da região
ventrolateral ao aqueduto cerebral de Sylvius, que também
estimula as vias neurais do trato corticoespinal lateral (piramidal).
É interessante ressaltar que essas reações ocorrem
paralelamente a uma resposta autonômica simpática. Em
situações de luta-fuga, ocorre elevação da frequência cardíaca e
da pressão arterial; de outro modo, nas situações de imobilização
ocorre intensa bradicardia e queda da pressão arterial.

Tristeza
A tristeza e a depressão podem ser vistas como “polos” de
um mesmo processo. A primeira é considerada “fisiológica”, e a
segunda, “patológica”, estando, por conta disso, relacionadas em
termos neurofisiológicos. É cada vez mais frequente a descrição
da correlação entre disfunções emocionais e prejuízos das
funções neurocognitivas. De fato, a depressão associa-se a
déficits em áreas estratégicas do cérebro, incluindo regiões
límbicas. Não obstante os fatores emocionais relacionados, há
vários determinantes biológicos implicados no seu
desenvolvimento; observando-se alterações ocorridas no sistema
248

imunológico. Estudos recentes demonstraram que a realização de


atividades que evocam esse sentimento relaciona-se à ativação
de áreas centrais, como os giros occipitais inferior e medial, giro
fusiforme, giro lingual, giros temporais póstero-medial e superior e
amígdala dorsal, ressaltando-se, também, a participação do
córtex pré-frontal dorsomedial37. Além disso, em indivíduos
normais observou-se, por meio de exames de Tomografia por
Emissão de Pósitrons (PET), que a indução da tristeza relaciona-
se:
1) à ativação de regiões límbicas, porção subgenual do
giro do cíngulo e ínsula anterior;
2) desativação cortical, córtex pré-frontal direito e parietal
inferior; e 3) diminuição do metabolismo da glicose no córtex pré-
frontal38. Em estudo anterior, do mesmo modo, identificou-se
importante ativação do córtex cingulado subcaloso (especialmente
na região cingulada anterior subgenual/ventral) após a indução de
tristeza nos indivíduos estudados; já nos pacientes com
depressão clínica notou-se hipometabolismo ou hipoperfusão no
córtex cingulado subcaloso.

Emoção e razão
As informações que chegam ao cérebro percorrem um
determinado trajeto ao longo do qual são processadas. Em
seguida, direcionam-se para as estruturas límbicas e
paralímbicas, pelo circuito de Papez, ou por outras vias, para
adquirirem significado emocional, dirigindo-se, continuadamente,
para regiões específicas do córtex cerebral, permitindo que sejam
tomadas decisões e desencadeadas ações, processos
relacionados à autonomia, função, geralmente dependente do
córtex frontal ou pré-frontal39. As imagens certamente provocam,
em sua maioria, ativação do córtex visual occipital (giro occipital e
giro fusiforme), porém a amígdala também recebe quantidade
substancial de estímulos provenientes das áreas temporais
associadas à visão, participando na formação de memórias
através dos circuitos hipocampais ou dos circuitos estriatais. Tal
fato decorre do papel especializado da amígdala no
processamento de insinuações emocionais visualmente
relevantes, sinalização do medo e aversão ou outras evidências.
A ativação da amígdala pode estar primariamente envolvida na
249

emissão de um alerta para ameaças provenientes da percep- ção


obtida pelo córtex occipital. A integração de conteúdo afetivo aos
processos cognitivos ocorre, provavelmente, no complexo Córtex
Órbito-Frontal (COF) / Córtex Pré-Frontal (CPF) Ventromedial. As
impressões sensoriais (como visão, audição e outras informações
somatossensoriais) convergem, através do COF, para o CPF
Ventromedial, de onde a informação sintetizada é levada às
regiões do CPF dorsomedial e CPF pré-frontal ínfero-lateral para
a tomada das decisões. Lesões no CPF Ventromedial causam
prejuízo na capacidade de tomar decisões, geralmente
caracterizado por inabilidade de adotar estratégias de
comportamento adequadas às consequ- ências de atitudes
tomadas, levando à impulsividade40. O CPF Ventromedial e o
COF mantém importante relação com a amígdala e ambos
contribuem para a tomada de decisões, embora os mecanismos
pelos quais isto ocorra sejam distintos. Acredita-se que essas
regi- ões corticais recebam aferências da amígdala, as quais
representem o valor motivacional dos estímulos, integrando-os e
promovendo uma avaliação do comportamento futuro que será
adotado41. Embora a amígdala não estabeleça conexão direta
com o CPF lateral, ela se comunica com o córtex cingulado
anterior e o córtex orbital, os quais estão envolvidos nos circuitos
da memória, tornando possível a justificativa de alguns autores de
que a amígdala participa na modulação da memória e na
integração de informações emocionais e cognitivas,
possivelmente atribuindo-lhes carga emocional, possibilitando a
transformação de experiências subjetivas em experiências
emocionais. Outra estrutura importante na integração
emoção/razão é a ínsula. Ela é ativada durante a indução de
recordações de momentos vividos por um indivíduo, as quais
provocam uma sensação específica, seja de felicidade, tristeza,
prazer, raiva ou qualquer outra. Com base no que se discutiu, é
possível considerar que a tomada de decisões torna-se
diretamente dependente da associação emocional realizada pelo
indivíduo ao vivenciar determinadas situações cotidianas e que
vai depender de respostas motoras e autonômicas. Tais respostas
autonômicas são diretamente influenciadas pelo hipotálamo e
este, por sua vez, age mediante o processamento de todas as
informações que chegam ao cérebro.
250

O caso de Phineas Gage


e a sua contribuição para os estudos
neurológicos das emoções
Phineas Gage (9 de julho de 1823 - 21 de maio de 1860) foi
um operário americano que, num acidente com explosivos, teve
seu cérebro perfurado por uma barra de metal, sobrevivendo
apesar da gravidade do acidente. Após o ocorrido, Phineas, que
aparentemente não tinha sequelas, apresentou uma mudança
acentuada de comportamento, sendo objeto para estudos de caso
muito conhecidos entre neurocientistas (Wikipédia, 2017).

Phineas Cage

O caso de Phineas Cage


O caso de Phineas Cage é reportado por Maranhão-Filho
(2014), como se a seguir:

Às 16h30 do dia 13 setembro de 1848, perto da pequena


cidade de Cavendish, Vermont, New England, um
acidente mudou por completo a história da neurologia e
da compreensão da mente humana. Um grupo de
homens, sob a direção do seu rigoroso chefe de 25 anos
251

de idade, Phineas P. Gage, trabalhava na Rutland and


Burlington Railroad. Estavam tentando explodir uma
pedra que atrapalhava o caminho e Phineas comandava
a delicada tarefa da colocação da pólvora num orifício
profundo e estreito, manufaturado na rocha. Cabia-lhe
ainda introduzir uma longa haste de ferro para tampar a
carga, antes de cobrir tudo com areia. Ocorre, porém,
que o atrito provocado pelo longo bastão de ferro na
parede da estreita fenda provocou uma centelha que
atingiu a pólvora. O maciço bastão de 1 metro de
comprimento e 3,5 centímetros de diâmetro, pesando 5,8
kg, transformou-se num projétil disparado sob a força da
explosão. Esse terrível míssil atingiu Phineas Gage bem
abaixo do olho esquerdo e, numa fração de segundos,
rompeu seu crânio, saindo por um orifício no topo da
cabeça e projetando-se a quase 50 metros de distância
coberto de sangue e pedaços de cérebro. Gage foi
jogado ao chão em convulsão, mas em poucos minutos
estava novamente consciente e capaz de falar. Levado
numa carroça, alojaram-no no seu quarto de hotel,
gravemente ferido, mas capaz de subir a escada
auxiliado por seus homens. Lá aguardou deitado a
chegada dos dois médicos que o atenderam. O Dr.
Edward H. Williams (...-1899) chegou 30 minutos após o
acidente e posteriormente considerou: “O topo da
cabeça parecia algo semelhante a um funil invertido,
como se algum corpo em forma de cunha tivesse
passado de baixo para cima. Sr. Gage, durante o tempo
que eu estava examinando a ferida, foi relatando a
maneira pela qual ele foi ferido. Eu não acreditei nas
suas declarações nesse momento. Pensei que ele
estivesse enganado. Mas o Sr. Gage persistia em dizer
que a haste havia passado por sua cabeça. Ele levantou-
se e vomitou, e o esforço de vômito pressionou o cérebro
para fora do crânio”. Dr. John Martyn Harlow (1819-
1907) assumiu o caso em torno das 18h00 e
posteriormente afirmou: “Ele me reconheceu
imediatamente e disse esperar que não estivesse muito
ferido. Parecia estar perfeitamente consciente, mas
estava ficando exausto pela hemorragia. Seu corpo e a
cama em que foi colocado estavam literalmente
empoçados de sangue”. Na verdade, nenhum dos dois
médicos podia acreditar na incrível história3. Fragmentos
de ossos do crânio foram retirados do seu cérebro e a
ferida foi coberta. Apesar da terrível hemorragia, Phineas
falava que não precisava ficar acamado e que voltaria a
trabalhar em dois dias. Não havia dúvidas, porém, de
que uma grande haste de metal havia transpassado seu
cérebro, apesar de seus senso e palavra estarem
252

normais e sua memória aparentemente intacta. Os dias


seguintes foram bastante difíceis. A ferida tornou-se
infectada. Phineas estava anêmico e permaneceu
semicomatoso por mais de duas semanas. Também
desenvolveu uma infecção por fungus no cérebro
exposto, que necessitou ser removida cirurgicamente.
Doses liberais de calomelano e óleo de castor fizeram
com que fosse melhorando lentamente. Após três
semanas, pediu suas calças, pronto para voltar ao
trabalho. Em meados de novembro, caminhava pela
cidade planejando seu futuro. E aqui está o ponto
principal dessa curiosa história. Phineas realmente tinha
um novo futuro pela frente, pois passara a ser um
homem diferente! O chefe, eficiente, capaz e por vezes
amigáveis não mais existia. Em seu lugar surgia uma
criança com a força de um touro e o temperamento de
um demônio. Gage tornou-se irritadiço, irreverente,
grosseiro e profano (aspectos que não faziam parte do
seu modo de ser), manifestava pouco respeito por seus
amigos e grande impaciência quando alguns conselhos
limitavam ou conflitavam com seus desejos. Sua mente
havia mudado radicalmente! Em decorrência dessa
mudança de personalidade, foi demitido da estrada de
ferro. O novo Phineas Gage foi rejeitado por seus
antigos empregadores e passou a viajar pelos Estados
Unidos e América do Sul, exibindo-se em teatros
juntamente com a haste que havia perfurado seu
cérebro. Gage morreu em 1860, em São Francisco,
Califórnia, 12 anos após o acidente. Ele não foi
submetido à autopsia, mas sua mãe, após a exumação
do corpo, doou seu crânio e a haste de ferro ao Dr. John
Harlow. Este, por sua vez, algum tempo depois, doou-os
ao Departamento Médico da Universidade de Harvard. A
máscara facial em gesso de Phineas Gage, seu crânio
rachado e o bastão de metal que deu um novo rumo à
Neurologia permanecem expostos ao público no museu
da Harvard Medical School.

Importância do caso para a Neurociência


O caso de Gage é considerado como uma das primeiras
evidências científicas que indicavam que a lesão nos lobos
frontais pode alterar a personalidade, emoções e a interação
social. Antes deste caso os lobos frontais eram considerados
estruturas silentes (sem função) e sem relação com o
comportamento humano (Wikipédia, 2017).
253

Crânio de Phineas Cage.

A ideia de que o córtex cerebral é composto de áreas


funcionalmente distintas não foi seriamente considerada pelos
cientistas até o século XIX. Treze anos antes de Pierre Paul Broca
apresentar suas considerações a respeito da associação da
afasia com a lesão no lobo frontal (1861), um acidente totalmente
inédito e uma recuperação miraculosa ocorridos com um
funcionário graduado de uma estrada de ferro próximo à cidade
de Cavendish, no estado de Vermont, nordeste dos Estados
Unidos, certamente influenciou o entendimento das funções
mentais superiores. Em meados do século XIX, a literatura
médica discutia fortemente a possibilidade de o intelecto e as
emoções poderem ser afetados nas lesões dos lobos frontais.
Logo após o episódio Phineas Gage, muitos estudos clínicos
contribuíram para confirmar tal possibilidade (Maranhão-Filho,
2014).
Conforme Sabbatini (2017), recentemente, dois
neurobiologistas portuguêses, Hanna e Antônio Damasio da
Universidade de Iowa, utilizaram computação gráfica e técnicas
de tomografia cerebral para calcular a provável trajetória da barra
de aço pelo cérebro de Gage, e publicaram os resultados em
Science, em 1994. Eles descobriram que a maior parte do dano
254

deve ter sido feito à região ventromedial dos lobos frontais em


ambos os lados. A parte dos lobos frontais responsável pela fala e
funções motores foi aparentemente poupada. Assim eles
concluíram que as mudanças.

Provável local da lesão cerebral de Phineas Cage.


255

Epílogo ou a
Neurobiologia e a
Psicopedagogia
da Aprendizagem
Por aprendizagem significativa, entendo, aquilo que
provoca profunda modificação no indivíduo. Ela é
penetrante, e não se limita a um aumento de
conhecimento, mas abrange todas as parcelas de sua
existência.
Carl Rogers

A importância de incluir as contribuições da


neuropsicologia, particularmente no que se refere às funções
executivas que englobam uma multiplicidade de funções refinadas
e complexas (atenção, memória linguagem, aritmética, praxias,
orientação têmporoespacial) que estão articuladas com diferentes
regiões dos lobos frontais e destas com outras regiões cerebrais,
inclusive e principalmente com as relacionadas às nossas
emoções (Carvalho, 2017).
As contribuições da Neurologia e da pesquisa dos aspectos
desenvolvimentais do cérebro são cruciais para nosso
entendimento de como a criança aprende e fixa conhecimentos.
Seu estudo permitiu entender a aprendizagem normal e a
patológica. Nestes tempos atuais de inclusão e da busca por
métodos didáticos que respeitem as diferenças o uso dos
instrumentos neurocientíficos torna-se imprescindível (Brites e
Brites, 2017).
Por fim, Antònio Damásio escreveu que:
256

Para que servem os sentimentos? Poder-se-ia


argumentar que as emoções sem sentimentos seriam
mais do que suficientes para a regulação da vida e para
a promoção da sobrevivência. Porém, não é esse o
caso. Na orquestração da sobrevivência é extremamente
valioso ter sentimentos. As emoções são úteis em si
mesmas, mas é o processo de sentir que alerta o
organismo para o problema que a emoção começou a
resolver. O processo simples de sentir começa por dar
ao organismo o incentivo para se ocupar dos resultados
da emoção (o sofrimento começa pelos sentimentos,
embora seja realçado pelo conhecer, e o mesmo se
pode dizer sobre a alegria). O sentir constitui, também,
pedra angular para a etapa seguinte – o sentimento de
conhecer que sentimos. Por sua vez, o conhecer é pedra
angular para o processo de planeamento de respostas
específicas e não estereotipadas que podem, quer
complementar uma emoção, quer garantir que os ganhos
imediatos obtidos pela emoção possam ser mantidos ao
longo do tempo. Por outras palavras «sentir» os
sentimentos prolonga o alcance da emoção, ao facilitar o
planeamento de formas de respostas adaptativas,
originais e feitas à medida da situação.
257

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