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As
Bases
Neurobiológicas
da psicopedagogia
da aprendizagem
Autores
Suzana Portuguez Viñas
Roberto Aguilar Machado Santos Silva
Santo Ângelo, RS
2018
2
e-mail: Suzana-vinas@yahoo.com.br
robertoaguilar001@gmail.com
1ª edição
Autores
Pensamento
Qualquer que seja a crise de sua vida
nunca destruas as flores da esperança
para que possas colher os frutos da fé.
Konrad Lorenz1
Apresentação
In memoriam
Aos que nos antecederam, pelo o que construíram.
Konrad Lorenz2 (a), Ivan Izquierdo3 (b), Humberto Maturana4 (c), António Damásio5
(d), Steven Pinker6 (e), Stanley I. Greenspan7 (f), Santiago Ramón y Caja (g)8
Sumário
Introdução.......................................................................................9
Preâmbulo ou as Paisagens Neuronais. Uma breve homenagem à
Santiago Ramón y Cajal...............................................................10
Capítulo 1 – A Percepção do corpo da mente..............................14
Capítulo 2 – O Tai chi chuan: filosofia oriental e cognição...........32
Capítulo 3 - Descartes, o Dualismo Clássico, mente-corpo e a
Filosofia da Mente........................................................................36
Capítulo 4 – A filosofia de David Hume e a Teoria da Causalidade
Imaginária.....................................................................................42
Capítulo 5 – A Filosofia da Mente e a Neurociência.....................50
Capítulo 6 – A Introdução à Neurofilosofia: a relação entre a
mente e o corpo............................................................................62
Capítulo 7 - Os primórdios da Neuroantropologia........................70
Capítulo 8 – A Neuroanatomia Funcional.....................................87
Capítulo 9 – A Neurobiologia da memória e esquecimento.......165
Capítulo 10 - Freud, a Neurobiologia e a Psicopatologia...........184
Capítulo 11 - O cérebro, a mente e suas representações..........199
Capítulo 12 – A Neurobiologia da dança e da música................205
Capítulo 13 - A Neurobiologia e a Psicologia Conexionista.......222
Capítulo 14 - A Neurobiologia das emoções..............................238
Epílogo ou a Neurobiologia e a Psicopedagogia da
Aprendizagem.............................................................................256
Bibliografia consultada................................................................258
9
Preâmbulo ou
as Paisagens Neuronais9.
Uma breve homenagem à Santiago
Ramón y Cajal
Si hay algo en nosotros verdaderamente divino, es
la voluntad. Por ella afirmamos la personalidad,
templamos el carácter, desafiamos la adversidad,
reconstruimos el cerebro y nos superamos
diariamente.
Santiago Ramón y Cajal
Camillo Golgi foi o responsável por inventar uma técnica específica para
corar neurônios, que ele denominou de "la reazione nera" (a reação
negra). Ela consistia em fixar partículas de cromato de prata ao
neurilema (a membrana do neurônio) através de uma reação química
entre nitrato de prata e bicromato de potássio. Isto resultava em um
depósito negro no corpo celular, nos axônios e nos dendritos, formando
uma imagem extremamente clara e detalhada do neurônio e seus
processos, contra um fundo amarelado. Pela primeira vez, portanto, os
neuroanatomistas conseguiam enxergar e seguir onde que estas
complexas ramificações iam e voltavam numa determinada área do
sistema nervoso, e descrever com detalhe precioso a riqueza dessas
ramificações. Uma das razões para isso é que a técnica original de
Golgi era pouco confiável, pois não corava todos os neurônios de uma
preparação, e não era efetiva com axônios mielinizados. Como a
técnica era, por si, incapaz de destacar uma separação clara entre os
neurônios conectados, Golgi naturalmente tornou-se um defensor
ferrenho do reticularismo, o qual ele pensava fazer mais sentido quanto
à maneira que o sistema nervoso operava.
Capítulo 1
A Percepção do
corpo e da mente
XIX para a arte radicalmente inovadora do século XX. Cézanne pode ser
considerado como a ponte entre o impressionismo do final do século XIX e o
cubismo do início do século XX. A frase atribuída a Matisse e a Picasso, de que
Cézanne "é o pai de
todos nós", deve ser levada em conta.
15 Henri Émile Benoît Matisse (Le Cateau Cambrésis, 31 de dezembro de 1869
— Nice, 3 de novembro de 1954) foi artista francês, conhecido por seu uso da
cor e sua arte de desenhar, fluida e original. Foi um desenhista, gravurista e
escultor, mas é principalmente conhecido como um pintor. Matisse é
considerado, juntamente com Picasso e Marcel Duchamp, como um dos três
artistas seminais do século XX, responsável por uma evolução significativa na
pintura e na escultura.
16 Francisco J. Varela (Santiago do Chile, 7 de setembro de 1946 — Paris, 28
de maio de 2001) foi biólogo e filósofo chileno. Escreveu sobre sistemas vivos
e cognição: autonomia e modelos lógicos. Ph.D. em Biologia (Harvard, 1970),
em 1979 escreveu Príncípios de Autonomia Biológica, um dos textos básicos
da autopoiese, teoria que desenvolveu com Humberto Maturana. Depois de ter
trabalhado nos EUA, mudou-se para a França, onde passou a ser diretor de
pesquisas no CNRS Centro Nacional de Pesquisas Científicas no Laboratório
de Neurociências Cognitivas do Hospital Universitário da Salpêtrière, em Paris,
além de professor da Escola Politécnica, também em Paris.
17
O desenvolvimento da consciência
Conforme Greenspan e Benderly (1999), a consciência, é
um tema nas fronteiras entre a psicologia e a filosofia, reúne as
perspectivas e tradições de cada disciplina. Nessas duas searas
do saber, a consciência tem se revelado um enigma, por bons
motivos. Ela envolve a estrutura física do cérebro e experiências
subjetivas como a autoconsciência e a contemplação das
emoções e idéias específicas. Não é de admirar que as primeiras
teorias envolviam sugestões tanto dos aspectos físicos ou
objetivos da consciência humana e fenômenos mentais quanto
dos aspectos espirituais ou subjetivos. Para o filósofo Bertrand
Russel17, o dualismo enfoca objetivos materialistas e subjetivos
17 Bertrand Arthur William Russell, 3.º Conde Russell (Ravenscroft, País de
Gales, 18 de maio de 1872 — Penrhyndeudraeth, País de Gales, 2 de fevereiro
de 1970) foi um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos que
viveram no século XX. Em vários momentos na sua vida, ele se considerou um
18
Sânquia
Sámkhya, Sankhya, Sāṃkhya, ou Sāṅkhya (em
sânscrito: sāṃkhya) é o sistema filosófico indiano que foi
desenvolvido concomitantemente com o yoga. A palavra
significa "Enumeração" ou "Conta". Muito antigo,
desenvolveu uma psicologia e ontologia sofisticada, que
é a base do sádhana ou prática do yoga. Kapila, que
viveu pouco antes do Buda, revisor deste sistema
filosófico, escreveu os aforismos em que se baseia
grande parte do conhecimento atual sobre este
intrincado sistema de pensamento. A investigação
através do Sámkhya ampara-se estritamente sobre o
conhecimento discriminador, racional, especialmente a
ênfase na causalidade. O caráter teórico especulativo do
Sámkhya vai eventualmente gerar divergências
filosóficas com adeptos do Yoga, este principalmente
prático e experiencial.
College, Massachusetts.
22 Evan Thompson (nascido em 1962) é professor de filosofia na Universidade da
25 Tripitaca (do páli tri, "três" e pitaka, "cesto") é uma compilação dos
ensinamentos budistas tradicionais, conforme preservados pela escola
Teravada. Ele também é conhecido como cânone páli, por ter sido
originalmente escrito nesta língua. O compêndio doutrinário é composto por
três grandes grupos ou pitacas:
. Vinaia Pitaca:
Define as regras para a comunidade monástica, tendo um conjunto de regras
para a comunidade masculina (Bicu Sanga) e outro para a comunidade
feminina (Bicuni Sanga).
Suta Pitaca
Contém os discursos proferidos pelo Buda a seus discípulos, admiradores e
adversários.
Abidarma Pitaca:
Uma obra de composição posterior que aprofunda os ensinamentos específicos
da tradição Theravada, detalhando o processo de renascimento, processos
mentais sutis, a prática meditativa, dentre outros assuntos. Encontra-se
algumas pequenas diferenças entre o Tripitaka de acordo com o país onde foi
preservado (Tailândia, Myanmar), mas de maneira geral não são variações
significativas. O cânone páli birmanês, entretanto, inclui o livro As Questões do
Rei Milinda, geralmente considerado como uma produção pós-canônica.
Eruditos acreditam que esta tenha se originado a partir da escola Sarvastivada.
24
Dharmaklrti
Sobre a mente
Georges Dreyfus e Evan Thompson (2007), afirmaram que
ao falar sobre a mente, é importante definir o termo, pois está
longe de ser inequívoca. Na maioria das tradições indianas, a
mente não é uma estrutura cerebral nem um mecanismo para
26 Dharmakīrti (século XVIII ou VII) foi influente filósofo budista indiano que
trabalhou em Nālandā. Ele foi um dos principais estudiosos da epistemologia
(pramana) em filosofia budista, e está associada ao Yogācāra e as escolas de
Sautrāntika. Ele também foi um dos principais teóricos do atomismo budista.
Seus trabalhos influenciaram estudiosos das escolas Mīmāṃsā, Nyaya e
Shaivism de filosofia hindu e estudiosos do jainismo. Pramāṇavārttika de
Dharmakīrti, seu maior e mais importante trabalho, foi muito influente na Índia e
no Tibete como um texto central sobre pramana ("instrumentos de
conhecimento válidos") e foi amplamente comentado por vários indianos e
tibetanos estudiosos. Os seus textos continuam a fazer parte dos estudos nos
mosteiros do budismo tibetano.
25
Platão a detalhar os últimos dias do filósofo depois das obras Eutífron, Apologia
de Sócrates e Críton. O tema da obra Fédon é considerado ser a imortalidade
da alma. O Fédon foi traduzido pela primeira vez do grego para latim por Henry
Aristippus em 1155.
28 Platão (em grego antigo transl. Plátōn, "amplo", Atenas,428/427 – Atenas,
ensaísta, erudito e professor, Joaquim de Carvalho foi, nas quatro décadas que
vão de 1918 a 1958, ano da sua morte, uma das maiores figuras, em Portugal,
dos estudos a que se dedicou, e em todos estes domínios do scibile. Deixou a
marca duradoura da sua personalidade de exceção. Como historiador da
Filosofia e da Cultura, não vejo quem se possa comparar com ele tanto na
vastidão dos conhecimentos como na profundidade e na originalidade com que
os organizou, sempre com o mais escrupuloso respeito das perspetivas
sincrônicas da evolução das ideias e dos fatos culturais. Este respeito rigoroso
pelo caráter histórico do pensamento já levou críticos apressados e superficiais
a sustentar que Joaquim de Carvalho não foi filósofo. Só pela ignorância da
historicidade essencial de todo o pensamento metódico é que seria possível
visar Joaquim de Carvalho para lhe formular um tal reparo. E verdade que ele
se abstinha intencionalmente de perder o seu tempo em jogos estéreis de
categorias, que às vezes não ultrapassam a esfera do psitacismo dialético,
dentro do restrito domínio do hedonismo conceptual. Se ser filósofo quer dizer
comprazer-se no brinco subtil de uma nova escolástica, abstraindo do objeto
humano, pelo esvaziamento de uma antropologia fundamental, Joaquim de
Carvalho não foi filósofo. Mas desde as primícias da sua pesquisa intelectual e
histórico-filosófica, ele demonstrou ser pensador ou investigador de ideias
encarnadas, colhidas da sua própria realidade viva e vital, em qualquer época
da história do pensamento, desde a Idade-Média até ao século XIX, desde o
Renascimento até ao século XX. E em todos os domínios da pesquisa
doutrinária: na evolução da metafísica tradicional e escolástica, na libertação
da reflexão livre do Humanismo, na história da ciência moderna, do
racionalismo cartesiano, da filosofia das Luzes, do idealismo alemão, correntes
de que tinha um conhecimento profundo e amplo, e com as quais sabia
relacionar, de maneira científica (isto é, com ostinato rigore), os autores
27
filosófica unificada. Foi dito que os filósofos da escola foram chamados pela
primeira vez de "megáricos", mais tarde foram chamados de eristicos e depois
dialéticos mas é provável que estes nomes designaram grupos dissidentes
distintos da escola Megárica. Além de Íctias, os alunos mais importantes de
Euclides foram Eubulides de Mileto e Clinômaco. Parece ter sido sob
Clinômaco que uma escola dialética separado foi fundada, que colocou grande
ênfase na lógica e dialética e Clinômaco foi dito ter sido "o primeiro a escrever
sobre proposições s e predicados." No entanto, o próprio Euclides ensinou a
lógica, e seu pupilo, Eubulides, que era famoso por empregar paradoxos foi o
professor de vários dialéticos posteriores.
32 Euclides de Mégara foi um filósofo grego natural de Mégara, discípulo de
Capítulo 2
O Tai chi chuan:
filosofia oriental
e cognição
Qualquer sensação exterior se canaliza diretamente até
o nosso corpo através da mente e então, teremos a a
consciência de algo: não unido e sim que separamos. Aí
é que perdemos o mais importante; o instito, a sensação
de estar tranquilo e ao mesmo tempo alerta. O
importante é sentir o segundo de vida que passa, nem
antes e nem depois; em viver cada instante e é onde
teremos poder para cambiar nosso mecânismo de
resposta a qualquer coisa.
Caliz34 (1990)
Capitulo 3
Descartes, o Dualismo
Clássico, mente-corpo e a
Filosofia da Mente
Se quiser buscar realmente a verdade, é preciso que
pelo menos uma vez em sua vida você duvide, ao
máximo que puder, de todas as coisas.
René Descartes
René Descartes:
a distinção mente-corpo
Dualismo e mente
Dualistas de substâncias
Os dualistas da substância tipicamente argumentam que a
mente e o corpo são compostos de substâncias diferentes e que a
mente é uma coisa pensante que carece dos atributos habituais
dos objetos físicos: tamanho, forma, localização, solidez,
movimento, adesão às leis da física e assim, os dualistas de
substâncias caem em vários campos, dependendo de como eles
pensam que a mente e o corpo estão relacionados.
Interacionistas
Os interacionistas acreditam que as mentes e os corpos se
afetam causalmente. Ocasionalistas e paralelistas, geralmente
motivados por uma preocupação em preservar a integridade da
ciência física, negam isso, atribuindo, em última análise, toda a
aparente interação com Deus.
Epifenomenalistas
Os epifenomenistas oferecem uma teoria de compromisso,
afirmando que os eventos corporais podem ter eventos mentais
como efeitos, ao negar que o inverso é verdadeiro, evitando
qualquer ameaça à lei científica de conservação de energia à
custa da noção de senso comum que agimos por razões.
40
Propriedade dualista
Os dualistas da propriedade argumentam que os estados
mentais são atributos irredutivíveis dos estados cerebrais. Para a
propriedade dualista, os fenômenos mentais são propriedades
não físicas de substâncias físicas.
Consciência
A consciência é talvez o exemplo mais amplamente
reconhecido de uma propriedade não física de substâncias
físicas. Ainda outros dualistas argumentam que estados mentais,
disposições e episódios são estados cerebrais, embora os
estados não possam ser conceitualizados exatamente da mesma
maneira sem perda de significado.
Dualistas
Os dualistas geralmente defendem a distinção de mente e
matéria ao empregar a Lei de Identidade de Leibniz, segundo a
qual duas coisas são idênticas, se, e somente se,
simultaneamente, compartilham exatamente as mesmas
qualidades. O dualista então tenta identificar os atributos da
mente que faltam a matéria (como privacidade ou
intencionalidade) ou vice-versa (como ter uma certa temperatura
ou carga elétrica). Os opositores tipicamente argumentam que o
dualismo é (a) inconsistente com leis conhecidas ou verdades da
ciência (como a lei da termodinâmica acima mencionada), (b)
conceitualmente incoerente (porque as mentes imateriais não
podem ser individualizadas ou porque a interação da mente não é
humanamente concebível) Ou (c) redutível ao absurdo (porque
leva ao solipsismo, a crença epistemológica de que a si mesmo é
a única existência que pode ser verificada e conhecida).
41
Capitulo 4
A filosofia de David Hume
e a Teoria da Causalidade
Imaginária
A beleza das coisas existe no espírito de quem as
contempla.
David Hume
Os conceitos de percepção,
experiência e hábito em David Hume
Conforme Vaz (2017), um dos objetivos de Hume é
encontrar os limites do conhecimento humano – os quais vão se
revelar na experiência. A experiência passa a ter lugar central na
filosofia do século XVIII e, principalmente na filosofia de Hume
pelo fato de passar a fundamentar as ciências e, ainda, por ser
reduzida à princípios. A fim de apresentar os princípios do
processo de conhecimento, o filósofo descreve o funcionamento
da mente através de noções como: percepções, impressões,
ideias, hábitos, sensações, emoções, experiência etc. Um dos
princípios mais importantes da ciência da natureza humana de
Hume, apresentada tanto no Tratado da natureza humana e na
Investigação sobre o entendimento humano, é o princípio de que
todo o conhecimento relativo ao mundo se embasa em
percepções, nas experiências. As percepções são definidas como
fenômenos que se dão no espírito humano (mente) através da
sensação interna ou externa. As percepções garantem a
existência do objeto, já que ele só é percebido quando existe. As
percepções são distintas umas das outras e também se ligam
entre si através da relação de semelhança. São consideradas os
44
Capítulo 5
A Filosofia da
Mente e a
Neurociência
Paradoxalmente, o fundo de mistério, aquilo que não se
rende a explicações, que acompanha alguns fenômenos
humanos investigados é tradicionalmente ignorado pela
Ciência, perde seu “status” de conhecimento, ou em
outras palavras, sua validade científica. Ou então,
quando abordado pela Ciência, muitas vezes segue
trajetória reducionista e perde seu caráter misterioso.
Ana Cristina Zimmermann
Camila Torriani-Pasin (2011).
John Locke,
filósofo líder do empirismo britânico
Empirismo
O termo "empirismo" vem do grego έμπειρία, cuja tradução para o latim é
experientia, que significa experiência em português. Na filosofia, empirismo foi
uma teoria do conhecimento que afirma que o conhecimento vem apenas, ou
principalmente, a partir da experiência sensorial. O método indutivo, por sua
vez, afirma que a ciência como conhecimento só pode ser derivada a partir dos
dados da experiência. Essa afirmação rigorosa e filosófica acerca da
construção do conhecimento gera o problema da indução. Um dos vários
pontos de vista da epistemologia, o estudo do conhecimento humano,
juntamente com o racionalismo, o idealismo e historicismo, o empirismo
enfatiza o papel da experiência e da evidência, experiência sensorial,
especialmente, na formação de ideias, sobre a noção de ideias inatas ou
tradições; empiristas podem argumentar, porém, que as tradições (ou
costumes) surgem devido às relações de experiências sensoriais anteriores.
51
Racionalismo
O racionalismo é a corrente filosófica que iniciou com a definição do raciocínio
como uma operação mental, discursiva e lógica que usa uma ou mais
proposições para extrair conclusões, ou seja, se uma ou outra proposição é
verdadeira, falsa ou provável. Essa era a ideia central comum ao conjunto de
doutrinas conhecidas tradicionalmente como racionalismo. O racionalismo é em
parte, a base da Filosofia, ao priorizar a razão como o caminho para se
alcançar a Verdade. O racionalismo afirma que tudo o que existe tem uma
causa inteligível, mesmo que essa causa não possa ser demonstrada
empiricamente, tal como a causa da origem do Universo. Privilegia a razão em
detrimento da experiência do mundo sensível como via de acesso ao
conhecimento. Considera a dedução como o método superior de investigação
filosófica. René Descartes, Baruch Spinoza e Gottfried Wilhelm Leibniz
introduzem o racionalismo na filosofia moderna. Georg Wilhelm Friedrich
Hegel, por sua vez, identifica o racional com o real, supondo a total
inteligibilidade deste último. O racionalismo é baseado nos princípios da busca
da certeza, pela demonstração e análise, sustentados, segundo Kant, pelo
conhecimento a priori, ou seja, o conhecimento que não é inato nem decorre da
experiência sensível, mas é produzido somente pela razão.
Perspectivas contemporâneas
em filosofia da mente
Conforme Cescon (2010), a Filosofia da Mente aborda as
questões epistemológicas que estão por detrás da pesquisa
científica sobre a mente, usando o método especulativo (com
experiências mentais) e levando em consideração os resultados
obtidos na pesquisa empírica. Um dos problemas fundamentais
tratados é o problema mente-cérebro, diante do qual os teóricos
normalmente seguem uma de quatro perspectivas: new
mysterianism, reducionismo, funcionalismo e fenomenologia.
New mysterianism
O New Mysterianism é a posição filosófica segundo a qual
o problema difícil da consciência jamais será explicado. Seria
impossível explicar tal problema a partir da mente humana e do
seu atual estágio de desenvolvimento. Esta posição também é
conhecida como naturalismo anti-construtivo ou naturalismo
transcendental (Cescon, 2010).
Conforme Castilho (2017), o debate entre realismo e anti-
realismo científico pode ser considerado um dos mais importantes
da filosofia da ciência, visto que aborda a atividade científica
como um todo. Segundo a mesma autora, uma das principais
questões referente à Epistemologia ao estudo ou teoria do
conhecimento, diz respeito aos limites do que se pode conhecer,
i.e., questiona-se sobre o que pode ou não ser conhecido. Frente
a tal questionamento podemos destacar duas posições ou
doutrinas filosóficas: o realismo e o anti- realismo que:
A autora, citando Hacking41 (1983) e Plastino42 (1995),
escreveu que maneira simplista, podemos afirmar que o realismo
considera que:
41 HACKING, I. Representing and intervening. Cambridge: Cambridge
University Press, 1983.
42 PLASTINO, C. E. Realismo e anti-realismo acerca da ciência: considerações
“Princípio da Incerteza”
e a Filosofia da Mente
Werner Karl Heisenberg (Würzburg, 5 de dezembro de
1901 — Munique, 1 de fevereiro de 1976) foi um físico teórico
alemão que recebeu o Nobel de Física de 1932, "pela criação da
mecânica quântica, cujas aplicações levaram à descoberta, entre
outras, das formas alotrópicas do hidrogênio". Juntamente com
Max Born e Pascual Jordan, Heisenberg estabeleceu as bases da
formulação matricial da mecânica quântica em 1925. Em 1927,
publicou o artigo Über den anschaulichen Inhalt der
quantentheoretischen Kinematik und Mechanik, em que apresenta
o Princípio da Incerteza. Também fez importantes contribuições
teóricas nos campos da hidrodinâmica de escoamentos
turbulentos, no estudo do núcleo atômico, do ferro-magnetismo,
dos raios cósmicos e das partículas subatômicas. Teve ainda uma
contribuição fundamental no planejamento do primeiro reator
nuclear alemão em Karlsruhe e de um reator de pesquisa em
Munique, em 1957. Muitas controvérsias envolvem o seu trabalho
na pesquisa nuclear durante a Segunda Guerra Mundial
(Wikipédia, 2017).
Conforme Zimmermann e Torriani-Pasin (2011), já na
primeira metade do séc. XX, Heisenberg formula o “Princípio da
Incerteza”, na mecânica quântica, afirmando a impossibilidade de
se determinar com precisão a posição e a velocidade de uma
partícula simultaneamente uma vez que o distúrbio causado pela
observação é comparável aos próprios fenômenos que estão
sendo observados. Entre outras consequências, confirma-se a
dificuldade em ignorar a interação observador-sistema observado.
Este pressuposto, amplamente considerado nas Ciências
Humanas, surpreende em outros campos. A complexidade da
pesquisa mostra-se a cada movimento da Ciência em busca do
desconhecido e do dificilmente mensurável sob diversas óticas.
Na Educação Física, por exemplo, quando tentamos pensar o
movimento humano, esse corpo vivo em relação com o mundo,
por meio de conceitos restritos a uma única área, constata-se a
complexidade deste fenômeno por meio do aparecimento de
lacunas, espaços em que o imponderável se apresenta. A
elaboração de premissas explicativas para o movimento torna-se
57
Capítulo 6
A Introdução à
Neurofilosofia:
a relação entre a
mente e o corpo
O cansaço físico, mesmo que suportado forçosamente,
não prejudica o corpo, enquanto o conhecimento imposto
à força não pode permanecer na alma por muito tempo.
Platão
Neurofilosofia da racionalidade
A Racionalidade na
Filosofia da Consciência
Conforme Sousa (2017), em Meditações Metafísicas,
Descartes demonstra a distinção real entre a mente e o corpo. É
dele a frase ”penso, logo existo”. Com isto quis dizer que a
consciência implica em existência. Nesta obra estão os
argumentos para provar o dualismo entre mente e corpo quando
explica “...há uma grande diferença entre o espírito e o corpo pelo
49 Quimera (em grego transl.: Chímaira) é uma figura mística caracterizada por
uma aparência híbrida de dois ou mais animais e a capacidade de lançar fogo
pelas narinas, sendo portanto, uma fera ou besta mitológica. Oriunda da
Anatólia e cujo tipo surgiu na Grécia durante o século VII a.C., sempre exerceu
atração sobre o imaginário popular. De acordo com a versão mais difundida da
lenda, a quimera era um monstruoso produto da união entre Equidna metade
mulher, metade serpente e o gigantesco Tifão. Outras lendas a fazem filha da
hidra de Lerna e do leão da Nemeia, que foram mortos por Hércules. Criada
64
pelo rei da Cária, mais tarde assolaria este reino e o de Lícia bafejando fogo
incessantemente, até que o herói Belerofonte, montado no cavalo alado
Pégaso, conseguiu matá-la. Com o passar do tempo, chamou-se
genericamente quimera a todo monstro fantástico empregado na decoração
arquitetônica.
65
Capítulo 7
Os primórdios da
Neuroantropologia
Conhece-te a ti próprio e
conhecerás o Universo e os
Deuses.
Sócrates
Sísifo
Na mitologia grega, Sísifo (em grego transl.: Sísyphos),
filho do rei Éolo, da Tessália, e Enarete, era considerado
o mais astuto de todos os mortais. Foi o fundador e
primeiro rei de Éfira, depois chamada Corinto, onde
governou por diversos anos. Casou-se com Mérope, filha
de Atlas, sendo pai de Glauco e avô de Belerofonte.
Mestre da malícia e da felicidade, ele entrou para a
tradição como um dos maiores ofensores dos deuses.
Segundo Higino, ele odiava seu irmão Salmoneu;
perguntando a Apolo como ele poderia matar seu
inimigo, o deus respondeu que ele deveria ter filhos com
Tiro, filha de Salmoneu, que o vingariam. Dois filhos
nasceram, mas Tiro, descobrindo a profecia, os matou.
Sísifo se vingou ... e, por causa disso, ele recebeu como
castigo na terra dos mortos empurrar uma pedra até o
lugar mais alto da montanha, de onde ela rola de volta.
Segundo Pausânias, ele tornou-se rei de Corinto após a
partida de Jasão e Medeia; nesta versão, Medeia não
matou os próprios filhos por vingança, mas escondeu-os
no templo de Hera esperando que, com isso, eles se
tornassem imortais. Sísifo casou-se com Mérope, uma
71
53 Zeus (em grego antigo transl. Zeús; em grego moderno transl. Días), é o pai
dos deuses e dos homens, que exercia a autoridade sobre os deuses olímpicos
na antiga religião grega. É o deus dos céus, raios, relâmpago que mantêm a
ordem e justiça na mitologia grega. Seu equivalente romano é Júpiter,
enquanto seu equivalente etrusco é Tinia; alguns autores estabeleceram seu
equivalente hindu como sendo Indra. Filho do titã Cronos e de Reia, Zeus é o
mais novo de seus irmãos; na maior parte das tradições é casado, primeiro
com Métis, engendrando a deusa Atena e, depois, com Hera, embora no
oráculo de Dodona, sua esposa seja Dione, com quem, de acordo com a Ilíada,
ele teria gerado Afrodite. É conhecido por suas aventuras eróticas, que
frequentemente resultavam em descendentes divinos e heroicos, como Atena,
Apolo e Ártemis, Hermes, Perséfone (com Deméter), Dioniso, Perseu,
Héracles, Helena de Troia, Minos, e as Musas (de Mnemosine); com Hera, teria
tido Ares, Ênio, Ilítia, Éris, Hebe e Hefesto. Mesmo os deuses que não são
filhos naturais de Zeus dirigem-se a ele como Pai, e todos os deuses se põem
de pé diante de sua presença. Para os gregos, era o Rei dos Deuses, que
supervisionava o universo. Nas palavras do geógrafo antigo Pausânias, que
Zeus é rei nos céus é um dito comum a todos os homens. Na Teogonia, de
73
Hesíodo, Zeus é responsável por delegar a cada um dos deuses suas devidas
funções. Nos Hinos Homéricos ele é referido como o chefe dos deuses.
74
O que é a Neuroantropologia?
A neuroantropologia é um novo campo de estudo do
cérebro, do sistema nervoso, e a sua interação na cultura e do
comportamento humano, tendo como principal objetivo
compreender a formação biológica do cérebro, e o sistema
nervoso, e a relação com o sistema social e cultural das pessoas.
Um exemplo didático entre a relação de biologia e cultura no
processo de desenvolvimento do processo humano é a
75
Neuroantropologia cognitiva
Segundo Costa (2014), a neuroantropologia cognitiva
estuda as relações entre alterações corporais e cerebrais, no
processo da evolução biológica. Tem como objetivo explicar os
processos neurocognitivos do o que é considerado como
propriamente humano tais como compreensão de símbolos,
orientação diferenciada do ser humanos, uso diferenciado de
tecnologia, capacidade de design, de destreza e apontar as
capacidades cerebrais de ascendentes do homem e de outras
habilidades. Visa analisar uma das mais interessantes
manifestações da vida: a cognição humana. Também pode
contribuir com explanações teóricas da psicologia, neurologia,
psiquiatria, ciências cognitivas e neurociência em geral. A
neuroantropologia ganhou destaque nos anos 1970, quando
Oliver Sacks, professor de neurologia da Escola de Medicina
Albert Einstein da Universidade de Nova York, começou a
trabalhar também como neurologista, no Hospital Berth Abraham,
no Bronx, em Nova York, onde trabalhou com pacientes que se
caracterizavam, por estarem há décadas, em estado catatônico,
incapazes de qualquer tipo de movimento (este caso inspirou-o a
escrever, em 1973, o livro Awakenings, retratado no filme Tempo
de Despertar) . Dez anos depois, Oliver Sacks constatou que
esses doentes eram sobreviventes e descendentes de portadores
de uma grande epidemia da doença do sono que assolou o
Alasca, entre 1916 e 1927. Tratou-os então com um medicamento
novo, A L-dopa, que permitiu que eles aos poucos regressassem
a vida normal.
De acordo com Costa (2014), um dos tópicos mais
interessantes da neuroantropologia é o estudo da evolução do
trabalho humano, suas relações com as atividades corporais, o
desenvolvimento cerebral e a evolução das ferramentas
cognitivas tais como a inteligência. Além disso, ainda pode
estudar dentro da sua ampla gama de alcance de outros tópicos
igualmente relevantes, tais como: as influências dos fatores
biológicos, como o desenvolvimento do aparelho neuropalatal e
as aquisições neurais provindas da neotenia; as alterações dos
fatores comportamentais, influenciados pela adoção do
77
Nature X Nurture
Conforme a Prof. Dr. Paula Moiana da Costa (2017), é
comum encontrarmos pessoas defendendo origens
diferentes para dadas características humanas,
principalmente àquelas subjetivas e/ou que se referem
ao comportamento. Chamamos de “Nature” aquilo que é
inato, determinado biologicamente. Seu oposto, o
“Nurture”, está relacionado com o ambiente, com o que é
determinado cultural ou contingencialmente. Segundo
ela, podemos considerar que o debate Nature X Nurture
tenha sido originado entre os séculos XVI e XVII, com
René Descartes e John Locke, dentro do que chamamos
de “Empirismo X Racionalismo”. Descartes, defensor do
Racionalismo, postulava existirem 3 tipos de ideias: as
adventícias, factícias (produzida artificialmente), e as
inatas. As ideias adventícias seriam as coletadas
diretamente do meio através de nosso sentido. As
factícias seriam uma derivação das adventícias,
78
54 Tabula rasa é uma expressão latina que significa literalmente "tábua raspada",
e tem o sentido de "folha de papel em branco". A palavra tábula, neste caso,
refere-se às tábuas cobertas com fina camada de cera, usadas na antiga Roma,
para escrever, fazendo-se incisões sobre a cera com uma espécie de estilete.
55 Burrhus Frederic Skinner (Susquehanna, Pensilvânia, 20 de março de 1904
A alvorada da mente
Conforme Bartoszeck e Bartoszeck (2007), no alvorecer do
desenvolvimento da vida, a paisagem terrestre não era tão
aprazível, como supõem algumas teorias criacionistas, as quais
entendem que, naquele momento, os animais pareciam tais como
são hoje em dia. Ao contrário disso, o início de tudo compreendia
um ambiente no qual havia extremos de temperatura e de
substâncias químicas, atualmente consideradas tóxicas.
Posteriormente, com o resfriamento, algumas dessas substâncias
conseguiram o prodígio de se autorreplicarem e de se auto-
organizarem, utilizando-se, para isso, tão somente de fragmentos
moleculares presentes em seu círculo imediato de interação. De
acordo com os mesmos autores, em tais condições, o
crescimento populacional desses seres seria compelido pela
disponibilidade da matéria-prima para sua replicação, visto que,
naquele período, os seres eram considerados os mais bem
sucedidos, por serem os que desenvolveram formas de se
protegerem de predadores externos e estratégias químicas para
que substâncias necessárias fossem fabricadas posteriormente,
no interior do ser, sem que fosse preciso uma exposição ao meio
ambiente demasiadamente desnecessária.
Segundo Bartoszeck e Bartoszeck (2007), a resposta dada
a esses problemas pela evolução foi o surgimento da célula. Esse
novo ser é dotado de membranas protetoras, as quais guarnecem
suas miríades de organelas especializadas, atuam em complexas
reações metabólicas em seu interior e transformam estruturas
moleculares externas em substâncias mais simples. Em um lugar
privilegiado no interior da célula há o ácido nucléico DNA, que já
existia em algumas células de bactérias, chamadas de
procariontes, e ainda se encontra disperso. Já aquelas que têm
uma segunda membrana protetora do DNA no interior do núcleo
chamam-se eucariontes. Nós, seres humanos, somos uma
construção sofisticada dessas células eucariontes, pois elas
constituem a vida tal como a conhecemos: com a célula
dominando todos os redutos do planeta, muitas vezes até em
vulcões.
Conforme Costa (2014), pode dar respostas de como o
cérebro evoluiu e as condições que se formaram certas partes do
83
Capítulo 8
A Neuroanatomia
Funcional
A dor e o prazer não são imagens gêmeas ou simétricas
uma da outra, pelo menos não o são em termos de suas
funções no apoio à sobrevivência. De certa forma, e a
maior parte das vezes, é a informação associada à dor
que nos desvia do perigo iminente, tanto no momento
presente como no futuro antecipado, É difícil imaginar
que os indivíduos e as sociedades que se regem pela
busca do prazer, tanto ou ainda mais que pela fuga à
dor, consigam sobreviver.
António Damásio
O sistema nervoso
O sistema nervoso é a parte do organismo que transmite
sinais entre as diferentes partes do organismo e coordena suas
ações voluntárias e involuntárias. O tecido nervoso surge com os
vermes, cerca de 550 a 600 milhões de anos atrás. Na maioria
das espécies animais, constitui-se de duas partes principais: o
sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico
(SNP).
As questões pertinentes à relação mente-cérebro têm sido
objeto de muitas investigações. Durante a evolução filogenética o
sistema nervoso central, e em especial as estruturas encefálicas,
relacionadas com o comportamento e com as funções cognitivas
e emocionais, se desenvolveram de forma complexa
caracterizando o ser humano e diferenciando-o de seus
ancestrais. É provável que as necessidades adaptativas, geraram
o crescimento do SNC e acarretaram uma maior imbricação de
dobramentos de estruturas encefálicas, dando origem à atual
conformação do mesmo. As estruturas telencenfálicas atuais,
87
Os invertebrados.
Conforme J Francisco Saraiva de Sousa (2017), em seu
blog sobre neurofilosofia, no registo fóssil, as bactérias e as algas
são os primeiros organismos celulares identificados. Existiram há
cerca de 3 000 milhões de anos, são seres procariotas e
constituem o Reino Monera. Seguem-se os organismos
eucariotas unicelulares, representados pelos protozoários, que
constituem o Reino Protista. Além de um núcleo distinto e
definido, estes organismos apresentam outras especializações,
nomeadamente formação dos cromossomas, mecanismos de
replicação e de reprodução da mitose e meiose, organelos
citoplasmáticos (mitocôndrias e retículo endoplasmático), cílios
contendo microtúbulos e capacidades de fagocitose, pinocitose,
movimentos amebóidais e excitabilidade ou irritabilidade. O
89
Ropálio em medusas
Platelmintos e nematoides
As planárias, um tipo de platelminto, possuem uma corda
nervosa dupla que percorre todo o comprimento do corpo e se
funde com a cauda. Estas cordas nervosas são conectadas por
nervos transversais, como os degraus de uma escada. Estes
nervos ajudam a coordenar os dois lados do animal. Dois grandes
gânglios na extremidade da cabeça funcionam de modo
semelhante a um cérebro simplificado. Fotorreceptores nos ocelos
desses animais provém informação sensorial sobre luz e
escuridão. Porém, os ocelos não são capazes de formar imagens.
Moluscos
Enguia.
Neurônio
O neurônio é a unidade básica
do cérebro e do sistema nervoso
O neurônio é a célula do sistema nervoso responsável pela
condução do impulso nervoso. Há cerca de 86 bilhões (até 20 de
fevereiro de 2009 se especulava que havia 100 bilhões) de
neurônios no sistema nervoso humano. O neurônio é constituído
pelas seguintes partes: corpo celular, o núcleo celular, dendritos
(prolongamentos numerosos e curtos do corpo celular, receptores
de mensagens), axônio (prolongamento que transmite o impulso
nervoso vindo do corpo celular) e telodendritos. O neurônio pode
95
Anatomia do neurônio.
Neuróglia
As células da glia, geralmente chamadas neuróglia,
nevróglia, gliócitos ou simplesmente glia (em grego, "cola"), são
células não neuronais do sistema nervoso central que
97
Macroglia
Os tipos de células da macróglia são astrócitos,
oligodendrócitos e células de Schwann, ambos formados a partir
de glioblastos, que são células embrionais de derivação
neuroepitelial. Por volta da quinta semana de vida fetal, ocorre o
fechamento do tubo neural e a formação do sulco neural, a partir
do qual se forma a primitiva medula espinhal, constituída de
epitélio pseudoestratificado (estrato neuroepitelial). Ali, as células
se multiplicam e se diferenciam em neuroblastos (precursores dos
neurônios) e glioblastos. Quando cessa a produção de
neuroblastos, os glioblastos migram pela camada de substância
cinzenta (camada interna da medula espinhal), dando origem aos
98
Funções
As principais funções das células da glia são cercar os
neurônios e mantê-los no seu lugar, fornecer nutrientes e oxigênio
para os neurônios, isolar um neurônio do outro, destruir
patógenos e remover neurônios mortos. Mantêm a homeostase,
formam mielina e participam na transmissão de sinais no sistema
nervoso. As células de glia têm a importante função de produzir
moléculas que modificam o crescimento de dendritos e axônios.
Descobertas recentes no hipocampo e cerebelo indicam que
também participam ativamente nas transmissões sinápticas,
regulando a liberação de neurotransmissores ou liberando-os,
elas mesmas, e liberando ATP que modela funções pré-
sinápticas. São cruciais na reparação de neurônios que sofreram
danos: no sistema nervoso central, a glia impede a reparação (os
astrócitos alargam e proliferam, de modo a produzirem mielina e
moléculas que inibem o crescimento de um axônio lesado); no
99
Sinapses
Sinapses são zonas ativas de contato entre uma
terminação nervosa e outros neurônios, células musculares ou
células glandulares. Do ponto de vista anatômico e funcional, uma
sinapse é composta por três grandes compartimentos: membrana
da célula pré-sináptica, fenda sináptica e membrana pós-
sináptica. Os principais tipos de contato sináptico são: axo-
somático (entre um axônio e o corpo celular), axo-dendrítico
(entre um axônio e um dendrito), neuro-efetor (entre a terminação
nervosa e a célula efetora, fibra muscular lisa, fibra muscular
cardíaca ou célula glandular), neuromuscular (entre a terminação
nervosa e a fibra muscular esquelética).
100
Neurotransmissores
Neurotransmissores são substâncias químicas produzidas
pelos neurônios (as células nervosas), com a função de
biossinalização. Por meio delas, podem enviar informações a
outras células. Podem também estimular a continuidade de um
impulso ou efetuar a reação final no órgão ou músculo alvo. Os
neurotransmissores agem nas sinapses, que são o ponto de
junção do neurônio com outra célula.
Classificação
Aminas biogênicas:
. Catecolaminas:
. Adrenalina ou epinefrina, noradrenalina ou norepinefrina e
dopamina.
Neuropeptídeos
Neuropeptídeos: endorfina, encefalina, vasopressina, oxitocina,
orexina, neuropeptídeo Y, substância P, dinorfina A,
somatostatina, colecistoquinina, neurotensina, hormona
luteinizante, gastrina e enteroglucagon.
104
Radicais livres
Radicais Livres: Óxido Nítrico (NO2), monóxido de carbono
(CO), trifosfato de adenosina (ATP) e de ácido araquidônico.
Colinérgico
Colinérgico: Acetilcolina.
Neurotransmissores:
formação e liberação
Na figura a seguir apresentamos a formação e liberação
dos neurotransmissores.
106
Locais de ação
Essas substâncias atuam no encéfalo, na medula espinhal
e nos nervos periféricos e na junção neuromuscular ou placa
motora.
Junção neuromuscular
Funções
São aminas biogênicas: a adrenalina, serotonina,
noradrenalina, dopamina, histamina, melatonina e DOPA. O
glutamato e o aspartato são os transmissores excitatórios bem
conhecidos, enquanto que o ácido gama-aminobutírico (GABA), a
glicina e a taurina são neurotransmissores inibidores.
107
Dopamina
Controla a estimulação e os níveis do controle motor.
Quando os níveis estão baixos no mal de Parkinson, os pacientes
não conseguem se mover. Presume-se que a cocaína e a nicotina
atuam liberando uma quantidade maior de dopamina na fenda
sináptica. Porém, existem alguns fármacos que atuam elevando
os níveis de Dopamina, são os Medicamentos Precursores da
Dopamina, agonistas de receptores dopaminérgicos, inibidores
seletivos da MAO-B(monoaminoxidase - b) , inibidores da COMT
(catecol-o-ometil-transferase), Liberadores de dopamina,
bloqueadores de sua recaptação e estimulantes de sua síntese.
Serotonina
Esse neurotransmissor é um dos mais importantes e com
mais receptores e funções diferentes. Possui forte efeito no
humor, memória, aprendizado, alimentação, desejo sexual e sono
reparador. A falta desse neurotransmissor é a causa de
transtornos depressivos, alimentares, sexuais e do sono. Para sua
boa produção é importante o consumo de triptofano, uma boa
rotina de 6 a 8h de sono e exercícios regulares. A maioria dos
antidepressivos são estimuladores de neurotransmissores
(serotonina, dopamina e noradrenalina), mas seus resultados são
questionáveis devido ao fato de algumas pessoas sadias não
apresentarem redução na taxa dos mesmos.
Acetilcolina
A acetilcolina (ACh) é que controla a atividade de áreas
cerebrais relacionadas à atenção, aprendizagem e memória. É
liberada pelos núcleos colinérgicos e é responsável pelo sistema
parassimpático atuando na junção neuromuscular para relaxar
músculos esqueléticos e contrair o sistema digestivo e excretor,
efeito oposto ao da adrenalina. Desse modo é importante para a
boa digestão e relaxamento muscular.
Noradrenalina
108
Glutamato
O principal neurotransmissor excitatório do sistema
nervoso. O glutamato atua em duas classes de receptores: os
ionotrópicos (que quando ativados exibem grande condutividade a
correntes iônicas) e os metabotrópicos (agem ativando vias de
segundos mensageiros). Os receptores ionotrópicos de glutamato
do tipo NMDA são implicados como protagonistas em processos
cognitivos que envolvem a destruição de células.
Aspartato
Também atua como neuromodulador excitatório, de modo
similar ao glutamato.
Glicina
A glicina é um neurotransmissor aminoácido encontrado
em todo o organismo, e atua como neurotransmissor inibitório em
neurônios do sistema nervoso central, principalmente a nível de
tronco cerebral e da medula espinhal. Também atua como anti-
inflamatório, protetor celular e na modulação do sistema imune.
Substância P
A substância P é um neuropeptídeo que atua como
neuromodulador. Ela facilita processos inflamatórios como vômito
109
Neurotensina
A neurotensina é um tridecapeptídeo, encarregado de
regular o hormônio luteinizante e a liberação de prolactina e
interage com o sistema dopaminérgico. Esse neuropeptídio está
distribuído por todo sistema nervoso central, com níveis mais
elevados no hipotálamo, amígdala e núcleo acumbente; no
sistema nervoso periférico, pode ser encontrado nas células
endócrinas no intestino delgado. Dentre os seus papeis
funcionais, destacam-se a regulação da atividade locomotora,
analgésica (diminuição da dor), hipotermia (diminuição da
temperatura corporal), regulação das vias de dopamina, aumento
da produção de glutamato e alterações na pressão arterial.
Opioides
Encefalina, endorfina e dinorfinas são opiáceos que, como
as drogas heroína e morfina, modulam as respostas a dor,
relaxamento muscular e reduzem o estresse. Também estão
envolvidas nos mecanismos de dependência física. Além de seu
envolvimento nas vias de dor, o sistema opioide está largamente
representado em áreas cerebrais envolvidas na resposta à
substâncias psicoativas, como a área tegmental ventral e a
cápsula no núcleo acumbente. Os peptídeos opióides estão
envolvidos em grande variedade de funções, regulando funções
de respostas ao estresse, de alimentação, de humor, de
aprendizado, de memória e imunes, além de apresentar grande
importância na modulação de inúmeras funções sensoriais,
motivacionais, emocionais e funções cognitivas.
110
Melatonina
Causa sono quando está escuro, regulando assim o ciclo
claro-escuro, uma das partes mais importantes para o bom
funcionamento do ciclo circadiano, que prepara o organismo para
a maior ou menor produção de hormônios e enzimas dependendo
do horário do dia.
Histamina
No hipotálamo a histamina regula funções térmicas e
relacionadas ao despertar. No resto do organismo é importante
para regular o fluxo sanguíneo e resposta a inflamação.
Orexígenos e anorexígenos
Orexígenos são responsáveis por causar fome e apetite,
enquanto anorexígenos produzem saciedade. Dentre os principais
orexígenos estão o neuropeptídeo Y, a “proteína relacionada ao
gene do agouti” (AGRP), as orexinas, o hormônio concentrador de
melanina (MCH) e a colecistoquinina (CCK) enquanto dentre os
anorexígenos os principais são o “alfa-hormônio estimulador dos
melanócitos” (aMSH), transcrito regulado pela cocaína e
anfetaminas (CART) e a lisina.
Neuropeptídeos
No início da década de 70, investigações com aminoácidos
evidenciaram seu envolvimento no processo de transmissão
sináptica. Foi descoberto que, além de seu papel metabólico,
certos aminoácidos desempenhavam também o papel de
neurotransmissores. Desde então, foi crescendo o número de
peptídeos caracterizados como neurotransmissores. Os
neuropeptídios são sintetizados de outro modo e tem ações que
são em geral lentas e muito diferentes das dos
neurotransmissores de moléculas menores. Os neuropeptídios
não são sintetizados no citosol dos terminais pré-sinápticos como
neurotransmissores não peptídicos, mas são sintetizados como
grandes moléculas proteicas.
111
Síntese de neuropepitíteos
Patologias
A diminuição dessas substâncias
provoca alteração doenças
psiquiátricas como:
. Transtornos do humor
. Transtornos de ansiedade
. Transtornos alimentares
. Transtornos sexuais
. Distúrbios do sono
. Distúrbios de memória e aprendizagem
E doenças neurológicas como:
. Fibromialgia, dor crônica e enxaquecas,
. Demências como parkinson e alzheimer,
. Convulsões e epilepsia,
. Transtornos motores como tremores, rigidez e espasmos.
114
Regiões do cérebro e
suas diferentes funções.
O córtex cerebral é dividido em áreas denominadas lobos
cerebrais, cada uma com funções diferenciadas e especializadas.
Afasia
127
Fasciculus Arcuate
Um trato de matéria branca que liga a área de Broca e a
área de Wernicke através dos lobos temporais, parietais e
frontais. Permite uma fala coordenada e compreensível. Os danos
podem resultar em:
. Afasia de Condução
Onde a compreensão auditiva e a articulação da fala são
preservadas, mas as pessoas dificilmente repetem a fala ouvida.
Área de Brodmann
Área de Brodmann é uma região do córtex cerebral definida
com base nas suas estruturas citoarquitetonicas e organização de
suas células. Originalmente definidas e numeradas pelo alemão
anatomista Korbinian Brodmann baseadas na organização
citoarquitetural dos neurônios que ele observou no córtex
cerebral. Brodmann publicou seus mapas de áreas corticais em
humanos, macacos e outras espécies, em 1909, junto com muitas
outras descobertas e observações sobre os tipos de células em
geral e a organização laminar do córtex dos mamíferos. O mesmo
número de área de Brodmann em diferentes espécies não indica
necessariamente áreas homólogas. Um mapa cortical similar,
porém, mais pormenorizado, cortical foi publicado por Constantin
von Economo e N. Georg Koskinas em 1925.
Importância na atualidade
136
Áreas de Brodmann em
primatas e humanos
Cada área tem mais de uma função, múltiplas áreas são
usadas em cada atividade e um lado frequentemente
tem prevalência sobre o outro (Wikipédia, 2017).
137
Cerebelo
Em 1504, Leonardo da Vinci70 cunhou o termo "
“cerebellum" (latino para "pequeno cérebro") depois de fazer
Cerebelo
C
Conforme os mesmos autores, é o cérebro dos mamíferos
superiores, aí incluídos os primatas e, consequentemente, o
homem. Essas três camadas cerebrais foram aparecendo, uma
após a outra, durante o desenvolvimento do embrião e do feto
(ontogenia), recapitulando, cronologicamente, a evolução
(filogenia) das espécies, do lagarto até o homo sapiens. No dizer
de MacLean, elas são três computadores biológicos que, embora
interconectados, conservam, cada um, nas palavras do cientista,
"suas próprias formas peculiares de inteligência, subjetividade,
sentido de tempo e espaço, memória, motricidade e outras
funções menos específicas". Na verdade, são três unidades
cerebrais constituindo um único cérebro. A unidade primitiva é
responsável pela autopreservação. É aí que nascem os
mecanismos de agressão e de comportamento repetitivo. É aí que
acontecem as reações instintivas dos chamados arcos reflexos e
os comandos que possibilitam algumas ações involuntárias e o
controle de certas funções viscerais (cardíaca, pulmonar,
intestinal, etc), indispensáveis à preservação da vida. No curso da
evolução, parte dessas funções reptilianas foram sendo perdidas
ou minimizadas (em humanos, a amígdala e o córtex entorrinal
são as únicas estruturas límbicas que mantêm projeções para o
sistema olfatório). É também aí, no complexo-R, que se esboçam
as primeiras manifestações do fenômeno de ritualismo, através do
qual o animal visa marcar posições hierárquicas no grupo e
estabelecer o próprio espaço em seu nicho ecológico (delimitação
de território).
151
As hierarquias
neurais e mentais
Gerald Wiest (2012) do Departamento de Neurologia,
Medica Universidade Médica de Viena, Austria (Department of
Neurology, Medical University Vienna), publicou o artigo intitulado
“Neural and mental hierarchies” (“Hierarquias neurais e mentais”),
onde afirmou que a história das ciências do cérebro e da mente
humana tem sido caracterizada desde o início por duas tradições
paralelas. A teoria predominante que ainda influencia a forma
como as técnicas atuais de neuroimagem interpretam a função
cerebral, pode ser rastreada até as teorias clássicas de
localização, que por sua vez retornam às primeiras teorias
frenológicas.
Frenologia
Frenologia (do Grego: phren, "mente"; e logos, "lógica ou
estudo") é uma teoria que reivindica ser capaz de
determinar o caráter, características da personalidade, e
grau de criminalidade pela forma da cabeça (lendo
"caroços ou protuberâncias"). Desenvolvido por médico
alemão Franz Joseph Gall por volta de 1800, e muito
popular no século XIX, está agora desacreditada e
classificada como uma pseudociência. A Frenologia,
contudo, recebeu crédito como uma protociência por
contribuir com a ciência médica com as ideias de que o
cérebro é o órgão da mente e áreas específicas do
cérebro estão relacionadas com determinadas funções
do cérebro humano. Seus princípios eram que o cérebro
é o órgão da mente, e essa mente tem um jogo de
diferentes faculdades mentais e comportamento, cada
sentido em particular tem sua representação em uma
parte diferente do órgão ou cérebro. Estas áreas seriam
proporcionais a cada indivíduo, dadas as propensões e
importância da faculdade mental e personalidade, e o
osso sobrejacente do crânio refletiria estas diferenças. A
Frenologia, que foca a personalidade e o caráter, é
diferente da craniometria, que é o estudo do tamanho do
crânio, peso e forma, e Fisionomia, é o estudo das
características faciais. No entanto, estes campos de
estudo têm tentado reivindicar a suposta capacidade de
predizer características ou inteligência. Este assunto
também é razão de estudo e controvérsias na
antropologia/etnologia e às vezes utilizado
153
Teorias neurológicas de
Hughlings-Jackson
O darwinismo e os conceitos de evolução desenvolvidos
no final do século XIX influenciaram muitos
neurologistas. O de maior destaque na Inglaterra foi
John Hughlings Jackson (1835-1911). O
desenvolvimento de uma teoria para as doenças
neurológicas e mentais, baseada em especulações
sobre a observação de casos de epilepsia, alterações de
linguagem e de acidentes vasculares cerebrais, exerceu
grande influência sobre a psiquiatria e a psicologia
continental do século XIX; entretanto, por motivos ainda
obscuros, houve relativamente pouca influência dessas
idéias sobre a própria psiquiatria britânica. Por outro
lado, os historiadores da medicina, da primeira metade
do século XX, consideram determinante a contribuição
de H. Jackson na concepção da denominada neurologia
moderna. Hughlings Jackson publicou cerca de 320
artigos médicos entre 1861 e 1909, nas mais importantes
revistas de medicina em circulação da época, além de
proferir inúmeras palestras e aulas significativas no
desenvolvimento de suas teorias. Seus artigos foram
reunidos e organizados posteriormente. Duas coleções
de seus trabalhos foram editadas por J. Taylor. Tratam-
se do Neurological Fragments of J. Hughlings Jackson
(Londres, 1925) e dos Selected Writings of John
Hughlings Jackson (Londres, 1931, 2 vols.). Em 1878, H.
Jackson foi um dos co-fundadores da revista Brain, a
prestigiosa publicação oficial da Sociedade de
Neurologia de Londres, da qual foi editor por vários anos
(Kurcgant e Pereira, 2003). John Hughlings Jackson
(1835-1911) elaborou as idéias neurológicas que se
tornaram bases da neurologia moderna. Os detalhes
biográficos para ele podem ser encontrados em seus
obituários (John Hughlings Jackson, BMJ 1911, John
Hughlings Jackson, Lancet, 1911), nos esboços
biográficos de seu amigo ao longo da vida Jonathan
Hutchinson (Hutchinson, 1911), seu colega e amanuense
James Taylor (Taylor , 1925) e em uma biografia
moderna (Critchley e Critchley, 1998). Greenblatt
estudou suas influências iniciais (Greenblatt, 1965) e
York e Steinberg fornecem um catálogo razoável de seus
155
Fundamentos filosófico
e Biologicos
Segundo escreveu Wiest (2012), de acordo com a biologia
moderna, o desenvolvimento das hierarquias distingue o mundo
orgânico do anorganico80 (o autor citando Mayr81, 1997). Herbert
Spencer82 (1820-1903) foi o primeiro que - influenciado pelo
Neuroanatomia e função da
medula espinhal
Nervos espinhais
São nervos que se originam da medula espinhal,
responsáveis pela inervação do tronco, dos membros superiores e
partes da cabeça. Ao todo, compreendem 31 pares (Portal
Educacao, 2017):
• Oito pares de nervos cervicais, que deixam a coluna na região
cervical.
• Doze pares de nervos torácicos, que deixam a coluna na região
torácica.
• Cinco pares de nervos lombares, que deixam a coluna na região
lombar.
• Cinco pares de nervos sacrais, que deixam a coluna na região
sacral.
•. Um par de nervos coccígeo, que deixa a coluna na região
cocciana
162
Desenvolvimento cerebral
163
Capítulo 9
A Neurobiologia
da memória e
esquecimento
Esquecer é uma necessidade.
A vida é uma lousa, em que o destino,
para escrever um novo caso, precisa de
apagar o caso escrito.
Machado de Assis
Bases neuroanatômicas e
neurofisiológicas da memória
Segundo Vivas (2017), geralmente se reconhecem as
seguintes etapas na formação de uma memória: aquisição,
consolidação e armazenamento. O proceso de aquisição implica
no ingresso da informação ao cérebro através dos órgãos
sensoriais e os cortéx sensoriais primários (visual, auditivo,
somatosensorial) chegando a um primeiro espaço da memória: a
memória de trabalho. A consolidação implica na repetição da
informação e a elaboração de representações robustas no
cérebro. O armazenamento, por sua parte, implica na geração de
traços relativamente estáveis de conhecimento. Estas etapas
ocorrem para a aquisição de diversos tipos de conhecimento (de
episódios, de conceitos, de procedimentos, etc.).
Conforme a mesma autora, cabe ressaltar que estes
processos são dinâmicos e que os traços de memória se podem
reativar e modificar. Cada vez que recordamos um acontecimento
passado la recuperación da informação pode sofrer leves
modificações produto da reinterpretação que fazemos do evento.
Assim mesmo a informação que temos sobre os conceitos se
pode ir completando e modificando apartir da experiência. A
informação sempre ingressa no cérebro desde o meio externo
através das áreas sensoriais primárias, porém o processamento
posterior varia de acordo al tipo de contenido.
166
(Eds.), Organization of memory, (pp. 381-403). New York: Academic Press, 1972.
87 BADDELEY, A.D.; HITCH, G. Working memory. En G.H. Bower (Ed.), The
Memória declarativa
A memoria declarativa se refere a capacidade consciente
de recuperar a información sobre os fatos e eventos e é o tipo de
memória geralmente afetada na amnésia (Vivas, 2017). A
memoria declarativa permite que o material recuperado seja
comparado e contrastado. Por exemplo, é possível demonstrar
que uma pessoa esteve a semana passada no médico (memoria
episódica) ou que um cão é um animal (memoria semântica). O
formato de armazenamento é representacional (Vivas, 2017).
168
Memória declarativa
Segundo os mesmos autores, na memória declarativa
participam o hipocampo (uma região cortical filogeneticamente
antiga, como demonstrado na figura a seguir), a amígdala, ambos
localizados no lobo temporal, e várias regiões corticais (pré-
frontal, entorrinal, parietal, etc.), enquanto, nas memórias de
procedimentos ou hábitos, o hipocampo parece estar envolvido
apenas nos primeiros momentos após o aprendizado, sendo elas
dependentes basicamente de circuitos subcorticais que incluem o
núcleo caudato e circuitos cerebelares.
170
Amnésia
Conforme Izquierdo e cols (2013), eenomina-se amnésia, a
perda de memória declarativa, pois as doenças que a provocam
afetam em maior proporção as áreas vinculadas com esse tipo de
memória. A depressão é a causa mais frequente, mas a menos
grave. Em geral não se acompanha de dano neuronal irreversível
e, ao tratá-la, a amnésia desaparece. As demências (de: partícula
privativa; mens: mente) são progressivas e mais graves;
envolvem perda definitiva de neurônios e de funções cerebrais.
De acordo com os mesmoa autores, a demência mais
comum é a doença de Alzheimer, na qual predomina o déficit de
memória. Nela ocorrem lesões nas áreas cerebrais responsáveis
pela memória declarativa (córtex entorrinal, hipocampo), e mais
tarde em outras partes do cérebro. A doença de Parkinson, nos
seus estágios avançados (em que ficam comprometidos circuitos
que ligam o núcleo caudato ao córtex), a dependência crônica do
álcool, da cocaína e outras drogas, as lesões vasculares do
cérebro, o traumatismo craniano repetido (no boxe, por exemplo)
e algumas doenças metabólicas (Síndrome de Creutzfeld-Jacob,
doença de Pick), também causam quadros demenciais.
Memória RAM
Segundo Cowan (2017), a capacidade de armazenar
recordações e “filtrá-las” é uma característica específica
de cada indivíduo – uma espécie de “impressão digital”.
Não por acaso, a memória de trabalho (ou de curto
prazo, que nos permite guardar temporariamente um
número limitado de informações, como números de
telefones que usamos com certa freqüência, por
exemplo) varia consideravelmente de uma pessoa para
outra. De acordo com o estudo sobre esse tipo de
memória desenvolvido pelos pesquisadores americanos
Fiona McNab e Torkel Klingberg, o processo de seleção
das lembranças que devem ser guardadas ou
dispensadas pode ser comparado aos dos filtros de
spam do computador. O funcionamento dessas “peneiras
mentais” situadas nos gânglios basais pode
comprometer ou facilitar a lembrança de números,
nomes de pessoas, compromissos etc. Filtros
ineficientes causam, por exemplo, atividades
desnecessárias e excessivas nas regiões cerebrais que
“arquivam” as informações da memória de trabalho – as
áreas parietais posteriores, situadas ao longo do topo do
cérebro em direção ao dorso. Poderíamos dizer que
essas regiões desempenham o papel do disco rígido do
computador, mas quando se trata de memória de
trabalho, é mais adequado afirmar que sua função não é
tanto guardar dados permanentemente, mas sim
armazena-los temporariamente da memória à qual temos
acesso de forma aleatória. É aceitável fazer um paralelo
com a memória RAM (random access memory), já que
as informações são mantidas enquanto estão em uso ou
poderão ser usadas em breve.
As sinapses e as memórias
Como reportado por Izquierdo e cols (2013) e no prólogo
desta obra, em fins do século XIX, Santiago Ramón y Cajal,
fundador da neurociência, postulou que as memórias obedecem a
modificações da estrutura e função das sinapses. Segundo
Izquierdo e cols (2013), nos últimos trinta anos se demonstrou
que isso é verdade, e agora conhecemos as alterações
173
Neuroquimica da memória
A mente tem sido considerada um mundo complexo, onde
interatuam uma série de fenomenos físicos, biológicos, químicos.
Em relação a esta última parte faremos aqui uma descrição de
neurotransmissores e sua influência sobre o comportamento e
conduta. Estas moléculas químicas conhecidas como
neurotransmissores são responsáveis por mudanças
organizacionais e comportamentais, tal como se manifesta no
comportamento dos seres humanos.
Inferência bayesiana
A inferência bayesiana é um tipo de inferência estatística
que descreve as incertezas sobre quantidades invisíveis
de forma probabilística. Incertezas são modificadas
periodicamente após observações de novos dados ou
resultados. A operação que calibra a medida das
incertezas é conhecida como operação bayesiana e é
baseada na fórmula de Bayes. A fórmula de Bayes é
muitas vezes denominada Teorema de Bayes. Inferência
bayesiana deriva a probabilidade posterior como
conseqüência de dois antecedentes, uma probabilidade
anterior e uma "função de verossimilhança" derivado de
um modelo de probabilidade para os dados a serem
observados. A inferência bayesiana calcula a
probabilidade posterior de acordo com a regra de Bayes.
Certamente, entende-se que a regra de bayes faz muito
sentido. Se a evidência não corresponder com a
hipótese, a hipótese deve ser rejeitada. Mas se uma
hipótese é extremamente improvável a priori, deve-se
também rejeitá-la, mesmo que a evidência pareça
corresponder-se.
Aprendizado, memória e
cognição: uma perspectiva
animal
Randolf Menzel (2013) (Freie Universitat Berlin, Institut
Biologie-Neurobiologie, Berlim, Alemanha) no inicio de seu
trabalho intitulado “Learning, Memory, and Cognition: Animal
Perspectives”, nos dá as seguintes definições:
Cognition
Cognition is the integrating process that utilizes many
different forms of memory, creates intemal representations of the
experienced world and provides a reference for expecting the
future of the animal's own actions. It thus allows the animal to
decide between different options in reference to the expected
outcome of its potential actions. All these processes occur as
intrinsic operations of the nervous system, and provide an implicit
form of knowledge for controlling behavior. None of these
processes need to - and certainly will not - become explicit within
the nervous systems of many animal species (in particular
invertebrates and lower vertebrates), but such processes must be
assumed to also exist in these animal species. It is the goal of
comparative animal cognition to relate the complexity of the
nervous system to the level of internal processing.
Neural integration
Neural integration processes are manifold and span a large
range of possibilities all of which can be viewed from an
evolutionary perspective as adaptations to the specific demands
posed by the environment to the particular species. At one
extreme one can find organisms dominated by their inherited
information (phylogenetic memory) developing only minimal
experience-based adaptation. At the other extreme, phylogenetic
memory merely provides a broad framework, and experience-
based memory dominates
177
Filogenética da memória
Phylogenetic memory controls behavior in rather tight
stimUlus-response connections requiring little if . any interna\
processing other than sensory coding and generation of motor
programs. The factors determining the specific combination and
weights of inherited and experience-dependent memories in an
individual are not yet well understood. A short individual lifetime,
few environmental changes during a lifetime, and highly
specialized living conditions will favor the dominance of inherited
information; a longer individuallifetime, less adaptation to particular
environmental niches and rapid environmental changes relative to
the lifespan reduce the value of phylogenetic memory and
increase the role of individualleaming. Social living style also
seems important. Here the species' genome must equip the
individuals for acting under much more variable environmental
conditions because of the society's longer lifetime, and because
the communicative processes within the society demand a larger
range of cognitive processes.
O mesmo autor afirmou que The complexity and size of the
nervous system may be related to the dominance of inherited or
experience-dependent memories, in the sense that individual
learning demands a larger nervous system having greater
complexity. However, the primary parameter determining the size
of the nervous system is body size, and secondary parameters like
richness of the sensory world, abundance of motor patterns and
cognitive capacities, are difficult to relate to brain size, because
such parameters cannot be adequately measured and thus a
comparison based on them is practically impossible between
animals adapted to different environments. Nevertheless, it
appears obvious that animals differ with respect to their sensory,
motor, and cognitive capacities. Individual learning within the
species-specific sensory and motor domains will lead to more
flexible behavior, and thus to more advanced cognitive functions.
Predicting the future will therefore be less constrained, and more
options will enrich the animal's present state. Cognitive
components of behavior are characterized by the following
faculties: (i) rich and cross-linked forms of sensory and motor
processing; (ii) flexibility and experience-dependent plasticity in
178
A representação simbólica
entre os primatas
O mundo simbólico dos primatas
Conforme Visalberghi (2017), A representação simbólica é
um dos principais atributos cognitivos que viabilizaram a
linguagem humana. Sabe-se que nossos parentes mais próximos,
como chimpanzés e gorilas, são dotados de alguma capacidade
180
Cebus apela.
Fonte: macaco-prego-cebus-apella-nelson-caramico
http://origamicommestrekami.blogspot.com.br/2013_08_01_archive.html
Capítulo 10
Freud, a Neurobiologia
e a Psicopatologia
Sigmund Freud.
184
A consciência em Freud
Freud afi rmou que a consciência é um “fato sem igual, que
resiste a toda explicação ou descrição” (1938, p. 79)3 . Isto pode
nos fazer pensar que sua concepção da consci- ência se
aproxima do que certos autores atuais chamam de “misterismo”
(em inglês, “mysterianism”) (Flanagan, 1992; Chalmers, 1996, p.
379). Segundo esta posição, a consciência é essencialmente um
mistério que não pode ter explicação científi ca. Estaríamos nos
185
Id
O id é a instância que contém os impulsos inatos, as
inclinações mais elementares do indivíduo. O id é composto por
energias – denominadas por Freud de pulsões – determinadas
biologicamente e determinantes de desejos e necessidades que
não reconhecem qualquer norma socialmente estabelecida. O id
não é socializado, não respeita convenções, e as energias que o
constituem buscam a satisfação incondicional do organismo. Ao
passo que o id é inato, as duas outras partes da personalidade
desenvolvem-se no decorrer da vida da pessoa (Cunha, 2017).
Ego
Conforme o mesmo autor, o ego, que significa literalmente
“eu”, é o setor da personalidade especializado em manter contato
com o ambiente que cerca o indivíduo. Ele é a porção visível de
cada um de nós, convive segundo regras socialmente aceitas,
sofre as pressões imediatas do meio e executa ações destinadas
a equilibrar o convívio da pessoa com os que a cercam.
Superego
O superego, por sua vez, é um depositário das normas e
princípios morais do grupo social a que o indivíduo se vincula.
Nele se concentram as regras e as ordenações da sociedade e da
cultura, representadas, inicialmente, pela família e,
posteriormente, internalizadas pela pessoa (Cunha, 2017).
Metapsicologia freudiana
Metapsicologia
O termo metapsicologia pode ser encarado como sinônimo
de psicologia metafísica, uma área de estudos da psicologia
dedicada ao estudo de fenômenos dos quais a chamada
psicologia empírica não se propõe a estudar, por não serem
acessíveis ao conhecimento pela experiência e que não pode ser
provado pelo método científico proposto pelo positivismo para as
ciências. O termo metapsicologia, porém, tem também um outro
significado bastante específico, associado à psicanálise. O termo
foi cunhado por Freud em seus estudos sobre as relações entre o
inconsciente e a consciência para designar um conhecimento
psicológico que considere as dimensões tópica, dinâmica e
econômica do psiquismo, que se mostram nessas relações. De
maneira breve e bastante simplificada, o aspecto tópico, dinâmico
e econômico poderiam ser descritos como, respectivamente, uma
teoria dos lugares¹, das forças e da energia psíquicas. Convém
188
Estrutura e funcionamento
do psiquismo
Pouco a pouco o psiquismo se organiza, se estrutura como
um todo complexo, com traços originais que não poderão variar
depois. Essa organização e estruturação do psiquismo individual
começará desde a tenra infância; antes do nascimento em função
da hereditariedade para certos fatores, mas sobretudo do modo
de relação com os pais, desde os primeiros momentos da vida,
das frustrações, dos traumas e dos conflitos encontrados, em
função também das defesas organizadas pelo ego para resistir às
pressões internas e externas, das pulsões do id e da realidade
(Moura, 2017).
Conforme Moura (2017), em seus aportes teóricos Freud
foi levado a elaborar um modelo de funcionamento mental. Desde
cedo ele forjou o termo metapsicologia mental para designar os
aspetos teóricos da Psicanálise. Essa metapsicologia busca dar
conta dos fatos psíquicos em seu conjunto, principalmente de sua
vertente inconsciente. A metapsicologia freudiana traz os
princípios, os modelos teóricos e os conceitos fundamentais da
clínica psicanalítica. Em 1915 fez uma tentativa para produzir uma
‘Metapsicologia. ‘Sobre o Narcisismo’ (1914) ‘As Pulsões e suas
Vicissitudes’ (1915), ‘Repressão’ (1915), ‘O Inconsciente’ (1915),
‘Luto e Melancolia’ (1917) etc. vem fazer parte dessa tentativa.
Com isso queria construir um método de abordagem de acordo
com o qual todo processo mental é considerado em relação com
189
Energia psíquica
Energia psíquica é um conceito da Psicologia utilizado
nos pensamento e as emoções. O termo é composto
das palavras do idioma grego "alma" e ergos = en-ergo
=energia, trabalho, movimento). O têrmo energia
psíquica é empregado na área da psicologia por teóricos
como Sigmund Freud e Carl Gustav Jung para designar
aspectos mobilizadores da psiquê fundamentais para
suas hipóteses sobre o funcionamento da mente
humana. Por exemplo, os impulsos da libido. A energia
psíquica é um dos pontos de conexão entre as ciências
exatas e a Psicologia, tendo sido largamente utilizado
por Jung e pelos pós-junguianos na descrição do
fenômeno mental, dando origem a uma área de pesquisa
denominada Física e Psicologia. "A Energia Psíquica" é
também o título de um dos livros de Jung "On the
Conception of Psychic Energy and the Nature of
Dreams." 1948 (Wikipédia, 2017).
Investimento
Teoria Topográfica
191
Aparelho psíquico
Conforme Muniz (2017), Freud (1900) nomeou o
aparelho psíquico, como uma organização psíquica
dividida em sistemas ou instâncias. Cada instância
possui uma localização, uma função e estão interligadas
entre si. Num primeiro momento, Freud designou uma
divisão de lugares virtuais para a mente: Pré-Consciente,
Consciente e Inconsciente. Essa divisão ficou conhecida
como a Primeira Tópica (Topo/em grego = lugar). Num
segundo momento, Freud (1920 a 1923) descreveu a
estrutura das instâncias, seu modo de funcionamento na
estrutura da personalidade e acrescentou os conceitos
de: Id, Ego e Superego. Assim definiu-se a Segunda
Tópica. Juntas, essas instâncias trabalham nas ações e
reações. Porém separadas, possuem papeis específicos
a serem desempenhados na mente.
Consciente
192
Pré-Consciente
O conteúdo do pré-consciente não está presente na consciência,
mas é acessível a ela. Ele pertence ao sistema de traços
mnêmicos e é feito de representações de palavras.
Funciona como um pequeno arquivo de registros (representações
de palavras) que consiste num conjunto de inscrições mnêmicas
de palavras oriundas e de como foram significadas pela criança.
(Zimerman, 1999). A representação da palavra é diferente da
representação da coisa, cujas inscrições não podem ser
nomeadas ou lembradas voluntariamente.
Inconsciente
É a parte do psiquismo mais próxima da fonte pulsional. É
constituído por representantes ideativos das pulsões. Contém as
representações das coisas, as quais consistem em uma sucessão
de inscrições de primitivas experiências e sensações provindas
dos órgãos dos sentidos o que ficaram impressas na mente antes
194
Pulsão
Pulsão (al. Trieb, ing. drive) designa em psicanálise um
impulso energético interno que direciona o
comportamento do indivíduo. O comportamento gerado
pelas pulsões diferencia-se daquele gerado por
decisões, por ser aquele gerado por forças internas,
inconscientes, alheias ao processo decisional. A pulsão
distingue-se do instinto, por este ser ligado a
determinadas categorias de comportamentos pre-
estabelecidos e realizados de maneira estereotípica,
enquanto aquela refere-se a uma fonte de energia
psíquica não específica, que pode conduzir a
comportamentos diversos (Wikipédia, 2017).
Tipos de Pulsões
Conforme Alves e cols (2017), Freud agrupou as pulsões
em duas categorias: pulsões de vida e de morte. O
objetivo das pulsões de vida é a sobrevivência da
espécie tentando satisfazer a necessidade de comida,
água, ar e sexo. O instinto de vida manifesta-se como
libido, e é o instinto da vida, pois tem como função unir
os indivíduos em unidade cada vez maiores. Neste
sentido ele age a favor da civilização e da vida
comunitária, mas se opõe a ela quando se faz
necessária uma grande quantidade de energia instintiva,
retirada da sexualidade, para o trabalho. A evolução da
civilização humana pode ser descrita como a luta do
instinto de vida e instinto de morte, é a luta da espécie
humana pela vida. A dinâmica entre instinto de vida e de
morte tem sua expressão na estrutura pulsional do
indivíduo e na base da civilização. O instinto de vida é o
pai da civilização, sua função é unir os indivíduos em
unidades cada vez maiores de vida, primeiro como
famílias e raças, depois como povos e nações. Para que
exista civilização é necessário que os homens estejam
libidinalmente unidos. Instinto de vida é a pulsão de vida.
Em oposição as pulsões de vida, Freud nomeou os
instintos destrutivos ou de morte: todas as coisas vivas
se degeneram e morrem. Um dos componentes de
pulsão de morte é o impulso agressivo sendo um dos
principais componentes do instinto de morte. Segundo
Freud seria a necessidade de aliviar as tensões criadas
a partir da necessidade de realizar desejos
inconscientes, compulsão de destruir, subjulgar e matar.
O que faz as pessoas tão diferentes é a forma como elas
direcionam essa energia psíquica para diferentes
objetos.
Segunda tópica
Id
Ego
Superego
Capítulo 11
O cérebro, a mente e
suas representações
Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais;
somos também, o que lembramos e aquilo de que nos
esquecemos; somos as palavras que trocamos, os
enganos que cometemos, os impulsos a que
cedemos..."sem querer”.
Sigmund Freud
O cérebro e a Linguagem
Conforme os neurobiólogos António Damásio e Hanna
Damásio (2017), estruturas essenciais de mediação coordenam a
atividade dos centros cerebrais. Alguns destes centros são
especializados na elaboração dos conceitos, outros, na de
palavras e frases. Os neuropsicólogos que estudam a linguagem
tentam compreender como utilizamos e combinamos palavras (ou
signos, no caso de uma linguagem gestual) para formar frases e
transmitir os conceitos elaborados pelo cérebro. Investigam
também como compreendemos palavras expressas por outros e
de que forma o cérebro as transforma em conceitos.
O surgimento da linguagem
Conforme Damásio e Damásio (2017), a linguagem surgiu
e se manteve ao longo da evolução porque constitui um meio de
comunicação eficaz, sobretudo para conceitos abstratos. Ela nos
auxilia a estruturar o mundo em conceitos e a reduzir a
complexidade das estruturas abstratas a fim de apreendê-las: é a
propriedade de "compreensão cognitiva". O termo "chave de
fenda", por exemplo, evoca várias representações dessa
ferramenta: as descrições visuais de sua aparência e utilização,
as condições específicas de seu emprego, a sensação que
provoca seu manuseio ou o movimento da mão quando a utiliza.
Da mesma forma, a palavra "democracia" é associada a diversas
representações conceituais. A "economia cognitiva" que a
linguagem autoriza ao reagrupar numerosas noções sob um
200
A representação simbólica
Segundo Damásio e Damásio (2017), a linguagem surge
como produção humana voltada para o mundo exterior (um
conjunto de símbolos corretamente ordenados, difundido para fora
do organismo) e representação intracerebral destes símbolos e
regras para associá-los. O cérebro representa a linguagem e
qualquer outro objeto da mesma forma. Ao estudar as bases
neuronais da representação de objetos, eventos e suas relações,
os neurologistas esperam descobrir os mecanismos de
representação da linguagem. O cérebro elabora a linguagem
mediante a interação de três conjuntos de estruturas neuronais,
segundo acreditamos. O primeiro, composto de numerosos
sistemas neuronais dos dois hemisférios, representa interações
não linguísticas entre o corpo e seu meio, percebido por diversos
sistemas sensoriais e motores; ele forja uma representação de
tudo o que uma pessoa faz, percebe, pensa ou sente. Além de
decompor essas representações não linguísticas (forma, cor,
sucessão no tempo ou importância emocional), o cérebro cria
representações de nível superior, pelas quais gere os resultados
dessa classificação. Assim ordenamos intelectualmente objetos,
eventos e relações. Os níveis sucessivos de categorias e
representações simbólicas produzidos pelo cérebro gerenciam
nossa capacidade de abstração e de metáfora. O segundo, um
conjunto menor de estruturas neuronais, geralmente situadas no
hemisfério esquerdo, representa os fonemas, suas combinações e
201
Capitulo 12
A Neurobiologia da
dança e da música
A base neural da dança
Muitas atividades sensório-motoras naturais e complexas
envolvem a integração de ritmos, padrões espaciai, sincronização
à estimulos externos e coordenação de todo o corpo. Tais
atividades incluem adaptações evolutivas antigas, como a caça, a
luta e as brincadeiras jogando, bem como mais as recentes, como
o trabalho físico em grupo, marchas, as performances musicais e
esportes. Os estudos de neuroimagem tem examinado alguns
componentes dessas ações complexas, como o arrastar do
movimento para cronometristas externos ou o padrão espacial do
movimento dos membros. No entanto, esta pesquisa tipicamente
estudou processos elementares, como a rotação do tornozelo ou
o toque dos dedos (Brown e cols, 2006).
Coreografias cerebrais
Steven Brown e Lawrence M. Parsons (2017), escreveram
que o ritmo parece algo tão natural que muitos acreditam ser
automático ouvir música e marcar o compasso com os pés ou
balançar o corpo, às vezes sem nos darmos conta de que
estamos nos movimentando. Essa habilidade, porém, é uma
novidade evolucionária entre os humanos e nada comparável
acontece com qualquer outra espécie animal. Nosso dom para a
sincronização inconsciente nos permite utilizar a confluência de
movimentos, ritmo e representações gestuais – longe da prática
coletiva, mas sincronizados. Dançar exige um tipo de
coordenação interpessoal no espaço e tempo quase inexistente
em outros contextos sociais. E, embora seja uma forma
fundamental de expressão humana, por muito tempo recebeu
pouca atenção dos neurocientistas.
Entretanto, recentemente, pesquisadores realizaram os
primeiros estudos com imageamento do cérebro de dançarinos
amadores e profissionais. Essas investigações esclarecem pontos
intrigantes sobre a complicada coordenação mental necessária
para executar até mesmo os passos aparentemente mais básicos.
Os estudos começaram com a análise de movimentos isolados
como os giros do tornozelo ou o tamborilar dos dedos. Esses
trabalhos revelaram informações sobre como o cérebro coordena
ações simples. Pular com um pé só exige consciência espacial e
equilíbrio, além de intenção e sincronismo (habilidades
ligadas ao sistema sensório motor).
A dança é uma ação sensório-motora complexa: os
processos elementares conhecidos que subjazem os movimentos
simples que aumentam ("scale up") os movimentos de corpo
inteiro ritmicamente cronometrados e espacialmente vistos na
Neurobiologia dos
movimento na dança
Uma das principais propriedades da dança é que os
movimentos do corpo são organizados em padrões espaciais.
Este padrão de movimento abrange um mapa de trajetória do
corpo no espaço exocêntrico, bem como um mapa cinestésico e
visual do esquema corporal no espaço egocêntrico.
207
Singularidades da
cognição na dança
Maria Helena Franco de Araujo Bastos (2014) em seu
artigo intitulado “Corpoestados: singularidades da cognição em
dança” aborda o ato de dançar como modo de elaboração de
conceitos, por meios dos quais o artista de dança reinventa o
corpo e potencializa sua existência no mundo. No horizonte de
análise que se adota, ação e cognição dão-se numa mesma
escala temporal, sem distinções entre teoria e prática. A
proposição do conceito de corpoestados é uma das vias de
operação desse modo de conhecer, já que considera as ações
mentais e os atos comportamentais como processos emergentes
e comprometidos com os diversos contextos em que estão
inseridos.
A autora escreveu que Gardner94 (1999) fala de inteligência
corporal e explica que uma grande parte da atividade motora
apresenta interações sutis entre o sistema perceptual e o motor.
Este apresenta um funcionamento extremamente complexo que
exige uma coordenação de uma grande variedade entre
componentes neurais e musculares de uma forma diversificada e
cooperada. Segundo ela, cabe a nós aprendermos com esse
corpo que dança nas suas diversas instâncias e no ambiente que
lhe couber. Nesse sentido, nossa tarefa é tornarmo-nos
inventores de experimentos para descobrir de que somos feitos e
como somos construídos. Precisamos manter vivo um plano de
94 GARDNER, H. Arte, Mente e Cérebro. Tradução: Sandra Costa. Porto
Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
212
Conceitos chave
A dança é uma forma fundamental da expressão humana
que provavelmente evoluiu junto com a música. A interação
dessas duas formas de expressão permite o surgimento do ritmo
dançar exige habilidades mentais especializadas. Em uma área
do cérebro está representada a orientação do corpo, que ajuda a
direcionar nossos movimentos pelo espaço; outra região funciona
como um tipo de sincronizador, tornando possível combinar os
movimentos ao ritmo da música.
A sincronização inconsciente – o processo que nos faz
marcar o ritmo distraidamente com os pés – é o reflexo de
propensão para dançar. Isso ocorre quando certas regiões
cerebrais subcorticais se comunicam, desviando-se de áreas
auditivas superiores.
Áreas responsáveis
pelo movimento
O planejamento do movimento (esquerda) ocorre no lobo
frontal, onde o córtex pré-frontal na superfície externa (não visível)
e a área motora suplementar analisam os sinais (setas) que
chegam de outras partes no cérebro, indicando essa informação
como uma posição no espaço e lembranças de ações passadas.
Em seguida, essas duas áreas se comunicam com o córtex motor
primário, que determina quais músculos precisam se contrair, e
com qual intensidade, e envia as instruções pela medula espinhal
até os músculos.
215
O sofisticado
deslocamento dos pés
Para identificar as áreas do cérebro importantes para a
dança, os autores analisaram dançarinos amadores de tango com
a ajuda de um tomógrafo PET. A cabeça dos dançarinos
permaneceu imóvel no aparelho, e suas pernas, sobre uma
superfície inclinada, enquanto ouviam a música em fones de
ouvido (foto). A máquina escaneou o cérebro em duas condições:
quando os dançarinos flexionavam os músculos da perna no ritmo
da música, sem mover os membros, e quando executavam um
passo básico de tango (destaque) e no ritmo da música. Quando
foi retirada a atividade cerebral provocada pela contração
muscular das obtidas durante o passo restou “acesa” só uma
parte do lobo parietal conhecida como precuneus.
Coreografia mental
Vérmis anterior
216
Precuneus
Por conter um mapa baseado nos estímulos sensoriais do
próprio corpo, o precuneus ajuda a identificar o trajeto de um
dançarino a partir de uma perspectiva voltada para o corpo, ou
egocêntrica.
Neurobiologia da música
As "emoções básicas" (ver capítulo sobre a neurobiologia
das emoções) referem-se a emoções como a felicidade, tristeza,
raiva e medo. Tais emoções básicas são hoje o foco principal dos
estudos neuropsicológicos, porque as emoções são assumidas
como inatos, reflexos - semelhantes a circuitos que causam um
distinta e reconhecível padrão comportamental e fisiológico.
218
O caminho neural
emocional da música
Conforme (), os dois únicos estudos empíricos que o
reconhecimento das emoções musicais no autismo não relatou
emoções prejudicadas processamento. Em ambos estudos,
crianças autistas e jovens adultos poderiam reconhecer as
emoções básicas da música com a mesma precisão que as
"normais". Pode ainda ser o caso que indivíduos autistas
descodificam emoções musicais de forma qualitativa anômala.
Por exemplo, crianças autistas podem reconhecer e imitar
expressões faciais como fazem os normais, mas nenhum
neurônio espelho. A atividade é observada no giro frontal inferior.
Na verdade, há pouca evidência atual de que todas as
emoções musicais podem ser ():
(1) seletivamente perdida após danos cerebrais ou
(2) nunca adquirida, como consequência, uma desordem
neurogenética.
No entanto, há evidências claras de que emoções
específicas podem ser perdidas após danos cerebrais. Este é o
caso do reconhecimento de músicas "assustadoras" ou até certo
ponto, "triste" após danos à amígdala.
219
para incluir muitas outras regiões, tanto corticais quanto subcorticais. Em outras
palavras, as emoções não estão mais confiáveis para o funcionamento do sistema
límbico, embora o sistema límbico mantenha um papel fundamental.
725–43.
221
Capítulo 13
A Neurobiologia, a
Inteligência Artificial e
a Psicologia Conexionista
A conexão entre a linguagem que nós
pensamos\programamos e os problemas e soluções que
possamos imaginar é muito forte. Por essa razão,
restringir recursos da linguagem com a intenção de
eliminar erros do programador é, na melhor das
hipóteses, muito perigoso.
Bjarne Stroustrup
A psicologia conexionista
A psicologia conexionista é um campo que se apóia nas
chamadas redes neurais artificiais como veículo para a expressão
matemática dos seus conceitos e teorias. Ela não é o único
campo do conhecimento que faz isso, o que gera certa confusão
entre estudantes iniciantes e leigos em geral que têm dificuldade
em entender que o termo “redes neurais artificiais” pode significar
diferentes coisas em contextos diferentes (Roque, 2017).
Conforme o mesmo autor, por esse motivo, a primeira coisa
que deve ser feita é uma tentativa de mostrar os diferentes
significados do termo “redes neurais artificiais”.
Em ciência da computação e campos relacionados, redes
neurais artificiais (RNAs) são modelos computacionais inspirados
pelo sistema nervoso central de um animal (em particular o
cérebro) que são capazes de realizar o aprendizado de máquina
bem como o reconhecimento de padrões (Wikipédia, 2017).
Redes Neurais Artificiais são técnicas computacionais que
apresentam um modelo matemático inspirado na estrutura neural
de organismos inteligentes e que adquirem conhecimento através
da experiência. Uma grande rede neural artificial pode ter
centenas ou milhares de unidades de processamento; já o
cérebro de um mamífero pode ter muitos bilhões de neurônios.
Modelos Conexionistas
(Psicologia e Ciência Cognitiva)
Ênfase nos processos mentais: psicologia, ciência
cognitiva, neurociência cognitiva;
− Objetivo: modelar os processos cognitivos e psicológicos
usando modelos inspirados pela arquitetura do cérebro,
representando a informação e os “estados mentais” por padrões
de atividade distribuídos por uma rede de unidades simples ao
invés de por estruturas simbólicas discretas;
− Principais ferramentas: modelos similares aos dos dois
tópicos anteriores; simulações computacionais desses modelos.
O conexionismo
Segundo Psychiatry on line Brasil (2017), o conexionismo é
uma vertente da ciência cognitiva que parte do modelo de redes
neurais artificiais (ou simplesmente “redes neurais”) para explicar
as funções cognitivas humanas. Redes neurais são
processadores que simulam neurônios, interligadas por conexões
que modulam o sinal transmitido na rede. As conexões emulam as
sinapses e suas forças. Tais redes têm a capacidade de aprender
a reconhecer padrões tais como faces, textos, objetos e estrutura
de dados, portanto, não funcionam por programação, mas por
aprendizagem ou autoprogramação. A informação armazena-se
de forma distribuída nas sinapses da rede, formando um padrão,
228
.
]
Ao ser estimulada externamente, cada unidade de entrada
emite um valor de ativação a cada uma das unidades das
camadas encobertas à qual está conectada. Cada uma das
unidades encoberta calcula seu próprio valor da ativação,
dependendo dos valores de ativação recebido das unidades de
entrada. Este sinal é então transferido para outras camadas
encobertas (se houver) e daí para as unidades de saída, de modo
que o sinal das unidades de entrada propaga-se por completo na
rede, determinando os valores de ativação em todas as unidades
de saída.
Conforme Cielo (2004), O paradigma conexionista tem
seus fundamentos atuais na neurociência, com as descobertas
sobre a fisiologia do Sistema Nervoso Central. Os modelos
conexionistas, de inspiração neurológica, são computacionais e
se utilizam de “neurocomputadores” ou “redes neuroniais
artificiais”, sendo planejados para tentar desvendar aspectos do
processamento realizado pelo cérebro. Este paradigma assume
que os processos mentais/cerebrais, incluindo aquisição de
conhecimento/aprendizagem e linguagem são resultado da
atividade químico-elétrica inter-sináptica cerebral e que o
comportamento linguístico, apesar de poder ser descrito por
regras, não é governado por elas. Todas as antecipações,
levantamento de possibilidades e conciliações são processados
pelo cérebro/mente em paralelo, mesmo que haja um componente
230
Representação no
modelo conexionista
De acordo com Psychiatry on line Brasil (2017), quando
qpensamos em algo, a representação deste algo não está
associada a um neurônio, mas distribuída em uma rede de
neurônios que se espalha por grande parte do cérebro. A noção
de representação distribuída é um paradigma que decorre do
modelo de aprendizagem baseada na formação de sinapses
facilitadas, selecionadas através de estímulos repetidos de
mesma natureza (lei de Hebb).
A teoria hebbiana
A teoria hebbiana descreve um mecanismo básico da plasticidade sináptica no
qual um aumento na eficiência sináptica surge da estimulação repetida e
persistente da célula póssinápticas. Introduzida por Donald Hebb em 1949, é
também chamada de regra de Hebb, postulado de Hebb, e afirma:
Vamos assumir que a persistência ou repetição de uma atividade
reverberatória tende a induzir mudanças celulares duradouras que promovem
estabilidade. (...) quando um axônio da célula A esta próxima o suficiente para
excitar a célula B e repetidamente ou persistentemente segue fazendo com que
a célula dispare, algum processo de crescimento ou alteração metabólica
ocorre em uma ou ambas as células, de forma que aumente a eficácia de A,
como uma das células capazes de fazer com que B dispare.
A teoria é frequentemente resumida como "células que disparam juntas,
permanecem conectadas", apesar dessa afirmação ser uma simplificação
exagerada do sistema nervoso que não deve ser tomada literalmente, bem
como não representa fielmente a afirmação original de Hebb sobre as forças de
troca na conectividade celular. A teoria é comumente evocada para explicar
alguns tipos de aprendizagem associativos no qual a ativação simultânea de
células leva a um crescimento pronunciado na força sináptica. Tal aprendizado
é conhecido como aprendizagem hebbiana.
O paradigma conexionista
Capítulo 14
A Neurobiologia
das emoções
Preciso despir-me do que aprendi. Desencaixotar minhas
emoções verdadeiras. Desembrulhar-me e ser eu! Uma
aprendizagem de desaprendizagem...
Alberto Caeiro111
Meditações metafísicas
Meditações metafísicas, ou, em outras
traduções, Meditações sobre a filosofia primeira, que tem
como subtítulo nas quais são demonstradas a existência
de Deus e a distinção real entre a mente e o corpo, é o
nome da obra de René Descartes escrita e publicada
pelo autor pela primeira vez em 1641. Nesta obra
encontra-se o mesmo sistema filosófico cartesiano
introduzido no Discurso do Método. O livro é composto
por seis meditações, nas quais Descartes põe em dúvida
toda crença que não seja absolutamente certa, real,
factível, e a partir daí procura estabelecer o que é
possível saber com segurança. Na primeira meditação
encontram-se quatro situações que podem confundir
suficientemente a percepção, a ponto de invalidarem,
seguramente, uma série de enunciados sobre o
conhecimento. O principal destes quatro argumentos é o
do gênio maligno que tem a capacidade de confundir a
percepção e plantar dúvidas sobre tudo o que podemos
conhecer acerca do mundo e suas propriedades. Porém,
mesmo podendo falsear a percepção, não pode falsear a
crença nas percepções - ou seja, ele pode contra
argumentar contra a percepção, mas não contra a
crença que incide sobre as percepções. Descartes
também conclui que o poder de pensar e existir não
239
112 Solipsismo (do latim "solu-, «só» +ipse, «mesmo» +-ismo".) é a concepção
filosófica de que, além de nós, só existem as nossas experiências. O
solipsismo é a consequência extrema de se acreditar que o conhecimento deve
estar fundado em estados de experiência interiores e pessoais, não se
conseguindo estabelecer uma relação direta entre esses estados e o
conhecimento objetivo de algo para além deles. O "solipsismo do momento
presente" estende este ceticismo aos nossos próprios estados passados, de tal
modo que tudo o que resta é o eu presente. A neoescolástica define solipsismo
uma forma de idealismo, que incorreria no egoísmo pragmático, que insurge
pós proposição cartesiana "cogito, ergo sum"; solipsismo é atribuída por Max
Stirner como uma reação contra Hegel e sua acentuação do universal; o
solipsismo somente tem por certo, inconteste, o ato de pensar e o próprio eu.
Assim, tudo o mais pode ser contestado ou posto em dúvida.
240
Prazer e recompensa
As emoções mais ”primitivas” e bem estudadas pelos
neurofisiologistas, com a finalidade de estabelecer suas relações
com o funcionamento cerebral, são a sensação de recompensa
(prazer, satisfação) e de puni- ção (desgosto, aversão), tendo sido
caracterizado, para cada uma delas, um circuito encefálico
específico. O ”centro de recompensa” está relacionado,
principalmente, ao feixe prosencefálico medial, nos núcleos lateral
e ventro-medial do hipotálamo, havendo conexões com o septo, a
amígdala, algumas áreas do tálamo e os gânglios da base.
Centro de punição
O ”centro de punição” é descrito com localização na área
cinzenta central que rodeia o aqueduto cerebral de Sylvius, no
mesencéfalo, estendendo-se às zonas periventriculares do
hipotálamo e tálamo, estando relacionado à amígdala e ao
hipocampo e, também, às porções mediais do hipotálamo e às
porções laterais da área tegmental do mesencéfalo.
Sensação de prazer
Para alguns pesquisadores, a sensação de prazer pode ser
distinguida pelas expressões faciais e atitudes do animal após sua
exposição a um estímulo hedônico; tais expressões são mantidas
mesmo em indivíduos anencefálicos, sugerindo que o ”centro de
recompensa” deva se estender até o tronco cerebral. Acredita-se
que emissões aferentes do núcleo acumbens em direção ao
244
Alegria
A indução de alegria, resposta à identificação de
expressões faciais de felicidade, à visualização de imagens
agradáveis e/ou à indução de recordações de felicidade, prazer
sexual e estimulação competitiva bem-sucedida, provocou a
ativação dos gânglios basais, incluindo o estriado ventral e o
putâmen27. Além disso, vale relembrar que os gânglios basais
recebem uma rica inervação de neurônios dopaminérgicos do
sistema mesolímbico, intimamente relacionados à geração do
prazer, e do sistema dopaminérgico do núcleo estriado ventral. A
dopamina age de modo independente, utilizando receptores
opióides e gabaérgicos no estriado ventral, na amígdala e no
córtex órbito-frontal, algo relacionado a estados afetivos (como
prazer sensorial), enquanto outros neuropeptídeos estão
envolvidos na geração da sensação de satisfação por meio de
mecanismos homeostáticos. Descrições neuroanatômicas de
lesões das vias cérebro-pontocerebelares em indivíduos com riso
e choro patológicos sugerem que o cerebelo seja uma estrutura
envolvida na associação entre a execução do riso e do choro e o
contexto cognitivo e situacional em questão; de fato, quando tal
estrutura está lesionada, há transição incompleta das
informações, provocando um comportamento inadequado ao seu
contexto.
Medo
245
Raiva
Uma das primeiras estruturas associadas à raiva foi o
hipotálamo, em decorrência de estudos realizados na década de
246
Reações de luta-fuga
A conexão direta entre o hipotálamo e o SNA se dá,
possivelmente, mediante projeções hipotalâmicas para regiões do
tronco encefálico, destacando-se o núcleo do trato solitário. Além
dessas vias eferentes, o Nervo Craniano (NC) vago, décimo par
craniano (X), um dos principais elementos do SNA (porção
parassimpática), representa ainda um importante componente
aferente, ativando áreas cerebrais superiores. Suas projeções
aferentes ascendem ao prosencéfalo através do núcleo
parabraquial e locus ceruleus, conectando-se diretamente com
todos os níveis do prosencéfalo (hipotálamo, amígdala e regiões
talâmicas que controlam a ínsula e o córtex órbito-frontal e pré-
frontal)34. O SNA está diretamente envolvido nas denominadas
“situações de luta e/ou fuga” e imobilização. Tais ocorrências
estão intrinsecamente relacionadas a um mecanismo de
neurocepção, que se caracteriza pela capacidade de o indivíduo
agir conforme sua percepção de segurança ou ameaça a respeito
do meio onde ele se encontra. Essa percepção pode ser dada,
por exemplo, pelo tom da voz ou pelos movimentos e expressões
faciais da pessoa ou do animal com quem ele interage35. Toda
247
Tristeza
A tristeza e a depressão podem ser vistas como “polos” de
um mesmo processo. A primeira é considerada “fisiológica”, e a
segunda, “patológica”, estando, por conta disso, relacionadas em
termos neurofisiológicos. É cada vez mais frequente a descrição
da correlação entre disfunções emocionais e prejuízos das
funções neurocognitivas. De fato, a depressão associa-se a
déficits em áreas estratégicas do cérebro, incluindo regiões
límbicas. Não obstante os fatores emocionais relacionados, há
vários determinantes biológicos implicados no seu
desenvolvimento; observando-se alterações ocorridas no sistema
248
Emoção e razão
As informações que chegam ao cérebro percorrem um
determinado trajeto ao longo do qual são processadas. Em
seguida, direcionam-se para as estruturas límbicas e
paralímbicas, pelo circuito de Papez, ou por outras vias, para
adquirirem significado emocional, dirigindo-se, continuadamente,
para regiões específicas do córtex cerebral, permitindo que sejam
tomadas decisões e desencadeadas ações, processos
relacionados à autonomia, função, geralmente dependente do
córtex frontal ou pré-frontal39. As imagens certamente provocam,
em sua maioria, ativação do córtex visual occipital (giro occipital e
giro fusiforme), porém a amígdala também recebe quantidade
substancial de estímulos provenientes das áreas temporais
associadas à visão, participando na formação de memórias
através dos circuitos hipocampais ou dos circuitos estriatais. Tal
fato decorre do papel especializado da amígdala no
processamento de insinuações emocionais visualmente
relevantes, sinalização do medo e aversão ou outras evidências.
A ativação da amígdala pode estar primariamente envolvida na
249
Phineas Cage
Epílogo ou a
Neurobiologia e a
Psicopedagogia
da Aprendizagem
Por aprendizagem significativa, entendo, aquilo que
provoca profunda modificação no indivíduo. Ela é
penetrante, e não se limita a um aumento de
conhecimento, mas abrange todas as parcelas de sua
existência.
Carl Rogers
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