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DIRETOR/FUNDADOR:
Sensei Valério Lima
PROFESSOR CONTEUDISTA:
Prof. Sensei Valério Lima
4ª EDIÇÃO - 2020
|ACUPUNTURA JAPONESA 2
SUMÁRIO
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HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA
ACUPUNTURA NO JAPÃO
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Existem aspectos socioculturais e econômicos que diferem de forma marcante
tanto o desenvolvimento quanto o es lo de ambos os sistemas de acupuntura. Ao
contrário da China, que teve a acupuntura associada especialmente à herbologia e a
padronizou como parte integrante do estado, disponibilizando seu acesso à população
de massa; o Japão manteve sempre uma ín ma relação da acupuntura com a
massagem, sua atuação sempre foi voltada para o âmbito privado. Diante desses
aspectos, subentende-se que no Japão a prá ca da acupuntura tomou um rumo bem
peculiar, pois, tendo em vista o ganho monetário, o pra cante japonês se viu
naturalmente pressionado a desenvolver uma técnica altamente refinada e indolor e
que produzisse resultados imediatos, para que cada centavo pago por ela fosse
valorizado pelos adeptos dessa arte de cura.
No que diz respeito às agulhas, há uma grande disparidade entre os es los, pois
os chineses preferem agulhas maiores e de calibre mais espesso, os japoneses, no
entanto, fazem uso de agulhas muito delgadas que são inseridas obrigatoriamente
com mandril (shinkan), de maneira muito superficial e com es mulo muito suave, uma
vez que o es lo japonês busca atuar sobre o Wei chi (energia defensiva), enquanto que
nas técnicas chinesas a es mulação é mais forte e profunda produzindo o que é
conhecido como techi, visando a ngir o Yong chi (energia nutridora).
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conhecimento perdido na China e chegou ao Japão através da Coreia, tornando-se uma
arte muito popular no país do sol nascente. Conhecida formalmente no Japão por ÔKyu,
esse es lo é muito forte e clássico no país, que já teve grandes mestres ao longo da
história, como Sawada Ken e Isaburo Fukaya, dois grandes especialistas na moxaterapia
japonesa. Essa arte faz uso de pequenos cones da moxa amarela de forma direta e indireta
na pele, tanto em pontos clássicos da acupuntura como em pontos não convencionais.
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IMPORTAÇÃO DA MEDICINA TRADICIONAL
CHINESA E SEU DESENVOLVIMENTO NO JAPÃO
Entre os séculos V e VI, a medicina tradicional chinesa foi levada da China para o
Japão através da península coreana, devido ao intercâmbio religioso e econômico
promovido pela famosa rota da seda. Durante esse período, vários monges budistas
especializados em herbologia, acupuntura e massagens transitaram por essa rota,
possibilitando a expansão do budismo e levando consigo as ciências médicas da China
e da Coréia.
Por volta do século VII, o governo japonês estabeleceu contato direto com a China,
enviando para a capital chinesa inúmeros sacerdotes e eruditos para estudarem,
traduzirem e copilarem várias fontes da cultura chinesa, dentre elas os principais textos
médicos.
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estudante de acupuntura. No período subsequente, Nara, todos os aspectos da medicina
oriental foram estudados e pra cados assiduamente, dando o pontapé inicial para a
profissionalização e qualificação da acupuntura no Japão que, em períodos precedentes,
man nha uma estreita relação com a religião, pois grande parte desse conhecimento
ainda estava muito atrelada aos monges budistas que pra cavam tanto a acupuntura
quanto a medicina herbária do kampo, sendo os primeiros a difundirem essas artes no
Japão. Com a ins tuição do código Taihõ, a formalização da profissão e do ensino da
acupuntura, o número de monges terapeutas tornou-se cada vez menor.
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A FORMALIZAÇÃO DA MEDICINA
TRADICIONAL JAPONESA
Até o início do século X (período Heian), o sistema médico pra cado no Japão
nada mais era que uma imitação do sistema médico chinês. Nessa época, os médicos
japoneses tomaram a inicia va de compilar suas próprias farmacopeias, e, em 984 dC,
Yasuyori Tamba compilou o Ishimpô, o primeiro tratado e o mais an go livro de
medicina existente no Japão, com 30 volumes de citações de numerosos textos
médicos chineses. O Ishimpô tornou-se um texto defini vo, no qual se podia rastrear
todas as raízes da medicina japonesa até a medicina chinesa. Nele foram compiladas
citações sistemá cas de vários textos clássicos chineses de mais de 200 tulos que
envolviam não somente medicina, mas também história e aspectos filosóficos e
espirituais do Tao, confucionismo e budismo. Muitas dessas citações estavam perdidas
na própria China. Isso fez do Ishimpô uma das mais importantes fontes para o estudo
da medicina chinesa an ga, pois Tamba não copiou simplesmente os textos originais,
mas traçou uma visão par cular dos textos an gos, por exemplo, sobre a definição de
energia espiritual como sendo superior à energia do corpo. Isso permi u edificar na
visão posterior da acupuntura japonesa que o processo de adoecimento acontece
inicialmente no nível espiritual, passando para o energé co (canais de energia), para aí
culminar no sico, por meio das inúmeras patologias e sintomatologias, visão superior
à chinesa que focaliza tão somente entre os níveis energé co e sico, e é obscurecida nos
padrões das síndromes.
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Já em meados do século XII, o Japão passou por um período de transição, em
que o controle da família imperial caiu novamente e se estabeleceram novas relações
comerciais com a China, após três séculos de rela vo isolamento; com isso, novas
ideias médicas adentraram o Japão. Durante este período de tumulto polí co no Japão
medieval, o poder e o controle dos médicos sofrerem um drás ca queda, fazendo com
que os monges budistas novamente voltassem a exercer um papel de destaque na
importação do conhecimento médico chinês e adaptação de novos conceitos, bem
como a retomada da sua atuação como terapeutas e acupuntores, difundindo os
cuidados médicos entre a população em geral nessa mesma época, a prá ca da
moxabustão tornou-se bastante difundida, sobretudo através dos monges nos templos
budistas, como parte da prá ca religiosa.
No final do século XVI, em meio a uma crise polí ca e social que precedeu a
unificação do Japão, muitos textos clássicos foram importados e traduzidos para o
japonês. Nesse período, um médico se destacou entre os demais: seu nome era
Manase Dosan (1507-1594) e, apesar de destacado fitoterapeuta da arte médica do
kampô, cuja medicina herbária havia roubado o terreno da acupuntura,
paradoxalmente foi o grande responsável pela revivificação dessa técnica.
Entre os séculos XVI e XVII, juntamente com a escola Gosei de Manase, floresceram
mais duas novas e diferentes abordagens da medicina no Japão: as escolas Koho e Rampo.
A escola Koho ou Kohoha, conhecida como escola das fórmulas clássicas, surgiu no final do
século XVII (período Edo) e foi essencial para a aceleração da
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japonização da medicina chinesa, pois foi inspirada pela revivificação dos conceitos
médicos da discussão de desordens induzidas por frio, eliminando as teorias
especula vas da escola Gosei. A escola Koho defendia o retorno às teorias prá cas da
medicina chinesa. Foi nessa escola que se defendeu a teoria de kiketsusui (energia
vital, sangue e fluidos corporais), trazendo a ideia inicial das toxinas doku (venenos) e
Oketsu (sangue estagnado) na área abdominal do hara, estabelecendo um método
inovador de diagnós co abdominal: o Fukushin.
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OS PRINCIPAIS ESTILOS DA ACUPUNTURA
JAPONESA
Wachi Sugiyama era cego e descendia de uma família de samurais do clã Uemon.
Naquela época no Japão, os cegos só nham duas formas de ganhar a vida: como
pra cantes da massagem tradicional japonesa (Anma) ou acupunturistas. Sugyama optou
por se tornar acupuntor e foi estudar em uma escola tradicional da época do es lo
Yamase. No entanto, após alguns anos de estudo, foi desencorajado pelo próprio mestre
do es lo, que afirmou que ele jamais conseguiria se tornar um bom acupunturista, pois
não havia desenvolvido a habilidade de inserir a agulha de forma indolor. Após esse
acontecimento, Sugiyama resolveu empreender em um re ro na caverna de Benzaiten
Munakata, a equivalente no Japão à Deusa hindu da sabedoria SarasvaƟ, buscando a
iluminação e inspiração espiritual para sua vida. Após 21 dias de jejum e recitação de
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mantras para Benzaiten, Sugiyama saiu da caverna sem ter recebido a inspiração que
tanto buscava, mas ao deixar a caverna, tropeçou em uma grande pedra e ao cair teve
seu pé perfurado por uma farpa de pinho. Sem conseguir extrair o espinho do pé, ao
tatear o chão encontrou um pequeno tubo de bambu, que u lizou contra a pele
extraindo por dentro do tubo a farpa do espinho de forma completamente indolor.
Após essa experiência teve a inspiração de criar o tubo guia para a condução da agulha
de forma indolor, criando seu próprio es lo que revolucionou a acupuntura no Japão,
abrindo caminho para a abertura de mais de 45 escolas de acupuntura voltadas para
deficientes visuais. Sugiyama foi um dos grandes responsáveis pela popularização da
acupuntura e moxabustão no Japão, pois consegui o patrocínio e apoio do governo.
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órgãos). Ambos são os principais responsáveis pelo bloqueio de Ki quanto de sangue,
na região do hara, considerada pelos japoneses a principal sede ou centro vital do
corpo. Isai Misono, Filho de Mubun e acupunturista da corte do Shogun, foi quem
difundiu e ensinou a arte secreta do Mubun Dashin.
Sawada foi um dos mais famosos e eminentes mestres Hari e kyu do período Meiji
no Japão, estudante de Taijutsu, uma an ga arte samurai e de seitai: a arte japonesa de
alinhamento osteo-ar cular. Aperfeiçoou e desenvolveu grande parte de seus estudos no
longo período que viveu na Coreia. Sawada pertenceu à famosa classe de es lo de
acupuntura não universitária, que via na prá ca a maior aliada ao desenvolvimento e
aprimoramento da acupuntura. Seu es lo não priorizava os pontos tradicionais da
acupuntura, mas os pontos vivos e pessoais dos pacientes, pontos estes que man nham
uma relação intrínseca não só com o sintoma apresentado pelo paciente,
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Mas, a priori, com a raiz original da doença. Esses pontos, segundo ele, eram diferentes
e únicos em cada paciente e cabia ao acupuntor e moxaterapeuta localizá-los através
de técnicas específicas de palpação, sobretudo na região do hara e das costas,
principalmente aqueles pontos que se apresentavam endurecidos (koris) e sensíveis à
palpação em geral. Sawada fazia uso da técnica de uma única agulha (ippon hari),
es mulando a superficialização da energia Jaki (energia perversa, maléfica), para
depois eliminá-la do corpo através da queima de moxa nesses pontos que, em geral,
após a inserção superficial da agulha, apresentavam-se avermelhados nas áreas
próximas da agulha. Sawada ficou muito famoso no Japão e, pelo que consta, ele
atendia quase 100 pacientes por dia e ob nha resultados expressivos em seus
tratamentos. Com o passar dos anos ele voltou às agulhas.
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par r daí resolveu devotar-se ao estudo e prá ca da moxaterapia, criando um es lo
próprio de ensino e tratamento, através da moxa (Artemísia vulgaris). Seu es lo, assim
como o de Sawada, preconizava a localização e tratamento através dos famosos pontos
vivos ou operantes, descobertos por meio de um minucioso exame palpatório em cada um
dos pacientes. A sua grande inovação foi a u lização de um tubo de bambu oco com a
abertura em um dos lados, para que, quando pressionado ao término da queima da moxa,
aproximadamente a 1mm da pele, promovesse não só a interrupção da queima dos cones
de moxa antes que esses a ngissem a pele produzindo bolhas, mas também produzisse
um efeito único de penetração do calor nos pontos e meridianos.
Yoshio Manaka foi um grande médico japonês do séc. XX, graduado pela Kyoto
Imperial University Medical School e PhD pela Kyoto Imperial University Medical School.
Manaka também era poeta, escritor, ar sta e pesquisador; um mediador cultural entre a
China e Japão. Cirurgião do Exército Japonês, responsável por tratar com a acupuntura
inúmeros soldados feridos, Manaka atuou como pesquisador da acupuntura e
sistema zou um novo mapa dos pontos de alarme (Boketsu) na década de 70. Esteve
sempre envolvido com inúmeras pesquisas comprobatórias do fenômeno de óxido-
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redução nos pontos de acupuntura. Também é reconhecido pela criação dos fios
magné cos de Ion Pumping, que permite o fluxo de elétrons em um único sen do,
tendo por obje vo criar uma espécie de ponte de transferência de energia a par r da
polaridade contrária, posi vo e nega vo, transferindo os íons posi vos para lugares
saudáveis.
5. ESTILO AKABANE-
Hinaishin e Kyutoshin
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Osamu presente no Nanjing, a presença da energia Jaki pode ser percebida através da
vermelhidão formada ao redor da agulha.
6. ESTILO NAGANO -
A combinação da medicina oriental com a fisiologia ocidental.
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Nagano u lizou uma visão e uma linguagem acessíveis ao mundo ocidental, por
meio de seus estudos sobre o sistema nervoso autônomo, o sistema hormonal e o
sistema imunológico. Além de seus tratamentos específicos do Inoki (sistema
digestório), da desintoxicação hepá ca e sanguínea (oketsu), Nagano desenvolveu
inúmeros protocolos de tratamento combinando os conceitos da medicina oriental
com a ocidental, atuando sobre desde a parte estrutural do corpo como coluna,
quadril e pescoço, até os aspectos mais su s da medicina oriental, assim como o seu
tratamento tradicional de água e metal.
Após anos de pesquisa, o Dr. Tadashi Irie desenvolveu um sistema próprio, o qual
u lizava o Irie Finger Test, um método similar o teste bidigital O-ring test de Yoshiaki
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Omura para encontrar pontos pessoais do paciente e diagnose do pulso e de pontos
de alarme assim como pontos do abdome (Hara). No caso do método desenvolvido
por Tadashi, coloca-se o dedo indicador de uma mão no ponto ou área a ser testado,
enquanto o dedo indicador da outra mão é esfregado sobre a parte superior do dedo
adjacente. Uma experiência de resistência adesiva entre o polegar e o dedo indicador
é um reflexo de que a área que está sendo testada está doente.
Com o tratamento dos meridianos dis ntos, o dr. Tadashi tratava tanto com os
fios de ion pumping, quanto com pequenas tachinhas metálicas com esparadrapo e
papel de alumínio como eletrodos. Existe também o tratamento através de agulhas
inseridas superficialmente na pele; no entanto, este método tem sido subs tuído pelas
formas menos invasivas.
A outra forma de trabalho do Dr. Irie está focada nos meridianos tedino musculares,
através do uso da agulha de contato aquecida para tratar pontos de dor ou sintomas.
Esse método foi desenvolvido inicialmente pelo Dr. Hirata através do nome Nesshin
Shigeki Ryoho, em 1930, que u lizava a aplicação de calor para tratar várias doenças,
nas chamadas 12 bandas do corpo ou zonas de Hirata. Existem várias formas de
aquecer a agulha de contato, inicialmente isso era feito com uma vela e
posteriormente foi desenvolvido um aparelho elétrico de emissão de calor em hastes
metálicas po um ferro de solda. Essa agulha u lizada pelo Dr. Irie é conhecida por
Nesshin ou terapia de agulha quente. Nesshin 热针" (Ne como calor = Netsu 热, shin =
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8. ESTILO KEIRAKU CHIRYO -
A terapia de meridiano e sua abordagem neoclássica da acupuntura.
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9. ESTILO TOYOHARI-
E o refinamento da Terapia de Meridiano
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11. ESTILO SHONISHIN -
A acupuntura pediátrica japonesa
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NANJING: CARACTÉRISTICAS E DIFERENÇAS
ENTRE A ACUPUNTURA JAPONESA E A
CHINESA
O es lo japonês em detrimento ao chinês opta por agulhas bem finas, que são
inseridas através do tubo guia (Shinkan), a par r de leves ba das no cabo da agulha.
Sua inserção é bastante superficial e em geral a nge entre 2 a 4 mm de profundidade.
Já o es lo chinês prefere agulhas maiores e mais grossas com inserção profunda de 4 a
15 mm.
A acupuntura japonesa visa atuar sobre a energia defensiva Wei ki, enquanto
que a chinesa realiza punções mais profundas e com manipulações fortes para
despertar o techi, que é uma forte sensação de choque ou irradiação no percurso do
meridiano. O obje vo da profundidade da inserção no es lo chinês e atuar sobre a
energia yong ki (energia nutridora)
Caracterís cas:
Agulhas japonesas
- Muito finas com espessuras de 0,10, 0,12, 0,14 e 0,16;
- Inserção superficial- em geral de 2 a 4 mm, com tubo guia;
Agulhas chinesas
- Mais grossas e maiores 0,20, 0,25, 0,30;
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Os japoneses possuem um senso muito forte de responsabilidade quanto à
quan dade de es mulo oferecido em uma sessão de acupuntura, pois para eles uma
quan dade um pouco maior de es mulo pode superar a capacidade fisiológica do
corpo e, eventualmente, ocasionar uma piora dos sintomas apresentados.
EsƟlo Chinês
3. QuanƟdade de
agulhas - EsƟlo japonês
Número reduzido de agulhas em geral, no máximo 10 agulhas de retenção;
Obs.: lembrando que alguns es los u lizam somente uma agulha no tratamento
conhecido por Ipponhari.
Inserção unilateral.
EsƟlo chinês
Em geral de 10 até 30 agulhas de retenção;
Na maioria dos es los chineses as agulhas são fixadas de forma bilateral.
4. Habilidade técnica
O esƟlo de acupuntura japonesa
A inserção da agulha deve ser treinada por anos até que o pra cante consiga
inserir a agulha de forma completamente indolor; além disso, os olhos do pra cante
japonês devem estar nas mãos para que se possa localizar com precisão os tsubos e os
pontos pessoais do paciente.
EsƟlo chinês
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parte do próprio processo terapêu co. Eles também desconsideram esse longo
processo de palpação u lizado no es lo japonês.
●Diagnós co;
● Forma de u lização da moxabustão;
●Diretrizes e filosofia de tratamento;
●O estado da mente do pra cante;
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