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Conceitos, história e métodos de

pesquisa em Neuropsicologia

Borges Cerveja Zacarias, MSc

2024
1. Definições do conceito de Neuropsicologia

• Ciência dedicada a estudar a expressão comportamental das


disfunções cerebrais(Lezak, 1983).

• Ciência cujo objectivo específico é a investigação do papel dos


sistemas cerebrais individuais nas formas complexas da actividade
mental. (Luria, 1984).
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1. Conceitos de Neuropsicilogia - cont.

• A Neuropsicologia estuda a expressão cognitiva e comportamental das


diferentes lesões e disfunções cerebrais. ( Chamamos de cognição tudo que
envolve os processos mentais relacionados a: conhecimento, aprendizagem, percepção, juízo,

raciocinio, memória e pensamento).

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1. Conceitos de Neuropsicilogia - cont.

• Estuda as relações existentes entre o cérebro e o comportamento humano,


suas funções mentais, tais como a atenção, a linguagem, a memória, a
capacidade de planejar ou fazer cálculos, entre outras.

• É uma ciência interdisciplinar, como parte do conhecimento que vem da


psicologia, anatomia, biologia, fisiologia, psiquiatria, farmacologia,…

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1. Conceitos de Neuropsicilogia - cont.

• A neuropsicologia é uma área que estuda as relações entre o sistema


nervoso central, as funções cognitivas e o comportamento humano.

• Somatório de conhecimentos da neurologia, ... e as ciências do


comportamento como a Psicometria, Psiquiatria e outras, tem assim
uma acção multidisciplinar, Alexander Romanovich Luria ( Russo,
1902 – 1977) (Médico neurocirurgião, Pedagogo e psicólogo e Neuropsicólogo).
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2. OBJECTO DE ESTUDO DA NEUROPSICOLOGIA

 As funções mentais superiores.


 Os distúrbios cognitivos e emocionais;
 Distúrbios de personalidade ocasionados por lesões do cérebro;
 A investigação de como diferentes lesões causam déficits em diversas
áreas da cognição humana;
(Gil 2002)

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3. OBJETIVOS DA NEUROPSICOLOGIA
1. Avaliar as funções cognitivas, emocionais e outros, no sentido de
esclarecer diagnóstico e correlacionar suas dificuldades com diversos
seguimentos de sua vida (escolar, vida diária, comportamentos e outros);
2. Identificar, através da avaliação das funções mentais superiores, como
ponto de partida para reabilitação e ou intervenção;
3. Oferecer suporte a equipe de intervenção, possibilitando planejamento e
execução de programas individualizado (ou não) de reabilitação, visando
maximizar o funcionamento cognitivo que se encontra deficitário;

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4. Contribuir junto com escola e familiares, através da análise das funções
psicológicas , orientação de estratégias que possibilite melhorar e ou
superação de dificuldades do usuário;
5. Acompanhar a evolução da reabilitação
6. Observar o nível de funcionamento operacional;

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4. HISTÓRIA DA NEUROPSICOLOGIA

• Compreenção da Neuropsicologia requer um percurso histórico,


abrangendo a confluência deste campo com o da Psicometria.

• De acordo com Engelhardt et al. (1995), o termo Neuropsicologia


foi utilizado pela primeira vez em 1913, em uma conferência
proferida por Sir William Osler, nos Estados Unidos.
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4. História da Neuropsicologia – cont.
Segundo Ardila e Roselli (2007), a história da neuropsicologia divide-se
em quatro (4) períodos:

1. Período pré-clássico até 1861


2. Período clássico (1861-1945)
3. Período moderno (1945-1975)
4. Período contemporâneo (desde 1975)

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4. História da Neuropsicologia – cont.
1. Período pré-clássico até 1861

 Começa com as primeiras referências de alterações cognitivas ligadas ao


dano cerebral observadas no Egipto por volta de 3500 a.C, terminando com
as influentes teorias de Franz Gall, o pai da frenologia.

 Franz Gall afirmou que “o cérebro humano possui divisões que abrigam
diferentes qualidades intelectuais e morais”. “O formato do crânio, cabeça e
rosto foram considerados indicadores de personalidade, inteligência ou
tendências criminais”.
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4. História da Neuropsicologia – cont.
2. Período clássico (1861-1945)

 Em 1861, foi apresentado na Sociedade Antropológica de Paris, um


crânio primitivo . Argumentou-se que havia uma relação directa entre
capacidade intelectual e volume cerebral.

 Em 1861, morreu o famoso paciente “Tan” estudado por Paul Broca. No


exame pós-morte, mostrou que uma lesão na área frontal posterior pode
afectar a capacidade de falar. Broca chamou a atenção de seus colegas de
equipe, apontando que apenas o hemisfério esquerdo estava perturbado
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quando a fala era perdida.
4. História da Neuropsicologia – cont.
 Ocorreu outro avanço fundamental: a publicação da tese de
doutoramento de Karl Wernicke em 1874.

 Este autor propôs a existência de uma área do cérebro que é


responsável pela linguagem. Além disso, ele observou que estava
conectado com a área de Broca.

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4. História da Neuropsicologia – cont.
 Os trabalhos de Wernicke levaram ao surgimento de uma série de
esquemas e classificações para as diferentes síndromes
neuropsicológicas. Os “localizacionistas” alegavam que havia áreas
específicas do cérebro relacionadas a certas actividades psicológicas.

 Isso levou à proposta de criação de um “centro de escrita”, um


“centro de linguagem”etc. Inúmeros autores seguiram essa
abordagem; como Lichtheim, Charcot, Bastian, Kleist ou Nielson.

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4. História da Neuropsicologia – cont.
3. Período moderno (1945-1975)
 Começou após a Segunda Guerra Mundial. Devido ao grande número
de pacientes feridos de guerra e com lesões cerebrais, eram necessários
mais profissionais para realizar procedimentos de diagnóstico e
reabilitação.

 Publicou-se o livro de AR Luria, ” Trahastic Afhasia “, em 1947. Ele


propôs várias teorias sobre a organização cerebral da linguagem e suas
patologias, com base nas observações obtidas de pacientes feridos em
guerra . 15
4. História da Neuropsicologia – cont.
 AR Luria não achou que uma parte específica do cérebro fosse
responsável por uma função específica. Em vez disso, ele considerou que
há uma participação simultânea de várias áreas do córtex cerebral para a
mesma função.

 Nesse período, foram desenvolvidos várias pesquisas importantes em


vários países. Na França, destaca-se o trabalho de Henri Hécaen,
enquanto na Alemanha Poeck faz contribuições sobre afasias e apraxias.

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4. História da Neuropsicologia – cont.
 Na Itália, eles também se concentraram nos distúrbios afásicos de Renzi,
Vignolo e Gainitti, além de habilidades espaciais e construtivas.

 Em 1958, foi criado o Instituto de Neurologia de Montevidéu. Na


Inglaterra, estudos de Weigl, Warrington e Newcombe sobre problemas
de linguagem e distúrbios de percepção são considerados importantes.

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4. História da Neuropsicologia – cont.
 Na Espanha, foi criado um grupo de trabalho especializado em
neuropsicologia, liderado por Barraquer-Bordas. Enquanto em todos os
países europeus, eles criam grupos de trabalho em torno da neuropsicologia,
estabelecendo-se como uma área científica e funcional.

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4. História da Neuropsicologia – cont.
4. Período contemporâneo (desde 1975)
 Esse período foi marcado pelo surgimento de imagens cerebrais,
como a tomografia axial computadorizada (TAC), que levaram a
uma revolução nas neurociências.

 Nos anos 90, a pesquisa avançou significativamente com imagens


que não são mais anatômicas, mas sim funcionais.

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4. História da Neuropsicologia – cont.
 Atualmente, existe um grande interesse na reabilitação de sequelas
cognitivas resultantes de lesões cerebrais. Como conseqüência, surgiu
uma nova disciplina de trabalho conhecida como Reabilitação
Neuropsicológica.

 O progresso é maior dia pós dia, podendo ser observado no grande


aumento de publicações científicas internacionais. Assim como no
maior número de profissionais dedicados ao estudo.

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5. MÉTODOS DE PESQUISAS EM NEUROPSICOLOGIA

Avaliação Neuropsicológica é o
procedimento mais usado para investigação do funcionamento
cerebral através do estudo comportamental.

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5. MÉTODOS DE PESQUISAS EM NEUROPSICOLOGIA

O profissional especializado em neuropsicologia utiliza diferentes


instrumentos padronizados, métodos e técnicas para investigar tanto o
funcionamento normal, como possíveis alterações e disfunções do sistema
nervoso central.

A avaliação neuropsicológica de cada paciente é um processo investigativo


individualizado, que se inicia pela formulação de hipóteses após a realização
da anamnese, levando em conta as necessidades particulares de cada paciente
e as características do caso.

A partir daí, são definidos quais instrumentos e procedimentos poderão ser


utilizados, o que, em muitas situações, requer muito estudo e planejamento
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5. MÉTODOS DE PESQUISAS EM NEUROPSICOLOGIA

A avalição em neuropsicologia é realizada por meio do uso de diversos


procedimentos, entre eles a observação, a entrevista, o uso de instrumentos
psicológicos formais e informais, questionários, e entre outros.

A escolha dos instrumentos é algo que requer muito conhecimento e


responsabilidade por parte do neuropsicólogo, não apenas acerca dos testes
psicológicos e neuropsicológicos, mas acerca dos quadros clínicos
investigados, para que possa ser estabelecido o protocolo e/ ou
procedimentos mais adequados a cada paciente.

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5. MÉTODOS DE PESQUISAS EM NEUROPSICOLOGIA

• A partir da avaliação neuropsicológica também é possível estabelecer os


encaminhamentos mais oportunos e indicar a reabilitação neuropsicológica
nos casos em que se faça necessário.

• De acordo com Wilson (2011), a reabilitação é uma técnica de intervenção


com o objetivo de capacitar o paciente e seus familiares a reduzirem,
adaptarem e compensarem déficits cognitivos ocasionados por uma lesão
ou distúrbio cerebral.

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5. MÉTODOS DE PESQUISAS EM NEUROPSICOLOGIA

Instrumentos de avaliação padronizados:

a) Bateria neuropsicológica: tem como objectivo estabelecer


uma linguagem comum em neuropsicologia (baterias fixas ou flexíveis)

• As baterias flexíveis são aplicáveis á investigação clínica, pois estão


mais voltadas para as dificuldades específicas do paciente .

• As baterias fixas são mais apropriadas em pesquisas, em protocolos


direcionados à investigação de uma população particular.

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5. MÉTODOS DE PESQUISAS EM EUROPSICOLOGIA

b) As imagens obtidas por ressonância magnética funcional (RMf) e tomografia


por emissão de protões (PET): Essas técnicas permitem observar a actividade cerebral
durante actividades cognitivas, como falar, ler, ….., etc.

NB: O Exame Neuropsicológico compreende a avaliação de diferentes domínios


cognitivos como: (memória, atenção, linguagem, capacidade de planejamento, de
cálculo, de raciocínio lógico, de julgamento, percepção visual, etc).
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PRINCÍPIOS BÁSICOS NA PESQUISA EM
NEUROPSICOLOGIA (SERES HUMANOS)
ÉTICA, MORAL E DIREITO

• A ética constitui-se em princípios de conduta que orientam o


comportamento profissional e a prática da investigação.

• A ética não é uma lei, pois as pessoas não sofrem penalidades do Estado
por não cumprirem normas éticas.

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ETICA, MORAL E DIREITO
• A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa como uma forma de
garantir o seu bem viver.

• MORAL : conjunto de princípios e costumes que orientam o comportamento do indivíduo,


tendo como base os valores próprios de uma sociedade ou grupo social.

• Ela pode ser adquirida através da cultura, da educação, da tradição e do


cotidiano.

Por exemplo, a prática da poligamia em alguns grupos é aceita como moral. No


entanto, para outras é algo imoral.

Não depende de fronteiras geográficas e garante uma identidade entre pessoas que
nem sequer se conhecem, mas utilizam este mesmo referencial comum. 29
ETICA, MORAL E DIREITO
DIREITO.

• Estabelece regras para uma sociedade delimitada pelas fronteiras de


um Estado.

• As regras (leis) valem apenas para uma determinada área geográfica


onde vive uma determinada população ou seus delegados.

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ETICA, MORAL E DIREITO
Princípios básicos da “ética em Pesquisa com Seres Humanos” (Comité
da Bioética)

1. Respeito pela Autonomia


2. Beneficência
3. Não maleficência
4. Justiça
5. Vulnerabilidade

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ETICA, MORAL E DIREITO
1. Respeito pela Autonomia

 Sobre si mesmo, sobre seu corpo e sua mente, o indivíduo é soberano.


John Stuart Mill

 Todo ser humano de idade adulta e com plena consciência, tem o


direito de decidir o que pode ser feito sobre seu próprio corpo.
Benjamim Cardozo

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ETICA, MORAL E DIREITO
2. Beneficência
É o que estabelece que devemos fazer o bem aos outros,
independentemente de desejá-lo ou não.
a) Não causar o mal, e
b) Maximizar os benefícios possíveis e minimizar os danos possíveis.

3. Não maleficência
• É a obrigação de não infligir dano intencional. Este princípio deriva da
máxima da ética médica.
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ETICA, MORAL E DIREITO
4. Justiça
• É a distribuição justa, equitativa e apropriada na sociedade, de acordo
com normas que estruturam os termos da cooperação social.

5. Vulnerabilidade
• Os seres humanos, em uma situação, não são iguais na sua capacidade
para suportar as relações com o mundo natural e com os outros seres
humanos, pelo que é eticamente aceitável uma discriminação positiva
a favor dos mais vulneráveis.

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ETICA, MORAL E DIREITO
A quem protege estes princípios básicos?
 Todas as pessoas que possam vir a ter alguma relação com a
pesquisa:
• Participante da pesquisa
• Pesquisador
• As pessoas das áreas onde a mesma se desenvolve

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Situações abusivas estão marcadas na história :

Uso de colegas, familiares, vizinhos, outros:


• Edmund Jenner, na Inglaterra, no séc. XVII, realizou pesquisa para testar
uma vacina contra a varíola envolvendo: filhos, crianças vizinhas,
prisioneiros e crianças abandonadas.

Violações de normas éticas pelos médicos nazis:


• 16 Médicos Alemães foram culpados por crimes de guerra e crimes contra
a humanidade.
O Código de Nuremberga é publicado em 1947:
“O consentimento livre e esclarecido, dos participantes à pesquisa, tem que
ser voluntário e é absolutamente essencial”.
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Estudo de Tuskegee (Estado de Alabama):

• 600 Afro-americanos:
• 399 com sífilis
• 201 sem a doença

Objectivo do estudo: estudar a história natural da sífilis (1932-1972).

Programado para durar 6 meses, mas levou 40 anos.


Foram utilizadas associações cívicas negras para o recrutamento.

Os participantes:
 Nunca foram informados sobre os reais objectivos do estudos.
 Nunca receberam tratamento adequado para a doença.
 Não lhes foi dada a escolha de abandonar o estudo 37
Estudo de Tuskegee (Estado de Alabama):

O desfecho da pesquisa:
 Em 1972 foi formalmente encerrado o estudo.

 Governo dos EUA criou a Comissão Nacional para Protecção de


Sujeitos Humanos nas Pesquisas Biomédicas e Comportamentais
(Esta Comissão produziu o Relatório de Belmont - 1978).

 A 16 de Maio de 1997 o Presidente Bill Clinton apresentou desculpas


públicas por este estudo.

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Estudo de Tuskegee (Estado de Alabama):

Declaração de Helsínquia da Associação Médica Mundial


(1964):
• Surge em resposta aos avanços tecnológicos em ciências biomédicas e
o aumento do número de pesquisas envolvendo seres humanos.

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Principais instrumentos de protecção aos participantes nas pesquisas

 Código de Nuremberga (1947)


 Declaração de Helsínquia (1964)
 Relatório de Belmont (1978)
 Convenção sobre os Direitos do Homem e a Biomedicina
 As normas do “Conselho de Organizações Internacionais de Ciências Médicas
(CIOMS)”.
 Normas de Boas Prática Clínicas da OMS.
 Normas para cuidado e uso de animais de laboratório (EUA).
 Guia Europeu de princípios gerais de protecção do ambiente e desenvolvimento
sustentável.
 Legislação Nacionais.

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