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Introdução às

Neurociências

J. Marques-Teixeira

Fernando Barbosa

2021/22
Epistemologia das Neurociências

ÍNDICE O editorial do 1º volume do Annual Review of Neuroscience, editado em 1978 anunciava que um dos
desenvolvimentos mais marcantes na Biologia nas duas últimas décadas foi o impressionante avanço
1. Construção histórica das neurociências
dos campos disciplinares tradicionais na Neurofisiologia, Neuroanatomia, Neuroquímica e
2. Factos marcantes da construção das Psicofisiologia, ao mesmo tempo que ocorria a emergência de uma nova abordagem interdisciplinar
neurociências
para o estudo do sistema nervoso, a qual ficou conhecida como Neurociência ou Neurociências.
3. Neurociências cognitivas Na verdade, estas ocupam um lugar particular na biologia. Muito embora façam, claramente, parte da

4. Epistemologia experimental biologia - já que o seu objeto de estudo é o cérebro – vemos que elas ultrapassam os seus limites
tradicionais. A ciência do cérebro, nas suas relações com o comportamento, com a vida mental e com
5. O papel da Psicofisiologia a vida afetiva, penetram profundamente no domínio das ciências do homem e da sociedade; pelo seu
6. Pontos de vista que têm recaído sobre a impacto na patologia do desenvolvimento ou nas doenças psiquiátricas, as neurociências colocam
Psicofisiologia numerosas questões de natureza ética.

7. Estatuto epistemológico da Ao longo de várias décadas foi dado ainda mais relevo a este movimento nas ciências sobretudo em
Psicofisiologia razão da incorporação num quadro de referências comum de um conjunto de disciplinas até aí
independentes. Este processo de integração foi um processo gradual que envolveu vários passos. Em
8. Planos conceptuais de organização da
primeiro lugar, começando em 1950 e estendendo-se até aos anos 60, ocorreu uma integração gradual
Psicofisiologia
no campo unificado das neurociências de várias disciplinas outrora independentes – neuroanatomia,
9. Causalidade ascendente e descendente neurofisiologia, neurofarmacologia, neuroquímica e disciplinas ligadas ao comportamento. Depois, a

10. Reorganização das disciplinas das emergência de uma neurociência coerente foi seguida, no início dos anos 80, pela integração das
neurociências neurociências com outras áreas da biologia, particularmente com a biologia molecular e a genética
molecular. Um terceiro passo nesta unificação, que pode ser marcado pelos meados dos anos 80, foi a
11. Conceitos fundamentais sobre o
junção das neurociências com a psicologia cognitiva, que levou à formação das neurociências
funcionamento do Sistema Nervoso
cognitivas, uma abordagem coerente e sistemática do funcionamento mental baseado no cérebro.
12. A racionalidade das neurociências na
mudança de paradigma As neurociências são, pois, o conjunto das disciplinas científicas que estudam o sistema nervoso. O
seu objeto é o cérebro e o seu funcionamento. Compreender como funciona o cérebro é compreender
13. Conclusão
todas as funções químicas, elétricas, celulares; é também compreender as funções comportamentais e

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compreender o funcionamento da mente. Dito de outro modo, é abordar o localização cerebral (Jeannerod, 1997).
conhecimento de fenómenos mentais de modo não apenas filosófico, mas também
As ciências do cérebro, no seu início, estruturaram-se em torno do hospital. Os
científico. primeiros laboratórios não eram mais do que anexos de vastas disciplinas de
Na verdade, pelo fim do séc. XX, a esperança de que se poderia saber muito clínica reagrupando em torno dos doentes, meios de investigação científica. O
acerca da natureza do conhecimento a partir do empirismo lógico ou da principal desses laboratórios era o laboratório de anatomia patológica, lugar de
abordagem analítica começou a decair. O naturalismo – que tomava como verdade onde, no decurso da autópsia, a lesão constatada e descrita pelos
relevante os dados empíricos aquando da teorização – passou a ser respeitado métodos da anatomia e da histologia tomava o estatuto de explicação causal da
dentro da filosofia e os progressos na psicologia empírica e nas neurociências perda da função constatada nesse doente ainda com vida. Desse modo se ia
foram diminuindo a distância entre as questões filosóficas tradicionais acerca do completando, progressivamente, um corpo de conhecimentos, sob a forma de um
conhecimento e as estratégias empíricas para a exploração do modo como o atlas das localizações cerebrais reconstituídas a partir do défice neurológico. As
cérebro aprende, recorda, raciocina, percebe e pensa. Entrava-se no campo da ciências do cérebro incluíam, também, no seu campo de competência, a
neuroepistemologia. psiquiatria que estava a nascer como especialidade médica. Enquanto que a
lesão localizada caracterizava a doença neurológica, a psiquiatria distinguia-se
A neuroepistemologia, enquanto disciplina-ponte, ocupa-se do estudo do modo
pela lesão invisível, a lesão funcional.
como o cérebro representa o mundo, como um esquema representacional
cerebral pode aprender e quais são as representações e informações no sistema Os primeiros laboratórios independentes da clínica, instalaram-se sobretudo na
nervoso que são importantes. Alemanha e em Inglaterra, tendo dado à noção de localização a sua caução
experimental e os seus fundamentos objectivos. Os trabalhos de estimulação
eléctrica do cérebro do macaco realizados por Sherrington e os trabalhos de
Construção histórica das neurociências descrição da arquitetura celular do córtice cerebral, realizados por Brodmann na
O ato de nascimento das ciências modernas do cérebro data dos primeiros anos viragem do séc. XIX são considerados, ainda hoje, como adquiridos praticamente
do séc. XIX. Franz-Josef Gall (Figura 1) tinha acabado de elaborar, a partir de um definitivos sobre as localizações cerebrais.
estudo anatómico fino do cérebro humano, uma A evolução tecnológica, quer da microscopia, quer da electrónica, permitiram a
“doutrina” revolucionária: o cérebro, pensava ele, é aquisição de uma segunda noção fundadora das ciências do cérebro: a noção de
uma federação de órgãos que controlam cada uma transmissão sináptica. A descrição do neurónio e dos seus prolongamentos, a
das faculdades da mente. Esta doutrina descoberta da sinapse como elemento de junção entre os neurónios, a evidência
revolucionária custou ao seu autor muitas da transmissão química do influxo nervoso, são etapas de uma época científica
perseguições, tendo acabado por abandonar a que se iniciou no início do séc. XX e que envolve, já a função do cérebro nas suas
Áustria e refugiar-se em Paris. Apesar dos seus relações com o comportamento ou com a mente, mas o seu funcionamento como
detratores, a teoria fez o seu caminho e suscitou um órgão autónomo.
conjunto de investigações que, a partir de 1860,
Como se disse, estas descobertas são obra de laboratórios independentes da
conduziram a um conceito estável, se bem que
clínica e dependentes de universidades ou organismos de investigação
Figura 1 -Franz Gall, séc. XIX periodicamente posto em causa: o conceito de

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fundamental ou Na última década, à medida que o conhecimento sobre a biologia molecular dos
básica. Assiste-se, sinais neuronais ia rapidamente avançando, a atenção dos neurocientistas
então, no curso dos focava-se cada vez mais nos sistemas de neurónios e nas marcas neuronais do
anos 1960-1970, à comportamento complexo. A consequência disto foi a fusão do sistema das
tomada da neurociências com a psicologia cognitiva, dando origem a um novo campo
consciência da disciplinar – as neurociências cognitivas. Estas resultaram de uma tentativa de
Figura 2 - História da construção das neurociências amplitude do campo combinação de técnicas e abordagens experimentais das ciências do cérebro
disciplinar e da necessidade de se coordenar os esforços de domínios separados com as das ciências do comportamento para analisarem as bases biológicas das
na origem, mas partilhando o mesmo objectivo. Esta nova dinâmica materializa-se funções cognitivas superiores. Muito embora este movimento tenha começado
em instituições como o International Brain Research Organisation, fundado em nos anos 80, só agora o seu impacto começa a ser sentido.
1961, a criação de revistas internacionais (p. ex., Brain Research, fundada em
1966 e Annual Review of Neuroscience, fundada em 1978) ou, mesmo a criação
Factos marcantes da construção das neurociências
da Society for Neuroscience (ver Figura 2).
Este processo emergencial foi lento e resultou de um conjunto de avanços no
Foi devido a esta ideia fusional de múltiplas especialidades que preenchia o
conhecimento do funcionamento do cérebro (ver Figura 3).
espírito americano que levou a que, nesse continente, se adoptasse a designação
de Neurociência, no singular. Mas na Europa, a designação usada é no plural – Na verdade, a moderna
Neurociências – conservando desse modo a ideia de um simples conjunto de ciência celular do sistema

componentes sempre identificáveis, mas também sempre susceptíveis de se nervoso fundou-se em

voltarem a separar. dois avanços importantes:


a doutrina do neurónio e a
A ênfase numa abordagem multidisciplinar coerente do funcionamento do cérebro
hipótese iónica. A doutrina
produziu alterações dramáticas neste domínio, encorajando os cientistas a
do neurónio foi
focarem-se em questões como a transdução dos sinais nos neurónios, os
estabelecida por Ramon y
mecanismos de comunicação celular, o reconhecimento célula-a-célula e o
Cajal (1901-1921), que
desenvolvimento do sistema nervoso, as bases neurobiológicas da percepção e Figura 3 - Factos marcantes na construção das neurociências
demonstraram que o
da ação, os determinantes genéticos do comportamento normal e anormal e os
cérebro era composto por
mecanismos da aprendizagem e memória. Posteriormente, com o
células, chamadas neurónios, que serviam como unidades elementares de
desenvolvimento das neurociências moleculares, este campo disciplinar
sinalização.
começou a ultrapassar as barreiras intelectuais que separaram o estudo do
Para além disso, Cajal também enunciou o princípio da especificidade conexional,
cérebro do resto da ciência biológica, barreiras que existiram porque a linguagem
que no essencial refere que o neurónio forma conexões altamente específicas
inicial das ciências do cérebro se tinha baseado quase exclusivamente na
com outros neurónios e que estas conexões são invariantes para cada espécie.
neuroanatomia e na eletrofisiologia e muito pouco na linguagem biológica mais
Por fim, o mesmo autor desenvolveu o princípio da polarização dinâmica,
universal da bioquímica e da biologia molecular.
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segundo o qual a informação circula apenas numa direção dentro do neurónio, A próxima revolução ocorreu quando Katz, Fatt e Eccles ( ver, Coombs, Eccles e
normalmente das dendrites para o axónio e daqui para os terminais axonais. Fatt, 1955; Fatt, 1950; Fatt e Katz, 1951, 1952) demonstraram que os canais
Muito embora tenham emergido algumas exceções a este princípio, ele acabou iónicos também eram fundamentais para a transmissão de sinais através da
por ser extremamente influente na medida em que ligou a estrutura à função e sinapse, muito embora com mecanismos de operação diferentes. Em vez de
forneceu linhas de orientação para a construção de circuitos artificiais a partir das serem ativados pela voltagem, como ocorria com os canais iónicos das sinapses
imagens resultantes das preparações histológicas do cérebro. excitatórias, eram ativados quimicamente por substâncias tais como a

Um outro dado marcante nesta história reporta-se ao facto de este autor, em acetilcolina. O número de substâncias com implicação nesta transmissão não

conjunto com o seu contemporâneo Sherrington (1987), terem proposto que os parou de aumentar ao longo dos anos 60 e 70, descrevendo-a atualmente mais

neurónios contactam uns com os outros apenas em locais específicos, chamados de 100 dessas substâncias (vários aminoácidos, peptídeos e outras pequenas

sinapses. moléculas como a acetilcolina, o glutamato, o GABA, a glicina, a serotonina, a


dopamina e a noradrenalina, entre outros). Em 1970, descobriu-se que algumas
Mais tarde, em 1930, Otto Loewi, Henry Dale e Wilhelm Feldberg (ver, Valenstein,
sinapses libertavam um cotransmissor peptídico que podia modificar a ação dos
2002) estabeleceram que o sinal que liga a fenda sináptica é, normalmente, uma
neurotransmissores clássicos.
substância química de pequenas dimensões designada por neurotransmissor, que
é libertado do terminal pré-sináptico, atravessa a fenda sináptica e liga-se aos Ao mesmo tempo que se descobria a natureza química da neurotransmissão

receptores do terminal pós-sináptico. Em função do receptor especifico, a célula sináptica, também se descobria que algumas sinapses apresentavam um

pós-sináptica pode ser excitada ou inibida. mecanismo de transmissão elétrico (Furshapan e Potter, 1957). Este tipo de
sinapses apresentam fendas mais pequenas, ligadas por pequenos pontos que
No mesmo tipo de investigação ficou estabelecido, nos primeiros anos do séc.
permitem a passagem da corrente eléctrica entre os neurónios.
XX, que os neurónios tinham potenciais de ação, potenciais de repouso e que a
transmissão dos sinais ao longo do axónio ocorria por propagação de um sinal No fim dos anos 60, começou a ter-se informação sobre a estrutura bioquímica e

eléctrico – o potencial de ação – que se pensava anular o potencial de repouso. biofísica dos poros iónicos, bem como sobre as bases biofísicas da sua

Foi apenas em 1939 que Hodking e Huxley fizeram a descoberta surpreendente seletividade e ação; isto é, como é que se abriam ou fechavam? Esta descoberta

de que o potencial de ação mais do que anular o potencial de repouso, reverte-o. foi o início de um novo rumo do estudo dos canais iónicos: deu origem ao seu

Na sequência desta descoberta, Hodking, Huxley e Bernard Katz, nos fins de estudo no plano molecular. Novo rumo que acabou por demonstrar que, afinal,

1940, explicaram os potenciais de repouso e de ação como sendo o resultado de existe uma gramática iónica comum a todas as células vivas, gramática que

movimentos de iões específicos – potássio (K+), sódio (Na+) e cloro (Cl-) através assegura a capacidade de emissão de sinais.

dos poros (canais iónicos) da membrana axonal. Nascia, deste modo, a hipótese Foi no início dos anos 80 (Slaughter e Miller, 1985) que se tornou claro que as
iónica (Hodgking e Huxley, 1939; Hodgkin, Huxley e Katz, 1952; Hodgkin e ações sinápticas nem sempre eram mediadas diretamente pelos canais iónicos.
Huxley, 1952), que acabaria por unificar um extenso corpo de dados descritivos e Na verdade, para além dos receptores ionotrópicos, nos quais as proteínas de
ofereceu a primeira promessa realística de que o sistema nervoso poderia ser ligação ativam diretamente o canal iónico, existia um segundo tipo de receptores
entendido em termos de princípios físico-químicos comuns à biologia celular em – os receptores metabotrópicos – nos quais as proteínas de ligação iniciam uma
geral. cadeia de acontecimentos metabólicos intracelulares que dão origem,

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indiretamente, através dos “segundos mensageiros”, à atividade dos canais tarefa ativa muitas áreas cerebrais, como também uma área é ativada por
iónicos (Lefkewitz, 2000). diferentes tarefas no cérebro integrado e temporalmente dinâmico. A

Na sequência desta descoberta algo de muito importante ocorreu, em resultado comunicação entre diferentes áreas do cérebro está refletida nos padrões de

da clonização deste tipo de receptores: muitos deles apresentavam regiões sincronização e de dessincronização da atividade neuronal (Singer, 1999; Singer

homólogas quer da rodopsina bacteriana, quer do pigmento fotoreceptor comum et al., 1993; Varela et al., 2001). Esta coordenação entre populações neuronais

não só à mosca da fruta, como aos seres humanos. Para além disso, a clonização tem sido descrita como “auto-organização”, uma “propriedade emergente” das

recente de receptores para o olfato (Buck e Axel, 1991) revelou pelo menos 1000 redes neuronais que ocorre a partir da sincronia temporal entre a transmissão

receptores metabotrópicos comuns ao epitélio olfativo dos mamíferos, bem como sináptica e o disparo de populações neuronais distintas (Buzsaki, 2004).

das moscas e larvas. Daí que se passasse a considerar que o tipo de receptores Estamos perante uma concepção tradicional das neurociências, entendida como
usados para a fototransdução também fosse usado para o olfato, para além da as neurociências biológicas, que se ocupam da investigação da estrutura e
forte partilha de dados-chave com muitos outros receptores cerebrais que função dos neurónios singulares, dos conjuntos de neurónios e das estruturas
funcionam como segundos mensageiros. neuronais (Gold e Stoijar, 1999). Neste sentido e simplificando, as neurociências

Estas descobertas demonstravam a conservação evolucionista dos receptores e biológicas incluem apenas as disciplinas neurofisiologia, neuroanatomia e

enfatizaram a abrangência do estudo de uma grande variedade de sistemas neuroquímica e será sinónima de neurobiologia.

experimentais – vertebrados, invertebrados, até mesmo organismos unicelulares – No entanto, há outra concepção das neurociências, entendida como
para a identificação de vastos princípios biológicos. neurociências cognitivas (ver, Gazzaniga, 1995; Kosslyn e Andersen, 1992;

As descobertas das neurociências moleculares aumentaram dramaticamente a Kosslyn e Koenig, 1995), que é uma abordagem interdisciplinar do estudo da

compreensão acerca do modo como o cérebro desenvolve a sua complexidade, mente, ocupando-se com a integração das ciências biológicas e físicas –

transformando essa perspectiva de um modelo puramente descritivo para um incluindo, em particular, as neurociências biológicas – com as ciências

modelo informacional. psicológicas, de modo a conseguirem uma explicação para o fenómeno mental.

O poder computacional do cérebro é conferido por interações entre biliões de Isto é, enquanto que as neurociências biológicas se interessam pela

células nervosas as quais estão agrupadas em redes ou circuitos que realizam compreensão da biologia do cérebro, as neurociências cognitivas tentam

operações específicas que são o sustentáculo do comportamento e da cognição. sintetizar a biologia e a psicologia com vista à compreensão da mente. Neste

Enquanto esta maquinaria molecular e propriedades eléctricas de sinalização sentido as neurociências cognitivas incluem a neurociência biológica como uma

estão extensamente conservadas através das diferentes espécies animais, o que parte integrante, mas não se reduzem a ela.

distingue uma espécie de outra é o número de neurónios e os detalhes da sua As neurociências cognitivas
conectividade ou seja a sua organização.
Como vimos, desde o século XIX que o interesse tem sido muito acerca do modo
Com o aumento da sofisticação das bases de dados e da sua análise, acumulou- como as competências cognitivas se localizam no cérebro (Franz Gall,
se evidência segundo a qual as regiões do cérebro comunicam entre si de modo 1758-1828), tendo Flourens (1794-1867) considerando que as funções cognitivas
a integrarem a informação sensorial e coordenarem as funções sensório-motoras eram propriedades globais que ocorriam a partir da actividade integrada do
necessárias para a aprendizagem (Miltner et al., 1999). Na verdade, não só uma conjunto global do cérebro. De uma certa maneira, a história das neurociências

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pode ser vista como uma ascendência gradual da perspectiva localizacionista a normais, quer em sujeitos com lesões cerebrais. Na verdade, quer a tomografia
qual, até uma determinada altura, foi construída sobre um velho legado da ciência por emissão de positrões (PET), quer a ressonância magnética nuclear funcional
psicológica. (RMNf) permitiu o estudo de grandes populações neuronais em seres humanos

Quando a psicologia emergiu como ciência experimental no fim do séc. XIX, o seu acordados, envolvidos em tarefas cognitivas.
fundador Gustav Fechner (1794-1867) e Wilhelm Wundt (1832-1920), focaram-se Há muito que a necessidade de ligação entre estes dois grandes domínios vinha
na psicofísica – a relação quantitativa entre estímulos físicos e sensações sendo reclamada, tendo Mario Bunge (1980) feito uma forte crítica ao facto de os
subjetivas. O sucesso desta abordagem encorajou os psicólogos para o estudo dois domínios andarem tão distantes sugerindo a necessidade de se evoluir no
de comportamentos mais complexos o que, por sua vez, levou à tradição rigorosa caminho de uma verdadeira neuropsicologia, ultrapassando uma neurociência
e laboratorialmente baseada, designada por behaviorismo. que tem omitido a mente e uma psicologia que tem omitido o cérebro.

Esta tradição, muito embora tenha contribuído para o estabelecimento de Este caminho foi feito, primeiro, pela designada psicofisiologia cognitiva - um
princípios gerais do comportamento e da aprendizagem, acabou por se mostrar ramo da psicofisiologia que se ocupa do significado cognitivo das medidas do
bastante limitada. Em 1960, o behaviorismo deu lugar a uma abordagem mais funcionamento fisiológico - mas na verdade apresentava já uma sobreposição
abrangente relacionada com os processos cognitivos e com as representações considerável, quer em termos de objectivos, quer de métodos, com as futuras
internas. Esta nova abordagem focou-se, precisamente, nos aspectos da vida neurociências cognitivas.
mental – da percepção à ação – que há muito vinham despertando o interesse Mais tarde, as neurociências cognitivas vão assumir essa aproximação que se
dos neurologistas e de outros estudiosos do tornou possível a partir do desenvolvimento de modelos computacionais dos
sistema nervoso. processos cognitivos e cerebrais, do aparecimento de novas tecnologias de
Os primeiros estudos dos sistemas cerebrais, neuroimagem não invasiva, entre outros fatores (ver Figura 4). Nesta figura, as 3
em 1950, ilustraram bem como muito da maiores sub-disciplinas estão indicadas na circunferência exterior de ligações.
psicologia pode, por sua vez, informar as Para além disso, a análise do efeito das lesões pode fornecer indicações valiosas
neurociências. Os estudos microscópios de que podem limitar e testar os modelos da cognição e da sua instanciação no
células únicas foram muito informativos, cérebro. As neurociências cognitivas deveriam, idealmente, seguir em paralelo com
contudo o funcionamento cerebral consiste as perspectivas do desenvolvimento e da evolução em relação às causas últimas.
numa atividade concertada de múltiplos Este ramo das neurociências deu origem a uma série de assunções centradas no
sistemas e neurónios, pelo que rapidamente conceito de representação. Nomeadamente, o facto de muito do trabalho cerebral
aqueles estudos se tornaram insuficientes envolver a representação do corpo, dos dados do mundo e de alguns
para a compreensão das ligações entre o acontecimentos do próprio cérebro. Desenvolver operações computacionais
cérebro e o comportamento. nessas representações serve para extrair informação relevante, tomar decisões,

Figura 4 - Quadro teórico das Com a sofisticação da nova tecnologia foi recordar e mover-se adequadamente. Na verdade, devemos entender esta noção
neurociências cognitivas possível monitorizar a atividade de grandes de representação advinda da neurociência cognitiva como não sendo mais do
população de neurónios, quer em sujeitos que uma assunção e não verdades estabelecidas. Dado que a ciência continua a

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progredir, estas assunções podem ser amplificadas, revistas ou, mesmo, Ora, é partindo desta hipótese evolucionista que a questão central das
falsificadas a favor de melhores hipóteses. neurociências cognitivas pode ser colocada: como é que as estruturas neuronais

Por isso, os problemas das neurociências cognitivas estão longe de estarem conseguem realizar isto?

resolvidos. É verdade que a procura da compreensão da relação entre os aspetos A resposta não é simples, mesmo com o conhecimento que hoje temos da
materiais do cérebro e o funcionamento mental sempre foi central para se ligar em organização e do funcionamento do cérebro pelo que, para lhe responder, será
vários aspetos do comportamento e da cognição com partes particulares ou com necessário subdividir a questões em outras três, cada uma aos diferentes níveis
funções do cérebro. Mas esta questão da localização é ainda um dos grandes em que o cérebro está organizado.
desafios que esta disciplina das neurociências tem de enfrentar. Mas não é Ao nível neuronal, a principal questão que orienta este campo centra-se,
apenas este. Também a questão da representação ao nível neuronal (como é que precisamente, em quais os dados da atividade neuronal que subjazem à
as redes neuronais representam, codificam ou criam um instância dos processos codificação e descodificação da informação? Já que os neurónios apresentam
cognitivos?) e a questão da aprendizagem (como é que o cérebro se adapta à uma grande variedade de atividade, então uma teoria da representação necessita
experiência, que alterações ocorrem nas redes neuronais em resultado da de resolver o problema de saber como distinguir os sinais genuínos das
experiência e como é que estas alterações correspondem ao comportamento atividades de manutenção ou do mero ruído.
observado?) são outras tantas questões que lançam desafios ainda por resolver a
Ao nível das redes neuronais, a finalidade predominante tem sido encontrar
esta disciplina.
modelos plausíveis que permitam intersetar os factos acerca dos neurónios e dos
Dissemos atrás que as neurociências cognitivas deveriam acompanhar, entre seus padrões de conectividade com os dados psicofisiológicos derivados dos
outros, os desenvolvimentos dos dados sobre a evolução. Na verdade, segundo a estudos comportamentais.
perspectiva evolucionista, o cérebro é visto como uma espécie de tampão contra
Ao nível sistémico, o maior desafio é compreender como é que os sistemas
a agressão ambiental e a grande variabilidade dos acontecimentos ambientais.
nervosos integram a informação, a armazenam, recuperam informação relevante
Muito cedo na nossa história, a evolução selecionou as vantagens provenientes
para as tarefas e usam a informação para desenvolverem decisões
do facto de o sistema nervoso ser capaz de fazer predições baseadas em
comportamentais.
condições passadas, aquando da avaliação de circunstâncias atuais, quer
internas, quer externas. De forma abreviada, ajuda muito ter um cérebro com a Estes desafios deram origem ao que McCulloch chamou de epistemologia

capacidade para preparar o organismo para acontecimentos que têm grande experimental.

probabilidade de acontecer e organizar uma resposta comportamental a algo que Epistemologia experimental
ainda não aconteceu mas que se espera que venha a acontecer. Para os animais,
Uma das questões emergentes desta nova agregação de disciplinas científicas
que se podem mover, conhecer coisas e representá-las confere uma vantagem
em torno do mesmo objecto – o cérebro – foi aquilo a que McCulloch (1898–1969)
competitiva. A hipótese evolucionista postula que, ao serviço da predição, a
designou por epistemologia experimental ou uma teoria fisiológica do
atividade neuronal mapeia os dados do mundo mais relevantes para o organismo
conhecimento. Isto é, a tentativa de descobrir como as funções cerebrais
– ou seja, as suas relações espaciais, sociais, fontes de alimentação, abrigos, etc.
sustentam os fenómenos mentais tais como a sensação e a percepção. Com um
Este mapeamento é considerado como sendo representacional.
esforço integrativo do conhecimento sobre o comportamento, McCulloch

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levantou questões que eram simultaneamente de natureza fisiológica, psicológica mudança que aponta para uma óptica integrativa menos reducionista que, apesar
e filosófica. Uma das consequências deste empreendimento foi aquilo a que de a descrição do cérebro ainda ser tão incompleta, já existem suficientes factos
alguns designaram por “decomposição da mente nos seus elementos”, em razão acerca do cérebro para que esse movimento possa ocorrer e possa abordar o
do esforço de localizar os resultados das análises da mente nos seus elementos, cérebro como um sistema integrado. Para que tal aconteça é necessário que essa
faculdades e funções. Neste sentido, a anatomia teve uma influência grande na integração se foque não só no domínio temporal, mas também no espacial (bem
decomposição da mente: o facto de se tentar “anatomizar” (para usar as palavras como na escala temporal na qual a cognição atualmente ocorre).
de Charles Bonnet, 1760) a mente nos seus elementos mais simples estava A disciplina que melhor se posiciona para operar esta integração é a
naturalmente relacionada com o desenvolvimento e o progresso da anatomia e psicofisiologia, pelo facto de se apresentar como um nó integrador em
acabou por se tornar um modelo teórico para a psicologia. consequência do seu posicionamento de interface entre dois níveis de integração
A questão sobre os modos de integração da psicologia cognitiva, da da informação − o biológico e o psicológico − e da sua emergência no interface
neuroimagiologia funcional e da neurologia do comportamento é uma questão de diversas disciplinas das neurociências, altamente sofisticadas e
central das modernas neurociências. Enquanto que a psicologia cognitiva é útil epistemologicamente diversas. Na verdade, a psicofisiologia ocupa-se, quer ao
para revelar as variáveis comportamentais, as suas interrelações e os métodos nível da explicação/compreensão, quer ao nível metodológico, dos processos
para o controlo dos processos cognitivos, perceptivos e motores, a operativos cerebrais concomitantes dos fenómenos psíquicos e das relações do
neuroimagiologia funcional revela as áreas cerebrais que se activam organismo com o meio, assente numa dimensão integradora e auto-organizadora
especificamente por uma tarefa cognitiva particular e a neurologia do das ópticas neurofisiológica, etológica e filo-ontogenética (cf. Marques-Teixeira,
comportamento avalia em que medida uma lesão cerebral pode afectar os 1992).
processos cognitivos e comportamentais e em que medida um processo
O papel da Psicofisiologia
cognitivo ou comportamental requer o suporte de uma área específica do cérebro.
Como poderemos enquadrar uma área do conhecimento que, por definição -
No seu conjunto e no plano teórico, estas disciplinas podem mapear o
embora esta mesma definição seja muito controversa - se ocupa das transições
processamento elementar da informação em áreas cerebrais específicas, bem
entre o domínio fisiológico e o domínio psicológico? Das aquisições básicas dos
como mapear conjuntos de áreas/operações em modelos sistémicos nivelares de
profissionais do comportamento humano? E, nesse sentido, adjudicar-lhe uma
tarefas psicológicas específicas. Contudo, o que resultou desta tentativa de
conotação eminentemente biológica, ou mesmo, um pouco menos reducionista,
integração não foi mais do que um grande reducionismo.
mas mesmo assim nitidamente bio-psicológica? Ou devemos abordá-la como
No início do 3º milénio, a maioria dos modelos cerebrais quantitativos ainda se
uma das disciplinas tipo para problematizar as ligações entre o biológico, o
focam na escala microscópica e em redes especializadas, enfatizando deste
psicológico e o social?
modo a redução modélica à miríade de elementos constituintes do cérebro
Que critérios epistemológicos deveremos seguir para tomar essas opções?
(incluindo os detalhes das estruturas anatómicas, os mecanismos fisiológicos
específicos, os subtipos de receptores neuroquímicos e os processos Qual o papel da Psicofisiologia para compreensão do comportamento humano?
moleculares). A complexidade desta escala microscópica é enorme e constitui, A resposta a esta questão prende-se com uma outra mais vasta: o que
ainda, os alicerces essenciais das atuais neurociências (Kandel et al., 1991). pretendemos relativamente à composição do comportamento humano? As
Contudo, há sinais de uma mudança relativamente recente nesta perspetiva, opções são múltiplas mas em todas elas é identificável um fundo comum:

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descrever, compreender, explicar e, em alguns casos, intervir no comportamento sentimentos, comportamentos racionais, etc.. Mas, de facto, não é, tendo
humano nas diversas situações contextuais em que está envolvido. Mesmo as passado a ser um problema disperso por várias disciplinas, quer do grande
mais sofisticadas especializações - como a psicologia clínica, a psicologia domínio biológico, quer do grande domínio psicológico. No que respeita ao
experimental, a psicologia do trabalho, a psicologia do comportamento desviante, âmbito da biologia, pode-se afirmar como Atlan (1986) que esta ciência, tendo
entre outras - não dispensam uma formação generalista no domínio do redescoberto o seu “verdadeiro objeto” - a organização da matéria - acaba por
comportamento humano em situação. impor uma específica organização do organismo. De facto, munida de

Relativamente a este jogo é consensual não só a sua organização em níveis como instrumentos conceptuais das ciências da informação e olhando para um único

também a consideração de 3 grandes domínios, que coexistem, interagem e se organismo, acaba por impor a sua organização em níveis, o que teve como

estruturam mutuamente: o domínio biológico, o domínio social e o domínio do consequência uma re-organização das disciplinas entre si. Assim, um mesmo

sentido e do significado. Ou seja, o estudo do comportamento humano recai, objeto - o organismo - é ao mesmo tempo um objecto físico, químico, biológico,

necessariamente, sobre um membro singular de uma espécie, que é fruto de uma fisiológico, linguístico, social.

evolução; sobre um indivíduo singular que é ator da sua própria socialização, que Este objeto, organizado em níveis, vai ter esses níveis fracionados e estudados
interage com outros e que é fruto de uma história sociocultural que se veio separadamente por cada uma das disciplinas, impondo, a favor da sua
enxertar na história biológica; sobre um indivíduo singular que se pensa, se unificação, o estudo das articulações entre os diversos níveis deixado ao diálogo
determina e se avalia, que procura dar sentido e coerência à sua vida. entre essas disciplinas. Diálogo tri-partido: por um lado, entre as várias disciplinas

É este objeto complexo de estudo que a psicofisiologia deverá adotar se quiser do domínio biológico, por outro, entre as várias disciplinas do domínio psicológico

proceder à revolução integradora dos novos dados da neurociência aplicada aos e entre estes dois grandes domínios disciplinares entre si (Figura 5).

humanos. Diálogo difícil, dado que na maior parte dos casos as “linguagens” próprias a

Body (1989) considera que esta disciplina se situa na interface das disciplinas do cada disciplina são muito diferentes entre si e a comunicabilidade entre elas é,

domínio biológico e das disciplinas do domínio psicológico, atribuindo-lhe um por vezes, muito remota. Estas dificuldades foram sendo ultrapassadas com a

papel de charneira entre os dois grandes domínios do conhecimento sobre o criação de novas disciplinas como aconteceu, por exemplo, com a articulação

comportamento humano. No entanto, teremos de nos questionar sobre esse entre o nível molecular e o nível celular que só foi possível graças à criação da

papel. Ou seja, cabe-lhe, a ela, em exclusivo, esse lugar? E, tendo-o, de onde lhe nova disciplina, biologia molecular, com as suas técnicas e linguagens próprias.

advém? Se bem que a designação Psico-fisiologia nos possa sugerir um estatuto Poder-se-á daqui concluir que os processos básicos são, no essencial, os

epistemológico de interface não é um critério nem suficiente nem seguro. mesmos nos diferentes níveis de organização do organismo e que o seu
desconhecimento é o principal obstáculo à comunicação entre esses diferentes
Vejamos que configurações, em termos disciplinares, apresenta, atualmente, essa
níveis. Ou seja, teremos de admitir, ao mesmo tempo, uma unidade de processos
zona das ligações entre o domínio biológico e o domínio psicológico. Em termos
que, em grande parte, ainda não conhecemos e uma diversidade de disciplinas
gerais, deveria ser um problema reservado ao discurso científico da biologia e da
que os distinguem e que nos permitem conhecê-los progressivamente.
psicologia -- a biologia, enquanto discurso organizador das observações e das
experiências entre sistemas vivos e a psicologia enquanto discurso organizador Nesta dispersão de saberes partidos em campos disciplinares variados, onde

das observações e experiências sobre a produção de desejos, ideias, crenças, encaixa a Psicofisiologia? A resposta a esta questão depende do ponto de vista
que se adoptar face a ela. Para as epistemologias positivistas, muito embora a
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Psicofisiologia apresente em definir uma disciplina cujo objecto se situa na rede atópica da dupla atividade
um objetivo específico - cerebral e mental.
as mediatizações Para além desta dificuldade, os avanços tecnológicos acabaram por evidenciar
cerebrais dos processos uma outra, que se refere à problemática colocada, em termos atuais, pelo cérebro
psíquicos - enquadra-se, e pelo psiquismo. Vimos atrás que a divisão do organismo em níveis de
mesmo assim, nas organização conduziu à mesma divisão das disciplinas que abordam esses níveis.
Figura 5 - “Diálogo” entre as disciplinas do domínio biológico e
do domínio psicológico, bem como destes entre si. disciplinas do domínio Assim, o olhar que a Psicofisiologia lança para esta organização prende-se com
biológico. Mesmo com os dados de disciplinas como a Biologia Molecular, a Neuroquímica do
perspetivas menos reducionistas, considerando pontos de vista sistémicos (como Comportamento, a Eletrofisiologia Cerebral, a Neuroanatomia, a Fisiologia, a
acontece, por exemplo, com Caccioppo e Tassinary, 1993), o acento tónico recai Psicologia Experimental ou Clinica, a Etologia, a Antropologia, entre outras. Isto
sempre sobre o lado biológico que orienta todo o conceptual restando ao implica, pelo menos, que um olhar psicofisiológico não pode estar dissociado
sistema psíquico um papel de enquadramento dessa biologia. destas grelhas de leitura da realidade biológica do comportamento.
Por isso, em trabalho anterior, demonstrei que a Psicofisiologia, quando Por outro lado, o facto de não haver um acordo internacional quanto ao
enquadrada na epistêma contemporânea, desde que obedeça a um conjunto de significado da designação desta disciplina é um outro indicador da dificuldade de
critérios, se posiciona no interface entre os domínios biológico e psicológico. É atribuição de um estatuto epistemológico aos fenómenos psicofisiológicos,
evidente que essa transformação da disciplina implica uma acentuada mutação dificuldade acrescida quando nos centramos no Homem e consideramos a
do seu quadro de referências interno, mutação que obriga a uma redefinição do revalorização contemporânea da unidade psicossomática da personalidade. Esta
seu objecto. Afinal, o processo que Atlan (1986) descreve como tendo sido o atitude anticartesiana induziu duas correntes contraditórias na psicofisiologia: por
escolhido, na história recente das ciências, para colmatar as dificuldades de um lado, (1) as tendências antinómicas expressas nas reduções mecanicistas da
comunicação entre disciplinas que se ocupam de níveis distintos da organização vida mental e nos diferentes monismos psicogenéticos da atividade cerebral; e,
do organismo. por outro, (2) a tendência em considerar a atividade comportamental adaptativa
Disciplina biológica ou disciplina de interface bio-psicológico? Qual das segundo um modo holístico e teleonómico.
perspetivas é a mais adequada para os propósitos que nos orientam? Para se Este conjunto de dificuldades constituem uma das principais razões que explica a
responder à questão, teremos de analisar, com mais pormenor, os pontos de vista ausência de consenso quanto ao estatuto epistemológico desta disciplina,
que têm caracterizado a evolução desta disciplina. ausência essa visível mesmo quando se focaliza a análise em termos mais
Pontos de vista que têm recaído sobre a Psicofisiologia específicos. Isto é, a especificação da definição da Psicofisiologia não nos ajuda
a clarificar estes aspetos, já que se estendem desde definições centradas, em
Desde os princípios do séc. XIX, quando Cabanis postolou um biologismo
exclusivo, na tarefa de diferenciação desta disciplina da Psicologia Fisiológica
simplificador, passando pelo behaviorismo watsoniano, não esquecendo a
dos autores anglo-saxónicos, até definições centradas em termos operacionais,
influência da psicofísica fechneriana, a Psicofisiologia foi sempre reduzida à
pelo que se pode afirmar que a Psicofisiologia se caracteriza mais por uma
Fisiologia, embora essa redução tenha sempre deixado transparecer a dificuldade
dispersão de abordagens do que, propriamente, por uma unificação. É certo que
este trabalho, que se estendeu ao longo dos cerca de 30 anos da sua existência
11
formal, representa um conjunto de esforços no sentido de se encontrar o tal essa analise fosse hierarquizada nos seguintes 4 níveis: temporal/evolutivo,
consenso unificador (tão necessário não só para a sua delimitação clara de outros anátomo-funcional, nemocibernético e auto-organizativo.
domínios científicos, como também para possibilitar o seu crescimento enquanto Mantendo o pressuposto geral ou o postulado mínimo que subjaz ao pensamento
campo disciplinar), mas os seus resultados pouco fizeram avançar a clarificação psicofisiológico (segundo o qual os processos psicológicos e comportamentais
procurada. são traduzíveis em transações organismo-ambiente e que, para além disso,
Estatuto epistemológico da Psicofisiologia apresentam manifestações, ramificações ou reflexos fisiológicos), de acordo com
a organização proposta, a Psicofisiologia está em condições (utilizando
Sendo assim, é adequado perguntar: existe, do ponto de vista epistemológico,
raciocínios hipotético-dedutivos e análises bayesianas) não só de providenciar
alguma saída para esta dispersão de definições e de objeto?
fortes alicerces para as inferências psicofisiológicas acerca da natureza humana,
Creio que sim, desde que tomemos como grelha de leitura o quadro epistémico
como de clarificar os processos que asseguram a transição entre os dois grandes
que configura o atual paradigma científico. Dito de outro modo, que
domínios que definem o seu
transformações sofre a Psicofisiologia quando lida à luz do paradigma sistémico-
o b j e c t o : o fis i o l ó g i c o e o
comunicacional-informacional?
psicológico.
Como já disse, em trabalho anterior ocupei-me desta questão (Marques-Teixeira,
Em síntese, uma das
1993) tendo concluído que, apesar das divergências constatadas, é possível
consequências de se olhar para a
encontrar uma convergência sobre um objeto os processos biológicos
P s i c o fis i o l o g i a c o m o u m a
subjacentes ao comportamento e à existência mas que, mesmo assim, esta
disciplina-síntese, vértice de uma
disciplina não apresenta um corpo teórico próprio que a insira no atual paradigma
pirâmide constituída por um
científico. Para preencher este vazio propus, nesse mesmo trabalho, um conjunto
conjunto de disciplinas das
de condições às quais uma nova Psicofisiologia - que, na altura, designei por
neurociências, obriga a um duplo
epistemopsicofisiologia - deverá obedecer para poder operar uma transformação
movimento de análise e de síntese:
no sentido da unificação transdisciplinar dos saberes dispersos em torno do seu
análise dos níveis, separadamente, F i g u r a 6 - E i x o s o rg a n i z a d o re s d a
objeto. Ou seja, ao movimento disciplinar analítico, como resposta à partição do Psicofisiologia enquanto disciplina-síntese
através dos dados de cada uma
organismo-objecto, conforme Altan (1986) salientou, terá de existir um movimento das disciplinas das neurociências
das disciplinas que se ocupam de
complementar de síntese disciplinar que organize os saberes dispersos por essas
cada um desses níveis em particular;
disciplinas num corpo unificado que dê sentido à dispersão, que rompa as
síntese integradora desses dados num trinómio organizador das transações
fronteiras disciplinares e que permita uma nova organização dos saberes
biunívocas, psicofisiológicas, ele próprio organizado em 3 grandes dimensões
científicos.
(ver Figura 6).
No essencial, essa transformação traduz-se pela organização da disciplina, ela
Deste modo, a psicofisiologia vista segundo esta perspetiva é uma disciplina
própria, em níveis de organização, à imagem do seu objeto de estudo. Deste
adequada para (1) operar a síntese dos conhecimentos biológicos acerca do
modo, mantendo o seu nível de análise as transações organismo-ambiente e
comportamento em situação, (2) para os organizar numa unidade coerente de
estendendo a noção de ambiente ao domínio físico e sociocultural, propus que
sentido e (3) para os projetar no plano das transações bio-psicológicas. Ou seja, a
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Psicofisiologia, será uma das disciplinas-chave para esta compreensão, desde Contudo, não só se tem verificado que uma grande parte destes componentes
que se constitua como o vértice de uma pirâmide de conhecimentos não se mostraram adequados para a tarefa unificadora, como têm sido utilizados
genericamente designados por sem envolverem a noção de hierarquia.
“biologia do comportamento”, É, justamente, este papel que cabe à Psicofisiologia: a criação de planos de
vértice que se abre em leque descrição representativos da organização espácio-temporal dos subcomponentes
sobre um outro conjunto de do sistema humano, representado por tipos de resposta (por exemplo, biológicas,
disciplinas consideradas como de ativação, de orientação, transitivas) relacionadas com uma organização dos
pertencentes ao domínio componentes ambientais. Bem entendido que este trabalho integrador decorre de
Figura 7 - Representação do papel charneira da psicológico e psicossocial (Figura um trabalho de análise sobre estas respostas cujo resultado é a consideração de
Psicofisiologia na interface entre o domínio das
7). cada um dos subcomponentes de uma determinada resposta como constituindo
Planos conceptuais de uma organização de uma particular categoria de componentes do

organização da Psicofisiologia comportamento, de tal modo que a cada nível da organização se torna possível o
estudo dos planos de descrição.
Analisemos, com mais pormenor, quais os referentes conceptuais que orientam e
configuram o aspecto integrativo que caracteriza a proposta de Psicofisiologia O passo seguinte deste processo requer um olhar global sobre o sistema pessoa,

que aqui defendo. considerado agora como unidade de análise.

Em 1º lugar, dado a Epistemopsicofisiologia se organizar enquanto O facto de um determinado tipo de comportamento poder ser representado como

enquadramento sistémico, organizado em níveis hierárquicos, isso tem implícito o uma organização de episódios comportamentais mais elementares, os quais, por

conceito de componente e de organização de componentes. Esta organização é sua vez, podem ser representados como a organização de diferentes tipos de

representada em termos de interrelação entre os componentes que, no seu componentes comportamentais ou ambientais, isso significa que um determinado

conjunto, definem o sistema humano. padrão de comportamento pode ser analisado a vários níveis dentro dessa
hierarquia. Sendo assim, sempre que uma ação é desencadeada, cada
As disciplinas antecessoras da Psicofisiologia representam diferentes
componente funciona como uma unidade semiautónoma, conservando a sua
aproximações ao estudo da organização do homem focadas em diferentes tipos
coerência interna, ao mesmo tempo que serve o conjunto de que faz parte. Por
de componentes. Por exemplo, a Neuroanatomia Funcional descreve um conjunto
outro lado, essa ação estende-se por um determinado período de tempo o qual
de características que definem a organização estrutural e a sua relação funcional
pode, também, ser decomposto em unidades de análise ou ciclos de ação
biunívoca do ser humano, representando o sistema nervoso como uma hierarquia
(Young, 1952; Bruner, 1982).
de componentes, na qual cada nível dessa hierarquia é representado como uma
organização de componentes estruturais definidos a níveis inferiores. Importa, agora, saber quais os reflexos da definição da Epistemopsicofisiologia
sobre o modo da abordagem do individuo-sistema.
Digamos que este tipo de descrições representam o domínio biológico da
descrição da organização do sistema homem. O domínio psicológico, nesta Consideramos, atrás, três grandes eixos organizadores do sistema disciplinar da

lógica, tem-se ocupado em descrever os componentes psicológicos como, por Epistemopsicofisiologia, os quais referenciam a evolução do comportamento

exemplo, arco reflexo, respostas condicionadas, hábitos, traços, entre outros. humano ao longo do tempo no seu diálogo com o contexto. Os princípios

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decorrentes dessa arquitetura organizam-se, eles próprios, em três grandes interdependente governado pelos princípios da auto-organização e da
categorias, as quais asseguram a descrição de três tipos de mudanças nos autoconstrução, mas também sofre, ocasionalmente ou periodicamente, uma
sistemas vivos, conforme foi descrito por Ford (1987): (1) auto-organização, (2) disrupção desse fluxo desenvolvimental, produzindo padrões de desorganização
auto-construção e (3) auto-reconstrução. e de bifurcações opcionais de exploração e de reorganização, guiadas pelos

Sendo a auto-organização um processo de produção de estabilidades e de princípio da auto-reconstrução.

redundâncias, produzido pelos processos de retroação negativa nos sistemas de Causalidade ascendente e descendente
controle, as suas operações resultam na manutenção, dentro de certos limites,
Na ótica transnivelar, o desenvolvimento, a diferenciação e a organização do
nos níveis mais elementares, de muitos processos biológicos tais como a
conjunto celular, a constituição da forma global e a arquitetura interna do
temperatura corporal, o balanço hídrico, a pressão arterial ou, nos níveis mais
organismo, a maturação das funções vegetativas e da sua relação, faz-se, no
complexos, a capacidade para manter a coordenação da eficácia instrumental
essencial, de maneira ascendente, do elementar para a organização mais
das ações em contextos mutantes. Os desvios temporais desses limites de
complexa, assumindo aqui, as determinações de ordem genética, um papel
funcionamento organizam “necessidades”, as quais se traduzem em
proeminente. Mas, no que respeita ao substrato anatomofuncional de um
comportamentos cuja finalidade é a reposição das condições iniciais do sistema.
comportamento individualizado adaptado, as influências estruturantes
Os seres humanos apresentam uma matriz básica de características anatómicas, descendentes adicionam-se e sobrepõem-se à estrutura e maturação
fisiológicas e funcionais que resultaram de uma longa história evolutiva, cuja ascendentes. Enquanto que o 1º tipo de causalidade nos é familiar, porque
atualização numa organização estrutural-funcional individual depende da estamos habituados a pensar a partir de mecanismos elementares, das suas
interação das características genéticas com as características do ambiente no propriedades e das suas determinações, o 2º tipo, que é uma ação organizadora
qual se processa o desenvolvimento. Esta matriz, factor de determinação do relevando de processos de ordem superior, é mais difícil de entender, sobretudo
comportamento humano, impõe limites ao desenvolvimento mas, ao mesmo quando se trata de constrangimentos que impõem a aquisição e a manutenção
tempo, possibilita um conjunto de operações que resultam das interações de um diálogo adaptado com o ambiente. Esta condição impõe à Psicofisiologia
estabelecidas com os diferentes contextos em que o ser humano está envolvido: um papel determinante na articulação entre os dois tipos de causalidade,
interação com o ambiente físico do contexto da vida na dimensão biológica, verdadeiro papel integrador de níveis e de fluxos de informação entre o organismo
interação sociocultural geral e particular no contexto social, interação com um e o seu ambiente.
mundo interno no contexto do sentido e significado da existência.
Para além disso, estes dois tipos de causalidades próprias da espécie humana e
Um dos aspectos decorrente desta organização, que importa diretamente à próprias da sua condição de ser no mundo relevam, no plano biológico, da
Psicofisiologia, tem que ver com uma das principais eficiências do processo maturação pós-natal do cérebro, a qual possibilita a aquisição de “competências”
evolutivo – o uso da mesma estrutura para a execução de várias funções – do específicas requeridas para a inserção ativa e adaptação do homem num meio
qual decorrerá o racional que integra todos o índices psicofisiológicos utilizados social dado, implicam a necessidade de aproximar a filo-ontogénese do ator
como variáveis dependentes. social ao desenvolvimento do indivíduo biológico. De facto, o indivíduo biológico
Ao longo de todo o processo desenvolvimental o funcionamento individual segue não nasce ator social, mas pode vir a sê-lo. Esse processo de construção pode
um padrão de flutuação organizacional, a todos os níveis da hierarquia ser decomposto em dois grandes períodos, como o fez Karli (1995) um 1º

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período diretamente ligado à maturação biológica do indivíduo e um 2º período, (1974), e ao nível do Sistema Nervoso por Changeaux (1983), Paillard (1983) e
enxertado no 1º, ligado ao estabelecimento de interações com o meio social e um Tabary (1983). No domínio psicológico, Bateson (1977) é uma referência
“tratamento” mais complexo e distanciado das situações encontradas. importante na aplicação destes princípios ao sistema psíquico e à atividade

Estabelece-se, deste modo, um vetor do desenvolvimento orientado do mesmo mental (para desenvolvimento da evolução do paradigma biológico ao paradigma

modo que o vetor da evolução filogenética. sistémico nos domínios considerados cf. Agra, 1986).

Em síntese e decorrente do exposto, facilmente se depreende que a nova Atendendo à transformação aludida, a abordagem do objeto por esta nova

psicofisiologia deverá propiciar não um simples acumulo atualizante de conceitos, psicofisiologia deverá, então, promover a integração de um conjunto de

teorias e práticas, mas uma real mudança paradigmática em termos da integração conhecimentos de nível anatómico e fisiológico das unidades que compõem os

biopsicológica. episódios comportamentais e as suas mediatizações psicológicas na interação


com as unidades ambientais, considerando quer os constrangimentos
Como vimos, no essencial, esses requisitos implicam a transformação, de uma
ascendentes decorrentes dos programas comportamentais inatamente
Psicofisiologia positivista ocupada das relações entre o comportamento e as
estabelecidos, quer os constrangimentos descendentes decorrentes das
suas condições externas, estímulos e situações para uma Psicofisiologia
modelagens que a aprendizagem induz.
sistémica ocupada com a investigação da lógica dos processos nervosos e
mentais, processos estes conceptualizados de forma unitária pelas teorias da Em síntese, como atrás se enunciou, a epistemopsicofisiologia constitui-se como

comunicação e da informação. Esta transformação, operada através de uma a disciplina eleita dentre as várias disciplinas das neurociências, para confirmar a

epístemo-análise da própria Psicofisiologia, ditou as linhas reitoras desta nova capacidade de integrar e ser integrada, decorrente do atual paradigma científico.

Psicofisiologia epistemopsicofisiologia e tem implicações ao nível do objecto, Esta capacidade refere-se à possibilidade de os dados da psicofisiologia serem

método e natureza dos fenómenos. integrados por outras disciplinas do campo da neurociência e, simultaneamente,
à possibilidade de a psicofisiologia integrar, na sua trama teórico-metodológica,
Ao nível do objecto, implica a passagem do estudo dos fenómenos biológicos
os dados advindos dessas mesmas disciplinas. Esta capacidade reflete-se na
concomitantes dos fenómenos psíquicos, para o estudo dos processos de
posição integradora e integrante da psicofisiologia, que lhe permite não só
tradução entre os níveis fisiológico e psicológico.
estabelecer ligações entre diferentes disciplinas, como também ela própria
Ao nível do método, mantendo-se o primado da observação, implica a integração constituir parte integrante de cada disciplina.
da noção de "real time", vinda da etologia, na própria observação. Ou seja, a
Esta possibilidade integradora é conseguida, primariamente, através da
observação deve atender ao contexto, ocorrendo quer no meio natural, quer em
integração dos modelos teóricos existentes, pela conjugação das diferentes
meio artificial, mas analisando e controlando esse contexto artificial. Para além
medidas das funções cerebrais e corporais e modelização numérica das bases de
desta implicação, também a utilização dos índices psicofisiológicos deve ser
dados atualmente disponíveis.
valorizada no sentido de serem considerados como uma parte da atividade de um
sistema globalmente operante (Venables, 1981). Uma perspectiva integradora deve prestar atenção, bem entendido, aos detalhes
reducionistas mas, simultaneamente, estar aberta ao modo como estes
Ao nível da natureza dos fenómenos, implica aplicar o conceito de informação aos
processos se organizam segundo regras mais simples no conjunto da função
fenómenos psíquicos e à atividade mental. Essa aplicação foi feita, no domínio
dinâmica adaptativa do cérebro, ao nível sistémico. Como já foi afirmado, neste
biológico, ao nível da biologia molecular quer por Jacob (1970), quer por Laborit

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conjunto, não se pode perder de vista a perspectiva evolucionista, sobretudo o entre si, implicando uma dinâmica recursiva de umas disciplinas sobre as outras,
facto de a integração das finalidades e o processamento das opções parecerem sem que nenhuma se destaque em relação à outra. Desta implicação deriva que
estar na dependência de redes não específicas. Não nos esqueçamos que a cada disciplina/nível é ao mesmo tempo efeito e causa, receptor e emissor, parte
maior parte do cérebro humano é constituído por córtice de associação não integrada e parte integrante desta rede.
especializado, fornecendo uma flexibilidade e uma capacidade de processamento Neste sentido, fazendo corresponder os diferentes níveis de organização do
de opções adaptativas sem precedentes. A grande evolução no tamanho do sistema nervoso segundo
cérebro dos hominídeos nos últimos 5.000.000 anos (desde o Australopitecos até aquele paradigma (Figura 8), ao
ao Homo Sapiens) ocorreu fundamentalmente no córtice de associação não nível anátomo-funcional devem
especializado, o qual está integralmente envolvido com o sistema límbico (Tobias, corresponder a neuroanatomia,
2000). Nenhuma outra espécie teve tantas mudanças significativas no tamanho a n e u r o fi s i o l o g i a , a
do cérebro num período de evolução tão curto. neurofarmacologia, a
Para além disso, uma perspective integrativa baseia-se na possibilidade segundo neuropatologia e neuroquímica;
a qual na base do funcionamento do cérebro estão um conjunto relativamente ao nível comunicacional deve
pequeno de princípios organizativos. O número de tais princípios na literatura é corresponder a
relativamente pequeno, de facto, e incluem: adaptação, um contínuo desde a n e u ro c i b e r n é t i c a ; a o n í v e l
localização até uma perspectiva holística do cérebro, processos de pró-ação e de temporal devem corresponder a Figura 8 - Correspondência entre níveis de

retroação; diferentes regras de funcionamento em diferentes níveis escalares; cronobiologia e a organização do SN e as disciplinas das
neurociências
regras simples estarão na base do comportamento complexo; hierarquia circular e cronopsicofisiologia e ao nível
funcional, entre outros. integrativo-organizacional deve

No fundo, princípios que obedecem a uma nova racionalidade científica - corresponder a psicofisiologia.

sistémico- informacional-comunicacional -, que opera noutros domínios De facto, se a neuroanatomia microscópica e a neurofisiologia nos informam
científicos e que se provou também operarem neste domínio. sobre a coexistência de movimentos caóticos dos átomos e das moléculas e de

Após esta análise e em razão das suas conclusões deve-se, agora, operar a mecanismos moleculares estáveis (tais como a ação dos neurotransmissores nas

reorganização das disciplinas da neurociência de acordo com aquela análise, de sinapses), estes dados por si revelam a coexistência da desordem/ordem do

modo a refletirem os princípios até qui definidos. funcionamento do Sistema Nervoso a este nível, mas também têm implicações na
organização da informação no nível informativo-organizacional; o mesmo se
passa no sentido inverso, quando os dados da psicofisiologia vão dirigir a
investigação em neurofisiologia e em neuroanatomia. Isto passa-se em relação a
qualquer uma das disciplinas, funcionando elas próprias como uma rede
Reorganização das disciplinas das neurociências
informacional-organizacional em torno do Sistema Nervoso, organizada em níveis,
De acordo com este paradigma, as diferentes disciplinas das neurociências, de onde se salienta o nível de integração, nível este que constitui um conceito
devem-se organizar em rede, devem apresentar uma reciprocidade profunda dentro do atual paradigma científico.

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A utilização da psicofisiologia como analisador desta rede e na condição de mensagem assim transmitida pode conservar características inalteradas ao longo
disciplina integradora, permite integrar os dados das diferentes disciplinas com as do trajeto percorrido, sem interferência por parte do contexto envolvente, porque
suas próprias investigações, de onde podem emergir um conjunto de a mensagem consiste numa sucessão, com uma frequência dada, de sinais
características do funcionamento do Sistema Nervoso, que cruzam as diferentes idênticos, em que cada um consiste numa variação do potencial elétrico da
disciplinas, constituindo um fio de ligação entre elas. Sobretudo a moderna membrana celular (potencial de ação) que se propaga com uma amplitude
psicofisiologia cognitiva que, evoluindo do modelo sokoloviano das respostas de inalterada ao longo de um prolongamento axónico da célula nervosa. Este
orientação, para uma perspetiva mais central, com o advento dos potenciais prolongamento axonal constituí, com a bainha isolante mielínica que o envolve,
relacionados com eventos - eventos eletroencefalográficos que refletem os uma das fibras nervosas dum nervo periférico ou dum fascículo do sistema
processos cognitivos - tem dado um contributo essencial para a integração dos nervoso central.
dados das diversas disciplinas das neurociências. A transmissão destes sinais eléctricos é bastante mais rápida do que aquela que
Conceitos fundamentais sobre o funcionamento do Sistema Nervoso é enviada pelas hormonas por via sanguínea, mas convém referir que o
funcionamento do sistema nervoso, com o desencadeamento dos seus efectores
Estas características obrigam a uma revisão dos conceitos fundamentais sobre o
musculares e glandulares, combina uma transmissão de sinais de natureza
funcionamento do Sistema Nervoso e revelam-se, eles próprios, como o código
química com sinais de natureza elétrica através da propagação dos potenciais de
integrador dos dados das diferentes disciplinas. São 5 as características
ação, ao longo das fibras nervosas. Na verdade, uma fibra nervosa, liga-se a uma
emergentes e são características transversais àquelas disciplinas: constituição em
outra célula através de uma zona de junção designada por sinapse, que é
redes, intercomunicação potencial, não especificidade das estruturas
ultrapassada não pelo potencial de ação que aí chega, mas por uma molécula
elementares, funcionamento rítmico e papel integrador.
mensageira que é libertada na terminação nervosa pré-sináptica sobre influência
Constituição em redes
do potencial de ação que a vai estimular. É esta molécula mensageira (um
No curso da evolução é sobretudo a rede de axónios do sistema nervoso que se neuromediador ou um neurotransmissor) age sob receptores situados na
desenvolve e com ele o modo de comunicação intercelular particularmente eficaz. membrana celular pós-sináptica, desencadeando um efeito de modificador das
A arquitetura desta rede é de tal forma que as mensagens podem ser transmitidas propriedades da permeabilidade dessa membrana.
de uma célula nervosa a uma outra ou a uma célula efetora muscular ou glandular
Por outro lado, convém sublinhar que a interposição de uma transmissão
a grandes distâncias e segundo uma topografia muito precisa. Vejamos um
sináptica de natureza química fornece uma ocasião e um lugar para a intervenção
exemplo: os músculos responsáveis dos movimentos do polegar recebem
de processos complexos de integração e de modelação. Em certos casos, o
mensagens motoras que desencadeiam a sua atividade contráctil por intermédio
corpo celular do neurónio é o local de convergência de numerosas terminações
de fibras nervosas vindas de células nervosas motoras - os motoneurónios -,
pré-sinápticas de origens diversas, em que umas são excitatórias, provocando
cujos corpos celulares se situam na região cervical da medula espinal. Por seu
uma redução localizada da polarização eléctrica da membrana celular e outras
lado, os corpos celulares destes motoneurónios recebem, diretamente das fibras
são inibitórias, provocando uma acentuação localizada dessa mesma polarização.
do feixe piramidal, mensagens motoras de uma região bem precisa da área 4 do
O efeito daí resultante ao nível da célula polissináptica, corresponde ao somatório
córtice cerebral, região cuja estimulação elétrica provoca, segundo o local
algébrico dos efeitos induzidos por cada uma das mensagens nervosas aferentes.
estimulado, este ou aquele movimento particular do polegar. Para além disso, a
Para além disso, a afinidade dos receptores pós-sinápticos pela molécula

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mensageira - o neuromediador - e o efeito induzido pela sua ativação, não podem acção (que não são mais do que sinais digitais modulados em frequência) que se
ser modificados por outras moléculas (os neuromodeladores de origem nervosa dirigem para outros neurónios.
ou de natureza hormonal como os esteróides córticotices renais) que agem sobre Em síntese, estes dados sugerem um Sistema Nervoso organizado segundo um
os receptores extra-sinápticos situados sobre a mesma membrana celular. conjunto de elementos neurónicos interconexionados (cujo modelo tipo de
O neurónio, sendo uma célula especial, pode ser concebido como uma “máquina conexão é a inervação recíproca e recorrente), constituindo uma vasta rede
cibernética” pois como se pode ver na Figura 9, este opera uma conversão dupla, complexa e cerrada, que em algumas regiões se torna histologicamente
de sinal digital em sinal analógico (à entrada das dendrites) e o inverso (à saída impossível individualizar e mesmo isolar vias precisas (Picat, 1980).
para o axónio).
Intercomunicação potencial
.
Numa análise muito clara das “conversações celulares”, Ceccatty (1991)
ENTRADA PROCESSO SAÍDA sublinhou, que seja qual for o seu nível de complexidade, não há organização viva
de outras sinapses sem comunicações interna e externa. Todos os sistemas biológicos são
do neurónio alvo para outros
neurónios
emissores e receptores. Os meios utilizados para comunicar são múltiplos e
(potenciais de acção) concebe-se, atualmente, que as vias de comunicação utilizadas e o tipo de
“linguagem” utilizado estejam adaptados às diversas modalidades concretas de
axónio e ramos
Impulsos nervosos
colaterais relações e de trocas intercelulares.
(potenciais de acção)
Pode-se distinguir três modalidades essenciais entre ações celulares: (1) as trocas
de outros neurónios
por contacto direto entre as células estreitamente justapostas; (2) a difusão
de outras sinapses
do neurónio alvo generalizada à distância através da circulação sanguínea de mensagens químicas
* Transdução de energia * Control de processos * Transmissão de e (3) as comunicações à distância mais apuradas, mais “personalizadas” graças
* Reconhecimento de biológicos potenciais de acção
neurotransmissores * Tratamento de sinais (sinais digitais modulados ao desenvolvimento de uma rede que é constituída pelo sistema nervoso.
* Conversão digital/ * Conversão analógica/ em frequência)
analógica digital As comunicações de proximidade, isto é, as trocas de informação por contacto
ENTRADA PROCESSO SAÍDA
direto ou por difusão puramente local, intervêm desde o desenvolvimento do

Figura 9 - Neurónio como “máquina cibernética”. embrião, enquanto que os sinais químicos estimulam o crescimento e a
diferenciação celulares, outros ativam e orientam os movimentos de migração e
Como uma máquina cibernética, o neurónio engloba as (1) entradas de
de agregação celulares. No organismo adulto ele constitui-se – num conjunto de
informação (sob a forma de impulsos nervosos vindos de outro neurónios ou de comunidades celulares limitadas – como junções celulares estáveis (ditas junções
outras sinapses do próprio neurónio em causa), portal de entrada que opera uma de ligação ou junções de comunicação) ao nível das quais as células trocam
transdução de energia e o reconhecimento de múltiplos neurotransmissores; (2) sinais por intermédio de microcanais que as fazem comunicar umas com as
um processo, que opera no corpo celular através do controlo dos processos outras. Estas trocas de sinais químicos apresentam um duplo interesse: por um
biológicos, do tratamento dos sinais de entrada, para serem convertidos lado, realizam uma harmonização funcional coordenando as atividades de
digitalmente em (3) saída de informação, pelo axónio, através de potenciais de diferentes elementos da mesma população celular; por outro, num órgão dado,

18
uma mensagem hormonal não informa diretamente senão um número limitado de Os neurónios inibitórios do cérebro têm uma grande influência no fluxo eléctrico
células dotadas de uma recetividade seletiva. Mas a informação assim recebida é, nas redes neuronais de tal modo que os potenciais de acção são apenas
de seguida, largamente difundida às outras células por intermédio das “junções produzidos quando existem sinais aferentes persistentes e acumulados. Por isso,
de comunicação”. a modulação da extensão e magnitude da actividade inibitória dos interneurónios

Dito de outro modo, segundo os dados advindos da neurofisiologia e da permite que o cérebro desacelere a actividade e, desse modo, permite que o

neurocibernética qualquer neurónio, independentemente da distância, tem a córtice tenha o nível de energia adequado para o processamento e controlo da

possibilidade de entrar indiferentemente em comunicação com qualquer outro informação.

neurónio (Morin, 1974; Pozine, 1974; Rosenblatt, 1965). Para que tal aconteça, Uma outra manifestação da inibição essencial é a inibição lateral, na qual os
para além desta condição espacializada é necessário que ambos os neurónios neurónios adjacentes têm uma tendência para se inibirem mutuamente. Este
estejam em acordo de fases, acordo este dependente do momento bioquímico de fenómeno é essencial para a manutenção da acuidade dos processos sensoriais
cada uma das células. Esta característica dá conta, simultaneamente, da pois ao prevenir a disseminação de actividade de entrada assegura que o nível de
estrutura temporalmente plástica do Sistema Nervoso e da multiplicidade quase- detalhe possa ser preservado nos sinais que são transmitidos dos orgãos
infinita de escolhas de neurónios preferenciais que oferece. sensoriais periféricos, através das vias sensoriais, para as áreas sensoriais do

Na verdade, o cérebro é um sistema hiperconexionado. Cada um dos milhares de cérebro.

milhões de neurónios têm milhares de conexões com outros neurónios, quer Tudo isto, em síntese, assenta numa regra básica que é suficiente para produzir
conexões longas, quer conexões curtas. A razão pela qual o cérebro não entra em oscilações neuronais: a acoplagem mútua entre os neurónios excitatórios (E) e os
estado caótico deve-se à grande preponderância das conexões inibitórias feitas inibitórios (I) (Wang, 2010). Segundo esta regra, sempre que um neurónio E
pelos interneurónios (ver Figura 10). dispara, activa os neurónios I os quais, por sua vez, ao fim de algum tempo
silenciam retoractivamente os neurónios E e assim ad perpetuum. Deste modo, a
conectividade E-I serve para manter a actividade neuronal dentro de uma
variação restrita, ao contrário do que aconteceria se a conectividade fosse E-E ou
I-I. Neste caso, rapidamente se produziriam uma excitação ou uma inibição fora
de controlo (bem entendido, que este tipo de conexões existem, mas dentro de
um controlo das ligações E-I). Este mecanismos de retro-acção recorrente, em
escalada crescente, contém uma rede intricada de milhões de neurónios
excitatórios e inibitórios (em conjunto com a glia) que, em última análise, contribui
para o que é usualmente conhecido como ondas cerebrais ((Buzsáki e Watson,
Figura 10 - Sistema de comunicação com a interposição de interneurónios (excitatórios + ou 2012) (ver Figura 11).
inibitórios -). NT - neurotransmissor; NM -neuromediador

Estes neurónios especiais fazem a mediação entre as várias ansas neuronais


assegurando o jogo de facilitação ou inibição da passagem da informação.

19
A systems neuroscience framework for neurofeedback

Dados advindos da psicofisiologia (Harth, 1982) revelam que nenhuma estrutura


sinapse correntes sinápticas
nervosa elementar pode reivindicar especificidade particular. Originariamente
neurónio qualquer neurónio encerra um conjunto de potencialidades de teleonomia, cuja
axónio descargas atualização decorre de uma escolha discriminativa, escolha essa modelada por
Escala
microscópica dendrites influências determinantes do meio tecidular ambiente. Parece que, de facto, a
10 mseg este ambiente cabe a definição de tipos de especialização funcional e
redes locais
potenciais de campos locais consequentemente o grau de expansão morfológica de um neurónio. Esta
Escala
mesoscópica especialização é sobretudo evidente ao nível cortical, em agrupamentos celulares
200 mseg
Células numa
macrocoluna ± 8000 de regiões de especialização funcional. Não existe, pois, especificidade ou
localização cerebral verdadeira, individualizada ou individualizável.
redes de grande escala

Escala
A esta não especificidade das células e dos centros, associa-se uma não
macroscópica eléctrodos especificidade das vias. A tradicional oposição entre vias inibidoras e facilitadoras
Região cortical, cm3
>100000 - 1 milhão não pode, atualmente, ser confirmada. Não é, pois, a natureza da via que se
500 mseg
diferencia, mas a maneira como a mensagem veiculada é percebida. Ou, dito de
ESPAÇO TEMPO
outro modo, é o papel dos interneurónios que define o tipo de actividade que vai
acontecer
| The generation of electroencephalogram (EEG) network oscillations. EEG signals are generated by the integration of neural activity at multiple numa determinada via.
Figura
and temporal 11 - After
(B) scales. Os sinais deQuyen
Le Van EEG (2011).
são gerados pela integração da actividade neuronal de múltiplas escalas
espaciais (A) e temporal (B). Adaptado de Le Van Quyen (2011). O mesmo se pode dizer relativamente à informação de entrada e de saída no
cérebro. No caso da informação cognitiva, em contraste com os sistemas
d giving rise to largeque
Sempre amplitude electroencephalogram
as actividades neuronais from
ocorrem deep numa
sleep toregião
wakefulness, to high alertness (Jasper and
espacialmente
r magnetoencephalogram (MEG) rhythms. In what Droogleever-Fortuyn, 1948). Low-frequency deltaclássicos (1–4 Hz) de comunicação, o significado da informação (qualidade semântica) é
circunscrita e se tornam temporariamente sincronizadas, os seus potenciais
e will mainly focus on the modulation of low-frequency waves were found to dominate deeper sleep states, um locais whiledado
during
central comparado com a quantidade de informação. Por isso, para se
oscillations são
(typically Hz), which represent the lighter or more activated
adicionados uns aos outros dando origem a ritmos electroencefalográficos de
<60 (REM) sleep the frequencies are more
art of neuroelectric activity generated by the brain accelerated, but slower than in waking states. In relaxed compreenda
wake- os processos cerebrais de tratamento da informação temos de
grande amplitude.
h can be recorded noninvasively. Specifically, studies fulness there was an emergence of the alpha (7–12 entrar Hz) rhythm
em linha de conta com a informação dependente do contexto e
blished that the amplitude of M/EEG oscillations varies that gave rise to faster beta (15–30 Hz) and gamma (>30 Hz)
Ouofseja,
as a function a actividade
the number, strength cortical está num frequencies
and phase-locking perpétuo movimento
upon activatione qualquer
of cognitive acto dependente
or attentional resources dos objectivos. Isto significa que a percepção depende da actividade
nization”) motor
of cortical
ousynaptic
cognitivoactivities
é uma (Nunez, 2000).
síntese (Steriade et auto-gerada
da actividade al., 1993; Gervasoni
e mantidaet al., 2004).
em In parallel to this
cognitiva em curso e do próprio comportamento. Os fluxos de informação a
, metaphorically akin to a “standing-waves” generated acceleration of frequencies during arousal, there was also a more
circuitos
d of spectators, com
the size as perturbações
(amplitude) advindas
of an oscillation do ambiente.
is desynchronized Na maior tracing
or “activated” parte ofdas entrar e a(assair do cérebro coexistem e produzem ansas funcionais fechadas. A
reduced amplitudes
nal to the degree to which
situações, a areação
group of dopersons (neurons)
cérebro reporteddo
às alterações by Walter
ambienteabove). With
não é the discovery that the ascending
invariante retro-acção é necessária para se produza quer um comportamento com sucesso
y stay “in sync” (synchronize) with each other. reticular activating system (ARAS; Moruzzi and Magoun, 1949)
dependendo,
y, reductions in amplitudeantes, do aresultado
result from breakdownde was reacções anteriores
responsible em situações
for consciousness no quadro
and the sleep-wake cycle,de um contexto em permanente mudança, quer a geração de de nova
synchronization, in accordance with the historical some of the most
semelhantes e no estado actual do cérebro, este determinado pelas múltiplas important findings were that lesions in the
informação baseada em pistas do mundo intrínseco.
n: desynchronization. Likewise, the speed (frequency) ARAS abolished the aforementioned “activation” of the EEG
ve will be interacções
determined by entre
howos váriostheosciladores.
quickly individual Esta
whilstperspectiva do cérebro
increasing episodes of sleepenfatiza
and motor a inactivity (Lindsley
Funcionamento rítmico
rise and decay (Nunez,
natureza 2000), and
construtiva das this will depend
operações et al.,
neuronais 1950). Interestingly, progressively greater degrees of EEG
adaptativas.
ntrinsic nature (resonance) of the person (neuron). activation could be provoked by simple electricalDados stimulation
da neurofisiologia (Pavlidis, 1969) e da cronopsicofisiologia (Poirel, 1983)
reater (lower) number of oscillations occurring in
Não especificidade das estruturas elementares the of the brainstem (Moruzzi and Magoun, 1949), enhancing the
iod of time will equate to faster (slower) frequencies. precision and speed of visual discrimination in monkeys (Fuster, às alternâncias ondulatórias dos metabolismos celulares de repouso,
revelam que
EG may therefore be considered as an accurate non- 1958). Consequently, EEG activation is widely regarded to be
ndicator of coordinated synaptic activity across cortical necessary for the emergence as well as the characteristic nature
In general, the M/EEG frequency spectrum has been of consciousness (Villablanca, 2004), which once established, 20
lly divided into the following bands: infraslow (<1 Hz), invites a fascinating question: how is intrinsic brain activity
4 Hz), theta (4–7 Hz), alpha (7–12 Hz), spindle (12–15 regulated further to give rise to volitional control of cognition?
sobrepõem-se as linguagens rítmicas dos potenciais de ação de um neurónio e Como vimos a neurociência constitui um corpo disciplinar em torno do Sistema
de neurónios vizinhos em situação de interferência. Em planos de fundo desta Nervoso. Importa saber qual a implicação da nova racionalidade científica neste
ritmicidade metabólica e funcional, perfilam-se as regulações circadianas das corpo de saberes em torno do cérebro.
atividades neuronais de base. A síntese possível das implicações do atual paradigma científico para as
Existe ainda um mecanismo candidato extensamente explorado pela neurociências organiza-se em 4 vetores: (1) o cérebro como centro de um Sistema
neurociência, segundo o qual o cérebro “liga” a atividade das suas diversas redes Nervoso aberto/fechado; (2) a assimilação do acaso e da desordem pelo Sistema
através de mecanismos rítmicos. Por exemplo, as redes ativadas a 40 ciclos/ Nervoso; (3) a homeostase / homeorrese; (4) a abertura aos sistemas auto-
segundo (gama) e em fase podem sustentar a coerência com que o cérebro organizados.
integra a informação-ação como “um relógio funcional universal” (Basar-Eroglu et Cérebro como centro de um Sistema Nervoso aberto/fechado
al., 1996). Mais recentemente, a atividade teta do sistema límbico foi proposta
A primeira implicação situa-se ao nível do Sistema Nervoso enquanto sistema
como um dos meios de seleção das redes que devem ser sincronizadas com a
aberto/fechado. De facto o Sistema Nervoso, mesmo que disponha de uma certa
sincronicidade da fase gama (Lisman, 1999).
margem de autonomia, não pode ser mais considerado como sistema puramente
Papel integrador fechado, mas sim fechado/aberto ao ambiente com o qual procede a trocas
Esta característica emerge das propriedades específicas dos neurónios. Ao fazer energéticas e informacionais. Na verdade, o cérebro, para além de ter de
o somatório das influências de outros neurónios, o neurónio autoestrutura-se, organizar o funcionamento nas diferentes escalas temporais, também tem de
criando a sua própria informação. Este, após ter traduzido, codificado e manter a sua própria estabilidade e integridade em permanência. Para tal, a maior
confrontado a mensagem entrada, estabelece uma ressonância por identidade parte dos seus recursos são investidos na comunicação consigo próprio de modo
rítmica, ressonância esta que lhe vai permitir a seleção de outros neurónios a poder se auto-regular. Isto é assegurado por uma rede neuronal na qual mais de
transmissores sucessivos. Um elemento neuronal, colocado no meio de um 99% dos neurónios terminam noutras regiões corticais. Deste conjunto funcional
conjunto polineuronal, ao integrar a informação recebida à periferia, é capaz de emerge um princípio organizacional que tem que ver com o facto de os conjuntos
determinar eixos privilegiados de propagação das mensagens, que não são mais neuronais que representam percepções específicas poderem ser definidos em
do que uma facilitação progressiva das vias de condução nervosa. Assim se termos de simultaneidade no domínio temporal e de sincroniza no domínio das
constituem pouco a pouco, por este processo de facilitação progressiva, os frequências.
grandes eixos privilegiados de condução, cuja aparente especificidade não se A abertura é condição do desenvolvimento do sistema nervoso e da sua
deve à natureza do condutor, mas à escolha neurónica inicial. complexificação. A faculdade de assimilar o acaso e de o utilizar em seu benefício
Neste sentido, podem-se definir três modos de operação do cérebro: ao nível resulta simultaneamente do jogo fechado/aberto: abertura ao meio e fecho numa
sináptico, os axónios neuronais excitatórios ou inibitórios obedecem à lei do tudo autonomia relativa que lhe asseguram os seus dispositivos inatos. Em
ou nada – ou disparam ou não; ao nível das redes neuronais existem modos de consequência desta implicação o cérebro é eleito como centro, constituindo-se
funcionamento por surtos ou tónicos; enquanto que no nível global do como núcleo preponderante da auto-organização dos organismos mais
funcionamento do cérebro existe atividade sincronizada ou dessincronizada. complexos. Esta posição particular outorga-lhe um papel que vai para além da

A racionalidade das neurociências na mudança de paradigma

21
sua concepção como órgão nobre do organismo. Morin (1973, p. 216) refere-se a em decidir qual das fotografias corresponde a qual das magnitudes. Portanto,
isso afirmando: como na teoria de Mandelbrot, também ao nível do Sistema Nervoso, as

"...celui-ci ne doit pas être conçus comme un organe, fut-il le plus noble de tous, diferentes organizações das formas neuronais parecem obedecer a esta

mais comme l'épicentre organisationnel de tout le complexe bio-anthropo- característica. A este tipo de estruturas foi adjudicado um tipo de funcionamento

sociologique. Le cerveau est en effect la plaque tournante où communiquent caótico, integrável em termos da explicação, através da análise de níveis de

l'organisme individuel, le système génétique, l'environnement écosystémique, le complexidade (Tsotsos, 1990).

systéme socioculturel, et, dans les termes trinitaires, individu, espèce, societé (...)". Estes estudos levaram os autores a investigarem as ligações entre estruturas

A demonstrar este posicionamento charneira está o aparecimento da fractais e a flexibilidade, a adaptabilidade e a robustez de sistemas que exibiam

neurociência, que elegeu justamente o cérebro como seu objecto central. um comportamento caótico. Concluíram que este tipo de estruturas apresentava
por um lado, uma maior resistência às agressões, devido à sua redundância e
Assimilação do acaso e da desordem pelo Sistema Nervoso
irregularidade e, por outro lado, uma capacidade de amplificação e
A 2ª implicação situa-se ao nível da teoria do caos e dos fractais. Estas teorias complexificação dos processos de informação. Pelo seu comportamento de caos
têm, nos últimos anos, servido de suporte à investigação que demonstra a determinístico, onde coexistem na mesma funcionalidade, a plasticidade e a
existência do funcionamento caótico e a existência de estruturas fractais no fixidez, são estruturas que se aproximam (e porventura conferem substrato) ao
Sistema Nervoso. conceito de redundância de um sistema.
Em relação aos sistemas caóticos, os trabalhos de Goldberg et al. (1990) sugerem O balanço entre os diferentes modos de funcionamento do cérebro determina a
que o coração e outros sistemas fisiológicos comportam-se mais erraticamente sua estabilidade. Um balanço ótimo ocorre entre o comportamento linearmente
quando jovens e saudáveis. Ao contrário, o aumento de um comportamento sincronizado e o comportamento dessincronizado, conhecido como “vértice do
regular faz-se acompanhar algumas vezes de envelhecimento e de doença. À luz caos” (isto é, entropia média e alta variância). Este vértice do caos pode ser a
da matemática da complexidade pode-se dizer que as equações que descrevem melhor maneira de se processar uma grande quantidade de informação e de reter
o ritmo cardíaco (que é um ritmo regulado pelo Sistema Nervoso Central) são um balanço óptimo entre a flexibilidade e a estabilidade. Langton (1990) sugeriu
equações não lineares e o batimento periódico normal do coração corresponde a que o aumento da flexibilidade das funções, encontrado no vértice do caos, foi
um "ciclo limite" destas equações. Sob a ação de um choque ou do stress, este uma dimensão selecionada ao longo da evolução do cérebro.
ciclo pode ser perturbado, sendo o sistema atirado para um outro atractor - um
Homeostase / homeorrese
"ponto fixo" - e o coração pára. A irregularidade e a imprevisibilidade são pois
assemelhadas à saúde. A 3ª implicação situa-se em torno do conceito de homeostase. A aplicação da
teoria do caos e das estruturas fractais ao Sistema Nervoso rapidamente pôs em
Em relação à teoria dos fractais, os mesmos trabalhos daqueles autores
causa este princípio clássico.
demonstram que certos neurónios têm uma estrutura semelhante à estrutura
fractal: os detalhes de um fractal a um determinado nível da escala são Tomando o ritmo cardíaco como exemplo de uma expressão da função de

semelhantes (mas não necessariamente idênticos) aos detalhes de outra escala regulação do Sistema Nervoso Central, verificou-se que mesmo na ausência de

de grandeza maior ou menor. Por exemplo, se virmos 2 fotografias de dendrites flutuações nos estímulos exteriores, aquele ritmo, em vez de evoluir para um

de diferentes magnitudes (sem quaisquer outras referências) temos dificuldade estádio estável, homeostático, apresentava flutuações (Goldberg et al., 1990).

22
Estes trabalhos desenvolveram-se pela aplicação dos princípios que atrás seletivos, a nova compreensão do caos, a matemática experimental, as ideias
explanei sobre a matemática dos sistemas não lineares, o que permitiu descrever conexionistas, as redes neuronais e os processos de distribuição paralela.
a evolução do sistema no tempo. A importância de todos estes temas para o domínio das neurociências tem que
Ao nível mais direto do Sistema Nervoso, Mayer-Kuss, Rapp, Babloyantz e ver com a conceção do cérebro como um sistema aberto/fechado, organizado em
Destexhe (citados por Goldberg et al., 1990) demonstraram através da análise de níveis de funcionamento, em que cada um desses níveis revela aquele tipo de
electroencefalogramas de pessoas saudáveis a evidência do caos no sistema funcionamento: sistema aberto/fechado.
nervoso. Por exemplo, ao nível molecular, Fromherz (1989), utilizando o modelo da
Na verdade, uma das funções mais importantes do cérebro é a homeostase condensação dissipativa, verificou a auto-organização das proteínas móveis das
(refletindo uma adaptação óptima a um ambiente em mudança constante). Isso estruturas sinápticas. Este modelo tem em conta as interações intermoleculares
requer princípios de auto-organização relativamente simples e fluxos de devidas às correntes dos canais eléctricos membranares e às cargas
informação alimentadores dessa regra adaptadora. eletroforéticas, na medida em que ocorrem em membranas ativas. Aquele autor

Estes dados foram extremamente importantes para a compreensão da aplicação observou uma instabilidade do mosaico homogéneo fluídico dos canais

da teoria da auto-organização ao Sistema Nervoso. De facto, os sistemas carregados, ao nível destas estruturas sinápticas. Acumulações periódicas de

caóticos operam sob um grande leque de condições e são adaptáveis e flexíveis. canais ocorriam e eram moduladas pela atração das proteínas da membrana pré-

Esta plasticidade permite ao sistema auto-organizar-se em função das exigências sináptica (Fromherz, 1989).

de um ambiente imprevisível e em contínua alteração, mantendo, apesar disso, Ao nível da anátomofisiologia numerosos estudos da experimentação animal
um nível mínimo de redundância. Esta dinâmica é própria dos sistemas indicam que as funções cognitivas têm de ser aprendidas. As estruturas cerebrais
complexos, que segundo Agra (1986) são sistemas homeorréticos (fixos num que suportam estas funções necessitam da experiência sensorial para a sua
espaço e mutantes no tempo). Ora, o Sistema Nervoso, como sistema complexo, maturação. A informação genética, em princípio, não é suficiente para especificar
insere-se na mesma lógica. as conexões neuronais com bastante precisão, pelo que os processos de auto-

Daqueles resultados e destas considerações depreende-se que o que tende a organização desenvolvem-se conjugando-se com aquela informação genética,

permanecer constante é um processo e não um estado: o processo dos permitindo otimizá-la, no sentido de orientar as conexões, fazendo uso de

fenómenos de autoregulação. Daí a designação de homeorrese à constância de critérios funcionais. Neste sentido a atividade neuronal torna-se um factor

um processo. importante no desenvolvimento da arquitetura estrutural e funcional do cérebro.

Abertura aos sistemas auto-organizados Investigações em animais, conduzidas por Singer (1986), sugerem que estes
processos de modulação são controlados adicionalmente por sistemas
A 4ª implicação situa-se em torno do conceito de auto-organização. A abertura
modulatórios. Este autor infere que os processos cerebrais de auto-organização
aos sistemas auto-organizados está muito ligada ao desenvolvimento das
devem ser encarados como um diálogo ativo entre o cérebro e o seu ambiente
chamadas "ciências da complexidade" e sobretudo ao desenvolvimento de
(Singer, 1986).
alguns temas tais como: a importância de princípios organizativos no mundo, a
visão computacional da matemática e dos processos físicos, a ênfase dada aos Vemos, pois, que a capacidade do Sistema Nervoso, nos diferentes níveis, de

sistemas de redes paralelas, a importância da dinâmica não linear e dos sistemas assimilar o acaso e de se complexificar evoluindo, resulta quer da sua abertura

23
aos diferentes meios, quer da autonomia relativa que lhe é assegurada pelos seus deduzir hipóteses acerca da dinâmica do processamento da informação e do
dispositivos inatos. comportamento.

Em síntese, pode-se afirmar que as implicações do actual paradigma científico Conclusão


sobre a neurociência podem-se resumir num conjunto de conceitos-chave. Vários
Verificamos pelo exposto que as neurociências constituem um conjunto de
foram os esquemas explicativos do funcionamento cerebral que tentaram aplicar
disciplinas em torno do mesmo objecto - o Sistema Nervoso - e que os seus
os conceitos resultantes desta mutação da racionalidade. Assim, por um lado os
dados são de uma extrema complexidade resultante da regionalidade de cada
modelos de cariz mais anátomo-funcional e sistémico-cibernético basearam-se
disciplina. Apesar disso foi possível definir as características unificadoras das
na concepção do cérebro como um sistema aberto/fechado ao ambiente,
diferentes disciplinas que a constitui: (1) ter o Sistema Nervoso como objeto
desenvolvendo um conjunto de explicações essencialmente neurocibernéticas
fundamental da investigação; (2) utilizar os métodos das ciências naturais; (3)
(nos modelos de cariz anátomo-funcional) e sistémico-neurocibernéticas (nos
cruzar os 4 níveis básicos da estrutura do Sistema Nervoso: molecular, sináptico,
modelos de cariz sistémico-cibernético); por outro lado, os modelos auto-
neuronal e sistémico.
organizativos aplicaram os restantes conceitos-chave ao Sistema Nervoso,
Pela utilização da psicofisiologia como analisador daquela rede de disciplinas foi
muitos deles a partir das propriedades deste conceito (organização,
possível sintetizar um conjunto de características fundamentais e unificadoras do
simultaneidade de antagonismos, ordem/desordem).
funcionamento do Sistema Nervoso, confirmando-se assim a hipótese de que a
Algo de comum emerge entre eles traduzido pela morfogénese cerebral, capaz de
neurociência constitui uma rede sistémico-informacional-comunicacional em
elaborar uma pré-manufatura de sistemas, que por sua vez escolhe ou rejeita,
torno do mesmo objecto.
transforma ou condiciona as fontes fornecidas pelo ambiente. Mas, também,
Foi também confirmado que a psicofisiologia se mostrou como a disciplina, de
traduzido pela dinâmica da estruturação, ligada ao jogo de forças intraestruturais
entre as diferentes disciplinas da neurociência, com capacidade de integrar e de
de sentido antagónico, que se equilibram em permanência. Dentro da própria
ser integrada por elas.
estrutura existem um conjunto de forças que tendem a quebrá-la mas que são
compensadas por processos, também eles intra-estruturais.

Num plano mais prático pode-se afirmar que o cérebro é hoje concebido como Referências bibliográficas
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