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CAP 1
Os neurônios "recebem" terminações de axônios de muitos outros neurônios (as vezes 10k ou
mais). Mas emitem um axônio só que se ramifica no máximo 10 ou 20 vezes.
CAP 2
Além de modular, a amígdala também armazena memórias, principalmente quando elas têm
componentes de alerta emocional. [https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26983799/]
As memórias declarativas de longa duração levam tempo para serem consolidadas (os
processos metabólicos que compreendem diversas fases requerem entre 3 e 6 horas). Nas
primeiras horas após a aquisição, são lábeis e suscetíveis a interferência. Se expor a um
ambiente novo, e portando, chamativo, dentro da primeira hora após a aquisição, por
exemplo, pode deturpar seriamente, ou até cancelar, a formação definitiva de uma memória
de longa duração. Uma intoxicação alcoólica ou um traumatismo craniano pode causar
amnésia retrógrada (impedem o prosseguimento da gravação ou da consolidação) para fatos
ou eventos imediatamente anteriores a eles. O sujeito perde essa memória
Uma memória habituada ou extinta não está realmente esquecida. Está, pelo contrário,
suprimida no que diz respeito a sua expressão. Um aumento da intensidade do estímulo
reverte a habituação; uma nova apresentação do estímulo condicionada reverte a extinção.
Enquanto estamos evocando qualquer experiencia, conhecimento ou procedimento, ativa-se a
memória de trabalho para verificar se a informação consta nos nossos arquivos. Evocam-se
memórias de conteúdo similar ou não e misturam-se todas elas, as vezes formando uma nova
memória. A repetição da evocação das diversas misturas de memórias, somadas a extinção
parcial da maioria delas, pode nos levar a elaboração de memórias falsas.
O uso contínuo da memória desacelera ou reduz o déficit funcional da memória que ocorre
com a idade. Quando mais se usa, menos se perde. Perde antes a memória um indivíduo que
dedica a maior parte do seu tempo a dormir ou não fazer nada do que outro que se preocupa
sempre em aprender, em manter sua mente ativa. A perda de memórias pela falta de uso
relaciona-se a perda de função, seguida pela atrofia das sinapses pela falta de uso.
CAP 3
Nos dendritos em que ocorre uma LTP são produzidas certas proteínas que podem passar para
outras sinapses vizinhas e/ou ser estimuladas em uma sequência temporal próxima, o que as
incita a também produzir LTP ou aumentá-la se esta estiver sendo produzida. O fenômeno
chama-se etiquetamento sináptico e permite explicar a característica associativa da LTP, que
faz com que mais de uma sinapse além da estimulada possa também ser potenciada. Essa
também é a explicação mais plausível para o fato conhecido de que a consolidação de certos
comportamentos muito próximos a outros pode potenciar a consolidação destes últimos. Já
LTD, acredita-se hoje que pode participar como base da consolidação de algumas tarefas que
envolvem diminuição da eficiência sináptica.
As alterações das diversas sinapses de cada uma das redes que compões cada memória
determinam por que os indivíduos passam a responder de maneira diferente a um estímulo
que inicialmente era neutro ou produzia outras respostas. Para as memórias mais complexas,
onde se lê "estimulo", deve-se ler "conjuntos" ou "complexos" ou "constelações" de estímulos;
e onde se lê "respostas" deve-se ler "respostas" ou "forma de pensar", "atitudes" ou
"conhecimento".
Os estudos sugerem que talvez seja possível reconstruir e evocar memórias complexas a partir
de menos neurônios e sinapses. Certamente, menos dos que foram utilizados na aquisição
inicial. A palavra "ouviram" pode resultar na recordação do hino nacional (isso não implica que
a "dica" contenha em si toda a memória evocada. Mas, ela deve se encontrar em alguma rede
neuronal semelhante a utilizada na aquisição de cada memória; senão, a recordação seria
aleatória. Para evocar uma memória, preciso recriá-la conclamando a ação o maior número
possível de sinapses pertencentes a ela.
Saturação e oclusão
A sensação quase física que todos experimentamos alguma vez de que, ao acabar determinada
atividade intelectual ou uma aula, "não cabe mais nada em nossa cabeça" corresponde a um
fato real. A pré-exposição a uma LTP compromete a capacidade do sistema hipocampal de
aprender outra tarefa similar ou diferente durante vários minutos ou horas.
CAP 4
A memória de curta e longa duração não são partes de um mesmo processo, mas sim uma
série de processos paralelos e independentes. O papel da memória de curta duração é
basicamente, o de manter o indivíduo em condições de responder por meio de uma “copia”
efêmera da memória principal, enquanto esta ainda não tenha sido formada. Serve, por
exemplo, para ler, dar sequência a episódios e certamente, para manter conversas. Cumpre
um papel de alojamento temporário da memória enquanto sua “casa” definitiva está sendo
construída
A memória de curta duração não sofre extinção ao longo das 4 ou 6 horas. A partir desse
intervalo, passa a ser gradativamente substituída pela memória de longa duração.
CAP 5
As memórias de longa duração podem durar 6 horas, dias, semanas, meses ou anos. Um fator
que regula a maior persistência de algumas memórias é o nível de “alerta emocional” que
acompanha a sua consolidação inicial. Todos recordamos por mais tempo e em maior detalhe
acontecimentos que ocorreram com um forte grau de alerta emocional.
Há muitos fatos e eventos que não foram adquiridos com um alto nível de alerta emocional e
recordamos muito bem por anos (leis da física, letra de músicas que não gostamos, etc).
Extinção
Se um rato aprende a não descer de uma plataforma para evitar receber um choque e, na
sessão de teste, desce mesmo assim e não recebe choque, na vez seguinte que seja colocado
sobre a plataforma, tenderá a ficar ali menos tempo e, assim, nas sucessivas repetições até
que a resposta “permanecer na plataforma” seja extinta. A extinção não é uma forma de
esquecimento. Não consiste no apagamento de memorias, mas na inibição de sua evocação.
Ela constitui um novo aprendizado. A evocação planta as sementes da sua própria extinção,
mas também da sua própria reconsolidação, pois a simples reativação da memória pode levar
a reconsolidação.
As memórias extintas permanecem latentes e não são evocadas, a menos que ocorra uma
circunstância especial: uma apresentação dos estímulos usados para adquiri-las de uma forma
muito precisa ou intensidade muito alta; um quadro emocional que imite o quadro em que
elas foram adquiridas, etc.
CAP 7
1. Distingue as memórias com maior carga emocional das demais: a com maior carga é
mais bem gravada.
2. Em determinadas circunstancias, acrescenta informação neuro-humoral ou hormonal
ao conteúdo das memórias
CAP 8
Como todas as funções que envolvem sinapses, a melhor forma de melhorar e conservar a
memória, em todos os seus tipos e suas modalidades, é a prática. O uso aumenta o tamanho e
melhora a função das sinapses em geral, e a falta de uso as atrofia, tanto anatômica como
fisiologicamente.
A atividade que mais estimula a memória é a leitura: ela requer o emprego simultâneo e em
rápida sequencia de memórias visuais e de linguagens, estimula paralelamente as memórias
visuais (quando pensamos em uma árvore, “vemos” uma arvore e as vias dos sentimentos e
emoções, pois não existem, nos seres humanos, memorias “a-emocionais”. Toda memória
quando e faz ou se evoca envolve e requer a ativação das vias moduladoras dependentes das
emoções e sentimentos.
Não há outra atividade nervosa que exija tanto em tão pouco tempo do cérebro, e
particularmente da memória, como a leitura. Há estudos demostrando que as pessoas que
mais leem, costumam conservar por mais tempo sua memória sadia e, caso aconteça, iniciam
quadros de Alzheimer mais tarde do que os não leitores. Vários estudos mostram que a leitura
de música é tão efetiva para preservar a memória como a de palavras.
CAP 10
Nos animais e nos seres humanos de poucos meses ou anos, as percepções e as memórias não
se traduzem em metáforas verbais (isto é, em linguagem). Quando uma criança de 1 ano vê
uma arvore, vê o objeto em particular e não o interpreta em termos de significado genérico da
palavra “arvore”.
Assim, até os 3 anos aproximadamente, toda a vida dos seres humanos desenvolve-se fora da
linguagem. É inviável “traduzir” essas memórias infantis em termos de linguagem e trazê-las a
toda. Por isso, as pessoas não conseguem evocar as memórias da primeira infância. Alguns
poucos conseguem se lembrar, de maneira exprimível em palavras, episódios simples. As
primeiras memórias foram adquiridas em uma linguagem direta e não metafórica, a mesma
usada pelos animais.
Uma metáfora para ajudar a entender isso: é como se nos primeiros anos de vida, nossa língua
tivesse sido o chinês, depois tivesse havida uma transição para o português, e o aprendizado
deste ultimo idioma nos tivesse feito esquecer o anterior. Torna-se impossível transpor
aquelas coisas que aprendemos em chinês para um mundo que ignora totalmente essa língua.
Muitos estudos têm verificado que os sonhos nada mais são, na verdade, que misturas de
memórias existentes no cérebro, de maneira altamente influenciada pelos acontecimentos do
dia ou dias anteriores e as previsões para o dia ou dias seguintes. Não há indicio objetivo que
nos permita intuir que signifiquem alguma coisa além disso.
A criatividade tem sido definida por Jaime Vaz Brasil como a conjunção de duas memórias.
Nada se cria do nada, mas da mistura de memórias.