Você está na página 1de 13

AULA 2

NEUROCIÊNCIA DAS EMOÇÕES

Profª Adiele M. S. Corso


CONVERSA INICIAL

As emoções possuem localizações específicas dentro do corpo – saíram


do coração e passaram a ser vistas no cérebro. No intuito de entender como os
conceitos foram formados e transformados com o tempo, torna-se imprescindível
estudar a evolução histórica e o contexto cultural.
Outra transformação conceitual a ser vista é a evolução da aprendizagem
tradicional para a aprendizagem efetiva, com a participação do cérebro no
processo de ensino e aprendizagem – o aprendizado frontal. Serão descritos
detalhadamente as características da aprendizagem tradicional e o modo como
ocorreu a transformação para a aprendizagem efetiva.
Durante muito tempo, acreditava-se que a sede das emoções no corpo
humano era o coração, talvez pelas emoções estarem ligadas ao aumento da
frequência cardíaca quando surgem. Por exemplo, no medo e na ansiedade, os
sintomas neurovegetativos, como palpitação, ocorrem no coração, mas será que
a origem está nele?
Com o advento das neurociências, descobriram-se estruturas localizadas
no cérebro responsáveis pelas emoções. O cérebro é dividido em lobos cerebrais,
os quais são: lobo frontal (responsável pelas funções executivas – ligadas à
capacidade de planejamento), occipital (ligado à capacidade visual), parietal
(processa as sensações e representa o corpo em sua totalidade), temporal (ligado
à audição) e ínsula (onde se encontra o sistema límbico – ligado às emoções). Os
quatro primeiros lobos cerebrais localizam-se na superfície do cérebro, e o insular,
no núcleo. Um dos motivos prováveis de este ser o último a ser descoberto é pela
sua localização, por não ser facilmente visível.
Explicando o raciocínio anterior, as emoções nascem no cérebro, dentro de
um sistema específico, com várias estruturas constituintes, e se espalham por
todo o corpo, o que inclui coração (ativando o aumento da frequência cardíaca),
estômago (podendo provocar náuseas e vômitos), intestino (fazendo constipação
ou diarreia), glândulas (aumentando o suor), sistema nervoso periférico
(preparando o indivíduo para a luta ou a fuga), dentre várias outras estruturas. Ou
seja, as emoções se manifestam a partir da ligação entre todos os sistemas do
corpo humano.
Dentro dessa perspectiva, a cognição (inteligência) e as emoções estão
profundamente ligadas, uma necessita da outra para existir. Isso significa que,
para sentir determinada emoção (como medo, ansiedade, alegria, tristeza), o

02
processamento é dado pelo sistema cognitivo (ligado aos conceitos adquiridos
previamente, à capacidade de relação, interpretação e reformulação de conceitos
– esfera cognitiva). Da mesma forma que para ativar o sistema cognitivo
(aprendizagem) depende-se das representações simbólicas já formadas, do que
já foi aprendido, o combustível para esse aprendizado efetivo são as emoções
provocadas. É importante salientar que as emoções negativas são capazes de
realizar o processo inverso, o bloqueio ou a não aprendizagem. Daí ser
fundamental o seu estudo e entendimento.

CONTEXTUALIZANDO

Na sociedade contemporânea, a importância do conhecimento é


fundamental para a sobrevivência. Em uma sociedade cada vez mais competitiva,
no que se refere à colocação no mercado de trabalho, exige-se cada vez mais o
conhecimento e a qualificação profissional. Então, como adquirir o conhecimento
de forma efetiva, não capaz apenas de auxiliar a sobrevivência do indivíduo
enquanto espécie, mas sim como uma forma de aprendizagem que realmente seja
efetiva e uma ferramenta a ser utilizada para o sucesso na vida profissional, na
social e na familiar, trazendo bem-estar individual?
Para conquistar uma vaga e garanti-la, é necessário estudar
continuamente, saindo do Ensino Fundamental e/ou Médio, finalizar o Ensino
Superior e, em muitos casos, até a pós-graduação. Além disso, é preciso realizar
constantemente cursos de reciclagem e de qualificação profissional, incluindo
uma variedade de formações e aperfeiçoamentos.
A velocidade das informações, com o aumento tecnológico envolvendo
internet e celulares, tem crescido consideravelmente, e o que era conceito ontem
ou modelo de atuação profissional vem mudando a cada instante. Acompanhar
essa velocidade tem sido foco de muitas discussões e estudos aprofundados
entre os cientistas da atualidade – em cada momento de vida do indivíduo, ocorre
um impacto diferente. Nas crianças, que já nasceram dentro de toda essa
tecnologia, o cérebro vem se adaptando rapidamente, pois, nesse período de
formação, a capacidade do cérebro de se adaptar e se moldar de acordo com as
experiências do ambiente é imensa. Conforme o indivíduo vai amadurecendo,
essa capacidade vai diminuindo, pois o cérebro vai se tornando cada vez mais
rígido, e os caminhos entre os hemisférios cerebrais (direito e esquerdo) vão se
estreitando.

03
Informações e novos conhecimentos podem levar ao estresse e até, em
casos extremos, à fadiga crônica, se não forem transmitidos de forma correta. Daí
a importância fundamental do educador, no sentido de entender o contexto
histórico e cultural atual, promovendo estratégias de ensino que contemplem as
necessidades contemporâneas.
Tais estratégias precisam ser trabalhadas em conjunto com as emoções
provocadas nos alunos, capazes de motivá-los e de fazê-los entender a
importância da aprendizagem e aplicá-la em sua realidade.
É importante salientar que tal papel ou responsabilidade não é exclusivo do
professor, mas de toda uma rede interdisciplinar, com olhares diferentes e
complementares entre si, que se estendem aos pais. Essa parceria é fundamental,
e descobrir um modo de torná-la efetiva tem sido um enorme desafio.

TEMA 1 – AS EMOÇÕES NO CÉREBRO

As emoções estão situadas no cérebro – especificamente falando, no


último lobo cerebral a ser descoberto, denominado de lobo da ínsula, onde se
situa o sistema límbico. O nome límbico vem do latim limbus, que significa borda
ou margem.
O sistema límbico é responsável pelos comportamentos sociais e pelo
controle das emoções. Também participa das funções de memória, aprendizado
e vida vegetativa (circulação, excreção, digestão, etc.).
Os comportamentos sociais são fundamentais para a sobrevivência e a
constituição do ser humano enquanto tal. Em neurociências, existe um grupo de
neurônios responsáveis por tal comportamento, denominados neurônios espelho,
que entram em atividade quando alguém (humano ou animal) realiza um
determinado ato, tanto quando observa o outro quanto quando executa o que o
outro faz. Assim, o neurônio imita o comportamento do outro, como se a iniciativa
fosse dele.
A descoberta é bastante recente, feita por volta de 1990 por cientistas da
Universidade de Parma, na Itália, envolvendo pesquisas com primatas (macacos
rhesus). Foram implantados eletrodos na cabeça de macacos e, quando alguns
pegavam comida, houve uma verdadeira "explosão" no córtex pré-motor de outros
macacos, como se os últimos também estivessem comendo. Ou seja, através da
observação de outros macacos pegando comida, os demais ativavam as mesmas
áreas ativadas pelos que estavam comendo.

04
Nos dias atuais, considera-se que são bastante sofisticados na espécie
humana, como resultado da evolução das habilidades sociais. Acredita-se que o
cérebro humano possua múltiplos sistemas de neurônios espelhos, cuja função
não se trata de executar e responder apenas as ações dos outros, mas também
suas intenções, o significado social do comportamento dos outros e suas
emoções.
Exames de neuroimagens mostram uma ativação na área de broca (ligada
principalmente ao processamento da linguagem oral e do significado de gestos
linguísticos) quando se observam as ações dos outros. Pesquisas recentes
sugerem que os neurônios espelho podem contribuir na origem da linguagem
humana, servindo de base na apropriação simbólica dos atos motores (Lameira,
2006).
O sentimento de empatia também poderia estar ligado aos neurônios
espelho, pois essa função dá aos indivíduos a capacidade de compreender o meio
externo e gerar sentimentos recíprocos ligados à solidariedade e desejo de
compartilhar vivências e experiências.
Pesquisadores da Califórnia, liderados por Paul McGeoch, David Brang e
Vilayanur Ramachandran, acreditam que o sistema de neurônios espelho está
localizado em várias regiões cerebrais, além das associações visuomotoras. A
ideia é que a região do córtex parietal inferior estaria relacionada com a área
cognitiva relacionada com a interpretação de metáforas.

TEMA 2 – PRINCIPAIS ESTRUTURAS DO SISTEMA LÍMBICO

O sistema límbico é composto por algumas estruturas que desempenham


funções específicas. As principais estruturas do sistema límbico são:

 Amígdala: são duas, sendo uma para cada um dos hemisférios cerebrais,
localizadas na profundidade de cada lobo temporal anterior. Funciona como
o centro identificador do perigo, colocando o indivíduo em estado de alerta,
gerando respostas fisiológicas e comportamentais relacionadas a medo e
ansiedade. A estimulação excessiva da amígdala é a base dos transtornos
de ansiedade, deixando o indivíduo em extremo estado de vigilância ou
atenção aumentada.
 Hipocampo: está ligado aos fenômenos de memória de longa duração. Se
os hipocampos direito e esquerdo forem destruídos, nada mais será
gravado na memória.

05
 Hipotálamo: mantém comunicação com todos os componentes do sistema
límbico. As partes laterais estão envolvidas com o prazer e a raiva, e a
porção mediana é ligada à tendência ao riso incontrolável e à aversão ao
desprazer. É também responsável por regulação do sono, controle do
apetite e temperatura corporal e pela libido. Juntamente com a hipófise, age
no sistema límbico como um todo. É considerada a parte mais importante
do sistema límbico, pois, além de controlar o comportamento, mantém vias
de comunicação com todos os níveis e condições internas do corpo.
 Tálamo: é responsável por quatro sentidos (visão, audição, tato e paladar),
pelas sensações de dor, quente ou frio e pressão do ambiente. O olfato é
enviado diretamente ao córtex cerebral, sem ser filtrado pelo tálamo.
 Giro cingulado: trata-se de uma estrutura composta por feixes nervosos que
têm como principal função unir os dois hemisférios cerebrais. Sua função é
integrar e coordenar memórias agradáveis e determinados cheiros e
visões. Também participa da reação emocional à dor e da regulação do
comportamento agressivo. Pode-se dizer que pessoas com atividade
saudável no giro cingulado são normalmente cooperativas e mais flexíveis
às mudanças. Em contrapartida, indivíduos com desequilíbrio no giro do
cíngulo normalmente preocupam-se demais com o futuro, guardam rancor
do passado e sentem-se inseguros no mundo.
 Tronco cerebral: responsável pelas reações emocionais e pelos
mecanismos de alerta vitais para a sobrevivência e a manutenção do sono-
vigília.
 Área tegmental ventral: refere-se a um grupo de neurônios localizados em
uma parte do tronco cerebral; uma parte deles secreta dopamina,
produzindo sensações de prazer, algumas até similares ao orgasmo.
 Gânglios basais: localizam-se ao redor do sistema límbico, e sua principal
função é integrar movimentos, pensamentos e sentimentos. A baixa
atividade dos gânglios basais pode acarretar baixa motivação e distúrbios
do movimento; a alta atividade pode provocar o vício em trabalho
(workaholism), tensão muscular e ansiedade.

TEMA 3 – APRENDIZAGEM TRADICIONAL – PSEUDOAPRENDIZAGEM

Educadores e educandos muitas vezes cometem um grande equívoco ao


se tratar da aprendizagem. Conforme Bransford (2007), confundem a

06
"pseudoaprendizagem" com a aprendizagem legítima, denominada de
aprendizagem efetiva ou significativa. Na pseudoaprendizagem, ocorre a crença
de que se alguém reproduz uma determinada informação é porque houve a
aprendizagem.
Por exemplo, podemos repetir palavras em alemão, mesmo sem saber o
significado de cada uma delas, ou até mesmo repetir palavras isoladas. Isso não
significa que dominamos o idioma. Então, é aprendizagem?
No processo de aprendizagem formal, muitas vezes alunos têm como foco
principal de preocupação recitar informações que foram passadas pelos
professores, e estes também podem se dar por satisfeitos acreditando ser isso
sinônimo de retenção de conteúdo e, consequentemente, aprendizagem. Pode
até aparentar ser aprendizagem, mas na realidade é a pseudoaprendizagem.
Na pseudoaprendizagem ocorre algumas características da aprendizagem,
que é a memorização e o conteúdo, no entanto perde a sua essência, que é a
transferência.
Apesar de não ser a aprendizagem propriamente dita, a transferência é um
componente primordial que vai diferenciar a aprendizagem da
pseudoaprendizagem.
Conceito de transferência: possibilidade da aplicação do conhecimento de
conteúdos, processos e técnicas adquiridos em um determinado contexto para
outro.
Através da transferência, o aluno é capaz de generalizar o que foi
aprendido, garantindo a aplicação dos novos conceitos em uma variedade de
contextos, além de permitir a incorporação de novos conteúdos, processos e
técnicas.
No caso da pseudoaprendizagem, a sua aquisição pode ser mais fácil e
rápida, pois exige poucos recursos e menor trabalho, sendo a principal raiz a
utilização de estratégias mnemônicas (ou macetes, memorização etc.).

TEMA 4 – A APRENDIZAGEM EFETIVA NAS NEUROCIÊNCIAS

A aprendizagem efetiva é mais difícil, lenta, e utiliza-se de uma variedade


de recursos, exigindo maior trabalho e energia despendida. Por que ela é mais
lenta? Para haver a memorização em si, o único recurso necessário é recitar e
decorar as informações. Por exemplo, se um aluno repetir 10 vezes a palavra blue
e seu significado em português, certamente ele saberá que a tradução de blue é

07
azul. Agora, refletir sobre a palavra blue, mostrando, juntamente com a palavra,
imagens correspondentes, perguntar aos alunos onde eles podem encontrar blue
e por que blue é importante para as pessoas, produzindo uma espécie de debate
e discussão, leva-se muito mais tempo.
Em cima desse exemplo, em qual dos modelos o aluno terá um
aprendizado efetivo, capaz de ser acessado a qualquer momento e depois de
tempo significativo em seu esquema de memória?
Saindo de uma aprendizagem centrada na memorização, o homem do
século XXI dá início a uma aprendizagem voltada ao pensamento e à reflexão.
Dentro do conceito das neurociências, sai das áreas do cérebro centradas nas
partes pós-centrais (partes posteriores do cérebro – também denominadas de 39
e 40 de Broadmann – ligadas aos processos mnemônicos) para as áreas pré-
frontais do cérebro (parte frontal, que vem de fronte, ou seja, "testa" –
correspondentes às áreas 9 e 10 de Broadmann). Lembrando que Broadmann foi
quem mapeou o cérebro em 52 áreas específicas, tanto funcionais quanto
anatômicas.

TEMA 5 – PRINCIPAIS MUDANÇAS NA APRENDIZAGEM FRONTAL

Em neurociências, a passagem para este novo tipo de aprendizagem


denomina-se de aprendizagem frontal, ou seja, a aprendizagem que acontece
com a participação dos lobos frontais, assim como as várias escolas psicológicas
e pedagógicas recebem vários nomes, como aprendizagem significativa de Carl
Rogers, aprendizagem operante de Skinner, aprendizado de Vygotsky, pedagogia
Waldorf de Steiner etc.
As principais mudanças dentro dessa nova proposta em relação à
aprendizagem são:

 A aprendizagem deve ser objeto e meta do professor, sendo um processo


de mudança inerente ao aluno. Agora, não basta apenas expor as
informações, pois é preciso promover a aprendizagem. O foco principal é a
aprendizagem, e não necessariamente o conteúdo.
 A aprendizagem é um processo de desenvolvimento humano, e não mais
um estado do indivíduo. Ou seja, o trabalho do educador e do educando
nunca termina.

De acordo com a Unesco (Brasil, 1998) o maior desafio aos educadores é


garantir que o aprendiz alcance uma aprendizagem:
08
Primeiro, que leve ao saber conhecer, garantindo a formação
intelectual, enquanto ser pensante, do erudito e sábio, saindo do
conceito de se resumir apenas ao acúmulo de informações.
Segundo, que leve ao saber fazer, envolvendo a concepção de
aprendizagem reflexiva, ao enfrentamento de problemas e a
possibilidade de criação de alternativas aos desafios emergentes, indo
além do conhecimento técnico.
Terceiro, que leve ao saber ser, que além do desenvolvimento da
autonomia leve ao desenvolvimento integral, enquanto sujeito, história e
autenticidade. Alguém onde o ser é mais importante que o ter.
Quarto, que leve ao saber conviver, onde a presença do outro torna-se
um componente essencial à vida, capaz de superar a individualidade,
desenvolvendo a coletividade e solidariedade enquanto traços
determinantes do caráter

Através desse novo olhar, dentro do conceito da aprendizagem frontal, a


rede neuronal dos aprendizes adquire novas cadeias de configuração, através da
sinergia (de dupla influência a reverberação) do aprendiz com o mundo e do
aprendiz com as outras pessoas. Lembramos que uma cadeia neuronal não se
forma de maneira espontânea, mas sim é resultado das influências extracorticais
(das influências externas sobre o cérebro), e essa influência é determinante na
arquitetura das redes neuronais.
Fazendo uma ligação do conceito das 3 unidades funcionais de Luria,
aprender é:

 1ª unidade funcional: significa estar desperto e atento, no sentido de


prontidão para receber as novas informações.
 2ª unidade funcional: significa a forma de como será armazenada a nova
informação.
 3ª unidade funcional: unir com as informações já armazenadas, modificar e
planejar novas formas de pensar e agir.

Aprender, dentro da aprendizagem frontal e correlacionando com Luria,


seria a capacidade de interagir com o mundo e construir novas significações, que
é papel das 3 unidades operando em concerto.
Essa nova concepção de aprendizagem encontra-se em orientações
oficiais do MEC.

Atualmente, as novas diretrizes Curriculares consideram o Ensino


Médio uma etapa final da educação básica, com duração mínima
de três anos, de forma a preparar o aluno não apenas para o
acúmulo de informações, mas para a continuação do
desenvolvimento da capacidade de aprender e da compreensão
do mundo social e cultural (MEC, 1999). Essas novas diretrizes,
hoje, propõem o desenvolvimento das capacidades de pesquisar,
buscar informações e analisá-las, da capacidade de aprender,
criar e formular hipóteses a respeito das práticas cotidianas ao

09
invés do exercício de memorização e imposição de modelos.
(Nucci, 2003)

A seguir, será apresentado, de forma didática, como ocorre a concepção


da aprendizagem frontal para o contexto educacional.

Quadro 1 – Diferença entre a aprendizagem tradicional e a aprendizagem frontal

Da aprendizagem tradicional: À aprendizagem frontal:


- da exposição; - à mediação;
Nos métodos:
- do decorar e recitar. - ao aprender fazendo.
- do cérebro informado (2ª - ao cérebro humanizado (3ª
Nos processos
unidade funcional); unidade funcional);
cognitivos:
- da memorização. - ao pensar e refletir.
Na relação pedagógica: - do monólogo. - ao diálogo.
- dos resultados (o que fez – - dos processos (como fez – do
Avaliação:
final). início ao fim).
Na motivação: - das ameaças. - aos desafios.
No papel do professor: - de informante. - para formador.
- do contabilizar (foco nas
Nas metas ao aluno: - ao aprender.
notas).
No papel social da - de domesticadora –
- à libertadora – protagonismo.
escola: adaptação.
Fonte: Adaptado de Moreira, 2000.

A partir do quadro acima, pode-se notar detalhadamente o papel e a


importância da aprendizagem efetiva, tanto na vida do aluno quanto do professor
e da escola, saindo da pseudoaprendizagem ou memorização para a
aprendizagem efetiva.

FINALIZANDO

Conforme os temas abordados na presente aula, o aprendizado sai do nível


voltado apenas à evolução da espécie, no sentido apenas de sobrevivência e
preservação. O aprendizado tradicional, voltado apenas à memorização, perde
seu sentido e sua eficácia quando se descobre uma forma de garantir uma
evolução enquanto ser humano na esfera do conhecimento. Agora, o
conhecimento é para a vida, ferramenta atemporal e dinâmica, em constante
transformação conforme as necessidades motivacionais e de vida.
Dentro do campo das neurociências, surge então o conceito de
aprendizagem frontal, modelo que tem como prerrogativa central a aprendizagem

010
que ocorre no cérebro. Neste formato, os métodos saem da exposição e
memorização, passando para a mediação e o aprender fazendo, favorecendo o
pensamento e a reflexão. A relação pedagógica sai do monólogo, tendo o
professor como informante, para uma relação baseada no diálogo e na formação.
A motivação para aprender sai do campo das ameaças e entra no campo dos
desafios. Assim, a proposta é de libertação, levando o aluno a um papel de
protagonista de sua própria história.
Entender as estruturas do sistema límbico, a localização e a finalidade,
representa um salto qualitativo no currículo de quem trabalha com a educação.
O aprendizado efetivo fica armazenado na memória de longo prazo, ou
seja, no hipocampo. Lesões ou disfunções nessa estrutura podem dificultar o
processo. Para se chegar nesse nível de memória, o conteúdo precisa entrar pelo
sistema sensitivo (responsável pelas sensações), passando pelo sistema
perceptivo (o conceito dado ou formulado das sensações), os quais dependem da
atenção e da motivação do aluno para serem primeiramente armazenadas na
memória de curto prazo (ou memória de trabalho) e se consolidarem e permitirem
o armazenamento na memória de longo prazo. Completar esse circuito de forma
efetiva depende da ativação do sistema límbico, como a amígdala (o excesso de
ativação é a base dos transtornos de ansiedade, deixando o indivíduo num
estado constante de alerta e vigilância). Outra estrutura que deve estar
ativada é o hipotálamo, pois, para o processo de aprendizado, é fundamental
o aluno ter o sono, apetite e temperatura controlados. Os sentidos precisam
estar presentes, e quem ativa quatro deles (visão, audição, tato e paladar) é
o tálamo. O giro cingulado vai controlar memórias agradáveis em emoções
anteriores. Para o aluno sentir prazer ao aprender, a área tegmental ventral vai
secretar dopamina, e os gânglios basais vão integrar pensamentos, movimentos
e sentimentos.

011
REFERÊNCIAS

ÁLVAREZ, R. J. Distúrbios psicológicos cotidianos. São Paulo: Paulinas,


2010.

ANDRADE, V. M.; SANTOS, F. H. dos; BUENO, O. F. Neuropsicologia hoje. São


Paulo: Artes Médicas, 2004.

BARRIOS-CERREJÓN, M.; GUÁRDIA-OLMOS, J. Relación del cerebelo com las


funciones cognitivas: evidencias neuroantómicas, clínicas Y neuroimagen.
Revista de Neurologia, Barcelona, v. 33, n. 6, p. 582-591, 2001.

BRANSFORD. Como as pessoas aprendem: cérebro, mente, experiência e


escola. São Paulo: Senac, 2007.

BUCCINO, G. et al. Neural circuits involved in the recognition of actions performed


by nonconspecifics: an fMRI study. Journal of Cognitive Neuroscience,
Cambridge, v. 16, n. 1, p. 114-126, 2004.

BINKOFSKI, F. et al. The role of the mirror neuron system in


neurorehabilitation. Neurological Rehabilitation, [S.l.], v. 10, p. 1-10, 2004.

CYPEL, S. O estudo das funções corticais na criança. In: DIAMENT, A.; CYPEL,
S. Neurologia infantil. São Paulo: Atheneu, 1996.

CHANGEUX, J. P. O homem neuronal. Lisboa: Dom Quixote, 1984.

FUENTES, D. et al. (Org.) Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre:


Artmed, 2008.

GAZZANIGA, M. S.; HEATHERTON, T. F. Ciência psicológica: mente, cérebro


e comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005.

GOLDBERG, E. Contemporary neuropsychology and the Legacy of Luria.


Hove: LEA, 1990.

GOLDBERG, E. O cérebro executivo: lobos frontais e a mente civilizada. Rio de


Janeiro: Imago, 2002.

KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSELL, T. M. Fundamentos da


neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

KINGSLEY, R. E. Manual de neurociências. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2001.

012
KOLB, B.; Whishaw, I. Q. Neurociência do comportamento. Barueri: Manole,
2002.

KOHLER, E et al. Hearing sounds, understanding actions: action representation in


mirror neurons. Science, Washington, n. 297, p. 846-848, 2002.

LAMEIRA, A. P. et al. Neurônios espelho. São Paulo: Edusp, 2006.

LENT, R. Cem bilhões de neurônios? Conceitos fundamentais de neurociência.


2. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2010.

LENT, R. (Coord.). Neurociência da mente e do comportamento. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

LURIA, A. R. Fundamentos de neuropsicologia. São Paulo: EDUSP, 1981.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Disponível em: <http://www.portal.mec.gov.br>.

MOREIRA, M. A.; VALADARES, J. A.; CABALLERO, C.; TEODORO, V.D. Teoria


da aprendizagem significativa. In: ENCONTRO INTERNACIONAL SOBRE
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA, 3., 2000, Peniche.

RIECHI, T. I. J. de S.; ROMANELLI, E. J. A importância da neuropsicologia para


a educação. Educar, Curitiba, n. 12, p. 141-145, 1996. Disponível em:
<http://revistas.ufpr.br/educar/article/download/36029/22218>. Acesso em: 10
abr. 2018.

SANVITO, W. L. O cérebro a suas vertentes. São Paulo: Panamed, 1982.

ZIMMER, C. A fantástica história do cérebro: o funcionamento do cérebro


humano. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

013

Você também pode gostar