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de volta das férias, o nãogostodeplágio retoma suas atividades com uma boa
notícia:
imagem: plagiarius
uma das mais ridículas fraudes que a editora utilizou nesta obra foi o plágio do
mesmo verbete em duas traduções distintas. assim, por exemplo, o artigo bêtes
aparece na tradução de líbero rangel de tarso com o título de irracionais. já a
tradução portuguesa de bruno da ponte e joão lopes alves usa o título animais. a
editora martin claret tem o despudor de copiar ambas as traduções como se fossem
dois verbetes independentes de voltaire.
o leitor de boa fé, que naturalmente confia no livro que está lendo, chega à
conclusão de que "essa questão de crueldade contra os animais ... foi tão
veementemente combatida por VOLTAIRE que nesse Dicionário Filosófico lhe são
dedicados dois verbetes: o primeiro 'animais' e, o segundo, 'irracionais'".
com suas tortuosas e sinistras táticas de anular a obra e a figura do tradutor por
trás de cópias e simulacros, fantasmas e vendilhões de carne e osso, a editora
martin claret acaba por demonstrar cabalmente que cada obra de tradução tem uma
identidade própria. diga-se de passagem que essa identidade é protegida pelo
código civil e pela legislação dos direitos autorais. e é por isso que as práticas
ilícitas maciçamente empregadas pela editora martin claret são "caso de polícia",
valendo-lhe a instauração de inquérito policial por determinação do ministério
público do estado.
I.
ANIMAIS
(martin claret, capítulo 8, pp. 30-32, em nome de pietro nassetti: em verdade, uma
adulteração rude e atamancada - incapaz de se decidir entre o "tu", o "você", o
"vós" e o "vocês" - da tradução de bruno da ponte e joão alves lopes, ed.
presença, portugal, licenciada para ed. abril cultural, coleção "os pensadores",
pp. 96-97)
II.
IRRACIONAIS
Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os irracionais são máquinas
privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que
nada aprendem, nada aperfeiçoam!
Então aquela ave que faz seu ninho em semicírculo quando o encaixa numa parede, em
quarto de círculo quando o engasta num ângulo e em círculo quando o pendura numa
árvore, procede aquela ave sempre da mesma menira? Esse cão de caça que
disciplinaste não sabe mais agora do que antes de tuas lições? O canário a que
ensinas uma ária, repete-a ele no mesmo instante? Não levas um tempo considerável
em ensiná-lo? Não vês como ele erra e se corrige?
Será porque falo que julgas que tenho sentimento, memória, idéias? Pois bem, calo-
me. Vês-me entrar em casa aflito, procurar um papel com inquietude, abrir a
escrivaninha, onde me lembro tê-lo guardado, encontrá-lo, lê-lo com alegria.
Percebes que experimentei os sentimentos de aflição e prazer, que tenho memória e
conhecimento.
Vê com os mesmos olhos esse cão que perdeu o amo e procura-o por toda parte com
ganidos dolorosos, entra em casa agitado, inquieto, desce e sobe e vai de aposento
em aposento e enfim encontra no gabinete o ente amado, a quem manifesta sua
alegria pela ternura dos ladridos, com saltos e carícias.
Bárbaros agarram esse cão, que tão prodigiosamente vence o homem em amizade,
pregam-no em cima de uma mesa e dissecam-no vivo para mostrar-te suas veias
mesaraicas. Descobres nele todos os mesmos órgãos de sentimentos de que te gabas.
Responde-me, maquinista, teria a natureza entrosado nesse animal todos os órgãos
do sentimento sem objetivo algum? Terá nervos para ser insensível? Não inquines à
natureza tão impertinente contradição.
Perguntam os mestres da escola o que é então a alma dos irracionais. Não entendo a
pergunta. A árvore tem a faculdade de receber em suas fibras a seiva que circula,
de desenvolver os botões das folhas e dos frutos: perguntar-me-eis o que é a alma
das árvores? Ela recebeu estes dons. O animal foi contemplado com os dons do
sentimento, da memória, de certo número de idéias. Quem criou esses dons? Quem
lhes outorgou essas faculdades? Aquele que faz crescer a erva dos campos e
gravitar a Terra em torno do Sol.
As almas dos brutos são formas substanciais, disse Aristóteles e depois de
Aristóteles a escola árabe, depois da escola árabe a escola angélica, depois da
escola angélica a Sorbonne e depois da Sorbonne ninguém.
As almas dos brutos são materiais, proclamaram outros filósofos, nem mais nem
menos felizes que os primeiros. Em vão perguntou-se-lhes o que é alma material:
precisam convir em que é a matéria que sente. Mas quem deu sensibilidade à
matéria? Alma material... Quer dizer que é a matéria que dá sensibilidade à
matéria. E não saem desse círculo.
Ouvi outra sorte de irracionais racionando [sic] sobre os irracionais: A alma dos
brutos é um ser espiritual que morre com o corpo. Que prova tendes disso? Que
idéia concebeis desse ser espiritual que em verdade tem sentimento, memória e sua
medida de idéias e associações, mas que jamais poderá saber o que sabe uma criança
de dez anos? Os maiores irracionais são os que aventarem não ser essa alma nem
corpo nem espírito. Aí está um curioso sistema. Não podemos entender por espírito
senão algo desconhecido e incorporal: a isso pois reduz-se o sistema desses
senhores: a alma dos seres brutos é uma substância nem corporal nem incorporal.
A que atribuir tantos e tão contraditórios erros? Ao vezo que sempre tiveram os
homens de querer saber o que seja uma coisa antes de saber se existe. Dizemos a
lingüeta, o batoque do fole, a alma do fole. Que é essa alma? Um nome que dei à
válvula que, quando toco o fole, baixa e sobe para dar entrada e saída ao ar.
O fole não tem alma de espécie alguma. É simplesmente uma máquina. Quem toca,
porém, o fole dos animais? Já o disse: aquele que move os astros. Tinha razão o
filósofo que disse: Deus est anima brutorum. Mas devia ter ido mais longe.
(martin claret, capítulo 78, pp. 319-21, em nome de pietro nassetti, mas na
verdade uma cópia literal da tradução de líbero rangel de tarso, atena editora,
pp. 219-21)
BÊTES
Quelle pitié, quelle pauvreté, d’avoir dit que les bêtes sont des machines privées
de connaissance et de sentiment, qui font toujours leurs opérations de la même
manière, qui n’apprennent rien, ne perfectionnent rien, etc.!
Quoi; cet oiseau qui fait son nid en demi-cercle quand il l’attache à un mur, qui
le bâtit en quart de cercle quand il est dans un angle, et en cercle sur un arbre;
cet oiseau fait tout de la même façon? Ce chien de chasse que tu as discipliné
pendant trois mois n’en sait-il pas plus au bout de ce temps qu’il n’en savait
avant tes leçons? Le serin à qui tu apprends un air le répète-t-il dans l’instant?
n’emploies-tu pas un temps considérable à l’enseigner? n’as-tu pas vu qu’il se
méprend et qu’il se corrige?
Est-ce parce que je te parle que tu juges que j’ai du sentiment, de la mémoire,
des idées? Eh bien! je ne te parle pas; tu me vois entrer chez moi l’air affligé,
chercher un papier avec inquiétude, ouvrir le bureau où je me souviens de l’avoir
enfermé, le trouver, le lire avec joie. Tu juges que j’ai éprouvé le sentiment de
l’affliction et celui du plaisir, que j’ai de la mémoire et de la connaissance.
Porte donc le même jugement sur ce chien qui a perdu son maître, qui l’a cherché
dans tous les chemins avec des cris douloureux, qui entre dans la maison, agité,
inquiet, qui descend, qui monte, qui va de chambre en chambre, qui trouve enfin
dans son cabinet le maître qu’il aime, et qui lui témoigne sa joie par la douceur
de ses cris, par ses sauts, par ses caresses.
Des barbares saisissent ce chien, qui l’emporte si prodigieusement sur l’homme en
amitié; ils le clouent sur une table, et ils le dissèquent vivant pour te montrer
les veines mésaraïques. Tu découvres dans lui tous les mêmes organes de sentiment
qui sont dans toi. Réponds-moi, machiniste, la nature a-t-elle arrangé tous les
ressorts du sentiment dans cet animal, afin qu’il ne sente pas? a-t-il des nerfs
pour être impassible? Ne suppose point cette impertinente contradiction dans la
nature.
Mais les maîtres de l’école demandent ce que c’est que l’âme des bêtes. Je
n’entends pas cette question. Un arbre a la faculté de recevoir dans ses fibres sa
sève qui circule, de déployer les boutons de ses feuilles et de ses fruits; me
demanderez-vous ce que c’est que l’âme de cet arbre? Il a reçu ces dons; l’animal
a reçu ceux du sentiment, de la mémoire, d’un certain nombre d’idées. Qui a fait
tous ces dons? qui a donné toutes ces facultés? celui qui a fait croître l’herbe
des champs, et qui fait graviter la terre vers le soleil.
Les âmes des bêtes sont des formes substantielles, a dit Aristote; et après
Aristote, l’école arabe; et après l’école arabe, l’école angélique; et après
l’école angélique, la Sorbonne; et après la Sorbonne, personne au monde.
Les âmes des bêtes sont matérielles, crient d’autres philosophes. Ceux-là n’ont
pas fait plus de fortune que les autres. On leur a en vain demandé ce que c’est
qu’une âme matérielle; il faut qu’ils conviennent que c’est de la matière qui a
sensation mais qui lui a donné cette sensation? c’est une âme matérielle, c’est-à-
dire que c’est de la matière qui donne de la sensation à la matière; ils ne
sortent pas de ce cercle.
Écoutez d’autres bêtes raisonnant sur les bêtes; leur âme est un être spirituel
qui meurt avec le corps: mais quelle preuve en avez-vous? quelle idée avez-vous de
cet être spirituel, qui, à la vérité, a du sentiment, de la mémoire, et sa mesure
d’idées et de combinaisons, mais qui ne pourra jamais savoir ce que sait un enfant
de six ans? Sur quel fondement imaginez-vous que cet être, qui n’est pas corps,
périt avec le corps? Les plus grandes bêtes sont ceux qui ont avancé que cette âme
n’est ni corps ni esprit. Voilà un beau système. Nous ne pouvons entendre par
esprit que quelque chose d’inconnu qui n’est pas corps ainsi le système de ces
messieurs revient à ceci, que l’âme des bêtes est une substance qui n’est ni corps
ni quelque chose qui n’est point un corps.
D’où peuvent procéder tant d’erreurs contradictoires? de l’habitude où les hommes
ont toujours été d’examiner ce qu’est une chose, avant de savoir si elle existe.
On appelle la languette, la soupape d’un soufflet, l’âme du soufflet. Qu’est-ce
que cette âme? c’est un nom que j’ai donné à cette soupape qui baisse, laisse
entrer l’air, se relève, et le pousse par un tuyau, quand je fais mouvoir le
soufflet.
Il n’y a point là une âme distincte de la machine. Mais qui fait mouvoir le
soufflet des animaux? Je vous l’ai déjà dit, celui qui fait mouvoir les astres. Le
philosophe qui a dit, Deus est anima brutorum, avait raison; mais il devait aller
plus loin.
imagem: http://tractatus.free.fr/
em todo caso:
imagem: http://crizlai.blogspot.com
CENTAURO
a pedagogia e as grandes correntes filosóficas (rubens eduardo ferreira frias)
EDIOURO
a cidade antiga (jonas camargo leite e eduardo nunes fonseca)
a origem das espécies (eduardo nunes fonseca)
GERMINAL
oblomov (juliana borges)
mulheres apaixonadas (felipe padula borges)
os sonâmbulos (wilson hilário borges)
HEMUS
a cidade antiga (jonas camargo leite e eduardo nunes fonseca)
a origem das espécies (eduardo nunes fonseca)
a besta humana (eduardo nunes fonseca)
JARDIM DOS LIVROS
a arte da guerra (nikko bushido)
a vida secreta de laszlo, conde drácula (pedro h. berwick)
o essencial do alcorão (pedro h. berwick)
o essencial de jesus (pedro h. berwick)
LANDMARK
persuasão (fábio cyrino)
o morro dos ventos uivantes (ver retificação)
NOVA CULTURAL
obras-primas:
os irmãos karamazóvi (enrico corvisieri)
suave é a noite (enrico corvisieri)
a mulher de trinta anos (enrico corvisieri)
o retrato de dorian gray (enrico corvisieri)
madame bovary (enrico corvisieri)
a divina comédia (fábio m. alberti)
cyrano de bergerac (fábio m. alberti)
os três mosqueteiros (mirtes ugeda)
ana karênina (mirtes ugeda)
ivanhoé (roberto nunes whitaker)
uma vida, maupassant (roberto domenico proença)
lord jim (carmen lia lomonaco)
naná (roberto valeriano)
tom jones (jorge pádua conceiçao)
seis personagens à procura de autor (fernando corrêa fonseca)
o falecido mattia pascal (fernando corrêa fonseca)
o morro dos ventos uivantes (silvana laplace)
contos de voltaire (roberto domenico proença)
werther (alberto maximiliano)
fausto (alberto maximiliano)
o leopardo (leonardo codignoto)
o vermelho e o negro (maria cristina f. da silva)
pensadores:
apologia de sócrates, de platão (enrico corvisieri)
apologia de sócrates, de xenofonte (mirtes coscodai)
ditos e feitos memoráveis de sócrates (mirtes coscodai)
discurso do método (enrico corvisieri)
meditações (enrico corvisieri)
paixões da alma (enrico corvisieri)
o príncipe, maquiavel (olívia bauduh)
pensamentos, pascal (olívia bauduh)
PILLARES
a luta pelo direito (ivo de paula)
RIDEEL
a luta pelo direito (heloísa da graça buratti)
acerca da verdade e da mentira (heloísa da graça burati)
o anticristo (heloísa da graça burati)
SAPIENZA
a arte da guerra (nikko bushido)
imagem: www.comcrow.com
"Designada para responder pela editora, a advogada Maria Luiza de Freitas Valle
Egea diz que a Martin Claret está ‘refazendo o seu catálogo, contratando
tradutores para as novas publicações, e pagando os titulares dos direitos de todas
as obras em que os problemas estão sendo detectados’. Segunda ela, a Martin Claret
já reeditou mais de 80 títulos".
fico feliz que as novas publicações passem a ser de fato traduzidas, e não apenas
copiadas. e realmente vi algumas reedições da martin claret em traduções agora
aparentemente legítimas. cheguei a comentar aqui as alvíssaras, como leviatã, o
discurso do método e elogio da loucura - embora, infelizmente, as edições
anteriores das mesmas obras continuem à venda em diversas livrarias, e os
exemplares já vendidos não tenham sido objeto de um recall, e sequer de errata ou
retificação pública.
se de um lado a declaração da dra. maria luiza de freitas valle egea sugere que a
editora está em processo de substituir as centenas de livros com problemas
autorais, por outro lado, quanto aos "mais de 80 títulos" já reeditados - estou
entendendo, naturalmente, que dra. maria luiza queira dizer reeditados de forma
legítima, e não como simples reedição ou reimpressão da obra ilícita -, fiquei
sinceramente interessada em saber quais seriam. consultei o site da martin claret,
consultei a fundação biblioteca nacional, consultei vários sites de livrarias:
espremendo todos os dados com o máximo de boa vontade, não consegui passar de 5.
a meu ver, seria de imensa utilidade para nós leitores que a editora martin claret
nos fizesse saber quais são os títulos reeditados em novas traduções e nos
informasse se os espúrios foram retirados de circulação.
imagem: http://henryfelippe.blogspot.com
a maior parte desse material sobre edgar allan poe apresenta os resultados de uma
breve pesquisa: "o gato preto no brasil", apenas no formato livro. apresenta sua
fortuna histórica editorial, mostra suas relações com as histórias extraordinárias
e revela o equívoco que circula há mais de trinta anos entre nós: que histórias
extraordinárias seriam a tradução do original tales of the grotesque and arabesque
- com a consequente e inesperada descoberta de que as tga enquanto tal são
inéditas no brasil.
o fecho da pesquisa traz a tradução do curto, mas importante prefácio de poe à sua
coletânea de 1840. os posts subsequentes citam curiosidades, informações
específicas e variedades em geral.
em vista do tema restrito, alguns casos curiosos não receberam a atenção que
mereceriam. por exemplo:
em todo caso, minha petição foi contra o indiferentismo da fbn/isbn, não contra
os despautérios da martin claret. a reação da agência brasileira do isbn, perante
o problema, tinha sido simplesmente tascar uma ressalva nas fichas cadastrais:
"todas as informações contidas neste cadastro foram fornecidas pelos editores no
momento da solicitação do isbn".
III. quando se pretende um certo ar mais solto, num tom de aparência mais direta:
Para a narrativa muito estranha e, ao mesmo tempo, muito simples que vou escrever,
não peço nem espero crédito. Seria loucura minha esperar, ainda mais que nem mesmo
eu acredito nos meus próprios sentidos. Mas não sou louco – e certamente não estou
sonhando. Só que amanhã vou morrer, e hoje quero aliviar a alma. Meu objetivo
imediato é apresentar ao mundo, de maneira direta, sucinta, sem comentários, uma
série de simples acontecimentos domésticos. Em suas consequências, esses
acontecimentos me aterrorizaram – torturaram – destruíram. Mas não vou tentar
explicá-los. Para mim, são praticamente o puro Horror – para muitos, mais do que
terríveis vão parecer barrocos. Quem sabe algum dia possa surgir um intelecto que
reduza meu fantasma ao corriqueiro – um intelecto mais calmo, mais lógico, muito
menos excitável do que o meu, que veja, nas circunstâncias que detalho com pavor,
apenas uma sucessão normal de causas e efeitos muito naturais.
For the most wild, yet most homely narrative which I am about to pen, I neither
expect nor solicit belief. Mad indeed would I be to expect it, in a case where my
very senses reject their own evidence. Yet, mad am I not — and very surely do I
not dream. But to-morrow I die, and to-day I would unburthen my soul. My immediate
purpose is to place before the world, plainly, succinctly, and without comment, a
series of mere household events. In their consequences, these events have
terrified — have tortured — have destroyed me. Yet I will not attempt to expound
them. To me, they have presented little but Horror — to many they will seem less
terrible than barroques. Hereafter, perhaps, some intellect may be found which
will reduce my phantasm to the common-place — some intellect more calm, more
logical, and far less excitable than my own, which will perceive, in the
circumstances I detail with awe, nothing more than an ordinary succession of very
natural causes and effects.
LE CHAT NOIR
From my infancy I was noted for the docility and humanity of my disposition. My
tenderness of heart was even so conspicuous as to make me the jest of my
companions. I was especially fond of animals, and was indulged by my parents with
a great variety of pets. With these I spent most of my time, and never was so
happy as when feeding and caressing them. This peculiarity of character grew with
my growth, and, in my manhood, I derived from it one of my principal sources of
pleasure. To those who have cherished an affection for a faithful and sagacious
dog, I need hardly be at the trouble of explaining the nature or the intensity of
the gratification thus derivable. There is something in the unselfish and self-
sacrificing love of a brute, which goes directly to the heart of him who has had
frequent occasion to test the paltry friendship and gossamer fidelity of mere Man.
Dès mon enfance, j’étais noté pour la docilité et l’humanité de mon caractère. Ma
tendresse de cœur était même si remarquable qu’elle avait fait de moi le jouet de
mes camarades. J’étais particulièrement fou des animaux, et mes parents m’avaient
permis de posséder une grande variété de favoris. Je passais presque tout mon
temps avec eux, et je n’étais jamais si heureux que quand je les nourrissais et
les caressais. Cette particularité de mon caractère s’accrut avec ma croissance,
et, quand je devins homme, j’en fis une de mes principales sources de plaisirs.
Pour ceux qui ont voué une affection à un chien fidèle et sagace, je n’ai pas
besoin d’expliquer la nature ou l’intensité des jouissances qu’on peut en tirer.
Il y a dans l’amour désintéressé d’une bête, dans ce sacrifice d’elle-même,
quelque chose qui va directement au cœur de celui qui a eu fréquemment l’occasion
de vérifier la chétive amitié et la fidélité de gaze de l’homme naturel.
I married early, and was happy to find in my wife a disposition not uncongenial
with my own. Observing my partiality for domestic pets, she lost no opportunity of
procuring those of the most agreeable kind. We had birds, gold-fish, a fine dog,
rabbits, a small monkey, and a cat.
This latter was a remarkably large and beautiful animal, entirely black, and
sagacious to an astonishing degree. In speaking of his intelligence, my wife, who
at heart was not a little tinctured with superstition, made frequent allusion to
the ancient popular notion, which regarded all black cats as witches in disguise.
Not that she was ever serious upon this point — and I mention the matter at all
for no better reason than that it happens, just now, to be remembered. Pluto —
this was the cat's name — was my favorite pet and playmate. I alone fed him, and
he attended me wherever I went about the house. It was even with difficulty that I
could prevent him from following me through the streets.
Our friendship lasted, in this manner, for several years, during which my general
temperament and character — through the instrumentality of the Fiend Intemperance
— had (I blush to confess it) experienced a radical alteration for the worse. I
grew, day by day, more moody, more irritable, more regardless of the feelings of
others. I suffered myself to use intemperate language to my wife. At length, I
even offered her personal violence. My pets, of course, were made to feel the
change in my disposition. I not only neglected, but ill-used them. For Pluto,
however, I still retained sufficient regard to restrain me from maltreating him,
as I made no scruple of maltreating the rabbits, the monkey, or even the dog, when
by accident, or through affection, they came in my way. But my disease grew upon
me — for what disease is like Alcohol ! — and at length even Pluto, who was now
becoming old, and consequently somewhat peevish — even Pluto began to experience
the effects of my ill temper.
Notre amitié subsista ainsi plusieurs années, durant lesquelles l’ensemble de mon
caractère et de mon tempérament, — par l’opération du Démon Intempérance, je
rougis de le confesser, — subit une altération radicalement mauvaise. Je devins de
jour en jour plus morne, plus irritable, plus insoucieux des sentiments des
autres. Je me permis d’employer un langage brutal à l’égard de ma femme. À la
longue, je lui infligeai même des violences personnelles. Mes pauvres favoris,
naturellement, durent ressentir le changement de mon caractère. Non seulement je
les négligeais, mais je les maltraitais. Quant à Pluton, toutefois, j’avais encore
pour lui une considération suffisante qui m’empêchait de le malmener, tandis que
je n’éprouvais aucun scrupule à maltraiter les lapins, le singe et même le chien,
quand, par hasard ou par amitié, ils se jetaient dans mon chemin. Mais mon mal
m’envahissait de plus en plus, car quel mal est comparable à l’Alcool! — et à la
longue Pluton lui-même, qui maintenant se faisait vieux et qui naturellement
devenait quelque peu maussade, — Pluton lui-même commença à connaître les effets
de mon méchant caractère.
fascinante toque dado por joana canêdo: o primeiro contato de baudelaire com a
obra de poe foi justamente o gato preto.
em janeiro de 1847, uma moça chamada isabelle meunier (uma inglesa casada com um
periodista francês, e adepta de fourier) publicou sua tradução de the black cat no
jornal fourierista la démocratie pacifique. baudelaire ficou fascinado, e quase
quinze anos depois ainda descrevia a seu amigo armand fraisse "la commotion
singulière" que se apossou dele. já em 1848 põe-se a traduzir poe, o que vai
resultar em 1856 na publicação de suas histoires extraordinaires, que deram azo a
tanta confusão de datas, títulos e obras de poe aqui no brasil.
dia 26 de junho, a câmara brasileira do livro (cbl) realiza seu primeiro fórum de
debate permanente sobre questões relativas ao mercado editorial brasileiro. o tema
é "políticas públicas de livro e leitura", em duas partes:
em vista das barbaridades que andam acontecendo no setor editorial de nosso país,
quanto a fraudes, contrafações e plágios de tradução, espero que a diretoria da
cbl e os ilustres participantes do fórum lembrem que a direitos sempre
correspondem deveres.
deixo aqui meus votos de que a câmara brasileira do livro, neste seu primeiro
fórum, aborde com franqueza os problemas que têm corroído o mundo do livro em anos
recentes e, com sua política de transparência, faça por manter e aumentar sua
credibilidade junto à sociedade.
imagem: cbl
ISBN TÍTULO
978-85-377-0744-9
O ELOGIO DA LOUCURA (ALUNO)
978-85-377-0745-6
O ELOGIO DA LOUCURA (PROFESSOR)
978-85-377-0746-3
O PRÍNCIPE (ALUNO)
978-85-377-0747-0
O PRÍNCIPE (PROFESSOR)
imagem: http://animusiquesdumonde.skynetblogs.be
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/destaques/bibli
oteca_do_professor.pdf
e em programas de curso:
http://www.pucpr.br/cursos/programas/ppge/disciplinas.php
imagem: www.elfwood.com
a editora centauro afirma a nós leitores que a obra foi traduzida por rubens
eduardo frias. na fundação biblioteca nacional consta o nome completo de "rubens
eduardo ferreira frias".
acontece, porém, que essa suposta tradução se revela fidelíssima cópia da tradução
de liliana rombert soeiro, publicada em portugal pela livros horizonte (1978, 2a.
ed.). o pretenso tradutor brasileiro não se peja: a literalidade vai do prefácio à
última linha da obra.
como é sabido, o próprio platão no seu sistema pedagógico pôs em relevo o papel da
educação como fator que conduz o homem à descoberta da pátria verdadeira e ideal.
a educação do pensamento, de acordo com platão, pode recorrer à observação
sensível das coisas e ao estudo dialético das opiniões; o que, todavia, não dá o
conhecimento verdadeiro; o conhecimento do mundo imutável da Idéia só é possível
como reminiscência da vida que o pensamento observou nesse mundo, antes de animar
o corpo e de surgir entre os reflexos das coisas. de modo idêntico, a educação
moral atinge os desejos, os hábitos, a vontade; mas as decisões definitivas,
relativas ao bem e ao mal, provêm do mundo ideal, a que pertence o pensamento. e,
tal como na educação do espírito não existe uma via que possa conduzir da
observação sensível aos cumes do conhecimento, na educação moral não existe uma
via que conduza das experiências da vida cotidiana ao pleno desenvolvimento da
personalidade moral.
vii
educação virada para o futuro e perspectiva de um sistema social à escala humana
esta posição filosófica não se enquadra numa pedagogia que aceite o estado de
coisas existente; não será respeitada senão por uma tendência que assinale o
caminho do futuro, por uma pedagogia associada a uma atividade social que
transforme o estado de coisas que tenda a criar ao homem condições tais que a sua
existência se possa tornar fonte e matéria prima da sua essência. a educação
virada para o futuro é justamente uma via que permite ultrapassar o horizonte das
más opções e dos compromissos da pedagogia burguesa. defende que a realidade
presente não é a única realidade e que, por conseguinte, não é o único critério de
educação. o verdadeiro critério é a realidade futura. a necessidade histórica e a
realização do nosso ideal coincidem na determinação desta realidade futura. esta
necessidade permite-nos evitar a utopia, esta atividade protege-nos do fatalismo.
o feiticismo do presente, que não tolera a crítica da realidade existente e que,
por esse motivo, reduz a atividade pedagógica ao conformismo, é destruído pela
educação virada para o futuro.
vii
educação virada para o futuro e perspectiva de um sistema social à escala humana
esta posição filosófica não se enquadra numa pedagogia que aceite o estado de
coisas existente; não será respeitada senão por uma tendência que assinale o
caminho do futuro, por uma pedagogia associada a uma atividade social que
transforme o estado de coisas que tenda a criar ao homem condições tais que a sua
existência se possa tornar fonte e matéria-prima da sua essência. a educação
virada para o futuro é justamente uma via que permite ultrapassar o horizonte das
más opções e dos compromissos da pedagogia burguesa. defende que a realidade
presente não é a única realidade e que, por conseguinte, não é o único critério de
educação. o verdadeiro critério é a realidade futura. a necessidade histórica e a
realização do nosso ideal coincidem na determinação desta realidade futura. esta
necessidade permite-nos evitar a utopia, esta atividade protege-nos do fatalismo.
o feiticismo do presente, que não tolera a crítica da realidade existente e que,
por esse motivo, reduz a atividade pedagógica ao conformismo, é destruído pela
educação virada para o futuro.
o segundo volume das coleção "obras-primas" era a divina comédia de dante. foi
utilizada a tradução de hernâni donato, em prosa, levemente copidescada e com os
créditos atribuídos a um "fábio m. alberti". circulando em algumas centenas de
milhares de exemplares no país, fez um bom estrago na memória cultural dos
brasileiros.
a hernâni donato, meus melhores votos de que sua tradução da divina comédia tenha
o reconhecimento que merece e o lugar que lhe cabe na história da recepção
literária no país.
luiz pacheco, falecido no ano passado, era uma figura um tanto folclórica nos
meios intelectuais e editoriais portugueses. pois bem, então ele pegou um dos
volumes da tradução que cabia a bruno da ponte. recebeu o pagamento adiantado e,
chegada a data de entrega do material, não tinha feito o serviço. depois de muita
cobrança de bruno, luiz pacheco pegou o livro e foi datilografando conforme ia
lendo. mas estava sem dicionário ao lado e as palavras que não sabia foi
datilografando com uns palavrões em vermelho. pôs o texto no correio para o bruno,
mas esqueceu de tirar as marcações. bruno entregou o material ao editor e, como o
livro estava atrasadíssimo, foi direto da editora para a gráfica, sem passar pela
revisão.
naturalmente a gráfica iria imprimir igualzinho, pondo em itálico tudo o que
estava em vermelho. nesse meio tempo, o pacheco lembrou e foi correndo para lisboa
avisar a editora e conseguiu suspender a impressão para fazer a revisão. mesmo
assim passou uma nota de tradutor, e aqui transcrevo as palavras de luiz pacheco.
naturalmente muita gente deplora que o bruno da ponte nunca tenha dado os devidos
créditos a luiz pacheco. por outro lado, essa edição não é tida em alta conta
entre os interessados e leitores de voltaire. veio cá parar entre nós, com vários
verbetes reproduzidos pela martin claret sob nome de pietro nassetti.
voltaire:
Médroso. — Quel est ce Tullius Cicero? Jamais je n’ai entendu prononcer ce nom-là
la sainte Hermandad
Boldmind. — C’était un bachelier de l’université de Rome, qui écrivait ce qu’il
pensait, ainsi que Julius Cesar, Marcus Aurelius, Titus Lucretius Carus, Plinius,
Seneca, et autres docteurs
Médroso. — Je ne les connais point; mais on m’a dit que la religion catholique,
basque et romaine, est perdue, si on se met à penser.
bruno da ponte:
Medroso: Quem é Cícero? Nunca ouvi falar desse homem; não se trata aqui de Cícero,
trata-se de nosso santo pai, o papa, e de Santo Antônio de Pádua, e sempre ouvi
dizer que a religião romana está perdida se os homens começam a pensar.
pietro nassetti:
Medroso: Quem é Cícero? Nunca ouvi falar desse homem. Aqui não se trata de Cícero,
trata-se de nosso santo pai, o papa, e de Santo Antônio de Pádua, e sempre ouvi
dizer que a religião romana está perdida se os homens começam a pensar.
claro que voltaire não falou em santo antônio de pádua, o principal santo
português, e que o tradutor português quis ampliar o leque da crítica de voltaire
eliminando a referência basca. o cômico é que a claret mantenha tais alterações.
daqui a pouco algum acadêmico brasileiro vai dizer com ar muito douto: ah, aquela
passagem em que voltaire menciona santo antônio...
nessa montagem, as outras vítimas são bruno da ponte e joão lopes alves, cuja
tradução saiu pela editorial presença de portugal (1966)* e sob licença na coleção
"os pensadores", da abril cultural (o que provavelmente explica as tentativas de
maquiar a apropriação).
*aliás, há uma história engraçada sobre essa edição em portugal, que contarei em
outra ocasião.
[...] Boldmind: Que horrível alternativa! Éreis cem vezes mais felizes sob o jugo
dos mouros que vos deixaram estagnar livremente no meio das vossas superstições e
que, embora vencedores, não se arrogavam o direito inaudito de pôr as almas a
ferros.
Medroso: Que quereis? Não nos é permitido escrever, nem falar, nem mesmo pensar.
Se falamos, torna-se fácil interpretar as nossas palavras e mais ainda os nossos
escritos. Enfim, como não podem condenar-nos a um auto-de-fé pelos nossos
pensamentos secretos, ameaçam-nos de sermos eternamente queimados por ordem do
próprio Deus se não pensarmos como os dominicanos. Persuadiram o governo que se
possuíssemos o senso comum todo o Estado ficaria em combustão e a nação tornar-se-
ia a mais desgraçada da Terra.
Boldmind: Achais que somos assim desgraçados, nós, ingleses, que cobrimos os mares
com os nossos barcos e viemos ganhar para vós batalhas nos confins da Europa? Vede
os holandeses que vos desapossaram de quase todas as vossas descobertas na Índia e
hoje se enfileiram entre os vossos protetores: pensais que sejam malditos de Deus
por haverem concedido inteira liberdade à imprensa e por fazerem o comércio dos
pensamentos humanos? Foi menos poderoso o império romano por Cícero haver escrito
com liberdade?
Medroso: Quem é Cícero? Nunca ouvi falar desse homem; não se trata aqui de Cícero,
trata-se de nosso santo pai, o papa, e de Santo Antônio de Pádua, e sempre ouvi
dizer que a religião romana está perdida se os homens começam a pensar.
2. pietro nassetti:
[...] Boldmind: Que horrível alternativa! Cem vezes mais felizes éreis sob o jugo
dos mouros que vos deixaram estagnar livremente no meio das vossas superstições e
que, conquanto vencedores, não se arrogavam o direito inaudito de pôr as almas a
ferros.
Medroso: Que quereis? Escrever, nem falar, e nem mesmo pensar, nada disso nos é
permitido. Se falamos, torna-se fácil interpretar as nossas palavras e mais ainda
os nossos escritos. Em suma, como não podem condenar-nos a um auto-de-fé pelos
nossos pensamentos secretos, ameaçam-nos de sermos eternamente queimados por ordem
do próprio Deus se não pensarmos como os dominicanos. O governo foi persuadido a
pensar que, se possuíssemos o senso comum, todo o Estado ficaria em combustão, e a
nação tornar-se-ia a mais desgraçada da Terra.
Boldmind: Achais que nós, os ingleses, somos assim desgraçados, porque cobrimos os
mares com os nossos barcos e viemos ganhar para vós batalhas nos confins da
Europa? Vede os holandeses que vos desapossaram de quase todas as vossas
descobertas na Índia e hoje se enfileiram entre os vossos protetores: pensais que
sejam malditos de Deus por haverem concedido inteira liberdade à imprensa e por
fazerem o comércio dos pensamentos humanos? Por acaso Cícero diminuiu o poder do
império romano por haver escrito com liberdade?
Medroso: Quem é Cícero? Nunca ouvi falar desse homem. Aqui não se trata de Cícero,
trata-se de nosso santo pai, o papa, e de Santo Antônio de Pádua, e sempre ouvi
dizer que a religião romana está perdida se os homens começam a pensar.
Boldmind: Não cabe a vós acreditá-lo, pois estais seguro que a vossa religião é
divina e que as portas do inferno não podem prevalecer contra ela. Se assim é,
nada poderá destruí-la.
Medroso: Não, mas pode ser reduzida a pouca coisa. E foi por terem pensado que a
Suécia, a Dinamarca, toda a vossa ilha e metade da Alemanha gemem na pavorosa
desgraça de não mais serem súditos do papa. Diz-se mesmo que se os homens
continuassem a guiar-se pelas suas falsas luzes acabarão em breve por ater à
simples adoração de Deus e à virtude. Se alguma vez as portas do inferno
prevalecerem até esse ponto, em que se tornará o Santo Ofício?
Boldmind: Se os primeiros cristãos não tivessem a liberdade de pensar, não é
verdade que não existiria cristianismo?
Medroso: Que quereis dizer? Não vos entendo.
Boldmind: Acredito. Quero dizer que se Tibério e os primeiros imperadores
dispusessem de dominicanos que houvessem impedido os primeiros cristãos de usar
penas e tinta; se durante tanto tempo não tivesse sido permitido pensar livremente
no império romano, tornar-se-ia impossível aos cristãos estabelecer os seus
dogmas. Portanto, se o cristianismo só se formou pela liberdade de pensamento, por
que contradição, por que injustiça desejaria aniquilar hoje essa liberdade sobre a
qual está fundado? Quando vos propõem algum negócio interessante, não o examinais
demoradamente, antes de o concluirdes? Haverá no mundo maior interesse que o da
nossa felicidade ou eterna desgraça? Existem sobre a Terra cem religiões e todas
vos condenam à danação por acreditares nos vossos dogmas, que essas religiões
consideram absurdos e ímpios; examinai, portanto, esses dogmas.
2. pietro nassetti:
Boldmind: A vós não cabe acreditá-lo, pois estais seguro que a vossa religião é
divina e que as portas do inferno não podem prevalecer contra ela. Sendo assim,
nada poderá destruí-la.
Medroso: Não mesmo, todavia pode ser bastante reduzida. Foi exatamente por terem
pensado que a Suécia, a Dinamarca, toda a vossa ilha e metade da Alemanha gemem na
pavorosa desgraça de não mais serem súditos do papa. Contam mesmo que se os homens
continuam a guiar-se pelas suas falsas luzes acabarão em breve por ater à simples
adoração de Deus e à virtude. Se alguma vez as portas do inferno prevalecerem até
esse ponto, para que servirá o Santo Ofício?
Boldmind: Caso os cristãos primitivos não tivessem a liberdade de pensar, não é
verdade que não existiria cristianismo?
Medroso: Que quereis dizer? Não consigo vos entender.
Boldmind: Acredito. Dir-vos-ei em outras palavras: se Tibério e os primeiros
imperadores dispusessem de dominicanos que houvessem impedido os primeiros
cristãos de usar penas e tinta; se durante tanto tempo não tivesse sido permitido
pensar livremente no império romano, tornar-se-ia impossível aos cristãos
estabelecer os seus dogmas. Por conseguinte, se o cristianismo só se formou pela
liberdade de pensamento, por que contradição, por que injustiça desejaria
aniquilar hoje essa liberdade sobre a qual está alicerçado? Sempre que alguém vos
propõem [sic] algum negócio interessante, não o examinais demoradamente, antes de
o concluirdes? Será que no mundo poderá haver maior interesse que o da nossa
felicidade ou eterna desgraça? Sobre a Terra existem cem religiões, e todas vos
condenam à danação por acreditares nos vossos dogmas, que essas religiões
consideram absurdos e ímpios. Então examinai esses dogmas.
2. pietro nassetti:
imagem: http://tomarpartido.weblog.com.pt
[...] a idade amolenta o caráter. transforma-o em uma árvore que não dá senão um
ou outro fruto abastardado, mas sempre da mesma natureza. enodoa-se, cobre-se de
musgo, caruncha. jamais deixará de ser carvalho ou pereira, porém. se fosse
possível alterar o caráter, a gente mesmo o plasmaria a bel prazer, seria senhor
da natureza. podemos lá criar alguma cousa? não recebemos tudo. experimentai
animar o indolente de contínua atividade, inspirar gosto à música a quem careça de
gosto e de ouvido. não tereis melhor resultado do que se empreenderdes dar vista a
cego de nascença. não aperfeiçoamos, esborcelamos, o que nos estereogravou a
natureza. não há, porém, alterar-lhe a obra.
diríeis a um criador: - o senhor tem peixe demais nesse viveiro; assim eles não
vingam. seus campos estão sobrelotados de gado; o capim não dá, os animais
emagrecerão. - mas deixa o nosso homem que as solhas lhe comam metade das carpas,
e os lobos metade dos carneiros. os restantes engordam. gabar-se-á ele dessa
economia? este camponês é tu mesmo. uma de tuas paixões devorou as outras, e tu
julgas haver triunfado sobre ti próprio. não parecemos quase todos nós com aquele
velho general de noventa anos que, encontrando jovens oficiais mexendo com umas
moças, perguntou-lhes colérico: "senhores, é esse o exemplo que lhes dou?" (atena,
pp. 64-65)
pietro nassetti:
[...] a idade amolenta o caráter. transforma-o em uma árvore que não dá senão um
ou outro fruto abastardado, mas sempre da mesma natureza. enodoa-se, cobre-se de
musgo, caruncha. jamais deixará de ser carvalho ou pereira, porém. se fosse
possível alterar o caráter, a gente mesmo o plasmaria a bel-prazer, seria senhor
da natureza. podemos lá criar alguma coisa? não recebemos tudo. experimentai
animar o indolente de contínua atividade, inspirar gosto à música a quem careça de
gosto e de ouvido. não tereis melhor resultado do que se empreenderes [sic] dar
vista a cego de nascença. não aperfeiçoamos, esborcelamos, o que nos estereogravou
a natureza. não há, porém, alterar-lhe a obra.
diríeis a um criador: - o senhor tem peixe demais nesse viveiro; assim eles não
vingam. seus campos estão sobrelotados de gado; o capim não dá, os animais
emagrecerão. - mas deixa o nosso homem que as solhas lhe comam metade das carpas,
e os lobos metade dos carneiros. os restantes engordam. gabar-se-á ele dessa
economia? este camponês é tu mesmo. uma de tuas paixões devorou as outras, e tu
julgas haver triunfado sobre ti próprio. não parecemos quase todos nós com aquele
velho general de noventa anos que, encontrando jovens oficiais mexendo com umas
moças, perguntou-lhes, colérico: "senhores, é esse o exemplo que lhes dou?"
(martin claret, p. 69)
- pietro nassetti:
imagem: plagiarius
não sei bem como ela chegou a tal resultado, e só posso especular: deve ter visto
dois exemplares diferentes e resolveu juntá-los. como sua familiaridade com
qualquer tipo de original das obras não é propriamente muito grande, ela se saiu
com 136 verbetes ou "capítulos".
outra maneira muito cômica de procurar preencher a cota dos "cento e trinta e
qualquer coisa" é repetir o mesmo verbete em duas traduções diferentes.
ÍNDICE
Apresentação
Biografia do autor
1. Abraão
2. Alma
3. Amizade
4. Amor
5. Amor Próprio
6. Amor Socrático
7. Anjo
8. Antropófagos
9. Apis
10. Apocalipse
11. Ateu, Ateísmo
12. Batismo
13. Belo, Beleza
14. Bem (Supremo)
15. Bem (Tudo Está)
16. Cadeia dos Acontecimentos
17. Caráter
18. Catecismo Chinês
19. Catecismo do Japonês
20. Catecismo do Pároco
21. Certo, Certeza
22. Céu dos Antigos (O)
23. China (Da)
24. Circuncisão
25. Convulsões
26. Corpo
27. Cristianismo
28. Crítica
29. Destino
30. Deus
31. Escala dos Seres
32. Estados, Governos
33. Ezequiel (De)
34. Fábulas
35. Falsidade das Virtudes Humanas
36. Fanatismo
37. Fim, Causas Finais
38. Fraude
39. Fronteiras do Espírito Humano
40. Glória
41. Graça
42. Guerra
43. História dos Reis Judeus e Paralipômenos
44. Ídolo, Idólatra, Idolatria
45. Igualdade
46. Inferno
47. Inundação
48. Irracionais
49. Jefté
50. José
51. Leis (Das)
52. Leis Civis e Eclesiásticas
53. Liberdade (Da)
54. Loucura
55. Luxo
56. Matéria
57. Mau
58. Messias
59. Metamorfose, Metempsicose
60. Milagres
61. Moisés
62. Pátria
63. Pedro
64. Preconceitos
65. Religião
66. Ressurreição
67. Salomão
68. Sensação
69. Sonhos
70. Superstição
71. Tirania
72. Tolerância
73. Virtude
Notas
basicamente ela:
- define o que é tradução integral, parcial e intermediária;
- estabelece os elementos de identificação de uma tradução (o nome do tradutor, se
a tradução é integral ou parcial; a quem pertencem os direitos de tradução e os
direitos de tradutor; e a referência bibliográfica do original, de acordo com a
nbr 6023);
- define também onde devem ficar localizados os elementos de identificação, de
acordo com a nbr 10524 (página de rosto, verso, retro);
- estabelece também meia-dúzia de coisas do tipo: datas não gregorianas no
original devem vir acompanhadas pela data gregoriana respectiva entre parênteses;
fazer conversão métrica quando necessário, e assim por diante.
[aliás, sabemos que editoras como a martin claret adoram estampar na capa os
dizeres "texto integral", por mais anos-luz que se interponham entre essa
afirmação e a realidade. o mesmo se pode dizer de editoras como a fundamento de
curitiba que, ao arrepio da lei, adoram manter o anonimato da tradução em seus
livros. essa delinquência existe, quaisquer que sejam as normas, e tem de ser
combatida em outra esfera.]
nessa proposta de cancelamento que está em consulta nacional, a nbr 10526 não será
substituída por outra. entendo que seus elementos já são ou serão contemplados em
outras normas mais abrangentes.
por outro lado, a abnt já deu início aos estudos para a revisão da nbr 6023.
pessoalmente acho que essa consulta nacional sobre a nbr 10526 é uma boa ocasião
para todos os interessados votarem e encaminharem suas sugestões, mesmo em caráter
informal, como subsídios para a reforma da nbr 6023.
além de votar, você pode colocar seus comentários e/ou anexar sugestões no campo
da votação. pronto, é só enviar. meio minuto depois você recebe em seu e-mail a
cópia e número de autenticação de seu voto.
os erros de baudelaire
essa questão de atribuição pode parecer um detalhe, mas é uma coisa manhosa, a
ponto, por exemplo, de induzir um intelectual brasileiro de certo renome a afirmar
que, "ao traduzir tales of grotesque and arabesque para histoires extraordinaires,
charles baudelaire errou duas vezes. a primeira, ao trair a vontade expressa do
autor, de que o título de um livro deve mostrar tudo o que contém; e a segunda,
por não perceber a enorme riqueza semântica do original".
toque de caixa
outra sala:
- pronto, chefe. tá qui, tudo em cima.
- acharam o nome do tal livro?
- ah, foi moleza. eu até já conhecia.
- então tá bom. deixa aí na mesa que depois dou uma olhada. tá pronto pra rodar?
- ôôô, pode mandar bala.
e a m oda pega
dona ediouro, se faz mais de trinta anos que a sra. diz que foi a clarice
lispector que escolheu os contos do poe que vocês publicam, como é que a antologia
dela acabou virando tradução do original tales of the grotesque and arabesque?
nessa pesquisa foram muito úteis os artigos de carlos daghlian, a recepção de poe
na literatura brasileira e obras de e sobre poe em português ou publicadas no
brasil. agradeço de novo a saulo von randow jr. e a joana canêdo, que colaboraram
com coisas magníficas.
estas são algumas capas de vários livros de, com e sobre poe publicados no brasil.
Prefácio
senhores editores, que tal comemorar os 200 anos de nascimento de edgar allan poe
com o lançamento desse volume, com seu belo título contos do grotesco e arabesco e
o breve prefácio do autor?
não faço ideia de como surgiu essa atribuição, e a fonte mais antiga que encontrei
para ela foi a frase, já citada: "Em 1848, Contos do Grotesco e do Arabesco foi
publicado na França como Histórias Extraordinárias, por Baudelaire".
já vimos quais são os treze contos de poe que compõem a antologia baudelaireana
das histoires, e respectivas datas de redação. mas não custa repetir: histoires
extraordinaires de 1856 consiste numa coletânea traduzida de treze contos que poe
escreveu originalmente entre 1832 e 1845.
tales of the grotesque and arabesque, por sua vez, é uma coletânea de 25 contos
que poe selecionou e lançou em novembro/dezembro de 1839, com data de 1840, em
dois volumes. ela reúne contos escritos entre 1831 e 1839, que podem ser
consultados na wikisource e na edgar allan poe baltimore society.
volume I:
Morella (1835); Lionizing (1835); William Wilson (1839); The Man That Was Used Up
— A Tale of the Late Bugaboo and Kickapoo Campaign (1839); The Fall of the House
of Usher (1839); The Duc de L'Omelette (1831); MS. Found in a Bottle (1833); Bon-
Bon [The Bargain Lost] (1831); Shadow — A Parable (1835); The Devil in the Belfry
(1839); Ligeia (1838); King Pest — A Tale Containing an Allegory (1835); The
Signora Zenobia (1838); The Scythe of Time (1838).
volume II:
não sei dizer quem era o editor da civilização brasileira ou da abril cultural à
época em que se instaurou toda essa confusão, mas uma coisa é certa: as histórias
extraordinárias não têm nada a ver com tales of the grotesque and arabesque, digam
o que disserem as referências das diversas edições, com licença da civilização,
pela abril cultural, círculo do livro após 1978 e nova cultural (e sem licença
pela martin claret) - e, surpreendentemente, também as edições da ediouro!
conclui-se que, nesse mar de sargaços, a coletânea tales of the grotesque and
arabesque, tal como foi concebida, selecionada e publicada por poe, jamais – por
incrível que pareça – teve uma única edição no brasil.
isso não significa que não tivemos retraduções de poe a partir do francês, e pela
interposição de baudelaire, justamente. e aqui cabe acrescentar mais um dado.
ainda em tradução e com introdução de afonso de taunay existe uma outra coletânea
ilustrada de contos de poe. chama-se histórias esquisitas, e saiu pela
melhoramentos em 1927, também na biblioteca da adolescência.
reúne 9 contos, sendo 7 das histoires de 1856 e 2 das nouvelles histoires de 1857:
o duplo crime da rua morgue; carta roubada; manuscrito encontrado numa garrafa;
descida ao maelstrom; a balela do balão; metzengerstein; reminiscências de augusto
bedloe; o diabo no campanário; rei peste.*
* a propósito, mary del priore sugere uma hipótese instigante, relacionando o
interesse de taunay por poe e sua teratologia do brasil colonial (mary del priore,
"introdução", in taunay, afonso d'escragnolle, monstros e monstrengos do brasil,
companhia das letras, 1998).
4. cruzeiro do sul, em que faria e souza agora aparece como responsável pela
tradução, 1943. desconheço o conteúdo.
5. clube do livro (sem tradutor), 1945. curiosamente, esta coletânea também traz o
corvo: o demônio da perversidade; sombra; silêncio; william wilson; o escaravelho
de ouro; o corvo; o homem das multidões; o poço e o pêndulo; hop-frog; berenice.
imagens: livrarias
são várias inverdades. por ora, já sabemos que baudelaire publicou histoires
extraordinaires em 1856, não em 1848.
a única razão que consigo imaginar para esse recuo de oito anos na fantasiosa
informação é que o escriba dessa edição da abril deve ter lido meio por cima em
algum lugar "baudelaire ... 1848 ... histoires extraordinaires", e se deu por
satisfeito.
eu preencheria as lacunas dessa leitura dinâmica assim: "baudelaire traduziu um
conto de poe pela primeira vez em 1848. depois de traduzir vários outros contos,
ele os reuniu e publicou num volume chamado histoires extraordinaires".
imagem: www.macvirtual.usp.br
aí, como neste ano de 2009 comemora-se o segundo centenário de nascimento de poe,
resolvi festejá-lo tentando rastrear os caminhos de seu black cat em nossa
terrinha. essa curiosidade resultou numa listinha das pessoas que traduziram o
gato preto no brasil; uma relação das diversas coletâneas de histórias
extraordinárias, que é onde ele mais aparece; e depois algumas andanças dele em
outras antologias.
esse levantamento inicial mostra 34 edições e/ou editoras diferentes para o gato
preto no brasil, quinze delas com o título histórias extraordinárias, em 20
traduções (se se incluir o plágio da martin claret). a tradução que aparece com
maior frequência é, de longe, a de brenno silveira, em sete editoras, seguida a
razoável distância pelas de oscar mendes com milton amado, de clarice lispector e
de josé paulo paes. estas traduções de o gato preto mais reproduzidas se
concentram em diferentes coletâneas com o mesmo título de histórias
extraordinárias: onze ocorrências.
mas, a certa altura, parece que se criou um equívoco em torno das histórias
extraordinárias. e é isso que eu gostaria de começar a abordar.
no brasil existem pelo menos treze coletâneas diferentes com o mesmo título de
histórias extraordinárias. nenhuma delas corresponde às histoires extraordinaires
de baudelaire. em verdade, nenhuma delas (exceto a ed. escala/larousse) tampouco
pretende corresponder às histoires baudelaireanas.**
a. coletâneas de poe:
- os já referidos contos de imaginação e mistério, trad. port. januário leite,
pela annuario do brasil, 1926;
- um homônimo contos de imaginação e mistério, trad. aurélio lacerda, pela
pinguim, 1947;
- o mistério do gato preto, tradução anônima, pela tecnoprint, 1954;
- o fantasma da rua morgue, trad. frederico dos reis coutinho, pela vecchi, 1954;
- antologia de contos de edgar allan poe, trad. brenno silveira, pela civilização
brasileira, 1959;
- contos de terror, de mistério e de morte, trad. oscar mendes e milton amado,
pela globo, manancial, josé aguilar, nova fronteira;
- os crimes da rua morgue e outras histórias, trad. aldo della nina, pela saraiva,
1961; reed. como assassinatos na rua morgue e outras histórias em 2006;
- o gato preto e outras histórias de allan poe, trad. clarice lispector, pela
ediouro, c. 1975;
- contos escolhidos, trad. oscar mendes e milton amado, globo, 1985;
- o escaravelho de ouro e outras histórias, trad. josé rubens siqueira, ática,
1993;
- histórias de crime e mistério, trad. geraldo galvão ferraz, ática, 1998;
- o escaravelho de ouro e gato negro, trad. rodrigo espinosa cabral, pela rideel,
2005;
- o gato preto e outras histórias, trad. ricardo gouveia, pela scipione, 2007;
- o gato preto e outros contos, trad. guilherme braga, pela hedra, 2008.
b. sozinho:
- o gato preto, trad. bernardo carvalho, pela cosac & naify, 2004;
- o gato preto, trad. antonio carlos vilela, pela melhoramentos, 2006.
c. miscelâneas de autores:
- os mais extraordinários contos de suspense, trad. renato guimarães, civilização
brasileira, 1978;
- clássicos do conto norte-americano, trad. celso m. paciornik, iluminura, 2001
- os melhores contos de medo, horror e morte, trad. oscar mendes e milton amado,
nova fronteira, 2005;
- os melhores contos de cães e gatos, trad. celina portocarrero, ediouro, 2007.
em 1944, a editora globo lançou em três volumes a obra traduzida de poe mais
abrangente de que se tem notícia no mundo. trazia a ficção completa, 34 poemas - e
mais as traduções de o corvo feitas por machado de assis, fernando pessoa e gondin
da fonseca -, vários ensaios e excertos da marginalia.
nos anos 60 a globo licenciou a obra para a josé aguilar. de 1965 para cá, a josé
aguilar e a posterior nova aguilar vêm publicando a obra em edição amplamente
revista pelos tradutores e uma nova estruturação interna.
o gato preto está lá, classificado entre os contos de terror, mistério e morte.
desde esse lançamento da globo em 1944, o gato preto tem circulado em várias
coletâneas diferentes, com vários nomes, por várias editoras. sucede que algumas
dessas coletâneas, com diferentes quantidades de diferentes contos, trazem o mesmo
título: histórias extraordinárias. mas que isso não nos confunda: são seleções
diferentes, com diferentes tradutores e número variável de contos, os quais também
variam.
há outras duas com o mesmo título de histórias extraordinárias, mas sem o gato
preto:
- otto pierre (1979), de tradutor anônimo, com 8 contos, a saber: os crimes da rua
morgue, o mistério de marie roget, o escaravelho de ouro, o sistema do dr.
alcatrão e do prof. pena, a verdade sobre o caso do sr. valdemar, descida ao
maelstrom, a carta roubada e metzengerstein.
- clube do livro (1988), tradução de josé maria machado, com 10 contos, a saber: o
escaravelho de ouro; o homem na multidão; hop frog; william wilson; silêncio (uma
fábula); sombra (uma parábola); berenice; pequena discussão com uma múmia; a carta
roubada; o sistema do dr. breu e do professor pena.
como uma coisa leva a outra, isso acabou me despertando a curiosidade: quais
seriam outras traduções de o gato preto no brasil?
edgar allan poe escreveu the black cat no final de 1842 ou começo de 1843. o conto
foi publicado no saturday evening post, na edição de 19 de agosto de 1843. em
1845, the black cat foi incluído na coletânea tales, publicada por wiley & putnam,
nova york.*
* para referências sobre vida e obra de poe, ver o excelente site the edgar allan
poe society of baltimore.
por interposição:
- annunziata capasso de filippis, pela newton compton, 1995 (do italiano, sem
indicação);
- pietro nassetti, pela martin claret, 1999 (do português, sem indicação);
- cláudia ortiz, pela escala/larousse, 2005 (do francês, com indicação);
- antonio carlos vilela, pela melhoramentos, 2006 (do espanhol, com indicação).
as traduções, em sua grande maioria, trazem o título o gato preto. as exceções são
o mistério do gato preto (tradução anônima, tecnoprint, 1954), o gato negro (josé
rubens siqueira) e gato negro (rodrigo espinosa cabral). menciono ainda a tradução
portuguesa de luísa feijó, que recebeu uma edição brasileira pela ed. américa do
sul (lord cochrane, 1988): o gato negro.
curiosidades:
- o gato preto ganha sua primeira edição brasileira em 1926, pela annuario do
brasil, numa coletânea chamada contos de edgard poe, na tradução portuguesa de
januário leite.
agradeço a joana canêdo, saulo von randow jr. e carlos daghlian por várias
indicações preciosas.
imagem: http://www.overmundo.com.br/
POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS
12/06/2009
fala o combatente de primeira hora
Zero Hora — Denúncias de editoras que publicaram como suas traduções antigas com
pequenas alterações cosméticas parecem ter se intensificado nos últimos anos. Para
o senhor, episódios como esse mostram que a tradução ainda é pouco valorizada por
uma fatia do mercado editorial?
Jorio Dauster — Considero uma vergonha o assalto sistemático que várias editoras
fizeram e ainda fazem ao trabalho honesto de dezenas de tradutores, inclusive
agindo como verdadeiros ladrões de sepulturas ao se apropriarem do trabalho de
intelectuais já mortos. Esses prostíbulos editoriais não só transvestem versões
antigas, em muitos casos copiam de cabo a rabo os textos de outrem, atribuindo-os
a pessoas cujos nomes inventam com total descaramento. Tenho participado
ativamente do movimento de protesto. Recomendo que os amantes da literatura
consultem o site http://naogostodeplagio.blogspot.com para conhecer melhor a
extensão desses assaltos e assim poder expulsar de suas estantes as traduções
bastardas.
como foi possível chegar a essa fabulosa atribuição das histórias extraordinárias
ao "original: tales of the grotesque and arabesque", é um mistério que desafia a
inteligência.
na apresentação que abre o volume, afora algumas imprecisões ao longo do texto, a
última frase não deixa margem a dúvidas: "Em 1848, Contos do Grotesco e do
Arabesco foi publicado na França como Histórias Extraordinárias, por Baudelaire".
não deixa margem a dúvidas, digo eu, sobre a leviandade de quem escreveu isso. na
frase tão taxativa, somente uma coisa - e apenas implícita - é verdadeira:
baudelaire morava na frança.
muito em breve contaremos essa extraordinária história.
uma hora, só por curiosidade, vou dar uma olhada nas quinze ou mais traduções/
adaptações de o gato preto no brasil.
dentre suas dezenas de contos, escolhi o gato preto para um breve cotejo entre a
tradução de brenno silveira (civilização brasileira, 1959) e a cópia de pietro
nassetti, com ligeiras adulterações (martin claret, 1999).
I.
I am above the weakness of seeking to establish a sequence of cause and effect,
between the disaster and the atrocity. But I am detailing a chain of facts — and
wish not to leave even a possible link imperfect. On the day succeeding the fire,
I visited the ruins. The walls, with one exception, had fallen in. This exception
was found in a compartment wall, not very thick, which stood about the middle of
the house, and against which had rested the head of my bed. The plastering had
here, in great measure, resisted the action of the fire — a fact which I
attributed to its having been recently spread. About this wall a dense crowd were
collected, and many persons seemed to be examining a particular portion of it with
very minute and eager attention. The words "strange!" "singular!" and other
similar expressions, excited my curiosity. I approached and saw, as if graven in
bas relief upon the white surface, the figure of a gigantic cat. The impression
was given with an accuracy truly marvellous. There had been a rope about the
animal's neck.
2. guilherme braga
Creio estar acima da fraqueza que tenta estabelecer uma relação de causa e efeito
entre a minha atrocidade e o desastre. Nada mais faço além de detalhar uma
corrente de acontecimentos – e não desejo que lhe falte nenhum elo. No dia
seguinte ao incêndio, fui visitar as ruínas. As paredes todas, à exceção de uma,
haviam desabado. Era uma parede interna, não muito espessa, próxima ao meio da
casa, e contra a qual a cabeceira de minha cama ficava encostada. Lá, o estuque
havia, em grande parte, resistido à ação do fogo – o que atribuí ao fato de que
fora aplicado havia pouco tempo. Ao redor dessa parede havia uma aglomeração de
pessoas, e muitas pareciam examinar-lhe uma certa parte com grande interesse e
atenção. As palavras “estranho!”, “esquisito!” e outras exclamações similares
despertaram-me a curiosidade. Ao aproximar-me, vi, como que gravada em baixo-
relevo sobre a superfície branca, a silhueta de um enorme gato. A representação
era de uma acuidade realmente impressionante. Ao redor do pescoço do animal, via-
se uma forca.
3. brenno silveira
Não pretendo estabelecer relação alguma entre causa e efeito - entre o desastre e
a atrocidade por mim cometida. Mas estou descrevendo uma seqüência de fatos, e não
desejo omitir nenhum dos elos dessa cadeia de acontecimentos. No dia seguinte ao
do incêndio, visitei as ruínas. As paredes, com exceção de uma apenas, tinham
desmoronado. Essa única exceção era constituída por um fino tabique interior,
situado no meio da casa, junto ao qual se achava a cabeceira de minha cama. O
reboco havia, aí, em grande parte, resistido à ação do fogo — coisa que atribuí ao
fato de ter sido ele construído recentemente. Densa multidão se reunira em torno
dessa parede, e muitas pessoas examinavam, com particular atenção e minuciosidade,
uma parte dela. As palavras "estranho!", "singular!", bem como outras expressões
semelhantes, despertaram-me a curiosidade. Aproximei-me e vi, como se gravada em
baixo-relevo sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco. A imagem
era de uma exatidão verdadeiramente maravilhosa. Havia uma corda em torno do
pescoço do animal.
4. pietro nassetti
Não pretendo estabelecer relação nenhuma entre causa e efeito - entre o desastre e
a atrocidade por mim cometida. Mas estou descrevendo uma seqüência de fatos, e não
desejo omitir nenhum dos elos dessa cadeia de acontecimentos. No dia seguinte ao
do incêndio, fui ver as ruínas. Com exceção de uma, todas as paredes tinham
desmoronado. Essa única exceção era constituída por um fino tabique interior,
localizado no meio da casa, junto ao qual estava a cabeceira de minha cama. O
reboco havia aí, em grande parte, resistido à ação do fogo — coisa que supus
relacionar-se ao fato de ter sido ele construído recentemente. Densa multidão se
reunira em torno dessa parede, e muitas pessoas observavam, com especial atenção e
minuciosidade, uma parte dela. As palavras "estranho!", "singular!", e outras
expressões semelhantes, despertaram-me a curiosidade. Aproximei-me e vi, como se
gravada em baixo-relevo sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco.
A imagem era de uma exatidão verdadeiramente assombrosa. Havia uma corda em torno
do pescoço do animal.
II.
Although I thus readily accounted to my reason, if not altogether to my
conscience, for the startling fact just detailed, it did not the less fail to make
a deep impression upon my fancy. For months I could not rid myself of the phantasm
of the cat; and, during this period, there came back into my spirit a half-
sentiment that seemed, but was not, remorse. I went so far as to regret the loss
of the animal, and to look about me, among the vile haunts which I now habitually
frequented, for another pet of the same species, and of somewhat similar
appearance, with which to supply its place.
2. guilherme braga
Conquanto eu pudesse, assim, esclarecer a meu juízo, se não de todo à minha
consciência, o estranho fato detalhado, este não deixou de causar uma impressão
profunda em minha imaginação. Por meses o fantasma do gato me assombrou; e,
durante esse período, insinuou-se em meu espírito um sentimento difuso que
parecia, mas não era, remorso. Cheguei ao ponto de lamentar a perda do animal e
pus-me a procurar, nos estabelecimentos infames que eu então frequentava, um outro
da mesma espécie e de aparência semelhante, para que assumisse o seu lugar.
3. brenno silveira
Embora isso satisfizesse prontamente minha razão, não conseguia fazer o mesmo, de
maneira completa, com minha consciência, pois o surpreendente fato que acabo de
descrever não deixou de causar-me, apesar de tudo, profunda impressão. Durante
meses, não pude livrar-me do fantasma do gato e, nesse espaço de tempo, nasceu em
meu espírito uma espécie de sentimento que parecia remorso, embora não o fosse.
Cheguei, mesmo, a lamentar a perda do animal e a procurar, nos sórdidos lugares
que então freqüentava, outro bichano da mesma espécie e de aparência semelhante
que pudesse substituí-lo.
4. pietro nassetti
se bem que isso satisfizesse prontamente minha razão, não conseguia fazer o mesmo,
de maneira completa, com minha consciência, pois o surpreendente acontecimento que
acabo de narrar não deixou de causar-me, apesar de tudo, profunda impressão.
Durante meses, não pude livrar-me do fantasma do gato e, nesse intervalo de tempo,
nasceu em meu espírito uma espécie de sentimento que parecia remorso, embora não o
fosse. Cheguei realmente a lamentar a perda do animal e a procurar, nos sórdidos
lugares que então freqüentava, outro gato da mesma espécie e de aparência
semelhante que pudesse substituí-lo.
III.
Finally, I hit upon what I considered a far better expedient than either of these.
I determined to wall it up in the cellar — as the monks of the middle ages are
recorded to have walled up their victims.
For a purpose such as this the cellar was admirably adapted. Its walls were
loosely constructed, and had lately been plastered throughout with a rough
plaster, which the dampness of the atmosphere had prevented from hardening.
Moreover, in one of the walls was a projection, caused by a false chimney, or
fire-place, that had been filled, or walled up, and made to resemble the rest of
the cellar. I made no doubt that I could readily displace the bricks at this
point, insert the corpse, and wall the whole up as before, so that no eye could
detect any thing suspicious.
2. guilherme braga
Por fim, decidi valer-me de um expediente que julguei muito mais apropriado que
qualquer um desses. Resolvi emparedar o corpo no porão – como os monges da Idade
Média emparedavam suas vítimas, segundo atestam documentos.
O porão prestava-se bem a esse fim. As paredes não eram muito sólidas e
recentemente haviam sido recobertas com um reboco grosseiro, que a umidade das
paredes não deixara secar. Ademais, em uma das paredes via-se uma projeção,
motivada por uma falsa chaminé, ou lareira, que fora fechada de modo a confundir-
se com o restante da estrutura. Não tive dúvidas de que poderia deslocar os
tijolos da projeção, depositar o corpo lá dentro e cimentar tudo outra vez, de
modo que ninguém detectasse nenhum elemento suspeito.
3. brenno silveira
Finalmente, tive uma idéia que me pareceu muito mais prática: resolvi emparedá-lo
na adega, como faziam os monges da Idade Média com as suas vítimas.
Aquela adega se prestava muito bem para tal propósito. As paredes não haviam sido
construídas com muito cuidado e, pouco antes, haviam sido cobertas, em toda a sua
extensão, com um reboco que a umidade impedira de endurecer. Ademais, havia uma
saliência numa das paredes, produzida por alguma chaminé ou lareira, que fora
tapada para que se assemelhasse ao resto da adega. Não duvidei de que poderia
facilmente retirar os tijolos naquele lugar, introduzir o corpo e recolocá-los do
mesmo modo, sem que nenhum olhar pudesse descobrir nada que despertasse suspeita.
4. pietro nassetti
Finalmente, tive uma idéia que me pareceu muito mais prática: resolvi emparedá-lo
na adega, como faziam os monges da Idade Média com as suas vítimas.
Aquela adega se prestava muito bem para tal propósito. As paredes não haviam sido
construídas com muito esmero e, pouco antes, haviam sido cobertas, em toda a sua
extensão, com um reboco que a umidade impedira de endurecer. De resto, havia uma
saliência numa das paredes, produzida por alguma chaminé ou lareira, que fora
tampada para que se assemelhasse ao resto da adega. Não duvidei de que poderia sem
nenhuma dificuldade retirar os tijolos naquele lugar, colocar o corpo e deixá-los
do mesmo modo, sem que nenhum olhar pudesse avistar nada que despertasse suspeita.
imagem: http://copycat.lidonet.com
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DENISE BOTTMANN
VISUALIZAR MEU PERFIL COMPLETO
o juiz deu ganho de causa à rideel como vítima de contrafação e aos dois autores
do mapa como vítimas de lesão a seus direitos morais.
fico imaginando: se a rideel, como detentora dos direitos de tradução das obras de
seu catálogo, descobrisse que alguma delas foi integralmente copiada e publicada
por outra editora, mas com a autoria da tradução atribuída a outrem, o que será
que ela faria?
também achei muito engraçada a nota de tradução que aparece no mesmo conto:
agora, o silver blaze do original virar silver star em português é algo que
ultrapassa meu entendimento.
imagem: capa
no brasil, uma obra passa a fazer parte do patrimônio cultural da sociedade apenas
setenta anos após a morte de seu autor. acho uma barbaridade de tempo, mas é assim
que é. com isso, o famoso prefácio de clóvis beviláqua (1859-1944) a a luta pelo
direito ainda não está em domínio público, e só é possível reproduzi-lo para fins
comerciais com a autorização de seus sucessores.
é o que imagino que a pillares tenha feito - isto é, obtido a licença da família
de beviláqua para publicar seu prefácio. o difícil de entender é a razão pela qual
a tradução pela pillares, sendo idêntica à de josé tavares bastos, aparece em nome
do jurista ivo de paula, mestre em leis e autor de várias obras jurídicas.
2. ivo de paula
CAPÍTULO I
Introdução
O Direito é uma idéia prática, isto é, designa um fim, e, como toda a idéia de
tendência, é essencialmente dupla, porque contém em si uma antítese, o fim e o
meio.
Não é suficiente investigar o fim, deve-se também saber o caminho que a ele
conduz.
Eis duas questões para as quais o Direito deve sempre procurar uma solução,
podendo-se dizer que o direito não é, no seu conjunto e em cada uma das suas
divisões, mais que uma resposta constante a essa dupla questão.
Não há um só título, por exemplo o da propriedade ou o das obrigações, em que a
definição [] seja imprescindivelmente dupla e nos diga o fim que propõe e os meios
para atingi-lo. Mas o meio, por mais variado que seja, reduz-se sempre a uma luta
contra a injustiça.
A ideia do Direito encerra uma antítese que se origina desta ideia, da qual jamais
se pode, absolutamente, separar: a luta e a paz; a paz é o termo do direito, a
luta é o meio de obtê-lo.
2. ivo de paula
Poder-se-á objetar que a luta e a discórdia são precisamente o que o Direito se
propõe a evitar, porquanto semelhante estado de coisas implica uma perturbação,
uma negação da ordem legal, e não uma condição necessária de sua existência.
A objeção seria procedente se se tratasse da luta da injustiça contra o Direito;
ao contrário, trata-se aqui da luta do Direito contra a injustiça. Se, neste caso,
o Direito não lutasse, isto é, se não resistisse vigorosamente contra ela,
renegar-se-ia a si mesmo.
Esta luta perdurará tanto quanto o mundo, porque o Direito terá de precaver-se
sempre contra os ataques da injustiça.
A luta não é, pois, um elemento estranho ao Direito, mas sim uma parte integrante
de sua natureza e uma condição de sua idéia.
Todo direito no mundo foi adquirido pela luta; esses princípios de Direito que
estão hoje em vigor têm sido indispensáveis na [sic] luta contra aqueles que não
os aceitavam; assim, todo o direito, tanto o de um povo, como o de um indivíduo,
pressupõe que estão o indivíduo e o povo dispostos a defendê-lo.
2. ivo de paula
Observa-se facilmente que a nossa teoria se ocupa muito mais com a balança do que
com a espada da justiça.
A estreiteza do ponto de vista puramente científico com que se encara o direito, e
que é onde se ostenta menos o seu lado real, como ideia de força, do que pelo seu
lado racional, como um conjunto de princípios abstratos, tem dado, julgamos, a
todo esse modo de encarar a questão, uma feição que não está [] em harmonia com a
amarga realidade. A defesa da nossa tese o provará.
O direito contém, como é sabido, um duplo sentido: o sentido objetivo que nos
oferece o conjunto de princípios de direito em vigor; a ordem legal da vida; e o
sentido subjetivo, que é, por assim dizer, o precipitado da regra abstrata no
direito concreto da pessoa.
Nessas duas direções o direito depara com uma resistência que deve vencer, e, em
ambos os casos, deve triunfar ou manter a luta.
2. ivo de paula
E é deste desenvolvimento interno que [] derivam todos os princípios de direito,
que os arestos análogos e igualmente motivados interpõem pouco a pouco nas
relações jurídicas, como as abstrações, os corolários, as regras que a ciência
aufere do direito existente, por meio do raciocínio, e põe logo em evidência.
Porém, o poder destes dois agentes, as relações e a ciência, é limitado; pode
dirigir o movimento nos limites fixados pelo direito existente, impeli-lo, mas não
lhe[] é dado romper os diques que impedem as águas de tomarem um novo curso.
Somente a lei, isto é, a ação voluntária e determinada do poder público, é que tem
essa força, e não por acaso, mas em virtude de uma necessidade, que está na
natureza íntima do direito, porquanto todas as reformas introduzidas no processo e
no direito positivo se originam das leis.
Certo que pode acontecer que uma modificação feita pela lei no direito existente
seja puramente abstrata, que sua influência esteja limitada a esse mesmo direito,
sem se notar no domínio das relações concretas se foram estabelecidas sobre a base
do direito até então em vigor; neste caso, o fato é como uma reparação puramente
mecânica, que consiste em substituir um para¬fuso ou uma roda qualquer usada por
outra melhor. Muitas vezes acontece que uma modificação não [] pode operar sem
ferir ou lesar profundamente direitos existentes e interesses privados; porque os
interesses de milhares de indivíduos e de classes inteiras estão de tal modo
identificados com o direito no curso dos tempos, que não é possível modificar
aquele sem sentirem vivamente tais interesses.
Se colocarmos, então, o princípio do direito ao lado do privilégio, declara-se por
esse fato só a guerra a todos os interesses, tenta-se extirpar um pólipo que
agarra com todos os seus tentáculos.
Está no instinto da conservação pessoal que os interesses ameaçados a mais
violenta resistência oponham a toda [] tentativa de tal natureza, dando vida a uma
luta que, como qualquer outra, não será resolvida pelos raciocínios, mas pelas
forças nela empenhadas, produzindo frequentemente o mesmo resultado que o
paralelogramo das forças: o desvio das linhas retas componentes em uma diagonal.
isso parece indicar que a editora resolveu dar uma espiada mais atenta nesses seus
títulos.
quanto às obras aqui cotejadas, a luta pelo direito, de rudolf von ihering [veja
aqui] agora consta como esgotada nas principais livrarias com acervo online. isso
parece indicar que o livro não está mais em circulação. por outro lado, o volume
que traz acerca da verdade e da mentira [veja aqui] e o anticristo [veja aqui], de
nietzsche, na pretensa tradução de heloísa da graça burati, ainda continua à venda
em diversas livrarias, por exemplo na fnac.
immanuel kant
sobre um suposto direito de mentir
por amor à humanidade
* na troca de "verdade" por "veracidade", leopoldo holzbach não levou em conta que
kant estabelece logo abaixo a clara distinção entre wahrheit e wahrhaftigkeit.
deve-se observar, antes de mais nada, que a expressão "ter direito à verdade"
carece de sentido. deve-se, pelo contrário, dizer que o homem tem direito à sua
própria veracidade (veracitas), isto é, à verdade subjetiva em sua pessoa. pois
ter direito objetivamente a uma verdade significaria o mesmo que afirmar a
dependência em relação à sua vontade, como em geral nas questões sobre o meu e o
teu, que uma dada proposição deva ser verdadeira ou falsa, o que resultaria em uma
estranha lógica. (pp. 123-24)
imagem: www.haznos.org
em por quê? e até quando? deplorei o caminho tomado pela editora rideel, ao
publicar em 2005 uma cópia praticamente idêntica da vetusta tradução de josé
tavares bastos (c. 1909), atribuindo-a, porém, a heloísa da graça buratti.
CAPÍTULO I
Introdução
[...] O direito é o trabalho sem tréguas, e não somente o trabalho dos poderes
públicos, mas sim o de todo o povo. Se passarmos um golpe de vista em toda a sua
história, esta nos apresenta nada menos que o espetáculo de uma nação inteira
despendendo ininterruptamente para defender o seu direito penosos esforços, como
os que ela emprega para o desenvolvimento de sua atividade na esfera da produção
econômica e intelectual.
Todo aquele que tem em si a obrigação de manter o seu direito, participa neste
trabalho nacional e contribui na medida de suas forças para a realização do
direito sobre a terra.
2. heloísa da graça buratti
I - Introdução
[...] O direito é um trabalho sem tréguas, não somente [] dos poderes públicos,
mas sim de todo o povo. Se passarmos um golpe de vista em toda a sua história,
esta nos apresenta nada menos que o espetáculo de uma nação inteira despendendo
ininterruptamente penosos esforços para defender o seu direito, como os que ela
emprega para o desenvolvimento de sua atividade na esfera da produção econômica e
intelectual. Todo aquele que tem em si a obrigação de manter o seu direito,
participa desse trabalho nacional e contribui, na medida de suas forças, para a
realização do direito sobre a terra.
CAPÍTULO II
O interesse na luta pelo direito
E assim como não é somente para defender um pedaço de terra, mas sim sobretudo a
sua existência, sua independência e honra - que um povo lança mão das armas; de
modo semelhante nas ações e nos pleitos judiciais, em que existe uma grande
desproporção entre o valor do objeto e os sacrifícios de qualquer natureza que
neles é mister despender, não se vai demandar, não se litiga pelo valor
insignificante talvez do objeto, mas sim por um motivo ideal, a defesa da pessoa e
do seu sentimento pelo direito.
Quando o que litiga se propõe semelhante fim e vai guiado por tais sentimentos,
não há sacrifício nem esforço que tenha para si peso algum, porquanto vê no fim
que quer atingir a recompensa de todos os meios que emprega.
Não é o interesse material vulnerado que impele o indivíduo que sofre tal lesão a
exigir uma satisfação, mas sim a dor moral que lhe causa a injustiça de que é
vítima.
A grande questão para ele não é a restituição do objeto, que muitas vezes é doado
a uma instituição de beneficência, a que o pode impelir a litigar; o que mais
deseja é que se lhe reconheça o seu direito. [...]
Resistir à injustiça é um dever do indivíduo para consigo mesmo, porque é um
preceito da existência moral; é um dever para com a sociedade, porque esta
resistência não pode ser coroada com o triunfo, senão quando for geral.
CAPÍTULO III
A luta pelo direito na esfera individual
Aquele que for atacado em seu direito deve resistir; — é um dever para consigo
mesmo.
A conservação da existência é a suprema lei da criação animada, por quanto ela se
manifesta instintivamente em todas as criaturas; porém a vida material não
constitui toda a vida do homem; tem ainda que defender sua existência moral que
tem por condição necessária o direito: é, pois, a condição de tal existência que
ele possui e defende com o direito.
O homem sem direito desce ao nível dos brutos, assim os Romanos não faziam mais do
que deduzir uma lógica conseqüência desta idéia, quando colocavam os escravos,
considerados sob o ponto de vista do direito abstrato, ao nível do animal.
Temos, pois, o dever de defender nosso direito, porque nossa existência moral está
direta e essencialmente ligada à sua conservação; desistir completamente da
defesa, o que atualmente não é muito prático, porém que poderia ter lugar,
equivaleria a um suicídio moral.
CAPÍTULO IV
A luta pelo direito na esfera social
[...] Enquanto a realização prática do direito público e do penal está assegurada,
porque está imposta como um dever aos funcionários públicos, a do direito privado
apresenta-se aos particulares sob a forma de direito, isto é, por completo
abandonada a sua prática à sua livre iniciativa e à sua própria atividade.
O direito não será letra morta e realizar-se-á no primeiro caso se as autoridades
e os funcionários do Estado cumprirem com o seu dever, no segundo, se os
indivíduos fizerem valer os seus direitos.
Mas, se por qualquer circunstância, por comodidade, por ignorância ou por medo,
estes últimos ficarem longo tempo inativos, o princípio legal perderá por esse
fato o seu valor.
As disposições do direito privado podemos, pois, dizer, não existem na realidade e
não têm força prática, senão na medida em que se fazem valer os direitos
concretos; e, se é certo que estes devem sua existência à lei, não é menos certo
que por outra parte eles lha restituem.
A relação que existe entre o direito objetivo e o subjetivo ou abstrato e concreto
assemelha-se à circulação do sangue, que partindo do coração aí de novo volta.
CAPÍTULO V
O direito alemão e a luta pelo direito
[...] A luta é o trabalho eterno do direito.
Se é uma verdade dizer: — Comerás o teu pão com o suor da tua fronte, — não o é
menos acrescentar também: — É somente lutando que obterás o teu direito.
Desde o momento em que o direito não está disposto a lutar sacrifica-se, e assim
podemos aplicar-lhe a sentença do poeta:
É a última palavra da sabedoria
Que só merece a liberdade e vida
Aquele que cada dia sabe ganhá-las.
quando saiu numa comunidade do orkut uma notícia de plágio de ivanhoé, quando
saíram aquelas famosas matérias do jornal opção e da folha de s.paulo, e então
comecei a pesquisar o tema, não fazia ideia da extensão que o plagiato de
traduções no brasil tinha adquirido nos últimos quinze anos. eu sabia de alguns
casos avulsos, como a editora germinal; quanto à nova cultural, foi um choque
descobrir o que vinha ocorrendo desde 1995, e que adquiriu uma dimensão fantástica
em 2002/2003 com o patrocínio da suzano celulose e da ong ecofuturo; sobre a
martin claret, já corriam vários boatos e em abril ou maio do ano passado comecei
a pesquisar um pouco suas edições. até o começo de 2009 eu achava que esse
fenômeno em escala industrial estava restrito à editora nova cultural e à editora
martin claret - que, juntas, respondem por milhões e milhões de exemplares
fraudados presentes em lares, escolas, bibliotecas, instituições públicas e
privadas de norte a sul do país.
quanto à landmark e à jardim dos livros, embora ainda devam satisfações ao público
e ressarcimento aos leitores lesados, tenho a impressão de que interromperão essa
prática sem maiores traumas, e até por interesse próprio: a landmark trilhou essa
senda escusa em dois títulos, é uma editora pequena, seus donos parecem alimentar
pretensões políticas no mundo do livro, certamente não quererão ter um tal telhado
de vidro. a jardim dos livros, também pequena, agora é selo editorial do grupo
geração, ao lado da editora leitura e da geração editorial, e não creio que seus
novos sócios se interessem em preservar tais práticas.
é com muita tristeza que reservo o próximo post para mais um caso da rideel,
também em nome de "heloísa da graça burati". (para os outros casos da editora
rideel, ver aqui e aqui.)
as mais das vezes, costumam aqueles que desejam granjear as graças de um príncipe,
trazer-lhe os objetos que lhe são mais caros, ou com os quais o vêem deleitar-se;
assim, muitas vezes, eles são presenteados com cavalos, armas, tecidos de ouro,
pedras preciosas e outros ornamentos dignos de sua grandeza. desejando eu oferecer
a vossa magnificência um testemunho qualquer da minha obrigação, não achei, entre
os meus cabedais, coisa que me seja mais cara ou que tanto estime, quanto o
conhecimento das ações dos grandes homens apreendido por uma longa experiência das
coisas modernas e uma contínua lição das antigas; as quais, tendo eu, com grande
diligência, longamente cogitado, examinando-as, agora mando a vossa magnificência,
reduzidas a um pequeno volume. e conquanto julgue indigna esta obra da presença de
vossa magnificência, não confio menos em que, por humanidade desta, deva ser
aceita, considerado que não lhe posso fazer maior presente que lhe dar a faculdade
de poder em tempo muito breve aprender tudo aquilo que, em tantos anos e à custa
de tantos incômodos e perigos, hei conhecido.
as mais das vezes, costumam aqueles que desejam granjear as graças de um príncipe
trazer-lhe os objetos que lhes são mais caros, ou com os quais o vêem deleitar-se;
assim, muitas vezes, eles são presenteados com cavalos, armas, tecidos de ouro,
pedras preciosas e outros ornamentos dignos de sua grandeza. desejando eu oferecer
a vossa magnificência um testemunho qualquer da minha obrigação, não achei, entre
os meus cabedais, coisa que me seja mais cara ou que tanto estime quanto o
conhecimento das ações dos grandes homens apreendido por uma longa experiência das
coisas modernas e uma contínua lição das antigas; as quais, tendo eu, com grande
diligência, longamente cogitado, examinando-as, agora mando a vossa magnificência,
reduzidas a um pequeno volume.
e conquanto julgue indigna esta obra da presença de vossa magnificência, não
confio menos em que, por sua humanidade, deva ser aceita, considerado que não lhe
posso fazer maior presente que lhe dar a faculdade de poder em tempo muito breve
aprender tudo aquilo que, em tantos anos e à custa de tantos incômodos e perigos,
hei conhecido.
imagem: www.defesabr.com
no post scienza nuova eu havia saudado a publicação de uma seleta dos princípios
de ciência nova, de giambattista vico, pela ícone. chegou o volume que encomendei.
na ficha catalográfica do livro consta "título original: the first new science", e
na página de rosto consta "tradução do texto original italiano: principii di
scienzia [sic] nuova", "tradutor: professor sebastião josé roque".
e a dissertação traz também uma raridade, coisa que tanta gente se perguntava:
quem é pietro nassetti?
"Anexo J – Biografia de Pietro Nassetti
Pietro Nassetti nasceu em Parma, Itália, no final da 2ª. Guerra Mundial. Aos 23
anos emigrou para o Brasil, morou em São Paulo, onde se formou em odontologia pela
Universidade de São Paulo. Abriu um consultório na região do ABC paulista. Foi um
pesquisador de terapias holísticas. Na década de 80 entrou em contato com a
filosofia univérsica, uma visão de mundo holística criada pelo brasileiro Huberto
Rohden. A partir de 1996 começou a realizar trabalhos de tradução para a Editora
Martin Claret, principalmente do italiano, inglês e francês. Faleceu após longa
enfermidade em janeiro de 2005.
Informações fornecidas por Rosana Citino, Assistente Editorial, via internet, em
26/08/2005."
sua primeira tradução para o português foi feita por joão vieira de araújo, da
chamada escola de recife, e publicada em 1885. depois saiu outra, feita por josé
tavares bastos, com prefácio de clóvis beviláqua (não sei a data certa, mas o
prefácio traz o ano de 1909). aqui na frase do dia já tem uma canja do tavares
bastos.
também em 1909 saiu em portugal uma tradução feita por joão de vasconcellos. a
principal diferença em relação às duas traduções brasileiras é que essa tradução
portuguesa tomou como base o original revisto por ihering em 1888, que eliminava
os parágrafos iniciais e trazia um prefácio todo sério, mas também muito simpático
e espirituoso. (depois, na edição de 1891, ele vai fazer alguns acréscimos finais
no próprio prefácio, muito bonitos, uma homenagem póstuma a uma amiga, frau
auguste von littrow-bischoff.)
a tradução mais corrente no brasil, seja lá por que razão for, é justamente essa
portuguesa de joão de vasconcellos (também grafado como joão de vasconcelos ou
joão vasconcelos), em incontáveis reedições pela forense. a de tavares bastos
também é bastante conhecida, até por conta da apresentação de beviláqua e da
inclusão do longo prefácio de leopoldo alas à edição espanhola - hoje em dia está
disponível para download. curiosamente, a tradução de joão vieira, nome importante
na história do pensamento jurídico brasileiro, aliás citada pelo próprio ihering
no prefácio de 1891 e que está em domínio público faz um tempão, não se encontra
disponível para download nem no portal do mec.
existem outras ainda, assinadas por: vicente sabino jr.; henrique de carvalho;
joão cretella jr. e agnes cretella; roberto de bastos léllis; richard paul neto;
mário de méroe; silvio donizete chagas; ricardo rodrigues gama; edson bini; ivo de
paula; pietro nassetti; heloísa da graça burati.
esse introitozinho é porque na semana que vem vou apresentar umas duas ou três
traduções (?) de a luta pelo direito publicadas em data recente.
www.cptl.ufms.br/ded/EncontroLetrasI/html/PDF/PDF%20ARTIGOS/221a.pdf
www.filologia.org.br/revista/37/03.htm
http://ceul.ufms.br/ded/EncontroLetrasI/html/PDF/PDF%20ARTIGOS/241a.pdf
www.michelangelo.edu.br/scripts/sqlweb/sysbweb.exe/busca_html?alias...%22MARTIN%20
CLARET%22/...
www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a213689
7.xml
www.colegiopentagono.g12.br/lista2008/lista_material_8_ano.pdf
http://www2.pucpr.br/reol/index.php/PA?dd1=442&dd99=pdf
www.bce.unb.br/documentos/Boletimv1n3-2009.pdf
www.michelangelo.edu.br/scripts/sqlweb/sysbweb.exe/dados_completos_html?codigo=449
4&alias=sysbibli
http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2405 --
imagem: www.shillpages.com
duas obras de tradução tinham me deixado meio confusa: memórias de sherlock holmes
e aventuras de sherlock holmes, de conan doyle, publicadas pela editora martin
claret, sendo que pelo menos uma delas lhe teria sido supostamente licenciada pela
editora melhoramentos.
mas não, não é isso não. ontem recebi mensagem da editora melhoramentos,
explicando que:
que bom, um mistério a menos. o sr. joaquim machado e o sr. carlos chaves podem
continuar em paz, com seus direitos devidamente protegidos pela editora
melhoramentos, à qual agradeço a gentileza em atender a uma leitora perplexa.
agora é torcer para que a editora martin claret, por seu lado, desvende para nós
leitores os mistérios sherlockianos de john green e jean melville.
imagem: www.ontariocondolaw.com
“A thing such as thou”: a representação dos personagens negros nas traduções das
obras de William Shakespeare para o português do Brasil , dissertação de mestrado
de márcia paredes nunes apresentada ao departamento de letras da puc-rio em março
de 2007, é uma cuidadosa análise comparada de diferentes traduções brasileiras de
três obras de shakespeare.
a autora traça um perfil de cada tradutor analisado, com uma ressalva no caso de
jean melville: "Infelizmente não foi possível localizar informações a respeito de
Jean Melville, além dos títulos de livros traduzidos que constam no site da
editora [martin claret]. Embora contactada, esta não forneceu dados sobre o
tradutor".
IAGO
He, in good time, must his Lieutenant be,
And I - God bless the mark!- his Moorship's Ancient. (I. i. 32-3)
As traduções são as seguintes:
1. Onestaldo de Pennafort
Valha-me Deus! Alfeireiro, só, de Sua Senhoria Amoriscada.
2. Carlos Alberto Nunes
vai tornar-se tenente, enquanto que eu – Deus me perdoe! – continuarei sendo do
Mouro o alferes.
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Ele, em troca, esse fazedor de adições, será tenente quando o momento chegar; e eu
continuo alferes (Deus bendiga o título!) de Sua Senhoria Moura.
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Ele é que na hora certa, deverá ser o lugar-tenente, e eu, Deus nos valha! o
alferes de Sua Senhoria, o Mouro.
5. Barbara Heliodora
Pois ele, agora, é que será tenente, E eu, por Deus, alferes do ilustríssimo.
6. Beatriz Viégas-Faria
E eu… Deus abençoando minha boa mira!..., continuo sendo o alferes de sua
majestade, o Mouro.
7. Jean Melville
Ele, em troca, será tenente quando o momento chegar; e eu continuo alferes (Deus
bendiga o título!) de Sua Senhoria Moura.
RODERIGO.
What a full fortune does the thick-lips owe,
If he can carry’t thus! (I. ii. 67-8)
O trecho foi traduzido da seguinte forma:
1. Onestaldo de Pennafort
RODRIGO (distraído) Que sorte a dele, então, se com aquelas beiçolas, consegue
abocanhá-la!
2. Carlos Alberto Nunes
Que sorte a desse tipo de lábios grossos, se puder, realmente, levar isso até o
fim.
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Que sorte sem igual terá o homem de lábios grossos, se conseguir levar assim essa
vantagem!
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Grande sorte a daquele beiços grossos se puder alcançar vitória em tudo.
5. Barbara Heliodora
Mas que sorte total tem o beiçudo, Se ganha esta!
6. Beatriz Viégas-Faria
Se conseguir sair ileso dessa, o Lábios Grossos vai ficar devendo sua sorte ao
destino.
7. Jean Melville
Que sorte sem igual terá o homem de lábios grossos, se ganha esta!
IAGO. ‘Zounds, sir, you’re robb’d! For shame, put on your gown;
Your heart is burst, you have lost half your soul;
Even now, now, very now, an old black ram
Is tupping your white ewe. Arise, arise!
Awake the snorting citizens with the bell,
Or else the devil will make a grandsire of you.
Arise, I say! (I. 87-93)
Apresentamos agora as versões:
1. Onestaldo de Pennafort
Agora, neste instante, agora mesmo, um velho carneiro negro está cobrindo a vossa
ovelhinha branca! De pé, de pé! Mandai tocar a rebate! Despertai os burgueses de
seu ronco! Rápido! Rápido! Enquanto o diabo, num esfregar de olhos, não vos faz um
neto!
2. Carlos Alberto Nunes
Agora mesmo, neste momento, um velho bode negro está cobrindo vossa ovelha branca.
Tocai o sino, para que despertem os cidadãos que roncam; do contrário, o diabo vos
fará ficar avô.
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Agora mesmo, neste instante, neste momento mesmo, um velho bode negro está
cobrindo vossa ovelha branca. De pé! De pé! Despertai ao som de um sino os
cidadãos que estão roncando, ou caso contrário, o diabo vai fazer de vós um avô.
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Agora, bem agora, agora mesmo, velho e negro carneiro está cobrindo a vossa ovelha
branca. Erguei-vos, ei, erguei-vos! Os cidadãos que roncam, despertai-vos com o
sino. Senão irá o demônio fazer de vós avô. Oh, digo, levantai-vos!
5. Barbara Heliodora
Neste momento um bode velho e preto cobre a sua ovelhinha; venha logo. Vá
despertar com o sino os que dormiam, senão o demo vai fazê-lo avô.
6. Beatriz Viégas-Faria
Neste instante mesmo, agora, agorinha, um bode preto e velho está cobrindo sua
ovelhinha. –Levantai-vos, rebelai-vos! – Acorde com o toque de sino os cidadãos
que ora roncam, pois do contrário o diabo vai lhe dar netos.
7. Jean Melville
Agora mesmo, neste momento, um bode velho e negro está cobrindo vossa ovelha
branca. Venha logo! Despertai ao som de um sino os cidadãos que dormem, ou caso
contrário, o diabo vai fazer de vós um avô.
IAGO. ‘Zounds, sir, you are one of those that will not serve God, if the
devil bid you. Because we come to do you service and you think we are
ruffians, you'll have your daughter covered with a Barbary horse;
you'll have your nephews neigh to you; you'll have coursers for cousins,
and jennets for germans. (I. I. 109-4)
Apresentamos agora as respectivas traduções:
1. Onestaldo de Pennafort
(...) o resultado é que vereis a vossa filha coberta por um cavalo da Berberia.
Quereis que os vossos netos relinchem para vos pedir a benção? Agrada-vos uma
parentela de corcéis e ginetes? 2. Carlos Alberto Nunes
(...) quereis que vossa filha seja coberta por um cavalo berbere e que vossos
netos relinchem atrás de vós? Quereis ter cordéis como primos e ginetes como
parentes?
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
(...) deixareis que vossa filha seja coberta por um cavalo da Barbaria? Estais
querendo ter netos que relincharão em vosso rosto! Acabareis tendo corcéis como
primos e ginetes como parentes.
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
(...) tereis vossa filha coberta por um cavalo da Barbaria, tereis vossos netos
rinchando para vós, tereis corcéis por descendência e ginetes por parentes.
5. Barbara Heliodora
(...) terá sua filha coberta por um garanhão da Barbaria; terá netos que
relincham, terá corcéis por primos e ginetes por consangüíneos.
6. Beatriz Viégas-Faria
(...) terá um cavalo berbere cobrindo sua filha; terá seus sobrinhos relinchando
para o senhor; terá corcéis por primos e ginetes por parentes.
7. Jean Melville
(...) deixareis que vossa filha seja coberta por um garanhão da Barbaria? Estais
querendo ter netos que relincham! Acabareis tendo corcéis como primos e ginetes
como parentes.
RODERIGO.
Your daughter, if you have not given her leave,
I say again hath made a gross revolt,
Tying her duty, beauty, wit, and fortunes
In an extravagant and wheeling stranger
Of here and everywhere. (I. i. 134-8 )
As versões brasileiras são:
1. Onestaldo de Pennafort
Mas vossa filha, repito-o, se não lhe destes licença para tanto, cometeu uma grave
falta sacrificando honra, beleza, posição e nobreza, a um estrangeiro nômade, sem
eira nem beira.
2. Carlos Alberto Nunes
Vossa filha – de novo vos declaro – se não lhe destes permissão, mui grave pecado
cometeu, unindo o espírito, a beleza, o dever e seus haveres a um estrangeiro
andejo e desgarrado daqui e de toda parte.
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Vossa filha, se não a autorizastes, continuo dizendo, tornou-se culpada de grave
falta, sacrificando seu dever, sua beleza, seu engenho e sua fortuna a um
estrangeiro vagabundo e nômade, sem pátria e sem lar.
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Vossa filha, se não lhe destes vênia, repito-o, perpetrou grossa revolta, ligando
seu dever, beleza, espírito e sorte a um estrangeiro errante e instável, daqui e
de toda parte.
5. Barbara Heliodora
Sua filha (sem sua permissão, Repito) fugiu-lhe com baixeza, Ligando herança,
espírito e beleza A um estranho errante e extravagante, Sem rumo certo.
6. Beatriz Viégas-Faria
Sua filha, se é que não recebeu a sua permissão, digo-lhe mais uma vez, rebelou-se
de modo grosseiro, vinculando sua submissão, sua beleza, sua inteligência e seus
dotes a um estranho extravagante e errático tanto por aqui como em qualquer lugar.
7. Jean Melville
Vossa filha, se não a autorizastes, continuo dizendo, tornou-se culpada de grave
falta, sacrificando seu dever, sua beleza, seu espírito e sua herança a um
estrangeiro extravagante e nômade, sem pátria e sem lar.
IAGO. (…) And what delight will she have to look on the devil?” (II. i. 216):
As versões brasileiras são:
1. Onestaldo de Pennafort
E que prazer podem os seus olhos encontrar na contemplação desse bruxo?
2. Carlos Alberto Nunes
E que deleite poderá encontrar na contemplação do demônio?
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
E que prazer pode encontrar olhando para o demônio?
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
E que deleite tem ela para olhar no demônio?
5. Barbara Heliodora
E que prazer terá ela em olhar para o diabo?
6. Beatriz Viégas-Faria
E que deleite pode lhe advir de encarar o demônio?
7. Jean Melville
E que prazer pode encontrar olhando para o diabo?
IAGO: Come, lieutenant, I have a stoup of wine, and here without are a
brace of Cyprus gallants, that would fain have a measure to the health
of the black Othello. (II. iii. 25-7)
Vejamos as traduções:
1. Onestaldo de Pennafort
Vamos, meu tenente, tenho ali um canjirão de vinho e, lá fora, uns amigos aqui de
Chipre que, de bom grado, molhariam a garganta conosco para um brinde ao negro
Otelo.
2. Carlos Alberto Nunes
Vamos, tenente; tenho um quartal de vinho e aí fora um par de galantes chipriotas
que de bom grado beberiam à saúde do negro Otelo.
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Vamos, tenente, tenho um cântaro de vinho e, lá fora, estão esperando uns galantes
cipriotas que ficariam bem contentes, se pudessem beber à saúde do negro Otelo.
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Vamos, lugar-tenente, eu tenho duas quartas de vinho e esperando do lado de fora
há um par de bravos cipriotas que beberiam de bom grado à saúde do negro Otelo.
5. Barbara Heliodora
Vamos, tenente, eu tenho um garrafão de vinho, e aqui fora há um par de galantes
de Chipre que gostariam de beber um gole à saúde do negro Otelo.
6. Beatriz Viégas-Faria
Venha, tenente, tenho uma garrafa de vinho. E lá fora estão um punhado de galantes
cipriotas que de bom grado tomariam uma dose à saúde do negro Otelo.
7. Jean Melville
Vamos, tenente, tenho um cântaro de vinho e, lá fora, estão esperando amigos de
Chipre que gostariam de beber à saúde do negro Otelo.
OTHELLO.
Haply for I am black
And have not those soft parts of conversation
That chamberers have; or for I am declined
Into the vale of years- yet that’s not much - (III. iii.260-3)
Comparando as traduções, temos:
1. Onestaldo de Pennafort
Talvez por eu ser negro e não ter o falar adocicado e as maneiras suaves dos
galantes da corte... Ou quem sabe porque já vou descendo o vale inclinado dos
anos.... Mas por tão pouco
2. Carlos Alberto Nunes
Porque sou negro e de fala melíflua não disponho qual petimetre, ou porque já me
encontro no declive da idade – mas não tanto —
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Talvez porque seja negro e não tenha na conversação as formas flexíveis dos
intrigantes, ou então, porque esteja descendo o vale dos anos (embora nem tanto
assim)
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Talvez por eu ser negro e sem as qualidades agradáveis de fala e de maneiras a
serviço dos homens elegantes ou porque declinei no vale já dos anos, embora ainda
não muito,
5. Barbara Heliodora
Quiçá por ser eu preto, E faltar-me as artes da conversa Dos cortesãos, ou por
estar descendo Para o vale dos anos – mas nem tanto ...
6. Beatriz Viégas-Faria
Talvez porque sou negro, e não tenho em mim aquelas partes suaves do diálogo que
têm os galanteadores, ou talvez porque já me encontro no outono da maturidade...
contudo, ainda longe do inverno da velhice...
7. Jean Melville
Talvez porque seja negro e não tenha na linguagem as formas flexíveis dos
cortesãos, ou então porque esteja descendo o vale dos anos (embora nem tanto)...
OTHELLO
I’ll have some proof. Her name, that was as fresh
As Dian’s visage, is now begrimed and black
As mine own face. (III. iii.387-9)
Os tradutores apresentaram as seguintes versões para a fala:
1. Onestaldo de Pennafort
Quem me dera uma prova! O nome dela, que antes era límpido como a face de Diana,
se enegreceu como o meu próprio rosto.
2. Carlos Alberto Nunes
O nome dela, que era tão singelo como o rosto de Diana, ora se encontra como o meu
próprio rosto: negro e sujo.
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
O nome dela, que era puro como o rosto de Diana, está agora embaciado e negro como
meu rosto...
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Meu nome, que era tão viçoso como o rosto De Diana, está agora conspurcado e negro
Como o meu próprio rosto.
5. Barbara Heliodora
Quero prova: meu nome era tão claro Como o de Diana casta; e ora é tão negro
Quanto o meu rosto:
6. Beatriz Viégas-Faria
O nome dela, antes puro como a face de Diana, vejo-o agora enegrecido, escuro como
meu próprio rosto.
7. Jean Melville
O nome dela, que era puro como o rosto de Diana, está agora negro como meu
rosto...
OTHELLO
Damn her, lewd minx! O, damn her!
Come, go with me apart; I will withdraw,
To furnish me with some swift means of death
For the fair devil. (III. iii. 476-8)
1. Onestaldo de Pennafort
Antes maldita seja! Maldita! descarada! dissoluta! Vamos lá para dentro. Quero
assentar contigo um meio fulminante de dar a morte àquele belo diabo.
2. Carlos Alberto Nunes
Que baixe para o inferno essa lasciva prostituta! Que baixe para o inferno! Fica à
parte comigo; retirar-me desejo, para refletir nalguma modalidade suave de
extermínio para esse belo diabo.
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Oh, que ela seja condenada! Vamos, afastemo-nos daqui! Vou retirar-me para
encontrar meios de morte rápidos para o encantador demônio.
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Que o inferno a leve, luxuriosa mulher à toa! O inferno a leve! A perdição a leve!
Vamos, vinde comigo à parte. Eu me retiro para munir-me de alguns meios rápidos de
morte para o belo diabo. 5. Barbara Heliodora
Maldita seja a rameira: maldita! Vamos, venha comigo e, em segredo Hei de achar
meios de matar depressa A bela infame.
6. Beatriz Viégas-Faria
Maldita seja ela, mulherzinha descarada, indecente e lasciva. Oh, maldita seja
ela! Vamos, acompanha-me, separemo-nos dos outros. Vou retirar-me para suprir
minha imaginação com alguns meios rápidos de morte para aquele lindo demônio (p.
102)
7. Jean Melville
Maldita seja a rameira! Oh, que ela seja condenada! Vamos embora daqui! Vou
retirar-me para encontrar meios de morte rápidos para a bela.
OTHELLO
This argues fruitfulness and liberal heart:
Hot, hot, and moist: this hand of yours requires
A sequester from liberty, fasting and prayer,
Much castigation, exercise devout;
For here’s a young and sweating devil here,
That commonly rebels. ‘Tis a good hand,
A frank one. (III. iv. 34-40)
As versões do trecho são agora apresentadas:
1. Onestaldo de Pennafort
Denota exuberância e prodigalidade e coração. Quente, quente e úmida! Esta mão
pede clausuras, jejuns e orações, mortificações e práticas devotas, porque está
aqui um diabrete que ao mesmo tempo arde e sua por se rebelar a todo momento. Uma
bela mão, aliás. E aberta!
2. Carlos Alberto Nunes
Isso revela desperdício e, em tudo coração liberal. Úmida e quente! Esses sinais
indicam que é preciso cercear a liberdade e, assim, impor-vos jejuns e rezas, pios
exercícios e mortificações, pois um demônio suarento aqui demora, que costuma
rebelar-se. A mão tendes muito boa,
muito franca, em verdade.
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Isto anuncia liberalidade e coração pródigo. Quente, quente e úmida! Esta mão
requer o seqüestro da liberdade, jejuns e orações, muita mortificação e exercícios
de devoção, pois nela existe um demônio jovem e suarento que comumente se rebela.
É uma boa mão, e também
franca.
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Isso indica fertilidade e um coração bondoso. Quente, úmida e quente. Vossa mão
requer Uma separação da liberdade; Jejum e prece austera, disciplina Devotos
exercícios. Pois aqui há um jovem diabo suado que ordinariamente Se rebela. É uma
boa mão. E livre.
5. Barbara Heliodora
Então é fértil, tem bom coração; Úmida e quente, a sua mão requer Muito controle,
preces e fastio, Com muita penitência e devoção; Pois um jovem demônio sua aqui,
Que tende à rebeldia. É uma mão boa. E franca.
6. Beatriz Viégas-Faria
Isso denuncia frutífera amorosidade e um coração liberal. Quente, quente e úmida.
Esta tua mão requer um seqüestro de tua liberdade; requer jejum e orações, muita
penitência, práticas piedosas, pois há aqui um demônio jovem que sua e transpira o
tempo todo um rebelde.
Esta é uma boa mão, de dedos francos.
7. Jean Melville
Então é fértil e tem bom coração. Quente, quente e úmida! Esta mão requer muito
controle, jejuns e preces, muita penitência e devoção, pois nela um demônio jovem
transpira e tende à rebeldia. É uma boa mão, e também franca.
OTHELLO:
O devil, devil!
If that the earth could teem with woman’s tears,
Each drop she falls would prove a crocodile. (IV. i. 234-6)
Apresentamos as versões brasileiras a seguir:
1. Onestaldo de Pennafort
Demônios! demônios! Se a terra pudesse ser fecundada por lágrimas de mulher, de
cada gota vertida brotaria um crocodilo.
2. Carlos Alberto Nunes
Oh, demônio! Demônio! Se, com lágrimas de mulher fosse a terra fecundada, cada
gota geraria um crocodilo.
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Ó demônio, demônio! Se as lágrimas de uma mulher pudessem fecundar a terra, cada
lágrima que ela deixasse cair viraria um crocodilo.
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Oh, que demônio! Demônio! Se com pranto de mulher Pudesse a terra se fertilizar
Cada gota por ela derramada Mostrar-se-ia um crocodilo.
5. Barbara Heliodora
Oh, demônio! Se co’esse pranto ela emprenhasse a terra, Gerava um crocodilo cada
lágrima.
6. Beatriz Viégas-Faria
Oh, demônio, demônio. Pudesse a terra ser fecundada por lágrimas femininas, de
cada gota por ela derramada nasceria um crocodilo.
7. Jean Melville
Ó demônio! Se as lágrimas de uma mulher pudessem fecundar a terra, cada lágrima
que ela deixasse cair geraria um crocodilo.
OTHELLO
Was this fair paper, this most goodly book,
Made to write “whore” upon? What committed! (IV. ii. 70-1)
Transcrevemos agora as versões:
1. Onestaldo de Pennafort
Pois esse pergaminho alvíssimo, esse livro tão precioso terá sido feito para
escrever-se nele “prostituta”?
2. Carlos Alberto Nunes
Teria sido feito um tão formoso papel, tão belo livro, para nele ficar escrito o
nome “Prostituta”?
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Esta página tão branca, este livro tão belo, foram feitos para que nele se
escrevesse a palavra “prostituta"?
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Este belo papel, este vistoso livro, Foram feitos para escrever “rameira” neles?
5. Barbara Heliodora
Mas foi feita essa página, ou esse livro, Para se escrever “puta”?
6. Beatriz Viégas-Faria
O papel mais alvo, o livro mais formoso foram feitos para que neles se escrevesse
a palavra "prostituta"?
7. Jean Melville
Esta página tão branca, este livro tão belo, foram feitos para que nele se
escrevesse a palavra “prostituta”?
O original inglês é:
EMILIA
O, the more angel she,
And you the blacker devil! (V. ii. 132-3)
As traduções são:
1. Onestaldo de Pennafort
Ela era um anjo tão certo com sois um diabo negro!
2. Carlos Alberto Nunes
Tanto mais anjo ela é por isso; e vós demônio negro.
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Oh, Por isto, mais anjo ela é e vós, mais negro demônio!
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Tanto mais anjo ela, E o mais negro demônio vós!
5. Barbara Heliodora
Mais anjo então é ela, E o senhor mais negro demo!
6. Beatriz Viégas-Faria
Oh! Isso a faz o mais anjo ainda, e faz do senhor o mais negro dos demônios!
7. Jean Melville
Oh! Por isto mais anjo ela é, e vós, mais negro demônio!
EMILIA
Thou dost belie her, and thou art a devil. (V. ii. 133)
O trecho foi reproduzido da seguinte forma:
1. Onestaldo de Pennafort
Isso é uma calúnia! E tu és um demônio!
2. Carlos Alberto Nunes
Não passas de um demônio a caluniá-la!
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Vós a estais caluniando! Sois um demônio!
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Tu a calunias, e tu és um demônio.
5. Barbara Heliodora
Isso é calúnia e o senhor um demônio!
6. Beatriz Viégas-Faria
Isso é calúnia, e tu és o demônio!
7. Jean Melville
Vós a estais caluniando! Sois um demônio!
Outra alusão, mas dessa vez a Otelo ser (ou ter sido) pagão, encontra-se na
descrição que Iago faz do General como “an erring barbarian” (I. iii. 343):
1. Onestaldo de Pennafort: barbaresco nômade
2. Carlos Alberto Nunes: bárbaro errático
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes: aventureiro bárbaro
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos: bárbaro errante
5. Barbara Heliodora: bárbaro errante
6. Beatriz Viégas-Faria: bárbaro pecador
7. Jean Melville: aventureiro bárbaro
DESDEMONA:
Well prais’d! How if she be black and witty? (II. i.130)
1. Onestaldo de Pennafort
Belo elogio! E qual o que farias De uma mulher morena e inteligente?
2. Carlos Alberto Nunes
Ótimo! E se for preta e espirituosa?
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Belo elogio! E se for uma dama morena e espirituosa?
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Bem louvado. Mas se ela for morena e esperta?
5. Barbara Heliodora
Muito bem! E se for escura e viva?
6. Beatriz Viégas-Faria
Elogio muito bem feito! E se for negra e esperta?
7. Jean Melville
Belo elogio! E se for uma dama morena e espirituosa?
IAGO:
If she be black, and thereto have a wit,
She’ll find a white that shall her blackness fit (II. 1. 131-2)
1. Onestaldo de Pennafort
Se é morena, mas se de espírito não manca, Há de saber fazer com que a achem muito
branca.
2. Carlos Alberto Nunes
Preta e espirituosa... Que mistura! Mas um branco há de achar para a feiúra.
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Se ela morena for e espírito tiver, Um branco encontrará que quadre à sua cor.
[nota do tradutor: Há aqui trocadilhos com os vários significados de fair (loura e
bela) e black (negra e morena)]
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Se for morena, mas tiver viveza a par, Encontrará um branco com quem se ajustar.
5. Barbara Heliodora
Se viva, mesmo sendo imitação, Um branco há de escolher-lhe a escuridão.
6. Beatriz Viégas-Faria
Se for negra e esperta a mulher, Esperteza ela sabe usar Para um homem branco
arranjar Que lhe esfregue a tal negra tez.
7. Jean Melville
Se ela morena for e espírito tiver, Um branco encontrará que quadre à sua cor.
[nota do tradutor: Trocadilhos com os diferentes significados de fair (loura e
bela) e black (negra e morena)]
IAGO:
She never yet was foolish, that was fair,
For even her folly help’d her to an heir. (II. i. 134-5)
1. Onestaldo de Pennafort Bela e tola, não há. Se é bela, acha um parceiro Que
logo a ajudará a arranjar um herdeiro.
2. Carlos Alberto Nunes
Mulher tonta não há, sendo bonita, Pois sabe arranjar filho e ser catita.
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Mulher tola não há, se beleza ela tem, Pois mesmo tola sendo, sabe filho arranjar.
[nota do tradutor: Trocadilho quanto ao sentido de folly (estupidez e devassidão)]
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Nenhuma, se for bela, tola se mostrou, porque sua tolice herdeiro lhe granjeou.
5. Barbara Heliodora
Ser tola a moça linda eu nunca vi: A bela faz tolinhos para si.
6. Beatriz Viégas-Faria
Não existe mulher bela De tamanha estupidez Que não possa se gabar De um herdeiro
que ela fez.
7. Jean Melville
Se beleza ela tem, mulher tola não há Pois mesmo tola sendo, sabe filho arranjar.
[nota do tradutor: Trocadilho quanto ao sentido de folly (estupidez e devassidão)]
IAGO
There’s none so foul, and foolish thereunto,
But does foul pranks, which fair and wise ones do. (II. i. 139-40)
1. Onestaldo de Pennafort
Feia e tola que seja, inda assim é capaz De fazer o que a mais bonita e esperta
faz.
2. Carlos Alberto Nunes
Não há feia tão tola que não possa Nas belas e sabidas fazer mossa.
3. Cunha Medeiros/Oscar Mendes
Feia ou tola não há mulher que não pratique as loucuras que a bela e sábia fazer
sabe.
4. Péricles Eugênio da Silva Ramos
Não há ninguém tão tola e feia além do mais que não faça o que a bela, o que a de
siso faz.
5. Barbara Heliodora
Nunca houve ninguém tão tola e feia que, como a bela, não armasse teia.
6. Beatriz Viégas-Faria
Não há mulher feia o suficiente e burra na medida certa que não consiga ser tão
quente como a dama mais bela e esperta.
7. Jean Melville
Não há mulher feia ou tola que não pratique as loucuras que a bela e sábia sabe
fazer.
http://www.consciencia.org/a-busca-do-criterio-de-moralidade-na-reflexao-etica-de-
kant
http://www.historiaimagem.com.br/edicao3setembro2006/reflexkant.pdf
www.cchla.ufpb.br/ppgh/PPGH_2008-2_TE_Historia_e_Conhecimento_Historico.pdf
www.ufpel.tche.br/gt17/GT172955.doc
www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/GT08-2403--Int.pdf
http://www.joaodorio.com/Arquivo/2007/06,07/filosofias.htm
http://www.unipinhal.edu.br/ojs/voxforensis/index.php/vox_2007/article/view/12/34
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/14223/1/modelo%20completo%20da%20
dissertacacao.pdf
www.fae.edu/pesquisaacademica/pdf/primeiro_seminario/politicas_publicas_italo.pdf
http://serpensar.vilabol.uol.com.br/esclarecimento.htm
há um outro texto de kant, que é a celebérrima beantwortung der frage: was ist
aufklärung? [resposta à pergunta: que é "esclarecimento"?], de 1783. não tenho
palavras para descrever a importância desse pequeno artigo de kant na história do
pensamento ocidental moderno. se a martin claret o apresenta em sua edição como um
opúsculo pouco conhecido (p. 97), só posso incluir essa afirmação em seu vasto rol
de desserviços prestados ao leitor.
2. leopoldo holzbach
"esclarecimento" [aufklärung] significa a saída do homem de sua menoridade, da
qual o culpado é ele próprio. a menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu
entendimento sem a direção de outro indivíduo. o homem é o próprio culpado dessa
menoridade se a sua causa não estiver na ausência de entendimento, mas na ausência
de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. sapere
aude! tem a ousadia de fazer uso de teu próprio entendimento - tal é o lema do
esclarecimento [aufklärung]. (p. 115)
2. leopoldo holzbach
a preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma grande parte dos homens,
depois que a natureza de há muito os libertou de uma direção estranha (naturaliter
maiorennes), continuem, não obstante, de bom grado menores durante toda a vida.
são também as causas que explicam porque é tão fácil que os outros se constituam
seus tutores. é tão cômodo ser menor! se tenho um livro que faz as vezes de meu
entendimento, um diretor espiritual que por mim tem consciência, um médico que
decide por mim a respeito de minha dieta, etc., então não preciso esforçar-me eu
mesmo. (p. 115)
2. leopoldo holzbach
para este esclarecimento [aufklärung], porém, nada mais se exige senão liberdade.
e a mais inofensiva dentre tudo o que se possa chamar liberdade, a saber: a de
fazer um uso público de sua razão em todos os assuntos. ouço agora, porém,
exclamações de todos os lados: "não raciocineis!" o oficial diz: não raciocineis,
mas exercitai-vos. o financista exclama: "não raciocineis, mas pagai!" o sacerdote
proclama: "não raciocineis, mas acredita!" (um único senhor no mundo diz:
"raciocinai, tanto quanto quiserdes, e sobre o que quiserdes, mas obedecei!"). eis
aqui por toda a parte a limitação da liberdade. mas que limitação impede o
esclarecimento [aufklärung]? qual não o impede, e mesmo o favorece? respondo: o
uso público de sua razão deve ser sempre livre e só ele pode realizar o
esclarecimento [aufklärung] entre os homens. (p. 117)
imagem: www.improbabilidade.com.br
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DENISE BOTTMANN
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24/05/2009
cotejos disponíveis
listinha dos cotejos aqui no nãogostodeplágio:
para nietzsche não se sentir triste ou injustiçado por não ganhar uma listinha
toda sua, eis por onde andam acerca da verdade e da mentira e o anticristo em
plágio (ou será contrafação?)* de "heloísa da graça burati", pela editora rideel.
www.prto.mpf.gov.br/info/info_detalhes_a.php?iid=689&ctg=&sctg
www.administradores.com.br/artigos/como_nos_tornamos_aquilo_que_somos/544/
http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
14982007000200007&lng=es&nrm=iso
www.ufsj.edu.br/portal-
repositorio/File/dimap/PREGAO_40_2008_LIVROS%20MAIOR%20DESC_POR%20AREA.doc
www.comunidadeespirita.com.br/artigos/artigos2006/shakespeare%20dante%20nietzsch..
.
www.scielo.br/pdf/agora/v10n2/a07v10n2.pdf
http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=618
www.consciencia.org/niilismo-como-caminho-para-o-super-homem-em-friedrich-
nietzsche
http://dspace.lcc.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/ECAP-6ZRFJ3/1/flavio_barbeitas.pdf
imagem: http://entendanietzsche.blogspot.com
imagem: http://complexus.blogs.sapo.pt